Uso de Redes Sociais e Solidão: Evidências Psicométricas de Escalas

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ARTIGOS

Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas


de escalas

Patrícia Nunes da FonsêcaI

Ricardo Neves CoutoII

Carolina Cândido do Vale MeloIII

Luize Anny Guimarães AmorimIV

Viviany Silva Araújo PessoaV

Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

RESUMO

Objetivou-se apresentar evidências de validade e precisão do Cuestionário de Adicción


a Redes Sociales (CARS) e Revised UCLA Loneliness Scale (UCLA) e verificar a relação
da dependência das redes sociais com a percepção de solidão. Contou-se com 234 uni-
versitários de João Pessoa (PB), com idade média de 23,94 anos (DP = 6,67), a maio-
ria do sexo feminino (58,0%) e solteiro (82,6%). Responderam a CARS, UCLA, Scale of
Problematic Internet, Sigle Item Self-Esteem Scale e questões sociodemográficas. Os
resultados das análises fatoriais exploratórias apontaram um único fator para o CARS e
a UCLA, os quais demonstraram evidências de precisão igualmente favoráveis, ambos
com alfa de Cronbach igual a 0,93. Verificou-se relação positiva entre uso das redes
sociais e percepção de solidão e relação negativa dessa última variável com autoes-
tima. Logo, asseguram-se as qualidades psicométricas dos instrumentos e verifica-se
que os contatos virtuais não suprem a necessidade do convívio presencial.

Palavras-chave: Redes sociais; Solidão; Autoestima; Convívio social.

Use of social networks and loneliness: psychometric evidence of scales

ABSTRACT

The objective of this study was to gather evidence of validity and accuracy of the
Cuestionário de Adicción a Redes Sociales (CARS) and Revised UCLA Loneliness Scale
and to know the relationship between social network dependence and the perception
of loneliness. 234 university students from the city of João Pessoa (PB) participated,
with an average age of 23.94 years (SD = 6.67), most of them were female (58%)

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Patrícia Nunes da Fonsêca, Ricardo Neves Couto, Carolina Cândido do Vale Melo,
Luize Anny Guimarães Amorim, Viviany Silva Araújo Pessoa

and single (82.6%). They responded to CARS, UCLA, Scale of Problematic Internet,
Sigle Item Self-Esteem Scale and sociodemographic issues. The results of the explor-
atory factorial analysis indicated a single factor for the CARS and UCLA, which demon-
strated equally favorable evidence of precision, both with Cronbach’s alpha equal to
0.93. There was a positive relationship between the use of social networks and the
perception of loneliness and a negative relation of this last variable with self-esteem.
Therefore, the psychometric qualities of the instruments are ensured and it is verified
that the virtual contacts do not supply the need of face-to-face contact.

Keywords: Social networks; Loneliness; Self-esteem; Social interaction.

Uso de redes sociales y soledad: evidencias psicométricas de escalas

RESUMEN

Se objetivó reunir evidencias de validez y precisión del Cuestionario de Adicción a Redes


Sociales (CARS) y Revised UCLA Loneliness Scale y conocer la relación de la dependencia
de las redes sociales con la percepción de soledad. Se contó con 234 universitarios de
João Pessoa (PB), con edad promedio de 23,94 años (DP = 6,67), la mayoría del sexo
femenino (58%) y soltero (82,6%). Respondieron al CARS, UCLA, Scale of Problematic
Internet, Sigle Item Self-Esteem Scale y cuestiones sociodemográficas. Los resultados
de los análisis factoriales exploratorios apuntaron un único factor para el CARS y la
UCLA, los cuales demostraron evidencias de precisión igualmente favorables, ambos con
alfa de Cronbach igual a 0,93. Se verificó una relación positiva entre el uso de las redes
sociales y percepción de la soledad y la relación negativa de esta última variable con
autoestima. Luego, se aseguran las cualidades psicométricas de los instrumentos y se
verifica que los contactos virtuales no suplen la necesidad de la convivencia presencial.

Palabras clave: Redes sociales; Soledad; Autoestima; Convivencia social.

Introdução

Nas duas últimas décadas, o uso da internet tem crescido de modo acelerado, atraindo
uma expressiva parcela da população mundial, aproximadamente 3,7 bilhões de usu-
ários no início de 2017. Especificamente, nos países desenvolvidos, a maioria das
pessoas que utilizam a internet (94%) estão na faixa de idade entre 15 a 24 anos
(International Telecommunications Union – ITU, 2017). No Brasil, de acordo com o
Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br,
2016), há 107,9 milhões de usuários que utilizam cotidianamente os serviços online.

Tal crescimento pode ser reflexo dos benefícios que a tecnologia traz, como a rapi-
dez da informação, a aproximação de pessoas, a redução nos custos dos apare-
lhos móveis e o acesso a conteúdo de pesquisas. Esse contexto também favorece o
aumento no número de acessos às redes sociais, independentemente de classe social
ou condição cultural (Batista & Barcelos, 2013).

Apesar da rápida popularização da tecnologia e de seus inegáveis benefícios,


constatam-se alguns problemas associados, dentre eles: o uso problemático da inter-

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Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

net, o vício em tecnologia ou dependência de celular e internet. À vista disso, o uso


exagerado da internet pode ocorrer porque o indivíduo está acessando com muita
frequência as redes sociais para diversos fins, por exemplo, comunicar com os ami-
gos, realizar trabalho, interagir com familiares distantes do seu convívio (Boubeta,
Salgado, Folgar, Gallego, & Mallou, 2015).

Em relação às redes sociais, Recuero (2007) afirma que são interações sociais com-
plexas promovidas por tecnologias digitais de comunicação. Elas podem influenciar
a maneira como as pessoas se organizam na vida cotidiana e se configuram em uma
díade de elementos básicos, a saber: os atores (pessoas, instituição ou grupos) e
suas interações. Esses espaços virtuais são ferramentas de socialização, interação e
comunicação que interligam diversos usuários e proporcionam união entre eles.

Além dos benefícios enfocados anteriormente, o uso das redes sociais também pode
oferecer riscos à saúde mental das pessoas, os quais dependerão da forma como elas
são utilizadas. Sobre isso Mayate e Blas (2014) afirmam que é um verdadeiro para-
doxo, pois se por um lado as redes sociais auxiliam e aceleram a comunicação entre
as pessoas, por outro elas impedem o contato presencial, em que ocorrem as trocas
reais de afetos e interação.

Um dos sites de rede social mais popular é o Facebook, dentre as pessoas que utilizam
a internet, 92% estão conectados por meio de redes sociais, sendo o WhatsApp (58%) e
o Youtube (17%) as mais utilizadas depois do Facebook. Essas são acessadas por diver-
sos motivos, como interagir com amigos e familiares, buscar alguém para se relacionar,
realizar atividades profissionais e divulgar produtos e empresas (Portal Brasil, 2017).

Apesar dos vários benefícios que as redes sociais promovem, como estreitar as fron-
teiras e facilitar a vida das pessoas, é importante destacar que o uso excessivo pode
trazer prejuízos. Nessa linha, de acordo com Picon et al. (2015), a possibilidade de se
comunicar em redes online pelos celulares, permite uma maior facilidade de acesso
ao indivíduo, já que para isso, basta apenas ter o aparelho móvel e internet. Todavia
tal comportamento pode atrapalhar o cotidiano das relações pessoais, especialmente
o convívio com seus pares (por exemplo, familiares, amigos, colegas de trabalho/uni-
versidade), já que o indivíduo, mesmo na companhia de pessoas, pode permanecer
conectado às redes sociais e negligenciar os momentos compartilhados.

Observa-se que a opção de permanecer muito tempo conectado apresenta eviden-


tes interferências negativas na rotina do indivíduo, pois não desfrutam da presença
física de outras pessoas de modo adequado, e ainda se colocam em uma condição de
vulnerabilidade frente aos problemas de saúde (por exemplo, depressão, ansiedade,
solidão). Tais condições, por sua vez, podem ser observadas em grupos de crian-
ças, adolescentes e adultos com as mais diversas características sociodemográficas,
embora estudos apontem os universitários como grupo de risco (Mayate & Blás,
2014; Méa, Biffe, & Ferreira, 2016).

Neste sentido, ainda com relação aos riscos do uso excessivo de redes sociais, Isra-
elashvili, Kim e Bukobza (2012) encontraram que o nível de utilização da internet e
redes sociais se relaciona negativamente com o autoconhecimento e a autoestima.
Appel, Schreiner, Weber, Mara e Gnambs (2016) propuseram um estudo que procurou
reunir evidências referentes à relação entre a intensidade de conexão no Facebook
(rede social) com o autoconceito. Os resultados mostraram que a intensidade do uso
do Facebook foi um preditor negativo importante do modo como os participantes se
imaginavam em relações presenciais, os jovens preferiram manter amizades virtuais,
por terem uma autopercepção negativa.

A fim de investigar sobre esses aspectos, Mayate e Blas (2014) basearam-se em cri-
térios similares da dependência de substâncias e criaram o Cuestionario de Adicción

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a Redes Sociales (CARS), em versão preliminar de 31 itens, aplicado em universi-


tários no contexto da língua espanhola, em Lima, Peru. Nas análises preliminares,
sete itens foram excluídos por não atenderem ao critério de assimetria e curtose,
em seguida, os 24 itens que compuseram a escala, após análises fatoriais explora-
tórias e confirmatórias, definiram uma estrutura composta por três fatores, a saber:
(1) Obsessão por redes sociais; (2) Falta de controle pessoal e (3) Uso excessivo. A
confiabilidade, usando o alfa de Cronbach das escalas, variou de 0,88 até 0,92.

Robles (2016) utilizou a CARS em uma amostra de universitários na cidade do Peru e


verificou que a escala é uma excelente ferramenta para investigar os problemas que
afetam a saúde e as relações sociais. Além disso, a CARS apresentou índices psico-
métricos satisfatórios e os itens cobriram aspectos relevantes para a investigação,
tais como: preocupação constante no que acontece nas redes, sentimento de ansie-
dade quando não é possível ficar conectado, incapacidade de regular o próprio tempo
e continuar conectado durante um longo período, sem negligenciar outras tarefas
importantes (Mayate & Blas, 2014).

Os aspectos cobertos pela CARS indicam a necessidade de a pessoa estar conectada,


gerando ansiedade, caso isso não ocorra. Tal comportamento associa-se diretamente
ao isolamento social, que por sua vez pode proporcionar sentimento de solidão (Silva
& Silva, 2017). Assim, compreende-se a importância do estudo da solidão neste con-
texto, pois a dependência da internet ou, consequentemente, das redes sociais, pode
ser um meio de fuga utilizada pelo indivíduo para lidar com o sentimento de solidão,
advindos do formato da sociedade atual, com contatos presenciais cada vez mais
raros (Fortim & Araújo, 2013).

Embora não haja consenso entre os estudiosos quanto à definição da solidão, tendo
em vista que pode se manifestar de diferentes maneiras, dependendo da faixa etária
(Liepins & Cline, 2011), há uma linha comum entre elas. Todas as definições repor-
tam a uma deficiência nas relações sociais; referem-se à solidão como algo subjetivo
e não objetivo, como o isolamento social; e aludem a uma insatisfação com os rela-
cionamentos sociais experienciados pelas pessoas, percebendo-os como insuficientes
ou inadequados, produzindo uma reação afetiva, representada por um sentimento
que inclui tristeza e vazio (Hawkley & Cacioppo, 2010).

De acordo com Kamiya, Doyle, Henretta, e Virmonen (2014), o surgimento da


solidão pode ter várias fontes, como problemas de saúde, rejeição social e baixa
autoestima. A solidão pode ser avaliada de acordo com uma perspectiva unidi-
mensional ou multifacetada. Na primeira, a solidão é entendida como um fenô-
meno unitário que varia em termos de frequência e intensidade. Já a perspectiva
multidimensional trata da impossibilidade de considerar esse construto como uma
medida global, distinguindo qualitativamente experiências de solidão em diferen-
tes situações (DiTommaso & Spinner, 1993). Nessa oportunidade, é apreendida de
um modo unidimensional, na qual o que sofre alteração é a intensidade com que
é experienciada.

Essa linha teórica define a interpretação da Escala de Solidão conhecida como Revi-
sed UCLA Loneliness Scale (Russel, Peplau, & Ferguson, 1978), a qual encara a soli-
dão como um estado psicológico, ou seja, as pessoas podem apresentar sentimento
de solidão ao longo de diversos percursos de tempo e diferentes situações da vida.
Utilizada no presente estudo, foi originalmente elaborada por Russel et al. (1978) e
demonstra consistência interna satisfatória, com um alfa de Cronbach igual a 0,78.
Tem como finalidade avaliar a solidão indiretamente, além de ser uma das escalas
mais empregadas na literatura para a avaliação da solidão e dos construtos associa-
dos (Correia, 2012).

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Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

No Brasil, a escala teve seus itens adaptados para o português por Barroso, Andrade,
Midgett, e Carvalho (2016), comportando-se em uma estrutura bifatorial. Porém, os
critérios psicométricos considerados foram confusos quanto a decisão da estrutura
e o pertencimento de cada item nas dimensões. Ademais, sendo a única evidência
encontrada, faz-se necessário avançar e reunir parâmetros psicométricos com amos-
tras diferentes no contexto brasileiro.

Russel et al. (1980) revisaram a escala e encontraram correlação positiva com


depressão e ansiedade, e negativa com autoestima. Estima-se a partir disso que,
quanto mais o indivíduo se reconhece em situação de solidão, menor sua autoestima
e, portanto, mais inibido em situações sociais, o que pode levar a tomada de decisão
de não procurar contatos com outras pessoas. A relação entre o sentimento de soli-
dão e a autoestima tem sido comprovada com fortes evidências empíricas por alguns
estudos (Kamiya et al., 2014; Kwiatkowska, Kwiatkowska, & Rogoza, 2016).

Ademais, a solidão é vivenciada por pessoas nas diferentes faixas de idade, sendo
mais comum entre jovens e idosos (Azeredo & Afonso, 2016). Utilizando a Escala
de Solidão da Revised UCLA Loneliness Scale (UCLA), Felix Neto (2001) contaram
com uma amostra de 105 adolescentes, 116 adultos e 104 idosos e corroboraram a
afirmativa supracitada, indicando um maior índice de solidão entre idosos e adoles-
centes, independente do sexo.

Partindo de uma amostra de 201 portugueses, com idade superior a 18 anos, e uti-
lizando a Escala de Solidão da UCLA, Reis, Leite, Amorim e Souto (2016) encontra-
ram maiores níveis de solidão em pessoas que dedicam mais tempo à utilização das
redes sociais. Além disso, Ceyhan e Ceyhan (2008) concluíram que a percepção de
solidão é um construto significativo, no estudo do uso problemático das redes sociais
por estudantes universitários, ainda mais forte do que a depressão. Dessa forma, é
possível verificar a relevância dos estudos com jovens que abordam o uso das redes
sociais e sua relação com o sentimento de solidão e as consequências psicológicas,
além de prejuízos ao rendimento acadêmico, profissional e desinteresse por outras
atividades (Braga & Dell’Aglio, 2013; Rangel & Miranda, 2016).

Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo geral apresentar evidências de
validade e precisão do CARS e UCLA. Além disso, busca apresentar evidências de
validade externa com níveis de autoestima e, ainda, conhecer a relação da depen-
dência das redes sociais com a percepção de solidão em universitários.

Método

Participantes
A amostra foi composta por 234 universitários da cidade de João Pessoa (PB), com
idade média de 23,94 anos (amplitude de 19 a 56 anos; DP = 6,67). A maioria
era do sexo feminino (58,0%), solteira (82,6%), oriunda de instituições públicas
(54,0%) e com renda familiar variando de R$ 2.700,00 a R$ 5.600,00 (25,6%).
Afirmaram ficar conectados em média 5,79 horas por dia (DP = 4,34; variando de
uma hora até 18 horas).

Para participar do presente estudo foram adotados os seguintes critérios de inclusão:


o indivíduo ter acesso às redes sociais, independentemente do meio utilizado, ser
universitário e ter a idade mínima de 18 anos.

Instrumentos
Os participantes responderam aos seguintes instrumentos:

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Luize Anny Guimarães Amorim, Viviany Silva Araújo Pessoa

CARS: desenvolvido por Mayaute e Blas (2014) no idioma espanhol, composto por
24 itens respondidos em uma escala tipo Likert de cinco pontos, que representam a
frequência de comportamentos relacionados ao uso dependente de celulares e redes
sociais, variando entre 1 = Nunca e 4 = Sempre. A estrutura fatorial é composta por
três fatores: obsessão por redes sociais (α = 0,91); falta de controle pessoal no uso
das redes sociais (α = 0,88) e uso excessivo das redes sociais (α = 0,92) e apresenta
índice de precisão geral considerado satisfatório (α = 0,95).

UCLA: construída por Russel, Peplau e Ferguson (1978), revisada por Russel et al.
(1980) e adaptada para o português brasileiro por Barroso et al. (2016). É utilizada
para avaliar o construto solidão, solicitando que os participantes relatem a sua per-
cepção com relação ao seu sentimento. É composta por 20 itens a serem respondidos
em uma escala tipo Likert, com quatro pontos, que variam de 1 = Nunca até 4 =
Muitas vezes. Apresenta uma estrutura unifatorial e consistência interna satisfatória
(alfa de Cronbach = 0,94; Russel et al., 1978).

Scale of Problematic Internet (SPI): elaborada no idioma espanhol por Salgado, Bou-
beta, Tobío, Malou e Couto (2014) e adaptada e validada para o contexto brasileiro
por Fonsêca, Couto, Melo, Machado e Souza Filho (2018). É uma medida de rastre-
amento sobre o uso problemático da internet, composto por oito itens (por exem-
plo, item 8. Tenho deixado de fazer coisas importantes para poder ficar conectado;
e item 2. Em algumas ocasiões tenho perdido horas de sono por usar a internet),
respondidos em uma escala tipo Likert com cinco opções de respostas, variando de
0 – Discordo totalmente a 4 – Concordo totalmente. Na versão adaptada, utilizada no
presente estudo, foi comprovada a estrutura unifatorial com bons índices de ajustes
e consistência interna (CFI = 0,99, TLI = 0,99, RMSEA = 0,03 (IC 90% = 0,00-0,07)
e Pclose = 0,72, além de um alfa de Cronbach de 0,82).

Sigle Item Self-Esteem Scale (SISES): construída e validada nos Estados Unidos por
Robins, Hendin e Trzesniewski (2001), é uma escala utilizada para avaliar a autoes-
tima. Foi adaptada e validada para o contexto brasileiro por Pimentel et al. (2018),
apresentando satisfatórias evidências de validade convergente. É composta por ape-
nas um item: “eu tenho autoestima elevada” respondido em uma escala tipo Likert
de 7 pontos, variando de 1 = Não muito frequente em mim a 7 = Muito frequente
em mim.

Questionário sociodemográfico: é um conjunto de perguntas que visam caracterizar


os participantes e saber sobre o uso das redes sociais (idade, sexo, estado civil, natu-
reza da instituição universitária, renda familiar e horas de acesso diária).

Procedimento
A fim de contar com a versão brasileira do CARS realizou-se a sua tradução por meio
da técnica de backtranslation (Sousa & Rojjanasrirat, 2010), auxiliada por profis-
sionais bilíngues (Português-Espanhol). A medida foi traduzida e, posteriormente,
retraduzida para o espanhol por dois profissionais mestres e doutores especialistas
na área. Em seguida, as traduções foram comparadas a fim de se verificar o quanto
havia de equivalência. Após a comprovação de correspondência entre as traduções,
constatou-se que a versão em português refletia igualmente o texto em espanhol.

Posteriormente, procedeu-se a etapa de validação semântica, conforme proposto


por Pasquali (2010). Para tanto, a escala foi aplicada em 20 participantes oriundos
da população alvo do estudo (ou seja, 10 universitários do sexo masculino e 10 do
feminino, divididos proporcionalmente entre os primeiros e últimos períodos do curso
superior) para se verificar se havia alguma dificuldade de leitura e/ou interpretação
dos itens. Ao final, não se verificou qualquer problema e, então, tratou-se de aplicá-
-la junto aos demais instrumentos à amostra de universitários.

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Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

Ressalta-se que a pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética do Centro de Ciên-


cias da Saúde (CCSA/UFPB) e obteve parecer favorável (Prot. n°689/16. CAAE:
61341516.5.0000.5188). A aplicação ocorreu nas dependências das universidades
públicas e privadas após a Carta de Anuência (CA) das instituições e a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por parte dos participantes. Na
ocasião, foram garantidos o anonimato do respondente e o sigilo das informações,
conforme determina as Resoluções no 466/12 e no 510/16 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS). Em média, os participantes levaram 20 minutos para responder os
instrumentos.

Análise de dados
Com o software Factor 9.2 (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2013), investigou-se a
dimensionalidade das medidas, através do método Hull Comparative Fit Index (CFI;
Lorenzo-Seva, Timmerman, & Kiers, 2011), por esse ser um dos métodos mais
acurados em retenção de fatores (Lorenzo-Seva et al., 2011) a partir de análises
fatoriais exploratórias categóricas Unweighted Least Squares (ULS) com correla-
ções policóricas. Foram, ainda, calculados o alfa de Cronbach com base nas correla-
ções policóricas e o ômega de McDonald com o objetivo de averiguar a consistência
interna dos instrumentos. No programa R foram realizadas as estatísticas descriti-
vas para caracterizar a amostra e as análises de correlações dos escores totais das
medidas utilizadas.

Resultados

Evidências de validade e precisão do CRAS e UCLA


Inicialmente, a busca de evidências de validade do CARS através da análise fato-
rial exploratória ordinal ULS mostrou-se adequada, apresentando os índices Kaiser-
-Meyer-Olkin (KMO) = 0,92 e o teste de esfericidade de Bartlett = 3018,9 (276); p
< 0,001. A estrutura fatorial revelou-se unidimensional pelo método Hull, resultando
em índice de ajuste Global Fit Index (GFI) = 0,98 e um valor próprio de 9,09. O fator
retido explicou 40,33% da variância total dos itens que, juntamente com os índices
de consistência interna, tem suas cargas fatoriais detalhadas na Tabela 1.

Em síntese, todos os 24 itens tiveram saturações superiores a 0,30 no fator denomi-


nado Uso dependente das redes sociais, variando de 0,45 (item 02) a 0,81 (item 04).
Pode-se observar que, com base em correlações policóricas, este fator apresentou
alfa de Cronbach de 0,93 e ômega de McDonald de 0,93. Logo, percebe-se que a
CARS reuniu evidências satisfatórias de validade e precisão.

Ademais, decidiu-se realizar uma análise fatorial no conjunto dos itens da UCLA por
não ter sua estrutura fatorial definida no contexto brasileiro. A adequação foi cons-
tatada através do KMO = 0,92 e do Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (190) =
2516,7, p < 0,001. Assim, seguiu-se com uma análise fatorial exploratória ULS com
base policórica, na qual o método Hull sugeriu a unidimensionalidade da medida.
O único fator (valor próprio = 9,48; variância explicada = 47,01) reuniu 19 itens e
apresentou evidências de precisão igualmente favoráveis. Esses resultados são des-
critos na Tabela 2.

Validação convergente e correlatos entre uso das redes sociais,


solidão e autoestima
A partir dos resultados obtidos, foi possível calcular o escore geral do CARS e da
UCLA e proceder com análises de correlações a fim de reunir evidências de validade
externa e conhecer o padrão de relacionamento entre o uso dependente das redes
sociais, sentimento de solidão e autoestima. Os resultados descritivos e a matriz de
correlação são descritos na Tabela 3.

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Patrícia Nunes da Fonsêca, Ricardo Neves Couto, Carolina Cândido do Vale Melo,
Luize Anny Guimarães Amorim, Viviany Silva Araújo Pessoa

Tabela 1. Estrutura fatorial do Cuestionario de adicción a redes sociales (CARS)


9. Quando entro nas redes sociais perco a noção do tempo. 0,66* 0,43
10. Geralmente, permaneço mais tempo nas redes sociais do que eu havia programado
0,70* 0,50
(destinado) inicialmente.
11. Penso no que pode estar acontecendo nas redes sociais. 0,64* 0,41
12. Devo controlar a minha atividade de me conectar às redes sociais. 0,57* 0,32
13. Posso (consigo) me desconectar das redes sociais por vários dias. 0,31* 0,09
14. Não consigo controlar o meu uso prolongado e intenso das redes sociais. 0,52* 0,27
15. Mesmo quando realizo outras atividades, não deixo de pensar o que acontece nas
0,58* 0,34
redes sociais.
16. Eu invisto (gasto) muito tempo do meu dia me conectando e desconectando das
0,70* 0,48
redes sociais.
17. Permaneço muito tempo conectado(a) às redes sociais. 0,80* 0,63
18. Estou atento às notificações (mensagens, fotos etc.) que são enviadas para mim
0,61* 0,38
nas redes sociais ao meu celular ou ao meu computador.
19. Descuido das minhas amizades ou familiares por estar conectado(a) às redes sociais. 0,57* 0,33
20. Descuido das minhas tarefas e dos estudos por estar conectado(a) às redes sociais. 0,61* 0,37
21. Mesmo quando estou em aula, conecto-me escondido(a) às redes sociais. 0,51* 0,26
22. Meu (minha) parceiro (esposa, namorada), ou amigos, ou familiares, tem me chamado
0,55* 0,30
a atenção por minha dedicação e o tempo que eu destino às coisas das redes sociais.
23. Quando estou em aula sem me conectar às redes sociais, sinto-me aborrecido(a). 0,50* 0,25
24. Creio que seja um problema a intensidade e a frequência com que entro e uso as
0,63* 0,40
redes sociais.
Quantidade de itens 24
Variância explicada (%) 40,33
Valor próprio 9,08
α de Cronbach 0,93
Ω de McDonald 0,93
Nota: * carga fatorial considerada satisfatória, isto é, > |0,30|.
h² = comunalidade.
α = alfa de Cronbach com base em correlações policóricas.
Ω = ômega.

Pode-se verificar que o CARS apresentou uma correlação positiva e significativa com
a SPI (r = 0,80; p < 0,001). Isso revela a validade convergente do instrumento,
uma vez que demonstrou uma alta correlação com o instrumento que mensura o uso
dependente da internet.

Ademais, os resultados sugerem que quanto maiores são os níveis de dependência


de uso das redes sociais, maiores sentimentos de solidão (r = 0,17; p < 0,001),
entretanto não apontou relação entre dependência das redes sociais e autoestima
(r = -0,07; p > 0,05). Por fim, pôde-se observar que o sentimento de solidão se
correlacionou negativamente com autoestima (r = -0,34; p < 0,001). Tal resultado
sugere que uma pessoa com uma imagem mais positiva de si experiencia menor
sentimento de solidão.

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Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

Tabela 2. Estrutura Fatorial da Escala de Solidão da UCLA


Carga
Itens h²
Fatorial
01. Eu me sinto infeliz por fazer tantas coisas sozinho(a) 0,42* 0,18
02. Eu não tolero ficar tão sozinho(a). 0,25 0,06
03. Eu sinto que não tenho companhia. 0,67* 0,44
04. Eu sinto que ninguém me compreende. 0,57* 0,32
05. Eu fico esperando as pessoas me ligarem ou escreverem. 0,49* 0,24
06. Eu sinto que não tenho ninguém a quem eu possa recorrer. 0,70* 0,49
07. Eu não me sinto próximo(a) a ninguém. 0,76* 0,57
08. Sinto que meus interesses e ideias não são compartilhados por aqueles que me rodeiam. 0,61* 0,37
09. Eu me sinto excluído(a). 0,79* 0,63
10. Eu me sinto completamente sozinho(a). 0,79* 0,63
11. Eu sou incapaz de me aproximar e de me comunicar com as pessoas ao meu redor. 0,67* 0,46
12. Eu sinto que minhas relações sociais são superficiais. 0,73* 0,54
13. Eu me sinto carente de companhia. 0,69* 0,48
14. Eu sinto que ninguém me conhece realmente bem. 0,69* 0,48
15. Eu me sinto isolado(a) das outras pessoas. 0,76* 0,58
16. Sou infeliz estando tão excluído(a). 0,69* 0,47
17. Para mim é difícil fazer amigos. 0,64* 0,41
18. Eu me sinto bloqueado(a) e excluído(a) por outras pessoas. 0,82* 0,66
19. Sinto que as pessoas estão ao meu redor, mas não estão comigo 0,79* 0,63
20. Eu me sinto incomodado(a) em realizar atividades sozinho(a). 0,43* 0,18
Quantidade de itens 19
Variância explicada (%) 47,01
Valor próprio 9,48
α de Cronbach 0,93
Ω de McDonald 0,93
Nota: * carga fatorial considerada satisfatória, isto é, > |0,30|. h² = comunalidade.
α = alfa de Cronbach com base em correlações policóricas.
Ω = ômega.

Tabela 3. Estatísticas descritivas e correlatos entre as variáveis abordadas


Dimensões M DP 1 2 3 4
1 59,40 18,15 - 0,17** 0,80** -0,07
2 32,87 10,63 - - 0,11 -0,34**
3 16,64 6,68 - - - -0,08
4 4,64 1,87 - - - -
Nota:** p < 0,001; * p < 0,05 (teste unicaudal).
1 = Escore total do CARS; 2 = Escore total da UCLA; 3 = Escore total da SPI; 4 = Sigle item de autoestima.

Discussão

No presente estudo foi possível verificar a estrutura fatorial de duas medidas (CARS e
UCLA) no contexto brasileiro, a fim de conhecer o padrão de relação entre uso depen-
dente das redes sociais e sentimento de solidão, além de relacioná-los com autoes-
tima. Assim, os objetivos propostos foram alcançados com êxito. Destaca-se que foi
utilizado um número amostral suficiente e adequado para as análises propostas, com
resultados relevantes, discutidos a seguir.

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Patrícia Nunes da Fonsêca, Ricardo Neves Couto, Carolina Cândido do Vale Melo,
Luize Anny Guimarães Amorim, Viviany Silva Araújo Pessoa

No que diz respeito às análises fatoriais realizadas nas duas medidas, pode-se reunir
evidências de validade interna e externa, nas quais todos os itens, exceto o item 2 da
escala UCLA [Eu não tolero ficar tão sozinho(a)], saturaram no mínimo 0,30, no fator
correspondente, ou seja, acima do ponto de corte indicado pela literatura (Pasquali,
2010). Ademais, ambas medidas apresentaram índices psicométricos excelentes no
que diz respeito a consistência interna, avaliada pelo alfa de Cronbach e ômega de
McDonald, superando o valor mínimo adequado de 0,70 (Cohen, Swerdlik, & Stur-
man, 2014; Nunnally, 1978).

A estrutura unifatorial encontrada na CARS diverge da trifatorial encontrada no


estudo original (Mayate & Blas, 2014). No contexto brasileiro considerado reco-
nheceu-se a existência de um único fator latente responsável por todos os itens
na versão final, tenha-se em conta que o método Hull utilizado é conservador, no
entanto, em estudos, comprova-se ser um dos métodos mais acurados em retenção
de fatores (Lorenzo-Seva et al., 2011). Quanto a estrutura da Escala de Solidão
da UCLA, o modelo unifatorial é convergente com o original (Russel et al., 1980)
e o estudo de Correia (2012), os quais tiveram o mesmo objetivo de investigar o
número de dimensões da escala.

Ampliando evidências de validade de construto da CARS, buscou-se comprovar sua


validade convergente. Segundo Pasquali (2010), um instrumento apresenta validade
convergente quando se correlaciona com outro que mensura um construto teorica-
mente relacionado. Para tanto, utilizou-se a SPI, medida que mensura o uso pro-
blemático da internet. A partir do resultado, verificou-se forte correlação (r = 0,80;
p < 0,001) entre as escalas, portanto existe um índice satisfatório e uma esperada
relação (Urbina, 2007).

Acrescentando parâmetros psicométricos das escalas consideradas, foi possível veri-


ficar que quanto maiores os níveis de dependência de uso das redes sociais, maior
a percepção de solidão. Os resultados aqui encontrados corroboram com Reis et al.
(2016) e Picon et al., (2015), ampliam a problemática, pois a preferência por estar
conectado em redes online pode tornar-se compulsiva e interferir negativamente no
cotidiano dos jovens, podendo ocasionar também déficits no rendimento acadêmico
e profissional (Braga & Dell’Aglio, 2013; Rangel & Miranda, 2016).

A decisão de usar o celular e ficar conectado às redes sociais, combinada com o


desinteresse por outras atividades do dia-a-dia (incluindo o contato social) é contra-
ditória, e tal problemática merece atenção, uma vez que as redes sociais que pode-
riam ser encaradas como facilitadoras das relações, devido a sua fácil acessibilidade e
rapidez, muitas vezes afastam as pessoas, limitando-as a contatos puramente virtu-
ais (Mayate & Blas, 2014). Como pode ser observado pelas evidências empíricas aqui
encontradas, isso não é suficiente para suprir as necessidades pessoais e, muitas
vezes, a ausência do contato social é acompanhado por sentimento de solidão.

Ainda com relação à dependência das redes sociais, os achados do presente estudo
apontam que não existem associações com autoestima. Tais resultados vão de encon-
tro a pesquisas recentes sobre a mesma temática, as quais identificaram associações
negativas entre o uso abusivo de redes sociais e a autoestima (Appel et al., 2016;
Davis, 2013; Israelashvili et al., 2012). Ou seja, quanto maior a dependência das
redes sociais, menor é a avaliação que o indivíduo faz de si mesmo. Esse resultado
inesperado carece de investigações futuras com outros estratos amostrais a fim de
verificar se esta é uma característica dessa amostra específica.

Corroborando a afirmação de Braga e Dell’Aglio (2013), de que a convivência em


grupos pode ser determinante para autoestima, os achados desse estudo apontaram
relações significativas entre a solidão e a autoestima. Esse dado é corroborado por
outras pesquisas acerca da temática (Kamiya et al., 2014; Kwiatkowska et al., 2016),

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Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

os quais afirmam que a baixa autoestima está na base da percepção de solidão. Tais
resultados corroboram o estudo original da UCLA Revisada, quando Russel, Peplau
e Cutona (1980) apresentam dados de validade discriminante com a autoestima
(r = -0,49), sugerindo que a solidão pode influenciar em como as pessoas avaliam a
si mesmas. Ou seja, quanto maiores os momentos isolados do convívio social, menor
será a forma como as pessoas se autoavaliam (autoestima baixa).

Os resultados demonstram um avanço no estudo e produção científica das temáti-


cas, no entanto, encontram-se algumas limitações. O delineamento correlacional da
pesquisa não permite afirmar relação de causa e efeito, sendo restrito às pesquisas
experimentais (Breakwell, Hammond, Fife-Schaw, & Smith, 2010). Não foi contro-
lado o viés desejabilidade social, comumente presente nas pesquisas de autorrelato,
quando o participante busca uma promoção pessoal e/ou distorce as respostas (Gou-
veia, Guerra, Souza, Santos, & Costa, 2009). Ademais, não contou com uma amostra
probabilística, representativa, a partir da qual fosse possível generalizar os resulta-
dos, restringindo-os para a amostra aqui considerada (Cozby, 2003), não obstante,
enfatiza-se que não foi o objetivo ultrapassar o contexto abordado.

A partir disso, recomenda-se considerar em estudos futuros amostras randômicas e


heterogeneas, com participantes de diferentes faixas etárias e diferentes regiões do
Brasil. Seria interessante, também, promover um estudo experimental e conseguir
inferir causalidade entre o nível de solidão e uso das redes sociais a fim de esclarecer
melhor a relação. Sugere-se, ainda, acrescentar demais construtos (por exemplo,
personalidade, valores humanos, habilidades sociais, bem-estar subjetivo, procras-
tinação, ansiedade) na investigação e construir um modelo explicativo que facilite a
interpretação e o entendimento da influência do uso das redes sociais e o sentimento
de solidão em diferentes contextos da vida do indivíduo.

Dado o exposto, pode-se afirmar que é relevante o papel do uso das redes sociais
na vida das pessoas, sobretudo na dos jovens, que frequentemente conectam-se a
redes sociais (Ceyhan & Ceyhan, 2008). Logo, julga-se importante contar com as
versões das escalas (CARS e UCLA) adaptadas e com parâmetros psicométricos ade-
quados no contexto brasileiro no trabalho de avaliação e pesquisas futuras.

Incentiva-se o uso desses instrumentos para ampliar o debate e proporcionar aos


jovens momentos de ressignificação quanto ao uso das redes sociais e superar o
paradoxo que acompanha o seu uso inconsequente (Mayate & Blas, 2014). Espe-
cialmente julgar a necessidade do convívio com pessoas próximas (por exemplo,
familiares, amigos, colegas de trabalho/universidade) e não negligenciar atividades
profissionais/acadêmicas, promovendo uma conscientização de que as redes sociais
não devem substituir o encontro, mas ser alinhada à interação e manutenção de
relações sociais, minimizando os impactos negativos na saúde física e psicológica
das pessoas.

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Submetido em: 02/03/2018


Revisto em: 21/05/2018
Aceito em: 24/05/2018

Endereços para correspondência

Patrícia Nunes da Fonsêca


[email protected]

Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 70 (3): 198-212 211


Uso de redes sociais e solidão: evidências psicométricas de escalas

Ricardo Neves Couto


[email protected]

Carolina Cândilo do Vale Melo


[email protected]

Luize Anny Cardoso Guimarães


[email protected]

Viviany Silva Araújo Pessoa


[email protected]

I. Docente. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Universidade Federal


da Paraíba (UFPb). João Pessoa. Estado da Paraíba. Brasil.

II. Doutorando. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Universidade


Federal da Paraíba (UFPb). João Pessoa. Estado da Paraíba. Brasil.

III. Mestranda. Programa de Pós-Graduação em Neurociência Cognitiva e


Comportamento. Universidade Federal da Paraíba (UFPb). João Pessoa. Estado da
Paraíba. Brasil.

IV. Doutoranda. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Universidade


Federal da Paraíba (UFPb). João Pessoa. Estado da Paraíba. Brasil.

V. Docente. Departamento de Psicopedagogia. Universidade Federal da Paraíba


(UFPb). João Pessoa. Estado da Paraíba. Brasil.

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