Danilo - Plantio de Igrejas

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Introdução ao Plantio de Igrejas

Conceitos, Estratégias e Base Bíblica

DANILO COSTA E SILVA


1
COSTA E SILVA, D.D. Introdução ao plantio de Igreja.
Editora Fontenelle: São Paulo, 2020.

Proibida a reprodução parcial ou total sem autorização


Todos os direitos reservados a Danilo Duarte Costa e Silva.

2
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – PERSPECTIVAS DE CASOS ............................ 5


CAPÍTULO 2 – PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS ............. 24
CAPÍTULO 3 – PERSPECTIVAS BÍBLICAS ............................ 70
CAPÍTULO 4 – PERSPECTIVAS PRÁTICAS .......................... 88
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................... 107

3
4
CAPÍTULO 1 – PERSPECTIVAS DE
CASOS

Plantio de Igreja é uma das temáticas

mais fascinantes para o estudante de teologia,

missiologia ou até mesmo para um cristão que

deseja se aprofundar no tema. Payne (2012)

nos lembra que a plantação de Igreja é uma

temática que serve de ponte entre a teologia

(eclesiologia) e a missiologia e, portanto, o

conhecimento oriundo da plantação de Igreja

tem como vantagem, dentre outras, a inserção

em duas áreas altamente relevantes para

quem deseja ter uma sólida formação cristã.

De acordo com Ott e Wilson (2019)

“Plantação de Igreja é o ministério que através

de evangelismo e discipulado estabelece

5
comunidades do reino que se reproduzem

através daqueles que creem em Jesus Cristo e

estão comprometidos com a totalidade do

proposito bíblico a partir dos líderes locais”.

Para Garrison (2007) plantio de Igreja é “a

rápida multiplicação de Igrejas nativas que se

amplia através de um grupo de pessoas ou

segmento”. Já para a ARBCA (2000) Plantio de

Igrejas pode ser definido como “dar à luz, pela

obra do Espírito de Deus, a congregações de

adoradores.”. Payne (2012) por sua vez

apresenta um conceito mais resumido, uma

vez que para ele “A plantação de igrejas

bíblicas é o evangelismo que resulta em novas

igrejas”.

6
Tais conceitos, embora pareçam

distintos, contudo, na essência trazem a ideia

de iniciar uma nova “comunidade de cristãos”.

Pensar desta forma traz, a priori, um grande

desafio pois a Igreja não é um simples

elemento da vida cristã, pelo contrário, é

através dela que se devolve toda a vida cristã

e negligenciar o papel da mesma, pensando de

maneira simplista, pode culminar em um

cenário preocupante, uma vez que ela foi

instituída pelo próprio Senhor Jesus e sem ela

se torna perigoso sobreviver de forma sadia,

numa autêntica vida cristã.

Para pensar então em plantio de Igreja

deve estar claro a definição do que é “Igreja”

(apresentaremos isto no capítulo “perspectivas

7
bíblicas”). Sabendo neste sentido da

importância de uma boa definição de igreja,

gostaria de levantar o questionamento: “Há

alguma ordem bíblica voltada para sua

plantação?”

Então, conforme nos lembra Payne

(2012), embora não haja um comando bíblico

direto para plantar igrejas, nosso Senhor foi

muito claro sobre a Grande Comissão de fazer

discípulos em todas as nações (literalmente,

“povos”, não estados-nação). A melhor

maneira de cumprir esse mandato de

evangelizar, batizar e ensinar obediência é

através do plantio de igrejas contextualizadas

entre os vários grupos de pessoas e

segmentos populacionais do mundo. Pois é no

8
processo de batizar e ensinar que as igrejas

locais são plantadas. Embora nosso Senhor

tenha dado a Grande Comissão antes de sua

ascensão, foi a Igreja apostólica que mais tarde

seguiu em obediência, dando o exemplo de

plantação de igrejas para todos os crentes

imitarem.

1.1 Perspectivas de casos

Sabendo que a melhor forma de

perceber a importância de algo é conhecer bem

sua realidade em casos concretos (antes de

partir para teoria), então, aqui vamos começar

por alguns breves estudos de casos que chamo

de “perspectivas de casos”. Tais relatos, na

realidade, apresentam algumas experiencias

que participei ao longo de quase duas décadas,

9
com vistas à buscar uma base para depois

iniciarmos uma ampla reflexão teórica sobre o

tema. Neste sentido minha expectativa aqui é

oferecer um conteúdo que possa contribuir com

a área e fornecer o que seria básico para

depois fazer as devidas relações com a teoria.

1.1.1 Caso África

Dentre as idas à África, por volta do ano

de 2010 havia feito uma visita a uma capital

africana onde na ocasião encontrei um jovem

na frente de uma universidade e fiz uma certa

amizade, o incentivei (fazendo uma breve

oração para a seleção que participaria) e me

despedi. Anos se passaram e lá estava nossa

equipe em 2016 (depois de quase um ano de

treinamento sobre cultura, língua e

10
evangelismo) pronta para entrar numa

comunidade do interior de um país africano.

Nesta comunidade eles cultivam um tipo de

sincretismo religioso bem específico e tem uma

certa aversão a padrões da sociedade, e,

portanto, vivem nas montanhas. Quando

finalmente chegamos na entrada da

comunidade, mal sabíamos que eles tinham

como hábito impedir a entrada de equipes de

cristãos (e duas equipes, dentre as quais uma

americana, haviam sido impedidas de entrar

em anos anteriores à nossa ida). O líder ao ver

nossa equipe fez sinal impedindo também

nossa equipe de entrar e, ao perceber aquela

situação, confesso que fiquei atônito, sem

reação e preocupado com a consequência que

11
poderia acarretar à nossa equipe de cerca de

25 pessoas. Naquele momento tenso, um

rapaz baixinho olhou para mim e esboçando

um sorriso no rosto, falou para o líder (em

linguagem nativa) que me conhecia. Para

surpresa nossa, aquele jovem que anos atrás

encontrara na universidade era daquela etnia e

morava entre eles no interior. Não apenas isso,

mas ele era filho do líder da etnia e liberou, sem

reservas, a entrada de todo o nosso grupo,

Deus é fiel. Depois de um tempo considerável

de convívio entre eles em um processo que

comíamos, conversávamos, nos

relacionávamos intensamente com eles, e

evangelizávamos (expondo de forma

cuidadosa as boas novas do Evangelho)

12
tivemos o privilégio de ver cerca 40 nativos pela

primeira vez descendo as montanhas para

participar de um culto cristão. Para felicidade

nossa, alguns dos quais depois tomaram a

decisão por Jesus Cristo.

Aquele avanço marcou a vida dos

nativos e da equipe e as atividades seguem

com vistas ao estabelecimento de uma Igreja

local. Na época a estratégia usada para

consolidação do processo foi a parceria com

uma Igreja da região (a cerca de 1 hora de

caminhada a pé da comunidade) para assumir

o trabalho, juntamente com idas periódicas da

equipe para monitoramento do processo,

visitas e comunhão.

13
1.1.2 Caso da comunidade com

predomínio da “religião popular”

Uma outra experiência que participei foi

através de uma comunidade onde a religião

predominante era “popular”, com ênfase no

culto afro e como era localizada na zona rural

do nordeste brasileiro, não havia Igreja

evangélica lá. Nesta em específico foram uns 4

anos de evangelismo com uma equipe de cerca

de 10 pessoas. Nossa equipe se deslocava

semanalmente para a comunidade e realizava

trabalho com crianças e evangelismo em locais

estratégicos. Tal processo ao longo dos quatro

anos não teve nenhum fruto.

Depois de anos, em certo momento, o

líder da comunidade teve um sonho com “um

14
homem com braços abertos, pedindo para que

ele se entregasse à Ele e esse homem era

Jesus”. Ele se entregou a Jesus, o trabalho

ganhou outros apoiadores, tive o privilégio de

ser padrinho de casamento deste líder e pouco

depois desta experiência Deus consolidou o

trabalho a partir do estabelecimento do obreiro

(morando na região) e com os vínculos se

aprofundando a Igreja cresceu. Hoje há uma

Igreja construída lá com uma membresia ativa

e obreiro morando na comunidade.

15
1.1.3 Caso das 10 comunidades

nordestinas

Também no sertão brasileiro, anos atrás

fizemos um planejamento para alcance de 10

comunidades em uma região onde não se

havia Igreja. Na ocasião minha esposa me

perguntou “amor onde estão os obreiros para

estas comunidades?”, eu respondi “Deus

proverá”, no mesmo dia um rapaz ao final da

tarde liga para mim, comentando que Deus o

incomodara para ligar para mim para ajustar

sua vida aos propósito de Deus, mais alguns

instantes algo parecido ocorre com outro irmão.

Em menos de 2 meses estávamos com 10

obreiros (todos locais), juntos para se iniciar o

processo. Basicamente a dinâmica do

16
processo era marcada por evangelismo

contínuo, intencional e periódico nas

comunidades. Contando com o uso de vários

métodos, desde testemunho pessoal em visitas

até filmes com Jesus, e assim era bem intenso

o evangelismo pessoal e em público.

Hoje em dia todas as 10 comunidades

têm convertidos e há Igrejas consolidadas em

7. E estas com Igrejas consolidadas já estão

em processo de alcance de mais outras. Uma

destas já está em processo de plantio de mais

de 6 igrejas. Os obreiros que assumem estas

Igrejas normalmente são da própria Igreja

plantadora e, portanto, não são remunerados.

17
1.1.4 Caso da pesquisa

Me recordo há mais de 10 anos atrás de

uma região que participei de uma pesquisa,

com uso de diagnósticos socioeconômicos

(que por sua vez tinha um modelo matemático

por trás) e até análise com imagem de satélite.

Em meio a esta “parafernalha” tecnológica, na

região não havia nenhum templo evangélico e

o povo não se convertia. Naquele tempo me

lembro do líder da comunidade vim conversar

conosco afirmando que éramos pessoas boas,

e o pessoal da comunidade até gostava de nós,

mas tínhamos um defeito “éramos crentes e

aqui o pessoal não gosta de crentes”.

Foram tempos bem difíceis e em uma

certa tarde, onde não estava munido de

18
nenhuma análise científica, e bem cansado por

sinal, estava com um colega fazendo uma visita

a um senhor nesta comunidade. Me lembro que

embora o meu colega tivesse um bom nível de

teologia, confesso que a mensagem de Jonas,

que ele pregou para o senhor, para alguém que

estava cansado como eu, não foi muito

oportuna e ao ouvir àquela pregação penso até

que em algum momento cheguei próximo de

cochilar. Para surpresa minha aquela

mensagem despretensiosa e longa foi a

mensagem necessária para a primeira

conversão naquele povoado. Hoje tem uma

Igreja plantada lá a partir da conversão daquele

senhor e a Igreja tem crescido com a dinâmica

de um pastor local com formação em teologia e

19
em meio a cultos dinâmicos que envolvem por

vezes uma parte considerável da comunidade.

Em uma das últimas visitas minhas naquela

Igreja, assisti o culto em pé por falta de espaço,

uma vez que a Igreja estava lotada.

1.2 Aspectos gerais

Em situações como estas apresentadas

acima como você procederia? Talvez uma

primeira resposta para esta indagação seria,

algo do tipo “vamos discipular e depois

conseguir um prédio para reuniões e pronto” ou

talvez algo do tipo “é um processo complexo e

tem que ter várias etapas”, ou até “isso é com

Deus, logo logo a igreja crescerá...”.

Embora estas respostas não estejam

erradas em si, todavia é preciso ir com calma e

20
para respondê-las de modo coerente penso ser

oportuno uma introdução em uma evolução da

maneira como se trabalhou o plantio de Igreja,

com as devidas metodologias usadas ao longo

do tempo para tal (capítulo 2), é preciso ter

ciência da base bíblica e seus princípios

(capítulo 3), também penso ser necessários ter

conhecimento de aspectos práticos de plantio

com suas aplicações, como “quais são os tipos

de plantador de Igreja” (capítulo 4), e por fim

quais as considerações finais (capítulo 5).

21
QUESTÕES PARA CONSIDERAR

1. Você conhece algum projeto de

plantio de Igreja? Caso conheça, o que mais te

chamou atenção?

2. Nos casos apresentados acima, como

você procederia?

3. Qual a maior dificuldade para o plantio

de Igreja?

4. Faça um relato de como está a sua

Igreja (ou de alguém conhecido). Busque se

possível tentar aprofundar nos detalhes e

apresente como está a liderança, como está

evoluindo o crescimento nos últimos anos e

quais as perspectivas futuras.

22
5. Caso pudesse (conforme resposta

anterior), o que faria diferente e como?

23
CAPÍTULO 2 – PERSPECTIVAS

METODOLÓGICAS

Antes de mais nada este livro é um

esforço de contribuir com uma abordagem que

permita ir de encontro ao problema observado

em termos de conteúdo para projetos de plantio

de Igreja que desejem apresentar uma

abordagem que vá além do que se chama

“senso comum”.

Com base neste problema penso ser

interessante adentrar no que seriam os

conceitos básicos para quem deseja conhecer

o que seria elementar para plantação de Igrejas

24
e a partir de tal começar a desenvolver um

pensamento crítico sobre o tema.

Como a base destes conceitos está

voltada para “métodos”, denomino aqui estes

conceitos básicos de “Princípios metodológicos

de plantação de Igreja”.

2.1 Princípios metodológicos de plantação

de Igreja

2.1.1 “Autotriplo”

Para iniciar nossa jornada rumo ao

entendimento do que seria básico para

plantação de Igreja torna-se oportuno irmos até

o pensamento elaborado pelo Rufus Anderson

(1796-1880) do Comitê americano de

comissionados para missões estrangeiras, e do

Henry Venn (1796-1873) da Sociedade

25
missionária da igreja inglesa. Eles

desenvolveram a chamada “fórmula tripla”, que

é uma estratégia de plantação de Igreja

formulada a partir do princípio de que a Igreja

para ser plantada deve ser “autogovernada”, ou

seja, deve ter um governo entre os nativos e

neste sentido mostra por trás a ideia do valor

de uma liderança local nativa para o

desenvolvimento de Igreja. “Autodifundida”

estava relacionado à necessidade da própria

Igreja pregar o evangelho, sem

necessariamente precisar da ajuda de externos

(vindo de outras Igrejas). O terceiro aspecto da

estratégia é o “autosustentada” e aqui faz

referência que o sustento da Igreja local deve

26
ser providenciado pela própria Igreja (OTT E

WILSON, 2019).

2.1.2 Estação Missionária

Aqui penso ser oportuno lembrar que o

cenário onde eles desenvolveram esta teoria

tripla era um cenário observado onde estava

presente um forte paternalismo (século 18) por

parte das missões. Ou seja, havia um padrão

estabelecido pelas missões no século 19 que

praticamente tornava os novos convertidos

dependentes da força missionária estrangeria

e, portanto, os nativos não tinham praticamente

voz e dependiam de recursos vindos de fora

para sobreviver. Neste sentido, conforme nos

lembra Payne e Terry (2013), nesta época

havia muitas agências missionárias que se

27
contentavam em estabelecer e manter

estações permanentes. Essas missões se

desenvolviam através de instituições como

hospitais, escolas, orfanatos, seminários,

estações agrícolas e leprosários. Todas essas

instituições exigiram pessoal e fundos

missionários significativos. As agências

relutavam em abandonar essas instituições

caras, porque havia gastado muito dinheiro e

tempo para construí-las. Como resultado,

evangelistas, missionários e plantadores de

igrejas foram rotineiramente chamados em seu

trabalho de campo para supervisionar essas

instituições. Muitos missionários de “campo”

também continuaram a servir

improdutivamente por anos a fio. Embora

28
outros em circunstâncias semelhantes

batizassem muitas pessoas e criassem várias

igrejas, as pessoas envolvidas nessas

instituições racionalizavam sua falta de

sucesso oferecendo banalidades como: "Posso

não ser produtivo, mas estou sendo fiel". Esta

metodologia “pesada” para a obra missionária

era conhecida como “Estação Missionária”,

tendo sido a mesma motivo de muitas críticas

e desafiava o sentido da obra missionária, por

não permitir que os locais se sentissem como

membros de fato de uma obra missionária, e

portanto, gerava uma extrema dependência e

contribuía para a falta de autonomia da Igreja

local.

29
2.1.3 Plano de Nevius

Indo de encontro ao padrão “estação

missionária”, ainda no século 19, temos o

missionário presbiteriano John Livingstone

Nevius, que serviu na China e na Coréia.

Nevius também questionou a metodologia

missionária da época que causava

dependência entre os locais e a missão,

sobretudo por causa do pagamento feito pelas

missões aos crentes locais. Isto segundo ele

causava uma desnecessária dependência

entre a obra missionária e a Igreja local, e

também limitava a autonomia e o crescimento

da obra. Como resposta à “estação

missionária” da época Nevius elaborou o

chamado “Plano de Nevius”, que conforme nos

30
lembra Ott e Wilson (2019), era formado por

três noções:

1ª noção: As igrejas deveriam ser

completamente autossustentadas e lideradas

por nativos não remunerados. Nevius

considerava equivocada a prática de contratar

jovens cristãos chineses como evangelistas

porque esses obreiros perdiam credibilidade,

muitas vezes tornando-se mercenários, e

criava dependência financeira nas igrejas

emergentes.

2ª Noção: Deveriam ser usados

somente métodos e meios da igreja pelos quais

os cristãos locais pudessem se responsabilizar.

Ele insistia que os lugares de adoração

deveriam ser construídos em estilo nativo com

31
recursos próprios. Os cristãos locais deveriam

selecionar e apoiar seus próprios líderes.

3ª Noção: Os cristãos deveriam ser

cuidadosamente instruídos em classes

bíblicas. A Bíblia deveria estar no centro de

todo o trabalho. Os convertidos deveriam ser

testados e treinados simultaneamente em seu

ambiente natural.

2.1.4 “Métodos missionários do

Allen”

Desenvolvendo também uma crítica ao

padrão da “estação missionária” Rolland Allen

(que viveu entre o século 19 e 20) desenvolveu

um livro com os dizeres “Métodos missionários,

os de Paulo ou os nossos” (ALLEN, 1962).

Com vistas a defender um retorno às escrituras

32
para desenvolvimento da metodologia

missionária e dentre as principais noções do

livro temos na tabela a seguir aspectos que

podem ser considerados como mais

relevantes:

33
Tabela 1. Análise do pensamento do

Allen

Aspectos da obra missionária Pensamento do Allen

Evangelismo Em termos de evangelismo e

expansão da obra a Igreja deve

“brotar do solo” a partir dos

nativos. Ou seja, deve se

preocupar em ganhar os

perdidos da sua localidade.

Liderança da Igreja Como Paulo fez, os

missionários deveriam entregar

a liderança aos locais

convertidos para que eles

resolvessem seus próprios

dilemas.

Liderança do missionário O missionário deve se portar

como uma espécie de

“presbítero conselheiro”, ou

seja, o missionário tem como

responsabilidade ser uma

espécie de conselheiro que

promove a ação dos locais na

34
Igreja, e neste sentido seu papel

é mais de orientador.

2.1.5 “Pesquisa do McGavran”

Como o título acima, aqui faço referência

à obra clássica do missionário Donald

McGavran, considerado por alguns como um

dos maiores missiólogos da história. Aqui

contudo penso que para além da obra clássica

do McGavran faz sentido nos aprofundarmos

na sua ação como exímio pesquisador de

missões, elaborando a nível internacional, o

que considero como a primeira grande

pesquisa acadêmica voltada para plantio de

Igreja.

35
Conforme nos lembra Ott e Wilson

(2013) o Church Growth Movement

(Movimento de Crescimento da Igreja) que

McGavran fundou fez uso das ciências sociais

e comportamentais para pesquisar as causas

de crescimento da igreja e, no processo,

produziu centenas de estudos empíricos de

crescimento da igreja e movimento de

plantação de igrejas.

Dentre os principais conceitos

apresentados com base nas pesquisas do

McGavran 4 se destacam (OTT e WILSON,

2013):

1º Movimento de pessoas: Se dá

quando novos cristãos permanecem na sua

esfera natural de relacionamento, se tornando

36
“pontes de Deus” para alcançar outros em sua

sociedade. Um movimento acontece quando

grupos de pessoas (não somente indivíduos)

decidem se tornar seguidores de Cristo e, por

sua vez, levam outros em sua rede de

relacionamentos a Jesus. Dessa forma, os

cristãos não são socialmente deslocados

quando se tornam cristãos. McGavran afirmou

que mais de 95% do crescimento da igreja nas

“igrejas mais jovens” era resultado de

movimentos de pessoas.

2º Princípio da colheita: que parte da

ideia de que os esforços missionários se

concentrassem nas populações mais

receptivas ao Evangelho.

37
Neste sentido os trabalhos missionários

deveriam focar em povos que Deus tinha

amadurecido para a colheita espiritual, a

exemplo do agricultor que colhe somente onde

e quando o fruto está maduro. Nenhum povo

deveria ficar sem uma testemunha de Cristo,

mas a maior parte do pessoal e dos recursos

missionários deveria ser dedicada a povos

receptivos, a fim de não perder a oportunidade

e maximizar as conversões e o crescimento da

igreja.

3º Princípio da unidade homogênea:

Este talvez, mais do que qualquer outro tenha

sido o mais controverso. De acordo com os

autores este princípio parte da ideia de que os

homens devem ser tornar cristãos “sem cruzar

38
as barreiras linguísticas, sociais e raciais”. Este

princípio indica que é maior a possibilidade de

ampliação do cristianismo e grupos que

compartilham de uma mesma cultura.

McGavran foi criticado, embora tal princípio

pudesse estar amparado em dados de suas

pesquisas, contudo em um cenário onde o

preconceito racial predominava, sobretudo em

regiões como o sul dos Estados Unidos,

defender um princípio voltado para unidade

“racial” era num mínimo um absurdo.

2.1.6 Iniciando a linearidade em

Plantação de Igreja

Mais à frente, e como fruto de

aprofundamentos que também dialogaram com

as ciências sociais em certo nível, temos o

39
modelo do David Hesselgrave

(HESSELGRAVE, 2000), que apresenta a ideia

de uma sequência de passos, com base na

interpretação da dinâmica do plantio do

apostolo Paulo analisando na ótica da

sequência do plantio.

Hesselgrave em virtude da sua

formação como antropólogo e portanto,

inserido nas ciências sociais, avança em uma

maneira de plantar Igreja a partir do que chama

de “Ciclo Paulino” que nada mais é do que um

modelo “etapa após etapa” (ou seja,

sequencial) para que a Igreja se desenvolva e

portanto, se torne Igreja.

40
O ciclo Paulino do Hesselgrave (2000)

apresenta elementos que são essenciais na

opinião do autor para aplicação no plantio de

Igreja. Este ciclo é formado por várias etapas,

que tem um tempo atrelado a cada uma e

formam uma sequência. Ou seja, formam uma

“linha contínua” (passo a passo) para a partir

da mesma se plantar uma Igreja. Observando

conceitos modernos de planejamento, o

modelo do Hesselgrave, se assemelharia a

uma sequência de planejamento estratégico,

oriundo das ciências sociais aplicadas. A seguir

os principais passos do ciclo Paulino:

1. Missionários comissionados

2. Audiência contactada

3. Evangelho comunicado

41
4. Ouvintes convertidos

5. Cristãos congregados

6. Fé confirmada

7. Liderança consagrada

8. Cristãos recomendados

9. Relacionamentos continuados

10. Igrejas enviadoras convocadas

Um forte crítico ao modelo do

Hesselgrave foi o missiólogo americano David

Garrison (2007) afirmando, que este

“sequencialismo”, termina por atrapalhar o

processo de plantio de Igreja, haja vista, por

vezes as etapas não são tão “lineares”

(sequenciais) assim.

42
2.1.7 O modelo “viral” do Garrison

O David Garrison talvez tenha sido

responsável pela segunda grande pesquisa (a

primeira foi a do Donald McGavran) em termos

de análise de plantio de Igreja no mundo.

Gerando assim uma ampla reflexão sobre

como se deve de fato plantar uma Igreja.

Segundo Garrison (2007), tudo

começou quando em meados dos anos 90, um

relatório de uma família missionária foi

recebido por uma agência missionária com

desconfiança. Na carta, em uma região onde

antes poucas igrejas haviam sido plantadas,

houve um relato (elaborado pela família

Watson) onde afirmava que havia uma

43
“avalanche de conversões” e igrejas sendo

plantadas.

Segundo o autor, no mundo, de uma

maneira espontânea e, portanto, sem seguir

uma sequência definida, houve vários relatos

de plantio de Igreja e tais relatos começaram a

avolumar seu material com pesquisas

realizadas com diversos cenários, ao redor do

mundo. A seguir a tabela apresenta alguns

destes relatos:

44
Tabela 2. Relatos das pesquisas do

movimento de plantio de Igrejas (GARRISON,

2007)

45
• Um coordenador de

estratégia relata: “Quase no

fim de 1996, visitamos as

várias igrejas da região e

constatamos o número de

pessoas que haviam aceito a

fé em Jesus nesse ano.


Ásia

Quando acabamos de

somar, o resultado foi de

15.000 conversões a Cristo

em um ano. No ano anterior

havíamos feito a estimativa

de 200 crentes no total.”

46
• Um missionário na Europa

relata: “No ano passado

(1998), minha mulher e eu

começamos 15 novos

grupos pequenos. Ao

sairmos por um periodo de


Europa Ocidental

seis meses para uma tarefa

em outro lugar ficamos

imaginando o que

encontraríamos ao retornar.

Foi surpreendente!

Pudemos constatar pelo

menos 30 novas igrejas, mas

creio que esse número pode

ser até duas ou três vezes

mais.”

47
Um missionário estrategista

comentou: “Levamos 30 anos para


África

plantar quatro igrejas neste país.

Começamos 65 igrejas nos últimos

nove meses.”

48
• Quando um coordenador de

estratégia começou sua

tarefa em 1993, havia

somente três igrejas e 85


Sudeste Asiático

crentes numa população de

mais de 7 milhões de almas

perdidas. Quatro anos mais

tarde havia mais de 550

igrejas e cerca de 55.000

crentes.

49
• Em seu sermão semanal, um

clérigo árabe muçulmano


Norte da África

reclamou que mais de

10.000 muçulmanos que

viviam nas montanhas ao

redor, haviam apostatado da


fé islâmica e se convertido

ao Cristianismo.

• Num período de quatro anos


Cidade na China

(1993-1997), mais de 20.000

pessoas encontraram a fé

em Cristo. Como resultado

mais de 500 novas igrejas.


50
• Duas uniões Batistas

superaram uma significativa


América Latina

perseguição do governo e

cresceram de 235 igrejas em


1990 para mais de 3.200 em


1998.

Estes relatos geraram uma mobilização

que redundou em uma ampla pesquisa e com

base nesta pesquisa, foram verificadas certas

características que se repetiam em cada um

destes cenários onde as Igrejas estavam

nascendo, formando os 10 elementos comuns

apresentados a seguir, que estavam presentes

51
nos diversos lugares que apresentam este

crescimento:

1. Oração extraordinária

2. Evangelismo abundante

3. Plantação e reprodução intencional

de Igrejas

4. Autoridade da Palavra de Deus

5. Liderança local

6. Liderança leiga

7. Igrejas nos lares

8. Igrejas plantando Igrejas

9. Reprodução rápida

10. Igrejas sadias.

52
Para além destas dez características

comuns a estes cenários de plantio de Igreja

observados pelo Garrison (2007), chama

atenção o fato da sua crítica a métodos de

plantio de Igreja marcados por uma sequência

de etapas (como o modelo anterior

apresentado pelo Hesselgrave). Para o autor o

sequencialismo aplicado ao plantio de Igreja

pode atrapalhar, ao invés de ajudar. Neste

sentido o autor defende uma forma espontânea

de plantio de Igreja, marcada pela ideia de que

todo mundo na igreja pode ser um plantador. E

assim cada membro da Igreja,

independentemente do local, pode se tornar

um missionário plantador de Igreja. Este

processo foi conhecido também pela metáfora

53
do “coelho e elefante”. Que parte da ideia de

que se você colocar dois elefantes em uma

sala e fechar a porta, em 22 meses poderá

receber um bebê elefante. Mas dois coelhos

juntos, no mesmo tempo, resultarão em

milhares de coelhos bebês. Assim, segundo o

casal de missionários da família Dale et al

(2009), a Igreja plantada neste modelo

“espontâneo” (não sequencial) é mais

tendenciosa ao crescimento, do que os

modelos tradicionais elaborados com base em

uma sequência (como o modelo apresentado

anteriormente do Hesselgrave).

Embora vejamos muitas vantagens

neste modelo, há alguns pontos que foram

motivo de crítica pelo Ott e Wilson (2019),

54
dentre os quais a baixa eclesiologia do modelo.

Ou seja, reuniões sem as características

bíblicas do que seria uma Igreja, (veremos nos

capítulos mais à frente) no modelo do Garrison

poderiam ser consideradas uma Igreja e isto

tanto limita a ação da Igreja, quanto pode, em

níveis mais profundos, causar um ambiente

passível de desvirtuações do evangelho.

Outro problema no modelo tem a ver

com a liderança. Ou seja, embora louvável e

com muitos frutos, este modelo do Garrison

(2007) parte de uma ideia que simplifica

interpretações bíblicas, como as de Efésios 4,

que estabelece na Igreja papéis definidos para

liderança e membresia (uns para apóstolos,

outros para evangelistas, etc...) e isto se levado

55
a um patamar de maior generalização (como

alguns processos do relato das pesquisas do

Garrison apresentam) pode culminar na ideia

de que todo mundo deva ser um missionário e

isto se levado ao extremo, termina por

generalizar missões para qualquer lugar,

entrando em conflito com a teologia bíblica da

vocação, que tem com base, princípios como

o observado em Atos 13, que apresenta a ideia

que apenas alguns foram separados (no caso

Barnabé e Paulo) pela Igreja para obra além

mar.

56
2.1.8 A retomada da “linearidade”

pelo Craig Ott e Gene Wilson

Em meio a estas críticas o professor Dr.

Craig Ott juntamente com Gene Wilson,

elaboraram uma contribuição para a obra

missionária que de certa forma, tanto critica

quanto aproveita alguns aspectos do

pensamento do Garrison (2007). Apresentando

um novo modelo que volta ao “sequencialismo”

do Hesselgrave, com algumas ressalvas.

Neste sentido, embora os autores

apresentem algumas vantagens nos 10

princípios apresentados pelo Garrison (2007),

desenvolvem um discurso em prol de

novamente se buscar uma sequência de

57
passos para plantar uma Igreja. Chama a

atenção no pensamento dos autores que antes

de partir para estratégia de plantar uma Igreja

eles aprofundam no entendimento do que seria

“uma Igreja”, de certa forma apresentando uma

resposta à “baixa noção de Igreja” (ou

eclesiologia superficial) apresentada no

material do David Garrison (2007). A seguir a

sequência apresentada pelo Ott e Wilson

(2019), chamada por eles de “fases de

desenvolvimento:

1. Preparação [Parte 1]:

Estabelecer o alvo e

comissionar

58
2. Preparação [Parte 2]:

Compreender e estabelecer a

estratégia

3. Lançamento: Evangelizar e

discipular

4. Estabelecimento: Congregar e

amadurecer

5. Estruturação: Expandir e

capacitar

6. Reprodução: Fortalecer e

enviar

59
2.1.9 Método para avaliar modelos de

plantio de Igreja

Depois de ter apresentado aqui alguns

métodos voltados para plantio de Igreja uma

pergunta vem à mente: “Qual o modelo que

devo utilizar no meu caso específico?"

Em anos recentes Tom Steffen

(renomado missiólogo da Biola University)

desenvolveu um método para selecionar qual o

melhor modelo de plantio de Igreja.

Tom Steffen (1994) foi missionário por

mais de 10 anos nas Filipinas no início da

década de 1970, embora fosse plantador de

Igreja por muitos anos nas Filipinas, via uma

lacuna em relação à modelos de plantação de

Igreja. 10 anos mais tarde veio o modelo do

60
Hesselgrave e isto começou a mudar e hoje

temos muitos modelos de plantação de Igreja.

Em meio a este cenário contudo, com

base em muitos modelos hoje disponíveis para

aplicação, fica a interrogação de qual o melhor

modelo para ser aplicado.

Steffen (1994) propõe então um modelo

para avaliar qual o “melhor modelo para ser

aplicado”, formado por duas dimensões. A

primeira trata de abrangência do modelo e a

segunda analisa efetividade.

61
CRITÉRIOS

Bíblico Encarnacional Holístico Empoderamento Reprodução

Palavra Aquisição de línguas Necessidad Função de Evangelismo


(Velho e Novo
es plantadores de
testamento)
alimentares Igreja (evolução)

Espírito Aquisição cultural Necessidad Função a nível Discipulado

Santo es macro (evolução)

espirituais

Oração Relacionamento com Visão de longo Liderança

o time e com outros prazo

Evangelh Relacionamento com Orientação de Organização

o preciso a comunidade saída de Igreja

Reprodução

de Igreja

Preocupaçã

o social

Figura 1. Quadro de abrangência do Steffen

Neste quadro acima o autor apresenta 5

critérios maiores (Bíblico, Encarnacional,

Holístico, Empoderamento e Reprodução) para

62
avaliar a abrangência do plantio de Igreja (com

os devidos sub-critérios) buscando entender

desde aspectos bíblicos, passando pelos

“encarnacionais”, holísticos, empoderamento e

reprodução. A avaliação de cada critério deste

deve seguir os sub-critérios e caso o plantio os

tenha de forma satisfatória isso é contemplado

com uma nota que vai de “0” a “10”.

Para além da análise da abrangência, o

Tom Steffen também apresenta uma análise de

efetividade com 5 dimensões de análise

(semelhante à análise SWOT da teoria

administrativa), conforme quadro a seguir.

63
Características Suposições forças Fraquezas adaptabilidade

Chave

Figura 2. Quadro da análise de efetividade do Steffen

Cada categoria (seja de abrangência, seja de

efetividade) receberá uma nota (1 a 10). Como são 10

categorias (5 de abrangência e 5 de efetividade) a nota

máxima que um determinado modelo pode receber é

100.

A escala de avaliação de 10 pontos deve ser

baseada na satisfação do plantador de igrejas com o

modelo e pode ser dividido da seguinte forma:

64
10 9 8 7 5 6 4 4 3 2 1

Completamente Muito Satisfação Pouco Insatisfeito

Satisfeito Satisfeit moderada satisfeito

Figura 3. Escala de avaliação do Tom Steffen

Com base na nota dada a partir da figura

acima, se atribui um valor para todos os 10 itens (5 de

abrangência e 5 de efetividade). Caso a nota seja

máxima o modelo ganharia 100 e evidentemente o

modelo seria aprovado. Com base nisto surge uma

outra questão “Caso a nota do modelo não fosse a

máxima em todos os itens este modelo deveria ser

rejeitado? Para responder a esta pergunta mais uma

vez recorremos ao Steffen, com base na tabela a seguir

65
ele apresenta o que fazer quando a nota do modelo de

plantio de Igreja for inferior a 100:

Tabela 3. Avaliação do modelo

Nota O que fazer?

100 – 95 Use o modelo!

94 – 90 Use com ajustes

mínimos.

89 – 80 Use com grandes

ajustes.

79 – 0 Não use

Com base na tabela acima se a nota for de 100

a 95 deve se usar o modelo sem problema. Caso a nota

seja abaixo de 79, o modelo deve ser rejeitado. Caso

seja de 94 a 90, deve se usar com ajustes pequenos e

entre 89 e 80 com ajustes maiores.

66
Uma vez apresentadas as algumas correntes

no que se refere a metodologias em termos de plantio

de Igreja, agora vamos nos aprofundar nas

“perspectivas bíblicas” destacando vários

pensamentos a respeito.

67
QUESTÕES PARA CONSIDERAR

1. Quais os benefícios da “estação

missionária”?

2. Quais os problemas principais da

estação missionária?

3. Qual as vantagens do uso de um

modelo linear de plantio de Igreja?

4. O que mais te chama atenção no

modelo do Garrison e por quê?

5. Leia com atenção Lucas 10 e busque

correlacionar com os conceitos deste capítulo.

Quais os conceitos que aparecem com mais

frequência e por quê?

68
6. Caso você fosse escolhido para

selecionar um modelo de plantio qual

escolheria e por quê?

7. Aplique o método do Tom Steffen em

um caso (hipotético ou não) de plantio de Igreja

e apresente um parecer.

69
CAPÍTULO 3 – PERSPECTIVAS

BÍBLICAS

Para pensar em perspectivas bíblicas de

plantio de Igreja, inicialmente, é preciso

focarmos na própria Igreja. Buscando assim, a

partir da correta definição de Igreja, a definição

posterior de plantação de Igreja.

3. 1 Base bíblica da Igreja

Ott e Wilson (2019) indo em linha

semelhante apresentam algumas

características importantes de Igreja: Em

primeiro lugar, a igreja é uma entidade

70
espiritual, concebida pelo Pai (Ef 1.3-6),

edificada por Cristo (Mt 16.18) e habitada pelo

Espírito Santo (Ef 2.19-22). A igreja é o

principal veículo de Deus para manifestar a

natureza do Seu Reino nessa época e

apresentam a definição de Igreja como “Uma

igreja local é uma comunhão de crentes em

Jesus Cristo comprometidos a reunir-se

regularmente para propósitos bíblicos sob uma

liderança espiritual reconhecida (OTT E

WILSON, 2019)”.

Com base nisto os autores apresentam

uma base bíblica prática aplicada a Igreja em

termos de seu propósito e obra. Atos 2.42

descreve as atividades básicas da igreja em

termos de ensino apostólico, comunhão, partir

71
do pão (e batismo) e oração, aos quais são

acrescentados louvor e evangelismo (v.47) e

então mais tarde, o envio intencional de

missionários (At 13). Os teólogos têm falado

também do testemunho da igreja (martyria),

comunhão (koinonia), serviço (diakonia),

proclamação (kerygma) e adoração (leiturgia).

Para além da base apresentada, há

também as metáforas que fazem relação com

a Igreja, dentre as quais: Povo de Deus, Corpo

de Cristo, Rebanhos de Deus, Noiva de Cristo,

Templo de Deus e Sacerdócio real.

Múzio (2015) apresenta talvez uma das

melhores obras para quem deseja se

aprofundar no “DNA da Igreja”. Para ele Igreja

é o “povo de Deus reunido para adorá-lo, para

72
ouvir a sua Palavra proclamada, para celebrar

as ordenanças e para observar a ordem e

disciplina em suas vidas”. E possui como

marcas essenciais:

1. Adoração (Ap 4.8-11; Jo 4.24);

2. Palavra (2 Tim 3.16; Pv 3.5-6)

3. Ordenanças (1 Cor 11; Mt 3.15)

4. Governo (Tt 1.6-9; 1 Tm 3.1-23; Ef

4.11)

E para além das marcas essenciais da

Igreja, citadas acima, Múzio (2015) vai em linha

semelhante ao Ott e Wilson (2019)

apresentando como funções da Igreja:

(martyria), comunhão (koinonia), serviço

(diakonia), proclamação (kerygma).

73
Contribuindo também com o tema,

Lidório (2011) afirma que existem 5 aspectos

importantes para se pensar na função da

Igreja:

1º Igreja é a comunidade dos redimidos,

foi originada por Deus e pertence a Ele (1 Co

1.1-2).

2º A Igreja não é uma sociedade

alienante. Aqueles que foram redimidos por

Cristo continuam sendo homens e mulheres,

pais e filhos, fazendeiros e comerciantes que

respiram e levam o evangelho onde estão (1

Co 6.12-20).

3º A Igreja é uma comunidade sem

fronteiras e, portanto, missionária (Rm 15. 18-

19).

74
4º A vida da Igreja, acompanhada das

Escrituras, é um grande testemunho para o

mundo perdido. Por isso, é necessário que

preguemos um evangelho que faça sentido

tanto dentro como fora do templo (Jo 14.26;

16.13-15).

5º A missão maior da Igreja é glorificar a

Deus (1 Co 6.20, Rm 16.25-27).

Apresentada, assim breve introdução do

que seria uma Igreja a seguir vamos entrar de

forma mais profunda na temática da plantação

de Igrejas em si.

75
3.2 Base bíblica do plantio de Igrejas

Embora a bíblia não apresente de forma

direta uma definição do que seria plantar uma

Igreja, esta metáfora é usada por Paulo quando

se refere à Igreja e, portanto, sua aplicação

condiz com o que a bíblia apresenta sobre o

assunto. “Plantar”, neste sentido, é um termo

usado pelo apóstolo Paulo para descrever seu

ministério de estabelecimento de novas igrejas

em 1 Coríntios 3.6: Eu plantei, Apolo regou,

mas Deus é quem fez crescer. Embora Paulo

tivesse uma variedade de dons e ministérios,

“plantar” aqui se refere a seu ministério

apostólico pioneiro de estabelecer novas

igrejas em lugares e entre pessoas onde não

76
havia (Rm 15.20) uma igreja preexistente (OTT

E WILSON, 2019).

3.2.1 Base bíblica nos evangelhos e

em Atos

Stetzer (2006) apresenta como base

bíblica uma incursão na vocação, passando

pela grande comissão e culminando na base de

ter Paulo como modelo. Para o autor é preciso

ter como ponto de partida os quatro

comissionamentos de Jesus como indicativo

para plantação de Igreja. A saber:

a. Jo 20.21 (vos envio)

b. Mt 28.18-19 (fazer discípulos)

77
c. Lc 24.47 “pregando o

arrependimento a todas as

nações”

d. Atos 1.8 “até aos confins”

Stetzer (2006), como base para plantio

de Igreja, destaca um aprofundamento na

observação da vida Paulina. Para o autor, a

base bíblica para plantio de Igreja está

centrada em Paulo como personagem principal

e apresenta uma divisão do livro de Atos com

as viagens missionárias do Paulo, como

sequência da plantação:

I.Atos 13-14 (Galácia)

II.Atos 16-18.22 (Macedônia:

Filipos/Tessalônica)

78
III.Atos 18.23-20-38 (Éfeso/Etc...)

De forma mais ampla e sequencial

Hesselgrave (2000) apresenta uma base sólida

para plantio de Igreja voltada para etapas,

formando, conforme já referimos “o ciclo

paulino”:

1. Missionários comissionados—Atos 13:1–4;

15:39–40

2. Audiencia contactada—Atos 13:14–16;

14:1; 16:13–15

3. Evangelho comunicado—Atos 13:17–41;

16:31

4. Ouvintes convertidos—Atos 13:48; 16:14–

15

5. Crentes congregados—Atos 13:43

6. Fé confirmada —Atos 14:21–22; 15:41

79
7. Liderança consagrada—Atos 14:23

8. Crentes elogiados—Atos 14:23; 16:40

9. Relacionamentos continuados—Atos

15:36; 18:23

10. Envio de Igrejas convocadas—Atos

14:26–27; 15:1–4

Esta centralização do plantio de Igrejas

tendo o apóstolo Paulo como personagem é de

certa forma criticada pelo Ott e Wilson (2019)

uma vez que afirmam que, antes de qualquer

coisa, foi Jesus que instituiu a Igreja e,

portanto, deve ser o ponto de partida para a

base bíblica da mesma. Para os autores Jesus

é, por excelência, o plantador da igreja (Mt

16.18). Podemos afirmar isso historicamente

pelo fato de ele ter estabelecido a primeira

80
comunidade cristã, edificada sobre seus

ensinos e no poder do seu Espírito para

cumprir sua missão no mundo. Jesus

considerava o grupo de discípulos uma

comunidade embrionária ou igreja. Sabemos

disso porque ele os chama de “ecclesia” em

Mateus 18.17 quando lhes deu as instruções

sobre como lidar com ofensas. Jesus promete

edificar sua igreja (Mt 16.18) baseado na

verdade a'firmada por Pedro que ele é o

Messias. A referência à ecclesia é usada

principalmente em um tempo futuro, mas tem

sua raiz no presente. A igreja é fundada na

proclamação apostólica de quem Jesus é (a

rocha), vive sob a autoridade apostólica (poder

das chaves) e se ergue vitoriosa sobre a

81
oposição satânica (portas do Hades). O avanço

e a expansão da igreja são, portanto,

garantidos, e seu fundamento não é outro

senão a pessoa e a obra de Jesus Cristo

proclamada pelo ensino apostólico. O grupo de

discípulos antes do Pentecostes era

embrionário e de certa forma fluído, mas exibia,

no entanto, as características que Jesus

esperava de seus seguidores.

Garrison (2007) apresenta um modelo

de “multiplicação” voltada para o plantio de

Igreja com base em Jesus. Para o autor, Jesus

e a igreja primitiva praticaram o aumento da

multiplicação. Em Lucas, capítulo 5, Jesus

escolheu 12 discípulos. Em Lucas 9, ele os

enviou, e embora não o diga nesta passagem,

82
aprendemos mais tarde que seu padrão era

enviá-los 2 a 2. No próximo capítulo, Lucas 10,

Jesus enviou 72 discípulos. De onde vieram

esses 72? Se entendermos o princípio da

multiplicação, é fácil imaginar que os 6 pares

originais de discípulos fizeram exatamente o

que seu Mestre havia modelado: discipularam

outros 12, resultando em 72 discípulos (6 x 12

= 72). Espere que esses 72 discípulos se

multipliquem também. Se eles seguissem de

perto o exemplo de Jesus, os 72

(compreendendo 36 pares de discípulos)

teriam produzido 444 discípulos (36 x 12 =

444). A adição desses 444 a seus 72 mentores

produziria uma igreja primitiva de mais de 500

discípulos de Jesus. Esse foi o padrão seguido

83
pela igreja primitiva? Em sua primeira carta aos

Coríntios, Paulo descreveu a comunidade que

cumprimentou Jesus após sua ressurreição:

"Ele apareceu a mais de quinhentos irmãos ao

mesmo tempo." O padrão de multiplicação

continuou após a ascensão de Jesus? Vamos

ver. Se esses mesmos 500 irmãos formarem

equipes 2 a 2 e imitarem o modelo de

discipulado de Jesus de 12 convertidos cada

um, eles produziriam 3.000 discípulos (250

pares x 12 = 3.000). Na mensagem de Pedro

de Pentecostes de Atos 2:41, lemos que 3.000

receberam a mensagem e foram batizados em

um único dia. Alguns podem questionar se

Jesus tinha uma fórmula precisa para

multiplicar em grupos de 12, mas é claro que

84
Jesus pretendia que seus seguidores se

multiplicassem, e multiplicaram. Esta análise

do Garrison (2007) embora válida, deve ser

avaliada com cuidado, pois se levado à risca

sem ponderação, pode culminar em uma

ênfase um tanto “exagerada” em números, que

beira o pragmatismo voltado para resultados.

Aqui faz sentido ouvir o Lídório (2011), que

também contribui para o tema afirmando que o

plantio de Igreja não deve ser definido em

termos de resultado, mas sobretudo por sua

proclamação e pela fidelidade as Escrituras.

85
QUESTÕES PARA CONSIDERAR

1. Leia a base bíblica do livro de

Atos (13-18) de plantio de Igreja e enumere os

detalhes das equipes missionárias de Paulo e

Barnabé e formas de propagação do

evangelho. Analise também se estes métodos

poderiam ser eficazes nos dias de hoje e

como?

2. Quais os aspectos na vida de Jesus

que podem fazer referência à Igreja?

3. Quais os aspectos presentes no

plantio de Igreja da base bíblica de Atos (13-

18) você entende que são difíceis de serem

aplicados hoje e por quê?

86
4. Na sua opinião quais as

características do Apóstolo Paulo mais

contribuíram para plantio de Igreja?

5. Na sua opinião é necessário que a

Igreja concorde com sua vocação? Justifique.

87
CAPÍTULO 4 – PERSPECTIVAS

PRÁTICAS

Uma vez apresentados os aspectos

conceituais e a base bíblica, aqui vejo como

oportuno passar então às perspectivas “mais

práticas” no que se refere à plantação de Igreja.

Quais os tipos de Igrejas que existem?

Quais os tipos de plantadores que existem?

Quais os tipos de estratégia de plantio? Estas

são algumas perguntas que buscaremos

responder neste capítulo.

88
4.1 Tipos de Igreja

Ott e Wilson (2019) fazem uma

classificação de tipos de Igrejas, apresentando

basicamente três tipos:

a) Igrejas nos lares

b) Congregação reunida voluntariamente

c) Igrejas em células

Nesta classificação os autores

apresentam a Igreja nos lares como uma

comunidade cristã básica onde o foco são os

relacionamentos. Este tipo de Igreja

geralmente é dirigido por pastores leigos e tem

como local de reunião geralmente casas ou

locais neutros (como o trabalho). Ott e Wilson

(2019) colocam como problema para este tipo

de Igreja o fato de estarem a mercê de terem

89
líderes controladores e falsas doutrinas. Como

exemplo temos a Igreja nos lares da China.

Neste modelo, Múzio (2015) aproxima o que

Garrison (2007) apresenta como “movimento

de plantio de Igreja”, aplicando de certa forma

ao caso brasileiro (com Igrejas nascendo de

maneira ampla em várias partes do país) e as

caracterizando como Igrejas simples que

nascem a partir de obreiros leigos (sem uma

formação em seminário). Chama atenção a

ênfase que o autor dá para este tipo de modelo

e a ressalva feita para este modelo em relação

ao perigo do sincretismo caso não se busque

uma doutrina saudável.

O segundo tipo do Ott e Wilson (2019) é

a Congregação reunida voluntariamente. Neste

90
modelo há a presença de um prédio próprio,

geralmente são dirigidos por pastores

ordenados, remunerados e tem um programa

de ações para sua atuação, além de reunião de

pessoas a partir da afinidade. Como exemplo

temos a maioria da Igrejas dos Estados Unidos.

Como maior problema para este tipo de modelo

temos a reprodução lenta, dificuldade de

adaptação às mudanças e vulnerabilidade em

contextos de perseguição.

O terceiro exemplo do Ott e Wilson

(2019) é o modelo da Igreja em células. Neste

modelo parte da celebração são nos lares e

parte em um local público e seu crescimento se

dá com uma base na multiplicação da liderança

e abertura de novas células. Além de estar à

91
mercê dos mesmos problemas da Igreja nos

lares, há também o problema de conciliar a

celebração em público com a dinâmica dos

lares. Como exemplo temos algumas Igrejas na

Coréia do Sul e em outras partes do mundo.

Além dos tipos apresentados acima,

Múzio (2015) ainda coloca como modelos

atuais de Igreja a “Willow Creek Community”

que tem como base a divisão em ministérios

em um modelo de rede ministerial. O

“Desenvolvimento natural da Igreja” que tem

como base uma pesquisa voltada para

entender o que faz com que a Igreja cresça e o

“Tribal generation” que é uma metodologia

voltada para a contextualização da mensagem

para a época atual, em um modelo que adapta

92
o formato da Igreja para a realidade pós-

moderna.

Uma vez apresentado os tipos de Igreja,

vamos passar então para as abordagens de

plantação de Igreja. Aqui temos duas divisões,

a abordagem à nível do plantador e a

abordagem à nível da agência.

4.2 Abordagem à nível do plantador

Neste primeiro tipo “à nível do plantador”,

o foco são tipos de plantio trabalhados a partir

de uma perspectiva mais voltada para quem vai

plantar Igreja.

93
4.2.1 Plantador único

O plantador único (chamado por alguns

de plantador “solo”) é o modelo mais comum de

plantação de igrejas, sendo a imagem típica

que muitas pessoas têm do plantador pioneiro.

Tem como característica o fato de sozinho,

fazer o trabalho de evangelismo e discipulado,

reunindo os novos cristãos para formar uma

igreja.

.4.2.2 Equipe de plantação de igrejas

Uma segunda abordagem é a equipe de

plantação de igrejas onde uma equipe de

obreiros com uma visão comum e vários dons

pode se unir nesse projeto.

94
De acordo com Ott e Wilson (2019) hoje,

em missões transculturais, a abordagem de

equipe tem se tornado a norma para a

plantação pioneira. Geralmente, os membros

da equipe são todos missionários

vocacionados, mas esse nem sempre é o caso,

alguns podem ser bi-vocacionados.

4.2.3 Plantação de igrejas por

colonização

A plantação de igrejas por colonização é

quando um grupo de pessoas, da mesma igreja

ou recrutados de várias igrejas, se muda para

uma cidade ou região-alvo. Como um

assentamento de colonos, eles formam a base

da nova igreja e geralmente é composto de

famílias inteiras.

95
4.2.4 Plantação não residente ou projeto de

curto prazo

De acordo com Ott e Wilson (2019) a

plantação não residente ou projeto de curto

prazo ocorre quando o plantador ou a equipe

de plantadores não estabelecem residência

permanente no local da igreja que está sendo

iniciada. Eles fazem visitas curtas periódicas ao

local ou permanecem ali por apenas alguns

meses. A ideia é evangelizar rapidamente,

reunir uma base de cristãos locais, treiná-los

com os ensinos básicos de como entender a

Bíblia e como funciona a vida da igreja e, então,

seguir adiante. Os plantadores continuam a

96
fortalecer a congregação através de visitas

curtas ocasionais.

4.2.5 Outros métodos

Há também o plantio de Igrejas

“internacional” e o plantio indireto de Igrejas. O

primeiro se dá quando se tem uma igreja

inicialmente formada por um grupo cultural,

contudo de forma intencional ela busca ser

composta por várias culturas. Formando um

conglomerado multiétnico. O segundo tipo é

quando a igreja nasce sem necessariamente

ser o alvo principal do projeto. Por vezes

formadas a partir de algum projeto de natureza

social, ministério de tradução da bíblia etc (OTT

E WILSON, 2019).

97
4.3 Abordagem à nível da agência

Nesta perspectiva a ênfase está nas

estratégias usadas por órgãos mais amplos

(agências missionárias geralmente) que

desejam trabalhar uma estratégia para plantar

Igreja. A seguir os principais tipos (OTT E

WILSON, 2019):

a) Prioridade de colheita: Aqui temos

plantação por prioridade de “colheita”

desenvolvida em várias localidades, tendo o

plantio desenvolvido em locais de maior

receptividade (ou seja, maior colheita).

b) Plantio de Igreja por cabeça de ponte

estratégica: Aqui se dá quando se procura

estabelecer pelo menos uma Igreja em cidades

98
ou locais estratégicos, não alcançados.

Distantes geograficamente.

c) Plantio de Igreja por agrupamento:

Busca plantar um grupo de Igreja do mesmo

seguimento em uma área limitada.

d) Plantação de Igreja por propagação da

videira: Aqui Igrejas são plantadas a partir de

uma rota de transporte em cidades (ou

similares) consecutivas.

e) Plantação de Igreja por diáspora: Aqui a

Igreja é plantada à medida que os cristãos se

dispersão por determinada área. E de forma

espontânea estabelecem a Igreja.

99
4.4 Tipologias de Plantadores de

Igreja

Uma vez apresentado os tipos de Igreja e

as abordagens para plantação, aqui torna-se

oportuno apresentar os tipos de plantadores.

Nestes termos, algumas tipologias se

destacam como as principais: “colheita

apostólica”, “pastoral”, “plantador em equipe” e

“catalítico” (STETZER, 2006; OTT E WILSON,

2019):

a) Plantador “colheita apostólica”

Aqui a ênfase é iniciar uma nova igreja,

formar líderes vindos da colheita e seguir para

uma nova igreja. O modelo bíblico é o apóstolo

Paulo. As principais características deste

100
modelo são: 1) o plantador inicia uma igreja e

segue para outro local; 2) o pastor vem da

igreja e volta para ela; 3) o pastor pode ou não

ter preparo teológico tradicional; 4) As novas

igrejas disponibilizam um núcleo de crentes

para plantar novas congregações.

b) Plantador pastoral “pastor fundador”.

Aqui o plantador de igreja age como plantador

de igreja por pouco tempo e depois permanece

por longo tempo pastoreando a nova igreja. O

modelo bíblico é o de Pedro e a igreja de

Jerusalém e as principais características são:

1) o plantador planta e pastoreia a igreja

durante longo periodo; 2) o pastor em muitos

casos vem de outro lugar; 3) pastor com

101
formação em teologia; 4) igreja patrocina a

plantação de novas igrejas (situação ideal)

c) Plantador em equipe.

Aqui um grupo de plantadores se desloca para

uma determinada região para plantar uma

igreja e com frequência a equipe tem um pastor

líder. O modelo bíblico faz referência às

equipes de Paulo (Paulo, Barnabé e João

Marcos; Paulo, Silas e Lucas, etc.). As

principais características são: 1) Uma equipe

se desloca para plantar uma nova igreja (as

vezes não é preciso mudar para o novo local);

2) A visão da plantação tem por vezes um líder;

3) Boas equipes com combinação de dons; 4)

102
Membros da equipe se dividem em várias

igrejas filhas.

103
d) Catalítico.

Aqui a ênfase é plantar uma Igreja que

se tornará o “catalizador”, ou seja, que

estimula a geração de muitas outras

Igrejas. Neste modelo o plantador funda

uma Igreja grande e forte e a mesma

serve como centro para gerar outras

Igreja filha desta. As principais

características são: 1) Adequada para

uma área já receptiva ao evangelho; 2)

Relacionamento de longo prazo com a

região; 3) Pastor permanece na região;

4) Forma uma rede de novas Igrejas.

104
QUESTÕES PARA CONSIDERAR

1. Apresente qual o melhor tipo de

Igreja para locais em perseguição. Justifique.

2. Para locais pioneiros qual a

abordagem que você utilizaria? Justifique.

3. Classifique a sua Igreja com base nos

critérios da pergunta anterior.

4. Apresente um exemplo de plantação

de Igreja com o tipo “plantador pastoral” e

justifique.

5. Apresente um modelo de plantio de

Igreja onde houve a presença do plantador

“catalítico”, justifique.

105
106
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desta incursão no plantio de

Igreja gostaria que ficasse claro que para se

plantar Igreja deve se ter um cuidado no

entendimento do que seria uma Igreja,

percebendo sobretudo que há sim um padrão

bíblico que delimita funções e características

do que é “uma Igreja” e a não observação deste

padrão, no afã de conseguir resultados em

termos de quantidade, pode culminar em um

cenário preocupante que embora pareça com o

evangelho, contudo continuará longe da “cruz”.

Modelos e metodologias que

apresentem resultados rápidos, devem ser

analisados à luz da Escritura e não do

107
pragmatismo que busca resultados (LIDÓRIO,

2011). Embora a época atual clame por

números, sem uma definição coerente com o

padrão bíblico, há o claro risco de

negligenciarmos o que seria correto e

permitirmos um cenário para promoção do

sincretismo.

Por fim, para plantar Igreja deve-se

entender que não existe uma fórmula pronta e

o cenário é bem amplo com vários tipos de

plantadores, vários tipos de Igreja e várias

estratégias para plantação pioneira de Igrejas.

Portanto, é preciso estar alinhado a partir do

padrão bíblico de plantação de Igreja, a uma

dinâmica de um “leque de possibilidades”, não

limitando o “poder de Deus”, contudo buscando

108
a saudável postura “bereiana” (ATOS 17.11-

12) de olhar sempre para a Escritura em busca

da reposta.

“Faça Grandes coisas para Deus,

espere grandes coisas de Deus” Willian Carey

109
QUESTÕES PARA CONSIDERAR

1. Busque correlacionar os casos do capítulo 1

com o conteúdo deste livro, destacando

(sempre que possível) o tipo de plantador, tipo

de abordagem (individual e/ou agência), tipo de

Igreja etc.

2. Apresente uma análise de um cenário de

Igreja conhecido e com base no conteúdo

deste livro, destaque alguns aspectos que você

faria diferente.

110
REFERÊNCIAS

ALLEN, Roland. Missionary methods: St.

Paul's or ours?. Wm. B. Eerdmans Publishing,

1962.

ASSOCIATION OF REFORMED BAPTIST

CHURCHES OF AMERICA - ARBCA - A

Theology of Church Planting. In:

https://www.arbca.com/home-missions-

blog/post/a-theology-of-church-planting. 2000

DALE, Tony; DALE, Felicity; BARNA,

George. The Rabbit and the Elephant: Why

Small is the New Big for Today's Church.

Tyndale House Publishers, Inc., 2009.

GARRISON, David. Church planting

movements: How God is redeeming a lost

world. WIGTake Resources, 2007.

111
HESSELGRAVE, David J. Planting churches

cross-culturally: North America and

beyond. Baker Academic, 2000.

LIDÓRIO, Ronaldo. Teologia Bíblica do

Plantio de Igrejas. Manaus. Instituto Antropos,

2011

MUZIO, Rubens. O DNA da Igreja:

Comunidades cristãs transformando a

nação. Editora Evangélica Esperança, 2015.

OTT, Craig, WILSON, G. Plantação global de

igrejas: Princípios bíblicos e as melhores

estratégias de multiplicação. Ed. Esperança.

Curitiba, 2019.

PAYNE, J. D. ; TERRY, John Mark Developing

a Strategy for Missions (Encountering

112
Mission), A Biblical, Historical, and Cultural

Introduction. Gran Rapids, 2013

PAYNE, Jervis David. Discovering church

planting: An introduction to the whats,

whys, and hows of global church planting.

InterVarsity Press, 2012.

STEFFEN, Tom A. Selecting a church planting

model that works. Missiology, v. 22, n. 3, p.

361-376, 1994.

STETZER, Ed. Planting missional churches.

B&H Publishing Group, 2006.

113
Danilo Duarte Costa e Silva é missionário da Associação

Missionária para Difusão do Evangelho e pastor. Tem

formação na área de exatas e humanas, com graduação em

Engenharia Civil e Teologia, pós-graduação na área de

Antropologia, Mestrado pela Universidade Federal do Rio

Grande do Norte com pesquisa voltada para

desenvolvimento sustentável e Doutorado pela Universidade

Federal de Campina Grande com pesquisa voltada para

desenvolvimento sustentável no semiárido brasileiro.

Atualmente foi aceito em um segundo Doutorado, desta vez

na Tyndale University, em Toronto (Canadá) com pesquisa

na área de Missiologia.

Atualmente é professor efetivo da Universidade Federal de

Goiás e do Centro de Estudos Avançados em Missões

(CEAM – AMIDE). Autor de 5 livros na área de Missiologia e

4 na área de Engenharia/Hidrologia.

114

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