AMBIÊNCIA EM EDIFICAÇÕES RURAIS Confort Animal

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Ambiência em edificações rurais: conforto animal 1

AMBIÊNCIA EM EDIFICAÇÕES RURAIS


CONFORTO ANIMAL
2 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Universidade Federal de Viçosa


Reitor Luiz Cláudio Costa
Vice-Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares
Diretor da Editora UFV José Gouveia da Silva
Conselho Editorial Célia Alencar de Moraes (Presidente),
Eduardo Seiti Gomide Mizubuti, Ernane
Corrêa Rabelo, Fernanda Henrique
Cupertino Alcântara, José Gouveia da
Silva, Júlio Maria de Andrade Araújo,
Kétia Soares Moreira, Pedro Crescêncio
Souza Carneiro e Ricardo Junqueira Del
Carlo

A Editora UFV é filiada à

Associação Brasileira das Editoras Asociación de Editoriales Universitarias de


Universitárias América Latina y el Caribe
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 3

Fernando da Costa Baêta


Cecília de Fátima Souza

AMBIÊNCIA EM EDIFICAÇÕES RURAIS


CONFORTO ANIMAL
2ª Edição

Universidade Federal de Viçosa


2010
4 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

 by 2010 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Direitos de edição reservados à Editora UFV.


Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, apropriada e estocada,
por qualquer forma ou meio, sem autorização do detentor dos seus direitos de
edição.

Impresso no Brasil

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e


Classificação da Biblioteca Central da UFV

Baêta, Fernando da Costa


B142a Ambiência em edificações rurais: conforto animal / Fernando da
2010 Costa Baêta; Cecília de Fátima Souza. 2. ed. – Viçosa, MG: Ed.
UFV, 2010.

269 p. : il. 22 cm.

ISBN: 978-85-7269-393-6

1. Animais domésticos - Instalações - Aquecimento e ventilação.


2. Animais domésticos - Fatores climáticos. 3. Construções rurais -
Aquecimento e ventilação. 4. Bioclimatologia. I. Souza, Cecília de
Fátima. II. Título.

CDD 22. ed. 631.2

Capa – Arte: Altamiro Saraiva


Revisão linguística: Ângelo José de Carvalho
Editoração eletrônica: José Roberto da Silva Lana
Impressão e acabamento: Divisão Gráfica da Editora UFV

Editora UFV
Edifício Francisco São José, s/n
Universidade Federal de Viçosa Pedidos
36570-000 Viçosa, MG, Brasil Tel. (0xx31) 3899-2234
Caixa Postal 251 Tel./Fax (0xx31) 3899-3113
Tels. (0xx31) 3899-2220/3139 E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected] Livraria Virtual: www.editoraufv.com.br

Este livro foi impresso em papel offset 75 g/m2 (miolo) e cartão supremo 250 g/m2 (capa).
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SUMÁRIO
PREFÁCIO, 9
CAPÍTULO 1 - Introdução, 11
CAPÍTULO 2 - O Animal e o Ambiente, 13
CAPÍTULO 3- Homeotermia, 18
CAPÍTULO 4 - Mecanismos de Regulação da Temperatura
Corporal, 20
CAPÍTULO 5 - Calor Resultante do Metabolismo, 22
CAPÍTULO 6 - Caracterização da Zona de Conforto Térmico e das
Temperaturas Ambientais Críticas, 26
CAPÍTULO 7 - Dissipação do Calor Corporal, 30
CAPÍTULO 8 - Formas Sensíveis de Transferência de Calor Animal-
Ambiente, 33
Condução, 33
Convecção, 38
Radiação, 46
Lei de Kirchhoff, 49
Lei de Planck, 52
Lei de Wien, 53
Lei de Stephan Boltzmann, 54
CAPÍTULO 9 - Formas Latentes de Transferência de Calor Animal-
Ambiente, 57
CAPÍTULO 10 - Índices do Ambiente Térmico, 64
6 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 11 - Acondicionamento Térmico das Instalações, 81


Conceitos sobre Energia, 83
Transmissão de Calor – Materiais de Construção, 84
Condução, 85
Convecção, 100
Radiação, 112
Evaporação e Condensação, 117
Condensação, 119
Condensação – Prevenção, 128
CAPÍTULO 12 - O Clima, 129
Conceitos Básicos, 131
Radiação Solar, Temperatura e Umidade do Ar, 140
Trajetórias Aparentes do Sol, 144
Radiação em Superfícies Inclinadas, 148
CAPÍTULO 13 - Os Fechamentos Opacos, 151
CAPÍTULO 14 - Os Fechamentos Transparentes, 157
CAPÍTULO 15 - Ventilação, 163
Ventilação Natural, 165
Ventilação Natural Dinâmica, 166
Ventilação Natural Térmica, 170
Cálculos Referentes à Ventilação Natural, 172
Considerações a Respeito das Aberturas de
Ventilação, 175
Ventilação Artificial, 182
CAPÍTULO 16 - A Edificação e o Ambiente, 192
CAPÍTULO 17 - Modificações Ambientais, 194
Modificações Ambientais Primárias, 195
Sombreamento, 195
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 7

Quebra-ventos, 208
Modificações Ambientais Secundárias, 220
Iluminação (Fotoperíodo), 220
Resfriamento, 234
Aquecimento, 250
CAPÍTULO 18 - Controle da Qualidade do Ar, 254
CAPÍTULO 19 - Bases para um Programa de Bem-Estar Animal, 260
REFERÊNCIAS, 165
8 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 9

PREFÁCIO
O atual conhecimento sobre ambiência animal tem
permitido o desenvolvimento de processos de engenharia que se
tornam indispensáveis na moderna técnica das edificações rurais
para produção animal, principalmente no empreendimento
comercial, visando sempre o necessário conforto ambiental, para
animais e trabalhadores, onde é comum o excesso de calor e a
produção de contaminantes.
O estudo mais completo da ambiência animal abrange
todo o campo complexo da interação animal-ambiente-instalação,
com vistas a propiciar aos animais um ambiente saudável, para
que expressem o seu máximo produtivo.
As novas exigências mundiais de produção agrícola,
dentro de processo ético, cada vez mais se voltam para os
conceitos das boas práticas de produção, considerando a
segurança alimentar, o bem-estar do animal e do trabalhador, e o
respeito ao meio ambiente.
Os conhecimentos envolvendo o animal, no que se refere
aos mecanismos de regulação da temperatura corporal,
caracterização da zona de conforto térmico e das temperaturas
ambientais críticas e índices do ambiente térmico, assim como os
conhecimentos envolvendo a edificação e o ambiente, no que se
refere ao clima, fechamentos, ventilação, ruído, qualidade do ar e
acondicionamento térmico e modificações ambientais artificiais
das instalações, são bases para um programa de bem-estar
animal.
As bases de programas de bem-estar estão alicerçadas em
elementos que contribuem para a qualidade de vida dos animais,
principalmente possibilitando que estejam livres de medo,
angústia, dor, sofrimento, doenças, fome, sede e de qualquer
10 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

forma de desconforto e, por fim, livres para expressarem seus


comportamentos normais.
Revista e acrescida de um novo capítulo – Bases para um
programa de bem-estar animal –, a segunda edição de Ambiência
em edificações rurais – conforto animal busca reforçar os conceitos
básicos e dar suporte à demanda hodierna relativa ao tema.

Os autores
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 11

CAPÍTULO 1

Introdução
O avanço tecnológico nos sistemas produtivos animais,
tanto do ponto de vista genético quanto do gerencial, faz com que
o meio ambiente adequado seja condição indispensável para que
os animais possam expressar o seu máximo produtivo, associado
ao seu bem-estar.
O meio ambiente é aqui definido como o conjunto de
todos os fatores que afetam direta ou indiretamente os animais.
Excetuando a alimentação e os agentes patógenos, de acordo com
os conhecimentos adquiridos até o presente, as variáveis que
causam os maiores efeitos sobre o bem-estar e,
consequentemente, sobre a produção do animal são a
temperatura, a umidade, a radiação e o vento, constituintes do
ambiente térmico. Deve-se projetar a instalação visando amenizar
os seus extremos, bem como possibilitar o controle da
luminosidade e da qualidade do ar, que são igualmente
importantes para maior produtividade animal.
O ambiente interno de uma instalação normalmente é
resultante das condições locais externas; das características
construtivas e dos materiais utilizados na construção; da espécie e
do número de animais; do manejo; e das modificações causadas
tanto pelos equipamentos componentes do sistema produtivo
quanto por aqueles destinados ao acondicionamento ambiental.
Nesta obra, busca-se apresentar a interação do animal
com o meio ambiente; os índices térmicos ambientais que
constituem o elo entre a necessidade animal e a condição
12 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

resultante do condicionamento interior de um ambiente


construído; o desempenho do material de construção com relação
às variáveis térmicas ambientais; e as maneiras de se realizarem
modificações ambientais primárias, por meio da orientação, do
sombreamento e do uso de quebra-ventos para as edificações, e
secundárias, por meio da iluminação, da ventilação, do
resfriamento, do aquecimento e do controle da qualidade do ar.
Os autores esperam que esta obra possa ser de valia para
todos aqueles que pretendem entender melhor a interação animal-
ambiente-instalação, notadamente os estudantes, professores e
profissionais de ciências agrárias.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 13

CAPÍTULO 2

O Animal e o Ambiente
O ambiente externo compreende todas as variáveis físicas,
químicas, biológicas, sociais e climáticas que interagem com o
animal, produzem reações no seu comportamento e definem,
assim, o tipo de relação animal-ambiente.
As variáveis físicas do ambiente incluem espaço, luz, som e
equipamentos; os gases presentes na atmosfera figuram como
exemplos de variáveis químicas; e a própria natureza do material
alimentar representa uma variável biológica do ambiente. As
variáveis sociais incluem o número de animais por área, o
comportamento e a ordem de dominância; e as variáveis
climáticas, a temperatura, a umidade relativa, o movimento do ar
e a radiação.
O animal porta-se como um sistema termodinâmico que,
continuamente, troca energia com o ambiente. Neste processo, os
fatores externos do ambiente tendem a produzir variações internas
no animal, influindo a quantidade de energia trocada entre
ambos, havendo, então, necessidade de ajustes fisiológicos para o
balanço de calor.
Os animais respondem às condições ambientais
desfavoráveis de diversas maneiras, destacando-se o movimento
ou reorientação. Considerando, por exemplo, que as plantas se
enraízam em seu ambiente e não podem movimentar-se ou
orientar-se de acordo com o sol forte ou os ventos frios, os
animais têm vantagem na relação com o ambiente externo. Isso
significa que o próprio animal tem a possibilidade de alterar seu
14 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

microambiente ou seu microclima, buscando encontrar conforto.


O microambiente e o microclima estão relacionados com o
ambiente imediatamente vizinho do animal ou da planta.
O microambiente térmico do animal é constituído por
cinco componentes principais: temperatura, velocidade e umidade
do ar; temperatura radiante e temperaturas superficiais. Muitas
vezes, esses componentes ocorrem em valores extremos,
dificultando a sobrevivência do animal. Por exemplo, sabe-se que
2/5 da superfície da Terra correspondem a desertos, que são áreas
caracterizadas por períodos prolongados de seca, altas
temperaturas do ar durante o dia associadas à intensa radiação
solar e baixas temperaturas do ar durante a noite. Essas condições
inviabilizam a sobrevivência da maioria das espécies vegetais e
animais.
Existem áreas na superfície terrestre em que somente
determinadas espécies animais são capazes de sobreviver, como
ursos e pinguins nas regiões geladas. Diversos animais migram em
busca de melhores condições ambientais, o que é muito comum
em se tratando de pássaros. Há também áreas que oferecem
condições favoráveis à ampla gama de espécies. Porém, pode-se
observar em outras que, apesar dos extremos ambientais, as
espécies se adaptam às condições locais. Isso significa que em
vários casos, os animais se portam como as plantas, isto é,
adaptam-se ao ambiente em que foram inseridos em favor de sua
sobrevivência.
A adaptabilidade pode ser medida ou avaliada pela
habilidade que tem o animal de se ajustar às condições médias
ambientais de climas adversos, com mínima perda de peso e
conservando alta taxa reprodutiva, alta resistência a doenças,
longevidade e baixa taxa de mortalidade.
O conceito de adaptação a um dado ambiente está
relacionado com mudanças estruturais, funcionais ou
comportamentais observadas no animal, objetivando
sobrevivência, reprodução e produção em condições extremas ou
adversas.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 15

A seguir são citados vários conceitos relacionados ao


processo de adaptação:
Adaptação biológica: refere-se às características morfológicas,
anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e de comportamento do
animal, que permitem o bem-estar e a sobrevivência em um
ambiente específico.
Adaptação genética: refere-se às características hereditárias do
animal, que favorecem a sua sobrevivência em um ambiente
particular e podem promover mudanças por muitas gerações
(seleção natural) ou favorecer a aquisição de propriedades
genéticas específicas (seleção “artificial”).
Adaptação fisiológica: é o processo de ajustamento do animal
a si próprio, a outro material vivo e ao seu ambiente físico
externo.
Aclimatização: refere-se a ajustamentos fisiológicos adaptativos
duradouros, que resultam em aumento de tolerância a contínuas
ou repetidas exposições a vários estressores climáticos
(normalmente produzidos sob condições de campo).
Aclimatação: refere-se a mudanças adaptativas em resposta a
uma única variável climática (normalmente produzidas em
câmaras climáticas).
Hábito (geral): é uma variação quantitativa da resposta. Essa
variação pode conduzir à perda da resposta, como resultado de
repetidos estímulos.
Aprendizagem: é a aquisição de nova resposta ou a mudança
qualitativa de uma resposta já existente, ou, ainda, a inibição de
uma resposta existente por um novo estímulo.
Condicionamento: é a transferência de uma resposta já
existente para um novo estímulo.
Toda situação ambiental que provoca uma resposta
adaptativa é considerada estressora, isto é, define uma situação de
estresse no animal. O estresse pode ser crônico, quando é gradual
e constante, ou agudo, quando é brusco e intenso. Por exemplo,
aumentos bruscos da temperatura do ar são considerados
estressantes e, em certos casos, podem provocar até morte.
16 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Um ambiente estressante provoca várias respostas,


dependendo da capacidade do animal para adaptar-se. Em
determinadas situações ambientais, o animal pode manter todas
as suas funções vitais (mantença, reprodução e produção) e, em
outras, estabelece prioridades. É importante mencionar que a
função vital prioritária do animal é a mantença (sobrevivência).
Mas tanto a mantença quanto a reprodução e a produção vão
sendo suprimidas à medida que o ambiente se torna mais severo.
Quando submetido a ambiente estressante, várias funções
internas do animal são alteradas: há redução do crescimento,
desvio dos nutrientes que seriam usados na produção para
processos de mantença, redução da resistência a doenças,
variação da frequência respiratória e da temperatura retal etc.
Podem ocorrer desvio de nutrientes e também variação na
ingestão de alimentos, resultando em menor produção com a
magnitude relativa a cada animal, pois as respostas ao estresse são
diferentes quando comparados dois animais também diferentes.
O fato de o estresse reduzir a produtividade do animal
levou, inicialmente, os criadores a acreditarem que um ambiente
com fatores estressantes não era adequado para uso produtivo.
Por longo tempo, houve grande preocupação, por parte
dos produtores, com a queda produtiva do animal, relacionada
com determinado ambiente considerado adverso. Porém, com a
evolução das pesquisas na área, o quadro foi-se alterando e, hoje,
já é evidente que várias técnicas, compatíveis com cada caso,
podem ser empregadas para favorecer a adaptação do animal ao
ambiente e, consequentemente, conservar o seu desempenho
produtivo.
Controlar fatores ambientais é tarefa muito complexa,
porém a maioria dos processos produtivos animais é conduzida
em sistema intensivo. Dessa forma, é importante a atuação do
Engenheiro Agrícola, Zootecnista ou Agrônomo na execução do
projeto das instalações, combinando materiais e técnicas que
permitam o estabelecimento do ambiente adequado ao animal.
A atuação dos profissionais agrícolas envolve a modifi-
cação e o controle das flutuações diárias da temperatura, da
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 17

umidade e da movimentação do ar, bem como de níveis de cargas


de radiação, sempre considerando que podem ocorrer em
conjunto.
Há outros condicionadores do desempenho produtivo do
animal, como a nutrição, o manejo e a genética, mas o ambiente
é, sem dúvida, um fator determinante, o que justifica a real
importância da presente obra.
18 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 3

Homeotermia
Para que a atividade celular seja normal, o animal precisa
ter seu ambiente interno estável com relação a flutuações externas,
processo definido como homeotermia, homeostase ou
homeocinese.
O animal homeotermo, ou homeotérmico, mantém a
temperatura do núcleo corporal dentro de limites relativamente
estreitos, mesmo que a temperatura ambiental flutue e que a sua
atividade varie intensamente, por meio de processos de aumento
ou diminuição do calor resultante do metabolismo e de
conservação ou dissipação do calor corporal para o meio
ambiente externo. Trata-se de um processo mais comum em
mamíferos e pássaros.
A temperatura do núcleo corporal do animal mantém-se
bastante estável, ou seja, não flutua rapidamente quando ocorrem
as flutuações ambientais. Porém, ocorrem variações de
temperatura nas diferentes partes do organismo do animal, as
quais são associadas ao fluxo de calor entre o animal e o
ambiente, estabelecendo-se um gradiente que depende da
temperatura do núcleo e das condições térmicas ambientais do
meio. A temperatura do núcleo corporal do homem pode ser
calculada pela equação (INGRAM; MOUNT, 1975):
Tc = 0,65 Tr + 0,35 Ts (3.1)
em que Tc é a temperatura do núcleo corporal; Tr, a temperatura
retal; e Ts, a temperatura da pele.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 19

O animal homeotérmico controla o seu ambiente interno


por meio de respostas de adaptação ao ambiente externo.
Qualquer tipo de alteração no ambiente externo pode causar
alteração também no interno. Se o mecanismo hemeocinético não
funcionar, o ambiente interno se iguala ao externo e o animal
morre. Por exemplo, quando o ambiente externo é tão frio que a
máxima resposta metabólica do animal não consegue manter a
temperatura corporal, a taxa metabólica e a temperatura retal
declinam juntas e o animal morre.
Os homeotermos têm temperaturas corporais que variam
em diferentes partes do corpo e em diferentes tempos, mas a
temperatura do núcleo corporal é mantida em nível que
independe da flutuação ambiental (MOUNT, 1979).
Esmay (1969) cita temperaturas do núcleo corporal de
diversas espécies, que são resultado da maneira como cada
espécie se mantém em equilíbrio com o ambiente térmico de
acordo com sua constituição:
Homem: 37 oC Gatos e cachorros: 38,6 oC
Bovinos: 38,5 oC Caprinos: 40 oC
Equinos: 38 oC Suínos: 39 oC
Galinhas: 41,7 oC Ovinos: 39 oC
20 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 4

Mecanismos de Regulação da
Temperatura Corporal
O animal homeotérmico tem um sistema de controle de
seu ambiente interno, que recebe continuamente informações de
vários sensores em níveis interno e externo do corpo. Esse
sistema, composto por mecanismos neurais, após analisar as
informações recebidas, toma a decisão adequada ativando
agentes específicos.
O cérebro e a espinha constituem o sistema nervoso
central. O cérebro contém os centros de percepção, associação e
pensamento, este último quando se trata de seres humanos, e
áreas específicas associadas à visão, à audição e ao movimento do
corpo.
Considerando as respostas do animal ao ambiente externo,
o hipotálamo, localizado no cérebro, é de particular importância,
porque contém o centro de regulação da temperatura, da ingestão
de alimentos e água, chamado de termostato do corpo. Abaixo do
hipotálamo, está a pituitária, que é uma das mais importantes
glândulas produtoras de hormônio no corpo.
Os hormônios produzidos pela pituitária são agentes
químicos no processo de regulação de temperatura. A partir desses
agentes, podem ser iniciadas as respostas fisiológicas e também
alteradas as taxas de determinadas reações. Os hormônios são
carreados pelo sangue para todo o corpo, o que facilita a
termorregulação.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 21

A medula ou corda espinhal é uma extensão direta do


cérebro e acompanha a coluna vertebral. Na raiz dorsal ou base
da corda espinhal estão localizados receptores de todos os
estímulos provenientes do ambiente externo, que fazem a
comunicação entre as várias partes do corpo (coração, estômago
etc.) e o cérebro. Por exemplo, a sensação de dor no homem é
primeiramente transmitida ao nível da sétima vértebra no pescoço
e, a partir daí, conduzida ao cérebro. Esses impulsos originam-se
de receptores na pele, nos músculos e nos tendões e, ainda, de
nervos terminais nos órgãos internos.
O neurônio faz parte do sistema nervoso periférico (pele) e
é a unidade funcional do sistema nervoso central. Informações
sobre ambientes externos (estímulos) são transmitidas por meio de
neurônios, os chamados aferentes ao sistema nervoso central,
onde são tomadas as decisões, que, por sua vez, são transmitidas
pelos neurônios chamados eferentes ao receptor ou agente. O
receptor ou agente é que aciona as reações homeocinéticas.
Existem duas classes de receptores periféricos: os que
induzem à formulação de respostas para o ambiente externo frio e
os que o fazem para o ambiente externo quente. Existem, ainda,
vários interneurônios que funcionam entre a rota aferente e a
eferente e atuam no processo.
Em resumo, pode-se dizer que o processo de controle
homeocinético compreende a recepção de um sinal negativo do
ambiente externo por um sensor específico do corpo do animal; a
condução desse sinal, por meio de um caminho aferente, até o
cérebro, onde é feita a sua análise e é tomada uma decisão; e,
finalmente, a condução do sinal, por meio de caminho eferente, a
um agente apropriado, que põe em funcionamento as reações
homeocinéticas.
22 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 5

Calor Resultante do Metabolismo


Quando um animal é submetido a um ambiente com
temperatura mais baixa que a temperatura corporal, ocorre
dissipação de calor do seu corpo para o ambiente, processo
normal quando tomadas como base as leis físicas de transferência
de calor. Por essas leis, conclui-se que há tendência ao equilíbrio.
Se houvesse continuidade desse processo, a temperatura corporal
diminuiria a níveis intoleráveis e ocorreria a morte do animal. No
entanto, em condições de baixas temperaturas, acontecem
compensações fisiológicas, isto é, o animal homeotermo aumenta
sua produção de calor e reduz as perdas para o ambiente,
mantendo controlada a sua temperatura interna.
A produção de calor corporal é resultado da atividade
metabólica, que é influenciada, entre outros fatores, pela
temperatura do ambiente externo, pelo tamanho ou peso do
corpo, pela atividade, pelo plano de nutrição e pelo isolamento
térmico do animal.
Atividade metabólica é o conjunto de fenômenos físico-
químicos que ocorrem no organismo para a assimilação ou não
das substâncias necessárias à vida. Metabolismo basal está
relacionado com a quantidade de calor que o organismo
desprende por hora, quando em jejum, em absoluto repouso e em
ambiente confortável, podendo ser expresso em calorias por m2 de
superfície cutânea.
De acordo com Curtis (1983), a taxa metabólica basal ou
taxa-padrão pode ser estimada, por meio da seguinte equação:
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 23

Q = a.Wb (5.1)
em que Q é a taxa metabólica-padrão, em kcal/hora; e W, o peso
do animal, em kg; quando a = 2.9 e b = 0,75.
O termo Wb é definido como tamanho ou peso metabólico
corporal.
Com base na equação 5.1, pode-se afirmar que um
grande animal homeotérmico produz mais calor que um pequeno.
A taxa de produção de calor metabólico basal de uma vaca com
600 kg é aproximadamente 380 J/s e a de um rato de 20 g, 0,2
J/s. Considerando a unidade de peso corporal, o mesmo rato
produz 10 J/s.kg e a mesma vaca, somente 0,6 J/s.kg, o que
significa que cada unidade de massa corporal do rato é muito
mais ativa metabolicamente quando comparada à da vaca. Outros
exemplos são apresentados na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 - Taxa metabólica de vários animais com base no peso


corporal e na área superficial
Animal Peso médio Metabolismo
(kg) (W/kg) (W/m2)
Cavalo 441 0,55 45,9
Porco 128 0,92 52,2
Homem 64,3 1,55 50,5
Cachorro 15,2 2,49 50,3
Coelho 2,3 3,64 37,6
Ganso 3,5 3,23 49,3
Galinha 2,0 3,44 48,8
Fonte: MOUNT, 1979.

A taxa metabólica pode também estar relacionada com a


área superficial do animal (Tabela 5.1), e esta determina a razão
de dissipação de calor pelo animal, isto é, a troca de calor com o
ambiente, em proporção direta com a área de sua superfície
24 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

corporal participante do fluxo. A área superficial animal pode ser


estimada empregando as constantes da Tabela 5.2 na equação de
Meeh:
A = m. Wb (5.2)
em que m é a constante de Meeh; A, a área da superfície corporal
do animal, m2; W, o peso corporal do animal; e b, a constante.
Mount (1979) sugere um cálculo geral para a área da
superfície corporal por meio da expressão 0,1 W0,67, para pesos
corporais (W) variando de 0,01 a 1.000 kg.

Tabela 5.2 - Valores de m e b para a Equação 5.2


b m
Gado de leite 0,560 0,130
Gado de corte 0,600 0,120
Cavalos 0,640 0,100
Suínos 0,630 0,100
Ovelhas 0,667 0,070
Galinhas 0,667 0,100
Fonte: TERESO, 1989.

Aplicação
a) Determine a taxa metabólica basal, em kcal/hora, de uma vaca
de leite cujo peso corporal é 453 kg.
Q = 2,9 . W0,75 = 2,9 . (453)0,75
Q = 284 kcal/hora = 330 J/s (1 kcal = 4.186 J)
b) Determine a área superficial da vaca.
A = 0,13. W0,56 = 0,13 (453)0,56
A = 3,99 m2 ≈ 4,0 m2
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 25

c) Expresse a taxa metabólica da vaca com relação ao peso e à


superfície corporal.
Q = 284 kcal/hora = 330 W
330 W ÷ 453 kg = 0,73 W/kg
330 W ÷ 3,99 m2 = 82,78 W/m2
Mount (1979) afirma que a expressão da taxa metabólica
corporal, com base na área superficial, oferece uma base muito mais
uniforme para a comparação entre espécies e faz uma comparação
entre valores de taxa de calor metabólico, calculados por meio dos
dois parâmetros em questão (Tabela 5.1). Observa-se, na Figura 5.1,
que, no caso de pequenos mamíferos, o valor do calor metabólico
calculado é maior quando a base é a área superficial e, no caso de
grandes mamíferos, quando a base é o peso corporal.

Figura 5.1 - Relação entre a taxa metabólica e o peso corporal de


mamíferos.
Fonte: MOUNT, 1979.
26 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 6

Caracterização da Zona de
Conforto Térmico e das
Temperaturas Ambientais Críticas
A caracterização do ambiente térmico animal envolve os
efeitos da temperatura, umidade, radiação e do vento e pode ser
feita por meio de uma única variável, que engloba o efeito
combinado de todas, chamada de temperatura efetiva.
Em determinada faixa de temperatura efetiva ambiental, o
animal mantém praticamente constante a temperatura corporal,
com mínimo esforço dos mecanismos termorregulatórios. É a
chamada Zona de Conforto Térmico (ZCT), dentro da zona de
termoneutralidade, em que não há sensação de frio ou calor e o
desempenho do animal em qualquer atividade é otimizado.
Rosenberg et al. (1983) referem-se à ZCT como zona de
indiferença térmica, em que apenas o metabolismo normal é
capaz de fornecer a energia necessária para manter a temperatura
corporal dentro da normalidade.
Porém, o ambiente térmico externo varia muito, o que
causa alterações na temperatura corporal do animal, ou seja, seu
ambiente térmico interno também sofre mudanças. Normalmente,
quando o ambiente térmico (temperatura do ar, umidade relativa,
ventilação e radiação) está fora da faixa que propicia a
termoneutralidade, ocorre variação na quantidade de calor
resultante de processos metabólicos do animal.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 27

Com base na Figura 6.1, observa-se que a zona de conforto


térmico é limitada pelas temperaturas efetivas ambientais dos pontos
A e A’; a zona de moderado conforto ou de variação nula na
produção de calor corporal, pelas temperaturas efetivas ambientais
dos pontos B e B’; a zona de homeotermia, pelas temperaturas
efetivas ambientais dos pontos C e C’; e a zona de sobrevivência,
pelas temperaturas efetivas ambientais dos pontos D e D’.
Nas temperaturas efetivas ambientais situadas na faixa
limitada pelos pontos A e D, o animal está estressado por frio e
nas de A’ a D’, por calor.
A temperatura efetiva ambiental correspondente ao ponto B
é denominada Temperatura Crítica Inferior (TCI). Abaixo desta
temperatura o animal aciona seus mecanismos termorregulatórios
para incrementar a produção e a retenção de calor corporal,
compensando a perda de calor para o ambiente, que se encontra
frio. Nesta situação, a capacidade do animal de aumentar a taxa
metabólica torna-se relevante para a manutenção do equilíbrio
homeotérmico.

Figura 6.1 - Representação esquemática simplificada das tempe-


raturas efetivas ambientais críticas.
Fonte: BIANCA, 1968.
28 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Hafez (1968) afirma que animais de grande porte não


requerem muita capacidade metabólica, pois têm isolamento
adequado (cobertura espessa), por meio do qual mantêm o equilíbrio
em frio severo, com pequeno aumento na produção de calor.
Outras respostas do animal podem ser notadas na faixa
abaixo da TCI, a vasoconstrição e piloereção por exemplo, como
formas de aumentar a retenção de calor corporal.
Para temperaturas efetivas ambientais abaixo daquela
definida no ponto C, o animal não consegue mais balancear a sua
perda de calor para o ambiente, e a temperatura corporal começa a
declinar rapidamente, acelerando o processo de resfriamento. Se o
processo continua por muito tempo ou se nenhuma providência é
tomada, o nível letal, D, é atingido e o animal morre por hipotermia.
Rosenberg et al. (1983) definem a zona de hipotermia
como aquela na qual o animal não consegue prover o calor
suficiente para manter sua temperatura corporal no nível ideal.
A temperatura efetiva ambiental do ponto B’ é
denominada Temperatura Crítica Superior (TCS). Acima dessa
temperatura (Tabela 6.1), o animal aciona seus mecanismos
termorregulatórios para auxiliar a dissipação do calor corporal
para o ambiente, uma vez que, nessa faixa, a taxa de produção de
calor metabólico normalmente aumenta, podendo ocorrer,
também, aumento da temperatura corporal. Nessa faixa, entram
em ação mecanismos de defesa física contra o estresse por calor,
como a vasodilatação geral, a sudorese, a ofegação etc. Quando a
temperatura ambiental atinge o ponto C’, por mais que esses
mecanismos funcionem, não conseguem prover o resfriamento
necessário para a manutenção do equilíbrio homeotérmico e a
temperatura corporal aumenta cada vez mais. Na temperatura
ambiental do ponto D’, o animal morre por hipertermia.
Na zona de hipertermia, os mecanismos de controle da
temperatura não são capazes de providenciar resfriamento suficiente
para manter a temperatura corporal em seu nível normal.
Na maioria dos animais domésticos, a temperatura corporal
aumenta significativamente em resposta a temperaturas efetivas
ambientais em torno de 28 ºC. A hipertermia ocorre para
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 29

temperaturas efetivas ambientais na faixa de 30 a 50 ºC ou quando a


temperatura corporal aumenta cerca de 3 a 6 ºC acima do nível
normal, dependendo do tempo de exposição, da adaptação ao calor
e do nível de produção do animal (MÜLLER, 1989).
Por fim, vale ressaltar que os valores apresentados na
Tabela 6.1 podem variar bastante, em função da adaptação do
animal ao frio ou ao calor, tempo de exposição, nível de produção
e intensidade da atividade física.

Tabela 6.1 - Valores comuns de temperatura efetiva crítica inferior


(TCI) (B), de temperatura efetiva crítica superior
(TCS)(B') e de temperaturas na zona de conforto
térmico (ZCT) para alguns animais
Animal TCI (oC) ZCT (oC) TCS (oC)
Recém-nascido
Bovino 10 18 a 21 26
Ovelha 6 25 a 30 34
Galinha 34 35 39
Humano 23 32 a 34 37

Adulto
Ovelha -20 15 a 30 35
Galinha 15 18 a 28 32
Bovino europeu -10 -1 a 16 27
Bovino indiano 0 10 a 27 35
Coelho 10 15 a 25 30
Caprino -20 20 a 30 34
Humano 14 19 a 24 27 a 32
Suíno
0-2 dias 20 32 a 35 38
2-4 dias 20 28 a 34 37
4-7 dias 16 25 a 31 35
7-35 dias 12 22 a 28 33
35-50 dias 8 18 a 21 30
Terminação 5 15 a 18 27
Final da gestação 4 10 a 15 27
Lactação 4 12 a 15 27
Fonte: CURTIS, 1983; HAFEZ, 1968; MOUNT, 1979.
30 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 7

Dissipação do Calor Corporal


A taxa de dissipação de calor de um animal é determinada
pela sua taxa de calor resultante de processos metabólicos,
capacidade de armazenamento de calor corporal e, ainda, pelas
condições térmicas ambientais.
Todo processo de vida envolve, de uma forma ou de
outra, troca de energia. Energia sob forma de calor flui do animal
para o ambiente sempre que houver um gradiente térmico animal-
ambiente. Dessa forma, trocando energia com o ambiente em que
vive, o animal consegue sobreviver e produzir por longo período,
mesmo com as variações climáticas extremas.
O animal troca calor com o ambiente em que vive por
meio de formas sensíveis e latentes. Fluxos de calor causados por
gradientes de temperatura, detectados por simples termômetros,
são chamados sensíveis. As formas sensíveis de transferência de
calor são condução, convecção e radiação. A Figura 7.1
representa, de forma esquemática, as formas por meio das quais o
animal dissipa calor para o ambiente.
Fluxos de calor causados por gradientes de pressão de
vapor d’água são chamados de latentes. As duas formas de troca
de calor latente conhecidas são a evaporação e a condensação.
Nessas formas, o calor envolvido na transformação líquido-vapor
ou vapor-líquido não causa mudança na temperatura da água,
apesar de ocorrer variação na temperatura da superfície onde o
animal está.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 31

Considerando as trocas de calor entre o animal e o


ambiente, pode-se dizer que, à medida que a temperatura
ambiental aumenta, os fluxos latentes aumentam progressivamente
em relação ao fluxo total.
De acordo com Ingram e Mount (1975) e Curtis (1983), a
equação do balanço de calor de um animal homeotérmico pode
ser expressa da seguinte forma:
M ± ∆C = ± Qrd ± Qcc ± Qcd ± Qe/c ± Qf/c (7.1)
em que:
M: calor resultante do metabolismo animal. Sempre
positivo, pois representa um conjunto de reações de
valor líquido exotérmico;
±∆C: variação no conteúdo do calor corporal do animal.
Positiva, quando a temperatura corporal média está
acima da normal, e negativa, quando a temperatura
corporal está abaixo da normal;
± Qrd: taxa da troca de calor (sensível) por radiação entre
o animal e o ambiente. Positiva, quando a
temperatura da superfície animal for inferior às da
vizinhança envolvida no processo, incluindo o sol;
± Qcc: taxa da troca de calor (sensível) por convecção
entre o animal e o ambiente. Negativa, quando a
temperatura do ar for mais baixa que a
temperatura superficial do animal;
± Qcd: taxa da troca de calor (sensível) por condução entre
o animal e o ambiente. Negativa, quando a
temperatura da superfície em contato com o animal
estiver mais baixa;
± Qe/c: taxa da troca de calor latente entre o animal e o
ambiente. Negativa; quando ocorrer evaporação
na superfície animal; e
± Qf/c: taxa da troca de calor por condução entre o animal e
o alimento e água ingeridos pelo animal. Negativa,
quando a temperatura do alimento ou da água estiver
inferior à das superfícies internas do animal.
32 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

A Figura 7.1 mostra o fluxo de calor da região interna do


animal de maior temperatura até o ambiente externo.

ta: temperatura ambiente;


tr:.temperatura retal;
ts: temperatura da pele;
th: temperatura da pelagem;
Qt: fluxo de calor através do tecido animal;
Qh: fluxo de calor através dos pelos, que posteriormente será
dissipado por convecção;
Qrp: dissipação de calor por meio da respiração;
Qp: dissipação de calor por meio da perspiração;
Qrd: dissipação de calor por radiação; e
Qwf: dissipação de calor devido ao aumento da tempe-ratura da
água e alimentos ingeridos.

Figura 7.1 - Representação esquemática da dissipação de calor do


animal para o ambiente
Fonte: adaptado de BAÊTA, 1985.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 33

CAPÍTULO 8

Formas Sensíveis de Transferência


de Calor Animal-Ambiente

Condução
A transferência de calor por condução exige contato entre
as superfícies ou substâncias cujas temperaturas devem ser
diferentes, isto é, deve haver um gradiente térmico entre as partes
consideradas. Por exemplo, a maior temperatura observada no
núcleo corporal é devida à maior atividade metabólica nessa
região. Essa energia, em forma de calor, gerada no núcleo
corporal, pode fluir para a superfície do corpo, caso seja verificado
um gradiente térmico interno entre as partes. E o calor também
pode fluir da superfície do corpo do animal para o ambiente, caso
este esteja mais frio, ou do ambiente para a superfície do corpo do
animal, se esta estiver mais fria, isto é, se for verificado um
gradiente térmico externo.
No fluxo de calor condutivo, uma molécula quente do
corpo considerado choca-se com uma molécula vizinha, fria, e
transfere parte da sua energia cinética a esta molécula e assim por
diante, tendendo ao equilíbrio.
A magnitude e a velocidade do processo de condução de
calor estão relacionadas com as características térmicas das partes
envolvidas. A condutividade térmica é o fator físico do fluxo de
calor por condução, o qual caracteriza a quantidade de calor
34 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

transmitida através de um corpo considerado homogêneo, num


regime estacionário, por unidade de espessura, de área e de
tempo, quando o gradiente térmico é igual à unidade. A
condutividade térmica (Tabela 8.1) é expressa em W.m/(m2.oC) ou
cal.cm/(cm2.oC.s), ou outras unidades equivalentes.
Observa-se que a água tem maior condutividade térmica
que o ar, o que significa que o material que contém ar em seus
interstícios funciona como isolante térmico, ou seja, é menos
capaz de conduzir calor. Se a água ocupa os poros do material, o
ar é deslocado e o isolamento é reduzido.
Outra característica importante é a capacidade térmica,
que indica a quantidade de calor requerida para elevar em 1 oC a
temperatura de um corpo de área e volume iguais à unidade e de
espessura conhecida. É calculada por meio do calor específico do
corpo multiplicado por sua densidade e espessura.

Tabela 8.1 - Alguns valores de condutividade térmica em


cal.cm/(cm2.oC.s)
Ar parado (1.000 mbars, 15 oC) 0,000059
Plástico esponjoso 0,0001
Madeira 0,0003
Água parada 0,0014
Terra arenosa (15% de água) 0,0022
Concreto 0,0058
Aço 0,1100
Alumínio 0,4900
Fonte: HOLMAN, 1983.

Os valores da capacidade térmica dos diversos tipos de


materiais utilizados nas construções indicam que eles se aquecem
diferentemente com a mesma quantidade de calor, o que é de
grande relevância em se tratando do fluxo externo de calor. Na
Tabela 8.2, verifica-se que, para uma mesma espessura(L), cada
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 35

m2 de concreto consome 315 kcal para elevar em 1 oC sua


temperatura, e o poliestireno expandido, somente 0,08 kcal.

Tabela 8.2 - Comparação entre as propriedades térmicas do


concreto (1) e do poliestireno (2): condutividade
térmica (K), em W/(m.oC); resistência térmica (R),
em (m2.oC)/W; calor específico (c), em kJ/(kg.oC);
densidade absoluta (d), em kg/m3; capacidade
térmica (cdL), em kcal/(m2.oC)
Material K L R c d cdL
Concreto 1,74 0,60 0,345 1,00 2200 315
Poliestireno 0,035 0,012 0,345 1,42 20 0,08
Fonte: RIVERO, 1986.

Dessa forma, quando um animal deita em um piso com


capacidade térmica alta, ele perde maior quantidade de calor
enquanto o equilíbrio do processo é atingido. Nessas condições, o
animal não precisa mudar de lugar ou de posição com muita
frequência.
No fluxo interno de calor por condução são envolvidos os
seguintes componentes: núcleo corporal, pele, camada de
cobertura (pelos ou penas) e camada-limite (camada delgada de
ar que separa do ambiente a superfície da cobertura do animal). O
calor é transferido, por condução, do núcleo corporal à pele e
desta à borda superior da camada-limite, depois ao ambiente
externo. É importante observar que, em muitos casos, o contato
do animal com determinada superfície condutora faz com que
uma, ou algumas, das camadas fique totalmente comprimida,
resultando em maior fluxo de calor.
Cabe ressaltar que o fluxo interno de calor condutivo é
influenciado também pelo isolamento térmico das várias camadas
que se interpõem entre o núcleo e a pele. O isolamento térmico é
fator físico recíproco da condutividade e indica a resistência à
passagem de calor, normalmente expressa em (cm2.s)/(oC.cm.cal).
36 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

A resistência térmica interna à transferência de calor por


condução compreende diferentes combinações de isolamento: a
do tecido do núcleo, a da pele, a da cobertura e a da camada-
limite, que ocorrem em série.
Os processos sensíveis de transferência de calor são muito
afetados por essas reações isoladoras; os latentes, porém, são
pouco influenciados. Mount (1979) afirma que a magnitude do
isolamento de um tecido é determinada pelo estado do sistema
vascular periférico, uma vez que o calor é conduzido pelo sangue,
que é bombeado do coração para a pele e apêndices, através das
artérias.
Curtis (1983) faz referência ao Índice de Circulação
Térmica, que representa a taxa em que o calor se move do núcleo
para uma área particular da pele. O Índice de Circulação Térmica
é dado por:

HTC cs ∆T se
= (8.1)
HTC se ∆T cs

em que HTCcs é o coeficiente de transferência de calor do núcleo


corporal para a pele (condução); HTCse, o coeficiente de
transferência de calor da pele para o ambiente (convecção); ∆Tse,
o gradiente de temperatura entre a pele e o ambiente; e ∆Tcs, o
gradiente de temperatura entre o núcleo corporal e a pele.
Esse autor ainda afirma que um leitão em ambiente cuja
temperatura varia de -5 a +35 oC apresenta índice de circulação
térmica de 1,8 a 2,4 e que a gordura subcutânea, a espessura da
pele e o tipo e características físicas da cobertura influem na
magnitude do isolamento térmico. Alguns tipos de cobertura
animal (pelos e penas) favorecem a retenção de ar e atuam na
definição de sua capacidade isolante e, consequentemente, na
grandeza do fluxo do calor por condução (Tabela 8.3).
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 37

Tabela 8.3 - Valor do isolamento térmico do ar parado e da


pelagem de alguns animais
Animal Capacidade isolante (oC.m2.h.kcal-1)
Bezerro 0,01 (por mg de peso de pelagem
por cm2 da área de
superfície)
Leitão 0,02
Vaca 0.11
Carneiro 0,25
Ar parado 0,42
Fonte: CURTIS, 1983; MOUNT, 1979.

Observa-se na Tabela 8.3 que os valores do isolamento


térmico da pelagem do leitão e do bezerro são próximos. Porém, o
bezerro tem cobertura (pelagem) mais densa, o que permite
diferenciar sua circulação térmica. O fluxo de calor por condução
em regime estacionário pode ser estimado pela seguinte equação:
Acd .K.(T1 - T2 )
Q cd = (8.2)
s
em que Qcd é o fluxo condutivo, W; Acd, a área da superfície
efetiva condutiva, m2; K, a condutividade térmica do meio em que
ocorre o fluxo, W/m.oC; T1, a temperatura do ponto para o qual
flui o calor, oC; T2, a temperatura do ponto a partir do qual se dá o
fluxo, oC; e S, a distância entre os pontos onde T1 e T2 foram
medidas, m.

Aplicação
Um porco está deitado em um piso de concreto, com 8 cm
de espessura, cuja temperatura superficial é 8 oC. Admitindo que a
área de contato seja de 3.000 cm2, que a temperatura da pele do
animal seja de 30 oC e que a condutividade térmica do concreto
38 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

seja de 5,8 mcal/(cm2.s.oC), estimar o calor perdido por condução


(CURTIS, 1983).
A K. (T − T )
Q = cd. 1 2
cd s
3.000 x 5 ,8 x ( 30 − 8 )
Q = = 47.859mcal/s = 47 ,86cal/s
cd 8
Qcd = 200,39W

Ingram e Mount (1975) e Mount (1979) afirmam que, de


forma geral, à exceção do suíno e assemelhados, a condução é a
forma sensível de transferência de calor que tem menor
contribuição no total de calor perdido do animal para o ambiente.

Convecção
A convecção é uma forma sensível eficiente de
transferência de calor do animal para o ambiente. Nesse processo,
o ar em contato com uma superfície aquecida é também
aquecido, ocorrendo redução de sua densidade, o que causa a
movimentação deste ar próximo da superfície. Em razão da
movimentação do ar, há remoção de calor do corpo aquecido.
Para se ter ideia da grandeza desse processo, um homem,
cuja temperatura da pele está 10 oC acima da temperatura do ar,
dissipa calor por convecção na ordem de 30 a 40 W/m2 dos 50,5
W/m2 resultantes de seu metabolismo basal (MOUNT, 1979).
A transferência de calor por convecção ocorre por meio do
movimento convectivo do ar ou fluido, de um ponto que está em
temperatura mais alta para outro que está em temperatura mais
baixa, e por meio da mistura das partículas fluidas. A maioria dos
processos de troca de calor por convecção envolve fluido (gás ou
líquido) e superfície sólida.
A convecção difere da condução por haver translocação
de moléculas, bem como por depender da forma, do tamanho e
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 39

das características da superfície, e, ainda, da intensidade da


movimentação do ar.
Em geral, o calor se move por condução através da
cobertura do animal (pelos, penas) e atinge um fino filme de ar
externo, parado, denominado camada-limite, a partir do qual
ocorre o processo convectivo. Quanto menos espessa for esta
camada, maior será o fluxo de calor disponível para dissipação
por convecção.
A remoção de calor por movimento próprio do fluido (gás
ou líquido), próximo da superfície aquecida, caracteriza o processo
de convecção livre. Quando há uma força externa atuando para
aumentar a corrente fluida, como por exemplo um ventilador,
ocorre remoção de calor por convecção forçada.
De acordo com Mount (1979), o processo de convecção
livre predomina quando o ar está parado ou em baixa velocidade,
e o de convecção forçada, com o ar em velocidade maior que 0,2
m/s.
Em alguns casos, as duas formas podem ser benéficas se
ocorrem simultaneamente, mas, na maioria das vezes, quando a
convecção forçada é considerável, a livre é desprezada.
De acordo com Ingram e Mount (1975), a troca de energia
por convecção(Qcc) é proporcional à área da superfície do animal,
à diferença da temperatura entre a superfície animal e o ar sobre a
camada-limite, e ao coeficiente de convecção. Assim:
Qcc = Acc . h.(Ts – Ta) (8.3)
em que Qcc é o fluxo convectivo, W; Acc, a área efetiva da
superfície animal, m2; h, o coeficiente de convecção, W/m2.oC; Ts, a
temperatura da superfície animal, oC; e Ta, a temperatura do ar, oC.

O coeficiente de convecção é o fator físico do processo e


pode ser usado para expressar o calor transferido por convecção.
A sua determinação é complexa, uma vez que depende da
condutividade térmica e da espessura da camada superficial
(limite), bem como do tamanho e da forma do corpo do animal,
da sua orientação e, ainda, do perfil aerodinâmico e tipo de
corrente de ar (MOUNT, 1979; GATES, 1968).
40 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Vários trabalhos têm sido feitos para estimar o coeficiente


de convecção a partir da velocidade do ar circundante e do
diâmetro do corpo do animal.
Considerando o corpo do animal como um cilindro e
sabendo que o ar se move por convecção forçada,
perpendicularmente a esse material, de acordo com Curtis (1983),
o coeficiente de convecção pode ser calculado de forma prática
pela equação:

−3  v1 / 3 
h = 6 ,2 × 10 ×  2 / 3  (8.4)
d 
em que h é o coeficiente de convecção, cal./(cm2. min. C); v, a
velocidade do ar, cm/s; e d, o diâmetro de cilindro, cm.

Gates (1968), admitindo que o corpo do animal se


assemelha a um cilindro e considerando a transferência de calor
por convecção livre, sugeriu o cálculo do coeficiente da seguinte
forma:
1/ 4
−3  (Ts − Ta ) 
Qcc = 6 ,0 x 10 . ACC  D  . (Ts − Ta ) (8.5)
 
em que Acc é a área efetiva da superfície animal, m2; Qcc, o fluxo
convectivo, cal/min; D, o diâmetro do corpo do animal, cm; Ts, a
temperatura da superfície animal, oC; e Ta, a temperatura do ar, oC.

De qualquer forma, o conhecimento acerca do coeficiente


de convecção para animais é limitado em razão da complexidade
das superfícies envolvidas. Mount (1979) sugere fórmula para
calcular o coeficiente de convecção, considerando o corpo do
animal como um cilindro sobre o qual se movimenta um fluido
refrigerante, e tendo como base o Número de Nusset (Nu):

Nu =
(h . d ) (8.6)
K
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 41

em que h é o coeficiente de convecção, W/(m2.oC); d, a dimensão


característica do corpo, geralmente diâmetro do tronco ou
comprimento do corpo, m; e K, a condutividade térmica do fluido;
normalmente ar seco, W/(m.oC).
Parâmetros adicionais, como o Número de Reynolds (Re)
e o Número de Grashof (Gr), são muito úteis nos cálculos:
d
Re = V . (8.7)
ν
ou
I
Re = ρ . V . (8.8)
µ
em que V é a velocidade do fluido (ar), m/s; ν, a viscosidade
cinemática do ar seco, m2/s; ρ, a densidade do fluido, kg/m3; I, o
comprimento do corpo, m; e µ, a viscosidade dinâmica do fluido,
kg/(m.s).

Gr = a . g . d 3 .
(Ts − Ta ) (8.9)
ν2
ou

Gr = a . I 3 . g . ρ
(Ts − Ta ) (8.10)
µ2

em que a é o coeficiente de expansão térmica do fluido (ar),


1/Ta(abs); g, a aceleração devida à gravidade, m/s2; Ts, a
temperatura da pele, oC; e Ta, a temperatura do ar, oC.

Normalmente, (Re) e (Gr) são utilizados para definir o


regime de escoamento do fluido. Regime laminar é observado
quando a velocidade do ar é baixa e predomina a convecção livre,
e regime turbulento, quando ocorre grande movimentação do ar e
predomina a convecção forçada (HOLMAN, 1983). Logo:
Re ≤ 5 x 105 ⇒ regime laminar para placa plana
Re ≤ 2300 ⇒ fluxo laminar para tubos
2000 < Re < ⇒ transição de regime laminar para fluxo
turbulento em tubos
42 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Para grandes valores de (Gr/Re2), a transferência de calor é


governada pela convecção livre e, à medida que a razão (Gr/Re2)
decresce, a convecção forçada predomina. Para determinar o Nusselt
médio da superfície animal, Mount (1979) indica as seguintes relações:
Nu = A . Ren (8.11)
Nu = B . Grm (8.12)
A equação 8.11 é indicada para convecção forçada e a
8.12, para convecção livre, sendo A, B, n e m função do tipo de
fluxo (laminar ou turbulento), forma do corpo e orientação em
relação ao fluxo.
n ≈ 0,50
m ≈ 0,25
Wiersma e Nelson (1967 citados por ESMAY, 1969),
utilizando um tipo de bovino experimental inanimado, de forma
cilíndrica, concluíram que:
Nu = 0,590 . Re0,537 (8.13)
0,53
Nu = 0,65 . Re (8.14)
A equação 8.13 é utilizada para valores de (Re) de 8.000 a
150.000; e a equação 8.14 é composta e representa o fluxo de ar
ascendente e o descendente.
Para suínos, são citadas as relações a seguir (MOUNT,
1979; CURTIS, 1983):
Nu = 0,6 . Re0,5 (8.15)
Nu = 0,5 . Gr0,25 (8.16)
Com base nas equações anteriores e nos dados constantes
da Tabela 8.4, o coeficiente de convecção pode ser calculado para
ampla faixa de situações, porém, em alguns casos práticos, alguns
valores são citados em literatura. Por exemplo, para convecção
natural, em temperatura ambiental de 20 a 30 oC, os coeficientes
de convecção são da ordem de 3 a 4 W/(m2. oC) (MOUNT, 1979).
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 43

Tabela 8.4 - Propriedades do ar à pressão atmosférica


T ρ Cp, µ ν
(K) (kg/m3) (kJ/kg. oC) (kg/m.s x 10-5) ( m2/s x 10-6)
100 3,6010 1,0266 0,6924 1,923
150 2,3675 1,0099 1,0283 4,343
200 1,7684 1,0061 1,3289 7,490
250 1,4128 1,0053 1,488 9,49
300 1,1774 1,0057 1,983 16,84
350 0,9980 1,0090 2,075 20,76
400 0,8826 1,0140 2,286 25,90
450 0,7833 1,0207 2,484 31,71
500 0,7048 1,0295 2,671 37,90
550 0,6423 1,0392 2,848 44,34
600 0,5879 1,0551 3,018 51,34
650 0,5430 1,0635 3,177 58,51
700 0,5030 1,0752 3,332 66,25
750 0,4709 1,0856 3,481 73,91
800 0,4405 1,0978 3,625 82,29
850 0,4149 1,1095 3,765 90,75
900 0,3925 1,1212 3,899 99,3
950 0,3716 1,1321 4,023 108,2
1.000 0,3524 1,1417 4,152 117,8
1.100 0,3204 1,160 4,44 138,6
1.200 0,2947 1,179 4,69 159,1
1.300 0,2707 1,197 4,93 182,1
1.400 0,2515 1,214 5,17 205,5
1.500 0,2355 1,230 1,230 229,1
1.600 0,2211 1,248 5,63 254,5
1.700 0,2082 1,267 5,85 280,5
1.800 0,1970 1,287 6,07 308,1
1.900 0,1858 1,309 6,29 338,5
2.000 0,1762 1,338 6,50 369,0
2.100 0,1682 1,372 6,72 399,6
2.200 0,1602 1,4290 6,93 432,6
2.300 0,1538 1,482 7,14 464,0
2.400 0,1458 1,574 7,35 504,0
2.500 0,1394 1,688 7,57 543,5
Continua...
44 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 8.4 - Cont.


T K α Pr
(K) (W/m. oC) m2/s x 104
100 0,009246 0,02501 0,770
150 0,013735 0,05745 0,753
200 0,01809 0,10165 0,739
250 0,02227 0,13161 0,722
300 0,02624 0,22160 0,708
350 0,03003 0,2983 0,697
400 0,03365 0,3760 0,689
450 0,03707 0,4222 0,683
500 0,04038 0,5564 0,680
550 0,04360 0,6532 0,680
600 0,04659 0,7512 0,680
650 0,04953 0,8578 0,682
700 0,05230 0,9672 0,684
750 0,05509 1,0774 0,686
800 0,05779 1,1951 0,689
850 0,06028 1,3097 0,692
900 0,06279 1,4271 0,696
950 0,06525 1,5510 0,699
1.000 0,06752 1,6779 0,702
1.100 0,0732 1,969 0,704
1.200 0,0782 2,251 0,707
1.300 0,0837 2,583 0,705
1.400 0,0891 2,920 0,705
1.500 0,0946 3,262 0,705
1.600 0,100 3,609 0,705
1.700 0,105 3,977 0,705
1.800 0,111 4,379 0,704
1.900 0,117 4,811 0,704
2.000 0,124 5,260 0,702
2.100 0,131 5,715 0,700
2.200 0,139 6,120 0,707
2.300 0,149 6,540 0,710
2.400 0,161 7,020 0,718
2.500 0,175 7,441 0,730
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 45

De acordo com Ingram e Mount (1975), para um homem


despido, os coeficientes aproximados de transferência convectiva
de calor, em função da velocidade do vento, são as seguintes:
1 m/s - 8 W/(m2.oC);
2 m/s, - 12 W/(m2.oC); e
3 m/s, - 15 W/(m2.oC).

Aplicação
1) Uma novilha com diâmetro de tronco igual a 1,10 m e
comprimento do corpo igual a 1,50 m está no interior de um
galpão onde a temperatura do ar é de 25 oC e a velocidade do
ar, 4 m/s. A temperatura da novilha medida na pele é de 30 oC.
Admitindo a troca de calor do animal para o ambiente somente
por convecção, calcular o calor perdido.
A temperatura média, considerando-se as temperaturas
dos meios que trocam calor, denominada temperatura de filme ou
de película (Tf), será expressa por:

Tf =
(Ta + Ts ) (8.17)
2

Tf =
(25 + 30 ) = 27 ,5 o
C = 300 ,5 K
2
Pela Tabela 8.4, tem-se:
ρ = 1,1774 kg/m3 µ = 1,983 x 10-5 kg(m.s)
ν = 16,84 x 10-6 m2/s K = 0,02624 W/(m.oC)
d 1.1
Re = V . =4. −6
= 2,613 x 105
ν 16 ,84 x10

Nu = 0,65 Re0,53 = 0,65 (2,613 x 105)0,53 = 483,04


K 0 ,02624
h = Nu . = 483 ,04 x = 11,523 W /(m2 . oC )
d 1,1

Qcc = Acc . h . (Ts – Ta) = π . I . h (Ts – Ta)


46 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Qcc = π x 1,1 x 1,5 x 11,523 . (30 - 25) = 299 W


2) Calcular o calor perdido por um corpo de 60 kg, cujo
comprimento é de 1,10 m. Considerar o mesmo ambiente do
problema anterior, temperatura da pele igual a 30 oC e troca de
calor somente por convecção.
Acc = 0,10 . W0,63 = 0,10 . 600,63 = 1,32 m2
Nu = 0,60 . Re0,5 = 0,6 (2,613 x 105)0,5 = 306,71
Nu . K 306 ,71 . 0 ,02624
h= . = = 7 ,32 W /(m2 . oC )
I 1,1

Qcc = Acc . h (Ts – Ta) = 7,32 . 1,32 . (30 - 25) = 48 W

Radiação
A radiação constitui outra forma sensível de troca de calor
por meio de ondas eletromagnéticas através de meio transparente
entre dois pontos ou mais, que se encontram em diferentes
temperaturas.
As ondas térmicas são geradas porque os átomos e as
moléculas de todos os corpos têm energia interna, sendo parte
desta transformada em energia radiante, emitida sempre que o
meio é transparente. Em outras palavras, o espaço está sempre
carregado de energia radiante em forma de ondas
eletromagnéticas, pois a sua emissão ocorre como resultado das
variações no conteúdo de energia dos corpos. Sempre que um
corpo recebe energia radiante, há acréscimo na sua carga interna
e, por essa razão, sua temperatura aumenta; da mesma forma, no
processo inverso, há redução da temperatura do corpo.
A quantidade e as características da energia radiante
emitida por um corpo dependem de sua natureza, de seu arranjo
microscópico e de sua temperatura absoluta.
Outra consideração importante é que a troca de energia
radiante entre dois corpos exige que o meio que os separa permita
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 47

a passagem das ondas radiantes por eles emitidas. O ar, que é


transparente a estas ondas, por isso chamado diatérmano, não
absorve nem emite energia radiante.
Quando passa através do vácuo, a energia radiante
emitida por determinada superfície atinge a velocidade da luz, isto
é, 300.000 km/s (ESMAY, 1969). Essa emissão é quantificada em
função do comprimento da onda, de acordo com a Figura 8.1,
onde está representada a distribuição espectral da energia
irradiada por um corpo.
De acordo com Rivero (1986), o comprimento de onda
(λ), que é a característica da energia radiante usada para
classificá-la, é definido como a distância entre dois máximos
sucessivos de onda. É dado em µm (10-6 m), distinguindo-se as
diferentes formas de energia radiante, como representado na
Tabela 8.5.
Na Figura 8.1, observa-se que a quantidade de energia
radiante emitida por um corpo varia para cada comprimento de
onda, atingindo um máximo correspondente de λe.
O Sol, por exemplo, é a fonte principal de toda a energia
da Terra e é um emissor de energia radiante de ondas curtas, na
faixa de 0,3 a 3,0 µm com λe de 0,5 µm (ROSENBERG et al.,
1983).
Todos os outros corpos do ambiente estão em baixa
temperatura, menor que 300 K, e são emissores de energia
radiante de ondas longas com λe de 10 µm (RIVERO, 1986).
Para melhor entendimento dos complexos mecanismos
envolvidos, é necessário mencionar as leis que regem as trocas de
calor por radiação:
48 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 8.1 - Distribuição espectral da energia irradiada por um


corpo.
Fonte: RIVERO, 1986.

Tabela 8.5 - Classificação da energia radiante em função do


comprimento de onda, em µm
Comprimento de onda Classificação
-8 -7
10 - 10 Raios cósmicos
-7 -5
10 – 10 Raios gama
-5
10 - 0,04 Raios X
0,04 - 0,28 Longínquos
0,28 - 0,32 Biológicos Ultravioleta
0,32 - 0,40 Próximos
0,40 - 0,78 Visível
0,78 - 1,50 Próximos
1,50 - 10 Médios Infravermelhos
3
10 - 10 Longínquos
3 6
10 - 10 Micro-ondas
6 8
10 - 10 Radar
8 10
10 - 3 x 10 TV, rádio
Fonte: RIVERO, 1986.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 49

Lei de Kirchhoff
Quando a radiação térmica incide sobre uma superfície,
parte dessa radiação incidente (I) pode ser refletida (Ir), absorvida
(Ia) e transmitida (It).
Desta forma, pode-se definir:
Refletividade (ρ): fração da radiação incidente refletida (Ir/I).
Absortividade (α): fração da radiação incidente absorvida pela
superfície atingida (Ia/I).
Transmissividade (τ): fração da energia incidente que passa
através da superfície (It/I).
Um corpo ideal, ou uma superfície que tem a capacidade
de absorver toda a radiação incidente (α = 1), é chamado de
corpo negro, porém, se é capaz de absorver somente parte da
radiação incidente, é chamado de corpo cinza ou opaco.
Com relação à radiação emitida, pode-se então definir:
Emissividade (εε): razão entre a densidade de radiação de um
corpo cinza e a de um corpo negro nas mesmas condições
determinantes do fluxo.
Se um corpo qualquer tem emissividade de 0,5, significa
que ele emite somente metade da radiação que seria emitida por
um corpo negro em condições similares.
A lei de Kirchhoff diz que “a capacidade de uma superfície
de absorver radiação é a mesma de emiti-la em iguais
temperaturas e igual comprimento de onda”. De acordo com essa
lei, em determinados comprimentos de onda e temperatura, a
emissividade de um corpo é igual à sua absortividade.
Essas características radiantes têm grande influência no
processo de troca de calor por radiação. Na Tabela 8.6, a seguir,
são apresentadas algumas características de corpos comuns; αa e
αb correspondem à absortividade diante da radiação de ondas
curtas e de ondas longas, respectivamente.
50 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 8.6 - Alguns valores de absortividade diante da radiação


solar (αa) de ondas curtas, da radiação de ondas
longas (αb), de emissividade (ε) e refletividade (ρ)
em corpos comuns
Material αa αb ε ρ
Superfície escura 0,85 – 0,95 - - -
Escura de tijolo 0,65 - 0,80 - - -
Clara 0,25 - 0,50 - - -
Não metálica - 0,85 0,95 -
Concreto 0,65 - 0,70 0,90 0,88 0,40
Pintura betuminosa 0,85 - 0,98 0,95 - -
Com pigmento metálico 0,30 - 0,50 0,40 0,60 -
(alumínio ou bronze)
Chapa de alumínio ou 0,40 - 0,65 0,20 0,30 -
ferro galvanizado nova
Suja 0,70 - 0,90 0,20 0,30 -
Alumínio, cromo ou cobre 0,10 - 0,40 0,02 0,04 -
polido
Tijolo, pedra ou telha de 0,30 - 0,50 0,40 0,50 -
cor amarela
Vermelho 0,75 0,93 - -
Vidro de janela - 0,90 0,95 -
Alumínio ou bronze -
Branco 0,20 - 0,30 - - -
Amarelo, laranja, 0,30 - 0,50 - - -
vermelho-claro
Vermelho-escuro, verde- 0,50 - 0,70 - - -
claro, azul-claro
Marrom-claro, verde- 0,70 - 0,90 - - -
escuro, azul-escuro
Marrom-escuro, preto 0,90 - 1,00 - - -
Alumínio áspero - - 0,05 -
Oxidado - - 0,11 - 0,19 -
Zinco puro polido - - 0,04- 0,05 -
Continua...
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 51

Tabela 8.6 - Cont.


Material αa αb ε ρ
Ferro galvanizado brilhante - - 0,28 -
Oxidado - - 0,23 -
Ferro fundido polido 0,94 - 0,21 -
Oxidado - - 0,74 -
Ladrilho vermelho áspero - - 0,93 -
Refratário - - 0,65 -0,85 -
Mármore polido 0,46 - 0,93 -
Granito 0,55 - 0,44 0,45
Grafite 0,78 - 0,41 0,22
Pintura a óleo - - 0,80 - 0,96 -
Esmalte - - 0,90 -
Branca 0,20 - 0,91 0,80
Branca (esmalte) 0,35 - 0,90 0,65
Verde 0,50 - 0,90 0,50
Cinza 0,75 - 0,95 0,25
Vermelha 0,74 - 0,90 0,26
Escura 0,96 - 0,88 0,04
Verniz preto fosco 0,96 0,95 - -
Gelo 0,13 - 0,63 0,87
Água ou superfície 0,94 - 0,67 - 0,95 0,06
molhada
Porcelana vitrificada - - 0,92 -
Papelão de amianto - - 0,95 -
Areia 0,82 - 0,75 0,18
Gesso com 0,5 mm de - - 0,90 -
espessura
Reboco áspero de cal 0,07 - 0,91 0,93
Alvenaria não rebocada - - 0,93 -
Madeira - 0,90 0,90 -
Cascalho 0,29 0,85 - -
Asfalto 0,90 0,90 - -
Continua...
52 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 8.6 - Cont.


Material αa αb ε ρ
Solo escuro 0,95 0,95 - -
Grama 0,70 0,95 0,90 -
Pele humana - - 0,91 -
Bovino branco 0,50 0,95 - 0,35 - 0,6
Vermelho 0,80 0,95 - 0,22 - 0,24
Preto 0,90 0,95 - 0,08
Suíno branco 0,50 0,95 - -
Preto 0,90 0,95 - -
Ovelha com lã comprida 0,60 0,95 - 0,26
Tosquiada 0,75 0,95 - 0,42
Homem caucasiano 0,65 0,95 - 0,35
Negro 0,80 0,95 - 0,18
Fonte: ANDERSON RIORDAN, 1976; COSTA, 1982; ROSENBERG et al., 1983;
CURTIS, 1983; NÃÃS, 1989.

Lei de Planck
“A densidade do poder emissivo radiante de um corpo
depende grandemente de sua temperatura superficial.”
A temperatura da superfície do Sol é de aproximadamente
6.000 K e a da superfície da Terra, de 300 K; portanto, a
densidade do poder emissivo radiante do Sol é maior em todos os
comprimentos de onda, comparada à da Terra e à dos corpos em
baixa temperatura (Figura 8.2).
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 53

Figura 8.2 - Densidade do poder emissivo radiante numa faixa


espectral correspondente à temperatura do Sol (à
esquerda) e à temperatura da Terra (à direita).
Fonte: adaptado de CURTIS, 1983.

Lei de Wien
“A máxima emissão para um corpo negro é inversamente
relacionada com a temperatura absoluta de sua superfície.”
O comprimento de onda, em µm, relacionado com a
máxima emissão de um corpo pode ser calculado dividindo-se 2.897
pela temperatura absoluta da superfície (K). Dessa forma, para o Sol,
o comprimento de onda correspondente à máxima emissão é de
aproximadamente 0,5 µm e, para a Terra, de quase 10 µm.
54 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Lei de Stephan Boltzmann


“A emissão ou a densidade do poder emissivo de uma
superfície negra é igual ao produto da constante de Stephan
Boltzmann pela 4a potência da sua temperatura absoluta.” Por
exemplo, considerando ondas de calor radiante do animal para
superfícies de um ambiente natural e destas para o animal, como
mostra Figura 8.3, o fluxo líquido de calor radiante do animal para
o ambiente pode ser estimado pela seguinte equação:
Qrd = Ard . σ . F.[(α . Te-4) – (ε . Ts-4)] (8.17)
em que Qrd é o fluxo térmico radiante, W; Ard, a área efetiva da
superfície radiante do animal, m2; σ, a constante de Stephan
Boltzmann, 5,67 x 10-8 W/(m2.K4); F, o fator de forma; α, a
absortividade da superfície do animal, adimensional; Te, a
temperatura média absoluta do ambiente radiante do animal, K; ε,
a emissividade média das superfícies do ambiente, adimensional;
e Ts, a temperatura média absoluta da superfície radiante do
animal, K.
Esta estimativa pode estar influenciada, de forma
complexa, pelas características radiantes das superfícies
envolvidas, pela orientação do animal em relação às superfícies do
ambiente com as quais ele troca calor por radiação, pela
diversidade de superfícies do ambiente e pela densidade de
animais no local em questão, entre outros fatores.
Curtis (1983) menciona que superfícies não paralelas não
se expõem completamente e, nesse caso, a estimativa deve ser
feita de forma diferente. Em gado de pelo escuro, por exemplo,
quando o ângulo de incidência da luz do Sol com relação à
superfície animal é de 90o, a absortividade tem valores entre 0,8 e
0,9. Porém, se o ângulo de incidência é menor, a absorvitividade
cai.
Outro ponto a ser considerado é a posição do animal. Se o
animal está de pé, sentado ou deitado, diferentes áreas da sua
superfície são expostas ao Sol e, consequentemente, o resultado
dessa exposição se manifesta de formas variadas.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 55

Figura 8.3 - Fluxos de energia entre o animal e seu ambiente


natural.
Fonte: GATES, 1968.

Os fatores geométricos que interferem nas trocas de


energia radiante são complexos. O fator de forma de uma vaca
deitada com relação a um ponto em uma superfície horizontal
infinitesimal a 3 m acima do solo e a 3 m a partir do lado da vaca
é 0,025; enquanto para a mesma altura, a 3 m a partir da frente
da vaca, é somente 0,012 (KELLY et al., 1950).
56 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Baêta (1985) sugere que o fator de forma (F) seja


estimado por meio da seguinte expressão:
e1
F= (8.18)
1 A
1 + e1 ( − 1) 1
e2 A2

em que e1 é a emissividade da superfície animal, adimensional;


e2, a emissividade da superfície do local onde se encontra o
animal, adimensional; A1, a área efetiva de radiação do animal,
m2; e A2, a área efetiva do local onde se encontra o animal, m2.

Rosenberg et al. (1983) forneceram esquemas das áreas de


um humano ereto em função de diferentes ângulos de elevação
solar e azimutes. Afirmaram que objetos como esferas e cilindros
são usados para representar as mais irregulares formas de animais
reais. Se o animal é tratado como um cilindro, a sua metade
superior recebe 82% da radiação de ondas longas e curtas.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 57

CAPÍTULO 9

Formas Latentes de Transferência


de Calor Animal-Ambiente
De acordo com Rosenberg et al. (1983), as formas latentes
de troca de calor constituem o principal mecanismo de dissipação
de calor (energia), sendo processo muito importante para os
homeotermos na prevenção do superaquecimento (hipertermia)
em ambientes quentes.
As formas conhecidas de troca de calor latente são a
evaporação e a condensação, nas quais os fluxos são causados
por gradientes de pressão de vapor, que indica a quantidade de
vapor d’água contido em dado volume de ar.
Quando o animal está em um ambiente térmico
estressante, as formas latentes de troca de calor são acionadas.
Essas formas são de fundamental importância, uma vez que as
formas sensíveis deixam de ser efetivas no balanço homeotérmico,
à medida que a temperatura ambiente se aproxima da corporal. A
Figura 9.1 representa a partição do calor dissipado por vacas
leiteiras em vias latentes e sensíveis, de acordo com a temperatura
ambiente. Nos processos de troca de calor latente, inicialmente há
movimentação da água no interior do corpo do animal até
alcançar a epiderme, em taxa que depende também do gradiente
de pressão de vapor; depois ocorre a difusão do vapor d’água
para o ambiente a partir da pele e dos pulmões. Isso significa que
a perda de calor ocorre na conversão para vapor, tanto do suor
secretado pelas glândulas da pele quanto da umidade proveniente
do trato respiratório (CURTIS, 1983; INGRAM; MOUNT, 1975).
58 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 9.1 - Representação do calor dissipado por vacas leiteiras


holandesas e Jersey.
Fonte: KIBLER; BRODY, 1950.

As glândulas sudoríparas da pele são responsáveis pela


dissipação do suor. São classificadas de acordo com critérios
morfológicos e fisiológicos, como apócrinas e écrinas. As
primeiras estão associadas ao folículo piloso e as segundas são
glândulas livres. Normalmente, as glândulas contraem-se, de
forma controlada, em função da temperatura hipotalâmica e dos
estímulos periféricos e expelem a secreção sob forma de solução
salina, denominada suor. O suor contém, ainda, concentrações
variadas de ácido lático (confere pH ácido), potássio, cálcio,
magnésio, fósforo, cobre, manganês, ferro, sulfatos, açúcar,
amônia e proteínas (INGRAM; MOUNT, 1975).
De acordo com Curtis (1983), sob estresse severo, ocorre
alta taxa de fluxo de sangue do núcleo para a pele do animal e,
consequentemente, alta taxa de fluxo de calor, resultando em altas
temperaturas superficiais. À medida que as perdas evaporativas se
tornam maiores, grande quantidade de calor é removida da pele
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 59

por vaporização, de forma que o sangue que circula pelas


superfícies do corpo se torna mais refrigerado.
As perdas de calor na pele por evaporação dependem
principalmente do número de glândulas sudoríparas, que,
normalmente, é o mesmo de folículos pilosos, diferentes em cada
espécie e idade. O homem tem 2.000 glândulas sudoríparas por
cm2 na palma das mãos e na sola dos pés, 200 a 300 por cm2 na
face e 100 a 200 por cm2 no tronco.
Mount (1979) afirma que o homem pode produzir mais
suor que as outras espécies, pois chega a apresentar toda a
superfície corporal umedecida pelo suor secretado. Kerslake e
Brebner, citados pelo mesmo autor, considerando o metabolismo
basal, estimaram a taxa máxima de suor encontrada em homens
com peso médio de 72 kg igual a 40 gramas por minuto ou 2 kg
por hora. Por isso, o homem pode sobreviver em calor seco em
temperaturas ambientais de aproximadamente 50 oC, com a
temperatura corporal na faixa normal.
O homem exposto ao calor tem sua atividade sudorípara
iniciada somente após uns 40 minutos, enquanto a sua
temperatura corporal aumenta. As primeiras glândulas acionadas
são normalmente as dos pés, as quais têm grande significado
termorregulatório, e a quantidade de suor produzido depende da
carga de calor corporal e do tipo de trabalho a que o homem está
submetido. Gorilas e chipanzés possuem densidade de glândulas
sudoríparas na pele semelhante à dos humanos.
Em média, os humanos possuem cerca de 80 a 200
glândulas por cm2 e os bovinos, aproximadamente 1.800 por cm2
(1.000 glândulas por cm2 nos órgãos inferiores, 2.000 por cm2 no
tronco e aproximadamente 2.500 por cm2 no pescoço). Os búfalos
possuem mais ou menos 180 por cm2 e as ovelhas, 240 a 300 por
cm2. O porco tem glândulas sudoríparas no focinho e umas
poucas espalhadas pelo corpo, num total de aproximadamente 25
por cm2, tendo a maioria função termorregulatória desprezível.
Ingram e Mount (1975) afirmam que camelos e burros
suam pouco e associam esse fato à sua capacidade de armazenar
calor. Bois europeus dissipam cerca de 75% do calor corporal por
60 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

evaporação do suor a altas temperaturas. Os autores indicam


taxas de perda de água através da pele para alguns animais,
conforme apresentado na Figura 9.2.

Figura 9.2 - Perda de água, em g.m-2.h-1, por meio da pele de


diferentes espécies, em condições de frio e calor.
Fonte: INGRAM; MOUNT, 1975; MOUNT, 1968.

Curtis (1983) apresenta alguns resultados de taxa máxima


de evaporação de água da pele de alguns animais domésticos
durante estresse por calor, onde enfatiza também a água resultante
de difusão de forma passiva (Tabela 9.1).
A função termorregulatória do suor é completada quando
ocorre sua evaporação para o ar circundante, pois esse processo
requer calor, que é cedido principalmente pela superfície onde ocorre
a evaporação, evitando, assim, o superaquecimento corporal. A
perda da umidade através da pele está sujeita às leis físicas, as quais
evidenciam que a taxa de evaporação é direta e grandemente
afetada pela umidade do ar, isto é, pelo gradiente de pressão de
vapor d’água entre a superfície (corpo do animal) e o ar.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 61

Tabela 9.1 - Taxa máxima de evaporação de água da pele de


alguns animais domésticos durante estresse por calor
Taxa máxima de evaporação de água
Animal (gm.h-1.m-2)
Difusão passiva Suor ativo Total
Gado europeu 30 300 330
Gado zebu 30 300 330
Ovelha 30 30 60
Suíno 30 0 30
Frango 30 0 30
Fonte: CURTIS, 1983.

Se o ar circundante está saturado de umidade e na mesma


temperatura da superfície animal, não há troca líquida de calor. A
temperatura da superfície animal exerce grande influência: se
estiver mais baixa que a do ar e este próximo da saturação,
haverá condensação e a formação de uma espécie de orvalho na
superfície do animal e o animal ganhará calor do meio ambiente.
Outros fatores, como a resistência do ar à difusão do vapor
d’água, a taxa de movimentação do ar, a porcentagem de área
superficial úmida e o local de evaporação na pele, afetam a
magnitude da dissipação evaporativa do calor pela pele.
Ingram e Mount (1975) afirmam que, em muitos casos,
mais frequentemente nos homens, as glândulas sudoríparas
produzem suor em quantidade que excede a capacidade de
evaporação e, dessa forma, a pele fica úmida. A máxima taxa
observada foi de 4 kg de suor num intervalo de uma hora. Mas o
calor é perdido no processo de vaporização do suor, o que leva a
crer que, quando o suor cai do corpo em forma de gotas, não há
benefício térmico.
De acordo com Curtis (1983), o fluxo de mistura
evaporativa pode ser estimado pela seguinte equação:
Qm = Ae . d (Ea – Es) (9.1)
62 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

em que Qm é o fluxo da mistura evaporativa, mg/min; Ae, a área


úmida da superfície animaL, m2; d, o coeficiente de difusão
evaporativa, mg/(min.m2.mb); Ea, a pressão de vapor do ar, mb; e
Es, a pressão de vapor na superfície de evaporação, assumida
como a pressão de saturação do vapor na temperatura da
superfície, mb.
Rohwer (citado por CURTIS, 1983) desenvolveu a fórmula
para fluxo evaporativo de calor do animal para o ambiente, a partir
do conhecimento da pressão de vapor e da velocidade do ar:
Qe = 2,539 + 0,0152 . v (Ea – Es) (9.2)
em que Qe é a densidade de fluxo, kcal/(dm2.dia); v, a velocidade
do ar, cm/s; Ea, a pressão de vapor do ar, mmHg; e Es, a pressão
de vapor da superfície evaporante, mmHg.
A densidade de fluxo evaporativo pode ser também
calculada da seguinte maneira:
Qe = Le . Ae . d (Ea – Es) (9.3)
em que Le é o calor latente de evaporação da água na
temperatura da superfície, cal/gm.
A evaporação de um líquido ocorre quando suas
moléculas são capazes de vencer as forças coesivas e escapar para
o ambiente. Quando a água é aquecida, a fase líquida se aquece
até 100 oC e mantém-se nessa temperatura até a sua total
conversão em vapor. O calor latente de vaporização da água é o
total de calor requerido para transformar certa quantidade de água
em vapor; pode ser dado em calorias por grama (cal/gm) e
calculado pela expressão:
Le = 596 - 0,56T (9.4)
em que T é a temperatura da água em oC.
Por exemplo, se a água na superfície animal está a 30 oC,
aproximadamente 579 calorias (≈ 0,6 kcal ≈ 2.424 J) são
necessárias para a evaporação de 1 grama. À temperatura de 0 oC
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 63

são necessários 2.501 J para vaporizar 1 grama de água e, a


40 oC, 2.406 J.
De acordo com Rosenberg et al. (1983), considerando
1,80 m2 a área corporal de um homem, a dissipação de calor
latente de evaporação através da pele pode ser de
aproximadamente 380 W/m2. Esses autores afirmam que os
animais controlam também, pelo comportamento, suas perdas
evaporativas de calor através da pele, isto é, alguns se expõem às
correntes de ar para incrementar o processo e outros se escondem
do vento para conservar a água do corpo. Além disso, ocorre
também evaporação a partir do trato respiratório do animal, e isso
constitui poderoso meio de controle homeotérmico, muito
significativo para várias espécies.
Nesse processo, os mecanismos geralmente aumentam a
quantidade de ar puxado pelas vias respiratórias. Há
condicionamento do ar inspirado, isto é, ele é aquecido até a
temperatura corporal e torna-se saturado com vapor d’água
durante o trajeto para alcançar os alvéolos. Na expiração, o ar
passa pela mucosa já resfriada pela inspiração, quando, então,
ocorre condensação com liberação de calor latente. A diferença
entre o calor carreado na inspiração e na expiração constitui a
perda respiratória.
De acordo com Monteith (citado por ROSENBERG et al.,
1983), a perda de calor latente pela respiração é função da taxa
metabólica (M), uma vez que o aumento na produção de calor
metabólico conduz a aumento na frequência respiratória. Um
homem que respira ar seco a 0 oC perde aproximadamente 1/5 da
sua produção corrente de calor metabólico em razão do
aquecimento e umedecimento do ar.
64 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 10

Índices do Ambiente Térmico


Vários índices expressam o conforto do animal em
determinado ambiente. Em geral, são consideradas duas ou mais
variáveis climáticas, todavia, para alguns, há também outras
variáveis, como taxa metabólica, tipo de isolamento etc.
Houghten e Yaglou (1923) desenvolveram o Índice de
Temperatura Efetiva (Figura 10.1), descrito como uma função da
temperatura, da umidade e do movimento do ar, usando
humanos para comparar sensações térmicas instantâneas,
experimentadas em diferentes ambientes. Os valores básicos do
índice foram temperatura do ar saturado e velocidade de 0,12
m/s. Eles trabalharam com temperatura do ar de 1 a 43 oC,
temperatura de bulbo úmido de 1 a 43 oC e velocidade do ar de
0,1 a 3,5 m/s.
Vários estudos avaliando o índice de temperatura efetiva
foram relatados por Givoni (1969). Os resultados foram
consistentes: o índice superestima o efeito da umidade no frio,
subestima o efeito da umidade em ambientes quentes, subestima
o efeito do movimento do ar em condições úmidas e quentes e
exagera o estresse calórico que é imposto por alta temperatura e
movimento do ar de cerca de 1 m/s.
Em 1946, Hevener (pub. 1959) propôs o Índice Humiture,
baseado na umidade e temperatura do ar ambiente. O primeiro
índice de umidade foi baseado em temperaturas (oF) somadas à
umidade relativa (%), sendo o total dividido por dois. Mais tarde,
o índice foi melhorado, considerando a temperatura de bulbo
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 65

úmido em vez da umidade relativa do ar. Lally e Watson (1960)


revisaram o Índice de Humiture. Eles verificaram que valores de
pressão de vapor do ar acima de 10 mb (1 kPa) não causavam
desconforto e propuseram a seguinte fórmula:
H = t + (e – 10) (10.1)
em que H é o Índice de Humiture; t, a temperatura do ar, oF; e e,
a pressão de vapor, mb.
De acordo com esses autores, o termo (e - 10) nunca pode
ser negativo, e a pressão de vapor é sempre igual a 10 mb ou
maior. Um ambiente com índice 100 é considerado
desconfortável.

Figura 10.1 - Diagrama do índice de temperatura efetiva como


função da temperatura de bulbo seco, temperatura
de bulbo úmido e movimento do ar.
Fonte: ROSENBERG et al., 1983.

Winterling (1979) revisou e adaptou o índice de humiture


para o verão de Jacksonville, Flórida. Em seu trabalho, foi
considerado um diferencial de pressão de vapor entre a pele
66 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

(56 mb) e o ambiente (e), o qual foi subtraído de 35 mb de


pressão de vapor, considerado valor de transição de condição
confortável e não confortável. O Índice de Umiture foi assim
expresso:
H = t + [35 – (56 – e )] (10.2)
ou
H = t + (e – 21) (10.3)
em que H é o Índice de Umiture; t, a temperatura do ar, oF; e e, a
pressão de vapor, mb.
De acordo com Quayle e Doehring (1981), este índice
subestima o efeito combinado de temperatura e umidade em baixa
temperatura (cerca de 70 oF) e baixa umidade (cerca de 20%).
McHardle et al. (1947) desenvolveram o P4SR (Predicted
Four Hour Sweat Rate), estimativa da taxa de suor por quatro
horas (Figura 10.2). A estimativa da quantidade de suor em litros
foi baseada na comparação de variáveis climáticas, níveis
metabólicos e taxa de suor de um humano vestido, por um
período de quatro horas de exposição. As condições
experimentais foram:
- nível metabólico: 54 - 200 kcal/m2 . hora ⇒ condições de
descanso - trabalho;
- temperatura de bulbo úmido ⇒ 16 - 36 oC;
- movimento do ar ⇒ 0,05 - 2,5 m/s; e
- vestimenta ⇒ calção até vestimenta completa.
O P4SR de pessoas sentadas, pouco vestidas e em um
ambiente homogêneo, é determinado quando se têm os valores
correspondentes da taxa básica de suor em quatro horas (B4SR)
no nomograma (Figura 10.2), usando uma das seguintes
equações:
a) para homens pouco vestidos, trabalhando e apresentando a
taxa metabólica M [kcal/(m2.h)]:
P4SR = B4SR + 0,014 (M – 54) (10.4)
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 67

Figura 10.2 - Diagrama do índice P4SR.


Fonte: BENSON et al., 1960.

b) para homens em repouso, usando calções:


P4SR = B4SR + 0,25 (10.5)
68 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

c) para homens trabalhando, usando calções:


P4SR = B4SR + 0,25 + 0,02 (M - 54) (10.6)
sendo P4SR e B4SR dados em litros.
Antes da determinação do B4SR, a temperatura de bulbo
úmido deve ser corrigida da seguinte forma:
1) adicionar à temperatura de bulbo úmido 0,4(tg - ta), sendo tg a
temperatura de globo negro e ta a temperatura ambiente;
2) adicionar à temperatura de bulbo úmido o valor obtido do
nomograma, baseado na taxa metabólica;
3) adicionar 1 oF a cada 300 g de aumento de peso da vestimenta
acima de 600 g.
Vários trabalhos descritos por Givoni (1969) e por Benson
et al. (1960) apresentaram boas correlações entre os valores
esperados a partir do P4SR e os experimentais.
Missenard (1948) desenvolveu o Índice de Temperatura
Resultante (Figura 10.3), considerando o equilíbrio térmico entre o
corpo humano e o ambiente. Nesse índice, os efeitos da umidade
e velocidade do vento são expressos em graus Celsius. A
temperatura do ar parado, saturado, foi considerada base para
relações entre diferentes condições ambientais. Nesse
experimento, foram consideradas temperaturas de bulbo seco com
faixa de 20 a 40 oC, temperaturas de bulbo úmido de 18 a 40 oC e
velocidade do ar de 0 a 3 m/s.
Experimentos conduzidos por Givoni (1969), para
comparar temperatura e umidade, mostraram que, a 30 oC, o
índice de temperatura resultante apresentou significativa
superestimação do efeito da umidade, mas, acima desse valor,
houve boa correlação com as respostas fisiológicas humanas.
Todavia, experimentos para verificar o efeito da velocidade do ar
revelaram que o seu efeito refrigerante é subestimado em altas
velocidades e é superestimado nas baixas. O autor concluiu que
esse índice apresenta melhor correlação com respostas fisiológicas
humanas que o Índice de Temperatura Efetiva.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 69

Figura 10.3 - Diagrama do índice de temperatura resultante.


Fonte: MISSENARD, 1948.

Belding e Hatch (1955) desenvolveram o Índice de


Estresse Calórico baseado no calor metabólico produzido por
vários tipos de atividade, nos fatores climáticos e na capacidade
evaporativa do ambiente. As condições desse experimento foram:
temperatura de bulbo seco, ou de globo, de 21 a 49 oC; pressão
de vapor do ar de 3 a 42 mmHg; movimento do de 0,25 a 10 m/s;
e taxa metabólica de 100 a 500 kcal/h. A Figura 10.4 representa o
nomograma usado para a obtenção do índice de estresse calórico,
que abrange uma faixa de valores de 0 a 200. O valor “0”
representa ausência de estresse calórico, enquanto “100” é o
limite para se ter equilíbrio térmico. De 100 a 200, o corpo
armazena calor. Para o nomograma, necessita-se de uma entrada
para a temperatura de globo e velocidade do ar e outra para a
temperatura de bulbo seco e pressão de vapor.
70 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 10.4 - Diagramas do índice de estresse calórico.


Fonte: BELDING; HATCH, 1955.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 71

A comparação dos valores do índice de estresse calórico


com dados experimentais de Givoni (1969) sugere que o efeito da
taxa metabólica é subestimado e o efeito refrigerante do vento e o
efeito aquecedor da umidade são superestimados. As
discrepâncias são atribuídas ao fato de que certas respostas
fisiológicas são consideradas constantes, enquanto, na realidade,
são muito variáveis.
Thom (1959) desenvolveu o Índice de Desconforto, mais
tarde chamado de Índice de Temperatura e Umidade. Esse índice
foi obtido por simples ajustamento linear aplicado a uma faixa de
temperaturas de bulbo seco e bulbo úmido, expresso da seguinte
forma:
THI = 0,72 (td + tw) + 40,6 (10.7)
em que THI é o Índice de Temperatura e Umidade; td, a tem-
peratura de bulbo seco, oC; e tw, a temperatura de bulbo úmido, oC.

O National Weather Service – USA (1976) publicou


valores críticos do índice de temperatura e umidade, baseados em
estudo de 13 anos, sobre estresse calórico de gado. Índices de até
74 representam ambientes seguros; de 74 a 78 exigem cuidado,
alerta; de 79 a 84 são perigosos; e de 85 em diante, condição de
emergência.
A representação do declínio da produção de leite em
relação ao índice de temperatura e umidade (para índices de 71
a 81) foi feita por Johnson et al. (1962). Os autores verificaram
que vacas de alta produção são mais suscetíveis ao declínio que
as de baixa. Foi observado que, para índices maiores que 74,5,
a produção diária de 23 kg de leite de uma vaca declina cerca
de 0,8 kg de leite para cada unidade de aumento do índice,
enquanto a produção diária de 14 kg perde somente 0,4 kg.
Trabalhos apresentados por Quayle e Doehring (1981)
evidenciaram que o índice de temperatura e umidade não é
particularmente sensível a pequenas, embora significativas,
mudanças na umidade e que uma desvantagem do índice é a
pequena faixa de desconforto.
72 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Em 1962, Bianca (citado por YAMAMOTO, 1983) derivou


o Índice de Temperatura Efetiva para bovinos, baseado nas
respostas obtidas com quatro bezerros Ayrshire bull, considerando
a combinação da temperatura de bulbo seco (de 30 a 50 oC) e a
de bulbo úmido (de 20,4 a 35,5 oC). A equação que apresentou a
melhor correlação foi:
ET = 0,35 td + 0,65 tw (10.8)
em que ET é a temperatura efetiva, oC; td, a temperatura de
bulbo seco, oC; e tw, a temperatura de bulbo úmido, oC.

Experimentos conduzidos por Mimura et al. (citados por


YAMAMOTO, 1983) provaram boa correlação com o índice de
Bianca. Nesses experimentos, a taxa de respiração de Holsteins foi
escolhida como informação variável e os registros de um período
de três anos usados para as comparações.
Givoni (1969) desenvolveu o Índice de Estresse Térmico
fundamentado num modelo que descreve a taxa de troca de
calor entre o corpo humano e o ambiente. O modelo é baseado
na hipótese de que o suor aumenta com estresse calórico. Para
manter o equilíbrio térmico, esse aumento no resfriamento
evaporativo é necessário para fechar o balanço de energia
(troca de calor com o ambiente). O índice é descrito em kcal
por hora equivalente à taxa de suor requerida. O valor do
índice será positivo acima da zona de conforto e negativo
abaixo dela. Os experimentos foram conduzidos em
temperatura do ar entre 20 e 50 oC, pressão de vapor do ar de
5 a 40 mmHg, velocidade do ar de 0,10 a 3,5 m/s, radiação
solar de 0 a 600 kcal/h e com roupas desde curtas e leves até
pesadas, tipo industrial ou militar. O índice de estresse térmico
foi expresso como:
S = [M – 0,2 (M – 100) ± b. v0,3 (ta – 35) +
In . Kpe . Kcl (1 – a (v0,2 – 0,88))] er (10.9)
em que r = 0,6 [(E/Emax) - 0,12]; S, é a taxa de suor
requerida, em kcal/h; M, taxa metabólica, kcal/h; b, o
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 73

coeficiente dependente da vestimenta (15,8 para roupas leves,


abaixando até 11,6 para roupas pesadas); v: velocidade do ar,
m/s; ta, a temperatura do ar, oC; In, a radiação solar normal,
kcal/h; Kpe, o coeficiente dependente da postura (0,39 para
pessoa sentada com as costas voltadas para o Sol, em local
deserto, abaixando para 0,27 para pessoa de pé, com as costas
para o Sol, em local semelhante à floresta); Kcl, o coeficiente
dependente da vestimenta (1,0 para curta, abaixando para 0,4
para longa e pesada); a, o coeficiente dependente da
vestimenta (0,35 para a curta ou leve e 0,52 para a pesada); E
= (M – W)  b . v0,3 (ta – 35) + In . Kpe . Kcl [v0,2 – 0,880],
kcal; Emax = p v0,3 (42 – Vp), kcal/h.; W, é a energia
metabólica para trabalho mecânico, kcal; p, o coeficiente
dependente da vestimenta (31,6 para curta e 13,0 para militar);
e Vp, a pressão de vapor do ar, mmHg.

Anderson (1965) derivou o índice Humidex baseando-se


na temperatura ambiente e pressão de vapor do ar para as
condições canadenses. O índice foi descrito como:
50
Hu = ta + . (e − 1) (10.10)
9
em que Hu é o índice Humidex; ta, a temperatura ambiente, oC;
e e, a pressão de vapor do ar, kPa.

Valores de Hu entre 20 e 29 foram associados a condições


confortáveis e valores mais altos, a condições desconfortáveis.
Comparações do Humidex com outros índices, realizadas por
Quayle e Dohering (1981), mostraram que este índice subestima
as condições térmico-ambientais em baixa umidade e baixa
temperatura.
Steadman (1979a,b) desenvolveu o Índice de
Temperatura Aparente (Tabela 10.1 e Figura 10.5), que
considera os efeitos da temperatura, umidade, velocidade do ar
e radiação. A derivação desse índice tem base no total de roupa
necessária para atingir o conforto térmico e na redução da
74 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

resistência da pele necessária para alcançar o equilíbrio


térmico. Valores de pressão de vapor de 1,6 kPa e movimento
do ar de 2,5 m/s foram considerados como base para a
comparação entre as diferentes condições ambientais.
Para determinar o índice de temperatura aparente,
considera-se primeiramente o efeito da umidade (Tabela 10.1). A
seguir, determina-se o incremento da velocidade do ar e adiciona-
o ao valor prévio da temperatura aparente. A radiação extra é
determinada na seção inferior da Tabela 10.1, e o valor é inserido
na Figura 10.5, onde está representado o valor final da
temperatura aparente.
Comparações do índice de temperatura aparente com
relação ao índice de umidade, índice de temperatura e umidade e
ao humidex foram feitas por Quayle e Dohering (1981), que
concluíram que o índice de temperatura aparente provavelmente
seria o melhor padrão.
O índice de temperatura aparente foi reconhecido pelo
National Weather Service – USA (1984), e a faixa de estresse
calórico foi estabelecida como se segue: de 27 a 32 ºC, cuidado;
de 32 a 40 oC, de extremo cuidado; de 40 a 54 oC, perigoso; e
maior que 54 oC, de extremo perigo.
Buffington et al. (1981) propuseram o Índice de
Temperatura de Globo e Umidade para vacas de leite. Esse índice
foi desenvolvido com base no índice de temperatura e umidade,
mas usando a temperatura de globo negro no lugar da
temperatura de bulbo seco. Foi então expresso assim:
BGHI = tg + 0,36 td + 41,5 (10.11)
em que BGHI é o Índice de Temperatura de Globo e Umidade;
tg, a temperatura do globo negro, oC; e td, a temperatura do
ponto do orvalho, oC.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 75

Ambiência em edificações rurais: conforto animal


Tabela 10.1 - Escala do índice de temperatura aparente
Ts Umidade relativa (%) Vento (m/s)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0-3 4 8 12 16
20 16 17 17 18 19 19 20 20 21 21 21 0 -1 -3 -4 -4
21 18 18 19 19 20 20 21 21 22 22 23 0 -1 -3 -4 -4
22 19 19 20 20 21 21 22 22 23 23 24 0 -1 -2 -3 -4
23 20 20 21 22 22 23 23 24 24 24 25 0 -1 -1 -3 -4
24 21 22 22 23 23 24 24 25 24 25 26 0 -1 -2 -3 -4
25 22 23 24 24 24 25 25 26 27 27 28 0 -1 -2 -3 -4
26 24 24 25 25 26 26 27 27 28 29 30 0 -1 -2 -3 -3
27 25 25 26 26 27 27 28 29 30 31 33 0 -1 -2 -3 -3
28 26 26 27 27 28 29 29 31 32 34 (36) 0 -1 -2 -3 -3
29 26 27 27 28 29 30 31 33 35 37 (40) 0 0 -1 -2 -3
30 27 28 28 29 30 31 33 35 37 (40) (45) 0 0 -1 -2 -2
31 28 29 29 30 31 33 35 37 40 (45) 0 0 -1 -2 -2
32 29 29 30 31 33 35 37 40 44 (51) 0 0 -1 -1 -1
33 29 29 30 31 33 36 39 43 (49) 0 0 0 -1 -1
34 30 31 32 34 36 38 42 (47) 0 0 0 0 0
35 31 32 33 35 37 40 (45) (51) 0 0 0 0 +1
36 32 33 35 37 39 43 (49) 0 0 0 +1 +1
37 32 34 36 38 41 46 0 0 0 +1 +2
Continua.....

75
76 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

76
Tabela 10.1 - Cont.
Umidade relativa (%) Vento (m/s)
Tbs
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0-3 4 8 12 16
38 33 35 37 40 44 (49) 0 0 0 +1 +2
39 34 36 38 41 46 0 0 +1 +2 +2
40 35 37 40 43 49 0 0 +1 +2 +3
41 35 38 41 45 0 0 +1 +2 +3
42 36 39 42 47 0 0 +1 +2 +3
43 37 40 44 49 0 0 +1 +2 +3
44 38 41 45 52 0 0 +1 +2 +3
45 38 42 47 0 0 +1 +2 +3
46 39 43 40 0 0 +1 +2 +3

Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza


47 40 44 51 0 0 +1 +2 +3
48 41 45 53 0 0 +1 +2 +3
49 42 47 0 0 0 +2 +3
50 42 48 0 0 0 +1 +3
Radiação total sob céu nublado
Tempo antes ou depois do meio dia solar (h) 0 1 2 3 4 5 6 7 8-12
Latitude 34 oN, verão 92 101 114 124 127 119 67 -24 -26
Latitude. 34 oS, verão 107 117 132 141 146 135 79 -24 -26
o o
34 S/34 N, equinócio 125 128 134 138 132 83 -25 -26 -26
Equador, junho/julho 113 120 130 138 134 91 -25 -26 -26
Equador, dezembro/janeiro 133 138 149 158 154 106 -25 -26 -26
Equador, equinócio 98 113 132 146 147 107 -24 -26 -26
Fonte: STEADMAN, 1979b.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 77

Figura 10.5 - Efeito da radiação quando os valores-base para


velocidade ar e pressão de vapor são 2,5 m/s e 1,6
kPa.
Fonte: STEADMAN, 1979b.

Os autores concluíram que, nas condições ambientais em


que os animais são expostos à radiação solar, o índice de
temperatura de globo e umidade é mais preciso indicador de
estresse que o índice de temperatura e umidade. Ainda
observaram que a taxa de respiração e a temperatura retal são
diretamente relacionadas com o índice de temperatura de globo e
umidade.
Rosenberg et al. (1983) fazem referência ao Índice de
Temperatura Baixa e Vento (ITBV), (Wind Chill Index), que
78 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

descreve o efeito do vento combinado com baixas temperaturas.


O ITBV pode ser estimado da seguinte forma:
ITBV = 31,68738 – 4,284707 x 10-2 Q
– 1,051564 x 10-6 Q2 (10.12)
Q = (10,45 + 10 . v0,5 – v) (33 – Ta) (10.13)
sendo Q, a perda de calor por unidade de área da superfície
corporal, kcal/m2; v, a velocidade do ar, m/s; e Ta, a temperatura
do ar (oC).

Alguns valores do ITBV são apresentados na Tabela 10.2.


Por exemplo, sendo o ar de 0 oC e velocidade de 3,0 m/s, o efeito
conjunto desses dois elementos climáticos é sentido como se a
temperatura do ar fosse -4 oC.
Baêta (1985), estudando o comportamento de cinco vacas
leiteiras de alta produção, da raça holandesa preta e branca, em
câmara climática, desenvolveu um índice térmico denominado
Índice de Temperatura Equivalente (ITE). Este índice foi
desenvolvido para temperatura do ar (T) entre 16 e 41 oC,
umidade do ar (UR) entre 40 e 90% e velocidade do ar (V) entre
0,5 e 6,5 m/s, resultando na seguinte equação:
ITE = 27,88 – 0,456 T + 0,010754 T2 – 0,4905 UR
+ 0,00088 UR2 + 1,1507 V – 0,126447 V2
+0,019876 T.UR – 0,046313 T.V (10.14)
Observou-se que um acréscimo de 1 oC no ITE, acima das
condições termoneutras, causou decréscimo de 2,5% na produção
de leite, nas condições estudadas.
A Figura 10.6 contempla diagramas do ITE em função da
temperatura, umidade e velocidade do ar, por meio das quais
podem ser identificadas variações na produção de leite e na
temperatura retal das vacas, causadas pela variação dos
parâmetros ambientais considerados no índice.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 79

Ambiência em edificações rurais – Conforto animal


Tabela 10.2 - Índice de temperatura baixa e vento (ITBV)
Velocidade do ar Temperatura do ar (oC)
(m/s) 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -14
2,0 7,2 5,2 3,2 1,2 -0,8 -2,8 -4,9 -6,9 -8,9 -10,9 -13,0 -15,0
3,0 4,7 2,6 0,4 -1,8 -4,0 -6,3 -8,5 -10,7 -12,9 -15,1 -17,4 -19,6
4,0 2,9 0,5 -1,8 -4,2 -6,5 -8,9 -11,3 -13,6 -16,0 -18,4 -20,8 -23,2
5,0 1,4 -1,1 -3,6 -6,0 -8,5 -11,0 -13,5 -16,0 -18,5 -21,1 -23,6 -26,1
6,0 0,1 -2,4 -5,0 -7,6 -10,2 -12,8 -15,4 -18,0 -20,6 -23,3 -25,9 -28,5
7,0 -9,0 -3,6 -6,3 -8,9 -11,6 -14,3 -17,0 -19,7 -22,4 -25,2 -27,9 -30,6
8,0 -1,9 -4,6 -7,3 -10,1 -12,8 -15,6 -18,4 -21,2 -24,0 -26,8 -29,6 -32,4
9,0 -2,7 -5,5 -8,3 -11,1 -13,9 -16,8 -19,6 -22,5 -25,3 -28,2 -31,1 -33,9
10,0 -3,3 -6,2 -9,1 -12,0 -14,8 -17,7 -20,6 -23,6 -26,5 -29,4 -32,3 -35,3
11,0 -3,9 -6,9 -9,8 -12,7 -15,6 -18,6 -21,6 -24,5 -27,5 -30,5 -33,5 -36,5
12,0 -4,5 -7,4 -10,4 -13,4 -16,4 -19,3 -22,4 -25,4 -28,4 -31,4 -34,4 -37,5
13,0 -4,9 -7,9 -10,9 -14,0 -17,0 -20,0 -23,0 -26,1 -29,2 -32,2 -35,3 -38,4
14,0 -5,3 -8,4 -11,4 -14,5 -17,5 -20,6 -23,7 -26,7 -29,8 -32,9 -36,1 -39,2
15,0 -5,7 -8,9 -11,9 -15,0 -18,0 -21,2 -24,3 -27,3 -30,5 -33,6 -36,9 -40,0
Fonte: ROSENBERG et al., 1983.

79
80 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 10.6 - Índice de temperatura equivalente, em oC, em


função da temperatura e umidade do ar ambiente,
para as seguintes velocidades do ar: (a) v = 0,5
m/s; (b) v = 2 m/s; (c) v = 4 m/s; e, (d) v = 6 m/s.
Fonte: BAÊTA, 1985.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 81

CAPÍTULO 11

Acondicionamento Térmico das


Instalações
Acondicionamento térmico é o processo pelo qual são
controlados, de forma individual, por meios naturais ou artificiais,
os níveis das variáveis do ambiente, como temperatura, umidade,
movimento e pureza do ar, e da radiação solar no interior de uma
construção, com o objetivo de se obterem melhores condições de
conforto.
Essa condição térmica do meio é uma das variáveis mais
importantes a ser considerada quando da definição da solução
arquitetônica apropriada para a obtenção do conforto ambiental.
Por exemplo, nas zonas de deserto, a temperatura do ar atinge
45 oC durante o dia, além das grandes oscilações entre o dia e a
noite. Dessa forma, as concepções arquitetônicas para esses locais
são diferentes quando comparadas àquelas adotadas para as
regiões em que a temperatura do ar é amena e a amplitude
térmica entre o dia e a noite é baixa.
Em se tratando de animais, para que a produção seja
otimizada, a instalação deve ser projetada de forma que estejam
protegidos durante temperaturas rigorosas com o máximo de
conforto possível.
O conforto térmico ambiental pode ser atingido por meio
do acondicionamento térmico natural, que consiste na escolha e
na utilização racional de técnicas e material de construção, além
da correta decisão sobre a forma de orientação da construção.
82 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Um bom projeto permite a perfeita acomodação do


animal, facilitando a observação visual, o controle de alimentação
e de doenças e o bom manejo de dejetos, com a utilização de
técnicas naturais de acondicionamento e custos minimizados.
Outro meio natural considerado eficiente para essa finalidade
é a colocação de vegetação em seu redor, pois, através da
fotossíntese, há a transformação da energia solar em energia química
latente, sob a forma de compostos de carbono e hidrogênio,
reduzindo a incidência e absorção de radiação pelos animais.
Ainda como parte das técnicas de acondicionamento
natural, pode ser mencionada a localização correta das entradas e
saídas de ar na construção, o que favorece a ventilação e contribui
para o conforto térmico.
Às vezes, para atingir o conforto térmico ambiental, é preciso
lançar mão do acondicionamento térmico artificial, que consiste nos
diversos tratamentos do ar, como purificação, aquecimento,
umidificação, refrigeração, desumidificação etc. Por exemplo, se no
interior de uma instalação a temperatura do ar é muito baixa e não
há como gerar calor, é importante fazer um acondicionamento por
meio de equipamentos aquecedores. Em certos ambientes, pode ser
necessária a alteração de mais de uma variável do ambiente, com a
utilização de ventiladores conjugados a umidificadores ou, às vezes, a
desumificadores. Em ambos os casos, a otimização do projeto de um
ambiente é de fundamental importância e só é possível se o projetista
conhecer bem o material utilizado na construção e os processos de
troca de energia envolvidos.
Numa construção, o envelope (envolvente, divisória) é o
componente que separa o espaço interno do externo e geralmente
é composto de material opaco, transparente e, ou, translúcido,
que permite prevenir ou modificar o efeito direto das variáveis
climáticas, dependendo das suas dimensões características como
um todo e das suas propriedades termofísicas. Por exemplo,
quando as condições térmicas da construção não são controladas
por meios artificiais, o material pode afetar, de forma significativa,
a temperatura do ar e das superfícies internas, resultando em
pronunciado efeito sobre o conforto dos ocupantes, o que deve
ser considerado na fase de projeto.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 83

Outro item a ser considerado é a atividade do habitante da


construção projetada, pois tanto o ser humano quanto os animais
geram quantidades variáveis de calor corporal. Por exemplo, um
edifício de escritórios, onde as pessoas realizam trabalho que
resulta na produção de pequena quantidade de calor, é concebido
de forma distinta daquele em que as pessoas, trabalhando, geram
maior quantidade de calor.
Costa (1982) afirma que as principais técnicas de
acondicionamento envolvem reduções na amplitude da
temperatura, na umidade e no movimento do ar.
É essencial mencionar que, nos trópicos, construções
muito elaboradas são raramente justificáveis, com base no
melhoramento do desempenho animal, quando empregadas
técnicas tanto naturais quanto artificiais de condicionamento
ambiental,pois as mais simples, na maioria das vezes, têm boa
qualidade ambiental e atendem aos requerimentos fisiológicos e
de saúde animal. A consideração econômica é relevante, uma vez
que os custos das acomodações fazem parte dos custos totais de
produção, e elas estão diretamente relacionadas de uma forma ou
de outra, com a correta utilização da energia alimentar disponível.

Conceitos sobre Energia


Um corpo possui energia quando é capaz de realizar
determinado trabalho. Como trabalho e energia são conceitos
equivalentes, qualquer movimento só é possível quando se dispõe
de energia devidamente transformada. A energia pode ser elétrica,
hidráulica, eólica, mecânica, cinética, atômica, potencial, térmica,
radiante ou transformada de uma forma para outra.
Energia térmica é a energia interna de um corpo,
usualmente chamada de calor; é resultado do movimento das
moléculas, dos átomos e das partículas do corpo e está
relacionada com as suas temperaturas.
O calor é transmitido de corpos com alta temperatura para os
que estão com baixa temperatura. Dessa forma, ocorrem no espaço
processos contínuos de transmissão de calor, como resultado das
84 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

diferenças de temperatura, provocadas por variações no conteúdo de


energia interna de um corpo. A variação no conteúdo de energia
pode estar relacionada com o próprio corpo, por sua capacidade de
produzir e armazenar, com fontes externas, como a radiação solar,
ou até mesmo com simples aparelhos geradores de calor.
Como já mencionado, a energia radiante consiste de
ondas eletromagnéticas em movimento no espaço, resultantes da
diferença do conteúdo de energia interna dos corpos.
Essa energia radiante possibilita a transmissão de calor de
um corpo para outro, pois um objeto qualquer está sempre
emitindo energia radiante, e isso supõe perda de uma parte do seu
calor interno, com consequente diminuição de sua temperatura.
Por exemplo, a energia radiante emitida por uma parede, por uma
lâmpada, pelo Sol ou por um pedaço de gelo transforma-se em
calor quando é absorvida por um corpo.
Há duas fontes principais de emissão de energia radiante:
o Sol, chamado de corpo de alta temperatura, que emite radiação
de ondas curtas, e os corpos do ambiente, que geralmente
estão em temperatura menor que 100 oC, chamados corpos de
baixa temperatura, que emitem radiação de ondas longas.
Como já mencionado, o comprimento de onda (λ) é a
característica da energia radiante usada para classificá-la; é
definido pela distância entre dois máximos sucessivos de onda.
Essa distância é medida em micrômetro (µm), que equivale a 10-6
m. A faixa toda do espectro da energia radiante abrange
comprimentos de onda desde 10-8 µm até 1010 µm.

Transmissão de Calor – Materiais de


Construção
Para que haja transmissão de calor, é necessário que os
corpos envolvidos tenham temperaturas diferentes, para que o
fluxo sempre saia do corpo que está com temperatura mais alta
para o que está com temperatura mais baixa, ou seja, do corpo
mais quente para o mais frio.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 85

A transmissão de calor consiste basicamente na


transferência de energia térmica de um corpo para outro até que
ocorra o equilíbrio térmico, isto é, até que todos estejam com a
mesma temperatura.
Quando a adição ou a perda de calor são associadas a
uma mudança na temperatura dos corpos, diz-se tratar de uma
forma sensível, e quando associadas a uma mudança de estado,
diz-se que é uma forma latente.
Considerando o material de uma construção, há três
formas principais de transferência de calor: condução, convecção
e radiação.
A quantidade de calor trocada na unidade de tempo
(kcal/h), em qualquer um dos processos de transmissão de calor
citados, recebe o nome de fluxo térmico. Esse fluxo é
permanente, ou estacionário, quando não varia com o tempo, isto
é, todo o calor que penetra o corpo também o abandona; e é não
permanente, ou transitório, quando varia com o tempo.

Condução
É o processo em que o calor é transferido de uma parte
para outra de um mesmo corpo, ou de um corpo a outro, caso
estejam em íntimo contato, em razão de um movimento vibratório
de moléculas. Essas moléculas, ao se chocarem com outras em
temperatura inferior, transferem-lhes parte de sua energia cinética.
Quanto mais elevada a temperatura, maior a velocidade das
moléculas e mais acelerada a transferência.
A magnitude e a velocidade do processo condutivo estão
relacionadas com as características térmicas das partes envolvidas.
A condutividade térmica é o fator que define o fluxo de
calor através de determinado material na unidade de tempo, por
unidade de espessura, por unidade de área do material e por
unidade de gradiente de temperatura. Pode ser expressa em
BTU/h.ft.oF (sistema inglês) ou em kcal/h.m.oC ou W.m/(m2 oC)
(sistema métrico).
86 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Os valores mais usuais de condutividade térmica de alguns


materiais de construção estão listados na Tabela 11.1.
Nessa tabela, observa-se que a água tem maior
condutividade térmica que o ar, o que significa que o material que
contém ar em seus interstícios funciona como isolante térmico, isto
é, menos capaz de conduzir calor. Se a água ocupa os poros do
material, desloca o ar e isso reduz o isolamento.
Outra propriedade importante desse processo é a
capacidade térmica, que se refere ao total de calor requerido para
elevar a temperatura de uma unidade de volume de determinado
elemento construtivo, ou da unidade de área da superfície desse
elemento, em 1 oC. No primeiro caso, é a capacidade térmica
volumétrica do material (c) e, no segundo, simplesmente
capacidade térmica (C). Pode ser expressa em kcal/m3 ou kcal/m2
e indica que o material pode se aquecer de forma diferenciada
para a mesma quantidade de calor. Desse modo, essa propriedade
é significativa, pois tem efeito decisivo na definição das condições
térmicas internas da construção quando a estrutura é aquecida e
resfriada periodicamente, como resultado de variações na
temperatura externa e na radiação solar.
De acordo com Incropera e Dewitt (1981) e Holman
(1983), a transmissão de calor por condução obedece à Lei de
Fourier, segundo a qual o fluxo térmico é diretamente
proporcional à superfície por onde passa o calor e ao gradiente de
temperatura, ou seja:

 ∆T 
q = K . A .  (11.1)
 ∆x 
em que q é o fluxo térmico por condução, kcal/h; K, a
condutividade térmica do meio, kcal/(m oC h); A, a área da
superfície por onde passa o calor, m2; ∆T, a diferença de
temperatura entre os dois pontos considerados na transmissão de
calor, oC; e ∆x, a espessura de material ou distância entre os dois
pontos onde as temperaturas foram medidas, m.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 87

A resistência térmica de um material também afeta a


transmissão de calor, que, de acordo com Costa (1982), expressa
a resistência que o material oferece à passagem de calor. A
Equação 11.1 mostra que o fluxo de calor é proporcional à
diferença de temperatura e, dessa forma, por analogia da Lei de
Ohm, à diferença de eletricidade, chega-se a
U
R= (11.2)
I
em que R é a resistência elétrica; U, a gradiente de potencial; e I,
a corrente elétrica.

Assim, pode-se fazer referência a “∆T” como gradiente de


potencial térmico e a“q” como corrente térmica, para definição de
resistência (Rt) do material, ou seja:
∆T ∆x
Rt = = (11.3)
q K.A

Tabela 11.1 - Valores usuais de condutividade térmica de alguns


utensílios de construção
Material K
[kcal/(m.h.oC)]
Aço 39,60
Água parada 0,50
Alumínio 176,40
Amianto 0,13 - 0,20
Ar parado (1.000 mbars, 15 oC) 0,02
Argila 0,80
Areia seca 0,28
Areia com 10% de água 1,00
Argamassas:
- 1:2 (cimento:areia) 0,65
- 1:5 (cimento:areia, fator água:cimento 1/9) 1,10
Continua...
88 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 11.1 - Cont.

Material K
[kcal/(m.h.oC)]
- 1:4:12 (cimento:cal:areia, + 2% de água) 0,46
- 1:3 (cal: areia) 0,58
Borracha esponjosa 0,03
Cantaria de mármore 1,80 - 3,00
Cimento em pó 0,25
Cimento agregado 0,90
Cimento de gesso 0,29
Coberturas:
- de telha de barro 10,00
- de madeira + telha de barro 2,60
- de chapas de ferro + telha de barro 5,00
Concreto armado 0,70 - 1,21
Concreto celular 0,05 - 0,12
Cortiça moída 0,04
Cortiça expandida 0,03
Espuma rígida de poliuretano 0,02
Eucatex 0,04
Feltro de lã 0,04
Granito 1,50 - 3,50
Gesso 0,40
Gesso celular 0,04 - 0,07
Lã-de-rocha 0,02 - 0,05
Lã-de-vidro 0,02 - 0,11
Madeira 0,04 - 0,14
Papelão 0,07 - 0,09
Parede:
- de tijolos (novas) 1,20
- de tijolos (velhas) 0,84
- de tijolos (secas) 0,37
- de pedra arenosa 1,59
Continua...
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 89

Tabela 11.1 - Cont.

Material K
[kcal/(m.h.oC)]
- de terra argilosa seca 0,45
- de terra argilosa úmida 2,00
- de madeira (1,5 cm de espessura) 2,88
- de concreto (5 cm), sem reboco 3,10
Plástico esponjoso 0,04
Poliestireno expandido 0,03
Serragem 0,06
Terra arenosa com 15% de água 0,79
Tijolos
- de carvão, 89% de C 1,36
- de cimento 1,00
- de argila úmida 1,00
- de argila (secagem natural) 0,34
- de argila (secagem mecânica) 0,42
Vidro 0,65
Vidro de quartzo 1,40
Fonte: COSTA, 1982; HOLMAN, 1983; NÃÃS, 1989.

Holman (1983) afirma que em construções é muito


comum a utilização de material composto por várias camadas de
resistências térmicas diferentes (Figura 11.1), resultando na
seguinte análise:
 T − T1   T − T2 
q = − KA . A  2  = − K B . A  3  =
 ∆ x A   ∆xB 
(11.4)
 T − T3 
− KC . A  4 
 ∆xC 
sendo o mesmo fluxo para todas as seções, o valor de q pode ser
dado por:
90 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

T1 − T4
q= (11.5)
∆xA ∆xB ∆xC
+ +
K A . A K B . A KC . A

Figura 11.1 - Transferência de calor através de uma parede


composta em analogia com o circuito elétrico.
Fonte: HOLMAN, 1983.

O fluxo de calor também pode ser encontrado para


material composto por diferentes camadas no sentido vertical
(Figura 11.2). Da mesma forma, o valor de q pode ser
determinado por:
∆Ttotal
q= (11.6)
∑ Rt

As situações citadas podem ser verificadas em


componentes da construção, como paredes, muros, janelas,
telhados, forros, lajes e pisos.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 91

Figura 11.2 - Transferência de calor em série e paralelamente,


através de uma parede composta, em analogia
com o circuito elétrico.
Fonte: HOLMAN, 1983.

Embora pouco comum na construção, é importante


mencionar o fluxo de calor que ocorre em corpos cilíndricos.
Holman (1983), considerando um cilindro longo de raio interno ri,
raio externo re e comprimento L (Figura 11.3), exposto a um
diferencial de temperatura Ti - Te, concluiu o seguinte:
Ar = 2 π r L (11.7)
em que Ar é a área em que ocorre o fluxo de calor.

 dT 
qr = 2π K r L   (11.8)
 dr 

Ti − Te
qe = 2π K r L (11.9)
r 
ln  e 
 ri 
92 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 11.3 - Fluxo de calor através de um corpo cilíndrico em


analogia com o circuito elétrico.
Fonte: HOLMAN, 1983.

r 
In  e 
Rt =  ri  (11.10)
2π K r L

Se o cilindro é composto por várias camadas de


resistências características, como ilustra a Figura 11.4, então:
2 π L (T1 − T4 )
q= (11,.11)
 r2   r3  r 
ln   ln  ln 4 
 r1     
  +  r2  +  r2 
KA KB KC

Cálculos referentes à transmissão de calor por condução


em paredes compostas tornam-se simplificados com a utilização
do conceito de resistência térmica.
Givoni (1969) relata que, quando o envelope de
construção é composto de várias camadas, o fluxo de calor em
cada camada causa uma elevação de temperatura com
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 93

consequente transferência de calor para a próxima camada,


porém em quantidade menor, e assim sucessivamente. Dessa
forma, cada camada recebe menos calor e está sujeita a menor
aumento de temperatura que a mais externa, adjacente. Isso
significa que sempre ocorre armazenamento de calor na estrutura
do envelope durante as horas de temperatura externa mais alta,
que é transferido por condução num processo inverso, durante as
horas de temperatura externa mais baixa.

Figura 11.4 - Fluxo de calor através de seções cilíndricas múltiplas


em analogia com o circuito elétrico.
Fonte: HOLMAN, 1983.

De acordo com Rivero (1986), baseado na análise


anterior, qualquer modificação ou diferença térmica produzida em
uma das superfícies do fechamento ou no meio imediato não é
notada instantaneamente na outra face. Isso caracteriza o retardo
térmico do material, expresso em unidades de tempo. Ou seja, é o
tempo gasto para que uma diferença térmica ocorrida em um dos
meios se manifeste na superfície oposta. Outro fenômeno
importante é a capacidade de amortecimento, isto é, a habilidade
do material de diminuir a amplitude das variações térmicas ou de
reduzir as ondas térmicas.
94 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Givoni (1969) afirma que a principal propriedade que


afeta o aquecimento ou resfriamento interno de um material é o
produto da sua condutividade térmica pela sua capacidade
calorífica volumétrica, o qual determina a rapidez do processo e o
perfil de temperaturas no interior do material. Os materiais de
construção com alto valor desse produto são aquecidos
significativa e rapidamente, mas resfriam-se bruscamente quando
os valores são baixos.
De qualquer forma, o conhecimento da temperatura
superficial do material dos fechamentos é fundamental, uma vez
que esta determina as condições de conforto do meio.
Além das características do material, há outros fatores que
contribuem para a definição da temperatura no ambiente interno
de determinada construção, como ventilação, penetração da
radiação solar e processos ou equipamentos que liberam calor no
interior da construção, como cozimento, lavagem e utensílios
elétricos.
Nos casos citados, foi considerado o gradiente de
temperatura sempre constante, ou seja, nenhuma das
temperaturas do sistema variando com o tempo, o que caracteriza
fluxo de calor por condução sob regime estacionário (Figura 11.5).
Se pelo menos uma das temperaturas do sistema sofre variações
periódicas, caracteriza-se fluxo de calor por condução em regime
variável (Figura 11.6), o que corre com mais frequência quando
comparado ao estacionário. Por exemplo, quando, no verão ou
inverno, são utilizados, no interior das habitações, equipamentos
de refrigeração ou calefação, a temperatura interna mantém-se
constante com o tempo e a externa varia em razão das condições
climáticas, ocorrendo fluxo de calor em regime variável.
Nesse regime, a condutividade, a capacidade e o retardo
térmicos e a capacidade de amortecimento são propriedades
muito importantes na definição da temperatura da superfície do
material, na determinação da temperatura dos meios considerados
no fluxo de calor por condução e, consequentemente, nas
condições de conforto resultantes no ambiente. Pode-se, por
exemplo, por meio da escolha de material com alta capacidade
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 95

térmica, reduzir a alta amplitude da temperatura do ar, comum em


locais de microclima seco.

Figura 11.5 - Regime estacionário de transmissão de calor.


Fonte: RIVERO, 1986.

Tomando como exemplo o concreto e o poliestireno


expandido, considerados na definição da capacidade térmica
(Tabela 8.2), observa-se que o concreto apresenta retardo térmico
e capacidade de amortecimento maiores que o poliestireno, o que
pode ser mais bem visualizado na Figura 11.7. Isso mostra a
importância da escolha do material para determinado fim,
devendo lembrar que, quando a espessura de um material tende a
zero, ocorre o mesmo com a resistência térmica e com a
capacidade de amortecimento.
96 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 11.6 - Regime variável de transmissão de calor (a, b, c). O


esquema mostrado em (c) evidencia o regime
variável do tipo periódico.
Fonte: RIVERO, 1986.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 97

Figura 11.7 - Dois fechamentos de resistências térmicas iguais e


capacidades de amortecimento diferentes.
Fonte: RIVERO, 1986.

Aplicação
1) Uma camada de 5 cm de amianto não compactado é
colocada entre duas placas que estão a 100 e 200 oC,
respectivamente. Calcular o calor transferido através do isolante
(HOLMAN, 1983).
T1 = 100 oC T2 = 200 oC
∆x = 5 cm K = 0,149 W/(m oC)
q  T − T1   200 − 100 
=K 2  = 0,149  
A  ∆x   0,05 
q
= 298 W/m 2
A

2) A parede externa de uma casa é composta por uma


camada de 10 cm de tijolo comum [k = 0,7 W/(m oC)], seguida de
uma camada de 4 cm de gesso [k = 0,48 W/m oC)]. Que
espessura de isolamento de lã-de-rocha [k = 0,065 W/(m oC)]
98 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

deve ser adicionada para reduzir a transferência de calor através


da parede em 80% (HOLMAN, 1983)?

Figura 11.8 - Representação da parede com três camadas.


Fonte: HOLMAN, 1983.

Pode-se fazer analogia com um circuito elétrico, de forma


que as resistências térmicas das camadas sejam dadas por:
∆ x 1 0,10
R1 = = 0,14286 (m 2 ⋅ oC)/W
K1 0,7

∆ x 2 0,04
R2 = = 0,08333 (m 2 ⋅ oC)/W
K2 0,48
A resistência térmica total, sem considerar o isolamento de
lã-de-rocha, é:
R1 + R2 = 0,22619 (m2 . oC)/W
Para que o fluxo seja reduzido em 80%, a resistência
calculada acima corresponde a 20% do total que deverá ser
empregada. Logo:
0 ,22619 x100%
20%
(
= 1,13095 m2 . oC / W )
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 99

∆x 3
∴ 1,13095 - 0,22619 =
K3
∆x 3
0,90476 =
K3
∆X3 = 0,90476 . 0,065 = 0,059 m ≈ 6 cm

3) As temperaturas superficiais de uma parede plana de 15


cm de espessura são 370 e 93 oC. A parede é feita de um vidro
especial com as seguintes propriedades: k = 0,78 W/(m oC), ρ =
2700 kg/m3, cρ = 0,84 kJ/(kg oC). Qual é o fluxo de calor através
da parede em regime permanente (HOLMAN, 1983)?

Figura 11.9 - Propriedades e temperaturas superficiais de uma


parede.
Fonte: HOLMAN, 1983.
T1 − T2
q = K.A.
∆x

q 370 − 93
= 0 ,78 = 1440 ,4 W/m2
A 0 ,15
100 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Convecção
É o processo em que o calor é transferido de uma parte
para outra de um fluido por um movimento relativo de suas
partículas, provocado por gradientes de pressão na massa fluida.
O diferencial de pressão é ocasionado pela diferença de
temperatura, causando variações de densidade nas partes
envolvidas e originando as correntes convectivas que removem o
calor.
A maioria dos processos de troca de calor por convecção
envolve um fluido (gás ou líquido) e uma superfície sólida. Como
exemplo pode-se considerar o resfriamento rápido de uma placa
de metal aquecida quando posicionada em frente de um
ventilador; na construção, o sólido seria representado por uma
parede e o fluido, pelo ar circundante.
Normalmente, o processo tem duas fases: na primeira, o
calor é transferido por condução, em razão do contato entre o
sólido e o fluido; na segunda, ocorre o movimento convectivo
ascendente ou descendente do fluido, em razão da variação de
sua temperatura e, consequentemente, de sua densidade.
Supondo que haja contato de determinada massa de ar
com uma parede, se a temperatura superficial da parede for mais
elevada, o ar se aquecerá, se expandirá, se tornará menos denso e
subirá, dando lugar à outra massa de ar com temperatura mais
baixa, causando correntes convectivas até que o equilíbrio seja
estabelecido.
A principal diferença entre esse processo e o de condução
é a translocação marcante das moléculas fluidas que transportam
o calor. Além disso, na convecção, o calor trocado depende muito
da temperatura da superfície do sólido, de sua forma, de suas
características superficiais e de seu tamanho, bem como da
viscosidade, da temperatura e da taxa de movimentação do fluido
envolvido. A convecção é o resultado do movimento
macroscópico das partículas do fluido, enquanto a condução
resulta do movimento microscópico das moléculas, ou elétrons
livres, que entram na constituição dos corpos.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 101

O calor pode ser removido da superfície aquecida por


meio de movimento próprio do fluido (gás ou líquido),
caracterizando a convecção livre. Nesse caso, o movimento do
fluido é causado apenas pela diferença de temperatura e
densidade entre as suas partes. Essa forma de convecção ocorre
comumente nos espaços interiores, nas câmaras de ar fechadas
por vidros por paredes duplas e, ainda, nas coberturas com forro.
Quando há uma força externa atuando para aumentar a corrente
fluida, ocorre a remoção do calor da superfície aquecida por
convecção forçada.
Qualquer um dos processos é muito influenciado pela
velocidade do ar (fluido), porém, para baixa velocidade, isto é,
menos que 0,2 m/s, a convecção é considerada livre. Pode ocorrer
significativa remoção de calor quando as duas formas de
convecção agem simultaneamente, porém, na maioria dos casos,
a forçada é predominante e a livre é desprezível.
De acordo com Holman (1983), a energia em forma de
calor trocada por convecção é proporcional à área da superfície,
ao gradiente de temperatura e ao coeficiente de convecção. O
efeito das correntes convectivas na remoção de calor
(resfriamento) pode ser expresso pela lei de Newton.
Considerando a Figura 11.10, tem-se:
q = h . A . (Tp - T∞) (11.12)
em que q é a taxa de transferência de calor, W; h, o coeficiente de
convecção, W/(m2 . oC); A, a área da superfície aquecida, m2; Tp,
a temperatura da superfície aquecida, oC; e T∞, a temperatura do
fluido, oC.
Na convecção, a resistência térmica é dada por:
1 ∆T
Rt = = (11.13)
h.A q
O coeficiente de convecção (h), algumas vezes
chamado de condutância de película ou de coeficiente de
condutividade externa, cuja unidade é W/(m2 oC), é o fator físico
do processo. Sua determinação é complexa, pois depende do
102 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

conhecimento da espessura da camada fluida e da condutividade,


do tamanho, da forma e da orientação da superfície sólida, bem
como do perfil aerodinâmico, que se refere ao tipo de corrente
fluida, laminar ou turbulenta.

Figura 11.10 - Transferência de calor por convecção em uma


placa.
Fonte: HOLMAN, 1983.

Regime laminar ocorre quando o perfil do movimento do


fluido é caracterizado por baixa velocidade e turbulento, por alta
velocidade.
De acordo com Costa (1982), o coeficiente de convecção
não é uma propriedade do fluido ou do sólido, mas, sim, um
coeficiente geral, com o qual se pretende representar o efeito
conjunto de vários fatores que afetam esse mecanismo de
transmissão de calor.
Algumas tentativas têm sido feitas para se calcular o
coeficiente de convecção (h). Para alguns sistemas, é possível o
cálculo analítico, mas, para situações mais complexas, a
determinação é experimental.
A Tabela 11.2 fornece valores de h para casos práticos.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 103

Tabela 11.2 - Valores do coeficiente de convecção para casos


práticos
Tipo de Fluido h
convecção W/(m2 oC)
Natural Gases 3,5 - 23,3
Líquidos 116,3 – 1 163,1
Água em ebulição 1 163,1 – 2 361,2

Forçada Gases 11,6 - 116,3


Líquidos 58,2 - 581,5
Água 581,5 – 11 630,6
Vapores em condensação 11 630,6 – 116 396,6
Água em ebulição em 2 500,7 – 35 000,0
vasos abertos
Fonte: COSTA, 1982; HOLMAN, 1983.

O cálculo do coeficiente de convecção pode ser feito a


partir do número de Nusselt (Nu), considerando a temperatura do
filme ou da película [Tf = (Tp + T∞)/2] do sistema envolvido:
h.x
Nu = (11.14)
K
em que Nu é o número de Nusselt; h, o coeficiente de convecção,
W/(m2 . oC); x, a dimensão característica do sólido envolvido, m; e
K, a condutividade térmica, W/(m. oC).

Um estudo mais detalhado do processo de transferência de


calor por convecção requer análise da dinâmica dos fluidos, que
envolve principalmente considerações acerca da viscosidade,
densidade e velocidade do fluido, fatores que definem a
magnitude do transporte líquido da quantidade de movimento.
De acordo com Incropera e Dewitt (1981), para qualquer
um dos casos, a transferência de calor por convecção mostrar
104 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

dependência acentuada da viscosidade e das propriedades


térmicas do fluido, como condutividade térmica, calor específico e
densidade. Isso se deve ao fato de que a viscosidade do fluido
influencia o perfil da velocidade e, consequentemente, a taxa de
transferência de energia. As propriedades do ar à pressão
atmosférica estão especificadas, em função da temperatura, na
Tabela 8.4.
Relações como as que definem o número de Reynolds
(Re) (Equação 8.7) são úteis nos cálculos. O Re é o parâmetro
utilizado para caracterizar o regime de escoamento do fluido.
Valores de Re menores ou iguais a 5x105 definem regime laminar.
O número de Prandtl (Pr) e o Número de Grashof (Gr) são
também muito empregados nos cálculos de trocas de calor por
convecção:

ν Cp . µ
Pr = = (11.15)
α K

em que Pr é o número de Prandtl; ν, a viscosidade cinemática do


fluido, m2/s; α, a difusividade térmica do fluido (k/(ρ.cp), m2/s; cp,
o calor específico em pressão constante, kJ/(kg. oC); µ, a
viscosidade dinâmica do fluido, kg/(m.s); e K, a condutividade
térmica, W/(m. oC).

Em construções, transmissão de calor por convecção


ocorre em superfícies horizontais, como lajes, forros e pisos; em
superfícies inclinadas, como telhados e basculantes; e, na maioria
dos casos, nos diversos tipos de superfícies verticais que compõem
as divisórias.
Assim, tomando como base os agrupamentos de
propriedades descritos anteriormente, para o caso de transferência
de calor por convecção, sobre uma placa plana horizontal, como
em lajes e pisos, o Nu pode ser calculado da seguinte forma:

  Xo  3 / 4  −1 / 3
Nu = 0 ,332 . Pr 1 / 3 . Re1 / 2 1 −    (11.16)
  X  
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 105

em que Xo é a distância medida de algum ponto a partir da borda


de ataque da placa, m; e X, o comprimento da placa, m.

Para regime turbulento, detectado a partir do


conhecimento do número de Reynolds, o Nu pode ser dado por:
Nu = Pr1/3 (0,037 . Re0,8 – 850) (11.17)
Se a transferência de calor por convecção ocorrer em
placas planas verticais, como no caso de janelas, portas e paredes,
o Nu pode ser dado por:
Nu = 0,508 . Pr1/2 (0,952 + Pr)-1/4 . Gr1/4 (11.18)

g . β (Tp − T∞ ) . x 3
Gr = (11.19)
ν2
em que g é a aceleração da gravidade, m/s2; β , o coeficiente de
expansão volumétrica; igual ao inverso da temperatura ambiental
em K, 1/k; x, a distância medida a partir da borda de ataque da
placa, m; e ν, a viscosidade cinemática do fluido, m2/s.

O produto (Gr.Pr) é chamado Número de Rayleigh (Ra).


A seguir, serão apresentadas fórmulas para o cálculo do
Nu médio para uma gama de situações que podem ocorrer em
construções. Quando da utilização dessas fórmulas, é importante
ressaltar que, para placas, a dimensão característica é o
comprimento e, para cilindros e esferas, o diâmetro. Para que um
cilindro vertical possa ser tratado como uma placa vertical, é
necessário que a razão entre seu diâmetro e seu comprimento seja
maior que a relação [35/(Gr1/4)] (INCROPERA; DEWITT, 1981).

1) Placa vertical ou cilindro vertical


0,387 . Ra1/6
Nu = {0,825 + 9/16
}2 (11.20)
 0,492 
[1 +  
8/27
]
 Pr 
106 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

2) Placa horizontal
a) face superior quente ou face inferior fria
Nu = 0,54 . Ra1/4 (11.21)
5 7
para 10 < Ra < 10

Nu = 0,15 . Ra1/3 (11.23)


7 11
para 10 < Ra < 10

b) face superior fria ou inferior quente


Nu = 0,27 . Ra1/4
para 105 < Ra < 1010

3) Placa inclinada
0,387 . Ra1/6
Nu = {0,825 + 9/16
}2 (11.24)
 0,492 
[1 +   ]8/27

 Pr 
para Ra ≤ 109 e θ < 60o,

0,670 . Ra1/4
Nu = {0,68 + 9/16
}2 (11.25)
 0,492 
[1 +   ] 4/9

 Pr 
para Ra ≤ 109 e θ < 60o, sendo g = g cos θ

4) Cilindro horizontal
0,387 . Ra1/6
Nu = {0,60 + 9/16
}2 (11.26)
 0,559 
[1 +  
8/27
]
 Pr 
para 10-5 < Ra < 1012
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 107

5) Esfera
0,589 . Ra1/4
Nu = {2 + 9/16
}1 (11.27)
 0,469 
[1 +  
4/9
]
 Pr 
para Ra ≤ 1011 e Pr ≥ 0,7

Aplicação
1) O ar a 20 oC, 14 kN/m2, escoa a 150 m/s sobre uma placa
plana de 1 m de comprimento, mantida em temperatura
constante de 150 oC. Qual a taxa de transferência de calor por
unidade de área da placa?
T∞ = 20 oC Tp = 150 oC
p = 14 kN/m2 v = 150 m/s

T∞ + Tp 20 + 150
Tf = = = 85 o C
2 2
Tf = 273 + 85 oC ∴ Tf = 358 K

Considerando dados do ar da Tabela 8.4, tem-se:


K = 0,03061 W/(m oC) ν = 2,158 x 10-5 m2/s
Pr = 0,696
V .x 150.1
Re = = = 7 x 106
υ 2,158 x 10 − 5

O alto valor de Re encontrado indica regime turbulento a


partir da borda da placa, o que poderia ser verificado por meio do
valor da velocidade do ar, ≈ 500 km/s.
Dessa forma, pode-se aplicar a equação 11.17.
Nu = Pr1/3 (0,037 . Re0,8 – 850) = 9060,056
108 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

h.L
Nu = ∴ h = 277 ,3 W/m2.o C
K

= h . (Tp − T∞ ) = 277,3 (130) = 36.053 W/m2.


q
A

2) Uma parede está exposta a uma temperatura ambiente de


38 oC. A parede é coberta com uma camada de isolante de 2,5
cm de espessura com condutividade térmica 1,4 W/(m oC). A
temperatura na face interna isolante é de 315 oC. A parede
perde calor para o ambiente por convecção. Calcular o valor
do coeficiente de transferência de calor por convecção que
deve ser mantido na superfície externa do isolante para
garantir que a temperatura da superfície externa exceda 41 oC
(HOLMAN, 1983).

Figura 11.11 - Esquema da parede com revestimento isolante.


Fonte: HOLMAN, 1983.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 109

a) Calor trocado entre a parede e o isolante (por condução)


q Te − Tp 41 − 315
= − Ki . = − 1,4 .
A ∆x 0,025
q
= 15344 W /m2
A

b) Calor trocado entre a superfície externa do isolante e o


ambiente (por convecção)
q
= h . (Te - T∞) ⇒ 15 344 = h . (41 – 38)
A
h = 5 115 W/(m2 . oC)

3) Uma placa vertical de 4 m de comprimento e 6 m de largura, a


60 oC, está exposta ao ar, cuja temperatura é de 10 oC.
Calcular o calor transferido.
Tp + T∞ 60 + 10
Tf = = = 35 oC = 308 K
2 2

Para a Tf obtida, na Tabela 8.4 têm-se as propriedades do ar:


K = 0,02685 W/(m oC)
ν = 17,47 x 10-6 m2/s
Pr = 0,7
1 1
β= = = 3 ,25 x 10 − 3 K −1
T 308

Utilizando-se as Equações 11.19 e 11.20.


g . β (Tp − T∞ ) . x 3
Gr =
v2
9 ,81 . 3,25 x 10 −3 (60 − 10 ) 4 ,0 3
Gr = = 2,34 x 1011
(17,47 x 10 ) −6 2
110 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Ra = Gr . Pr = 3,34 x 1011 . 0,7 = 2,34 x 1011

0,387 . Ra1/6
Nu = {0,825 + 9/16
}2 = 690
 0,492 
[1 +   ]8/27
 Pr 
Nu . K
h= = 4 ,63 W /m2 oC
x
q = h . A (Tp - T∞) = 4,63 . (4 x 6) (60 – 10) = 5 556 W

4) Considerando uma parede aquecida por convecção em um


lado e resfriada por convecção no outro, obter a equação de
transferência de calor na parede.

Figura 11.12 - Esquema de transferência de calor na parede.


Fonte: HOLMAN, 1983.

a) aquecimento por convecção: q = h1 . A (T1 – TA)


b) resfriamento por convecção: q = h2 . A . (TB – T2)

No interior da parede, haverá um fluxo de calor por


condução dado por:
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 111

- K . A (TB − TA )
q=
∆x
− K . A (TB − TA )
q = h1 . A (T1 − TA ) = = h2 . A . (TB − T2 )
∆x

As resistências térmicas serão:


1
R1 =
h1 . A
∆x
R2 =
K.A
1
R3 =
h2 . A

A resistência térmica equivalente é dada por:


Req = R1 + R2 + R3 (em série)

Por analogia com um circuito elétrico, o fluxo de calor é


dado pela divisão da ddp térmica pela resistência térmica:

T1 − T2 T1 − T2
q= =
Req 1 ∆x 1
+ +
h1 . A K . A h2 . A
ou
q = (T1 – T2) . U . A

sendo U o coeficiente global de transferência de calor, para o caso


de uma parede exposta a fluxos convectivos e condutivos:
1
U=
1 ∆x 1
+ +
h1 K h2
112 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Radiação
Todos os conceitos básicos relacionados no estudo da
transferência de calor entre animal e ambiente, por meio da
radiação, também são aplicáveis às trocas de calor por radiação,
que ocorrem entre materiais e na construção como um todo.
Conhecer as propriedades do material de construção
relacionadas com a transmissão de calor por radiação é de
fundamental importância. Por exemplo, em temperatura
ambiente, o material metálico possui emissividade entre 0,00 e
0,30, sendo os menores valores correspondentes às superfícies
mais polidas. O não metálico possui emissividade entre 0,85 e
1,00. Essa característica é própria da camada superficial do
material emissor, fato que deve ser frisado em face da diversidade
de recobrimentos ou capeamentos a que podem ser submetidos os
materiais. Outro fator importante é a temperatura do material, que
influi muito na quantidade de energia emitida. Por exemplo, um
material cuja emissividade é 0,90, a 20 oC, emite 378 W/m2 e, a
40 oC, emite 492 W/m2.
Essa emissão de radiação térmica abrange ondas
eletromagnéticas cujos comprimentos estão entre 0,1 e 100 µm, o
que indica que está contida na faixa dos ultravioleta e
infravermelhos. Um radiador ideal, ou seja, um corpo negro, emite
energia numa taxa proporcional à quarta potência da sua
temperatura absoluta. Quando troca calor por radiação com outro
corpo, a troca líquida pode ser quantificada por:
q = σ . A . (T14 – T24) (11.28)
em que q é a taxa de transferência de calor, W; σ, a constante de
Stephan-Boltzmann = 5,67 x 10-8 W/(m2 . K4); A, a área envolvida
no processo, m2; e T1 e T2, as temperaturas das superfícies
envolvidas no processo, K.

Essa equação é válida somente para corpos negros. Outros


tipos de superfície, de natureza “cinzenta”, como as pintadas ou
metálicas polidas, não emitem tanta energia quanto os corpos
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 113

negros. Neste caso, é necessário considerar a emissividade (ε) que


relaciona a radiação de uma superfície cinzenta com a de uma
superfície negra ideal.
É importante, ainda, levar em conta a forma e a
orientação dos corpos que trocam energia térmica. Assim, podem-
se introduzir, na equação anterior, os fatores Fε, função da
emissividade, e FG, função fator de forma:
q = Fε . FG . σ . A (T14 – T24) (11.29)
O fator de forma ou de configuração leva em conta a
disposição das duas superfícies envolvidas na troca de calor por
radiação e, na maioria dos casos, vale uma unidade.
Kelly et al. (1950) afirmam que os fatores geométricos
relativos à emissão de uma superfície à outra definem o fator de
forma, fração da energia emitida em todas as direções por uma
superfície, interceptada por uma segunda. Por exemplo, se a
superfície receptora está a certa distância e orientada em relação à
superfície emissora, de modo que receba somente metade da
energia, seu fator de forma é 0,50.
Holman (1983) fornece ábacos práticos, como os
apresentados nas Figuras 11.13 e 11.14, para determinação do
fator de forma de dois corpos envolvidos nas trocas de calor por
radiação.
O fator de emissividade, Fε, considera a correção devida
às diferenças de dimensões e emissividades das superfícies; pode
ser aproximado pelo produto das emissividades dos corpos
envolvidos.
Nas trocas de calor por meio de ondas radiantes, em
construções, o ar ambiente contíguo ao elemento de construção
representa o conjunto dos elementos com os quais as trocas se
processam.
114 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 11.13 - Fator de forma de radiação entre retângulos


paralelos.
Fonte: HOLMAN, 1983.

Figura 11.14 - Fator de forma de radiação entre retângulos


perpendiculares com uma aresta comum.
Fonte: HOLMAN, 1983.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 115

Normalmente, as trocas radiantes em construções são


quantificadas pela carga térmica de radiação (CTR), cujo cálculo
se baseia na temperatura radiante média (TRM). A CTR, de
acordo com Kelly et al. (1950), expressa a radiação total recebida
pelo corpo, neste caso um globo negro, de todos os espaços ou
partes da vizinhança:
CRT = σ . TRM4 (11.30)
em que CTR é a carga térmica de radiação, W/m2; σ, a constante
de Stephan-Boltzmann, W/(m2 K4); e TRM, a temperatura radiante
média, K.

A TRM é a temperatura de uma circunvizinhança,


considerada uniformemente negra, para eliminar o efeito da
reflexão, com a qual o corpo troca a mesma quantidade de
energia que tem o ambiente considerado. Pode ser obtida pela
seguinte equação:
4
 Tgn  1 / 4
TRM = 100 [ 2,51 V (Tgn − Tbs ) +   ] (11.31)
 100 
em que V é a velocidade do ar, m/s; Tgn, a temperatura de globo
negro, K; e Tbs, a temperatura de bulbo seco (temperatura do ar), K.

O termômetro de globo negro é o aparelho usado para a


obtenção da temperatura de globo negro (Tgn). Consiste de uma
esfera oca, de cobre, com 0,15 m de diâmetro e 0,5 mm de
espessura (dimensões mais comuns), pintada externamente com
duas camadas de tinta preta fosca para maximizar a absorção de
radiação solar; em seu centro é instalado o elemento sensor de
termopar ou termômetro para a leitura da temperatura.

Aplicação
1) Duas placas negras e infinitas a 800 e 300 oC, respectivamente,
trocam calor por radiação. Calcule o calor trocado por unidade
de área.
116 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

q = σ . A . (T14 – T24)
q
= 5,67 x 10 − 8 [(800 + 273)4 − (300 + 273)4 ]
A
q
= 69072,73 W / m2
A

2) Duas placas negras e infinitas a 500 e 100 oC, respectivamente,


trocam calor por radiação. Calcular a taxa de transferência de
calor por unidade de área. Se outra placa perfeitamente negra
for colocada entre as placas a 500 e 100 oC, de quanto será a
redução do calor transferido? Qual será a temperatura da placa
central ?
q = σ . A . (T14 – T24)
q
= 5,67 x 10 − 8 [(500 + 273)4 − (100 + 273)4 ]
A
q
= 19158 ,20 W/m2
A

Se outra placa negra for colocada entre as duas, haverá


redução de 50% no calor trocado, isto é:
q/A = 9579,10 W/m2
Dessa forma, a temperatura da terceira placa negra será:

q = σ . A . (T14 – T24)
9579,1 = 5,67 x 10-8 [7734 – T34] ∴ T3 = 659 K = 386 oC

3) Duas placas negras paralelas de 0,5 por 1,0 m estão separadas


por uma distância de 0,5 m. Uma placa é mantida a 1.000 oC e
a outra, 500 oC. Qual a transferência líquida de energia
radiante entre as placas?
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 117

Pelo ábaco visto na Figura 11.13, tem-se:


Y 0,5 X 1,0
= 1 e = = 2,0 ∴ F12 = 0,285
D 0,5 D 0,5

q = σ . A1 . F12 . (T14 – T24)


q = (5,67 x 10-8) . 0,5 . 0,285 (12734 – 7734)
q = 18,33 kW

Evaporação e Condensação
Em épocas de chuva, pode ocorrer grande penetração de
água no interior das edificações por meio dos telhados, das fendas
nas janelas e divisórias, ou por meio de migração da água do solo
para pisos e paredes.
A concentração de umidade no interior de uma edificação
pode ainda aumentar em razão de processos fisiológicos animais,
como a eliminação de água através da respiração e transpiração
dos ocupantes. Além disso, cozinhas e banheiros dão
contribuições significativas ao total da umidade verificada no
ambiente em razão da frequência de cozimentos e lavagens.
A concentração de umidade em níveis elevados é
prejudicial à saúde e ao conforto dos habitantes, além do dano
material da construção, com consequente perda da estética. Pode
ocorrer o desenvolvimento de diversos micro-organismos nas
superfícies, o que não só exala odor desagradável, como também
pode aumentar a frequência e a severidade de doenças, como o
reumatismo.
Ocorrem danos como redução da resistência térmica do
material da construção, por excesso de umidade; eflorescência de
sais solúveis nas superfícies; variações de cor; manchas na pintura;
empenamento e apodrecimento de madeiras; corrosão de metais;
amolecimento de rebocos de gesso e cal; desintegração da cola de
painéis laminados etc.
118 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Toda a umidade, passando por processo de evaporação,


pode se incorporar ao ambiente em forma de vapor, que pode ser
absorvido por capilaridade pelos elementos da construção, em
função do potencial de absorção. Pode ocorrer perda de umidade
para o ambiente externo ou, ainda, condensação nas superfícies
do material.
Por meio dos processos de evaporação e de condensação,
ocorrem significativas trocas de calor nas construções devido à
transformação ou à mudança de estado da água de líquido para
vapor ou vice-versa. São as formas latentes de troca de calor.
Para melhor compreensão dos processos, é necessário
recapitular alguns conceitos básicos.
Define-se umidade como o vapor d’água contido no ar na
forma de gotículas invisíveis, que se comportam como um gás
qualquer. Umidade absoluta é a quantidade de água, massa ou
volume contida em uma unidade de massa ou de volume de ar
seco, geralmente expressa em grama por quilograma ou em metro
cúbico por metro cúbico. Umidade relativa ou razão de
umidade refere-se à relação entre a umidade absoluta do ar e a
umidade absoluta do ar saturado para a mesma temperatura,
dada em porcentagem. Esse valor define o estado de secura do ar.
O diferencial de umidade absoluta, isto é, o gradiente de
pressão de vapor entre dois meios constitui a força que impulsiona
os processos latentes de evaporação e condensação.
O ar, em determinada temperatura, é capaz de conter certa
quantidade de vapor d’água, que pode ser acrescida até atingir a
saturação. Após a saturação, qualquer acréscimo de vapor ou
redução de temperatura provoca a condensação, isto é, o vapor
excedente passa para o estado líquido. A temperatura do ar na
qual ocorre a saturação por resfriamento, em pressão constante, é
conhecida como temperatura do ponto de orvalho.
Ambos os mecanismos de trocas térmicas latentes,
condensação e evaporação, envolvem consideráveis quantidades
de energia. Por exemplo, a evaporação ou mudança de estado de
um grama de água do estado líquido para vapor requer cerca de
2.450 J (joules) ou 585 calorias, energia esta que é retirada do
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 119

corpo em que ocorre a evaporação, isto é, em que se dá a


mudança do estado líquido para o gasoso.

Condensação
Quando o ar saturado de vapor d’água entra em contato
com uma superfície cuja temperatura está abaixo do seu ponto de
orvalho, o excesso de vapor se condensa sobre a superfície. Se a
superfície é impermeável, o processo é denominado condensação
superficial; se é porosa, ocorre difusão da umidade para o interior.
Como a condensação do vapor libera, para a superfície de
contato, cerca de 585 cal por grama de água, na forma de calor
latente, há aumento da temperatura superficial na proporção da
taxa de condensação.
Holman (1983) trata esses processos como convectivos
associados à mudança de fase do fluido. Define condensação em
película como a que resulta na formação de uma fina película de
líquido sobre a superfície e condensação em gotas como a que
resulta em pontos de nucleação sobre a superfície. Esta última
envolve maior taxa de transferência de calor, pois grande parte da
área da superfície fica exposta. O mesmo autor fornece algumas
relações para a estimativa do coeficiente médio de transferência
de calor por convecção (h), na condensação, com o objetivo de
determinar posteriormente o calor trocado.
Por exemplo, para uma placa plana vertical, em
determinada temperatura (Tp) e em contato com vapor saturado
em temperatura de saturação (Tg), podem ser definidas as
seguintes relações:
Tp + Tg
Tf = (11.32)
2
q = h . A . (Tg – Tp) (11.33)
3 1/ 4
 ρI (ρI − ρv) g . hIv . K f 
h = 0 ,943   (11.34)
 L . µ f (Tg − Tp ) 
120 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

As propriedades são obtidas da Tabela 11.13.


Para placas inclinadas em ângulo θ com a vertical tem-se:
g = g . cos θ

= h . A . (Tg − Tp )
q
m=
hlv

em que Tf é a temperatura de filme ou de película; g, a taxa de


transferência de calor na condensação; h, o coeficiente de
transferência de calor na condensação; A, a área total da
superfície de transferência de calor; ρl, a densidade do líquido;
ρv, a densidade do vapor; q, a aceleração devida à gravidade; hIv,
o calor latente de condensação do vapor; m, a taxa de
condensação; µf, a viscosidade dinâmica à Tf; e Kf, a
condutividade térmica à Tf.

Tabela 11.3 - Propriedades termofísicas da água saturada


Tempera- Pressão Volume Calor de Calor específico Viscosidade
tura específico vapo- (kJ/kg.k) (N.s/m2)
3
(m /kg) rização hfg
K bars Vf103 vg (kJ/kg) Cpf Cp.g µf.10-6 µg.10-6
273,15 0,00611 1,000 206,3 2502 4,217 1,854 1750 8,02
275 0,00697 1,000 181,7 2497 4,211 1,855 1652 8,09
280 0,00990 1,000 130,4 2485 4,198 1,858 1422 8,29
285 0,01387 1,000 99,4 2473 4,189 1,861 1225 8,49
290 0,01917 1,001 69,7 2461 4,184 1,864 1080 8,69
295 0,02617 1,002 51,94 2449 4,181 1,868 959 8,89
300 0,03531 1,003 39,13 2438 4,179 1,872 855 9,09
305 0,04712 1,005 27,90 2426 4,178 1,877 769 9,29
310 0,06221 1,007 22,93 2414 4,178 1,882 695 9,49
315 0,08132 1,009 17,82 2402 4,179 1,888 631 9,69
320 0,1053 1,011 13,98 2390 4,180 1,895 577 9,89
325 0,1351 1,013 11,06 2378 4,182 1,903 528 10,09
330 0,1719 1,016 8,82 2366 4,184 1,911 489 10,29
335 0,2167 1,018 7,09 2354 4,186 1,920 453 10,49
340 0,271 1,021 5,74 2342 4,188 1,930 420 10,69
345 0,3372 1,024 4,683 2329 4,191 1,941 389 10,89
350 0,4163 1,027 3,846 2317 4,195 1,954 365 11,09
Continua...
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 121

Tabela 11.3 - Cont.


Tempera- Pressão Volume Calor de Calor específico Viscosidade
tura específico vapo- (kJ/kg.k) (N.s/m2)
(m3/kg) rização hfg
K bars Vf103 vg (kJ/kg) Cpf Cp.g µf.10-6 µg.10-6
355 0,5100 1,030 3,180 2304 4,199 1,968 343 11,29
360 0,6209 1,034 2,645 2291 4,203 1,983 324 11,49
365 0,7514 1,038 2,212 2278 4,209 1,999 306 11,69
370 0,9040 1,041 1,861 2265 4,214 2,017 289 11,89
373,15 1,0133 1,044 1,679 2257 4,217 2,029 279 12,02
375 1,0815 1,045 1,574 2252 4,220 2,036 274 12,09
380 1,2869 1,049 1,337 2239 4,226 2,057 260 12,29
385 1,5233 1,053 1,142 2225 4,232 2,080 248 12,49
390 1,794 1,058 0,980 2212 4,239 2,104 237 12,69
400 2,455 1,067 0,731 2183 4,256 2,158 217 13,05
410 3,302 1,077 0,553 2153 4,278 2,221 200 13,42
420 4,370 1,088 0,425 2123 4,302 2,291 185 13,79
430 5,699 1,099 0,331 2091 4,331 2,369 173 14,14
440 7,333 1,110 0,261 2059 4,36 2,46 162 14,50
450 9,319 1,123 0,208 2024 4,40 2,56 152 14,85
460 11,71 1,137 0,167 1989 4,44 2,68 143 15,19
470 14,55 1,152 0,136 1951 4,48 2,79 136 15,54
480 17,90 1,167 0,111 1912 4,53 2,94 129 15,88
490 21,83 1,184 0,0922 1870 4,59 3,10 124 16,23
500 26,40 1,203 0,0766 1825 4,66 3,27 118 16,59
510 31,66 1,222 0,0631 1779 4,74 3,47 113 16,95
520 37,70 1,244 0,0525 1730 4,84 3,70 108 17,33
530 44,58 1,268 0,0445 1679 4,95 3,96 104 17,72
540 52,38 1,294 0,0375 1622 5,08 4,27 101 18,1
550 61,19 1,323 0,0317 1564 5,24 4,64 97 18,6
560 71,08 1,355 0,0269 1499 5,43 5,09 94 19,1
570 82,16 1,392 0,0228 1429 5,68 5,67 91 19,7
580 94,51 1,433 0,0193 1353 6,00 6,40 88 20,4
590 108,3 1,482 0,0163 1274 6,41 7,35 84 21,5
600 123,5 1,541 0,0137 1176 7,00 8,75 81 22,7
610 137,3 1,612 0,0115 1068 7,85 11,1 77 24,1
620 159,1 1,708 0,0094 941 9,35 15,4 72 25,9
625 169,1 1,778 0,0085 158 10,6 18,3 70 27,0
630 179,1 1,856 0,0075 781 12,6 22,1 67 28,0
635 190,9 1,935 0,0066 683 16,4 27,6 64 30,0
640 202,7 2,075 0,0057 560 26 42 59 32,0
645 215,2 2,351 0,0045 361 90 - 54 37,0
647,30 221,2 3,170 0,0032 0 ∞ ∞ 45 45,0
Continua...
122 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 11.3 - Cont.


Tempera Condutividade Número de Prandt Tensão Coeficiente
-tura térmica superficial de
(N/m) expansão
K Kf.103(W/m.k)
Kg.10-3 Prf Prg σf.10-3 βf.10-4
273,15 569 18,2 12,99 0,815 75,5 -68,05
275 574 18,3 12,22 0,819 75,3 -32,74
280 582 18,6 10,26 0,825 74,8 46,04
285 590 18,9 8,81 0,833 74,3 114,1
290 598 19,3 7,56 0,841 73,7 174,0
295 606 19,5 6,62 0,849 72,7 227,5
300 613 19,6 5,83 0,857 71,7 276,1
305 620 20,1 5,20 0,865 70,9 320,6
310 628 20,4 4,62 0,873 70,0 361,9
315 634 20,7 4,16 0,883 69,2 400,2
320 640 21,0 3,77 0,894 68,3 436,7
325 645 21,3 3,42 0,901 67,5 471,2
330 650 21,7 3,15 0,908 66,6 504,0
335 656 22,0 2,88 0,916 658 535,5
340 660 22,3 2,66 0,925 64,9 566,0
345 668 22,6 2,45 0,933 64,1 595,4
350 668 23,0 2,29 0,942 63,2 624,2
355 671 23,3 2,14 0,951 62,3 652,3
360 674 23,7 2,02 0,960 61,4 697,9
365 677 24,1 1,91 0,969 60,5 707,1
370 679 24,5 1,80 0,978 59,5 728,7
373,15 680 24,8 1,76 0,984 58,9 750,1
375 681 24,9 1,70 0,987 58,6 761
380 683 25,4 1,61 0,999 57,6 788
385 685 25,8 1,53 1,004 56,6 814
390 686 26,3 1,47 1,013 55,6 841
400 688 27,2 1,34 1,032 53,6 896
410 688 28,2 1,24 1,054 51,5 952
420 688 29,8 1,16 1,075 49,4 1010
430 685 30,4 1,09 1,10 47,2 -
440 682 31,7 1,04 1,12 45,1 -
450 678 33,1 0,99 1,14 42,9 -
460 673 34,6 0,95 1,17 40,7 -
470 667 36,3 0,92 1,20 38,5 -
Continua...
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 123

Tabela 11.3 - Cont.


Tempera Condutividade Número de Prandt Tensão Coeficiente
-tura térmica superficial de
(N/m) expansão
K Kf.103(W/m.k)
Kg.10-3 Prf Prg σf.10-3 βf.10-4
480 660 38,1 0,89 1,23 36,2 -
490 651 40,1 0,87 1,25 33,9 -
500 642 42,3 0,86 1,28 31,6 -
510 631 44,7 0,85 1,31 29,3 -
520 621 47,5 0,84 1,35 26,9 -
530 608 50,6 0,85 1,39 24,5 -
540 594 54,0 0,86 1,43 22,1 -
550 580 58,3 0,87 1,47 19,7 -
560 563 63,7 0,90 1,52 17,3 -
570 548 76,7 0,94 1,59 15,0 -
580 528 76,7 0,99 1,68 12,8 -
590 513 84,1 1,05 1,84 10,5 -
600 497 92,9 1,14 2,15 8,4 -
610 467 103 1,30 2,60 6,3 -
620 444 114 1,52 3,46 4,5 -
625 430 121 1,63 4,20 3,5 -
630 412 130 2,0 4,8 2,6 -
635 392 141 2,7 6,0 1,5 -
640 367 155 42 9,6 0,8 -
645 331 178 12 26 0,1 -
647,30 238 238 ∞ ∞ 0,0 -
Fonte: INCROPERA; DEWITT, 1981.

Aplicação
1) Uma placa vertical de 30 cm de largura por 1,2 m de altura é
mantida a 70 oC e em contato com vapor saturado de 1 atm.
Calcular o calor transferido e a massa total de vapor
condensado por hora.
Para essas condições:
Tg = 100 oC
T + Tg 70 + 100
Tf = p = = 85 o C
2 2
Assim, da Tabela 11.3, tem-se:
µf = 4,07 x 10-4 kg/(m . s) Kf = 0,664 W/(m . oC)
ρl = 958 kg/m3 ρv = 0,596 kg/m3
124 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

hIv = 2257 kJ/kg


1/4
 ρI (ρI − ρv) g . hIv . K f 3 
h = 0,943  
 L . µ f (Tg − Tp ) 
sendo L = 1,2 m e g = 9,81 m/s2
∴ h = 4 232 W/(m2 oC)
q = h.A. (Tg – Tp) = 4232 (0,3 x 1,2) = 45 709 W
q 4232
m= = = 0 ,0203 kg/s = 72,9 kg/h
hIv 2257000
Vários fatores podem afetar o processo de condensação,
como o nível de pressão de vapor, que geralmente é mais alto no
ambiente externo; as temperaturas nas superfícies interna e
externa do corpo em que ocorre a condensação; a resistência que
o corpo oferece à difusão do vapor d’água; e a própria resistência
térmica que influi nas temperaturas superficiais.
É importante introduzir alguns conceitos sobre a utilização
da carta psicrométrica, que relaciona as propriedades físicas e
térmicas de uma mistura de ar e vapor d’água.
As principais propriedades da mistura ar e vapor
relacionadas na carta são:
Temperatura de bulbo seco: temperatura da mistura ar e vapor
d’água ou simplesmente temperatura do ar, registrada pelo
termômetro comum.
Temperatura de bulbo úmido: temperatura da mistura,
registrada por um termômetro de bulbo úmido, ou seja, o bulbo é
envolvido por uma mecha úmida.
Umidade absoluta: massa de vapor d’água contida em dado
volume de ar.
Umidade relativa: relação entre a umidade absoluta do ar e a
umidade absoluta do ar saturado, para a mesma temperatura,
dada em porcentagem.
Volume específico: volume ocupado por uma unidade de
massa de ar seco.
Pressão de vapor: pressão parcial de vapor d’água no ar.
Entalpia: conteúdo total de calor da mistura.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 125

Na Figura 11.15 está representada uma carta psicrométrica.

Figura 11.15 - Carta psicrométrica (pressão barométrica = 760


mm Hg).
Fonte: adaptado de ROSENBERG et al., 1983.
126 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Aplicação
1) Para dada mistura de ar, a temperatura de bulbo seco é de
20 oC e a temperatura de bulbo úmido, de 15 oC. Determinar,
por meio de carta psicrométrica, os valores da umidade
relativa, a razão de mistura, o volume específico e a quantidade
de umidade por metro cúbico.
a) o ponto é locado na carta pela interseção das linhas de
temperatura de bulbo seco (tbs) e temperatura de bulbo
úmido (tbu);
b) a umidade relativa (UR) no ponto marcado é de 60%;
c) uma horizontal imaginária para a direita, a partir do ponto,
determina, no eixo das ordenadas, uma razão de mistura de
8,8 gramas (g) de vapor d’água por kg de ar seco;
d) o volume específico, também obtido por interpolação de
acordo com a localização do ponto entre as linhas de
valores constantes, é 0,842 m3 por kg de ar seco; e
e) a quantidade de umidade por m3 de ar é calculada
dividindo-se a razão de mistura pelo volume específico:
8 ,8
= 10,45 g de vapor d’água/m3 de ar
0 ,842

2) Se a temperatura do ar é 25 oC e a razão de mistura, de 10,8


g/kg, pela carta psicrométrica, para essa temperatura, a razão
de mistura de saturação é de 10 g/kg. Dessa forma, a umidade
relativa pode ser assim calculada:
10 ,8
UR = x 100 = 54%
20

Se a temperatura do ar abaixa para 20 oC e se é mantida a


mesma quantidade de vapor, então:
10 ,8
UR = x 100 = 73%
14 ,7
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 127

Se, há, ainda, diminuição da temperatura para 15 oC, a


razão de mistura se iguala à razão de mistura de saturação e,
assim:
10 ,8 x 100 = 100%
UR =
10 ,8

Isso indica que a mistura atingiu a temperatura do ponto


de orvalho (15 oC) ou a saturação; qualquer diminuição em
relação à saturação implica condensação.
Vários outros processos de condicionamento do ar em
instalações animais, como aquecimento, resfriamento,
umidificação, desumidificação e processos simultâneos, podem ser
analisados por meio da carta psicrométrica. Muito comum, para
climas caracterizados por alta temperatura e baixa umidade
relativa do ar, é o emprego do sistema de resfriamento adiabático
evaporativo, por meio do qual há queda da temperatura de bulbo
seco e aumento no conteúdo de umidade, enquanto a entalpia do
ar se mantém constante.
3) Para dada parcela de ar, a tbs é de 35 oC e a tbu, de 20 oC, e
um resfriador evaporativo umidifica o ar até 90% de UR.
Encontrar o novo valor da tbs e a quantidade de umidade
adicionada durante o processo:
a) marcar o ponto do estado inicial;
b) seguindo a linha de entalpia constante, determinada para o
estado inicial (no processo adiabático não há troca de calor),
umidificar até 90% de UR e definir o ponto para o estado
final;
c) do ponto final, baixar uma vertical até encontrar a nova tbs
igual a 21,3 oC (aproximadamente 14 oC mais frio que no
início);
d) razão da mistura inicial = 8,4 de vapor/kg de ar seco e razão
da mistura final = 14,3 g de vapor/kg de ar seco; e
e) a diferença entre a razão da mistura final e a razão da mistura
inicial é a quantidade de umidade adicionada durante o
processo: 14,3 – 8,4 = 5,9 g de vapor/kg de ar seco.
128 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Condensação – Prevenção
Givoni (1969) afirma que na alvenaria de tijolos maciços,
o melhor meio de prevenir a condensação é a qualidade dos
tijolos. Porém, proteção com lâminas plásticas pode ser uma
alternativa, embora não muito eficiente. Vãos livres entre paredes
e mesmo algumas cavidades devem ser recobertas com material
isolante. Revestimento à prova d’água, como parafina, pintura de
cimento ou silicone, também podem ser empregados. Material
com adequada resistência térmica ajuda a manter as temperaturas
das superfícies internas acima daquela do ponto de orvalho do ar
interior e, ainda, superfícies absorvedoras adaptadas aos painéis
podem reduzir muito a condensação. A ventilação direcionada
age para minimizar a elevação da pressão de vapor acima do nível
interno e permite evacuar o vapor do ambiente; este é
considerado o melhor procedimento.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 129

CAPÍTULO 12

O Clima
Clima é o conjunto de fenômenos meteorológicos que
define a atmosfera de determinado local.
Vianello e Alves (1991) definem o tempo meteorológico
como a soma total das condições atmosféricas de um local, em
determinado tempo cronológico, ou seja, o estado instantâneo da
atmosfera. O clima integra as condições de tempo para certo
período, em dada região.
O clima de uma região é determinado pelos modelos de
variação de elementos, como radiação solar, radiação de ondas
longas, temperatura e umidade do ar, ventos e precipitação e,
ainda, pelas combinações entre eles.
Podem ser mencionadas as seguintes referências sobre
clima:
• Thornthwaite define clima como a interação de fatores
meteorológicos que concorrem para dar, a uma região, caráter e
individualidade.
• Koeppen afirma que clima é o somatório das condições
atmosféricas que fazem um lugar da superfície terrestre ser mais
ou menos habitável.
• Hann diz que clima é o conjunto dos fenômenos meteorológicos
que caracteriza o estado médio da atmosfera em um ponto da
superfície terrestre.
130 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

• De Marchi conceitua clima como o complexo de condições


atmosféricas de uma região, que a tornam mais ou menos
favorável ao bem-estar dos homens e das plantas.
• Poncelet define clima como o conjunto habitual flutuante de
elementos físicos, químicos e biológicos que caracterizam a
atmosfera de um local e influenciam os seres que ali se encontram.
Com o objetivo de diferenciar zonas climáticas na Terra,
normalmente tomam-se como base os elementos e, ou, fatores
característicos locais. Para muitas aplicações, as condições extremas
e a frequência são mais importantes que as condições médias.
Elementos climáticos são grandezas meteorológicas
que variam no tempo e no espaço e comunicam, ao meio
atmosférico, suas características e propriedades peculiares, como
temperatura, umidade, chuva, vento, nebulosidade, pressão
atmosférica etc.
Os fatores climáticos influenciam os elementos climáticos,
modificando o clima de um local. Destacam-se os seguintes fatores
climáticos externos: flutuações na quantidade de energia solar
emitida; variações na órbita terrestre e no eixo de rotação;
aumento ou diminuição do dióxido de carbono atmosférico; e
modificações nas características da superfície dos continentes e
oceanos. Outros fatores podem ser considerados essencialmente
internos: a quase periodicidade e as anomalias na configuração
das temperaturas da superfície oceânica; o decréscimo na
salinidade do Atlântico Norte e do Oceano Ártico, conduzindo a
aumento na formação de gelo sobre mar; e a quase
intransitividade do sistema climático. Em escala regional ou local,
outros fatores podem ser acrescentados: altitude, relevo, presença
do mar, latitude, continentalidade, tipo de solo, vegetação etc.
(VIANELLO; ALVES, 1991).
Assim, pode-se definir clima como uma complexa
interação de todos esses elementos e fatores, permitindo distinguir
diferentes tipos: tropical, subtropical, temperado e outros. A
análise desses climas constitui grande desafio.
Ainda podem ser considerados dois conceitos correlatos:
macroclima que se refere às condições climáticas médias, em larga
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 131

escala, da atmosfera aberta em uma extensa área; e microclima,


que são condições climáticas médias, em pequena escala, da
vizinhança imediata do homem ou animal.
Desde tempos remotos, o homem tem especial interesse
por seu bem-estar e, assim, o conhecimento do clima, num
aspecto global, tornou-se de extrema importância. Isso se deve ao
fato de que, em função do tipo de clima, pode haver escassez de
alimentos e empobrecimento do solo, eliminando as perspectivas
de vida em determinado ambiente ou culminando no
desenvolvimento das chamas sub-raças.
A eficiência dos projetos de instalações para animais
depende do correto conhecimento das diversas variáveis
climáticas que podem interferir no macroambiente de uma região
e, consequentemente, no conforto térmico.

Conceitos Básicos
O Sol é o astro mais próximo da Terra. É uma massa
gasosa constituída de 75% de hidrogênio, 23% de hélio e 2% de
outros gases. Sua superfície é chamada fotosfera, cuja
temperatura é de, aproximadamente, 6.000 K; seu diâmetro perfaz
1.400.000 km (VIANELLO; ALVES, 1991).
A Terra é o terceiro planeta do sistema solar por ordem de
distância do Sol, aproximadamente 150 x 106 km.
Enquanto efetua seu movimento de translação em torno do
Sol, movimento que define um plano aproximadamente circular de
trajetória ou órbita chamado de eclítica, a Terra também gira em
torno de seu eixo, definindo o movimento de rotação, que é
responsável pela sucessão dos dias e das noites. O eixo polar da
Terra está inclinado num ângulo de 66o33’ com relação ao plano
da eclítica. Dessa forma, a Terra recebe de forma diferenciada, ao
longo de ciclos definidos, a energia radiante do Sol.
Esses movimentos caracterizam o número de horas de
luminosidade (dia), de escuridão (noite) e as estações do ano
observadas na Terra. A rotação consome cerca de 24 horas e
132 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

define um dia; a translação gasta cerca de 365 dias e define um


ano. Durante a trajetória da Terra em torno do Sol nos 365 dias
do ano, em função da intensidade da energia recebida, são
caracterizadas as quatro estações: primavera, verão, outono e
inverno.
O periélio é o ponto da trajetória eclítica em que a Terra
se encontra mais próxima do Sol e, por isso, recebe mais energia,
particularmente no hemisfério sul. Ocorre em dias próximos a 3 de
janeiro.
O afélio é o ponto da trajetória eclítica em que a Terra se
encontra mais distante do Sol e recebe menos energia. O
hemisfério norte recebe mais energia quando comparado ao do
sul no início do mês de julho, quando então ocorre o verão no
primeiro. Ocorre em dias próximos a 4 de julho.
Em 22 de dezembro, no hemisfério sul, o dia é mais longo
e a noite mais curta, o que é denominado de solstício de verão,
marcando o início dessa estação; em 21 de março, o dia e a noite
têm 12 horas, quando ocorre o equinócio de outono; em 21 de
junho, o dia é mais curto e a noite mais longa, caracterizando o
solstício inverno; e, finalmente, no dia 21 de setembro, inicia-se a
primavera, marcada pelo equinócio de primavera, quando o dia e
a noite também têm 12 horas.
Considerando a Terra como uma esfera e imaginando a
passagem de vários planos através dela, podem ser definidos os
círculos de latitude, perpendiculares ao eixo, e os círculos de
longitude, paralelos ao eixo. O Equador é o círculo central de
latitude e o Meridiano de Greenwich é o central ou principal de
longitude. Outros paralelos importantes são os trópicos, o de
Câncer ao norte e o de Capricórnio ao sul – círculos de latitude
sobre os quais os raios de Sol incidem perpendicularmente; e os
círculos polares, Ártico ao norte e Antártico ao sul – círculos de
latitude para os quais os raios solares tangenciam seus pontos.
A latitude de um ponto qualquer na superfície da Terra é
dada pela distância angular ao norte ou ao sul, entre o centro do
Equador e o ponto. As latitudes norte variam de 0o a 90o e as
latitudes sul, de 0o a -90o.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 133

A longitude de um ponto é o ângulo medido entre o


meridiano principal ou de Greenwich e o ponto.

Figura 12.1 - Representação da latitude (L ou φ) e de longitude


(LG).
Fonte: CREDER, 1988.

Com base no movimento do Sol em relação à Terra,


outros conceitos, fundamentados por Alves et al. (1987), Tereso e
Leal (1989) e Sellers (1974), são importantes.
Considerando uma superfície horizontal plana da Terra
onde se encontra um observador, define-se como elevação (e) ou
altura solar o ângulo formado entre a linha observador-astro e a
linha de projeção do astro no plano, que varia de 0o a 90o com as
horas do dia (por exemplo, no nascer e no pôr do sol, a elevação
é de 0o).
Considerando o mesmo plano onde está o observador, o
azimute (a) é o ângulo formado entre a linha observador-sul e a
linha de projeção do astro (Sol) no plano, que varia de 0o a 180o.
No mesmo plano, se a partir do observador for traçada
uma perpendicular até tocar a esfera celeste, serão definidos dois
pontos: o zênite ao norte e o nadir ao sul. O ângulo zenital (z) é
aquele formado entre a linha observador-zênite e a linha
observador-astro (Sol).
134 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 12.2 - Representação do ângulo de elevação (e) ou altura


solar.
Fonte: adaptado de VIANELLO; ALVES, 1991.

Figura 12.3 - Representação do azimute solar (a).


Fonte: adaptado de VIANELLO; ALVES, 1991.

Podem ser usadas as seguintes equações:


c

cos z sen φ − sen δ


os a = (12.1)
sen z cos φ

z + e = 90o (12.2)
sen e = cos z (12.3)
sen e = sen φ sen δ + cos φ cos δ cos h (12.4)
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 135

O ângulo horário (h) é medido no plano equatorial, entre a


projeção da linha centro da Terra – meridiano que contém o
observador – e a projeção da linha centro da Terra – centro do Sol
(contida em determinado meridiano); varia de 15o por hora,
sendo 0o ao meio-dia – nesta hora, o Sol incide sobre o meridiano
em que o observador está:
h = (hora – 12) x 15o (12.5)
cos h = tg δ . tg φ (12.6)

O ângulo horário total varrido pelo Sol durante o dia é de


2 h, uma vez que h corresponde à meia varredura da trajetória do
Sol acima do horizonte, do nascer do sol ao meio-dia. Dessa
forma, sabendo que 15o corresponde a uma hora, a partir do
ângulo horário, pode-se determinar o comprimento do dia em
horas, ou seja, o fotoperíodo (N):
2h
N= (12.7)
15
Declinação (δ) do astro é o ângulo formado entre a linha
que liga o centro da Terra ao centro do astro e o plano do
Equador, que varia de 0o a 23o27’, máxima no solstício de junho,
e de 0o a -23o37’, no solstício de dezembro. Pode ser calculada
pela equação de Cooper.
 360 
δ = 23,45 o . sen  (284 + n) (12.8)
 365 
sendo n o número do dia do ano.

Ainda é necessária uma noção correta de tempo. Alves et


al. (1987) afirmam que o tempo solar verdadeiro (TSV) é
determinado pelo movimento diurno do Sol. Logo, dia solar
verdadeiro é o intervalo entre duas culminações sucessivas do Sol
sobre o mesmo semimeridiano. A duração do dia solar verdadeiro
não é constante durante o ano.
Tempo solar médio (TSM) é o dia considerado de
duração média igual a 24 horas.
136 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

TSV = TSM + E (12.9)


em que E é a equação do tempo que permite corrigir a escala dos
minutos e segundos no tempo solar médio para que se converta
em tempo solar verdadeiro (Tabela 12.1)

Figura 12.4 - Representação gráfica do ângulo zenital (z).


Fonte: adaptado de VIANELLO; ALVES, 1991.

Figura 12.5 - Representação do ângulo de declinação (δ) do Sol.


Fonte: adaptado de VIANELLO; ALVES, 1991.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 137

Tabela 12.1 - Determinação da equação do tempo para algumas


datas
Equação do tempo
Data Minutos Segundos
21 de janeiro - 11 10
21 de fevereiro - 13 50
21 de março -7 32
21 de abril +1 06
21 de maio +3 34
21 de junho -1 25
21 de julho -6 15
21 de agosto -3 19
21 de setembro +6 35
21 de outubro + 15 10
21 de novembro + 14 18
21 de dezembro +2 19
Fonte: CURTIS, 1983; ALVES et al., 1987.

Tempo legal (TL) é o horário indicado nos relógios;


representa a hora média do meridiano central do fuso horário a
que pertence o local de observação:
TSM = TL + 4∆λ (12.10)
sendo ∆λ a diferença, em graus, entre a longitude do local de
observação e a longitude do meridiano central do fuso
horário; é positiva se o local se encontra a leste do
meridiano central do fuso horário e negativa se o local se
encontra a oeste do referido meridiano central; 4∆λ é
expresso em minutos.
138 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Aplicação
1) Utilizando a equação de Cooper (12.8), determinar a
declinação do Sol no dia 21 de fevereiro.

 360 
δ = 23,45 o sen  . (284 + n)
 365 
n = 31 (número de dias do mês de janeiro) + 21 (número
de dias contados no mês de fevereiro para a data pedida)

 360 
δ = 23,45 o sen  . (284 + 52)
 365 

δ = - 11,22631 = - 11o 23’ 03”

2) Determinar o ângulo horário para as 9 horas (TL).


h = (hora – 12) x 15o = (9 – 12) x 15o = (-3) x 15o = -45o

3) Determinar o ângulo zenital do Sol às 9 horas (TL) para Viçosa,


cuja latitude é 20o45’ sul (20,75) no dia 30 de janeiro.
h = (hora – 12) x 15o = (9 – 12) x 15o = –45o
n = 30

 360 
δ = 23,45 o sen  . (284 + 30) = − 18,4 o
 365 

cos z = sen φ sen δ + cos φ cos δ cos h


cos z = sen (–20,75) sen (–18,04) + cos (–20,75)
cos (–18,04) cos (–45)
cos z = 0,7384514 ⇒ z = 42,400o = 42o 24’
z + e = 90o ⇒ e = 47,6o = 47o 36’
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 139

O fotoperíodo para Viçosa, nesse mesmo dia, é:


cos h = tg δ . tg φ
cos h = -tg (–18,04) . tg (–20,75)
cos h = –0,1234 ∴ h = 97,088o = 97o 05’ 17”
2h 2 x 97,088
N = = = 12,95
15 15
N = 12 horas e 56 minutos.

4) Sabendo que a longitude de Viçosa é de 42o51” W, determinar,


para o dia 21 de dezembro, o ângulo horário do Sol quando os
relógios indicavam 9 horas.

Longitude do meridiano central do fuso horário = 45o


∆λ = 45o -42,85o = + 2,15o
4∆λ = 8,6 minutos

Viçosa está a leste do meridiano central, por isso é


positivo. Assim:
TSV = TL + 4∆λ + E

Pela Tabela 12.1, sabe-se que E = 2 minutos e 19


segundos para o dia 21 de dezembro. Logo:
TSV = 9 horas + 8,6 minutos + 2 minutos e 19 segundos
TSV = 9 horas e 11 minutos

Assim, o ângulo horário do Sol (h) pode ser determinado


para essas condições:
h = (TSV – 12) x 15o
h = (9 horas e 11 minutos –12) x 15o
h = –42,25o ∴ h = –42º 15’
140 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Radiação Solar, Temperatura e


Umidade do Ar
O Sol é a maior fonte de energia para a Terra; irradia
cerca de 56 x 1026 calorias por minuto. O parâmetro definido
como constante solar (S) é utilizado para definir a densidade de
fluxo da radiação solar (W/m2) incidente numa superfície normal
aos raios, situada à distância média Terra-Sol (149 x 106 km). A
constante solar vale 1.367 W/m2.
A radiação solar direta é energia eletromagnética de ondas
curtas, que atinge a Terra após ser parcialmente absorvida pela
atmosfera e exerce grande influência na distribuição anual das
temperaturas no Globo.
A radiação solar total recebida por uma superfície é a
soma da radiação direta com a difusa.
A latitude do ponto considerado e a orientação do plano
definido por esse ponto introduzem modificações significativas no
total da energia solar direta recebida. Na Figura 12.6, observa-se,
por exemplo, que na latitude φ = 0o, em todos os dias do ano, a
radiação incidente num plano horizontal é maior que a incidente
em qualquer plano vertical. Na latitude 30oS, um plano horizontal
recebe maior quantidade de radiação solar no verão, quando
comparado ao que ocorre na mesma estação no Equador (φ = 0o).
As outras linhas constantes nos gráficos permitem quantificar a
radiação solar incidente em planos verticais orientados para o norte
(N), sul (S) leste (E) oeste (O), nordeste (NE), noroeste (NO),
sudeste (SE) e sudoeste (SO), nas latitudes especificadas.
Moléculas do ar e poluentes espalham a radiação solar
direta em todas as direções, definindo a componente chamada
difusa, que constitui cerca de 6% da radiação solar que alcança o
topo da atmosfera terrestre. Cada parcela que compõe o meio
ambiente emite essa radiação.
Os raios solares sofrem processos de absorção, reflexão e
difusão, modificando a quantidade de radiação direta que incide
em determinado ponto da Terra.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 141

Figura 12.6 - Quantidades diárias de radiação solar direta, com


céu claro, incididas sobre vários planos, em
diferentes latitudes.
Fonte: RIVERO, 1986.
142 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Alves et al. (1987) comentam a respeito da importância do


estudo da radiação solar, uma vez que esta constitui uma fonte
alternativa de energia. Para profissionais ligados a construções,
esse estudo é relevante para o projeto de aquecimento por meio
de coletores solares ou, ainda, para considerações acerca da
incidência de raios solares sobre os planos horizontal, vertical e
inclinados que compõem uma habitação.
Quando abrigados ou não, animais e vegetais sofrem os
efeitos da radiação solar, cuja magnitude é determinada pelas
cargas radiantes provenientes das redondezas. Se expostos,
recebem cargas da radiação provenientes do Sol e da atmosfera,
do horizonte e do solo (nu ou coberto); se abrigados, as cargas de
radiação incidentes são as mesmas acrescidas das cargas das
sombras geradas dos próprios materiais utilizados na confecção do
abrigo e dos planos da construção. Porém, a carga térmica de
radiação é sempre menor no abrigo.
Há uma outra consideração extremamente importante
sobre a radiação solar. Quando os raios do Sol atingem o solo,
parte da radiação é transformada em calor, que, por meio de
processos radiativos, condutivos e convectivos, é transferido para
o ar ambiente, produzindo alterações em importante agente
térmico do ambiente: a temperatura do ar. Essa alteração
normalmente segue um ciclo característico, semelhante a uma
senoide, durante as horas do dia. Os valores máximo, médio e
mínimo da senoide variam de local para local, em função da
latitude. No Brasil, por exemplo, há um período do ano em que as
temperaturas médias do ar são altas e outro em que elas são
baixas, mas, em ambos os casos essas temperaturas do ar estão
dentro de limites confortáveis. Porém, no Canadá, as
temperaturas do ar estão sempre muito baixas, fora das faixas de
conforto.
A proximidade do mar, associada ao regime de ventos de
um local, e a magnitude de incidência da radiação solar definem
as condições de umidade relativa do ar, outro importante agente
térmico do ambiente.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 143

A umidade atmosférica é consequência da evaporação da


água e da transpiração das plantas. Dessa forma, está intimamente
ligada à presença de oceanos e à cobertura vegetal local.
De acordo com Sellers (1974), 61% da extensão do
hemisfério norte e 81% do hemisfério sul são coberturas
oceânicas; os continentes estão entre 40 e 70oN e entre 40 e 60oS,
e os maiores desertos do mundo, entre 10 e 30oN.
Zonas de desertos são importantes nesse aspecto, e,
aproximadamente, 2/5 da extensão da superfície terrestre são
deserto.
Desertos são regiões áridas que se caracterizam pela
radiação solar incidente de 700 a 800 kcal/(m2 h), ausência de
nuvens durante grande parte do ano e umidade relativa de
aproximadamente 20% à tarde e 40% à noite.
Hafez (1968) menciona que, num dia típico de verão no
deserto, a temperatura do ar atinge entre 40 e 45 oC e; à noite,
pode cair para 30 a 45 oC, ou seja, ocorre elevada amplitude
térmica. Nos trópicos úmidos, a diferença de temperatura entre o
dia e a noite é de uns poucos graus e, no continente Antártico,
prevalecem temperatura média muito abaixo de zero e fortes
ventos.
Normalmente ocorre transferência de umidade do
hemisfério sul para o norte e, em latitude média, a frequente
atividade ciclônica facilita a liberação de umidade. No hemisfério
sul ocorrem maiores taxas de evaporação e excessiva umidade do
ar.
A topografia de um local também afeta a temperatura do
ar por causa da variação no recebimento da radiação solar e dos
ventos. Da mesma forma, o tipo de cobertura do solo influi no
conteúdo de umidade e, consequentemente, na condutividade
térmica, fazendo variar, no decorrer do dia, a transferência de
calor do solo para o ar.
As variáveis que alteram os níveis de radiação solar
incidente, a temperatura e a umidade relativa do ar, agindo em
144 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

conjunto, exercem grande influência na caracterização do padrão


de habitabilidade de um ambiente.
Manter alto nível de produtividade biológica em regiões
caracterizadas por temperatura muito alta ou muito baixa é difícil,
por causa dos processos de produção e dissipação de calor
envolvidos, que, às vezes, são fatais.
A umidade relativa do ar exerce grande influência no bem-
estar e na produtividade do animal, principalmente se muito
baixa, causando diversas doenças no aparelho respiratório, ou se
muito alta, quando associada a altas temperaturas do ar,
dificultando a dissipação de calor corporal por processos
evaporativos.
Pode-se afirmar que os fatores climáticos que mais
influenciam a distribuição e a abundância de animais no Globo
são, primeiramente, aqueles que controlam a distribuição e o
crescimento das plantas e, depois, os que especificamente
influenciam os animais.

Trajetórias Aparentes do Sol


O movimento de rotação da Terra faz com que um ponto na
superfície terrestre seja iluminado periodicamente, caracterizando o
dia e a noite, e o de translação proporciona o aquecimento desigual
aos hemisférios ao longo do ano, caracterizando as diferentes
estações. Dessa forma, para um observador na Terra, o Sol descreve
trajetórias aparentes no céu, que são diferenciadas e apresentam suas
particularidades a cada dia.
Para a elaboração das cartas de trajetórias aparentes do
Sol e para melhor entendimento do processo, primeiramente o
observador é locado em determinado ponto da esfera terrestre
(por exemplo, no Equador). A seguir, para esse ponto deve ser
definido um plano horizontal que o tangencie e, então, marca-se o
zênite para esse observador. Depois, define-se o plano equatorial
em função do ângulo descrito com o plano horizontal do
observador, fundamentado na latitude local (Figura 12.7). A
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 145

trajetória aparente do sol será dada pelo semimeridiano visível,


formado desde o nascer até o pôr do sol, em determinado dia e
local. Para um observador no Equador, a representação da
trajetória aparente do Sol fica como a do esquema da Figura 12.8.
A carta de trajetórias aparentes do Sol é utilizada da forma
vista na Figura 12.9, ou seja, as curvas são projetadas no plano
horizontal do observador. As circunferências concêntricas
correspondem aos valores do ângulo zenital do Sol; as linhas
numeradas de 6 a 18 referem-se ao tempo solar verdadeiro (TSV),
e tais números indicam a hora solar verdadeira. As escalas de 0 a
180o, a leste e a oeste, referem-se ao azimute do Sol, contado em
relação ao sul. Todos esses parâmetros podem ser obtidos na
carta, sem a necessidade dos cálculos anteriores (SELLERS, 1974;
ALVES et al., 1987).

Figura 12.7 - Elaboração da carta de trajetórias aparentes do Sol.


Fonte: adaptado de ALVES et al. , 1987.
146 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 12.8 - Trajetórias aparentes do Sol para observador locado


no Equador.
Fonte: adaptado de ALVES et al., 1987.

Diagramas de trajetórias aparentes do Sol em diversas


latitudes do hemisfério norte são apresentadas por Sellers (1974) e
do hemisfério sul, por Alves et al. (1987).
Para projetos de construções, as cartas tornam-se de
grande valia, pois permitem estimar o número de horas de
incidência de radiação solar direta sobre superfícies verticais em
determinadas orientações. Por exemplo, considerando uma
parede vertical de orientação sudeste-nordeste na latitude de 45oS,
pelo diagrama da Figura 12.10 estima-se que nos dias 21 de
março e 23 de setembro, representados pela curva 4, a face da
parede voltada para o nordeste recebe 8,3 horas de radiação solar
direta, correspondente ao período das 6 às 14 horas e 18 minutos,
enquanto a face voltada para o sudoeste recebe apenas 3,7 horas,
das 14 horas e 18 minutos até o pôr do sol, ou seja, até as 18
horas (ALVES et al., 1987).
Com base em todas as considerações anteriores, conclui-se
que um plano recebe os raios do Sol com diferentes ângulos de
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 147

incidência, segundo a hora do dia e a época do ano. Dessa forma,


o projetista pode e deve atuar para melhorar o projeto com
verificações prévias sobre a orientação correta ou com adoção de
dispositivos de proteção, objetivando sempre o máximo conforto
dos ocupantes da habitação.

Figura 12.9 - Trajetórias aparentes do Sol para a latitude de


Viçosa-MG (20o 45’ S), sendo: 1-22 de dezembro;
2-18 de janeiro e 26 de novembro; 3-15 de
fevereiro e 28 de outubro; 4-21 de março e 23 de
setembro; 5-15 de janeiro e 29 de agosto; 6-15 de
maio e 30 de julho; e 7-21 de junho.
Fonte: ALVES et al., 1987.
148 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 12.10 - Trajetórias aparentes do Sol para a latitude de 45o S,


sendo: 1-22 de dezembro; 2-18 de janeiro e 26 de
novembro; 3-15 de fevereiro e 28 de outubro; 4-21
de março e 23 de setembro; 5-15 de abril e 29 de
agosto; 6-15 de maio e 30 de julho; e 7-21 de junho.
Fonte: ALVES et al., 1987.

Radiação em Superfícies Inclinadas


Numa superfície cujo ângulo de inclinação com relação à
horizontal é β , a quantidade de radiação solar direta interceptada
depende do ângulo de incidência (i), que é o ângulo entre a
normal à superfície e uma linha colinear com os raios do Sol,
como mostra a Figura 12.11. O ângulo de incidência é função da
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 149

declinação (δ) do Sol, da latitude local (φ), do ângulo horário (h),


do ângulo de inclinação (β) e do ângulo de direção (D).
O ângulo de direção ou azimute de superfície é formado
entre o sul e a projeção da normal à superfície sobre o plano
horizontal. É medido no sentido horário à tarde e no sentido anti-
horário pela manhã.

Figura 12.11 - Definição do ângulo de incidência (i) dos raios


solares em superfícies inclinadas.
Fonte: KREITH; KREIDER, 1987.

O ângulo de incidência pode ser calculado por meio da


seguinte equação:
cos i = cos h (cos φ cos δ cos β + sen β cos D cos δ sen φ)
+ sen h sen β sen D cos δ + sen φ sen δ cos β
- sen β cos D sen δ cos φ (12.11)

Aplicação
1) Uma habitação tem a cumeeira do telhado no sentido sudeste-
noroeste, num local cuja latitude (φ) é 15oS. O ângulo de
inclinação do telhado (β) com relação à horizontal é 30o.
Calcular o ângulo de incidência (i) dos raios solares sobre a
150 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

superfície do telhado voltado para sudoeste, às 9 horas da


manhã. Considerar a declinação (δ) igual a 20o e o azimute de
superfície (D), medindo no sentido anti-horário (manhã), igual
a 300o (Figura 12.12).
h = (9 – 12) x 15 = – 45o
β = 30o φ = 15o S = 15o
δ = 20o D = 300o
cos i = cos h (cos φ cos δ cos β + sen β cos D cos δ sen φ)
+ sen h sen β sen D cos δ + sen φ cos β
– sen β cos D sen δ cos φ

Figura 12.12 - Parâmetros envolvidos nos cálculos do ângulo de


incidência (i) dos raios solares sobre a superfície
do telhado de uma habitação.
Fonte: adaptado de ALVES et al., 1987.

cos i = 0,7071 [0,7860 – 0,0608] + 0,2877 – 0,0766 –


0,0826
cos i = 0,7071 [0,7252] + 0,1285
cos i = 0,6413 ∴ i = 50,1112o
i = 50o 06’ 40”.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 151

CAPÍTULO 13

Os Fechamentos Opacos
Uma habitação tem como finalidade principal a proteção
dos ocupantes contra o desconforto causado por intempéries,
como chuva, neve, granizo, neblina, vento, insolação, variações
de temperatura etc. A radiação solar incidente, os processos de
geração de calor e as trocas térmicas são fatores que afetam a
temperatura interna e, consequentemente, o conforto térmico.
As trocas de calor entre os ambientes externo e interno
ocorrem por meio dos componentes das edificações, isto é,
paredes, portas, janelas, teto e piso, constituídos por material
opaco e transparente.
São denominados opacos todos os materiais que não
deixam passar luz; normalmente são escuros, sombrios e turvos.
Na Figura 13.1, representa-se uma parede opaca exposta à
radiação solar, dividida em diferentes formas, e a um diferencial
de temperatura entre o ambiente interno e o externo.
O estudo do comportamento dos materiais opacos nas
solicitações térmicas do meio externo, principalmente diante da
radiação solar, é relevante, uma vez que, em diversidade muito
grande, é utilizado para fechamento das construções e, assim,
exposto à ação desse fator climático.
Uma fração da radiação solar incidente é refletida no
ambiente e é dependente do coeficiente de reflexão do material.
Uma outra fração é absorvida pelo material, resultando em energia
acumulada a ser dissipada tanto para o interior quanto para o
exterior, por meio de processos condutivos, convectivos e radiativos.
152 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 13.1 - Divisão da radiação solar incidente sobre uma


parede opaca.
Fonte: NÃÃS, 1989.

Um fechamento exposto aos raios solares, sofre aumento


de temperatura cuja grandeza depende do coeficiente de absorção
(α) do material usado e da quantidade de energia solar incidente.
A absortividade é definida como a fração da energia
incidente absorvida por uma superfície.
Um corpo negro, por exemplo, possui um coeficiente de
absorção igual a 1, o que significa que absorve 100% da energia
incidente ou que a transforma toda em calor. É importante ressaltar
que a absortividade é uma característica térmica da superfície do
material. Dessa forma, se o material recebe uma camada superficial
de tinta cuja cor apresenta coeficiente de absorção de 0,50, isso
implica que absorve 50% da energia incidente.
A absortividade é a propriedade térmica mais importante
no estudo da aplicação de material opaco em construções (Tabela
13.1).
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 153

Tabela 13.1 - Valores de coeficiente da absorção (α), diante da


radiação solar de superfícies opacas comuns
Material α
Alumínio anodizado 0,12 - 0,16
Alumínio com cobertura de sílica 0,11
Carbono preto em acrílico 0,94
Ouro 0,20 - 0,23
Ferro 0,44
Óxido de magnésio 0,14
Níquel 0,36 - 0,43
Pintura com tinta preta 0,98
Pintura em acrílico branco 0,26
Pintura com tinta branca (óxido de zinco) 0,12 - 0,18
Fonte: KREITH; KREIDER, 1978.

A alteração do coeficiente de absorção diante da radiação


por meio de pinturas é procedimento muito simples e econômico,
além de constituir eficiente forma de amenizar os efeitos negativos
da radiação sobre uma edificação, principalmente no verão. O
gráfico da Figura 13.2 evidencia este fato, onde tq1 corresponde à
temperatura equivalente de um fechamento cujo coeficiente de
absorção é 1 e tq2, à temperatura equivalente do mesmo
fechamento com α reduzido a 0,5.
Os valores do coeficiente de absorção de outros materiais
podem ser encontrados na Tabela 8.6.
Existem outras propriedades, como a resistência térmica e
a capacidade de amortecimento, que, diante da radiação solar,
fazem variar, de forma significativa, a temperatura superficial
interna de um fechamento. Rivero (1986) demonstra isso por
meio do seguinte exemplo:
154 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 13.2 - Temperaturas equivalentes de duas superfícies


receptoras com diferentes coeficientes de
absorção e expostas à radiação solar.
Fonte: RIVERO, 1986.

Fechamento 1 ⇒ laje de concreto de 10 cm de espessura,


revestida com uma camada de 3 cm de
argamassa, com pintura refletora de α = 0,3.
Fechamento 2 ⇒ laje de concreto de 10 cm de espessura +
camada de 13 mm de espessura de
poliestireno expandido + camada de 3 cm de
argamassa, com α = 0,7.
tg1 e tg2: temperaturas equivalentes (integram os efeitos dos elementos
do clima) das superfícies dos fechamentos 1 e 2;
ts1 e ts2: temperaturas superficiais internas dos fechamentos 1 e 2;
tqm e tsm: temperaturas equivalentes médias e temperaturas
superficiais médias; e
ti: temperatura do interior.

O comportamento do material desses fechamentos diante da


radiação solar está representado na Figura 13.3. Observa-se, nesse
gráfico, que, nos horários de temperatura externa alta, normalmente
entre 11 e 15 horas, o fechamento 2 permite que a temperatura
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 155

superficial máxima ocorra de forma mais suave e ao entardecer. Isso


se deve à maior capacidade de amortecimento e ao maior retardo
térmico, o que, em alguns casos, é recurso muito importante para se
adaptar o microclima interno aos ocupantes da habitação.

Figura 13.3 - Comportamento de dois fechamentos diante da


radiação solar.
Fonte: RIVERO, 1986.
156 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

O material opaco é usado em grande escala nas


construções do Brasil, onde há regiões climáticas diferenciadas
com períodos anuais caracterizados por alta temperatura de verão
e baixa temperatura de inverno, embora a amplitude térmica
estacional seja baixa. Dessa forma, é preciso que as soluções
adotadas nas construções sejam flexíveis para atender às
diferentes exigências de conforto. Amortecer as variações das
temperaturas externas geradas pela radiação solar no verão ou
aproveitar, ao máximo, a radiação no inverno é objetivo que pode
ser atingido de forma simples. Pintura nas superfícies da
construção para variar a absorção; combinação de material de
dimensões e propriedades adequadas; orientação acertada;
adoção de elementos arquitetônicos móveis, como venezianas e
lanternins; e utilização de vegetação apropriada são artifícios que
podem se empregados com facilidade.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 157

CAPÍTULO 14

Os Fechamentos Transparentes
É caracterizado como transparente todo material que se deixa
atravessar pela luz, permitindo a visão de objetos, ou seja, que
deixam distinguir objetos através de sua espessura. Nesta classe, tam-
bém se enquadram os translúcidos, isto é, os que deixam passar a luz
sem permitir a visão de objetos. Os tipos mais comuns são os vidros,
cujo registro de utilização data de 2.300 anos a.C., embora seu uso
específico em construções não tenha sido registrado até próximo do
tempo de Cristo. Atualmente, são usados de forma parcial ou integral
nas construções, para permitir a iluminação natural do espaço interior
e estabelecer uma conexão visual com o exterior. Possuem vantagens
como permitir a redução na quantidade de energia necessária para
iluminação, além de proporcionar aquecimento de interiores através
da penetração da radiação solar de ondas curtas e retenção de
radiação de ondas longas. Porém, podem constituir ponto negativo
na construção, uma vez, que, quando comparados com chapas de
cor clara de mesma dimensão, deixam passar até dez vezes mais
radiação solar, mais ruído e são de custo mais elevado.
A principal propriedade do vidro quanto ao comportamento
diante da radiação é a transmissividade (τ), que, como já definido
anteriormente, corresponde à fração da energia incidente que passa
através da superfície. Em material transparente, a soma da absor-
tividade (α), refletividade (ρ) e transmissividade (τ) deve ser igual a 1.
Um aspecto importante a ser considerado é o cuidado na
utilização desse tipo de fechamento nas edificações, visto que um
projeto exagerado pode aumentar muito o consumo de energia, por
158 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

causa de equipamentos condicionadores de ar que passam, então, a


ser de utilização obrigatória.
O vidro comum possui condutividade térmica próxima de
1,20 W/(moC) e normalmente é utilizado em construções, em forma
de chapas de reduzida espessura, com baixa resistência térmica e alta
transmitância, tornando-se material de uso duvidoso tanto no verão
quanto no inverno.
Quando um raio de sol incide sobre uma placa de vidro
comum, a maior parte da energia passa para o interior do local onde
está inserida, em razão da transparência do material. A energia
transmitida é absorvida e refletida pelos corpos do espaço interior. A
energia absorvida transforma-se em calor e causa a elevação da
temperatura do meio. Parte dessa energia absorvida é reemitida,
sendo constituída de ondas longas, de aproximadamente 9 µm, para
as quais o vidro comum é opaco. Assim, essa energia térmica
reemitida é, então, absorvida pelo vidro, aumentando a carga interna
de calor e caracterizando o chamado efeito estufa.
Considerando uma lâmina de vidro comum de 4 mm de
espessura, com incidência perpendicular de energia em forma de
ondas eletromagnéticas de 1,6 µm, pode-se verificar que 80% dessa
energia será transmitida, em razão da transparência do material, e
20% refletida ou absorvida. Para comprimento de onda maior ou
igual a 4 µm, o vidro comum passa a se comportar como um
material opaco.
Há tipos especiais de vidros, cuja composição química é
alterada com o objetivo de torná-los absorventes de radiação solar ─
são os atérmicos. Isso pode ser conseguido também por interposição
de películas especiais entre lâminas de vidro. Existem, ainda, os
chamados vidros refletores, em que delgadas películas de alumínio
(com alto coeficiente de reflexão) são interpostas entre duas camadas
de vidro comum, melhorando significativamente o material.
O tipo de vidro utilizado exerce grande influência nas perdas
e nos ganhos de energia. Há uma diferença acentuada entre os
vidros claros, os térmicos e os refletores quanto à quantidade de
energia solar transmitida (Figura 14.1). Geralmente, é recomendado
fazer combinações com os dois tipos. Por exemplo, para reduzir o
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 159

ganho de calor que normalmente ocorre no verão, pode-se utilizar


vidro refletor do lado de fora e vidro claro do lado de dentro da
janela em que há incidência de raios solares. Porém, essa
combinação não é a ideal para o inverno, quando somente vidros
claros fazem melhor efeito.

Figura 14.1 - Partição do calor solar através de diferentes tipos de


vidros. Valores indicados em Btu/hora.
Fonte: ANDERSON; RIORDAN, 1976b.
160 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

A Tabela 14.1 indica, para um raio solar normal à


superfície, o coeficiente de transmissividade (τ); o de absorção (α);
o de reflexão (ρ); a transmissão global (G) = τ + 0,4α, e a
temperatura superficial do vidro exposto ao Sol (ts em oC), em
função da temperatura do ar exterior (ta em oC).

Tabela 14.1 - Coeficientes referentes ao comportamento dos


vidros diante da exposição aos raios solares
Tipos de vidro τ α ρ G ts
Comum 0,85 0,07 0,08 0,88 ta+7
Absorvente claro 0,52 0,41 0,07 0,68 ta+23,3
Absorvente médio 0,31 0,63 0,06 0,56 ta+26,6
Absorvente escuro 0,09 0,86 0,05 0,43 ta+26,6
Refletor médio 0,25 0,42 0,33 0,42 ta+21,0
Refletor escuro 0,11 0,42 0,47 0,28 ta+22,8
Absorvente exterior/câmara de 0,32 0,62 0,06 0,57 -
ar/comum
Absorvedor de calor, 6 mm 0,54 0,40 0,06 0,70 -
Laminado em prata, 6 mm 0,14 0,45 0,41 0,32 -
Comum, 4 mm, claro 0,84 0,08 0,08 0,87 -
Comum, 6 mm, 0,80 0,14 0,08 0,86 -
Comum, variando ângulo de
incidência dos raios solares:
0º 0,87 0,05 - - -
20º 0,87 0,05 - - -
40º 0,86 0,06 - - -
50º 0,84 0,06 - - -
60º 0,79 0,06 - - -
70º 0,67 0,06 - - -
80º 0,42 0,06 - - -
90º 0 0 - - -
Fonte: REDER, 1988; RIVERO, 1986.

Pela Tabela, observa-se que, num dia em que a


temperatura do ar atinge 30 oC, a superfície de um vidro do tipo 3
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 161

pode atingir 56,6 oC, convertendo-se em verdadeiro painel


radiante, com alto grau de desconforto.
De acordo com Creder (1988), a energia resultante da
radiação solar direta que incide sobre vidros pode ser subdividida da
seguinte forma: absorção de calor e reflexão para o exterior, por
convecção, em função das temperaturas externa (to) e do vidro (tv);
absorção de calor supondo tv uniforme; absorção de calor e
transmissão para o interior, por convecção, em função das
temperaturas interna (ti) e do vidro (tv).
Todos esses processos são evidenciados na Figura 14.2, na
qual Iδ representa a componente normal ao vidro; i, o ângulo de
incidência; e hso e hsi, os coeficientes de filme ou de película do ar
exterior e interior, respectivamente.

to ─ temperatura externa; tv ─ temperatura do vidro; tr ─ temperatura do recinto;


Iδ ─ componente normal do vidro; i ─ ângulo de incidência; hso ─ coeficiente do
filme do ar exterior; e hsi ─ coeficiente do filme do ar interior.
Figura 14.2 - Transmissão de calor através de vidros.
Fonte: CREDER, 1988.
162 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Para velocidade do ar menor ou igual a 2 m/s, hso pode ser


tomado como 15 W/(m2.oC) e hsi, como 10 W/(m2.oC). O balanço
térmico demonstra que o calor que é absorvido pelo vidro é
transmitido por convecção para o exterior e para o interior, ou seja:

α . Iδ = (tv – to) . hso + (tv – ti) . hsi (14.1)

Anderson e Riordan (1976) consideram o vidro um “milagre”


que torna possível a construção de elaborados equipamentos de
aquecimento solar. Ressaltam que os plásticos constituem outra
classe de material transparente quase tão eficiente na absorção de
radiação térmica quanto os vidros, porém usados em menor escala
por serem de baixa durabilidade.

Aplicação
O raio de sol incidente faz um ângulo de 60o com uma
janela de vidro claro, de 4 mm de espessura. A intensidade da
radiação é de 600 W/m2, a temperatura do exterior é de 32 oC e a
do interior, de 22 oC. Calcular a temperatura do vidro.
α .Iδ = (tv – to) . hso + (tv – tr) . hsi
Iδ = I x cos I ⇒ Ιδ = 600 x cos 60 o ⇒ Ιδ = 300 W/m2 ∴
0,08 x 300 = (tv – 32) x 15 + (tv – 22) x 10
24 = 15 tv – 480 + 10 tv – 220
25 tv = 724
tv = 28,9oC

Caso não houvesse absorção, ou seja para α = 0, a


temperatura do vidro (tv) seria igual a 28 oC.
Neste caso, o calor introduzido seria:
(28 – 22) x 10 = 60 W/m2 (10% do incidente).
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 163

CAPÍTULO 15

Ventilação
O aquecimento do ar de um ambiente construído
normalmente ocorre por causa da incidência de raios solares. Um
dos meios de amenizar o desconforto causado aos habitantes desse
ambiente é provocar o deslocamento das massas de ar quente. Isso
significa renovar o ar por meio de formas adequadas de ventilação, o
que é de extrema importância, visto que até uma simples atividade
biológica provoca consumo de oxigênio e desprendimento de gás
carbônico, alterando a constituição do ar.
Além dos gases N2, O2, CO2 e do vapor de H2O, ainda fazem
parte da constituição do ar a poeira, os micro-organismos e os
odores. O CO2 não é um gás tóxico, mas sua presença indica
redução do oxigênio, o que é prejudicial à saúde. Dessa forma,
aconselha-se 0,1% como o máximo de anidrido carbônico para o ar
destinado à respiração; sendo que 10% já provoca asfixia e
aproximadamente 15% causa morte. Sendo o ar contaminado, a
ventilação é de grande importância, pois promove a diluição dos
contaminantes até limites higienicamente admissíveis.
Outro aspecto que reforça essa importância é o efeito
benéfico da ventilação na remoção do vapor d’água, proveniente da
transpiração dos ocupantes de uma habitação, dos processos de
cozimento de alimento, de lavagens, banhos etc., que causa todos os
inconvenientes mencionados quando do estudo da condensação.
Ainda há que se considerar que a ventilação exerce função
higiênica, uma vez que elimina odores locais nocivos à saúde. Nesse
caso, a ventilação mínima necessária em interiores deve estar dentro
164 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

das faixas indicadas na Tabela 15.1, que devem ser obedecidas


permanentemente.
Ademais, a ventilação, se aplicada de forma correta, permite
abaixar a temperatura de interiores em épocas quentes do ano,
quando o desconforto térmico é bem acentuado. Neste contexto,
edificações para animais com ocupações adicionais de máquinas e
equipamentos podem ter a temperatura interna bem superior à
externa, o que, em clima quente, agrava expressivamente o
desconforto ambiental. Isso significa que o sistema de ventilação deve
ser projetado para funcionar em determinadas ocasiões.
As características da ventilação de interiores devem ser
distintas para inverno e para verão, isto é, no inverno os dispositivos
adotados para essa finalidade, como as janelas, devem permitir que
pequeno fluxo de ar circule bem acima da altura média dos
ocupantes; constituindo assim a ventilação higiênica. Já no verão,
devem ser conjugados extensivamente os dois tipos de ventilação, a
higiênica e a térmica. O fluxo de ar para o inverno deve ocupar a
faixa A da construção, como evidenciado na Figura 15.1, e, para o
verão, as faixas A e B abundantemente.

Tabela 15.1 - Quantidade de ar necessária à ventilação em metros


cúbicos por indivíduo, por hora
m3/indivíduo por hora
Local
Preferível Mínima
Apartamento 35 25
Banco 25 17
Barbearia 25 17
Escritório 25 17
Quarto 25 17
Residência 35 25
Sala de aula 50 40
Sala de reuniões 35 25
Estábulo 25 15
Aplicações gerais:
por pessoa não fumante 13 8
por pessoa fumante 50 40
Fonte: COSTA, 1982; RIVERO, 1986.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 165

Figura 15.1 - Formas adequadas de ventilação pra o inverno e


para o verão.
Fonte: RIVERO, 1986.

No caso de instalações para animais, vários autores


recomendam a velocidade máxima de 0,2 m/s de movimentação
do ar próximo do animal, taxa muitas vezes insuficiente para
renovar o ar interno carregado de gases danosos à saúde. Porém,
taxas maiores podem até provocar doenças pulmonares.
Há duas formas de se obter maior movimentação do ar
dentro de uma construção: ventilação natural e artificial.

Ventilação Natural
O movimento normal do ar ocorre em razão das diferenças
de pressão causadas pela ação dinâmica do vento – ventilação
dinâmica, ou das diferenças de temperatura entre dois meios
considerados – ventilação térmica. Isso significa que as forças
naturais disponíveis para mover o ar fora, através e dentro das
166 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

construções são as forças do vento e as diferenças de temperatura.


Às vezes, os dois fatores podem agir em conjunto.

Ventilação Natural Dinâmica


Costa (1982) afirma que diferenças de pressão da ordem
de 0,05 mmH2O são suficientes para causar correntes de ar
apreciáveis, desde que haja caminho para elas. Porém, a
movimentação do ar (vento) é um fenômeno bastante variável no
tempo, o que influi sobremaneira nas decisões acerca da
ventilação natural por ação de ventos.
Exemplificando, considere uma placa de faces AB e CD
(Figura 15.2). Quando há incidência de correntes de ar, podem
ser formadas, nas proximidades da placa, áreas distintas de
pressão positiva e negativa.

Figura 15.2 - Pressões positivas e negativas em uma placa,


devidas ao vento incidente.
Fonte: RIVERO, 1986.

A pressão positiva, maior que a pressão atmosférica


normal, caracteriza o impelimento ou o arremesso da massa de ar
contra a placa, e a negativa, a atração da massa de ar, o que
significa que, se existirem aberturas na placa, a pressão positiva
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 167

forçará a massa de ar a entrar por elas, e a negativa, a sair. Dessa


forma, pode-se dizer que a ventilação natural provocada por ação
do vento é intensificada por meio de aberturas dispostas
convenientemente, ou seja, portas e janelas locadas em paredes
opostas e na direção do vento dominante.
A taxa em que a ventilação natural ocorre depende da
velocidade do vento e de sua direção, da proximidade e das
dimensões de obstáculos, como montanhas ou construções, do
desenho e da localização das aberturas de entrada e saída do ar. Se
a abertura estiver na parte central da placa, o ar que a atravessar
manterá a mesma direção do fluxo incidente. Se a abertura estiver
próxima das extremidades da placa, o filete de ar será desviado e
com velocidade maior. Ressalta-se que a ventilação no interior de
um volume só é eficiente se as aberturas forem locadas opostas, de
modo a obter um fluxo cruzado (Figura 15.3).

Figura 15.3 - Deslocamento da massa de ar através de abertura


nos planos de pressão positiva e negativa e
ventilação cruzada.
Fonte: RIVERO, 1986.

Considerando o volume construído, a pressão estática em


volta das construções varia também com a sua geometria, além de
168 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

depender da direção dos ventos dominantes. Em geral, numa


construção retangular, a pressão é positiva no lado barlavento e,
nos lados restantes, pode ser negativa, dependendo do ângulo do
vento, como pode ser observado na Figura 15.4. Sobre telhados
planos ou com baixas inclinações, a pressão é geralmente
negativa, mas, para telhados com altas inclinações, pode ser
positiva a barlavento e negativa a sota-vento (Figura 15.5).
Sempre há alguma pressão negativa ao longo ou adjacente à
cumeeira do telhado de uma construção longa.

Figura 15.4 - Áreas de pressão nos lados de uma construção


retangular.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 169

Figura 15.5 - Áreas de pressão negativa no telhado de uma


construção retangular.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983.
170 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Nããs (1989) mostra o esquema de pressões externas nas


faces de um cubo, com vento normal em uma de suas faces
(Figura 15.6).

Figura 15.6 - Pressões externas nas faces de um cubo,


considerando vento normal em uma das faces.
Fonte: NÃÃS, 1989.

Ventilação Natural Térmica


Nesta ventilação, as diferenças de temperatura produzem
variações de densidade do ar no interior do ambiente, as quais
provocam diferenças de pressão e resultam no efeito de tiragem
ou termossifão.
Hellickson et al. (1983) denominam-no “efeito chaminé”
e afirmam que, considerando uma coberta ou galpão para animal,
naturalmente ventilado, ele existe independentemente da
velocidade do ar externo.
Se uma edificação dispuser de aberturas próximo do piso e
do teto e se o ar do interior estiver a uma temperatura mais
elevada que o ar do exterior, o ar mais quente, menos denso,
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 171

tenderá a escapar pelas aberturas superiores. Ao mesmo tempo, o


ar do exterior, mais frio, e por isso mais denso, penetra pelas
aberturas inferiores, causando fluxo constante no interior do
volume. Nesse processo, a localização adequada das aberturas de
entrada e saída de ar, bem como o emprego de dimensões
corretas, têm importância fundamental na definição da taxa
requerida para ventilação.
Vários outros fatores podem fazer variar a taxa mínima
requerida para a ventilação natural térmica em instalações para
animais, como produção e perda de calor pela construção,
umidade relativa em seu interior, produção e perda de calor e de
umidade pelos animais etc.
Pode ocorrer ação conjunta do efeito chaminé e dos
ventos em uma construção. Assim, usando a relação entre o fluxo
produzido pelas forças térmicas e o produzido pelas forças do
vento, o fluxo combinado pode ser determinado por meio da
Figura 15.7.

Figura 15.7 - Determinação do fluxo causado pela combinação


das forças do vento e das forças térmicas.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983.
172 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Cálculos Referentes à Ventilação


Natural
Durante a renovação do ar, ocorrem trocas de calor entre
os ambientes envolvidos no processo, devido ao gradiente de
temperatura entre eles. A carga térmica transferida pela ventilação
pode ser calculada por meio da seguinte equação:
q = Car . N . V . ∆T (15.1)
em que q é a carga térmica da ventilação, W; Car, o calor
específico do ar, 0,26 W/(m3 . oC); N, o número de renovações
por hora; V, a velocidade do ar, m/s; e ∆T, a diferença de
temperatura entre o interior e o exterior da construção, oC.

De acordo com Hellickson et al. (1983), considerando as


forças do vento, a taxa de ventilação no interior de uma
construção pode ser determinada por:
Qv = E . A . V (15.2)
em que Qv é o fluxo de ar causado pelas forças do vento, m3/s; E,
a efetividade da abertura (0,50 a 0,60 para ventos perpendiculares
e 0,25 a 0,35 para ventos diagonais; 0,35 para construções
agrícolas); A, a área livre da entrada de ar, m2; e V, a velocidade
do ar (pode ser média para a localidade em questão).

Considerando as forças térmicas, a taxa de ventilação


pode ser determinada por:
Qch = 0,128 A . h (Ti – To) (15.3)
em que Qch é o fluxo de ar causado pelo efeito chaminé, m3/s; A,
a área da menor abertura, m2; h, a altura medida a partir da
metade da altura da entrada até metade da altura da saída do ar,
m; Ti, a temperatura média do ar interno na altura h, oC; e To, a
temperatura do ar externo à sombra, oC.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 173

Hellickson et al. (1983) afirmam que a diferença de


pressão pode ser convertida em diferença de temperatura, sendo a
velocidade do ar na abertura de saída igual a:
 (T − To ) 1/ 2
v = θ  2 g.H i (15.4)

 Ti 
em que v é a velocidade do ar na descarga, m/s; θ, o fator de
redução; g, a aceleração da gravidade, m2/s; H, a diferença de
altura entre entrada e saída, m; Ti, a temperatura interna, K; e To,
a temperatura externa, K.

O fator de redução (θ) leva em conta as perdas devidas à


fricção do ar contra a superfície interna, algum resfriamento deste
durante o seu trajeto, bem como a sua contração que ocorre na
entrada. Normalmente considera-se θ = 0,6 a 0,7).
Quanto à taxa de ventilação de uma cobertura para
animal, o valor do fluxo de ar é geralmente conhecido (Tabela
15.2), sendo necessário determinar a área requerida para as
aberturas.

Tabela 15.2 - Taxas de ventilação padronizadas para instalações


animais
Espécies Unidade Taxa de Ventilação - m3/s
Mínima Média Máxima
(inverno) (out.-prim.) (verão)
Aves
Pintinhos 0,04/ave 0,11/kg 0,21/kg
Poedeiras ave 0,24 0,94 1,9
Suínos
Porca e leitões porca e leitão 9,4 38 240
Crescimento
5 - 14 kg cabeça 0,94 4,7 12
14 - 0 34 kg cabeça 1,4 7,1 16
Continua...
174 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 15.2 - Cont.


Espécies Unidade Taxa de Ventilação - m3/s
Mínima Média Máxima
(inverno) (out.-prim.) (verão)
34 - 68 kg cabeça 3,3 11 35
68 - 100 kg cabeça 4,7 16 57
Leitão, porca 150 kg cabeça 5,7 19 71
Varrão, 180 kg cabeça 6,6 24 140
Bovinos de leite
Vacas em instalações 450 kg 12 47 140-240
fechadas (free stall)
Bezerros em instal. 45 kg 4,7 12 24
fechadas
Bovinos de corte
Confinamento 450 kg 7,1 47 94
Fonte: HINKLE et al., 1983.

Logo, da equação 15.4 chega-se a:

Q2 (Ti − To )
  = θ . 2 .g .H
2
(15.5)
 A Ti
Considerando iguais as áreas de entrada e saída, a
equação 15.5 pode ser convertida em:
1/ 2
Q  Ti 
A=  .   (15.6)
 θ   2.g.H (Ti − To) 
Se a área de entrada for diferente da de saída, deverá ser
feito um ajuste no fluxo, com auxílio da Figura 15.8.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 175

Figura 15.8 - Aumento no fluxo causado pelo excesso da área de


uma abertura com relação à outra.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983.

Considerações a Respeito das


Aberturas de Ventilação
As dimensões e a localização das aberturas, bem como a
correta orientação das construções, são fatores importantes a
serem observados no controle da corrente de ar. Por exemplo, é
essencial frisar que a abertura de entrada de ar deve, sempre que
possível, facear diretamente a direção predominante do vento.
Nããs (1989), considerando o corte transversal de um
galpão, com temperatura do ar interior mais elevada que a do ar
exterior, faz importantes considerações sobre a função das
aberturas na definição das características da ventilação (Figura
15.9). Neste caso, por exemplo, uma abertura periférica,
localizada na parte superior da instalação, ou seja, acima do plano
neutro, causará estado de depressão, subpressão ou rarefação em
seu interior. Uma abertura entre o plano neutro e a base do
176 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

galpão causará um estado de sobrepressão ou de compressão no


interior do galpão. Porém, se for localizada uma abertura na parte
superior e outra na inferior do galpão, haverá depressão na região
inferior e sobrepressão na região superior, fazendo com que o ar
penetre no galpão pela abertura inferior e saia pela superior. E,
nesse caso, observa-se a existência de um nível de pressão nula,
ou seja, um nível neutro, localizado na transição da subpressão
para a sobrepressão. Na Figura 15.9 pode-se observar a
representação gráfica da pressão no interior do galpão, sendo a
pressão no plano neutro a mesma do exterior.

Figura 15.9 - Diagrama de pressão estática evidenciando pressão


negativa na parte inferior, pressão positiva na parte
superior e pressão igual à exterior no plano neutro
em um galpão com abertura superior.
Fonte: adaptado de CURTIS, 1983.

Como visto anteriormente, é fundamental que haja


diferença de nível entre as aberturas de entrada e de saída do ar e
que elas estejam localizadas em paredes opostas, para que a
ventilação seja eficiente. Obstáculos no interior da construção ou
qualquer saliência na fachada alteram a direção do filete de ar. A
Figura 15.10 representa a direção da corrente de ar em função da
localização das aberturas em espaços vazios.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 177

Figura 15.10 - Trajetórias da corrente de ar no interior de espaços


vazios com aberturas em planos opostos.
Fonte: NÃÃS, 1989; RIVERO, 1986.

A abertura de saída de ar na cobertura, mais


especificamente na cumeeira do telhado, é denominada lanternim
e tem como objetivo possibilitar a saída do ar quente que
normalmente se encontra com pressão positiva nesta parte da
edificação. Estas aberturas, com várias conformações, são muito
utilizadas em construções rurais, como currais, pocilgas, galpões
de avicultura e galpões de máquinas (Figura 15.11).
178 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 15.11 - Tipos de abertura na cumeeira do telhado de


construções ventiladas naturalmente.
Fonte: CURTIS, 1983.

De forma geral, o lanternim de cumeeira aberta com


cobertura é o mais indicado para as condições climáticas
brasileiras.
Especial atenção deve ser dada ao dimensionamento do
lanternim. Resultados experimentais, de trabalhos conduzidos no
Laboratório de Construções Rurais e Ambiência do Departamento
de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa, em
galpões avícolas comumente construídos no Brasil, com cobertura
de telha de cerâmica e de cimento-amianto, têm mostrado que o
fluxo de ar através do lanternim é diretamente proporcional à sua
área de abertura, à diferença de altura entre as aberturas de
entrada e de saída de ar, à área das aberturas de entrada de ar e à
diferença entre as temperaturas internas e externas. As principais
variáveis do processo são a área de abertura do lanternim e a
diferença entre temperaturas interna e externa, uma vez que os
galpões avícolas são bastante porosos. A vazão de ar através do
lanternim pode ser estimada por:
Qc = [(Ti/Te).g.As.(1,45x10-5.Ae.H + 8,78x10-5.C2.L)]1/2 e
Qa = [(Ti/Te).g.As.(17,51x10-5.Ae.H + 8,67x10-5.C2.L)]1/2
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 179

em que Qc é a vazão de ar em galpões com cobertura de telhas


cerâmicas, m3/s; Qa, a vazão de ar em galpões com cobertura de
telhas de cimento-amianto, m3/s; Ti , a temperatura interna, °C;
Te, a temperatura externa, °C; g, a aceleração da gravidade, m/s2;
As, a área de saída de ar, m2; Ae, a área de entrada de ar, m2; H,
a distância entre o centro da abertura de entrada e de saída do ar,
m; C, o comprimento do galpão, m; e L, a largura do galpão, m.

A Figura 15.2 representa um caso da vazão de ar através


do lanternim de um protótipo de galpão avícola com cobertura de
fibrocimento.

Figura 15.12 - Vazão de ar (m3/s) através do lanternim de um


protótipo de galpão avícola com cobertura de
fibrocimento, sendo C=1,60m, L=4,80m, H=
1,70m, Ti/Te = 1,1°C e g = 9,81 m/s2.
Fonte: elaborada pelo autor.

Como se pode observar na Figura 15.12, a área da


abertura de entrada de ar desempenha papel secundário na
180 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

ventilação, uma vez que, na maioria dos casos, os galpões são


muito porosos, ou seja, possuem muitos orifícios, que também
permitem a entrada de ar. Já a área da abertura de saída tem
função preponderante e, como se pode verificar, tende a
possibilitar um fluxo máximo e constante de ar quando a área da
abertura de saída iguala ou supera a 10% da área do piso.
Com base no exposto, a largura do lanternim deve ser
igual a 10% da largura da construção, ou a sua área corresponder
a 10% da área do piso. Essas soluções devem ser bem flexíveis, de
modo a serem ajustadas para o inverno e para o verão. Sugere-se
que a construção possua aberturas reguláveis (portas e janelas),
igualmente divididas nas laterais e com dimensões equivalentes à
da área de abertura da cumeeira, devendo ser projetada para
atender aos requerimentos mínimos de inverno. Se a cobertura for
forrada, é necessário distribuir, de forma adequada, algumas
aberturas no forro.
Outro modo eficiente de reduzir a carga térmica em épocas
quentes é a ventilação do ático, colchão de ar que se forma entre
a cobertura e o forro (Figura 15.13). Essa técnica consiste em
direcionar o fluxo para o lanternim, por meio de aberturas feitas
ao longo do beiral da construção.

Figura 15.13 - Ventilação do ático.


Fonte: COSTA, 1982.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 181

Aplicação

Uma instalação para suínos tem 30 m de comprimento,


12 m de largura, 3 m de pé-direito e telhado com inclinação de
40%, sem forro. É uma estrutura naturalmente ventilada por uma
abertura de 0,80 m ao longo do comprimento, com nível médio a
0,40 m do piso, e outra de 0,08 m de largura ao longo da
cumeeira do telhado. Determinar a taxa de ventilação (fluxo de ar)
da estrutura, sendo a temperatura interna de 20 oC, a externa de
-5 oC e a velocidade do ar de 5 m/s.

a) Determinação do fluxo de ar causado pelas forças do vento por


meio da equação 15.2:
Q=E.A.V
sendo:
A = área de entrada de ar = (2) x (30) x (0,8) = 4,8 m2
E = efetividade de abertura (= 0,35 m para construções
agrícolas)
Q = (0,35) x (4,8) x (5) = 8,4 m3/s

b) Determinar o fluxo de ar causado pelas forças térmicas por


meio da equação 15.4:

sendo:
θ = 0,63 (valor considerado) g = 9,81 m/s2

 12 
H = (3,0 - 0,40) +  x 40% = 2,60 + 2,40 = 5 m
2 
Ti = 20 oC + 273 = 293 K To = –5 oC + 273 = 268 K

(293 − 268) 1/2


v = 0,63 [2 x 9,81 x 5 ] = 1,82 m/s
293
Q = A . V = 4,8 x 1,82 = 8,8 m3/s
182 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

c) Determinar o fluxo total e porcentagem correspondente ao fluxo


térmico.
Qtotal = 8,4 + 8,8 = 1,72 m3/s
8 ,8
Fluxo térmico = Q ch = x 100 = 51,2%
17,2

d) Na Figura 15.7, pode-se observar que o fluxo efetivo é 1,27 vez


o fluxo produzido por forças térmicas:
Fluxo Efetivo = Qef = 1,27 x 8,8 = 11,2 m3/s

De acordo com Tereso e Leal (1989), o calor removido no


processo descrito pode ser determinado por:
Cr = 0,288 x Qef x (Ti – To)
Cr = 0,288 x 11,2 x 3600 x [20 – (– 5)] = 290.304 kcal/h

Ventilação Artificial
A ventilação artificial (mecânica) é produzida por
dispositivos especiais que requerem energia, especialmente a
elétrica, para o seu funcionamento como exaustores ou
ventiladores. É adotada sempre que os meios naturais não
proporcionam adequada renovação do ar ou, ainda, por
segurança, quando a circulação natural é precária.
A ventilação artificial possibilita o tratamento do ar (filtragem,
secagem, umidificação) e a sua melhor distribuição no ambiente.
A principal vantagem do sistema mecânico de ventilação é o
controle da taxa de ventilação com ventilador de adequada capa-
cidade, com entradas de ar bem localizadas, nas dimensões corretas.
A ventilação artificial pode ser local exaustora ou geral
diluidora. No primeiro caso, o ar contaminado é capturado antes
de se espalhar pelo recinto e, no segundo, o ar da ventilação é
misturado com o ar viciado do ambiente até limites admissíveis de
diluição do contaminante.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 183

O sistema de pressão positiva, que é ventilação geral


diluidora, em que os ventiladores forçam o ar externo para dentro
da construção, é muito utilizado em residências e para animais e
casas de vegetação. Nesse sistema, os principais componentes são
os ventiladores de insuflamento, com motor de acionamento,
dutos e bocas de insuflamento; bocas de saída e descarga do ar.
A ventilação local exaustora é mais especializada; envolve
diversos equipamentos e, por isso, é utilizada somente em
ambientes altamente poluídos, como os industriais.
Além dos dutos, que melhoram a distribuição do ar, num
sistema de ventilação mecânica podem ainda ser instalados filtros,
que melhoram a qualidade do ar. Porém, oneram o sistema; por isso,
na maioria das vezes, são adotados somente os ventiladores. Os
dutos podem ser de madeira, alvenaria, chapas de aço inoxidável ou
galvanizado, alumínio, lona ou mesmo de plásticos especiais.
Depois de impulsionado pelo ventilador através de um
sistema de dutos, o ar deve ser distribuído no ambiente por
difusores de teto ou grelhas, que podem ser usados para o
insuflamento do jato de ar no recinto, em várias direções e
velocidades. Esses difusores são selecionados em catálogos dos
fabricantes, em função das condições específicas do projeto de
ventilação. A Figura 15.14 apresenta difusores e grelhas, de uso
mais comum, em sistemas de ventilação mecânica.
Ainda pode fazer parte do sistema de ventilação o
exaustor, que capta o ar contaminado no local de origem e o
lança para o exterior. O sistema de exaustão causa a
movimentação do ar porque cria um vácuo parcial, isto é, gera
pressões negativas no interior das instalações.
Os cálculos referentes às instalações de ventilação
mecânica consistem no dimensionamento de seus componentes e
na definição da potência do motor do ventilador, o que é feito
com base na velocidade do ar recomendada para cada caso.
184 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 15.14 - Tipos comuns de grelhas e difusores de teto,


utilizados em sistema de ventilação mecânica.
Fonte: CREDER, 1988.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 185

Basicamente, pode ser usada a equação a seguir:


Q
Ω= (15.7)
V
em que Ω é a seção a ser adotada para o componente
considerado, em m2; Q, a vazão, em m3/s; e V, a velocidade
recomendada, em m/s.

Ventiladores
O ventilador é uma bomba de ar para vencer as pressões
de resistência impostas pelos dutos e demais equipamentos do
sistema de ventilação. É usado par criar diferença de pressão entre
o exterior e o interior, incrementando a movimentação do ar.
A energia mecânica do ventilador é fornecida pelo motor
elétrico. Esse motor deve ser dimensionado para imprimir a
rotação e a potência necessárias para o alcance da vazão de ar
que vencerá as pressões de resistência do conjunto.
Existem no mercado diversos tipos de ventiladores, que
variam na capacidade de agir contra pressões específicas.
De modo geral, a capacidade do ventilador é proporcional
à sua rotação; a pressão, ao quadrado de sua rotação; e a sua
potência, ao cubo de sua rotação.
Pode-se observar que os ventiladores são componentes
essenciais do sistema de ventilação mecânica e, por isso, além de
passarem por criteriosa seleção, devem ser corretamente utilizados.
Aqueles instalados em construções para animais são sujeitos a vários
tipos de danos, como corrosão e exposição à poeira. Devem, pois,
ser fabricados especialmente para esse fim, com proteções especiais.
Os ventiladores devem estar bem localizados na construção
para que a eficiência do sistema seja maior, isto é, devem estar a
sota-vento da construção, na borda oposta à proteção de onde sopra
o vento, para evitar interferência do ar externo. Se por algum fator,
estrutural ou de outra ordem, não for possível locá-los bem, devem
ser providenciados ventiladores com adequada capacidade para
vencer as pressões que aparecem a barlavento.
186 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Em um ventilador devem ser consideradas as seguintes


características:
Vazão (Q): volume de ar que passa pelo ventilador, em metros
cúbicos por minuto ou em pés cúbicos por minuto (cfm);
Velocidade de saída: razão entre a vazão de ar e a área da saída.
Pressão devida à velocidade de saída [Pv(S)]: pressão
correspondente à velocidade do ar na saída (pressão dinâmica).
Pressão total (Pt): diferença entre a pressão total do ar na saída
do ventilador e a pressão total do ar na entrada. A pressão total do
ventilador é a medida da energia mecânica total, adicionada ao
ar pelo ventilador.
Pressão estática (Pe): diferença entre a pressão total e a pressão
devida à velocidade. Pode ser calculada subtraindo-se a pressão
total na entrada do ventilador da pressão estática na saída do
ventilador.
Pe = Pt(S) – Pt(E) – Pv(S) (15.8)
Pe = Pe(S) – Pt(E) (15.9)
Para se especificar um ventilador, são necessários os
seguintes parâmetros:
Q: vazão de ar, em m3/s;
Pe: pressão estática no ponto de operação, em mm c.a.
(milímetros de coluna de água);
Pd: pressão dinâmica no ponto de operação, em mm c.a;
N: potência consumida, em CV; e
n: rotação do ventilador, em rpm.

Esses, dados podem ser obtidos das curvas de


desempenho de ventiladores, como apresentado na Figura 15.15.
A pressão dinâmica (Pd), em kg/m2, pode ser calculada por:

8 . Q2 . γ
Pd = (15.10)
g . D4 . π 2
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 187

em que Q é a vazão, em m3/s; γ, o peso específico do ar ao nível


do mar, 1,23 kg/m3; D, o diâmetro do ventilador, em m; e g, a
aceleração da gravidade, m/s2.

O rendimento (η) do ventilador pode ser obtido de:


Q 2 x Pt
η= (15.11)
75 x N

Figura 15.15 - Exemplo de curva de desempenho de ventiladores.


Fonte: CREDER, 1988.

Pode ser necessário, em alguns casos, usar vários


ventiladores ao mesmo tempo. Para que haja máxima eficiência
do sistema e para que os ventiladores não tenham rendimento
reduzido, cada um deve ser operado a uma pressão estática
adequada. Em pequenas instalações, o motor e o ventilador
podem ser montados no mesmo eixo, enquanto nas de maior
porte há a necessidade de fazer ligações por meio de correias.
Todos esses fatores fazem variar os valores da pressão e,
consequentemente, os de rendimentos do sistema como um todo.
Os tipos comuns de ventiladores são o centrífugo e o axial
(tipo hélice). Os ventiladores centrífugos (Figura 15.16) são
compostos de carcaça, rotor de réguas curvas, mancais, eixos e
entradas e saída de ar, enquanto os axiais são constituídos
188 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

basicamente de hélices e, em alguns casos, de carcaças (Figura


15.17). Os centrífugos são utilizados em sistemas cuja pressão de
resistência varia de 12 a 76 mm c.a. e os axiais, até 6,4 mm c.a.

Figura 15.16 - Ventiladores centrífugos com esquema anexo do


rotor (réguas curvadas para frente, curvadas para
trás e tipo radial).
Fonte: HELLICKSON et al., 1983; PRATT et al., 1983; CREDER, 1988.

Figura 15.17 - Ventilador axial com esquema anexo da


configuração das hélices.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983; PRATT et al., 1983; CREDER, 1988.

A diferença entre os dois tipos de ventiladores citados é


que, nos axiais, o fluxo de ar ocorre paralelo ao eixo em que as
hélices são montadas. Nos centrífugos, há corrente de ar em uma
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 189

entrada central, que é forçada por ação centrífuga e se move


lateralmente pelos dutos.
Para selecionar um ventilador que atenda às especificações
de projeto, normalmente são utilizadas tabelas dos fabricantes,
elaboradas geralmente para o padrão 1,2 kg/m3 a 21,1 oC e ao nível
do mar. A Tabela 15.3, sobre desempenho de ventiladores simples,
serve para exemplificar esse processo de seleção. Devem-se selecio-
nar alguns ventiladores cujas características se aproximem daquelas
desejadas. Posteriormente, por meio dos rendimentos calculados,
deve ser escolhido o ventilador ideal para o caso em questão, por
exemplo, atendendo aos requerimentos constantes na Tabela 15.2.

Tabela 15.3 - Desempenho típico de ventiladores contra pressões


estáticas da ordem de uma polegada
Velocidade Diâmetro Potência do Capacidade
(rpm) (polegadas) motor (hp) do ventilador (cfm)
1.725 14 1/6 1.400
1.140 18 1/6 1.956
1.725 18 1/6 1.900
1.725 18 1/3 3.330
1.140 24 ¼ 4.280
1.725 24 1/3 5.100
794 30 1/3 5.820
906 30 ½ 6.880
613 36 1/3 7.550
695 36 1/2 9.000
538 42 1/2 10.580
Fonte: CURTIS, 1983.

Em instalações zootécnicas, o fluxo de ar deve ser manejado


para fornecer adequada velocidade do ar ao nível do corpo do
animal. Para que haja correta distribuição, a experiência indica que a
velocidade do ar que entra deve estar entre 2 e 10 m/s. Os
ventiladores mais simples operam somente em uma velocidade, mas
alguns têm mais faixas, sendo os mais indicados, principalmente para
locais em que a temperatura externa varia muito durante o dia.
190 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Nas instalações zootécnicas com armazenamento de


dejetos abaixo do piso, recomenda-se a ventilação do espaço
entre o líquido e o piso para controle de odor (Figura 15.18).
O controle do sistema de ventilação pode ser feito por
termostatos, que captam a temperatura do ar em determinado
ponto da área e ativam os ventiladores; umidostatos, que fazem o
controle pela umidade do ambiente; cronômetros, que permitem a
marcação do tempo de ação do sistema; e por meio da conexão
paralela termostato/cronômetro.

Figura 15.18 - Sistema de ventilação para instalações animais com


armazenamento de dejetos debaixo do piso.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983.

Esses equipamentos sensores devem ser locados no centro


da área ventilada, longe de qualquer objeto que afete o seu
desempenho.
Outras formas de controle do sistema de ventilação são os
registradores e as válvulas, que controlam o fluxo do ar, e os tubos
perfurados, que controlam a sua distribuição (Figura 15.19).
Pratt et al. (1983), Wilson et al. (1983) e Hellickson et al.
(1983) recomendam cuidados especiais com vazamentos no
sistema, que afetam significativamente a distribuição do ar no
ambiente e reduzem a sua eficiência.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 191

Figura 15.19 - Utilização de tubos perfurados na distribuição do ar


de ventilação.
Fonte: HELLICKSON et al., 1983.

Aplicação
Determinada instalação animal necessita de uma taxa de
ventilação (Q) de 9,44 m3/s ou 20.000 cfm, e a velocidade de
entrada do ar (V) deve ser de 4,57 m/s ou 900 ft/m. Selecionar
ventiladores e determinar a área de entrada do ar para que os
requisitos de ventilação sejam atendidos.
Em função da taxa de ventilação e pela Tabela 15.3, tem-se:
a) Um ventilador de diâmetro de 24 polegadas, operando a 1.725
rpm, produz uma taxa de ventilação de 5.100 cfm. Logo, serão
necessários quatro desses para a taxa de ventilação requerida:
4 x 5.100 cfm = 20.400 cfm
b) Determinação da área de entrada do ar (A):
Q 9 ,44
A= = = 2,066 m 2
V 4 ,57
192 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 16

A Edificação e o Ambiente
A interação entre a edificação e o ambiente é muito
complexa, uma vez que não se trata de um ponto ou um plano,
mas, sim, de um volume sob a ação das diversas variáveis
ambientais.
Há uma enorme quantidade de variáveis que afetam as
condições térmicas de uma edificação; são características de cada
região, resultando em estruturas termicamente diferentes, com
formas variadas. Indicadores como temperatura do ar, umidade
relativa do ar e regime de ventos, além da ocorrência frequente de
cada um destes, devem ser do conhecimento do projetista para
que possa definir a perfeita interação entre a edificação projetada
e o ambiente. Os mais importantes passos a serem dados para
alcançar esse objetivo são a correta orientação da construção e a
definição de forma adequada para cada caso especificamente.
A solução arquitetônica certa contribui para que menor
número de planos da habitação fique sujeito à radiação solar
excessiva, aos ventos e à poeira em suspensão; esta última é
muito comum no clima seco.
Rivero (1986) ainda comenta que a inércia térmica global
do edifício ou dos materiais que o compõem figura como variável
de extrema influência no comportamento térmico do espaço,
como no amortecimento das variações bruscas de temperatura
que ocorrem externamente. Conhecendo bem esta característica,
o projetista planeja uma estrutura de forma que o calor que
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 193

atravessa as divisórias da edificação só atinja o seu interior à noite,


quando a temperatura do ar externo cai.
Outro fator importante é o bom isolamento térmico da
edificação, o que auxilia na redução de condensações. Solução
adicional é o cuidado com o espaço externo próximo da
edificação, o que pode ser feito com passarelas cobertas e
proteção vegetal. A vegetação é uma importante alternativa para a
redução da carga de radiação do verão, além de funcionar como
barreira de vento e de reter parte da poeira.
Para que um projeto seja eficiente, durante a fase que
antecede sua elaboração, devem ser analisadas as funções que
serão desempenhadas no espaço interior e exterior, com criteriosa
consideração das exigências térmicas; os levantamentos do local,
evidenciando qualquer obstáculo que venha a interferir na
radiação solar ou modificar o regime de ventos; os principais
dados do clima (temperatura, umidade relativa, radiação solar
etc.); e as possibilidades de aproveitamento dos meios naturais
para o condicionamento do espaço construído.
194 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 17

Modificações Ambientais
Com base no fato de que as várias características do
ambiente podem favorecer ou prejudicar o desempenho do animal,
facilitando ou inibindo os processos produtivos e reprodutivos,
atualmente o manejo do ambiente tem sido amplamente estudado.
Esse manejo engloba as várias estratégias usadas para
remediar os problemas da relação animal-ambiente, isto é,
processos artificiais para atenuar a ação de elementos danosos aos
animais, presentes no ambiente natural. Apesar da adequabilidade
de alguns ambientes naturais, algumas modificações sempre são
necessárias.
Há duas classes de modificações ambientais: as primárias
e as secundárias. As primárias são aquelas de simples execução
e que permitem proteger o animal durante período de clima
extremamente quente ou extremamente frio, ajudando-o a
aumentar ou reduzir sua perda de calor corporal. Podem ser
citadas como principais as coberturas para sombra, os quebra-
ventos e a ventilação natural. As modificações secundárias
correspondem ao manejo do microambiente interno das
instalações do sistema de confinamento parcial ou total.
Geralmente envolvem alto nível de sofisticação e compreendem
processos artificiais de ventilação, aquecimento e refrigeração,
isoladas ou conjugados. Há aspectos positivos nesses tipos de
modificação, como economia de espaço físico, disponibilidade de
mão de obra e regulamentação da proteção ambiental; porém,
figura como aspecto negativo o grande consumo de energia, às
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 195

vezes durante todo o ano. A importância relativa dos vários fatores


envolvidos na modificação ambiental varia de acordo com o clima
local, o tipo de animal a ser acomodado, a densidade da
população e a estação do ano.

Modificações Ambientais Primárias


Sombreamento
Animais ao ar livre têm na radiação solar o principal
responsável pelo acréscimo do calor corporal interno. Durante o
dia, quase todo o calor absorvido provém da radiação solar direta
ou indireta, constituindo um dos principais causadores de estresse
nos animais. Estruturas para sombreamento visam atenuar esse
efeito da radiação sobre eles, porém seu grau de importância varia
com o microclima e a sua eficiência, em função do projeto.
Estando ou não o animal sob uma cobertura, há fluxos de
energia entre o animal e o ambiente (Figura 17.1). As principais
superfícies radiantes que interagem com o animal sombreado são
a cobertura, o solo aquecido, a área sombreada, o céu, o
horizonte, as nuvens e a presença de outros animais.
Não há melhor sombra do que a de uma árvore, pois a
vegetação transforma a energia solar, pela fotossíntese, em energia
química latente, tem a superfície resfriada por evapotranspiração,
reduzindo a troca de calor entre ela e o animal, e ainda reduz a
incidência de insolação durante o dia, ao mesmo tempo que, pelo
metabolismo, o animal libera calor durante a noite.
Em razão da altura e conformação, a sombra de uma
árvore é sempre maior que a área vertical projetada. Na sombra, a
temperatura do solo é mais baixa por causa de maior exposição
ao céu frio, o que não seria possível com um abrigo de cobertura
delgada.
Na impossibilidade de utilizar sombreamento natural, a
proteção contra insolação direta pode ser conseguida por meio de
cobertura artificial. O sombreamento pode reduzir cerca de 30%
196 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

ou mais na carga térmica da radiação solar (CTR), quando


comparada à carga recebida pelo animal ao ar livre.

Figura 17.1 - Fluxos de energia entre o animal e o ambiente, sem


sombreamento (a) e com sombreamento (b).
Fonte: CURTIS, 1983.

Roman-Ponce et al. (1977) afirmam que, das modificações


ambientais, as estruturas para sombreamento são as mais comuns,
principalmente para bovinos. Esses autores conduziram
experimentos com vacas em lactação na Flórida, durante os
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 197

verões de 1974 e 1975, com o objetivo de verificar a eficiência do


sombreamento no desempenho produtivo. As vacas foram
divididas em dois grupos, submetidos a tratamento com sombra
(S) e sem sombra (NS) e tiveram idênticos tipos de manejo como
alimentação e ordenha. Foram medidas temperaturas de bulbo
seco, de bulbo úmido e de globo negro e a velocidade do vento
na altura média do corpo dos animais de ambas as áreas
experimentais. As respostas fisiológicas medidas foram: produção
e composição do leite, peso corporal, respiração, temperatura retal
e frequência de mastite.
Verificou-se que, durante as horas mais quentes do dia, as
vacas com acesso à sombra permaneciam sob o abrigo que tinha
alimento e água á disposição; à tarde e à noite, ficavam em um
piquete adjacente. As vacas sem acesso à sombra, usualmente,
ficavam deitadas durante as horas mais quentes do dia, preferindo
pastar no fim da tarde e à noite.
Observou-se que as vacas que tiveram acesso à sombra
apresentaram produção média diária de leite 10,7% superior à
daquelas que não tiveram a mesma oportunidade. A Tabela 17.1
apresenta os resultados da produção média diária de leite, em
kg/dia, para cada tratamento, em cada ano de experimento.
Foi verificado também que as vacas submetidas ao
tratamento com sombra apresentaram menor temperatura retal,
aumento das taxas de concepção e redução relativa da frequência
respiratória, conforme se pode observar na Figura 17.2.

Tabela 17.1 - Quadrados mínimos médios da produção diária de


leite, em kg/dia, referentes aos tratamentos com
sombra (S) e sem sombra (NS)
Com sombra Sem sombra Aumento na produção (%)
1974 15,3 13,8 10,9
1975 17,0 15,4 10,4
Geral 16,6* 15,0 10,7
P > 0,1 *P < 0,1
Fonte: ROMAN-PONCE et al., 1977.
198 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Figura 17.2 - Curvas ajustadas aos dados de frequência


respiratória das vacas expostas aos tratamentos
com sombra (S) e sem sombra (NS).
Fonte: ROMAN-PONCE et al., 1977.

Importante resultado observado no experimento foi a


diferença significativa entre as temperaturas de globo negro, isto é
8,3 oC maior para o tratamento NS com relação ao S, em razão
da maior carga de radiação.
Baccari (1983) também cita experimentos semelhantes
realizados por Ingraham et al. (1979) e Collier et al. (1982),
testando o efeito do sombreamento na produção de leite. Os
resultados evidenciam os benefícios do sombreamento; contudo,
para a sua efetividade, as decisões acerca dessa modificação
ambiental devem ser tomadas com muito critério.
Quando a opção for pela utilização do sombreamento,
deve-se considerar que a natureza da cobertura, principal fator de
ação nas trocas de radiação entre o ambiente e o animal, influi
muito no ganho de calor pelo animal.
A redução da carga térmica de radiação e dos efeitos
danosos desta sobre o animal depende do material da cobertura;
essa redução pode ser conseguida por meio de material de alto
poder reflectivo, com grande inércia térmica e com propriedades
isolantes.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 199

Efeitos indesejáveis da radiação solar podem ser


traduzidos na temperatura da cobertura, uma vez que,
dependendo da sua natureza, ocorrem diferenças na absorção,
transmissão e reflexão da energia solar. Assim, um bom material
de cobertura apresenta temperaturas superficiais amenas, devendo
ter alta refletividade solar conjugada à alta emissividade térmica
na parte superior da superfície e alta absortividade conjugada à
baixa emissividade térmica na parte inferior.
O sapé é um dos melhores materiais para sombreamento
artificial, pelo seu poder de isolamento e pelas boas características
de superfície para perda de calor, principalmente por convecção,
porém apresenta desvantagens como baixa durabilidade e alta
suscetibilidade ao ataque de pragas e ao fogo.
A chapa de ferro galvanizado, quando nova, é
praticamente tão efetiva na redução da carga térmica de radiação
quanto a chapa de alumínio, porém, com o uso, sofre processos
corrosivos e perde em efetividade. Devem ser evitados os
materiais transparentes nos quais a incidência de insolação é
notadamente intensa, a não ser em casos específicos.
Kravchenco e Gonçalves (1980) conduziram experimento
para verificar a eficiência de materiais de cobertura para
instalações animais, em Goiânia, onde o clima é úmido e com
moderada deficiência hídrica no inverno. Utilizaram cinco abrigos
cobertos com diferentes tipos de materiais: 1) fibrocimento
vermelho; 2) fibrocimento cinza; 3) alumínio ondulado; 4) telha de
barro tipo francesa; e 5) capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa). As
condições mais favoráveis foram observadas nos ambientes
cobertos com capim, telha francesa e alumínio, respectivamente.
As telhas de fibrocimento vermelho e cinza foram as menos
eficientes.
Nããs (1981), utilizando protótipos, conduziu experimento
com o objetivo de verificar a eficiência de três tipos diferentes de
material de cobertura. Concluiu que a cobertura de alumínio
apresentou maior refletividade; a de cimento-amianto, de 6 mm
de espessura, alta absortividade, conservando o calor de radiação
nas áreas de sombra; e a telha de barro, tipo calha, de 15 mm de
200 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

espessura, portou-se como isolante térmico para as temperaturas


máximas, além de dissipar lentamente o calor. O autor
recomendou a utilização de qualquer um dos três materiais
testados, desde que conjugada a corretas observações referentes
ao pé-direito e à orientação, necessárias ao bom controle dos
efeitos da radiação.
Considerando o verão de Viçosa, MG, para dia típico de
céu descoberto, com média de 12,3 horas de brilho solar, Rosa
(1984) conduziu experimento com o objetivo de testar a influência
de três materiais de cobertura sobre o índice de conforto térmico.
Concluiu, então, que a maior eficiência na redução da carga
térmica de radiação e as melhores condições de conforto térmico
foram obtidas sob a cobertura de barro, depois sob a de alumínio
e, por último, sob a de cimento-amianto.
Na Tabela 17.2 são apresentados dados de eficiência de
alguns materiais de cobertura, quanto à redução da carga térmica
de radiação.
Sabe-se que significativas causas de desconforto térmico
são o fluxo de calor através do material de cobertura e as
temperaturas elevadas, resultantes na face inferior das telhas.
Assim, após a escolha adequada do material de cobertura, pode-
se ainda utilizar o forro como uma segunda barreira física,
objetivando minimizar a penetração do calor. O forro permite a
formação de uma camada de ar entre ele e a cobertura, o que
contribui sobremaneira para a redução da transferência de calor
para o interior da construção.
Pesquisas conduzidas pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), em São Paulo, em 1978, evidenciaram que a
simples utilização de uma chapa de fibra de madeira prensada, de
6 mm de espessura, como forro de uma cobertura de
fibrocimento de 6 mm de espessura, reduziu de 112 para 42
kcal/m2h o fluxo de calor para o ambiente interno, ou seja, houve
uma redução de 62% na penetração do calor.
Pesquisadores da Eternit realizaram em 1981, em São
Paulo, alguns testes com materiais de forro em cobertura de casas.
Concluíram que o forro de chapa tipo Duratex, no momento de
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 201

máxima insolação, contribuiu para reduzir a temperatura do ar


ambiente em 2 oC quando utilizado sob cobertura com telha de
barro.

Tabela 17.2 - Eficiência relativa de alguns materiais de cobertura


na redução da carga térmica de radiação
Material Eficiência
Capim (15 cm) 1,20
Cerâmica 1,00
Alumínio
- branco na face superior, preto na inferior 1,10
- novo (padrão) 1,00
- com 10 anos de uso 0,97
Aço galvanizado
- branco na face superior, preto na inferior 1,07
- novo 0,99
- com 1 ano de uso 0,99
Madeira
- sem pintar 1,06
- preta na face inferior 1,04
- preta nas faces superior e inferior 0,97
- compensada (0,6 cm, sem pintar) 1,03
- ripada (1 camada) 0,59
- ripada (camada dupla) 0,82
Fonte: CURTIS, 1983.

Campos (1986) conduziu experimento na Universidade


Federal de Viçosa, Viçosa, MG, no verão de 1986, para verificar o
efeito da combinação de dois tipos diferentes de material de
cobertura (cimento-amianto ondulado e telhas de barro tipo
francesas) com forro de esteira de bambu. O bambu foi escolhido
por ser um material de boa durabilidade, de fácil obtenção e
utilização e de baixo custo, sendo bastante usado nas construções
rurais. Foram construídos quatro galpões de 8 m de comprimento
202 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

por 4 m de largura, sendo dois com forro e dois sem forro. No


interior deles, foram medidas temperatura do ar e temperatura de
globo negro, de 1 em 1 hora, das 7 às 17 horas, diariamente. A
partir desses dados, foram calculados o Índice de Temperatura e
Umidade (ITU), o Índice de Temperatura de Globo e Umidade
(ITGU) e a Carga Térmica de Radiação (CTR). Os resultados
mostraram que o uso do forro contribuiu, de forma significativa,
para reduzir o ITGU e a CTR no interior do galpão coberto com
cimento-amianto e que os ambientes mais confortáveis foram
observados no galpão coberto com telha de barro, com e sem
forro, e no coberto com telha de cimento-amianto forrado.
Conforme se pode verificar na Tabela 17.2, uma
alternativa para melhorar o desempenho da cobertura, além da
escolha do material e da utilização do forro, é a pintura. Vários
pesquisadores já estudaram o efeito da pintura sobre o material de
cobertura para a redução do desconforto térmico. Concluíram que
a combinação que proporciona melhor resultado, para climas
caracterizados por altas temperaturas, é a cor branca na face
superior e a preta na face inferior do material de cobertura.
A pintura é um artifício simples, porém, pelo caráter
temporário de sua ação, é empregada em conjunto com o forro. O
gráfico da Figura 17.3 evidencia esse fato. Conclusões adicionais
podem ser formuladas também a partir dos dados apresentados
na Tabela 17.2.

Orientação da Cobertura
A orientação da cobertura é uma decisão muito
dependente do clima local, sendo mais importante em
alojamentos abertos para garantir ou não a insolação interna.
Como os fatores ambientais não são estáticos, para
diminuir a insolação no interior da construção a cobertura deve
ser projetada de acordo com as condições ambientais locais,
considerando-se a época do ano e a hora do dia em que a
irradiância solar global é mais alta, quando as temperaturas do ar
são elevadas e os animais necessitam de maior proteção.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 203

Figura 17.3 - Efeito da utilização do forro em coberturas de barro


e de fibrocimento na definição da temperatura
efetiva.
Fonte: ETERNIT, 1971.

Em nosso hemisfério, as coberturas são normalmente


orientadas no sentido leste-oeste, para que, no verão, haja menos
incidência de radiação solar no interior das instalações; a face
norte permite ótima insolação no inverno. Geralmente, as
coberturas dos cochos para volumosos também são orientadas no
sentido leste-oeste e a parte mais baixa é projetada ao norte para
evitar o ressecamento da forragem.
Nos bezerreiros, as baias individuais devem ser locadas de
modo que recebam o sol da manhã, devido ao efeito benéfico dos
raios solares na saúde dos animais, pelo seu poder germicida e
mesmo na secagem das superfícies internas. Assim, normalmente
204 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

os bezerreiros são projetados com todas as baias individuais do


lado leste, as coletivas do lado oeste e a cobertura orientada no
sentido norte-sul.
As cartas de trajetórias aparentes do Sol são de grande
valia na decisão acerca da orientação de uma construção, uma
vez que permitem identificar as faces que recebem mais radiação,
em função da latitude do local, da elevação, do azimute solar, da
data e do horário.
Em construções para disposições de dejetos, a orientação
da cobertura também assume papel importante, uma vez que a luz
solar direta sobre as fezes resulta em proliferação de
microrganismos e propagação de mau cheiro.

Altura da Cobertura
A localização do Sol no céu determina onde é projetada a
sombra da cobertura. Os animais se acomodam à sombra e não
necessariamente debaixo da cobertura. Kelly et al. (1950)
apresentam uma aproximação gráfica para a estimativa da
localização da sombra de uma cobertura, quando a elevação e o
azimute solares são conhecidos (Figura 17.4).
O gráfico foi construído para uma cobertura de 0,30m (1
pé) de altura, para a qual são determinadas as distâncias norte-sul
e leste-oeste de localização da sombra, contadas a partir das
bordas da cobertura, ou seja, os fatores “K” do gráfico.
Multiplicando os valores encontrados para o fator K pela altura
real da cobertura, têm-se, então, as distâncias das linhas que
definem o contorno da sombra.
Dependendo da posição de incidência dos raios solares, o
tamanho da sombra em projeção sob uma cobertura horizontal
fina e baixa é exatamente o mesmo da cobertura. Os autores
verificaram também que, apesar de o seu tamanho não variar, a
sombra se move numa taxa exatamente proporcional à altura da
cobertura, em razão do movimento relativo ao Sol. Para as
coberturas inclinadas de uma água, a sombra projetada varia em
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 205

relação ao seu tamanho; o deslocamento também se dá em


função da altura da cobertura e do movimento do Sol.

Figura 17.4 - Gráfico para cálculo da localização da sombra de


uma cobertura em função da elevação e do azimute
solares.
Fonte: CURTIS, 1983.
206 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Deve ser considerado, ainda, que o céu com muitas


nuvens (cúmulos), normalmente em regiões úmidas, favorece a
reflexão de grande parte da radiação na direção do animal e,
dessa forma, uma cobertura mais baixa oferece mais proteção. Em
áreas mais secas, o céu é frio e livre de nuvens. Em época de
calor, deve-se, portanto, maximizar a exposição do animal ao céu
e protegê-lo da radiação solar direta com coberturas altas, de
aproximadamente 3,5 m de altura.
Kelly et al. (1950) mostram em seus estudos que,
aumentando a altura do abrigo, os animais, na sombra, ficam
expostos à maior porção do céu frio. Verificaram que a carga de
calor a 0,9 m de piso, debaixo de um abrigo de 4,90 m de largura
por 7,30 m de comprimento, com 1,80 m de altura, foi de 618
W.m-2, enquanto com a altura de 3,70 m foi de 577 W.m-2,
debaixo de outro abrigo com mesma área. Isso significa que,
quanto maiores forem a proximidade do animal do piso
sombreado e a distância da superfície inferior do material de
cobertura, menor será a quantidade de energia radiante por
unidade de superfície do corpo do animal. Uma desvantagem das
coberturas altas é a rápida movimentação da sombra, que
provoca também maior movimentação dos animais.
Vale ressaltar que a decisão final deverá contemplar
situações correspondentes a dia e noite e verão e inverno, pois o
efeito de algumas características da cobertura pode ser benéfico
durante o dia, mas atuar de maneira inversa durante a noite, ou
ser benéfico no verão e atuar de maneira inversa no inverno.

Aplicação
1) Uma cobertura horizontal mede 4 m de largura, 10 m de
comprimento e 2 m de altura, orientada para leste-oeste. Para
a localização geográfica de 40oN 88oW, em 21 de agosto, às 10
horas (tempo legal), a elevação solar é de 53o e o azimute
solar, 310o, medido no sentido horário, a partir do sul.
Determinar o tamanho da sombra projetada por essa
cobertura.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 207

Solução: Tomando como base o gráfico apresentado na Figura


17.4, concluiu-se que:
a) as curvas escuras referem-se às distâncias da sombra ao norte
ou ao sul para as linhas leste-oeste da cobertura;
b) as curvas mais claras referem-se às distâncias da sombra a leste
ou a oeste para as linhas norte-sul da cobertura;
c) às 10 horas, no hemisfério norte, a sombra estará ao norte e a
oeste da cobertura. Para a elevação solar de 53o e azimute solar
de 310o, o fator K é de aproximadamente 0,5 a oeste e 0,6 ao
norte, para uma cobertura de um pé de altura, o que significa
que a sombra se localizará a 0,5 pé a oeste e 0,6 pé ao norte da
cobertura.
d) para o ajuste final, o fator K é multiplicado pela altura da
cobertura:
2 m = 6,56 pés
0,5 x 5,6 = 3,28 pés a oeste = 1,00 m a oeste
0,6 x 6,56 = 3,94 pés ao norte = 1,20 m ao norte
e) neste caso de cobertura horizontal, a sombra tem as mesmas
dimensões da chapa, porém está deslocada 1,00 m a oeste e
1,20 m ao norte, a partir das bordas da cobertura.

2) Determinar a elevação e o azimute solar de Viçosa-MG para o


dia 15 de novembro, às 10 horas. Com base nos resultados,
calcular o tamanho e o deslocamento da sombra projetada por
uma cobertura horizontal de 10 m de comprimento, 4 m de
largura e 3 m de altura, orientada no sentido leste-oeste.

Solução: Podem ser utilizadas as equações 12.1, 12.2, 12.3,


12.4, 12.5, e 12.8.

 360 
δ = 23,45 . sen  . (284 + n)
 365 
n = número de dias contados até 15 de novembro = 319
208 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

 360 
δ = 23,45 . sen  . (284 + 319) = − 19,1478 o
 365 
h = (hora – 12) x 15O = (10 – 12) x 15 = – 30
φ = 20O45’ S = 20,75o (Viçosa-MG)
cos z = sen φ sen δ + cos φ cos δ cos h
cos z = sen (–20,75) sen (–19,1478) + cos (–20,75) cos (–
19,1478) cos (–30)
cos z = 0,8812  z = 28,208o
z + e = 90o  e = 90 z = 90 – 28,223 = 61,792o
cos z sen φ − sen δ
cos a =
sen z cos φ

cos (28,223) sen (−20,75) − sen (−19,1478)


cos a =
sen (28,223) cos (−20,75)

cos a = 0,03574  a = ± 87,952


a = - 87,952 (para 10 horas da manhã), isto é, sentido
anti-horário a partir do sul.

Consultando a carta de trajetórias aparentes do Sol para o


local, na data e no horário de cálculo, verifica-se que a sombra
também estará projetada para o norte e a 0,15 oeste, ou seja, 0,35
x 1,05 m ao norte e 0,15 x 0,45 m a oeste, sendo do mesmo
tamanho da cobertura, pois esta é horizontal.

Quebra-Ventos
O vento pode ser definido como a movimentação natural
das massas de ar. Esse movimento é utilizado para a ventilação
natural de habitações, por meio dos processos mencionados no
estudo de ventilação: ação dos ventos e efeito chaminé.
Dependendo da ação e das características do vento, podem
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 209

ocorrer alguns efeitos prejudiciais, principalmente em alguns


casos, quando ocorre em conjunto com baixa temperatura.
Uma das características marcantes do vento é a
quantidade de movimento, que representa a energia associada ao
produto da massa de ar pela sua velocidade. Essa energia é
transferida aos obstáculos que intercepta vento, como plantas,
animais e solo. Essa transferência de energia é a ação mecânica
do vento e pode resultar em benefícios, como a adequada
ventilação de um ambiente, o aumento da polinização, a
moderação no fluxo de CO2 e o estímulo à quebra de gradientes
de umidade e temperatura. Porém, pode causar destruição de
culturas e construções.
Em circunstâncias excepcionais e ocasionais, pode até
mesmo ocorrer o colapso total de estruturas pela ação do vento.
Esse colapso inicia-se em regiões críticas da estruturas, ou seja,
naquelas onde surgem picos de sucção. Por isso, nos projetos,
esses locais devem ser considerados com muito critério.
A massa de ar em movimento pode ainda propiciar o
ataque de pragas e doenças, além de provocar a erosão eólica e a
dessecação do solo, que é prejudicial às culturas, tanto pela
redução da fertilidade do solo quanto pelos danos que as
partículas sólidas transportadas pelo vento podem provocar nas
superfícies foliares. Ventos de cerca de 22 km/h são capazes de
desencadear o processo de erosão eólica. Velocidade do ar da
ordem de 0,5 km/h pode ser sentida com facilidade pela pele
humana, dependendo da temperatura do ar.
Considerando o exposto e com base nos padrões de
conforto e de segurança, o objeto-alvo de proteção (construção ou
cultura) não deve ser estanque e nem totalmente livre ao fluxo de
ar. No Brasil, a velocidade do vento raramente atinge valores altos
e, por isso, às vezes, não é fator tão considerado. Blessmann
(1971) cita, porém, algumas ocorrências, como a ventania
ocorrida em 26 de setembro de 1961, em Carazinho, RS, com
rajadas de 67 km/h e 3 segundos de duração. Houve ruptura de
estruturas em depósito de cereais, com diversos danos materiais,
210 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

justificando os cuidados e os critérios com relação à proteção


contra ventos.
Diante desses fatos e sabendo que todos eles interferem na
demanda de alimentos do País, ou seja, alteram a produtividade
agropecuária, qualquer tentativa de melhoria do quadro é
importante. Os quebra-ventos constituem opção inteligente, pois,
por manterem a velocidade do ar dentro dos limites, impedem os
efeitos danosos do vento.
De acordo com Bates (1911), os quebra-ventos são
objetos que servem de obstáculos aos ventos de superfície. São
dispositivos naturais ou artificiais, destinados a deter ou, pelo
menos, diminuir a ação dos ventos fortes sobre as culturas e as
construções. Podem ser definidos, ainda, como estruturas
perpendiculares aos ventos dominantes, cujas funções são
diminuir a velocidade destes e reduzir os danos por eles
provocados. Em sua maioria são naturais, constituídos por
renques de vegetação e agem de forma semelhante à apresentada
na Figura 17.5.
No início do século XX, os quebra-ventos eram usados na
França, para a contenção de dunas; na Rússia, para a proteção
contra ventos secos; e nos EUA, para a valorização estética das
propriedades, a contenção da erosão e o amontoamento de neve,
além de proteger pomares e pastagens.
No Brasil, o uso de quebra-ventos tem-se restringido quase
exclusivamente à lavoura cafeeira de São Paulo e, principalmente,
do norte do Paraná.
Camargo (1960), no Brasil, foi o primeiro a sugerir a
utilização de quebra-ventos ou barreiras vegetais nos espigões
planos, acima dos cafezais, mas, somente a partir de 1975, foram
usados pelos agricultores.
Os quebra-ventos agem diretamente sobre o ambiente de
três maneiras: sombreando parcial e temporariamente a cultura,
obsorvendo água e nutrientes do solo e diminuindo a velocidade
do vento. A Figura 17.6 representa, de forma esquemática, o
efeito dos quebra-ventos sobre fatores microclimáticos e outros.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 211

Figura 17.5 - Desvio das correntes de ar por meio de barreiras de


vento.
Fonte: EL BOUSHY; RATERINK, 1985; RIVERO, 1986.

Foram registrados vários benefícios dos quebra-ventos aos


animais, como maior ganho de peso de bovinos e melhor
qualidade de lã de ovelhas, provavelmente em razão do
sombreamento, da redução da velocidade do ar e das
consequentes variações na temperatura do ar.
212 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Bueno (1986) ressalta que é necessário identificar


corretamente o lado para o qual sopra o vento, para que a
barreira seja perfeitamente localizada. Ele menciona que a altura
do quebra-vento deve ser tal que não cause sombreamento em
excesso e nem abalo da construção pelo sistema radicular.

Figura 17.6 - Diagrama referente aos efeitos dos quebra-ventos


sobre fatores microclimáticos e outros.
Fonte: DURIGAN, 1986.

Diversos autores afirmam que há maior efeito do quebra-


vento na redução da velocidade do ar à distância de 2 a 5 H
(altura do quebra-vento) a barlavento e de 10 a 20 H a sota-vento
e sugerem que as barreiras sejam distanciadas do objeto de
maneira que ofereçam redução de 50% na velocidade do vento.
Rivero (1986) relata que ocorre um efeito interessante de redução
da velocidade do vento antes que ele chegue à barreira, por causa
da massa de ar pressionado que se forma nessa face.
Outro aspecto importante na implantação dos quebra-
ventos é o efeito do sombreamento produzido. A orientação da
barreira deve ser tal que proporcione sombreamento temporário e
que toda a área receba insolação diariamente, por algum tempo.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 213

As cartas de trajetórias aparentes do Sol também podem


ser utilizadas quando se deseja verificar a posição ideal e o efeito
do sombreamento produzido pelos quebra-ventos.
É necessário observar que ocorrem aumentos e quedas de
temperatura na área protegida, dependendo do tipo, das
dimensões e do distanciamento do elemento protetor em relação
ao elemento protegido. O quebra-vento é capaz também de
alterar a distribuição da umidade do ar na área, ou seja, por causa
do aumento de temperatura, geralmente ao dia, há aumento da
capacidade de retenção de umidade. A pressão de vapor é sempre
maior na área protegida e o transporte de vapor é reduzido por
causa da redução da velocidade do ar.
Considerando sua economicidade, os quebra-ventos só são
recomendados quando o valor da madeira que pode ser extraída e a
proteção oferecida forem iguais ou superiores ao valor da cultura que
poderia estar sendo desenvolvida em seu lugar. Somente compensa
utilizar quebra-ventos se o aumento da produção decorrente da
proteção e o adicional pela extração da madeira forem maiores que a
perda decorrente da diminuição da área plantada mais o custo do
investimento. Até o presente momento, na maioria dos casos, foram
registrados efeitos benéficos superando as perdas.
A eficiência de um quebra-vento depende do clima do
local e das características da barreira. A sua estrutura deve ser
planejada de forma a proporcionar a melhor proteção possível. A
altura, indicada na literatura, deve ser a da espécie adotada,
quando adulta, e a mais homogênea possível. Experiências com
vários tipos de barreiras de vento, de altura constante igual a 1,40
m, permitiram concluir que o local em que o vento retoma o valor
que teria em campo livre corresponde a uma distância de 5 a 10
vezes a altura da cortina a barlavento, ou seja, antes da barreira, e
de 20 a 25 vezes a sota-vento, ou seja, depois da barreira. Esta
relação é válida para barreiras cujas alturas não excedam 15 m.
Quebra-ventos porosos são preferíveis aos sólidos, pois
proporcionam melhor proteção a sota-vento que os sólidos ou
aqueles com alta porosidade. Diversos autores são unânimes em
afirmar que as barreiras muito compactas causam problemas de
214 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

turbulência e que a barreira não deve apresentar falhas ou


“buracos”, principalmente na base, pois podem canalizar o vento.
De acordo com Gomes (1972), a porosidade ideal está
ligada à natureza do elemento que deve ser protegido,
ressaltando-se que, na maioria dos casos por ele estudados, a
porosidade ideal esteve entre 35 e 40%; contudo, existem relatos
de bons resultados com porosidades variando entre 15 e 50%,
com redução de até 50% na velocidade do vento, por 10 a 15 h
de distância, como mostra Figura 17.7. No mesmo sentido, Curtis
(1983) apresenta gráficos comparativos entre isolíneas da
velocidade do ar, considerando um quebra-vento sólido e outro
com 22% de porosidade (Figura 17.8).

Figura 17.7 - Trajetória do vento influenciada por barreiras de


densidade média (A) e trajetória do vento influenciada
por barreiras densas (B); e gráficos da influência das
barreiras de média densidade (A’) e densas (B’),
respectivamente, sobre a velocidade do vento.
Fonte: GOMES, 1972.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 215

Com respeito à orientação, a melhor proteção é obtida


quando a barreira é disposta perpendicularmente ao vento
dominante e pode ser determinada facilmente pela observação visual
do tombamento da vegetação herbácea na área a ser protegida.
Os quebra-ventos podem, ainda, ser compostos de uma
única linha ou de várias linhas. Um quebra-vento unilinear, desde
que seja uniformemente permeável, pode ter menor número de
árvores, ocupar menor área e exercer muitas das funções de um
quebra-vento multilinear.

Figura 17.8 - Isolíneas da razão entre as velocidades antes e


depois do quebra-vento sólido (acima) e as de um
quebra-vento com 22% de porosidade (abaixo).
Fonte: CURTIS, 1983.

A proteção proveniente de estreitas faixas arborizadas,


denominadas cortinas, é muito mais eficiente quando comparada
à dos grandes complexos florestais. Ao encontrar um obstáculo, o
vento tende a subir, reduzindo a sua velocidade. No caso de um
216 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

maciço florestal, ele avança paralelo às copas e, ao atingir a orla


de sota-vento, dirige-se bruscamente para o solo. O retorno à
posição normal, depois de transposta a cortina, é mais lento e
gradual, como está representado na Figura 17.9. Normalmente, é
recomendado utilizar menos que 10 filas ou linhas de árvores.
A Figura 17.10 mostra uma vista superior da extensão da
área protegida por um quebra-vento.

Vento

Vento

Figura 17.9 - Trajetória do vento acima de barreiras multilineares


e unilineares.
Fonte: GOMES, 1972.

Figura 17.10 - Área continuamente protegida pelo quebra-ventos.


Fonte: BATES, 1944.

Outro aspecto relevante no planejamento de uma barreira de


vento é a escolha da espécie vegetal a ser utilizada, que deve ser
permeável, ereta, flexível, resistente ao vento e a baixas temperaturas
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 217

(para o controle de neve), pouco sujeita ao ataque de pragas e


doenças, de folhas perenes e de sistema radicular pouco competitivo.
O ideal seria uma espécie que reunisse todas as
características desejadas, adaptável às condições do clima e do
solo locais. As mais frequentemente recomendadas são:
• Pinus spp. – para solos arenosos.
• Eucalyptus spp. – para regiões tropicais, zonas áridas (E.
camaldulensis).
• Cupressus spp. – forma barreiras impermeáveis.
• Grevillea robusta – carvalho prateado, frequentemente
associado a lavouras de café, chega a atingir 35 m de altura e 80
cm de diâmetro de tronco. Adapta-se a muitos tipos de solo e
cresce em média 2 m por ano; é útil para marcenaria e lenha.
• Ulmus spp. – para solos secos.
• Casuarina spp. – para zonas costeiras.
• Zea mays (milho) – quebra-vento temporário.
• Thuja spp. – impermeável.
• Populus spp. – exige solos férteis.
• Prosopis juliflora (algaroba) – para clima semiárido.
• Maclura pomifera – muito usada nos EUA.
• Acácia spp. – vasto emprego no sul do Brasil, na Índia e na África.
• Robinia pseudoacacia – usada na Rússia e Bulgária.
• Caragana arborescens – para clima muito frio.
Na Tabela 17.3 são apresentadas várias espécies que,
além de classificadas quanto à aptidão para quebra-vento, são
também avaliadas quanto à capacidade potencial de servirem
para outros fins, como sombreamento, produção de madeira,
postes e fins estéticos. Nos trópicos, as espécies mais utilizadas têm
sido grupamentos de Grevillea robusta na parte central e
Euphorbia tirucalli (arbusto) nas filas exteriores. Nas regiões áridas
e semiáridas, as acácias e algumas espécies de eucalipto no núcleo
central e Lamarix spp., na periferia.
218 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 17.3 - Utilidades adicionais de algumas espécies usadas


como quebra-vento
Pluviosidade Altura Outros
Clima Utilização Madeira
(mm) (m) Mel

Desenrolado

Combustível
Ornamental
Temperado
Subtropical

Decorativa
800-1.000
600-800

Sombra

Serrada
>1.000

Cortina

Néctar
Postes

Pólen
Espécies

> 24
9-24
<9
Syncarpia 1 1 - 1 1 - - 1 1 1 2 1 - - - - 2 -
glomulifera
(laurifólia)
Tristania 1 1 - 2 1 - 2 1 1 1 1 1 - - - - 1 -
conferta
Eucalyptus 1 1 2 2 1 - - 1 1 1 1 1 - 1 - 2 2 -
acmentoides
Eucalyptus 1 1 1 1 - - 1 - 1 2 1 x - - - - 2 2
cinerea
Eucalyptus - 2 - 2 1 - - 1 2 2 2 1 - 2 - - - -
cloeziana
Eucalyptus 1 1 2 1 1 - - 1 1 2 2 1 2 1 - 1 1 -
maculata
Eucalyptus 1 1 - 2 1 - - 1 1 2 1 1 - - - 1 2 -
microcorys
Eucalyptus 2 1 1 1 - - 1 - 1 2 2 2 - 2 - 1 2 -
moluccana
Eucalyptus 1 1 - 1 1 - - 1 2 2 2 1 - 1 - 1 1 2
paniculata
Eucalyptus 1 1 - 2 1 - - 1 1 2 1 1 - 1 - 2 2 -
pilulares
Eucalyptus 1 1 - 2 1 - - 1 1 1 1 1 - - 2 - 2 -
resinifera
Eucalyptus 1 1 - 2 1 - 1 1 1 1 1 2 - - - - - -
robusta
Eucalyptus 1 1 - 2 1 - - 1 1 2 2 1 - 2 2 2 - -
saligna
P. elliotti 1 2 - 1 1 - - 1 2 - 1 1 - 1 - 2 - 2
P. taeda 1 2 - 1 1 - - 1 2 - 1 1 - 1 - 2 - 2
1: Própria para a categoria indicada na coluna.
2: Menos própria para a categoria indicada do que a classificada com 1.
x: Não deve ser utilizada na categoria indicada na coluna.
-: Sem indicação.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 219

Caborn (1965) faz referência a pequenas barreiras


utilizadas no controle de correntes de ar próximo a habitações e
casas de vegetação, que, em alguns casos, podem ser prejudiciais.
As mesmas barreiras podem ser aproveitadas no controle do nível
de luz, sombreamento e radiação, adequadas ao inverno e verão,
havendo a possibilidade de utilizar espécies frutíferas de folhas
caducas (Figura 17.11).
Há ainda que se considerar o emprego de quebra-ventos
artificiais. Caborn (1965) menciona certos tipos de ripados e
armações de arame, com aberturas suficientes para barrar a
corrente de vento sem obstruí-la abruptamente. Esse autor lembra
que sempre é necessário evitar os tipos sólidos, por causa das
pressões fortes que causam, porque bloqueiam completamente o
vento, além de nem sempre produzirem o melhor sombreamento.
São mencionados também os cuidados de manutenção, como
pintura e substituição de partes danificadas.

Figura 17.11 - Distâncias mínimas entre uma habitação ou casa de


vegetação e quebra-ventos, com o objetivo de
combinar sombreamento satisfatório com mínima
perda de luz.
Fonte: CABORN, 1965.
220 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Modificações Ambientais Secundárias


Iluminação (Fotoperíodo)
Diversas funções corporais e características animais variam
sistematicamente no tempo, isto é, têm ciclos de ocorrência e
magnitude completos em vários períodos. A temperatura corporal,
as funções reprodutivas, o crescimento de pelos e penas, a
concentração de hormônios, as atividades enzimáticas, os
processos metabólicos, os modelos de atividades comportamentais
e mesmo o índice de divisão celular e o nível de cortisona no
sangue de uma vaca são exemplos de funções e características
cíclicas. Todos esses processos são denominados ritmos
biológicos.
Os ritmos biológicos podem ser exógenos, quando
dependem completamente de eventos externos, ou endógenos,
quando persistem num ambiente de aspectos constantes, ou seja,
são inatos e ocorrem livremente.
Qualquer evento que se repete pode ser chamado de
cíclico. O tempo requerido para o ciclo estar completo, ou seja,
para um processo se repetir, é o período do ciclo. A frequência de
um ritmo é a recíproca de um período. A amplitude, variação de
determinada característica animal em relação à sua média durante
o clico enquanto passa do ponto culminante ao ponto mínimo,
pode ocorrer de forma simétrica ou assimétrica. O ciclo é análogo
a um sinal de onda de 360o (Figura 17.12).
Um ponto importante e que deve ser frisado nesta
discussão é a dependência entre um ritmo biológico e outro, ou
entre um ritmo biológico e os ciclos ambientais.
Os ritmos biológicos servem para integrar, no tempo,
eventos e processos metabólicos interdependentes, para coordenar
as funções animais com as mudanças nas taxas de processos
energéticos de um ambiente térmico flutuante.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 221

Figura 17.12 - Aspectos básicos de um ciclo em uma característica


biológica.
Fonte: CURTIS, 1983.

As frequências dos ritmos biológicos são geralmente


sincronizadas por eventos ambientais periódicos chamados
sincronizadores, ou seja, ciclos externos do ambiente que
podem controlar os ritmos biológicos. O fotoperíodo é o
sincronizador mais importante no ciclo alimentar do animal, pois
coordena suas funções alimentares. O fotoperíodo refere-se ao
tempo em que há luz e o escotoperíodo, ao tempo escuro.
Quando há um ciclo luz-escuro por 24 horas do dia, o fotoperíodo
é simplesmente conhecido como comprimento do dia.
Uma função animal é fotoperiódica quando suas
mudanças ocorrem sistematicamente com as mudanças no
comprimento ou na fase do fotoperíodo diário. Muitos ritmos
biológicos têm períodos diários ou anuais.
Muitos ritmos endógenos ocorrem intercalados pelo
fotoperíodo em ritmos de aproximadamente 24 horas,
denominados circadianos, ou de 365 dias, denominados
circeniais.
Os ritmos circadianos são sincronizados pelo ciclo diário
luz-escuro. A luz pode estimular uma função animal se estiver
brilhando durante um período fotossensível, ou seja, há um
222 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

processo de fotoestimulação. Quando ocorre período curto de luz,


como nos dias curtos de inverno, a função animal não é nem
estimulada nem inibida.
A radiação fótica refere-se à luz que pode agir sobre os
animais em função de sua qualidade e quantidade. O
comprimento das ondas eletromagnéticas visíveis ao olho animal
estende-se de 0,39 a 0,77 µm (micrômetros), com cor variando
em função do comprimento de onda (para comparação: a
radiação ultravioleta estende-se de 0,004 a 0,39 µm).
Importante aspecto a ser considerado é a visão. Aves
domésticas têm visão fotópica, enquanto mamíferos domésticos
têm visão escotópica. A visão fotópica tem seu melhor
desempenho em ambientes com alto brilho e permite ao animal
distinguir cores. A visão escotópica tem seu melhor desempenho
em condições ambientais vagamente obscurecidas (ofuscadas) e
não envolve distinção de cor. A visão animal é altamente sensível
a comprimentos de onda na faixa de 0,51 a 0,56 µm. Efeitos
fotoperiódicos associados à reprodução de aves e mamíferos são
causados, de maneira máxima, pela luz com comprimento de
onda em torno de 0,63 µm. Luz de lâmpadas incandescentes e
fluorescentes geralmente são usadas nesses casos.
É necessário evidenciar alguns conceitos básicos sobre
unidades de iluminação. Por exemplo, a vela é uma unidade-
padrão de intensidade luminosa, que representa 1/6 da
intensidade luminosa de um centímetro quadrado de um corpo
negro, com radiação a partir de uma superfície a 2.046 k. O
lúmen é a unidade-padrão de fluxo luminoso no sistema
internacional de medidas. Ele é definido como o fluxo numa
superfície unitária onde todos os pontos estão a uma distância
unitária de uma fonte-ponto, com a intensidade de uma vela. Em
outras palavras, o lúmen corresponde ao fluxo luminoso emitido,
no interior de um ângulo sólido de um esferorradiano, por uma
fonte puntual de intensidade invariável de uma candela e que
emite, uniformemente, para todas as direções.
A densidade do fluxo luminoso é expressa em termos de
lux, um lúmen de luz incidente em um metro quadrado. Baseados
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 223

na visão humana, os engenheiros de iluminação padronizaram o


lux como uma fonte luminosa com distribuição espectral idêntica à
curva-padrão de resposta do olho humano apresentada na Figura
17.13, que mostra que a sensibilidade do olho humano culmina
em uma onda de 0,55 µm de comprimento. O brilho do Sol, por
exemplo, tem uma densidade média de fluxo de 1,5 cal. cm-2.min-
1
na Terra, o que equivale a 1.000 lux ou 0,1 W.cm-2.
Quanto ao efeito nos animais, sabe-se que uma
intensidade tão baixa quanto 1 lux é fotoestimuladora para
frangas de postura. É uma intensidade muito baixa, pois 0,5 lux já
é considerado escuro para o olho humano.

Figura 17.13 - Resposta-padrão do olho humano à radiação


visível de vários comprimentos de onda.
Fonte: CURTIS, 1983.

Esses conceitos são muito utilizados na indústria avícola.


Vários pesquisadores observaram que as frangas nascidas no
inverno sempre atingem maturidade sexual em menos tempo que
aquelas nascidas no verão. Essa observação levou-os a
relacionarem a velocidade com que a ave atinge a maturidade
sexual com fatores genéticos intrínsecos, com a qualidade e a
224 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

quantidade de alimento que consome e também com a magnitude


e variação da iluminação que recebe.
O mecanismo de resposta dos animais a estímulos fóticos
está relacionado com estruturas específicas dos olhos e do cérebro,
como o hipotálamo e a glândula pituitária. O estímulo fótico pode
ser integrado a outros impulsos aferentes no sistema nervoso
central e podem ser formuladas respostas no contexto do
ambiente total (Figura 17.14).
É evidente que há uma coordenação de escalas produtivas
e reprodutivas de um animal nas estações. Os animais domésticos
podem estar enquadrados em categorias específicas, de acordo
com a influência das estações. Aves e cavalos, por exemplo,
tendem a ter seu processo reprodutivo desencadeado na
primavera, quando o fotoperíodo natural está aumentando – são
chamados reprodutores de dias longos. Nessa época, ocorre
um estímulo na produção de ovos nas galinhas, pois a luz
aumenta a secreção de gonadotropinas, que estimulam as funções
gonadais. Carneiros e cabras são reprodutores de dias curtos,
pois o processo ocorre geralmente no outono. Parece que o
fotoperíodo não influi nos processos de reprodução dos bovinos e
suínos, apesar de se poderem notar diferenças estacionais no que
diz respeito à fertilidade.
As aves que nascem no inverno recebem a cada dia mais
iluminação natural, o que acelera o seu desenvolvimento sexual.
As que nascem no verão desenvolvem-se na estação outono-
inverno, de forma que recebem, a cada dia, menos iluminação
que no dia anterior, ocorrendo assim, retardamento no seu
desenvolvimento sexual. Por isso, na indústria avícola, o manejo
de luz tem sido aplicado com sucesso para aumentar a quantidade
de ovos produzidos e a produção de aves pesadas.
O fotoperíodo, na época de criação das frangas, influi
significativamente na qualidade dos ovos, uma vez que afeta a
idade da maturidade sexual. Frangas que amadurecem muito
novas botam ovos pequenos e, do mesmo modo, aquelas que
começam a botar bem tardiamente nunca compensam o tempo
que poderiam ter sido produtivas.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 225

Figura 17.14 - Possíveis trajetórias de influências fóticas nas


funções animais.
Fonte: CURTIS, 1983.

O regime de luz durante o período de criação deve ser


planejado para ajustar-se ao programa subsequente no período de
postura. Há vários métodos gerais de iluminação adotados na
226 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

avicultura, como programas que procuram simular dias longos


constantes; programas para dias curtos, em que a iluminação
artificial deve ser aumentada paulatinamente; e programas em que
são conjugados regimes crescentes com decrescentes de
iluminação artificial. Alguns autores ainda citam os programas de
iluminação intermitente, nos quais o fotoperíodo artificial é
dividido em “flashes” de luz durante o escotoperíodo (noite).
A respeito do programa de dia longo constante, ou seja,
aquele em que é oferecida aos animais iluminação artificial
constante, Trevor Morris (citado por CURTIS, 1983) propôs uma
equação relacionando a idade da maturidade sexual em dias (A)
com o fotoperíodo no período de recria (P):
A = 170,2 – 1,610 P + 0,00061 P 2 + 0,001918 P 3 (17.1)

Por exemplo, se o fotoperíodo da fase de crescimento é de


quatro horas, a idade para o primeiro ovo é predita para 164 dias;
se de 12 horas, 154 dias; e, se de 24 horas, 158 dias.
Um fotoperíodo constante é usado tanto no crescimento
quanto na postura, sendo de 10 e 14 horas de luz o tradicional na
indústria avícola, resultando em 57 g a média de peso do ovo.
Geralmente, o índice de desenvolvimento sexual de uma
franga está mais diretamente relacionado com o índice de
mudança (variação) do fotoperíodo que com o total de luz que ela
recebe. Com o objetivo de evitar a diminuição do peso médio e
do número de ovos, a maturidade sexual pode também ser
atrasada por decréscimo progressivo do fotoperíodo num
programa de diminuição da luz durante a criação.
O estabelecimento de um programa de iluminação pode
ser feito a partir do conhecimento do dia do nascimento dos
pintos. Partindo desse dado, basta calcular em que dia atingirão
21 semanas de vida. Outros dados necessários, obtidos por
programas computacionais adequados ou serviço meteorológico
local, são as horas do nascer e do pôr do sol e a duração do
fotoperíodo natural. No dia em que os pintos completarem 21
dias, devem ser acrescentadas sete horas ao fotoperíodo natural.
O total obtido nesta soma fornecerá o número de horas de
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 227

iluminação natural e artificial na primeira semana de vida dos


pintinhos. Daí por diante, basta diminuir 20 minutos de
iluminação artificial por semana. Desse modo, quando as aves
completarem 22 semanas de vida, atingir-se-á a quantidade de luz
natural. Nessa época, as aves iniciam a postura e, como passam a
necessitar de mais luz para uma postura eficiente, deve-se
aumentar 20 minutos de iluminação artificial por semana até que
sejam atingidas 20 horas de luz total. Essa quantidade deve ser
mantida até o final da postura do lote, que ocorre por volta dos 18
meses de idade, quando então as aves são abatidas. Este
programa é bastante eficiente, tanto para as aves de postura
quanto para as de corte, pois permite retardar a maturidade sexual
de duas a quatro semanas.
Dentro de certos limites, o aumento do tempo de
fotoperíodo durante a postura estimula a produção de ovos, como
é evidenciado na Tabela 17.4. Há referências que confirmam que
o aumento gradual no fotoperíodo atrasa o pico de produção de
ovos, mas também atrasa o declínio produtivo, o que é vantagem.
Curtis (1983) ainda faz referência ao aspecto cor da luz.
Frangas criadas sob luz azul ou verde atingem a maturidade sexual
alguns dias antes em relação àquelas criadas sob luz vermelha ou
incandescente clara. Já na fase de postura, têm melhor
desempenho em luz vermelha, de acordo com os dados da Tabela
17.5.
A intensidade da luz também afeta o desempenho das
aves, tanto no crescimento e no alcance da maturidade sexual
quanto na postura. Trevor Morris (citado por CURTIS, 1983)
formulou a seguinte relação:
E = 232,4 + 15,18 X – 4,256 X2 (17.2)
em que E é o número de ovos por galinha aos 500 dias de idade;
e X, o logaritmo comum da intensidade da luz em lux.
228 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Tabela 17.4 - Comparação dos efeitos de vários programas de


iluminação no desempenho da postura de frangas
Regime de fotoperíodo Produção diária de
23 a 44 semanas 44 a 65 semanas ovos (%) de 23 a 65
semanas
17 horas 17 horas 68,9

17 horas Aumento de 20 68,4


minutos por semana,
a partir de 17 horas,
na 44a semana

Aumento de 20 17 horas 71,2


minutos por semana,
a partir de 10 horas,
na 23a semana

Aumento de 20 Aumento de 20 71,5


minutos por semana, minutos por semana,
a partir de 10 horas, a partir de 17 horas,
na 23a semana na 44a semana
Fonte: CURTIS, 1983.

Tabela 17.5 - Efeito da cor da luz no desempenho da postura


% de ovos produzidos
Luz avermelha Luz azul Luz branca Luz verde
78 75 69 68
Fonte: CURTIS, 1983.

Intensidades tão baixas quanto 1 lux já são suficientes para


desencadear processos de maturidade sexual, aumento de
fertilidade etc. Porém, é difícil trabalhar em ambientes com tão
pouca luz. A Tabela 17.6 mostra o efeito da intensidade de luz no
crescimento de frangas poedeiras.
Curtis (1983) menciona que, enquanto as galinhas
requerem intensidade de luz de cerca de 10 lux ou menos durante
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 229

o período de postura, as peruas requerem pelo menos 20 lux para


fotoestímulo. A idade ideal para expor as peruas à iluminação
estimuladora é da 32a à 36a semana.
Podem ser obtidos bons resultados com iluminação
artificial de 2 W/m2, ou seja, uma lâmpada de 40 W para cada 20
m2 de piso. Recomendam-se, ainda, a utilização de refletores nas
lâmpadas, para evitar acúmulo de poeira nestas, e o uso de
lâmpadas incandescentes. Uma das providências que contribuem
na eficiência final é a troca imediata das lâmpadas queimadas.
Um outro ponto a ser considerado é o intervalo entre uma
oviposição e outra, dependente do ciclo luz-escuro, de forma a
permitir a formação de outro ovo. Quando um ciclo luz-escuro é
completo a cada 24 horas denomina-se hemeral e, quando
ocorre em intervalo maior que 24 horas, é denominado
ahemeral. Poucas linhagens conseguem índice igual ou maior
que um ovo a cada 24 horas. Normalmente, a sequência de
postura corresponde a um ovo por dia, controlado, entre outros
fatores, pelo fotoperíodo.

Tabela 17.6 - Efeito da intensidade de luz no crescimento de


frangas para postura
Peso corporal (kg) na 10a semana de vida
0,1 lux 1,1 lux 10,8 lux 107,6 lux
1,83 1,79 1,77 1,74
Fonte: CURTIS, 1983.

Há, ainda, que se considerar o efeito da iluminação


intermitente que se refere ao fotoperíodo total dividido em vários
períodos de luz, separados por escuridão. Curtis (1983) cita
experimento em que as frangas receberam acréscimo de seis
fotoperíodos de 1 min por dia e produziram ovos no mesmo
índice daquelas que receberam fotoperíodo total de 14 horas.
Normalmente, os flashes de luz têm pouca duração e alta
intensidade. Neste processo, uns poucos esquemas funcionam de
230 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

forma equivalente ou superior àqueles de fotoperíodos longos.


Alguns autores afirmam que há menor gasto de energia pelos
animais submetidos a fotoperíodo intermitente, uma vez que a
atividade é mais baixa.
Alguns pesquisadores da área mencionam que um ponto
relevante no estabelecimento do programa de iluminação para
aves é o comportamento delas em face da possibilidade de
alimentação. Geralmente elas se amontoam no início das linhas
de comedouros automáticos assim que percebem o alimento,
tornando a distribuição desuniforme para as outras aves.
Recomenda-se que os comedouros sejam completamente
abastecidos no escuro, ou seja, antes que a luz artificial seja
acionada. Isso sugere que deve ocorrer um pique de escuridão
entre o fotoperíodo natural e o artificial.
Há uma outra influência do fotoperíodo considerada
importante: a mudança de penas nas aves, que ocorre geralmente
uma vez por ano, no outono. As galinhas poedeiras começam a
mudar as penas no fim da temporada de postura, com pouco mais
de um ano de idade. Uma mudança natural requer
aproximadamente quatro meses para se completar, tempo em que
a produção de ovos frequentemente para. Há, então, a
possibilidade de forçar a mudança das penas para que as galinhas
tenham um descanso em tempo oportuno, antes de começarem o
próximo período de postura. Programas de variação no
fotoperíodo também podem contribuir neste sentido e, na maioria
dos casos, a redução do fotoperíodo para oito horas por dia é
benéfica.
Há evidências também de que a variação do fotoperíodo,
tanto em intensidade (20 lux) ou duração quanto na cor da luz
(vermelha é melhor), aumenta o desempenho reprodutivo de
machos. Fotoperíodo longo e alta temperatura ambiental (acima
de 30 oC) precipitam o desenvolvimento sexual, mas, em alguns
casos, fotoperíodos crescentes, começando com seis horas na
vigésima semana de idade e aumentando 3% a cada semana, são
mais proveitosos que os de comprimento único na produção,
quantidade e qualidade de espermatozoides de perus.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 231

A fase de projeto da instalação é de significativa


importância nesse aspecto, uma vez que a localização e a
orientação afetam sobremaneira o regime de iluminação artificial.
Outro aspecto é o tipo de construção, mais aberta ou mais
fechada, o que também altera os níveis de iluminação natural.
Como mencionado anteriormente, as instalações para
animais são iluminadas por lâmpadas incandescentes ou por tubos
fluorescentes. A iluminação artificial fluorescente fornece maior
número de lumens, consome menos energia e é mais durável,
contudo é de custo inicial mais elevado. A Tabela 17.7 indica o
número de lumens fornecidos pelos tipos de iluminação.

Tabela 17.7 - Número de lumens fornecidos pelo tipo de


iluminação
Incandescente Fluorescente
Watt Lúmen Watt Lúmen
15 125 15 500-700
25 225 20 800-1000
40 430 40 2.000-2.500
50 655 75 4.000-5.000
60 810 200 10.000-12.000

Dessa forma, o projeto de iluminação de uma instalação


pode ser feito como se segue.

Aplicação
Calcule a iluminação necessária a um galpão para
avicultura de corte, com comprimento de 104 m, largura de 8 m
(área de 832 m2) e pé-direito de 3 m.
232 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

1) Selecionar o nível da iluminação: supondo que a intensidade


de iluminação necessária para aves de corte seja de 10 lumens
por metro quadrado.

2) Definir a altura das luminárias: por exemplo, 2,7 m.

3) Definir a distribuição das luminárias: pode-se fixar todo o


sistema na estrutura de telhado ou colocar as lâmpadas em
fileiras dentro do galpão. Curtis (1983) recomenda que o
espaço entre as luminárias seja igual a 1 1/2 vez a altura da
luminária, ou seja:
1,5 x 2,7 m = 4,05 m ≈ 4,00 m

Isso significa que a iluminação pode ser montada em


forma de uma malha de 4 m x 4 m e que a distância entre as
fileiras laterais e as paredes pode ser igual à metade, ou seja, 2 m.
Como o galpão tem 8 m de largura, devem ser colocadas ao longo
do comprimento duas fileiras de lâmpadas.

4) Determinar do número de laminarias:


104 m − (2 + 2) m (laterais)
= 25 espaços entre as luminárias
4m

25 espaços + 1 = 26 luminárias por fileira


26 luminárias x 2 fileiras = 52 luminárias para o galpão

5) Determinar do índice K do galpão, que pode ser obtido da


seguinte forma:
largura x comprimento
K= = 2,75
altura da luminária x (largura + comprimento)

6) Determinar o fator de utilização (U), o que pode ser feito com


base na Tabela 17.8.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 233

Tabela 17.8 - Fator de utilização para lâmpadas incandescentes


em refletor dispersivo-padrão ou tubo fluorescente,
assumindo reflectância luminosa da superfície
interna da construção de 30%, em função do
índice K
Índice K do galpão Fator de utilização (U)
0,60 0,27
0,80 0,36
1,00 0,40
1,25 0,43
1,50 0,46
2,00 0,49
2,50 0,53
3,00 0,56
4,00 0,59
5,00 0,61

De acordo com a Tabela 17.8, fazendo interpolação, o


fator de utilização para este caso é, aproximadamente, 0,55.

7) Estimar o requerimento de fluxo a ser instalado:


comprimento x largura x intensidad e de iluminação
IF =
UxM
Considerando o fator de manutenção M ≈ 0,65,
representando a redução na luz por causa do acúmulo de poeira
sobre as lâmpadas, o que é comum em instalações animais, tem-se:
104 x 8 x 10
IF = = 23272,73 lumens
0,55 x 0,65

8) Determinar a intensidade de fluxo luminoso de cada luminária:


23272,73
= 447 ,55 lumens/luminária
52
234 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

9) Selecionar a fonte de luz: pela Tabela 17.7, observa-se que,


neste caso, podem ser usadas lâmpadas incandescentes de 50
W ou fluorescentes de 15 W.

10) Determinar a iluminação produzida:


(número de luminárias x número de lumens correspondentes)
x (fator de utilização x fator de manutenção)/área do galpão

a) pela lâmpada incandescente de 50 W:


(52 x 655) x (0,55 x 0,65)/832 = 14,64 lumens/m2
b) pela lâmpada incandescente 40 W:
(52 x 430) x (0,55 x 0,65)/832 = 9,61 lumens/m2
c) pela lâmpada fluorescente de 15 W:
(52 x 500) x (0,55 x 0,65)/832 = 11,17 lumens/m2

Tanto as lâmpadas incandescentes de 40 W quanto as


fluorescentes de 15 W fornecem intensidade luminosa próxima da
desejada, de 10 lumens por metro quadrado.

Resfriamento
A manutenção ou mesmo o aumento da produção animal
pode ser evidente se as técnicas de manejo, relacionadas com o
condicionamento do ambiente térmico, forem adotadas. Com o
objetivo de interferir no ambiente natural e impedir o estresse
calórico dos animais, vários artifícios podem ser utilizados, como a
ventilação, o resfriamento de elementos construtivos como as
coberturas, o resfriamento do próprio animal e o resfriamento do
ar ambiente. Todos eles, de forma geral, produzem benefícios
adicionais.
A ventilação com o objetivo de facilitar a dissipação de
calor corporal, começou a ser objeto de pesquisa, durante dois
verões, por Ittner et al. (1957), que conduziram experimento na
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 235

Califórnia, utilizando novilhos mestiços Hereford, abrigados em


curraletes com aproximadamente 7,54 m2 de área por animal. Nos
curraletes foram instalados ventiladores que funcionaram
direcionando as correntes de ar para baixo e para o centro. Foi
verificado que a movimentação do ar pelos ventiladores
aumentou significativamente os ganhos diários de peso dos
animais. Sequencialmente, vários experimentos foram conduzidos
nessa linha, comprovando a eficiência do sistema. Porém, quando
a temperatura do ar é excessivamente alta, aproximando da
temperatura retal do animal, a simples movimentação do ar por
ventiladores não se mostrou efetiva na promoção do resfriamento
do animal.
O telhado, por ser um dos maiores fechamentos da
edificação e receber a maior parte da carga térmica solar, tem
recebido atenção especial. Vários autores, entre eles Vaquero
(1981), recomendam o molhamento do telhado, com o objetivo
de arrefecê-lo nas horas de calor intenso. A telha molhada libera
calor por meio de processos de condução e devido à evaporação
da água. Neste caso, o animal sob a cobertura se beneficia por
receber menor carga térmica radiante do telhado, em razão de sua
menor temperatura.
Com relação ao molhamento do animal, vale ressaltar que
os animais têm uma capacidade natural de dissipar o calor por
evaporação, em consequência da água disponibilizada de forma
passiva e devido à transpiração. Quanto menor a umidade relativa
do ar ambiente, mais rápida a evaporação e mais eficiente o
processo. Neste caso, a evaporação da água devida ao
molhamento da superfície animal traz benefício adicional na
redução da temperatura da superfície onde ocorre o processo
evaporativo. Contudo, para situações de alta umidade,
recomenda-se apenas o uso da ventilação forçada, o que permite
dissipação do calor liberado pelos animais por convecção.
Para o estudo do processo de resfriamento do ar ambiente,
são importantes os conceitos de umidade absoluta, umidade
relativa, pressão de vapor, temperaturas de bulbo seco e bulbo
úmido, temperatura do ponto de orvalho, entalpia e volume
específico (ver Capítulo 11 sobre carta psicrométrica).
236 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

O resfriamento do ar pode se dar de forma sensível ou


latente, em função da quantidade de água considerada no
processo.
O resfriamento do ar mantendo a mesma quantidade de
água por volume e tendo variação da temperatura do bulbo seco
é denominado resfriamento sensível, cuja representação na carta é
a mostrada na Figura 17.15.
Pode-se perceber, no exemplo apresentado nessa Figura, a
redução da temperatura de bulbo seco, de 40° para 25 °C, ou
seja, a retirada de calor da mistura, mantendo a mesma
quantidade de água em suspensão no ar.

Figura 17.15 - Processo de resfriamento sensível representado na


carta psicrométrica.
Fonte: MONGOLD et al., 1983.

Os processos de resfriamento do ar que resultam em


variação do conteúdo de umidade são denominados latentes e
apresentam grande eficiência no condicionamento do ambiente
em regiões de clima quente e seco.
O resfriamento evaporativo é essencialmente um processo
de incorporação de água adiabático, ou seja o volume de controle
não perde nem ganha calor, que na carta psicrométrica, tem
sequência ao longo de uma linha de temperatura de bulbo úmido
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 237

ou de entalpia constante, conforme se observa na Figura 17.16.


Para este caso, o ar a ser resfriado é posto em contato com a
água. No processo de evaporação, ocorre conversão de calor
sensível em calor latente, fazendo com que a temperatura de
bulbo seco do ar seja reduzida, sem variação do nível de energia
do conjunto. É um processo considerado adiabático.

Figura 17.16 - Representação de resfriamento adiabático


evaporativo na carta psicrométrica.
Fonte: WIERSMA; SHORT, 1983.

De acordo com Wiersma e Short (1983), quando o ar não


saturado entra em contato com a umidade, ocorre uma
transferência de massa porque a pressão de vapor da superfície de
água livre é mais alta que a do ar não saturado, ou seja, há uma
transferência de água em resposta ao diferencial. A transferência
envolve mudança do estado líquido para o de vapor, necessitando
de calor de vaporização. O calor necessário para esta mudança de
estado provém de conteúdo de calor sensível do ar e da água,
resultando em queda na temperatura de ambos. Como a
temperatura na imediata vizinhança da interface cria um
diferencial de temperatura com a mistura ar-vapor, uma
transferência de calor ocorre como resposta a variações do sistema
em relação ao balanço termodinâmico.
238 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

De forma geral, nenhum calor externo é adicionado


durante o processo e o conteúdo total de calor não varia. Há
simplesmente uma mudança adiabática de calor sensível para
calor latente. Porém, ocorre uma alteração ambiental a partir da
mudança de estado da água e da mudança na temperatura da
mistura ar-vapor, que melhora de forma considerável as condições
de conforto, principalmente para aqueles animais que têm grande
dificuldade para transpirar.
Normalmente, refere-se à eficiência do resfriador
evaporativo como uma expressão comum que indica a razão de
mudança da umidade relativa e a saturação alcançada. Se, por
exemplo, conforme Figura 17.16, na carta psicrométrica, o ar a
40°C e 20% UR, correspondente ao ponto (1), for umidificado,
mudando o seu ponto de estado para (3), a eficiência será
numericamente igual à distância (1-3) dividida pela (1-2). A
medida identificada como unidade de desempenho do resfriador
evaporativo (ECP) é, algumas vezes, usada para definir o
desempenho dos resfriadores. A ECP é numericamente igual ao
número de unidades de calor envolvido na troca e pode ser
calculada como calor sensível ou como calor latente.
A incorporação de água pelo ar pode se dar basicamente
de duas maneiras: colocando o ar em contacto com uma
superfície de água; e promovendo a aspersão, nebulização ou
atomização de água no ar.
A primeira maneira pode ser um processo lento se o ar
posto em contato com a superfície de água livre estiver parado,
resultando em eficiência e desempenho baixos. Dessa forma,
maior movimento do ar é normalmente atingido pela utilização de
sopradores ou ventiladores.
Para permitir grandes áreas de superfície d’água em
contato com o ar, normalmente são utilizadas paredes verticais de
materiais porosos, molhadas por gotejamento na parte superior,
cujo ar deve atravessá-la.
As camadas porosas podem ser de fibras de madeira, de
argila expandida, de carvão ou papel tratado. A madeira tem-se
mostrado um dos melhores materiais, mas o papel tratado com
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 239

preservativos contra podridão também tem tido bom resultado no


processo de resfriamento evaporativo. Essas camadas porosas
devem ser planejadas para uma vida útil de pelo menos um ano.
Embora sejam comparáveis quanto à eficiência, todas elas
apresentam, depois de certo tempo de uso, algum acúmulo de sais
e poeiras, principalmente em casos de aplicações agrícolas. Por
isso, devem ser limpas periodicamente.
Em aplicações agrícolas, as camadas porosas são colocadas
ao longo do comprimento da construção ou em sua extremidade,
sempre do lado oposto dos ventiladores, dispostas vertical ou
horizontalmente, como na Figura 17.17 (WIERSMA; SHORT, 1983).
Deve-se evitar a incidência direta da radiação solar sobre o
material poroso, pois ele a absorverá e terá sua eficiência reduzida.
Em áreas muito empoeiradas, é preferível a disposição
horizontal em uma ou mais camadas porosas, de acordo com a
necessidade, com fitas finas de madeira solta distribuída sobre
uma malha de arame para evitar acúmulo excessivo. Os
sedimentos lavados podem ser acumulados em um reservatório
que fica na parte inferior e que deve ter tamanho adequado.
Uma particularidade importante a ser atendida refere-se à
densidade da camada porosa que deve ser de aproximadamente
32 kg/m3. Boa relação de densidade pode ser obtida com 4 kg de
fitas finas de madeira uniformemente distribuídas sobre cada m2 da
área de tela. Com a densidade estabelecida, a espessura pode então
ser ajustada para a eficiência máxima de saturação ou para o
máximo resfriamento.
A velocidade do ar é também fator de alta significância, uma vez que
afeta o tempo total de contato com a fonte de umidade. Em
velocidade muito baixa, o fluxo é laminar e somente o ar da camada-
limite da placa de material poroso saturada tem a oportunidade de
ser tomado pelo vapor d’água. Quando a velocidade aumenta, o
fluxo se torna turbulento, permitindo a quebra dos filmes e maior
contato entre o ar e o vapor, causando rápido aumento da
evaporação (Tabela 17.9). Em velocidade turbulenta mais baixa, a
taxa de evaporação corresponde ao valor da velocidade elevado à
potência 2/3 (v2/3), e, se a velocidade é duplicada, isso resulta em
aumento total de 60% na umidade evaporada.
240 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

(a)

(b)

Figura 17.17 - Sistema de resfriamento evaporativo com camada


porosa horizontal, muito usado em instalações para
bovinos (a) e com camada porosa vertical, usado em
casas de vegetação e em instalações para aves (b),
sendo 1 - camada porosa, 2 - boia, 3 - calha coletora, 4
- tubulação de recalque e coleta de água, 5 - tubulação
de abastecimento de água, 6 - bomba, 7 - reservatório.
Fonte: adaptado de WIERSMA; SHORT, 1983.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 241

Tabela 17.9 - Velocidade do ar recomendada através de vários


materiais porosos utilizados em sistemas de
resfriamento evaporativo
Tipo Velocidade
(m/s)
Fitas de madeira (montagem vertical) – 50 a 0,75
100 mm de espessura
Fitas de madeira (montagem horizontal) – 50 1,00
a 100 mm de espessura
Celulose corrugada – 100 mm de espessura 1,25
Celulose corrugada – 150 mm de espessura 1,75
Fonte: WIERSMA; SHORT, 1983.

Para resfriadores residenciais com camadas de material


poroso de fitas de madeira verticais, recomenda-se velocidade do
ar de 1,25 m/s e para camadas de material poroso horizontais, de
1,5 m/s. Velocidades maiores que 1,5 m/s tendem a atrair água
livre para a corrente de ar. Alguns autores relatam eficiência de
80% com velocidade de 0,8 m/s em camada de material poroso
de 15 cm e eficiência de 90% com velocidade de 1,8 m/s em
camada de material poroso de 30 cm.
Uma providência importante é evitar a falta de
umedecimento do material poroso, devendo-se selecionar
corretamente a taxa de recirculação de água. Vale ressaltar que
são preferíveis taxas excessivas de fluxos à falta de água, pois, não
estando as fibras saturadas, a eficiência de resfriamento é
imediatamente reduzida, por causa da falta de disponibilidade de
umidade para o ar passante (Tabela 17.10). Considerando
camadas de materiais porosos verticais de 5 cm de espessura, uma
ótima eficiência de resfriamento pode ser obtida com razão de
fluxo ar-água, de aproximadamente 40 kg de ar por kg de água.
Resultados de testes conduzidos para definição de taxas de fluxos
de água em camadas de fitas de madeira, com orientação
horizontal e vertical, permitiram chegar à conclusão de que deve
haver uma taxa de aplicação de água de 7,5 vezes a taxa de
242 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

evaporação ou cerca de 2,4 litros por minuto por metro quadrado


de superfície de material poroso; no caso de material poroso de
celulose, 60 litros por minuto por metro quadrado.

Tabela 17.10 - Fluxo de água recomendado e capacidade do depó-


sito para sistemas de resfriamento evaporativo com
placas de material poroso montadas verticalmente
Tipo de material e espessura Quantidade de Capacidade
água por mínima do
comprimento depósito por
linear da placa unidade de área da
de material placa de material
poroso poroso
L/min.m L/m2
Fibras de madeira – 50-100 4 20
mm
Fibras de madeira em 5 20
condições de deserto – 50-
100 mm
Celulose corrugada – 100 mm 6 30
Celulose corrugada – 150 mm 10 40
Fonte: WIERSMA; SHORT, 1983.

Outro aspecto a ser observado é a necessidade de limpeza


periódica do sistema, o que também ajuda a reduzir o acúmulo
danoso de sais. No processo de limpeza tanto a placa de material
poroso deve ser lavada com jatos de água quanto o depósito deve
ser completamente drenado, limpo e suprido com água fresca.
O resfriamento evaporativo é muito utilizado em
instalações avícolas. Em casos especiais, é instalado na cumeeira
do telhado, com saída de ar em ambos os lados da construção
(Figura 17.18). O duto do resfriador pode ser equipado com uma
placa difusora para melhorar a difusão do ar. A altura do material
poroso é geralmente de 0,50 a 2,50 m, quando é mantido na
vertical em relação à chegada de água.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 243

Figura 17.18 - Resfriador evaporativo instalado na cumeeira do


telhado.
Fonte: WIERSMA; SHORT, 1983.

No sistema de material poroso e ventilador, os ventiladores


são montados em um lado, para succionar o ar através do
material poroso locado no lado oposto (Figura 17.19). As placas
de material poroso devem ser localizadas na parede exposta aos
ventos predominantes. Os requerimentos de potência para este
sistema, desde que devidamente projetado e utilizado, são
relativamente baixos.

Figura 17.19 - Galpão avícola com ventilação negativa cruzada –


exaustores em uma das extremidades (fluxo de ar
em modo túnel ou longitudinal) e em uma das
laterais (fluxo de ar transversal).
Fonte: adaptada de WIERSMA; SHORT, 1983.
244 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Outra maneira de se promover o resfriamento evaporativo


do ar é pela utilização da nebulização de água. O processo de
nebulização consiste em transformar determinada massa de água
em gotículas, extremamente pequenas, que em consequência
aumenta a superfície da água exposta ao ar, o que permite
evaporação mais rápida. Um nebulizador bem calibrado, com
água limpa, é capaz de dividir uma gota d’água em cerca de 611
gotículas com diâmetro de 0,05 mm e aumentar a área de
exposição cerca de 850 vezes.
Os sistemas de nebulização podem ser de baixa, média e
alta pressão, de acordo com a pressão de saída da água nos bicos,
o que causa a formação de diferentes diâmetros de gotículas. A
vazão média de um bico nebulizador é de 5 a 6 L/min. Na Figura
17.20 está representado um bico nebulizador comercialmente
utilizado em instalações avícolas.

Figura 17.20 - Vista de um bico em uma linha de nebulização.


Fonte: cedida pelo primeiro autor.

Os sistemas de nebulização podem ser associados à


ventilação forçada positiva e neste caso pode-se trabalhar com
ventiladores convenientemente posicionados para produzir a
ventilação transversal ou longitudinal ao galpão e com linhas de
nebulização de água distribuídas no interior do galpão.
As instalações com ventilação longitudinal, denominada
“modo túnel” com pressão positiva, requerem o fechamento das
cortinas laterais, e os ventiladores ficam distribuídos ao longo do
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 245

comprimento do galpão e em toda sua extensão, de forma que a


massa de ar percorra o mais uniforme possível o seu interior
(Figura 17.21). O número de ventiladores deve ser suficiente para
promover a renovação do ar a cada 1 a 2 minutos e a uma
velocidade de 2 m/s.

Figura 17.21 - Esquema de ventilação em modo túnel com


pressão positiva.
Fonte: cedida pelo primeiro autor.

As instalações com ventilação lateral requerem que os


ventiladores sejam posicionados em uma das laterais do galpão,
com o fluxo voltado no sentido da largura e a favor do vento
dominante local (Figura 17.22). De forma similar, o número de
ventiladores deverá ser dimensionado para possibilitar a
renovação do ar a cada minuto e as linhas de nebulização,
posicionadas em frente dos ventiladores

Figura 17.22 - Esquema de ventilação lateral com pressão positiva


e nebulização interna.
Fonte: cedida pelo primeiro autor.

Existem, ainda, modelos de ventiladores acoplados a


sistema de nebulização de água, e os mais comuns, com vazão de
ar em torno de 350 m3/min, conseguem incorporar ao ar cerca de
0,6 a 1,4 L/min. O acionamento do ventilador normalmente é
246 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

independente do sistema de nebulização, podendo funcionar com


a combinação que se desejar. A Figura 17.23 mostra um
equipamento em funcionamento.

Figura 17.23 - Ventilador acoplado ao aspersor de água.


Fonte: cedida pelo primeiro autor.

As especificações técnicas dos elementos de um resfriador


evaporativo são definidas considerando a taxa de ventilação
recomendada para o tipo de exploração em questão. Para aves de
corte, recomenda-se uma taxa de 0,003 m3.min-1, por ave, nas
primeiras quatro semanas de vida e de até 0,15 m3.min-1, por ave,
para as épocas mais quentes do ano.
Outro emprego comum do sistema é para o resfriamento e
o aumento da umidade do ar em casas de vegetação. Plantas
crescem melhor quando expostas a altas umidades (70 a 80%)
porque, assim, o estresse evaporativo é baixo. As temperaturas
diurnas ótimas são aproximadamente de 21 a 27 oC.
No caso de instalações para suínos, o resfriamento é mais
utilizado nas maternidades, podendo o sistema ser localizado próxi-
mo ao animal, instalado nas paredes ou no telhado. Nestas duas últi-
mas possibilidades, as aberturas de exaustão devem ser bem localiza-
das, para um bom controle do fluxo de ar. Nas instalações que têm
pisos ripados para escorrimento dos dejetos, sob os quais há reser-
vatório, costuma-se direcionar o fluxo de ar para fora, forçando-o
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 247

para baixo através do piso, passando na superfície do material conti-


do no reservatório, o que é muito eficaz na eliminação do odores.
O resfriamento pode também ser usado como um econômico
meio de modificação climática para gado de leite. Durante o verão,
animais de leite sofrem considerável estresse calórico, produzindo
menos leite e com graves problemas de reprodução. Como as
instalações para gado de leite são abertas em sua maioria, torna-se
mais difícil o emprego do resfriamento evaporativo para melhorar o
ambiente. Dessa forma, os sistemas localizados próximo aos animais
são mais recomendados, e algum fechamento lateral do galpão deve
ser providenciado, com base nos ventos dominantes, para evitar a
remoção imediata do ar resfriado.
Gado de corte responde ao estresse calórico com redução
dos ganhos diários de peso e, da mesma forma, o resfriamento
evaporativo é de difícil viabilização, mas, se utilizado, deve ser
associado à presença de sombra.
Tinôco (1988) cita diversos experimentos já conduzidos
para verificar a eficiência do processo de resfriamento
evaporativo. Timmons e Baughman, Wilson et al., Canton et al. e
Fehr et al. trabalharam com resfriamento evaporativo em
instalações para aves e verificaram, no geral, grande eficiência na
redução da temperatura ambiental e na melhoria do ganho de
peso e da conversão alimentar, além de menor taxa de
mortalidade. Resultados de pesquisas conduzidas em regiões
quentes e secas dos Estados Unidos evidenciaram que o uso do
resfriamento adiabático evaporativo para gado de leite permitiu
reduzir a temperatura efetiva do ambiente no interior das
instalações, nas horas mais quentes do dia, aumentando a
produção de leite e melhorando a lactação total, o consumo de
alimentos e o desempenho reprodutivo dos animais.
Em seus testes de resfriamento evaporativo para frangos de
corte conduzidos em Uberaba, Minas Gerais, Tinôco (1988) utilizou
um equipamento construído de forma simples (Figura 17.24). Esse
equipamento consistiu de uma caixa de 50 x 80 x 50 cm, cuja
estrutura foi confeccionada com perfis de metalon, tendo três faces
verticais (correspondentes à entrada de ar) compostas de uma
248 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

camada de 5 cm de tiras de madeira (do tipo das usadas em


embalagens) entre duas telas de arame de 1,27 cm de malha,
constituindo uma camada de material poroso que foi abundante e
constantemente irrigada quando o sistema esteve em
funcionamento. Essas faces foram acopladas à estrutura da caixa
com parafusos, para permitir eventuais trocas de material. As faces
superior e inferior foram confeccionadas com chapas galvanizadas.

Figura 17.24 - Esquema do resfriador evaporativo, mostrando as pla-


cas de material poroso, a posição do ventilador e do
tubo de distribuição de vazão (dimensões em metros).
Fonte: TINÔCO, 1988.

Na extremidade posterior (saída), foi acoplado um ventilador


axial de 1.725 rpm, interligado a um tubo de polietileno de 62 cm de
diâmetro e comprimento igual ao vão do galpão, provido de furos
uniformemente espaçados ao longo da sua área inferior, para
promover distribuição uniforme de ar. O resfriador foi protegido da
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 249

insolação direta por meio do beiral e localizado na face sul do galpão


para obedecer à mesma direção dos ventos. O sistema funcionou
sempre que a temperatura do ar ultrapassou 25 oC e a umidade
relativa do ar fosse inferior a 75%. Tinôco (1988) concluiu que os
melhores resultados de conforto, com base em índices térmicos
ambientais do interior dos galpões, assim como os melhores valores
de ganho de peso, conversão alimentar e peso de aves vivas foram
obtidos nos galpões com resfriamento evaporativo.

Aplicação
1) Determinar a quantidade de calor sensível removido de 30 m3
de ar, inicialmente a 40 oC e 30% de umidade relativa,
resfriado para 25 oC, sem variação no conteúdo de umidade
(resfriamento sensível).
Pela carta psicrométrica, como está representado na Figura
17.15, observa-se que as propriedades da mistura ar-vapor são as
seguintes:

Ponto 1 - volume = 0,905 m3/kg de ar seco


- entalpia = 76 kJ/kg de ar seco

Ponto 2 - entalpia = 60 kJ/kg de ar seco


- razão de umidade (constante) = 0,00138 kg/kg de ar
seco

O problema pode ser resolvido da seguinte maneira:


 30 
1 q 2 = ma (h1 − h2 ) =   x (76 − 60 ) = 530 kJ
 0 ,905 
Conclui-se que foram removidos 530 kJ de calor sensível
da mistura.

2) O ar com temperatura de bulbo seco igual a 40 oC e 20% de


umidade relativa é saturado pela recirculação de água.
Determinar a temperatura de bulbo seco do ar saturado e a
250 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

umidade adicionada por kg de ar seco no processo de


resfriamento evaporativo.
Pela carta psicrométrica, como está representado na Figura
17.16, a temperatura de bulbo úmido no ponto (1) é igual a 22 oC.
Seguindo a linha constante de temperatura de bulbo
úmido, até o ponto (2), verifica-se que a temperatura de bulbo
seco correspondente à saturação é também igual a 22 oC.
A diferença na razão de umidade entre os dois pontos é
0,0166 – 0,0092 = 0,0074 kg de água/kg de ar seco, o que
representa a quantidade de vapor d’água adicionado ao ar.

Aquecimento
Em muitas empresas agropecuárias, como unidades de
produção de leite, unidades de crescimento inicial de suínos,
instalações para aves (incubação e crescimento inicial), casas de
vegetação, sistemas de secagem de grãos, armazenamento de frutas e
vegetais, são necessários, de forma contínua, ou mesmo em algumas
épocas do ano, alguns equipamentos destinados ao aquecimento do
ar. Isso visa adequar a temperatura do ar para maior conforto e
produção de animais e plantas e, em alguns casos, como nos
sistemas de secagem de grãos, retirar a umidade do ar.
O processo termodinâmico de aquecimento do ar pode
também ser acompanhado na carta psicrométrica (Figura 17.25), que
mostra o aquecimento sensível do ar. Esse aquecimento consiste em
adicionar calor ao ar sem variar sua razão de umidade.
O aquecimento do ar sem uma variação no conteúdo de
umidade envolve uma variação no conteúdo do calor sensível, mas
não no conteúdo de calor latente. O aquecimento sensível ocorre em
instalações animais quando, por exemplo, um aquecedor é usado
para aquecer o ar. Um processo mais complexo de aquecimento
conjugado com a umidificação (latente) pode ocorrer quando o ar
atravessa uma instalação ocupada por animais.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 251

Figura 17.25 - Processo de aquecimento sensível representado na


carta psicrométrica.
Fonte: HELLICKSON, 1983.

Há dois tipos principais de sistemas de aquecimento: o


global e o localizado. No primeiro caso, o espaço total destinado
aos animais é mantido em temperatura uniforme e, de forma
geral, ventiladores ou dutos pressurizados distribuem o ar
aquecido. O controle dos aquecedores e ventiladores para
manutenção da temperatura em determinada faixa pode ser feito
por meio de termostatos. Quando temperaturas diferentes são
necessárias nas variadas partes da instalação, como no caso de
porcas e leitões em uma maternidade, o aquecimento localizado é
mais eficiente e econômico.
O aquecimento localizado pode ser promovido no
microambiente do animal por meio de dutos conduzindo ar
quente, aquecedores radiantes ou por meio de sistemas de
aquecimento do piso. Em alguns casos, o aquecimento localizado
é conjugado com o aquecimento geral do ar, por razões
econômicas ou com o objetivo de reduzir fluxos convectivos e
radiantes dos animais para suas redondezas, principalmente em
estações muito frias.
Lâmpadas infravermelhas comuns, de 125 ou 250 W, são
muito utilizadas no aquecimento localizado de ambientes para
252 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

vários animais (leitões, bezerros, pintinhos e cordeiros), com


eficiência variando em função de altura de instalação do sistema,
sendo comum 60 cm acima do piso para leitões, 45 cm para
pintinhos e 15 cm mais alto do que o alcance dos bezerros,
cordeiros e potros.
A forma de aquecimento localizado através do piso é
muito comum para suínos e aves, proporcionando conforto
térmico com um consumo de energia relativamente baixo. Pode
ser obtido por meio de resistências elétricas, embutidas no piso
durante a construção, de modo a permitir fluxo de calor de
aproximadamente 300 a 400 W/m2.
Os equipamentos de aquecimento com resistência elétrica
também podem ser montados nas paredes ou no forro do espaço
a ser aquecido.
Esse tipo de aquecimento também pode ser feito por meio
de tubos embutidos no piso, dentro dos quais deve circular líquido
quente. Um dos inconvenientes dessa forma de aquecimento
localizado é a ocorrência de trincas no concreto. Alguns autores
recomendam envolver os tubos metálicos em areia, logo abaixo
do concreto, pois ela é flexível e absorve a expansão e contração
dos tubos.
Os sistemas que usam água quente podem funcionar por
gravidade ou por circulação forçada. Em qualquer dos casos, a
água é aquecida em uma caldeira (por exemplo) e circula quente
pelos tubos, retornando mais fria para o depósito. Nos sistemas
por gravidade os tubos devem sempre apresentar uma certa
inclinação. Mas, como eles não são muito eficientes, uma pequena
bomba pode ser instalada para aumentar o movimento da água.
Em vez de água, pode ser utilizado também o vapor aquecido.
O aquecimento do ambiente por meio de resistência
elétrica ou tubos embutidos no piso, forro ou paredes, permite
uma distribuição uniforme do calor e um ambiente mais seco;
entretanto, a particularidade de maior importância desse sistema é
o fato de não ser tóxico aos animais em nenhum instante, como às
vezes se observa em outros sistemas.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 253

Outra forma de aquecimento que, recentemente, tem sido


adaptada para várias estruturas na produção agrícola é o coletor
solar, cujo objetivo é armazenar calor para a época de
temperaturas externas mais baixas.
Os aquecedores radiantes são caracterizados pela emissão
de energia térmica através do ar, isto é, a energia incide sobre as
superfícies do local e do corporal do animal, que a absorve e se
aquece.
Muitos aquecedores radiantes utilizados para aquecimento
localizado usam o gás natural ou propano como combustível.
Alguns aquecedores radiam calor através de um elemento
cerâmico. Em outro modelo, o gás é queimado em uma câmara e
o ar é liberado por meio de um tubo no interior da instalação. O
tubo se aquece e a radiação térmica é fornecida.
Outro meio de liberar calor do gás liquefeito do petróleo é
usar o aquecedor catalítico (metal precioso catalisa a reação entre
gases), considerado muito eficiente, apesar de requintado. Estes
aquecedores são potentes e têm relativamente baixa temperatura
superficial. Não requerem eletricidade e não são muito afetados
por poeira e umidade. No entanto, estes equipamentos
normalmente não são controlados termostaticamente, o que os
torna menos eficientes que outras modalidades. Além disso, da
combustão podem resultar gases venenosos.
Quanto à fonte de energia para o aquecimento, podem-se
citar a eletricidade, a bomba de calor (máquina frigorífica
funcionando em ciclo reverso) e os combustíveis, como o gás
liquefeito do petróleo (GLP.), o óleo diesel e a lenha.
Curtis (1983) lembra que os aquecedores, em geral, não
são completamente eficientes, isto é, eles liberam menos calor que
o indicado por seu consumo de combustível.
254 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 18

Controle da Qualidade do Ar
Reduzidas taxas de ventilação podem contribuir para o
aumento da concentração de poluentes do ar no ambiente animal.
São considerados contaminantes os gases e as partículas
de matéria que dão origem a ambiente químico, em contraste com
o ambiente térmico. Os contaminantes gasosos são gerados pela
decomposição do esterco, além da contribuição de CO2 (dióxido
de carbono), pelos monogástricos, e de CO2 acrescido de metano
(CH4),, pelos ruminantes. A degradação biológica do esterco
produz amônia, gás sulfídrico, metano e dióxido de carbono. Além
disso, a água é também liberada pelo animal e pelos dejetos.
Ainda há outros gases “traço”, que se apresentam em quantidades
muito pequenas e que não são normalmente considerados
limitantes da produtividade em fazendas de animais.
As partículas de materiais de um ambiente de
confinamento são provenientes dos alimentos e das superfícies dos
animais, sendo as maiores que 1µ (mícron) classificadas como
poeiras e as menores que 1µ, como fumos.
Normalmente, avalia-se a qualidade do ambiente químico
em função das reações que o homem e o gado apresentam à poeira,
fumo, gás sulfídrico, amônia, metano e dióxido de carbono, cujas
taxas existentes no ambiente devem ser conhecidas.
Os contaminantes do ar, ou o ambiente químico gerado,
podem desencadear diversas reações nos animais. Tem-se
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 255

observado que as aves são significativamente afetadas por


concentrações de amônia iguais ou maiores que 50 ppm, situação
mais ou menos frequente em alguns sistemas de manejo e, ainda,
que bezerros também têm-se mostrado particularmente afetados
pelo ambiente químico.
Dados experimentais têm permitido concluir que os gases
se concentram em diferentes locais dentro da construção. Os gases
têm maior tendência à difusão por convecção, formando um
gradiente baseado no peso molecular. Por exemplo, dióxido de
carbono, amônia e gás sulfídrico, produzidos continuamente em
um depósito de esterco, concentraram-se mais ou menos
uniformemente no curral. Outros experimentos mostraram que o
dióxido de carbono, que é mais pesado que o ar, foi encontrado
em concentrações diferenciadas no forro, quando comparado com
o piso. Outra observação é que em pisos ripados ocorrem maiores
concentrações de gases do esterco no fosso que acima dele.
Todavia, os gases do fosso podem ser carreados ao espaço do
animal pelas correntes de convecção natural, causadas pelo calor
gerado pelo animal.
O dióxido de carbono (CO2) é um gás malcheiroso, 1,5 vez
mais pesado que o ar. A produção de CO2 pelo animal é
diretamente relacionada com sua produção de calor. Assim, a
produção de CO2 relaciona-se ao peso do animal, ao nível de
alimentação e ao ambiente térmico. Um litro de CO2 produzido
por um animal é relacionado a uma produção média de calor de
24,6 kJ. A produção de 3,5 litros de CO2 por dia equivale à
produção de 1 watt de calor.
A concentração de CO2 está relacionada com: peso
corporal dos animais, produção de dejetos, sistema de exploração
e tipo de instalação, principalmente no que diz respeito ao piso
(ripado ou sistema de cama). Por exemplo, novilhos com peso
médio de 285 kg apresentam produção média de CO2 de 2,8
m3/animal por dia ou 0,01 m3/kg por dia, causando aumento na
concentração de CO2 de 850 ppm. No caso de bovino de carne
com peso de 500 kg, a produção de CO2 pode ser dada em
função da perda de calor total (2,8 W/kg), sendo 9,8 litros/kg por
dia ou 0,01 m3/kg por dia.
256 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

Foi constatado também que aquecedores a gás em


instalações para bovinos provocam maior elevação da taxa de
concentração de CO2 que é causada pelos próprios animais.
Um porco de 60 kg mantido em um ambiente a 5 oC
produz cerca de 700 litros ou 0,7 m3 de CO2 por dia. As
concentrações máximas de CO2 encontradas em instalações para
suínos tem sido de 10.000 ppm.
O metano (CH4) tem cor mais acentuada, é mais odoroso e
mais leve que o ar. Uma mistura de metano e ar, de 5% a 15% por
volume, é combustível. A produção de metano pelo rúmen cheio de
alimento representa aproximadamente de 7% a 9% da produção
de CO2, decrescendo com a diminuição da ingestão, ou seja, um
animal em jejum não tem produção de CH4. Um bovino para corte,
com 500 kg de peso, produz cerca de 392 litros de metano por dia.
O gás sulfídrico é um gás de cor forte, com cheiro de ovo
podre e mais pesado que o ar. Baixas concentrações desse gás são
normalmente detectadas em época de bombeamento ou agitação
do esterco. Em unidades de produção de suínos dotadas de
sistemas de ventilação tem sido detectada concentração de 10 ppm.
A amônia é um gás de odor penetrante, mais leve que o ar
e solúvel em água. Em confinamento de bovinos, tem sido
registrado produção de 0,1 m3 por novilho, por dia, com
concentração de 14 ppm. A concentração de amônia em
instalações de aves é variável: em uma construção ventilada para
perus, foi registrada concentração de 50 ppm; em outra, para
frangos, mantida a 24 oC, com taxa de ventilação de 1,1 m3 por
hora, por ave, a concentração variou de 15 a 90 ppm. Duplicando
a taxa de ventilação nessa instalação, a concentração foi reduzida
a um máximo de 50 ppm.
As poeiras são partículas de diâmetro maior que 1 µ
(mícron) e menor que 150 µ, e a fumaça é constituída por partículas
contaminantes de diâmetro menor que 1 µ. As partículas de poeira
maiores que 1 µ tendem a cair quando o ar está parado e não se
difundem, e as menores tendem à suspensão.
Para definir o tamanho da partícula, normalmente utiliza-
se o conceito de “diâmetro aerodinâmico”, que é o diâmetro de
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 257

uma esfera hipotética de densidade unitária com a mesma


velocidade da partícula em questão, sem considerar seu tamanho
geométrico, sua forma e densidade atual.
Penas e pelos quebrados são partículas cilíndricas longas de
aproximadamente 4 µ de diâmetro. Escamas de pele produzem
partículas que se aproxima do diâmetro aerodinâmico de 1 a 450 µ.
Partículas de poeira podem absorver gases e líquidos, além
de conduzir vírus e bactérias. Em instalações para aves com o
sistema de cama, a taxa de produção de poeira é da ordem de
54 mg/ave/dia, caindo este valor em até um terço quando o
sistema é com gaiolas. Para suínos, a produção de poeira é função
do método de alimentação e tipo de cama. Geralmente há maior
concentração de poeira nos locais onde os animais recebem a
alimentação.
A concentração dos poluentes influi na saúde e,
consequentemente, na produtividade de homens e animais. Para
o homem, por exemplo, 30.000 ppm de CO2 é concentração
perigosa, sendo 10.000 ppm o máximo recomendado. Esses
valores representam de 1 a 10 vezes o valor recomendado, o que
é normalmente encontrado em instalações animais. O metano
oferece mais risco de explosão que especificamente para a saúde,
todavia níveis extremos podem causar asfixia. Gás sulfídrico e
amônia são os gases que mais afetam a saúde, sendo
recomendadas concentrações máximas de 10 ppm e 25 ppm,
respectivamente.
A capacidade de trabalho do homem em ambientes de
animais é severamente afetada por contaminantes gasosos.
Problemas respiratórios (tosse, espessamento do peito, respiração
abafada e curta) são seriamente agravados por trabalhos em
unidades de confinamento durante período de um a três anos.
Amônia e gás sulfídrico podem causar perda de apetite (anorexia),
atraso da maturidade sexual e abortos.
Bovinos, com peso de 135 e 246 kg, podem conviver com
contaminantes gasosos, como amônia e gás sulfídrico, até
concentrações máximas de 50 a 20 ppm, respectivamente.
Concentrações acima dessas causam irritações nos olhos, danos
258 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

ao tecido de córnea e redução do apetite, tanto mais


pronunciados quanto maior for a combinação dos efeitos dos dois
gases. Para aves, amônia e poeira são considerados poluentes
principais, afetando a taxa de crescimento, causando doenças nos
olhos e problemas pulmonares. Em suínos, concentrações de
amônia acima de 100 ppm causam declínio do consumo
alimentar e do ganho de peso diário, assim como problemas
pulmonares e descontrole do sistema de regulação da
temperatura.
De acordo com Costa (1982), a purificação do ar consiste
na eliminação das partículas sólidas (poeira) e até mesmo de
líquidos que o ar arrasta em suspensão. A purificação do ar pode
ser feita por meio de alguns dispositivos, como câmaras de
retenção de pó, filtros secos, filtros de carvão ativado, filtros
úmidos, lavadores de ar, filtros eletrostáticos etc.
Curtis (1983) afirma que a concentração de poluentes no
ar de uma instalação animal resulta de um equilíbrio dinâmico
entre as taxas nas quais eles entram e são conduzidos pelo espaço
aéreo. Algumas medidas de controle devem ser tomadas. A
diluição, por exemplo, consiste em renovar o ar de forma
uniforme no ambiente, objetivando reduzir significativamente a
concentração de poluentes. Resultados de diversas pesquisas
comprovam que a taxa de ventilação é o maior determinante das
concentrações de poluentes do ar. A taxa-limite de ventilação
sanitária é a taxa de troca de ar que previne infecção, estimada
como 750 vezes o volume respiratório dos animais. Assim, cada
vaca de 500 kg, com volume respiratório de 100 litros por minuto,
requer 750 x 100 ou 75.000 litros por minutos de ventilação
ambiental para prevenir transferência de micróbios. Para aves, o
limite sanitário da taxa de ventilação é aproximadamente de
1.100 litros por minuto.
Outro processo é a filtração, que consiste em pressurizar
ou ventilar ar filtrado na instalação. O material de filtro retém as
partículas aéreas através de vários efeitos de turbulência. A
eficiência de um filtro único de fibras para a retenção de partículas
de diâmetro maior ou igual a 1 µm é diretamente relacionada com
o diâmetro da fibra.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 259

A radiação ultravioleta tem sido usada para o controle da


poluição aérea em instalações animais, porém apresenta dois
problemas: o material orgânico protege os micróbios da radiação e
os esporos bacteriais não são suscetíveis a ela.
É uma forma bastante moderna, assim como o princípio
baseado no fato de que pequenas partículas em um campo
elétrico se tornam ionizadas e são atraídas por objetos neutros ou
conduzem uma carga oposta. Este fenômeno tem sido usado na
precipitação eletrostática de partículas do ar.
260 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

CAPÍTULO 19

Bases para um Programa de


Bem-Estar Animal
As novas exigências mundiais de produção agrícola,
dentro de processo ético, cada vez mais se voltam para os
conceitos das boas práticas de produção, considerando o bem-
estar animal e do trabalhador, a segurança alimentar e o respeito
ao meio ambiente (CAMPOS, 2009).
O bem-estar dos animais tornou-se um tema com exigências
aos produtores, por meio de certificações próprias ou de terceiros,
que requerem programas de qualidade envolvendo bem-estar e
rastreabilidade. Contudo, vários autores têm chamado a atenção
para que essas exigências sejam baseadas em conhecimentos
científicos, reconhecidos por organizações científicas internacionais
e Organização Mundial do Comércio, considerando a fisiologia,
etologia e saúde dos animais (MENDL, 2001).
Os programas de bem-estar estão alicerçados em
elementos que contribuem para a qualidade de vida dos animais,
incluindo os que constituem as "cinco liberdades" propostas pela
FAWC (Farm Animal Welfare Council, 1992). A adoção de
medidas deve envolver o planejamento e capacitação das pessoas
envolvidas, assim como registro da propriedade com
georreferenciamento e controle do programa e da instituição por
órgão responsável pela certificação.
As cinco liberdades que devem pautar o programa de
bem-estar dos animais são elencadas a seguir.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 261

Liberdade de medo e angústia – O manejo dos animais deve


ser alicerçado em conhecimentos básicos do comportamento
animal, objetivando evitar o estresse, principalmente quando são
transferidos, carregados ou descarregados.

Liberdade de dor, sofrimento e doenças – Bom plano de


saúde veterinária deve ser implementado para proteger os animais
de injúrias e quaisquer outros acontecimentos que possam causar
dor ou atentar contra a saúde. Em caso de necessidade, os
animais devem receber atenção técnica o mais rápido possível.

Liberdade de fome e sede – A alimentação deve ser


satisfatória, apropriada e segura. A oferta de espaço suficiente nos
comedouros e bebedouros é fundamental para minimizar a
competição entre animais. O acesso à água potável e limpa deve
ser constante.

Liberdade de desconforto – O ambiente animal deve ser


concebido em consonância com as necessidades dos animais,
fornecendo proteção e prevenção de desconfortos físicos e
térmicos.

Liberdade para expressar seu comportamento normal –


Conhecimentos fisiológicos e etológicos devem embasar a
concepção das instalações e equipamentos.

O programa de bem-estar animal deve ter como base o


planejamento, a educação e a capacitação. O planejamento deverá
contemplar, entre outros, um plano de contingência em caso de
desastres, como os relacionados a danos estruturais, falta de
eletricidade ou de água. Todo sistema produtivo deve possuir
alternativas de operacionalização associadas a eventos que possam
privar os animais de qualquer das liberdades mencionadas
anteriormente. O programa de capacitação deverá envolver todos os
empregados responsáveis pelo manejo dos animais. Aspectos
relativos ao bem-estar animal deverão ser do entendimento de todos,
assim como a melhor prática para prevenir ou remediar situações
que possam causar qualquer tipo de desconforto aos animais.
262 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

As instalações e equipamentos devem proteger os animais


contra condições adversas, precipitação, insolação direta e ações
de predadores, assim como deve oferecer conforto adequado,
com níveis apropriados de ventilação, temperatura e umidade.
As condições ambientais e de higiene devem ser
manejadas para garantir o bem-estar dos animais e do
trabalhador. Para as condições ambientais, a unidade de
produção deve ter um sistema de monitoramento da temperatura,
umidade, ventilação, radiação, barulho e luminosidade. A
temperatura e a ventilação dentro da instalação devem ser
apropriados ao sistema de criação, idade, peso e estados
fisiológicos dos animais, de forma a favorecer a manutenção de
suas temperaturas corporais em condições de normalidade. A
ventilação deve assegurar a renovação do ar no interior da
instalação, garantindo sua qualidade e a das condições de piso.
Os animais não devem ser sujeitos a barulho intenso ou ruído, a
vibrações ou ainda a fortes estímulos visuais. A intensidade
luminosa deve atender às necessidades dos animais e, em caso
específico, permitir a inspeção de todos eles. De igual importância
para se atingir as condições ambientais de higiene é o
estabelecimento de um programa de biosseguridade para a
unidade produtora.
A densidade de criação, ou seja o número de animais por
unidade de área, deve ser adequada de forma a permitir que os
animais tenham condições de expressar seu comportamento
normal.
Concernente à alimentação e nutrição, as estruturas de
alimentação e de fornecimento de água devem possibilitar o
adequado acesso dos animais. O sistema de armazenagem e
distribuição da água deve ser protegido, para evitar o seu
aquecimento, e as fábricas de ração, suplementos minerais,
vitamínicos e demais aditivos devem contar com programa de
boas práticas de fabricação.
O programa de biosseguridade deve contemplar medidas
para evitar a entrada e saída de patógenos, assim como ações
relacionadas com as vacinações, controle das condições dos
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 263

animais, monitoramento da mortalidade, identificação de sinais e


comportamentos estranhos, e com medidas para prevenir contra o
sofrimento. Deve também fazer parte das ações um programa de
manejo integrado de pragas.
Como parte do manejo em geral, os animais mortos
devem ser removidos diariamente, de forma a preservar o
ambiente dos animais remanescentes, e deve haver um programa
de luz estabelecido, de acordo com requerimentos de fotoperíodo,
para cada fase da criação animal.
A apanha e transporte dos animais deverão ser feitos com
equipe de trabalho treinada e ter um líder para monitorá-la, não
devendo ser permitidos maus tratos e brutalidade. Os animais com
problemas sanitários, fraturas ou lesões não devem ser
transportados. A densidade dos animais no transporte deve ser
ajustada de acordo com as condições climáticas, tamanho dos
compartimentos e peso dos animais. A alimentação não deve ser
suspensa por mais de 12 horas antes do abate; e quando este
período for excedido, deve haver procedimentos que garantam
remediação do problema. Em condições de temperatura elevada,
os animais devem ser molhados, periodicamente, para aliviar o
estresse térmico. É necessário que os veículos estejam em boas
condições de higiene e manutenção e possuam proteção para
impedir que os animais escapem durante o deslocamento da
granja até o frigorífico. Os motoristas devem ter um procedimento
de emergência em caso de quebra do veículo de transporte.
Recomenda-se que o período de descanso pré-abate não
ultrapasse três horas e que as instalações estejam cobertas e
possuam ventiladores e sistemas de aspersão com água,
posicionados de forma que atinjam toda a carga.
A recepção dos animais deve ser feita de forma a não
causar agitação nem lesões. Os animais que chegarem ao
frigorífico mortos ou necessitarem ser sacrificados serão removidos
para carrinhos ou caixas específicas.
Quando durante o abate ocorrer parada da linha, os
animais que estiverem no insensibilizador e também os que
passaram pela insensibilização devem ser, de imediato, sangrados
264 Fernando da Costa Baêta e Cecília de Fátima Souza

manualmente após a parada, e os animais que não foram


insensibilizados serão retornados e aguardarão o restabelecimento
da operação.
O método de insensibilização poderá ser por eletronarcose,
que leva o animal à inconsciência imediata, permanecendo assim
até a morte. Em caso de falhas na eficiência da insensibilização,
ações corretivas devem ser tomadas imediatamente.
No caso de abate religioso, sem a prévia insensibilização, o
processo tem sido alvo de muitas críticas e discussões no que
concerne ao bem-estar animal. Pesquisadores têm opiniões
distintas sobre o assunto, principalmente quanto ao intervalo de
tempo entre a sangria e a perda da sensibilidade dos animais,
assim como sobre os métodos de contenção utilizados neste
método de abate. Deve-se buscar a realização da operação sem o
sofrimento do animal.
Por fim, a unidade de produção deve manter avaliação
constante do programa de bem-estar, visando melhorias
contínuas, a qual deve considerar os procedimentos adotados pela
unidade para garantir o bem-estar dos animais, o comportamento
dos trabalhadores em relação aos animais e o comportamento dos
animais durante todo o processo, para detectar possíveis
condições desfavoráveis.
Ambiência em edificações rurais: conforto animal 265

REFERÊNCIAS
ALVES, A. R.; VIANELLO, R. L.; COELHO, D. T.; SEDYAMA, G. C. Trajetórias
aparentes do sol para algumas latitudes do hemisfério sul. Revista Brasileira
de Armazenamento, Viçosa, 1987.
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