Fases Cicatrização Inflamação Queloide 305 1-10-20200302

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Artigo de Revisão

Queloide: uma revisão breve


Keloid: a brief review

Resumo Autor/Coautor/Orientador

Introdução A cicatrização de feridas ocorre em três fases: inflamação, formação


de tecido de granulação e remodelação. Qualquer alteração em uma
das fases pode resultar em cicatriz patológica, que podem causar
prurido, dor, contraturas, além de afetar a qualidade de vida do
paciente.

O presente estudo tem como objetivo revisar na literatura as


Objetivos principais teorias de formação de cicatrizes queloidianas,
tratamentos preconizados, elucidando os mecanismos de ação no
processo de cicatrização.
Suen Ka Kee Karen
Pós-graduanda em Dermatologia
Foram realizadas pesquisas na base de dados PubMed em 03
Faculdades BWS
Materiais / Brasil
Sujeitos e ocasiões diferentes. Foram pesquisadas as palavras-chave: ”keloids
and reviews” e “keloids and topical treatment” nos últimos 10 anos,
Métodos
e “keloid scars and treatment” nos últimos 05 anos.

Resultados Apesar de a cicatrização patológica possuir vários tratamentos


descritos, a maioria apresenta alta taxa de recorrência e de falha,
devido à complexidade e compreensão limitada da sua fisiopatologia.
Os principais tratamentos estão relacionados no artigo. Byron José Figueiredo Brandão
Professor – Dermatologia
Os tratamentos descritos agem em um ou mais elementos Faculdades BWS
Conclusões envolvidos no processo da cicatrização. São necessários mais estudos Brasil
focados nos mecanismos de interação da cascata inflamatória com o
tecido para possibilitar desenvolvimento de tratamentos com mais
eficiência e menos efeito adverso.

Abstract Every year in developed countries, approximately 100 million


people suffer from healing related problems. This study aims to
review in the literature the main theories of keloid scar formation,
recommended treatments, elucidating the mechanisms of action
in the healing process. Searching was conducted in the pubmed
database on 03 different occasions. The keywords: “keloids and
reviews”, “keloid and topical treatment” were searched in the last Palavras-chave
10 years, “keloid scars and treatment” in the last 05 years. Works
with animal model were excluded. Although pathological healing
has several treatments described, most have a high rate of Queloides, cicatrização patológica,
recurrence and failure due to its complex and not yet fully fisiopatologia, tratamento.
understood pathophysiology. The main treatments are listed in
the article. The described treatments act on one or more elements
involved in the healing process. Further studies on the Keywords
mechanisms of interaction of the inflammatory cascade with the
tissue are needed to enable the development of treatments with
more efficiency and less adverse effects. keloids, pathological scars,
physiopathology, treatments

Trabalho submetido: 27/02/20. Publicação aprovada: 28/02/20. Financiamento: nenhum. Conflito de interesses: nenhum.

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INTRODUÇÃO

A cicatrização de feridas ocorre em três fases: 1- Inflamação, 2- formação de


tecido de granulação, 3- remodelação. Qualquer alteração em uma das fases pode
resultar em cicatriz patológica, como cicatriz hipertrófica e queloide²,³.
A epidemiologia da queloide varia de acordo com os tipos de pele. A desordem
não é observada em albinos, nos indivíduos de Fitzpatrick VI a incidência pode variar
de 4,5% a 16%, e nos de Fitzpatrick I é de 0,09%. A ocorrência é igual em homens e
mulheres, com picos de incidência entre 10 e 30 anos. As áreas mais comumente
acometidas são esterno, orelha, ombros, queixo e região púbica. Apresentam sintomas
de dor, queimação, prurido e restrição de movimentação¹,²,³, podendo ter
repercussões psicológicas e sociais4,5.
A fisiopatologia da formação de cicatriz queloidiana ainda não é bem
compreendida, devido a sua causa multifatorial e complexidade. A combinação da
predisposição genética com a resposta imune exacerbada, interagindo com fatores
ambientais e emocionais, está envolvida na patogênese. Portanto, ainda não existe um
tratamento altamente efetivo6.
O presente estudo tem como objetivo verificar as principais teorias envolvidas
na patogênese da doença e os tratamentos utilizados.

MATERIAIS, SUJEITOS E MÉTODOS

Foram realizadas pesquisas na base de dados PubMed em 03 ocasiões


diferentes. Foram pesquisadas as palavras-chave: “keloids and reviews”, “ keloids and
topical treatment” nos últimos 10 anos e “keloid scars and treatment”, nos últimos 05
anos. Foram excluídos trabalhos com modelo animal.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

MECANISMOS ENVOLVIDOS NA FORMAÇÃO DE QUELOIDES

1- Predisposição genética1,7, 8
Mais de 50 % dos pacientes com queloides geralmente tem a história familiar
positiva. Mutação no cromossomo 7p11 e 2q23 foram verificadas em 02 famílias com
padrão de herança autossômica dominante para queloides.

2- Influência hormonal1
A incidência de cicatrizes queloidianas é maior durante a puberdade e gestação
e diminui após a menopausa.

3- pH da pele8
Aumento do pH da pele afeta negativamente a cicatrização e aumenta a
probabilidade de formação de cicatrizes queloidianas, mesmo em indivíduos não
predispostos.

4- Pigmentação da pele8,9
A incidência de cicatriz queloidiana aumenta conforme o aumento da escala de
Fitzpatrick. Foi verificado que os melanócitos podem estimular a proliferação e o
crescimento de fibroblasto, aumento de síntese de colágeno, deposição de matriz
extracelular e ativação de via de sinalização TGF-β, mecanismos envolvidos na
formação de cicatriz patológica.

5- Teoria mecânica10
Queloides frequentemente aparecem em áreas de tensão como na região
torácica anterior e na escapular, e geralmente cresce de acordo com linhas de tensão
do local, e vias de sinalização molecular podem estar envolvidas no fenômeno.

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5- Hipótese endocrinológica10
A hiperatividade das glândulas sebáceas pode influenciar a formação da cicatriz
queloidiana. Queloides são raras em áreas de corpo com poucas glândulas sebáceas. E
a incidência é aumentada nos adolescentes e nos adultos jovens, período de atividade
aumentada das glândulas.

6- Hipóteses metabólica, circulatória, imunológica10


Produtos metabólicos anormais são detectados nas cicatrizes patológicas. Foi
verificado aumento de níveis de ATP nos queloides até 10 anos após lesão inicial, o que
indica aumento de níveis de atividade metabólica. Como consequência, há aumento de
consumo de O2, diminuição da difusão de O2, causando hipóxia na região. Não se sabe
ainda se a alteração do metabolismo da área é a causa ou a consequência.
Foi detectada a presença de anticorpo antifibroblastos na queloide, um
mecanismo ainda não esclarecido.

7- Processos de cicatrização1,6

a) Fase de inflamação

Atualmente a cicatriz queloidiana é considerada mais um processo inflamatório e


não mais um tumor benigno.
A sua formação está ligada ao tipo de resposta imune, determinada pela citocinas
expressas nas células Th CD41 , que modula a resposta Th1 ou Th2. A resposta Th2
com produção de IL-2, IL-5, IL-10, IL-13 está ligada à fibrinogênese que, se exacerbada,
implica na cicatriz patológica.

b) Fase de proliferação

A alteração do fenótipo de fibroblasto tem papel central na formação de cicatrizes


patológicas. Os fibroblastos da cicatriz queloidianas apresentam maiores números de
receptores de fatores de crescimento, e respondem mais a fatores de crescimento
como PDGF, TGF-β. TGF-β induz a formação de colágeno e matriz extracelular e é o

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fator fibrogênico mais relacionado à cicatriz queloidiana. Queratinócitos tem função de


mediar o comportamento dos fibroblastos com secreção, ativação ou inibição de
fatores de crescimento. Mastócitos são fontes de mediadores pró-inflamatórias e tem
papel na vascularização.

c) Fase de remodelação

A remodelação e a degradação da matriz extracelular estão ligadas às enzimas


denominadas de metaloproteinases (MMP). O desbalanço da expressão das MMP está
vinculado a cicatrizes patológicas. As citocinas e fatores de crescimento tem papel na
regulação da expressão das MMP em fibroblastos.
Foi observada também a lentificação da taxa de apoptose de miofibroblasto nessas
regiões.

TRATAMENTOS

Tabela 1 – Terapias preventivos

Tipos Provável mecanismo de ação Uso

Debridamento de
Sutura livre de Redução da inflamação diminuindo a
tecido inviável,
tensão11 mecanotransdução.
hemostasia adequada.
Pressão1,2,11,29 Oclusão de vasos (ambiente com Pressão contínua (15-
hipóxia): diminuição de suprimento de 40 mmHg) por no
nutrientes diminuindo a proliferação de mínimo 23 horas/dia,
fibroblastos e induzindo apoptose. por mais de 06 meses.

Placa de silicone Oclusão e hidratação da ferida. Mais de 12 horas/dia


gel1,2,11,19,29 Redução da inflamação ao diminuir a por mais de 02 meses.
mecanotransdução. Início: 02 semanas
Energia estática gerada pela fricção induz a após a incisão.
regressão da cicatriz.
Aumento da temperatura local pode
aumentar a atividade de colagenase.

Silicone Idem ao item anterior. 02 vezes ao dia/ 02

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gel1,2,11,19,29 meses, Início: 02


semanas após o
fechamento da ferida

Flavonóides1,20-
Inibição da proliferação de fibroblastos, da 02 vezes/ dia por 4 a 6
22
produção de colágenos. meses.
(ex: Promove contração de fibroblastos em Início: 02 semanas
Contractubex® queloides e na cicatriz hipertrófica. após o fechamento da
gel, Mederma® Presença de heparina em algumas ferida.
gel) composições tem ação anti-inflamatória,
anti-proliferativa e antialérgica, com a
diminuição de expressão de genes de
fibroblasto e inibição de fator de
crescimento endotelial.

Imiquimod 5% Estímulo ao interferon, uma citocina pró- 02 primeiras semanas:


creme1,2 inflamatória, aumentando a quebra de 01 vez/ dia à noite.
colágeno. Após o período: 03
Altera também expressão de genes vezes por semana,
associados a apoptose com curativo oclusivo,
por 01 mês.

Toxina Diminuição da tensão perpendicular a 30-50 UI até quinto dia


botulínica3 cicatriz e eliminação da tensão dinâmica. de sutura.
Diminuição da tensão até a maturação de 15-30 UI até 24 horas
colágeno. da sutura.
01UI/kg,
imediatamente após a
sutura.
20-65 UI, no 5-9 dia
pós sutura.
15-40 UI até 72 horas
pós sutura.
10UI/1cm,
imediatamente após a
sutura.

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Tabela 2 – Terapias convencionais

Tipos Provável mecanismo de ação Uso

Corticosteroides Supressão do efeito inflamatório. Injeção intralesional de


1,2,32
Diminuição de síntese de colágeno e de TAC ( 10-40mg/ml), 01 a
(TAC - acetonida glicosaminoglicanos. 02 vezes ao mês.
de Inibição de crescimento de fibroblastos.
triancinolona) Aumento de degeneração de colágenos
e de fibroblastos.

Crioterapia1,2 Indução de dano tecidual e vascular, Contato/ spray de


causando anóxia e necrose dos tecidos. nitrogênio líquido em
torno de 10- 20
segundos.

Abordagem da Diminuição do volume da cicatriz. Excisão com fechamento


cicatriz1,2,11 linear, sem tensão,
zplatia, wplastia.

Radioterapia1,2,4 Inibe neovascularização, proliferação de Dosagem de 15-20 Gy,


,29
fibroblastos, resultando na diminuição limite de 40 Gy. 05 a 06
de produção de colágeno. sessões após período
pós-operatório precoce.

Laser1,2,16,24,29 Isquemia local por destruição de vasos, Dye laser (585nm PDL)
estímulo a neocolagênese. com doses de 6 - 7,5 J/
cm2 (ponteira de 07 mm)
Aquecimento da fibra de colágeno e ou 4,5-5,5 J/cm2 (10 mm
quebra de ligação de dissulfetos causam spot), 2 a 6 sessões a
realinhamento de fibras de colágeno e cada 02 a 06 semanas.
diminuem a proliferação de fibroblastos Nd-yag 1064, 14 J/cm2
(ponteira 5 mm) cada 03
a 04 semanas.

5-FU1,11,19,29 Aumento do apoptose de fibroblastos Injeção intralesional 5 -


inibindo a síntese de DNA. FU 50 mg/ml, 0,05ml/
Antiangiogênese. cm, por semana, por 12
Anti-inflamatório. semanas.

5-FU + TAC13 Mecanismos descritos para 5-FU e TAC 45mg 5-FU em 0,9ml+
acima. 4mg TAG em 0,1ml ,01
vez por semana por 08
semanas.

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Tabela 3 – Tratamentos emergentes

Tipos Provável mecanismo de ação Uso

Terapia Redução da síntese do colágeno Sessões semanais, 03 a 05


fotodinâmica16 tipo I e redução da proliferação vezes.
do fibroblasto in vitro.

Estimulação Aumenta o efeito citotóxico da Corrente alternada. Corrente


elétrica16 terapia fotodinâmica. contínua.
Sistema Fenzian (corrente
degenerada).

Interferon1,11,29 Diminuição de síntese de 0,01 a 0,1 mg, 03 vezes por


colágenos tipo 1 e 3. semana por 03 semanas.
Efeito antiproliferativo, ou
antagonista do efeito de TGF B1 0,05 mg por semana por 10
e histamina. semanas.

Bleomicina1,2,11,29 Inibição de síntese de colágeno. 0,1 ml a 1 ml, em concentração


Diminui o estímulo de TGF-β1 de 1mg/ml, a cada 04 semanas,
Indução de apoptose por no máximo 05 sessões.

Células troncos Inibição e modulação na Injeção sistêmica.


mesenquimais11 atividade celular pró- Injeção local.
inflamatória.
Atividade antifibrinolítica
diminuindo a diferenciação do
miofibroblasto e produção do
colágeno tipo I e III.
Regulação da angiogênese.

Enxerto de Transferência de células troncos Enxerto próximo ou dentro da


gordura presentes no tecido adiposo para cicatriz.
autóloga11 a ferida.

Toxina Modulação da atividade dos 2.5 UI/ cm3 no máximo de


botulínica2 fibroblastos alterando a 100UI/pessoa), por 03 meses,
apoptose, migração dos com 01 mês de intervalo.
fibroblastos. 100UI dose única.
70-140 UI de 03 em 03 meses,
por 09 meses.
20-100 UI por 02 a 43 meses.
5UI/cm3, de 08 em 08 semanas,
por 06 meses.

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Verapamil13 Bloqueador de canal de Ca++, 0,5mg /cm, dose máxima de 2,5


com atividade antifibrinolítico in mg, de 03 em 03 semanas, por
vitro. no máximo 06 sessões.

Terapia por Melhora a perfusão e aumenta a Número de impulsos = área em


ondas de regeneração tecidual. cm2 x 8, com energia de 0,11
choque12 mJ/mm2, 04 choques por
segundo. 03 sessões em 06
semanas.

Corticoide + Ácido hialurônico diminui Protocolo experimental.


ácido inflamação, diminuindo a
hialurônico8 secreção da prostaglandina 2.

CONCLUSÕES / CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os tratamentos descritos agem em um ou mais elementos envolvidos no


processo da cicatrização. Porém, a fisiopatologia da formação de cicatriz patológica é
complexa e ainda não é totalmente compreendida, portanto a taxa de falhas ou da
recorrência é alta. São necessários mais estudos focados nos mecanismos de interação
da cascata inflamatória com o tecido para possibilitar desenvolvimento de tratamentos
com mais eficiência e menos efeitos adversos.

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