Sobrevivendo Ao ENEM 2021 - Guia de Texto e Repertórios
Sobrevivendo Ao ENEM 2021 - Guia de Texto e Repertórios
Sobrevivendo Ao ENEM 2021 - Guia de Texto e Repertórios
VO
SOBREVIVENDO
À REDAÇÃO DO
ENEM 2021
GUIA DE TEXTO
E REPERTÓRIOS
AAPRESENTAÇÃO
Olá, vestibulando(a)! Pronto para concluir mais uma etapa e, dessa vez, garantir a nota dos
sonhos em redação no Exame Nacional do Ensino Médio?
Meu nome é Paulo Vinícius, tenho 21 anos e estou no quarto período do curso de medicina,
que sonhei pela aprovação por muito tempo. Através do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), consegui nota suficiente para ser aprovado em medicina em mais de 15
universidades públicas brasileiras — graças ao grande diferencial na nota de redação. No
momento curso na Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), em Minas Gerais, e este
resultado veio de um grande projeto em busca da tão sonhada vaga. Para tanto, esse eBook
faz parte desse planejamento, de certa forma como uma promessa pessoal de ajudar e de
alcançar o máximo de pessoas que eu conseguisse. Tenho ajudado estudantes de todo o
Brasil desde 2019 a alcançarem excelentes notas — e o próximo é você!
Durante o ENEM no meu terceiro ano do ensino médio, foram 124 acertos e uma média de
758,52 pontos com 920 pontos na redação, insuficientes para minha aprovação em ampla
concorrência. Entrando em uma zona de conforto, em 2017 acabei deixando a redação de
lado, por pensar que seria fácil aumentar os 920 pontos para pelo menos 960, o que não
aconteceu. Não consegui ser aprovado para medicina mais uma vez e, desta vez, por conta
da nota de redação.
Além disso, muitas universidades renomadas, como UFRJ, FURG, UFMS, UFPR e UFSC,
valorizam a nota de redação com pesos específicos, o que pode ser decisivo na hora de
concorrer a uma vaga no SiSU.
Como é informado na cartilha de redação mais recente, o tema de redação é sempre
voltado para aspectos de ordem social, científica, cultural ou política. Em 2018
presenciamos uma evolução do detalhamento dos temas apresentados, visto que o
primeiro tema aplicado foi “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de
dados na internet” e, em seguida, para a segunda aplicação “Formas de organização da
sociedade para o enfrentamento de problemas econômicos no Brasil”.
A ordem social aparenta tomar uma posição muito mais importante para as novas
diretrizes do exame, até mesmo por questionar os estudantes sobre a manipulação do
comportamento por ações inseridas diariamente no mundo digital e por exigir uma visão
extremamente crítica e ampla para lidar com problemas econômicos por meio de
organizações da própria sociedade. No entanto, não podemos apenas ignorar as outras
possibilidades, principalmente pela transição de governo que pode acarretar em
mudanças inclusive no ENEM 2019. Para cada um dos aspectos será listado neste
material referências literárias, filosóficas, sociológicas e outras formas de ‘sobreviver’ a
qualquer um desses temas, incluindo lições éticas e morais que normalmente são
questionadas nos vestibulares mais recentes.
A primeira competência pode ser a mais exigente, mas também a mais necessária. Não
se preocupe, há uma certa tolerância de erros para que você consiga 200 pontos, então
um ou outro desvio não causará, necessariamente, uma punição de 40 pontos. Essa
competência avaliará se você domina ou não a modalidade escrita formal da língua
portuguesa, observando todos os desvios gramaticais presentes no texto. Segundo o
Ministério da Educação, os principais tópicos observados por essa competência são:
Para solucionar eventuais problemas com essa competência, que pode ser uma das mais
complexas, é preciso tomar alguns cuidados. A princípio, é extremamente recomendado
que você leia os textos motivadores e entenda perfeitamente o que a banca quer que
você discuta no tema. Muitos alunos tiveram esse problema durante o ENEM 2018, visto
que ignoraram as informações sobre algoritmos da coletânea e acabaram tangenciando
o tema.
Além disso, o aluno não pode se limitar apenas aos dados e às informações fornecidas
pela coletânea, sendo de extrema importância o uso coerente de informações extras,
como a utilização de fontes filosóficas e sociológicas. Para resolver esse impasse, os
últimos tópicos deste material contém repertórios produtivos extremamente úteis para
diversos temas. Além do mais, o aluno que copiar integralmente informações da
coletânea terá o texto penalizado, portanto cuidado.
O mais importante para tornar seu texto argumentativo é mostrar sua opinião sobre as
informações apresentadas. Criticar e enaltecer problemas que devem ser resolvidos são
suas funções na redação do ENEM, então não meça períodos com apenas dados
estatísticos ou citações vazias, é preciso mostrar aos corretores seu posicionamento e
quais as relações entre os dados mostrados com o tema principal, sempre com extremo
cuidado para não tangenciar o assunto.
Competência 3: Selecionar, relacionar,
organizar e interpretar informações, fatos,
opiniões e argumentos em defesa de um ponto
de vista.
Para o formato da redação do ENEM, o seu texto será dividido em quatro parágrafos:
uma introdução, dois desenvolvimentos e uma conclusão. É muito importante que o
texto esteja dividido e organizado em parágrafos dessa forma para que a Competência 3
tenha sua pontuação máxima.
Da mesma forma que a terceira competência pede que o aluno selecione, relacione,
organize e interprete as informações, o estudante precisa mostrar ao corretor que todo
o corpo textual foi planejado e que toda a disposição textual esteja em consonância com
as ideias previamente montadas. Assim, é importante que o candidato monte na
introdução suas funções mais importantes de forma clara para que, por meio dos dois
parágrafos de desenvolvimento, a tese apresentada no início do texto seja comentada e
argumentada, fechando o ciclo com uma proposta de intervenção coerente com tudo o
que foi apresentado.
Além do mais, não basta utilizar citações ou argumentos de autoridade no texto. É preciso
explicar e relacionar minuciosamente as informações apresentadas com o tema,
evitando todos os desvios temáticos possíveis. Tome cuidado com as palavras-chave do
tema, pois elas direcionarão sobre o que você deve escrever em áreas bem específicas.
Dessa forma, caso queira conferir se seu texto está bem articulado, preste atenção na
relação de sentido entre as partes do texto, ou seja, veja se está coerente. Atender as
expectativas do leitor é muito importante, logo é fundamental abordar sobre tudo que
foi mencionado na sua tese, evitando possíveis frustrações e desvios temáticos. Enfim, o
mais importante é gerar uma compreensão geral do corpo textual, tomando os devidos
cuidados.
Portanto, segundo o Ministério da Educação, para que o aluno consiga os 200 pontos
nessa competência é fundamental que você:
Não há segredo na Competência 4: seu texto precisa estar conectado e articulado com o
uso correto das palavras. Para isso, é recomendado que a grande maioria dos períodos
e dos inícios de parágrafo (menos na introdução) estejam ligados por conectores, que
são preposições, pronomes relativos, conjunções e alguns advérbios e locuções
adverbiais.
Além disso, essa competência requer cuidado com repetições de palavras, incluindo os
conectivos citados acima. É muito importante que o aluno domine sinônimos e termos
semelhantes que possam mostrar ao corretor uma riqueza vocabular e relações lógicas
de raciocínio. Assim, a competência 4 está interligada à competência 1, visto que o
cuidado com palavras e termos também é avaliado, além de ser de extrema importância
a utilização de mecanismos linguísticos para a coerência de ideias.
Procure variar seu uso de elementos coesos intra e interparágrafos. Confira os principais
conectivos que você precisa saber:
PRIORIDADE, RELEVÂNCIA
Em primeiro lugar, primordialmente, antes de mais nada, sobretudo, acima de tudo,
primeiramente, precipuamente, principalmente, 'a priori'
TEMPO
Então, logo, imediatamente, enfim, a princípio, simultaneamente, hoje, atualmente,
frequentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, ocasionalmente, por vezes,
sempre, não raro, raramente, enquanto, quando, antes que, logo que
CONDIÇÃO, HIPÓTESE
Se, eventualmente, caso
RESSALVA, CONCESSIVA
Embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, posto, conquanto, por mais que,
ao passo que
ADIÇÃO, CONTINUAÇÃO
Por outro lado, também, e, nem, não só ... mas também, não só ... como também, não só
... bem como, outrossim, ainda mais
DÚVIDA
Talvez, provavelmente possivelmente, quiçá, quem sabe, não é certo, se é que
ILUSTRAÇÃO, ESCLARECIMENTO
Por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, aliás, ou seja
ADVERSATIVO
Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante;
CERTEZA, ÊNFASE
Indubitavelmente, certamente, por certo, de certo, sem dúvida
CAUSA E CONSEQUÊNCIA
Por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude
de, assim, de fato, com efeito, uma vez que, visto que, de tal forma que, haja vista,
portanto, logo
Para conseguir 200 pontos na competência 5, é necessário que o aluno se atente aos
elementos essenciais para escrever uma proposta de intervenção completa: agente,
ação, meio/modo, efeito e detalhamento. Na minha visão é uma das formas mais fáceis
de ganhar pontos na redação, até mesmo pelo formato padronizado que a conclusão se
torna. Caso sua preocupação seja com essa competência em específico, fique tranquilo,
pois há dicas passo a passo na sessão abaixo sobre os tópicos mais importantes da
conclusão, que garantem os últimos 200 pontos da redação.
1.2 - INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas dos alunos é como iniciar o texto do ENEM. A introdução é
vista como uma ‘recepção’ do estudante para o corretor, mostrando logo de cara se ele
está preparado, ou não, para receber uma boa nota. Como não há uma competência
específica para este parágrafo, como há no desenvolvimento com as competências 2 e 3
e na conclusão com a competência 5, eu recomendo que você não gaste muitas linhas
do seu texto logo de cara.
O que você vê: é recomendado que você mostre uma visão relacionada à
temática a princípio, com fatos ou comparações admissíveis. Sua principal função aqui
é contextualizar a proposta de forma simples e que possa ser entendida por qualquer
corretor. A evidência da relevância e da atualidade do tema é importante, até mesmo
para mostrar rapidamente como você está antenado sobre o assunto.
“Na década de 90, Cazuza e Renato Russo, renomados compositores no campo cultural da
época, morreram pela contaminação do vírus da AIDS. Contudo, mesmo com o acesso à
informação ampliado pelos recursos digitais nos dias atuais, a carência de abordagens sobre
o HIV no Brasil reflete em uma sociedade em retrocesso na questão da saúde humana e no
agravamento de contaminações deste vírus letal.”
Perceba que ao oferecer um comparativo entre a década de 90, quando houve o surto
da AIDS, com os dias atuais, há uma crítica implícita sobre a falta de cuidados com a
prevenção da disseminação do vírus. Com isso, essa introdução oferece ao corretor uma
ideia do que será abordado no texto, principalmente pelos recursos digitais e pelo
retrocesso na questão da saúde brasileira, cumprindo sua função de contextualização e
de tese propriamente dita.
“Publicada no final do século XIX, a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, retratou um dos amores do defunto autor, Nhã-Loló, morta ao contrair febre amarela.
Contudo, não distante dessa situação, a volta de surtos e mortes por infecções consideradas
erradicadas no Brasil tornou as manchetes na atualidade, provocados pela desinformação e
pelo descaso populacional, além da ausência de meios político-sociais interventores na
sociedade atual.”
Cecília Meireles, querida pela maioria do campo literário brasileiro, é uma solução
interessante para os alunos que precisam de ideias para temas relacionados ao tempo.
Seus poemas mostram a como o tempo é efêmero, ou seja, passageiro. Logo, relacionar
a vida moderna e a famosa “falta de tempo” do homem contemporâneo com as obras da
escritora pode ser uma ótima alternativa para iniciar um texto.
É possível concluir que, por ser um termo pouco conhecido, a abordagem inicial de
explicar a definição da palavra-chave, nomofobia, torna o texto ciente da novidade da
palavra e na contextualização direta do termo. Mesmo com outras formas de
contextualização sobre esse tema, como a comparação com séries de televisão ou livros
distópicos, a utilização dessa estratégia ainda é relevante e um diferencial para os alunos
que dominam a escrita padrão.
● Frases ou palavras nominais (ou flashes): essa estratégia pode ser uma das
mais interessantes caso seu objetivo seja inovar, porém tome cuidado. O efeito
pode ser extremamente positivo, mas se usado sem mediações e atenção, pode
gerar um efeito totalmente contrário ao corretor. Para utilizar as frases ou
palavras nominais, conhecidas como “flashes”, o aluno precisa relacionar termos
que estão diretamente ligados à temática, separados por pontos ou vírgulas, que
possam mostrar a abrangência e a importância do tema retratado.
“Álcool. Entorpecentes. Cafeína. Tabaco. Inseridas em nossa sociedade, substâncias que geram
dependência são, muitas vezes, facilmente encontradas e compradas por qualquer cidadão.
Assim, somos apresentados a uma perspectiva intimidadora, que precisa ser erradicada,
capaz de destruir laços familiares e corromper a saúde e a sanidade dos indivíduos no século
XXI.”
Nesse caso, por se tratar de dependência química de uma forma mais ampla, ao
mencionar por flashes os produtos que geram tal dependência, a introdução já
demonstra a relevância do tema com diversas fontes de vícios na sociedade brasileira,
desenvolvendo logo em seguida uma abordagem crítica e uma tese que demonstra
insatisfação e pensamento crítico do aluno sobre o assunto.
“Durante o movimento literário brasileiro das décadas de 20 e 30, Gilberto Freyre, autor da
obra Casa Grande & Senzala, exaltou o mito da democracia racial e cultural no Brasil,
concluindo o ideal miscigenado e unido das diferentes culturas. Contudo, no contexto
brasileiro atual, o evidente desleixo ético governamental e a desvalorização do
patrimônio cultural e histórico dos quilombos pela sociedade deixa claro o equívoco do
escritor e a urgência de medidas interventoras.”
Como mostrado na parte em negrito, a tese está dividida em dois eixos principais que
serão abordados, cada um em um parágrafo de desenvolvimento: o primeiro sobre o
governo e seu desleixo ético sobre os quilombos e o segundo sobre a própria sociedade
que desvaloriza o patrimônio cultural e histórico do país. Assim, com um planejamento
organizado e contextualizado, as funções da introdução são concluídas e ideais para
contribuir com a pontuação máxima da competência 3, que envolve a organização e
planejamento textual.
1.3 - DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento da redação do ENEM 2018 seguirá o padrão de dois parágrafos
estruturados de acordo com a tese apresentada na introdução. É importante seguir uma
série de cuidados pois essa é a parte mais importante do texto e é preciso cuidado para
não torná-lo expositivo ou insuficiente. Assim, irei dividir o desenvolvimento de cada
parágrafo em três partes: tópico frasal, argumentação e finalização.
Atenção: caso seu interesse seja com repertórios argumentativos para a redação,
separei uma vasta lista de recursos literários, filosóficos, sociológicos e muito mais nas
próximas páginas.
- É importante considerar;
- É essencial ressaltar;
- É válido perceber;
- É fundamental analisar;
- É pertinente avaliar;
- É preciso apontar;
“Em primeiro lugar, é importante analisar o posicionamento do Estado sobre esse paradigma.
[...]” (desenvolvimento 1)
“Ademais, convém ressaltar o dilema cultural que fortalece a violação de direitos indígenas.
[...]” (desenvolvimento 2)
Não é necessário criar combinações diferentes para cada redação que fizer, basta
encontrar um estilo de tópico frasal ideal para seu estilo de texto e, com o tempo, você
desenvolverá seu próprio “modelo”.
“[...] Da mesma maneira, obras literárias como "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, denunciam
tais precariedades de moradias, que acontecem até nos dias atuais. [...]”
Há outras opções, contudo acredito que você pode desfrutar muito bem das
possibilidades oferecidas acima. Logo, é importante lembrar que o parágrafo deve iniciar
com uma dessas conjunções, além de utilizar outra sinalização de conclusão no final do
texto facultativamente.
“Portanto, fica evidente que os transtornos ético e social causados por essa problemática
precisam ser sanados.”
Perceba que “portanto” pode ser facilmente substituído por “logo” ou “dessa forma”,
ambos com a mesma finalidade textual.
“[...] de maneira a prevenir conflitos futuros, para que, enfim, os direitos resguardados sejam
respeitados.”
Caso prefira também, é possível utilizar na última sentença do texto termos que possam
evidenciar mais uma vez o término, como o advérbio “enfim” ou “finalmente”, “por fim”
ou “afinal”. Não há nenhuma regra que exija essa última evidência de finalização do texto,
porém é sempre bem vinda caso possua linhas sobrando no final.
Como a tese apresentada retratou sobre os transtornos ético e cultural causados pela
problemática do tema proposto, uma síntese da mesma no primeiro período da
conclusão é o suficiente para que esse requisito seja completado.
● Agente (1): o agente é quem irá executar a ação. É importante lembrar que
existem diversos eixos que poderão ser utilizados como agentes, o que inclui o
próprio governo, a mídia, as ONGs (como S.O.S. Mata Atlântica e Viva Rio), as
escolas e as instituições de ensino, as famílias e a própria sociedade, com
mobilizações sociais e afins. Não é recomendado o uso de termos genéricos,
então especifique e mostre ao corretor sua abrangência de conhecimento em
várias áreas.
Uma das formas mais utilizadas e recomendadas para agentes interventores é aproveitar
os Ministérios específicos existentes no Brasil para que o poder executivo realize
mudanças de parâmetros nacionais. Eles normalmente são utilizados como
detalhamento (5) do agente “Estado”, então, com isso, é possível atingir 2 dos 5
elementos válidos rapidamente.
Por exemplo, se o tema aborda algum problema de saúde grave, como o combate de
endemias no Brasil, o aluno pode utilizar o Estado como agente, detalhando-o como
Ministério da Saúde, e sugerindo ampliações de projetos de saneamento básico na
grande conjuntura de estruturas urbanas do país ou divulgação de campanhas
governamentais informativas sobre os riscos e os perigos que devem ser evitados.
Por outro lado, caso o tema seja sobre aspectos sociais, é interessante envolver a mídia
no texto, até mesmo sugerindo a criação de ficções engajadas, como novelas, filmes e
séries, que possam denunciar e alertar a própria população sobre diversas
problemáticas.
É interessante que o aluno tenha conhecimento sobre os meios ativos que os agentes
utilizados podem atuar, então vale a pena pesquisar um pouco mais sobre cada um
deles. Por exemplo, é possível que o próprio Estado conclua ações de âmbito nacional,
porém se o aluno oferecer parcerias por intermédio de ONGs sociais que possam auxiliar
ativamente em um problema hipotético, o corretor perceberá a correlação de ideias e a
consciência de diversos eixos conhecidos por quem escreveu a proposta.
● Efeito (4): como no modo/meio, recomendo que o efeito seja especificado por
termos específicos, como “com a finalidade de”, “a fim de”, “para que”, “com o
objetivo de”, “com o propósito de” e “com o intuito de”. Para o elemento de efeito,
basta reforçar para o corretor quais resultados você espera das ações propostas,
sempre de forma clara e objetiva.
“Portanto, fica evidente que a sociedade enfrenta deslocamentos morais midiáticos e uma
desestruturação da liberdade no campo digital. Em vista disso, o Estado (1), na figura do
Ministério da Ciência e da Tecnologia (5), deve investir em mecanismos fiscalizadores no
campo tecnológico (2), por meio de parcerias com centros universitários de informática
especializada para o desenvolvimento de programas capazes de denunciar algoritmos
de manipulação (3), a fim de erradicar as interferências destrutivas no controle de
dados (4) - uma vez que há uma clara dependência informacional (5) [...]”
Agentes nulos:
● Alguém, ninguém, alguns, uns, você;
● Nós, alguns de nós, todos nós, a gente;
● Advocacia-Geral da União;
● Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
● Banco Central;
● Casa Civil;
● Cidades;
● Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações;
● Cultura;
● Defesa;
● Desenvolvimento Social e Agrário;
● Direitos Humanos;
● Educação;
● Esporte;
● Fazenda e Previdência Social;
● Gabinete de Segurança Institucional;
● Indústria, Comércio Exterior e Serviços;
● Verbo no imperativo (desde que não haja vocativo).
Ações nulas:
● É/faz-se necessário (ter/tomar) consciência;
● É importante se conscientizar;
● Precisam pôr a mão na consciência;
● Precisa conscientizar as pessoas;
● Temos que prestar atenção;
● É preciso ficar atento;
● É preciso ter mais tolerância ou não julgar;
● Precisam amar/respeitar o próximo/ se tornar pessoas melhores;
● Deve-se viver em harmonia;
● Deve-se adotar uma postura sem preconceitos;
● Dar o primeiro passo;
● Medidas devem ser tomadas;
REPERTÓRIOS
PRODUTIVOS
ENEM 2021
ATUALIDADES
FILOSOFIA
LITERATURA
SOCIOLOGIA
OBRAS QUE VOCÊ
PODE GOSTAR
Trabalhar com Redação é exercitar a criatividade em pontos extremamente relevantes e
conseguir inserir ideias de diversas áreas do conhecimento para chegar a um texto coerente
e que agrade a banca que definirá se você será aprovado ou não na Universidade.
Com isso, aproveitei o tempo "livre" da pandemia para ajudá-los ainda mais e trazer mais
conteúdo para quem ainda se sente inseguro com a quantidade de repertórios a serem
utilizados.
Para começar esta parte do material, nada mais justo que apresentar algumas obras
literárias que valem a pena serem aprofundadas, pois podem servir como coringas para
inúmeros temas. Em seguida, os repertórios produtivos de Filosofia, Sociologia e Atualidades
darão sequência para completar os principais autores que julgo necessários para a
construção de um texto coeso e eficaz.
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO -
ALDOUS HUXLEY
Escrito em 1932 por Aldous Huxley, quase há 90 anos, Admirável Mundo Novo se aperfeiçoa
automaticamente com o tempo, como vinho, pela forma que a sociedade caminha para
características muito semelhantes à obra com o passar do tempo. Com relações parecidas
com 1984, de George Orwell, essa distopia mostra a contemporaneidade e os desafios do
futuro do Ser Humano.
Nesse universo hipotético, com muitos elementos que podemos identificar atualmente, os
cidadãos eram condicionados a ter pensamentos controlados de acordo com sua casta.
Exatamente sobre tudo, eles desenvolviam uma consciência sobre como agir e o que
deveriam ser, com uma construção interior de determinismo social, que muitas vezes pode
ser associado a uma série de aspectos no Brasil, como as ideias de que a religião ou a sua
família de origem determinam o que você deve seguir no futuro.
Com tudo isso indo contra a ideia de livre-arbítrio de Sartre, a produção “industrial” de seres
humanos é uma forte crítica que se aplica a muitos acontecimentos atuais, como a
massificação do mercado de trabalho e o direcionamento da própria sociedade para que
uma pessoa seja “bem sucedida”. Uma sociedade que seja tão obcecada por estabilidade,
talvez, esteja prestes a desmoronar, como Huxley nos alerta, com enfoque importantíssimo
nas manipulações da mídia.
É pessimista, porém é uma advertência bastante intrigante e que vale a pena ser discutida
em temas que também mostram a tecnologia e a disseminação de informações do nosso
lado, com a válida pergunta: até que ponto?
A GAIA CIÊNCIA – FRIEDRICH NIETZSCHE
Por ser um dos livros mais complexos da lista, eu citarei A Gaia Ciência, de Friedrich
Nietzsche, como um embasamento 'coringa' para temas que você não tenha familiaridade e
deseja encaixar alguma forma de alusão interessante e original no seu texto. Esse é o último
trabalho da fase positiva do autor, com vários temas explorados.
"O egoísmo é a lei da perspectiva aplicada aos sentimentos: o que está mais próximo parece-nos
maior e mais pesado e, à medida que nos afastamos, o seu tamanho e peso diminuem."
Acredito que essa frase sobre egoísmo seria uma das mais interessantes para serem
utilizadas, ou ao menos para serem lembradas para parafrasear em casos do tipo. É difícil
não lembrar das instituições sociais, como as famílias, Estado, escolas e centros religiosos,
quando esse assunto é abordado.
Como o ENEM exige que o aluno crie problematizações no desenvolvimento, nada melhor
que interpretar essa afirmação de A Gaia Ciência e mostrar que a forma egoísta de
administração e realização de feitos por parte da sociedade é voltada, quase sempre, para o
que está mais próximo e não enxerga as dificuldades das mazelas sociais afastadas. Estar
por dentro das variadas situações enfrentadas seria o ideal para gerar o sentimento de
empatia e idealização do que deve ser feito com o próximo.
"O que é ser livre? É não termos vergonha de sermos quem somos."
Para temas que apontam os problemas discriminatórios das minorias sociais, teria forma
mais interessante de impressionar o corretor que mostrando a ele a ideia de liberdade para
Nietzsche? Que tal relacionar essa ideia com o direito à liberdade defendido na Constituição
Federal e dar ainda mais voz para seu argumento produtivo? São observações pontuais e
extremamente válidas para qualquer estudante que vá realizar o exame este ano.
A METAMORFOSE - FRANZ KAFKA
“…em uma certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama,
metamorfoseado num monstruoso inseto”.
Um dos meus favoritos dessa lista, A Metamorfose foi por muitos anos uma das obras
obrigatórias do vestibular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e um dos mais
profundamente analisados pela banca que faz as questões de literatura do exame. Isso tudo
vai muito mais além de um personagem se transformar em um “inseto”.
Esse inseto pode ser interpretado como uma metáfora para a condição humana e para os
dramas psíquicos da sociedade. O reflexo de Gregor Samsa é basicamente a intolerância à
quebra de padrões sociais. Tal “inseto”, associado a uma falta de movimento e fala, além do
incômodo causado, descreve uma forma externa de como, interiormente, a personagem
sente vergonha e desprezo por si por não se comportar como deveria perante a sociedade.
A família de Gregor, antes do “acidente”, tinha uma ótima relação com ele, até mesmo por
ele viver financeiramente bem e sustentar os outros membros da casa, e, após a
transfiguração do mesmo, transformaram tudo em um sentimento de pena, desprezo e até
raiva. Tem alusões muito possíveis para serem interpretadas nesse caso. Casos de
trabalhadores que sofrem acidentes de trabalho ou descobrem doenças graves e são
afastados muitas vezes podem ser associados à metáfora do tal inseto que, perante a
sociedade, não produz e, portanto, não seria teoricamente útil.
É importante lembrar que essa crítica leva diretamente a uma crise do 1° artigo da
Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU de 1948: “Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir
uns para com os outros em espírito e fraternidade”. Essa ideia trabalhada de “quão humano”
podemos ser em uma sociedade capitalista e que visa a produtividade e a normatividade é
excelente para ser trabalhada em inúmeros temas que exibem desigualdades estruturais de
diversos nichos da sociedade que não se sobressaem, seja pela influência negativa do
Estado ou qualquer outro fator, biológico ou não.
Há muito o que dizer sobre Capitães de Areia, romance de 1937 do autor Jorge Amado,
quando o assunto é “qual repertório de literatura posso colocar na minha redação”. Há
críticas e pontuações políticas, sociais, religiosas e metafóricas sobre muitos assuntos que
ainda cercam a sociedade atualmente, então vale a pena investir seu tempo em busca de
mais conhecimento sobre esse livro.
Jorge Amado mostra, logo no início da obra, matérias jornalísticas sobre o grupo de
meninos, contrastando dois pontos de vista sobre as personagens e apontando, logo de
cara, o lado ficcional que pode ser descrito em reportagens. Isso é um ponto bastante
interessante quando é necessário bagagem para lidar com a veracidade de informações
divulgadas pela mídia ou o papel da mídia na sociedade, dois temas fortes para redação.
As notícias veiculadas por tal mídia muitas vezes atendem aos interesses das classes mais
ricas, o que ainda acontece nos dias de hoje, repletas de mentiras que descaracterizam os
fatos dos ‘Capitães de Areia’, uma interessante alusão às 'fake news' dos dias atuais.
Tais crianças abandonadas carregam muitas críticas ainda nessa segunda fase do
modernismo brasileiro, com claros comentários reflexivos do narrador que podem
contextualizar inúmeros assuntos sobre a dignidade infantil e como a Constituição não é, na
prática, efetivada em muitos casos. Um dos melhores exemplos é do personagem Sem-
Pernas, que é o mais ‘durão’ do grupo, mas que, na realidade, é o que mais carece de
atenção de uma família ou até mesmo do Estado, já que não é assistido. É válida a reflexão
de que talvez toda essa situação de se tornarem marginais não seja atribuída a culpa aos
sujeitos, mas em tudo que foi construído ao redor dos mesmos.
Esse ‘motor da violência’ serve como uma excelente alusão literária em uma redação. Jorge
Amado é extremamente reconhecido e, sem dúvidas, agregará muito ao seu texto,
principalmente se você desenvolver ideias que demonstrem o conhecimento sobre o
romance, como as lutas sociais presentes na narrativa, todas em busca de uma sensação
justa de equidade na nação brasileira.
CEM ANOS DE SOLIDÃO - GABRIEL
GARCÍA MÁRQUEZ
Escrito por Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão é atualmente considerada uma das
obras mais importantes da literatura latino-americana. Uma das obras mais lidas e
traduzidas do mundo, ela narra uma história em uma cidade fictícia chamada Macondo e a
queda/ascensão da família Buendía, seus fundadores.
Um clássico que muitas vezes não é abordado nas salas de aula, essa produção literária tem
críticas e alusões à própria cultura e comportamento latino-americano em diversos fatores.
Conflitos entre ideologias políticas estão, sim, presentes na obra, como vemos atualmente (o
que pode ser uma forma de alusão caso encontre um tema similar), mas também há muito o
que se discutir sobre o nosso comportamento diante diversos problemas que nos rodeiam
e, muitas vezes, não ligamos.
O romance Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury, retrata uma distopia em que os
bombeiros possuem a função básica de incinerar livros, com um forte combate ao
pensamento crítico e à autonomia dos indivíduos da obra. Há uma crítica social pesada no
que tange ao autoritarismo e ao bloqueio do conhecimento democratizado para a
população.
Claramente é possível inferir críticas e metáforas com diversas ações no contexto atual,
principalmente no âmbito educacional. Como seria essa incineração de livros fora da
distopia do livro? A péssima educação pública, a difícil democratização do acesso à
informação ou a ignorância governamental para projetos sociais? Quem sabe os três.
A visão crítica do aluno é muito importante nesse caso, visto que pode ser encaixada em
vários temas, tanto na introdução quanto nos desenvolvimentos da dissertação.
É possível encontrar uma clara referência à Indústria Cultural estudada pelos filósofos da
escola de Frankfurt, como Adorno (caso queira saber mais, no eBook completo há um tópico
específico para ele), visto que até as telas interativas ilustram isso. Às vezes a dificuldade de
distanciar o mundo real do virtual pode ser encontrada em alguns indivíduos, o que é uma
mensagem importante e relevante para o século XXI.
Além do mais, a sensação de impotência, mesmo com o desejo por mudanças na sociedade,
é outro fator que conecta a obra Fahrenheit 451 à realidade brasileira, o que é mais um
prato cheio para diversos temas, principalmente em um contexto de povo “cego” pela falta
de acesso ao conhecimento e à educação.
EICHMANN EM JERUSALÉM: "UM
RELATO SOBRE A BANALIDADE DO
MAL" - HANNAH ARENDT
Uma autoridade da área da saúde reconhecida em todo o país, Drauzio Varella escreveu o
best-seller Estação Carandiru baseado em seus relatos vividos a partir de 1989 na Casa de
Detenção de São Paulo, onde ele exerceu sua atuação médica em um ambiente não muito
comum, mas que tratava de exaltar a humanidade acima de tudo, assim como é jurado por
sua profissão.
Sua obra relata também sobre a prevenção de AIDS com tais cidadãos, uma forma
interessante de iniciar um texto sobre IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis), até
mesmo porque a atenção primária é muito falha em diversos contextos, sendo a realidade
prisional um dos mais prejudicados por diversos fatores – que precisam ser discutidos em
temas do tipo.
Ao tratar pessoas caso a caso, até mesmo em tais péssimas condições, é possível perceber
na obra como a individualidade e o sentimento de pertencimento são importantes na
construção social e como isso deveria ser abordado de forma séria na sociedade. Em
síntese, Estação Carandiru é um prato cheio para temas que abordam a desumanização de
mazelas sociais e as implicações da precariedade do sistema prisional brasileiro, que ainda
não foram solicitados diretamente pela banca do ENEM.
Acho válido mencionar também que o filme 'Carandiru: O Filme' é uma figuração
cinematográfica dos relatos na Casa de Detenção de São Paulo que pode contribuir para a
construção de uma visão crítica e a elaboração de ideias que podem ser descritas nos textos
convenientes a essa temática. Tal chacina que ocorreu na década de 90 no Brasil é
extremamente importante não apenas para redação, mas também para a prova de Ciências
Humanas e suas Tecnologias.
EXTRAORDINÁRIO - RAQUEL
JARAMILLO
A princípio é impossível não identificar o assunto preconceito na obra. A forma como Auggie
é tratado pela grande maioria dos colegas quando é inserido no contexto escolar é de partir
o coração, o que gera questionamentos sobre o que poderia de fato ser feito nesse caso
para atenuar uma problemática tão enraizada na cultura de sempre “julgar o diferente”.
Com isso, a autoaceitação é um processo gradual e o livro mostra isso com a simplicidade de
uma criança que vê muita ingenuidade ao seu redor.
Citar a obra de Raquel Jaramillo em temas que retratam o Bullying ou o Cyberbullying como
problemas pertinentes na sociedade pode ser uma forma literalmente extraordinária de
contextualizar o texto e mostrar ao corretor o seu conhecimento de mundo, com uma
bagagem ciente de que há preconceito no ambiente escolar de diversas formas e que várias
instituições, incluindo as famílias e as escolas, devem promover mobilizações a fim de sanar
casos do tipo.
Outro ponto que pode ser utilizado como uma interessante comparação é o ramo do direito,
mais especificamente sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Essa Lei Federal
foi promulgada em 1990 no Brasil e estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e, o mais
importante, à liberdade.
A clássica obra de Shakespeare, Hamlet, pode também ser utilizada na sua redação como
repertório produtivo positivamente. Esse personagem é muitas vezes analisado pelas
características filosóficas, principalmente pelo relativismo, existencialismo e ceticismo. Essas
três correntes de pensamento possuem diferentes desenvolvimentos, mas que podem
também ser utilizados em várias contextualizações diferentes.
“Nada é bom ou mau, a não ser por força do pensamento”. O relativismo encontrado nessa
frase de Hamlet pode ser interpretado que, a depender da mente do indivíduo, algo pode
ser ou não mau. Tudo isso remete muito à ideia sofista grega, que há uma percepção clara
de que a verdade absoluta não existe, apenas uma verdade relativa sobre todas as coisas, o
que pode ser muito interessante para justificar vários temas-chave que envolvem perguntas
traiçoeiras.
“Isso ou aquilo?”. Em temas que nenhum dos dois extremos estão corretos, mas, sim, uma
relatividade de cada caso, são alvos interessantes para utilizar essa obra. É uma forma
bastante inteligente de fugir de posicionamentos polêmicos e com falhas.
Além disso, é muito interessante em temas como a descrença com a política brasileira o
aluno citar o ceticismo e suas correntes de pensamento. Hamlet é considerado por muitos
estudiosos “O Príncipe Cético”, que refletiu a forma contemporânea prevalecida durante o
Humanismo Renascentista.
Escritor gaúcho, Érico Veríssimo produziu em 1971 a obra Incidente em Antares baseada em
uma cidade imaginada, sem alguma correspondência com a realidade. É importante
reconhecer que essa obra foi publicada durante a ditadura militar, o que, implicitamente,
possui críticas à política brasileira da época.
A obra mostra uma quebra de rotina gerada por uma greve geral na cidade da obra, em que
a cidade parou após operários, enfermeiros, coveiros e muitos outros trabalhadores
pararem de trabalhar. Como era impossível enterrar alguns cadáveres que faleceram nesse
período, eles se levantaram de seus caixões e começaram a andar pela cidade. Bizarro, não?
A violência doméstica é evidente com a personagem Natalina, que suporta por muitos anos
o vício de Pudim de Cachaça, seu marido. Além disso, a fama inalcançável para Menandro,
pianista, resulta em outra forma de violência, contra si próprio. Cansado da solidão e dos
esforços em vão para tocar a ‘Appassionata’, ele tem um surto de raiva e desiste da vida –
uma alusão variada para utilizar em temas que envolvem os problemas resultantes do
suicídio na sociedade
O MENINO DO PIJAMA LISTRADO - JOHN
BOYNE
Aposto que você já ouviu falar da obra O Menino do Pijama Listrado, de John Boyne, que foi
adaptada também para os cinemas. Uma história que envolve duas crianças na época do
nazismo na Alemanha e que já emocionou milhões de espectadores. Abordar o livro de John
Boyne na redação envolve reflexões sobre a ingenuidade humana da infância, que é
evidente na obra.
O filme faz uma forte crítica sobre a ignorância humana, apresentando crianças, sem
preconceito e sem opinião formada, simplesmente se misturando pelo prazer e pela
companhia de outra pessoa. Talvez a ideia de Rousseau que a sociedade corrompe o
homem esteja bem mais forte em histórias assim, até mesmo pelo envolvimento humano
com tantas culturas e ilusões. Isso tudo nos tornam intolerantes, irracionais e maldosos
muitas vezes com discriminações banalizadas na sociedade.
O MUNDO DE SOFIA – JOSTEIN GAARDER
De Jostein, Gaarder, O Mundo de Sofia narra a história de uma menina, Sofia Amundsen,
prestes a completar 15 anos, que recebe um curioso curso de filosofia por cartas. Nessa
história em que Sofia tenta entender o que está acontecendo e passa por esse ‘curso’ de
filosofia, ela se aprofunda em questionamentos e reflexões sobre todo esse processo,
mostrando a importância da filosofia para nosso mundo e como evoluiu os
questionamentos ao longo dos séculos.
Por mais que não haja formas tão diretas de contextualizar a obra na redação, é uma obra
que serve didaticamente para aprender um pouco mais sobre diversos filósofos que
percorreram a história da humanidade e, compreendendo melhor, conseguir utiliza-los de
forma mais embasada, caso você tenha tempo livre para isso. Despertar a consciência para o
mundo ao redor, utilizando uma linguagem simples e envolvente pode ser uma ótima forma
de aprender uma matéria que é, muitas vezes, deixada de lado.
POR QUE A VOZ IMPORTA? - NICK
COULDRY
A sociedade neoliberal tem uma clara tendência a silenciar tal ‘voz’ dos grupos menos
favorecidos, que são muitas vezes privados dos meios de comunicação. Então, essa oferta
de voz é essencial para a legitimidade das democracias modernas, o que é muito mais
ampliado pelos lados econômico e cultural atualmente. Entretanto, Couldry afirma que
temos fomentado usos que favorecem modos de organizar a vida cotidiana de maneiras que
ignoram a voz e que assumem que ela não importa.
Então, para a construção de argumentações produtivas na redação, ‘Por que a voz importa?’
critica uma clara falta de voz do povo, que muitas vezes é apenas ilusória, e corrobora a
construção de espaços e de situações sociais relevantes apenas para as elites, o que seria
uma forma indireta de excluir e silenciar os grupos periféricos, como acontece na falta de
acesso a atividades culturais pela localização e pelos preços elevados.
Essa contextualização da ‘voz’ pode ser inserida em diversos paradigmas, até mesmo no
âmbito político com o gerenciamento do funcionamento do mercado, o que pode se tornar
um argumento ‘coringa’ para diversos temas inesperados.
SAPIENS: HISTÓRIA BREVE DA
HUMANIDADE - YUVAL HARARI
A obra aborda literalmente a história da humanidade desde a evolução arcaica até o século
XXI com o principal argumento de que o Homo sapiens domina o mundo porque é o único
animal capaz de cooperar de forma flexível em uma escala ampla, além de ser a única
espécie capaz de acreditar em elementos não existentes na natureza, frutos da imaginação.
Acreditar em deuses, dinheiro e direitos. Tudo isso corrobora a cooperação humana e
desenvolve estruturas capazes de construir uma sociedade.
Já percebeu como isso é uma forma de contextualização gigante para justificar os interesses
humanos inerentes de uma sociedade capitalista ou igualitária? Um dos pontos mais críticos
da obra é sobre o próprio dinheiro.
Harari afirma que o dinheiro é um sistema de confiança mútua, sendo que o capitalismo é
tratado como uma ‘religião’ e não apenas uma teoria econômica. O dinheiro, elemento não
existente na natureza, move grupos de pessoas em todo o mundo e é isso que tal sistema
quer deixar claro para a humanidade há tempos.
A forma que a obra aborda implica que as pessoas, atualmente, passam por um processo de
“modernização de seus deuses”, que há diversas interpretações para tal. Vale a pena
pesquisar um pouco mais sobre as três Revoluções existentes na obra, o que mostra
inclusive quando o ser humano se tornou livre de limitações biológicas (Cognitiva) e quando
houve a organização devido à escassez de alimentos (Agrícola), por exemplo, o que também
é uma forma interessante de contextualização produtiva em textos que falam sobre a
sustentabilidade e agricultura.
Em resumo, há várias interpretações para a obra e vale a pena pesquisar diferentes visões
do mesmo para que você tenha um forte candidato a repertório coringa para sua próxima
redação de vestibular.
REPERTÓRIOS PRODUTIVOS -
FILOSOFIA
Aristóteles
Sim, Aristóteles possui várias vertentes interessantes para se utilizar na redação,
incluindo a ideia de virtude, porém comentarei apenas a ideia de democracia para o
filósofo, uma vez que foi a que mais utilizei nos meus textos. Democracia para Aristóteles
remete à ideia de equidade, ou seja, de oferecer a cada um o que é devido.
Para que a democracia seja alcançada, é preciso tratar igualmente os iguais, perante as
ideias democráticas de acessibilidade e de alcance às oportunidades, e desigualmente os
desiguais, na medida da desigualdade de cada um. Por exemplo, se há surdos em nossa
sociedade e há um desequilíbrio na igualdade democrática, o Estado precisa tratá-los
desigualmente, a fim de favorecê-los ao ponto de extinguir as desigualdades existentes,
por meio de ações afirmativas ou suportes nas mais diferentes vertentes sociais. Dessa
maneira é possível demonstrar a ideia de Aristóteles em vários aspectos sociais,
indispensável para textos mais complexos e que exigem uma visão crítica do estudante.
Confira um exemplo:
Para tanto, tais ambições muitas vezes são voltadas para a contemplação dos prazeres
humanos, o que pode se tornar um estilo hedonista de vida, além dos riscos existentes
quando não há um controle sobre tais desejos. Confira um exemplo de como esse dilema
existencial pode ser utilizado na redação:
“Em primeiro lugar, é fundamental analisar esse dilema da psicologia humana. Nesse viés,
consoante o pensador moderno Arthur Schopenhauer, a humanidade é provida pelos desejos
e pelas ambições, corroborando atitudes hedonistas, ou seja, que priorizam o prazer em
detrimento da racionalidade, que alcançam patamares prejudiciais. Dessa forma, com o
desequilíbrio racional da sociedade atual, o pânico social sobre o enfrentamento da vida
urbana conduz às fugas mentais que, sem o auxílio profissional, resultam na estigmatização
de vícios dos mais diversos tipos. Com isso, ausente de intervenções, o Brasil possui, para o
Levantamento Nacional de Álcool e de Drogas, mais de 15% da população como consumidoras
excessivas de bebidas alcoólicas.”
Friedrich Nietzsche
Para o polêmico filósofo prussiano, Friendrich Nietzsche, é possível utilizar duas ideias
interessantes na redação: o espírito apolíneo/dionisíaco e a genealogia da moral. É um
nome difícil de decorar como se escreve, porém digo também que é indispensável para
temas em que o aluno possui dúvidas sobre quais referências interdisciplinares usar.
A ética para Kant possui uma sustentação à base deontológica do homem, ou seja, em
que há uma tendência humana de perseguir o prazer e fugir das dores que resultarão
das ações consideradas éticas. Dessa forma, a ética kantiana deve ser baseada na razão,
ao contrário de perseguir a felicidade ou se atentar às emoções.
Com isso, para que o ser humano seja ético, segundo o autor, ele deverá seguir leis
morais internas que ratificarão se tal ação é coerente. É uma ideia interessante, porém
bem complicada de ser seguida por qualquer pessoa, além de ser bem embasada para
criticar movimentos preconceituosos e negligências governamentais. Assim, Kant explica
a ética de forma didática com três Imperativos:
● Imperativo Categórico: para que a pessoa esteja de acordo com esse imperativo,
ela deverá avaliar todas as suas ações e colocar a humanidade em seu lugar: “é
isso que eu espero da humanidade?”. Caso haja dúvidas sobre as atitudes, a
orientação é que não faça. Parece bem complicado, mas no final das contas faz
sentido. Por exemplo, se um político pensa em roubar o dinheiro público, ele
deverá questionar se tal ação é o que ele espera da humanidade. A princípio é
uma resposta bem óbvia.
● Imperativo Universal: já esse imperativo é interessante para quem gosta de
aplicar palavras de ódio contra grupos sociais ou utilizar classificações
generalistas. Para o Imperativo Universal, tudo que você fizer tem que se tornar
lei universal da natureza, ou seja, não pode haver exceções em nada que você diz
ou propaga. Por exemplo, ao afirmar que bandido bom é bandido morto, Kant
aponta que é importante questionar se tal mensagem se aplica até mesmo a sua
família e a todas as pessoas que você ama — tornando-se mais complicado do
que parece.
● Imperativo Prático: o terceiro imperativo é um pouco mais aplicado às relações
sociais, podendo ser explorado também em vários temas. É importante nunca
utilizar a figura ou a presença de alguém como meio, mas sempre como um fim
em si mesmo. Por exemplo, para Kant, você não pode convidar alguém para viajar
contigo só porque você não quer viajar sozinho, pois isso seria utilizar alguém
como algo suplente da sua finalidade, sendo totalmente contrário à ética do
filósofo.
Por mais que os exemplos pareçam generalistas, o ideal ético de Kant pode ser utilizado
em inúmeros temas. O Imperativo Categórico pode ser utilizado para criticar
coerentemente as grandes instituições do Brasil e do mundo, além de questionar a
própria sociedade sobre a coerência das ações realizadas na atualidade. É uma das
formas mais comuns para abordar a ética em seu texto argumentativo, portanto não se
esqueça das ideias levantadas pelo filósofo.
Já o Imperativo Prático pode ser absorvido em temas sobre relações interpessoais, mais
com pegadas de exames como a Fuvest e a Unicamp. Para tanto, temas sobre as
complexidades das relações amorosas ou familiares no século XXI, é possível utilizar a
ética kantiana como uma das bases da argumentação, até mesmo por se tratar de
relações egoístas e inspiradas em aproveitamentos materiais por muitas vezes.
Jean Paul Sartre
Existo, logo penso. Para o filósofo francês, a existência precede a essência e todo ser
humano é livre para ser o que ele quiser. Pode parecer bom demais para ser verdade,
mas há um grande porém: a liberdade é angustiante. Essa condenação de Sartre parte
da ideia existencialista de que o indivíduo se descobre livre e que ele é responsável por
absolutamente todas as suas ações. Ou seja, você é inteiramente responsável por tudo
que acontece na sua vida e é preciso escolher o tempo todo.
Quando há uma tentativa de culpabilizar acontecimentos com outros sujeitos, Sartre diz
que o indivíduo se comporta de má fé, visto que ele tenta aliviar o “peso” da liberdade, a
fim de não admitir que tudo parte das escolhas próprias. Assim, é possível correlacionar
tais ideias existencialistas com temáticas sobre grandes patamares do corpo social, uma
vez que há em todos nós a responsabilidade de escolher a melhor opção para que seja
bom para todos, além dessa liberdade, fundamental nessa filosofia, carregar para os
indivíduos toda a culpa.
O utilitarismo é uma doutrina ética defendida pelo autor e por John Stuart Mill, que
afirmavam que as ações são boas quando tendem a promover a felicidade e más quando
tendem a promover o oposto da felicidade. Dessa forma, esse pragmatismo mostra que as
consequências determinam a finalidade de uma ação, ou seja, os autores não se preocupam
com o modo como as ações foram praticadas, como Kant faz, representando outra
perspectiva do que é, de fato, ser ético.
Assim, Bentham defende o utilitarismo quantitativo, que se preocupa com o resultado e com
o bem estar gerado para a maior quantidade possível de indivíduos com as ações efetivadas.
Representar esse tipo de vertente ética é ideal em uma redação no modelo do ENEM, visto
que sempre há um problema no tema proposto, que está gerando insatisfações ou
desagrados no final. Com isso, é possível criticar, mostrando uma contrariedade à ética de
Jeremy Bentham, as instituições responsáveis pelas problemáticas apresentadas. Veja um
exemplo:
"Em primeiro lugar, é importante analisar o posicionamento do Estado sobre esse paradigma.
Nesse viés, consoante o utilitarismo quantitativo de Jeremy Bentham, filósofo iluminista, o
movimento ético possui caráter pluralista, ou seja, é legitimado quando há ações que beneficiam
a maior quantidade possível de indivíduos. Entretanto, na conjuntura nacional atual, o governo
demonstra um grande desleixo com a grande comunidade indígena, visto que há uma considerável
quantidade de índios injustiçados socialmente e as organizações de proteção, como a Fundação
Nacional do Índio, são negligenciadas, consolidando uma marca, para o autor, antiética e
irresponsável perante as possibilidades assistencialistas.”
John Rawls
John Rawls é um dos filósofos contemporâneos mais influentes e ideal para discussão de
temas políticos em redações. Professor de filosofia política na Universidade de Harvard,
o americano aborda a justiça e o liberalismo igualitário, sendo o primeiro classificado
como a primeira virtude das instituições sociais — também se relacionando com
contratos sociais.
Para Rawls, a justiça deve garantir o acesso de todos e redistribuir onde for necessário, a
fim de garantir a liberdade e a igualdade com o fortalecimento das instituições
democráticas. Assim, se não houver uma equidade de acesso às leis, ao debate público
e à representatividade, nunca haverá uma sociedade justa, principalmente se
analisarmos a exclusão de minorias sociais e a extrema pobreza notável no país.
Além disso, Rawls afirma que devemos parar de julgar pelo bem e pelo mal, devendo,
portanto, começar a julgar pelo justo, pelo equitativo e pela representatividade das
pessoas. Sua característica inegável é a gigantesca confiança no liberalismo, porém não
é com essa informação que utilizaremos o filósofo americano. Assim, caso você encontre
temas que abordam a representatividade social que podem ferir a democracia na visão
de Rawls, o autor é uma ótima opção para julgar as atitudes do Estado democrático de
direito, visto que encontramos muitas situações que carecem de representatividade e de
equidade, até mesmo em situações graves, como o descaso governamental sobre a
situação dos moradores de rua.
Michel Foucault
Filósofo, historiador das ideias, teórico social e crítico literário, Michel Foucault
desenvolveu teorias sobre as relações entre poder e conhecimento, responsáveis pela
manipulação e pelo controle social por meio das instituições sociais. A sua obra,
Microfísica do Poder, analisa justamente como a família, a igreja, as instituições de ensino
e o próprio Estado trabalham com essa relação de poder, conquistando os indivíduos
pelas relações abusivas e muitas vezes sutis, como a alienação parental, que é discutida
no tema abaixo:
Além disso, obras como a História da Sexualidade e Vigiar e Punir são interessantes para
discutir temas específicos e mostram ao corretor seu conhecimento em várias áreas.
Vigiar e Punir vale ser usado para discutir temas como o sistema carcerário brasileiro e
outras formas de vigilância e controle de indivíduos, visto que o Pan-óptico, criado por
Jeremy Bentham e usado por Foucault nessa obra, é uma forma aprofundada e por vezes
metafórica da sensação de ser vigiado o tempo todo.
Paulo Freire
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Paulo
Freire foi um importante educador, pedagogo e filósofo brasileiro, ganhando destaque
internacional na sua área e uma ótima referência para diversos temas que envolvem o
déficit educacional brasileiro. Curiosamente, em 2012, foi sancionada uma lei que declara
o educador Patrono da Educação Brasileira.
Assim, como sabemos que a estrutura básica brasileira é pautada na educação bancária
muitas vezes, é possível fornecer críticas ao sistema vigente e utilizar o educador como
impulsionador de mudanças, resolvendo impasses no que tange à qualidade educacional
e ao interesse ao aprendizado rico e ideal que é utilizado em vários programas de ensino
em outros países. “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco
sem ela a sociedade muda” é outra citação relevante do filósofo que pode ser utilizada
em diversos temas.
Søren Kierkegaard
Por mais que o nome seja bem diferente, o filósofo dinamarquês trabalha com a angústia
humana gerada pelas nossas escolhas — bem parecido com as ideias apresentadas por
Jean Paul Sartre. Assim, Kierkegaard diz que não há garantia racional das escolhas
humanas, sendo possível lidar com a angústia de algumas maneiras.
Dessa forma, Kierkegaard nomeia os três estádios da existência, sendo o estádio estético
o que utilizaremos aqui. O estádio estético é de certa forma hedonista (mesmo que ele
não utilize esse termo), ou seja, que busca o prazer imediato das ações, se importando
mais com a possibilidade de realização do que à própria realização. Contudo, essa
postura existencial tem conflituosas consequências, sendo a angústia a principal delas,
que se origina da total dispersão existencial do indivíduo que, de prazer em prazer, não
consegue encontrar substancialidade em sua vida, se deparando com a total falta de
sentido.
Essa angústia, que pode ser classificada como uma forte sensação psicológica, pode ser
utilizada em diversos temas, atribuindo uma autoria muito maior de uso ao utilizar as
palavras de Kierkegaard para explicar a depressão e outros sintomas resultados pela
vaidade e pela luxúria. Com isso, temas sobre padrões de beleza ou sobre uso de drogas,
já que são formas de prazer imediato, podem ser argumentados com o estádio estético
de Kierkegaard, gerando pontos bastante positivos para os corretores.
Theodor Adorno
“A liberdade de escolher sempre o que é a mesma coisa”. Theodor Adorno foi um filósofo
que pertenceu à Escola de Frankfurt, na Alemanha, no século XX. Adorno é conhecido
pelas análises críticas sobre a sociedade de consumo e a mídia como manipuladora do
comportamento da sociedade. Dessa forma, ele chamou esse grupo de Indústria
Cultural, visto que a própria cultura se tornou mecanismo de manipulação para vender
produtos e domesticar o estilo das pessoas.
Com isso, Adorno pode ser usado em inúmeros temas que envolvem consumismo e
manipulações midiáticas, já que seus estudos explicam justamente o que é feito para
criar uma corrente alienante por meio dos recursos oferecidos pela mídia,
principalmente com propagandas. Confira um exemplo de como isso poderia ser
utilizado na redação do ENEM 2018:
“Em primeiro lugar, é fundamental analisar a liberdade da sociedade sobre esse paradigma.
A par disso, consoante Theodor Adorno, filósofo da escola de Frankfurt, na Alemanha, a
chamada Indústria Cultural é responsável pela domesticação do estilo e do consumo da
população, por meio de manipulações midiáticas e tecnológicas capazes de induzir o
comportamento esperado. Dessa forma, com um claro desincentivo à crítica pessoal e com
mecanismos de controle ideológico, a liberdade, pautada como inalienável perante a
Constituição Federal de 1988, é corrompida por intermédio de mecanismos anônimos
manipuladores, que carecem de intervenções governamentais no conturbado contexto digital
do século XXI.”
Thomas Hobbes
Thomas Hobbes foi um filósofo inglês responsável pela criação de uma das principais
teorias sobre a natureza humana estudadas no ensino médio. Juntamente com sua obra
“Leviatã”, Hobbes afirma que o estado natural do homem é mau e perigoso, necessitando
de um governo e de uma sociedade fortes o suficiente para controlar tal natureza
humana perigosa. Assim, pelo desejo coletivo de acabar com a guerra de todos contra
todos, a liberdade de todos é restringida por meio de um contrato social a fim de
estabelecer a paz e a convivência em sociedade.
Na minha opinião, é possível abordar Thomas Hobbes em vários temas, porém julgo mais
interessante mencioná-lo em temáticas que envolvem a violência humana como central
do problema, a fim de contextualizar e mostrar ao corretor sua coerência com as
escolhas argumentativas. Como o Estado é colocado como o monstro “Leviatã”, que
controla e estabelece a ordem entre as organizações, é possível criticar tal criatura de
diversas formas, inclusive em títulos que apontam o Leviatã como defeituoso ou falho na
conjuntura atual. Confira um exemplo de como é possível utilizar Thomas Hobbes na
introdução do seu texto:
“Thomas Hobbes, filósofo inglês, afirmou que o "estado de natureza" do homem é violento,
sendo indispensável um contrato social para que o Estado remova nossa liberdade a fim de
vivermos em uma sociedade ordeira. Com isso, a atuação de órgãos de segurança são
essenciais para a manutenção do acordo, porém a conjuntura atual apresenta problemas na
precariedade carcerária e na reinserção social, que precisam de meios interventores na
sociedade brasileira atual.
REPERTÓRIOS PRODUTIVOS -
SOCIOLOGIA
Émile Durkheim
Eu consigo extrair de Émile Durkheim três utilidades para o repertório de sociologia: as
instituições sociais, os fatos sociais e o suicídio. Primeiramente Durkheim analisou as
instituições sociais como mecanismo de organização da sociedade, possuindo um
conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e
sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do
grupo social e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. Tais
instituições, família, escola, governo, religião, polícia ou qualquer outra, agem contra as
mudanças, pela manutenção da ordem vigente.
Durkheim registra, em sua obra, o quanto acredita que essas instituições são valorosas
e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que
durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Contudo, sabemos que, muitas vezes,
tal conservadorismo pode prejudicar indivíduos específicos, como jovens que sofrem
abusos e não tomam atitudes por desconhecer os perigos e as formas de denunciar. Para
tanto, veja um exemplo sobre como isso poderia ser utilizado em uma introdução:
“Segundo o sociólogo Émile Durkheim, a família é a primeira instituição social e detém uma
influência fundamental na formação dos futuros cidadãos. Nessa perspectiva, em uma
contemporaneidade marcada pelo individualismo e pela ausência de zelo parental, os
descuidos causados pela ética governamental e pelas relações de pós-verdade corroboram os
dilemas resultados da erotização de crianças e de adolescentes na sociedade brasileira atual.”
Além do mais, o conhecido fato social — coercitivo, geral e externo aos indivíduos — pode
ser utilizado para explicar inúmeros acontecimentos em sociedade que aparecem em
temáticas de redação. A violência, o machismo, a escolarização, enfim. Todos os fatos
que englobam a sociedade e são impostos aos indivíduos de forma negativa ou positiva
podem ser problematizados por meio da teoria sociológica de Durkheim.
Para finalizar, temas que envolvem depressão e suicídio podem aproveitar Durkheim
com seus estudos sobre o suicídio na sociedade. Para o autor, o suicídio acontece em
todas as sociedades, mas esse não é o problema, visto que é um fenômeno social normal.
No entanto, a partir do momento que o suicídio toma proporções alarmantes, tornando-
se patológico, é necessário agir e regular esse triste acontecimento que afeta nossa
sociedade.
Florestan Fernandes
Florestan Fernandes participa da sociologia brasileira e é uma das melhores opções para
debater preconceitos existentes no Brasil. Nascido em 1920, o paulista questiona o mito
da democracia racial no país, um dos pontos marcantes de obras nacionalistas,
mostrando que nossa realidade não é tão boa assim.
O autor afirma que, no Brasil, existe um preconceito mascarado, visto que as brincadeiras
e piadas do cotidiano escondem tais discriminações existentes no comportamento do
brasileiro. Assim, é possível utilizar seu questionamento para explicar o racismo, o
machismo e a homofobia, por exemplo, que estão enraizados no país por meio de piadas
e deboches mascarados por atitudes falhas (“só estou brincando”). Veja um exemplo:
“Durante os movimentos literários das décadas de 20 e 30, obras como Casa-Grande &
Senzala, de Gilberto Freyre, defendiam a existência de uma democracia racial e cultural, além
de uma valorização da síntese de diferentes origens no Brasil. No entanto, ao considerar o
preconceito linguístico e a hierarquização da cultura no que tange às diversas ramificações
da língua portuguesa, o país carece de medidas político-sociais capazes de combater a grande
intolerância existente em diversos aspectos.”
Gilles Lipovetsky
Gilles Lipovetsky é um filósofo/sociólogo francês que, até hoje, nos esclarece muito sobre
as concepções de modernidade que estamos inseridos. Por mais que pareça um nome
difícil de se lembrar, após compreender as ideias do autor e como são valiosas para a
realização de qualquer vestibular atualmente, aposto que o nome ficará registrado na
sua cabeça.
Na sua obra “A Era do Vazio”, Lipovetsky analisa uma sociedade pós-moderna marcada
pela perda de sentido das grandes instituições morais, sociais e políticas, além de uma
cultura aberta que predominam tolerância, hedonismo e personalização dos processos
de socialização. Assim, o autor aborda também sobre o assunto na obra “Os tempos de
hiperconsumismo”, em que há a famosa nomeação do termo “hipermodernidade”.
O termo “hiper” é uma clara referência ao exagero dos valores da Modernidade, visto que
tudo, hoje em dia, é elevado a “grandes” nomes. Essa hipermodernidade se caracteriza
pela fluidez e pela flexibilidade, havendo uma concretização da mercantilização dos
modos de vida e de uma individualização exacerbada, o que resulta em um grande
progresso científico e na valorização da razão humana. Tudo isso também é agregado ao
hedonismo, que prioriza o prazer humano acima do resto. Confira um exemplo:
“Em primeiro lugar, é importante analisar os motivos do desleixo sobre essa síndrome. A par
disso, Zygmunt Bauman afirmou que vivemos em uma Modernidade Líquida, marcada pelo
individualismo e pela busca da satisfação momentânea. Dessa forma, essa procura hedonista,
valorizando o prazer inconsequente em detrimento da saúde prolongada, é encontrada na
maioria dos jovens, assim como dados da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que
mostram que 35% dos jovens não usam camisinha durante relações sexuais. Assim, a falta de
cuidados da sociedade pós moderna resulta em um contexto de crescimento de casos de
doenças, como a AIDS, e carece de intervenções educacionais e preventivas capazes de inibir
esse comportamento comprometedor.”
REPERTÓRIOS PRODUTIVOS -
LITERATURA
Cecília Meireles
Nada mais justo que homenagear Cecília Meireles e suas obras em uma redação. A
poetisa moderna trabalhou muito com a ideia de efemeridade do tempo, mostrando por
meio de metáforas como tudo que vivemos é momentâneo, cabendo a nós a submissão
a essa característica.
Veja como tal metáfora pode ser utilizada em sua contextualização temática, juntamente
com ideias modernas de Zygmunt Bauman e Gilles Lipovetsky, por exemplo:
“Na obra 1984, de George Orwell, o contexto futurístico e distópico representado por telas que
controlam o comportamento humano desenvolveu um ambiente de alienação e de anulação
do senso crítico. Nessa perspectiva, a atualidade aproxima-se do caos tecnológico retratado
pelo escritor, visto que a manipulação do comportamento gerado por uma indústria do
consumo e pelo individualismo exacerbado corrobora os problemas sociais de controle de
dados na internet.”
Graciliano Ramos
Pobre Baleia! Outro modernista de respeito, Graciliano Ramos ficou conhecido por
escrever seu grande romance Vidas Secas em 1938. Sua obra sobre os retirantes tornou-
se uma das mais reconhecidas da história da literatura brasileira, descrevendo as
situações precárias vividas pela seca em regiões críticas no Brasil. Para tanto, é possível
relacionar temas ambientais com o romance, gerando uma impressão positiva de
intertextualidade no texto. Confira um exemplo:
“Na obra moderna ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos, é retratada a problemática social
gerada pela ausência de recursos hídricos no contexto nacional. Nessa perspectiva, a
realidade atual marcada pela desinformação e pelo individualismo corroboram os impactos
da crise de água no Brasil, que carece de intervenções urgentes.”
Guy Debord
Guy Debord nasceu em 1931 em Paris e foi um escritor francês que trabalhou na obra
chamada “La société du spectacle”, ou “A Sociedade do Espetáculo”. Seu livro é uma clara
crítica às consequências da organização da sociedade capitalista, abordando seus
formatos e resultados após a Segunda Guerra Mundial. Sua teoria já foi utilizada em
várias matérias e provas de vestibular.
Para tanto, o espetáculo retratado por Guy Debord não mostra apenas um conjunto de
imagens, mas, sim, uma relação social entre pessoas, mediada por imagens e aparências.
O autor divide as ideias de ser, ter e parecer em linhas temporais, ocasionando uma linha
de raciocínio sobre a frágil sociedade de aparências que vivemos hoje. Assim, o parecer,
criado pelo próprio espetáculo, deve-se atuar com aquilo que o capitalismo determina.
Dessa forma, para o autor, a sociedade capitalista se importa mais com a imagem do que
qualquer outro fator. A aparência, a exibição e a ostentação são adjetivos da sociedade
atual, valendo até mais que o próprio consumo. Com a aparência sendo superior à
existência, a Sociedade do Espetáculo é mostrada como uma forma de dizer como
parecer é inclusive mais relevante do que ser algo na contemporaneidade. A
oportunidade de utilizar Guy Debord em temáticas relacionadas ao comportamento da
atualidade é indispensável, principalmente quando palavras-chave como consumismo,
capitalismo, espetacularização, alienação e influência midiática estão envolvidas com o
tema — uma forma interessante de abordar temas que também são discutidos pelos
filósofos da Escola de Frankfurt pela visão de outro autor.
Machado de Assis
Para utilizar Machado de Assis como intertextualidade na introdução, é necessário que o
aluno estude previamente suas obras e faça relações de suas informações e temáticas
com o que foi proposto pelo tema. Por vezes utilizei Nhã-Loló, um dos amores de Brás
Cubas, como exemplo de morte por doenças endêmicas brasileiras, visto que ela morreu
ao contrair febre amarela na obra ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’.
Além disso, Quincas Borba e o Humanitismo também pode ser utilizado — “ao vencedor
as batatas!” — e é viável comparar Dom Casmurro e seu ciúme obsessivo com relações
abusivas e doentias da sociedade atual — até mesmo porque ciúmes e inveja são
assuntos que perpetuam no século XXI. Enfim, vale da criatividade e do conhecimento
literário para estabelecer relações interessantes com as obras do renomado escritor, até
mesmo em temas que envolvem análises psicológicas do ser humano e a depressão. Veja
um exemplo de introdução utilizando ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’:
“Publicada no final do século XIX, a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, retratou um dos amores do defunto autor, Nhã-Loló, morta ao contrair febre amarela.
Contudo, não distante dessa situação, a volta de surtos e mortes por infecções consideradas
erradicadas no Brasil tornou as manchetes na atualidade, provocados pela desinformação e
pelo descaso populacional, além da ausência de meios político-sociais interventores na
sociedade atual.”
Manuel Bandeira
“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada”
“Na obra moderna Macunaíma, de Mário de Andrade, o herói nacional em questão é exaltado
como símbolo da preguiça e da malandragem — típico estereótipo do povo brasileiro. Nessa
perspectiva, a caracterização do homem cordial no Brasil somado a conflitos éticos
governamentais corrobora conflitos na garantia do desenvolvimento social, carecendo de
medidas político-sociais capazes de sanar tais impasses no século XXI.”
REPERTÓRIOS PRODUTIVOS -
EXTRAS
Daniel Dias
Daniel Dias é um nadador paralímpico brasileiro e recordista mundial de extrema
relevância para sua categoria esportiva. Muitos brasileiros não conhecem o nadador,
porém é importante conhecer um pouco mais sobre sua história e citá-lo na introdução
em temas que envolvem inclusão e deficientes físicos é uma boa forma de relacionar
ideias inéditas para o corretor. Confira um exemplo:
“Em clima de espírito olímpico, grandes atletas paralímpicos brasileiros, como o nadador
Daniel Dias, representam a esperança e servem de inspiração para os deficientes físicos no
país. Contudo, a sociedade atual mantém uma postura negligente e preconceituosa no que
tange à acessibilidade e à garantia dos direitos igualitários por essa parcela da população,
que carece de respeito na formação equivalente como cidadãos.”
Johannes Gutenberg
Johannes Gutenberg foi um inventor do século XV e foi responsável pela criação da
imprensa, por meio do desenvolvimento de um sistema mecânico que deu início à
Revolução da Imprensa. Gutenberg não é necessariamente utilizado nos parágrafos de
desenvolvimento do texto, porém é interessante contextualizar temáticas que envolvem
tecnologia e disseminação de informações com a menção do inventor. Veja um exemplo:
“No início da segunda metade do século XX, a modelo Maria Vargas foi a primeira brasileira
nomeada Miss Universo — sem intervenções cirúrgicas ou modelagens artificiais do próprio
corpo. Entretanto, a constante mudança dos padrões de beleza ditados pelos recursos
midiáticos corroboram a incessante busca por interferências estéticas e por projeções
prejudiciais à saúde que, carecendo de meios interventores, resultam em graves
consequências na contemporaneidade.”
“‘Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos
a conviver como irmãos’. Consoante Martin Luther King, ícone americano da busca por
igualdade de direitos civis e humanitários, a ignorância humana perante os emblemáticos
problemas sociais é enraizada até nos dias atuais. Dessa maneira, com uma evidente crise
ética governamental e com um egoísmo populacional exacerbado, os dilemas sobre o
crescimento de refugiados no mundo carecem de discussões racionais e de intervenções
globais.”
Nelson Mandela
Vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1993, Nelson Mandela lutou contra o regime
segregacionista do Apartheid na África e se tornou uma das pessoas mais memoráveis
quando o assunto é luta por direitos iguais. Além de sua contribuição para a sociedade,
Nelson Mandela fez declarações sensatas que podem ser utilizadas em vários temas de
redação, como “a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”. Confira como
é possível utilizar o líder da África Negra na redação:
“Durante o século XX, Nelson Mandela lutou pela equidade de direitos na África e viabilizou
mobilizações sociais através do discurso de que a educação é a arma mais poderosa para
mudar o mundo. Não distante disso, a carência de meios educacionais para transformações
no Brasil corroboram a desinformação social e o assistencialismo antiético governamental no
contexto dos moradores em situação de rua.”