Cervicalgia Reabilitacao

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Projeto Diretrizes

Associação Médica Brasileira

Cervicalgia: Reabilitação

Autoria: Associação Brasileira de Medicina Física e


Reabilitação
Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia

Elaboração Final: 30 de novembro de 2012


Participantes: Delfino PD, Rampim DB, Alfieri F, Tomikawa LCO,
Fadel G, Stump PRNAG, Imamura ST, Imamura M,
Battistella LR, Bernardo WM, Andrada NC

O Projeto Diretrizes, iniciativa da Associação Médica Brasileira, tem por objetivo conciliar informações
da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico.
As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico,
responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

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Associação Médica Brasileira

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA:


Iniciamos a elaboração desta diretriz com a capacitação dos autores por meio da metodologia empregada pelo
Oxford Centre for Evidence Based Medicine, para elaboração de diretrizes clínicas pelo Programa Diretrizes da
Associação Médica Brasileira (AMB). Em seguida, realizamos cinco reuniões de elaboração de diretrizes, juntamente
com os coordenadores do Programa da AMB. Foram revisados artigos nas bases de dados do MEDLINE, por meio do
PubMed, a base de dados Cochrane de Revisões Sistemáticas e o Registro de Ensaios Controlados da Colaboração
Cochrane, por meio da Biblioteca Virtual de Saúde, sem limite de tempo. A estratégia de busca utilizada baseou-
se em perguntas estruturadas na forma (P.I.C.O) das iniciais: “Patient”; “Intervention”; “Control” e “Outcome”. A
sintaxe de busca resultante para a cervicalgia inespecífica foi:

Pergunta 1: neck pain AND (analgesics OR paracetamol OR acetaminophen OR dipyrone OR non narcotics OR
analgesics OR opioid)
Pergunta 2: neck pain AND (muscle relaxants OR ciclobenzaprine OR carisoprodol)
Pergunta 3: neck pain AND (non-steroidal anti-inflammatory agents)
Pergunta 4: neck pain AND (physical modalities OR hyperthermia induced OR diathermy OR ultrasonic therapy OR
electric stimulation OR ultrasound OR transcutaneous electric nerve stimulation OR TENS)
Pergunta 5: neck pain AND (exercise therapy OR physical activity)
Pergunta 6: (neck pain OR myofascial pain syndromes) AND (massage OR manual therapy)
Pergunta 7: (neck pain OR myofascial pain syndromes) AND (posture OR ergonomic OR ergometry)
Pergunta 8: neck pain AND (sleep OR posture)
Pergunta 9: (neck pain OR myofascial neck pain) AND (acupuncture therapy OR trigger points
Pergunta 10: neck pain AND education
Pergunta 11: neck pain AND (psychology OR interdisciplinary communication OR interprofessional relations OR
cognitive behaviour therapy OR work style intervention)
Pergunta 12: neck pain AND (mechanical OR manipulation)
Pergunta 13: neck pain AND (nerve blocks OR local anesthetics)
Pergunta 14: (neck pain OR myofascial pain syndrome) AND botulinum Toxin

Para todas as buscas, utilizamos Field: All Fields, Limits: no age limits, com filtro metodológico para tipos de estudos:
narrow. Dessa forma, recuperamos 1495 artigos. A seguir e, com base nos resumos, selecionamos os 91 trabalhos
relacionados à cervicalgia e seu tratamento. Classificamos a força de evidência científica desses estudos segundo
a norma do Oxford Centre for Evidence Based Medicine. Os ensaios clínicos controlados e randomizados foram
submetidos à avaliação crítica segundo a escala de Jadad, 1996. Por fim, selecionamos as 47 referências que,
pela maior força de evidência científica, consistência e relevância clínica, deram a sustentação às recomendações
da presente diretriz.

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:


A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.
B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
C: Relatos de casos (estudos não controlados).
D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.

OBJETIVO:
Oferecer informações sobre a reabilitação das cervicalgias inespecíficas crônicas.

CONFLITO DE INTERESSE:
Os conflitos de interesse declarados pelos participantes da elaboração desta diretriz estão detalhados na página 17.

2 Cervicalgia: Reabilitação
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Introdução

A cervicalgia é causa comum de dor na população geral


com prevalência de 10% a 15%, acomentendo em torno de
67% a 70% de indivíduos adultos em algum momento de sua
vida1(B). A incidência anual em adultos é de 14,6%, sendo
que as mulheres têm maior probabilidade do que os homens de
desenvolver dores cervicais e de sofrer com problemas cervicais
persistentes2(B). O uso de computadores e a sobrecarga de tra-
balho estão associados ao aumento de sintomas cervicais3(B).
Nos Estados Unidos, cerca de 92,2 milhões de pessoas utilizam
o computador, e dessas, cerca de 63,9 milhões usam o computa-
dor para trabalhar4(B). A cervicalgia pode causar incapacidade e
alto custo para o sistema de saúde, contudo pouco se sabe sobre
a história natural e a sua evolução. Além da dor, podem haver
queixas de limitação da amplitude de movimentos articulares
e rigidez local, desencadeadas ou agravadas por movimentos
cervicais bruscos ou posturas sustentadas do segmento cervical.
Diferente das lombalgias inespecíficas crônicas, ainda há poucos
estudos controlados randomizados que fundamentem o uso das
diversas modalidades terapêuticas empregadas para o controle
das cervicalgias crônicas inespecíficas. Excluímos as causas
específicas, como as radiculopatias, a cefaleia cervicogênica,
a síndrome do chicote (whiplash), os tumores ou metástases,
as fraturas, a espondilite anquilosante, a artrite reumatoide,
cirurgias, cervicalgia aguda e subaguda, mielopatia, espastici-
dade, distonia, infecções e cefaleia.

1. Qual é a efetividade do analgésico simples no trata-


mento da cervicalgia inespecífica crônica?

O uso de paracetamol na dose de 4 g, equivalente à dose


máxima do medicamento a cada 24 horas, diárias, por via oral,
no máximo de nove semanas consecutivas5(B) (n = 43, com
desistência de três) não melhora os sintomas, apenas dois em 40,
e somente 5% apresentaram alívio completo da dor.

Recomendação
Não há evidência que sustente o uso de analgésico simples no
tratamento de cervicalgia inespecífica crônica5(B).

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2. Qual é a efetividade do relaxante mus- O uso de celecoxib na dose única diária de


cular no tratamento da cervicalgia 200 mg a 400 mg, no máximo de nove semanas
inespecífica crônica? consecutivas5(B), não melhora os sintomas,
apenas 5% dos pacientes apresentaram alívio
O uso de ciclobenzaprina, na dose de 10 mg completo da dor. Efeitos adversos foram ob-
diários, via oral, durante trinta dias, alivia a dor servados em sete pacientes, correspondendo a
de doentes com cervicalgia decorrente de sín- 6,1%, tais como: indigestão, dor abdominal e
drome dolorosa miofascial do músculo trapézio rash cutâneo. Onze (26%) pacientes, mudaram
superior (4,6 ± 2,5, 3,1 ± 1,8; diferença -1,2 para outro tratamento por falta de resultado
± 0,9, p<0,0001)6(B). Efeitos adversos foram terapêutico5(B).
observados em 75% dos pacientes, 15 do total
de 20 pacientes, tais como: xerostomia e sono- Recomendação
lência. Nesses casos, houve a redução da dose Não há evidência que sustente o uso de anti-
para 5 mg diários depois de 15 dias de uso6(B). inflamatórios para o tratamento de cervicalgia
inespecífica crônica5(B).
O diazepam, na dose de 5 mg diários, via
oral, promove o alívio dos componentes afetivos 4. O uso de meios físicos está indicado
(3,0 ± 0,8 a 2,2 ± 1,0; p<0,01) e sensitivos no tratamento da cervicalgia inespe-
(1,9 ± 0,7 a 1,6 ± 0,7; p<0,05) da dor, duas cífica crônica?
horas após a sua administração, enquanto que
a mesma dosagem de placebo promove alívio A associação de termoterapia superficial
apenas do componente afetivo (2,7±1,0 a com infravermelho na região cervical durante
2,2±1,3; p<0,05), mas não do sensitivo da 20 minutos, seguida de estimulação elétrica
dor (1,9±0,8 a 1,7±1,0; p>0,05)7(B). nervosa transcutânea, com eletrodos sobre os
pontos de acupuntura Ex21, LI 11, e GB21
Recomendação durante 30 minutos, duas vezes por semana,
Recomenda-se o uso de ciclobenzaprina, durante seis semanas, (4,7±1,8, com melhora
10 mg diários, via oral, durante 30 dias, em de 0,6±2,4, p=0,027) não é superior ao uso
pacientes com cervicalgia crônica inespecífica combinado do infravermelho com exercícios
decorrente de síndrome dolorosa miofacial do supervisionados e nem ao uso isolado de in-
músculo trapézio superior. Nos casos de efeitos fravermelho (p=0,119). Os exercícios tinham
adversos, recomenda-se reduzir a dose para 5 a duração total de 35 minutos e consistiam
mg. Não há evidência que sustente o uso de da ativação dos músculos cervicais profundos
diazepam no tratamento de cervicalgia inespe- com atividade de estabilização espinal cervical,
cífica crônica6,7(B). seguida de 15 repetições de contração isomé-
trica de extensão e de flexão cervicais e de
3. Qual é a efetividade do uso de anti- fortalecimento muscular com resistência pro-
inflamatórios no tratamento da cer- gressiva e variável de acordo com a tolerância
vicalgia inespecífica crônica? do paciente8(B).

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O ultrassom de cabeçote com uma área A associação de tração manual, massagem,


de 0,8cm2, na dose de 3W/cm2, frequência de termoterapia e corrente interferencial com
100Hz, pulso 2:8, aplicado em movimentos exercícios ativos de fortalecimento muscular e
circulares sobre no máximo cinco pontos do- amplitude de movimentos articulares, incluindo
lorosos ou gatilho miofaciais na região cervical exercícios posturais, funcionais, alongamentos
e do ombro, durante o tempo máximo de 15 e relaxamento, durante 30 minutos, duas vezes
minutos, seguido de massagem em fricção por semana e em seis semanas ininterruptas,
transversa desses pontos e liberação miofacial realizado por terapeutas não especializados em
durante 10 minutos, duas vezes por semana, terapia manual, apresenta resultados similares
durante seis semanas, associados a seis tipos às orientações clínicas gerais12(B).
de exercícios domiciliares de alongamento e
de fortalecimento cervical e de ombros reduz A taxa de melhora em relação ao alívio da
a dor, o consumo de analgésicos e o número dor foi de 50,8% nos pacientes submetidos
de pontos gatilho, porém não é superior ao aos exercícios em relação a 35,9% no grupo de
placebo9(B). orientações clínicas gerais, e não houve diferença
estatística entre essas intervenções12(B).
Do mesmo modo, o ultrassom na dose de
1,5W/cm2 sobre os pontos gatilho miofasciais Não se nota redução do número de ausência
do músculo trapézio superior, durante seis mi- ao trabalho nos pacientes que receberam terapia
nutos, em um total de dez sessões, seguido de com exercícios físicos comparados às orientações
exercícios de alongamento cervical é superior ao clínicas gerais (RRA 0,025, IC95% de -0,212
programa isolado de exercícios de alongamento a 0,162; com NNT40, de 6 ao infinito). Em
cervical na redução da intensidade da dor, no relação à terapia manual, os exercícios físicos ati-
aumento do limiar de tolerância à pressão e vos são, estatisticamente, inferiores e há menor
no aumento da amplitude de movimento cer- taxa de ausência ao trabalho em 15,8% entre
vical (escala visual analógica pré-tratamento e os pacientes submetidos terapia manual (RRA
três meses após o tratamento: 7,24±1,62 a 0,158; IC95%-0,009 a 0,325, com NNT= 6
3,08±2,42; p<0,001). Os resultados obtidos (3 ao infinito)12(B).
foram similares à injeção de lidocaína 1% nos
pontos gatilho do músculo trapézio superior, Recomendação
seguida de exercícios de alongamento cervi- Não há diferença entre as seguintes moda-
cal (escala visual analógica pré-tratamento e lidades terapêuticas: tração manual, massagem,
três meses após o tratamento: 7,16±1,66 a termoterapia e corrente interferencial com
3,19±2,51; p<0,001)10(B). exercícios ativos, sendo assim não há evidências
que sustentem o uso dessas modalidades no
Efeito similar foi observado com o uso de tratamento da cervicalgia crônica8-12(B).
ultrassom modo contínuo, com intensidade
entre 0,5-2,0 W/cm2, de acordo com a tolerân- 5. Qual é o benefício da atividade física
cia máxima do paciente, durante três a quatro na redução da dor e da incapacidade
segundos, por três vezes11(B). na cervicalgia crônica?

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Exercícios de percepção sensorial e fi- Exercícios de fortalecimento, fisiotera-


sioterapia convencional pia convencional e manipulação

Exercícios de percepção sensorial têm a Quando comparados pacientes que realizam


finalidade de perceber como o corpo funciona. um programa de treinos para fortalecimento do
Para tanto, utilizam sequências de movimen- pescoço com aquecimento, alongamento e for-
tos dos mais simples aos mais complexos talecimento isométrico para flexores (uma série
e de maior amplitude, buscando diminuir de 12 repetições), extensores e inclinadores do
o esforço nas articulações para alcançar o pescoço (três séries de 12 repetições), ambos
movimento13(B). com repouso e alongamento dos mesmos
músculos, além de exercícios com pesos para a
Os exercícios de percepção sensorial rea- região dos ombros e exercícios de fortalecimen-
lizados em sessões semanais de 50 minutos, to e alongamento, em sessões de aproximada-
durante 16 semanas, sendo que quatro dessas mente uma hora, com grupo de pacientes que
sessões são individuais e, as demais são seguidas são submetidos às práticas convencionais de fi-
de 12 sessões em grupo, associados aos exercícios sioterapia com aplicação de compressa de calor
similares em casa não mostram melhora signifi- por 20 minutos, ultrassom contínuo (3 W/cm2
cativa nas dores de pescoço quando comparadas por cinco minutos), massagem, tração manual
aos exercícios de fisioterapia para correção pos- do pescoço e exercícios proprioceptivos durante
tural, fortalecimento, coordenação, resistência 45 minutos, e ainda com um terceiro grupo
e flexibilidade do pescoço quando realizados de pacientes que recebem técnicas de manipu-
com supervisão por 50 minutos, duas vezes por lação com tração manual da coluna cervical e
semana, durante 16 semanas. Comparados os massagens dos músculos e pontos-chave de dor
pacientes que realizam a técnica de percepção durante quarenta e cinco minutos, sendo todos
sensorial com os pacientes que não realizam ne- os três programas realizados em duas sessões
nhuma intervenção, observa-se que aqueles que semanais durante seis semanas, demonstrou-
realizaram os exercícios de percepção sensorial se que todos os pacientes se beneficiaram com
têm diminuição significativa da queixa de dor a melhora da pontuação da dor (medianas e
no pescoço e ombros, nas primeiras avaliações e IC90% pré e pós-tratamento, respectivamente,
posteriormente, no intervalo de um a dois anos para treino de fortalecimento: 12, 10-15 e 6,
para dor no pescoço (médias e desvios padrão, 3-9; para fisioterapia:12, 10-15; 6, 3-8; e
respectivamente: 0,45 ± 1,32 vs. -0,35 ± para manipulação: 13, 10-15; 6, 4-7; p<0,05
1,07; p = 0,034); pescoço e ombro associados para todos os casos) e incapacidade do pescoço
(médias e desvios padrão, respectivamente: (medianas e IC90% pré e pós-tratamento,
0,80 ± 1,82 vs. -0,09 ± 1,44; p = 0,083); respectivamente, para Grupo I: 8, 7-10; 5,
confirmando que há diferença entre não fazer 4-7 ; Grupo II: 9, 8-11; 4, 3-6; Grupo III: 8,
nada e praticar exercícios de percepção senso- 7-10; 4, 4-5; p<0,05 para todos os casos) após
rial e (RRA= 0,346; IC95%: 0,065 a 0,627; os tratamentos. Contudo, nenhuma técnica se
NNH= 3 IC95%: 2 a 15)13(B). mostrou superior às demais14(A).

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Houve diminuição do número de pacientes infinito; fisioterapia vs. manipulação: 0,104


que faziam uso de analgésicos. Aparentemen- IC95%: 0,109 a 0,317; NNH = 10; - 9 ao
te, os pacientes submetidos ao programa de infinito)14(A).
massagem foram os que mais interromperam o
uso desses medicamentos, 14 de 33 pacientes, Ainda que treinos de fortalecimento e ma-
porém esse número não é estatisticamente nipulação produzam resultados comparáveis
significativo quando comparado ao programa quando realizados isoladamente14(A), o uso
de fisioterapia, no qual oito de 35 pacientes combinado apresenta-se superior à utilização
deixaram de tomá-los (0,054 IC95%:-0,155 exclusiva da manipulação15(A).
a 0,263; NNH=19; 4 ao infinito), ou ainda
quando comparado ao programa de treinos de Um programa de fortalecimento do pescoço
fortalecimento, quatro de seus 34 participantes e tronco superior com 12 sessões de uma hora
interromperam o uso de analgésicos até o fim sendo 45 minutos para flexões de braço, exercí-
o tratamento (RRA=0,048, IC95%: -0,116 a cios para os ombros com halteres de 1 a 4,5 kg
0,262; NNH=21, IC95%: 4 ao infinito)14(A). (duas sessões de 15 a 30 repetições) e exercícios
e levantamento do pescoço em posição supino
Outra informação relevante encontrada é com sistema de polias preso à cabeça com pesos,
que a melhora na pontuação de dor cervical foi variando de 0,5 a 4,5 kg, quando associado ao
mantida por até 12 meses após os participantes programa de manipulação cervical e torácica por
realizarem os programas (medianas e IC90% 15 minutos com movimentos rápidos, de pouca
pré-tratamento e pós-doze meses, respectiva- amplitude e alavancas curtas, além de massagens
mente, para programa de fortalecimento: 12, leves sobre tecido mole, demonstrou melhores
10-15 e 6, 4-9; fisioterapia:12, 10-15; 8, 6-11; resultados com maior aumento de força (mé-
e manipulação: 13, 10-15; 6,6-8; p<0,05 para dias e IC95%: 8,3 e 6,3-10,2; 2,4 e 0,5-4,3;
todos os casos). O mesmo efeito também pode p<0,05), resistência (médias e IC95%: 284,6
ser observado nas medidas de incapacidade do e 185,4-387.7; 145,6 e 50,5-240,6; p<0,05)
pescoço (medianas e IC90% pré-tratamento e e amplitude de movimento do pescoço (médias
pós-doze meses, respectivamente, para programa e IC95%: 8,3 e 5,4-11,2; 1,6 e 1,2-4,4;
de Fortalecimento: 8, 7-10; 5, 4-7; Fisiotera- p<0,05) do que quando submetido à prática
pia: 9, 8-11; 6, 4-7; e Manipulação: 8, 7-10; da manipulação cervical isoladamente 15(A).
5, 3-6; p<0,05 para todos os casos)14(A). Nesse caso, a ocorrência de eventos adversos não
diferiu entre aqueles que realizam as técnicas de
Nota-se, também, que não há diferença na manipulação associadas ao treino de fortaleci-
procura por serviços de saúde para tratar a dor mento ou de forma isolada (X2=1,44; p<0,49),
cervical entre os participantes que realizaram sendo o aumento de dores de cabeça e pescoço as
esses três diferentes programas (fortalecimento manifestações mais comuns nos pacientes que
vs fisioterapia: RRA=0065, ICv95%:-0,142 receberam essas intervenções (RRA=0,031,
a 0,272; NNH=15, IC95%: 2 ao infinito; IC95% -0,077 a 0,039; NNH=32, IC95%
massagem vs. fortalecimento: RRA=0,039, 7 ao infinito)15(A). Isso demonstraria que a
IC95%: -0,183 a 0,261; NNT= 26 - 5 ao associação dos programas não causa sobrecarga e

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é segura, pois outros eventos, como dor radicular tições) ambos com repouso, além de exercícios
ou torácica, são autolimitados e não provocam com pesos: ombros com halteres de 1 a 4,5 kg
danos permanentes. (duas sessões de quinze15 a 30 repetições) e
levantamento do pescoço em posição supino
Contudo, há controvérsias sobre o uso, 5 kg com sistema de polias preso à cabeça, com
uma vez que estudos demonstram que progra- pesos variando de 0,5 a 4,5 kg (duas sessões de
mas de fortalecimento dos grupos musculares 15 a 30 repetições)14-16(A).
de pescoço e ombro por meio de exercícios com
halteres, de 1 kg a 3 kg, seguidos de alonga- Exercícios de fortalecimento e de­
mento ou então programas de exercícios de re- resistência
laxamento utilizando técnicas variadas com o
intuito de promover apenas a uso de músculos Pacientes com cervicalgia crônica e ines-
necessários às tarefas diárias e o relaxamento pecífica, que durante 10 semanas fazem três
dos demais músculos, sendo ambos os pro- sessões semanais supervisionadas de progra-
gramas com três sessões de 30 minutos por mas de fortalecimento muscular cervical (exer-
semana, durante 12 semanas, apresentaram cícios realizados em aparelhos que propiciam
resultados similares aos de quando nenhuma resistência na fase concêntrica do movimento,
intervenção específica é realizada. Apesar de com quatro exercícios para o pescoço e ombro,
leve melhora na amplitude de rotação cervical em três séries de 10 a 12 repetições, com
e da flexão lateral, ambos os programas de aumento progressivo da carga), bem como
exercícios não melhoraram a dor cervical de treinamento de resistência muscular (exer-
forma significativa (média de escala de dor cícios em aparelho como “bicicleta para os
2,9 ± 2,6 para programa de fortalecimento, braços”, durante dois minutos, intercalando
2,9 ± 2,4 para relaxamento e 2,7 ± 2,5 para com três minutos de exercícios para os ombros
controle) e, após doze meses do término dos com elástico, com 30 contrações) apresentam
treinamentos, as médias de faltas ao trabalho melhora da dor no pescoço (médias e desvios
e o os índices de absenteísmo foram similares padrão pré e pós-treino, respectivamente:
entre os que realizaram os treinos de forta- 72±15; 58±12, p<0,05; 70±17, 58±19,
lecimento e os que não sofreram nenhuma p<0,05)17,18(B).
intervenção (“fortalecimento” vs controle,
RRA=0,006, IC95%: - 0,080 a 0,092; Nesse estudo, os resultados indicam que a
NNH= 167, IC95%: -12 ao infinito)16(A). melhora da dor é maior no grupo resistência
(p=0,004; RRA 0,309, IC95%: 0,123 a
Recomendação 0,495; NNT:4, IC95%: 2 a 8). Em avaliações
Recomenda-se um programa de treinos para três anos após os treinamentos, as pontua-
fortalecimento da região cervical em sessões de ções para “pior dor” são menores do que as
aproximadamente uma hora, com alongamento iniciais (médias e desvios padrão pré e pós-
seguido de fortalecimento isométrico para fle- treinos, respectivamente: 74±16, 61±27,
xores (uma série de 12 repetições), extensores e p=0,02; 70±17, 58±27, p=0,092; 77±13,
inclinadores do pescoço (três séries de 12 repe- 57±28)17,18(B).

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Outro estudo aponta que programas simi- (exercícios em aparelho como “bicicleta para os
lares de exercícios com regimes treinamento de braços”, durante dois minutos, intercalando
fortalecimento muscular de cinco sessões de com três minutos de exercícios para os ombros
45 minutos por semana, durante doze meses com elástico, com 30 contrações), três vezes por
(treino sentado dos flexores do pescoço com semana, durante 10 semanas, para melhora da
elásticos em uma sessão de 15 repetições para dor no pescoço19(A).
cada direção: para frente, para trás, para a direita
e para a esquerda) ou treinamento de resistência Exercícios supervisionados e ­domiciliares
(exercícios em posição supina para flexores do
pescoço contra a resistência da gravidade sendo Programas de exercícios em ambiente
esses exercícios repetidos por três séries de 20 domiciliar, desde que haja orientação prévia,
repetições), com ambos os programas seguidos distribuição de cartilhas explicativas sobre a pro-
de exercícios dinâmicos com halteres para os gramação de exercícios e pelo menos duas aulas
membros superiores após o treino específico para instrutivas supervisionadas, trazem resultados
pescoço, demonstram haver redução significa-
similares às práticas realizadas integralmente
tiva da dor (medianas e Q25-75% dos grupos
em ambiente terapêutico supervisionadas por
após 12 meses de treinamento, respectivamente:
fisioterapeuta (duas sessões semanais de 45
-40, de -48 a -32; -22, de -42 a -28; -16, e
minutos, durante 12 semanas, compreendendo
Q25%-75%= -22 a -9) e da incapacidade na
aquecimento de membros superiores, ombros
região cervical em relação a pacientes que não
e pescoço, estabilização cérvico-torácica para
realizam nenhum treinamento (medianas e
Q25-75% dos grupos após 12 meses de trei- restaurar resistência e coordenação cervical,
namento, respectivamente: -23, IC95% -27 a treino de relaxamento para reduzir a tensão de
-20; -22, IC95% -26 a -19; -12, IC95% -15 músculos não necessários, suporte comporta-
a -8). Nesse caso, o programa de fortalecimento mental para reduzir ansiedade e medo da dor,
muscular obteve melhores resultados quanto exercícios de fixação dos olhos para prevenir
ao ganho força muscular e, embora não signi- tontura e treino em prancha de equilíbrio para
ficativo, o completo alívio da dor foi obtido em melhorar controle postural), sendo ambos os
73% dos participantes do treino de força e em programas de treinamentos efetivos na redução
59% no treino de resistência (RRA=0,147, da intensidade da dor cervical em relação àqueles
IC95%: -0,022 a 0,316; NNT=7; IC95%: que apenas recebem orientações verbais e escritas
3 ao infinito)19(A). sobre exercícios, porém sem aulas iniciais sob
supervisão profissional (médias de EVA após
Recomendação três meses de treinos, respectivamente: 23, 22,
Recomendam-se exercícios de fortalecimento 39; p=0018)20(A).
muscular cervical (exercícios realizados em apa-
relhos que propiciam resistência na fase concên- Recomendação
trica do movimento, com quatro exercícios para Recomenda-se programa de exercícios do-
o pescoço e ombro, em três séries de 10 a 12 miciliares supervisionados por fisioterapeuta:
repetições, com aumento progressivo da carga) duas sessões semanais de 45 minutos, durante
bem como treinamento de resistência muscular 12 semanas, compreendendo aquecimento

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de membros superiores, ombros e pescoço, geral que orienta sobre o prognóstico, questões
estabilização cérvico-torácica para restaurar a psicossociais, autocuidado, ergonomia, altura
resistência e a coordenação cervical, treino de do travesseiro e posição no trabalho, além de
relaxamento para reduzir a tensão de músculos prescrições de medicações analgésicas com pa-
não necessários, suporte comportamental para racetamol e anti-inflamatórios não hormonais
reduzir ansiedade e medo da dor, exercícios de e, ainda, consultas médicas adicionais com du-
fixação dos olhos para prevenir tontura e treino ração de 10 minutos, a cada duas semanas, no
em prancha de equilíbrio para melhorar controle seguimento de seis semanas, se necessário12(B).
postural. Esses exercícios podem ser benéficos A taxa de melhora em relação ao alívio da dor
na redução da dor cervical, mesmo quando é de 68,3% em relação a 35,9% no grupo
realizados em ambiente domiciliar20(A). de orientações clínicas gerais (diferença 32,4
IC95% 15,8 – 49,0). A terapia manual reduz
6. Qual é o benefício da massagem na o risco de ausência no trabalho em 13,3% (RRA
redução da cervicalgia inespecífica 0,133 IC95% -0,026-0,292, com NNT = 8
crônica? (3 até infinito)16(A).

A compressão isquêmica de pontos doloro- Recomendação


sos miofaciais com instrumento de plástico em A associação de compressão isquêmica nos
formato de uma bengala, visando à aplicação de pontos dolorosos miofaciais aumenta a eficá-
pressão contínua e sustentada nas áreas de dor, cia dos exercícios de alongamento cervical na
seguido do alongamento sustentado muscular redução da dor, favorecendo o retorno ao tra-
durante 30 a 60 segundos, pelos menos duas balho em pacientes com cervicalgia inespecífica
vezes ao dia, durante cinco dias em regime crônica21(B).
domiciliar [redução da dor de -12,5 (20,7)] é
superior ao alongamento no isolado [redução da 7. Qual é a interferência da ergonomia
dor de -1,9 (16,4), p=0,043]21(B). nas atividades dos pacientes com cer-
vicalgia inespecífica crônica?
A compressão digital com o polegar, na
região na coluna cervical, durante um minuto, A reorientação ergonômica com o uso
duas vezes seguidas, reduz a dor cervical em de suportes de antebraço, durante o período
36% dos casos22(B). Não há diferença no local de trabalho em frente ao computador entre
da aplicação da compressão (p=0,98)22(B). operadores de “call center”, demonstrou ser
benéfica, com diminuição das queixas de des-
A terapia manual com a realização de movi- conforto cervical que ocorriam em 49% dos
mentos passivos musculares e articulares asso- funcionários e que, após 12 semanas de uso do
ciados a técnicas de coordenação e estabilização dispositivo, estavam presentes em apenas 18%
para restabelecer a fisiologia da coluna cervical deles (X2=5,05;p=0,008). Ainda que não seja
por terapeutas manuais experientes, durante estatisticamente significativo, a redução da pro-
45 minutos, uma vez por semana, durante seis porção de operadores com queixas de pescoço já
semanas, é superior às consultas com o clínico pode ser notada após seis semanas23(B).

10 Cervicalgia: Reabilitação
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A orientação ergonômica no ambiente de e quando necessário, solicitar o encaminha-


trabalho, associada ou não à orientação para mento a uma consulta médica para avaliação e
atividades físicas, por meio de programa de orientações ergonômicas, não se mostrou como
palestras interativas mensais por seis meses, é uma boa prática ergonômica, visto que grupos
capaz de melhorar a postura corporal e a adap- similares de trabalhadores que responderam ao
tação do posto de trabalho e número de pausas questionário, mas não receberam as orientações
no trabalho em relação a trabalhadores que não apresentaram a mesma taxa de redução de 9%
realizam essa intervenção. Acredita-se que esses de prevalência dos sintomas de pescoço, ombro
fatores possam reduzir a incidência de sintomas e braço que foram encontradas no grupo que
de pescoço e membros superiores, contudo esse foi orientado26(B).
fator não foi estudo nessa pesquisa24(A).
Recomendação
Um programa de ergonômica intensiva, indi- O uso de medidas ergonômicas pode ser
vidualizada e realizada no ambiente de trabalho indicado para trabalhadores que utilizam o
com a visita de um fisioterapeuta especializado, computador durante o trabalho, como uso de
mostra-se eficaz na redução das queixas de pes- suporte para antebraço, para a melhoria de
coço e membros superiores em trabalhadores dores no pescoço, e o posicionamento correto
de escritórios quando comparados a colegas de de monitores e teclados23(B). Aparentemente,
trabalho que recebem apenas uma cartilha de os melhores resultados sobre o desconforto e
uma página sobre ergonomia no trabalho após dor cervical são alcançados por programas coo-
dois meses da intervenção. Ainda aqueles traba- perativos e individualizados, nos quais tanto os
lhadores que recebem palestras de uma hora em trabalhadores quanto os profissionais de ergo-
grupos pequenos e cartilhas com informações nomia estão ativamente envolvidos24(A)25,26(B).
ergonômicas detalhadas também apresentam
benefícios na redução de desconforto na região 8. Qual é a interferência na postura
cervical em relação ao grupo de referência. Os durante o sono de doentes com cer-
trabalhadores que recebem o programa ergonômi- vicalgia inespecífica crônica?
co intensivo apresentam diminuição de sintomas
em mais regiões do corpo25(B). O uso noturno de travesseiros de fibra de
poliéster de 10,2 cm de altura, com base de
Por fim, vemos que a aplicação de questio- 3,8 cm de água e preenchido por 2,360 ml de
nário eletrônico com perguntas sobre fatores de água, durante duas semanas (alívio VAS de
risco para sintomas de pescoço, ombro e braços 3,87±0,41), é superior ao travesseiro cilíndri-
em trabalhadores de escritório que utilizam co de poliéster com 17,8 cm de altura (alívio
computadores, que após a avaliação poderiam VAS de 2,42±0,42) no alívio da dor matinal
dar uma devolutiva com orientações ergonômi- de homens e mulheres com cervicalgia crônica
cas, por exemplo, posição ao sentar, pequenas (p<0,005). Não há diferença na dor noturna
paradas, gerenciamento da carga de trabalho e com ambos os tipos de travesseiros (alívio VAS
do estresse, a serem aplicadas no ambiente de de 2,76±0,44 - cilindro p<0,5; 3,86±0,42
trabalho tanto individual como coletivamente, p<0,1) em relação ao usual (p>0,1)27(B).

Cervicalgia: Reabilitação 11
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A comparação de seis tipos diferentes de o período de tratamento com a acupuntura,


travesseiros moles não elevados, durante três 70,5% dos doentes não fizeram uso de nenhuma
semanas, favoreceu o sono em 36 dos 55 medicação analgésica de resgate, em comparação
pacientes, correspondendo a 65% e aliviou a a 17,7% no grupo controle (RR=4,0; IC95%
dor em 27 dos 42, ou 64% dos pacientes. O 2,3-7,0)30(A).
significado desses resultados é que há melhora na
dor cervical crônica em doentes com cervicalgia Observa-se, ainda, a redução de 12% (IC, 3
crônica28(C). a 21%) na intensidade da dor, correspondente
a 6,3 mm (IC95% 1,4 – 11,3 mm) na escala
Recomendação visual analógica em relação ao grupo controle,
Não há evidência que defenda a utiliza- diferença estatística (p=0,01), porém não cli-
ção de travesseiros para melhorar a postura nicamente significante31(A) e obtida por meio
durante o sono e reduzir a dor cer vical de oito sessões de acupuntura clássica, durante
inespecífica27(B)28(C). quatro semanas, nos pontos GB20, GB21,
GV 14, LI4, SI3, GB34, TE5 associado
9. Qual é a efetividade da acupuntura no a pontos locais SI12, SI13 ou SI14, BL9,
tratamento da cervicalgia inespecífica BL10, ST11, SI15, BL1131(A). Os principais
crônica? efeitos adversos observados são o aumento dos
sintomas, cefaleia, tontura e hematoma no local
A acupuntura clássica, realizada por médico da inserção da agulha31(A).
experiente, nos pontos SI3, UB10, UB20,
LV3, GB20, GB34,TE5, GB20, SI14, asso- A associação de 15 sessões de acupun-
ciada a pontos de acupuntura auricular, durante tura, durante três meses, com o tratamento
30 minutos, em cinco sessões no período de três usual32(A) é superior ao tratamento usual iso-
semanas, reduz a dor relacionada ao movimento lado (p<0,001) e o efeito tem duração de três
cervical até uma semana após o término das apli- meses 32(A). Há melhora tanto na dor quanto
cações (RRA=0,223, IC95% 0,049 a 0,397, na incapacidade cervical. Observa-se, também,
com NNT = 4, IC95% 3-10)29(A). Os efeitos que a acupuntura é uma estratégia de custo-efe-
adversos observados são leves e incluem dor tiva no tratamento da cervicalgia crônica, com
leve, reações neurovegetativas (sudorese, queda ganho adicional de QALy de 0,024 ± 0,004
da pressão arterial) e podem ser encontrados de em relação ao tratamento usual isolado33(A).
modo semelhante tanto nos pacientes que rece- A média de tratamentos é de 10,3 ± 2,633(A).
bem a acupuntura como nos que não a recebem
(RRA=0,10, IC95% -0,053 a 0,261, com Ao longo de três anos, há redução da cer-
NNH = 10, IC95% 19 ao infinito)29(A), ocor- vicalgia crônica pela associação de acupuntura
rendo em 8,9% dos casos (n=1.005 pacientes). clássica, eletroacupuntura e acupressura auri-
Entretanto, os efeitos adversos acontecem, em cular, realizada durante 45 minutos, três vezes
menor frequência, no grupo que recebe massa- por semana, 10 sessões, durante três a quatro
gem (RRA=0,237, IC95% 0,101 a 0,373, semanas34(A). A eletroacupuntura utiliza onda
com NNH = 4, IC95% 3-10)29(A). Durante de 100µs, amplitude de 170-200 v e frequên-

12 Cervicalgia: Reabilitação
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cia de 5Hz34(A). Observa-se maior redução da alívio da dor correlaciona-se com a realização
intensidade da dor (70% e 29%) em relação adequada dos exercícios36(B).
à intensidade da dor ao final do tratamento
(p=0,001) e três anos após (p<0,04)34(A). Um programa educacional para a realização
de exercícios de relaxamento muscular e de
Recomendação exercícios posturais com feedback visual reduz a
A acupuntura clássica, realizada de modo dor em 62,3% (IC95% 50,9 a 73,85%), sete
isolado ou associada à eletroacupuntura e à a oito meses após a instrução, e em 60,9%
acupressura auricular, reduz a intensidade da (IC95% 49,4 a 72,4%), em 13 a 14 meses após
dor e melhora a dor relacionada ao movimento a instrução37(B). O número médio de dias de
cervical, em sessões de duas a três vezes por dor cervical durante um mês é de 6,79, antes do
semana, durante três a quatro semanas29-31 ou tratamento, e 3,88, em sete a oito meses após
até durante três meses32,34(A). o programa educacional, e de 3,88, com 13 a
14 meses após a instrução37(B).
10. Qual é o papel da educação do paciente
em relação à dor no tratamento da Recomendação
cervicalgia inespecífica crônica? Recomenda-se orientação educacional su-
pervisionada quanto à postura e aos exercícios
Um programa educacional de orientação que devem ser realizados no domicílio levando
postural, realizado com oito a 10 repetições, em consideração a adesão do paciente. A re-
seguido de exercícios de relaxamento muscular alização de exercícios baseados nas brochuras
durante 10 a 15 minutos, visando a hiperati- educacionais, sem orientações prévias, não
vidade e a contração mantida dos músculos da apresenta resultados satisfatórios36(B).
região cervical e dos ombros, a cada duas ou três
horas, em grupo e individualmente, reduz a dor 11. Qual é o papel da terapia cognitivo-
de modo significativo em relação ao grupo que comportamental no tratamento da
não recebe o programa educacional (OR 0,69, cervicalgia inespecífica crônica?
IC95%0,56-0,85). Após seis meses, o grupo
sem tratamento iniciou o mesmo programa Um estudo aponta que a Terapia Cognitivo-
educacional de exercícios e apresentou a mesma Comportamental (TCC) não apresenta melhores
melhora do grupo com exercícios (OR 0,80, índices de retorno aos estudos medidos até 18
IC95%0,64-1,00)35(B). meses após as intervenções em trabalhadores
com dores lombares e cervicais, subaguda ou
Brochuras educacionais com a orientação crônica, de até 59 anos, que estiveram afastados
para a realização de exercícios são menos eficazes do trabalho por dois a 24 meses, do que entre
que a orientação supervisionada por fisiotera- os afastados por tratamentos convencionais
peutas na qualidade do exercício realizado, es- com consultas médicas, fisioterapia e terapia
tado muscular e alívio da dor (p<0,01). Apenas ocupacional38(B). A exceção é a medida de
50% dos pacientes orientados pelas brochuras chance de redução nos índices de absenteísmo
realizam os exercícios de modo correto36(B). O nos quais os trabalhadores submetidos à TCC

Cervicalgia: Reabilitação 13
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apresentam melhores resultados, porém apenas na intervenção e controle, respectivamente:


para os pacientes subagudos (HR=3,5; IC95%: US$30.422,00 e US$902,00)40(B). Contudo,
1,001 – 12,2). os resultados desse estudo devem ser analisados
com cautela, visto que o estudo possuía baixa
Outro estudo demonstrou que o uso de qualidade metodológica em quesitos-chave,
algumas técnicas de TCC com o objetivo de como randomização, cegamento, características
encorajar o autocontrole e o retorno às ativi- dos grupos e cointervenções.
dades normais em um programa de intervenção
breve para cervicalgia, propondo de uma a três Em estudo de eficácia da terapia cognitivo-
sessões com fisioterapeutas que receberam comportamental para o tratamento de insônia
treinamento de um dia sobre os princípios em pacientes com dores lombares e cervicais
de TCC, não havendo padrão de tempo para crônicas, foi demonstrado que os pacientes
completar a terapia, não é superior à prática submetidos a oito sessões semanais de 45 a
da fisioterapia convencional composta por ele- 90 minutos, administrada por enfermeira, que
troterapia, manipulação e aconselhamento de recebeu treinamento em TCC, apresentam me-
acordo com a demanda do paciente em cinco lhora na pontuação da interferência da dor nas
sessões semanais na redução da dor de pescoço. atividades diárias, laborais e no funcionamento
O nível de dor foi aferido por meio da medida social. Essa evolução foi medida por meio do
do questionário de Northwick Park referente Inventário Multidimensional de Dor (MPI –
ao tratamento da cervicalgia subaguda e crô- escala de 0 a 6) em relação aos pacientes que
nica, três meses após o tratamento (média realizam apenas consultas com profissionais de
da mudança de pontuação no TCC breve e enfermagem para orientações e esclarecimentos
controle, respectivamente: -1.481 e -2.101; sobre sono e dores e que enfrentam sessões
média da diferença entre grupos na mudança de mesma frequência e duração (médias de
de pontuação de 0,620; IC95%: -0,444 a pontuação da interferência da dor ± desvios
1,684; p=0,2518)39(B). nos grupos da TCC e controle após interven-
ções, respectivamente: 2,7 ± 1,5; 3,7 ± 1,5;
Um estudo demonstrou que, em pacientes p=0,0318). Contudo, a comparação entre os
com dores crônicas de pescoço, cinco semanas pacientes não demonstra diferença nos quesitos
de TCC multimodal durante internação não de média de dor diária, intensidade de dor e
é superior a outras técnicas mais tradicionais índice de incapacitação da dor41(B).
de atendimento primário, como, por exemplo,
fisioterapia e repouso dentre outras na redução Cabe ressaltar que, na terapia cognitivo-
da intensidade da dor medida por meio da Escala comportamental, o executor dos procedimentos
Visual Analógica - VAS (médias dos grupos pode influenciar entre 0,8% a 8% os resultados
de intervenção TCC e controle antes e depois de recuperação funcional do pacientes. Moda-
de seis meses do tratamento: 52,2 e 51,6; 45 lidades diferentes de tratamentos também são
e 42,4; 45,2 e 48,5) e, ainda, que o emprego susceptíveis a essa influência, porém os valores
da terapia cognitivo comportamental eleva mais elevados são observados nas intervenções
os custos do tratamento (custo por paciente psicossociais42(B).

14 Cervicalgia: Reabilitação
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A meta-análise sobre técnicas de condiciona- crônica, seja no tratamento ou na prevenção de


mento físico em trabalhadores com cervicalgia sua recorrência, visto que os estudos apontam
indica que os programas de condicionamento para resultados pouco expressivos e controversos.
com treinos intensos que incluem componentes
de TCC com objetivo de retirar a atenção da dor 12. Qual é o benefício da manipulação
e da incapacidade e focar no restabelecimento da vertebral na cervicalgia inespecífica
função reduzem, em média, 45 dias (IC95%: crônica?
3 - 88) de faltas ao trabalho por licença médica
durante um ano. Isso sugere um papel benéfico Estudo comparativo entre o uso de medi-
do TCC quando comparado a programas que não cação, acupuntura e manipulação vertebral,
incluem esses recursos terapêuticos. Contudo, em sessões semanais de 20 minutos, por até
cabe ressaltar que se trata de uma conclusão in- nove semanas, para o tratamento da cervicalgia
direta, retirada da comparação entre estudos não demonstrou que as técnicas de manipulação
delineados para avaliar a eficácia da TCC43(A). produzem os melhores resultados que as demais
técnicas sobre as queixas de coluna dos pacien-
Na área preventiva, o uso de TCC em seis tes, exceto sobre a dor cervical5(B).
sessões semanais de duas horas em grupo na
prevenção da recorrência de dores cervicais e De forma semelhante, a comparação de
lombares em pessoas com histórico de dor na pacientes que realizam um programa de téc-
coluna mostra que as pessoas submetidas a esses nicas que associam a manipulação com tração
programas apresentam 5% de chance de sair em manual da coluna cervical e massagem durante
licença médica por mais de quatorze dias do que 45 minutos, com exercícios de fortalecimento
quem utiliza técnicas convencionais de atenção cervical precedido de aquecimento, alongamen-
primária (consulta médica, recomendação de to e fortalecimento isométrico para flexores
exercícios e encaminhamentos, consultas com (uma série de 12 repetições), extensores e
fisioterapeuta ou outros profissionais da saúde) inclinadores laterais cervicais (três séries de 12
contra uma chance de 15% para pessoas que repetições), exercícios com pesos para a região
não realizam essa prevenção, ou seja, esse grupo dos ombros e exercícios durante uma hora,
tem três vezes mais chances de sair de licença associado a fortalecimento e alongamento
por de mais de 14 dias (OR: 3,3; IC90%=1,19 em sessões de aproximadamente uma hora,
-10,2)44(B). Quando comparadas àqueles que e, ainda, com um terceiro grupo de pacientes
recebem apenas orientações por escrito sobre que são submetidos às práticas convencionais
como lidar e se recuperar das dores, as pessoas de fisioterapia com aplicação de compressa de
que realizam TCC apresentam nove vezes menos calor por 20 minutos, ultrassom contínuo (3
chances de sair de licença médica por mais de 30 W/cm2 por cinco minutos), massagem, tração
dias (OR 9,3; IC95%: 1,2 -70,8)45(B). manual do pescoço e exercícios propriocepti-
vos durante 45 minutos, sendo todos os três
Recomendação programas realizados em duas sessões semanais
Não há evidências científicas suficientes durante seis semanas, demonstrou-se que todos
que sustentem o uso da TCC para a cervicalgia os pacientes se beneficiaram com a melhora da

Cervicalgia: Reabilitação 15
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pontuação da dor (medianas e IC90% pré e p<0,49), sendo o aumento da cefaleia e da


pós-tratamento, respectivamente, para mani- cervicalgia, as manifestações mais comuns
pulação: 13, 10-15; 6, 4-7; treino de fortale- nos pacientes que receberam essas interven-
cimento: 12, 10-15 e 6, 3-9; e fisioterapia:12, ções (RRA=0,031, IC95% -0,077 a 0,039;
10-15; 6, 3-8; p<0,05 para todos os casos) e NNH=32, IC95% 7 ao infinito)15(A).
incapacidade do pescoço (medianas e IC90%
pré e pós-tratamento, respectivamente, para; Recomendação
manipulação: 8, 7-10; 4, 4-5; fortalecimen- O uso de técnicas de manipulação vertebral
to: 8, 7-10; 5, 4-7; e fisioterapia: 9, 8-11; pode ser recomendado, pois traz benefícios aos
4, 3-6; p<0,05 para todos os casos) após os pacientes, com redução de dor, de incapacidade
tratamentos. Contudo, nenhuma técnica se da cervical e ganho de resistência e amplitude
mostrou superior às demais14(A). de movimento do pescoço. Quando possível,
podem ser indicadas as técnicas de manipulação,
Ainda que treinos de fortalecimento e ma- juntamente com os treinos para fortalecimento
nipulação produzam resultados comparáveis da cervical, já que, na literatura, essa associação
isoladamente14(A), um programa de fortaleci- pode potencializar os benefícios terapêuticos da
mento cervical e do tronco superior, com 11 ses-
manipulação vertebral14(A). Contudo, deve-se
sões de uma hora de duração, sendo 45 minutos
considerar o encaminhamento de pacientes aos
para flexões de braço, exercícios para os ombros
serviços e terapeutas qualificados e capacitados
com halteres de 1 a 4,5 kg (duas sessões de 15
a realizar os procedimentos de manipulação
a 30 repetições) e exercícios de levantamento
cervical, dada a grande variedade de profissionais
do pescoço em posição supina com sistema de
que atuam nesse ramo e os riscos inerentes às
polias preso à cabeça com pesos variando de
técnicas de manipulação.
0,5 a 4,5 kg, quando associado ao programa de
manipulação cervical e torácica, por 15 minutos
com movimento rápidos, de pouca amplitude e 13. Os bloqueios anestésicos são uteis na
cervicalgia inespecífica crônica?
alavancas curtas, além de massagem, demonstrou
melhores resultados com maior aumento de força
(médias e IC95%: 8,3 e 6,3-10,2; 2,4 e 0,5-4,3; A infiltração de lidocaína 1% sem vasocons-
p<0,05), resistência (médias e IC95%: 284,6 tritor, em até seis pontos dolorosos miofasciais,
e 185,4-387,7; 145,6 e 50,5-240,6; p<0,05) em dose única, alivia a dor de doentes com cer-
e amplitude de movimento do pescoço (médias e vicalgia decorrente de síndrome dolorosa mio-
IC95%: 8,3 e 5,4-11,2; 1,6 e 1,2-4,4; p<0,05) fascial do músculo trapézio superior (4,8 ± 2,1;
do que quando há a prática da manipulação cer- 2,5 ± 1,8; diferença -1,8 ± 0,8, p<0,0001).
vical isoladamente15(A). Porém esses efeitos são similares aos obtidos
com o uso da ciclobenzaprina 10 mg em dose
Nesse caso, a ocorrência de eventos adver- única diária. Efeitos adversos do bloqueio foram
sos não diferiu entre aqueles que realizam as observados em 66% dos pacientes – 12 em um
técnicas de manipulação associada ao treino de total de 18 pacientes: dor e edema no local da
fortalecimento ou de forma isolada (X2=1,44; injeção6(B).

16 Cervicalgia: Reabilitação
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A dose única de uma injeção intramuscu- trapézio, em região cervical baixa, cervical alta
lar de 1 ml de lidocaína 0,5% em cada ponto ou em região torácica, porém sem diferença
gatilho miofascial dos músculos cervicais e estatística em relação ao placebo47(B).
escapulares melhora a dor, quatro semanas após
a aplicação46(B). Esse efeito é superior ao do Há redução da dor cervical de 4,3 ± 2,4,
agulhamento seco (SMD -1,27 IC95% -2,25 3,3 ± 2,0 após injeções de solução salina e
a -0,29) e similar ao da toxina botulínica (SMD de 4,1±2,1, 3,3±2,2 após toxina botulí-
-0,49 IC95% -1,41 a 0,42)46(B). nica A. O valor do limiar de dor aumentou
de 5,2±1,6 a 5,9±1,5 e de 5,7±1,6 para
A injeção de pontos gatilho no músculo 5,9±1,6 após injeções com solução salina
trapézio superior com lidocaína 1%, seguida e toxina botulínica tipo A, respectivamente.
de exercícios de alongamento cervical é supe- Não ocorreram alterações estatisticamente
rior ao tratamento isolado com alongamentos significativas na dor cervical e nos valores
cervicais (SMD -1,36 IC95% -1,93 a -0,80;
de limiar de dor entre a toxina botulínica
NNT=3)10(B). Há benefício de 45% com
tipo A e salina. Após as primeiras aplicações,
melhora na escala visual analógica de 40 mm,
o resultado do tratamento foi significativo
três meses após a aplicação10(B).
(p= 0,008) com relação à toxina botulínica
A, e após segunda aplicação, o resultado foi
Recomendação
melhor para a solução salina, mas a diferença
Há evidência que a infiltração de lidocaína
não foi, estatisticamente, significativa (p=
1% sem vasoconstritor em pontos dolorosos
miofasciais é benéfica no tratamento de cervi- 0,098). Não houve diferença significativa na
calgia inespecífica crônica10(B). prevalência de efeitos colaterais entre solução
salina e toxina botulínica A48(A).
14. Quais são os resultados com o uso
da toxina botulínica no tratamento
Recomendação
da cervicalgia inespecífica crônica? Não recomendamos o uso de toxina botulí-
nica, pois não há benefício ainda comprovado
A toxina botulínica tipo A de 100U foi pela literatura47,48(A).
estudada como instrumento para a melhora
da dor no tratamento de cervicalgia crônica Conflito de interesse

de origem miofascial e mostrou a melhora da


dor e da qualidade de vida se usada à dose de Imamura M: recebeu honorários para apre-
2 a 34U em pacientes com idade entre 21 a sentação em palestra patrocinada pela empresa
70 anos, aplicada, diretamente, nos músculos Eli Lilly.

Cervicalgia: Reabilitação 17
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