Mapeamento de Perigo de Inundação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS

GRUPO DE PESQUISA EM DESASTRES NATURAIS

Trabalho Técnico GPDEN No. 03.

MAPEAMENTO DE PERIGO DE
INUNDAÇÃO

Leonardo Romero Monteiro


Masato Kobiyama
Fernando Campo Zambrano

2015
i

1a edição
2015

Monteiro, Leonardo Romero; Kobiyama, Masato; Zambrano, Fernando Campo

Mapeamento de Perigo de Inundação - Porto Alegre: UFRGS/IPH/GPDEN,2015


91 páginas

Palavras Chave:
Inundação, Perigo de Inundação, Modelagem Hidrológica, Modelagem Hidrodinâmica

Edição brasileira
2015
Sumário

Lista de Simbolos iv

1 Introdução 1
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Estrutura do Texto e do Curso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 Modelagem Numérica 4
2.1 Tipos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Critérios para a Seleção de um Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2.1 Limitações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.3 Tipos de dados na modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.4 Calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.5 Verificação e Validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.6 Comentários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3 Bacia Hidrográfica e Canais - Conceitos gerais e definição 10


3.1 Características físicas de uma bacia hidrográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.1.1 Área da bacia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.1.2 Comprimento do rio principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.1.3 Declividade média do rio principal e da bacia hidrográfica . . . . . . . 12
3.1.4 Cobertura vegetal, Uso e Tipos de solo . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.5 Forma da bacia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.6 Índices de drenagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.7 Tempo de concentração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2 Área Inundável e Sub-bacias de Contribuição . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC . 16
3.3.1 Obtenção de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.4 Características físicas de uma bacia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4.1 Área da bacia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.2 Comprimento do rio principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.3 Declividade média . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.4 Forma da bacia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

ii
SUMÁRIO iii

3.4.5 Tempo de concentração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37


3.4.6 Resumo dos resultados das características da bacia . . . . . . . . . . . 38

4 Modelagem Hidrológica 39
4.1 Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.2 Modelo Chuva-Vazão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.2.1 Precipitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.2.2 Interceptação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.2.3 Transformada em escoamento superficial . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2.4 Escoamento de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2.5 Escoamento em rios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.3 Calibração e Validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.4 Comentários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.5 Exemplo prático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

5 Simulação Hidrodinâmica 56
5.1 Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.2 Escoamento Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5.3 Escoamento Não Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5.4 Condições iniciais, de contorno e parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.5 Métodos Numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.5.1 Discretização Espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.5.2 Discretização Temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.6 Validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.7 Comentários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.8 Exemplo prático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

6 Mapa de Inundação 73
6.1 Mapa de Perigo de Inundação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.1.1 Índice e Nível de Perigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.1.2 Criando o Mapa de Perigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.2 Exemplo prático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7 Considerações Finais 79

Referências Bibliográficas 83
Lista de Símbolos e Siglas

Símbolos

a coeficiente de ponderação da velocidade (−)


A Área (m2 )
b coeficiente da equação IDF (−)
CN Número de Deflúvio (−)
FO Função Objetivo (−)
f (x) função de uma variável genérica x (−)
g aceleração da gravidade (m/s2 )
h altura da lâmina de água (m)
hL perda de carga (m)
i intensidade de precipitação (mm/h)
IP índice de perigo (m2 /s)
k coeficiente da equação IDF (−)
m coeficiente da equação IDF (−)
n coeficiente da equação IDF (−)
NT número de intervalos de tempo da série de dados (−)
O(4x) erro cometido pela aproximação de primeira ordem na série de Taylor (−)
P Pressão (Pa)
q vazão tributária (de um afluente) (m3 /s)
Q vazão (m3 /s)
Qci vazão calculada no i-ésimo tempo (m3 /s)
Qoi vazão observada no i-ésimo tempo (m3 /s)
Q vazão média de uma série (m3 /s)
RN Erro na série de Taylor devido ao truncamento (−)
Sf declividade da linha de energia (m/m)
So declividade do canal (m/m)
TR período de retorno (anos)
t tempo de duração da precipitação ou, simplesmente, tempo (minutos)
v velocidade do escoamento (m/s)
V velocidade normal a uma seção transversal (m/s)
x distância entre duas seções (m)
∆t variação temporal (s)
∆x variação espacial (m)
γ peso específico (N/m)

iv
Lista de Símbolos e Siglas v

Índices

i Referente ao eixo x ou o i-ésimo elemento


n Referente ao tempo

Siglas

0D adimensional
1D unidimensional
2D bidimensional
3D tridimensional
AI Área Inundável
ANA Agência Nacional de Águas
BC Sub-bacia de contribuição
CN Número de Deflúvio (Curve Number)
CPRM Serviço Geológico do Brasil
GPDEN Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais
HEC-HMS Hydrologic Engineering Center - Hydrologic Modeling System
HEC-RAS Hydrologic Engineering Center - River Analysis System
HU Hidrograma Unitário
IDF Intensidade-Duração-Frequência
IP Índice de Perigo
IPH Instituto de Pesquisas Hidráulicas
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
MDE / DEM Modelo Digital de Elevação / Digital Elevation Model
SIG / GIS Sistema de Informação Geográfica / Geographic Information System
SRTM Shutter Radar Topography Mission
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
USACE United States Army Corps of Engineers
Capítulo 1

Introdução

O Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais (GPDEN) da Universidade Federal do Rio


Grande do Sul (UFRGS) vem proporcionando inúmeras palestras e cursos para divulgar a im-
portância e discutir a prevenção de desastres naturais. Esta apostila faz parte destes esforços
para a redução de desastres naturais.
Nesta apostila são repassados conhecimentos técnico-científicos sobre inundações, desde
os processos básicos, como o transporte da água, até produtos completos como o mapeamento
de perigo de inundação. Para realizar a modelagem hidrológica é utilizado o programa HEC-
HMS (Hydrologic Engineering Center - Hydrologic Modeling System) [31] e para realizar a
simulação hidrodinâmica é utilizado o programa HEC-RAS (Hydrologic Engineering Center -
River Analysis System) [30]. Estes programas não são os únicos adequados para a aplicação de
mapeamento de área de perigo, porém, por efeitos práticos, são os utilizados nesta apostila.

1.1 Objetivos

Esta apostila tem como objetivo auxiliar no entendimento durante a após o minicurso de
mapeamento de perigo de inundação ministrado pelo GPDEN da UFRGS. Esta apostila possui
importância técnico-científica, enquanto que os temas voltados a aspectos econômicos e sociais,
também muito importantes, não são desenvolvidos.

1
1.2. Estrutura do Texto e do Curso 2

1.2 Estrutura do Texto e do Curso

A metodologia seguida para o mapeamento de perigo de inundação é a proposta por Mon-


teiro e Kobiyama (2013)[16] (figura 1.1), e assim, esta apostila é organizada a partir deste artigo.
O segundo capítulo se refere a uma discussão sobre a modelagem matemática, determinando o
seu emprego, além de suas limitações e pontos frágeis.

Figura 1.1: Fluxograma do mapeamento de perigo de inundação, por Monteiro e


Kobiyama(2013)[16].

O terceiro capítulo, sobre bacias hidrográficas, discute a importância das bacias na simula-
ção hidrológica e hidrodinâmica e apresenta um exemplo prático de geoprocessamento da área
de estudo, assim como exemplifica aspectos geomorfológicos.
No quarto capitulo, sobre modelagem hidrológica, são discutidos e apresentados os concei-
tos dos modelos de precipitação total, precipitação efetiva, transformação da precipitação em
escoamento superficial e, por fim, escoamento básico, que compõem um modelo chuva-vazão.
Fenômenos que possuem importância em escala de tempo maior, como a evapotranspiração (ou
apenas evaporação [21]) não são discutidos.
No capítulo cinco, conceitos sobre simulação hidrodinâmica são apresentados. A simulação
1.2. Estrutura do Texto e do Curso 3

unidimensional é discutida, com enfoque na equação de Saint-Venant, utilizada para simular


escoamentos não permanentes. No sexto capítulo é discutido o mapeamento de inundação e o
mapeamento de perigo de inundação, enfatizando a importância do Índice de Perigo. Por fim,
no último capítulo é apresentado um texto informativo sobre mapeamento de vulnerabilidade e
de risco.
No final dos capítulos 3, 4, 5 e 6, uma seção com a aplicação do tema do capítulo para o fim
do mapeamento da área de perigo de inundação é desenvolvida passo-a-passo.
Capítulo 2

Modelagem Numérica

O que é a modelagem? No âmbito científico das ciências exatas, a modelagem é uma ten-
tativa de representar a realidade, relacionando algo conhecido (dados de entrada) a algo que se
quer conhecer (dados de saída ou resultados) (figura 2.1). Em outra palavra, a modelagem é a
ação de criar um modelo e o modelo pode ser considerado um sistema simplificado, obtido por
meio da tentativa de representar a realidade.

Figura 2.1: Representação esquemática de um modelo.

Os modelos são aplicados para diversas ocasiões, como no planejamento de cidades, projeto
de construções em geral, operação de um mecanismo, e, amplamente, em pesquisa científica.
Nas mais diversas engenharias, na física, na matemática, na química, na medicina, na biologia
e em outras inúmeras áreas da ciência a modelagem é utilizada ou para auxílio de alguma
atividade ou como o próprio fim.

4
2.1. Tipos 5

2.1 Tipos

Os modelos podem ser classificados em:


Modelo Físico (ou experimental) - representa os fenômenos de interesse em escala reduzida
(reservatório, barragem, eclusas ...). Ao se trabalhar em escala reduzida é necessário realizar
análises dimensionais e de semelhança do problema em questão, que permita efetuar a conver-
são da escala mantendo os padrões do fenômeno de interesse. Os modelos físicos são muito
mais comuns em hidrodinâmica do que em hidrologia, pois em hidrologia existe a necessidade
de simular o ciclo hidrológico, enquanto que em hidrodinâmica se simula uma parte específica
deste ciclo.
Modelo Análogo - parte do pressuposto de que as características a serem analisadas de
um determinado fenômeno podem ser obtidas ao se analisar outro fenômeno, que muitas vezes
não possui semelhança física (circuitos elétricos podem ser elaborados para representar analo-
gias com circuitos hidráulicos superficiais e subsuperficiais). Modelos análogos são utilizados
quando se tem interesse em um fenômeno complexo ou de difícil obtenção de dados que é de
alguma forma semelhante a outro fenômeno, que por sua vez é mais simples.
Modelo Matemático - representa fenômenos e processos por meio de equações que descre-
vem matematicamente tais fenômenos e processos. A representação dos processos pode possuir
uma abordagem física, física e estatística ou somente estatística.
Modelo Numérico - baseado em modelos matemáticos, utilizando aproximações, represen-
tam as derivadas e integrais discretizadamente. Este artifício é utilizado para problemas que,
atualmente, são impossíveis de serem resolvidos analiticamente. Em recursos hídricos, os mo-
delos numéricos são, em sua maioria, modelos hidrodinâmicos que simulam o escoamento da
água (figura 2.2). No caso da hidrologia, se trabalha muito pouco com derivadas e integrais e
normalmente estes modelos devem ser denominados de modelos matemáticos.

Figura 2.2: Visualização da discretização numérica de um canal.


2.2. Critérios para a Seleção de um Modelo 6

2.2 Critérios para a Seleção de um Modelo

A partir deste momento o texto se referirá à modelagem matemática e numérica. Antes de


se adotar um modelo, deve-se saber quais são os tipos de resultados que se necessita. Como
exemplo, na modelagem hidrológica, pode-se esperar como resultado desde uma intensidade
de precipitação para uma determinada área até uma vazão fornecida pela exutória de uma bacia
depois de uma tempestade.
Além de se saber que tipo de dado quer obter, também se deve saber qual a precisão, in-
tervalo de tempo e de espaço que se quer ter estes dados. Como exemplo, tem-se os dados de
vazão de uma bacia. Caso esta bacia seja pequena, muitas vezes, dados com a variação temporal
de um dia (dados diários) não são suficientes para detalhar o seu hidrograma adequadamente,
porém, para bacias grandes a variação diária pode ser suficiente para tal tarefa. Entende-se,
neste exemplo que a definição de bacia pequena ou grande está intimamente ligada ao tempo
de concentração desta bacia (a ser discutido no Capítulo 4). Entretanto, deve-se atentar ao es-
forço tanto na obtenção de dados detalhados quanto no processamento computacional que uma
simulação mais detalhada requer, e se isso não inviabilizará a simulação.
Nunca se deve esquecer as hipóteses nas quais o modelo é baseado, e, consequentemente,
as condições nas quais ele pode ser utilizado. Logo, não se deve ajustar o problema ao modelo,
mas sim selecionar um modelo que seja adequado ao problema.

2.2.1 Limitações

A modelagem possui limites de aplicação, muitas vezes ligadas a simplificações matemá-


ticas ou falta de conhecimento da natureza. As limitações do modelo também podem estar
ligadas aos operadores do modelo, pois estes podem provocar erros grosseiros por descuido ou
desconhecimento.
A dificuldade em adquirir dados de qualidade talvez seja um dos grandes dificultadores. A
precisão e exatidão dos resultados de uma simulação normalmente está intimamente ligada a
qualidade dos dados de saída. Logo, para um modelo utilizado adequadamente, a qualidade dos
dados de entradas será a qualidade dos dados de saída.
2.3. Tipos de dados na modelagem 7

2.3 Tipos de dados na modelagem

Para a realização da modelagem computacional são necessários os dados de entrada. Estes


dados podem ser separados em três tipos:

• Dado de campo: Aquele que o próprio pesquisador ou sua equipe adquire no local de
estudo, utilizando equipamentos ou por observação. Pode ser chamado também de dado
com fonte primária;

• Dado calculado: Aquele que é obtido utilizando deduções matemáticas que podem ser
baseadas em outros dados ou hipóteses;

• Dado adquirido: É o dado adquirido de outras fontes sem serem as descritas nos itens
anteriores, normalmente comprados ou cedidos por órgãos governamentais, empresas,
universidades, pessoas físicas, entre outros. Pode ser chamado também de dado com
fonte secundária.

Os dados de campo possuem maior confiabilidade, porém quando difíceis ou impossíveis


de serem obtidos, se utiliza os dados calculados ou adquiridos.

2.4 Calibração

A calibração, ou otimização, é utilizada para buscar a melhor solução de uma função mate-
mática, no caso de um modelo, para representar determinado fenômeno. Assim, a otimização
busca o valor de uma ou mais parâmetros, que proporcionem o melhor resultado para uma
função que dependem destes parâmetros, querendo se alcançar um objetivo (erro máximo acei-
tável). Procura-se pelos valores de parâmetros que forneçam a melhor similaridade entre os
valores calculados pelo modelo e os valores observados.
Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados ao se calibrar um modelo. Apenas os parâ-
metros que se tem menos confiança devem ser modificados em busca do resultado otimizado.
De uma forma geral, os dados de campo não devem ser modificados, enquanto que os dados
calculados, que normalmente são os mais incertos, possuem prioridade a serem os parâmetros
modificados para a otimização.
2.5. Verificação e Validação 8

A calibração pode ser realizada de forma manual ou automática, utilizando um modelo de


otimização. Para verificar se a calibração teve sucesso, deve-se adotar uma função objetivo que
identifica a similaridade entre os dados simulados e os dados observados. Existem diversas
funções erro e suas formulações e aplicações serão detalhadas no Capítulo 4.

2.5 Verificação e Validação

Testes de verificação são necessários para identificar se a implementação de um método nu-


mérico foi realizada de forma coerente. A verificação avalia se as formulações matemáticas e
numéricas foram aplicadas corretamente, ou seja, se o código é consistente. Os testes de valida-
ções são necessários para avaliar se a teoria que envolve as equações aplicadas são adequadas
para um fenômeno em específico. Então, a validação avalia a exatidão do resultado de um
modelo numérico, baseando-se na comparação entre os resultados computacionais e os dados
experimentais. Assim sendo, verificação e validação são processos primários para quantificar e
qualificar a precisão e a exatidão dos resultados computacionais de determinado código.
Fortuna (2010)[4] menciona que a verificação determina se o modelo, representado por
equações, parâmetros e métodos numéricos adotados, corresponde a sua descrição conceitual,
isto é, se o modelo está corretamente implementado. Os resultados numéricos fornecidos pela
implementação do modelo são comparados a outras soluções, consideradas ”de referência”.
Essas soluções podem ser analíticas, numéricas, experimentais ou medições de campo. Já, a
validação quantifica o grau de representatividade do modelo em relação ao fenômeno físico real.
Essa análise é normalmente realizada por comparações sistemáticas com dados experimentais
já consagrados ou dados de campo, representativos dos tipos de fenômenos nos quais se espera
simular. Após se calibrar um modelo hidrológico, este deve ser validado para outro evento
similar, mostrando a efetividade da calibração e delimitando a abrangência de aplicação do
modelo calibrado.
Por ou outro ponto de vista, na verificação, a associação ou relação da simulação para o
mundo real não é uma questão. Já na validação esta relação é a questão. A essência de cada
conceito é captada na expressão compacta: verificar é resolver a equação corretamente; validar
é resolver a equação correta (Oberkampf and Christophe, 2010)[18].
2.6. Comentários 9

2.6 Comentários

Um dos principais problemas ao se utilizar um modelo é acreditar que o modelo não re-
presenta a realidade e sim é a realidade, porém a realidade nunca é tão simples. Efeitos que
não são considerados na modelagem podem ser importantes, como o da turbulência, afetando
negativamente a representação do modelo. Assim, nunca se deve forçar a realidade para que se
encaixem em um modelo, e sim, deve-se entender tanto o fenômeno a ser simulado quanto o
modelo a ser utilizado e verificar se este é válido (está validado).
Capítulo 3

Bacia Hidrográfica e Canais - Conceitos


gerais e definição

Ciclo hidrológico é uma palavra que se usa para descrever a circulação da água na terra
através de diferentes processos como (evaporação, transpiração, condensação, precipitação, in-
terceptação, escoamento superficial, infiltração, percolação, e escoamento subterrâneo). Este
é estudado a partir da hidrologia que se define como a ciência que trata a água na terra, sua
ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e sua reação com o
meio ambiente, incluindo sua relação com as formas vivas (U.S. Federal Council for Science
and Technology).
Desde o ponto de vista das áreas da hidrologia o ciclo hidrológico é estudado na fase terres-
tre, a partir da bacia hidrográfica, que é definida como uma área na superfície terrestre, sobre
a qual o escoamento superficial em qualquer ponto converge para uma única saída, chamada
de seção transversal de referência ou exutório (figura 3.1). O principal interesse em estudar a
bacia hidrográfica é que suas características constituem um sistema natural de transformação
de chuva em vazão. Esta transformação esta sujeita a entradas de água (precipitação) que gera
saídas de água (escoamento).
No Brasil, em 1987, sugere-se que a microbacia hidrográfica é uma unidade ideal para o
planejamento integrado do manejo dos recursos, que desde o ponto de vista do gerenciamento
inclui corpos de água, solo, subsolo, rochas, atmosfera, fauna, flora, espaço construído e socie-

10
11

Figura 3.1: Bacias hidrográficas do Brasil.

dade. Esta microbacia, segundo o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, é definida


como uma área fisiográfica drenada por um curso da água ou por um sistema de cursos de
água conectados que convergem, direta ou indiretamente, para um leito ou para um espelho da
água. A diferença entre microbacia e bacia, teoricamente, esta relacionada em virtude da área
de captação, a primeira necessitando de um estudo mais detalhado.
Contudo uma bacia hidrográfica, por sua vez, também pode ser dividida em sub-bacias
e cada uma das sub-bacias pode ser considerada uma bacia hidrográfica. Para definir uma
bacia hidrográfica, normalmente, determina-se os cursos de água, o exutório, e informações
topográficas (curvas de nível).
As curvas de nível são informações do relevo (altitude) que nos permitem identificar di-
ferentes características como o divisor de águas superficiais, e a direção para onde escoa a
água. Para este processo de delimitação, a definição de uma bacia hidrográfica pode ser feita de
forma manual, sobre mapas, ou automática com o auxílio de sistemas de informação geográficas
(SIG).
3.1. Características físicas de uma bacia hidrográfica 12

3.1 Características físicas de uma bacia hidrográfica

Uma bacia hidrográfica possui características geomorfológicas que são fatores que represen-
tam a forma como a água da chuva interage na superfície da terra. As principais características
de uma bacia hidrográfica são a área, comprimento do rio principal, declividade do rio e da
bacia, e cobertura do solo.

3.1.1 Área da bacia

A área da bacia ou área de drenagem é a característica mais importante de uma bacia hi-
drográfica, sendo uma variável fundamental para definir a potencialidade hídrica. Esta carac-
terística é definida na superfície em projeção horizontal e delimitada pelo divisor topográfico,
através de ferramentas manuais ou digitais.

3.1.2 Comprimento do rio principal

O comprimento do rio principal está relacionado diretamente com o tempo de viagem que
a água leva para escoar ao longo de todo o sistema, que por sua vez depende da velocidade e
distância a ser percorrida. Este também pode ser definido como aquele que drena a maior área
no interior da bacia.

3.1.3 Declividade média do rio principal e da bacia hidrográfica

A declividade média da bacia hidrográfica e dos cursos de água também é uma característica
importante que afeta diretamente o tempo de viagem da água ao longo do sistema, além de ter
relação com os processos de infiltração. A declividade média de um rio é a relação entre a
diferença de cotas e o comprimento do rio (equação 3.1).

Hmax − Hmin
S = (3.1)
L

onde S é a declividade média do rio (m/m), Hmax é a cota máxima (m), Hmin é a cota mínima
(m) e L é o comprimento do rio (m). Para o cálculo da declividade média da bacia, deve-se
3.1. Características físicas de uma bacia hidrográfica 13

subdividir a bacia em faixas de altitude e se pondera a declividade individual de cada faixa com
a área.

3.1.4 Cobertura vegetal, Uso e Tipos de solo

A cobertura vegetal está diretamente relacionada com a interceptação, ou seja, o tempo com
que o escoamento vai ocorrer, e a profundidade das raízes onde a água evaporada pode atingir
maiores profundidades. O uso do solo tem uma grande influência na variação da velocidade de
escoamento, variação da quantidade de matéria orgânica do solo, porosidade, e a capacidade de
infiltração. Isto ocorre devido a processos de urbanização e compactação do solo por agricul-
tura. Outro fator importante deste tipo de processos é no aumento de ocorrências de picos de
cheia e volumes de escoamento.
Assim como cobertura vegetal e o uso de solo, o tipo de solo tem uma grande influência
nos processos da bacia. Dependendo do tipo de solo, podemos dizer que este afeta diretamente
os processos de infiltração. Por exemplo, solos arenosos e profundos levam à redução do es-
coamento superficial, e solos argilosos e rasos levam a um aumento no escoamento superficial.
Além disso, a geologia será a responsável pela percolação das águas e sua circulação através do
subsolo.

3.1.5 Forma da bacia

A geometria da bacia é uma característica importante dentre os fatores que influenciam na


resposta hidrológica da bacia (Figura 3.2). Grande parte disso tem relação com o tempo de con-
centração. Ao longo do tempo, foram propostos vários processos com a tentativa de quantificar
a forma da bacia, a partir de seu grau de alongamento ou compacidade (Christofoletti, 1980)
[2].
Entre os parâmetros mais utilizados para medir a forma de uma bacia hidrográfica se encon-
tram o Índice de Greavelius ou Coeficiente de Compacidade (equação 3.2).

P
Kc = 0, 28 √ (3.2)
A
3.1. Características físicas de uma bacia hidrográfica 14

Figura 3.2: Resposta hidrológica de uma bacia a partir da geometria.

onde Kc é o Índice de Compacidade ou de Gravelius que é a relação entre o perímetro da bacia


P, e o perímetro de uma bacia circular da mesma área A. Índices iguais a 1 representam bacias
circulares; índices iguais a 1, 128 bacias quaradas, e índices maiores do que 3 pertencem a bacias
alongadas. No entanto, valores menores de Kc indicam maior potencialidade de produção de
picos de enchente.

3.1.6 Índices de drenagem

Em muitos casos a bacia hidrográfica também é descrita a partir de características da rede


de drenagem, que influenciam na geração de cheias. Um dos índices é a densidade de drenagem
que é definida como a soma do comprimento de todos os cursos de água dividido pela área da
bacia (equação 3.3).

P
L
Dd = (3.3)
A

onde Dd é a densidade de drenagem, L é o comprimento de cada trecho de rio e A é a área da


bacia.
Outro índice utilizado é o ordenamento dos cursos de água da bacia hidrográfica. Existem
3.1. Características físicas de uma bacia hidrográfica 15

dois métodos conhecidos para classificar a rede de drenagem, o primeiro foi o método de hierar-
quização desenvolvido por Horton em 1945 [9], e o método de Strahler, 1957 [26], que é uma
modificação do método de Horton (Figura 3). Atualmente o método Strahler é o mais utilizado.

Figura 3.3: Ordem de cursos de água segundo Strahler.

Este método define que os cursos de água sem tributários são de primeira ordem, mesmo que
sejam nascentes dos rios principais e afluentes; os cursos de segunda são os que se originam
da confluência de dos cursos de primeira ordem; os cursos de terceira ordem se originam da
confluência de dois canais de segunda ordem, e assim por diante. Sempre que um curso de
ordem superior se encontre com um curso de ordem inferior, a sua ordem não altera.

3.1.7 Tempo de concentração

O tempo de concentração de uma bacia hidrográfica não é propriamente uma característica


física da bacia, mas sim um parâmetro que está relacionado com as características físicas, como
o comprimento total que a água percorre, e a velocidade com que ela escoa. Portanto, esse
parâmetro pode ser definido como o tempo necessário para que uma gota de água percorra
superficialmente desde o ponto mais distante da bacia até atingir seu exutório (McCuen et al,
1984) [15].
Normalmente, o tempo de concentração é estimado a partir das características geomorfoló-
gicas da bacia hidrográfica. Para isto existem diversas equações empíricas (tabela 3.1) resultan-
tes de diferentes análises em bacias com determinadas características e em condições diferentes.
3.2. Área Inundável e Sub-bacias de Contribuição 16

Portanto a escolha de uma equação difere na observação das características da bacia em estudo
com as condições para as quais as formulações foram desenvolvidas (Collischonn e Dornelles,
2013) [3].
Outra sugestão na seleção da equação de tempo de concentração é o artigo de Silveira (2005)
[24], onde foram avaliados o desempenho de 23 fórmulas de tempo de concentração, com base
em dois arquivos testes. Um com 29 bacias rurais e outro com 32 bacias urbanas.

3.2 Área Inundável e Sub-bacias de Contribuição

Para o estudo específico de inundação, utilizando modelos hidrológicos em conjunto com


modelos hidrodinâmicos, a bacia de estudo deve ser dividida em: sub-bacias de contribuição
(BCs) e área inundável (AI). As simulações hidrológicas são realizadas para as BCs e as hidro-
dinâmicas para a AI.
As BCs são diferenciadas da AI pelo elevado potencial de inundação que a segunda possui.
Como auxílio para esta diferenciação, deve-se realizar visitas de campo e obter informações
em entrevistas com moradores. Ainda, dependendo do projeto de mapeamento de inundação, a
área inundável pode ser considerada simplesmente como uma área que se tem interesse especi-
ficamente, como por exemplo um bairro em específico, e o resto da bacia deve ser considerada
como sub-bacia de contribuição.
As áreas que constituírem o mapa de inundação não podem ser consideradas como BCs. Os
mapas de perigo de inundação são confeccionados apenas para a AI, visto que não há necessi-
dade ou interesse deste estudo nas BCs. Independente do modelo matemático a ser utilizado,
este deve ser sempre calibrado e validado para o local e condições do problema.

3.3 Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso:

Bacia do Rio Meio-SC

Como exemplo prático será confeccionado um mapa de perigo de inundação para a área
referente a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), campus Florianópolis. Neste e no
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 17

Tabela 3.1: Equações de tempo de concentração. Adaptado de (Collischonn e Dornellis, 2013)


[3].
Nome Equações Observações
Desenvolvida com dados de sete pequenas
bacias rurais do Tenessee com declividades
variando de 3 a 10% e áreas de, no máximo,
0, 5km2 . Embora o tipo de informação que a
fórmula necessite (L e S ) seja uma indicação
Kirpich tc = 3, 989L0,77 S −0,385 de que ela reflete o escoamento em canais, o
(1940) [12] fato de ter sido desenvolvida para bacias tão
pequenas é uma indicação de que os parâ-
metros devem representar o escoamento em
superfícies. Quando o valor de L é superior
a 10km, a fórmula parece subestimar o valor
de tc
Deduzida a partir da teoria da onda cinemá-
tica, aplicada a superfícies a partir das hipó-
teses de escoamentos turbulentos e chuva de
Onda
tc = 447 (nL) S i
0,6 −0,3 −0,4 intensidade constante. O comprimento das
Cinemática superfícies variou de 15 a 30 metros. É ade-
(1963) [32] quada para bacias muito pequenas, em que
o escoamento em superfícies seja predomi-
nante.
A fórmula do SCS foi desenvolvida em ba-
cias rurais com áreas de drenagem de até
8km2 e reflete, fundamentalmente, o escoa-
SCS ”Lag tc " ! #0,7 = mento em superfícies. Para a aplicação em
formula” 1000
3, 42L0,8 − 9 S −0,5 bacias urbanas. O SCS sugere procedimen-
(1975) [23] CN tos para ajuste em função da área imperme-
abilizada e da parcela dos canais que sofre-
ram modificações. Essa fórmula superestima
o valor de tc em comparação com as expres-
sões de Kirpich.
tc = tempo de concentração (min.)
S = declividade do talvegue (m/m)
n = rugosidade de Manning (-)
i = intensidade da chuva em (mm/h)
CN = número de deflúvio (método do SCS) (-)
L = comprimento do curso de água principal (km)
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 18

final cada capítulo posterior, um exemplo prático relacionado ao referente capítulo será apre-
sentado e desenvolvido.
Neste capítulo será apresentada a descrição das etapas para discretização de bacias hidro-
gráficas, desde a elaboração da base de dados até as ferramentas ou softwares utilizados para
seu geoprocessamento. Além disso, serão realizados cálculos de algumas características físicas
da bacia, que servirão como dados de entrada dos modelos HEC-HMS e HEC-RAS.
Nesta versão é apresentado um exemplo de aplicação na bacia do Rio Meio, no estado de
Santa Catarina, a partir da ferramenta ArcHydro desde ArcGis.

3.3.1 Obtenção de dados

Para iniciar o processo de discretização da bacia hidrográfica é fundamental dispor das fer-
ramentas de geoprocessamento, dados topográficos, e dados hidrológicos da região da bacia
hidrográfica que se deseja modelar.

Obtenção de softwares

O trabalho descrito neste manual requer dois pacotes de softwares, um comercial (ArcGIS)
e outro de domínio público (ArcHydro Tools):

• ArcGIS é uma tecnologia de Sistema de Informações Geográficas (SIG) com propósitos


gerais para o manejo de dados geográficos no formato digital. Suas funções incluem: pré-
processamento de dados em uma forma compatível para análise, apoio à análise espacial
aos modelos, e pós-processamento de resultados (Goodchild, 1993) [7]. Para isto, este
programa precisa de uma licença de ArcInfo e a extensão Spatial Analyst ativa.

• ArcHydro Tools é um conjunto de ferramentas e modelos de dados que opera dentro


do ArcGIS para auxiliar na elaboração e nas análises de dados geoespaciais e temporais.
Este programa foi desenvolvido no Centro de Pesquisas em Recursos Hídricos (Center
for Research in Water Resources - CRWR) na The University of Texas em Austin (EUA)
e mantido gratuitamente pela ESRI.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 19

Modelo digital de elevação (MDE)

O modelo digital de elevação é o dado topográfico mais importante para nosso trabalho, já
que é a representação do relevo. Para este manual o modelo digital de elevação foi obtido a
partir das Cartas de Susceptibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações do
Município de Florianópolis - SC. Esta base foi elaborada pelo Serviço Geológico do Brasil -
CPRM e o Instituto de Pesquisas Tecnologicas - IPT, através do programa de Gestão de Riscos
a Respostas a Desastres Naturais, incluído no plano plurianual 2012 - 2015 do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão. Atualmente abrange 286 municípios brasileiros.
A seguir é descrita a maneira de fazer o download da base cartográfica.

• Entre no site do CPRM: http://www.cprm.gov.br/ (Figura 3.4),

Figura 3.4: Página inicial do site do CPRM.

• Clique em Gestão Territorial > Riscos Geológicos no menu lateral. Após, clique no
link ”Cartas de Susceptibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações”
presente na parte inferior da página.

• Selecione o Estado e Município de interesse. Para nosso exemplo, selecionaremos o


Estado de Santa Catarina, município de Florianópolis (figura 3.5). Após isso, faça o
download do arquivo SIG (figura 3.6).

Entretanto, existem diferentes formas de obter um modelo digital de elevação. Um MDE


pode estar disponível gratuitamente em quase todo o mundo é o obtido pelo Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM).
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 20

Figura 3.5: Seleção do Estado/Município de interesse.

Figura 3.6: Download do arquivo SIG.

O SRTM consistiu em um sistema de radares especialmente modificados que voou acoplado


ao Ônibus Espacial Endeavour durante uma missão de 11 dias em Fevereiro de 2000. Os dados
foram publicados em uma grade com arco de 1 segundo (resolução de 30 metros) para os EUA
e com um arco de 3 segundos (resolução de 90 metros) para o resto do globo da latitude de 56o S
até a de 60o N (Rabus et al, 2003) [20].
Estas são algumas fontes para fazer download dos dados do SRTM:

• Science for a changing World (USGS): http://seamless.usgs.gov/,

• The Consortium for Spatial Information (CGIAR): http://srtm.csi.cgiar.org/,

• Laboratório de Geoprocessamento (LabGeo): http://www.ecologia.ufrgs.br/labgeo/.


3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 21

Descrição das etapas para a discretização

Para começar o processo de discretização, deve-se dispor do modelo digital de elevação da


área de interesse, e dos softwares instalados explicado no item anterior. Além disso, é impor-
tante obter informação de dados de precipitação e vazão para um maior analise da nossa bacia.
A figura 3.7 apresenta o MDE do exemplo para a bacia do Rio Meio.
Para obter os dados de chuva e vazão, a maior fonte de dados hidrológicos é o banco
de dados da Agencia Nacional de Águas (ANA). Para acessar se ingressa no seguinte link
http://hidroweb.ana.gov.br/.

Nota: Dependendo do tamanho e da resolução do modelo digital de elevação, se recomenda


fazer um recorte da área de interesse a fim de facilitar seu processamento.

Figura 3.7: MDE (resolução 5m) da região que abrange a bacia do Rio Meio-SC.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 22

Preenchimento de falhas ou depressões

Esta é uma ferramenta que nos permite preencher imperfeições nos dados e remover todos
os Sinks do raster de superfície. Estas depressões são resultantes de erros nos processos de
geração do MDE. Para isso, a função Fill Sinks do ArcHydro modifica os valores de elevação
para reduzir estes problemas.

• Selecione Terrain Preprocessing > DEM Manipulation > Fill Sinks

• Na ferramenta Fill Sinks verifique que no campo DEM esteja o MDE desejado, e deixe
os demais campos como estão (figura 3.8).

Figura 3.8: Ferramenta Fill Sinks.

Direções de fluxo

O cálculo de direção de fluxo, desde cada célula do raster, é de grande importância na deri-
vação de características hidrológicas de uma superfície. A função Flow Direction do ArcHydro
realiza este processo automaticamente calculando os valores de direção de fluxo para uma dada
grade de dados. Para utilizar esta função deve realizar:

• Selecionar Terrain Preprocessing > Flow Diretion

• Verificar que o arquivo de entrada Hydro DEM seja o fill, gerado no processo anterior.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 23

No final, é gerado um arquivo raster em que cada célula tem um código que indica a direção
em que a água escoa naquele local (figura 3.9).

Figura 3.9: Mapa de direções de fluxo (Fdr) na região que abrange a bacia do Rio Meio-SC.

Área acumulada

O cálculo da área acumulada se realiza através da função ”Flow Acumulation” do ArcHydro,


que calcula os valores da área de drenagem em uma grade que contém o número de células que
drenam, para cada célula de uma grade de entrada. Este procedimento deve ser realizado com
base no mapa de direções de fluxo.

• Selecionar Terrain Preprocessing > Flow Acumulation,

• Verificar que este procedimento seja realizado com base no mapa de direções (Fdr). O
resultado é um novo raster em que o valor de cada célula corresponde ao número de
células localizadas a montante (figura 3.10).
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 24

Figura 3.10: Mapa de área acumulada de cada célula (Fac) da região que abrange a bacia do
Rio Meio-SC.

Rede de drenagem raster

Para definir a rede de drenagem o ArcHydro utiliza a ferramenta "Stream Definition” que
calcula uma grade de drenagem que contém um valor de 1 para todas as células de entrada
da área acumulada que utilizem um valor maior que um limiar especificado. Todas as demais
células na grade contém o valor "no data”.

• Selecionar Terrain Preprocessing > Stream Definition,

• Verificar que o procedimento seja com o mapa de área acumulada (Fac), e que o valor do
limite (threshold to initiate stream) seja especificado. Este valor é adotado considerando
o grau de discretização da bacia que vai ser obtido. Valores baixos geram uma rede de
drenagem mais densa e com maior número de confluências. No entanto, um valor padrão
é sugerido pelo programa que representa 1% da área acumulada máxima.

• No caso do exemplo foi adotado o valor padrão, obtendo como resultado uma rede de
drenagem descontinua (figura 3.11). Foram realizados vários testes diminuindo o valor
limite, tendo como resultado o mesmo problema.

No ArcHydro existe uma função para recondicionamento do MDE, a partir da imposição


de feições lineares (hidrografia correta). Para isto, se realizou uma reconstrução da hidrografia
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 25

Figura 3.11: Mapa de rede de drenagem raster (rede) na região que abrange a bacia do Rio
Meio-SC.

manualmente com ajuda da rede de drenagem descontinua, e uma imagem de satélite da região
de interesse. Após isso, se realizou os procedimentos explicados nos itens anteriores, para
finalmente obter como resultado a rede de drenagem continua (figura 3.12).

Figura 3.12: Zoom do mapa da rede de drenagem raster corrigido (rede_2) na região que
abrange a bacia do Rio Meio-SC.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 26

Definição do exutório

O exutório é o ponto de saída da bacia de interesse. Para sua definição ArcHydro utiliza a
função Batch Point Generation que permite inserir o ponto na rede de drenagem. É importante
que o ponto esteja posicionado sobre o pixel da rede de drenagem raster para seu processamento
(figura 3.13).

Figura 3.13: Exutório (Batch point) da bacia do Rio Meio-SC.

Delimitação da bacia

A Bacia hidrográfica é uma área limitada por um divisor de águas gerado a partir da preci-
pitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, o exutório, e as separa
das bacias adjacentes.
No ArcHydro a delimitação de uma bacia é realizada automaticamente utilizando a função
Batch Subwatershed Delineation, considerando o mapa de direções de fluxo, rede de drenagem
raster e o ponto do exutório. Para isto, deve-se:

• Selecionar Watershed Processing > Batch Subwatershed Delineation.

• Verificar que os arquivos de entrada sejam o mapa de direçoões de fluxo (Fdr), a rede de
drenagem raster corrigida (rede_2), e o exutório (Batch point).

No final é gerado um polígono com o contorno da bacia (figura 3.14).


3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 27

Figura 3.14: Delimitação da bacia (Subwatershed) do Rio Meio-SC.

O polígono final da bacia pode ser utilizado para extrair toda a informação que fica no
interior da bacia, como o MDE, rede de drenagem e etc... Para realizar esta operação utilize as
ferramentas de ArcToolbox de ArcGIS. Como exemplo, será extraído o MDE.

• Selecione ArcToolbox > Spatial Analyst Tools > Extraction >Extract by Mask.

• Verificar que os dados de entrada sejam: O raster (Fill) a ser extraído, e o polígono da
bacia (Subwatershed).

Como resultado é gerado o modelo digital de elevação da bacia do Rio Meio-SC (figura 3.15).
Nota: Para extrair ou recortar informação em formato shapefile como pontos, linhas, ou polígo-
nos, deve-se utilizar a ferramenta Analyst Tools > Extrac > Clip

Definição de áreas de interesse

Depois da delimitação da bacia, realiza-se a definição das áreas de interesse. Para o nosso
caso, o objetivo é obter informações relevantes para a realização das simulações hidrológicas e
hidrodinâmicas, a fim de conseguir criar o mapa de inundações e de perigo de inundação.
Para isto, as áreas de interesse são discretizadas em sub-bacias de contribuição (BCs) para
as simulações hidrológicas, e em uma área inundável (AI) para as simulações hidrodinâmicas.
A área inundável se define, a partir de eventos passados de inundação, levantamento em campo,
fotografias, dados observados de vazão, e obtendo informação em entrevista com morados.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 28

Figura 3.15: Mapa do MDE da bacia do Rio Meio-SC.

Neste exemplo a área inundável foi definida para o campus da Universidade Federal de
Santa Catarina, em Florianópolis (figura 3.16).

Delimitação de sub-bacias e área inundável

Uma vez definida a área inundável, se realiza a delimitação das sub-bacias de contribui-
ção, a partir do limite da área inundável. A continuação se faz uma descrição das etapas para
discretização automática das BCs.
Primeiro se define os trechos de drenagem raster, a partir da função Terrain Preprocessing
> Stream Segmentation, verificando que os arquivos de entrada sejam o mapa de direções de
fluxo (Fdr) e rede de drenagem raster (rede_2). No final é criado um mapa com segmentos de
trechos de rio que contém uma única identificação (figura 3.17).
A segunda etapa é a definição de mini-bacias raster para cada trecho de rio. Para obter o
mapa de mini-bacias raster se utiliza a função Terrain Preprocessing > Catchment Grid Deli-
neation. Os arquivos de entrada são o mapa de direções de fluxo (Fdr) e o mapa de trechos de
rio (StrLnk). A figura 3.18 mostra o resultado desta operação.
Posteriormente, realiza-se a transformação do mapa de mini-bacias raster para um mapa
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 29

Figura 3.16: Fotografia aérea da região que abrange a bacia do Rio Meio-SC e em vermelho o
limite de um evento de inundação em 1995 (Mulungo, 2012)[17].

Figura 3.17: Mapa de trechos de rio raster (StrLnk) da área que abrange a bacia do Rio Meio-
SC.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 30

Figura 3.18: Mapa de mini-bacias raster (Cat) da região que abrange a bacia do Rio Meio-SC.

em formato vetorial (figura 3.19). Para isto, deve-se selecionar a função Terrain Preprocessing
> Catchment Polygon Processing, inserindo como arquivo de entrada o mapa de mini-bacias
raster (Catchment).
Outra transformação necessária é a conversão do mapa de trechos de rio raster para um
mapa em formato vetorial (figura 3.20). Para este procedimento, se utiliza a função Terrain
Preprocessing > Drainage Line Processing, considerando como arquivos de entrada o mapa de
drenagem raster (StrLnk) e do mapa de direções de fluxo (Fdr).
A terceira etapa consiste em definir as bacias que estão localizadas a montante das mini-
bacias. Para isto, o ArcHydro utiliza a função Terrain Preprocessing > Adjoint Catchment
Processing, inserindo como arquivos de entrada a rede de drenagem vetorial (DrainageLine)
e o mapa de mini-bacias vetorial (Catchments). No final, é gerado um polígono da área que
envolve a bacia do Rio Meio, após a primeira mini-bacia a jusante (figura 3.21).
A etapa final é a definição das sub-bacias de contribuição. Esta delimitação muitas vezes
esta relacionada com pontos de controle como postos fluviométricos, onde cada sub-bacia cor-
responde à área de drenagem a montante dos postos. Neste exemplo, os pontos ou exutório de
cada sub-bacia foram definidos a partir do limite da área inundável, como se explicou anterior-
mente.
3.3. Discretização de bacias hidrográficas. Estudo de caso: Bacia do Rio Meio-SC 31

Figura 3.19: Mapa de mini-bacias em formato vetorial (catchmens) da região que abrange a
bacia do Rio Meio-SC.

Para definir os pontos de exutórios se utiliza a ferramenta Batch Point Generation, e po-
demos ir acrescentando os pontos das sub-bacias que precisemos. Além disso, é importante
considerar uma numeração sequencial de montante para jusante. No final teremos um arquivo
vetorial com os pontos que definem os exutórios das sub-bacias de contribuição e a área inun-
dável (figura 3.22).
Após da definição dos exutórios de interesse, se realiza a delimitação das sub-bacias, a partir
da função Watershed Processing > Batch Subwatershed Delineation. Os dados de entrada são o
mapa de direções de fluxo (Fdr), a rede de drenagem raster (Str), além do arquivo dos exutórios
(Batch Point).
No final, é gerado um mapa com os polígonos dos limites de cada sub-bacia (figura 3.23). A
sub-bacia com a cor amarela é a área inundável, onde se realizará as simulações hidrodinâmicas,
e as oito restantes de cor azul são as sub-bacias de contribuição para as simulações hidrológicas.
3.4. Características físicas de uma bacia 32

Figura 3.20: Mapa da rede de drenagem em formato vetorial (DrainageLine) da região que
abrange a bacia do Rio Meio-SC.

3.4 Características físicas de uma bacia

O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é função de suas características


morfológicas, área, comprimento de rio, declividade, forma, topografia, solo, cobertura vegetal
e etc... A seguir se descreve a utilização de ferramentas dentro de ArcGIS para cálculo de
algumas destas variáveis.
Estas características serão calculadas a partir do mapa de discretização das sub-bacias (subwa-
tershed) e a hidrografia dentro da bacia em formato vetorial. É importante que os mapa estejam
projetados em coordenadas planas e não em coordenadas geográficas. A tabela 3.2 mostra um
resumo dos resultados.
3.4. Características físicas de uma bacia 33

Figura 3.21: Mapa (adjoint catchment) da região que envolve a bacia do Rio Meio-SC.

Figura 3.22: Exutórios das sub-bacias de contribuição e área inundável (Batch Point).
3.4. Características físicas de uma bacia 34

Figura 3.23: Mapa de discretização das sub?bacias do Rio Meio-SC (Subwatershed).

3.4.1 Área da bacia

Para o cálculo da área se utiliza a tabela de atributos clicando no botão direto do arquivo ou
layer a ser utilizado (figura 3.24).
Após isso, deve-se adicionar um campo na tabela a partir de opções da tabela > adicionar
campo. Uma vez criado o campo se realiza o cálculo automático da área com a ferramenta cal-
cular geometria clicando com o botão direto sobre o nome do campo e se seleciona as unidades
(figura 3.25). Para este exemplo vamos trabalhar com km2 . No final teremos o calculo da área
para cada sub-bacia em quilômetros quadrados.

3.4.2 Comprimento do rio principal

Para o cálculo do comprimento do rio se realiza os mesmo passos do item de cálculo de


área, mudando só a propriedade para comprimento (Figura 3.26)
3.4. Características físicas de uma bacia 35

Figura 3.24: Tabela de atributos para o calculo da área das sub-bacias (Subwatershed).

Figura 3.25: Cálculo de área para cada sub-bacia.

3.4.3 Declividade média

A declividade média de um rio é a relação entre a diferença de cotas e o comprimento do rio


(equação 3.1). Para o cálculo da declividade média da bacia, deve ser gerado, como primeira
etapa, o mapa de declividades a partir da função Terrain preprocessing > slope. O dado de
entrada é o mapa raster da bacia (mde_rm). A figura 3.27 mostra o mapa de declivides em
porcentagem da bacia do rio Meio-SC.
Após da geração do mapa de declividades se utiliza as ferramentas de ArcToolbox dentro de
ArcGIS para o cálculo da declividade média da bacia, e outras variáveis de seu interesse. Para
3.4. Características físicas de uma bacia 36

Figura 3.26: Cálculo de comprimento de rio principal.

Figura 3.27: Mapa de declividades da bacia do Rio Meio-SC (Map_declividade).


3.4. Características físicas de uma bacia 37

isto:

• Selecione Spatial Analyst toolbox > Zonal toolset > Zonal Statistics as table.

• Verifique se os arquivos de entrada são o mapa de discretização de bacias (Subwatershed),


e o mapa de declividade (Map_declividade). Além disso, selecionar o tipo de estatística.
Neste caso selecionamos declividade média (mean).

No final é gerada uma tabela com o resultado de declividade média para cada sub-bacia em
porcentagem.

3.4.4 Forma da bacia

Para o cálculo da forma da bacia utiliza-se o Índice de Gravelius ou Coeficiente de Compa-


cidade, a fim de analisar a resposta hidrológica de nossas bacias. Descrito anteriormente.

3.4.5 Tempo de concentração

No cálculo do tempo de concentração se utilizou a equação de Carter (equação 3.4) (Mc-


Cuen et al, 1984) [15], a qual foi desenvolvida para bacias urbanas. Outro critério para seleção
da equação foi o estudo de Silveira (2005) [24], que obteve os melhores resultados quando
testada em bacias urbanas.

L0,6
tc = 5, 96 (3.4)
S 0,3

em que tc é o tempo de concentração (min.); L é o comprimento do curso de água principal


(km); e S é a declividade do curso de água principal (m/m).
3.4. Características físicas de uma bacia 38

3.4.6 Resumo dos resultados das características da bacia

Tabela 3.2: Características das sub-bacias


Bacia ID Área P Sbacia L Scanal Kc Tc
(km2 ) (km) (m/m) (km) (m/m) (min)
Bacia Exutório 4,66 15,8 0,22 5,01 0,08 2,05 33,5
Principal
AI AI 1,46 10,8 0,08 2,02 2,4E-4 2,51 110,8
BC 0 0,59 4,7 0,31 1,51 0,16 1,73 13,3
BC 1 0,55 4,5 0,29 1,31 0,12 1,68 13,3
BC 2 0,53 5,0 0,21 1,30 0,14 1,92 12,4
BC 3 1,22 7,6 0,32 2,99 0,13 1,93 21,1
BC 4 0,09 1,6 0,15 0,22 0,07 1,55 5,5
BC 5 0,08 2,0 0,22 0,52 0,13 1,96 7,4
BC 6 0,05 1,2 0,20 0,33 0,11 1,53 5,9
BC 7 0,08 1,7 0,34 0,46 0,22 1,64 5,9

Figura 3.28: Divisão das subbacias do estudo.


Capítulo 4

Modelagem Hidrológica

Na hidrologia se estuda o ciclo hidrológico ou alguma parte específica deste ciclo. Assim,
a maior parte dos modelos hidrológicos, dos que são modelos matemáticos, representam parte
do ciclo hidrológico utilizando uma equação ou um conjunto de equações.
Um modelo chuva-vazão é um tipo de modelo hidrológico que fornece a vazão da exutória
da bacia hidrográfica de estudo, considerando uma precipitação específica (seja ela medida, de
projeto ou prevista) aplicada a esta bacia hidrográfica. Normalmente, esta vazão é representada
em uma seção transversal de rio. Os modelos chuva-vazão são formados por um conjunto de
modelos que representam partes menores do ciclo hidrológico, como os modelos de precipi-
tação total, precipitação efetiva, transformação da precipitação em escoamento superficial, de
escoamento básico e de evapotranspiração.

4.1 Classificação

Cada modelo é classificado por diversas características. Não existem classes de modelos
melhores ou piores, pois tudo depende da aplicação deste modelo. A seguir são apresentadas as
principais características dos modelos hidrológicos.

• Determinístico × Estocástico;

No modelo determinístico os resultados não se comportam por probabilidades, pois a


aleatoriedade não é abordada em nenhum aspecto. Já em modelos estocásticos, existem

39
4.1. Classificação 40

parâmetros que inferem aleatoriedade à simulação e os resultados devem ser analisados


de forma probabilística.

• Conceitual × Empírico;

No modelo conceitual os aspectos naturais (físicos, químicos e biológicos) são considera-


dos e funções que relacionam estes aspectos são utilizadas para fornecer o resultado. No
modelo empírico, também conhecido como "caixa-preta", os dados passam por operações
matemáticas que não representam leis e princípios reais. Estas equações são criadas uti-
lizando análises estatísticas e de probabilidades para fornecer os resultados. Os modelos
empíricos são utilizados para tratar fenômenos muito complexos que seriam difíceis de
serem tratados conceitualmente. Ainda, existem modelos que utilizam tanto a abordagem
conceitual quanto a empírica. Estes modelos podem ser chamados de semi-empíricos ou
semi-conceituais, ou simplesmente conceituais e empíricos.

• Eventual × Contínuo;

No modelo eventual se simula um período pequeno (um evento), que pode durar horas ou
dias. Enquanto que no modelo contínuo períodos longos são simulados agregando mais
do que um evento chuvoso à simulação. Os modelos contínuos são amplamente utilizados
ao se acoplar o modelo hidrológico a um modelo meteorológico.

• Concentrado × Distribuído;

O modelo concentrado é o que não considera a variabilidade espacial dos valores de en-
trada, saída ou parâmetros, utilizando apenas valores médios para uma bacia. No modelo
distribuído a área da bacia é subdivida em células menores, fazendo com que os parâme-
tros, dados de entrada e dados de saída possuam variação espacial bidimensional. Nota-se
que para o segundo caso, os modelos devem possuir considerações sobre a variação es-
pacial das variáveis. Também existem os sistemas de modelos concentrados, que por sua
vez, dividem a bacia em subbacias menores e modelos concentrados são aplicados a estas
bacias que podem possuir características diferentes uma das outras. Os hidrogramas das
subbacias devem ser considerados de forma a se obter um hidrograma único, referente a
bacia de estudo.
4.2. Modelo Chuva-Vazão 41

4.2 Modelo Chuva-Vazão

Qualquer modelo hidrológico de chuva-vazão pode ser utilizado para esta metodologia,
desde que ele seja adequado para a bacia de estudo. Aconselha-se utilizar modelos que levem
em consideração ao menos os processos de infiltração, de escoamento superficial e de escoa-
mento básico (figura 4.1). Fenômenos que possuem importância em escala de tempo maior,
como a evapotranspiração (ou apenas evaporação [21]) geralmente não precisam ser considera-
dos.

Figura 4.1: Processos que compõem o modelo chuva-vazão utilizado nesta metodologia.

4.2.1 Precipitação

A precipitação é entendida, em hidrologia, como toda água proveniente do meio atmosfé-


rico que atinge a superfície terrestre. Dentre as formas de precipitação, a chuva é o tipo mais
importante nos estudos hidrológicos, já que tem a capacidade de produzir escoamento devido
a sua fluidez e capacidade de gerar grandes volumes. No caso do Brasil, a chuva é o tipo de
precipitação predominante, sendo quase nula a ocorrência dos outros tipos, se comparada com
esta. Por este motivo, a chuva será o único fenômeno de precipitação estudado neste texto.
Na avaliação do balanço hídrico, a precipitação é uma das principais entradas de massa. De-
vido ao seu comportamento complexo, é um dos principais fenômenos de estudo da hidrologia,
já que sua a dificuldade de sua previsão é um dos fatores cruciais na ocorrência de desastres
naturais, problemas de drenagem urbana, entre outros.
4.2. Modelo Chuva-Vazão 42

As precipitações consideradas no modelo podem ser precipitações medidas, de projeto ou


previstas. As precipitações previstas são obtidas de modelos meteorológicos e são utilizadas
na previsão de eventos provocados pela chuva, como por exemplo a inundação. Na criação
do mapa de inundação, não se tem a necessidade de precipitações previstas e estas devem ser
utilizadas em um momento posterior ao mapeamento. Com o mapa de perigo de inundação,
precipitações prevista podem ser utilizadas para auxiliar na tomada de medidas preventivas ao
evento.
A precipitação medida pode ser obtida através de equipamentos que medem a precipitação
pontualmente (pluviômetro e pluviógrafo), ou por satélites e radares. Para aumentar a veraci-
dade das medições estas devem passar por uma análise de consistência para encontrar possíveis
falhas e assim fazer correções. Mais detalhes sobre estas análises pode ser encontrados em
livros básicos de hidrologia. Estes dados são utilizados tanto para a criação de uma Equação
IDF (Intensidade-Duração-Frequência), quanto para a calibração e validação do modelo chuva-
vazão.
Já, a precipitação de projeto é utilizada para realizar projetos, como de construção de sis-
temas de drenagem urbana, barragens e criação de mapas de inundação. A segui são detalhadas
as informações sobre este tipo de precipitação.

Precipitação de Projeto

A precipitação de projeto é utilizada para se estimar uma precipitação hipotética provável


para uma área de estudo. Para se obter esta precipitação são necessárias a equação IDF e alguma
forma de estimar a distribuição temporal da precipitação. Outra informação que pode auxiliar
nesta tarefa é a distribuição espacial da precipitação.

Equação IDF: As equações IDF são ajustes das Curvas IDF em formato de equação para
serem facilmente aplicadas, normalmente na forma

k · T Rm
i= (4.1)
(t + b)n

onde i é a intensidade (mm/h), T R é o período de retorno (anos), t é o tempo de precipitação


4.2. Modelo Chuva-Vazão 43

(minutos) e k, m, b e n são coeficientes a serem determinados com base na Curva IDF. De-
pendendo da forma com que a equação IDF foi obtida, podem haver pequenas mudanças na
equação 4.1, mas sempre com as variáveis independentes T R e t e com a variável dependente i.
As Curvas IDF são obtidas observando as precipitações máximas anuais de uma série his-
tórica suficientemente comprida, usualmente, não menor do que 30 anos. Assim, as equações
IDF são obtidas com o ajuste das curvas IDF, que pode ser realizado linearizando a equação 4.1,
através do uso de logaritmos e utilizando regressão múltipla para determinação dos coeficientes.
Para mais detalhes de como se obter uma Curva e uma equação IDF se aconselha o estudo em
bibliografia especializada.
Visto que a equação IDF é um modelo concentrado utilizado para estimar a intensidade de
uma precipitação, aconselha-se utilizar mais do que uma quando se trabalha com bacias grandes
e existe banco de dados para isso. Na criação do mapa de perigo, são utilizados os períodos de
retorno de 5, 20 e 100 anos. O tempo da duração da precipitação deve ser o tempo de duração
crítica, ou seja, o tempo de precipitação que causará a maior vazão de pico.

Duração Crítica: Tucci et al. (1995)[27] mencionam que na utilização do Método Raci-
onal (modelo Chuva-Vazão simplificado), adota-se para a chuva crítica de uma pequena bacia
hidrográfica uma duração igual ao tempo de concentração da bacia considerando que a preci-
pitação efetiva tenha intensidade constante. Porém, para estudos mais detalhados, a duração
crítica deve ser pesquisada se aplicando diversos hietogramas de projeto, com durações cres-
centes ao modelo chuva-vazão, e analisando-se os resultados dos valores das vazões de pico e
dos volumes dos hidrogramas gerados.
Analisando a equação 4.1, nota-se que a duração da precipitação está dividindo a equação,
logo, quanto menor este tempo, maior é a intensidade. Assim, a duração crítica é o tempo ideal
em que a intensidade e volume precipitado, estimados por uma equação IDF, são grandes o
suficiente para fornecer vazão mais drástica para um determinado período de retorno.

Distribuição temporal: Como a equação IDF fornece apenas a intensidade para um evento
chuvoso, necessita-se também saber qual a variação temporal desta intensidade, durante o pró-
4.2. Modelo Chuva-Vazão 44

prio evento chuvoso. Monteiro e Kobiyama (2013)[16] afirmam que quanto mais tardar o pico
do hietograma ocorrer, maior será a vazão de pico que este produzirá e, consequentemente,
maior será a importância em inundações.
Qualquer método para a distribuição temporal da precipitação pode ser utilizado desde que
seja adequado à área de estudo, e aconselha-se utilizar a distribuição temporal com o pico de in-
tensidade mais tardio. A presente metodologia adota o quarto quartil do Método de Huff (Huff,
1967 [10]) que representa a distribuição temporal da precipitação com o pico de intensidade
mais tardio.

4.2.2 Interceptação

A precipitação pode ser dividida em duas parcelas: uma que contribui com o escoamento
superficial e outra que contribui com as abstrações (perdas) que inclui a interceptação, evapo-
transpiração, infiltração e armazenamento em depressões e detenções. A precipitação efetiva é
inteiramente e unicamente a responsável pelo escoamento superficial. Então o volume escoado
superficialmente tem que ser igual ao da precipitação efetiva para um evento de chuva. Assim,
a interceptação representa a parte da precipitação que não fará parte do escoamento superficial.
A infiltração normalmente é obtida se analisando o uso do solo e o tipo de solo da ba-
cia. Certamente, principalmente em áreas urbanas, este tipo de estudo pode ser complexo,
necessitando-se o uso de imagem de satélites ou fotos aéreas de boa qualidade, para identificar
os diferentes usos e tipos de solo. Efeitos resultantes da modificação do uso do solo podem ser
analisados com base em diferentes interceptações consideradas no modelo hidrológico.
Existem diversos modelos para o cálculo da precipitação efetiva, entre eles estão os modelo
de Perda inicial e taxa constante, Déficit e taxa constante, Retenção potencial máxima - SCS
Curve Number e Green-Ampt.
Em muitos casos, deve se considerar interceptações diferentes levando em conta o nível de
saturação do solo. Podemos fazer um paralelo com a bacia. A bacia como um todo, assim como
o solo, possui um nível de saturação, em que as árvores, as depressões e qualquer coisa que
armazene as águas já está com a sua capacidade esgotada. Em estudos de inundação aconselha-
se considerar que o solo já esteja úmido, próximo a saturação.
4.2. Modelo Chuva-Vazão 45

As seguintes condições servem como auxílio para identificar o nível de saturação do solo/bacia:

• Condição I - Solos Secos: As chuvas nos últimos 5 dias não ultrapassaram 15 mm;

• Condição II - Situação Média na Época de Cheia. As chuvas nos últimos 5 dias totaliza-
ram entre 15 e 40 mm;

• Condição III - Solo Úmido (próximo a saturação): As chuvas nos últimos 5 dias totali-
zaram entre 15 e 40 mm.

Ao se utilizar o método de Retenção Potencial Máxima o valor do número de Deflúvio (CN


- Curve Number) é considerado como estando na Condição II e as correções para a Condição
I ou Condição III seguem as seguintes equações

4, 2 · CN(II) 23 · CN(II)
CN(I) = ou CN(III) = (4.2)
10 − 0, 058 · CN(II) 10 + 0, 013 · CN(II)

4.2.3 Transformada em escoamento superficial

O escoamento superficial de uma bacia é exclusivamente a descarga superficial resultante


da precipitação efetiva (precipitação efetiva = precipitação - perdas) que origina o hidrograma
de cheias. Devido a complexidade dos elementos que tem influência no escoamento superficial,
sua medição é aproximada, principalmente por sua íntima relação com o escoamento de base,
porém existem diversos métodos para estimá-lo.
A maneira mais usual para transformar a precipitação efetiva em escoamento superficial é o
desenvolvimento de um hidrograma unitário (HU), o qual indica um volume escoado superfici-
almente na bacia relacionado a uma precipitação efetiva unitária. É importante destacar que o
hidrograma unitário depende principalmente das características de cada bacia.
Os métodos concentrados para a modelagem do escoamento superficial mais usuais são, o
HU de Snyder, o HU de Clark e o HU do SCS. Na figura 4.2 se pode observar os parâmetros do
hidrograma unitário em que td é o tempo de duração da precipitação, t p é a diferença entre os
tempos de pico do hidrograma e do ietograma, q p é a vazão de pico, ta é o tempo de ascenção
do HU, tr é o tempo de recessão do HU e tb é o tempo de base do HU
4.2. Modelo Chuva-Vazão 46

Figura 4.2: Parâmetros do Hidrograma Unitário.

4.2.4 Escoamento de base

O escoamento superficial, o escoamento subsuperficial e o escoamento básico são os ele-


mentos que formam o hidrograma. Existem diversos métodos para separar o escoamento super-
ficial do escoamento básico, porém é difícil de se estimar qual é a contribuição do escoamento
subsuperficial. Por este motivo, este deve ser considerado como sendo parte do superficial e
do básico. Esta consideração deve ser feita dependendo do método de escoamento superficial e
básico utilizados na modelagem.
O escoamento básico é resultado do armazenamento temporário de parte da precipitação
percolada na bacia, do escoamento subsuperficial e das águas presentes em lençóis freáticos ou
outras formas de armazenamento ou fluxo subterrâneo que representam as condições antece-
dentes ao evento chuvoso. O escoamento básico apresenta valores relativamente constantes ao
longo do tempo. Já o escoamento superficial é resultado direto da chuva, resultando em alte-
rações bruscas e relativamente imediatas na vazão dos cursos de água. Assim, é aceitável que,
para simulações de eventos curtos, considere-se que o escoamento de base seja constante.

4.2.5 Escoamento em rios

Diversos modelos chuva-vazão possuem modelos que calculam o escoamento em rios. Em


sua totalidade, estes modelos são simplificados não sendo apropriados para o cálculo do escoa-
mento na área inundável. Assim, aconselha-se, ao invés de utilizar um modelo de escoamento
4.3. Calibração e Validação 47

em rios acoplado a um modelo chuva-vazão, utilizar um modelo hidrodinâmico para realizar


esta tarefa. A simulação hidrodinâmica será discutida no capítulo seguinte.

4.3 Calibração e Validação

Na utilização de um modelo chuva-vazão, a calibração dos parâmetros é tida como uma


etapa fundamental. A calibração de um modelo chuva-vazão consiste em modificar os valores
dos parâmetros do modelo, até que este apresente o hidrograma calculado condizente com o ob-
servado. Certamente, deve-se tomar cuidado ao se modificar os parâmetros do modelo, para que
eles não se descaracterizem. A execução dessa tarefa pode ser de forma manual ou automática.
A calibração manual é interessante para o entendimento do modelo pelo usuário, porém
desfavorável quando se tornando muitas vezes um processo demorado, acarretando em cansaço
por parte do operador. Já, a calibração automática é rápida, porém é questionável quando uti-
lizada por usuário inexperiente, que pode favorecer o surgimento de parâmetros com valores
incompatíveis com a realidade, dentre outros aspectos. Para evitar estes problemas é recomen-
dável limitar o intervalo de variação dos parâmetros calibráveis para contribuir na estimativa de
valores dos parâmetros compatíveis com as condições físicas reais.
A calibração automática é feita utilizando um modelo de otimização, que é constituído por
uma função objetivo que se quer encontrar um ponto ótimo, maximizando ou minimizando-a.
A função objetivo é uma medida de desempenho da capacidade do modelo em representar as
vazões observadas, logo ela dita quais são as diferenças entre os os hidrogramas calculados e os
observados que se quer minimizar.
Exemplos de funções objetivo são apresentados a seguir:

s
PNT
(Qoi − Qci )2
FO = i=1
(4.3)
NT

v
t
PNT  1 2

1
i=1 Qoi
− Qci
FO = (4.4)
NT
4.3. Calibração e Validação 48

PNT
(Qoi − Qci )2
FO = 1 − P  i=1
2 (4.5)
NT
i=1 Qo i − Q

PNT |Qoi −Qci |


i=1 Qoi
FO = (4.6)
NT

PNT PNT
Qci − i=1 Qoi
FO = i=1
PNT (4.7)
i=1 Qoi

onde FO é o valor da função objetivo, Qoi é a vazão observada no intervalo de tempo i, Qci
é a vazão calculada no intervalo de tempo i, Q é a vazão média da série e NT é o número de
intervalos de tempo da série de dados. A equação 4.3 avalia a dispersão entre valores observados
e calculados com relação à média e ao desvio padrão. A equação 4.4, chamada de Desvio
Quadrático Inverso, é utilizada para o ajuste de vazões mínimas. A equação 4.5, que representa
o coeficiente de Nash-Sutcliffe, é utilizada para obter um melhor ajuste para as cheias. A
equação 4.6 representa o Desvio Relativo Médio entre os valores observados e simulados de
forma que, se observa a tendência de um melhor ajuste das vazões mínimas e médias. Por fim,
a equação 4.7 descreve o Erro do Volume, sendo comumente utilizada para avaliar o desvio
geral do volume, ou seja, através dela é possível perceber a diferença entre o volume simulado
e o observado, indicando assim se as equações presentes no modelo conseguem representar
eficazmente o escoamento na bacia.
Para variar as vazões calculadas em busca do valor da função objetivo ótima, deve-se esco-
lher parâmetros que variarão, em busca deste valor ótimo. Apenas os parâmetros que se tem
menos confiança devem ser modificados em busca da otimização. De uma forma geral, os da-
dos de campo não devem ser modificados, enquanto que os dados calculados, que normalmente
são os mais incertos, possuem prioridade a serem os parâmetros modificados para a otimização.
Deve-se tomar cuidado para não avaliar valores de parâmetros irreais ou que não representam a
bacia ou o fenômeno que se está analisando
A validação deve ser feita com outro evento que não seja o utilizado para a calibração. O
procedimento para a validação é muito parecido com o da calibração, com a diferença de que
não se modifica nenhum parâmetro do modelo, pois o objetivo não é encontrar o valor ótimo
4.4. Comentários 49

da função objetivo, e sim, apenas de validar a calibração que foi feita, mostrando que este
modelo calibrado atende a outros eventos sem ser o da própria calibração. Está etapa é muito
importante, pois identifica quais tipos de eventos o modelo, com determinada calibração, pode
abranger. Não é porque um modelo está calibrado que ele pode ser utilizado para qualquer
evento que ocorra em determinada bacia.

4.4 Comentários

A modelagem hidrológica deve ser aplicada somente por pessoas que já tenham estudado
hidrologia anteriormente. Caso contrário, os autores deste trabalho indicam fortemente que o
usuário do modelo hidrológico estude os conceitos básicos de hidrologia. O entendimento de
diversos métodos aqui utilizados deve ser aprofundado, pois na modelagem hidrológica, muitas
vezes, é necessário do bom senso do usuário.
4.5. Exemplo prático 50

4.5 Exemplo prático

O exemplo prático de modelagem chuva-vazão segue o organograma apresentado na figura


4.3. Primeiramente se realiza a calibração e validação do modelo, depois encontra-se a preci-
pitação crítica, para só então calcular os hidrogramas para os diferentes períodos de retorno. O
programa HEC-HMS 4.0 será utilizado para realizar as simulações e está gratuitamente dispo-
nível em "http://www.hec.usace.army.mil/software/hec-hms/".

Figura 4.3: Fluxograma detalhado da modelagem chuva-vazão.

Inicialmente, deve-se preparar as precipitações e vazões observadas para a calibração e


validação do modelo. A discretização temporal destas observações estão altamente relacio-
nadas ao tamanho da bacia, onde para bacias pequenas, uma discretização mais refinada se
torna necessária. Diversos dados pluviométricos e fluviométricos estão disponíveis no Portal
"http://hidroweb.ana.gov.br/". Caso o portal não forneça as informações necessárias recomen-
dasse recorrer a instituições, como universidades. No mínimo, utiliza-se dois eventos nesta
etapa, um para calibrar o modelo e outro para validar esta calibração, e mostrando que ela não
representa apenas para aquele evento em específico.

• Iniciando o HEC-HMS, deve-se definir quais os modelos a serem utilizados:


Tools =⇒ Program Settings; (figura 4.4).
Definir modelos a serem utilizados (Defaults)
Subbasin loss: SCS Curve Number
4.5. Exemplo prático 51

Subbasin transform: Clark Unit Hydrograph


Subbasin baseflow: Constant Monthly
Subbasin precipitation: Specified Hyetograph

Figura 4.4: Definição dos modelos.

• Para iniciar um novo projeto:


File =⇒ New; (figura 4.5).
Nunca se deve salvar o arquivo em pastas com espaços ou acentos, em todo o caminho, ou seja,
não é recomendado salvar o programa em uma pasta com o caminho "C:\Usuários\Área de
Trabalho\HEC HMS” e sim em uma pasta com o caminho
"C:\Usuarios\Area_de_Trabalho\HEC_HMS” ou simplesmente "C:\HEC_HMS"

• Para criar uma única bacia a ser modelada:


Components =⇒ Basin Model Manager; (figura 4.6).
Dentro da pasta Basin Model deve-se plicar no ícone "Subbasion creation Tool"e depois na tela
em branco.

• Para inserir as precipitações e definir a qual bacia esta está atribuída, deve-se criar as séries
temporais com:
Components =⇒ Time-Series Data Manager; Precipitation Gages (figura 4.7).
4.5. Exemplo prático 52

Figura 4.5: Criação do novo projeto.

Figura 4.6: Criação da bacia e subbacia.

Components =⇒ Meteorologic Model Manager;


Basins =⇒ Basin 1 - Yes
Todas as informações sobre a precipitação devem ser inseridas em "Precipitation Gages"

• Para inserir o hidrograma de saída para calibração e validação e definir a qual bacia este
está atribuído, deve-se:
Components =⇒ Time-Series Data Manager; Discharge Gages
Basin Model =⇒ Basin 1 =⇒ Subbasin-1;
Options =⇒ Observed Flow
Todas as informações sobre o hidrograma devem ser inseridas em "Discharge Gages"
4.5. Exemplo prático 53

Figura 4.7: Criação das precipitações e modelo meteorológico.

• Neste momento, deve-se inserir os parâmetros dos modelos da subbacia.

• Antes calibrar, validar ou rodar o modelo, cria-se "Control Specifications Manager"em:


Components =⇒ Control Specifications Manager;
Neste componente, deve-se definir qual o tempo de simulação, o dia e hora que começa e ter-
mina a simulação. É importante que a data definida neste gerenciador seja compatível com as
datas das precipitações e vazões fornecidas anteriormente.

• Para calibrar o modelo, deve-se acessar:


Compute =⇒ Create Compute =⇒ Optimization Trial; Compute =⇒ Trial1 + Add Parameter
(figura 4.8);
Deve-se definir quais são os parâmetros a serem calibrados e quais as variações permitidas a
estes, assim como a função objetivo a ser utilizada na calibração automática. É importante lem-
brar que as variações permitidas para os parâmetros devem condizer com a realidade da bacia,
não sendo interessante que se permita valores irrealísticos. Os parâmetros a serem calibrados
são aqueles que o usuário possui menos confiança.
Para rodar a calibração se deve acessar:
Compute =⇒ Trial1 + Compute;
4.5. Exemplo prático 54

Uma janela com uma barra cinza aparecerá imediatamente na tela, quando esta barra se tornar
azul, a calibração terá finalizado. Caso o usuário algum erro durante o preenchimento das infor-
mações para a modelagem ocorreu, o programa acusa qual o problema na janela de informações
com um texto em vermelho.

Figura 4.8: Calibrando o modelo.

• A validação deve ser realizada apenas rodando o modelo e identificando a similaridade


entre os dados calculados e medidos, para um evento diferente do calibrado. Para rodar o
modelo, deve-se acessar:
Compute =⇒ Create Compute =⇒ Simulation Run;
Compute =⇒ Run1 + Compute; (figura 4.9)
Uma janela com uma barra cinza aparecerá imediatamente na tela, quando esta barra se tornar
azul, a simulação terá terminado. Caso o usuário cometeu algum erro durante o preenchimento
das informações para a modelagem, o programa acusa qual o problema na janela de informa-
ções com um texto em vermelho.

Com o modelo calibrado e validado, deve-se encontrar a precipitação crítica, ou seja, a


4.5. Exemplo prático 55

Figura 4.9: Rodando o modelo.

precipitação que fornecerá a maior vazão de pico do hidrograma. Assim, necessita-se de uma
equação IDF para criar chuvas de projeto com diferentes tempos de duração de precipitação.
Existem formas para se calcular a IDF, que não convém a explicação a este trabalho. Aconselha-
se a utilizar uma equação IDF já confeccionada. No site "www.cprm.gov.br” na aba "Gestão
Territorial - Riscos Geológicos” pode se encontrar o link denominado "Cartas de Suscetibilidade
a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações”. Este link leva para diversos mapas topo-
gráficos, além de outras informações como a IDF, para diversos municípios brasileiros. Outra
forma de adquirir esta informação é através de artigos científicos, que já podem ter trabalhado
na área de estudo especificamente.
Com as precipitação crítica, deve-se elaborar os hidrogramas de saída das BCs para os
períodos de retorno de 5, 20 e 100 anos. Nota-se que o processo de calibração, validação e
busca da precipitação crítica é geralmente realizado para a bacia inteira, sem as divisões de
BCs e AI, pois raramente se possui os dados suficiente para estes processos para todas as BCs.
Assim, deve-se fazer uma proporção linear entre os parâmetros calibrados para a bacia inteira e
os parâmetros calculados para cada subbacia.
Capítulo 5

Simulação Hidrodinâmica

Na hidrodinâmica se estuda o movimento da água, sua interação com o meio físico e suas
propriedades químicas. Diferente da hidrologia, que está muitas vezes interessada em um com-
portamento mais geral da água em uma parte do ciclo hidrológico, a hidrodinâmica está inte-
ressada no comportamento específico, com mais detalhamento e, normalmente, em uma escala
de espaço e tempo menores.

5.1 Classificação

As simulações hidrodinâmicas utilizam métodos numéricos para resolver as equações di-


ferenciais do escoamento (Equação do Movimento e da Continuidade). Em hidrodinâmica o
método das Diferenças Finitas é um dos mais utilizados. Este método reduz um problema
de sistemas de equações e fornece uma solução em pontos (nós) discretizados no interior do
domínio do problema.
As simulações hidrodinâmicas podem possuir 0, 1, 2 ou 3 dimensões.
0D - Semelhante a um modelo concentrado em hidrologia, porém na hidrodinâmica é muito
pouco utilizada. Geralmente aplicada para verificar parâmetros relacionados à qualidade de
água em pequenos lagos ou reservatórios.
1D - Representa o corpo de água por uma linha (figura 5.1). Artifícios matemáticos podem
fazer com que esta linha não se comporte como uma reta, podendo representar curvas. Este tipo
de modelagem é ainda hoje muito utilizado em diversos âmbitos da hidrodinâmica, porém está

56
5.1. Classificação 57

perdendo espaço para os modelos bidimensionais, principalmente por causa do melhoramento


do processamento computacional.

Figura 5.1: Domínio unidimensional.

2D - Representa áreas transversais laterais, transversais longitudinais ou horizontais do


corpo de água (figura 5.2) a ser simulado. A representação horizontal é utilizada em simu-
lação de lagos e de rios, quando se tem interesse na planície de inundação. A representação
transversal lateral e longitudinal são utilizadas apenas quando se quer analisar escoamentos
bem definidos, normalmente, canais de laboratório.

Figura 5.2: Domínio bidimensional.

3D - Representa o corpo como um volume (figura 5.3). Todas as dimensões são consideradas
neste tipo de simulação. Mesmo com o aumento da performance computacional este tipo de
modelo ainda é muito pouco utilizado na representação de rios, mas quando se quer analisar os
efeitos da turbulência, este tipo de simulação é imprescindível.

Figura 5.3: Domínio tridimensional.


5.2. Escoamento Permanente 58

5.2 Escoamento Permanente

Um escoamento é chamado de permanente quando este não possui variações temporais im-
portantes. Entende-se que a importância desta variações é relativa e deve ser definida especifica-
mente, para cada tipo de estudo. Na natureza, escoamentos permanentes são muito raros, mas
dependendo do detalhamento que se necessita e/ou da escala a ser analisada um escoamento
pode ser considerado como permanente para um projeto de engenharia.
O cálculo deste tipo de escoamento pode ser realizado utilizando a equação de Bernoulli,
que trabalha com a conservação de energia de um ponto a outro, ou de uma seção a outra, e é
tida como:
a2 V22 P2 a1 V12 P1
+ + h2 = + + h1 + hL (5.1)
2g γ2 2g γ1

em que V é a velocidade normal a seção transversal velocidade, a é o coeficiente de ponderação


da velocidade, g é a aceleração da gravidade, P é a pressão, γ é peso específico, h é altura da
lâmina da água e hL é a perda de carga.

5.3 Escoamento Não Permanente

Em sua totalidade, os escoamentos são não permanentes já que variam ao longo do tempo.
Quando se tem interesse na variação de um fluxo com o tempo, como no caso de propagação
de hidrogramas, torna-se necessário o uso de equações que levam em consideração a variação
temporal do escoamento.
A equação de Saint-Venant é uma das formulações clássicas para o cálculo do escoamentos
em rios. Mesmo que está equação possua simplificações, como o da pressão hidrostática e o
da difusividade do fluido, ela é aceita e amplamente utilizada. Esta é definida pela equação
dinâmica:

2
∂Q ∂ QA ∂h
+ + gA = gAS − gAS (5.2)
∂t ∂x ∂x |{z}o |{z}f
declividade de fundo
|{z} |{z} |{z} declividade da linha de energia
aceleração local aceleração advectiva pressão hidrostática

e é utilizada junto à equação da continuidade:


5.4. Condições iniciais, de contorno e parâmetros 59

∂A ∂Q
+ +q=0 (5.3)
∂t ∂x

em que Q é a vazão normal a seção transversal, A é a área molhada da seção transversal, x é a


distância, g é a aceleração da gravidade, h é a profundidade do escoamento, S o é a declividade
do canal, S f é a declividade da linha de energia, q são as vazões laterais entre duas seções e t
é o tempo. Para simulações bi ou tridimensionais se utiliza, ou uma modificação da equação
de Saint-Venant, ou as equações de Navier-Stokes. Devido a complexidade deste tema se acon-
selha a pesquisa em bibliografia especializada, para mais informações sobre escoamentos bi e
tridimensionais
Assim as hipóteses para adoção destas equações são que a pressão pode ser considerada
como sendo apenas hidrostática, não existem variações significantes da massa específica nem da
viscosidade do fluido ao longo do tempo e do espaço e os efeitos da turbulência no escoamento
são simplificados.
Diversas simplificações das equações 5.2 e 5.3 são conhecidas e utilizadas. Quando estas
simplificações são feitas desconsiderando as derivadas parciais do tempo, este modelo passa a
ser um modelo de escoamento permanente.

5.4 Condições iniciais, de contorno e parâmetros

As equações 5.2 e 5.3 são resolvidas em um domínio restrito e definido e necessita de


condições auxiliares. Em outras palavras, cada solução do sistema de equações corresponde a
uma condição a priori definida. Portanto, a função e a solução do considerado problema devem
satisfazer simultaneamente a condição do domínio e das condições adicionais. Estas condições
adicionais são divididas em dois tipos: as condições iniciais e as condições de contorno.
As condições iniciais são dadas durante o instante de tempo inicial do cálculo (em geral
t = 0s), normalmente no início da simulação, e as condições de contorno são as aplicadas
nos limites do espaço físico, ou ainda quando se quer representar alguma estrutura ou restrição
dentro do domínio. Para o caso da equação de Saint-Venant, as condições iniciais são compostas
pelas vazões e profundidade da lâmina de água.
5.5. Métodos Numéricos 60

Como condição de contorno é necessário que se tenha uma vazão ou altura de lâmina de
água na seção inicial e final do trecho simulado. Aconselha-se, por questões de estabilidade,
que se adote uma vazão para a seção inicial e uma profundidade para seção final. A vazão de
entrada pode ser prescrita, ou seja, fornecida pelo usuário e a condição de saída pode ser de
saída livre.
As condições iniciais podem ser obtidas pela simulação do trecho de interesse como esco-
amento permanente se tendo a vazão ou profundidade fornecida pelo usuário. Como condição
inicial se tem a vazão e a altura da lâmina de água para todas as seções do trecho.

5.5 Métodos Numéricos

Existem diversos métodos numéricos para resolver problemas de escoamentos. Assim,


adotam-se as aproximações discretas para as equações diferenciais do tempo e do espaço.

5.5.1 Discretização Espacial

As aproximações em diferenças finitas são as mais simples para aproximar a derivada nume-
ricamente. Elas efetivamente substituem o operador diferencial contínuo por uma aproximação
discreta, calculada a partir dos valores de f em um número finito de pontos. Estas aproxima-
ções finitas podem ser obtidas de várias formas, onde as mais usuais são: expansão por série de
Taylor e interpolação polinomial.
O Teorema de Taylor permite aproximar uma função derivável na vizinhança reduzida em
torno de um ponto, com

(4x)2 d2 f (4x)3 d3 f
! ! !
df
f (x) = f (x0 ) + (4x) + + + ... + RN , (5.4)
dx i 2! dx2 i 3! dx3 i

onde x0 é o ponto anterior a x, RN é o resto da série de Taylor e o subíndice i representa um


i-ésimo elemento do conjunto que representa o volume de controle. Considerando uma variável
dependente de x, como dependente da posição do ponto em i no eixo 0x, pode-se simplificar a
5.5. Métodos Numéricos 61

expansão para sua aproximação de primeira ordem tornando-a

∂f
!
fi+1 − fi
= + O(4x). (5.5)
∂x i 4x

onde O(4x) é o erro cometido pela aproximação de primeira ordem. A equação 5.5 é conhecida
como método forward. Cada termo da série de Taylor adicionado a esta equação a torna mais
próxima à diferencial.

5.5.2 Discretização Temporal

Existem muitos métodos para discretizar as derivadas temporais. Estes métodos, normal-
mente, se dividem em dois grandes grupos, os métodos com discretização explícita e os métodos
com discretização implícita.

Discretização Explícita

A representação conhecida como Método de Euler, de primeira ordem, é

∂u un+1 − un
= + O(4t), (5.6)
∂t 4t

onde n é o índice referente ao tempo e 4t é a discretização temporal. Para uma discretização


explícita, o termo da derivada temporal à direita da equação 5.6 segue como

un+1 − un
= F (un ) . (5.7)
4t

Neste tipo de equação, un+1 à esquerda da equação é o único termo desconhecido.


Como o valor da variável dependente do tempo n é conhecido de uma solução anterior ou de
um dado inicialmente fornecido, o cálculo dos valores de n + 1 dependem apenas do histórico
passado (figura 5.4) (Hoffman e Chiang, 2000)[8].
5.5. Métodos Numéricos 62

Figura 5.4: Exemplo dos pontos da grade para a formulação explícita (Adaptado de Hoffman e
Chiang, 2000)[8]

Discretização Implícita

Para uma discretização implícita, o termo da derivada temporal à direita da equação 5.6
toma forma
un+1 − un  
= F un+1 . (5.8)
4t

Nesta equação existe mais do que uma variável desconhecida, como por exemplo: un+1 n+1
i−1 , ui e
un+1
i+1 (figura 5.5) (Hoffman e Chiang, 2000)[8].

Figura 5.5: Exemplo dos pontos da grade para a formulação implícita (adaptado de Hoffman e
Chiang, 2000)[8]

Critério de Convergência e Estabilidade

A condição de Courant-Friedrichs-Lewy (CFL) é utilizada como critério de convergência


para métodos explícitos. Esta condição indica que a distância percorrida pelas partículas de
fluido seja menor do que um ∆x em um passo de tempo. Isto implica que

|umax | ∆x
≤1 ou ≥ |umax |. (5.9)
∆x/∆t ∆t
∆x
em que umax é a velocidade máxima do escoamento e é a velocidade da malha. Caso a con-
∆t
dição CFL não for respeitada oscilações numéricas irrealísticas se formaram descaracterizando
5.6. Validação 63

os resultados e divergindo a solução.


Os métodos totalmente implícitos são mais dispendiosos computacionalmente, já que é ne-
cessário resolver um novo sistema para cada passo de tempo. Porém, por outro lado, este tipo
de método é incondicionalmente estável, então o passo de tempo pode ser determinado depen-
dendo apenas das considerações de precisão.

5.6 Validação

A validação avalia a exatidão do resultado de um modelo numérico se baseando na com-


paração entre os resultados computacionais e os dados experimentais ou analíticos. Fortuna
(2010)[4] menciona que a validação quantifica o grau de representatividade do modelo em rela-
ção ao fenômeno físico real. Essa análise é normalmente realizada por comparações sistemáti-
cas com dados experimentais já consagrados, representativos dos tipos de fenômenos nos quais
se espera simular.
Assim, a validação é uma indicação do nível de confiança de um modelo sob uma condição
limite e para um propósito específico. A validação de modelos hidrodinâmicos com eventos
de inundação reais depende de diversos fatores incluindo a estimativa do volume do fluxo e
área de inundação, estimativa apropriada da resistência do fluxo, representação da geometria de
condução do canal, precisão e exatidão da representação topográfica do terreno e medidas do
fluxo hidráulico incluindo o nível de água, a velocidade e profundidade da lâmina da água.
Para validar o código para áreas de inundação é interessante que se possua alguns pontos
inundados de um evento definido, em que se possua os dados de precipitação do evento. As
vazões das BCs são obtidas também do modelo hidrológico que também deve ter passado pelo
processo de validação (e calibração se for o caso). Diferente do modelo hidrológico, o modelo
hidrodinâmico não possui um processo de calibração automático, devendo ao usuário o bom
senso de aperfeiçoar o modelo, ou até utilizar outro modelo, para representar adequadamente a
mancha de inundação.
5.7. Comentários 64

5.7 Comentários

Na simulação hidrodinâmica são representadas as interações das propriedades topográficas


com as propriedades do fluido. O tema da hidrodinâmica computacional é amplo e complexo.
É fundamental que o usuário de um programa entenda como ele resolve o problema. Para se
aprofundar neste tema aconselha-se a os livros de Hoffman e Chiang (2000)[8] e de Fortuna
(2010)[4]
5.8. Exemplo prático 65

5.8 Exemplo prático

No capítulo anterior obtivemos os valores dos hidrogramas das BCs. Agora, com o mo-
delo hidrodinâmico, estes hidrogramas serão propagados na área inundável de interesse para
que se obtenha as velocidades máximas e as profundidades máximas, a fim de criar os mapas
de inundação e de perigo. O modelo hidrodinâmico utilizado é o HEC-RAS 4.1. Atualmente
o HEC-RAS possui apenas uma versão unidimensional, com diversos artifícios para represen-
tar escoamentos em planície de inundação, sendo considerado muitas vezes como um modelo
quasi-bidimensional. A versão futura do HEC-RAS (5.0) já contará com uma possibilidade de
discretização bidimensional, o que pode substituir o modelo atual para estudos de inundação.
De qualquer forma, o uso do HEC-RAS novo será muito similar ao atual. Este código
é programado utilizado o método de Preissman que é um método implícito com derivada na
primeira ordem no espaço e tempo.
O exemplo prático de modelagem hidrodinâmico segue o organograma apresentado na Fi-
gura 5.6. Primeiramente serão definidas as seções transversais dos trechos contidos na área
inundável. Depois, serão definidas as condições de contorno internas, como pontos e pontos de
confluência. Assim, as condições de contornos externas são definidas e o modelo poderá ser
utilizado. O programa HEC-RAS 4.1 será utilizado para realizar as simulações e está gratuita-
mente disponível em "http://www.hec.usace.army.mil/software/hec-ras/".

Figura 5.6: Fluxograma detalhado da modelagem hidrodinâmica.


5.8. Exemplo prático 66

• O programa funcionará apenas se o sistema operacional possuir "."como o separador de-


cimal e ","como o separador milhar. Primeiramente é importante definir as unidades padrões
como SI (Sistema Internacional) e depois criar um projeto no programa HEC-RAS.
Option =⇒ Unit System ...;
System International (SI),
Set as default for new projects.

Figura 5.7: Definição do sistema de unidades.

File =⇒ New Project ...;


Lembrar das considerações mencionadas no HEC-HMS, sobre pastas e arquivo sem espa-
çamentos.
• Deve-se criar a geometria hidráulica, abrindo o editor apropriado para isso.
Edit =⇒ Geometric Data ...;
Uma nova janela será aberta para a edição da geometria hidráulica. Neste novo ambiente
deve-se inserir os dados fornecidos sobre os trechos do rio da área inundável, assim como as
seções transversais do canal, pontes ou outras estruturas importantes. Para inserir arquivos au-
xiliares, produzidos por algum GIS, como imagens de satélites e a posição do rio, deve-se

Add/Edit background pictures for the schematic =⇒ Add ...;


Com o botão direito do mouse acesse:
”Set Schematic Plot Extents ...” e depois ”Set to Computed Extents” para aparecer os arquivos
que foram adicionados.
Agora, deve-se desenhar o rio com a ferramenta "River Reach", começando da montante
para a jusante. O programa entende a junção de rio, como no caso de um afluente, automatica-
5.8. Exemplo prático 67

Figura 5.8: Inserindo arquivos auxiliares.

Figura 5.9: Inserindo arquivos auxiliares.


5.8. Exemplo prático 68

mente. Como já foi adicionada a imagem de satélite georeferenciada, o programa estenderá o


georeferenciamento do rio a ser desenhado, tomando como base esta imagem.
Posteriormente, deve-se adicionar as seções transversão com a ferramenta "cross section".
A ordem da criação das seções não é importante, porém as seções mais a montantes devem
possuir um "River Station"maior, e consequentemente as seções mais a jusante devem possuir
um "River Station"menor. Para as seções transversais devem ser inseridas informações como a
profundidade da seção (elevation) para cada posição (station), onde começa a margem esquerda
e direita do rio que pertencerá a planície de inundação (left e right bank) O número de Manning
para as planície de inundações e para o canal e a distância até a próxima seção transversal
(downstream reach lengths) (Figura 5.10) .

Figura 5.10: Inserindo seção transversal.

Ainda, para georeferenciar as seções transversais, em geometry data, o usuário deve acessar
a aba GIS Tools =⇒ XS Cut Lines Tables ... e inserir os pontos que formam a seção transversal
(Figura 5.11). Na teoria da aplicação da equação de Saint-Venant, as seções transversais devem
ser sempre normais ao escoamento, ou seja, perpendiculares a ele. De qualquer forma, o HEC-
RAS aceita seções transversais curvas que podem ser inseridas adicionando mais pontos que não
formam uma reta no georeferenciamento da seção. Aconselha-se a evitar o uso deste artifício.
Quanto menor o espaçamento, mais preciso será o resultado, pois a aproximação numé-
5.8. Exemplo prático 69

Figura 5.11: Georeferenciamento da seção transversal.

rica será mais adequada (∆x ≈ ∂x). Infelizmente, espaçamentos muito refinados podem causar
oscilações numéricas (as oscilações numéricas sempre são indesejadas), além de aumentar con-
sideravelmente o tempo computacional da simulação. O HEC-RAS possui uma ferramenta
denominada XS interpolation (figura) que interpola automaticamente um número definido de
seções entre duas seções de escolha, que pertencem ao mesmo trecho.

• Para rodar a simulação considerando o escoamento como não permanente necessita-se


de condições iniciais e condições de contorno (2) (Figura 5.12). As condições de contorno de
entrada são os hidrogramas fornecidos pelo HEC-HMS, obtidos no capítulo anterior, inserido
utilizando a ferramenta flow hydrograph (2a). A condição de saída pode ser considerada como
Normal Flow (2a) considerando 0.00025 de declividade que é a declividade da área inundá-
vel. Para se obter as condições iniciais (2b), necessita-se rodar o código como escoamento
permanente (3). Para isso deve-se colocar as condições de contorno (1) normal flow (1a) para
a saída novamente e para a entrada, ao invés de colocar o hidrograma, deve-se colocar apenas
o primeiro valor do hidrograma para cada BC (1b). Os resultados da simulação do escoamento
permanente servirão como condição inicial para a simulação com escoamento não permanente.
Para inserir estes valores na simulação não permanente se deve acessar a aba File =⇒ Set Initial
Conditions (2b) o programa criará o caminho automaticamente caso o usuário já tenha perfor-
mado a simulação permanente.
Deve-se repetir o procedimento modificando as condições de contorno da simulação do
escoamento não permanente para os três períodos de retorno diferentes (5, 20 e 100 anos). O
HEC-RAS possui uma restrição ao erro. Caso o programa identifique que o erro da simulação
5.8. Exemplo prático 70

Figura 5.12: Condições de contorno e iniciais.

esteja acima do aceitável (o erro aceitável é uma definição padrão e modificável do programa)
ele encerra automaticamente a simulação. Não é interessante que se modifique este o limite
do erro aceitável, mas existem cuidados que podem ser tomados para reduzir este erro. Não se
deve possuir seções muito próximas umas das outras, a redução do intervalo de tempo de cálculo
muitas vezes pode ser benéfica e como se trata de um código implícito, ele é incondicionalmente
estável e funciona através de iteração que buscam o melhor resultado tentando minimizar o erro
de cálculo. O número máximo de iteração pode ser modificado em na aba da simulação não
permanente por Options =⇒ Calculation Options and Tolerances ... =⇒ Maximum number of
iterations (0-40): (figura 5.13). Neste mesmo local, pode-se mudar o peso do fator implícito
de 1 para 0,6, o que também auxilia na melhora dos resultados, já que métodos totalmente
implícitos de primeira ordem tendem a possuir amortização numérica indesejada.
Para rodar a simulação para escoamentos não permanentes o usuário deve fornecer a data
de início e fim do evento a ser simulado. É importante que se forneça a mesma do que a
inserida para os hidrogramas da condição de contorno (figura 5.14). Caso esteja sendo realizada
a simulação pela primeira vez, é necessário que o usuário ative todas as funções Programs to
Run, porém, caso o usuário esteja realizando uma simulação pela segunda vez, e não modificou
a geometria do canal em nenhum aspecto, a função Geometry Preprocessor pode ser desativada.
O intervalo computacional não pode ser maior do que o intervalo dos hidrogramas fornecidos
na condição de contorno. Quanto menor for o tempo computacional melhor será o resultado
da simulação. Não é interessante reduzir muito o intervalo dos arquivos de saída (output), a
menos que se esteja interessado em alguma especificidade, pois geram dados desnecessários
5.8. Exemplo prático 71

Figura 5.13: Modificando opções para reduzir as oscilações numéricas.

que consome muito espaço no disco rígido do computador. Ao se ativar a função Mixed Flow
Regime o programa permite o cálculo tanto de escoamentos subcríticos quanto escoamentos
supercríticos para uma mesma simulação.
Uma janela com uma barra cinza aparecerá imediatamente na tela ao se rodar o modelo,
quando esta barra se tornar azul, a simulação terá terminado. Caso o usuário cometeu algum
erro durante o preenchimento das informações para a modelagem, o programa acusa qual o
problema na janela de informações com um texto em vermelho. Ainda, os dados podem estar
corretos, mas a simulação possui muitas oscilações. Estas oscilações podem provocar um erro
no programa fazendo com que ele pare e afirma que a simulação é instável, como mencionado
anteriormente.
5.8. Exemplo prático 72

Figura 5.14: Dados para rodar a simulação não permanente.


Capítulo 6

Mapa de Inundação

O mapa de inundação pode ser criado de duas maneiras diferentes, através da confecção
de uma mancha de inundação a partir de dados observados da inundação ou através da mo-
delagem hidrodinâmica. O primeiro método fornece um mapa com mais exatidão, porém é
de difícil criação, pois os dados precisam ser adquiridos em pleno evento de inundação (GI-
GLIO; KOBIYAMA, 2011) [5]. Ainda, pode-se recuperar os dados das inundações através de
registros deste evento, ou seja, além da coleta em campo, estes dados também podem ser re-
cuperados através de fotografias, vídeos, jornais ou declaração de pessoas presentes no evento.
Outro ponto negativo deste método é a inflexibilidade em criar mapas com períodos de retorno
pré-estabelecidos.
O segundo método, referente à modelagem hidrodinâmica, utiliza modelos físicos ou ma-
temáticos para a criação dos mapas de inundação. Na metodologia utilizada pelo presente
trabalho, este mapa é resultado da modelagem hidrodinâmica. De qualquer forma, para a ca-
libração e validação do modelo hidrodinâmico, é recomendada a utilização cotas do evento de
inundação.
O mapa de inundação sempre está relacionado a um período de retorno que é utilizado
diretamente na confecção do mapa de perigo. A qualidade do mapa depende da qualidade dos
procedimentos que o antecedem, e é muito sensível ao modelo digital de terreno.

73
6.1. Mapa de Perigo de Inundação 74

6.1 Mapa de Perigo de Inundação

O mapa de perigo é o produto final desta metodologia. Para sua criação é necessário quanti-
ficar este perigo, pois existem diferentes níveis de perigo que podem causar diferentes tipos de
dano (tabela 6.1).

Tabela 6.1: Definição do Perigo de Inundação


Nível de Cor do Descrição
Perigo Mapa
Alto (3) Vermelho As pessoas estão em perigo, tanto dentro quanto fora de
suas casas. As construções estão em alta possibilidade de
serem destruídas.
Médio (2) Laranja As pessoas correm possibilidade de fatalidades fora de suas
casas. Construções talvez sofram danos e podem ser des-
truídas.
Baixo (1) Amarelo A possibilidade de fatalidades é baixa ou inexistente. Cons-
truções podem sofrer danos.

PRENEVE (2001) [19] propôs uma caracterização do mapa de perigo de inundação que
estabelece três zonas para identificar os diferentes níveis de perigo, que variam com o período
de retorno. Desta forma, o mapa de perigo é uma função de frequência de inundação (período
de retorno) e intensidade (índice de perigo).

6.1.1 Índice e Nível de Perigo

O Índice de Perigo (IP) proposto por Stephenson (2002) [25] é expresso por:

IP = h · v, (6.1)

onde h é a profundidade de inundação em metros e v é a velocidade do escoamento em m/s.


Percebe-se que o IP é expressado pela vazão unitária. Este índice está ligado diretamente à
energia do escoamento, ou seja, ao seu potencial destrutivo.
O IP foi inicialmente criado para indicar qual o local mais adequado para o desenvolvimento
urbano. Utilizando esse índice, Stephenson (2002) [25] propôs diferentes tipos de perigos (fi-
gura 6.1), que pode ser relacionado aos níveis apresentados na tabela 6.1.
6.1. Mapa de Perigo de Inundação 75

Figura 6.1: Diagrama do perigo de inundação (Adaptado de Stephenson, 2002)[25].

Eventos mais severos, com maior profundidade da lâmina da água e velocidade, ocorrem
com menor frequência. Pequenos eventos de inundação são mais frequentes, porém possuem
um menor potencial destrutivo. Desta forma, o mapa de perigo de inundação é elaborado como
a combinação de intensidade e período de retorno de diversos mapas de inundação (figura 6.2).

Figura 6.2: Níveis de perigo discretizados (PREVENE, 2001)[19]

Os valores do período de retorno podem ser alterados conforme o interesse do estudo. Em-
bora PRENEVE (2001)[19] adote períodos de retorno de 10, 100 e 500 anos , o presente tra-
balho adota os períodos de retorno de 5, 20 e 100 anos para adequar o método à realidade
6.2. Exemplo prático 76

brasileira, onde precipitações com alta intensidade ocorrem com uma frequência elevada. As-
sim, modificando a figura 6.2 para a metodologia do presente trabalho obtemos a figura 6.3

Figura 6.3: Níveis de perigo discretizados adaptado.

6.1.2 Criando o Mapa de Perigo

Com a metodologia a pouco apresentada, é possível criar mapas de perigo caso se possua
as mapas de profundidade e velocidade das áreas inundadas para os três períodos de retornos
diferentes. Observa-se que os períodos extremos, no caso 5 e 100 anos, possuem apenas dois
níveis de perigo cada um, laranja e vermelho para o de 5 anos e amarelo e vermelho para o de
100 ano. Com os três mapas de nível de perigo (um para cada período de retorno), se cria um
único mapa de perigo, sobrepondo-os. O nível 3 será sobressaliente aos níveis 2 e 1, o nível 2
se sobressairá ao nível 1.

6.2 Exemplo prático

Para criar os mapas de inundação e de velocidade de inundação ainda podemos utilizar o


programa HEC-RAS, com a ferramenta HEC Mapper (figura 6.4). O HEC-RAS possui uma
mapa das profundidades máximas geradas pela simulação e este mapa deve ser o utilizado
para o mapeamento de perigo. Para tanto, é necessário que se estenda as seções transversais
utilizando a ferramenta Compute Interpolation Surface e inserir o mapa de terreno.
Os mapas obtidos com o HEC Mapper podem ser manuseados em programas de GIS. Para
transformar estes mapas em um único mapa de perigo é necessário algum algebrismo. Obser-
6.2. Exemplo prático 77

Figura 6.4: Adquirindo os mapas de profundidades e velocidades máximas.

vando a figura 6.5 se nota que condições diferentes devem ser definidas dependendo do período
de retorno do mapa a ser manuseado.

• Para o mapa com T R = 100 anos, uma única condição é suficiente para definir o nível de
perigo em cada célula:

se V · h ≥ 0, 5 então a célula terá o nível de perigo 3, se não ela terá o nível de perigo 1.

• Para o mapa com T R = 5 anos, são necessárias uma condicional simples e uma condici-
onal dupla para definir o nível de perigo em cada célula:

se V < 0, 9 e h < 0, 2 ou se h < 0, 1 então o nível na célula será 2, caso contrário será 3.

• Para o mapa com T R = 20 anos, são necessárias duas condicionais simples e uma condi-
cional dupla para definir o nível de perigo em cada célula:

se V < 0, 9 e h < 0, 2 ou se h < 0, 1 então o nível na célula será 1, caso contrário se


V · h ≥ 0, 5 então a célula terá o nível de perigo 3, se não ela terá o nível de perigo 2.

Por fim, para criar um único mapa de perigo os mapas criados anteriormente devem ser
6.2. Exemplo prático 78

Figura 6.5: Níveis de perigo para determinado período de retorno.

unidos, de forma que as células com o nível de perigo 3 se sobressaiam as células com nível de
perigo 2 ou 1. De forma semelhante, as células com nível de perigo 2 devem sobrepor as com
nível de perigo 1. Desta forma o para de perigo estará finalizado.
Capítulo 7

Considerações Finais

A humanidade vem sofrendo (e aproveitando) as inundações desde seu início da história.


As inundações junto com as secas impactam o maior número de pessoas entre todos os tipos de
fenômenos naturais. O prejuízo causado por inundações no mundo é enorme, e conforme Kron
(2002) [14], as inundações se tornaram cada vez mais severas nas últimas décadas. Segundo
Kobiyama et al. (2006) [13], os desastres naturais que provocam maiores perdas humanas no
Brasil foram as inundações. Nesta situação atual, é evidente que a comunidade cientifica e
tecnológica deve se dedicar ainda mais para redução de desastres associados a inundação.
Devido ao aumento de frequência e magnitude das ocorrências recentes no Brasil, Brasil
(2012) [1] lançou a Lei 12.608/12 que institui a Política Nacional de Proteção de Defesa Civil
(PNPDEC). No Art. 8o ”Compete aos Municípios” nesta Lei, encontram-se diversos itens que
comentam riscos, por exemplo:

• IV - identificar e mapear as áreas de risco de desastres;

• V - promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas ocupações nessas
áreas;

• VII - vistoriar edificações e áreas de risco e promover, quando for o caso, a intervenção
preventiva e a evacuação da população das áreas de alto risco ou das edificações vulnerá-
veis;

Assim, é bem claro que a comunidade precisa saber o que é o risco, identificar áreas de
risco, mapear tais áreas e realizar algumas medidas estruturais e não-estruturais.

79
80

Então, no caso de estudo de inundação a fim de reduzir desastres causados pelas inundações,
precisa-se entender o que é o risco. Segundo UNDP (2004) [28], o risco é definido como a
probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas (sociais, econômicas, e/ou ambientais)
resultantes da interação entre perigos naturais e os sistemas humanos. Convencionalmente, a
seguinte equação pode descrever o risco de um desastre natural:

R = f (H, V) (7.1)

onde R é o risco, H é o perigo (hazard), e V é a vulnerabilidade. Como Goerl et al. (2012)


[6] comentaram, existem diversas definições sobre risco, perigo e vulnerabilidade. Consequen-
temente, encontram-se diversas formulações propostas para quantificar cada parâmetro. Mas em
geral, pode-se dizer que os perigos são considerados como fenômenos naturais potencialmente
prejudiciais que podem causar sérios danos social, econômico e ambiental às comunidades ex-
postas, por exemplo UNDP (2004) [28].
Por outro lado, UNISDR (2009) [29] definiu a vulnerabilidade como as características e
circunstâncias de uma comunidade, sistema ou ativo que tornam mais suscetíveis aos efeitos
nocivos do perigo. Pode-se dizer que a vulnerabilidade consiste nos fatores sociais, econômi-
cos, culturais, ambientais e físicos (infraestruturas). Analisando conceitos, definições, fatores
componentes e fórmulas relacionados à vulnerabilidade, Goerl et al. (2012) [6] propuseram
uma metodologia para calcular o índice de vulnerabilidade com base em informações dispo-
níveis no senso do IBGE, a fim de estudar o risco relacionado a inundação na bacia do rio
Negrinho no estado de Santa Catarina. Adequando a metodologia proposta por Goerl et al.
(2012)[6], Schenkel et al. (2015) [22] elaboraram o mapa de vulnerabilidade a fim de gerar um
mapa de risco associado a escorregamento para a bacia do arroio Forromeco no estado do Rio
Grande do Sul. Existe uma urgente necessidade de estudar ainda mais metodologias adequadas
para elaborar mapa de vulnerabilidade. Sem estabelecer mapa de vulnerabilidade, é impossível
obter mapas de risco em relação a desastres naturais.
As técnicas apresentadas para mapear áreas de inundações com uso de HEC-HMS e HEC-
RAS são ferramentas para mapeamento de áreas de perigo, nada mais. Caso os leitores precisam
elaborar mapas de risco de inundação, precisam elaborar mapas de vulnerabilidade depois de
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executar simulação com HEC-HMS e HEC-RAS. Assim finalmente, terão informações sufi-
cientes para construir mapas de risco. Mesmo assim, tanto para vulnerabilidade quanto para
risco, ainda não existe um consenso para os elaborar. Como a PNPDEC exige cada município
ter mapas de risco, pode ser um grande desafio para a comunidade brasileira.
A UNESCO iniciou a fase VIII do Interntional Hydrological Programme. Esta fase pre-
tende responder ao desafio de seguridade hídrica, tendo seis temas. O primeiro e o sexto temas
são referentes a redução de desastres hidrológicos e educação sobre a água, respectivamente,
(JIMENEZ-CISNEROS, 2015) [11]. Compreender o mecanismo de ocorrência de inundação e
desenvolver técnicas para mapeamento de inundação podem fazer parte do tema 1. Divulgar tal
conhecimento e técnica pode ser considerado como parte do tema 6.
Assim, os autores da presente apostila acreditam que a mesma pode contribuir a comuni-
dades tanto local quanto científica. Pretendendo melhorar esta apostila, os autores esperam
receber comentários críticos em relação ao conteúdo do texto que podem ser enviados paro o
e-mail: [email protected].
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Cronograma
Tabela 7.1: Cronograma
Assunto Ministrante
Introdução a desastres naturais e hidrológicos Masato Kobiyama
Inundações Masato Kobiyama
(conceito, classificação, características, etc.)
Mapeamento de risco de inundação, com índice Masato Kobiyama
de perigo
Definição de subbacias de contribuição e área Fernando Campo Zambrano
inundável
Introdução a Modelagem Leonardo Romero Monteiro
Modelo chuva-vazão Leonardo Romero Monteiro
Introdução ao HEC-HMS
Modelo chuva-vazão Leonardo Romero Monteiro
Aplicação do HEC-HMS
Modelo hidrodinâmico Leonardo Romero Monteiro
Introdução ao HEC-RAS
Modelo hidrodinâmico Leonardo Romero Monteiro
Aplicação do HEC-RAS
Mapeamento de perigo de inundação Leonardo Romero Monteiro
Fernando Campo Zambrano
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