Abordagemclinicaepreventiva
Abordagemclinicaepreventiva
Abordagemclinicaepreventiva
Clínica e Preventiva
2a edição
Realização:
Em parceria com:
Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome
COPYRIGHT © SALUS PAULISTA, 2004
Colaboradores:
Juliana Dellare Calia: Nutricionista, Centro de Recuperação e Educação Nutricional.
Marco Antonio Mattos Bragança: Pediatra, Cooperação para o Desenvolvimento e Morada
Humana/Associação Voluntários para o Serviço Internacional – Belo Horizonte (MG).
Maria Helena do Nascimento Souza: Enfermeira, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Miriam Izabel Simões Ollertz: Nutricionista, Centro de Recuperação e Educação Nutricional.
Paula Andréa Martins: Nutricionista, Universidade Federal de São Paulo.
◗ PREFÁCIO – UM TRABALHO EM REDE
A Palavra do BNDES 8
A Palavra da AVSI 10
8
Índice
◗ APRESENTAÇÃO 12
Índice
a) Peso 3.3 Alterações hormonais na criança
b) Estatura desnutrida 59
a) Eixo hormônio do crescimento-somato-
2. Anamnese alimentar 49
medina-c
3. Quadro clínico 51 b) Somatomedina-c como marcador do
3.1 Principais aspectos relacionados com o estado nutricional
exame físico 51 c) Hormônios Tireoidianos
3.2 Marasmo e Kwashiorkor: diferenças d) Metabolismo da glicose e insulina
clínicas, adaptativas e metabólicas 55 e) Função adrenocortical
f) Hormônios reprodutivos
4. Quadro laboratorial 60
4.1 Avaliação protéica 61
a) Albumina sérica
b) Transferrina sérica
c) Pré-albumina
d) Índice Creatinina – Altura
e) Balanço nitrogenado
f) IGF-1 (fator de crescimento insulina-
símile tipo 1)
4.2 Testes Laboratoriais 64
4
A partir desse conhecimento o BNDES optou por continuar acompa
nhando o assunto e apoiar a formação de uma rede que permita a troca
de experiências e faça circular conhecimentos específicos no campo do combate à des-
nutrição infantil. Nesse contexto, apoiou o Centro de Recuperação e Educação
Nutricional (CREN) na construção de uma nova unidade de atendimento. Ainda
como parte desse apoio, o BNDES disponibilizou recursos para a criação da Rede
de Combate à Desnutrição Infantil, tendo em vista a experiência acumulada
pelo CREN na intervenção, instituição da metodologia, ensino e pesquisa
nessa área.
O embrião dessa rede será o lançamento do Portal Vencendo a Desnutrição,
coordenado pelo CREN com o apoio técnico do Ministério da Saúde e em parceria
com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a Pastoral da Criança e a AVSI
– Associação Voluntários para o Serviço Internacional.
Ao lado dessa atividade, o BNDES apoiou a elaboração, produção e distribuição
da presente Coleção Vencendo a Desnutrição, voltada para os profissionais
que lidam com a questão em seu cotidiano, como os educadores das creches
e dos centros de educação infantil, os agentes comunitários de saúde
e os profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas,
pedagogos, etc. Essa coleção traz também folders educativos para as mães enfo-
cando temas como a gravidez, a higiene e a amamentação.
A partir do fortalecimento do CREN e da Rede de Combate à Desnutrição
Infantil, o BNDES espera estar contribuindo para a melhoria da qualidade da
prestação dos serviços de combate à desnutrição infantil no Brasil.
BEATRIZ AZEREDO
DIRETORA DO BNDES
ÁREA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL
ÁREA DE INFRA-ESTRUTURA URBANA
5
A PALAVRA DA AVSI
A AVSI – Associação Voluntários para o Serviço Internacional – é uma ONG
fundada na Itália na década de 1970, atualmente presente em mais de trinta paí-
ses do mundo. Atua em vários estados do Brasil com projetos de desenvolvimento
social desde o início da década de 1980. A partir de 1996 a AVSI tornou-se membro
do Conselho Econômico e Social da ONU.
O encontro com o CREN nasceu da condivisão de uma percepção que não
permaneceu teórica, mas se colocou em ação. O mesmo amor pela pessoa e a paixão pelo
seu destino que movia a ação do CREN, movia a minha ação com a AVSI.
Fiquei fascinado pela idéia de que a desnutrição não seja somente um problema
de distribuição e de acesso, mas sim uma questão de educação da pessoa a amar a
si mesma e aos outros, principalmente as crianças, e que este amor não é verdadeiro se não é
colocado em movimento. E, ainda, que é este movimento que muda o mundo.
Não é aceitável que ainda hoje se sofra com a fome. Esta reivindicação
permanece árida, ou um modelo ideal e violento se não se torna conhecimento
verdadeiro e ação concreta.
Dessa forma, a AVSI começou um trabalho juntamente com o CREN, com a
certeza de que o amor, que também se transmite através da comida, muda a vida das pessoas e
o modo de enfrentar as situações.
Educação nutricional como veículo de civilização: é este o desafio que
estamos enfrentando junto com o CREN, conscientes de que isto representa um
serviço público à pessoa e não um simples gesto de assistência.
No Brasil, a AVSI tem se empenhado na construção de uma rede de centros
educativos que buscam responder à necessidade mais urgente do contexto
social de hoje, que é a educação, construindo lugares onde crianças e adolescentes possam
ser reconhecidos como pessoas e, por isto, olhados em todos os seus aspectos
constitutivos.
10
O CREN faz parte desta rede, desenvolvendo um trabalho com crianças desnutridas,
suas famílias e comunidades em São Paulo, evidenciando que a carência nutricional não é
causada simplesmente pela baixa renda, mas por um conjunto de situações desfavoráveis,
que chega até à forma de tratamento da pessoa, em particular, da criança.
Aquilo que mais chama a atenção no trabalho do CREN é exatamente o fato de
que a criança não é olhada parcialmente, ou seja, definida pelo pro-
blema da desnutrição, mas é vista como pessoa e, por isto, como ser
único e irrepetível, com laços fundamentais, sendo o principal deles
a família. A educação alimentar e a educação aos cuidados com a criança investem a
família no seu conjunto. Nesse contexto, a tarefa dos pais é valorizada, a fim de restituir
solidez ao núcleo familiar e à figura do adulto.
A criança e sua família são acolhidas em um lugar que as ajuda a recons-
truir os traços de sua humanidade destruída. Elas são acompanhadas na
aventura da vida por educadores que têm a responsabilidade e o desafio de des-
pertar a exigência de um significado para a vida e para a realidade, que permita a retomada da
consciência do próprio eu.
Estes anos de trabalho compartilhando a vida de cada criança encontrada, le-
varam o CREN e a UNIFESP, através do patrocínio do BNDES, em parceria com
o Programa Adotei um Sorriso da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do
Adolescente e do Instituto Ayrton Senna , a Parmalat do Brasil S/A, e com o apoio
técnico da AVSI, a lançar a presente Coleção Vencendo a Desnutrição como
instrumento metodológico eficaz e de fácil compreensão para o enfrentamento
do grave problema da desnutrição. Este é um sinal de que o empenho com as
necessidades encontradas pode se tornar uma resposta com fundamen-
tação científica e relevante do ponto de vista social.
Alberto Piatti
Diretor Executivo da AVSI
11
Apresentação
Qualquer trabalho social no Brasil deve partir de questões fundamentais como ‘Quem é a pessoa em
situação de pobreza?’ ou ‘Como combater a pobreza?’. Embora a transferência de recursos
para os mais pobres tenha crescido nos últimos 40 anos, a distância entre pobres
e ricos não diminuiu, mas aumentou. Para reduzir essa distância, são necessários – embora não bas-
tem – a transferência de renda, a construção de moradias, a distribuição de alimentos e a eliminação da
repetência escolar. É hoje cada vez mais conhecida a força da impotência, do fatalismo, da solidão
e do isolamento que acompanham a situação de pobreza.
A efetividade de uma ação de combate à pobreza pode ser prejudicada por problemas simples, como:
dificuldade para tirar documentos, transporte, dificuldade de comunicação entre a pessoa em situação
de pobreza e os profissionais da saúde, além do desconhecimento dos serviços disponíveis – devido ao
isolamento. Vários estudos também têm demonstrado que a descontinuidade e a
má administração dos programas podem ser as grandes vilãs do fracasso de uma
ação social, levando à pulverização e ao desperdício de grandes somas de recursos.
A presente coleção nasce do trabalho do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN) com crianças
desnutridas e suas famílias e tem por finalidade oferecer a um público multiprofissional uma visão abrangente dos
problemas e das soluções encontradas no combate à desnutrição e, conseqüentemente,
no combate à pobreza – uma vez que a desnutrição é o mais potente marcador da pobreza.
Para responder quem é a pessoa em situação de pobreza e como combater a pobreza, a experiência
do CREN parte de três grandes pilares metodológicos: o realismo, a racionalidade
e a moralidade. Sinteticamente, o realismo procura favorecer uma observação insistente
e apaixonada do real; a racionalidade pede um olhar para todos os fatores envolvi-
dos e a busca de metodologia adequada ao objeto em questão (na prática, valoriza o
trabalho interdisciplinar); enquanto a moralidade (não confundir com moralismo!) privilegia o
amor à realidade, sem preconceitos. Por que é importante essa preocupação metodológica?
A falta de conhecimento real da pessoa em situação de pobreza e de todos os fatores presentes nessa
situação é outro grande vilão para a ineficiência das ações nessa área.
12
O CREN parte do reconhecimento da pessoa em situação de pobreza, caracteri-
zada não somente pela ausência de bens materiais, mas por toda a sua exigência de
felicidade e de sentido para a vida. A pessoa é conhecida por suas potencialidades e por seu patrimônio
(o que ela é e o que já tem), e não por aquilo que ela não tem. O trabalho de intervenção realizado
no CREN procura, então, reforçar o patrimônio, o que tem se revelado um método de
abordagem eficiente e duradouro.
A partir desses pressupostos, a desnutrição será abordada em seu aspecto social, fami
liar, psicológico, pedagógico e biológico. A coleção oferece 2 volumes para comunidades e
entidades que trabalham com crianças: 1 - Vencendo a Desnutrição na Família e na Comunidade, 2 - Saúde
e Nutrição em Creches e Centros de Educação Infantil; 4 volumes sobre as abordagens: 3 - Clínica e Preventiva, 4 - Social,
5 - Pedagógica e 6 - Psicológica; além de 1 Livro de Receitas e 17 folhetos explicativos sobre ações preventivas e cuidados com as
crianças que são dirigidos às mães e responsáveis: 1 - Quais os cuidados necessários durante a gravidez, 2 - Como o bebê se desen-
volve na gravidez, 3 -Como se preparar para o Aleitamento Materno, 4 - Aleitamento Materno, 5 - Como cuidar do crescimento da
criança, 6 - Desenvolvimento Infantil, 7 - Vacinas, 8 - Como preparar a papinha para o bebê, 9 - Como alimentar
a criança de 6 a 12 meses de idade, 10 - Alimentação Infantil, 11 - Como cuidar da higiene dos alimentos, 12 - Como
cuidar da higiene do nosso ambiente, 13 - Saúde Bucal para crianças de 0 a 6 anos, 14 - Como evitar piolhos e
sarnas, 15 - Verminoses, 16 - Como tratar de resfriados, gripes, dores de ouvido e garganta, 17 - Desnutrição.
Quem somos
O Centro de Recuperação e Educação Nutricional
(CREN) iniciou suas atividades em 1994 a partir de um
projeto financiado pela AVSI. Ele nasceu do trabalho
realizado com comunidades carentes por profissionais São atendidas crianças de 0 a 71 meses e suas atividades
da área da saúde e nutrição da Universidade Federal de acontecem de 2ª a 6ª, das 7:30h às 17:30h, em 5 âmbitos:
São Paulo/Escola Paulista de Medicina. atendimento à criança desnutrida em regime ambulato
O CREN pauta sua ação a partir de três objetivos gerais: rial; hospital-dia para desnutridos moderados e graves;
promover a retomada do crescimento e desenvolvimento atendimento às famílias; supervisão e treinamento de
de crianças desnutridas, criar métodos de tratamento e profissionais e entidades para a prevenção e combate da
formar recursos humanos especializados para o trabalho desnutrição; e atendimento direto à comunidade através
com a desnutrição. de visitas domiciliares e censos antropométricos.
13
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
p a r t e 1
Segundo estimativas mundiais sobre a condição PNDS – Pesquisa Nacional sobre Demografia de
nutricional1, 2, 3, quando iniciamos o novo milênio Saúde (1996)6.
a desnutrição energético-protéica (DEP) perma- Nos três estudos, a forma crônica da DEP
neceu como um dos mais importantes problemas (alteração da estatura em
da saúde pública, pois deve haver atualmente em relação à idade) foi a mais No Brasil a
torno de 800 milhões de desnutridos crôni- prevalente. As taxas nacionais forma crônica
cos em todo o mundo. Destes, 200 milhões encontradas para esse tipo de da DEP
são crianças moderadamente desnutridas e 70 desnutrição foram 32,0% em (alteração
milhões gravemente desnutridas1, 3. 1974, 15,4% em 1989 e da estatura
No Brasil, três estudos nacionais avaliaram as 10,5% em 19967. em relação à
prevalências da desnutrição em crianças meno- Essa redução nas taxas idade) é a mais
res de 5 anos: o ENDEF – Estudo Nacional da de desnutrição indica que as prevalente
Despesa Familiar (1974)4, a PNSN - Pesquisa transformações de ordem
Nacional de Saúde e Nutrição (1989)5 e a econômica, social e demográfica pelas quais
15
ABORDAGEM CLÍNICA
passou a sociedade brasileira nas últimas décadas secundária quando é causada por doenças não-nutri-
afetaram consideravelmente o perfil nutricional da cionais, como as cardiopatias, as nefropatias e outras
população. Porém, essa mudança não ocorreu de doenças crônicas.
forma igual durante todo o período, pois a preva- A forma primária da DEP é a mais prevalente
lência da forma crônica caiu 16,6 pontos percentu- nos países pobres ou nos setores pobres dos países,
ais de 1974 a 1989 e apenas 4,9 pontos percentuais ou seja está vinculada substancialmente às baixas
de 1989 a 19967. condições socioeconômicas dessas populações. Um
Outro aspecto a ser considerado é que, apesar exemplo dessa afirmação pode ser encontrado nos
desses e de outros estudos realizados nos níveis dados do ENDEF, onde a proporção de crianças
nacional, regional e municipal, mostrarem tendên- com desnutrição aumenta à medida que diminui o
cias decrescentes nas prevalências de déficits nutri- poder aquisitivo da família12. A PNSN mostra dados
cionais em nosso meio, há discrepância quando se que apontam na mesma direção, pois na população
considera o aspecto regional8, 9, pois a prevalência brasileira menor de 10 anos de idade a DEP concen-
da desnutrição crônica permanece alta nas regi- tra-se nas famílias cuja renda mensal é inferior a dois
ões Norte (16,2%) e Nordeste (17,9%)7. Situação salários mínimos11. Assim, por expressarem a condi-
similar é encontrada em áreas de baixa renda das ção de pobreza das famílias das crianças, os índices
grandes cidades da região Sudeste8, 9. de desnutrição na população infantil constituem
Além disso, a melhora ocorrida atingiu a popula- indicadores sensíveis da situação social do país14, 15.
ção de forma desigual, pois os níveis de desnutrição A pobreza não constitui, porém, uma situação ho-
crônica permanecem altos nas populações com mogênea. Seus efeitos são múltiplos e diferenciados,
menor poder aquisitivo10, 11. Quando se comparam vinculados tanto à educação, à saúde e ao trabalho,
os 20% mais pobres da sociedade brasileira com os quanto à alimentação e a características individuais5.
20% mais ricos, vê-se a prevalência da DEP é 2,6 É a interação entre a pobreza (condição socioeconô-
vezes maior nos primeiros do que nos segundos . 12
mica e familiar), a saúde e a alimentação da criança
De acordo com sua etiologia. a DEP é consi- que conduz ao estado nutricional. A figura 1 apre-
derada primária quando é de origem nutricional, e senta os diferentes fatores causais da DEP.
Saúde
Parte 1
16
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
17
ABORDAGEM CLÍNICA
18
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
é preciso em primeiro lugar fazer, do modo mais nutricional, devem-se estabelecer medidas de pre-
amplo possível, o diagnóstico e a avaliação da venção e controle em todos os níveis: nas comu-
desnutrição na comunidade. Em segundo lugar, nidades, nas unidades básicas de saúde e creches,
identificando as populações em maior risco e nas unidades de referência e hospitais.
19
p a r t e 2
A principal preocupação deste livro não será quem é a pessoa responsável por ela. Isto implica
fornecer fórmulas prontas para um trabalho junto em responder a perguntas como:
às crianças com desnutrição e suas famílias, mas
indicar um método de conhecimento e de inter- ◗ Quem é essa pessoa?
venção na realidade. Este método permite ao ◗ A que contexto pertence?
profissional de saúde olhar para a realidade mais ◗ Tem família, amigos, vizinhos, parentes ou
atentamente, bem como lhe oferece instrumentos instituições ao seu redor?
adequados para enfrentar problemas inesperados ◗ O que a move?
e novas situações. ◗ O que deseja?
Todo método indica um caminho em direção a ◗ Que experiências vive?
algo. O primeiro passo necessário deste caminho ◗ Como interpreta a realidade que
é compreender quem é a criança a ser tratada e experimenta?
21
ABORDAGEM CLÍNICA
Três são as condições para esse conhecimen- Isso pode implicar uma atitude de abertura do
to: realismo, racionalidade profissional para alterar suas rotinas de trabalho
O realismo e moralidade20, 21, 22. e mudar algo previamente considerado como o
exige uma O realismo exige que ao melhor para aquela situação.
observação cuidar de uma criança para A racionalidade indica que para se dar
global, compreender sua situação de conta da realidade da criança e de sua família o
apaixonada e doença ou saúde, o profissio- profissional necessita de um método, um caminho
insistente da nal de saúde não dê preferên- racional. O método será racional se considerar
realidade a cia a nenhum esquema que já a totalidade dos fatores
ser conhecida tenha em mente, mas procure relacionados com a situação A racionalidade
realizar “uma observação da criança, sem excluir ne- considera a
global, apaixonada e insistente da realidade a ser nhum deles21. Por isso, para totalidade
conhecida”20. a prevenção e controle da dos fatores
No trabalho de combate à desnutrição o DEP, é muito importante o relacionados
realismo implica, por exemplo, a necessidade do trabalho em equipe inter- com a situação
profissional ir ao encontro da criança desnutrida disciplinar e a intervenção da criança
e sua família em seu ambiente, para conhecer junto à família da criança
as circunstâncias em que elas se encontram. desnutrida, diretamente na comunidade através
Nesse encontro não deve deixar-se influenciar de visitas domiciliares.
pelas imagens ou idéias que já possui a respei- A moralidade no conhecimento é a atitude
to do problema, pois pode surpreender-se por de abertura do profissional a quem ele cuida, a
descobrir circunstâncias diferentes das que observação e a compreensão da realidade da vida
supunha ou das que todos acreditavam estar da pessoa não determinada pelos seus precon-
presentes. Por exemplo, as crianças desnutridas, ceitos22. Mais do que qualquer outra patologia,
embora tenham o mesmo problema, são pesso- a DEP requer uma atenção metodológica para
as diferentes, pertencem a famílias diferentes, um efetivo controle e prevenção por parte do
Saúde
2
então não podem ser cuidadas de maneira igual. profissional da saúde. Em síntese, o realismo
Parte
22
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
reforça a importância de uma observação aten- “Condividir quer dizer acompanhar a pessoa
ta da situação da criança e seu contexto, por e seu nível de problemática, e não olhar de fora.
exemplo, fazendo uma Condividir não quer dizer viver a mesma condi-
A moralidade no boa anamnese clínica, e ção, recriar em nós a condição de vida da pessoa,
conhecimento em caso de necessidade, mas sim ser uma companhia que permite assumir
é a atitude de realizando visita domici- e penetrar em sua situação”23.
abertura do liar. A racionalidade A condivisão com as pessoas amplia o hori-
profissional não pede para se considerar zonte do profissional e o ajuda a não se fixar em
determinada por o maior número de pretensões excessivas
preconceitos elementos possíveis; e a e irreais, possibilitando Condividir quer
moralidade pede um uma postura mais livre dizer ser uma
amor à verdade da situação maior do que o apego e, portanto, mais criativa companhia que
às opiniões que já temos sobre ela, por exemplo, e empreendedora em permite assumir
escutar a mãe procurando entender as suas relação às propostas de e penetrar na
dificuldades, sem ser determinado por pré-concei- intervenção e prevenção. situação do outro
tos: ‘ela não entende mesmo’, ‘não vai fazer’, etc. Tal postura constrói laços
É importante conhecer a ‘estrutura da experiên- de confiança mútua que permitem a adesão das
cia vivida’ das mães de crianças desnutridas. O mães e das famílias atendidas aos ensinamentos
volume ‘Abordagem Psicológica’ desta coleção e tratamentos da equipe. Presente no cotidiano
trata especificamente deste tema. do CREN, este fato contradiz os relatos que
Um outro ponto de método importante para afirmam que a falta de adesão ao tratamento é
o trabalho é escutar a experiência do outro sem uma dificuldade intransponível no relacionamen-
a preocupação primeira de fazer uma análise, to entre o profissional de saúde e a população
mas dando atenção à pessoa e vivendo, assim, menos favorecida.
uma experiência de compartilhamento, Esse método levará à percepção de que tanto
condivisão. Esse é o melhor método para no diagnóstico como nas propostas de controle o
conhecer a pessoa e suas necessidades. ponto de partida não é a carência, aquilo que
23
ABORDAGEM CLÍNICA
falta à família. A atuação da equipe de saúde não Compreender o trabalho em saúde a partir do
pode ter como perspectiva reduzir a intervenção patrimônio implica uma abertura a uma reali-
à resposta a algo que falta, porque na relação dade mais ampla, que transcende a dificuldade
com a criança e sua família percebe que elas são em si, não se restringindo à aplicação de solu-
mais do que suas carências. A equipe verifica que ções previamente concebidas. Tal compreensão
mesmo submetida a circunstâncias de privação, permite o gradativo aumento do patrimônio
sendo ajudada a família tem possibilidades de da pessoa em situação de pobreza. Em outras
enfrentá-las e superá-las. palavras, a ação nasce do que existe, e esse é o
Partir do O ponto de partida da princípio que estimula a participação da família
patrimônio intervenção, portanto, é nesse processo.
significa algo positivo, algo que a
considerar as família possui, ou seja, o
O barraco de Gilda, mãe de uma
potencialidades seu patrimônio 24. Por
criança em tratamento no CREN,
e os nexos patrimônio entende-se
que mora com dois filhos e a
existentes um conjunto de recursos
mãe, desabou. Gilda, através de
Aconteceu...
do qual as pessoas podem
contatos do CREN com algumas
dispor para enfrentar suas
entidades, ganhou o material
necessidades e as de seus familiares. Tais recur-
de construção para a reforma
sos compõem-se de trabalho, saúde, moradia e
e solicitou a ajuda dos vizinhos
habilidades pessoais e relacionais, como relacio-
para resolver seu problema
namentos de vizinhança, de amizade, familiares,
de moradia. A presença dos
comunitários e institucionais25.
vizinhos é parte do patrimônio
Estruturar uma intervenção a partir do
de Gilda.
patrimônio26 da pessoa, da família e da comu-
nidade significa considerar as potencialidades e
os nexos que essas pessoas e essas comunidades Partir da falta seria ficar esperando a obtenção
Saúde
2
24
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Conclusão
A seguir será exposta a aplicação, por equipes de saúde que atendem crianças
desnutridas ou em risco de desnutrição, desse método realista, razoável e com
moralidade, apoiado na condivisão e partindo do patrimônio das famílias. Este livro fará
a apresentação de experiências de trabalho com a DEP que nasceram dessa abordagem.
As considerações teóricas apresentadas, além de sua fundamentação na literatura
científica da área da saúde, foram avaliadas tendo como critério essa experiência.
25
p a r t e 3
Diagnóstico e Avaliação
da Desnutrição
Energético-Protéica
27
ABORDAGEM CLÍNICA
não tem acesso. Nesses casos ela fica sem ação São eles:
e tudo o que ocorrerá no seu novo contato com ◗ antropometria;
o serviço de saúde poderá reforçar esse imobi- ◗ anamnese alimentar;
lismo se o profissional que a atenda não estiver ◗ exame clínico;
atento a ela e a sua situação de vida. ◗ exames laboratoriais;
Sendo assim, para tratar adequadamente a ◗ condições socioeconômicas e características
desnutrição é preciso envolver-se com a mãe e familiares;
condividir a sua realidade, a fim de entender as ◗ desenvolvimento neuropsicomotor;
soluções que ela já buscou para ajudar o filho, ◗ outros aspectos da história e do exame físico.
as dificuldades que encontrou e, principalmen-
te, as habilidades, motivações e recursos que 1. Antropometria
possui. Partindo do conhecimento real daquela
situação, através da escuta e da condivisão, será 1.1 Principais classificações e
possível delinear uma proposta de intervenção índices antropométricos
adequada para aquele caso. O volume “Aborda- A identificação da criança desnutrida pelo méto-
gem Social” desta coleção trata especificamente do da antropometria utiliza, fundamentalmente,
desta questão. a aferição do peso e da estatura. Outras medidas
Utilizar as metodologias disponíveis para o são o perímetro cefálico, o perímetro braquial e as
diagnóstico e a avaliação da DEP implica, então, pregas cutâneas27, 28.
não só conhecê-las e sua adequada aplicação, São três os procedimentos básicos para a utiliza-
mas ter essa atenção enquanto as realiza. ção do peso e da estatura na classificação da DEP:
Tendo em conta esse ponto de partida funda- porcentagem de adequação, percentil e escore Z
mental, apresentaremos os principais aspectos dessas medidas29.
de cada um dos métodos mais freqüentemente A porcentagem de adequação é obtida
utilizados para o diagnóstico da DEP, realçando pela divisão de uma medida observada (peso ou
sua importância e seus limites no diagnóstico e estatura encontrada) por uma medida esperada (a
Saúde
3
28
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
29
ABORDAGEM CLÍNICA
Para lembrar
Os principais índices esperado para a estatura (o percentil 50 para
antropométricos construídos a estatura nas tabelas e gráficos que relacio-
a partir do peso e da nam o peso e estatura). Nesse caso deve-se
estatura são: o peso em proceder como no exemplo do Gráfico 1:
relação à idade, a estatura
em relação à idade e o peso 12
em relação à estatura.
10 Percentil
P50
8
O índice peso em relação à idade é obtido
Peso (kg)
pela comparação, de acordo com o sexo, do peso 6
tura pode ser calculado diretamente deles. ca, como no caso do índice peso/idade.
Parte
30
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Exemplo:
Gráfico 2: Percentis de Comprimento para idade e peso para idade
Para um menino com 6 meses, pesando 6
0 a 36 meses: Meninos
quilos, medindo 60 centímetros, como se
calculam seus índices antropométricos?
• peso/idade: comparam-se 6,0 quilos
(A) (peso observado) com o peso de
referência para 6 meses que é 7,9 (B)
quilos, como pode ser observado no
Gráfico 2.
• estatura/idade: comparam-se 60,0
+D
centímetros (C) (estatura observada)
com a estatura de referência para 6 E C
Assim,
A
• a idade estatura dessa criança é 2/3 +F
meses.
• o peso de referência para 2/3 meses é
5,6 quilos (F).
• comparam-se 6 quilos (peso observado)
com o peso de referência para 2/3
Fonte: National Center for Health Statistics em colaboração com National
meses, que é 5,6 quilos. Center for Chronic Disease prevention and Health Promotion, EUA (2000).
31
ABORDAGEM CLÍNICA
Nesse estudo, Gomez propôs três níveis de termos de risco de mortalidade. O quadro 1
corte para classificar a desnutrição de acordo apresenta a classificação de acordo com
com a gravidade observada naquele serviço em Gomez:
32
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Para lembrar
O índice peso/idade expressa alterações
Gomez = 100 x (6,00 (peso observado)/ agudas e crônicas33. Por isso, para a avaliação
7,90 (peso esperado para a idade nutricional da criança pela antropometria ser
cronológica e o sexo) = 76% completa é fundamental medir tanto o peso
quanto a estatura, compreendendo o processo
Conclusão: a criança do exemplo é
de desnutrição tanto do ponto de vista da
desnutrida de 1o grau ou leve segundo
gravidade (desnutrição leve, moderada e grave)
Gomez
quanto da cronicidade (agudo ou crônico).
33
ABORDAGEM CLÍNICA
Em 1976, Waterlow34 criou outra classificação, que toma em consideração a estatura esperada para a
idade e sua relação com o peso. Essa classificação está apresentada no quadro 2:
34
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Waterlow P/E = 100 x [6,00 (peso observado)/ 5,6 (peso esperado para a idade estatura e
sexo)] = 107%
Waterlow E/I = 100 x [60,0 (estatura observada)/ 67 (estatura esperada para a idade
cronológica e sexo)] = 89,5%
Essas duas classificações utilizam a porcen- Em nível clínico, nas unidades de saúde, a
tagem da mediana como medida da desnutrição utilização do percentil é útil para o acompa-
observada (peso e estatura). O problema, nesse nhamento nutricional de lactentes e de pré-
caso, é que, para um mesmo índice (peso/idade escolares, porque permite uma interpretação
ou peso/estatura), o significado de um ponto imediata. Dois percentis muito utilizados em
de corte (80%) varia com a idade e a estatura. nosso meio como critérios de classificação são
Isso acarreta diferentes riscos entre crianças de o 10 e o 3 (como aproximação do percentil
idades diferentes . Assim, um peso/idade menor
29
2,3). Enquanto o primeiro inclui muitas crian-
que 80% significa nível de desnutrição muito mais ças normais entre os desnutridos (falsos posi-
grave para um menor de um ano do que para um tivos), o segundo deixa de fora os desnutridos
escolar. leves, classificando exclusivamente as formas
Em função disso criaram-se outros modos de moderadas e graves (falsos negativos). O atual
classificação da desnutrição utilizando-se o per- cartão da criança, utilizado nas unidades
centil ou o escore Z. Essas medidas têm o mesmo básicas de saúde, apresenta os dois percentis
significado ao classificar uma criança menor de (10 e 3) como limite inferior do gráfico.
um ano e um escolar. Cabe então ao profissional de saúde,
35
ABORDAGEM CLÍNICA
36
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
QUADRO 3
Classificação da intensidade da desnutrição atual (emagrecimento) e pregressa ou crônica (retardo
do crescimento) baseada nos critérios peso para estatura (P/E) e estatura para idade (E/I)
P/E
emagrecimento +1,0 a -1,0Z* -1,1 a -2Z -2,1 a -3Z < -3Z
E/I
retardo do crescimento ≥ - 1Z -1,1 a -2Z -2,1 a -3Z < -3Z
70%
X
10% 10%
5% 5%
37
ABORDAGEM CLÍNICA
Assim, utilizamos a classificação em escore Z com os níveis de corte apresentados a seguir no quadro 4:
QUADRO 4:
Classificação do estado nutricional de crianças de acordo com peso para idade, peso para a
estatura e estatura para a idade em relação ao padrão de referência do NCHS, de acordo
com os níveis de corte propostos por Frisancho38.
38
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
com base em três inquéritos nutricionais feitos dado objetivo, simples, de baixo custo,
nos Estados Unidos: National Health and Nutrition fornecendo informações sobre a gravidade
Conclusão
NHANES II, em 1980 e NHANES III, em 1990. Uma limite está em que a avaliação transversal
das maiores diferenças entre esses padrões diz (uma única medida da criança) não pode
respeito às curvas para a faixa etária de 0 a 36 ser conclusiva. Para corrigir esse problema
meses. O padrão de 1977 utilizou para essa faixa recomenda-se a avaliação longitudinal do
!
classe média do sudoeste de Ohio. Essa população
não reflete, portanto, a diversidade cultural e
racial das várias nações. Outro aspecto é que o
1.2 O acompanhamento do
NCHS/2000 buscou corrigir as altas prevalências de
crescimento
sobrepeso que a versão anterior apresentava40.
Um modo de tornar mais preciso o dado
antropométrico é o acompanhamento da evolu-
Recomendamos a uti- ção pôndero-estatural. Desse modo, a avaliação
O Epiinfo é um pacote
estatístico do CDC (responsável lização do NCHS/2000 do estado nutricional é feita pelo acompanha-
pelos padrões NCHS) que
permite a classificação do (encarte) devido ao seu mento do crescimento, porque o principal fator
estado nutricional. É de uso
público e pode ser encontrado, melhoramento matemático, de alteração desse é a DEP. Independentemente
em inglês, no site www.cdc.
gov/epo/epi/epiinfo.htm. O
a sua amostra maior e a sua da classificação inicial da criança, observa-se
EPIINFO 2000 permite classificar maior diversidade étnica, sua curva em relação às curvas de percentis do
o estado nutricional de crianças
e adolescentes (até 20 anos) enquanto não existe um gráfico, chamada de canal do crescimento27, 31, 41.
disponibilizando as duas curvas
de referência de 1977 e 2000). padrão multinacional. Para ela ser válida são necessários no mínimo três
▼
39
ABORDAGEM CLÍNICA
medidas, de tal modo que seja possível traçar-se A seguir serão apresentados os principais
a curva do crescimento da criança. Genetica- aspectos do baixo peso ao nascimento e da baixa
mente, as crianças normais seguem determinado estatura, já que essas duas importantes altera-
percentil na curva da estatura, que é o seu canal ções da antropometria das crianças estão fre-
do crescimento. As alterações nesse canal de qüentemente relacionadas com a DEP.
crescimento deverão determinar no profissional
de saúde a preocupação quanto a distúrbios de 1.3 O seguimento do crescimen-
crescimento, cuja causa mais freqüente em nosso to do recém-nascido baixo peso:
meio é a DEP41. pequeno para a idade gestacio-
Outro modo de se realizar esse acompanha- nal E prematuro42
mento é através do cálculo da velocidade do Entende-se por recém-nascido de baixo
crescimento . Ela permite avaliar a resposta te-
27, 28
peso (RNBP) qualquer criança com peso de
rapêutica ou a recuperação nutricional de crianças nascimento inferior a 2500 gramas, independente-
desnutridas pela mudança nas taxas do crescimen- mente da idade gestacional.
to. A velocidade do crescimento é calculada de O peso de nascimento pode, ainda, ser classi-
acordo com a seguinte fórmula: ficado de acordo com a idade gestacional através
do uso de curva do crescimento intra-uterino de
Velocidade do crescimento = x - x 2 1
Lubchenco43. Três categorias foram definidas:
t2 - t1 • pequeno para idade gestacional
x = peso ou estatura medida; t= tempo de observação (PIG), quando o recém-nascido tiver seu peso ao
O menor intervalo de medida para o cálculo da nascer abaixo do percentil 10 da curva citada;
velocidade do crescimento é 6 meses, sendo ideais • adequado para idade gestacional
os intervalos anuais. Há dois padrões de referência (AIG), quando seu peso estiver entre o percentil
internacionais, um americano e o outro inglês. A 10 e 90;
dificuldade em sua utilização é a dúvida de que, em • grande para idade gestacional (GIG),
função do padrão genético, os dados dessas popu- quando seu peso estiver acima do
Saúde
3
40
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
41
ABORDAGEM CLÍNICA
42
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
vida pós-natal. Observa-se também que quanto população a termo. Para contornar este problema
mais precoce é a instalação da desnutrição fetal, utilizamos um artifício na avaliação antropométri-
tendo o RN um RCIU do tipo 1, maiores são as ca: a correção do peso para a idade gestacional.
seqüelas do ponto de vista nutricional. Para avaliar um recém-nascido prematuro até
completar 40 semanas de vida (intra-uterina +
A necessidade energética do RN na pós-natal) deve-se utilizar curvas do crescimento
primeira semana de vida é de 120 kcal/kg/ intra-uterino; após 40 semanas deve-se utilizar
Para lembrar
dia e a necessidade hídrica de 150 ml/kg/ curvas do peso e estatura da população a termo
dia, sendo ele a termo e AIG. No RN PIG descontando as semanas da vida pós-natal. As-
a necessidade é de aproximadamente sim, um RN de 30 semanas só irá utilizar as cur-
180 kcal/kg/dia para o crescimento vas do crescimento da população a termo quando
adequado. Relativo hipermetabolismo alcançar 10 semanas de vida. Essa correção deve
nos RN com RCIU tem sido documentado, ser feita para o peso até a criança completar 24
havendo maior consumo de oxigênio não- meses após o termo, para o comprimento até 42
devido à maior atividade. meses e para o perímetro cefálico até 18 meses45.
Para lembrar
um maior depósito de gordura. Ele necessita, desnutridos intra-uterinos, são pacientes
portanto, da instalação precoce de suporte de risco para processos infecciosos
nutricional, o que nem sempre é possível em e para a desnutrição energético-
função das intercorrências clínicas que ele protéica futura e, portanto, devem ser
freqüentemente apresenta. rigorosamente acompanhados tanto
A avaliação pôndero-estatural desses recém- no aspecto nutricional quanto nas
nascidos prematuros é difícil, pois as curvas de intercorrências infecciosas.
peso existentes são baseadas em dados de uma
43
ABORDAGEM CLÍNICA
“
ção da estatura final deve ser considerada quando
“As taxas de mudanças na estatura o fator nutricional não for relevante. Em uma aná-
durante os anos de crescimento refletem lise estratificada no Chile observou-se que o déficit
de forma acurada o estado de saúde de estatura materna foi associado a um risco 2
pública de um país e o estado nutricional vezes maior de déficit de estatura na criança no
médio de seus cidadãos” 46
nível socioeconômico baixo. No estrato social mais
”
em adultos também poderia ser usado
estatura dos pais pode ser um preditor da estatura
econômica”.47
No Brasil, um trabalho realizado com base nos
Saúde
3
44
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
(PNSN) mostrou que o déficit de estatura das ◗ baixa estatura - a criança tem sua estatura
crianças está relacionado com o analfabetismo abaixo do percentil 3 (ou 2,3) (abaixo do -2
materno com uma estimativa do risco relativo de escore Z).
!
17,2 e com a baixa renda familiar com um risco
de 11,0 comparando-se com as famílias do estrato No trabalho do CREN tem sido utilizado
social mais elevado . Assim, a DEP primária por
51
um nível de corte mais sensível para o
estar associada às precárias condições de vida é diagnóstico da baixa estatura – percentil 5
a principal causa de alteração do crescimento em ou -1,6 escore Z (ver quadro 4).
nosso meio42, 52, 53.
Após a avaliação clínica, o passo seguinte no
1.5 O seguimento do esclarecimento do diagnóstico da BE é a solicita-
crescimento da criança com ção da idade óssea e a elaboração de um perfil do
baixa estatura crescimento. Esse perfil do crescimento pode ser
No acompanhamento da evolução da calculado pela comparação da idade óssea com
estatura da criança pode ocorrer uma das a idade cronológica, a idade peso (idade que a
seguintes situações :
41, 52, 53
criança teria se o seu peso estivesse no percentil
50) com a idade estatura. No caso da BE por
◗ desaceleração da curva do crescimento - a
desnutrição, a idade óssea está abaixo da idade
criança tem seu percentil de estatura acima
cronológica e entre a idade peso e a idade estatura,
do 10 (-1,3 escore Z), mas entre as últimas
também chamadas de idade somática53.
consultas sua estatura caiu em termos de
É importante lembrar que a avaliação da baixa
percentis;
estatura não poderá ser feita exclusivamente pela
◗ zona de vigilância de crescimento (ZVC) antropometria, sendo fundamentais a avaliação
- a criança tem sua estatura entre os da situação socioeconômica da família e a rea-
percentis 10 e 3 (ou 2,3) (entre -1,3 e -2 lização da uma anamnese alimentar de maneira
escore Z). Estas duas situações indicam adequada, conforme serão comentadas em itens
uma situação de risco para baixa estatura; específicos a seguir.
45
ABORDAGEM CLÍNICA
!
eletrônica
a) Peso:
Para a aferição do peso de crianças de
0 a 2 anos de idade são utilizadas a balança
pediátrica manual com capacidade para 15 kg
Saúde
3
46
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
47
ABORDAGEM CLÍNICA
▼
madeira, com fita
métrica de 100 cm é colocado sobre uma superfície firme métrica com divisões em centímetros e
e escala de 1 mm.
e dura e a criança é colocada deitada en- subdivisões em milímetros. Esta fita métrica é
tre as placas de madeira do medidor. Há fixada em uma parede, sendo que esta não deve
duas plataformas de madeira ter rodapé e ser plana. As costas da criança
acopladas à régua de madeira, devem ser apoiadas no local onde a fita métrica
graduada em cm, formando está fixada e em seguida desliza-se um esquadro
ângulos de 90º. Uma delas é de madeira com ângulo de 90º sobre a fita, até
fixa, com a marca zero, na que ele toque a cabeça.
qual será encostada a cabeça O vértice do esquadro
da criança. A outra é móvel, que toca a fita (ângulo Fita métrica.
ajustada aos pés da criança para de 90º) marca a altura da
permitir a leitura de sua esta- criança. Tomar as medidas
tura. Uma pessoa deve segurar até que duas delas não
a cabeça da criança e outra, as sejam diferentes entre si
pernas e os pés. Os joelhos de- em mais de 0,5 cm.
vem estar esticados e os dedos Em todos os casos, a
Infantômetro.
dos pés apontando para cima, criança deve permanecer
para que a parte móvel do medidor se encontre com os braços estendidos
bem apoiada contra os calcanhares. Tomam-se as ao longo do corpo, os pés
medidas até que duas delas não sejam diferentes juntos e os calcanhares,
entre si em mais de 0,1 cm. os glúteos e os ombros
Para crianças maiores de 2 anos mede-se a tocando a superfície
Saúde
3
48
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
49
ABORDAGEM CLÍNICA
!
▼
da criança.
buscando informações
completar as informações obtidas por meio da
referentes ao consumo de alimentos
História Alimentar.
durante a semana e no fim de semana,
Através desses 3 instrumentos são detectados
com o objetivo de avaliar especialmente o
alguns possíveis erros alimentares que logo em
comportamento alimentar da criança.
seguida receberão as orientações para correção.
Para lembrar
◗ História alimentar – consumo habitual perguntas giram em torno de como
a pessoa em atendimento para que ela se sinta come em frente à TV, se come sozinha,
livre e relate a real história alimentar da criança. se faz suas refeições com a família, etc.
então não sabe efetivamente o que foi dado à intestinal da criança; queixas relacionadas com a
Parte
50
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
51
ABORDAGEM CLÍNICA
Cabelo Firme; brilhante; Perda do brilho natural; seco e feio; fino Associados a
difícil de arrancar e esparso; despigmentado; fácil de Kwashiorkor e com
arrancar (sem dor) freqüência ao
marasmo
52
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
QUADRO 5: (continuação)
53
ABORDAGEM CLÍNICA
QUADRO 5: (continuação)
Conclusão
sinais e sintomas surgirão, dependendo das
e graves e essa é sua principal limitação,
carências agregadas ou intercorrências, como as
pois não permite a prevenção dos
infecções, até serem alcançados os quadros mais
distúrbios nutricionais, ou seja, a atuação
graves, que são o kwashiorkor ou o marasmo.
do profissional de saúde evitando que eles
Esses sinais clínicos variarão de acordo com a se estabeleçam ou agindo prontamente
forma de desnutrição, se kwashiorkor, marasmo
Saúde
3
na sua resolução.
ou forma mista.
Parte
54
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
55
ABORDAGEM CLÍNICA
QUADRO 6:
Principais características clínicas e laboratoriais que diferenciam as formas graves de DEP
Fonte 59
56
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
No marasmo ocorre perda muscular marcante do tecido adiposo. Desta quebra vão surgir os
e depleção de gordura subcutânea, na tentativa aminoácidos, principalmente a alanina e o glicerol
de proteger parcialmente os órgãos vitais, como proveniente da degradação da gordura. Essas
o cérebro, o coração e as vísceras, à custa de substâncias vão pela circulação para o fígado,
tecidos como o músculo esquelético e adiposo onde se tornam os mais importantes substratos
para manutenção do equilíbrio do organismo da neoglicogênese hepática, via que tem como
(Quadro 8). produto final a produção de glicose. Esse
O hormônio cortisol entra em ação mecanismo é essencial como fonte de energia
promovendo a degradação da proteína que para o cérebro, que se alimenta preferencialmente
está no músculo, e contribui para a degradação de glicose. Por isso a criança é muito magra.
57
ABORDAGEM CLÍNICA
58
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
As principais diferenças metabólicas entre kwashiorkor e marasmo estão apresentadas no quadro 10:
MARASMO
MÚSCULO AMINOÁCIDOS PLASMÁTICOS FÍGADO CORTISOL
KWASHIORKOR
MÚSCULO AMINOÁCIDOS PLASMÁTICOS FÍGADO INSULINA
(fonte dos aminoácidos plasmáticos = dieta + degradação de proteínas endógenas)
Quadro 10. Diferenças metabólicas entre kwashiorkor e marasmo
59
ABORDAGEM CLÍNICA
f) Hormônios reprodutivos
A desnutrição, de acordo com a gravidade,
também afeta a função reprodutiva.
As mudanças que ocorrem na desnutri-
ção são:
◗ atraso da menarca;
Pesquisador inglês, ◗ atraso no estágio puberal
definiu cinco estágios de
desenvolvimento puberal de Tanner;
para ambos os sexos, a
▼
anamnese alimentar e ao exame clínico, seja a presença de anemia ferropriva, bem como a
Parte
60
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
61
ABORDAGEM CLÍNICA
62
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Para lembrar
por imunodifusão radial e seus valores de Índice abaixo de 90% é
63
ABORDAGEM CLÍNICA
64
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Conclusão
do tipo tardio.
Sua utilização restringe-se
ao paciente hospitalizado
(avaliação do risco de
Nenhuma das técnicas
mortalidade) e principalmente
atualmente disponíveis
ao acompanhamento da
responde totalmente
resposta à terapia nutricional.
às necessidades dos
profissionais que realizam
o suporte nutricional. O
progresso tecnológico nos 5. o desenvolvimento
Para lembrar
65
ABORDAGEM CLÍNICA
Para lembrar
Durante a aplicação
do questionário é
fundamental que a mãe
sinta-se à vontade e
encontre no profissional
de saúde um aliado no
combate à desnutrição
do seu filho.
66
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
(como a do cartão
DNPM deve-se proceder a uma da criança).
5.2 Desenvolvimento avaliação mais minuciosa com uma
Por exemplo a
neuropsicomotor da escala de desenvolvimento. Caso haja de Denver ou
▼
67
ABORDAGEM CLÍNICA
a criança; o modo como ela cuida durante a 5.3 Outros dados da anamnese
consulta expressará, pelo menos parcialmente, o e exame físico
que ocorre em sua casa.
Nessa avaliação é necessário
ter em conta que o desenvolvi-
mento tem uma seqüência fixa
e invariável para cada espécie,
embora com um ritmo variável
de pessoa para pessoa. Além
da seqüência e ritmo, ele segue
uma direção: é céfalo-caudal,
inicia-se pela cabeça e vai do
tronco aos membros. Essa lem-
brança é fundamental para que
os profissionais de saúde e os
familiares entendam que estão
avaliando um processo que ocorre com aquela Em princípio qualquer item da anamnese e do
criança, que tem o seu ritmo dentro dos padrões exame físico pode trazer uma contribuição ao
de DNPM humano. diagnóstico e avaliação da DEP, o importante é
Frente a um DNPM alterado, outro dado que o profissional de saúde esteja atento a isso.
fundamental a ser considerado é a idade ges- Itens como a história vacinal, os antecedentes
tacional ao nascimento, pois é sabido que o perinatais, de doenças e internações são fun-
prematuro desenvolve-se de modo “atrasado” damentais para explicar possíveis alterações no
considerando-se as escalas de desenvolvimento. estado nutricional atual.
Para uma avaliação adequada de um prematuro A observação clínica cuidadosamente reali-
deve-se proceder à mesma correção menciona- zada pelo profissional de saúde de modo siste-
Saúde
3
68
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
se possível em equipe multiprofissional e inter- É fundamental enfatizar que tanto essa avalia-
disciplinar, conduzirá à compreensão do estado ção quanto as providências necessárias para uma
nutricional e de suas alterações, e proporcionará a saúde adequada não poderão ser conseguidas
base para uma adequada estratégia de prevenção sem a participação da família e da comunidade
e controle desse problema. em que a criança esteja inserida.
69
FOTO M37 (SLIDE), NÃO CONSTA NO CD
p a r t e 4
Prevenção e Controle
da Desnutrição
Energético-Protéica
A DEP é uma doença social. Sua prevenção e promoção de saúde, mais do que as
gida, pois o fator etiológico mais importante é a e de seu manejo, principalmente em suas
das más condições ambientais - uma alimentação para a prevenção da desnutrição intra-ute-
71
ABORDAGEM CLÍNICA
72
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
nos primeiros 6 meses de vida, pois atende todas respiratórias, otite média, doença celíaca,
as suas necessidades. Entre os inúmeros benefícios doença de Crohn, diabetes, câncer, entre
que oferece, destacamos: outras, e problemas ortodônticos em bebês
◗ os nutricionais: amamentados, quando comparados com os
• garante um aporte adequado de hidratos de alimentados artificialmente, principalmente
carbono, proteínas, gorduras, água, vitaminas entre aqueles pertencentes a comunidades
e minerais nos primeiros seis meses de vida; de baixo nível socio-econômico69, 72, 73. No
◗ os afetivos: Brasil, também se verificou a diminuição na
• a amamentação deve ser encorajada logo prevalência da morte por diarréia em bebês
após o parto, pois, colabora para o víncu- amamentados durante o primeiro ano de
lo entre mãe e filho, devido ao fato de que vida74;
para amamentar a mãe precisa abraçar seu • o aleitamento materno previne a enteroco-
recém nascido, permitindo maior contato lite necrotizante em prematuros; por este
entre seus corpos. ;
68, 69, 70 motivo deve ser o alimento de escolha para
◗ a prevenção de doenças: essa população: bebês que alcançaram pelo
• o leite humano apresenta menor risco de menos 34 semanas gestacionais mostram-
contaminação quando comparado com se fisiologicamente capazes de sugar o leite
a alimentação artificial, uma vez que vai após o parto, enquanto as crianças com
direto do seio para a boca do bebê. Outro menor idade gestacional devem recebê-lo já
aspecto importante a ser considerado é a ordenhado até que consigam mamar
proteção contra alergias alimentares, devido sozinhos75;
ao retardo na exposição a alimentos ◗ benefícios para as mães:
potencialmente alérgenos, como é o caso do • estudos epidemiológicos demonstraram que
leite bovino ;71 mulheres que amamentaram apresentaram
• pesquisas internacionais indicam a redução menor predisposição para o desenvolvimento
na mortalidade e na ocorrência de mor- de câncer de mama, sendo que quanto maior
bidades, como diarréia, anemia, doenças o tempo de aleitamento, menor é o risco71;
73
ABORDAGEM CLÍNICA
• a amamentação funciona como método con- Em nosso país, é importante ressaltar que muitas
traceptivo durante os primeiros seis meses crianças são desnutridas devido ao desmame inade-
após o parto em situações em que a crian- quado (precoce ou tardio). O desmame precoce (a
ça recebe apenas o leite materno e a mãe interrupção do aleitamento materno exclusivo antes
permanece amenorréica devido à ação da dos seis meses) está associado a vários fatores, como:
prolactina sobre os ovários. Quando se inicia
a introdução de novos alimentos ou a mulher ◗ não realização do pré-natal;
volta a menstruar, aumentam as chances de ◗ falta de orientação às gestantes no pré-natal
uma nova gestação71, 73,75; quanto aos benefícios da aleitamento materno;
• a redução na hemorragia após o parto é ◗ aumento na incidência de cesáreas;
induzida pela ocitocina, um dos hormônios ◗ prematuridade;
re-lacionados com a lactação, por meio de estí- ◗ demora em levar o RN ao peito ao nascer;
mulos à contrações uterinas para involução do ◗ falta de apoio da família e do pai da criança;
útero ao tamanho pré-gestacional 71, 73
; ◗ introdução de chupetas e mamadeiras de
• o aumento no dispêndio energético de mães chás e/ou água.
que amamentam devido à produção do leite
humano é uma importante ferramenta na 6.2 Como amamentar?
recuperação do peso pré-gestacional ; 76
Durante o pré-natal, a gestante deve receber
• as mães que amamentam desfrutam de orientações referentes às técnicas da amamentação
maior tempo livre para cuidar de seus bebês, para evitar os problemas que mais freqüentemente
pois não precisam preparar as refeições nem ocorrem: dor, formação de fissuras no mamilo e
limpar os utensílios. Amamentar também mastite. O aleitamento deve ocorrer em posição
é mais econômico: estimativas indicam que confortável para a mãe e o bebê; é importante alter-
são necessárias 6 latas de leite em pó para nar as posições entre uma mamada e outra para não
alimentar um bebê no primeiro mês de vida, machucar o seio materno70, 71
7 latas no segundo mês e 8 a partir do pri- Dentre as posições mais comuns, des-
Saúde
4
74
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
acomodando-o sobre o seu corpo; mãe e bebê Mães que não receberam informações adequa-
encontram-se deitados, um de frente para o das referentes a este assunto durante a gestação
outro; a mãe segura a cabeça da criança com podem apresentar dificuldades para amamentar,
as mãos, acomodando o corpo da criança introduzindo mamadeiras precocemente e colabo-
embaixo de seus braços como se estivesse rando ainda mais para a diminuição na produção
segurando uma bola de futebol americano. do leite73, 76.
Essa posição é interessante para lactantes que O ingurgitamento das mamas pode
sofreram cesariana .
71, 75
ocorrer devido à produção excessiva de leite e
O volume de leite produzido pela mãe de- conseqüente inchaço e aquecimento desse local.
pende, basicamente, do estímulo decorrente da Nestes casos, recomenda-se o esvaziamento ma-
sucção do bebê e/ou da remoção do leite por nual de parte das mamas para permitir que o bebê
meio da ordenha manual. Portanto, a falta de consiga abocanhá-las. Mães que amamentam com
leite relaciona-se com a redução na freqüência freqüência e sempre que o bebê manifesta vontade
das mamadas e não ao esvaziamento do seio. dificilmente passarão por essa experiência75,76.
Ao amamentar, é importante:
• que mãe e filho vistam roupas confortáveis;
• verificar se o bebê abocanhou grande parte da aréola e se o seu braço encontra-se colocado ao
Para lembrar
redor da cintura da mãe, para que não fique entre os dois corpos;
• que a boca da criança permaneça bem aberta;
• que o lábio inferior esteja virado para fora;
• visualizar maior porção da aréola na parte superior à boca do bebê;
• que a mãe não sinta dor ao amamentar e que o bebê fique satisfeito após a mamada71;
• que a mãe segure o seio com os dedos em forma de C;
• que ocorra o contato direto entre a barriga da mãe e a do bebê;
• que o queixo da criança toque o seio da mãe e suas nádegas e costas estejam bem apoiadas70,71.
75
ABORDAGEM CLÍNICA
76
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
!
seja compreendida como substituição do leite bem cuidados, diminuindo os riscos de
materno e não sua complementação. Neste texto contaminação;
manteremos a terminologia tradicional (desmame) • sejam oferecidas dietas de elevada
pelo seu amplo uso entre os profissionais de saúde. densidade calórica e com quantidade
O período do desmame é uma fase de tran- adequada de proteínas de boa
sição de elevado risco para a criança, pois nela qualidade (Anexo 7).
pode haver:
77
ABORDAGEM CLÍNICA
▼
aveia, milho, trigo,
importante, principalmente em crianças Chamar a atenção para o uso dos entre outros).
que não são mais lactentes. Evitar a oferta óleos vegetais, que são preferíveis.
de alimentos com consistência parecida: Para uma complementação de informação
por exemplo, tudo muito pastoso ou muito quanto à orientação alimentar ver o modelo de
duro; procurar manter equilíbrio entre a alimentação saudável para crianças no anexo 5.
textura das preparações;
◗ cor das preparações: crianças em idade
pré- escolar tendem a apresentar redução
no apetite, e uma alimentação colorida
estimula sua aceitação. Evitar preparações
com a mesma coloração, aproveitar a va-
riedade de cores que as hortaliças oferecem
Saúde
4
78
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
79
ABORDAGEM CLÍNICA
O cálculo das necessidades de energia e como referência para o cálculo dessas estima-
proteínas para uma população saudável tem tivas ao invés da idade cronológica a utilização
como objetivo principal a manutenção do es- da idade estatura, que é a idade que a criança
tado nutricional e deve levar em consideração teria se a sua estatura estivesse no percentil 50,
variáveis como sexo, idade, atividade física, e ao invés do peso esperado para a idade, o peso
peso e estatura. esperado para a idade estatura. Como pode ser
No cálculo das necessidades de energia e visto no quadro 11, calculando-se desse modo,
proteína para crianças desnutridas o objetivo é a oferta protéica e energética será maior do
a recuperação do estado nutricional. Por este que se utilizassem como referência o peso atual
motivo, um grupo de especialistas propôs
79
e a idade cronológica.
QUADRO 11:
Fonte: 79
Parte
80
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
81
ABORDAGEM CLÍNICA
sabores e texturas, aprendendo o que é alimento. nova, ou seja, nos primeiros anos de vida (1 a 2 anos),
Parte
82
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
83
ABORDAGEM CLÍNICA
recheados e chocolates, são os alimentos que aquilo que poderá de alguma forma lhe proporcionar
estão em maior quantidade na alimentação diária prazer, como por exemplo o salgadinho que come
das crianças e que muitas vezes em companhia dos amigos, o brigadeiro que come
As preferências eles substituem erroneamente em festas de aniversário, a bolacha recheada de
são criadas as refeições saudáveis que as chocolate que come quando volta da escola, etc.
através de um crianças deveriam ingerir, princi-
processo de palmente nessa fase importante 7. Prevenção e controle
aprendizagem do desenvolvimento. das doenças mais asso-
Há, porém, uma série de indi- ciadas à DEP
cações de que a família e a experiência alimentar Apresentaremos a seguir os principais aspectos
influenciam na preferência por sabores, ou seja, relacionados às doenças mais associadas à DEP,
as preferências são criadas através de um proces- mostrando como elas estão associadas entre si e
so de aprendizagem86, 88, 90, 91. como deve ser feita sua prevenção e controle.
Uma vez que o alimento é uma das primei-
ras experiências de prazer do ser humano, altas As principais patologias associadas à
expectativas para a criança comer e ameaças de DEP são:
repressão podem tornar a refeição um momento ✓ as doenças infecciosas;
desagradável para a criança, levando-a a comer • as imunopreveníveis: sarampo e
Para lembrar
tuberculose;
A educação alimentar • as respiratórias agudas;
Conclusão
84
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
85
ABORDAGEM CLÍNICA
O ambiente de vida da criança é fundamental na inter-relação das doenças infecciosas com o estado
nutricional da criança, como está indicado na Figura 4:
Ambiente
contaminado
Saneamento
precário
Suprimento Exposição a agentes Freqüência
inadequado de água infecciosos de infecção
Cozimento
inadequado de
alimentos
Capacidade de
recuperação
Falha permanente
do crescimento
ÓBITO
Figura 4: Esquema mostrando a inter-relação entre o meio ambiente, o agente infeccioso e o estado nutricional da criança95.
Parte
86
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Outro aspecto a ser considerado no binômio resposta satisfatória de anticorpos nas populações
desnutrição-infecção apresentado na Figura 4 com alto índice de desnutrição, mesmo nas crianças
é que a incidência e gravidade da infecção no portadoras de kwashiorkor94.
desnutrido são maiores porque os mecanismos
de resistência estão deprimidos. Além disso, o 7.3 Infecções respiratórias
diagnóstico clínico é muitas vezes dificultado de- agudas96
vido às respostas anormais do desnutrido. Muitas As infecções do trato respiratório são
doenças evoluem com poucos sintomas e sinais as doenças mais freqüentes na infância,
incaracterísticos.93 independentemente do nível socioeconômico e
do estado nutricional. São elas: as rinofaringites,
7.2 Imunização e doenças as faringo-amigdalites, as otites, as sinusites, as
imunopreveníveis laringites, as traqueobronquites, as bronquiolites e
Além de uma alimentação adequada, principal- as pneumonias.
mente o aleitamento materno, a imunização das Os agentes mais freqüentes são os agentes
crianças é a melhor forma de prevenir doenças virais: rinovírus, influenza, parainfluenza,
infecciosas, como a tuberculose (formas graves) e coxsackie, echovírus, vírus sincicial respiratório
o sarampo, que são associadas à alta mortalidade (VSR) e adenovírus. Dependendo da localização,
de crianças desnutridas. os agentes bacterianos tornam-se importantes:
As crianças desnutridas podem e devem ser entre eles o estreptococo beta hemolítico
vacinadas normalmente segundo o calendário básico do grupo A, o pneumococo, o hemófilo e a
do Programa Nacional de Imunização do Ministé- moraxella. No caso das crianças desnutridas,
rio da Saúde (PNI). Exceção para casos graves de em função das alterações da imunidade celular,
desnutrição, na maioria dos pacientes não parece adquirem maior importância os estafilococos,
haver efeito supressivo sobre a imunidade humoral. as bactérias gram-negativas e a micobactéria
Estudos do Instituto de Nutrição da América Cen- tuberculosis, que levam a maior mortalidade
tral e Panamá (INCAP), em 1965, com a vacina devido à agressividade desses agentes e à menor
contra o sarampo, demonstraram que ocorre uma capacidade de defesa dessas crianças.
87
ABORDAGEM CLÍNICA
é a penicilina. Nos casos mais graves, deve-se mente, quando o quadro melhorar.
Parte
88
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
bonato, etc.
Como é uma doença autolimitada, não há indi- aumentadas. A desidratação ocorre
cação para o uso de antimicrobianos, mesmo em quando estas perdas não são com-
crianças desnutridas. Esses ficam reservados para pensadas adequadamente. Assim, desde o início
os casos de diarréia que apresentem sangue nas de um processo de diarréia aguda, antes que o
fezes (disenteria) e após a reidratação mantêm o paciente apresente desidratação, recomenda-se
89
ABORDAGEM CLÍNICA
a oferta de uma quantidade maior de líquidos Plano C – criança com diarréia com
do que a que normalmente é consumida, no sinais de desidratação grave (choque) – é
intuito de cobrir as necessidades basais e repor recomendada a hidratação endovenosa para a
as perdas hidroeletrolíticas anormais. Podem ser fase rápida ou de expansão; TRO com SRO
utilizadas sopas, chás, sucos, água do cozimento para a fase de manutenção.
do arroz, leite e iogurte. Devem ser evitados os O esquema completo pode ser obtido no
refrigerantes, por conterem quantidades eleva- Manual do Ministério da Saúde - Assistência e
das de hidratos de carbono, alta osmolaridade e Controle das Doenças Diarréicas97.
baixíssimas concentrações de eletrólitos. A água A criança desnutrida deve ser tratada
pode ser dada, de preferência acompanhada por do mesmo modo. O principal cuidado é na
outros alimentos. avaliação clínica dos sinais de desidratação
Nos pacientes com diarréia aguda sem na desnutrição grave, pois muitos desses
desidratação instalada, não há necessidade de não são confiáveis, dificultando a detecção
suspender os alimentos e outros líquidos. No do distúrbio hidro-eletrolítico, bem como a
tratamento da desidratação em crianças menores sua gravidade. Considerar principalmente a
de 5 anos de idade, deve ser empregado esquema história da diarréia, sede, hipotermia, olhos
terapêutico de reidratação baseado nas recomen- encovados, pulso radial fraco ou ausente,
dações da OMS e do Ministério da Saúde do extremidades frias e fluxo da urina. Não são
Brasil, apresentado adiante. confiáveis o estado mental, a umidade da
Conforme a avaliação feita no quadro 12 esta- boca e da língua, a presença de lágrimas e a
belecem-se três planos terapêuticos: elasticidade da pele99.
Plano A – criança com diarréia sem desidrata- Para crianças gravemente
Peso/estatura
▼
ção – é recomendado apenas aumento de líquidos; desnutridas tem-se proposto a < -3 escore Z.
Plano B – criança com diarréia com sinais utilização de SRO com menos sódio
de desidratação – é recomendada a Terapia de e mais potássio (ReSoMal), pois essas crianças
Reidratação Oral (TRO) com Sais de Reidratação têm níveis anormalmente altos do primeiro e são
Saúde
4
90
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
QUADRO 12:
4. TRATE
Use Plano A Use Plano B Use Plano C
# Para avaliar o enchimento capilar, a mão da criança deve ser mantida fechada e comprimida por 15 segundos. Abrir a mão da criança
e observar o tempo em que a coloração da palma da mão voltou ao normal. A avaliação da perfusão periférica é muito importante,
principalmente em desnutridos em quem a avaliação dos outros sinais de desidratação (elasticidade da pele, olhos, etc.) é muito difícil.96
91
ABORDAGEM CLÍNICA
92
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
93
ABORDAGEM CLÍNICA
Para lembrar
responsáveis pela alta prevalência prejudica a absorção do ferro.
de anemia em crianças são: Por isso deve ser evitada a
!
• baixo nível socioeconômico; oferta de bebidas como café,
• desmame precoce; chá preto, mate e refrigerante,
• ocorrência de parasitoses intestinais; principalmente durante as
• pequena ingestão de alimentos refeições, para não prejudicar
ricos em ferro e alto consumo de a absorção do ferro presente
leite. nos alimentos.
94
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
deve-se consumir alimentos como fígado, encontradas em alimentos como leite, ovos,
leite, gema de ovo, hortaliças folhosas de carnes (bovina, ave, peixe e miúdos, entre
cor verde escura e hortaliças e frutas de outras), leguminosas, vegetais folhosos, fa-
cor amarelo-alaranjada. rinhas integrais, cereais, etc. São vitaminas
que participam no metabolismo energético
b) Deficiência de vitamina D e nos processos enzimáticos. A carência
Causa o raquitismo, que consiste na má- de algumas vitaminas resulta em síndromes
formação óssea decorrente de inadequada específicas, como a carência da vitamina
mineralização da matriz orgânica, acarre- B1 acarreta beriberi (problemas cardiovas-
tando baixa estatura e ossos fracos, que não culares e neurológicos); a da vitamina B6
suportam o peso corporal. A maior fonte causa problemas na pele, neurológicos e
de absorção de vitamina D é a exposição da hematopoiéticos; a da vitamina B12, anemia
pele à luz solar; alguns alimentos de origem perniciosa; a do ácido fólico compromete
animal apresentam grandes quantidades o crescimento e causa problemas no trato
desta vitamina na forma de colecalciferol, gastrointestinal, anemia megaloblástica e
como, por exemplo, a manteiga, o fígado outras alterações hematológicas.
e a gema do ovo.
d) Deficiência de Vitamina C
c) Deficiência de vitaminas do complexo B A vitamina C participa de forma importan-
Participam deste grupo as vitaminas B1 te na prevenção de infecções e age como
(tiamina), B2 (riboflavina), ácido nicotínico, agente antioxidante; sua carência prolonga-
B6 (piridoxina), ácido pantotênico, biotina, da acarreta escorbuto, caracterizado pela
colina, inositol, ácido fólico, B12 (cobala- ocorrência de hemorragias na pele e muco-
mina) e ácido para-amino-benzóico. Como sas bem como sintomatologia dolorosa nos
derivam de grupos de alimentos semelhan- ossos. As principais fontes de vitamina C
tes, dificilmente ocorre carência de apenas são as frutas cítricas (laranja, limão, maracu-
uma destas vitaminas. Elas geralmente são já, goiaba, acerola, morango, kiwi, etc).
95
ABORDAGEM CLÍNICA
7.10 Tratamento das social. Sua resolução última depende de atuar so-
anemias carenciais e das hipo- bre as condições de vida da população. Depende,
vitaminoses associadas à des- então, da adoção de políticas sociais eficazes na
nutrição redução da pobreza. Assim, são necessárias uma
As condições de vida que determinaram a DEP atuação governamental e a participação de todos
com freqüência ocasionarão anemias carenciais, os setores da sociedade.
principalmente ferropriva e hipovitaminoses, Colocada essa questão de fundo, a primeira re-
especialmente A e D. ação que surge para a maioria dos profissionais de
saúde, é que se para a desnutrição ser realmente
De modo geral, deve-se considerar enfrentada se exigem políticas sociais adequadas,
Para lembrar
96
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
A proposta que vem a seguir nasce da ex- As medidas e atividades a serem promovidas
periência de profissionais que reconhecendo os para o controle da DEP variam na dependência
limites da sua ação frente a um problema dessa do local onde se darão: comunidade, ambulatório
magnitude social, buscam junto com todos os (centros de saúde), outros serviços da comunidade
participantes, equipe de saúde, outros serviços da (creches e escolas), unidade de cuidados diários
comunidade (creches, escolas), e, principalmente, (centro de recuperação nutricional) e hospitais. De
a própria comunidade, soluções viáveis e social- qualquer modo, duas são as preocupações funda-
mente aceitáveis. mentais para que estas medidas sejam eficazes:
◗ que as pessoas cuidadas (mães e crianças)
O programa de controle da desnutrição tem não sejam somente simples receptoras;
como estratégias fundamentais: ◗ que haja integração dos profissionais
◗ atenção à pessoa (criança desnutrida) e numa equipe e entre serviços de saúde e
integração com a família e a comunidade; destes com outros serviços de diferentes
◗ acompanhamento do crescimento e do
desenvolvimento;
◗ incentivo ao aleitamento materno e orienta-
ção sobre a alimentação para o desmame;
◗ incentivo à imunização das crianças, con-
forme calendário do PNI;
◗ identificação e tratamento precoce das
patologias e agravos associados (principal-
mente as doenças diarréicas agudas e as
infecções respiratórias agudas);
◗ e educação alimentar realista e eficaz.
97
ABORDAGEM CLÍNICA
A proposta colocada a seguir procurará em CRN ou UCD. Cada nível de atenção será
delinear os principais aspectos que nascem dispensado procurando levantar os principais
de uma experiência profissional que tentou aspectos de sua atuação. A referência será os
considerar esses dois aspectos. O objetivo pontos apresentados anteriormente:
de apresentá-la é colocar-se em diálogo com ◗ diagnóstico e avaliação: deverão ser cen-
outras experiências existentes ou que venham trados na antropometria, principalmente
a ser estimuladas. como o acompanhamento do crescimento,
Essa proposta foi elaborada tendo em conta a anamnese alimentar e o exame clínico
a necessidade de que as medidas estejam de (sinais de risco de desnutrição);
acordo com o estado nutricional da criança. ◗ educação nutricional adequada às
Assim, para a grande maioria, que são as condições de saúde e de vida daquela crian-
crianças em risco de DEP, desnutridos leves e ça e família;
moderados, deve-se atuar junto à comunidade, ◗ controle das principais patologias e agravos
aos centros de saúde (ou outras formas de associados à desnutrição (doenças infeccio-
organização ambulatorial da atenção primária sas e nutricionais).
à saúde) e outros serviços (creches
e escolas). 8.1 A relação com a
As crianças com formas graves de DEP, em comunidade
função do seu maior risco exigem uma recu- A equipe de saúde deve ter como ponto de
peração mais rápida, e, por isso, a assistência partida conhecer quem são as pessoas com
deve ser-lhes prestada em ambulatórios de nível quem está trabalhando:
secundário, centros de recuperação nutricio- ◗ a criança: a que família pertence?
nal (CRN) ou unidades de cuidados diários ◗ a família: a que comunidade pertence?
(UCD). Caso haja necessidade de internação ◗ a comunidade: como está inserida na
em hospitais, o período de permanência nesse cidade?
tipo de serviço deve ser o mais curto possível e, As respostas a essas questões devem condu-
Saúde
4
98
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
◗ das condições de saúde (quais são as prin- Todos os profissionais de saúde já perceberam
cipais doenças naquela comunidade) e das como as soluções que se propõem esbarram
condições socioeconômicas; sempre na questão social. Essa limitação em
◗ dos recursos existentes: não só serviços como nossa experiência, não nasce simplesmente pela
centros de saúdes e creches, mas também amplidão dos problemas de saúde, mas também
outros como igrejas e associações de bairro, pela falta desse envolvimento.
e ainda os recursos informais (a quem a A atenção dos profissionais de saúde com a
família está vinculada, quais os laços de mãe da criança desnutrida, que muitas vezes
vizinhança e de parentesco importantes). parece impenetrável ou distante, torna-a mais
envolvida com seus próprios problemas e com
Esse diagnóstico deverá permitir o conheci- os do seu filho. É o efeito benéfico da condivisão
mento dos principais fatores de risco para a saúde (ver página 23).
e nutrição. Essa atuação diagnóstica não pode
ser efetivada sem que se estabeleçam laços com a
!
A intervenção de outros profissionais mais
comunidade, pois dessa maneira ela teria apenas
atentos aos “detalhes”, a nossa presença no
caráter acadêmico ou restrito e, portanto, ineficaz.
seu ambiente de vida, a percepção do nosso
a) Pressuposto – a atenção necessária
interesse por ela e pelo seu filho é o ponto
A relação com a comunidade implica
de partida para que a distância que muitas
relacionar-se com as pessoas, aproximar-se
vezes percebemos possa ser vencida.
delas, entrar no seu
A relação com a
mundo. Uma ação de
comunidade implica
saúde que não seja Em nossa experiência compreendemos que
relacionar-se
capaz disso permane- essa “distância” acontece porque essas pessoas
com as pessoas,
cerá num nível super- vivem sob condições que esmagam e escondem
aproximar-se delas
ficial e não será capaz suas necessidades, gerando nelas um fatalismo
de prestar uma real diante da insatisfação dos desejos como ter
contribuição para a solução desse problema. uma casa, trabalho, comida e lazer. A possibili-
99
ABORDAGEM CLÍNICA
dade de um novo início vem quando se percebem possibilidades, antes não vistas, e melhor adesão
valorizadas pelo humano que são. É claro que os ao tratamento.
problemas continuarão, as b) Intervenção na comunidade
Um caminho só é dificuldades continuarão, A presença de uma equipe de profissionais ou
possível quando porém um EU foi afirmado. de lideranças leigas preocupadas com a saúde das
alguém tem a Um caminho só é possível crianças de uma comunidade é de grande impor-
”coragem” de quando alguém tem a tância, pois permite:
afirmar um EU “coragem” de afirmar um ◗ promover a saúde da família através da
EU (ver a respeito o volume educação em saúde realizada com base no
Abordagem Psicológica desta coleção). conhecimento das condições ambientais e
Nesse sentido, o EU do profissional encontra o familiares;
EU da pessoa (ambos desejo infinito de felicidade ◗ realizar o acompanhamento do crescimento
e realização humana) e juntos procuram as pos- das crianças, identificando as desnutridas e
síveis soluções para o problema da desnutrição, propondo medidas de intervenção;
partindo do “patrimônio” existente na família e na ◗ fortalecer o vínculo da comunidade com os
comunidade (ver página 24). Este tipo de abor- serviços de assistência social e saúde locais.
dagem permite o estabelecimento de relaciona- O trabalho destes profissionais e das lideranças
mentos de confiança, a abertura da mãe a novas com a comunidade pode contribuir também para
a melhoria das condições de vida daquela popu-
lação. De um lado, estimula a
mobilização das lideranças; do
outro, as famílias que recebem
orientações sobre a saúde
constituem-se em multiplica-
doras do conhecimento para
outras que residem na mesma
Saúde
4
comunidade.
Parte
100
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
!
▼
da criança porque os desnutridos não chegam aos serviços, especialmente os serviços básicos
desnutrida na
comunidade.
de saúde, e quando o fazem, freqüentemente há descontinuidade do tratamento.
São comuns os relatos de profissionais de saúde sobre a dificuldade de manter esta
população vinculada ao serviço. Os índices de absenteísmo são altos, chegando a
ocasionar o esvaziamento do serviço.
A busca ativa pode se dar através das visitas domiciliares e dos mutirões antropométricos.
101
ABORDAGEM CLÍNICA
102
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
necessidades de seus filhos, suas próprias O profissional deve se preparar para essa
necessidades precisam ser respondidas. atividade, tendo claros os motivos que o levaram
Os pais/responsáveis desempregados, pre- a realizar aquela visita e os objetivos que gostaria
ocupados com onde morar ou o que comer de alcançar com ela. É claro que tais objetivos
no dia seguinte, vivendo problemas emo- podem ser modificados durante a própria visita,
cionais, geralmente têm dificuldade para dependendo do seu desenrolar e das (novas)
cuidar de outras pessoas. Portanto, mesmo necessidades que a família lhe apresentar.
que o objetivo da visita seja o cuidado com
a criança, é necessário que os pais/respon-
Para lembrar
A visita precisa ser agendada previamente
sáveis sejam ajudados a resolver os proble- com a família – pessoalmente, por escrito ou
mas que lhes estão tornando mais difícil por telefone –, esclarecendo sua finalidade. O
responder às necessidades de suas crianças. agendamento aumenta a receptividade à visita
(que poderia ser encarada negativamente pela
As visitas domiciliares devem ser feitas por família, como uma ação de fiscalização e não
duas pessoas da equipe, preferencialmente de ajuda), além de respeitar a individualidade
durante o dia. É importante que o profissional se de cada membro da família.
identifique claramente, usando um crachá e/ou
uniforme da instituição à qual pertence. A visita domiciliar é o encontro do outro em
Especialmente nas primeiras visitas domicilia- seu espaço; é uma aproximação,
res, é necessária a presença de um membro da uma ocasião de estreitamento de A visita
comunidade junto à equipe. Tal fato é importante vínculos, que se dá sempre dentro domiciliar é
para que a população conheça a equipe, adquira do respeito pelo tempo de cada um. o encontro
confiança nela e aceite as atividades e orienta- A atenção com a pessoa, a conside- do outro em
ções fornecidas. Em geral, os moradores são bem ração do contexto familiar e de suas seu espaço
receptivos, sendo raros os casos em que a família dificuldades, o respeito para com o
não reconhece o valor das orientações oferecidas seu processo de amadurecimento trazem trans-
e se recuse a participar das atividades propostas. formações: mudam o modo como a pessoa se
103
ABORDAGEM CLÍNICA
percebe e como ela se relaciona com os outros. mensuração do peso e da estatura de todas as
Ela se torna mais tranqüila e confiante, mais aberta crianças da comunidade. É importante que ele
a mudanças. Esse é o terreno fértil onde são lança- seja realizado em parceria com os profissionais
das as primeiras sementes de uma ação educativa de saúde e com as demais entidades que nela
e as famílias que recebem orientações sobre saúde fazem algum trabalho.
tornam-se multiplicadoras daquele conhecimento
para outras da mesma comunidade. No censo antropométrico são realizadas as
seguintes etapas:
d) Mutirões antropométricos (ou 1. Levantamento de todas as crianças me-
censos antropométricos) nores de cinco anos residentes na comuni-
dade. Este levantamento é realizado pelos
líderes comunitários em conjunto com a
equipe de saúde. Consiste em perguntar,
em todas as casas da comunidade, o nome
do responsável pela criança, nome e idade
das crianças que ali residem e o período em
que se encontram no domicílio. No caso de
uma favela, é útil contar com um mapa dos
domicílios para facilitar o retorno às casas
O mutirão antropométrico na comunidade após a realização das antropometrias;
é o método mais 2. Em dia previamente agendado de acordo
É o método mais
simples, de baixo com o melhor momento que as crianças e
simples, de baixo
custo e eficaz na seus responsáveis se encontram em casa, a
custo e eficaz na
determinação do equipe realiza a mensuração do peso e da
determinação
estado nutricional estatura de todas as crianças que mamam
do estado
de uma população. e das pré-escolares, em um local dentro da
Saúde
nutricional
4
Consiste na comunidade.
Parte
104
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
105
ABORDAGEM CLÍNICA
106
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
107
ABORDAGEM CLÍNICA
108
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
A primeira preocupação desse plano será Quanto às vitaminas, sua suplementação na des-
sempre com a dieta. Como comentado ante nutrição leve é discutível se não há alguma carência
riormente, nas formas graves o cálculo inicial das específica. Na recuperação ela pode ser necessária
necessidades de energia e proteína por quilograma se a dieta não fornecer as necessidades63.
e, assim, da dieta, serão feitos pela idade esta- As complicações da DEP assumem importân-
tura e peso/estatura (percentil 50 para a idade cia em nosso meio: diarréias, parasitoses e infecções
estatura). Progressivamente, com a recuperação respiratórias. Elas devem ser devidamente tratadas
nutricional, esses cálculos serão adaptados à sua para reduzir ao mínimo sua repercussão no estado
idade cronológica. Nas formas leves essa adapta- nutricional. A cada agravo infeccioso deve-se, além
ção é desnecessária (ver exemplo de cálculo no de tratar a doença, fazer-se vigilância estreita do
Quadro 11). ganho ponderal ou estatural, quando esse estiver al-
A orientação alimentar dessas crianças deve terado, até que ocorra o retorno destes ao canal do
ser feita tendo em vista o que foi comentado no crescimento. Um aspecto fundamental é a orienta-
item específico sobre alimentação neste volume ção alimentar durante os episódios infecciosos, pois
(ver Alimentação da Criança Desnutrida, página ela pode prevenir parte do comprometimento do
79 e anexo 7). estado nutricional que ocorre nessas situações.
Uma medida que tem sido promovida na maior Independentemente da existência de alteração
parte das propostas de controle da DEP, mas à do DNPM, a mãe (família) pre-
qual se oferecem sérias resistências, principalmente cisa ser orientada sobre a neces-
O objetivo
em função da sua baixa eficácia, é a suplemen- sidade de estimulação adequada
principal é
tação alimentar. Entre os motivos para a da criança de acordo com a sua
que a mãe se
eficácia parcial dos programas de suplementação situação nutricional e faixa etária.
torne o agente
alimentar estão: diluição intra-familiar, irregu- Esse procedimento é tão impor-
principal da
laridade no fornecimento e grande número de tante quanto a oferta de uma dieta
intervenção
patologias que comprometem desnutridos. A adequada à criança.
suplementação não parece diminuir significativa- O objetivo principal dessas
mente o risco das infecções associadas. medidas é orientar a mãe sobre qual é a condição
109
ABORDAGEM CLÍNICA
Para lembrar
de saúde. Como comentado anteriormente é
operativos e visitas domiciliares, a equipe
fundamental o acolhimento daquela pessoa (mãe
deve entender qual é o patrimônio daquela
ou responsável pela criança). O profissional deve
família e comunidade, ou seja, quais os
respeitar e favorecer aquilo que ela é dentro das
recursos que ela tem disponíveis no momento
condições que tem, partindo do positivo e do que
atual. Esse é o ponto de partida mais realista
já existe.
para a efetivação de qualquer proposta de
Um método de trabalho altamente eficaz são as
saúde (ver esse assunto também no volume
visitas domiciliares, como já foi comentado
sobre Abordagem Social desta coleção).
anteriormente. Elas permitem a aproximação da
equipe de saúde com as famílias e a possibilidade
da intervenção, quando necessária, in loco. Essa 8.3 A importância da Creche
atividade realça a importância dos agentes comu- As creches como estruturas de educação e da
nitários de saúde que com sua atuação facilitam a área social podem exercer importante papel na
ligação de toda a equipe com a comunidade. promoção da saúde das crianças. Nesse sentido,
Nesse mesmo sentido, outra metodologia elas são parte importante do patrimônio.
fundamental é a dos grupos operativos. Estes A integração da equipe de saúde das UBS com
oferecem uma excelente oportunidade de cons- as creches existentes em sua área de abrangên-
truir um trabalho educativo e de fortalecer os laços cia pode ser um importante instrumento dentro
da equipe com as famílias e a comunidade. Entre da intervenção para controle da DEP em uma
os assuntos que podem ser abordados estão as comunidade. Pode-se organizar para as crianças
noções de higiene, de saúde e alimentação. Além atendidas pela creche, juntamente com os profis-
disso, a equipe, em função da proposta de trabalho sionais que trabalham naquela instituição:
poderá utilizar esses grupos para trabalhar outros • um sistema de vigilância nutricional e de
temas que considere fundamentais no controle da atenção às principais doenças que ocorrem
Saúde
4
110
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
• um cardápio que atenda às necessidades nu- Além disso, essas atividades podem ser, tanto
tricionais das crianças dentro das condições para crianças que freqüentam a creche, como
da creche; para suas famílias, uma ferramenta de educação
• cuidado com as crianças que apresen- de saúde e nutrição.
tem seu estado nutricional alterado. Esse Um aspecto importante é montar um traba-
envolverá tanto a equipe da creche quanto lho visando à manutenção de um ambiente sau-
a inserção dessas crianças no programa dável na creche. O anexo 6 contém orientações
desenvolvido na UBS. quanto à higiene que poderão ser utilizadas pelas
equipes de saúde da UBS que tenham trabalho
integrado com creches.
Todas essas observações podem ser estendidas
às escolas e outro tipos de equipamentos sociais ou
de educação existentes na área de abrangência da
UBS. Em relação às escolas é importante observar
que será possível atuar em outras faixas etárias, es-
colares (de 7 a 10 anos) e adolescentes (de 10 a 18
anos), em que os problemas nutricionais não são
menos importantes.
111
ABORDAGEM CLÍNICA
A vantagem principal da presença de CRN em e uma forte ação educativa junto à família. É
uma localidade é que ele permite uma diminuição ideal que o CRN conte com uma equipe completa
importante das internações hospitalares, redu- (pediatra, enfermeiro, auxiliar de enfermagem,
zindo de 5 a 10 vezes os gastos com a saúde das nutricionista, psicólogo, assistente social) podendo
crianças naquela localidade. receber também a demanda da UBS que necessita
Os CRN, além de absorverem um grande de uma avaliação mais aprofundada do estado
contingente de crianças desnutridas que de outra nutricional ou de agravos associados, quando o
forma acabariam chegando ao hospital, pois o profissional específico para isso não estiver disponí-
tratamento ambulatorial não é suficiente para a vel no nível primário do sistema.
recuperação do seu estado nutricional – experi-
ência comum dos profissionais que trabalham em A abordagem ambulatorial
ambulatório – diminuem o número de internações O ambulatório é a porta de entrada para o
hospitalares, evitando a recaída e promovendo Centro de Recuperação e trata principalmente os
uma intervenção duradoura. casos de desnutrição leve, quando a criança se
No Brasil, a experiência
com Centros de Recuperação
Nutricional não é significa-
tiva, apesar de eles serem
comuns em outros países e
sua criação ser recomendada
pela Organização Mundial de
Saúde. Vários países, como o
Chile, erradicaram a desnutri-
ção através da construção de
CRNs pelo país.
O CRN permite ainda
Saúde
4
112
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Para lembrar
em peso para a idade e/ou estatura para a idade .
de coletar informações, é manter uma
O diagnóstico é feito após a primeira consulta
postura de observação. O profissional
conjunta entre o pediatra e a nutricionista, onde
precisa estar atento aos detalhes. Nesse
são realizados exames antropométricos, a ana-
primeiro contato, por exemplo, é possível
mnese alimentar e o exame dos sinais clínicos.
verificar o relacionamento mãe-filho,
Levando em conta o estado da criança, esses
como a família está estruturada e a forma
profissionais fixam a periodicidade das consultas.
de sua vida. Isto pode ser a chave para
As crianças com desnutrição moderada e grave
entender o porquê da desnutrição.
que não apresentem doenças associadas e preci-
sem de internação hospitalar devem ser encami-
nhadas ao serviço de semi-internato, onde serão É feita então a avaliação clínica pelo pediatra e
tratadas até a efetiva recuperação da estatura e preenchida a ficha médica (anexo 10). O pediatra
peso. Se a criança for acompanhada em ambulató- solicita exames laboratoriais, de acordo com cada
rio terá um retorno marcado que poderá ocorrer caso, e orienta a mãe sobre os cuidados básicos de
após 15 dias ou 1 mês. saúde, partindo daquilo que ela já sabe e procuran-
No ambulatório, o nutricionista preenche a ficha do orientá-la de acordo com seus recursos.
de identificação (anexo 8) com o nome da criança, A importância de realizar estes exames precisa
data de nascimento, endereço e dados dos respon- ser trabalhada com os pais, lembrando-lhes os
sáveis. Esta ficha será utilizada pelo serviço social. riscos da anemia, das parasitoses e de outras do-
Em seguida, ele pesa e mede a criança, pre- enças para a saúde de seus filhos. Essa conscien-
enchendo assim a ficha de evolução do estado tização dá bons resultados e muitos pais levam
nutricional (anexo 9). Os dados de peso e esta- seus filhos aos laboratórios indicados pelo médico,
tura são colocados no programa de computador que normalmente são os laboratórios de hospitais
Epiinfo - que gera e indica o percentil e escore Z e públicos conveniados à entidade.
o percentual da adequação, bases para classificar Toda orientação precisa ser dada de forma
o estado nutricional da criança. clara e detalhada, muitas vezes ilustrativa, sempre
113
ABORDAGEM CLÍNICA
Para lembrar
sempre tomando cuidado para que os pais não se
quem cuida da criança, se a tia, avó,
sintam culpados.
irmã, irmão ou vizinha, para que seja
É importante confrontar esses dados com
solicitada sua presença ao ambulatório
os gráficos NCHS para melhor visualização e
se não estiver presente na primeira
compreensão do estado nutricional da criança
consulta. Essa pessoa muitas vezes sabe
pelos responsáveis. Na impossibilidade do uso
mais da criança do que a mãe ou o pai,
de computadores é possível concluir a avalia-
que estão trabalhando o dia todo.
ção apenas com gráficos de percentis. Nesse
caso, o profissional não poderá classificar o
percentil 15, pois os gráficos do NCHS 2000 Se a pessoa que cuida da criança não pode vir
e/ou NCHS 1977 não o disponibilizaram. Su- até o ambulatório, então, pede-se à mãe/responsá-
gerimos usar a curva de percentil 10 como nível vel que repasse as orientações dadas na consulta.
de corte (encarte). Nos retornos, especialmente se a criança fre-
A seguir o nutricionista realiza a anamnese qüenta uma creche, é feito um inquérito alimentar
alimentar, como explicado anteriormente, da semana e do fim da semana. É preenchida a
para conhecer a história nutricional e avaliar ficha da história alimentar (anexo 2), que vai
o perfil qualitativo da alimentação da criança. revelar os bons e os maus hábitos alimentares. A
Dessa forma são detectados alguns possíveis orientação deve ser pautada sobre o que necessita
erros alimentares, que em seguida receberão as ser modificado, levando-se em conta a realidade da
orientações para a correção dos pontos mais criança e sua família. Se esse fator não for conside-
Saúde
4
114
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
115
ABORDAGEM CLÍNICA
Uma das nutricionistas do Centro de Recuperação conta a história de uma mãe que continuava
a amamentar seu filho até os 3 anos de idade, o que contribuiu diretamente para o quadro
de desnutrição que apresentava. Na primeira consulta a nutricionista forneceu as orientações
quanto à necessidade do desmame, para que ele pudesse não só crescer como se desenvolver
adequadamente, mas sempre considerando a fala da mãe, tentando entender o contexto
Aconteceu...
da situação. A mãe contava que a criança não queria “largar o peito” e que ela encontrava
dificuldades em interromper a amamentação. Na segunda consulta, depois de algum tempo, a
criança apresentou uma melhora no estado nutricional. A mãe muito entusiasmada disse que o
desmame foi a melhor coisa que já lhe havia acontecido, pois a criança não ficava mais no peito
o tempo todo, e que a partir daquele momento estava comendo o alimento que ela lhe oferecia,
e por conseqüência estava melhorando. No mesmo dia, outra mãe trouxe seu filho ao CREN
por causa do mesmo problema. Enquanto a segunda mãe esperava ser atendida a nutricionista
aconselhou-a a conversar com a primeira e ouvir a experiência que ela estava fazendo.
Para o sucesso da intervenção é de grande criança para descobrir o que está implícito naque-
Saúde
4
116
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Em outro relato uma das nutricionistas conta o caso de uma mãe que chegou ao ambulatório com
três filhos desnutridos.
A mais nova com 1 ano e nove meses, que ainda mamava ao peito, outra com três anos e o mais
velho com 5 anos.
Na anamnese alimentar a nutricionista verificou que o menino de 5 anos só fazia uma refeição
ao dia - o almoço, composto basicamente de arroz e feijão. Quando possível havia carne nessa
refeição. Ele não tomava nem leite pela manhã.
Aconteceu...
Como o leite de que dispunha não dava para todos, a mãe o dava à menina de 3 anos pois achava
que ela necessitava mais de leite que o maior. Ela preparava uma mamadeira de 200 ml para a
menina, que nem sempre tomava tudo.
Partindo da realidade daquela família, a nutricionista orientou a mãe a dividir o leite da manhã
entre o mais velho e a menina de três anos. Já que não havia outros recursos, não introduziu
imediatamente a prática do desmame para a menor e também sugeriu que a mãe adicionasse
uma colher de chá de óleo no almoço e jantar das três crianças, para aumento do valor calórico
ingerido. Conduta essa que não é o padrão para todos os casos.
117
ABORDAGEM CLÍNICA
O atendimento em regime de
É muito importante a maneira como a
Para lembrar
semi-internato
orientação é realizada, seja com relação
Para crianças entre zero e cinco anos e 11
à linguagem utilizada, às possibilidades
meses, com diagnóstico de desnutrição primá-
dadas como solução para os problemas ou
ria de peso para idade ou estatura para idade,
até mesmo com relação à organização na
o ideal é que sejam tratadas em Centros de
hora de transmitir as orientações.
Recuperação Nutricional em regime de semi-
Gráficos e desenhos sobre as doenças, a
internato, para que com o auxílio de uma equipe
alimentação e a higiene, ajudam muito
interdisciplinar sejam bem acompanhadas em
nas orientações.
sua recuperação. O centro oferece tratamento
nutricional, tratamento clínico, programação
No final da consulta, dependendo do quadro pedagógica e estimulação individualizada, além
Entre o percentil nutricional, é proposto um acompa- do trabalho educativo e do atendimento
15 e o percentil 5, ou
entre -1,0 e -1,645
nhamento por consultas periódicas psicológico e social dispensado às famílias.
escore Z de peso para no ambulatório se for desnutrição Quando a criança é internada, dependendo
a idade e/ou estatura
▼
para a idade. leve, ou será proposto ao respon- de cada caso o pediatra solicita exames
sável a ‘internação’ da criança em laboratoriais e orienta a mãe quanto aos cuida-
Valores semi-internato para desnutrição mais dos básicos de saúde.
▼
inferiores a
-1,645 escore Z
grave. Essa internação significa que a São indicados os laboratórios de hospitais
(percentil 5) de criança ficará no Centro de Recupe-
peso para idade ou
públicos conveniados com o
• Sangue:
estatura para idade. ração das 7:30h às 17h15, recebendo Centro de Recuperação para a hemograma, ferro
sérico, ferritina
5 refeições diárias (café da manhã, realização dos exames: sérica, contagem
▼
amostras.
nas trabalhadas pela equipe interdisciplinar. de aula por idade, como em uma
Parte
118
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
creche, e as educadoras responsáveis são treina- É a auxiliar de saúde quem ministra os medica-
das para recebê-las de manhã e anotar eventuais mentos nos horários prescritos.
queixas referidas pelos Realiza-se a suplementação de ferro, vitaminas
No CRN o responsáveis. Elas também C, A, D e complexo B nas doses profiláticas. Nos
acompanhamento são incumbidas de con- casos de patologias associadas, acrescenta-se a
da saúde trolar a ingestão alimentar terapêutica específica, através do acompanhamento
acontece das crianças durante as do pediatra, além de outras intervenções médicas
diariamente refeições, observar e referir que se fizerem necessárias. No que se refere aos
ao pediatra a presença de exames laboratoriais, eles continuam sendo realiza-
sintomas como tosse, coriza, vômitos, freqüência dos sistematicamente.
ou consistência anormal das fezes. Durante todo tratamento, o profissional
No CREN o pediatra visita as salas de continua orientando a mãe no que se refere à
aula sempre que solicitado. São comuns as normalização do estado nutricional da criança e
intercorrências infecciosas, principalmente acompanha sua evolução clínico-laboratorial e
nas vias aéreas superiores, além de anemia e antropométrica. Os pais são solicitados a estar
parasitoses. presentes nas consultas periódicas dos semi-in-
ternados, onde são comunicadas as evoluções do
tratamento; esse também é um momento bom
para tirar suas dúvidas e ver o que eles estão
aprendendo sobre a educação alimentar ou os
hábitos de higiene. É importante explicar tudo aos
pais, pois mesmo que os nomes sejam difíceis eles
são capazes de entender e assim fica mais fácil
relacionar-se com eles. Muitos pais que mantêm
seus filhos no CREN são gratos por esse modo
como são olhados e começam a aprender a cuidar
de si mesmos e de seus filhos.
119
ABORDAGEM CLÍNICA
“
A ajuda da equipe interdisciplinar
Relato do pediatra do CREN: “No meu caso,
no trabalho de cada profissional
que sou pediatra, os dados da família da
de saúde criança e sua residência, que foram coletados
por assistentes sociais em visitas domiciliares,
”
estão disponíveis quando vou realizar as
consultas das crianças, facilitando que as
propostas que farei às mães sejam adequadas
às suas condições de vida. Essa troca resulta,
muitas vezes, em soluções até mesmo de
casos mais complicados. Outro exemplo, é a
coleta dos exames das crianças. A pedagoga
passou a ajudar muito, pois incluiu em seu
O combate à desnutrição infantil, que como
planejamento várias atividades falando de
vimos não é um problema isolado mas tem causas
assuntos que envolvem as crianças tais como
multifatoriais, vem registrando êxitos quando
os vermes, e a importância de coletar material
realizado por equipe para análise, entre outros temas. Tudo é feito
Caracteriza-se pela
intensidade das trocas interdisciplinar. Além do através de jogos e dramatizações.
▼
120
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Para lembrar
centro de recuperação nutricional;
criança gravemente • Acompanhamento: após a alta, a criança
Desnutrição desnutrida requer que e a família da criança são acompanhadas
grave é uma ambos os problemas, para prevenir a recaída e assegurar
desordem médico e social, a continuidade do desenvolvimento
médica e sejam reconhecidos e emocional, físico e mental da criança.
social corrigidos. Se a doença Esta fase é totalmente feita em centro de
é vista somente como recuperação nutricional.
doença médica, é provável que a criança recaia
quando volte para a casa.
121
ABORDAGEM CLÍNICA
O critério para internação pode ser uma As principais tarefas nesta fase são:
condição clínica ou um estado ◗ tratar ou prevenir hipoglicemia e
▼
Doença
infecciosa ou nutricional gravíssimo. Elas devem hipotermia;
distúrbio
ser internadas em hospital em que ◗ tratar ou prevenir desidratação e restaurar
hidro-
eletrolítico. possam ser observadas, tratadas e o equilíbrio eletrolítico;
alimentadas dia e noite. ◗ tratar o choque séptico incipiente ou
A história, o exame físico e os exames desenvolvido, se presente;
laboratoriais devem diagnosticar as principais ◗ começar a alimentar a criança;
complicações nesses casos: choque séptico, ◗ tratar a infecção;
desidratação, infecções. ◗ identificar e tratar quaisquer outros pro-
blemas, incluindo deficiência de vitamina,
Tratamento inicial ou fase aguda do anemia severa e insuficiência cardíaca.
tratamento
No tratamento inicial ou fase aguda do tra-
tamento alguns cuidados devem ser tomados
porque em geral as crianças estão seriamente
doentes. Na admissão devem ficar em uma área
que possibilite seu acompanhamento constante.
Se possível, devem ser isoladas de outros pacien-
tes. As infusões intravenosas devem ser evitadas,
a não ser que sejam essenciais, como no caso do
choque séptico e da desidratação grave.
Esta fase se inicia com a admissão no hospital
e se estende até quando a criança estiver estável
e seu apetite tiver retornado, em geral em 1 a 2
semanas. Se durar mais que 2 semanas indica Tratamento das complicações
Saúde
4
122
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
▼
sangüínea
menor que uma importante causa da morte Se temperatura axilar for menor de 35,0 ºC
54 mg/dl.
nos primeiros 2 dias de trata- ou a retal for menor de 35,5 ºC a criança
mento. Pode ser causada por um infecção deve ser aquecida. Deve-se medir a tem-
sistêmica séria ou por falta de alimentação peratura retal a cada 30 minutos; a axilar
nas últimas 4 a 6 horas. Para preveni-la, não é confiável para reaquecimento. Tratar
alimentar no mínimo a cada 2 a 3 horas, simultaneamente hipoglicemia e infecção
dia e noite. sistêmica nesses casos.
A maior suscetibilidade à hipotermia está
presente em: menores de 12 meses com
Para lembrar
123
ABORDAGEM CLÍNICA
▼
que 120
◗ se ocorrerem vômitos persistentes (mais de ela deve ser corrigida. A correção deve ser mEq/l.
quatro em uma hora) ou a manutenção ou lenta, menos de 10 ml/kg/h, evitando-se a
agravo dos sinais de desidratação após 2 mobilização rápida da água do intra-celular e a
horas de início da TRO, estará indicada a via intoxicação hídrica.
enteral, por sonda nasogástrica;
◗ a velocidade da infusão nesse caso é 0,25 a ◗ Correção da acidose metabólica
0,5 ml/kg/min; A acidose metabólica acompanha a desidrata-
◗ se houver melhora com diurese abundante ção e é mais grave no desnutrido. Essas crianças
passa-se à fase da manutenção; não suportam sobrecargas ácidas devido a peque-
◗ se não houver melhora, fazer hidratação na capacidade renal de excretar excessos de H+.
venosa com soro 1/1, 50-100/kg IV, à veloci- A correção deve ser cautelosa no DEP. Dever ser
dade de 10ml/kg/h. feita nos casos graves, com pH sangüíneo menor
A fase da manutenção deve ser feita com que 7,20 e bicarbonato de sódio plasmático me-
SRO. A TRO deve ser oferecida junto com a nor que 10 mEq/l107.
alimentação, ou seja, nos intervalos das refeições,
intercalada com água livre. Em geral, pode ser reali- ◗ Alimentação durante a reidratação
zada por via oral. Quando necessário, realizar hidra- ◗ a amamentação não deve ser interrompida;
tação venosa conforme a forma da desnutrição. ◗ dar dieta tão logo seja possível, por via oral
A fase da reposição corrige as perdas anormais ou sonda. Usualmente isso pode ser feito 2 a
Saúde
4
124
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Para lembrar
alimentação;
menos de 80 e não mais de 100 kcal/kg de
◗ se vomitar, oferecer por sonda nasogástrica.
peso e 1 a 2 g de proteína/kg de peso; a dieta
deve ser fracionada em 8 (3/3 horas) ou 12
◗ Tratamento do choque séptico
(2/2 horas) vezes. Se ocorrer vômitos, reduzir
Todas as crianças com sinais de choque sép-
a quantidade de cada refeição e aumentar
tico devem ser tratadas, especialmente crianças
a freqüência. A dieta e as ofertas energéticas
com sinais de desidratação, sem história de diar-
e protéicas devem ser aumentadas
réia aquosa; hipotermia e hipoglicemia; edema e
progressivamente cada 2 a 3 dias.
sinais de desidratação.
Devem ser dados imediatamente antibió-
ticos de largo espectro, e a criança deve ser Se ocorrer intolerância ou má absorção
aquecida. de lactose, corrigir com a retirada da lactose:
fornecer fórmulas alimentares isentas de lactose. Se
Tratamento dietético ocorrer alergia a proteína de vaca, usar leite de soja;
As crianças que não requerem outro trata- se for à proteína de soja, usar fórmula semi-elemen-
mento devem ser imediatamente alimentadas. tar. Na diarréia protraída, fornecer fórmula livre de
A via endovenosa pode ser necessária, mas carboidratos e nutrição parenteral periférica. Pode
assim que possível administrar por via oral. Uma ser necessária a nutrição parenteral central.
realimentação precoce induz à recuperação das Se não houver intolerância à lactose,
atrofias das vilosidades e normaliza a atividade oferecer leite de vaca diluído adequa-
Triglicérides
das dissacaridases. A alimentação oral deve ser damente, acrescido de 3% de lipídio, de cadeia
média ou
▼
cuidadosa, pois existe certo grau de intolerância mais 5% de açúcar e 3% de amido. óleo vegetal.
aos carboidratos que pode ocasionar diarréia Para as crianças maiores oferecer leite
hiperosmolar. e dieta semi-sólida em livre demanda respeitando
Sempre que possível, estimular e preservar o o hábito familiar. Se houver baixa ingestão avaliar
aleitamento materno. o uso de sonda nasogástrica ou nasoenteral para
125
ABORDAGEM CLÍNICA
QUADRO 13:
Fonte: 100
126
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Para lembrar
Para lembrar As crianças menores de 24 meses devem
Dever ser realizada a suplementação de
receber dieta cada 4 horas, dia e noite.
vitamina A (2500U/d) e D (800U/d). Pode
Essa deve ser aumentada em 10 ml a cada
ser necessária a suplementação de cobre,
refeição até que a criança deixe resto.
pela dieta ou por via medicamentosa
Pode chegar à ingestão média de 150 a
(0,3mg/kg/d), de zinco (1mg/kg/d) e de
200 kcal/kg/dia ou mais. Se for menor que
vitaminas do complexo B.
130 kcal/kg/dia ela não está respondendo.
127
ABORDAGEM CLÍNICA
Saúde
Parte 4
128
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
ANEXO 1
Atendimento Ambulatorial - Nutrição
História nutricional
Diagnóstico nutricional
Aleitamento materno
Introduziu mamadeira com: ___________________________________________________________
Largou o peito com: _________________________________________________________________
Leite oferecido no desmame (marca/tipo) ______________________________________________________
Introdução de novos alimentos
chá/água: ( ) meses
fruta amassada: ( ) meses
suco de frutas: ( ) meses
sopinha de legumes: ( ) meses
carnes: ( ) meses
ovo: ( ) meses
arroz/feijão: ( ) meses
Comportamento alimentar
Come em frente à TV: ( ) sim ( ) não
Usa mamadeira: ( ) sim ( ) não
Criança come sozinha? ( ) sim ( ) não
Faz as refeições com a família? ( ) sim ( ) não
Quem oferece/prepara os alimentos? __________________________________________________________
Observações
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
129
ABORDAGEM CLÍNICA
ANEXO 2
Atendimento Ambulatorial - Nutrição
História Alimentar - consumo habitual
130
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
ANEXO 3
Atendimento Ambulatorial - Nutrição
Freqüência Alimentar
131
ABORDAGEM CLÍNICA
ANEXO 4
I. Caracterização do Domicílio:
V. Abastecimento de Água:
132
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Data:___/___/___
133
ABORDAGEM CLÍNICA
Data:___/___/___
AVALIAÇÃO ECONÔMICA
Aluguel:
Condução:
Alimentação:
Água, luz, gás:
Prestações, vestuário e outros:
Total:
Doações recebidas:
(Cesta básica, tickets leite, outros)
sim sim
Rádio ( ) Vídeo Cassete ( )
Geladeira ( ) Máquina de Lavar ( )
TV a cores ( ) Carro ( )
Anexos
Saúde
134
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
ANEXO 5
Café da manhã Leite ou derivados Leite com chocolate Leite com chocolate
(150ml) (180ml)
Pães, biscoitos, bolos 1/4 unid. de pão com 1/2 unid. de pão com
ou cereais margarina margarina
Lanche da tarde Leite ou derivados Leite batido com fruta Leite batido com fruta
(150ml) (180ml)
Pães, biscoitos, bolos 2 unid. de biscoito doce 3 unid. de biscoito doce
ou cereais sem recheio sem recheio
135
ABORDAGEM CLÍNICA
Lanche da noite Leite ou derivados Leite com chocolate Leite com chocolate
(150ml) (180ml)
Considerando o uso deste modelo de alimentação, para uma criança (menino) em fase de recupe-
ração nutricional, a adequação de energia e proteínas (calculada segundo proposta da FAO/OMS,
descrita na página 80 deste manual), seria a seguinte:
136
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
ANEXO 6
HIGIENE
Seguem orientações importantes a serem dadas ao pessoal responsável por cuidados com crianças:
Higiene pessoal:
• Lavar diariamente os cabelos e mantê-los penteados, presos e/ou cobertos por redes ou toucas;
• Tirar bigode e/ou barba diariamente com seu próprio aparelho;
• Manter as unhas sempre curtas e limpas, sem esmalte;
• Não utilizar anéis, pulseiras, relógios ou bijuterias, pois estes acumulam resíduos e podem cair nos
alimentos;
• Manter as roupas e aventais sempre limpos, trocando-os diariamente e sempre que necessário;
• Tomar banho diariamente;
• Lavar muito bem as mãos com água e sabão ao iniciar e finalizar qualquer atividade; após o uso
do banheiro ou vestiário; após ter pego em dinheiro ou objetos sujos; após tocar o nariz, cabelos,
sapatos e cigarro; após tocar alimentos podres e estragados; após carregar o lixo; ao chegar e
deixar o trabalho;
• Fumar apenas em locais permitidos;
• Evitar cantar, conversar, espirrar ou tossir sobre os alimentos.
Em locais onde funciona uma cozinha profissional como creches, escolas, hospitais e empresas, os
funcionários da cozinha devem usar um uniforme contendo proteção para os cabelos (touca ou rede),
aventais impermeáveis, roupas claras, limpas, sem botões externos e bolsos, sapatos fechados, imper-
meáveis e antiderrapantes.
137
ABORDAGEM CLÍNICA
• Para facilitar a lavagem dos utensílios é importante manter uma ordem: 1o Copos e jarras,
2o Talheres, 3o Pratos e travessas, 4o Panelas;
• Lavar sempre os utensílios que caírem no chão;
• Enxaguar bem em água corrente, se possível quente: copos, canecas, talheres e pratos;
• Deixar que sequem ao ar, em local apropriado, limpo, em ausência de insetos e distante de uten-
sílios sujos;
• Não utilizar tábuas para carne de madeira, troque-as pelas de altileno, um tipo de plástico mais
resistente.
• Lavar e ferver diariamente os panos que forem utilizados para secar os utensílios e mãos. É neces-
sário que haja panos separados para a secagem das mãos e dos utensílios. Esses panos devem ser
claros, sempre secos e limpos, trocados quando necessário. Dar preferência à utilização de toalhas
descartáveis;
• Antes e após o uso de equipamentos como batedeira, liqüidificador, fritadeira, moedor de carne,
descascador e/ou picador de legumes, desmontá-los por completo e lavá-los nas partes internas e
externas, tendo o cuidado com as partes elétricas do equipamento, que não devem ser molhadas.
138
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
• Colocar as folhas, os legumes e frutas inteiras de molho em água com hipoclorito de sódio, obedecen-
do à quantidade e ao tempo de exposição ao produto definidos na página 142 deste manual.
• Enxaguar e escorrer a água, eliminando excessos;
• Fazer o corte e preparo das hortaliças e frutas com as mãos bem higienizadas.
139
ABORDAGEM CLÍNICA
• Não utilizar produtos com características de deterioração (cheiro, cor, sabor, ou consistência
alterados).
Higiene do ambiente:
• As paredes do estoque e cozinha devem ser de cores claras e tinta lavável para que sejam higieniza-
das periodicamente;
• Portas e janelas do estoque e da cozinha devem ser teladas;
• Manter as portas sempre fechadas;
• O piso deve ser antiderrapante e lavável;
• Paredes, prateleiras, bancadas e pisos devem ser higienizadas com solução clorada antes e após a
manipulação dos alimentos;
• Manter as áreas de trabalho sem restos de alimentos;
• Manter a cozinha e estoque sempre organizados e limpos;
• O estoque deve ter prateleiras feitas de material lavável e com distanciamento da parede;
• O estoque deve ser bem ventilado e bem iluminado;
• Os alimentos guardados no estoque devem estar organizados de acordo com as datas de validade,
ou seja, os produtos que tenham vencimento mais próximo devem estar à frente na prateleira;
• Devem ser retirados do estoque: sacos furados, latas enferrujadas ou amassadas;
• Os locais de manipulação de alimentos devem ter lavatórios para que os funcionários se habituem a
lavar as mãos antes de manipular os alimentos;
• O lixo deve ser triturado ou refrigerado; caso o serviço não tenha estes recursos, os latões con-
tendo lixo deverão ser guardados o mais longe possível da cozinha e lavados diariamente, além de
permanecerem fechados;
• Ao retirar o lixo, isso não deve ser feito nos horários de pré-preparo nem de preparo dos alimentos,
ou seja, nos principais horários de manipulação dos alimentos;
• Higienizar a cada 6 meses as caixas d’água e vedá-las muito bem;
Anexos
Saúde
• Manter em local isolado e apropriado, fechado e longe dos alimentos, os produtos de limpeza e
140
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
141
ABORDAGEM CLÍNICA
Obs: As dosagens foram aproximadas, para facilitar o preparo das soluções cloradas e suas respectivas diluições.
Anexos
Saúde
ANEXO 7
Caso o aleitamento materno deixe de ser oferecido de forma exclusiva para crianças com menos de 6 meses de idade, a introdução
dos alimentos complementares deve ser iniciada aos 4 meses, seguindo o esquema sugerido acima.
A partir de 1 ano, a criança já pode comer a alimentação dos adultos: arroz, feijão, carne, verdura refogada e salada, mas tudo deve
estar muito bem picado, não muito quente e com temperos suaves.
143
ABORDAGEM CLÍNICA
ANEXO 8
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
N° Família:_____________
Observações: ________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
Anexos
Saúde
144
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
ANEXO 9
EVOLUÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
Nº da família: ___________
DATA DA IDADE PESO ESTATURA E/I P/E P/I E/I P/E P/I
AFERIÇÃO MESES kg cm % % % ESCORE Z ESCORE Z ESCORE Z
145
ABORDAGEM CLÍNICA
ANEXO 10
FICHA MÉDICA:
Nome da criança:
Número de ordem:
Queixa principal:
H.P. M.A.:
Outras queixas:
Antecedentes pessoais:
Intercorrência gestacional: ( 1 ) não ( 0 ) sim ________________________
Uso de medicamentos na gestação: ( 1 ) não ( 0 ) sim Qual(is)?______________________
Ganho de peso gestacional referido: ( 0 ) < 10 kg. ( 1 ) 10 - 15 kg. ( 2 ) >15 kg.
Parto: ( 2 ) normal ( 1 ) fórceps ( 0 ) cesárea
Intercorrências neonatais: ( 1 ) não ( 0 ) sim Qual(is)?__________________________
Comprimento ao nascimento: ____ cm Perímetro cefálico:_____ cm
Iniciou com mamadeira com: _____ dias/meses
Largou o peito com: _____dias/meses
Frutas: _____ dias/meses Sopa: _____ dias/meses
Vacinas: ( 1 ) segue esquema ( 0 ) atrasadas
DNPM: ( 1 ) adequado ( 0 ) atrasado
Antecedentes Patológicos:
Doenças Pregressas: ( 1 ) não ( 0 ) sim Qual(is)?
146
VENCEND O A DESNUTRIÇÃO
Antecedentes Familiares:
Exame Físico:
Impressão Geral:
( ) SS/SI ( ) Env.
Pele: ( ) Normal ( ) Alterado
Subcutâneo: ( ) Normal ( ) Alterado
(escasso, edema)
Cabelos: ( ) Normal ( ) Alterado
(escassos, finos, quebradiços, opacos, despigmentados)
Mucosas: ( ) Normal ( ) Alterado
(descoradas, queleitosas)
Língua: ( ) Normal ( ) Alterado
(geográfica, ulcerações, papilas atróficas ou hipertróficas)
147
ABORDAGEM CLÍNICA
Exames Complementares:
Conduta:
Observações:
Anexos
Saúde
Médico/CRM
148
Bibliografia
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155
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
18 97
16
75
15
50
14
25
13
10
12 5
3
11
10
2
kg
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36
Idade (meses)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
200 0
R VA
- CU
NOVO MENINOS de 0 a 36 meses
cm
105
97
Percentis de comprimento para idade 95
90
100
75
50
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25
10
90 5
3
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80
75
70
65
60
55
50
45
cm
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36
Idade (meses)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
0
U R VA 200
- C
NOVO
MENINAS de 0 a 36 meses
kg
18
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Percentis de peso para idade 95
17
90
16
15 75
14
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13
25
12 10
5
3
11
10
2
kg
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36
Idade (meses)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
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R VA
- CU
NOVO
MENINAS de 0 a 36 meses
cm
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5
3
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55
50
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cm
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36
Idade (meses)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
200 0
R VA
- CU
NOVO MENINOS de 2 a 20 anos
kg
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10
5
55
3
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40
35
30
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15
10
kg
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade (anos)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
200 0
R VA
- CU
NOVO MENINOS de 2 a 20 anos
cm
200
195
Percentis de estatura para idade 97
190
95
185 90
75
180
50
175
25
170
10
165 5
3
160
155
150
145
140
135
130
125
120
115
110
105
100
95
90
85
80
75
cm
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade (anos)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
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- C
NOVO MENINAS de 2 a 20 anos
kg
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55
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5
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40
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15
10
kg
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade (anos)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
0
U R VA 200
- C
NOVO MENINAS de 2 a 20 anos
cm
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Percentis de estatura para idade
190
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95
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75
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50
160 25
155 10
5
3
150
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140
135
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110
105
100
95
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85
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cm
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade (anos)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
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R VA
- CU PERCENTIS DE ÍNDICE
NOVO DE MASSA CORPORAL
IMC IMC
34 Meninos de 2 a 20 anos 34
97
32 32
95
30 30
90
28 28
85
26 26
75
24 24
50
22 22
25
20 10 20
5
3
18 18
16 16
14 14
12 12
kg/m2 kg/m2
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade (anos)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).
200 0
R VA PERCENTIS DE ÍNDICE
- CU
NOVO DE MASSA CORPORAL
IMC IMC
97
Meninas de 2 a 20 anos
34 34
32 95 32
30 30
90
28 28
85
26 26
75
24 24
22 22
50
20 20
25
10
18 5 18
3
16 16
14 14
12 12
kg/m2 kg/m2
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade (anos)
FONTE: Desenvolvido por National Center for Health Statistics em colaboração com o
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, EUA (2000).