Descola Ebook Cultura Antirracista
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03 A HISTÓRIA EDITADA
07 VIESES INCONSCIENTES
01
QUEM
MINISTRA
O CURSO
Alexandra Loras
6
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
7
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w w w.linkedin.com/in/alex andra-baldeh-loras
@ alex andraloras
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02
VIDAS
NEGRAS
IMPORTAM
#blacklivesmatter,
#icantbreath e a força
propulsora das hashtags
tão necessária para o
ativismo antirracista
10
Minnesota, 25 de maio de 2020
Câmeras de rua e inúmeros pedestres
testemunharam a morte de um afro-americano,
durante uma abordagem policial que, mesmo em
plena pandemia do coronavírus, causou revolta
e levou milhares às ruas dos Estados Unidos.
Acusado de usar uma nota de US $20,00 dólares
falsa em um supermercado, George Floyd tentava
se esquivar e pedia para o policial parar, pois não
conseguia respirar. Ainda assim, Derek manteve os
joelhos pressionados contra o pescoço da vítima,
até que perdesse a consciência e fosse levado em
uma maca para o hospital.
George Floyd não resistiu, mas, o crime de
homicídio culposo e injúria racial já estava
documentado. Inúmeros vídeos deram
conta de espalhar a ação feito pólvora nas
redes sociais, impulsionados por hashtags
como #blacklivesmatter, #icantbreath,
#blackouttuesday - só para citar alguns
exemplos dos filtros que registravam a
indignação dos internautas que clamavam pelo
fim do racismo.
HASHTAGS EM NÚMEROS
#icantbreathe - 1.246.813
#blm - 8 milhões +
Fonte: instagram/janeiro/2021
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
Voltando ao caso de
Minnesota, Derek Chauvin
foi preso dias depois da
morte de Floyd, mas, em
outubro de 2020, foi solto
após pagar fiança de U$1
milhão e aguarda em
liberdade o julgamento
agendado para março
de 2021. Se condenado
pode pegar até 40 anos
de prisão por homicídio
em segundo grau
(assassinato intencional
não premeditado) e
assassinato em terceiro
grau (quando o responsável
pela morte atuou de forma
imprudente).
14
Porto Alegre, 19 de novembro
de 2020
João Alberto Silveira Freitas, cidadão negro,
foi brutalmente agredido por dois seguranças
brancos em uma loja do supermercado
Carrefour, em Porto Alegre (RS), às véspera do Dia
da Consciência Negra.
A confusão começou quando o cliente teria
se desentendido com a operadora de caixa,
que chamou a segurança. João Freitas foi
espancado até a morte do lado de fora da
loja. Os dois homens foram autuados em
flagrante por homicídio qualificado e os vídeos
do espancamento voltaram a impulsionar as
hashtags dos movimentos antirracistas, em um
clamor por justiça.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
Créditos: Veja
Lembra do caso do menino Miguel Otáv io Santana da
Silva, de cinco anos, morto em Recife (PE) ao cair de um
prédio enquanto estava sob os cuidados da patroa da
mãe, empregada doméstica? E se fosse o contrário? Será
que o encaminhamento e desfecho do caso teria sido
diferente?
Por isso, a urgência de revelar fatos históricos envolvendo
os negros, que nos foram poupados em muitos livros
de História. De reforçar a educação acerca da estrutura
que rege o racismo no contexto brasileiro e mundial.
De desmistificar e desconstruir conceitos e atitudes
discriminatórias veladas e explícitas, para que saibamos
combatê-los, atuando como agentes transformadores em
prol de uma sociedade mais igualitária.
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03
A HISTÓRIA
EDITADA
Para compreender a
origem do racismo é
preciso olhar para a
história brasileira e o que
foi orquestrado para que
os negros permanecessem
na base da pirâmide
20
O que aconteceria se, em uma situação de guerra e
apropriação territorial, toda a população da cidade de São
Paulo fosse obrigada a deixar suas famílias, suas origens e
cultura para viver sob o domínio estrangeiro? Parece loucura?
A situação te parece improvável? Pois foi o que aconteceu no
Brasil Colônia. Doze milhões de negros foram arrancados
da África para serem tratados como mercadoria pelos
europeus. Parte dessa história você conhece a partir das
aulas de História. No entanto, por vezes, seguimos sem
conhecer profundamente os bastidores de quase 400 anos
de exploração, violência e aniquilação da dignidade dos
negros.
Como disse Nelson Mandela, “ ninguém nasce racista,
nos tornamos” . Seja por meio da educação que recebemos,
das influências subliminares e estratégicas presentes em
nossa sociedade, da estereotipação do branco como
padrão para o belo impostos pelo marketing e a mídia.
De geração em geração, essas sementes do imaginário
coletivo alimentaram nossos vieses inconscientes e
preconceitos.
21
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Só que a sociedade mudou e não há mais espaço, nem deve haver tolerância para o
racismo. É preciso parar de regar essas sementes.
Mas, se os detalhes passam despercebidos em muitas
salas de aula, por anos a fio, fica mesmo complicado
compreender como o racismo foi estruturado em nossa
cultura.
Bem, a Alê já nos contou que a visão discriminatória sobre
o negro começou a ser incutida já no livro de Genesis,
da Bíblia, em que Noé amaldiçoa seu filho Cam dizendo
que toda sua descendência seria escravizada, servil e
teria a cor da pele preta. A professora lembrou também
que a exploração negra foi autorizada pelo Papa Nicolau
V, quando disse que “ os negros não tinham alma, que
poderiam ser escrav izados” .
Dali em diante, quase 400 anos de exploração, opressão
e violência se passaram até a libertação. Institui-se,
então, uma hierarquia sociológica para as raças na qual
a segregação contínua do negro, os manteve na base da
pirâmide.
22
Créditos: British Library - Escravos cortando cana de açúcar na Ilha de Antígua, 1823
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
23
Créditos: British Library - Escravos trabalhando na
descola.org | Cultura Antirracista produção de açúcar na Ilha de Antígua, 1823
“
O que chamamos de História Geral deveria ser denominado
‘História branca europeia’.
– Alex andra
24
Você se lembra dessa fala da Alê? Ao explicar o
contexto histórico do racismo, a professora justifica seu
posicionamento detalhando que, para muitos autores, a
branquitude é narrada sempre como um lugar de vantagem
estrutural do branco em uma sociedade estruturada
pelo racismo, ou seja, entre os povos colonizados pelos
europeus. “A ideia de superioridade surge ali e se espalha
via colonização. Dessa forma, as definições da branquitude
são colocadas como universal”, complementa Alexandra.
Gilberto Freyre foi um dos mais importantes sociólogos
do Brasil, com uma obra dedicada à análise das relações
sociais no período colonial brasileiro e como essas
relações contribuíram para a formação do povo brasileiro
no século XX. No entanto, as produções de Freyre são um
tanto controversas. Apesar de caminhar na contramão de
teorias eugênicas dos antropólogos da época e defender
a miscigenação como positiva, o historiador foi alvo das
críticas dos movimentos antirracistas por ter formulado
uma espécie de mito da democracia racial no Brasil
colonial e no Brasil republicano, apontando a miscigenação
como fundamento para essa ideologia.
25
“
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
“
Nós temos uma história tão bonita de miscigenação...
[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se
que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se
que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado,
mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.
– Folha de S.Paulo, 4/3/2010
Créditos: “Three Young White Men
and a Black Woman”(1632) por
Christiaen van Couwenbergh
27
A TEORIA DO BRANQUEAMENTO E
O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
04
POR QUE O
RACISMO É
ESTRUTURAL?
Para entender a origem
da discriminação e abismo
socioeconomico que
separa brancos e negros é
preciso reconhecer a raiz
do problema
30
Racismo é a discriminação social baseada no conceito
de que ex istem diferentes raças humanas e que ex iste
superioridade entre elas. Consiste em uma atitude
depreciativa e discriminatória não baseada em critérios
científicos em relação a algum grupo social ou étnico.
Quando pensamos em racismo, o que logo vem à nossa
mente é uma violência direta contra o negro, o indígena, um
judeu, por exemplo. A gente logo imagina um xingamento,
que alguém foi impedido de frequentar certo local ou
ganhou salário inferior por conta do tom da pele. Pensamos
em discriminação, em violência.
O racismo é muito mais do que isso. Como explica
o advogado, filósofo e professor Silvio Almeida,
independentemente de aceitarmos ou não, o racismo
constitui as relações no seu padrão de normalidade. Por
isso, retomamos o contexto histórico e cultural desde o
Brasil Colônia, e vamos relacionar, no capítulo a seguir, as
leis segregacionistas implantadas em nosso sistema desde
o Império. Para contextualizar e facilitar a compreensão
acerca do racismo estrutural. E também porque, para
entender o abismo social e econômico que separa brancos
e negros, é preciso voltar à raiz do problema.
31
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“
O racismo estrutural é uma forma de
racionalidade, de compreensão das
relações que constitui certas ações de
maneira consciente ou inconsciente.
Trata-se de um fenômeno conjuntural
evidenciado na política, na economia
e na subjetividade e não de uma
patologia social ou desarranjo
institucional.
Prof. Silv io Almeida
32
O RACISMO ESTRUTURAL
EM NÚMEROS
Quando a semelhança entre passado e
presente, não é mera coincidência
1988 2019
O Brasil foi o último país do continente americano a abolir No Brasil, 44,5% da população preta ou parda vivia, em
a escravização. Mesmo assim, após a assinatura da Lei 2018, em domicílios com a ausência de pelo menos
Áurea, cerca de 1,5 milhão de pessoas passaram a compor um serviço de saneamento básico (coleta de lixo,
a sociedade brasileira sem nenhum suporte do Estado. abastecimento de água por rede e esgotamento sanitário
Ocuparam morros ou locais insalubres. por rede). Mas entre os brancos esse percentual era de
27,9%.
O adensamento domiciliar excessivo (mais de três
moradores para cada cômodo utilizado como dormitório
no domicílio) foi mais frequente entre negros (7%) do que
entre brancos (3,6%).
33
1988 2019
Em sua visão eugenista, os europeus consideravam que os O percentual de jovens de 18 a 24 anos pretos ou pardos
povos de origem europeia eram mais inteligentes e mais com menos de 11 anos de estudo e que não frequentava
capazes de prosperar. Daí incutiram a ideia de que negros e escola caiu de 2016 (30,8%) para 2018 (28,8%). Esse
indígenas eram preguiçosos e não serviam para o trabalho. indicador era de 17,4% entre os brancos, em 2018.
Você vai ver no capítulo a seguir que o negro foi banido
também do sistema educacional desde os tempos do No mercado de trabalho, os pretos ou pardos
império. Pode estar aí a raiz da segregação. Após centenas representavam 64,2% da população desocupada e
de anos vivendo sob a mesma regra, como seria possível, 66,1% da população subutilizada. E, enquanto 34,6% dos
então, chegar no mesmo lugar que o branco, uma vez que trabalhadores brancos estavam em ocupações informais,
eles foram induzidos a começar a corrida com bastante entre os pretos ou pardos esse percentual era de 47,3%.
desvantagem? O rendimento médio mensal das pessoas brancas
ocupadas (R$2.796) foi 73,9% superior ao da população
preta ou parda (R$1.608). Os brancos com nível superior
completo ganhavam por hora 45% a mais do que os pretos
ou pardos com o mesmo nível de instrução.
A desigualdade também estava presente na distribuição de
cargos gerenciais, somente 29,9% deles eram exercidos por
pessoas pretas ou pardas.
Fonte: IBGE
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
05
O NEGRO
FORA DA LEI
Entenda como o racismo
também se estruturou a
partir das leis imperiais,
que apartaram os negros
de uma série de direitos
civis fundamentais
35
Para continuar a fundamentar a compreensão sobre como o racismo foi estruturado em nossa sociedade, também é
preciso conhecer o percurso histórico da instituição de leis desde os tempos do império, que segregaram a população
negra de direitos básicos como a educação.
Vamos agora nos guiar por uma linha do tempo constitucional, antes mesmo do decreto da abolição da escravatura, em
1888, com o decreto da Lei Áurea, até a atualidade. Assim, fica mais fácil entender a origem de tantas estatísticas que,
ainda hoje, retratam que os negros figuram na base das pirâmides sociais.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
Parte desse longo caminho, no entanto, já vem sendo Aqui na Descola relacionamos apenas alguns deles, mas,
trilhado há centenas de anos, e muitas personalidades não apenas brasileiros como de outras nacionalidades.
negras já cravaram sua notoriedade. Em seu livro “Afro- Vamos retomar ou conhecer algumas das criações e
Brasil Reluzente: 100 personalidades notáveis do século contribuições dos negros para a área academica, social e
XX”, o cantor, compositor e escritor Nei Lopes, compila os científica?
grandes nomes da negritude brasileira.
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ALEK WEK
Modelo e estilista sul-sudanesa-britânica que começou
sua carreira na moda em 1995, aos 18 anos. Foi aclamada
por sua influência na percepção de beleza na indústria
da moda. Ela é do grupo etnico Dinka no Sudão do Sul,
mas escolheu a Grã-Bretanha como refúgio em 1991, para
escapar da guerra civil no Sudão.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
ANGELA DAVIS
Referência mundial do ativ ismo negro e
empoderamento feminino, Angela Davis foi perseguida
pelo FBI, presa e depois inocentada. Recebeu homenagens
de John Lennon e Yoko Ono, que lançaram a música
‘Angela’, e dos Rolling Stones, que gravaram a canção
‘Sweet Black Angel‘, em que abordavam problemas legais e
pediam a libertação da ativista. Em 2012, a cineasta Shola
Lynch dirigiu e lançou o documentário ‘Libertem Angela
Davis’, em que trata deste período de sua trajetória.
Atualmente, é professora emérita do departamento de
estudos feministas da Universidade da Califórnia, a mesma
instituição que a demitiu por seu posicionamento político e
ativismo.
É autora de obras que abordam as condições carcerárias
nos EUA, a disputa de classe, o racismo, o papel da mulher
negra em uma sociedade desigual e racista. Entre suas
obras mais conhecidas estão: ‘Mulheres, raça e classe’
(2016), ‘A liberdade é uma luta constante’ (2016) e ‘Mulheres,
cultura e política’ (2018).
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BARACK OBAMA
Eleito com quase 70 milhões de votos, o primeiro
presidente negro da história dos EUA foi também o
mais bem votado por lá. Durante oito anos de governo,
Obama deixou legados históricos, como a retomada das
relações diplomáticas com Cuba, após meio século de
distanciamento e uma vitória na Suprema Corte, que
autorizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em
2010, o Obamacare facilitou o acesso ao sistema de saúde
de cerca de 20 milhões de americanos, em grande parte de
baixa renda. Seu livro de memórias “A promised land” (Uma
terra prometida) vendeu 887 mil cópias apenas no dia de
seu lançamento, em novembro de 2020.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
BELL HOOKS
Gloria Jean Watkins, na verdade, emprestou o nome de sua
avó materna para se tornar aclamada intelectual, teórica
feminista, artista e escritora. Escreveu mais de trinta
livros de gêneros diversos, como teoria crítica, memórias,
poemas e literatura para crianças. Em 2014 fundou o
Instituto Bell Hooks para combater a discriminação racial
por meio de eventos, cursos e palestras.
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CONCEIÇÃO EVARISTO
Participante ativa dos movimentos de valorização da cultura
negra em nosso país, a mestre e doutora em literatura
brasileira estreou no segmento em 1990, quando passou
a publicar seus contos e poemas na série Cadernos Negros.
Escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio.
Seus trabalhos extrapolaram os muros brasileiros para se
tornarem referência em outros países.
Nos últimos anos, três de seus livros foram traduzidos para
o Francês e publicados em Paris pela editora Anacaona.
Em 2017, o Itaú Cultural de São Paulo realizou a Ocupação
Conceição Evaristo contemplando aspectos da vida e da
literatura da escritora. No contexto da exposição, foram
produzidas as Cartas Negras, retomando um projeto de
troca de correspondências entre escritoras negras iniciado
nos anos noventa. Em 2018, a escritora recebeu o Prêmio
de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de
sua obra.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
DJAMILA RIBEIRO
Natural de Santos, no litoral de São Paulo, Djamila é uma
das principais vozes da militância feminista e contra o
racismo na atualidade. Pesquisadora e mestre em Filosofia
Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Colunista da Folha de São Paulo, a escritora já foi secretária
adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de
São Paulo. Também é coordenadora da coleção de livros
Feminismos Plurais, da qual faz parte o Pequeno Manual
Antirracista, livro mais vendido de 2020, com o qual Djamila
foi agraciada com o Prêmio Jabuti, mais tradicional da
literatura Brasileira.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
GLÓRIA MARIA
Uma das primeiras repórteres negras do Brasil, a carioca
estreou em 1971, durante o desabamento do Elevado Paulo
de Frontin, no Rio de Janeiro. Daí em diante foi galgando
seu espaço nos principais telejornais da TV Globo, cobrindo
eventos nacionais e internacionais.
A partir de 1986, a jornalista integrou a equipe do
Fantástico, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. No
programa, ficou conhecida pelas matérias especiais e
viagens a lugares exóticos e por entrevistar celebridades
como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman,
Leonardo Dicaprio e Madonna.
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HATTIE MCDANIEL
Primeira atriz afro-americana a ganhar o Oscar em
1940, pela personagem Mommy, em “E o vento levou”. Filha
de um casal de ex-escravos, Hattie foi uma das precursoras
da raça negra a trabalhar no rádio, enfrentando e militando
contra o racismo. No início de sua carreira, ela dividia seu
tempo entre testes e filmes e o trabalho de empregada
doméstica, que lhe complementava o orçamento.
A atriz interpretou mais de setenta personagens no
cinema, mas, apesar de ter recebido o prêmio máximo da
academia americana, grande parte dos papéis que viveu era
empregada, serva ou escrava.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
JESSE OWENS
Atleta norte-americano que ganhou quatro medalhas
de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936. Suas conquistas
foram importantes não só para ele, mas também para a
humanidade, pois os jogos aconteceram em Berlim, na
Alemanha, quando o líder nazista Adolf Hitler estava no
poder.
Owens subiu ao ponto mais alto do pódio nas provas de
100 metros rasos, salto em distância, 200 metros rasos e
corrida de revezamento 4x100 metros, provando para o
ditador que a tal supremacia física e intelectual ariana só
existia em sua cabeça doentia.
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LEWIS HAMILTON
Piloto automobilístico britânico, Hamilton também é
designer de moda, ativ ista e músico. Foi agraciado por
promover o seguimento global da Fórmula 1, atraindo um
público mais amplo fora do esporte, em parte, devido ao
seu estilo de vida de alto nível, ativismo ambiental e social
e suas façanhas na música e na moda. Tornou-se um
defensor proeminente de apoio ao ativismo no combate ao
racismo, inclusive por defender uma maior diversidade no
automobilismo. Hamilton foi listado na edição de 2020 da
Time como uma das 100 pessoas mais influentes em todo o
mundo.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
MAE JEMISON
Médica, engenheira e ex -astronauta americana, foi a
primeira mulher negra a v iajar ao espaço, quando serviu
como especialista de missão a bordo do ônibus espacial
Endeavour. Jemison integrou o grupo de astronautas da
NASA de 1987 e serviu na missão STS47, que orbitou a terra,
em setembro de 1992.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
NILO PEÇANHA
Com a morte de Afonso Pena, antes do término do
mandato, o advogado Nilo Peçanha assumiu a presidência
do país. Tornou-se o 7º presidente do Brasil República
entre 1909 e 1910.
Durante o curto período de seu governo foi criado o
Serviço de Proteção ao Índio (SPI) cuja chefia foi entregue
ao marechal Cândido Rondon, que havia realizado várias
expedições pelo norte de Mato Grosso, onde exerceu uma
intensa atividade indianista. Foi responsável também por
inaugurar o Ensino Técnico no país.
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OPRAH WINFREY
Referência midiática mundial, além de jornalista
e apresentadora, Oprah também é psicóloga, atriz,
produtora, editora e escritora norte-americana. Venceu
por várias vezes o prêmio Emmy por seu programa The
Oprah Winfrey Show, o talk show com maior audiência da
televisão norte-americana.
Como atriz foi indicada ao Oscar pelo filme “A cor púrpura”
(1985). Eleita pela revista Forbes a mulher mais rica do ramo
de entretenimento no mundo durante o século XX, Oprah é
uma das filantropas mais influentes de todos os tempos, e a
primeira mulher negra a ser incluída na lista de bilionários,
em 2003.
60
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
TONI MORRISON
Toni Morrison nasceu em 1931, em Ohio, nos Estados
Unidos. Formada em letras pela Howard University, estreou
como romancista em 1970, com O olho mais azul. Em
1975, foi indicada para o National Book Award com Sula
(1973), e dois anos depois venceu o National Book Critics
Circle com Song of Solomon (1975). Amada lhe valeu o
prêmio Pulitzer. Foi a primeira escritora negra a receber
o prêmio Nobel de literatura, em 1993. Aposentou-se em
2006 como professora de humanidades na Universidade de
Princeton.
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ZEZÉ MOTTA
A emblemática Xica da Silva foi apenas um dos
personagens marcantes da atriz que vem dedicando
mais de 50 anos à cultura brasileira. A estreia de Maria
José Mota não poderia ser mais marcante: Em janeiro de
1968, ela integrou o coro do musical “Roda Viva”, escrito por
Chico Buarque e dirigido por José Celso Martinez Correia.
Um dos mais emblemáticos espetáculos dos anos 60, que
foi atacado pelo Comando de Caça aos Comunistas e teve
seus atores ameaçados e agredidos. Com mais de 50 anos
de carreira, a atriz e cantora tem em seu currículo 55 filmes,
35 novelas e 14 discos gravados. Além disso, seu nome
figura entre as principais ativ istas do mov imento negro.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
07
VIESES
INCONSCIENTES
Como nossas crenças e visões
estereotipadas de mundo
podem reforçar preconceitos
e interferir na maneira como
nos relacionamos e enxergamos
quem é diferente de nós
63
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65
Quando você esbarra com frases assim,
fica mais fácil de entender:
ch o r a”
m n ã o
“ H om e
“ To do ja p o n ê s é
in t e li ge n t e”
i st a s”
er r o r
s sã ot
ra b e
“Á
67
SEJA ANTIRRACISTA VOCÊ TAMBÉM
Você contribui para a equidade de gênero e preconceitos de qualquer ordem quando:
69
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08
O ESSENCIAL
É INVISÍVEL
AOS OLHOS
Compreenda e ajude a
disseminar corretamente
alguns dos conceitos que
compõem o ativismo negro
70
Apesar de a população afrobrasileira
ser cinco vezes maior do que a
população negra nos Estados Unidos,
o que podemos ver por lá é um senso
de justiça muito maior em casos
de violência e opressão contra os
negros. Boa parte dessa realidade
se deve aos resultados do sistema
de cotas raciais que encurtaram
a desigualdade, permitindo que
muitos negros ocupassem cargos de
liderança e tivessem influência na
política e na mídia para cobrar por
justiça e impulsionar a repercussão
de casos de homicídio e violência em
geral, por exemplo. Esta é parte de
uma conquista obtida após mais de
130 anos do fim da escravização, que
ainda não vemos por aqui. Por essas e
outras que não podemos subestimar as
transformações sociais possíveis de se
realizar com a adoção das cotas raciais.
71
“
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Quando a base
da pirâmide se
movimenta, toda a
estrutura da sociedade
se movimenta com ela
– Angela Dav is
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
No entanto, o egocentrismo
presente na nossa narrativa
acadêmica, escolar e do audiovisual
“
brasileiro faz com que os brancos
naturalizem sua cor como padrão.
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PRIVILÉGIO
O dicionário define como vantagem, direito ou prerrogativa,
válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em
detrimento da maioria. No entanto, durante a vídeoaula, a
Alê explicou porque, dependendo do repertório histórico
e social de cada indivíduo, é difícil compreender na
prática. Quando alguém entende o racismo como “um
problema dos negros”, provavelmente, essa pessoa não
reconhece que a sua herança racial contribuiu para atingir
determinado patamar social.
Como você assistiu ao vídeo indicado pela professora, é
como se, em uma corrida por um prêmio, fosse dado aos
brancos o direito de largar à frente dos negros por conta
de suas condições familiares, sociais e acadêmicas, que
acabam por ser privilegiadas.
É importante entendermos e reconhecermos nosso lugar
de privilégio se queremos ter uma atitude antirracista.
74 74
“
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
75
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COTAS
As cotas raciais são uma medida de ação contra a
desigualdade num sistema que priv ilegia um grupo
racial em detrimento de outros – esses, oprimidos
perante a sociedade. Ao contrário do que diz o senso
comum, cotas raciais não se aplicam somente a pessoas
negras. Em várias universidades, por exemplo, existem cotas
para indígenas e seus descendentes, que visam abarcar as
demandas educacionais dessas populações. Há, em alguns
lugares, cotas diferenciadas para pessoas pardas, também –
caso contrário, estão inclusas nas cotas para negros.
76 76
A existência dessa entrevista, por exemplo, é algo que causa
alguma discórdia quando se trata de cotas raciais, em razão
de ela ser subjetiva. Afirma-se que existe a possibilidade de
haver jogos de influência, pagamento de propina e outras
atitudes por meio de quem quer usufruir das cotas raciais
ilegalmente – uma pessoa branca, por exemplo.
Em 1997, apenas 1,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que se
declararam negros havia frequentado uma universidade,
segundo o Censo. As políticas públicas em torno do direito
universal de acesso ao ensino, principalmente superior,
começaram a ser reivindicados, então, pelo movimento
negro.
Quando a questão das cotas para estudantes negros
chegou ao Supremo Tribunal Federal, em 2012, foi
votada como constitucional por unanimidade. Mas foi em
2000 que, por conta de uma lei estadual, a Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a pioneira em
conceder uma cota de 50% em cursos de graduação, por
meio do processo seletivo, para estudantes de escolas
públicas.
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Fonte: politize.com.br
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descola.org | Cultura Antirracista Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
MERITOCRACIA
O termo se refere a um sistema político em que os bens
econômicos e/ou poder político são investidos em
indivíduos com base no talento, esforço e realização,
ao invés de riqueza ou classe social. Dessa maneira, a
ascensão profissional é baseada no desempenho, que
pode ser mensurado por meio de exame ou realização
demonstrada.
Um exemplo são os programas de promoções
organizacionais que propõem metas ou desafios aos
colaboradores para que ascensão de cargos ou salários.
Significa que cada indivíduo é capaz de prosperar sem
respaldo do Estado, família ou sociedade. Contudo, apesar
de o esforço profissional ser colocado como prerrogativa
no conceito de meritocracia, o que se identifica, na prática,
é que a questão do privilégio conferido à branquitude
ainda interfere bastante nas possibilidades de ascensão
do negro na sociedade. É só lembrarmos do vídeo que
complementou o capítulo sete da aula da Alê. Fica difícil
para o negro vencer uma corrida uma vez que as
circunstâncias de vida e social o colocaram em
posição de desvantagem no momento da
largada.
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INTERSECCIONALIDADE
Como a Alê contou no vídeo, durante as consultorias que
presta nas organizações, às vezes, a liderança prioriza
ações de igualdade de gênero às questões de desigualdade
racial. Contudo, a professora explica que não há como
separar as coisas porque “na multidão da nossa unicidade
e da complexidade do nosso ser, há vários fatores que
atrapalham as pessoas frente às oportunidades”. Até
porque a maioria das mulheres são negras, assim como
os portadores de deficiência e comunidade LGBTQI+.
Pensando que não há apenas uma característica a nos
resumir enquanto seres humanos, em 1989, a ativista
Kimberlé Crenshaw cunhou o termo para se referir a como
cada indivíduo sofre opressões com base nas diferentes
categorias sociais em que se encaixa: em relação a gênero,
raça, classe, etnia, deficiência, sexualidade.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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“
DE REPRESENTATIVIDADE
Foto: Uol
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Para entender o debate acerca da expressão, é necessário
compreender e reconhecer as camadas sociais, tão distintas
e delimitadas em nossa sociedade. No Brasil, mulheres
negras são a maioria dentre a população apartada do
sistema educacional. São a maioria também entre as
vítimas de violência doméstica e obstétrica. Dentre as
experiências compartilhadas pelos homens negros estão a
maior taxa de letalidade e encarceiramento. Enquanto isso,
qual é o lugar social da maioria dos homens brancos? São
eles que ocupam os cargos de gestão, recebem os maiores
salários, são maioria na política institucional, etc.
Entender que, enquanto negros compartilham
ex periências marcadas pela opressão, brancos
compartilham ex periências priv ilegiadas, é
fundamental para entrar no debate de lugar de fala.
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EQUIDADE
“Qualidade que nos permite dizer que uma pessoa está
predisposta a fazer, por sua própria escolha, aquilo que
é justo, e, quando se trata de repartir alguma coisa entre
si mesma e a outra pessoa, ou entre duas pessoas, está
disposta a não dar demais a si mesma e muito pouco à
outra pessoa do que é nocivo, e sim dar a cada pessoa
o que é proporcionalmente igual, agindo de maneira
idêntica em relação a duas outras pessoas. A justiça, por
outro lado, está relacionada identicamente com o injusto,
que é excesso e falta, contrário à proporcionalidade, do
útil ou do nocivo. No ato injusto, ter muito pouco é ser
tratado injustamente, e ter demais é agir injustamente.”
Assim o termo foi definido pelo filósofo grego Aristóteles,
aproximando o conceito de equidade ao de justiça.
Entretanto, de acordo com informações divulgadas no
portal Politize, o equitativo é considerado o mais justo, não
de acordo somente com a lei, mas sim como uma correção
da justiça legal que não deixará lacuna sociais – pois irá
prever particularidades e diferenças não observadas pelo
tratamento generalizado da lei.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
Fontes: politize.com.br
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SEJA VELADO
OU EXPLÍCITO,
É RACISMO
Reconheça as diferentes
formas de discriminação
racial presentes em nossa
sociedade
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“imagina,
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
tenho vários
empregados
Não sou racista.
negros
Tenho até amigos
negros
Logo eu
que nunca
destratei
nenhum
negro
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
“
É impossível não ser racista quando
fomos criados em uma sociedade
racista. É algo que está em nós e contra
o que devemos lutar sempre.
– Djamila Ribeiro, em
“ Pequeno Manual Antirracista”
Créditos: Uol
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SEJA ANTIRRACISTA VOCÊ TAMBÉM
Fique ligado, identifique e ajude a combater atitudes agressoras como:
Racistas aversivos podem até demonstrar compaixão por vítimas de injúria racial, também
apoiam políticas públicas de apoio à equidade e se definem como não preconceituosos.
Mas, a crença e o sentimento negativo em relação aos negros persiste, ainda que de maneira
inconsciente, pois demonstra certo desconforto diante da presença de pessoas negras.
Outros exemplos: fechar a janela do carro quando um negro se aproxima, quando um
segurança acompanha o negro no mercado pressupondo que ele será desonesto ao furtar
algo.
Racismo moderno - “ Os negros ganham mais do que os brancos”
É uma derivação do racismo simbólico, pois, a partir da década de 1960, principalmente
nos EUA, os debates antirracistas pleiteavam a igualdade de oportunidades entre todas as
raças. Não era mais uma briga somente contra a discriminação. Foi então que o racismo
simbólico ganhou uma versão, digamos, mais sutil e implícita, que pode ser verificada
quando o diálogo diz respeito à ascensão profissional da população negra.
Outros exemplos: “Discriminação é coisa do passado, porque os negros agora podem
competir profissionalmente e conquistar o que desejam.” “Eles nunca estiveram tão bem
quanto agora. Tem conseguido mais do que merecem.” “Eles não precisam de ajuda, só
devem se esforçar”. “As cotas beneficiam os negros”.
Como se a educação, instrução fosse um priv ilégio dos brancos. Assim, o racista sutil
pode negar emoções positivas ou demonstrar-se preconceituoso de maneira indireta e fria.
Racismo Cordial - “ Aí, mas você não é negra. Você é mulata”
Sem querer ofender, a pessoa nega a origem do outro, reforçando o negativismo
relacionado aos negros. Sem contar que a palavra mulata é extremamente racista,
porque deriva de mula: o cruzamento do burro com o cavalo. E, na época da escravização,
os filhos das mulheres negras vítimas de estupro por parte de seus senhores, eram
chamados de mulatos.
Mais adiante, preparamos uma cartilha antirracista explicando a origem dessa e de outras
expressões que não cabem mais no nosso vocabulário.
Outros exemplos: “Fulano é moreninho” “Beltrano tem o pé na cozinha”
Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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É PRECISO SER
ANTIRRACISTA
Porque, diante da opressão,
discriminação, segregação de
direitos e violência, não basta
não ser racista. É preciso deixar
de compactuar e combater
esses cenários
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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Créditos: Lufe Gomes
“
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Foi por isso que “emprestamos” parte da frase célebre de
Angela Dav is para o título deste capítulo. Não basta ser
antirracista, é preciso ser antirracista”.
A filósofa, escritora e professora norte-americana
é referência mundial do ativ ismo negro e
empoderamento feminino. Nascida em Birmingham,
no Alabama, quando a cidade e a maioria dos Estados
Unidos ainda sofria os efeitos da segregação racial. Para se
ter ideia do nível de horror o bairro em que ela nasceu era
conhecido pela tradição de se explodir casas de famílias
e igrejas nos bairros negros – preferencialmente, quando
esses locais estavam ocupados.
Na adolescência, Davis organizou um grupo de estudos
sobre as questões raciais. O seu grupo foi descoberto,
perseguido e proibido pela polícia. Após concluir os
estudos básicos, aos 19 anos de idade, Davis mudou-se
para o estado de Massachusetts, no norte dos Estados
Unidos, para estudar na Universidade de Brandeis.
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Conheça a obra de Angela Davis:
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POR
ORGANIZAÇÕES
MAIS INCLUSIVAS
Diversidade é sinônimo de
resultado. Veja as mudanças
organizacionais possíveis para
promover um ambiente de trabalho
diverso, frutífero e igualitário
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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SEJA ANTIRRACISTA VOCÊ TAMBÉM
Reflexões e mudanças organizacionais possíveis para promover um ambiente de trabalho diverso,
frutífero e igualitário
9 - Oportunidades iguais
Certifique-se de que todas as suas descrições de trabalho
mencionam que você é um empregador que oferece oportunidades
de maneira igualitária. Estudos mostram que os grupos
marginalizados são mais propensos a se candidatar a um emprego
que faz uma declaração sobre a organização que mostra que ela
valoriza a diversidade.
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Com estratégias como essas, sua organização sente os benefícios e colhe os frutos de engajar-se em prol do antirracismo.
Veja o que dizem as estatísticas.
Diversidade é sinônimo de:
Cerca de 80% dos empregados de empresas preocupadas Estudo da Randstad (2015), multinacional holandesa de
com diversidade admitem ter espaço para expor ideias e Recursos Humanos, mostrou que 87% dos profissionais do
inovar. Quando isso não acontece o percentual cai para mundo valorizam o tema. No Brasil, esse número chega a
55%. (Hay Group, 2015) 91% das pessoas.
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COMO
COMBATER
O RACISMO
Saiba como agir em casos
de discriminação no
ambiente de trabalho
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
Consulte a Lei
Antes de tomar providências, consulte o que diz a Constituição. A Lei 9.029/1995 veda
“qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho,
ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar,
deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros”.
O racismo, por exemplo, é considerado crime inafiançável e imprescritível. Já com relação
ao preconceito com mulheres no mercado de trabalho, a Lei proíbe a exigência de testes de
fertilidade ou gravidez, assim como a indução à esterilização.
Outro ponto de atenção são as demissões realizadas pela empresa. Desligar um funcionário
por razões discriminatórias exige reintegração do profissional com ressarcimento
integral dos valores relativos ao tempo em que ele ficou parado. Outra consequência pode
ser o pagamento do dobro da remuneração do período de afastamento.
Dê apoio emocional e legal à v ítima
A organização deve se posicionar sempre ao lado da vítima, não importa qual seja o status
do agressor na organização.
O apoio do RH e dos gestores é fundamental para que a pessoa discriminada se sinta
acolhida e tenha mais tranquilidade para enfrentar o problema sem medo de retaliações.
Acione o departamento jurídico para prestar consultoria e serviços gratuitos ao
colaborador. Além disso, fique atento aos efeitos emocionais e psicológicos que a situação
causou à pessoal, tomando as atitudes necessárias para preservar a sua saúde mental.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
DIÁSPORA BLACK
A diáspora africana é o nome dado
a um fenômeno caracterizado pela
imigração forçada de africanos,
durante o tráfico transatlântico de
escravizados. Além dos negros,
nestes fluxos forçados, embarcavam
nos tumbeiros (navios negreiros)
modos de vida, culturas, práticas
religiosas, línguas e formas de
organização política que acabaram
por influenciar na construção das
sociedades às quais os africanos
escravizados tiveram como
destino. Estima-se que durante
todo período do tráfico negreiro,
aproximadamente 12 milhões de
africanos foram transportados para
as Américas, dos quais, em torno de
5 milhões tiveram como destino o
Brasil.
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SEJA ANTIRRACISTA VOCÊ TAMBÉM
Dicas para formar crianças livres de preconceito:
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CARTILHA
ANTIRRACISTA
Repense o seu vocabulário,
substitua expressões e
termos enraizados em
nossa sociedade, e ajude a
combater o racismo sutil
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
Como dizia Freud “o sujeito se constitui mostrar de onde elas vêm e porque a gente
através da linguagem”. É por meio não deve mais usar. Quer ver só?
dela que interpretamos quem somos
e também o mundo em que vivemos Os riscos de falar “ no automático”
para que possamos, de fato, nos Você mesmo pode ter usado as expressões
conectarmos com a nossa realidade. “Vou dormir cedo, porque amanhã é dia de
O fato é que a linguagem nunca branco” ou “Não quis denegrir ninguém com
deve ser vista como um instrumento meu comentário” de maneira automática,
estático de comunicação, mas sim sem a mínima intenção de ofender ninguém.
como uma ferramenta que demanda Mas se analisarmos a origem delas,
constante rev isão para acompanhar percebemos como a linguagem reproduz
as mudanças sociais. O pronome e reforça estereótipos típicos do período
Vossa merce, por exemplo, se tornou colonial, quando a escravidão era praticada
obsoleto há séculos no nosso dia no Brasil. No entanto, uma atenção redobrada
a dia. E, assim como tantas outras às escolhas do vocabulário podem minimizar
palavras rebuscadas caíram em desuso, essa relação preconceituosa entre negritude e
não há mais espaço para expressões negatividade.
discriminatórias e estereotipadas, que Aprenda mais sobre a origem de expressões
só servem para aumentar o abismo da de cunho racistas e veja porque elas não
segregação racial. A origem de algumas servem mais:
delas é amplamente conhecida, mas
outras a gente fala sem querer ofender
ninguém. Mas a história ta aí para
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SEJA ANTIRRACISTA VOCÊ TAMBÉM
Denegrir
Tem como real significado tornar negro,
Coisa, serv iço ou “escurecer”. É usado para difamar ou
trabalho de preto acusar alguém de injustiça, sempre de
O termo é carregado de preconceito, forma pejorativa.
uma vez que descreve as pessoas
negras como incapazes e Substitua por: difamar
preguiçosas.
Risque do seu vocabulário!
Disputar a nega Escravos
Quando os senhores disputavam Este termo trata os africanos como
algum jogo o prêmio era uma pessoa passivos e desprovidos de subjetividade.
escravizada Os africanos que vieram para o Brasil
eram pessoas, reis, rainhas, camponeses,
Substitua por: desempate homens e mulheres escravizados contra a
vontade.
Substitua: escravos por pessoas
escravizadas, e escravidão por
escravização
Empregada doméstica
As negras que trabalhavam nas Feito nas cox as
casas dos senhores feudais eram Antigamente, as telhas das casas
consideradas “domesticadas”, eram moldadas nas coxas dos
porque, na visão da época, os negros escravos. Como as anatomias
eram como animais que precisavam eram diferentes, cada telha tinha
ser domados. um formato e acabavam não se
encaixando. Por isso, estariam mal
Substitua por: trabalhadora/
feitas.
secretária/funcionária do lar
Substitua por: trabalho mal feito
Humor negro Judiação
A expressão descreve um tipo de Do verbo “judiar”, significa tratar os judeus
humor ácido com piadas de mal como foram tratados. É usado como
gosto com temas mórbidos, sérios sinônimo de fazer sofrer, atormentar,
ou tabus com tom politicamente maltratar ou ainda com tom de pena.
incorreto.
Substitua por: sofrimento, maltrato
Substitua por: humor ácido
Fontes: Racismo Sutil - Para Todos - Programa SESC e SENAC de diversidade; O racismo sutil por trás das palavras - Ministério Público do
DF e territórios
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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LIVROS
9 livros para você
aprofundar seu
conhecimento na cultura
antirracista.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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A intenção da coleção Feminismos Plurais, coordenada por Com o objetivo de desmistificar o conceito de lugar de
Djamila Ribeiro, é trazer para o grande público questões fala, Djamila Ribeiro contextualiza o indivíduo tido como
importantes referentes aos mais diversos feminismos de universal numa sociedade cisheteropatriarcal eurocentrada,
forma didática e acessível. Neste volume, a autora Carla para que seja possível identificarmos as diversas vivências
Akotirene discute o conceito de interseccionalidade como específicas e, assim, diferenciar os discursos de acordo com
forma de abarcar as interseções a que está submetida uma a posição social de onde se fala.
pessoa, em especial a mulher negra. Como abordamos
aqui no e-book, o termo define um posicionamento do
feminismo negro frente às opressões da nossa sociedade
cisheteropatriarcal branca, desfazendo a ideia de um
feminismo global e hegemônico como diretriz única para
definir as pautas de luta e resistência.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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Fonte: amazon.com
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ESTRELAS
DO CINEMA
Selecionamos algumas
das produções que
dão a devida luz à luta
antirracista, ao racismo
como ele é, além da
merecida homenagem à
cultura negra
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
AmarElo - É tudo pra ontem (2020) Alô, priv ilégio? É a Chelsea (2019)
Nos bastidores do Theatro Municipal de São Paulo, o rapper Um dos passos necessários para que os brancos adotem
e ativista Emicida celebra o grande legado da cultura negra uma postura antirracista é reconhecer seus privilégios
brasileira. Como o próprio Emicida afirmou em entrevista sociais. No entanto, o conceito pode ser difícil de ser
à imprensa, a ideia do documentário é jogar luz em uma absorvido na prática. Neste documentário, a atriz, escritora
parte da história do Brasil que foi invisibilizada e a que nem e ativista Chelsea Handler estimula a compreensão
os próprios brasileiros tiveram acesso. Para isso, ele retoma explorando os impactos do privilégio branco na cultura
tópicos como a escravização, imigração e apagamento americana na própria vida e carreira.
histórico, formação das periferias, entre outros, colocando a
luta antirracista no centro do debate.
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Soul (2020)
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
A negação do Brasil
O filme se passa na década de 1960, durante a corrida O filme mostra o drama das empregadas negras nos
espacial e conta a história de três matemáticas negras Estados Unidos durante a conturbada luta pelos direitos
que tentam se auto afirmar dentro da NASA, ainda muito civis em meados do século passado.
racista e sexista. Dentre os percalços que enfrentam
diariamente, elas têm que lidar com o chefe (Kevin Costner) No Mississipi dos anos 60, uma jornalista (Emma Stone)
e o funcionário Paul (Jim Parsons), que tenta sabotá-las. escreve um livro contando as histórias de mulheres negras
Baseado em fatos reais, o longa foi indicado a três Oscars, como Aibileen (Viola Davis) e Minny (Octavia Spencer) e
incluindo o de melhor filme. outras, que trabalham nos lares das famílias ricas, expondo
como elas sofrem preconceitos ao mesmo tempo em que
amam as crianças das quais cuidam.
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
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APERTA O
PLAY
Pra dançar, refletir e agir
contra o racismo
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Comportamentos e atitudes para criar uma sociedade mais justa e sem preconceitos
1967
Justa homenagem do compositor brasileiro ao maior líder da luta pela
igualdade dos direitos civis da história da humanidade. A música foi
lançada antes mesmo do assassinato de Martin Luther King, em abril de
1968, em Memphis, EUA.
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Sweet Black Angel - Rolling Stones “ Ela é um doce anjo negro, woh
1972 Não um negro doce escravo
A banda inglesa também demonstrou sua Dez pequenos negros
admiração e apoio à ativista Angela Davis.
Sentando no muro
Seus irmãos foram uma queda
Caindo um por um
Por um juiz que assassinaram
E um juiz que roubaram
Agora o juiz, ele vai julgá-la
Para todos aqueles ele é
valioso
Bem a garota em perigo
A garota nas cadeias
Mas ela continuar
empurrando
Deveria você fazer o
mesmo?”
Tradução livre.
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