Natal e Outras Crônicas
Natal e Outras Crônicas
Natal e Outras Crônicas
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REITORA
Ângela Maria Paiva Cruz
VICE-REITOR
José Daniel Diniz Melo
DIRETORIA ADMINISTRATIVA DA EDUFRN
Luis Passeggi (Diretor)
Wilson Fernandes (Diretor Adjunto)
Judithe Albuquerque (Secretária)
CONSELHO EDITORIAL
Luis Passeggi (Presidente)
Ana Karla Pessoa Peixoto Bezerra
Anna Emanuella Nelson dos S. C. da Rocha
Anne Cristine da Silva Dantas
Christianne Medeiros Cavalcante
Edna Maria Rangel de Sá
Eliane Marinho Soriano
Fábio Resende de Araújo
Francisco Dutra de Macedo Filho
Francisco Wildson Confessor
George Dantas de Azevedo
Maria Aniolly Queiroz Maia
Maria da Conceição F. B. S. Passeggi
Maurício Roberto Campelo de Macedo
Nedja Suely Fernandes
Paulo Ricardo Porfírio do Nascimento
Paulo Roberto Medeiros de Azevedo
Regina Simon da Silva
Richardson Naves Leão
Rosires Magali Bezerra de Barros
Tânia Maria de Araújo Lima
Tarcísio Gomes Filho
Teodora de Araújo Alves
EDITORAÇÃO
Kamyla Alvares (Editora)
Alva Medeiros da Costa (Supervisora editorial)
Natália Melão (Colaboradora)
Suewellyn Cassimino (Colaboradora)
REVISÃO
Wildson Confessor (Coordenador)
Irlane Lira (Colaboradora)
DESIGN EDITORIAL
Michele Holanda (Coordenadora)
Rafael Campos (Capa e miolo)
Coordenadoria de Processos Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
CDD B869.8
RN/UF/BCZM 2017/04 CDU 821.134.3(81)-94
É
com grata satisfação que a Editora da UFRN traz ao público
os textos selecionados na II Edição do Concurso Literário
Américo de Oliveira Costa, realizado em 2015. Esta edição
contemplou os gêneros Conto, Crônica e Poesia e recebeu
176 propostas. Ao fim do processo de avaliação, as comissões
julgadoras de cada categoria selecionaram 13 contos dos 36
propostos, 20 poemas entre os 114 inscritos e 21 crônicas das
26 submetidas.
Os volumes ora publicados – Máquina de sonhos e outros
poemas, Café frio e outros contos e Natal e outras crônicas – vêm
reforçar a importância de iniciativas que visem a fomentar, a
dar visibilidade aos talentos literários potiguares – contistas,
poetas e cronistas – e a estimular a leitura e a escrita. Além
disso, a escolha pelo formato digital e distribuição gratuita
contribuem para a democratização do acesso à literatura que
atualmente se produz no Rio Grande do Norte.
Gostaríamos de agradecer a participação e o empenho de
cada um dos membros das comissões julgadoras, a saber: Cellina
Rodrigues Muniz, Jennifer Sarah Cooper e Nelson Patriota, da
categoria Conto; Antonino Condorelli, Edna Maria Rangel de Sá e
José Milson dos Santos, da categoria Crônica; e Henrique Eduardo
de Sousa, Humberto Hermenegildo de Araújo e Marize Lima
de Castro, da categoria Poesia. Ademais, expressamos a nossa
gratidão à toda equipe técnica envolvida no processo de feitura
do livro, em especial a Alva Medeiros da Costa pela supervisão
editorial em colaboração com Emily Lima, Natália Melão e
Suewellyn Cassimiro; Alynne Scott, Irlane Lira e Vitória Belo pela
revisão dos originais; e Rafael Campos pelo design editorial.
Por fim, resta-nos fazer um convite ao leitor a deixar-se en-
volver pelos enredos, versos, estórias e histórias e desfrutar de
uma leitura agradável.
Prefácio
Milson Santos
E
screver crônicas é registrar o circunstancial, os aconteci-
mentos do cotidiano; é discutir os temas do dia – dos mais
simples, que poderiam até passar despercebidos, aos mais
graves e polêmicos, como os que envolvem a política e a eco-
nomia do país, por exemplo. A arte do útil e do fútil – diria
Machado de Assis.
Os temas, mesmo os mais sérios, são tratados com graça e
leveza, ao sabor de uma conversa com o leitor. A crônica não se
propõe informar, mas entreter o leitor e fazê-lo refletir sobre a
vida e as nossas atitudes. É bem verdade que ela, às vezes, pende
para a narrativa, mas captando uma cena, um instante da vida diá-
ria, como faz Arthur de Araújo Lucena em “O Exame de Ordem,
o Doritos e o peido”, por meio da qual podemos acompanhar a
angústia de um futuro advogado, quando um colega se aproxima
com uma “feira de doritos” e senta em uma cadeira perto da sua e,
o que é pior, quando os doritos começam a fazer efeito em forma
de flatulências. Como concentrar-se e fazer uma boa prova da Or-
dem? Nesses casos, o cronista costuma valer-se do tom humorís-
tico, em que é mestre o escritor Luís Fernando Veríssimo.
Mas a crônica, pelo seu caráter multifacetado, pode assumir
outros tons: lírico, irônico, crítico, reflexivo. Pode, ainda, vestir-se
de uma boa prosa poética. Nesta coletânea, o leitor encontrará
de tudo um pouco nas palavras de nossos autores, desde o mais
experiente (em idade e produção literária) ao mais jovem – ainda
estudante de Letras. Terá a oportunidade de acompanhar a preo-
cupação de alguns cronistas com a cidade do Natal, “a esquina
do continente”, que sofre com o abandono em relação a alguns
bairros tradicionais, como a Ribeira; ou com o fechamento dos
teatros. Uma alegria, porém, toma conta do cronista e também de
nós, leitores, ao sabermos que “vão fazer uma plástica para res-
taurar a velha Ribeira”. O tom é saudosista, memorialista, pois o
cronista recupera locais e acontecimentos de outra época, como
o “cinquentão cinema Nordeste” e os belos filmes ali exibidos; os
encontros “discursivos e filosóficos” do Beco da Lama; e a rivali-
dade entre os antigos bairros da cidade, entre xarias e cangulei-
ros. Uma viagem no tempo, imperdível. E aqui nos lembramos
do escritor Nei Leandro de Castro e suas memórias sobre a Natal
de antigamente. A Natal de hoje também é tematizada, em “Sinal
vermelho”, em que a autora, em pleno trânsito, compara a sua vida
tranquila no interior – de “tardes se arrastando preguiçosamente
até o anoitecer”, “ do fogão a lenha a todo vapor” –, com a rotina
agitada a que terá que se acostumar na capital potiguar.
O leitor encontrará, ainda, crônicas repassadas de lirismo,
como a que trata da “lacuna impreenchível” no coração de uma fi-
lha, pela ausência da mãe; as confissões do eu lírico que, no escuro
da noite, enquanto todos dormem, reflete sobre suas dificuldades,
suas conquistas, as lágrimas que derramou, as mulheres que não
conquistou; enfim, sobre as mudanças pelas quais passou, e preci-
sa passar, em um processo de autoconhecimento, a fim de “seguir
o seu destino”.
E o que dizer de “Suco de laranja”, que desperta nossa emo-
ção, quando a cronista encontra, em um supermercado, uma ido-
sa com depressão e procura ajudá-la, sensibilizando-se com a dor
do outro, partilhando de seu sofrimento? Chegamos ao final da
leitura com um nó na garganta, pela qual o suco parece não querer
descer. No entanto, com o processo de reflexão a que inevitavel-
mente somos levados, terminamos a leitura mais humanos, ao re-
conhecermos, na personagem, que somos feitos do mesmo barro.
E é aí que o suco desce com sabor especial.
Como não poderia faltar em toda coletânea desse gênero de
texto, vamos encontrar crônicas com tratamento metalinguístico,
ou seja, que têm como objeto a reflexão sobre a linguagem, como
“Tinha um oblato no nosocômio”, em que paramos para pensar:
por que o registro linguístico adotado pelos advogados e outros
profissionais da área é tão empolado? Além disso, em “Por que
eu gosto de ler?”, é possível encontrar boas razões para continuar
lendo ou para mudar a concepção de quem ainda não desfruta de
tal prazer. Se eu fosse você, ao folhear este livro, não deixaria de
estacionar nas páginas que abrigam essa crônica.
Se o leitor quiser deliciar-se com um estilo mais poético (prosa
poética), pode ir imediatamente para as páginas de “Salmouras
do tempo”, de “Os grandes amores. Ou quase”, de “Que solidões
cascaveiam o amor no outono?”. Aí encontrará belas reflexões
sobre o tempo, o amor, a solidão e, ao mesmo tempo, sobre a vida.
Qual o efeito do tempo sobre nós, sobre nossos sentimentos? Ao
envelhecermos, o amor se despede de nós? Afinal, “velhar é se
diluir numa sopa de pelancas, forever”? Ou a velharia é que “sabe
namorar-gozando e gozar-namorando, com ou sem viagra”?
Rubens G. Nunes reflete sobre os grandes amores e suas
contradições, nos “ziriguiduns da vida”. Afinal, o que é um
grande amor? É sempre paz? É sempre guerra? Ou é uma paz-
guerra constante? Aqui o leitor certamente saboreará um arranjo
magnífico com as palavras, como no trecho em que o cronista
nos ensina como viver um grande amor: “É preciso se atirar de
cabeça... reservar hotel, sarapatel e lua de mel em Salvador; além
de fazer promessa pra Oxumaré”. Outro fragmento interessante
ocorre quando ele nos faz perceber que “o ponto final de um
grande amor nunca é ponto final... é sempre reticências de dor,
perda, falta, carência, arregos, esperanças, redesejos, esperas... e
de eterno retorno...”
Assim, caro leitor, nesta coletânea, você perceberá que os te-
mas usuais da crônica não ficaram de fora: a cidade, o “Natal”, os
nossos medos (“Medo do inferno”, por exemplo), o amor, o tem-
po, a solidão, as lembranças, a linguagem... Resta-lhe, pois, decidir
por qual página começar, a depender de seu gosto ou de seu esta-
do de espírito no dia em que manusear este livro.
Passeio ............................................................................................... 31
Clayton Rodrigo da Fonsêca Marinho
Natal .................................................................................................. 49
João Gilberto Neves Saraiva
O fim ................................................................................................ 55
João Gilberto Neves Saraiva
V
ivi com minha mãe até os dez anos de idade. Moráva-
mos em uma pequena cidade do interior de Pernambuco,
onde nasci, quando ela foi embora sem maiores expli-
cações e me entregou para uma senhora gorda e enigmática que
havia sido sua patroa. Minha mãe era empregada doméstica e la-
vava “roupa de ganho”, como se dizia naquele tempo. Uma mulher
humilde e trabalhadora cujo único vício era o álcool. Vício que
muitas noites a fez abandonar seus filhos numa casa semiescura,
à luz de um lampião ou mesmo de velas, quando acabava o que-
rosene... Éramos oito filhos. Seis foram adotados por pessoas da
família de meu pai, a pedido de minha avó paterna, pelo que me
contaram. Eu e minha irmã mais nova, no entanto, permanece-
mos com nossa mãe.
Muitas vezes, ela chegou a me levar para algumas das casas
onde trabalhava. E, desse período, eu guardo as melhores lem-
branças da minha infância... Foi numa dessas casas que aprendi a
andar de bicicleta. Enquanto minha mãe trabalhava, eu aproveita-
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Natal e outras crônicas
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Natal e outras crônicas
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Por que eu
gosto de ler?
Andreia Braz
J
á vi em algum lugar que “os livros não mudam as pessoas, as
pessoas é que mudam por causa dos livros”. Seja como for,
a verdade é que um livro pode causar verdadeira revolução
em nossa vida, em nosso jeito de ser e de encarar o mundo. Desse
modo, pensar em (re)afirmar nosso gosto pela leitura é também
falar de experiências que marcaram nossa história de vida, por-
que vida e literatura parecem intrinsecamente unidas por laços
afetivos (de certa dependência). Nesse sentido, cabe relembrar o
pensamento do filósofo francês Jean Rostand, que afirma: “Peço a
um livro que crie em mim a necessidade daquilo que ele me traz”.
Apontar razões pelas quais eu gosto de ler me faz certamente
correr o risco de cair no lugar-comum, entretanto, devo pensar
que tais motivos, sejam eles clichês ou não, é o que fazem de mim
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Suco de laranja
Andreia Braz
N
uma certa manhã de sábado, mesmo estando supergri-
pada, decidi ir ao supermercado especialmente para
comprar algumas frutas. Afinal, a recomendação mé-
dica para esses casos é repousar e ingerir muito líquido. Estava
decidida a me cuidar durante o final de semana para começar a
segunda-feira com bastante disposição. Não queria faltar de jeito
nenhum ao meu novo emprego.
Na seção de frutas e verduras, fiz um daqueles comentários
triviais enquanto escolhia algumas laranjas. Ao meu lado, esta-
va uma senhora muito frágil, tanto na aparência física quanto
no jeito de falar, o que fazia com certa dificuldade. Depois de
comentar que as poucas chuvas no interior é que eram respon-
sáveis por deixar as frutas com tais características, falamos das
suas propriedades e da sua importância para uma alimentação
saudável. Encerrado o papo sobre as frutas, ela disse: “minha
filha, estou lutando há três anos contra uma depressão”. Aquela
frase me causou grande impacto e me fez refletir sobre algumas
questões vivenciadas naquele dia. Enquanto eu estava ali meio
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Andreia Braz da é formada em Turismo pela Uni-
versidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN)
e em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Atua como
revisora de textos há seis anos e participou da revisão
de obras de Câmara Cascudo (Ontem, Pequeno ma-
nual do doente aprendiz e Prelúdio e Fuga do Real),
Américo de Oliveira Costa (A Biblioteca e seus Habi-
tantes), Nelson Patriota (Uns Potiguares, Um equívoco
de gênero e outros contos, A estrela conta: memórias
de Glorinha Oliveira e Um homem chamado Silêncio),
Dorian Gray Caldas (A Necessidade do Mito, A Hora
Única), Luís Carlos Guimarães (Natal, Tempo de uma
cidade feliz: crônicas e outros textos), entre outros.
Além da revisão de livros e revistas, atua como revi-
sora de textos acadêmicos. Atualmente, é revisora de
textos na Editora da UFRN. Foi uma das vencedoras
do concurso literário Cartas para Zila Mamede, pro-
movido pela Editora da UFRN (EDUFRN), em 2015.
O Exame de Ordem,
o Doritos e o peido
Arthur de Araújo Lucena
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Tinha um oblato
no nosocômio
Arthur de Araújo Lucena
C
erto dia, no estágio, analisando uma petição, deparei-
me com a seguinte frase: “no momento em que o oblato
adentrava-se no nosocômio”.
Parei. Não sabia o que significava nem oblato, nem nosocômio.
Nesse momento, procurei seus significados no principal
professor dos universitários: Dr. Google. E descobri que oblato
era sinônimo de contratante, enquanto nosocômio era sinônimo
de hospital.
Fiquei sem entender por que o nobre advogado não escreveu
os significados populares daquelas palavras. Teria sido mais sim-
ples e eu entenderia mais rápido.
No entanto, esse tipo de atitude é uma prática comum nos
tribunais deste país. Muitas vezes, não entendo o porquê dos pro-
fissionais da Justiça fazerem tanta questão de usarem palavras di-
fíceis e certos “formalismos”.
Pessoalmente, acho que qualquer peça judicial deve ser de
fácil entendimento tanto pelos juristas como pelos leigos na área,
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Natal e outras crônicas
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Arthur de Araújo é graduado em Direito pela UFRN.
Passeio
Clayton Rodrigo da Fonsêca Marinho
M
inha avó, quando trouxe (ou aceitou) um filhote de cão
para casa, atribuiu-lhe o nome de Dike – cuja pronún-
cia, devido ao sotaque, permanece Dikê. Feito folha
seca, ele se foi num outono de nossas vidas. Hoje, graças a seu ir-
mão, cuidamos de um de seus sobrinhos, o qual recebeu o mesmo
nome; uma espécie de continuidade do descontínuo. A insistên-
cia de minha avó em manter o mesmo nome permanecerá como
enigma indecifrável. A curiosidade não se encontrou com a opor-
tunidade. Na época, eu me recusei. Chamava-o de “cãozinho”.
O que posso imaginar é que alguns nomes nos aparecem
como vultos, chilreios de algo que permanece por pouco tempo,
tal como o vento não pode ser possuído, somente sentido no arre-
piar da pele. Levei um tempo até ser capaz de dissociar do primei-
ro o que parecia lhe pertencer até muito depois, como se devesse
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Natal e outras crônicas
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Natal e outras crônicas
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Clayton Rodrigo da Fonsêca Marinho é Mestre em
Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP), graduado em Artes Visuais pela Universida-
de Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Sinal vermelho
Daniele Freire da Silva
S
eis horas da manhã a vida na cidade começa. Perco horas
no trânsito, em ônibus lotados de pessoas que não conheço,
pessoas que não sei o que sentem, que não sei o que passam,
não sei por que estão nesse ônibus dividindo o mesmo metro qua-
drado comigo. Alguém desce e posso, enfim, sentar em um banco
ao lado da janela. Sinal vermelho, o ônibus para e eu também. A
janela me permite uma visão suja da cidade, pessoas correndo de
um lado para o outro, outras fazem malabarismo para os auto-
móveis, sim, para os automóveis porque as pessoas não tiram os
olhos do sinal, esperando que logo fique verde. Eu observo e acho
difícil me encaixar nessa rotina tão diferente da que eu tinha há
alguns anos atrás, anos que não voltam. Antes, a rotina também
começava às seis, com um frio passando pelos pés, um cheiro de
café invadindo toda a casa. Havia bom-dia, beijos na testa, sorri-
sos cálidos para manhãs frias. Havia também roupas no varal, sol
brilhando ao fundo, fogão a lenha a todo vapor e um cheiro de
casa. As tardes se arrastavam preguiçosamente até o anoitecer, e
era possível ver da varanda de casa o sol indo embora, lembro que
ficava de bochechas doloridas de sorrir para ele, era a forma que
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Natal e outras crônicas
– Seja criança, uma hora você vai ser adulta e, acredite, vai
desejar voltar a ser o que é hoje, ser adulto cansa. – Eu não con-
cordava com ela, porque, para mim, ser adulta era a coisa mais
fantástica que existia e eu não via a hora disso acontecer.
O tempo passou e foi preciso realmente crescer. Deixei o chão
de terra batido para trás e o cheiro de café também. Tudo mudou,
agora corro atrás de ônibus, olho mais vezes para o relógio, durmo
menos e agora o céu tem um metro quadrado. Não vejo muitas es-
trelas por aqui, são raras, assim como a ventania que entrava des-
controlada pela porta da cozinha que sempre estava aberta. Tudo
é silêncio, não há mais chinelos se arrastando ao chão às cinco da
manhã, nem há mãos puxando cobertores para me proteger do
frio, nem “durma bem”.
Minha mãe tinha razão, ela sempre teve razão em tudo, ser
adulto cansa, as horas diminuem, as obrigações aumentam e a
sensação de que falta algo também aumenta.
O sinal ficou verde, a pessoa ao meu lado também parece um
pouco perdida em si; me pergunto se ela também pensava em frio
nos pés, cheiro de café na casa e beijos na testa, ou em algum lugar
onde o céu tem mais estrelas.
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Daniele Freire da Silva é licencianda em Letras Lín-
gua Portuguesa na Universidade Federal do Rio Gran-
de do Norte (UFRN). Foi tutora em Língua Portugue-
sa (2013 a 2014) e bolsista de Pesquisa e Extensão em
Língua Inglesa (2014 a 2015) no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte (IFRN).
A chave e o
fazedor de vento
João da Mata Costa
E
le tem estatura mediana, idade meã e tudo o mais na
média entre tudo e nada. Ou seja, é um Zé Ninguém.
Carrega sempre uma bolsa, chaves e livros. Certo dia,
além de tudo isso, transportava um fazedor de vento. Coisas para
fazer, pesquisar, pensar e decorar que não têm fim. Sua casa-bi-
blioteca é uma extensão do trabalho, ou uma coisa se confunde
com outra. Códigos e chaves querem governar o mundo.
O número de escaninhos do cérebro é limitado e o Homem
não é livre. A chave? Perdeu! Será que não foi naquele lixão jun-
to de onde o carro costuma estacionar? Melhor olhar. Na saída
do carro, com tantas bolsas e chaves, pode ter caído dentro. No
outro dia, munido de forças, azougue e de uma só determinação,
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A cidade restaurada
João da Mata Costa
H
á umas notícias que deixam a gente feliz. Repõem o que o
tempo desgasta. Assim como a notícia que leio de vez em
quando nos jornais de que vão fazer uma plástica para
restaurar a velha Ribeira. Alegra o coração, caro leitor, saber que
tudo será bonito novamente. É assim como curar as chagas de um
doente querido. O rosto muda, a boca da noite abre e tudo que
era triste fica contente. Para não dizer que nada ficou esquecido,
também, será restaurada a Cidade Alta. A briga entre xarias e can-
guleiros não mais existirá. Um arquiteto lá do sul foi contratado
e sabe como fazer tudo bacana. O filosófico e discursivo Beco da
Lama transformar-se-á numa Atenas Potiguar.
O rio não pode ser esquecido e vamos pedir para incluir no
pacote do arquiteto. Ele, que é o medico das vias e vielas, fará um
checkup nas nossas artérias.
O cinquentão Cinema Nordeste já foi restaurado e transfor-
mado numa loja grã-fina. Sua vizinha, a antiga praça das cocadas,
também será revigorada. Já pensou convidar todos os amigos de
antes para conversar novamente ali? Quero gargalhar novamen-
te com as piadas do bispo. Conversar sobre os tempos áureos do
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Natal e outras crônicas
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João da Mata Costa é professor da Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Norte (UFRN) e escritor. Pu-
blicou artigos, poemas e crônicas em revistas, jornais,
blogs e Facebook.
Natal
João Gilberto Neves Saraiva
O
vermelho para os carros e coloca os pedestres em
movimento, eles atravessam a rua em direção ao
shopping de mãos dadas. Na calçada, se misturam
às pessoas que esperam no ponto de ônibus, aos ambulantes que
anunciam seus produtos e aos que, como eles, apenas passam; há
mais gente do que o habitual. Na televisão, o comentarista do jornal
disse que é porque há mais dinheiro no mercado, informação
traduzida pela apresentadora do programa de variedades da
seguinte forma: “está chegando o Natal e você precisa correr atrás
dos presentes da família”. A porta automática praticamente não
fecha com a quantidade de pernas que adentram o piso cinza claro
e o ar refrigerado, eles seguem emaranhados na multidão pelos
corredores enfeitados. Só mais uma curva para chegar ao pátio
central do shopping, onde se concentra a decoração de Natal com
direito a árvore gigante e Papai Noel em pessoa. Há alguns passos
da curva, o homem sente uma mão segurando seu braço. “O se-
nhor tem que se retirar”. O homem aponta para a criança e diz ao
segurança: “Vim só levar ele pra ver o Papai No...”. “O senhor tem
que se retirar”. Já há uma mão no seu outro braço e um terceiro
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homem de terno pegando seu filho pela mão. Ele sabe que não
há como argumentar com essas pessoas, o jeito é mesmo deixar
serem levados até a saída.
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No rio escuro
João Gilberto Neves Saraiva
A
cadeira de balanço se move suavemente no mor-
maço, acompanhando pernas habituadas à tarefa.
Regendo o silêncio da sesta, o ponteiro menor se
aproxima cautelosamente do número dois. Apenas os peixes fa-
zem companhia ao rio escuro, até os pequenos barcos descan-
sam na margem. “Ninguém antes das três”, pensa o velho. Duas
pernas sobre o tamborete e os olhos castanhos se escondem atrás
das pálpebras cerradas. Lá estava ela e uma vizinha, tomando café
com tapioca na mesa velha. A senhora de olhos miúdos conver-
sa animadamente. Ele reconhece a casa, lá está o velho fogão de
carvão, a santa ainda não tão desbotada. Sentada naquele mesmo
tamborete onde ele repousa suas pernas, falava de um menino
curioso, que com três anos nunca tinha visto uma meia. Contava
que, quando o irmão mais velho voltou a primeira vez, deixou os
sapatos do lado do pote d’água. Ria dizendo que encontrou o piá
com a meia branca na boca achando que era tapioca.
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O fim
João Gilberto Neves Saraiva
D
as suas janelas, ele tinha a visão da chuva sobre a cidade
que circundava seu prédio. Era o maior arranha-céu atra-
vessando o coração dela, como se um deus tivesse, com
seu dedo imenso, marcado um ponto sobre a terra para que, a
partir dele, se edificasse um mundo, o mundo dos homens. E, na-
quela quarta-feira de conta-gotas, a água arrastava a sujeira desse
mundo para os bueiros em uma batalha quixotesca, os moinhos
eram os sacos de lixo que jaziam nas calçadas. Muito longe dali
– distante dos limites da cidade –, um chão ainda dormia a salvo
em respiração suave sob as árvores frondosas desde o princípio.
Os vidros eram suas muralhas impenetráveis contra a chuva que
açoitava a cidade cinza, mas eram ineficazes contra a memória.
Sob a luz do televisor, o homem observava o menino espiando
com espanto pelas taipas do casebre a chuva lavar o morro e alagar
seu pé. A chuva parou, a televisão foi desligada e o pai colocou a
criança nos ombros, subiu as vielas e, lá de cima, apontou o mun-
do lá embaixo. “Não tenha medo, ali, olha ali, depois do pé do
morro, até lá, lá que tu nem consegue vê ainda, menino, tudo pode
ser teu, mas oia”. Ele retirou o menino dos braços e pôs de frente
para si. “Tu mermo, menino, tem que fazer teu caminho. Agora
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Natal e outras crônicas
J
á passei dos cinquenta e ainda arrasto comigo um temor
que se apoderou de mim quando eu tinha apenas cinco
anos. Nessa idade, pelo sino repicante e penitente da ca-
pela, já sabia que era filho de Deus e de meus pais. Como um filho
de Deus, não poderia crescer e viver longe do altar do Senhor To-
do-Poderoso. Mesmo que o altar fosse apenas uma modesta mesa.
Como filho de meus pais, católicos e tementes a Deus Pai, Filho
e Espírito Santo, devia ser um bom menino, decente e obediente.
Era preciso ficar longe do monturo fumegante do inferno. Credo
em cruz, ave Maria!
Eram os anos sessenta. Tempos de guerra fria e amor livre.
Nada disso me tocava. O mundo da infância ainda tinha mu-
ralhas de paz, com as trincheiras lúdicas dos sonhos. Apesar
das nuvens cinzentas nos céus do Brasil, era possível respirar
também poesia e musicalidade. Isso, sim, já me fascinava. As
rodas de ciranda nas calçadas, o frescor perfumado das meni-
nas, as palpitações indescritíveis de corações alados, bailados.
Cenário telúrico de cidadezinha do interior.
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José da Luz Costa é goiano apenas de documento
(naturalidade), pois tem suas origens de formação e
sentimentos ligados à terra potiguar, especificamen-
te aos terreiros nostálgicos da região Trairi (São Ben-
to/Santa Cruz), cidades em que viveu boa parte de
sua vida. Há 20 anos, reside familiarmente nesta en-
solarada Capital, onde trabalha como Professor Ad-
junto do Departamento de Letras da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ministra
as disciplinas da área de Língua Portuguesa, embora
também tenha predileção pelos passeios livres nas
cercanias da Literatura.
O preço da lucidez
Maria Clara Fernandes Araújo de Paiva
C
hovia lá fora. Era noite de sexta-feira, e ele, nem lon-
ginquamente, hesitava sair. As bebidas, os cálices
nunca vazios, os rostos sempre estáticos em sorrisos
que travavam a sinceridade, os brilhos das roupas – bem passadas
e escolhidas criteriosamente – e o mesmo tom rouge dos batons o
enfadavam. Lá fora, todos eram iguais, mas ele, na meia-luz de seu
quarto, estava em paz, longe das navalhas contidas nos olhares.
O costume de se recluir em seu apartamento, durante as
noites afãs do hedonismo, o fazia perceber a longevidade de sua
alma. Talvez, suas necessidades tivessem se modificado nos úl-
timos meses, quiçá um ou dois anos. Talvez, ele tivesse mudado,
em seu ínterim, ou em uma parcela que beirava à totalidade: a
realidade é que, naquelas coisas que diziam ser “vida”, ele pouco
via sentido, pouco sentia paixão, e como fiel questionador que
era, não soava coerente perseguir palavras sem absorver seus
mais profundos significados.
Por algum motivo desesperado, havia apagado os números
de telefone, os quais o socorriam da ausência de colo noturno:
podia sentir o cheiro aguçado dos perfumes que já havia tocado
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Natal e outras crônicas
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Maria Clara Fernandes Araújo de Paiva é graduanda
do curso de Psicologia e ex-graduanda do curso de
Direito do Centro Universitário do Rio Grande do
Norte (UNI-RN).
Arte em perigo
Paulo de Macedo Caldas Neto
Q
uando os meses se passam, e nenhum aconteci-
mento toca você bem fundo, é como se a memória
não preservasse certas coisas, nem os seus míni-
mos detalhes. É como se a memória quisesse sempre nos proteger
de alguma coisa, de alguma ameaça visível ou invisível. A memó-
ria é de fato muito curiosa. Seleciona fatos, dizeres, sensações...
Enfim, uma força estranha tende a me guardar, e eu agradeço.
Ocorreu comigo um fato diferente: nem mesmo do dia ou
do mês do acontecimento que me sensibilizou profundamen-
te consigo me lembrar. Talvez essa informação seja supérflua
e não valha a pena remoê-la. Vamos logo ao caso, meu caro
leitor, porque sei que você está muito curioso e prefiro rela-
tá-lo sem rodeios. Nunca havia pensado que algum dia fosse
ver a minha cidade Natal, a esquina do continente, ter teatros
fechados para o público. A primeira decepção veio quando do
convite de uma amiga escritora para que eu assistisse a uma
apresentação teatral dela no Teatro de Cultura Popular, anexo
da Fundação José Augusto, uma instituição pública de meu
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O peixe ainda respira
Paulo de Macedo Caldas Neto
N
ão sei por que insisto no assunto de uma crônica ante-
rior que havia escrito com, mais ou menos, o mesmo
título. Acho que ou não me fiz compreender conforme
queria, ou, como brasileiro, ainda não iniciei o meu dever de casa.
A questão é que o tema permanece na minha mente.
Numa dessas madrugadas maldormidas, na minha breve tra-
vessia por este mundão de Deus, no qual todos estamos imersos
para colhermos os frutos do nosso caminho tortuoso, acabei ten-
do um alumbramento. Principiou-se com uma mensagem numa
hora noturna em que só estávamos frente a frente eu e a escuridão
do meu quarto. É provável que ela tenha surgido do baú da mi-
nha memória, porque, antes de dormir, escutei várias vezes uma
canção folk, norte-americana, muito conhecida, sucesso nos anos
60: The sound of silence (O som do silêncio), do compositor Paul
Simon. Pelos dias seguintes, ela continuaria a orquestrar o meu es-
pírito, deixando-me quase em estado de letargia, sem vontade de
fazer nada. “Olá minha velha amiga escuridão/ eu vim conversar
com você novamente/ sobre uma visão que se aproxima suave-
mente/ plantou-se em meu cérebro enquanto eu dormia...”. Apro-
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Sociedade
alternativa, talvez!
Paulo de Macedo Caldas Neto
A
visados pela coordenação pedagógica do campus
do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, onde
trabalho como professor há mais ou menos 4 anos,
nós, professores, sabíamos que iríamos enfrentar outra semana
de intensas avaliações sobre os nossos métodos de ensino-
aprendizagem. Fazendo uso da democracia participativa, esse
sistema civil do qual a administração pública se vale para incluir a
todos num grande projeto social em que as liberdades e garantias
individuais sejam mantidas, até mesmo no ambiente escolar,
foram criados os chamados Conselhos. Eles têm as mais variadas
funções para que Pais, Educadores e Estudantes colaborem com
sugestões para a melhoria do sistema educacional brasileiro; pelo
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Paulo de Macedo Caldas Neto é natural de Mossoró/
RN, onde nasceu em 31 de março de 1981. É graduado
em Letras – Licenciatura Plena em Língua Portuguesa
e Literaturas pela Universidade Federal do Rio Gran-
de do Norte (UFRN). É Mestre e doutorando em Lite-
ratura Comparada pelo Programa de Pós-graduação
em Estudos da Linguagem da mesma universidade. É
professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Autor
de obras como No ventre do mundo e Do picadeiro ao
céu: o riso no teatro de Ariano Suassuna, todos livros
de ensaios.
Um Francisco na foto
Rafael Meira de Morais
A
migos, hoje eu escrevo sobre um Francisco. E não
é um Francisco qualquer, assim como milhares de
Franciscos brasileiros. É um Francisco pioneiro e
resistente, que não se deixou ser meramente um Chico, apesar de
tantos Chicos notáveis existentes nesse Brasil – Rio São Francisco,
o Buarque de Holanda, o Science e o Xavier.
Trata-se de um Francisco que avistei numa foto antiga, car-
comida pela força do tempo, borrada pela ação natural de algo
que se perde na história. Um Francisco que, apesar da sua cor
e posição social, era o dono da bola naquele time de línguas e
aspectos diferentes.
Um homem precursor que, cansado dos castigos nos troncos
e dos mandos e desmandos de alguém quem dizia ser “seu dono”,
impôs respeito em meio a uma sociedade extremamente aristo-
crata, elitista, excludente e preconceituosa.
Um Francisco que nasceu para desafiar as desigualdades de
uma sociedade que importou um jogo de bola vindo da Ingla-
terra e que o empregou como pano de fundo para a segregação
racial e de classes.
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Rafael Meira de Morais é gestor ambiental e graduan-
do em Comunicação Social, ambos pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Tem expe-
riência em assessoria de imprensa esportiva e atua em
televisão, rádio e internet. É cronista nos momentos
de inspiração e suas áreas de interesse são literatura e
esportes em geral.
Crônicas de botequim:
Nas Salmouras
do Tempo
Ruben G Nunes
A
cordou. Levantou. Tomou banho. Cantou no chuveiro.
Vestiu roupa bonita. Olhou no espelho a meia-idade
chegando. Foi alegre encontrar a amante-de-fé. Na esqui-
na, teve enfarte fulminante e virou “jaz” (Aqui jaz...).
Morreu de amor? Morreu de falta de revisão?Morreu de prazo
de validade? Ou morreu do implacável Tempo?...
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Crônicas de botequim:
Os Grandes Amores.
Ou quase
Ruben G Nunes
G
randes Amores são os amores impossíveis. Que só
existem na sua impossibilidade. Que se alimentam
de sua própria interdição. Que nunca se consomem
no tempo e nas distâncias finitas ou infinitas.
Ou quase.
Nem fazem pit-stop num final feliz ou infeliz, como os amo-
res comuns das novelas – que são ou não são e tá acabado. Grandes
Amores são-e-não-são e tamusconversados.
Grandes Amores são-e-não-são, pois, do mundo das possi-
bilidades comuns. Mas sobrevoam e mergulham no mundo do
absoluto e do infinito. Mundo surreal, cativo em sua própria livre
infinidade de um nunca acabar...
São, por isso mesmo – os Grandes Amores – pulsações da lou-
cura e do absurdo que habitam a natureza humana e a VidaViva.
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posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, cantado
em seu Hino Universal dos Grandes Amores: euseiquevouteamar.
Na verdade, meus campanhas de copa-y-pasión, o Homem
que é prisioneiro desse Infinitão alucinógeno que nos cerca; que é
prisioneiro do infinitinho e da finitude cotidiana; o Homem, que,
segundo Sartre, é um prisioneiro de sua Liberdade; o Homem é
também prisioneiro dessa corda bamba que é o Amor.
Ou quase...
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Crônicas de botequim:
Que solidões
cascaveiam o amor no
outono?
Ruben G Nunes
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otempora! o mores!
oburakera! o xavecagens!
ofornicationis!
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Ruben Guedes Nunes – Nome como autor: Ruben
G Nunes (sem o ponto do G). Nasceu como pessoa
no Rio de Janeiro/RJ em 1937. Nasceu como escritor
em Natal/RN, onde reside desde 1960. Viveu 23 anos
no Rio. E vive há 57 anos em Natal. É provavelmente
o autor mais premiado do RN, segundo a crítica; em
romance, conto, poesia, crônica. Além de ser o úni-
co autor que ganhou 3 vezes, na categoria romance, o
Prêmio Câmara Cascudo (1981, 1982, 2007), conside-
rado, enquanto existiu, o mais importante prêmio de
literatura do RN.