Albert Durrer
Albert Durrer
Albert Durrer
Albrecht Dürer1
Salus
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Traduzido a partir de DÜRER, Albrecht. Drafts for the introduction to the Book on human
proportions (planned in 1512-1513). In: HOLT. Elizabeth. A documentary history of art, volume
I: The Middle Ages and the Renaissance. Princeton, New Jersey: Princeton University Press,
1981. p. 311-318. Albrecht Dürer (1471-1528). Pintor, gravador, humanista, escritor e
matemático, foi o maior exemplo de Homo universalis do Norte da Europa durante o
Renascimento. Filho do ourives Albrecht Dürer, O Velho, (c. 1427-1502), Dürer cresceu tendo
ao seu redor vários humanistas e artistas que contribuíram para sua formação e,
posteriormente, viajou à Península Itálica, onde teve acesso aos grandes mestres do
Renascimento. Considerado por muitos o maior artista do Norte e único equiparável a
Leonardo da Vinci (1452-1519).
Se queremos aguçar nossa razão por meio do estudo e nos exercitarmos
nisso, uma vez que encontramos o caminho correto, podemos, passo a passo,
procurar, aprender, compreender, e finalmente alcançar e obter algo da
verdade. Por conseguinte, aquele que compreende como aprender algo em
seu tempo livre, pelo meio em que se encontre mais apto, em honra a Deus, e
para vantagem tanto de si mesmo como dos outros — esse homem age bem.
Sabemos que muitos homens que obtiveram experiência em diversas artes
deram a conhecer a verdade por eles descoberta, o que nos beneficia agora. É
correto, portanto, para um homem ensinar outro. Aquele que alegremente o
faz, a ele muito deve ser concedido por Deus, de quem nós recebemos todas
as coisas. Possa Ele ter o mais alto elogio. Muito estudo não é um mal para o
homem, ainda que alguns se coloquem rigidamente contra isso, dizendo que a
arte torna arrogante. Sendo assim, não haveria ninguém mais orgulhoso do
que Deus, Que criou todas as artes. Mas isso não pode ser, pois Deus é o
Summum Bonum. Quanto mais, portanto, um homem aprende, tanto mais se
torna melhor e tanto mais deve mais amor ganhar pelas artes e pelas coisas
glorificadas. Por conseguinte, um homem não deve se fazer de bruto, mas
precisa aprender na época certa. Pode-se encontrar alguns que nada sabem e
nada aprendem. Eles desprezam o estudo e dizem que muito mal vem das
artes e que algumas são completamente vis. Eu, pelo contrário, garanto que
nenhuma arte é vil e que todas são boas. Uma espada é uma espada, e pode
ser usada tanto para matar quanto para fazer justiça. As artes, portanto, são
em si mesmas boas. O que Deus criou, isso é bom, ainda que muitos possam
disso fazer mau uso. Se o homem artístico é piedoso e bom por natureza, ele
se abstém do mal e faz o bem; e para isso servem as artes, pois elas dão o
discernimento do bem e do mal. Alguns podem aprender algo de todas as
artes, mas isso não é dado a todos os homens. Não obstante, não há homem
racional tão fraco que não possa aprender aquilo a que sua imaginação o
incline mais fortemente. Portanto nenhum homem tem desculpas para não
aprender algo.
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como são tão numerosos, que aprendam a melhorar seu trabalho. Aquele que
trabalha na ignorância trabalha com maior dificuldade do que aquele que
trabalha com entendimento; portanto, deixemos todos aprender a compreender
corretamente. De boa vontade eu vou compartilhar meu ensinamento,
doravante escrito, com o homem que tem pouca competência e que ainda
assim gostaria alegremente de aprender; mas não me importo com o orgulhoso
que, de acordo com suas próprias avaliações de si mesmo, conhece todas as
coisas, e é o melhor, e despreza tudo o mais. Por artistas verdadeiros, no
entanto, como os que podem mostrar seu valor com suas mãos, eu
humildemente desejo ser instruído com muita gratidão. Quem quer que queira,
portanto, que se deixe que ouça e veja o que vejo, faço e ensino, pois espero
que isso possa ser de utilidade e não um obstáculo a artes melhores, nem que
leve você a negligenciar coisas melhores.
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Abreviação do latim scilicet, que significa “a saber”, “isto é”. N. T.
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para a pintura. Pois a arte da pintura é empregada a serviço da Igreja e por
isso os sofrimentos de Cristo e muitos outros exemplos proveitosos são
apresentados. Ela preserva também a semelhança dos homens após sua
morte. Com a ajuda do delineamento na pintura, as medidas da terra, as águas
e as estrelas puderam ser entendidas; e muitas coisas ainda vão se tornar
conhecidas pelos homens com o auxílio dela. A obtenção da verdadeira,
artística e adorável execução na pintura é difícil de se atingir; ela precisa de
muito tempo e de uma mão muito livre e experimentada. Quem quer que,
portanto, são seja dotado dessa maneira, não o deixe empreender isso; pois tal
coisa chega por inspiração superior [divina].
Há muitos séculos atrás a arte da pintura era tida em alta honra por
poderosos reis, e eles tornavam os excelentes artistas ricos e os consideravam
dignos, considerando tal inventividade um poder criativo como o de Deus. Pois
um bom pintor em seu interior está cheio de figuras, e se fosse possível para
ele viver para sempre, sempre teria em seu interior “ideias”, sobre as quais
Platão3 escreve, algo novo para exteriorizar através da obra de sua mão.
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Pláton (424/423 a. C.-348/347 a.C.). Filósofo ateniense discípulo de Sokrátes, seu sistema
filosófico pregava a existência de um plano superior perfeito conceitual independente do mundo
físico material, que, por sua vez, se realizava e existia como uma forma corrompida e inferior
aos conceitos do seu “mundo das ideias”. Quando Dürer invoca aqui sua “ideia”, refere-se à
postura dos pintores renascentistas de que, para criarem representações mais próximas da
perfeição, não deveriam observar e copiar diretamente os elementos do mundo através de
seus sentidos, mas antes tentar acessar as formas ideais elaboradas mentalmente e a partir
delas criar as formas a serem representadas.
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Pheidías (c. 490 a.C.?-c. 432 a.C.). O mais renomado escultor heleno do período Clássico,
tendo conquistado esta fama ainda vivo, embora poucas obras suas tenham sido preservados
até a atualidade. A maioria das informações sobre sua vida foram escritas por historiadores
romanos a partir do século I, e muito do que se conhece de seu trabalho é através de
reproduções e descrições. Entre seus trabalhos mais destacáveis, quem envolviam escultura
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Lisipo9, Protógenes10, e o resto, alguns dos quais escreveram sobre sua arte e
muito engenhosamente a descreveram e a trouxeram plenamente à luz; mas
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seus elogiáveis livros são, agora, desconhecidos para nós, e talvez tenham
sido completamente perdidos pela guerra, pela expulsão dos povos, e
alterações de leis e de costumes — uma perda que deve ser muito lamentada
por todo homem sábio. Frequentemente ocorreu que a nobre Ingenia fosse
destruída pelos bárbaros opressores da arte; pois se eles viam figuras traçadas
em linha pensavam que se tratasse de pura magia negra. E [ao destruí-las]
tentavam honrar a Deus através de algo que O desagradava; pois, para usar a
linguagem dos homens, Deus está furioso com todos os destruidores das obras
de grande maestria, que apenas são obtidas por meio de muita labuta, trabalho
e dispêndio de tempo, e são concedidas apenas por Deus. Frequentemente
lamento que eu tenha sido privado dos já mencionados livros da arte dos
mestres; mas os inimigos da arte desprezam essas coisas.
Alexandre da Macedônia (356-323 a.C.) e o único a que era permitido representar sua imagem.
Influenciou vários escultores de seu tempo com suas novas regras de proporção que competia
com as de Polýkletos.
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Protogénes (c. século IV a.C.). Foi um pintor heleno do período Clássico que viveu em
Rhodes e foi rival de Apelles. Plínio, O Velho, (23-79) narra em seu Naturalis Historia uma
disputa entre os dois pintores. Apelles teria ido fazer uma visita à oficina de Protogénes, de
quem havia ouvido falar, para conhecê-lo, mas, ao chegar lá, estava apenas uma mulher,
guardando uma pintura, que lhe contou que Protogénes saíra. Quando a mulher questionou
quem era, Apelles respondeu pintando uma linha extremamente fina e delicada com uma cor
diferente sobre uma linha já pintada cortando-a longitudinalmente em duas. Quando
Protogénes retornou, reconheceu que, pela delicadeza e precisão da linha, o visitante só
poderia ter sido Apelles e pintou uma segunda linha ainda mais precisa e fina, caso o outro
pintor retornasse eu sua ausência. Em uma segunda visita, Apelles mais uma vez não
encontrou Protogénes, mas apenas a linha perfeita traçada por ele. Então pintou uma nova
linha ainda mais precisa que corria pelo centro das anteriores e tão fina que não permitia
espaço para uma nova linha, a qual Protogénes teve de reconhecer como imbatível.
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que têm qualquer conhecimento nessas matérias que o escrevam. Façam isso
de modo verdadeiro e simples, não laborioso; e não conduzam aqueles que
procuram e que gostariam de aprender por caminhos tortuosos, para grande
honra de Deus e para sua própria glória.
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Pode-se muitas vezes procurar em meio a duzentos ou trezentos homens sem
encontrar entre eles mais do que um ou dois pontos de beleza que possam ser
úteis. Você, portanto, se deseja compor uma excelente figura, deve tomar a
cabeça de alguém e o peito, braço, perna, mão e pé de outros, e, do mesmo
modo, procurar por todos os membros de cada tipo. Pois de muitas belas
coisas algo bom pode ser colhido, assim como o mel é colhido de muitas flores.
Há uma medida correta entre o demasiado e o muito pouco; lute para atingir
isso em suas obras. Ao chamar algo de “belo”, devo aplicar aqui o mesmo
padrão que é aplicado a “correto”. Pois como tudo o que o mundo valoriza
como correto nós supomos ser correto, do mesmo modo tudo o que o mundo
estima como belo nós também teremos por belo e lutaremos para produzir.
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diversidade. Muito irá ora em diante ser escrito sobre os problemas e artifícios
da pintura. Pois estou certo de que muitos notáveis homens irão surgir, todos
eles irão escrever e ensinar tanto bem como melhor sobre essa arte. Pois eu
mesmo mantenho minha arte em um valor muito medíocre, pois conheço
minhas deficiências. Deixe cada homem, portanto, lutar para melhorar minhas
deficiências de acordo com suas forças. Quisesse Deus, se fosse possível, que
eu conseguisse ver a obra e a arte dos poderosos mestres por vir, que ainda
não nasceram, pois acredito que eu poderia ser melhorado desse modo. Ah!
quantas vezes em meu sonho eu contemplava grandes obras de arte e belas
coisas, as quais nunca me aparecem quando estou acordado; mas tão logo
acordo minha memória perde controle sobre isso. Não deixe ninguém ter
vergonha de aprender, pois bom conselho nos ajuda em uma boa obra. Não
obstante, quem quer que se aconselhe nas artes, que possa tomá-lo de alguém
completamente versado nessas matérias e que possa prová-lo com sua mão.
Mesmo que qualquer um possa fazer isso, é bom [fazer assim]: quando você
tiver feito uma obra que agrade a si próprio, mostre-a para homens rudes, de
pouco julgamento, para que eles possam dar sua opinião sobre ela. Como
regra eles escolhem os pontos mais defeituosos, ainda que não tenham
entendimento sobre os bons. Se você acha que eles dizem algo de verdadeiro,
você pode melhorar sua obra. Resta muito a ser escrito sobre essas matérias,
mas em nome da brevidade eu vou colocar um ponto final, e vou entrar na
tarefa de construir as figuras do homem e da mulher.