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UNIrevista - Vol.

1 nº 2: (abril 2006) ISSN 1809-4651

Educação especial na formação de professores


das universidades de Mato Grosso do Sul
Carina Elisabeth Maciel de Almeida
Mestre em Educação
[email protected]
UCDB/UFMS, MS

Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar como as universidades e, mais especificamente, os cursos de licenciatura,
contemplam as disciplinas de Educação Especial e enfocam, por meio dessas, a política de educação inclusiva
preconizada na política educacional em âmbito nacional. Foram analisados documentos das universidades, ementas
das disciplinas de educação especial, legislações pertinentes à educação em geral e, especificamente, à educação
especial e às licenciaturas. As universidades, até o ano de 2004, não incluíram em todas as licenciaturas, disciplina
de educação especial. Mesmo após as orientações e diretrizes apontadas pela legislação pertinente, movimentos
organizados e Fóruns de educação especial, a universidade cumpre parcialmente seu papel social. Ao não oferecer
em todos os cursos de licenciatura disciplinas de educação especial, as universidades deixam uma lacuna na
formação docente, uma vez que ao desenvolver sua profissão, esses futuros professores terão alunos com
necessidades educacionais especiais. Esta pesquisa é parte da dissertação elaborada no Programa de Pós-
Graduação - Mestrado em Educação.

Palavras-chave: educação especial // formação de professores // universidade

A educação especial, como modalidade de educação, perpassa todos os níveis de ensino e a formação do

professor que atua com alunos com necessidades especiais deve ser preocupação das universidades, tanto
públicas quanto privadas, especialmente nessa atual conjuntura, momento em que nova reforma
universitária1 vem sendo discutida em âmbito nacional. As mudanças pelas quais têm passado as

universidades inserem nos cursos de graduação alterações importantes, como as Diretrizes Curriculares -

Parecer CNE/CP 9/2001 e Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002, que imprimem novos

objetivos aos currículos dos cursos de licenciatura. Os documentos mencionados, respaldam a existência de

conteúdos sobre alunos com necessidades educacionais especiais nos cursos que formam professores, ou
seja, nas licenciaturas.

Em 2002, José Geraldo Silveira Bueno desenvolveu uma pesquisa, em parceria com o Ministério da

Educação e com a Secretaria de Educação Especial/MEC, denominada "A educação especial nas

universidades brasileiras". Nesta publicação, são apresentadas tabelas com dados nacionais dos cursos de

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A reforma universitária está sendo discutida, com maior ênfase, desde que Tarso Genro assumiu o Ministério da
Educação. Segundo o governo, o debate sobre a reforma visa a construir, com a sociedade, uma proposta de Lei Orgânica
da Educação Superior. A reforma universitária é um dos principais projetos da SESu para a educação superior,
implementados no governo Luiz Inácio Lula da Silva, os demais são: o PROUNI - Programa Universidade para Todos,
Política de Cotas, Novas normas para ensino superior, Programa de Modernização e Qualificação do Ensino Superior, FIES
- Financiamento Estudantil, PET - Programa Especial de Treinamento, Universidade Milton Santos e PROEXT - Programa de
Apoio À Extensão Universitária 2004. (Brasil, 2004a).
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Carina Helisabeth Maciel de Alemida

licenciatura, entre estes o de pedagogia, que oferecem ou não disciplinas de educação especial em suas
grades curriculares. No ano de 1998, em instituições de ensino superior do Brasil, de 58 cursos de

licenciatura para o ensino básico 30 (51,7%) ofereciam disciplina de educação especial; nas licenciaturas de
5ª à 8ª série, apenas 11 (19,0%) ofereciam a disciplina (Bueno, 2002, p. 32, 37). Uma vez que esses
indicadores representam uma amostra da

situação das universidades do Brasil, fica evidente o baixíssimo número de disciplinas de educação especial
nos cursos de licenciatura, ou seja, nos cursos que formam professores que trabalham com esse segmento.

Em Mato Grosso do Sul, quatro universidades oferecem cursos de licenciatura. A análise das grades

curriculares destes cursos visa a identificar se os professores formados nessas instituições tiveram o

oferecimento de uma disciplina de educação especial, e se os Planos de Ensino das disciplinas mencionadas
indicam, ou não, a análise da educação especial na perspectiva do processo de inclusão.

As quatro universidades pesquisadas no estado de Mato Grosso do Sul foram: UCDB - Universidade Católica

Dom Bosco; UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; UFMS - Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul; UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal.

Para desenvolver a pesquisa foram estabelecidas três principais categorias conceituais para análise:

educação superior, educação especial e inclusão. A educação superior, devido à sua importância na
formação dos profissionais que atuam na sociedade em que estamos inseridos. Valdemar Sguissardi afirma

que: "A educação superior no Brasil não é um desafio novo. Além de antigo, continuará sendo um enorme

desafio que se desdobra em múltiplos desafios menores, todos eles de inegável e incômoda relevância”
(2000, p. 09).

A organização curricular dos cursos de graduação é um dos grandes desafios da educação superior. Dentre

os múltiplos desafios menores que enfrenta a educação superior, consideramos a inserção das disciplinas de

educação especial nos cursos de licenciatura um deles; por isso, é nessa ótica que relacionamos a educação
especial com a educação superior.

O conceito de inclusão permeia e infere suas diretrizes tanto na educação superior, quanto na educação

especial, uma vez que é processo econômico, social e político. A inclusão é um processo almejado pelas

minorias. Foi adotado pelos organismos internacionais, sendo difundido por estes e, também, apropriado

pelas relações orientadas pelo capital. Assim, enquanto organismos internacionais referem-se às "minorias

excluídas", parte significativa da população é incorporada como sendo "excluída". A inclusão é defendida por

organismos internacionais (como Banco Mundial) como mantenedora do equilíbrio econômico necessário à
manutenção do capital; por outro lado, também é defendida por ONGs e movimentos sociais devido ao
caráter emergencial que imprime às necessidades sociais e econômicas básicas.

Um novo campo de luta centra-se diretamente contra os efeitos destrutivos das políticas econômicas
ditadas pelo núcleo orgânico do capital mundial, sobre a vida e os direitos da maioria dos seres

humanos. Encampam esta luta uma enorme constelação de grupos, movimentos sociais, ONGs,
igrejas, sindicatos etc., de origem, expressão social cultural e política profundamente heterogêneas.

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O que os move é, ao mesmo tempo, o senso do limite, revolta e, certamente, a utopia e a crença de
que é possível dar um outro destino à ciência e aos frutos do trabalho social (Frigotto, 2001, p.37).

A utopia e a crença de que é possível dar outro destino à sociedade e aos resultados do trabalho coletivo,

assim como à educação, mobiliza parte da sociedade nacional e internacional, movimento que gerou a
crença no processo de inclusão, concomitantemente apropriado pelo mercado e sua lógica do capital.

O processo de inclusão interfere nas políticas públicas e é modificado de acordo com estas;
conseqüentemente, interfere nas diretrizes da educação superior e da educação especial. Esse conceito é

analisado devido à diversidade de interpretações e ações a que remete, interpretações muitas vezes
contraditórias.

Educação superior, educação especial e inclusão

Embora a educação superior e a educação especial apresentem histórias distintas, existe um momento em
que ambas se encontram e se complementam em decorrência de seus processos históricos. A educação
especial é modalidade da educação, cujos professores são formados, preferencialmente, nas instituições de

educação superior. A existência de disciplinas que contemplem a educação especial traz às Instituições de
Educação Superior - IES novas perspectivas educacionais.

A função social das universidades, assim como a organização de suas grades curriculares, é definida em
decorrência do contexto vigente e, conseqüentemente, influenciada pelos processos históricos que permeiam
a construção da identidade e do papel de cada instituição de educação superior. As leis que imprimiram suas

diretrizes na história da educação superior, direta e indiretamente influenciaram todo o processo de


formação de profissionais da educação básica.

Considerando o movimento dialético e, muitas vezes, contraditório que se observa entre o que está presente
nos documentos que normatizam as universidades e a prática dessas instituições, expresso pelas grades
curriculares dos cursos de formação de professores, entendemos a compreensão desse movimento interno
importante na constituição da história das universidades e dos cursos de licenciatura.

A contradição é categoria presente na sociedade e nas relações humanas, cada categoria exige seu

contrário, movimento que determina a consolidação de um e de outro. Processos contrários estabelecem o

desenvolvimento dos fenômenos, pois um necessita da negação e da superação do outro para existirem;

fenômenos não são produzidos isolados, se constituem por meio de relações sociais e devido a seus opostos
(Cury, 2000).

A universidade como instituição social, na qual as contradições estão presentes, interfere diretamente na

sociedade. Os documentos que orientam a organização das universidades são elaborados por grupos que

refletem nesses documentos as ideologias e teorias com as quais coadunam. Dessa forma, seja

intencionalmente, ou não, os documentos institucionais refletem modos de pensar e de conceber a


sociedade, a universidade.

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O movimento das universidades segue as diretrizes sociais que utilizam a inclusão para sustentar o modelo
econômico implantado no país: o capitalismo. É com o objetivo de incluir que as propostas para a reforma

das universidades vêm sendo discutidas, seja essa inclusão acadêmica, física, econômica, social ou
meramente discursiva. São alguns dos projetos de democratização do ensino superior do Ministério da
Educação: Universidade para Todos (ProUni); Sistema Especial de Reserva de Vagas.

Com esses projetos de lei, o governo desvia a atenção da necessidade de maiores financiamentos e de apoio

às universidades públicas e especifica a grupos excluídos a oportunidade de acesso a uma educação superior
cada vez mais pobre e carente de apoio financeiro e político. As ações afirmativas implícitas nesses

programas favorecem grupos geralmente excluídos e são necessárias, porém, não resolvem o problema da
exclusão social e escolar.

O Ministério da Educação observa a educação superior "como centro estratégico de um projeto de

desenvolvimento cultural, econômico e social do País" (BRASIL, 2004a, p.6). Sendo uma "estratégia" a
educação superior é incorporada como meio e não como fim; sob esse aspecto as universidades, na
perspectiva do governo, devem incorporar o maior número de pessoas, com qualificação necessária como

mão de obra especializada e que gere maior número de riquezas, fomentando o sistema econômico. A

profissionalização é necessária para o progresso social, entretanto, ao superficializar o acesso à educação

superior, sem oferecer maior apoio financeiro e político às instituições públicas, o governo retira o sentido e

esvazia essas medidas, que acabam apenas aumentando o número de alunos que ingressam na educação
superior. Para que isso não aconteça, devem ser desenvolvidos debates e discussões sobre como
proporcionar maior acesso sem massificar a educação, ou seja, sem perder a qualidade da educação.

A universidade é discutida e reformada de acordo com as novas perspectivas do mercado e incorpora

processos contraditórios e diversos. Segundo Kuenzer (2002) dois processos se apresentam nas novas
relações impostas pelo sistema econômico e são apropriados pela universidade, como extensão e parte da
sociedade: "a exclusão includente e a inclusão excludente".

A exclusão includente identifica-se como a existência de:

várias estratégias para excluir o trabalhador do mercado formal, no qual ele tinha direitos

assegurados e melhores condições de trabalho e, ao mesmo tempo, são colocadas estratégias de


inclusão no mundo do trabalho, mas sob condições precárias (Kuenzer, 2002, p.92).

A inclusão excludente é entendida como:

estratégias de inclusão nos diversos níveis e modalidades da educação escolar aos quais não

correspondam os necessários padrões de qualidade que permitam a formação de identidades


autônomas intelectual e eticamente, capazes de responder e superar as demandas do capitalismo
(Kuenzer, 2002, p. 92).

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Diferentes mecanismos de expansão de vagas nas universidades são implantados e implementados, tendo
como objetivo principal a inclusão de todos nesse nível de educação, entretanto, nem sempre é possível

concatenar quantidade com qualidade, mesmo que um conceito não exclua o outro, quanto maior for a
quantidade de alunos, maior serão as despesas e a necessidade de financiamento das IES, principalmente

das universidades públicas. Dessa forma, se inclui o aluno na educação superior, entretanto, não há
mecanismos que garantam a sua permanência e o seu aproveitamento no processo pedagógico.

A universidade, por meio dos cursos de licenciatura forma educadores e assim transforma estudantes em

professores, ou seja, é com o conhecimento e a educação desenvolvidos nas universidades que esses

sujeitos atuarão na educação básica. A educação especial é modalidade da educação e o processo de


inclusão obriga a aceitação da matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular

de ensino. Dessa forma, o profissional que escolheu a profissão do magistério optou também, pela
possibilidade de atuar diretamente com alunos com necessidades educacionais especiais.

Educação superior e formação de professores

A educação de profissionais da educação, mais especificamente de professores, também é influenciada pelas

mudanças ocorridas na sociedade, no mundo do trabalho e na economia do país. A educação especial é fruto
da mudança de concepção de sociedade, do avanço das políticas públicas e dos movimentos sociais que
pressionam o Estado na consolidação de seus direitos como sujeitos sociais.

A formação de profissionais na área da educação é de responsabilidade das Instituições de Educação


Superior, assim como de cursos no nível do Ensino Médio2. O Plano Nacional de Educação estabeleceu

princípios para essa formação e a LDB/1996, fixou onde essa formação deverá ocorrer:

A formação inicial dos profissionais da educação básica deve ser responsabilidade principalmente das
instituições de ensino superior, nos termos do art. 62 da LDB, onde as funções de pesquisa, ensino e

extensão e a relação entre teoria e prática podem garantir o patamar de qualidade social, política e
pedagógica que se considera necessário (Brasil, 2001b, p.143).

Frente ao valor da educação escolar, a formação de professores deve contemplar diferentes formas de

estudo e conteúdo, de acordo com a realidade social e econômica da região e do país. Proporcionar ao futuro

professor formação com embasamento teórico e capacidade de reflexão crítica sobre os processos políticos e
educacionais é a função principal dos cursos que formam professores. A educação superior ainda não

contempla todos os municípios e, conseqüentemente, ainda existem professores que não têm acesso a esse
nível de ensino, porém, esse é o nível almejado para essa finalidade.

Os cursos de licenciatura ministrados nas universidades beneficiam-se de maior proximidade com a

pesquisa, o que implica desenvolvimento de projetos que investiguem sobre a localidade em que estas estão

inseridas. A formação de professores tem compromissos educacionais a serem desenvolvidos e a qualidade

dessa formação refletirá diretamente no trabalho desenvolvido por esses em sala de aula. Conhecer,

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Na modalidade "normal", segundo o artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.

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interpretar e questionar a realidade do grupo social em que está inserido, são características necessárias ao
profissional da educação.

Assim, como homens do seu tempo, os educadores de hoje não podem esquivar-se dessa realidade

social e, muito menos, perder de vista a viabilidade histórica de um projeto de transformação do

real. Uma boa formação teórica e prática, básica e comum a todos, independente da clientela para a

qual ensinarão no futuro, lhes garantirá uma leitura crítica não só da educação e das propostas de
mudanças nesse campo, mas também uma consciência clara das determinações sociais, políticas e

econômicas nelas presentes. Isso significa, por exemplo, saber analisar e criticar propostas oficiais
ou institucionais da educação - a da "escola única" (Declaração de Salamanca, 1994), a "da
Integração" (Política Nacional de Educação Especial, 1994) - a fim de reconhecer suas pertinência,
ou não, às condições históricas existentes (Cartolano, 1998, p.2).

Discutir e questionar o sistema e as políticas é competência intrínseca à formação do professor, entretanto,


isso implica mudança e compromisso político e social. A noção de que ao ensinarmos modificamos nossos
alunos e a nós mesmos consiste em compreender o processo histórico e o papel do professor na sociedade.

Segundo Dermeval Saviani: "[...] ao adquirir competência o professor ganha também condições de
perceber, dentro da escola, os obstáculos que se opõem à sua ação competente" (1995, p. 45).

Atuar com alunos que necessitam conhecimentos sobre educação especial exige do professor maior atenção

em relação à sua prática, o que consiste em compatibilidade de conhecimento e postura de enfrentamento,

até mesmo para identificar o significado pedagógico de ter um aluno com necessidades educacionais em sua
sala de aula3. O professor que tem esse aluno em sua sala não pode deter-se em planejamentos padrões.

Pelo contrário, as necessidades específicas do aluno especial também criam a necessidade de novas e

diferentes formas de apresentar o conteúdo escolar; ação que proporciona maior compreensão por parte
deste aluno e dos demais.

A formação de professores nas instituições de educação superior é chamada de licenciatura e tem a função

de contemplar conteúdos, temáticas e práticas que favoreçam ao professor a possibilidade de lecionar com
base sólida, ou seja, ministrar sua aula embasada em fundamentação teórica, assim como em
conhecimentos desenvolvidos e aprofundados durante sua formação acadêmica.

A Portaria Ministerial nº 1793, de dezembro de 1994, "recomenda" a inclusão de disciplinas de educação

especial nas licenciaturas e nos demais cursos de graduação, porém a ênfase maior se dirige aos cursos de
pedagogia e de psicologia

O documento que indica as diretrizes a serem seguidas nas universidades, mais especificamente nos cursos

de formação de professores, é o parecer nº 9/2001 CNE/CP, com outros adendos posteriores; entretanto,

permanece sendo o principal referencial sobre as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena”. A educação

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Significado pedagógico, devido às necessidades de adaptação de espaço físico, material pedagógico, ou qualquer
alteração que se faça necessária para facilitar o processo de aprendizagem dos alunos, seja ele com necessidades
educacionais especiais ou não.
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especial é citada e enfatizada na legislação que orienta a constituição das grades curriculares nas
universidades, entretanto, não observamos legislação específica que obrigue essas instituições a inserirem
disciplinas sobre esse assunto em suas grades curriculares.

Dez anos se passaram desde a publicação da portaria nº 1.793/94 e poucas mudanças podem ser

observadas nas grades curriculares das licenciaturas. As Diretrizes Curriculares deixam a critério das
instituições de educação superior a decisão de incluir ou não disciplinas de educação especial nas grades de
seus cursos para formação de professores.

As licenciaturas e a educação especial

As universidades são instituições pluridisciplinares, públicas ou privadas, de formação de quadros

profissionais de nível superior, que desenvolvem atividades regulares de ensino, pesquisa e extensão. O

estado de Mato Grosso do Sul conta com quatro universidades, cada uma com natureza jurídica diversa:
UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - pública federal; UEMS – Universidade Estadual de

Mato Grosso do Sul - pública estadual; UCDB – Universidade Católica Dom Bosco - privada - comunitária,

confessional e filantrópica; UNIDERP – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do


Pantanal - privada empresarial (particular em sentido estrito).

A Tabela 1 apresenta o percentual de licenciaturas em cada instituição pesquisada:

TABELA 1 - PERCENTUAL DE LICENCIATURAS DAS UNIVERSIDADES DE MS EM RELAÇÃO AOS


DEMAIS CURSOS DE GRADUAÇÃO - ANO 2003
UNIVERSIDADE CURSOS DE GRADUAÇÃO LICENCIATURAS %
UCDB 63 26 41 %
UFMS 102 53 51 %
UNIDERP 46 13 28 %
UEMS 66 52 78 %
Fonte: www.inep.gov.br, acesso em 10/05/2004

Na Tabela 1, podemos observar que a UEMS, criada com o propósito de melhorar a educação básica e na

formação dos professores, é que apresenta maior percentagem de cursos de licenciatura em relação aos

demais cursos de graduação. A UNIDERP conta com 28% de licenciaturas, o que reflete maior investimento
em outras áreas, especialmente as exatas e tecnológicas. A UCDB e a UFMS, têm metade dos cursos

destinados à formação de professores, com variações pequenas: a UCDB oferece 41% de seus cursos de
graduação à formação docente e a UFMS conta com 51% dos cursos destinados às licenciaturas.

Uma vez que a porcentagem de cursos de licenciatura é alto, na maioria das universidades pesquisadas, a

análise de como esses cursos inserem o conteúdo sobre educação especial em seus cursos de formação

docente é de significativa importância para o processo de inclusão desenvolvido nas redes pública e
particular de ensino. Segundo o Parecer 9/2001 CNE/CP:

A educação básica deve ser inclusiva, no sentido de atender a uma política de integração dos alunos
com necessidades educacionais especiais nas classes comuns dos sistemas de ensino. Isso exige que

a formação dos professores das diferentes etapas da educação básica inclua conhecimentos relativos
à educação desses alunos (Brasil, 2001c, p. 21).

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Uma vez que a educação básica é formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, os

conhecimentos sobre alunos com necessidades especiais, deve contemplar a formação dos professores que

atuarão em todos os oito anos do ensino fundamental e no ensino médio; principalmente porque esses

alunos "especiais" já estão freqüentando esses níveis de ensino e cabe à universidade a formação desses
profissionais da educação.

Análise dos Planos de Ensino das disciplinas de Educação Especial

A partir do final da década de 1990, os currículos mínimos que apontavam o nome das disciplinas que
deveriam compor as grades curriculares das licenciaturas foram abolidos e as instituições passaram a seguir

a orientação das novas "Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação
Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena", que altera a orientação anterior para

outro conceito: a base comum nacional. Segundo disposto em documento da ANFOPE - Associação Nacional
pela Formação dos Profissionais da Educação, a

base comum nacional dos Cursos de Formação de Educadores não deve ser concebida como um

currículo mínimo ou um elenco de disciplinas, e sim como uma concepção básica de formação do
educador e a definição de um corpo de conhecimento fundamental (ANFOPE, 2000, p. 10).

Com o emprego de novos conceitos, as Diretrizes Curriculares Nacionais apontam princípios, fundamentos e

procedimentos que devem servir de orientação para a organização dos cursos de licenciatura; esse novo
conceito favorece maior flexibilidade às Instituições de Educação Superior do país. Dessa forma, cabe às
universidades desenvolver os conteúdos e eleger as disciplinas que atenderão ao disposto nas Diretrizes
mencionadas acima.

As quatro universidades de Mato Grosso do Sul apresentam disciplina de educação especial em, ao menos,

um curso de licenciatura; nos quatro casos analisados os cursos que oferecem essas disciplinas são
destinados à formação de professores que atuarão na educação básica, principalmente nas quatro primeiras

séries. Na UCDB, UFMS e UNIDERP selecionamos o Plano de Ensino da disciplina que trata sobre a educação

especial do curso de Pedagogia; na UEMS não existe curso de Pedagogia, sendo selecionado o curso Normal
Superior. Os quatro planos de ensino têm em comum o item "ementa", apresentada na Tabela 2:

Tabela 2 - EMENTAS DAS DISCIPLINAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DAS UNIVERSIDADES DE MS


UCDB UFMS UNIDERP UEMS
Propiciar aos alunos Conceitos filosóficos e Educação Especial: aspectos Educação Especial:
referenciais teóricos, antropológicos na históricos; Política de Educação aspectos históricos; Política
pressupostos e princípios da contextualização da Especial; Processos de de Educação Especial;
educação especial evolução da História da Integração e Exclusão; Processos de Integração,
capacitando-os a distinguir Educação Geral e Educação Especial e Currículo; Inclusão e Exclusão; O
educandos com necessidades Especial. O processo pedagógico em Processo Pedagógico em
educacionais especiais A Educação Especial no Educação Especial. Educação Especial e
assegurando aos mesmos a contexto das políticas Currículo.
melhor educação possível. públicas Brasileiras.
Fonte: ementa das disciplinas de educação especial, dos cursos de licenciatura das universidades de MS - 2004.

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De acordo com as ementas, a educação especial, nas quatro universidades é apresentada aos alunos
primeiramente como conceito e, posteriormente, como se apresenta nas políticas públicas. A análise da

educação especial implica conhecer o processo histórico e as transformações ocorridas durante esse
processo no que se refere às diferentes concepções sobre as deficiências.

Na UNIDERP e na UEMS há referência ao processo de inclusão, enquanto na UCDB e UFMS a análise é


direcionada à educação especial; esse é um conceito anterior ao de inclusão, visto que atualmente tal

concepção é utilizada pela globalização e pelo mercado com interesses e fins específicos. Por outro lado, a
inclusão é um processo amplo e a educação especial é considerada como uma das categorias implicadas
nesse processo.

As ementas demonstram que o assunto estudado nas quatro universidades é semelhante e discute os
conceitos acerca dessa modalidade de educação, seguindo o conteúdo do disposto na Portaria nº 1793,

assim como nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Compreender a história e seus conceitos é base para
entender o lugar que ocupa a educação especial nas políticas públicas e educacionais. Conhecer para
compreender e questionar a forma como se desenvolve esse processo, além de adquirir a noção de quem é

o aluno com necessidades educacionais especiais e, principalmente, o que são "deficiências", consiste no

mínimo necessário para o professor que irá atuar com alunos com necessidades especiais. As quatro

instituições oferecem, nessas disciplinas, conteúdos importantes para a formação do professor que atuará

em escolas do ensino regular; considerando as Diretrizes Nacionais, esses profissionais atuarão em escolas
inclusivas, onde os alunos mencionados serão parte da realidade escolar.

Por meio das políticas educacionais o governo indica, cada vez com maior ênfase, a matrícula de alunos com

necessidades especiais no ensino regular, orientando a extinção das "escolas especiais"; essas ações

implicam em número crescente de alunos no ensino comum, em que professores recebem alunos com
necessidades específicas sem nenhuma capacitação anterior. O documento do Ministério Público "O Acesso
de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular", expõe que:

O atendimento educacional especializado deve estar disponível em todos os níveis de ensino escolar,

de preferência nas escolas comuns da rede regular. Este é o ambiente escolar mais adequado para

se garantir o relacionamento dos alunos com seus pares da mesma idade cronológica e para a

estimulação de todo o tipo de interação que possa beneficiar seu desenvolvimento cognitivo, motor,
afetivo (Brasil, 2004b, p. 8).

Observamos um processo "ao contrário", pois a formação desses profissionais deveria contemplar conteúdos
sobre alunos com necessidades especiais ou que as capacitações fossem oferecidas antes que as políticas

aumentassem a pressão sobre esse aspecto: a inclusão (obrigatória) de alunos com deficiências (graves ou
não) no ensino regular. Porém, devido à contradição existente entre o disposto nas leis e a realidade das

instituições escolares (sejam de educação básica ou de educação superior), não permite que esperemos o
cumprimento da legislação para implementarmos as ações inclusivas.

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A definição de educação especial segue um percurso histórico paralelo ao conceito de deficiência, sendo que
o primeiro é desenvolvido em função do segundo; os avanços obtidos por esse grupo (pessoas com

deficiências) se devem à persistência e a organização política e social conquistada ao longo dos anos, assim
como às pesquisas desenvolvidas em outras áreas, principalmente na área da saúde, que vêm desmistificar

muitas crenças em relação à origem das deficiências; os avanços tecnológicos também influenciaram nas
mudanças conceituais dessas duas categorias.

A referência à educação especial nas políticas públicas é reflexo das alterações dos conceitos sobre

deficiência e educação especial. A análise desse processo e do contexto em que a educação especial é

mencionada, permite ao futuro professor identificar como e por que a educação especial é hoje uma
modalidade de educação, além de proporcionar o questionamento sobre como esse processo se manifesta e

como as políticas públicas influenciam, ou não, nas práticas educacionais. A crítica é necessária para o
desenvolvimento de novos conceitos; a contextualização e o embasamento teórico norteiam e orientam para
que o futuro professor possa ter diferentes olhares para um mesmo objeto. Bianchetti menciona que é

"preciso cultivar o olhar de estranhamento que nunca parte daquilo que está posto como natural e sempre
buscar compreender as manifestações no seu processo de manifestar-se" (2002, p. 9).

O estudo de realidades contraditórias e da função das políticas educacionais favorece ao futuro professor a

compreensão de uma realidade diversa do preconizado na letra das leis. A política educacional, se analisada

como "um dos instrumentos para se projetar a formação dos tipos de pessoas de que uma sociedade
necessita" (Martins, 1994, p. 9), é mecanismo para incluir "todos" na escola, caso contrário os que não a

freqüentarem não poderão ser considerados "cidadãos". Estudar diferentes conceitos e as funções das

políticas educacionais permite uma análise crítica da realidade, sobretudo aquela em que se inserem as
pessoas com necessidades especiais.

Considerações finais

A universidade tem papel importantíssimo na formação do professor e no desenvolvimento de profissionais

que atuarão com a formação de futuros cidadãos, sejam eles pessoas com necessidades especiais ou não. A
preocupação com a formação do sujeito crítico e consciente de seu processo histórico e cultural é base

necessária para a formação acadêmica e, a partir dessa formação, construir um novo projeto social, no qual

a compreensão do sujeito com necessidades especiais seja incorporada como reconhecimento de

suas capacidades e não de suas dificuldades. Contextualizar esse sujeito, que mesmo com deficiência
seja entendido como aluno com histórico de vida e não aluno com histórico de deficiência. José Geraldo

Silveira Bueno analisa como são contextualizados esses alunos e como são elaborados os relatórios que
imprimem em suas vidas a marca do estigma:

As histórias desses indivíduos, verificáveis em suas anamneses e em seus relatórios escolares, são

as histórias de suas deficiências, de suas dificuldades, de seus fracassos, de suas crises emocionais e
de suas atitudes sociais inadequadas, enquanto que suas vidas, fora disso, nada são, nada valem,
nada representam (Bueno,2004, p. 67).

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A análise dos objetivos das disciplinas de educação especial apresenta aspectos importantes em todos os
Planos de Ensino pesquisados; em comum é observada a discussão das políticas públicas e dos conceitos
que envolvem a educação especial, entretanto, cada instituição é promotora de olhares diversos sobre como

a educação especial se configura na realidade brasileira. Diferentes prismas são desenvolvidos e


apresentados a alunos dos cursos de Pedagogia e Normal Superior. Os demais cursos de licenciatura não

oferecem aos seus alunos disciplinas que abarquem essa temática, mesmo sendo orientação das políticas
educacionais.

Nas diretrizes recomendadas pelo Ministério Público Federal, a formação de professores deve acontecer da
seguinte forma:

• todos os cursos de formação de professores, do Magistério às Licenciaturas, devem


dar-lhes a consciência e a preparação necessária para que recebam, em suas salas de aula, alunos
com e sem necessidades educacionais especiais, dentre os quais, alunos com deficiência;

• os cursos de formação de professores especializados em Educação Especial devem

preparar esses profissionais, de modo que possam prestar atendimento educacional especializado,

em escolas comuns e em instituições especializadas, envolvendo conhecimentos como: código

Braile, Libras, técnicas que facilitem o acesso da pessoa com deficiência ao ensino em geral, e outros
com a mesma finalidade (Brasil, 2004b, p. 20)

A referência às licenciaturas diz respeito à educação superior, uma vez que a universidade tem como função

social a contrapartida com a escola básica, por meio dos cursos de formação docente. É possível observar

nas diretrizes educacionais, que a necessidade de formar o docente para trabalhar com os desafios da

profissão de educador é cada vez mais exposta frente à inclusão de alunos com deficiências, pois para que o

professor possa adaptar determinado conteúdo, é necessário que o domine e o incorpore em seu fazer
pedagógico.

A formação de docentes que atuarão nas últimas séries do ensino fundamental não responde à necessidade

de um professor que terá alunos com necessidades educacionais especiais, ou seja, sem nenhuma disciplina

que discuta e estude a educação especial, o futuro professor encontrará situação para a qual não teve

estudo, análise, muito menos a oportunidade de desenvolver qualquer conhecimento sobre como atuar com
os alunos mencionados.

Segundo Santos (2004), a universidade tem se afastado de um de seus princípios: seu compromisso com a

escola pública, que se dá, também, por meio da formação docente. A importância reservada aos cursos de
licenciatura deixa a desejar nas questões levantadas pela reforma universitária, uma vez que não existe nos
programas até então propostos, referência específica a eles.

A formação de professores sofre as influências dessas mudanças na concepção da função das universidades,

que se reflete na seleção das disciplinas que deveriam compor as grades curriculares dos cursos

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Educação Especial na formação de professores das universidades de Mato Grosso do Sul
Carina Helisabeth Maciel de Alemida

mencionados. A inclusão de disciplinas de educação especial nos cursos de licenciatura expressa a


consonância entre a função social da universidade com sua missão e seu objetivo: formar profissionais
comprometidos com o desenvolvimento social e coletivo.

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