Gases

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GASES IDEAIS E REAIS 9

aula
META
Introduzir os conceitos de
gases ideais e reais.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá: aplicar a teoria
cinética molecular e
reconhecer o comportamento
diferenciado dos gases.

PRÉ-REQUISITOS
Reconhecer as leis que
levaram à compreensão do
comportamento dos gases:
Lei de Boyle, Lei de Charles e
o Princípio de Avogadro.

(Fonte: http://www.infoescola.com).
Química I

A equação do gás ideal descreve como os gases se compor-


tam, mas não explica por que eles se comportam de deter-
minada maneira. Por que um gás expande quando aquecido à pres-
são constante? Ou, por que sua pressão aumenta quando o gás é
comprimido a temperatura constante? Para en-

INTRODUÇÃO tender as propriedades físicas dos gases, preci-


samos de um modelo que nos ajude a imaginar
o que acontece às partículas de gás à proporção
que condições como pressão ou temperatura variem. Tal modelo,
conhecido como Teoria Cinética Molecular, foi desenvolvido du-
Teoria cinética molecular
rante um período de aproximadamente cem anos, culminando em
Conjunto de suposi-
ções sobre a natureza
1857 quando Rudolf Clausius (1822 – 1888) publicou uma forma
dos gases. Essas supo- completa e satisfatória da teoria.
sições, quando traduzi-
das para a forma mate-
mática, produzem a
equação de gás ideal.

Rudolf Clausius (Fonte: http://www.nhn.ou.edu).

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Gases ideais e reais

O s resultados empíricos resumidos pelas leis dos gases


sugeriram um modelo em que um gás ideal é formado
por moléculas amplamente espaçadas, que não interagem entre si e
9
aula
que estão em movimento incessante, com velocidades médias que
aumentam com a temperatura. Primeiramente,
veremos como as medidas experimentais da ve-
MOLÉCULAS
locidade com que os gases viajam de uma re-
gião para outra permitem uma melhor compre-
ensão das velocidades médias das moléculas. Em seguida, usaremos as
velocidades médias para expressar quantitativamente os modelos Difusão
de um gás ideal, verificar sua concordância com as leis dos gases, e
Espalhamento de uma
usá-lo para obter informações detalhadas sobre a proporção de mo- substância através de
léculas que têm uma dada velocidade. outra.

Podemos refinar ainda mais este modelo? Podemos, por exem- Efusão
plo, deduzir a dependência real com a temperatura da velocidade Fuga de um gás atra-
média das moléculas? A velocidade média aumenta proporcional- vés de um orifício ou
buraco
mente à temperatura, ou qualquer outra potência de T?

A DIFUSÃO E A EFUSÃO

A difusão é o espalhamento de uma substância pelo


espaço ou por uma segunda substância, como um gás
em outro gás. Por exemplo, a difusão explica a expansão
de perfumes que se difundem por uma sala. Ela também
ajuda a manter a composição da atmosfera aproximada-
mente constante, porque concentrações incomumente
altas de um gás se difundem e se dispersam.
O fenômeno da efusão é a fuga das moléculas
de gás por buracos minúsculos para um espaço eva-
cuado como mostrado na Figura 49. A efusão acon-
Figura 49 - Efusão de uma molécula de gás
tece sempre que um gás é separado do vácuo por por um buraco de alfinete. As moléculas es-
capam de seu recipiente para um espaço eva-
uma barreira porosa. O gás escapa através do orifí- cuado apenas quando ´batem´ no buraco.
(Fonte: Brown, T. L.; et al. Química, a ciên-
cio porque há mais colisões do lado da alta pressão cia central, 9 ed. São Paulo: Pearson Prentice
do que do lado da baixa pressão. Hall, 2005).

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Química I

LEI DA EFUSÃO DE GRAHAM

Em 1846, Thomas Graham, um químico escocês do século XIX,


fez uma série de experiências sobre a velocidade de efusão de ga-
ses. Ele descobriu que à temperatura constante, as taxas de efusão de um
gás são inversamente proporcionais à raiz quadrada de suas massas molares.
Lei de Efusão Graham Esta observação é conhecida como Lei de Efusão de Graham.
Lei que afirma que a Para dois gases A e B, se as taxas de efusão de duas substâncias
velocidade de efusão são r1 e r2, e suas respectivas massas molares são M1 e M2, temos:
de um gás é inversa-
mente proporcional à
raiz quadrada de sua
massa molecular.

A equação acima compara as taxas de efusão de dois gases di-


ferentes sob condições idênticas, indicando que o gás mais leve
efunde-se mais rapidamente. A única maneira de uma molécula de
gás escapar de um recipiente é ela “bater” no buraco. Quando mais
rapidamente as moléculas se movem, maior a chance de uma molé-
cula chocar-se no buraco e efundir. Isso implica que a taxa de efusão
é diretamente proporcional à velocidade das moléculas. Como R e
T são constantes, temos a equação:

Como esperado, a partir da lei de Graham, o hélio escapa dos


recipientes pelos buracos minúsculos feitos com alfinete com mai-
or rapidez que gases com maior massa molecular.
Quando levamos à cabo experiências de efusão a diferentes
temperaturas, constatamos que a velocidade de efusão aumenta

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Gases ideais e reais

quando a temperatura é aumentada. Especificamente, para um determi-


nado gás, a velocidade de efusão aumenta com a raiz quadrada da temperatura: 9
aula

A velocidade de efusão pode ser substituída por velocidade


média das moléculas. Assim, a velocidade média das moléculas em um
gás é proporcional à raiz quadrada da temperatura:

Esta relação muito importante nos ajudará a refinar o nosso


modelo de um gás. Também começa a revelar o significado de um
dos conceitos mais difíceis de compreender na ciência: a natureza
da temperatura. Vemos que, quando nos referimos a um gás, a
temperatura é uma indicação da velocidade média das molécu-
las, e quanto mais alta a temperatura, maior a velocidade média
das moléculas.

A DIFUSÃO E CAMINHO MÉDIO LIVRE

A difusão, como a efusão, é mais rápida para moléculas mais


leves que para moléculas mais pesadas. Na realidade, a razão das
taxas de difusão de dois gases sob condições experimentais idênti-
cas é aproximada pela lei de Graham. Contudo, as colisões
moleculares tornam a difusão mais complicada que a efusão.
A difusão dos gases é muito mais lenta que as velocidades
moleculares relativas às colisões moleculares. Essas colisões ocorrem
com bastante freqüência para um gás à pressão atmosférica – aproxi-
madamente 1010 vezes por segundo para cada molécula. As colisões
ocorrem porque as moléculas de gases reais têm volumes finitos.

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Química I

Por causa das colisões moleculares, a direção de movimento de


uma molécula de gás varia constantemente. Portanto, a difusão de
uma molécula de um ponto para outro consiste em muitos segmen-
tos retos e curtos porque as colisões golpeiam-nas ao redor em dire-
Caminho médio livre ções aleatórias. Primeiro as moléculas movem-se em uma direção,
depois em outra; em um momento a alta velocidade, no próximo
Distância média per-
corrida por uma molé- instante a baixa velocidade.
cula de gás entre as A distância média percorrida por uma molécula entre as coli-
colisões.
sões é chamada caminho médio livre. O caminho médio livre para
as moléculas de ar no nível do mar é aproximadamente 60 nm (6 x
10-6 cm). A aproximadamente 100 Km de altitude, onde a densida-
de do ar é muito mais baixa, o caminho livre médio é cerca de 10
cm, mais ou menos 10 milhões de vezes mais longo que na superfí-
cie da Terra.

A TEORIA CINÉTICA MOLECULAR

Agora temos informações suficientes para transformar o nosso


modelo qualitativo de um gás em um modelo quantitativo, que pode
ser usado para fazer predições numéricas. A teoria cinética molecular
(a teoria das moléculas em movimento) é resumida pelas seguintes
afirmações:
1. Um gás consiste em uma coleção de moléculas em movimento
aleatório contínuo;
2. As moléculas de um gás são pontos infinitesimalmente pequenos;
3. As partículas se movem em linha reta até colidirem;
4. As moléculas não influenciam umas às outras, exceto durante as
colisões.
Assim, na teoria cinética molecular dos gases, imaginamos as
moléculas como muito separadas na maior parte do tempo e em mo-
vimento aleatório incessante. Elas se deslocam sempre em linha reta,
mudando de direção apenas quando colidem com a parede do recipi-
ente ou com outra molécula. As colisões mudam a velocidade e a
direção das moléculas, como bolas num jogo de sinuca.

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Gases ideais e reais

Quando um gás é aquecido, suas moléculas se movem mais


rapidamente e se chocam mais freqüentemente com as pare-
des do recipiente. A teoria cinética dos gases permite obter
9
aula
as relações quantitativas entre pressão e velocidade das mo-
léculas.
Começamos com uma amostra de gás supondo, inicialmen-
te, que todas as moléculas estão movimentando-se com a mes-
ma velocidade. Removeremos esta condição mais tarde. As
moléculas chocam se com uma das paredes do recipiente. Se
calcularmos com que freqüência estes impactos ocorrem e
que força eles exercem na parede, podemos calcular a pres-
são resultante (Fig. 50).

Figura 50: A pressão de um gás é provocada pelas colisões das


moléculas de gás com as paredes de seus recipientes.
Fonte: Química: A ciência central.

Para calcular esta força, usamos a segunda lei de Newton: for-


ça é igual à velocidade de mudança de momento de uma partícula.
Momento é o produto da massa pela velocidade (m x V), então,
se uma molécula de massa m movimenta-se com uma velocidade
vx, paralela ao lado de uma caixa que chamamos de x, seu momento
linear antes que toque a parede à direita é mvx (Fig. 51). Imediata-
mente após a colisão, o momento da molécula é –mvx, porque a

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Química I

velocidade mudou para –vx. A mudança no momento da molécula


é, então, 2mvx em cada colisão.

Figura 51 - Na teoria cinética dos gases, a pressão surge da força


exercida sobre as paredes do recipiente pelo choque das molécu-
las, que são defletidas. É necessário determinar a força de cada
impacto e o número de impactos em dado intervalo de tempo.
(Fonte: Brown, T. L.; et al. Química, a ciência central, 9 ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005).

A seguir, calcularemos a velocidade total de mudança do mo-


mento para todas as moléculas. Nesta etapa, consideramos um in-
tervalo de tempo “t e começamos calculando o número total de
colisões neste intervalo. Uma molécula com velocidade vx pode des-
locar-se a uma distância vx”t no intervalo “t.
Portanto, todas as moléculas dentro de um intervalo de distância
vx”t da parede e movimentando-se nesta direção, se chocarão com a
parede. Se a área da parede é A, todas as partículas no volume Avx”t
alcançarão a parede se estiverem se movimentando na sua direção.
Suponhamos que o número total de partículas no recipiente
seja N e que o volume do recipiente seja V. O número de molécu-
las no volume será dado pela seguinte equação:

Av x Δt NAv x Δt
Número de Moléculas = xN=
V V

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Gases ideais e reais

OS GASES REAIS: DESVIOS DO


COMPORTAMENTO IDEAL 9
aula
Os experimentos de Boyle, Charles e Gay-Lussac foram fei-
tos há mais de dois séculos. Desde então, os químicos têm en-
contrado que as leis que Metade das moléculas na caixa está se
movendo para a direita e metade para a esquerda. Portanto, o
número médio de colisões com a parede no intervalo “t é meta-
de do número no volume Avx”t, ou:

NAv x Δt
Número de Colisões =
2V

A mudança total de momento no intervalo é a mudança para


uma molécula 2mvx, multiplicada pelo número total de colisões:

NAvx Δt NmAvx2 Δt
Mudançatotal no momento= x 2mvx =
2V V

Neste ponto, podemos achar a velocidade de mudança de mo-


mento dividindo esta mudança de momento total pelo intervalo “t
durante o qual isto acontece:
NmAv x2 Δt NmAv x2
Velocidade de mudança de momento = =
VΔt V

Usamos a segunda lei de Newton para identificar esta veloci-


dade de mudança de momento com a força exercida na parede:
NmAvx2
Força =
V
Segue que a pressão, força dividida pela área A na qual a força
atua, é:
NmAvx2 Nmvx2
pressão = =
VA V

183
Química I

Agora, admitimos o fato de que nem todas as moléculas na


amostra estão se movendo com a mesma velocidade. Para obter a
pressão detectada, P, precisamos usar o valor médio de vx2, em vez
do próprio vx2. As médias são, geralmente, simbolizadas por parên-
teses angulares, assim escrevemos:
Nm v x2
P=
V
2
onde v x é o valor médio de vx2 para todas as moléculas da
amostra.

Neste estágio, relacionamos à raiz quadrada da veloci-


Velocidade média quadrática
v x2
1/2
dade quadrática média, c = , a raiz quadrada da média dos
Raiz quadrada da mé-
dia das velocidades quadrados das velocidades moleculares.
quadráticas das molé-
culas de gás em uma Primeiro, notamos que a velocidade de uma única molécula, v,
amostra gasosa. está relacionada à velocidade paralela às direções x, y e z por:

Portanto, velocidade média quadrática (vmq) é:

A velocidade quadrática média é importante porque a energia


cinética média de gás, ε, está relacionada diretamente a c2:
ε = 12 m c2
onde, m é a massa da molécula. A massa não varia com a tem-
peratura. Portanto, o aumento na energia cinética média à me-
dida que a temperatura aumenta implica que a velocidade (e
também a velocidade média) das moléculas aumente similar-
mente conforme o aumenta temperatura.

Exemplo: Calculando a raiz quadrada da velocidade quadrática


média de moléculas de gás temos;

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Gases ideais e reais

A massa molar de moléculas de N 2 é 28,02 g mol -1


(correspondendo a 2,802x10-2 kg mol-1). Assim, a raiz quadrada da
velocidade quadrática média das moléculas de nitrogênio em ar a
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aula
20 oC (293 K) é:
⎛ 3 x (8,3145 J K −1 mol −1 ) x (293 K ) ⎞
1/ 2

c = ⎜⎜ ⎟⎟ = 511m s −1
⎝ 2,802 x10 − 2 kg mol −1 ⎠
c = 1,840 km.h-1

AS FORÇAS INTERMOLECULARES

Para explicar as divergências da lei do gás ideal, é necessario


procurar as características das moléculas dos gases reais que são ig-
noradas pela teoria cinética molecular. Aquela teoria considera que
as moléculas não interagem e que são pontos infinitesimais.
Assim, para melhorar a teoria, precisamos
ver o que as interações representam e levar em
conta que as moléculas têm um tamanho defi-
nido. De fato, estas duas características estão
relacionadas, porque quando dizemos que uma
molécula tem um tamanho definido, queremos
dizer que elas exercem forças repulsivas. Quan-
do você toca um objeto, sente seu tamanho e for-
ma porque seus dedos não podem penetrar nele,
isto é devido às forças repulsivas que os átomos
do objeto exercem nos átomos dos seus dedos.
Forças intermoleculares são as atrações
e repulsões entre moléculas.
Todas as moléculas atraem umas as outras quan- Figura 52: Variação da energia potencial de
uma molécula quando ela se aproxima de
do estão separadas por poucos diâmetros outra molécula. A energia potencial au-
moleculares. Porém, elas se repelem assim que suas menta drasticamente assim que as duas
moléculas entram em contato. Uma equa-
nuvens de elétrons entram em contato. A Figura 52, ção usada para descrever esse comporta-
mento é o potencial de Lennard-Jone.
mostra como a energia potencial de uma molécula (Fonte: Brown, T. L.; et al. Química, a ci-
ência central, 9 ed. São Paulo: Pearson
varia com sua distância a uma segunda molécula. Prentice Hall, 2005).

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Química I

Em separações médias, sua energia potencial é mais baixa que


quando estão infinitamente longe. Atrações sempre abaixam a ener-
gia potencial de um objeto. Quando as moléculas entram em conta-
to, a energia potencial começa a subir, porque repulsões sempre
aumentam a energia potencial.
Como sabemos que há atrações e repulsões entre moléculas?
Primeiro, os gases se condensam a líquidos quando resfriados ou
comprimidos, assim suas moléculas têm de atra-
ir-se entre si. Segundo, líquidos são muito difí-
ceis de comprimir, assim, deve haver poderosas
forças se opondo a que as moléculas sejam con-
finadas a um pequeno volume.
Um modo de investigar as forças
intermoleculares é medir o fator de compressão,
Z, o qual é definido como:

Podemos obter algum conhecimento sobre


o significado de Z notando que o volume molar
de um gás ideal é RT/P. Assim, outro modo de
Figura 53 - Gráfico do fator de compressão,
Z, de alguns gases em função da pressão. expressar Z é como a relação do volume molar
Para um gás ideal Z= 1 em todas as pres-
sões. Para alguns gases reais, nos quais as real do gás com o volume molar que teria um
atrações intermoleculares são muito fra-
cas, como H2, Z é sempre maior do que 1. gás ideal na mesma pressão e temperatura.
Para a maior parte dos gases, as forças atra- O fator de compressão de um gás ideal é
tivas dominam em pressões baixas e Z <
1. Em pressões altas, as forças repulsivas 1, assim, divergências de Z = 1 é um sinal de
dominam e Z > 1 para todos os gases.
(Fonte: Brown, T. L.; et al. Química, a ci- não-idealidade. A Figura 53 mostra a variação
ência central, 9 ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2005). experimental de Z para vários gases.
Vemos que todos os gases divergem de Z
= 1 quando a pressão é elevada. Alguns gases, como hidrogênio,
têm Z > 1 para todas as pressões. Para estes gases, as repulsões
são mais importantes que as atrações, e o volume molar é maior
que o esperado para um gás ideal, porque as repulsões tendem a
manter as moléculas separadas.

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Gases ideais e reais

A maioria dos gases, como a amônia, tem Z < 1 a baixas


pressões. Para estes gases, as atrações são mais importantes que
as repulsões, e o volume molar é menor que para um gás ideal,
9
aula
porque atrações tendem a reunir moléculas. Podemos então, re-
sumidamente, definir:
Gases reais consistem em átomos ou moléculas com atrações e
repulsões intermoleculares. As atrações têm um alcance maior que Equação de Van Der Waals
as repulsões. O fator de compressão é uma medida da natureza e
efeito das forças intermoleculares. Equação de estado
para gases não ideais.
É baseada na adição de
correções à equação
dos gases ideais. Os
A EQUAÇÃO DE VAN DE WAALS termos de correção ex-
plicam as forças inter-
moleculares de atração
O cientista holandês Johannes van der Waals investigou mui- e os volumes ocupa-
tos gases reais. Com base em suas observações, ele propôs uma dos pelas próprias mo-
léculas de gás.
equação simples que dá predições mais precisas que a lei do gás
ideal. A equação de van der Waals é:

⎛ n2 ⎞
⎜ P + a 2
⎟(V − nb ) = nRT
⎝ V ⎠
As constantes de van der Waals, a e b, são únicas para cada
gás e são determinadas experimentalmente (Tab. 14). O
parâmetro a representa o papel das atrações, assim é relativa-
mente grande para moléculas que se atraem fortemente. O
parâmetro b representa o papel das repulsões, pode ser pensado
como representando o volume de uma molécula individual.
Os papéis das constantes ficam mais claros quando reorgani-
zamos a equação de van der Waals em:
nRT n2
P= −a
V − nb V 2

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Química I

Tabela 14 - Constantes de van der Waals para moléculas de gás.

Os valores dessas constantes para vários gases estão rela-


cionados na Tabela 14. Observe que os valores tanto de a
quanto de b aumentam com o aumento da massa molecular e
da complexidade de sua estrutura. As moléculas maiores, mais
massivas, não apenas têm volumes maiores como também
tendem a ter forças atrativas intermoleculares mais fortes.
A equação de van der Waals é apenas uma das muitas equa-
ções de estado que foram propostas. Uma das mais utilizadas
é a equação do virial:

⎛ B C ⎞
PV = nRT ⎜⎜1 + + 2 + ..... ⎟⎟
⎝ VM VM ⎠

Os coeficientes B, C etc. são chamados segundo coeficien-


te do virial; terceiro coeficiente do virial, e assim por diante.
Os coeficientes do virial, que dependem da temperatura, são
encontrados ajustando dados experimentais à equação do virial.
A equação do virial é muito mais geral do que a de van der Waals,
porém é muito mais difícil de ser usada para fazer predições.

188
Gases ideais e reais

ATIVIDADES

1. Para determinar a massa molar de um clorofluorcarbono ga-


9
aula
soso (CFC) sintetizado para uso em um sistema de refrigeração,
foi encontrado que a efusão de 25 ml do gás, por uma barreira
porosa, leva 65 s. A efusão do mesmo volume de argônio ocorre
em 38 s, sob as mesmas condições. Qual a massa molar do CFC?
Resolução: A velocidade de efusão é inversamente propor-
cional ao tempo gasto para um determinado volume do gás
efundir. Quanto mais rápida a efusão, menor o tempo gasto.
Combinando esta idéia com a Lei de Graham:

Tempo de efusão de B massa molar de B


=
Tempo de efusão de A massa molar de A

Essa expressão pode ser rearranjada para obter a massa molar de


um gás em termos da massa molar conhecida do segundo gás.
2
⎛ ⎞
Massa molar de CFC ⎜ Tempo para efusão de CFC ⎟
=⎜ ⎟
⎜ ⎟
Massa molar de Ar ⎜ Tempo para efusão de Ar ⎟
⎝ ⎠
Como a massa molar do Ar é 39,95 g mol-1, podemos concluir que
a massa molar do CFC é:
Massa molar do CFC = (65 s/38 s)2 x (39,95 g mol-1)
= 1,2 x 102 g mol-1.

2. Investigadores estudando as propriedades físicas de um gás que


seria usado como um refrigerante em uma unidade de ar-
condicionado precisaram calcular sua pressão quando 1,50 mol foi
confinado em 5,00 L a 0 oC. Das tabelas de coeficientes de van der
Waals, eles sabiam que a = 16, 2 L2 mol atm-2 e b

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Química I

= 8,4 x 10 -2 L mol -1 . Então, a pressão pode ser obtida da


equação acima como:

nRT n2
P= −a 2
V − nb V

(1,50 mol) x (0,082058 L atm K −1 mol−1 ) x ( 273 K )


=
5,00 L − (1,50 mol) x 8,4 x 10 − 2 L mol −1 )
⎛ (1,50 mol) 2 ⎞
− (16,2 L2 atm mol− 2 ) x ⎜ 2

⎝ (5,00 L) ⎠

(1,50) x (0,082058atm) x (273) (1,50) 2


= − (16, 2 atm ) x
5,00 − (1,50) x (8,4 x 10− 2 ) (5,00) 2
= 5,44 atm

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

1. Assim, o CFC pode ser o CCl2F2, que tem esta massa molar
2. Um gás ideal sob as mesmas condições tem uma pressão
de 6,72 atm.

ATIVIDADES

1. Qual(is) propriedade(s) de gases você pode apontar para dar suporte


à suposição de que a maioria do volume em um gás é espaço vazio?
2. (a) Coloque os seguintes gases em ordem crescente de velocida-
de molecular média a 300 K: CO2, N2O, HF, F2, H2. (b) Calcule e
compare as velocidades médias quadráticas das moléculas de H2 e
CO2 a 300 K.
3. Estime a raiz quadrada da velocidade quadrática média de molé-
culas de água no vapor sobre água em ebulição a 100 0C.
4. Suponha ter dois recipientes de 1 L, um contendo N2 nas CNTP,
o outro contendo CH4 nas CNTP. Como esses sistemas se compa-

190
Gases ideais e reais

ram com relação: (a) ao número de moléculas; (b) à densidade; (c) à


energia cinética média das moléculas; (d) à taxa de efusão por um
vazamento por buraco de alfinete?
9
aula
5. O Sulfeto de arsênio (III) sublima-se facilmente, mesmo abaixo
de seu ponto de fusão de 320 oC. Descobre-se que as moléculas da
fase de vapor efundem por um buraco minúsculo a 0,28 vezes a
taxa de efusão dos átomos de Ar nas mesmas condições de tempe-
ratura e pressão. Qual é a fórmula molecular do sulfeto de arsênio
(III) na fase gasosa?
6. (a) Sob quais condições experimentais de temperatura e pressão
os gases em geral se comportam não idealmente? (b) Quais as duas
propriedades ou características das moléculas de gás que fazem com
que elas se comportem de forma pouco ideal?
7. Calcule a razão entre as taxas de efusão de N2 e O2.
8) Se 1,00 mol de um gás ideal estivesse confinado em um volume
de 22,41 L a 0,0 oC, exerceria uma pressão de 1,00 atm. Use a
equação de van der Waals e as constantes da Tabela 1 para estimar
a pressão exercida por 1,00 mol de Cl2(g) em 22,41 L a 0,0 oC.
9. Calcule a pressão que o CCl4 exercerá a 40 oC se 1,00 mol ocupa
28,0 L, supondo que (a) o CCl4 obedece à equação do gás ideal; (b)
o CCl4 obedece à equação de van der Waals. (Os valores para as
constantes são dados na Tabela 1).
10. Um tanque de 10,0 L contendo 25 mol de O2 é armazenado em
uma loja de artigos de mergulho a 25 oC. Use os dados da Tabela 1
e a equação de van der Waals para calcular a pressão no tanque.

191
Química I

N a teoria cinética molecular dos gases, supõe-se que os


átomos ou moléculas que constituem os gases são mas-
sas pontuais que se movem ao redor com uma energia cinética mé-
dia, proporcional à temperatura do gás.
A teoria cinética molecular leva à equa-
ção do gás ideal e ajuda-nos a explicar tais pro-
CONCLUSÃO
priedades dos gases como a efusão, pelas aber-
turas minúsculas, e também a difusão.
Os gases reais são exceções ao comportamento ideal, basica-
mente porque as moléculas de gás têm volume finito e porque as
forças atrativas existem entre as moléculas. A equação de van de
Waals fornece uma explicação mais acurada do comportamento de
gás real a altas pressões e baixas temperaturas.

Experimento com gases (Fonte: http://www.qmc.ufsc.br).

192
Gases ideais e reais

RESUMO

A teoria cinética molecular explica as propriedades de um gás


9
aula
ideal em termos de conjunto de suposições sobre a natureza dos
gases: as moléculas estão em movimento caótico contínuo; o
volume das moléculas de gás é desprezível se comparado ao volume
do recipiente; as moléculas de gás não têm forças atrativas entre elas;
suas colisões são elásticas e a energia cinética média das moléculas
de gás é proporcional à temperatura absoluta. A partir da teoria cinética
molecular, a taxa na qual um gás sofre efusão (escape através de um
buraco minúsculo para um vácuo) é inversamente proporcional à raiz
quadrada de sua massa molar. A difusão de um gás por um espaço ocu-
pado por um segundo gás é outro fenômeno relacionado às velocida-
des nas quais as moléculas movimentam-se. Desvios do comporta-
mento ideal aumentam em magnitude à medida que a pressão aumenta
e a temperatura diminui. Os gases reais desviam do comportamento
ideal porque as moléculas possuem volume finito e sofrem forças atra-
tivas uma pelas outras nas colisões. A equação de van der Waals é uma
equação de estado para gases que modifica a equação do gás ideal
para explicar o volume molecular intrínseco e as forças moleculares.

REFERÊNCIAS

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química. Questionando a


vida moderna e o meio ambiente. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
BROWN, T. L. et al Química: uma ciência central. 9 ed. São Paulo:
Prentice Hall, 2005.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR., P. M. Química Geral. v. 1 e 2. 5 ed.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
MAHAN, B. M.; MYERS, R. J. Química: um curso universitário. 4
ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1995.
RUSSEL, J. B. Química Geral. v. 1 e 2. São Paulo: Makron Books
do Brasil, 1994.

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