06 - Carbono (PEIXOTO, Eduardo, M.A - 1997)

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ELEMENTO QUÍMICO

CARBONO
A seção “Elemento químico” traz informações científicas e
tecnológicas sobre as diferentes formas sob as quais os elementos
químicos se manifestam na natureza e sua importância na história da
humanidade, destacando seu papel no contexto de nosso país. Eduardo Motta Alves Peixoto

Carbono, nome dado por Lavoisier em


1789, do latim carbo, carvão, (carbone, Número atômico Z=6
em francês). No mesmo ano, A.G. Massa molar M = 12,011 g/mol
Werner e D.L.G. Harsten propuseram Ponto triplo
o nome grafite (da palavra grega para (grafite-diamante-líquido): 4000 K e 100 bar
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‘escrever’) para uma das formas alo- Isótopos naturais: C, 13C (1,01 a 1,14%) e 14C
trópicas. Como carvão, o carbono apa-
rece nos mais antigos escritos da huma- O diamante e a grafite são as formas mais importantes de
nidade como, por exemplo, na Bíblia: carbono. Atualmente, no Brasil, a grafite é produzida
Prov. 26, 21 (1000 a.C.) industrialmente na Bahia, para ser usada em eletrodos
Como o carvão é para o borralho, e a lenha para o fogo, industriais. Enquanto a grafite é um lubrificante, o diamante é
assim é o homem contencioso para acender rixas. extremamente duro. Apesar de poder ser quebrado
As escrituras hindus, os Vedas, o Ramayana e o Maha- facilmente, ele é tão duro que pode riscar qualquer material,
34 bharata, mencionam o diamante. Embora conhecido de longa sendo o material de maior dureza conhecido até hoje (10
data, o carbono só veio a ser reconhecido como elemento mohs). O nome diamante parece vir do grego adamas,
químico aos poucos e pelo trabalho de muitos pesquisadores, invencível; termo que já pode ser encontrado em documentos
ao longo da história da humanidade, e definitivamente com do sec. VIII a.C. Esse termo foi usado inicialmente para o
os trabalhos de R.-A.-F. de Réaumur, H.-L. Duhamel du ferro, depois para o corundum e outros minerais e, finalmente,
Monceau, C.W. Scheele, C.-L. Berthollet, A.-L. Lavoisier e para descrever valores espirituais. Até 1729, todos os
outros... Existe em pelo menos sete formas alotrópicas: grafite diamantes vinham de Borneo ou da Índia. No sec. XVIII ele
(alfa e beta), diamante, lonsdaleíta (diamante hexagonal), foi descoberto no Ocidente, e pela primeira vez no Brasil,
caoíta, carbono (VI) e os fulerenos. Na realidade, são vários oferecendo mais uma ‘razão’ para a exploração colonial na
os fulerenos, que têm uma estrutura poliédrica com um átomo América Latina. Embora haja uma produção substancial de
de carbono em cada vértice. Dois exemplos típicos são os diamantes em garimpos, essa produção pouco aparece
C60 e C70 (veja artigo sobre fulerenos em Química Nova na oficialmente, levando-nos a crer que grande parte da
Escola nº 4). Todas essas formas alotrópicas do carbono produção brasileira é contrabandeada. Na realidade, o
têm uma estrutura cristalina bem definida. Existem porém garimpo de diamante no Brasil tem decaído drasticamente,
outras formas de carbono que são amorfas, ou que possuem em grande parte devido aos métodos arcaicos que
um baixo grau de cristalinidade; entre estas estão o negro caracterizam esse comércio, as leis fiscais e as leis de
de fumo (usado em pneus, tintas, papel carbono etc.), o exploração mineral. No século IV a.C., Kautilya, que viveu na
carvão comum (de uso doméstico como combustível em Índia, na corte de Candragupta-Maurya, não só descreveu
churrasqueiras, na fabricação de filtros etc.) e o coque, usa- os diamantes como sugeriu seu uso como pedra preciosa e
do em siderúrgicas. Cada um destes tem um conjunto como objeto de taxação por especialistas treinados para
específico de propriedades físico-químicas. isso. Aqui encontramos a mais antiga referência de
No CO2 atmosférico existe também 14C, uso do diamante como forma de entesouramento.
resultante da decomposição de 14N por No cenário mundial o Brasil figurava em 1980
colisão com nêutrons provenientes do em décimo lugar na produção mundial de
espaço sideral; nessa colisão o 14N pode diamantes brutos, 300 mil quilates (1 quilate=
perder um próton e transformar-se no 14C. 0,200 g) produzidos oficialmente; a ex-União
Este isótopo do carbono é radioativo, Soviética e o Zaire apareciam como os
emitindo partículas beta, β, que nada mais maiores produtores mundiais, com cerca de
são que do elétrons; sua meia vida é de 11 milhões de quilates/ano. Está aí, em gran-
5730 anos. Isso quer dizer que, antes de se de parte, uma explicação para o atual sofrimento
desintegrar totalmente, ele tem um tempo da população do Zaire e de outros povos.
suficientemente longo para se incorporar à
Eduardo Motta Alves Peixoto, bacharel em química pela
biosfera: assim, de todo o carbono que faz parte das C60 FFCL-USP e doutor pela Universidade de Indiana, EUA, é professor
plantas e animais, cerca de 1,2 x 10-10% está como 14C. associado no Instituto de Química da USP, em São Paulo - SP.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Elemento Químico N° 5, MAIO 1997

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