Cultura e Diversidade Apostila 1

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Complementação Pedagógica

Coordenação Pedagógica- IBRA

DISCIPLINA

CULTURA E DIVERSIDADE

1
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3

IDENTIDADE E CULTURA ................................................................................................... 4

VALORIZAÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS.......................................................... 9

DIREITOS HUMANOS ......................................................................................................... 14

Multiculturalismo e Direitos Humanos ............................................................................... 17

DIVERSIDADE CULTURAL ................................................................................................ 23

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 27

2
INTRODUÇÃO

Parte-se do pressuposto que os direitos humanos, civis e políticos tenham

origem no mundo ocidental, de onde trouxeram a sua filosofia e a cultura liberalista.

Estes direitos têm sido usados em discussões que tratam da universalização de

valores, como uma forma de argumento sobre o relativismo cultural a fim de

demonstrar a sua especificidade cultural. Dentre suas principais metas pode-se

mencionar as noções de culturas diferenciadas no regime de direitos humanos, e a

busca por métodos mais democráticos para a formulação de direitos, expandindo a

noção dos direitos de autodeterminação, direitos dos povos indígenas, das minorias e

dos imigrantes, direito ao desenvolvimento, direitos econômicos, sociais, étnicos e

culturais, bem como os direitos relativos à diferença sexual.

O regime de direitos humanos possui uma visão diferenciada da globalização,

e se preocupa com temas como justiça social e solidariedade, os quais são bem

trabalhados. Eles se constituem nas únicas armas à disposição dos fracos e das

vítimas de diferentes tipos de opressão e violência. Em sua versão mais hegemônica

o regime de direitos humanos é um instrumento de homogeneização e, por isso,

“tende a suprir culturas que não sejam dominantes na emergência da teoria moderna

de direitos; existe, no entanto, a possibilidade de ser estendido a outros valores e a

outras culturas” (GHAI in SANTOS, 2010, p. 566).

No que se refere a Direitos Culturais, as Nações Unidas iniciaram um trabalho

que trata sobre o regime internacional de direitos, em que enfatizam os direitos

individuais e evitam cuidadosamente conferir direitos a grupos, demonstrando

reconhecimento das bases culturais e étnicas. Como exemplo pode-se mencionar o

Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, o mais importante nas Nações

3
Unidas em prol das minorias. O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas tem

interpretado de modo mais positivo o fato de que para se desenvolver os direitos

coletivos das minorias é preciso definir algumas obrigações positivas para os Estados.

O Comitê reconhece que alguns assuntos contidos no art. 27 do Pacto visam à

sobrevivência e ao desenvolvimento continuado da identidade cultural, religiosa e

social das minorias.

Como consequência desse desenvolvimento surgiu o regime de direitos

humanos, o qual não é centrado apenas no indivíduo, mas inclui normas de justiça

social e de direitos econômicos. Os direitos humanos não são alheios às diferenças

culturais, mas atacam a pobreza e a alienação, enquanto o conceito de igualdade é

enriquecido de modo a incluir em seu bojo a discriminação positiva e os direitos

coletivos. O reconhecimento do multiculturalismo foi uma resposta às reivindicações

de vários povos, pois grupos multiculturais apresentaram suas reivindicações no

âmbito de diferentes paradigmas de direitos, como: indivíduo e grupo, igualdade e

preferência, e uniformidade e identidade. A partir daí surgiram acordos constitucionais

em sociedades multiétnicas, exigindo um equilíbrio de interesses.

IDENTIDADE E CULTURA

A identidade cultural, assim como o multiculturalismo, as nacionalidades e a

cidadania transformam-se em objeto de análise não apenas por sua relevância, mas

pela necessidade de estudo e abordagem dos fenômenos nos quais atuam. Entendida

como valores, representações, símbolos e patrimônio, assimilados e compartilhados

por comunidades, a identidade se encontra no centro dos questionamentos das

ciências humanas. Noções de cultura, tradicionalmente, aplicam-se a realidades

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específicas. Há necessidade de identificar a cultura como parte importante do

reconhecimento humano e da luta pela identidade do ser como pessoa.

Busca-se desvendar estilos de vida que remetam à noção de cultura de

minorias, como:

Grupos étnicos, religiosos e também de identidades. Hall afirma que “a

identidade somente se torna uma questão quando existe crise, quando algo que se

supõe fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza”

(HALL, 2006, p.9).

O aparecimento da cultura opera uma mudança de órbita na evolução. “São as

culturas que se tornam evolutivas, por inovações, absorção do aprendido,

reorganizações; são as técnicas que se desenvolvem; são as crenças e os mitos que

mudam [...]” (MORIN, 2007, p.35). A cultura seria, pois, a maneira como se

manifestam saberes.

A cultura é constituída pelo conjunto de hábitos, costumes, práticas, saberes,

normas, interditos, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos que perpetuam de

geração em geração, se reproduzindo em cada indivíduo e gerando uma

complexidade social. Martinazzo menciona que “o homem constitui-se na

complexidade da organização biológica e da integração sociocultural onde as

instâncias biológica, cerebral, individual, social, cultural, ecológica e política estão em

contínua interação” (MARTINAZZO, 2004, p.76). A cultura acumula o que é

conservado, transmitindo o aprendido e comportando vários princípios de aquisição e

programas de ação. Em cada sociedade a cultura é protegida e mantida para que

possa haver o reconhecimento da identidade do grupo. Neste sentido menciona Taylor

(1994, p.48):

5
[...] a importância do reconhecimento foi-se modificando e aumentando com a

nova compreensão da identidade individual que surgiu no final do século XVIII.

Podemos falar de uma identidade individualizada, ou seja, aquela que é

especificamente minha, aquela que eu descubro em mim. Esta noção surge

juntamente com um ideal: o de ser verdadeiro para comigo mesmo e para com a minha

maneira própria de ser.

A necessidade de reconhecimento das identidades faz com que a pessoa

descubra o seu próprio ser. O termo “identidade” foi promovido a um dos conceitos-

chave das ciências humanas dos últimos tempos, e um número considerável de

estudos em ciências políticas consagrou-se à questão das identidades comunitárias

ou nacionais.

Taylor menciona ainda que:

Consideremos o significado de identidade: é aquilo que nós somos, de onde

nós provimos. Assim definido, é o ambiente no qual os nossos gostos, desejos,

opiniões e aspirações fazem sentido. Se algumas das coisas a que eu dou mais valor

estão ao meu alcance apenas por causa da pessoa que eu amo, então ela passa a

fazer parte da minha identidade. (TAYLOR, 1994, p.54)

Fala-se então que identidade, em seu conceito de diferença, contém elementos

inclusivos e excludentes, pois ao mesmo tempo em que integra um indivíduo a um

grupo, ela o excluí em razão da provável diferença entre as pessoas de uma

comunidade. A reivindicação da identidade pode exprimir um sentimento de ser, de

saber diferente.

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Na atualidade, a cultura pode traduzir uma resposta ao sentimento de perda de

identidade do homem, assim como uma nova função atribuída à noção da cultura

implica em outras abordagens e novos deslocamentos. Ela não pode mais definir-se

como um domínio exclusivamente estético, intelectual e antropológico, pois sua

concepção se expande vindo a designar, igualmente, saber, escolha de existência,

domínio de análise, prática de comunicação e de interação, por isso a busca pela

identidade. Segundo menciona Bertaso (2010, p.58):

[...] a problemática que o multiculturalismo nos coloca envolve a necessidade

de redefinição e de reinterpretação da cidadania na sua ambivalência e complexidade

para que possa sustentar a convivência humana, respeitando as diferenças próprias

de cada cultura, sem prejuízo da manutenção da ideia de igualdade que encerra um

avanço social e político, e que revestiu a todos de uma couraça de direitos gerais,

independentemente das condições étnicas de cada cidadão.

A história cultural substitui a ambígua história das mentalidades. Pode-se dizer

que os conceitos de cidadania trouxeram realidades diferentes à pessoa que preza

muito mais pelos ideais de igualdade e interessa-se por outros níveis de análise, como

algumas noções de comunicação distintas que implicam: a transmissão, a aquisição,

o dito, o pensado, o imaginado e o criado.

Nessa linha, afirma Taylor (1994, p.87) que:

[...] todas as culturas humanas que dinamizaram sociedades inteiras, durante

um considerável espaço de tempo, têm algo de importante a dizer sobre todos os

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seres humanos. Exprimo-me desta maneira para excluir contextos culturais parciais

no seio de uma sociedade, assim como pequenas fases de uma grande cultura.

O reconhecimento da existência de exclusões de minorias étnicas no seio das

democracias ocidentais é a grande razão do aparecimento do multiculturalismo. A

correção de injustiças pressupõe uma definição dos meios que permitem a

coexistência de culturas diferentes dentro de uma sociedade democrática. Na

perspectiva dos multiculturalistas, a concepção liberal de cidadania não passa de uma

ficção, uma vez que o universalismo, reivindicado por ela, não seria senão um

etnocentrismo camuflado. Assim, longe de pretender enfraquecer a democracia, o

reconhecimento das minorias seria a legitimidade social.

No que concerne ao contexto brasileiro, à questão cultural e às interrogações

inerentes aos efeitos da globalização, tem-se que o fenômeno da globalização

acentua o sentimento de perda de identidade, ou seja, em um mundo de

metamorfoses, se a globalização proporciona novas solidariedades planetárias, como

ecologia e direitos humanos, elas devem reforçar as necessidades de reconhecimento

das diferenças. Num mundo sem fronteiras e sem referências, a busca por identidades

se acelera, favorecendo múltiplas solidariedades, portadoras de identidades de

substituição, em níveis nacional, local e individual, podendo modificar os modos de

vida das pessoas e a própria cultura, ou seja, a globalização provoca uma

fragmentação e uma uniformização. Deste sentimento de instabilidade, que conduz o

indivíduo a incessantes tomadas de riscos, resultam os “mal-estares” da identidade

contemporânea, como bem constata Giddens (1991).

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VALORIZAÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS

No sentido de verificar identidades culturais há de se falar em nacionalismo,

que aparece como revelador de tempos de crises e de imprevisibilidades. Sem dúvida,

o nacionalismo e suas variantes, como racismos, canalizam reações e sentimentos

distintos. O retorno às origens culturais e suas reações por parte das nações podem

traduzir a perda das certezas na ideia de progresso, ou seja, o sentimento de perda

de um futuro. Por isso, expressa Hall (2006, p.76) que:

As identidades nacionais, como vimos, representam vínculos a lugares,

eventos, símbolos, histórias particulares. Elas representam o que algumas vezes é

chamado de uma forma particularista de vínculo ou pertencimento. Sempre houve

uma tensão entre essas identificações e identificações mais universalistas – por

exemplo, uma identificação maior com a “humanidade” do que com a “inglesidade”

(english-ness).

O estudo sobre o passado das origens das nações e o retorno às reivindicações

culturais dos povos tiveram por consequência junto às ciências humanas, a

revalorização do paradigma das identidades. O culto do passado predispôs a própria

disciplina história a se mobilizar na construção de memórias e de identidades

particulares. Esse fato adquiriu uma dimensão inédita no mundo onde se inventam

entidades nacionais que encontram na construção de um passado.

Neste sentido menciona Caldera (2003, p.355):

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A identidade, por outra parte, é condição da universalidade. Identidade e

universalidade são termos indissociáveis. Somente se tem identidade na medida em

que as expressões particulares se integram na universalidade das culturas. Somente

se alcança a universalidade quando esta se forma pela convergência de múltiplas

determinações, pelo que chamamos de unidade na diversidade.

A identidade cultural é uma construção ou uma reconstrução feita a partir de

elementos e tem uma finalidade evidente: é uma máquina de sobrevivência, que utiliza

o passado e o futuro para reconfortar o presente, a partir de questões vinculadas à

ideia de soberania e de diversidade cultural. “A descoberta da minha identidade não

significa que eu me dedique a ela sozinho, mas, sim, que eu negocie, em parte,

abertamente, em parte, interiormente, com os outros” (TAYLOR, 1994, p. 54).

Não há como refrear a suposta homogeneidade cultural construída ao longo do

desenvolvimento da humanidade pelos diversos grupos étnicos e, neste sentido, a

heterogeneidade tem se constituído predominante da sociedade contemporânea. Por

isso há que se reconhecer que muitas são as dificuldades que se verificam perante

essa realidade irrevogável e irreversível.

Um dos obstáculos percebidos na busca pela convivência pacífica e tolerante

relaciona-se à visão de que, não raro, a diferença é associada à inferioridade e

desigualdade, e o outro se torna inferior e passa a representar uma ameaça aos

padrões de determinados grupos. Padrões fixados nas culturas ocidentais brancas,

letradas, masculinas, heterossexuais e cristãs, estão arraigados no imaginário social

e naturalizados cotidianamente nos diversos espaços de convivência humana,

afetando tanto os grupos minoritários como os pertencentes a grupos diferentes. São

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padrões culturais definidos e impostos a grupos ocidentais brancos que se dizem mais

capazes e melhores que os demais existentes, tornando os diferentes alvos de

exclusão, discriminação e preconceito.

Segundo Canclini (2009, p.55):

As teorias do étnico e do nacional são, em geral, teorias das diferenças. Por

outro lado, o marxismo e outras correntes macrossociológicas (tais como as que se

ocupam do imperialismo e da dependência) dedicam-se à desigualdade. Em alguns

autores encontram-se combinações de ambos os enfoques, como certos enfoques do

nacional em estudos sobre o imperialismo ou contribuições à compreensão do

capitalismo em especialistas da questão indígena. Quanto aos estudos sobre

conectividade e desconexão, concentram-se nos campos comunicacional e

informático, com escasso impacto nas teorias socioculturais.

Algumas ideologias, como a do branqueamento, estão centradas numa visão

etnocêntrica de mundo, isto é, na cultura do próprio grupo como a única aceitável e

correta, conforme as identidades projetadas de si mesmos e reproduzidas como uma

espécie de repressão, afetando a vivência social de todos os grupos culturais, sejam

os ditos superiores ou inferiores.

Por isso, torna-se difícil, muitas vezes, situar quem é quem no jogo das

diferenças, nas relações de poder desiguais, de quem se posiciona na condição de

dominante ou de dominado, uma vez que em todos os grupos culturais existem

aqueles que são discriminados e discriminadores.

Cabe aqui mencionar o exemplo de um sujeito negro que é discriminado por

outro branco, mas que maltrata a mulher em casa; ou de um praticante do candomblé

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que é alvo de preconceito dos católicos, porém combate os evangélicos ou a união

estável entre pessoas do mesmo sexo; ou mesmo o caso de um gay ou lésbica que

sofre na pele o preconceito pela sua condição sexual, mas que não deixa de assumir

posição racista diante de uma pessoa negra. Percebem-se muitos atos

discriminatórios que não são bem reproduzidos devido ao desconhecimento cultural

ou uma não aceitação. No entendimento de McLaren (2000, p.111):

As primeiras tendências do multiculturalismo conservador podem ser

encontradas naquelas visões coloniais em que as pessoas afro-americanas são

representadas como escravos e escravas, como serviçais e como aqueles que

divertem os outros, visões que estiveram fundamentadas nas atitudes profundamente

autoelogiosas, autojustificatórias e profundamente imperialistas dos europeus e norte-

americanos [...] as pessoas africanas eram comparadas, pela sociedade branca, aos

animais selvagens ou às crianças cantantes e dançantes de corações dóceis.

Nas sociedades contemporâneas ocidentais as lutas pelo poder não se

desenrolam somente no espaço político e econômico, mas ampliam-se para o terreno

cultural e, também, para um cenário de interdependência global e de intercâmbios

culturais, contribuindo para promover discriminações, atingindo grupos

economicamente mais fragilizados. Assim, a mobilização de esforços vai se tornando

urgente e inadiável no sentido de solucionar e combater a opressão ou, em última

instância, aliviar as tensões, conter a propagação dos racismos, bem como reafirmar

os direitos humanos, garantindo o direito à pluralidade e às diferenças culturais a fim

de evitar abalos mais profundos nos alicerces da ordem vigente.

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Em virtude de tantas mudanças que vêm acontecendo com a globalização

mundial, as agências internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU),

via Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO), juntamente com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e

o Banco Mundial acionaram seus paísesmembros para que fossem intensificadas as

discussões sobre educação, tolerância e respeito à diversidade cultural, já que este

representa um problema indistinto para pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e

homens, independente de classe ou grupo social (SILVA, 2012).

Nesse sentido são traçadas metas, definidas propostas e promovidos eventos

como conferências para manter o controle dos antagonismos sociais e culturais. Por

meio desses eventos o Brasil pode assumir o compromisso de reformular os discursos

e implementar reformas nos sistemas educacionais e curriculares oficiais, articulando

princípios de educação para a tolerância, cultura e respeito às diferenças culturais

entre povos, etnias, nações.

Sobre este tema, Touraine (2006, p.171) menciona que:

Os direitos culturais não visam apenas à proteção de uma herança ou da

diversidade das práticas sociais; obrigam a reconhecer, contra o universalismo

abstrato das luzes e da democracia política, que cada um individual ou coletivamente

pode construir condições de vida e transformar a vida em social ou coletivamente,

pode construir condições de vida e transformar a vida social em função de sua maneira

de harmonizar os princípios gerais da modernização com as „identidades‟

particulares.

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Levar em conta culturas simples e de educação implica repensar formas de

reconhecer, valorizar e incorporar as identidades plurais em políticas e práticas

curriculares. É estimular na educação práticas sobre respeito e igualdade as quais

levam à civilidade. Refletir sobre mecanismos discriminatórios que tanto negam voz a

diferentes identidades culturais, silenciando manifestações e conflitos culturais, bem

como buscando homogeneizá-las. Tais reflexões constituem o alicerce para se situar

o multiculturalismo no terreno educacional.

DIREITOS HUMANOS

Com relação ao impacto causado pelo Direito Internacional dos Direitos

Humanos, pode-se afirmar que o direito brasileiro passou por um importante processo

de democratização. Este processo possibilitou a reinserção do Brasil no meio

internacional no tocante à proteção dos direitos humanos e permitiu a ratificação de

relevantes tratados internacionais de direitos humanos. A incorporação desses

tratados permitiu o fortalecimento do processo democrático e assegurou a

implantação dos direitos humanos, vindo a reforçar a sua proteção e garantir as

respostas jurídicas exigidas nos casos de sua violação.

Os direitos humanos são o desafio mais coerente e poderoso à ideologia da

globalização. A globalização é orientada para o indivíduo, glorifica a cobiça e os

incentivos aos indivíduos, ao mesmo tempo que trata as pessoas como mercadorias

(trabalho) ou como consumidores, que é guiada pelo lucro, fragmenta e destrói

comunidades, apropria-se de bens comuns, produz vulnerabilidade e insegurança

sem valores comuns. A globalização baseia-se em monopólios e hierarquias. Por

14
outro lado, o regime de direitos humanos enfatiza a democracia e a participação, a

solidariedade, a ação coletiva e a responsabilidade, e procura assegurar as

necessidades básicas, a dignidade, o reconhecimento social e a segurança. (GHAI,

2010, p. 565-566).

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi um marco na

instituição dos direitos humanos e da democracia. “Para o estado brasileiro a

prevalência dos direitos humanos é princípio a reger o Brasil no cenário internacional,

e está consequentemente admitindo a concepção de que os direitos humanos

constituem tema de legítima preocupação e interesse” (PIOVESAN, 2010, p.74). O

texto constitucional enfatiza a ruptura com o regime militar, e após a sua

institucionalização tem buscado resgatar o estado de direito, a separação dos

poderes, a Federação, a democracia e os direitos fundamentais à luz do princípio da

dignidade humana. É então que como fundamento do Estado Democrático de Direito,

a dignidade da pessoa humana se impõe na condição de status básico do

ordenamento jurídico, ou seja, como valoração do sistema constitucional.

Sob este regime constitucional os tratados de direitos humanos são

incorporados automaticamente pelo direito brasileiro e passam a se apresentar como

norma instituída, versando de maneira diferenciada sobre os tratados tradicionais que

necessitam de legislação apropriada e se tornam infraconstitucionais. Os direitos

internacionais, por força do princípio da norma mais favorável à vítima, que assegura

a prevalência da norma que melhor proteja os direitos humanos, vêm aprimorando e

fortalecendo a proteção dos direitos consagrados no plano normativo constitucional.

Esta proteção tem permitido a tutela, a supervisão e o monitoramento de direitos por

organismos internacionais.

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A significativa atuação dos órgãos internacionais tem provocado o surgimento

de organizações que defendem os movimentos sociais como lutas de grupos isolados,

a exemplo do movimento das mulheres, dos negros, dos ambientalistas, de entidades

de defesa das crianças e adolescentes, dos idosos, dos portadores de necessidades

especiais, de movimentos pela saúde, entre outros.

O Brasil tem adotado importantes medidas para a incorporação de instrumentos

internacionais voltados à proteção dos direitos humanos. Dentre as principais estão:

a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e a Convenção Internacional

sobre a

Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de 1969. Esses

instrumentos foram firmados em momento anterior à Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, mas foram necessários ao trabalho de incorporação às

lutas no país. No que se refere aos Direitos Culturais pode-se referenciar a Declaração

Universal sobre Diversidade Cultural, firmada com a Unesco no ano de 2002.

Vislumbra-se, portanto, no cenário brasileiro, os significativos avanços que vêm

ocorrendo em busca dos direitos humanos, cuja luta é reivindicada pelos movimentos

sociais que possuem excelente apoio normativo. Segundo Piovesan, “o reflexo da

crescente importância da temática dos direitos humanos no âmbito do poder

Legislativo é a criação de comissões de Direitos Humanos nas casas do legislativo”

(PIOVESAN, 2010, p. 434). Isso implica em discussões com maior poder de eficácia,

pois se tornam possíveis atos normativos que visam a fortalecer as lutas contra a

discriminação e as desigualdades sociais.

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Multiculturalismo e Direitos Humanos

A efetividade dos direitos humanos tem sido conquistada por meio de

processos políticos de âmbito nacional e, no caso de algum tipo de fragilização por

parte do Estado, estes também são atingidos. Os direitos humanos da atualidade

aspiram um conhecimento mundial e podem ser considerados os pilares fundamentais

de uma política pós-nacional. Falar em cultura e religião é se referir a diferenças, cujas

fronteiras possam garantir formas de inclusão social. Para Santos, “enquanto forem

concebidos como direitos humanos universais, os direitos humanos terão a operar

como localismo globalizado e, portanto, como forma de globalização hegemônica”

(SANTOS, 2010, p. 438). Segundo o autor, porém, para poderem operar de acordo

com o cosmopolitismo, como globalização contra-hegemônica, os direitos humanos

têm de ser reconhecidos como multiculturais. A relação entre competência global e

legitimidade local é a pré-condição de uma política contra-hegemônica de direitos

humanos, que exige sua transformação à luz do chamado “multiculturalismo

emancipatório”. Neste sentido, Santos (2010, p.439) afirma:

[...] existe uma natureza humana universal que pode ser conhecida

racionalmente; a natureza humana é essencialmente diferente e superior à restante

realidade; o indivíduo possui uma dignidade absoluta e irredutível que tem de ser

defendida da sociedade ou do Estado; a autonomia do indivíduo exige que a

sociedade esteja organizada de forma não hierárquica, como soma de indivíduos

livres.

17
Os estudos levam a crer, portanto, que a dimensão sociológica da

universalidade dos direitos humanos tem se sobreposto à universalidade filosófica. A

Declaração Universal dos Direitos Humanos é um exemplo do reconhecimento de

direitos da época (1948), que teve como prioridade os direitos coletivos, cívicos e

políticos em desfavor dos direitos econômicos, sociais e culturais. Milhares de

pessoas e de organizações não governamentais têm lutado pelos direitos humanos

em todo o mundo, muitas vezes correndo grandes riscos em defesa de classes sociais

e de grupos oprimidos, vítimas de Estados autoritários, de práticas econômicas

excludentes e de políticas culturais discriminatórias. À medida que essas lutas e

debates evoluem a um diálogo competitivo entre culturas diferentes sobre o princípio

da dignidade da pessoa humana é natural que induzem movimentos no sentido de

buscar valores máximos ou mínimos existenciais.

A busca por direitos humanos, pela defesa e promoção da dignidade humana

não é mero pensamento, mas é prática da entrega moral, afetiva e emocional baseada

na inconformidade e nas exigências de ações concretas por parte da sociedade. Uma

concepção idealista de diálogo intercultural pode esquecer facilmente que tal diálogo

só é possível por intermédio da troca de informações em contemporaneidades

diferentes. Na verdade, cada um propõe a sua tradição histórica de cultura, e assim,

quando diferentes culturas se envolvem partilham histórias de sociedades desiguais.

Santos (2010, p.454) comenta ainda que:

Em um tempo de intensificação das práticas sociais e culturais transnacionais

o fechamento cultural é, quando muito, uma aspiração piedosa que na prática oculta

e implicitamente aceita a „fatalidade‟ de processos caóticos e incontroláveis de

desestruturação, contaminação e hibridação cultural. Tais processos são baseados

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em relações de poder e em trocas culturais tão desiguais que o fechamento cultural

se transforma na outra face da conquista cultural.

Resta saber se a conquista cultural pode ser substituída por diálogos

interculturais baseados em condições de mútuo acordo. As condições do

multiculturalismo podem variar no tempo e no espaço segundo as culturas envolvidas

e as relações de poder entre elas. Parte-se do princípio de que a cultura seja completa

no momento em que antecede o diálogo intercultural. Deve haver uma pré-

compreensão advinda da consciência da cultura incompleta e deste pensamento

nasce o impulso individual ou coletivo para o diálogo intercultural.

Sabe-se que as culturas possuem variedades e essa diversidade se aprofunda

na medida em que progride a hermenêutica. “Das diferentes versões de uma dada

cultura deve ser escolhida para o diálogo intercultural a que representa o círculo de

reciprocidade mais amplo, a versão que vai mais longe no reconhecimento do outro”

(SANTOS, 2010, p. 455).

Entre as versões de direitos humanos, portanto, deve ser privilegiado o

socialdemocrático, pois prega a igualdade e se estende aos campos econômico e

social. Cabe a cada sociedade cultural decidir quando está pronta para o diálogo

intercultural. Este tempo, da mesma forma como num diálogo intercultural, resulta de

um acordo entre as sociedades envolvidas.

O processo histórico, cultural e político atua no sentido de permitir que a

alteridade de uma determinada cultura se torne significativa para outra, sendo sua

expressiva variação resultado do conjunto de outros fatores. Diz-se que as lutas de

libertação e o pós- colonialismo foram de grande influência para a alteridade

significativa. Com relação aos temas, “a convergência é muito difícil de alcançar, não

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só porque a tradução intelectual dos temas é inerente à problemática, mas também

porque em todas as culturas há temas demasiado importantes para serem incluídos

em um diálogo com outras culturas” (SANTOS, 2010, p. 457). A maioria das

comunidades culturais distribui os indivíduos e os grupos sociais segundo dois

princípios de vínculo hierarquizado, ou seja, trocas entre desiguais ou grupos

formalmente iguais, como raça e sexo, e as concepções rivais entre igualdade e

diferença. O multiculturalismo pressupõe que o princípio da igualdade seja utilizado

num mesmo patamar com o princípio do reconhecimento da diferença, o que permite

concluir que todos os grupos sociais têm o direito de buscar o reconhecimento da

igualdade. Nesse sentido, Honneth afirma:

A „honra‟, a „dignidade‟ ou, falando em termos modernos, o „status‟ de uma

pessoa, refere-se, como havíamos visto, à medida de estima social que é concedida

à sua maneira de auto-realização no horizonte da tradição cultural; se agora essa

hierarquia social de valores se constitui de modo que ela degrada algumas formas de

vida ou modos de crença, considerando-as de menor valor ou deficientes, ela tira dos

sujeitos atingidos toda a possibilidade de atribuir um valor social as suas próprias

capacidades. A degradação valorativa de determinados padrões de auto-realização

tem para seus portadores a consequência de eles não poderem se referir à condução

de sua vida como a algo a que caberia um significado positivo no interior de uma

coletividade; por isso, para o indivíduo, vai de par com a experiência de uma tal

desvalorização social, de maneira típica, uma perda de auto-estima pessoal, ou seja,

uma perda de possibilidade de se entender a si próprio como um ser estimado por

suas propriedades e capacidades características (2003).

20
A Constituição Federal de 1988 teve papel de suma importância no processo

de democratização e de consolidação dos direitos humanos no Brasil. Isto porque

tanto o Brasil como os demais países da América Latina encontravam-se diante de

um duplo desafio: primeiro, romper com o legado autoritário de seus regimes

ditatoriais, nos quais prevalecia uma baixa cultura de direitos humanos e, depois,

consolidar o regime democrático e os direitos humanos internacionalmente

consagrados. A Constituição Federal de 1988 representou a ruptura desse regime e

deu início à consolidação da democracia, instaurando uma nova ordem política e

institucional, marcada por uma forte preocupação com a proteção dos direitos

humanos.

A Constituição Federal de 1988 aumentou o rol de direitos e garantias previstos

em seu texto fundamental, levando o Estado brasileiro a reverter a sua percepção de

deveres do súdito em obrigações de cidadania, com fundamento nos direitos dos

cidadãos. Os direitos e garantias fundamentais encontram-se organizados no Título II

da Constituição Federal de 1988 – Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Não foi

sem razão que o princípio da dignidade humana passou a ser considerado um dos

fundamentos do Estado Democrático de Direito no Brasil, com o entendimento de que,

além de fundamento do Direito Internacional dos Direitos Humanos, passou a ser

igualmente fundamento das ordens jurídicas internas. Com isso, a Constituição

Federal aumentou o seu rol de direitos e garantias, abarcando direitos civis e políticos,

assim como direitos econômicos, sociais e culturais. Esta foi, portanto, a primeira

Constituição a inserir em sua declaração de direitos, os direitos sociais que

anteriormente encontravam-se esparsos pela ordem econômica e social.

Um aspecto importante da Constituição Federal de 1988 a ser considerado é o

fato de ela prever uma série de princípios que passaram a reger o país em suas

21
relações internacionais. Estes vieram a reforçar preocupações com a dignidade da

pessoa humana, como o princípio da independência nacional e o princípio da não

intervenção e de defesa da paz, realçando uma visão internacional. Estas conquistas

são fruto da consagração do princípio da prevalência dos direitos humanos, da

autodeterminação dos povos, do repúdio ao terrorismo e ao racismo e da cooperação

entre os povos para o progresso da humanidade.

O princípio dos direitos humanos, nas palavras de Piovesan (2007, p.40),

invoca a abertura da ordem jurídica ao sistema internacional de proteção dos direitos

humanos, o engajamento do país tanto no processo de normas vinculadas ao Direito

Internacional dos Direitos Humanos, quanto na integração destas regras no

ordenamento jurídico pátrio.

Ademais, implica na assunção do compromisso de adotar uma posição política

contrária aos Estados em que os direitos humanos sejam gravemente violados e no

reconhecimento da existência de limites e condicionamentos à soberania estatal.

No âmbito internacional é possível mencionar que a Carta Constitucional de

1988 transformou os Direitos Humanos em tema global, admitindo a preocupação

para com seu povo e contribuindo para os interesses da sociedade mundial. O texto

constitucional rompeu paradigmas trazidos pelas Constituições anteriores, e

estabeleceu um regime jurídico diferenciado. Por intermédio de tratados foram fixadas

novas normas e condutas, a exemplo do art. 5º, que atribuiu aos Direitos Humanos

Internacionais a natureza de normas constitucionais, a dignidade da pessoa humana,

e os direitos e garantias fundamentais que passaram a fazer parte dos princípios

constitucionais, exigindo justiça e valores étnicos como suporte do sistema jurídico

brasileiro. Assim, pode-se constatar que o conceito de cidadania foi ampliado na

medida em que aumentaram e foram incluídos os direitos internacionais e nacionais

22
no cenário global dos direitos humanitários. Ademais, há uma relação de direitos e

deveres entre os cidadãos, capaz de fazer jus ao Direito Internacional Global.

DIVERSIDADE CULTURAL

Os Estados-membros da Unesco adotaram por ocasião da Conferência de

Geral de Paris, em 2001, a Declaração Universal sobre Diversidade Cultural, a qual

passou a ter vigência em 2002, e inseriu em seu art. 1º a diversidade cultural como

patrimônio da humanidade. Segundo Montiel (2003, p. 464), este foi o primeiro acordo

político de envergadura universal que buscou enquadrar de modo construtivo os

efeitos da mundialização no âmbito da cultura. A Declaração reforça a ideia de que a

cultura toma formas ao longo do tempo e do espaço e que a diversidade está

incorporada na unicidade e pluralidade das identidades de grupos e sociedades que

representam a riqueza da humanidade.

A diversidade cultural está posta como fonte de troca, inovação e criatividade

da espécie humana. A diversidade cultural foi uma das bandeiras internacionais que

o Brasil defendeu em reuniões de organismos multilaterais, propondo garantias às

culturas existentes. Tal ação gerou uma presença importante na redação final,

aprovação do texto da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das

Expressões Culturais, e reafirmação da diversidade como direito dos povos e diálogo

entre identidades culturais.

No Programa Cultural para o Desenvolvimento do Brasil, em 2006, o Ministério

da Cultura pontuou a discussão sobre cultura em três aspectos, visando à construção

de políticas públicas: cultura como expressão simbólica estética e antropológica; como

direito e cidadania de todos os brasileiros; e como economia e produção de

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desenvolvimento. A expressão cidadania cultural diz respeito à luta pela superação

de desigualdades, e ao reconhecimento das diferenças reais existentes entre as

pessoas em suas dimensões sociais e culturais. A cidadania cultural se insere na

perspectiva democrática, em que a cultura é vista como direito dos cidadãos, os quais

possuem o direito de produzir cultura, usufruir os bens da cultura, a invenção de novos

significados culturais, o direito à formação cultural e artística e o direito ao trabalho

cultural.

A sociedade atual coloca desafios à democracia, a exemplo da capacidade de

confirmar a consolidação da dignidade a todos os indivíduos e grupos sociais, na

busca de satisfazer as necessidades universais. Nesse sentido, Bertaso (2007, p. 57-

58) expressa sua preocupação:

Questões como diferenças étnicas, religiosas, de sexo, de representatividade

das minorias, bem como os constantes fluxos migratórios que, de sua vez, também

desafiam a sociologia, a política, a filosofia e o direito, remetendo à problemática da

realização da cidadania em sociedades multiculturais.

O cenário social brasileiro construído por estudiosos supõe que exista em meio

à democracia política um fator de caráter miscigenador, um povo misturado, mestiço,

pluriétnico. Com a teoria do multiculturalismo pode-se afirmar que a linguagem possui

importante papel no quesito reconhecimento, pois oferece aos negros, índios e

mestiços do Brasil estrutura para que compreendam sua experiência através dos

tempos no que diz respeito à inclusão e à legitimação da sua realidade cultural. No

período da Colonização do Brasil pelos portugueses viviam aqui uma centena de

etnias indígenas e outras dezenas de etnias africanas foram trazidas para o país. Os

portugueses vinham como titulares das armas que oprimiam e tiravam dos índios suas

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terras e suas vidas, escravizando-os. Tiravam também dos africanos toda a sua força

social, retirando-os da África e os transformando em escravos.

A miscigenação que aconteceu foi resultado de uma mistura com muita

violência. “A forma de organização e expressão é patrimônio cultural brasileiro

respeitada na sua individualidade.

Modos de criar, fazer e viver” (ROCHA, 2012).

É sabido que trocas de experiências fortalecem fronteiras de acordo com a

visão de mundo que se incorpora ou se tenta incorporar. A dimensão antropológica

do conceito de cultura visa à formação do homem como pessoa humana, à valorização

de seu modo de viver, pensar, de suas manifestações simbólicas e materiais, e busca

neste sentido ampliar-se de informações culturais, enriquecendo sua capacidade de

agir sobre o mundo.

Gruman (2012) menciona que a diversidade não implica em aceitação

incondicional dos modos de vida do “outro”, mas na compreensão que o “outro” tem

suas razões para se comportar de tal ou qual maneira, de acreditar nisto ou naquilo,

ainda que eu não considere a melhor maneira de se comportar ou de pensar.

Faz-se necessário então compreender que existe uma humanidade que exige

valores comuns e imprescindíveis para a sociedade multicultural. A Declaração

Universal da Unesco sobre a Diversidade Cultural reconhece o importante papel do

diálogo intercultural, e trabalha a noção de diversidade cultural compartilhada com a

humanidade comum, ou seja, “não somente a responsabilidade e um respeito para

com o outro, mas também a crença na capacidade de compreender e amar o outro”

(MONTIEL, 2003, p.44). As políticas que favorecem a inclusão e a participação de

todos também promovem a coesão social, a melhoria da sociedade civil em termos

humanitários. O pluralismo cultural pode representar uma resposta política e social à

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diversidade cultural, favorecendo a interação entre culturas e o desenvolvimento de

capacidades que estimulam as sociedades, uma vez que a cultura apoia o

desenvolvimento humano.

Ao se falar em diversidades culturais despontam estudos que revelam que as

sociedades devem assumir formas de solidariedade humana capazes de transformar

a globalização, cujo fenômeno pode mudar o mundo.

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