Julgamento de Capitu
Julgamento de Capitu
Julgamento de Capitu
O JULGAMENTO DE
CAPITU
Inspirado no romance Dom Casmurro, Machado de Assis
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COLÉGIO DIOCESANO DE BELO JARDIM
Diocesano Monsenhor Francisco de Assis Neves
ELENCO DO JÚRI
ELENCO DE APOIO
COORDENADORAS
COLABORADORES
SONOPLATIA
EDIÇÃO
Profª. Esp. Bárbara Soares da Silva
DIREÇÃO
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(as personagens que estarão em cena será a promotora, a escrivã e os jurados. As testemunhas estarão na
plateia.) (toque vivo da campainha para iniciar a sessão)
1. FALA DA PROMOTORIA: (promotora levanta-se dando sinal para que todo no recinto façam a mesma
coisa)
(A juíza entra ao som de Every Breath you take instrumental – 2 cellos. Faz sinal para que todos se sentem.
Senta-se. Todos se sentam)
PROMOTORIA:
- Peço a atenção dos senhores para a chamada dos jurados. Proceda a sra escrivã, à chamada dos jurados. À
medida que forem chamados, os Srs. jurados respondam presente.
3. FALA DA JUÍZA:
- (olha para os jurados e faz sinal para eles levantarem) Levantem-se todos! Após o proferimento das
seguintes palavras, vocês devem responder: ―Assim o prometo!‖
- Srs. Jurados, em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa deci-
são de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.
JURADOS:
- ―Assim o prometo!‖
-―Será submetido a julgamento o processo nº 148. 217, que o Sr. Bento de Albuquerque Santiago move contra
sua esposa, a Srª Maria Capitolina Santiago, por infração ao art. 250. Secção III, Capítulo II referente aos
crimes contra a segurança da honra. Dos crimes contra a segurança Individual, PARTE TERCEIRA Dos crimes
particulares do Código Penal. O qual julga que ―A mulher casada, que cometer adultério, será punida com a
pena de prisão com trabalho por um a três anos. A mesma pena se imporá neste caso ao adultero.” Declaro
aberta a sessão do Tribunal do Júri. Determino, portanto, o pregão das partes.
4. ENTRADA DE TODOS: ADVOGADOS E DOM CASMURRO (todos entram ao som de Every Breath
you take instrumental – 2 cellos e se acomodam)
5. ENTRADA DA RÉ:
1
Faz-se aqui uma observação: na presente apresentação os jurados eram membros coorporativos da escola que foram convocados
pelas coordenadoras a se apresentarem. Nenhum deles possuía conhecimentos do roteiro e/ou do desfecho, cabendo, portanto, a
quem adotar esse roteiro, convidar membros externos para compor o corpo do júri.
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CAPITOLINA (entra Capitu ao som de Westworld Main Theme acompanhada de um guarda)
6. PROMOTORIA:
- Recolham-se as testemunhas a lugar de onde não possam ouvir os debates, nem as respostas umas das outras.
Separadas as de acusação das de defesa. (as testemunhas levantam-se e se retiram para uma sala isolada)
- Chamaremos agora o Sr. Bento Santiago, requerente, para depoimento.
(Segue Bentinho para o plenário ao som de Westworld Main Theme. Entra e espera no púlpito, de pé, a fala da
promotoria)
)
7. DEPOIMENTO DO REQUERENTE:
JUÍZA
BENTO
PROMOTORIA
PROMOTORIA: O senhor jura dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
BENTO: Eu juro.
JUÍZA: Senhor Bento, por favor, conte-nos sobre seu relacionamento com dona Capitolina.
BENTO: Desde criança vivíamos juntos. Meus pais ajudaram a família do Pádua durante a enchente e eles
passaram a morar conosco, na casa ao lado que mais parecia uma extensão da minha. Eu sempre gostei de
Capitu, sempre pensei que o que tínhamos era amizade, até ouvir uma conversa do José Dias. Ele falava que
vivíamos muito próximos e que talvez isso prejudicasse a promessa de minha mãe. Ela prometeu que, se tivesse
um filho saudável, ele seria padre. Foi por causa daquela conversa que comecei a pensar melhor no que sentia
por Capitu, comecei a refletir sobre nossas conversas e percebi que qualquer que fosse o sentimento que eu
tinha por ela, ela também o tinha por mim. Lembro-me de quando me elogiava, por vezes me chamava bonito,
dizia que meus cabelos eram bonitos... Tanto pensei que cheguei a conclusão: Eu amava Capitu. Capitu me
amava. E não há prova maior do que o que foi talhado no muro do quintal: dois nomes, abertos ao prego...
(O júri congela e entra em cena o teatro. Música de fundo: Book of Love – Peter Gabriel)
BENTO
CAPITU
[Capitu já está em cena perto do muro (muro de papelão com o desenho de tijolos e a inscrição) riscando-o
com um prego, quando percebe a chegada de Bentinho. Bento está cabisbaixo. A medida que Bento se
aproxima, Capitu esconde o que estava riscando]
[Bento olha para o muro, o lugar em que ela estivera riscando e dá um passo para ver os rabiscos mais de
perto. Capitu agarra-lhe para impedir que veja, mas Bentinho tenta se solta. Capitu desiste de segurá-lo e
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tenta apagar. Bento é mais rápido, afasta a amiga do muro e é revelado os nomes para o público (a música de
fundo fica mais alta gradativamente)]
(Bento olha de volta para Capitu. Ela está de cabeça baixa olhando para o chão. Ela ergue os olhos para ele.
Os dois dão as mãos e ficam se olhando ternamente. A música para. o teatro sai de cena)
(Júri congela. O teatro entra com a cena do baile. Música: Elephant gun, Beirut)
(Durante a dança Capitu tenta atrair os olhares dos homens para si, enquanto Bento tenta distanciá-la dos
mesmos. À medida que a dança continua Bento vai ficando carrancudo e mal humorado. A dança termina. A
peça se retira. O júri descongela.)
8. PROMOTORIA:
- Que entre, por favor, a primeira testemunha de acusação: Cosme de Albuquerque, advogado e tio do
requerente.
(Tio Cosme entra ao som de Westworld Main Theme, e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria)
9. TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO:
PROMOTORIA
A.D: ADVOGADO DE DEFESA
TIO COSME
PROMOTORIA: O senhor jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
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COSME: Juro!
10. PROMOTORIA:
- Que entre, por favor, a segunda testemunha de acusação: Dona Glória de Albuquerque Santiago, mãe do
requerente e sogra da ré.
(entra dono Glória ao som de Westworld Main Theme, e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria)
PROMOTORIA
DONA GLÓRIA
A.D.: ADVOGADO DE DEFESA
PROMOTORIA: A senhora jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
DONA GLÓRIA: Juro!
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D. GLÓRIA: - Bentinho sempre foi um santo. Ele até ia ser padre. Eu fiz uma promessa, sabe, se Deus me
desse a graça de ter um filho, a vida dele seria dedicada à igreja. E ele até gostava, quando criança vivia
brincando de rezar a missa.
A.D: - Como era o relacionamento de Bento e Capitolina na infância?
D. GLÓRIA: - Ahhh... Os dois viviam juntos, eram muito amigos sabe! Quer dizer, eu achava que era só
amizade, mas como vemos, era mais que isso. Bem que José Dias me avisou que eles viviam muito tempo
juntos, escondidos, cochichando... Foi aí que ele começou com ideias de desistir do seminário.
A.D: - Como a senhora se sentiu quando Bento assumiu não ter vocação para o seminário?
D. GLÓRIA: - Foi um choque. Como disse, eu tinha feito a promessa. Não dava pra acreditar. Pensei na época
que o motivo fosse a falta de vocação, de certa forma foi mesmo... Mas imaginar que meu filho estava abrindo
mão do possível título de Protonotário apostólico, para ter uma vida comum.
A.D: - Como a senhora avalia Capitolina?
D. GLÓRIA: - Ela sempre foi muito amável. Você acredita que ela sempre me pedi a benção mesmo sem eu
ser nada dela? Nem madrinha, nem tia, nada. Fazia isso pelo respeito que tinha a mim. Com os pais era do
mesmo jeito, sempre ajudando a mãe nas atividades de casa, como toda boa menina deve fazer, para poder se
tornar uma boa esposa. Inclusive, acho que ela seja uma ótima esposa para meu Bento, sempre zelosa no lar,
muito cuidadora, nunca deixou faltar nada, nunca foi de fazer questão por nada e é ótima mãe, o menino a
adora.
A.D: - Como a senhora via o relacionamento de Bento com Capitolina?
D. GLÓRIA: - De certa forma, para mim, era uma tristeza, por causa da promessa. Foi um pouco
surpreendente também, porque eu sempre os vi como amigos, crianças apenas. Mas bem que José Dias me
avisava que ela era sorrateira. Bentinho sempre foi muito obediente, ela deve ter feito a cabeça dele...
A.D: - Como a senhora se sente em relação ao seu neto?
D. GLÓRIA: - O menino realmente se parece um pouco com o finado Escobar, principalmente o ar de
esperteza. Mas eu não quero acreditar que Capitu fosse capaz de fazer... de trair o meu filho. Ela cresceu sob os
meus olhos, conheço desde a infância.
A.D.: Isso é tudo, Meritíssima.
JUÍZA: A senhora está dispensada.
12. PROMOTORIA:
- Que entre, por favor, a terceira testemunha de acusação: José Dias, boticário, agregado na casa de Dona Glória
desde que seu marido ainda era vivo.
(José Dias entra ao som de Westworld Main Theme, e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria)
PROMOTORIA
A.D: ADVOGADO DE DEFESA
JOSÉ DIAS
PROMOTORIA: O senhor jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
JOSÉ DIAS: Juro!
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mãos). Inclusive, depois de um tempo, ele até veio me pedir para que intercedesse por ele junto a sua mãe para
que ela desistisse da promessa, porque ele queria ser advogado. Como tenho muito carinho por ele, acabei
ajudando. Acho que foi por minha causa que eles acabaram juntos. Eu sou o cupido deles. Um cupido
eficientíssimo. Durante o casamento eles sempre pareceram muito bem. Ela sempre foi muito animada e
Bentinho muito sisudo, mas Capitu sempre demonstrou que seria uma ótima esposa e mãe. Ela sempre foi
ótima com as atividades domésticas, inclusive, sempre que podia, ia ajudar dona Glória ou ficavam tricotando e
bordando.
A.D.: O que o senhor pode dizer de dona Capitolina?
JOSÉ DIAS: Sempre muito esperta, alegre, barulhenta, mas não um barulho ruim. É daqueles barulhos que
quando você escuta você reconhece a pessoa, e de imediato há um preenchimento de um vazio que até aquele
momento, você não sabia que existia. Ahhh... E os olhos. Vocês já repararam nos olhos dela? Os olhos que
Deus lhe deu são assim, de cigana oblíqua e dissimulada.
A.D.: E como era o relacionamento dela com Escobar?
JOSÉ DIAS: No início Escobar era amigo só de Bentinho, do seminário. Capitu não gostava muito dele, pelo
menos era o que demonstrava quando o via. Com o tempo, acho que por insistência de Bentinho, ela acabou se
acostumando, e depois do tempo que Bento passou no estrangeiro estudando direito eles acabaram se
aproximando. Ela tinha que aceitar e compartilhar a amizade com Escobar, afinal Bentinho não tinha outros
amigos, e logo ele se aproximou de Sancha, amiga de Capitu. Era como se eles todos fossem uma grande
família, todos irmãos.
A.D.: O senhor chegou aqui como testemunha de defesa, mas até agora só tem feito elogios a minha cliente.
Deve o júri e todo o tribunal acreditar que o senhor não tem provas de nenhuma traição?
JOSÉ DIAS: Acho que o senhor não entende o que se passa aqui. O fato de uma pessoa ser boa, carinhosa e
prestativa, não anula sua capacidade de ser falsa, enganadora e mentirosa. Ela pode muito bem ter traído o
Bentinho. O próprio Bentinho já contou que ela já xingou dona Glória de tal forma que ele mesmo se assustou.
Num acesso de raiva ela disse que coisas que normalmente não diria, então quem garante que num acesso de
raiva de Bentinho, por vingança, ela não o traísse? Ele sempre foi mais introvertido e ciumento, o oposto dela,
ela pode muito bem ter se cansado disso tudo. Escobar tinha o mesmo espírito desbravador que ela.
(Júri congela. O teatro entra. Música de fundo: Danse Macabre – Camille Saint-Saëns)
CAPITU
BENTINHO
(Capitu e Bentinho estão sentados conversando sobre sua ida para o seminário em voz baixa. Bentinho ergue a
voz)
BENTINHO: Mas eu não quero, não quero entrar em seminários; não entro, é escusado teimarem comigo; não
entro.
(Capitu fica parada, inerte. Boca entreaberta, toda parada. quando de repente ela grita com raiva)
CAPITU: Beata! carola! papa-missas! Beata! carola! papa-missas! Beata! carola! papa-missas!
(Bentinho fica em choque. Não sabe como reagir. Enquanto isso Capitu fica caminhando e gritando cada vez
mais alto os xingamentos. Quanto mais alto ele grita mais alto a música toca. Capitu enraivecida sai de cena,
Bentinho vai atrás dela. O teatro sai. O júri descongela)
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14. PROMOTORIA:
- Que entre, por favor, a testemunha de defesa da ré: Sancha de Souza Escobar, esposa do melhor amigo da
família, Escobar, e amiga do casal.
(Sancha entra ao som de Westworld Main Theme e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria)
9. TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO:
PROMOTORIA
A.A: ADVOGADO DE ACUSAÇÃO
SANCHA
PROMOTORIA: A senhora jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
SANCHA: Juro!
16. PROMOTORIA:
- Daremos início agora ao interrogatório da ré, Srª. Maria Capitolina Santiago, esposa de Bento de Albuquerque
Santiago.
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(A ré levanta-se ao som de Westworld Main Theme e segue para o plenário onde será interrogada e espera no
púlpito, de pé, a fala da promotoria)
17. INTERROGATÓRIO DA RÉ
PROMOTORIA
CAPITU
A.A: ADVOGADA DE ACUSAÇÃO
PROMOTORIA: A senhora jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade?
CAPITU: Juro!
(O júri congela e entra em ação o teatro com a cena do primeiro beijo. Música ao fundo: Stand by me - coral)
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BENTO: Senta aqui, é melhor.
CAPITU: (sentando à cadeira e entre sorrisos) Vamos ver o grande cabeleireiro.
BENTO: Pronto.
CAPITU: Estará bom?
BENTO: Veja no espelho.
(ao tentar levantar a cabeça de Capitu, os lábios dos dois se tocam breve e sutilmente. A música agora deve
estar preenchendo todo o ambiente. Capitu levanta-se sobressaltada. Bento fica paralisado em choque. D.
Fortunata aparece)
CAPITU: (como se nada tivesse acontecido) Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou...
(a mãe de Capitu afastasse e Capitu a segue, seguida também por Bento. O teatro sai de cena e o júri
descongela)
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A.A: Para mim isso é o suficiente, Meritíssima.
JUÍZA: A senhora está dispensada.
PROMOTORIA
A.A.
A.D.
PROMOTORIA: Daremos início agora aos debates. Com a palavra a acusação. Vossa Excelência terá até uma
hora e meia para a acusação.
1º ADVOGADA DE ACUSAÇÃO:
- Excelentíssima senhora Juíza presidente, Ilustre promotora, diletos colegas de defesa, primorosos servidores
da Justiça, gloriosa polícia militar, familiares da vítima, familiares da ré (cumprimento à ré e por último aos
jurados sorteados). Venho aqui mostrar-lhes que a Srª Maria Capitolina enganou não apenas a Bento Santiago,
meu cliente, como também a toda sua família, fazendo-os acreditar que ela era apenas uma jovem doce e
ingênua, quando na verdade, desde a tenra idade, ela já corrompia o meu cliente.
- Desde jovem já tinha um comportamento inadequado. Posso provar isso através de um diálogo entre Dona
Glória, o Sr. Cosme e o Sr. José Dias, exibido aqui (ergue o livro Dom Casmurro na mão), capítulo 3, página
14-15, no qual José Dias adverte Dona Glória através das seguintes palavras: ―Não me parece bonito que o
nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam
de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.‖ E ainda acrescentou que sua opinião não vinha de
mera suposições, dizendo: ―creia que não falei senão depois de muito examinar...‖. É tanto verdade que,
posteriormente, o casal pede ajuda ao próprio José Dias para que ele convença dona Glória a desistir de por
Bento no seminário. E toda a sequência é incitada por Capitu que pressiona Bento a falar com o José Dias,
como comprovado no capítulo 32, página 68: ―Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto... Você teime
com ele, Bentinho!‖. Como se já não bastasse ela ser manipuladora, ainda exigia isso do sir. Bento.
- Também podemos provar que desde tenra idade dona Capitolina sempre apresentou-se ser bastante
dissimulada, fingindo situações e mascarando sentimentos e reações, como foi retratado no episódio do
penteado, página 71, no qual, enquanto o jovem Bento ainda estava atordoado por ter-lhe dado o primeiro beijo,
ela, por sua vez, ao ver a mãe aproximar-se fingiu, com calma descontração, que nada havia acontecido, como
podemos perceber no trecho: ―Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela
abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e
claro‖.
- Senhores jurados, quem aqui não lembra o primeiro beijo? E como alguém poderia ignorar tão prontamente
esse momento se não fosse justamente pela ausência de amor e respeito e um excesso de cinismo? O próprio
José Dias já dissera ―Olhos de cigana oblíqua e dissimulada‖. O que são os ciganos senão, um povo,
historicamente conhecido por serem traiçoeiros e enganadores? Pois, é com respaldo histórico que lhes indago,
se ela pôde dissimular o primeiro beijo, o que mais não poderia, uma vez que, ao longo dos anos, adquirira
prática no ato do fingimento?
- Quanto à criança, Ezequiel, sabemos que crianças têm o hábito de imitar os adultos, mas não os olhos, os
cabelos... Como nos é mostrado no capítulo 116, suas imitações de Escobar apareciam de forma natural, como
se fosse uma herança: ―Alguns dos gestos já lhe iam ficando mais repetidos, como os das mãos e pés de
Escobar; ultimamente, até apanhara o modo de voltar a cabeça deste, quando falava, e o de deixá-la cair,
quando ria.‖
- Quero ainda lembrar-lhes do dia do teatro, apresentado a nós no capítulo 113, no qual dona Capitolina, fingiu-
se de doente para ficar em casa e quando meu cliente retornou ao lar encontrou, para seu espanto, Escobar. ―Era
tarde para mandar o camarote a Escobar; saí, mas voltei no fim do primeiro ato. Encontrei Escobar à porta do
corredor. Capitu estava melhor e até boa. Confessou-me que apenas tivera uma dor de cabeça de nada, mas
agravara o padecimento para que eu fosse divertir-me. Não falava alegre, o que me fez desconfiar que mentia,
para me não meter medo, mas jurou que era a verdade pura.‖
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- Ela mentiu. Não era a primeira vez, como já apresentei aqui. Provavelmente para marcar um encontro com
Escobar, que foi arruinado por Bento, pois ele resolveu voltar mais cedo para casa. A noite não é hora de se
visitar ninguém, Escobar poderia muito bem ter aparecido no dia seguinte, mas porque ir justamente à noite?
Dessa forma, mostro a vocês uma mulher que está acostumada a ter tudo a seus pés, e um homem inteiramente
apaixonado que está em choque ao ver que a mulher que ele amou durante a vida inteira, seu primeiro e único
amor, não lhe é recíproca, que, o coração e o corpo foram de outro homem. Que ambos ridicularizaram o meu
cliente embaixo do seu nariz e que o tornaram um homem com uma carga psicológica traumática.
- Senhores, espero ter sido clara quanto a posição humilhante do meu cliente e sobre como essa mulher pode ser
traiçoeira. Espero que os senhores tomem a decisão correta. Isso é tudo Meritíssimo. (senta-se)
PROMOTORIA: É dada a palavra à defesa. Vossa Excelência terá até uma hora e meia para a acusação.
2º ADVOGADA DE DEFESA
- Excelentíssima senhora Juíza presidente, Ilustre promotora, diletos colegas de defesa, primorosos servidores da Justiça,
gloriosa polícia militar, familiares da vítima, familiares do réu, (cumprimento ao réu e por último os jurados sorteados)
venho por meio deste mostrar-lhes que minha cliente, a senhora Maria Capitolina Santiago é inteiramente inocente,
uma vez que não há nenhuma prova contra ela e todos os depoimentos foram baseados em especulações. Onde
estão as fotos provando a traição? O próprio sr. Bento assume diversas vezes que é ciumento. Quem garante
que o ciúme não o fez imaginar todas essas situações? Ele mesmo assume isso no capítulo ―UMA PONTA DE
IAGO‖, página 113-114 e no capítulo ―EMBARGOS DE TERCEIRO‖, pág. 186. (ler o grifo do livro)
- Quanto à insistência de minha cliente, ainda durante a infância, de que eles ficassem juntos era completamente
válida, uma vez que o próprio Bento tenha confessado a ela que não queria ser padre, que não queria ir para o
seminário, como ele assumiu no cap. 18, pág. 38. (ler grifo na pág.)
- Quanto ao comportamento de Ezequiel, por favor, já nos foi revelado em diversas partes do texto que a
criança parecia-se muito com os demais parentes de ambas as famílias: os olhos claros como de dona
Capitolina, assim descrito, a princípio pelo próprio Bento, e depois mudado, provavelmente devido ao seu
ciúme; o espírito animado tal qual o do avô, o Tartaruga.
- Além disso, o próprio Bento acreditava que o filho era dado a imitações. E todos sabemos que existem
pessoas que nascem com esse dom, sabem imitar os outros com perfeição. Não o bastante, o pai também já
considerou o fato de Ezequiel e a pequena Capitolina formarem um casal e virem a casar-se. Como nos é
mostrado no cap. ―AMIGOS PRÓXIMOS‖, PÁG. 193. Se ele duvidava de sua paternidade porque levantaria tal
ideia? Que ser monstruoso levantaria a hipótese de ver dois irmãos casados?
- Senhores, espero ter sido clara quanto a posição humilhante da minha cliente e sobre como esse homem é
possessivo, dominador, inseguro e manipulador, porque ele manipula os fatos a seu favor, distorcendo a
mensagem e criando uma personalidade para a minha cliente que não faz jus a quem ela realmente é. Espero
que os senhores tomem a decisão correta. Isso é tudo Meritíssimo. (senta-se)
13. TRÉPLICA:
1º ADVOGADA DE ACUSAÇÃO:
-Quero apresentar-lhes mais um ponto referente ao comportamento da srª Capitolina. Com a morte de Escobar,
Sancha, que já se mostrava desconfiada com sua melhor amiga, recusou-a como companhia naquele momento
de infortúnio. E no dia do enterro, meu cliente percebeu o olhar fixo da mulher sobre o defunto. Pode-se dizer
que seria pela tristeza de perder um bom amigo, mas lembrem-se das ocultações perfeitas já mencionadas aqui
nesse tribunal. Quando suas lágrimas caíram, ela tratou logo de secá-las e aumentar o consolo dedicado à
amiga. Provando, mais uma vez, suas capacidade de dissimular sentimentos, o que nos leva a acreditar que ela
pôde muito bem ter traído o sr. Bento e enganado a todos.
2º ADVOGADA DE DEFESA:
-Quero deixar claro que em nenhum momento, aqui nesse júri foram apresentadas provas de quaisquer traições
de minha cliente, ao contrário do acusado, o qual ele mesmo já assumiu ter, em certo momento, olhado para a
senhora Sancha com olhos desejosos, só porque ele imaginava, repito IMAGINAVA que ela estava se
oferecendo a ele. Como nos é mostrado no capítulo 118, no qual o próprio Casmurro nos diz que ―Assim devia
ser, mas um fluido particular que me correu todo o corpo desviou de mim a conclusão que deixo escrita. Senti
ainda os dedos de Sancha entre os meus, apertando uns aos outros. Foi um instante de vertigem e de pecado.‖ E
ainda trouxe à mente a frase: ―Uma senhora deliciosíssima‖, fazendo apologia ao um discurso do José Dias,
amante dos superlativos. Embora tenha tentado mascarar seus sentimentos atribuindo o adjetivo a noite
estrelada.
- O próprio Casmurro já assumiu que muitas vezes agia em desvario, por puro ciúme, como posso provar com
um trecho do capítulo 126: ―Concluí de mim para mim que era a antiga paixão que me ofuscava ainda e me
fazia desvairar como sempre‖.
- E em relação ao choro de minha cliente, quero deixar claro que o próprio Bento também chorou, todos
choraram, eram amigos. Acredito que qualquer um nesse tribunal choraria diante da morte de um amigo
considerado um irmão.
JUÍZA
- "Dar-se-á um intervalo de 10 minutos pra se proceder ao julgamento. Retirem a acusada. Convido o público
em geral que deixem o recinto. Convido os srs. Jurados, escrivão, oficiais de justiça e drª. Promotora, a se diri-
girem comigo à sala secreta."
JUIZA
CAPITU
SE INOCENTE:
JUÍZA - Este tribunal declara a srª Maria Capitolina Santiago inocente, tendo em vista que não há provas
relevantes para uma condenação, uma vez que todas as acusações estão baseadas em especulações das
testemunhas e no imaginário do requerente. Podendo ainda o Tribunal levantar uma ação contra o requerente
por manipulação de fatos e por exigir um julgamento aberto em uma causa perdida. Agradeço aos srs. Jurados a
presença e o cumprimento do dever. Os srs. Jurados estão dispensados.
CAPITU: (levanta-se e segue em direção a Bentinho) Nunca pensei que você pudesse ser tão baixo e
mesquinho. Depois de tudo que vivemos, depois de tanto tempo, amor e paciência que dediquei a você... Uma
vida toda guardando o mesmo amor... Mas não se preocupe, não guardarei mágoas ou ressentimento, mas o
meu amor por você está acabado, seco e sem vida, você não é merecedor nem de pena.
2
Nesse momento, a juíza ou a promotora entrega ao júri as cédulas de votação com os dizeres ―culpada‖ e ―inocente‖, para que eles
assinalem o que for adequado de acordo com o que foi exposto. O júri não pode confabular uma resposta única, o voto é secreto e a
única pessoa que pode saber o que cada jurado escolheu é a juíza.
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SE CULPADA:
JUÍZA - Este tribunal declara a srª Maria Capitolina Santiago culpada e condenada por adultério, sendo
sentenciada a um período de prisão de 3 anos. Podendo a condenada, dentro de um prazo de 10 dias, recorrer da
decisão desse Tribunal, caso esteja inconformada com a decisão que lhe foi inferida. Agradeço aos srs. Jurados
a presença e o cumprimento do dever. Os srs. Jurados estão dispensados.
CAPITU: (levanta-se e segue em direção a Bentinho) Nunca pensei que você pudesse ser tão baixo e
mesquinho. (começa a falar com a voz fraca e chorosa) Depois de tudo que vivemos, depois de tanto tempo,
amor e paciência que dediquei a você... Uma vida toda guardando o mesmo amor... Eu esperei por você quando
foi estudar fora, se eu quisesse te trair, teria feito naquela época, não depois de casados... Mas isso não importa
mais, minha alma, meu corpo e minha honra estão ofendidos... Não preciso mais viver, porque o que já foi
vivido foi uma ilusão, não preciso continuar nessa vida de desenganos...
(Capitu desmaia e é socorrida pelo “amante” (Escobar dos flashbacks) que a leva nos braços. O júri congela.
Entra o teatro, apenas com Bentinho.)
BENTINHO: [começa a colocar adereços (paletó, chapéu, echarpe, bigode) que, aos poucos, transformam-no
em Dom Casmurro. Música ao fundo: Juízo Final – instrumental Junior Alves]
- Meus caros, eis o homem que por não dar ouvidos aos versos de um poeta que o acaso me trouxe, recebeu a
alcunha Dom Casmurro, sentença que carrego juntamente com outros infortúnios trazidos pela existência. Ao
fim de tudo, só o ciúme me foi companhia após o muito penar em minha própria insanidade, a qual sinto ter
contaminado a minha primeira amiga e a todos os que me cercavam. Contudo, não creio assim e vocês hão de
concordar comigo; a Capitu menina e aquela a quem votei matrimônio estavam uma dentro da outra, como a
fruta dentro da casca. Só me resta dizer o quão arrependido estou dadas as acusações levantadas por mim e que
por tal injustiça é remorso o que sentirei até o último suspiro meu.
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