09 ITEC-Investigacao-Criminal-2019
09 ITEC-Investigacao-Criminal-2019
09 ITEC-Investigacao-Criminal-2019
APRESENTAÇÃO
Veja a seguir a apresentação do tema proposto e os objetivos esperados para seu melhor aproveita-
mento.
Para explicar a finalidade de investigação criminal, diante do atual Estado Democrático de Direito, já
não é mais suficiente sua ideia como mecanismo de produção da prova de um crime.
Mais do que produzir provas de um crime, os integrantes da equipe de investigação criminal pos-
suem responsabilidade social, pois são atores sociais que possuem, por força constitucional, o poder/dever
de realizar a atividade investigativa, e de produzir, por meio de uma eficiente persecução criminal, a tão
almejada justiça.
Tenha em mente
A investigação criminal é um evento único, indivisível, que tem início com a “notitia criminis”, e en-
cerramento, com o trânsito em julgado da sentença penal (ou ainda, segundo alguns doutrinadores, não se
encerra, pois a qualquer momento poderá ocorrer a revisão criminal), cujo sucesso depende, além de outros
fatores, do nível de interação existente entre os profissionais que integram as instituições de segurança pú-
blica, pois é a partir da observação inicial deles, em especial nos locais de crime, que os primeiros elementos
probatórios serão detectados.
A idoneidade de um local de crime, por contemplar, mesmo que implicitamente, grande parte das
respostas necessárias para a reconstrução de um delito, exigirá do profissional de segurança pública conhe-
cimento técnico que o habilite a:
Isso possibilitará a construção das primeiras hipóteses para a explicação do delito e, consequente-
mente, com o seguimento da investigação, o desenvolvimento de um planejamento operacional capaz de
testar, com eficiência, as linhas investigativas eleitas.
Para que a atividade investigativa obtenha êxito, não se pode mais ver o crime apenas como um fato
pretérito, estático, mas sim como algo dinâmico, cujo “modus operandi” ultrapassou, e muito, a simplicidade
dos antigos batedores de carteira e dos pequenos golpistas.
Hoje, com base nos avanços tecnológicos, na globalização e na facilidade de comunicação, existe
uma complexa rede de relações, a qual busca obter, pelos meios que se fizerem necessários, o maior volume
possível de vantagens ilícitas.
Atente-se para o fato de que o grau de complexidade das condutas perpetradas por essas novas
organizações criminosas, estruturadas e voltadas à prática de crimes, muitas delas sob o manto de uma fa-
laciosa legalidade e sob a proteção (ou participação direta) de profissionais públicos e políticos, exige dos
integrantes das equipes de investigação o conhecimento e a utilização de técnicas especiais de investigação,
e mais, requer também uma efetiva e eficaz interação entre os profissionais de segurança pública na busca
de dados e informações qualificados, capazes de fazer aflorar elementos de prova ardilosamente ocultados.
Nesse diapasão, ratificando a impossibilidade de conter a ação dessas organizações criminosas apenas com
a utilização de técnicas convencionais, a Organização das Nações Unidas, por meio da Convenção das Na-
ções Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Decreto nº 5.015/04) e a Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção (Decreto nº 5.687/06), propõe que os Estados-partes, entre eles o Brasil, utilizem
técnicas especiais de investigação como:
Mormente a entrega vigiada;
A infiltração;
A vigilância eletrônica;
A quebra de sigilo fiscal e bancário;
A interceptação telefônica.
Essas técnicas têm a finalidade de detectar, confirmar, prevenir ou reprimir atividades criminosas dis-
persadas e dissimuladas entre atividades aparentemente lícitas.
Assim, não há dúvidas de que o processo de desenvolvimento da investigação criminal (antes baseado no
empirismo e na intuição) corresponde ao desencadeamento para a produção do conhecimento científico,
pois tal como uma pesquisa científica, é movido por um raciocínio lógico e ordenado, sendo ele:
Iniciado após a eclosão da prática delitiva (problema);
Passando pela obtenção de dados e informações preliminares (elementos objetivos e subjetivos), os quais
levarão à produção de hipóteses testáveis que, além de explicar os fatos que compõem o fenômeno investigado, per-
mitirão a produção de conclusões;
E, ao final, de uma teoria a qual irá municiar o julgador de elementos probatórios que fundamentarão sua
decisão.
Esse processo de produção e de valorização do conhecimento, por força de sua natureza explora-
tória, dá conotação bidimensional à investigação criminal, isso ao proteger e limitar direitos, criando uma
conexão dos fundamentos constitucionais de cidadania e de respeito à dignidade da pessoa humana com a
produção de provas.
Todavia, essa busca incessante pelo esclarecimento da autoria e da materialidade de delitos não é
algo desenfreado e sem limites, pelo contrário, para que os elementos objetivos e subjetivos produzidos
durante a investigação preliminar e de seguimento possuam valor probatório, necessariamente devem estar
alicerçados em princípios, dentre os quais podemos destacar:
A legalidade;
A moralidade;
A probidade;
A impessoalidade;
A eficiência.
Essa riqueza de temas, por sua amplitude e complexidade, será abordada no curso de Investigação
Criminal em duas unidades, cada uma com 60horas, sendo a primeira focada em conteúdos teóricos, e a se-
gunda, práticos, todos ligados à investigação criminal, e para que haja uma sequência lógica no aprendizado,
a segunda unidade terá como requisito a conclusão da primeira.
Viva com emoção este curso. Reflita sobre os temas abordados. Promova novas pesquisas e aplique
esses conhecimentos, com entusiasmo e respeito, aos desafios do ofício de apurar infrações penais.
Excelentes estudos!
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Objetivos do curso
Estrutura do Curso
Buscando dar efetividade aos objetivos citados, a presente unidade será composta de oito módulos, cuja
estrutura é a seguinte:
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MÓDULO A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL COMO INSTRUMENTO DE
1 DEFESA DA CIDADANIA
Apresentação do módulo
Então, você irá estudar e entender essa nova realidade! Preparado? Vamos lá!
Objetivos do módulo
O pacto político firmado em 1988 pela sociedade brasileira foi no sentido de formar um Estado De-
mocrático de Direito alicerçado na soberania, na cidadania, na dignidade da pessoa humana, nos valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa, e no pluralismo político, pois o que se buscava era a construção
de uma sociedade:
Livre;
Justa;
Pluralista;
Solidária;
Sem preconceitos.
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E protetora dos direitos:
Civis;
Políticos;
Sociais;
Culturais;
Econômicos.
Para garantir essa nova sociedade que aflorava, fruto legítimo e incontestável da soberania popular,
já não era suficiente a antiga concepção de segurança pública como aparato repressor do Estado.
Exigia-se, então, diante da nova ordem jurídica constitucional instalada, que as instituições policiais
estivessem vocacionadas a proteger e defender direitos e garantias, surgindo, assim, a denominada polícia
cidadã.
Todavia, essa nova percepção de segurança pública como instrumento de defesa da cidadania exige
das instituições policiais a utilização de técnicas e métodos que, embasados nos princípios e limites
constitucionais, sejam capazes de obter justiça e paz social sem que qualquer abuso ou arbitrariedade seja
cometido.
Considerando que as atividades de segurança pública devem tutelar a integralidade da cidadania,
as instituições policiais, como parte efetiva de uma rede interdisciplinar de proteção dos valores de susten-
tação do Estado Democrático de Direito, devem buscar, incansavelmente, por meio da integração e da inte-
ração social, atingir essa finalidade.
Nesse contexto, a investigação criminal é uma das ferramentas utilizadas pela polícia judiciária para
a proteção plena dos direitos humanos.
As práticas infracionais atentam contra o sistema de direitos e garantias fundamentais, os quais pro-
porcionam a sobrevivência de uma sociedade democrática. Assim, a razão de ser das instituições policiais é
garantir o livre e pacífico exercício desses direitos e garantias.
A investigação criminal, como principal mecanismo de busca da justiça penal, deverá estar em con-
sonância com as demandas decorrentes do usufruto desses direitos e garantias.
Importante!
Para que possa dar continuidade ao estudo proposto nesta unidade, uma pergunta deve ser respondida: a
sociedade precisa mesmo de uma polícia?
Jaume Curbet (1983, p. 75) nos remete a refletir sobre o tema com uma citação do escritor francês Balzac:
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Você pode ter chegado a várias conclusões a partir dessa assertiva, todavia, a mais importante delas é a de
que, seja qual for o modelo de sociedade, esta sempre necessitará da tutela policial.
Para refletir
Num sistema de direitos e garantias fundamentais, de que adiantaria, por exemplo, a previsão constitucional
do direito à vida, à igualdade, à liberdade e à propriedade, se não tivéssemos segurança e tranquilidade para
exercê-los?
A primeira Constituição Francesa de 1791 já declarava, em seu artigo 12, a importância da tutela po-
licial dos direitos do homem e do cidadão:
A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força se institui,
portanto, para benefício de todos e não para a utilidade particular daqueles que a têm a seu cargo. Honoré
de Balzac.
A investigação criminal, como instrumento de proteção da cidadania, possui dupla função: preve-
nir e reprimir as práticas delitivas.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, assim como a Constituição Francesa de
1791, materializa em sua carta a vontade popular de construir um Estado soberano, capaz de proteger e
defender, por meio de suas instituições:
O livre exercício dos atos de cidadania;
A dignidade humana;
Os valores sociais;
As liberdades.
Sendo assim, as atividades de investigação criminal devem refletir, por meio de seus métodos e téc-
nicas, a certeza de que tutelam direitos e garantias fundamentais, e assim, de que protegem e defendem o
Estado Democrático de Direito.
Finalizando...
O Estado Democrático de Direito exige, para a sua completa efetividade, que a segurança pública
esteja vocacionada a tutelar direitos e garantias fundamentais (segurança cidadã) e que, assim sendo, seja
capaz de garantir o exercício pleno da cidadania.
A investigação criminal, como instrumento de defesa da cidadania e uma vez possuidora de dupla
função (prevenir e reprimir práticas delitivas), deve estar alicerçada em técnicas e métodos específicos, os
quais, uma vez consubstanciados em princípios e regras constitucionais, seja capaz, cientificamente e com
base nos mais elevados valores éticos e morais, de produzir justiça e paz social.
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Para fixar este conteúdo, realize os exercícios propostos a seguir.
No próximo módulo você estudará as definições, as finalidades, os sistemas e a classificação da in-
vestigação criminal.
Bons estudos!
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 1, realize as atividades propostas a seguir.
Atividade 1:
“(...) a investigação criminal é uma das ferramentas utilizadas pela polícia judiciária para a proteção plena da
cidadania.”
Atividade 2:
Você estudou que um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito é a dignidade da pessoa huma-
na.
Avalie suas práticas como profissional de segurança pública, ressaltando no que elas refletem ou contrariam
esse princípio.
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Gabarito
Feedback da atividade 1:
Feedback da atividade 2:
A dignidade da pessoa humana, segundo leciona Ingo Wolfgang Sarlet, é a “(...) qualidade intrínseca e dis-
tintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte
do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais
que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham
a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua
participação ativa e co–responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os de-
mais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida.” (SARLET,
2011, p. 73).
Assim, a dignidade é um valor inerente à personalidade das pessoas, que se manifesta na autodeterminação
consciente e responsável da própria vida, cujos alicerces são o respeito e valorização.
Ao eleger a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil e, consequen-
temente, do próprio Estado Democrático de Direito, o legislador constituinte externou seu desejo de propor-
cionar um mínimo de invulnerabilidade às liberdades individuais, seja perante outras pessoas ou diante do
próprio controle do Estado, fomentando, assim, a unidade dos direitos e garantias fundamentais.
A investigação criminal, por força de sua natureza exploratória, mesmo baseada nos mais rigorosos meca-
nismos científicos de reconstrução factual e nos limites constitucionais, sempre possuirá caráter invasivo,
colidindo, assim, com as liberdades individuais, o que exigirá dos integrantes das equipes de investigação,
como tutores de direitos e garantias fundamentais, o uso oportuno e necessário dos métodos e técnicas
investigativas franqueados pela legislação pátria, produzindo, apenas e tão somente, a necessária invasão
na intimidade e privacidade das pessoas, ou seja, aquela imprescindível ao pleno esclarecimento da prática
delitiva, sem, contudo, ultrapassar o limite imposto pela dignidade humana.
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MÓDULO
A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: ASPECTOS CONCEITUAIS
2
Apresentação do módulo
O Estado Democrático de Direito exige, para a sua completa efetividade, que a segurança pública,
em especial no que tange à investigação criminal, esteja vocacionada a tutelar direitos e garantias funda-
mentais, e que, assim o fazendo, proteja e mantenha o exercício pleno da cidadania.
A investigação criminal é instrumento de defesa da cidadania e possui dupla função: prevenir e
reprimir práticas delitivas.
Agora, dando continuidade ao curso, você estudará as definições, as finalidades, os sistemas e a clas-
sificação da investigação criminal.
Preparado(a)?
Vamos lá!
Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
Estrutura do módulo
Este módulo é composto pelas seguintes aulas:
Como você estudou anteriormente, a investigação criminal é uma das ferramentas utilizadas pela polícia
judiciária para a proteção integral da cidadania, e que, protegendo e defendendo direitos e garantias fun-
damentais, salvaguarda o Estado Democrático de Direito e, consequentemente, amplia a sensação de segu-
rança.
Povoam nosso imaginário aqueles incríveis detetives dos filmes e da literatura policial que tudo podem em
nome da lei.
Sob a ótica romântica, muito bem retratada pelas empresas cinematográficas, investigar é sinônimo
de emoção, fruto do misterioso labirinto percorrido para o esclarecimento de um crime.
Entretanto, a atividade investigativa, por seu importante papel social, requer conhecimentos, habi-
lidades e atitudes capazes de produzir uma reconstrução científica e verdadeira daquilo que se pretende
elucidar, ou seja, do fato, em tese, criminoso.
“Ao contrário do que muitos pensam, a investigação não visa tão somente a
obter indícios para a acusação, mas sim apurar a verdade, seja ela a favor da acusação ou
da defesa.” (CABETTE, 2003, p. 197).
Veja que todas as acepções são compatíveis com o processo de busca dos elementos objetivos e
subjetivos que sustentarão a reconstrução factual, são eles: seguir os vestígios;
seguir os vestígios;
fazer diligências para achar;
pesquisar;
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indagar;
inquirir;
examinar com atenção;
esquadrinhar.
Anteriormente, você se deparou com a definição do termo “Investigar”, dada pelo dicionário Aurélio,
certo?
Assim, o mesmo Aurélio valida essa compreensão sinonímica da ação investigativa quando registra:
Diante disso, você deve ter percebido que tanto as acepções do verbo que expressa o agir e o sentir
dos executores, como as do nome, que expressam o resultado daquelas ações, nos levam à percepção de que
a investigação é um conjunto de atos que se complementam.
Então, surge um novo questionamento: como definir investigação criminal?
Diferente do nosso país, que não prevê uma definição legal para a investigação criminal, Portugal, por força
da Lei de Organização da Investigação Criminal (Art. 1º da Lei nº 49, de 27 de agosto de 2008), define inves-
tigação criminal como:
Acesse: http://www.policiajudiciaria.pt/PortalWeb/content?id={CBD3F401-5D03-492E-9FCF-9396E-
D545D27}
“Conjunto de diligências que, nos termos da lei processual penal, se destinam a averiguar a existência
de um crime, determinar os seus agentes e a sua responsabilidade e descobrir e recolher as provas, no âm-
bito do processo”.
Doutrinariamente e sob a ótica jurídica, várias são as definições de investigação criminal. Entretanto,
a maioria delas atribui caráter preparatório e informativo à acepção, isso ao externar que ela se destina a
preparar a ação penal. Veja, por exemplo, as definições a seguir:
[A investigação criminal é uma] atividade estatal de persecução criminal destinada a preparar a ação
penal, que apresenta caráter preparatório e informativo, pois o seu objetivo é levar ao órgão encarregado
da ação penal os elementos necessários para a dedução da pretensão punitiva em juízo. (MARQUES, 1997, p.
139)
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(...) podemos conceituar a investigação criminal preliminar como o conjunto de atividades realizadas
concatenadamente por órgãos do Estado; a partir de uma notícia-crime ou atividade de ofício; com caráter
prévio e de natureza preparatória com relação ao processo penal; que pretende averiguar a autoria e as
circunstâncias de um fato aparentemente delitivo, com o fim de justificar o exercício da ação penal ou o ar-
quivamento (não processo). (LOPES JUNIOR, 2006, p. 40)
Outros, porém, acrescentam que a investigação criminal, além de preparar e informar, também se
destina a amparar o convencimento sobre a viabilidade da ação penal, evitando, assim, que inocentes sejam
submetidos ao processo penal, ou que fatos que não caracterizam crime sejam submetidos, desnecessaria-
mente, à ação penal.
Marta Saad (2004, p. 160) concorda com a fala de Francesco Carnelutti (2001, p. 113) quando ele afir-
ma que: “a investigação não se faz para comprovar um delito, mas para excluir uma imputação aventurada”.
No mesmo sentido, Calabrich afirma que:
a finalidade característica de recolher e selecionar o material que haverá de servir para o juízo, elimi-
nando todo o que resulte confuso, supérfluo ou inatendível. Com isso, evitar-se-iam os debates inúteis e se
prepararia um material selecionado para os debates necessários. (MAZINI, 1951, p. 173)
Quer saber sobre a história da investigação criminal no Brasil? Acesso o arquivo “Histórico da Inves-
tigação Criminal no Brasil”, que está nos anexos do curso.
A produção da prova penal no Brasil ocorre, em grande parte, na fase que antecede ao processo,
denominada de pré-processual, cujo instrumento para a sua efetividade é o inquérito policial. Daí que a fina-
lidade da investigação criminal é coincidente com a finalidade daquele procedimento, e para fins didáticos,
será dividida em três eixos: remota, mediata e imediata.
Finalidade remota: aplicação da lei penal e tutela dos direitos e garantias fundamentais do cidadão.
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Finalidade mediata: produção de subsídios para a promoção da ação penal.
Finalidade imediata: produção de elementos objetivos e subjetivos acerca da autoria e da materia-
lidade do crime, possibilitando, assim, o indiciamento do autor.
Portanto, pode-se concluir que:
A investigação criminal, realizada por meio do inquérito policial, dentro dos parâmetros constitucio-
nais da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, da eficiência e do respeito à dignidade humana, tem
por finalidade formar, com base em técnicas e métodos específicos, um conjunto probatório coeso, coerente
e robusto quanto à materialidade e à autoria delitiva, visando a formar um juízo de probabilidade, o qual
embasará, quando for o caso, uma ação penal, integrando, assim, a persecução criminal.
Para que você possa compreender melhor a investigação criminal, e mais, entender sua importância para a
efetividade da justiça penal, é necessário que saiba distinguir os sistemas de investigação criminal existentes.
A análise apresentada a seguir, está alicerçada no direito comparado e, por força dos objetivos do curso,
focará os sistemas de investigação criminal com base na diversidade de seus titulares, quais sejam:
No sistema do Juiz Investigador, adotado pela França e Espanha, segundo leciona Aury Lopes Junior
(2003, p. 71), o juiz instrutor é a máxima autoridade investigativa, pois ele pode, por sua própria iniciativa
e sem necessidade de provocação – salvo nos delitos privados – determinar a instauração da investigação
criminal, dirigindo-a e/ou realizando-a, sendo que, para tanto, terá o auxílio da polícia judiciária, a qual lhe
está diretamente subordinada no plano funcional.
Portugal e Itália adotaram o Sistema do Juiz Investigador até 1987 e 1988, respectivamente,
quando então passaram a utilizar o Sistema do Promotor Investigador.
Segundo André Rovegno (2005, p. 117), citado por Claudio Geoffroy Granzotto (http://jus.com.br),
“em grande parte onde se adota a figura do promotor diretor do procedimento preliminar, o que
ocorre na prática é o fenômeno da policização integral da investigação, num quadro em que o
parquet só tomará contato com a investigação quando a polícia o considerar concluído”.
No sistema da Polícia Investigadora, adotado pelo Brasil, cabe à polícia judiciária a direção da
investigação criminal, sendo esta a titular do procedimento investigativo criminal (diga-se, do inquérito
policial) o qual será presidido por uma autoridade policial, ou seja, por um delegado de polícia.
IC-M02-S36
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Art. 144, § 4º da CF/88 - “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.
“no sistema adotado no Brasil a atuação do Ministério Público é derivada da polícia judiciária, ou seja,
não tem o poder de condução direta da investigação penal, sendo esta exclusiva da polícia judiciária.”
Para tanto, em pleno respeito ao sistema de freios e contrapesos disciplinado pela Constituição da
República Federativa do Brasil, o legislador constituinte estabeleceu que a autoridade policial não possui
poderes para determinar medidas constritivas de direitos e garantias fundamentais, as quais dependem de
autorização judicial, e mais, da manifestação do parquet, cabendo ao último, além de outras atribuições:
Sobre as atribuições, acesse o arquivo “Constituição Federal Art. 129”, que está nos anexos do curso.
Ademais, é justamente essa imparcialidade que garante a igualdade processual. Segundo preceitua
Aury Lopes Junior:
As provas de uma infração penal surgirão da análise contextual dos elementos objetivos e subjetivos
angariados pela investigação criminal, que uma vez submetidos ao contraditório e à ampla defesa (durante
a fase processual), embasarão a decisão judicial, a qual será externada na sentença penal.
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Objetivos: Vestígios encontrados na cena do crime ou em objetos relacionados com a prática deliti-
va.
A antiga vertente que atribuía apenas aos investigadores (ou profissionais) de polícia, mesmo que
sob a coordenação de um delegado de polícia, a responsabilidade pela efetividade da investigação criminal,
diante da nova concepção surgida, a qual lhe confere caráter interdisciplinar e complementar, e devido a sua
importância para a proteção e manutenção do estado democrático de direito, já não é mais aceita.
A investigação criminal, por força da estrutura de polícia judiciária adotada pela legislação pátria e da
complexidade de suas ações, exige que delegados de polícia, investigadores (ou profissionais) de polícia e
escrivães de polícia atuem em sinergia, formando uma célula investigativa, que será denominada a partir de
agora de equipe de investigação, a qual deverá ser coesa e estar focada na obtenção de elementos objetivos
e subjetivos capazes de reconstituir, com cientificidade, os fatos investigados.
Ação simultânea, em comum e coordenada de todos os atores e atrizes envolvidos na investigação, para
construção da prova.
O delegado de polícia, diante do que foi exposto anteriormente e em decorrência das regras estabe-
lecidas pela legislação processual penal, além de integrar a equipe de investigação, terá a responsabilidade
de coordená-la, pois mesmo que grande parte das decisões adotadas durante o curso da investigação crimi-
nal sejam compartilhadas e delegadas, algumas, por força dos referidos diplomas legais (como, por exemplo,
as que se referem a medidas cautelares e a determinadas técnicas investigativas), são autocráticas e, conse-
quentemente, privativas da autoridade policial, como você estudará mais a frente, no curso de Investigação
Criminal 2.
Incluindo, aqui, leis especiais como, por exemplo, a Lei n° 11.343/06, que trata de drogas ilegais, a Lei
n° 12.850/13, que versa sobre organizações criminosas, a Lei n°9.613/98, que aborda a lavagem de capitais,
dentre outras.
No que tange à produção dos elementos subjetivos, mesmo que grande parte seja materializado
nos cartórios da organização policial (por intermédio de entrevistas, interrogatórios, acareações, reconheci-
mentos de pessoas e coisas, dentre outros), sua produção está intimamente relacionada com as diligências
policiais realizadas pelos integrantes da equipe de investigação, deflagradas a partir da ciência da prática de
fatos que caracterizam, em tese, uma infração penal (notitia criminis), cuja internalização nos inquéritos po-
liciais se dá por intermédio de relatórios, em especial o de investigação em local de crime e os de diligência
(ou de missão policial), os quais subsidiarão as providências de polícia judiciária subsequentes.
Os elementos objetivos (ou materiais), em contrapartida, são produzidos por intermédio da atividade
pericial, realizada por peritos, os quais não possuem, em regra, subordinação funcional direta a autoridades
policiais, porém, por força do disposto no Art. 6°, Inciso VII do Código de Processo Penal (Decreto-Lei n°
3.689/41, de 3 de outubro de 1941), não poderão recusar a realização de exames periciais, exceto quando
caracterizarem uma ilegalidade.
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A grande maioria dos órgãos de criminalística estaduais já se encontra desvinculada das Polícias Judiciárias
Civis, entretanto, Amazonas, Acre, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia,
Distrito Federal e Roraima ainda mantém a criminalística vinculada funcionalmente às suas respectivas
Polícias Civis.
Para saber sobre o Art. 6°, Inciso VII do Código de Processo Penal (Decreto-Lei n° 3.689/41, de 3 de
outubro de 1941), acesse o arquivo “Art. 6º”, que está nos anexos do curso.
Veja agora um exemplo que ilustra a recursa de realização de uma exame pericial por ele caracterizar
uma ilegalidade.
Exemplo...
Fulana, telefonista de uma empresa do ramo de calçados, a partir de 08/05/13, após romper o re-
lacionamento amoroso que mantinha com Ciclano, passou a receber inúmeras ameaças de morte, todas
efetivadas por meio do telefone fixo da empresa.
A equipe de investigação, acreditando que o autor das ameaças seria Ciclano, optou por abordá-lo,
quando então seu aparelho celular foi formalmente apreendido.
Em ato contínuo, a autoridade policial, buscando verificar se as ligações recebidas pela vítima parti-
ram do celular de Ciclano, requisitou exame pericial no aparelho, determinando, dentre outras ações, que o
perito levantasse e descrevesse as ligações originadas do celular submetido a exame pericial, de 08/05/13
até a data da apreensão.
O perito, uma vez não existindo ordem judicial para tanto, se recusou em realizar o referido exame
pericial, pois este violaria a privacidade de Ciclano, direito este protegido pela carta magna e que só pode
sofrer violação em casos específicos e por força de determinação judicial.
A investigação criminal, mesmo sendo um conjunto de procedimentos, guarda em sua essência a
indivisibilidade, pois é da interligação dos elementos objetivos e subjetivos que a prática delitiva será re-
construída, aflorando, daí, sua dinâmica, autoria (motivação, meios e oportunidade) e materialidade, além de
todas as circunstâncias que lhe dizem respeito.
Entretanto, para fins didáticos, a investigação criminal será fracionada em dois momentos: investiga-
ção criminal preliminar e investigação criminal de seguimento.
Dê continuidade ao curso para descobrir mais informações sobre esses dois momentos.
A investigação criminal preliminar diz respeito às ações investigativas deflagradas pela equipe de
investigação logo após a notitia criminis, e engloba, dentre outras medidas:
o deslocamento ao cenário do crime;
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a preservação e o isolamento do local;
a produção de elementos objetivos e subjetivos (por meio da utilização de métodos e técnicas
investigativas);
a liberação do local;
as pesquisas iniciais sobre as vítimas, testemunhas e suspeitos;
além de outras diligências investigativas preambulares, as quais perdurarão até a efetiva entrega
do relatório de investigação em local de crime (e dos documentos que o embasam) à autoridade policial
com atribuição para apurar os fatos sob análise.
Acesse o “Relatório de investigação em local de crime”, que está nos anexos do curso.
O exemplo a seguir demonstra uma situação de investigação criminal preliminar. Estude-o com aten-
ção.
Exemplo...
A equipe de investigação de determinada delegacia de polícia, composta por quatro policiais (dois
caracterizados: delegado de polícia e um dos investigadores de polícia; e dois descaracterizados: investiga-
dores de polícia), assim que toma conhecimento da prática de um homicídio culposo na direção de veículo
automotor, se desloca ao local.
No cenário do crime, ao verificarem que o perímetro de isolamento não era adequado, os policiais
caracterizados providenciam a sua ampliação, bem como, em seguida, levantam todos os dados e informa-
ções coletados pelos policiais militares que preservavam o local, acionando, em ato contínuo, a criminalísti-
ca.
Os policiais descaracterizados se inserem entre as pessoas que estavam na parte externa do períme-
tro de isolamento e passam a coletar, de maneira dissimulada, dados e informações acerca do acidente de
trânsito, quando então descobrem que o condutor do veículo automotor e causador do acidente não era
aquele que havia se apresentado (Ciclano) aos policiais militares (o qual era, na verdade, um dos passageiros
do carro), mas sim um terceiro (Fulano), o qual foi retirado do local por familiares, pois estava aparentemente
embriagado.
Após uma análise detalhada do local, os policiais caracterizados constatam que uma das câmeras
existentes em um supermercado captou as imagens do acidente, as quais confirmam as informações coleta-
das até então, e mais, com o auxílio dos policiais descaracterizados, identificam três testemunhas presenciais
do acidente de trânsito, as quais são qualificadas e conduzidas à delegacia de polícia, juntamente com os
demais envolvidos, para serem ouvidos (depois de esgotadas as medidas investigativas e de realizados os
exames periciais - os quais foram acompanhados pela autoridade policial –, ou seja, após a liberação do local
de crime).
Em diligências subsequentes, a equipe de investigação identifica o condutor do veículo automotor
e provável causador do fatídico, o qual é devidamente qualificado. Entretanto, por estar homiziado, não é
encontrado.
Por fim, decorridos três dias, a equipe de investigação, depois de realizar todas as pesquisas e dili-
gências necessárias, entrega à autoridade policial com atribuição para apuração dos fatos o respectivo rela-
tório de investigação em local de crime, o qual contemplará todos os dados e informações coletados durante
a investigação criminal preliminar.
Atenção!
Assim como ocorre em uma corrida com bastão, entre a investigação criminal preliminar e a investi-
gação criminal de seguimento não há interrupção. O bastão, nesse caso, representa os dados e informações
coletados e registrados pela equipe de investigação preliminar, que serão repassados à equipe de investiga-
ção de seguimento por meio do relatório de investigação em local de crime.
A seguir, você verá um novo exemplo, o qual ilustra uma investigação criminal de seguimento em
andamento. Vamos lá!
Exemplo...
Tomando como base o exemplo anterior (suposto homicídio culposo na direção de veículo automo-
tor), a equipe de investigação de seguimento, ao dar cumprimento às respectivas ordens de missão policial,
identificaram testemunhas que presenciaram Fulano ingerindo bebidas alcoólicas em um bar, as quais foram
intimadas e prestaram depoimento na delegacia de polícia, quando então afirmaram que viram Fulano be-
bendo cervejas no “Bar da Alegria”, e que depois de aproximadamente duas horas, este saiu do local condu-
zindo o veículo automotor marca GM, modelo Corsa, cor branca, o qual tinha como passageiro Ciclano.
Referidas testemunhas externaram também que Fulano estava embriagado e que saiu ziguezagueando com
o carro, tudo indicando que acabaria se envolvendo em um acidente de trânsito, pois não tinha condições
para conduzir um carro.
Os laudos periciais lavrados pela criminalística confirmaram que o causador do acidente de trânsito
foi o condutor do veículo automotor marca GM, modelo Corsa, cor branca, o qual estava em alta velocidade
e não obedeceu à sinalização local.
Diante do apurado, a equipe de investigação, depois de realizar novas diligencias, logrou encontrar
Fulano, o qual foi intimado e, durante interrogatório, depois de ver as imagens coletadas pela câmera do
supermercado, acabou confirmando a prática delitiva, isso ao externar que na data dos fatos havia ingerido
grande quantidade de cerveja no “Bar da Alegria”, e que saiu do local conduzindo o seu carro, um corsa
branco, o qual tinha como passageiro Ciclano, e que depois de invadir uma preferencial, por estar em alta
velocidade, não conseguiu parar o carro e acabou colidindo com a motocicleta da vítima, causando a sua
morte. Externou ainda que depois do acidente, como estava embriagado, foi retirado do local por seu irmão,
que o manteve escondido em sua casa por dois dias.
Atenção!
Perceba que as diligencias realizadas pela equipe de investigação de seguimento se basearam nos
dados e informações coletados pela equipe de investigação preliminar, a qual apresentou uma hipótese para
o crime, que uma vez testada, possibilitou a reconstrução dos fatos.
Finalizando...
Que tal revisar o que você estudou neste módulo? Veja só:
A investigação criminal diz respeito a um conjunto de procedimentos interdisciplinares, de nature-
za inquisitiva, preservadora e preparatória, cuja finalidade é formar, com base em técnicas e métodos espe-
cíficos, um acervo probatório coeso, coerente e robusto quanto à autoria e materialidade delitiva, visando a
formar um juízo de probabilidade, o qual embasará, quando for o caso, uma ação penal.
São três os sistemas de investigação criminal – Juiz Investigador, Promotor Investigador e Polícia
Investigadora –, e que o Brasil adota o Sistema da Polícia Investigadora, cabendo à polícia judiciária a direção
da investigação criminal, sendo esta a titular do procedimento investigativo criminal – inquérito policial, o
qual será presidido por um delegado de polícia.
A investigação criminal deve, obrigatoriamente, ser realizada por uma equipe de investigação (de-
20
legado de polícia, escrivão de polícia e investigadores de polícia) coesa e focada na obtenção de elementos
objetivos e subjetivos capazes de reconstituir, com cientificidade, os fatos investigados.
A investigação criminal é um procedimento indivisível, mas que, para fins didáticos, é fracionada
em dois momentos: investigação criminal preliminar e investigação criminal de seguimento.
A investigação criminal preliminar se inicia com a notitia criminis e perdura até a entrega do relató-
rio de investigação em local de crime à autoridade policial com atribuição para apuração dos fatos, quando
então se inicia a investigação criminal de seguimento, cuja conclusão se dará com a reconstrução pormeno-
rizada daquilo que se pretendia esclarecer.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as quatro atividades propostas a seguir.
Atividade 1:
Você estudou que a finalidade da investigação criminal se divide em três eixos: remota, mediata e
imediata. Numa avaliação crítica, descreva o efeito prático desse conhecimento para a investigação criminal.
Atividade 2:
21
Atividade 3:
Atividade 4:
22
Gabarito
Feedback da atividade 1.
A investigação criminal está inserida em um sistema jurídico que a contempla com finalidade tridi-
mensional, composta pela produção de elementos objetivos e subjetivos capazes de fundamentar o indicia-
mento do autor pela autoridade policial (finalidade imediata), os quais subsidiarão o promotor de justiça ou
o ofendido na promoção da ação penal (finalidade mediata) e, ao final, possibilitarão a aplicação da lei penal
(finalidade remota), proporcionando, assim, justiça criminal e, consequentemente, paz e segurança social,
tão necessários ao pleno exercício da cidadania e à existência do Estado Democrático de Direito.
Feedback da atividade 2.
A situação hipotética apresentada descreve nitidamente uma investigação criminal preliminar, a qual
inicia-se com a notitia criminis (roubo ocorrido ao supermercado) e perdura até a entrega do relatório de
investigação em local de crime (e demais documentos que o embasam) à autoridade policial com atribuição
para apurar os fatos.
Dentre as ações que a compõe, pode-se citar, dentre outras, as que seguem:
deslocamento ao cenário do crime;
preservação e isolamento do local (incluindo, aqui, a correção do perímetro de isolamento, que
poderá ser diminuído – por motivos de segurança –, ou ampliado – para proteger vestígios detectados pelos
peritos, pela equipe de investigação criminal ou outros profissionais de segurança pública que estiverem no
local);
produção de elementos objetivos e subjetivos (por meio da utilização de métodos e técnicas inves-
tigativas);
liberação do local; e
pesquisas iniciais sobre as vítimas, testemunhas e suspeitos.
23
MÓDULO
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
3
Apresentação do módulo
Ainda no módulo anterior, você pôde observar que no Brasil se adota o sistema da polícia investiga-
dora, e que a investigação criminal, devido a sua complexidade, deverá ser conduzida por uma equipe de
investigação, cuja coordenação, por força das regras processuais penais, recairá sobre o delegado de polícia.
IC-M03-S05
Dando continuidade, você estudará o significado dos princípios, e mais, conhecerá a importância
dos princípios constitucionais que regem a investigação criminal para a tutela dos direitos e garantias funda-
mentais, a proteção do Estado Democrático de Direito e, consequentemente, o livre e seguro exercício da
cidadania.
O estudo deste módulo lhe auxiliará a compreender que o cumprimento dos princípios operacionais
da investigação criminal está diretamente relacionado com o sucesso da atividade investigativa.
Objetivos do módulo
Estrutura do módulo
24
Aula 1 – Princípios
O procedimento investigativo, assim como qualquer outro ato da administração pública, para ser
capaz de cumprir com a sua finalidade, precisa estar alicerçado em princípios específicos, que o regem
e sustentam.
Pode-se definir, de uma maneira geral, os Princípios, como:
Regras básicas que determinam condutas obrigatórias e impedem a adoção de procedimentos com eles
incompatíveis. São os fundamentos de determinados procedimentos, a base sobre a qual eles se assentam.
Para ajudá-lo a complementar este conteúdo, veja a seguir duas definições de princípios, uma apon-
tada pelo jurista Miguel Reale e outra pelo Advogado Celso Antônio Bandeira de Mello.
De acordo com Reale (1986, p. 60),
Princípios são, pois, verdades ou juízos fundamentais, que servem de alicerce ou de garantia de cer-
teza a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de conceitos relativos à dada porção da realidade.
Às vezes também se denominam princípios certas proposições, que apesar de não serem evidentes ou resul-
tantes de evidências, são assumidas como fundantes da validez de um sistema particular de conhecimentos,
como seus pressupostos necessários.
Importante!
Os princípios são elementos de ação transversal. No caso, significa que os princípios constitucionais
regem todos os procedimentos da investigação criminal em todos os atos da administração pública.
Sendo a investigação criminal um conjunto de atos da administração pública, incide sobre ela
princípios que fundamentam a gestão dessa administração, bem como princípios específicos da metodolo-
gia de execução técnico-cientifica.
Os princípios aplicados à investigação criminal são regras de operacionalidade da função protetora
de direitos e garantias fundamentais.
Assim, quanto maior o grau de lesividade da ação investigativa, maior deverá ser o cuidado da equipe
de investigação com as garantias protetoras do investigado.
25
Para refletir
Suas práticas diárias como profissional público têm sido norteadas com essa percepção?
O marco inicial dos princípios que regem a investigação criminal é o Art. 37 da Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil, o qual disciplina os fundamentos legais que deverão servir de referência e inspirar
todos os atos da administração pública. Diz o texto:
Você viu que, no Estado Democrático de Direito todos e todas deverão se submeter à supremacia da
lei.
O princípio da legalidade é a pedra de toque do Estado de Direito e estabelece dois tipos de relação,
uma com a administração pública, e outra, com o cidadão.
A atuação da administração pública só pode ser operada em conformidade com a lei. É uma relação
de submissão.
Nesse sentido, Mello (1994, p.48) afirma que:
Assim, o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Este deve tão-
-somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os seus agentes, desde o
que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser
a de dóceis, reverentes obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois
esta é a posição que lhes compete no direito Brasileiro.
A legalidade, como princípio de administração, significa que o administrador público está, em toda
sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode
afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal,
conforme o caso.
Importante!
É justamente essa relação de submissão que gera segurança jurídica aos cidadãos e limita o poder dos pro-
fissionais da Administração Pública.
Importante!
O princípio da legalidade é direito fundamental de cidadania, que servirá de base para todos os demais
princípios.
26
Observe que a acepção dada pela norma constitucional ao vocábulo lei não é restrita, mas abrangen-
te, abarcando a lei propriamente dita e todo o contexto jurídico em que ela está contida.
Significa que as normas que regulam a investigação criminal – mesmo as administrativas como: por-
tarias, ordens de serviços, protocolos de procedimentos etc. – estão inseridas nesse contexto e, portanto,
deverão respeitar o princípio da legalidade.
Nele se traduz a ideia de que a Administração tem que tratar todos os administrados sem discrimi-
nações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou ani-
mosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e muito menos
interesses sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie. (BANDEIRA DE MELLO, 2003, p. 104)
Trazendo essas definições para a investigação criminal, significa dizer que os procedimentos e atitu-
des deflagrados pelos integrantes da equipe de investigação deverão refletir objetividade no atendimento
do interesse público, sem qualquer possibilidade de privilégios, malefícios ou promoção pessoal.
Interesse público diz respeito ao agir estatal voltado a assegurar a viabilidade da vida em sociedade,
e quando se refere à investigação criminal, essa viabilidade se materializa por meio da plena efetividade de
suas finalidades: tutelar direitos e garantias fundamentais; produzir elementos objetivos e subjetivos capazes
de esclarecer o fato investigado e, se for o caso, fundamentar o indiciamento do autor pela autoridade poli-
cial; subsidiar o promotor de justiça ou o ofendido na promoção da ação penal; e, possibilitar a aplicação da
lei penal.
27
Pública observar, com pronunciado rigor e a maior objetividade possível, os referenciais valorativos da Cons-
tituição, cumprindo vivificar, exemplarmente, o combate contra toda e qualquer lesão moral ou imaterial
provocada por ações públicas não-universalizáveis, destituídas de probidade e de honradez. […] O princípio
da moralidade no campo administrativo não há de ser entendido como singelo conjunto de regras deonto-
lógicas extraídas da disciplina interna da Administração. Na realidade, prescreve exatamente mais: diz com
os padrões éticos de uma determinada sociedade, de acordo com os quais não se admite a universalização
de máximas de conduta que possam fazer perecer liames sociais aceitáveis ( justificáveis axiologicamente).
(2004, p. 53 - 56)
[...] quando o conteúdo de determinado ato contrariar o senso comum de honestidade, retidão, equi-
líbrio, justiça, respeito à dignidade do ser humano, à boa-fé, ao trabalho, à ética das instituições. A morali-
dade exige proporcionalidade entre os meios e os fins a atingir; entre os sacrifícios impostos à coletividade
e os benefícios por ela auferidos; entre as vantagens usufruídas pelas autoridades públicas e os encargos
impostos à maioria dos cidadãos. Por isso mesmo, a imoralidade salta aos olhos, quando a Administração
Pública é pródiga em despesas legais, porém inúteis, como propaganda ou mordomia, quando a população
precisa de assistência médica, alimentação, moradia, segurança, educação, isso sem falar no mínimo indis-
pensável à existência digna. Não é preciso, para invalidar despesas desse tipo, entrar na difícil análise dos
fins que inspiram a autoridade; o ato em si, o seu objetivo, o seu conteúdo, contraria a ética da instituição,
afronta a norma de conduta aceita como legítima pela coletividade administrada. Na aferição da imoralidade
administrativa, é essencial o princípio da razoabilidade […] (2006, p. 96)
Diante do conteúdo exposto, você poderá concluir que, as técnicas e métodos utilizados pela inves-
tigação criminal para a produção de elementos objetivos e subjetivos, além de irem ao encontro do sistema
jurídico vigente, deverão estar de acordo com o ideário moral vigente, são eles:
Receber dos órgãos públicos informações de interesse particular, coletivo ou geral (Inc. XXXIII);
Obter certidões em repartições públicas (Inc. XXXIV);
Conhecer informações relativas à pessoa interessada, constantes de bancos de registros ou bancos
de dados de entidades governamentais ou de caráter publico (Inc. LXXII).
Importante!
As decisões tomadas pela equipe de investigação durante a investigação criminal deverão estar alicerçadas
e de acordo com os valores que a sociedade adota como norte para a relação de convivência das pessoas,
e destas para com o ambiente.
28
O controle da gestão pública pelo cidadão, tamanha sua importância, encontra previsão em vários
dispositivos do Art. 5º da Carta Magna, podendo citar, entre eles:
O legislador constituinte, objetivando dar equilíbrio às relações jurídicas afetadas pelo princípio da
publicidade, estabeleceu exceções ao direito à informação, isso ao tutelar hipóteses de sigilo, o que pode ser
extraído da leitura do Inc. XXXIII do Art. 5º da CF/88:
[…] todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
Diante do conteúdo apresentado, pode-se concluir que a transparência é a regra, e que as exceções,
necessariamente, deverão estar previstas expressamente em lei.
Para saber sobre as exceções acesso o arquivo “Normas infraconstitucionais que preveem o sigilo”
que está nos anexos do curso.
Para refletir
Considerando o disposto no Art. 20 do Código de Processo Penal (“A autoridade assegurará no in-
quérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.”), pode-se afirmar
que todos os atos da investigação criminal são sigilosos?
Em princípio não.
No caso da investigação criminal, devem ser considerados dois aspectos:
O contexto da apuração, de interesse imediato e geral, pois diz respeito às demandas imediatas
de bem-estar da coletividade;
O aspecto do ato operacional específico, cujo interesse é mediato.
Ou seja, a apuração de provas da prática de um delito, como ato geral de gestão pública, deve ser
do conhecimento da comunidade, para que tenha segurança jurídica quanto a garantia de proteção de seu
bem-estar.
Note que, mesmo sendo de seu interesse, os procedimentos operacionais de apuração, em regra, são
executados em sigilo, exatamente para garantir a exequibilidade da investigação.
De acordo com o Art. 7º, Inciso XIV da Lei nº 8.906/94, é direito do advogado “examinar em qual-
quer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamen-
to, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos”, todavia, a par das
29
divergências jurisprudenciais e doutrinárias, em se tratando de procedimento investigativo cujo sigilo foi
determinado por decisão judicial, apenas com autorização judicial o advogado poderá acessá-lo, estando o
material sigiloso formalmente documentado ou não nos autos.
Além de escrito ele ainda é sigiloso. Se o inquérito policial visa a investigação, a elucidação, a descoberta das
infrações penais e das respectivas autorias, pouco ou quase nada valeria a ação da polícia judiciária se não
pudesse ser guardado o necessário sigilo durante a sua realização. O princípio da publicidade, que domina
o processo, não se harmoniza, não se afina com o inquérito policial. Sem o necessário sigilo, diz Tornaghi, o
inquérito seria uma burla, um atentado. (TOURINHO FILHO, 2006, p. 206)
Para refletir
Já imaginou se a polícia anunciar antecipadamente as estratégias que irá aplicar na investigação criminal de
delitos praticados por quadrilhas de tráfico de drogas ou por organizações criminosas?
(Inserir a imagem padronizada para os momentos de reflexão)
Você deve ter chegado à conclusão de que, desta forma, é pouco provável que consiga produzir
alguma prova...
“o administrador público tem o dever jurídico de, ao cuidar de uma situação concreta, escolher e
aplicar, entre as soluções previstas e autorizadas pela lei, a medida eficiente para obter o resultado desejado
pela sociedade”.
Isto significa que a Administração Pública e seus profissionais, no exercício das atividades funcionais,
deverão aplicar os recursos disponíveis com base na melhor relação custo-benefício, otimizando-os, e em-
pregar os critérios técnicos e legais necessários para maior eficácia possível em benefício da boa qualidade
de vida do cidadão.
30
Aula 3 - Princípios operacionais da investigação criminal
A operacionalidade da investigação criminal é sustentada pelo tripé formado pelos seguintes princípios:
Compartimentação Sigilosa;
Imediatismo;
Oportunidade.
Os compartimentos terão que ser estanques, hermeticamente fechados, para impedir a troca de da-
dos e informações entre as diferentes equipes que investigam um mesmo delito.
Compartimentação sigilosa é o processo de separação, por partes estrategicamente definidas, da
investigação criminal, cujo objetivo maior é evitar que haja troca de dados e informações entre as equipes
de investigação que atuam no caso, garantindo o maior grau possível de sigilo e, consequentemente, o êxito
da investigação.
Você deve estar se perguntando em como colocar isso em prática. O exemplo mais contundente diz
respeito à investigação dos crimes de extorsão mediante sequestro.
Via de regra é preciso que a investigação ocorra em vários campos, envolvendo diversos grupos de
trabalho, os quais serão compostos por equipes de investigação criminal com conhecimentos e habilidades
31
específicos.
A complexidade do evento requer atividades como:
Reconhecimento de ambientes;
Negociação;
Rastreamento de dados e informações;
Análise de dados;
Vigilância;
Proteção a pessoas etc.
No entanto, a diversidade das ações, dos integrantes das equipes de investigação e dos ambientes
operacionais aumenta, significativamente, o risco de “vazamento” de dados e informações sigilosos.
A solução é dividir esses dados e informações em pequenas “caixas” (compartimentar), as quais es-
tarão sob o controle de um grupo gestor.
Exemplo
Imagine que um dos integrantes da equipe de investigação que esteja fazendo o reconhecimento
seja capturado pelos infratores. O primeiro passo dos delinquentes será colher dele, a qualquer custo, tudo
que saiba sobre a operação policial.
Caso conheça todos os procedimentos da operação, a probabilidade de que venha a delatar é muito
grande, pois os mecanismos usados pelos infratores, como, por exemplo, a tortura, impedirão que o policial
mantenha o sigilo dos dados e informações que detenha, e mais, além de inviabilizar a investigação, colocará
sua vida em risco.
Atenção!
A compartimentação sigilosa, buscando evitar riscos e comprometimentos, objetiva restringir o aces-
so a dados e informações sigilosos somente àqueles que tenham a real necessidade de conhecê-los, isso em
decorrência da função que desempenham dentro da investigação.
32
O termo imediato tem dicionarizado as acepções de:
Imediatismo na investigação criminal não tem relação com imprudência ou precipitação. A necessi-
dade de eficácia, tratada no princípio constitucional correspondente, não comporta desleixo com o plano de
investigação.
Mesmo no procedimento mais simples, sempre haverá a necessidade de um plano para o início da
investigação.
Dessa forma, o princípio do imediatismo impõe que, recebida a notícia da infração, o desencadea-
mento da investigação criminal seja pronto e breve, mas em condições que garantam sua eficiência e eficá-
cia.
O plano inicial deve ser breve, pois é provisório e necessário para formulação das hipóteses prelimi-
nares.
Quanto mais tempo a equipe de investigação levar para iniciar a atividade investigativa, maior será o
risco de perda de dados e informações.
Os primeiros momentos depois do crime são potencialmente mais promissores para a investigação.
É o período em que os elementos objetivos e subjetivos estão mais latentes.
Tenha em mente
O tempo é fator de eficácia ou ineficiência da investigação criminal.
Quanto mais distante do momento da prática delitiva, maiores serão as chances de que haja o desapareci-
mento dos vestígios e da memória das testemunhas, as quais vão se ofuscando, ou até mesmo desaparecem,
com o seu passar, o que é potencializado pelas ações de ocultação desenvolvidas pelos infratores.
Exemplo
Uma equipe de investigação, quando da apuração de tráfico de drogas por pessoa de nome social
“Marcão do 46”, depois de levantar o seu modus operandi, e já de posse do reconhecimento realizado por
profissionais de inteligência da unidade policial, ao obterem a informação de que o suposto traficante aca-
bou de receber uma carga de pasta base de cocaína, e uma vez estando de posse de mandado de busca e
apreensão domiciliar, decidem dar cumpri-lo, haja vista a grande possibilidade de obtenção de elementos
objetivos que confirmem a traficância.
Finalizando...
33
investigação criminal, e que seu principal objetivo é impedir a troca de dados e informações entre as equipes
de investigação, garantindo, assim, o maior grau possível de sigilo e, consequentemente, eficiência e êxito à
investigação.
O imediatismo não se confunde com precipitação, e mais, que oportunidade diz respeito ao mo-
mento mais adequado para se iniciar o processo de busca dos elementos objetivos e subjetivos.
Antes de prosseguir, realize os exercícios propostos a seguir para fixar o que aprendeu até agora.
No próximo módulo, você irá conhecer o procedimento legal da investigação criminal.
Bons estudos!
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as atividades propostas abaixo.
Atividade 1.
Explique como o princípio da impessoalidade se reflete nas práticas da investigação criminal.
Atividade 2.
Demonstre um efeito prático da aplicação do princípio da compartimentação sigilosa na eficácia da investi-
gação criminal.
Atividade 3.
Assinale as afirmativas corretas:
34
Atividade 4.
Considerando os princípios aplicados à investigação criminal, associe a primeira coluna à segunda:
Primeira coluna:
1. Significa que a equipe de investigação, com plano breve e seguro, deverá conceber o momento
mais favorável, mais conveniente para iniciar o processo de busca dos elementos objetivos e subjetivos.
2. O tempo é fator de eficácia ou ineficiência da investigação criminal. Quanto mais distante do mo-
mento da prática delitiva, maiores serão as chances de que haja desaparecimento dos vestígios e da memória
das testemunhas, a qual vai se ofuscando, ou até mesmo desaparece, com o seu passar, o que é potenciali-
zado pelas ações de ocultação desenvolvidas pelos infratores.
3. A transparência, na administração pública, tem como objetivo o controle que poderá ser feito pela
própria Administração, pelo Poder Judiciário e pelo cidadão dos atos praticados pelos profissionais públicos.
Segunda coluna:
( ) Princípio da oportunidade.
( ) Princípio da publicidade.
( ) Princípio do imediatismo.
35
Gabarito
Feedbackda atividade 1.
O princípio da impessoalidade impõe que os procedimentos e atitudes deflagrados pelos integrantes da
equipe de investigação estejam vocacionados a atender o interesse público, sem qualquer possibilidade de
privilégios, malefícios ou promoção pessoal.
A busca dos elementos objetivos e subjetivos capazes de reconstituir o fato investigado deve estar atrelada
à objetividade do interesse público, e jamais poderá se vincular a qualquer tipo de interesse ou vontade
pessoal.
Feedback da atividade 2.
Compartimentar a investigação significa dividi-la em partes, restringindo o acesso a dados e informações
sigilosos às equipes de investigação que tenham a real necessidade de conhecê-los, pois cada uma delas
irá executar ações específicas dentro da investigação, não havendo necessidade que uma equipe conheça a
atividade da outra, pois estarão atreladas a uma gestão única, a qual irá direcionar seus passos e estabelecer
as estratégias que serão adotadas para manter o sigilo e o controle da atividade investigativa, diminuindo
riscos e comprometimentos e, assim, aumentando a eficiência e a eficácia.
36
MÓDULO
FUNDAMENTO LEGAL DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
4
Apresentação do módulo
No módulo anterior você estudou em que medida os princípios constitucionais (Art. 37 da CF/88)
e os princípios operacionais regem, sob os aspectos normativo e operacional, a atividade investigativa.
Verificou que a compartimentação sigilosa, além de diminuir riscos e comprometimentos, pro-
porciona eficiência e eficácia à investigação criminal.
Estudou que imediatismo não se confunde com precipitação, e que oportunidade diz respeito ao
momento adequado para se iniciar o processo de busca dos elementos objetivos e subjetivos.
Preparado(a)?
Vamos lá!
Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
Relacionar os Princípios Fundamentais da Constituição da República Federativa do Brasil que con-
trolam os atos da investigação criminal;
Descrever os valores fundamentais da Constituição da República Federativa do Brasil garantidores
do respeito à dignidade do investigado;
Aplicar as normas legais de controle da efetividade da busca de elementos objetivos e subjetivos
pela investigação criminal.
Estrutura do módulo
37
No Estado Democrático de Direito a legalidade é o fundamento de todos os atos da Administração.
Você já deve ter ouvido o provérbio latino que diz: “Todo poder vem da lei”. Portanto, a lei é a susten-
tação de toda a arquitetura da investigação criminal. Para ter validade, é preciso que cada parte do processo
seja formatada de acordo com o modelo definido em lei.
O modelo jurídico dos atos está expresso tanto na Constituição Federal como no Código de Pro-
cesso Penal e em outras leis especiais que regulamentam atividades específicas de investigação criminal,
como a infiltração de policiais em organizações criminosas.
O ato de investigar, por sua natureza, é invasivo, portanto, carece de controle absoluto, pois o dano
produzido pela atividade investigativa deverá ser apenas e tão somente o extremamente necessário para a
coleta de elementos objetivos e subjetivos capazes de reconstituir o fato investigado.
[…] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
São valores fundamentais, garantidores da existência da pessoa humana como membro de uma
sociedade democrática e, consequentemente, princípios que norteiam todas as normas de controle da cida-
dania.
O ato de investigar, portanto, é bidimensional. Ao mesmo tempo protege, limita os direitos e
garantias do cidadão.
Além disso, o modelo de polícia concebido pela Constituição Federal é de organização garantidora
de direitos e prestadora de serviços, valores estes que repercutem na investigação criminal.
Dos direitos e deveres formatados nos incisos do Art. 5° da CF/88, os que mais tangenciam a opera-
cionalidade da investigação criminal são os quatro explicitados a seguir.
Dê sequência a esta aula para descobrir quais são eles. Bons estudos!
38
2.1. Vedação a exigências ilegais
[...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Como você estudou anteriormente, é o anverso do princípio da legalidade. É a parte que cabe ao
cidadão na relação com a lei. Enquanto o profissional público só pode fazer o que a lei permite, do cidadão
só pode ser cobrado como obrigação aquilo que a lei diz que ele deve ou não fazer.
Esses três princípios resguardam uma das mais importantes condições de sobrevivência do ser huma-
no: a intimidade.
A intimidade é condição básica do bem-estar da pessoa humana. É a possibilidade de ter, só para si,
momentos e ambientes destinados à reflexão e recomposição de sua natureza. Essa necessidade é contem-
plada, como visto anteriormente, em um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito: o respeito à
dignidade da pessoa humana.
A prova é elemento fundamental na aplicação da pena. É a única possibilidade que o Estado possui
para estabelecer a relação jurídica entre o suspeito da prática delitiva e o crime perpetrado. Portanto, os
dados e informações coletados durante a investigação criminal jamais poderão estar contaminados por atos
abusivos, pois estes viciam os elementos objetivos e subjetivos produzidos, e consequentemente, a prova
penal.
Essa contaminação pode ocorrer tanto na metodologia de coleta como na análise dos dados. Uma
hipótese formulada com base em preconceitos poderá levar a um resultado não verdadeiro, o qual maculará
o procedimento investigativo.
Exemplo
A primeira hipótese acerca de um roubo ocorrido nas proximidades de uma favela é de que o autor
seja morador daquela comunidade, isso com fulcro apenas nas condições econômicas e sociais dos morado-
res.
39
As variáveis, neste caso, são fruto do preconceito e não de um estudo científico, e o pior, poderão
desencadear, mesmo não sendo verdadeiras, em uma série de procedimentos abusivos, como buscas domi-
ciliares e prisões ilegais.
Atenção!
Como visto no módulo anterior, a Constituição Federal também formula os princípios de gestão da Admi-
nistração Pública.
Para saber sobre as regras de operacionalidade do procedimento, acesse o arquivo “Exceção”, que
está nos anexos do curso.
A autoridade policial, como líder da equipe de investigação e gestora da atividade investigativa, deve
dirigir-se ao local do crime toda vez que a prática delitiva produzir vestígios, pois a cena do crime, por ter
sido palco da ação delituosa, é um ambiente rico em elementos objetivos e subjetivos, e a realização de
uma eficiente investigação preliminar será de suma importância para o esclarecimento de sua materialidade
e autoria.
[…] II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste
Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por 2 (duas) testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos
sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição
40
econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elemen-
tos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade
policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a
ordem pública.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou
estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem
de prisão, ou no prazo de 30 (trina) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
[…] Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade.
Importante!
O Código de Processo Penal arquiteta um processo metodológico que exterioriza, com clareza, a interdisci-
plinaridade e a complementaridade dos atos de investigação criminal.
Significa que os atos praticados na produção dos elementos objetivos e subjetivos que servirão de
prova no processo penal não são isolados, e que eles se completam.
41
Aula 4 – O controle nas leis especiais
Olá!
Nas aulas anteriores você teve acesso a muitas informações sobre o controle na Constituição Federal
e também sobre o controle no Código de Processo Penal.
Já nesta aula, para finalizar o conteúdo deste módulo, você estudará sobre o controle nas leis espe-
ciais.
Curioso(a)?
Bons estudos!
Nota: A Lei nº 12.850/13 entrou em vigor em 19/09/13, revogando a Lei nº 9.034/95, a qual dispunha
sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas.
CAPÍTULO II
DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA
Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei,
os seguintes meios de obtenção da prova:
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos
de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do Art. 11 da Lei nº 12.850/13;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de
provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. [...]
Para saber sobre “colaboração premiada” acesse o arquivo “Colaboração premiada Lei 12850”, que está nos
anexos do curso.
Para saber sobre “captação ambiental de sinais” acesse o arquivo “Captação de sinais”, que está nos anexos
do curso.
Para saber sobre “ação controlada” acesse o arquivo “Ação controlada”, que está nos anexos do curso.
Para saber sobre “acesso a registros” acesse o arquivo “Acesso restrito”, que está nos anexos do curso.
42
l9296.htm.
Para saber sobre “afastamento dos sigilos financeiros”, acesse o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/lcp/Lcp105.htm.
Para saber sobre o “Art. 11”, acesse o arquivo “Da infiltração de agentes”, que está nos anexos do curso.
[...] Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são per-
mitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes
procedimentos investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especia-
lizados pertinentes;
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros pro-
dutos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar
e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação
penal cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.
A Lei nº 11.343/06 permite, para eficácia do resultado final da atividade investigativa relacionada ao
tráfico de drogas, a utilização das técnicas de infiltração (Inc. I) e ação controlada (Inc. II).
Todavia, limita sua utilização pelas polícias judiciárias ao exigir, para sua efetividade, que haja autorização
judicial e manifestação do Ministério Público, e mais, no que tange à ação controlada, que sejam conhecidos
o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou seus colaboradores.
[…] Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em inves-
tigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do
juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das
43
seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação,
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a reque-
rimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal;
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal.
Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a demonstração de que a sua realiza-
ção é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados.
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde que estejam
presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será condicionada à sua
redução a termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido.
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da di-
ligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a
indispensabilidade do meio de prova.
Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência
ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.
§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação interceptada, será determinada a sua
transcrição.
§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado da interceptação ao juiz, acompa-
nhado de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das operações realizadas.
§ 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a providência do art. 8°, ciente o Ministério Público.
Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar
serviços e técnicos especializados às concessionárias de serviço público.
Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados,
apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências,
gravações e transcrições respectivas.
Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada imediatamente antes do relatório da autoridade,
quando se tratar de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou na conclusão do processo ao
juiz para o despacho decorrente do disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de Processo Penal.
Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a ins-
trução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte interessada.
Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público, sendo facultada a presen-
ça do acusado ou de seu representante legal.
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou
quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Importante!
A metodologia de controle da investigação criminal, especialmente nas ações de maior nível de invasão,
exige a adoção de medidas de gestão direta e imediata por parte de magistrados e promotores de justiça.
Finalizando...
Neste módulo você estudou que:
A investigação criminal, por sua natureza, exige controle absoluto, muitas das vezes realizado
pelo Poder Judiciário e Ministério Público.
44
Os atos investigativos de coleta dos elementos objetivos e subjetivos, por força constitucional,
devidamente disciplinados pela legislação processual penal e leis especiais, possuem o condão de proteger
e preservar direitos e garantias fundamentais, em especial a intimidade, a vida privada e a imagem das
pessoas, por isso devem sempre causar o mínimo possível de dano a esses bens jurídicos.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as atividades propostas a seguir.
Atividade 1.
Segundo disciplina a Constituição Federal, são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas. Aponte atitudes da equipe de investigação que sejam reflexo dessa regra constitucional.
Atividade 2.
Assinale a alternativa correta:
a. ( ) O sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, poderá ser quebrado, sem ordem judicial, para apuração de crime contra a vida das pessoas.
b. ( ) O pedido de interceptação de comunicação telefônica não precisa conter a demonstração de
que a sua realização é necessária à apuração de infração penal.
c. ( ) Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes de tráfico ilícito de drogas, é
permitida, como procedimento investigatório, a não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus
precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasi-
leiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico
e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
d. ( ) Nos casos de acesso a dados, documentos e informações bancárias e financeiras, ocorrendo
possibilidade de violação de sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a diligência será realizada pesso-
almente pelo juiz, adotado o mais rigoroso segredo de justiça.
Atividade 3.
Assinale a alternativa INCORRETA:
a. ( ) Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá averi-
guar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica,
sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que
contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
b. ( ) Quanto ao procedimento investigatório de interceptação de comunicação telefônica, em
nenhuma hipótese, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, mesmo que estejam
presentes os pressupostos que autorizem a interceptação.
c. ( ) Para verificar a possibilidade de a infração ter sido praticada de determinado modo, a autori-
dade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade
ou a ordem pública.
d. ( ) Na investigação dos crimes organizados, em qualquer fase de persecução criminal, é permiti-
do o procedimento da ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação
praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado.
45
Gabarito
Feedback da atividade 1.
A intimidade, a vida privada e a imagem das pessoas são direitos fundamentais imprescindíveis à existência
do Estado Democrático de Direito, por isso receberam proteção constitucional e devem ser respeitados por
todos e todas, em especial por aqueles que são seus guardiões: os profissionais públicos.
Na investigação criminal essas garantias se efetivam com o cuidado desprendido pelos integrantes da equi-
pe de investigação durante a coleta dos elementos objetivos e subjetivos, como, por exemplo, durante o
cumprimento de uma busca e apreensão domiciliar, a qual deverá ser realizada nos ambientes extremamente
necessários à diligência, sempre procurando incomodar o mínimo possível as pessoas residentes no local,
preservando suas imagens e impedindo que exposições públicas desnecessárias ocorram.
46
MÓDULO
A LÓGICA APLICADA À INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
5
Apresentação do módulo
Olá!
No módulo anterior você estudou que os atos investigativos de coleta dos elementos objetivos e
subjetivos possuem o condão de proteger e preservar direitos e garantias fundamentais, em especial a inti-
midade, a vida privada e a imagem das pessoas, por isso exigem controle absoluto.
Agora, em continuidade, você estudará o processo científico da investigação criminal.
Vamos lá!
Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
Descrever a investigação criminal como um processo científico;
Formular o problema em uma investigação criminal;
Elaborar hipóteses indicativas das circunstâncias e autoria de um crime;
Testar as hipóteses formuladas.
Estrutura do módulo
Este módulo é composto pela seguinte aula:
Aula 1 - Processo científico da investigação criminal
Para saber sobre “senso comum”, acesse o arquivo “Senso comum”, que está nos anexos do curso.
Para Dencker (2007, p. 29), o conhecimento científico se caracteriza pela reflexão e intenção de cons-
trução de um corpo metodicamente ordenado de conhecimentos, orientado pelo emprego científico.
Neste momento você pode estar se perguntando:
O processo da investigação criminal corresponde ao processo de produção de um conhecimento
científico?
Nesse processo há o emprego de métodos científicos?
O que é um método científico?
Não se preocupe, essas perguntas serão respondidas ao longo dessa aula. Continue-a para descobrir
as respostas!
Veja o conceito de Dencker (2007, p. 29): (…) método científico é um conjunto de regras ou critérios
que servem de referência no processo de busca da explicação ou da elaboração de previsões em relação a
47
questões ou problemas específicos.
Diz, ainda, a autora, que o emprego do método é que faz com que o conhecimento seja considerado
científico. Para ela, são três os elementos que formam a base da investigação científica e caracterizam o co-
nhecimento como ciência: a teoria, o método e a técnica, sendo esta o como fazer aquilo que é estabelecido
pelo método.
Nos módulos anteriores você estudou que o Código de Processo Penal e outras leis estabelecem uma
metodologia, ou seja, uma maneira concreta de se realizar a busca do conhecimento (elementos objetivos e
subjetivos, os quais, no processo penal, após serem submetidos ao contraditório e à ampla defesa, atingirão
o status de prova) de uma realidade específica (o fato, em tese, criminoso).
Analisando o padrão geral da investigação científica, é possível constatar, como diz Copi (1981, p.
391), que “o detetive, cujo objeto não é idêntico ao do cientista puro, mas cuja abordagem e técnica para a
investigação dos problemas ilustram, claramente, o método científico”.
Para Refletir...
E agora, diante do que foi estudado, você se sente um cientista?
Tenha em mente!
O problema é a questão que se pretende resolver, ou seja, é o fato apresentado à equipe de investigação,
que se encarregará de formular hipóteses e, ao final, apresentará uma conclusão.
Conclusão: descrição detalhada da dinâmica do crime, do instrumento utilizado para a sua prática, da moti-
vação, dos meios e da oportunidade.
48
existido se o detetive Holmes não a tivesse visto, desde o princípio, como um problema.
1.1.1 Problema
Então, o que é o problema?
Mais uma vez faz-se necessário recorrer a autores, neste caso, a Copi (1981, p. 392), que diz:
Podemos caracterizar um problema como um fato ou um grupo de fatos, para o qual não dispomos
de qualquer explicação aceitável, que pareça incomum ou que não se adapte às nossas expectativas ou pre-
conceitos.
Na investigação criminal, o problema é o fato posto diante da equipe de investigação, o qual traz
reflexos no mundo jurídico e requer, consequentemente, uma definição das circunstâncias em que ocorreu.
É o caso sob investigação.
Leia o caso:
O cadáver de uma mulher jovem é encontrado em um aterro sanitário, o qual fica fora da área urbana.
O corpo estava sem a cabeça e as mãos, os quais foram, ao que tudo indica, decepados, todavia, não foram
encontrados. Junto ao corpo, também decepados, estavam os membros inferiores da vítima.
Os dados e informações iniciais permitirão a formulação das primeiras hipóteses a serem testadas.
Ou seja, serão levantadas as teorias iniciais sobre a natureza do delito, as possíveis circunstâncias, motiva-
ções, meios e oportunidades, os quais possibilitarão eleger a metodologia que será aplicada na investiga-
ção.
Inicialmente não há, obviamente, uma teoria completa, pois na maioria esmagadora dos casos isso não é
possível. Entretanto, ela deve ser suficiente para traçar as linhas gerais da investigação e permitir a seleção
dos dados e informações a serem examinados.
49
Analisando...
Leia novamente o caso apresentado. No primeiro momento, as únicas informações mostram apenas
que houve a morte de uma mulher, cuja cabeça e membros foram decepados.
Para relembrar o caso apresentado, acesse o arquivo “Caso 01”, que está nos anexos do curso.
Na cena do crime a equipe de investigação terá a possibilidade de observar uma série de dados e
informações que a levará a formular as primeiras hipóteses como, por exemplo, que houve um homicídio, o
qual foi perpetrado em local distinto daquele onde foi encontrado o cadáver.
As circunstâncias conhecidas sugerem essas possibilidades, pois não há marcas de luta nem manchas
de sangue que sugiram ser aquele o local da prática do evento.
O processo seguinte é coletar dados e informações que possam confirmar ou não as hipóteses preli-
minares ou auxiliar em novas formulações.
Para se iniciar uma investigação séria, diz Copi (1981, p. 395) que a hipótese preliminar é tão impor-
tante quanto a existência do próprio problema.
Claro que as primeiras hipóteses, quase sempre, são decorrentes de conjecturas baseadas em expe-
riências anteriores. Serão sempre incompletas e, muitas vezes, diferente da solução final do caso, mas de
extrema importância como fonte movedora da busca dos elementos objetivos e subjetivos que poderão
ostentar, na ação penal, o status de prova.
Importante!
Hipótese é uma suposição feita pela equipe de investigação na tentativa de responder o problema (o fato
questionado). É a resposta provável de quem, quando, onde, como e por que praticou-se o crime, a qual
precisa ser testada pela investigação.
50
No caso hipotético citado anteriormente, a equipe de investigação, baseada nos conhecimentos
acumulados com estudos e fatos anteriores, formulará suas primeiras conjecturas, podendo considerar,
como exemplo, que em situação semelhante, concluiu-se que se tratava de um crime passional, fruto de
uma traição em um relacionamento amoroso.
Para ver o caso hipotético, acesse o arquivo “Caso 1”, que está nos anexos do curso.
Processo heurístico: parte da pesquisa que visa a favorecer o acesso a novos desenvolvimentos teóricos ou
descobertas empíricas.
Aplicando essa teoria das fontes de hipóteses à investigação criminal, certo é que para formular uma possi-
bilidade sobre a ocorrência do delito, a equipe de investigação deverá considerar:
os dados e informações conhecidos;
suas experiências profissionais;
o conhecimento acadêmico adquirido;
sua capacidade de intuir. E dosar tudo isso com uma visão global e crítica do contexto.
Analisando...
Para relembrar o caso que temos usado como suporte para as análises dessa aula, acesse o arquivo
“Caso 1”, que está nos anexos do curso.
A hipótese preliminar aponta para a possibilidade de que o crime tenha ocorrido em outro lugar.
Esta hipótese está fundada no resultado da observação do local de encontro do cadáver, que resultou na
localização de um tíquete de estacionamento pago, que levou a um prédio de escritórios, daí a uma sala e
51
às testemunhas que apontaram um suspeito.
A constatação é de que o suspeito fora visto, tarde da noite, colocando uma caixa pesada no porta-
-malas de seu veículo, fato comprovado pelo vídeo das câmeras do circuito interno do prédio.
Se a caixa não estava junto ao cadáver, provavelmente fora abandonada em algum lugar.
Mas, onde?
Uma busca constatou que estava na lixeira do prédio onde reside o suspeito, e que dentro dela havia
uma faca suja de sangue. Na caixa também havia uma etiqueta com o endereço do escritório do suspeito,
manchas de sangue e fragmentos de impressões digitais. Diante disso, exames periciais indicaram que o
sangue era da vítima e as impressões digitais, do suspeito.
Ademais, observações detalhadas no cenário onde estava o cadáver indicaram sinais de que os mem-
bros decepados da vitima haviam sido ocultados naquele mesmo local. Com as impressões digitais, foi pos-
sível fazer a identificação da vítima.
Também sob as unhas do cadáver havia fragmentos de pele humana, que pertenciam ao autor do
crime (fato comprovado por meio de exame de DNA), o qual possuía marcas de arranhão no rosto.
Perceba que o processo investigativo sistematizado levou a equipe de investigação à verificação dos fatos
decorrentes das hipóteses formuladas.
Testemunhas informaram que a vítima frequentava o escritório. Fotos e bilhetes, ali encontrados,
comprovaram que ela era amante do autor e que este pretendia terminar o romance. Todavia, diante das
ameaças da vítima de que revelaria o caso para sua esposa, resolveu matá-la.
Diante das hipóteses desenvolvidas e testadas, a equipe de investigação apresenta a conclusão fi-
nal, a qual explicará o fenômeno submetido ao processo de investigação.
No caso investigado, chegou-se à conclusão de que houve a prática de um homicídio, motivado por
ameaças de exposição familiar da relação extraconjugal que mantinham autor e vítima, tendo o seu algoz,
com o emprego de uma faca (instrumento do crime), retirado a sua vida e, em seguida, buscando esconder
a identidade da vítima, decepado suas mãos e cabeça, sendo seu corpo transportado, dentro de uma caixa,
no carro do autor, o qual o abandonou em um aterro sanitário.
As consequências deduzidas a partir das hipóteses deixaram de ser apenas uma possibilidade e fo-
ram confirmadas como verdadeiras por meio de exames periciais, testemunhos e observações da equipe de
investigação.
Esta é a imagem da investigação criminal. Tal como o processo de uma pesquisa científica, movida
por um raciocínio correto e ordenado, a partir de fatos que levam a uma hipótese testável que, além de
52
explicar os fatos que compõem o fenômeno investigado, ainda permite aplicações práticas com o julgamen-
to do autor.
Finalizando...
Neste módulo você estudou que:
A investigação criminal é um processo científico.
A base da investigação científica é composta por três elementos: teoria, método e técnica.
Toda investigação criminal parte de um problema, e que este é a questão que se pretende resol-
ver, ou seja, é o fato (suposto delito) apresentado à equipe de investigação, que se encarregará de formular
hipóteses (sobre a autoria e materialidade) e, ao final, apresentará uma conclusão (descrição detalhada da
dinâmica do crime, do instrumento utilizado para a sua prática, da motivação, dos meios e da oportunidade).
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as atividades propostas a seguir.
Atividade 1.
Com sua experiência, descreva e comente procedimentos que confirmem a investigação criminal como pro-
cesso científico.
Atividade 2.
Considerando o processo científico da investigação criminal, relacione a primeira coluna com a segunda
Primeira coluna:
( ) A repetição de experimentos permite que se tenha uma ideia da regularidade com que os fatos ocorrem.
( ) Conjunto de regras ou critérios que servem de referência no processo de busca da explicação ou da ela-
boração de previsões em relação a questões ou problemas específicos.
( ) Suposição feita pela equipe de investigação na tentativa de responder o problema (o fato questionado).
( ) Fenômeno de reflexo no mundo jurídico e que requer uma definição das circunstâncias em que ocorreu.
Segunda coluna:
1. Método científico.
2. Fonte da hipótese.
3. O problema da investigação.
4. Hipótese.
Atividade 3.
Marque a alternativa correta. São fontes de hipótese no processo científico:
a. ( ) Observação, intuição, complementação de dados e teorias.
b. ( ) Intuição, observação, teorias e resultado de outras pesquisas.
c. ( ) Observação, método, teorias e pesquisa.
d. ( ) Teoria, método, técnica e observação.
53
Gabarito
Feedback da atividade 1
Você viu que a equipe de investigação aplica a mesma abordagem e técnica do cientista quando da realiza-
ção da investigação criminal, ilustrando, claramente, o método científico.
Quando você, integrante da equipe de investigação, toma conhecimento de um fato, em tese, delituoso, está
diante de um problema que precisa ser explicado.
Feita a análise desse problema, é levantada a hipótese preliminar de que se trata de um determinado crime,
o qual foi perpetrado de determinada forma. Começa então, a partir dessa premissa, a verificação da hipó-
tese apresentada, por meio da coleta de elementos objetivos e subjetivos, os quais poderão confirmá-la ou
afastá-la.
Confirmada a hipótese, você chega à conclusão de que ocorreu um determinado delito, em tais circunstân-
cias e praticado por certo autor.
54
MÓDULO
PERFIL PROFISSIONAL DO INTEGRANTE DA EQUIPE DE
6 INVESTIGAÇÃO
Apresentação do módulo
Objetivos do módulo
Estrutura do módulo
Este módulo é composto por três aulas:
Aula 1 – O perfil do policial
Aula 2 – Competência profissional
Aula 3 – Atributos exigidos ao integrante da equipe de investigação
Segundo consta em uma das apostilas da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal, o escritor in-
glês Frederick Forsyth, em seu livro O Dia do Chacal, traçou o perfil de um investigador quando se referiu ao
inspetor Claude Lebel, que dizia saber ter sido sempre um bom policial, lento, preciso, metódico, infatigável.
Era conhecido na polícia judiciária como esquisitão, um homem metódico que detestava publicidade e se
55
furtava a dar entrevistas coletivas.
Para ver sobre “O dia do Chacal” acesse o arquivo “O Dia do Chacal”, que está nos anexos.
Analisando o perfil traçado pelo autor, e uma vez sabendo que o policial é o reflexo da imagem de sua ins-
tituição, responda:
Você acredita que aquele investigador corresponde às expectativas sociais e institucionais de se-
gurança pública?
Esse profissional é capaz de integrar uma equipe de investigação, e mais, ele poderá auxiliar seus
pares na realização da investigação criminal?
Com essa imagem profissional, é possível angariar a confiança de seus pares e da comunidade?
Para refletir
Qual é o perfil do integrante de uma equipe de investigação que uma sociedade democrática de direito quer
como tutor de seus direitos e garantias fundamentais? Qual é o perfil desse prestador de serviços públicos
essenciais?
No que diz respeito à primeira pergunta, a unidade inicial do curso o levou a essa reflexão. Como diz
Balestreri (2002): “o policial é um ator social envolvido diretamente nas cenas de construção da realidade; é
um protagonista de direitos e de cidadania; o policial é um pedagogo; o policial é, antes de tudo, um cida-
dão.”
Para referido autor, essa inclusão do policial na dimensão de agente educacional é um novo e mais
abrangente paradigma educacional.
Para ele, a profissão policial é irrecusavelmente formadora de consciências e de opiniões, portanto, o policial
é “um pleno e legitimo educador”, dimensão essa inabdicável, “explicitada através de comportamentos e
atitudes”.
IC-M06-S12
É nesse contexto que se deve refletir e construir o perfil profissional do integrante da equipe de in-
vestigação.
A natureza garantidora de direitos e garantias do processo investigatório exige de seus executores
atributos e habilidades específicas, adequadas ao propósito de busca da verdade de uma determinada prá-
tica delituosa.
Perceba que há um novo paradigma de cidadania. As competências requeridas por essa sociedade
terão que corresponder às suas novas demandas.
Citado por Cordeiro e Silva (2005, p. 42), o educador francês Perrenoud define competências profis-
sionais como sendo:
(...) conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para garantir sua atuação na pro-
fissão. Mapeá-las exige metodologia específica visando a responder às perguntas que possam englobar: O
que este profissional precisa saber? O que ele irá fazer? Que atitude deverá ter?
Ainda argumentando com apoio dos ensinamentos de Cordeiro e Silva (2005, p. 42), para compre-
ensão do que seja o perfil profissional, eles apresentam como exemplo de competências profissionais o
emprego adequado da arma de fogo pelo policial. Vejamos:
Empregar adequadamente armas de fogo. Esta é uma das competências exigidas ao profissional da área de
segurança pública.
56
Dentre os conhecimentos, habilidades e atitudes que esta competência engloba, podemos destacar
como exemplo:
Conhecimentos sobre o armamento: características físicas, componentes e princípios da utilização
das armas de fogo;
Habilidades que os possibilitem a usá-las: postura, empunhadura etc.;
Atitudes que possam ajudá-los na hora da decisão em diferentes cenários, em diversas situações,
tendo como premissa básica a valorização de vidas.
Tirocínio policial: juízo formulado com base nas experiências, nas práticas policiais.
Tenha em mente
A abordagem sobre o perfil profissional está diretamente relacionada com o processo de formação
que busque responder questões sobre o tipo de conhecimento necessário para o exercício da profissão,
sobre as habilidades que deverão ser adquiridas ou desenvolvidas e, fundamentalmente, sobre as atitudes
que deverão ser adotadas como resultado da formação, para situarem-se e agirem na realidade profissional.
Essas competências se tornam características qualitativas, ou seja, atributos do profissional.
Imagine as seguintes situações:
O policial que diante de uma situação crítica, um roubo com grave ameaça à vítima, por exemplo,
não sabe que decisão tomar preliminarmente para contenção e controle da situação de crise.
E a equipe de investigação que, recebendo o boletim de ocorrência do desaparecimento de uma
criança que estava na escola, não adota medidas adequadas para imediata apuração do fato.
Para refletir
Quais sãos as atitudes imprescindíveis ao integrante da equipe de investigação para que seja consi-
derado um profissional eficiente, humano, cidadão e prestador de serviço público?
57
Ser proativo. Reflete a característica de sempre sair na frente dos acontecimentos, de se antecipar.
Não esperar pelo resultado do laudo pericial para elaborar e executar o plano de investigação, por exemplo.
Ser flexível. A investigação criminal é um processo complexo que envolve diferentes profissionais
e diferentes contextos. A flexibilidade permite a sinergia positiva necessária no grupo para o êxito do proce-
dimento.
Propenso a mudanças. Sabendo que a investigação criminal é um projeto sujeito a vários fatores
de risco, os quais poderão ocorrer durante a execução, o integrante da equipe de investigação terá que ter
uma postura que possibilite aceitar e adotar mudanças de estratégias, evitando ou minimizando os riscos,
bem como otimizando os resultados.
Sentido de oportunidade. Decorre de um dos princípios básicos da investigação criminal. O inte-
grante da equipe de investigação deve ter a percepção do contexto para conhecer e saber como e quando
agir.
Ser aberto à inovação e à criatividade. Modelos antigos e desgastados devem ceder lugar aos
novos e atualizados. O integrante da equipe de investigação deve estar atento e aberto a novos conhecimen-
tos, novas estratégias e ferramentas que facilitem, agilizem e tornem eficaz a investigação. Deve construir
novas habilidades que otimizem a atividade investigativa, todavia, em todos os casos, sempre primando pela
legalidade.
Ter atitude de suspeição. O integrante da equipe de investigação não deve tomar nada como
definitivo. Sempre suspeitar que por trás da informação colhida há outra para ser analisada. Só assim terá
motivação para dinamizar a investigação com novas hipóteses.
Ter versatilidade. Ser capaz de se adequar às diferentes possibilidades de investigação.
Ser amistoso. A capacidade de relação amiga oferece possibilidades de contatos e colaboração, o
que também ocorre com a cortesia.
Ser curioso. O desejo de saber, de buscar dados e informações é a natureza básica da investigação
criminal.
Ser observador. O uso dos sentidos tem papel fundamental na ação do integrante da equipe de
investigação. A capacidade de observação reflexiva é fundamental na formulação de hipóteses.
Bom senso. Na avaliação dos dados e informações colhidos, é preciso saber discernir entre o ver-
dadeiro e o falso, para evitar abusos e injustiças.
Ser cauteloso. A precaução evita conclusões precipitadas, baseadas apenas em experiências.
Paciência. O processo de investigação tem data de começo, mas o final depende de uma série de
fatores, que poderão até ser previsíveis, mas, muitas vezes, fora do controle da equipe de investigação.
Persistência. É uma consequência da paciência e um fator de extrema importância na busca de
elementos objetivos e subjetivos capazes de reconstituir o crime.
Naturalmente que não se trata de uma relação que esgote as atitudes necessárias aos integrantes da equipe
de investigação, nem poderia ser, pois, estando relacionadas com o saber profissional, sua construção está
vinculada também ao conhecimento adquirido.
Finalizando...
Relembre o que você estudou neste módulo:
O perfil do profissional de segurança pública, em especial dos integrantes das equipes de investi-
gação, diante do Estado Democrático de Direito e da nova percepção de polícia cidadã, protetora e preser-
vadora de direitos e garantias fundamentais.
A profissão policial é formadora de consciências e opiniões, sendo o profissional de segurança pú-
blica “um pleno e legitimo educador”, dimensão essa inabdicável e explicitada por meio de comportamentos
e atitudes.
A importância das competências profissionais (conhecimentos, habilidades e atitudes) e dos atri-
butos (ser proativo, flexível e propenso a mudanças, ter sentido de oportunidade, ser aberto à inovação e à
criatividade, ter atitude de suspeição e versatilidade, ser amistoso, curioso e observador, ter bom senso, ser
cauteloso, ter paciência e persistência, dentre outros) exigidos aos integrantes das equipes de investigação
58
para a investigação criminal, e de como interferem no resultado das atividades investigativas.
Parabéns! Você chegou ao fim do módulo Perfil profissional do integrante da equipe de investigação.
Antes de prosseguir, realize os exercícios propostos a seguir para fixar os conhecimentos adquiridos. No pró-
ximo módulo você estudará a abordagem sistêmica e interdisciplinar da investigação criminal.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as atividades propostas abaixo.
Atividade 1
A respeito do perfil do policial, você leu no texto de Balestreri (2002) que “o policial é um ator social
envolvido diretamente nas cenas de construção da realidade; é um protagonista de direitos e de cidadania;
o policial é um pedagogo; o policial é, antes de tudo, um cidadão.”
O policial é o arquétipo da luta do bem contra o mal, e o efeito disso na construção de uma realidade
social depende da maneira como ele utiliza as prerrogativas postas à sua disposição para esse processo de
defesa de direitos e garantias do cidadão.
Atividade 2
Considerando o tema, perfil do integrante da equipe de investigação, relacione a segunda coluna
com a primeira.
Primeira coluna:
1. O conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para garantir sua atuação na profissão.
2. O integrante da equipe de investigação deve ter a percepção do contexto para conhecer e saber como e
quando agir.
3. Valores que irão determinar a tomada de decisão, a ação e reação em diferentes contextos.
4. Conteúdos de procedimentos de como executar os atos da profissão.
Segunda coluna:
Atividade 3.
a. ( ) De acordo com o estudado, ser cauteloso significa que o integrante da equipe de investigação, na
avaliação dos dados e informações colhidos, precisa saber discernir entre o verdadeiro e o falso, para evitar
abusos e injustiças.
b. ( ) Sentido de oportunidade significa que o integrante da equipe de investigação deve ter a percepção do
contexto para conhecer e saber como e quando agir.
c. ( ) Ter atitude diz respeito aos conteúdos de procedimentos, de como executar os atos da profissão.
d. ( )Ser proativo é característica que leva o integrante da equipe de investigação, por exemplo, a não esperar
pelo resultado do laudo pericial para elaborar e executar o plano de investigação.
59
Gabarito
Feedback da atividade 1
O papel do policial na comunidade é de fundamental importância na formação e manutenção dos valores
sociais. Suas atitudes têm grande impacto na comunidade onde atua, pois são tidas como referência, tanto
positivas quanto negativas, o que dependerá da sua postura como profissional de segurança pública e cida-
dão.
60
MÓDULO
A INTERDISCIPLINARIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
7
Apresentação do módulo
Veja a seguir:
No módulo anterior você estudou o perfil dos integrantes das equipes de investigação diante da
nova percepção de polícia cidadã, protetora e preservadora de direitos e garantias fundamentais, e consta-
tou que todo profissional de segurança pública é um legítimo educador.
Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
Explicar como a interação de vários conhecimentos contribui para o processo da investigação cri-
minal;
Demonstrar como se processa a interdisciplinaridade na investigação criminal;
Apontar a atitude correta do integrante da equipe de investigação para superar a fragmentação da
investigação criminal.
Estrutura do módulo
Este módulo é composto pelas seguintes aulas:
Aula 1 - Uma abordagem sistêmica da investigação
Aula 2 - Abordagem interdisciplinar da investigação criminal
Aula 3 – Interdisciplinaridade
Aula 4 - Como superar a fragmentação da investigação criminal
61
Como você estudou, a investigação criminal é executada por vários atores com conhecimentos, no-
ções, procedimentos e competências de outras disciplinas, que se completam num processo de transferência
para construção da explicação de um determinado problema.
Por exemplo, nas atividades de medicina legal, de perícia criminal, de papiloscopia ou de entrevistas, há um
complexo de saberes diversos voltados para o estudo da singularidade de uma determinada conduta tida
como delituosa.
De nada adianta a impressão digital colhida na cena do crime sem que esteja contextualizada com os
demais elementos objetivos e subjetivos produzidos, pois, do contrário, será apenas um vestígio. O conheci-
mento da papiloscopia terá que interagir com os demais para que possa transformar aquele fragmento em
representação da situação investigada, ou seja, em uma futura prova.
A investigação criminal é um sistema aberto e em permanente interação com o ambiente, com o qual
troca energia, matéria e informação. Esse é um processo necessário para que o sistema se mantenha organi-
zado internamente e evolua.
Como todo sistema, a investigação não é uma simples soma ou agregado de elementos, mas um
todo coerente e indivisível. Nesse contexto, cada elemento tem seu papel e valor. Muito embora cada um
formate sua representação com base nos critérios e normas próprias da disciplina de seu domínio, há uma
inter-relação desses diferentes campos do conhecimento para explicar o mesmo objeto de estudo.
Sendo um sistema, a estabilidade e a funcionalidade da investigação criminal se sustentam no cum-
primento das regras sistêmicas e no empenho e motivação de seus membros.
A principal regra sistêmica é a que estabelece a necessidade de compreensão da existência de dife-
rentes pontos de vista, que interagem para explicar o que vemos. O sucesso da investigação criminal depen-
de da visão sistêmica da equipe de investigação.
Esses pontos de vista são formados pelos saberes diversos operados pelos atores da investigação, em
ações interdisciplinares.
62
A reflexão é ilustrada com o desenho de um ponto branco em um fundo escuro. Primeiro sugere que
digamos do que se trata. Depois, que façamos a mesma pergunta para várias pessoas. O resultado serão
respostas diferentes, dizem, para a mesma pergunta.
Por quê?
Porque, afirmam os autores, “a imagem que você vê não é um ponto à vista, mas a vista de um pon-
to, o que comprova que existem diferentes pontos de vista para explicar o que vemos” (CORDEIRO e SILVA,
2005, p.23).
Essas teorias são aplicáveis à investigação criminal?
A descrição do fato em si, feita no boletim de ocorrência, não oferece uma resposta exata sobre o
tipo de delito que fora praticado. Para consolidar essa percepção, os mesmos autores remetem à seguinte
reflexão: “a compreensão de realidade exige o conhecimento de diversas formas de leitura que podem ser
convergentes, divergentes, concorrentes e excludentes para a explicação da mesma realidade” (CORDEIRO e
SILVA, 2005, p.23).
Na prática, a aplicação dessas teorias resulta na criação de uma teia de informações envolvendo to-
dos os profissionais da investigação, cada um com sua parcela de responsabilidade e autonomia intelectual,
dialogando e contextualizando as diferentes percepções de uma determinada realidade.
As disciplinas que interferem na construção da realidade possibilitam o conhecimento global das cir-
cunstâncias que envolvem a prática do delito. Entretanto, só é possível o processo se houver diálogo entre
elas.
Muito embora existam diversas formas de leitura da realidade investigada, elas, necessariamente,
terão que ser convergentes, sob pena de que não possam explicá-la na sua integralidade.
A interdisciplinaridade é um novo paradigma adotado pela educação moderna, mas deslocado para
a gestão do conhecimento nas administrações pública e privada.
Aula 3 - Interdisciplinaridade
Vamos iniciar essa aula com o seguinte questionamento:
O que é interdisciplinaridade e como ela pode ser aplicada à investigação criminal?
Para responder essa pergunta, vamos recorrer a alguns estudiosos.
Segundo Cordeiro e Silva (2005), a interdisciplinaridade “é uma dimensão metodológica – modo de
trabalhar conhecimento.”
Para Weil, citado por Cordeiro e Silva, interdisciplinaridade é:
A consequência de uma visão integradora do universo e do conhecimento humano, que tende a reu-
nir em conjuntos cada vez mais abrangentes o que foi dissociado pela mente humana. A interdisciplinaridade
trata da síntese ou correlação de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso caracte-
rizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais. (CORDEIRO e SILVA, 2005, p.31)
A interdisciplinaridade é uma inter-relação orgânica dos conceitos das diferentes disciplinas até o
ponto de constituir uma nova unidade formada com as proposições de cada uma das disciplinas particulares.
Isso compreende um processo de integração interna e conceitual que rompe a estrutura de cada disciplina
para construir um conjunto axiomático novo e comum a todas elas, com a finalidade de dar visão unitária de
um setor do saber. (Piaget apud DENCKER, 2007 p. 41)
A interdisciplinaridade busca integrar os conhecimentos pelos seus pontos comuns, propiciando uma
visão ampla e integral da realidade que observamos.
63
3.1. Como aplicar a interdisciplinaridade na investigação criminal
Ora, se no processo de busca da prova temos a participação de diferentes atores com visões de di-
versos campos do conhecimento, não há dúvida de que a investigação criminal terá que ter uma abordagem
metodológica que favoreça a inter-relação dessas disciplinas.
Ainda segundo referência de Dencker (2007), para o educador Piaget, o conjunto de conhecimentos
científicos configura uma totalidade, porque a realidade analisada por cada ciência é isomórfica, fazendo
com que as análises realizadas em campos diferentes deem lugar a estruturas similares, permitindo que da-
dos obtidos em um campo ajudem a esclarecer outro.
Isomórfica: similar.
A realidade analisada é o fenômeno do crime. Os conhecimentos diversos são operados pelos peri-
tos, papiloscopistas, médicos legistas, integrantes das equipes de investigação, dentre outros atores.
Cada um analisa parte do crime. Como cada análise é feita sobre o mesmo fato, há similaridades nos resul-
tados, portanto, se complementarão, dando visão unitária à investigação criminal.
Nas aulas anteriores você pôde perceber que a produção dos elementos objetivos e subjetivos (que
receberão, no processo penal, o status de prova) não é linear, mas uma rede complexa de saberes que inte-
ragem e se complementam. Esse processo é incompatível com a fragmentação tradicionalmente encontrada
na investigação.
Fragmentação, aqui, é concebida como dissociação, falta de diálogo, falta de unidade sistêmica dos
conhecimentos.
Para Cordeiro e Silva (2005), romper com a fragmentação do conhecimento não significa excluir a sua
unidade, mas sim articulá-la de forma diferenciada, possibilitando o diálogo entre os diferentes campos do
conhecimento, possibilitando a contextualização desses conteúdos frente o processo investigatório.
64
Exemplos de personagens que participam do processo de investigação criminal
Personagens Responsabilidades
Delegado de polícia Responsável pela coordenação da atividade inves-
tigativa, incluindo, aqui, as representações judiciais.
Finalizando...
Neste módulo você estudou que:
A investigação criminal está inserida em um contexto onde várias partes interagem, provocando
sinergia, e que ela é executada por vários atores com conhecimentos, noções, procedimentos e competên-
cias de outras disciplinas, que se completam num processo de transferência para construção da explicação
de um determinado problema.
A interdisciplinaridade é, segundo Cordeiro e Silva (2005, p. 31), a consequência de uma visão
65
integradora do universo e do conhecimento humano, que tende a reunir em conjuntos cada vez mais abran-
gentes o que foi dissociado pela mente humana.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as atividades propostas a seguir.
Atividade 1
Explique a aplicabilidade das teorias “da vista de um ponto” e “de um ponto à vista” ao processo da
investigação criminal.
Atividade 2.
De acordo com o texto, assinale a afirmativa correta:
a. ( ) A investigação é uma simples soma ou agregado de elementos. Muito embora cada um formate
sua representação com base nos critérios e normas próprias da disciplina de seu domínio, não há inter-rela-
ção desses diferentes campos do conhecimento para explicar o mesmo objeto de estudo.
b. ( ) Muito embora a investigação criminal seja um sistema aberto e em permanente interação com o
ambiente, com o qual troca energia, matéria e informação, esse não é um processo necessário para que se
mantenha organizado internamente e evolua.
c. ( ) A fragmentação da investigação criminal é retratada na falta de troca de dados e informações
entre os atores envolvidos no processo, na falta de percepção dos integrantes da equipe de investigação
quanto a vista de um ponto comum.
d. ( ) Romper com a fragmentação da investigação significa excluir sua unidade sistêmica.
Atividade 3.
Analise o texto e responda ao questionamento.
Para compreender e construir o processo de investigar como uma ferramenta capaz de produzir
dados e informações que formatem a prova da prática de um delito, é preciso percebê-lo e tratá-lo como a
parte de um todo.
66
Gabarito
Feedback da atividade 1
O delito é um fenômeno complexo que para ser compreendido precisa da leitura feita por diversos ângulos.
Isso só é possível com a rede de conhecimentos formada pela investigação, que é o resultado dos olhares de
vários profissionais sustentados por conhecimentos diferentes. Esses vários conhecimentos convergem para
um mesmo fato, procurando explicá-lo, cada um com seu ponto de vista.
Na prática, cada ator que participa da investigação criminal tem um ponto do delito sob análise para ser
explicado de acordo com a especialidade de seu conhecimento. Os peritos buscam coletar e analisar os
elementos objetivos (vestígios), enquanto as equipes de investigação trabalham pela localização, coleta e
análise dos elementos subjetivos (testemunhos), além de realizarem a análise contextual de tudo o que foi
produzido pela investigação criminal. Entretanto, tanto a atividade pericial como aquelas realizadas pela
equipe de investigação terão que explicar o mesmo fato, de forma convergente e complementar.
67
MÓDULO
VALORIZAÇÃO DA PROVA
8
Apresentação do módulo
Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
Definir o que é prova;
Explicar a proposta doutrinária dos cuidados a serem tomados para valorização da prova;
Aplicar a ordem lógica da investigação criminal para demonstrar a credibilidade e validade das
informações que compõem a prova.
Estrutura do módulo
Este módulo é formado pelas seguintes aulas:
Aula 1 – Aspectos conceituais, objetivos e princípios
Aula 2 – Classificação das provas
Aula 3 – Valorização da prova
Aula 4 – Cadeia de evidências
1.1. Conceitos
Toda busca na investigação criminal está voltada para a produção de elementos objetivos e subje-
tivos capazes de demonstrar, a partir do teste das hipóteses formuladas, o fato investigado e suas circuns-
tâncias.
Entretanto, é apenas na fase processual penal, após serem submetidos à ampla defesa e ao contradi-
tório, que os elementos colhidos pela investigação criminal receberão o status de prova.
68
Segundo Noronha (1983, p.?), “provar é fornecer no processo, o conhecimento de qualquer fato, ad-
quirindo para si e gerando em outro a convicção da substância ou verdade do mesmo fato”.
Para outro processualista, Tourinho Filho (2003, p. 476), provar é, antes de mais nada, estabelecer a
existência da verdade.
Para Malatesta (s.d., p. 19), a prova é o meio objetivo pelo qual o espírito humano se apodera da ver-
dade.
Talvez nesse momento você esteja pensando “Tudo bem, entendi que a prova está relacionada com
a verdade. Mas, afinal, O que é a verdade?
Depois de profunda análise sobre o processo mental de apoderação da verdade, Malatesta (s.d., p. 21)
diz que a verdade é, em geral, a conformidade da noção ideológica com a realidade.
O citado autor, filósofo jurista da virada do século XIX para o século XX, aplica a ideologia no sentido
de pensamentos teóricos desenvolvidos a partir de fatos sociais. Portanto, segundo ele, a verdade buscada
na investigação dos delitos, adequando a uma linguagem atual, seria a:
Conformidade dos referenciais teóricos da equipe de investigação com a realidade retratada pela
ordenação lógica dos elementos objetivos e subjetivos colhidos pela investigação.
Não há uma hierarquia entre as provas. O valor da prova é determinado pela sua harmonia com as
demais. Assim, não há método ou técnica de investigação mais importante que outro. E mais, a criminalística
e a investigação criminal, por força dessa regra processual, se complementam.
É como um jogo de quebra-cabeça, onde cada peça da prova terá que ser devidamente encaixada
entre as demais, completando o todo.
Significa que o depoimento de uma testemunha que narra uma circunstância deverá se adequar ao
vestígio coletado e analisado pela criminalística. Daí a importância da interação entre os vários atores
que atuam no processo da investigação criminal.
1.3. Princípios
O entendimento de que não há hierarquia entre as provas decorre da aplicação dos seguintes princípios:
Do livre convencimento motivado (nos crimes comuns); e,
Para saber sobre o “livre convencimento motivado”, acesse o arquivo “Livre convencimento motivado”, que
está nos anexos do curso.
Da íntima convicção. É o caso, no Brasil, do julgamento proferido do Tribunal do Júri (Art. 482 a 491
do Código de Processo Penal);
Íntima convicção: pelo sistema da íntima convicção, o julgador, ao proferir uma decisão, não se vê obrigado
a fundamentá-la, pois age de maneira livre e soberana.
69
Aula 2 – Classificação das provas
Olá!
Na aula anterior você estudou alguns conceitos do que é “provar”, refletiu sobre as finalidades das
provas e também conheceu os princípios que estão relacionados a elas.
Dando sequência ao conteúdo desse módulo, você verá, agora, a classificação das provas.
Vamos lá!
Doutrinariamente, a classificação mais comum e compreensível de provas é a seguinte:
Provas objetivas (materiais): São aquelas representadas por vestígios produzidos ou decorrentes
da conduta tida como infração penal. São aquelas constatáveis materialmente por meio de exame pericial.
Por exemplo: As provas representadas pelos laudos periciais de lesão corporal, potencialidade lesiva e ofen-
sividade (armas de fogo e munições), confronto balístico, DNA, constatação e definitivo (drogas), violência
sexual, necropsia, perinecroscópico etc.
Provas subjetivas (informativas): São aquelas representadas por depoimentos de testemunhas,
autores e vítimas.
Por exemplo: termos de declarações, interrogatórios, acareações, depoimentos, reconhecimentos etc.
Provas complementares: São aquelas representadas por elementos ou dados auxiliares que, em
geral, reforçam, corroboram as demais provas.
Por exemplo: a identificação criminal, a folha de antecedentes criminais, os relatórios sobre a vida pregressa
do indiciado, a reprodução simulada do fato etc.
Provas indiciárias (circunstanciais): são circunstâncias que, conhecidas e provadas, autorizam,
por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Por exemplo: A circunstância de que alguém foi visto, junto ao corpo da vítima de homicídio, logo depois de
ouvidos os disparos, segurando um revólver.
Conforme você estudou, a prova deverá explicar as circunstâncias e a autoria do delito, possibilitando ao juiz,
em contrapartida, determinar a culpa ou inocência do suposto autor e, consequentemente, aplicar ou não a
pena a ele.
Ocorre que aplicar a pena não é tarefa simples, pois requer metodologia que possibilite sua adequação à
medida certa da culpa do infrator. Ninguém pode pagar além do que deve.
Nesse contexto estão envolvidos preceitos constitucionais que dão garantia ao exercício pleno da
cidadania e à subsistência do processo democrático de direito.
A Constituição Federal estabelece a regra geral de aplicação da pena com o Princípio da Individu-
alização da Pena. Diz o texto constitucional (Art. 5º):
Individualização da pena: Processo de fixação da pena, pelo juiz, na medida certa ao grau de lesivi-
dade da conduta delituosa, considerando circunstâncias e causas envolvidas no contexto.
Ao fixar a pena, o juiz obedece a critérios que o obrigam a limitá-la à conformidade da necessidade
e da suficiência para reprovação e prevenção do crime. Diz o Código Penal:
[...] Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Novamente a Carta Magna impõe princípio para a coleta da prova. Diz o texto constitucional (Art. 5º):
70
Veja que o valor político dado à prova como elemento de convicção do juiz, dentro do contexto de
aplicação da pena na medida certa, é fator de séria reflexão para a equipe de investigação.
A sistemática de aplicação da pena leva o juiz a considerações reais sobre circunstâncias que muitas
vezes passam desapercebidas pela equipe de investigação, ou simplesmente ela não lhes dá o devido valor,
omitindo-as. Veja a seguir um exemplo disso.
Exemplo
Os antecedentes sociais do autor (relações de vizinhança, profissionais, escolares, esportistas etc.),
as consequências da prática delituosa e os efeitos desta na vida familiar, social e profissional da vítima são
fatores que contribuem para a dosimetria da pena pelo juiz. Entretanto, na maioria das vezes não constam
dos autos da investigação criminal.
Dosimetria: Metodologia que tem a função de quantificar um valor exato do limite abstrato da pena
a ser aplicada pelo juiz.
Lembre-se
As testemunhas são depositárias de um conhecimento de prova que precisa ser preservado da mes-
ma forma que o objeto que contém um vestígio. A mesma preocupação com a inviolabilidade da prova
material terá que se manifestar quanto ao testemunho.
O cuidado com a qualidade da prova reflete o necessário respeito aos direitos e garantias fundamen-
tais do cidadão no Estado Democrático de Direito, e mais, materializa o respeito à dignidade humana.
Cadeia de custódia: É a sequência de proteção ou guarda dos dados e informações colhidos duran-
te a investigação criminal, em especial daqueles colhidos no cenário do delito, mediante o rigoroso contro-
le de rotinas e registros formais da movimentação sofrida durante todo o processo investigatório e judici-
áriodelito, mediante o rigoroso controle de rotinas e registros formais da movimentação sofrida durante
todo o processo investigatório e judiciário.
71
Aula 4 – Cadeia de evidências
O cuidado com as provas se reflete na ordem lógica dada a toda investigação.
Conforme visto, a investigação criminal é um processo científico que parte de um problema, formula
hipóteses e coleta dados e informações que, analisados e interpretados, poderão confirmar ou não a afirma-
ção feita. Há um raciocínio ordenado que precisa ser preservado, sem que haja a quebra de qualquer
um dos seus elos.
Segundo leciona Mingardi (2005, p. 75), a leitura do inquérito policial deverá demonstrar que a inves-
tigação realizada possui começo, meio e fim, e que os passos da mesma estão concatenados.
Assim, as equipes de investigação devem adotar todas as medidas necessárias para que a cadeia de
evidências seja mantida intacta.
A respeito, Mingardi (2005, p. 75) afirma que, qualquer que seja a prova, seja ela material ou testemu-
nhal, os responsáveis pela investigação devem ser capazes de demonstrar que:
A prova foi colhida de forma lícita; e,
A prova surgiu da investigação, não apareceu do nada.
Atenção!
Portanto, cadeia de evidências é a sequência ordenada e lógica da rede de dados e informações co-
lhidos durante a investigação criminal, de modo a demonstrar que são fruto de ato investigativo licito e têm
validade como prova das circunstâncias e da autoria do delito.
O caso O. J. Simpson
Nos Estados Unidos o mais conhecido exemplo é o do ex-jogador de futebol americano O. J. Simp-
son, acusado de ter matado a ex-mulher e um rapaz a facadas.
Nesse caso, a polícia encontrou uma cena de crime completa: sangue, peças de vestuário, pegadas e
uma trilha de sangue que revelava o caminho seguido pelo criminoso.
Seguindo essas pistas, os policiais chegaram à casa de O. J. Simpson, onde encontraram: manchas de
sangue no carro, nas suas meias e no chão do jardim. O exame de DNA confirmou que eram das vítimas.
A estratégia dos advogados de defesa foi simples: contestaram as provas materiais, afirmando terem
sido plantadas, mal coletadas etc. Nisso foram ajudados pela imprensa, com imagens de policiais manipu-
lando evidências sem trocar as luvas, ou seja, contaminando as provas.
Além disso, a cena do crime não tinha sido bem isolada, e o pior, havia muitas pessoas no local.
Resultado: absolvição.
É evidente que, se ele fosse um “João Ninguém”, teria sido condenado, mas isto não altera o fato que
72
a promotoria perdeu o caso porque não conseguiu estabelecer uma sólida cadeia de evidências.
Esse exemplo é muito utilizado nas academias de polícia dos EUA ou da Inglaterra para demonstrar a neces-
sidade de manter intacta a cadeia de evidências.
Muito embora haja alguma diferença entre o sistema judicial americano e o nosso, a lógica de valo-
ração da prova pelo juiz é a mesma: demonstração da verdade pela prova e licitude na coleta.
A equipe de investigação, durante o processo investigativo, deverá atentar para as perspectivas da
acusação e da defesa. Só assim terá a possibilidade de verificar se há alguma falha que possa comprometer
a credibilidade dos dados e informações colhidos.
Para tanto, deverá constantemente se perguntar:
Finalizando...
Neste módulo você estudou que:
Não há hierarquia entre as provas, e que o seu valor é determinado pela harmonia que possui com
as demais;
As provas são classificadas em objetivas, subjetivas, complementares e indiciárias, e que va-
lorizá-las significa ter o necessário cuidado objetivo com o conhecimento produzido, seja ele material ou
testemunhal;
A cadeia de evidências é a sequência ordenada e lógica da rede de dados e informações colhidos
durante a investigação criminal, de modo a demonstrar que são fruto de ato investigativo licito e têm valida-
de como prova das circunstâncias e da autoria do delito.
Parabéns! Você finalizou o conteúdo desse módulo!
Agora, realize os exercícios adiante para dar continuidade ao seu aprendizado. Bons estudos!
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos, realize as atividades a seguir.
Atividade 1.
Explique a importância da cadeia de evidências para a valorização da prova.
Atividade 2.
De acordo com o texto estudado, as provas se classificam em:
a. ( ) Materiais, objetivas, circunstanciais e subjetivas.
b. ( ) Objetivas, subjetivas, complementares e indiciárias.
c. ( ) Matérias, informativas, objetivas e indiciárias.
d. ( ) Materiais, subjetivas, informativas e indiciárias.
Atividade 3.
De acordo com o texto estudado, ao falarmos de valorização da prova é correto afirmar que:
a. ( ) A prova subjetiva não poderá receber cuidados que se traduzem em atos de valorização da prova.
b. ( ) Os únicos cuidados que estão dentro da possibilidade de controle da polícia são os referentes à prova
material, ou seja, aos vestígios encontrados na cena do crime.
c. ( ) O acondicionamento correto dos vestígios possibilita a construção adequada e lógica da prova, pois
garante a execução de contraprovas e a complementação da atividade pericial.
d. ( ) Os integrantes da equipe de investigação não precisam, necessariamente, cuidar para que a cadeia de
evidências seja mantida intacta.
73
Gabarito
Feedback da atividade 1
A cadeia de evidências é a demonstração da ordem lógica do processo científico da investigação criminal.
Possibilita mostrar que as provas colhidas surgiram de uma pesquisa criteriosa das informações deixadas
pela prática do delito e que não decorreram de procedimentos ilegais.
A cadeia de evidências demonstra que as circunstâncias formatadas pela investigação são produto de provas
válidas e não de suposições da equipe de investigação.
74
4. “UM CRIME DE MESTRE”; Estrelando: Anthony Hopkins, Ryan Gosling, David Strathaim, Billy Burke,
Rosamund Pike, Embeth Davidtz, Xander Berkeley, Fiona Shaw; Dirigido por: Gregory Hoblit ; Produzido por:
Charles Weinstock.
5. “TOCAIA” (Stakeout); Gênero: Comédia; Pais/Ano EUA / 1987; Diretor: John Badham; Distribuição Bue-
na Vista; Duração/Censura 12; Elenco: Richard Dreyfuss, Emilio Estevez, Aidan Quinn, Madeleine Stowe.
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