Comentários Zen Mestre Dokusho Villalba

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Comentários de Dokussho Villaba Roshi ao Funkanzazenji

O parágrafo deve ser lido como um todo.

O princípio geral é que a compreensão é o que a prática necessita e


prática é o que a compreensão necessita. Praticar o que compreendemos e
compreender o que praticamos. Experiência e compreensão. Por isso estudar
os textos. O Zen não se baseia na palavra escrita, linguagem ou compreensão
intelectual.

Funkanzazenji contém todo o ensinamento de Dogen. É um texto fácil,


profundo e sensível que expressa o estilo de Dogen.

O primeiro parágrafo diz:

“A Via é fundamentalmente perfeita, está por todas as partes,


independentemente do que façam e compreendam os seres humanos. A
ordem cósmica é livre e nela não há noção de obstáculos. Que sentido
tem pois o esforço concentrado dos seres humanos? Em verdade o corpo
universal está além da sociedade e do mundo humano. Quem poderia crer
que necessita ser limpo? A Via Cósmica nunca é distinta de nada, sempre
é exatamente o que é. Sempre esta ali onde está. De que serve ir daqui
pra ali buscando-la?

A Via se refere a vida. Quando se fala que nossa natureza original é


pura não é em contraposição a qualquer idéia de impureza. É pura pois é
anterior a noção de puro e impuro.

A via e fundamentalmente perfeita, ou originalmente perfeita. Perfeita


antes de qualquer noção sobre sua perfeição ou imperfeição.

Este parágrafo expressa a confiança dos que realizaram a Via. A


confiança na vida. A vida é fundamentalmente perfeita. A esta perfeição me
entrego e trato de aceitar.

Como a Via poderia depender do que fazem os humanos? como poderia


depender da prática-realização?

Pratica-realização(shusho) é um conceito fundamental em Dogen.


Realização no sentido de despertar. Para Dogen prática e realização não estão
separadas. Não praticamos para alcançar o despertar pois a prática é a própria
realização.
Praticar sem conceber um método para alcançar um fim. Dogen
desmonta a ótica utilitarista da prática como um meio. Estamos realizando o
Darma quando estamos praticando. A pratica é a realização do Darma.

A prática não é a maneira de se chegar à realização do Darma. A prática


é a própria realização do Darma. Mu Shoto Ku praticar sem esperar nada em
troca.

“A ordem cósmica é livre e nela não há noção de obstáculo. Que sentido


tem o esforço concentrado?” perguntou Dogen.

– porque nos esforçamos, que sentido tem o esforço?

O primeiro parágrafo é: a Via é perfeita, a Via é completa

Não precisamos fazer nada

O segundo parágrafo diz:

“Ainda que seja assim se na tua mente surge a menor separação a


Via Perfeita se afasta como o céu e a terra. Se manifesta a menor
preferência ou antipatia o espírito se perde em confusão.”

HongaKu ensinamento sobre a natureza original. Diz que todos os seres são
originalmente Budas. São partícipes da Perfeição Universal, Completude
Universal, em que nada sobra e nada falta. Então Dogen se perguntou sobre o
sentido da prática

Qual a natureza da prática?

História do monge (Basso, Masso?) em Zazen para atingir o estado de


Buda e o Mestre Yakujo, ironicamente, polindo a telha para virar um espelho.
Conclui que a telha não se converte em espelho assim como nem o praticante
em buda. O espírito que puli (?) a telha se transforma num espelho. Este é o
sentido da prática. A prática em si nunca pode nos levar ao estado de buda
mas a base de prática, graças a prática, a consciência se torna um espelho e
dar-se conta de que já és um buda. Não se converteu em buda, já o era!
Significado da prática-realização.

O leque não gera o ar. O ar já esta presente. O leque realiza a presença


por todas as partes do ar.

A prática, o treinamento consiste em um abandono de toda a intenção.

Wu Wei do Taoismo, Não-Fazer não deve ser interpretado literalmente


como não fazer nada e sim não ter implicações egocêntricas na ação.
Relacionado a “Wu Shin”(?) Não-mente.
Os ensinamentos referentes a verdade absoluta e verdade relativa e
estas duas dimensões devem estar em harmonia ainda que cada uma tenha
suas próprias regras.

“O corpo universal esta além da sociedade e do mundo humano. Quem


poderia crer que necessita ser limpo?” Faz referência a história de Hui Neng
sobre o verso quando assume como sexto patriarca.

“A via é fundamentalmente perfeita, esta por todas as partes,


independentemente do que façam e compreendam os seres humanos. A
ordem cósmica é livre e nela não há noção de obstáculos. Que sentido
tem pois o esforço concentrado dos seres humanos. Em verdade o corpo
universal (darmakaya) está mais além da sociedade e do mundo humano.
Quem poderia crer que necessita ser limpo.? A Via Cósmica nunca é
distinta de nada, sempre é exatamente o que é, sempre esta ali onde está.
De que serve ir de cá pra lá, buscando-a?”

Porque ir a um lugar concreto buscando a via se a via esta por todas as


partes.

“se em tua mente aparece a menor separação, por menor que seja a
via se afasta como o ceu e a terra; se manifesta a menor preferência ou
antipatia teu espírito se perde na confusão.”

Zazen é um estado em que a consciência se situa mais além da


preferência e antipatia, além dos juízos e das atividades mentais, estado em
que a mente não cria categorias, separações. “Eu” é a categoria central e que
mais nos afeta, um conceito. A linguagem é a expressão oral do pensamento
categórico. É o que fazemos no estado de consciência ordinária.

As emoções são outros aspectos das construções mentais.

“Cuida para não ser como aqueles que depois de haverem


entrevisto apenas a sabedoria que penetra todas as coisas, que unifica a
Via e clarifica o espírito se jactam de compreender a totalidade e fazem
ilusões sobre seu próprio despertar (algo como fazendo um...com o desejo
de escalar o céu)”

Referencias ao Ego espiritual. Quando um começa a praticar esta dentro


de uma muralha construída por seus mecanismos de defesa. Depois de anos
de prática transpõem esta fronteira e acha que realizou, mas esta com o ego
inflado.

“Necessitas que te fale sobre o Shakiamuni, que ainda se sente a


influência dos 06 anos que passou meditando totalmente imóvel sentado
em lótus? Quer que te fale de Bodidarma, a linhagem da transmissão
conservada até os nossos dias em recordação de seus 09 anos de
meditação diante de um muro? Assim eram os homens santos do
passado. Como podemos os humanos de hoje em dia deixar de seguir, de
praticar a Via?”

Até aqui temos uma introdução que expressa a importância da prática.

A tradição Zen tem se caracterizado por não se embasar em palavras e


escritos considerando obviamente o valor como meio hábil, mas não fixando-se
como se as palavras fossem a expressão da verdade última.

A arte da meditação Zen é a arte de dirigir a luz da consciência até sua


origem.

Shu (Estudo) Gyo (Pratica)

Um dos setes princípio do Zen de Dogen é shugyo ishinyo (não –dois).


A prática e o Estudo são não-dois. Evita o intelectualismo e novas construções
mentais. Compreensão é o que a prática necessita e pratica é o que a
compreensão necessita. Praticar o que compreendemos e compreender o que
praticamos.

“Para fazer Zazen convém um espaço silencioso, come e bebe


sobriamente, desprende-te de qualquer compromisso e abandona toda a
preocupação, não penses isto esta bem, isto esta mal. Não tomes partido
nem pro nem contra. Detém todo movimento de tua mente consciente,
não julgue os pensamentos que aparecem, não cultive expectativas, não
tenhas nenhum desejo de chegar a ser buda. O verdadeiro zazen não tem
nada que ver com a posição sentada ou deitada”

O equilíbrio da prática está entre o “esquecer-se de si” e a atenção


plena. Estabelecer a atenção plena sem a presença do “eu”. Atenção e
desatenção. Pensar, sem-pensar. Não pensar, pensando. Uma atenção sem
“eu”. Se há “eu”, não há atenção. O “eu” só presta atenção ao que interessa. A
sabedoria inata do corpo e da mente que esta mais além da consciência
pessoal.

Começou na parte do texto de Dogen que descreve a postura do zazen.


Dokusshô recomenda que a cada sessão se inverta a posição das pernas para
ir alongando em ambos os lados.

O Zen é uma tradição das que, senão a que, mais valoriza a postura exata da
prática. Bodidarma trouxe da India a tradição budista ióguica.
A postura corporal é uma planta de reciclagem energética como se
expressa no seminário de bioenergética da meditação Zen. A postura corporal
não é mais do que um suporte que permite um determinado fluxo energético. A
postura corporal é a estrutura que permite um determinado fluido energético.
Característica vinda dos mestres chan taoistas chineses. No entanto somente a
forma não basta, é só um suporte. O praticante deve descobrir a própria
postura por dentro. Não deve se deixar levar pelo excesso de formalismo.
Praticar corretamente na postura indicada e ir descobrindo-a por dentro. Viver a
postura. A postura deve propiciar liberdade.

A estabilidade da postura é muito importante. O corpo deve ser


abandonado. Para que a vontade abandone o corpo, para que a mente se
desidentifique do corpo e o corpo possa permanecer erguido tem que haver
uma postura estável.

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