Gisela de Albuquerque Frattini - 2006
Gisela de Albuquerque Frattini - 2006
Gisela de Albuquerque Frattini - 2006
PELOTAS
ABRIL DE 2006
Agradecimentos
As arquitetas Carmem Vera Roig e Simone Soares Delanoy, com amizade e carinho
foram responsáveis pelo meu trabalho com o Patrimônio Cultural e por conseqüência
esta especialização;
Aos colegas da Secult, arquitetas Liciane Almeida, Michele Bastos, Paulina von Laer, e
o acadêmico de arquitetura Tiago Dionello, por todo o apoio e contribuições
fundamentais para conclusão deste trabalho;
1- Introdução 1
2- A produção arquitetônica na Região do Prata e Sul do Brasil no século IX e
primeira metade do século XX 2
2 1- A formação da mão de obra 2
2.2- A linguagem arquitetônica 5
3- O uso de cimento penteado 8
4- O uso de cimento penteado em Pelotas. 14
4.1 Levantamento de dados 16
4.1.1 Levantamento no Arquivo Público da Secretaria Municipal de
Urbanismo 16
4.1.2.Levantamento no Inventário do Patrimônio Cultural de Pelotas
de 1986 e de 2001 18
4.1.3 Levantamento a campo 18
4.1.4 Algumas considerações preliminares sobre os dados
levantados 20
4.2 Elaboração do banco de dados para os prédios encontrados 21
4.3 Análise de dados e caracterização dos prédios de cimento penteado 23
4.3.1 Caracterização da arquitetura de cimento penteado 23
4.3.2 Construtores e proprietários 35
4.3.3 O cimento penteado e a paisagem urbana 39
4.3.4 Avaliação dos aspectos urbanos que podem influenciar na preservação 40
5- A construção dos argumentos para a preservação da arquitetura de
cimento penteado 45
5.1 Argumentos presentes nos documentos nacionais e internacionais de
preservação patrimonial – conceitos e aplicabilidade 46
5.2 Argumentação baseada na análise dos dados levantados neste trabalho 47
5.3 Dificuldades encontradas para preservar o cimento penteado 48
5.3.1 Problemas relativos à legislação de preservação 48
5.3.2 Problemas oriundos da situação urbana onde estão inseridos 49
5.3.3 Problemas técnicos quanto a sua manutenção e restauração 51
6- Conclusões e considerações finais 51
7- Depoimentos 53
8- Bibliografia 54
9- Anexos 58
1. Introdução
1
construções da Av. Duque de Caxias e Av. Brasil. No levantamento foram
encontradas 252 construções em cimento penteado, incluindo aquelas que
atualmente estão pintadas ou foram demolidas, mas que possuem um registro
fotográfico na Secretaria de Cultura. Foi neste universo de 252 exemplares de
arquitetura revestida em cimento penteado que realizei minha pesquisa. Meu
interesse é apenas resgatar culturalmente este revestimento que deixou sua técnica
perdida em algum momento do passado, mas que não pode desaparecer pois faz
parte da memória da paisagem urbana da nossa cidade.
2
imigração estrangeira, face a sua proximidade com a fronteira uruguaia e à facilidade
proporcionada pela presença de um porto fluvial. Marcos Hallal dos Anjos (2000,
p.43) escreve sobre o porto de Pelotas:
3
cultural e arquitetônica nesta região, ainda que sopesem as diferenças históricas e
lingüísticas de colonização.
4
Figura 1 - Teatro Guarany, obra do arquiteto Stanislau Szarfarki, 1920. Foto da autora, 2005.
5
tarde. Este movimento apresentava uma tendência arquitetônica inovadora que
substituía a decoração eclética das antigas fachadas por outra com formas
assimétricas derivadas da natureza e manipuladas com obstinação e vigor, negando
qualquer ligação com o passado. Possuía um desenho mais simples e racional que
além de decorar, adorava a leveza, a sutileza, a transparência e a sinuosidade.
Utilizava materiais como ferro e vidro, sendo o ferro material decorativo e estrutural.
Este estilo terá seqüência pelo movimento Art Déco, ainda usando os
materiais de ferro e vidro, pois eram materiais que a indústria colocava como de
última geração para a construção civil na época. Procurava inspiração em linhas
geométricas, despojado, era fruto direto da Revolução Industrial. Com isto o ecletismo
de períodos passados convivia, no espaço urbano, com um movimento que utilizava
linhas racionais e funcionais e já percebia a vocação do futuro da arquitetura. O Art
Déco estava também vinculado à solução de problemas construtivos, como proteção
de alvenarias e aberturas. Estas reformas indicavam novos gostos, expressos através
desta decoração, que não impunha limite econômico. As fachadas tendem a se tornar
planas, as platibandas começam a mostrar desenhos geométricos, as fábricas e os
armazéns apresentam uma linguagem bem simplificada e alguns elementos como as
pilastras apresentavam saliências em algumas fachadas.
6
de barro, tijolo e telhas, sendo o madeiramento de pisos, tetos e escadas substituídos
pelo concreto. As estruturas em concreto armado que viabilizam a construção em
altura com vigas, pilares e lajes, foi pouco utilizada, predominando a estrutura mista
com paredes de alvenaria suportando lajes e vigas de concreto. Além da utilização do
azulejo em cozinhas e banheiros, este material também é adotado para o
acabamento do hall e circulações de edifícios. O ferro, além de guarda-corpo de
escadas, é bastante utilizado como detalhe em portas ou como material principal
sempre formando desenhos geométricos. Externamente é aplicado como
acabamento em peitoris ou platibandas. O material de acabamento externo mais
freqüente é denominado cimento penteado, agregado ou não de mica, mas quase
sempre cinza, característica que marcou essa arquitetura. A base das edificações
recebe um recobrimento em mármore ou granito preto (MOURA, 1998, p.144).
Este contexto de ”novas idéias” surge em Pelotas, entre outros fatos, com o
uso do revestimento construtivo cimento penteado, aportado pelos arquitetos ou
mestres italianos a Montevidéu, Buenos Aires e outras cidades Argentinas para
“europeizar” estas metrópoles. Imitando a pedra européia, com técnica importada dos
franceses, chamavam a este revestimento de símil piedra paris em boa parte da
região do Prata. Por várias décadas se constituiu em característica marcante da
produção arquitetônica das cidades mencionadas o que hoje motiva sua preservação.
Exemplos de prédios com revestimento em cimento penteado nas cidades de Buenos
Aires, Montevidéu e Córdoba podem ser vistos nas fotos abaixo.
Figura 2 – Prédios Art Nouveau em cimento penteado, Montevidéu. Fotos: Ana Paula N. Faria, 1996.
7
Figura 3 – Prédio Art Nouveau em cimento penteado, Buenos Aires. Fotos: Ana Paula N. Faria, 2002.
Figura 4 – Detalhe de edificação residencial em Córdoba, Argentina. Foto: Ana Paula N. Faria, 2002.
8
nome “pó-de-pedra” como material proveniente do britamento de pedra, composto de
fragmentos de mica. Possui diâmetro máximo inferior a 0,075mm. Foi muito usado,
adicionado ao reboco, nas fachadas e muros de prédios na década de 30. As
modificações nas combinações e proporções dos componentes são o que alteram
sua cor e aspectos característicos de textura e brilho, assim como técnicas de
aplicação.
9
Como recurso estético, à cor se somava a textura que dependia da
granulometria dos agregados, da técnica de aplicação e das ferramentas usadas para
execução. Podemos notar nestes detalhes as diferenças de textura e brilho
conseguidos com o cimento penteado:
Rua Gen Telles, 517 Rua Gomes Carneiro, 1 Av. Saldanha Marinho, 123
10
Av. Saldanha Marinho,123 Rua Benjamin Constant 1261
Figura 7 – Exemplos de ornamentos em fachadas com cimento penteado. Fotos da autora, 2006.
“Consistia em uma massa de cimento e areia, com ou sem mica que após
colocada na parede alisava-se com desempenadeira em sentido linear, de
cima para baixo, como se penteasse o cabelo.”
11
Figura 8 - Teatro Guarany em obras. 1920. Prédio onde foi aplicado cimento penteado na fachada.
Foto em: CALDAS e SANTOS (1994; p. 25)
“...um prédio muito bonito, horizontal, revestido com um material que aqui
em São Paulo se chamava Cirex, uma massa raspada com mica.”
”No Palácio Piratini já foi feita a fachada principal há cerca de dois anos. O
Governo do Estado designou uma comissão para acompanhar a obra. Havia
um pessoal da Secretaria de Obras, do IPHAE, do próprio Palácio e da
CIENTEC (Fundação de Ciência e Tecnologia), que acompanhavam toda a
12
investigação sobre o revestimento de cirex que compõe o prédio. O material
tinha que ser o mesmo e precisava ser durável. Eles fizeram várias
propostas até encontrar a solução ideal. Então agora a solução já foi
encontrada para as outras fachadas. Só falta confeccionar.” (http//
www.netcrom.com.br).
13
Figura 9 – Escola Santa Joana D’arc. Exemplo de prédio com cimento penteado em Rio Grande. Foto:
http://www.riograndeemfotos.fot.br
Figura 10 – Clube Comercial de Bagé. Exemplo da arquitetura com revestimento em cimento penteado
no interior do Rio Grande do Sul. Foto http://www.alternet.com.br/bage/album/index.html
14
argumentos para a sua preservação enquanto testemunho de uma prática histórico-
cultural.
Para tanto, o presente trabalho irá tentar elucidar três questões principais:
que arquitetura é essa que utiliza o cimento penteado; que paisagem urbana ela
ajudou a construir; e que argumentos e estratégias devem ser utilizadas para a sua
preservação.
15
4.1 Levantamento de dados
16
Entre as 88 plantas identificadas como sendo referentes a prédios com
fachadas de cimento penteado, 2 eram referentes a mais de uma casa. Uma
referente a duas casas e outro a um conjunto de quatro sobrados totalizando,
portanto, 92 prédios. Entre as plantas: 2 solicitavam revestimento de fachada; 20
solicitavam alteração ou modificação de fachada; e 28 solicitavam construção,
aumento ou acréscimo. O restante não estava legível ou não marcava o tipo de
solicitação. Para alguns prédios, inclusive, foi possível encontrar as plantas da
construção original e a posterior solicitação do recobrimento de fachada, anos
seguintes a sua construção. Como exemplo, podemos citar o prédio localizado na
Rua Gonçalves Chaves, nº930, que marca o ano da aprovação de um aumento de
projeto em 1925 e tem a solicitação de recobrimento de fachada no ano de 1935.
Figura 11 – Exemplo de prédio onde foi feito a solicitação de construção numa data e posteriormente
solicitado o revestimento da fachada
Baseado nestes dados pode ser colocado como hipótese que o uso do
cimento penteado foi incorporado em objetos arquitetônicos de outros momentos
históricos, e desta forma, para Pelotas, pode estar associado a estruturas
compositivas de fachada mais antigas.
17
4.1.2 Levantamento no Inventário do Patrimônio Cultural de Pelotas de 1986 e
de 2001
1
Zonas de Preservação do Patrimônio Cultural de Pelotas
18
Figura 12 – Mapa das ZPPCs e o limite final de levantamento a campo.
19
analisada a Av. Duque de Caxias em ambos os lados e por último no Bairro Simões
Lopes a Av. Brasil.
20
apenas uma das casas após sua construção, ou se os demais imóveis é que
foram pintados;
21
Do levantamento no Arquivo Público Municipal foram anotados os
seguintes dados: endereço, data da construção, nome do projetista, nome do
proprietário, e tipo de solicitação. Do Inventário do Patrimônio Cultural de Pelotas
foram anotados endereço, características da fachada e características da implantação
no lote. No levantamento a campo foi observado: as características do cimento
penteado, presença de elementos decorativos e suas características, endereço,
estado em que se encontra o revestimento, tipo de implantação no lote, construtor
quando existe placa identificando na fachada, data da construção ou reforma de
fachada quando presente na fachada.
A partir dos três bancos de dados iniciais foi montado um banco de dados
geral, com todas as informações conseguidas. Estas foram organizadas num banco
de dados em software apropriado para esta finalidade e compatível com programas
de geoprocessamento, garantindo assim a espacialização destes dados.
endereço
tipo de proteção existente
fonte de levantamento
depoimento dos prédios pintados ou
demolidos
presença de projeto no arquivo
Dados de identificação do prédio
data da construção ou reforma
nº da planta do arquivo municipal
proprietário
construtor
tipo de intervenção
pertencimento a um conjunto
prédio pintado
prédio demolido
Atributos do cimento penteado cor do revestimento
presença de mineral com brilho
estado atual do cimento penteado
estado atual da fachada
classificação dos prédios
presença de tijoletas
Atributos de fachada presença de ladrilhos
apliques de massa
placas imitando tijolo
reboco pintado
22
O banco de dados foi associado a uma base espacial dentro de um
ambiente de SIG (sistema de informações geográficas) de forma a possibilitar uma
avaliação da existência ou não de padrões espaciais de ocorrências dos diferentes
atributos dos prédios de cimento penteado.
A análise de dados foi feita com base no banco de dados geral e numa
avaliação das possíveis correlações entre as características dos prédios levantados e
sua localização dentro da malha urbana. As análises foram feitas de forma a buscar
respostas para as questões de pesquisa levantadas anteriormente.
2
A arquiteta Natália Naumova em depoimento afirmou que para os casos por ela estudados em
Pelotas a cor mais encontrada foram as tonalidades de bege.
23
Primeira cor do cimento penteado
160
140
140
número de prédios
120
100
80
80
60
40 26
20
4 2
0
verde
cinza
areia
vermelho
demolido/pintado
cores
24
Pode ser observado pelo mapeamento da cor principal do cimento
penteado que a área mais central da cidade é menos cinza que as áreas norte e do
Porto.
25
20
15
9
10 8
5 3
1 1
0
vermelho branco areia cinza verde azul
cores
25
Presença ou ausência de mineral com brilho
180
140
120
97
100
80
60
40
20
LEGENDA
Cim_pent_com brilho
Cim_pent_sem brilho
26
Apenas pôde ser observada uma leve predominância de cimento penteado com a
presença de mineral com brilho nas duas áreas circundadas em verde claro no mapa.
20 18
18
número de prédios
16
14 13
12
10 9 9
8 6 6
6
4 2 2 2
2 1 1 1 1 1 1
0
1900-1905
1906-1910
1911-1915
1916-1920
1921-1925
1926-1930
1931-1935
1936-1940
1941-1945
1946-1950
ano
Figura 19 – Gráfico da correlação entre a data da construção e a cor principal do cimento penteado.
27
Presença de mineral com brilho por ano
18 17
16 14
número de casos
14
12
10 9 Com mineral com brilho
8 7 7 Sem mineral com brilho
6 4
5
4
4 2 2 2 2 2 2
2 1 1 1
0 1900-1905
1906-1910
1911-1915
1916-1920
1921-1925
1926-1930
1931-1935
1936-1940
1941-1945
1946-1950
ano
Por fim foi verificada se existia alguma correlação entre a cor principal do
cimento penteado e a presença ou ausência de mineral com brilho. Este gráfico
mostra que a cor cinza está mais relacionada com a presença do mineral com brilho,
enquanto que para a cor areia a dominância é da ausência deste mineral.
100
número de casos
76
80
com mineral com brilho
60 sem mineral com brilho
40
17
20
8
1 2 2 2
0
cinza areia verde vermelho
cores
Figura 21 – Gráfico da correlação entre a cor principal e a presença ou ausência de mineral com brilho
no cimento penteado.
28
Outros elementos de decoração, não revestidos de cimento penteado,
também foram encontrados nas fachadas. Entre estes cabe destacar a presença de
tijoletas e ladrilhos, notadamente as sextavadas. Estes elementos, embora não
apareçam na maioria das fachadas – apenas 5,15% do total – fazem parte do sistema
compositivo de um dos tipos de edificações encontrados com cimento penteado.
10
8
8
6
4
2 1
0
tijoletas/ladrilhos ou pedra pastilha
azuleijos
tipo de elemento
29
Aparecem ainda em número menos significativos usos comerciais 5,95%, industriais
1,98%, institucionais 2,77% e residenciais multifamiliares 9,92%.
LEGENDA
Figura 24 – Mapa com a classificação por tipo de implantação das construções em cimento penteado.
LEGENDA
Figura 25 – Mapa com a classificação por tipo funcional de edificação em cimento penteado.
30
Para tentar definir categorias gerais de edificações em que foi constatado o
uso do cimento penteado como revestimento, as fotografias de todos os prédios
levantados foram analisadas. Foram observados quais atributos dos prédios
apresentavam uma maior variabilidade de soluções e, portanto, poderiam ser
potencialmente responsáveis pelas variações percebidas na solução arquitetônica
dos prédios. A análise das fotografias levou a seleção dos seguintes atributos: tipo e
intensidade de ornamentos na fachada, forma e proporção das esquadrias, número
de pavimentos e forma de implantação no lote.
Como base nestes quatro atributos foi gerada uma matriz de cruzamentos
entre eles. Esta matriz define 12 categorias gerais, cada uma com 6 subcategorias.
Todos os prédios foram classificados dentro desta matriz. O resultado pode ser
observado na figura 26 a seguir, e com mais detalhe nos anexos deste trabalho.
31
Figura 26–Matriz de categorias gerais das edificações com revestimento de cimento penteado.(Anexo1)
32
categoria onde as construções estão situadas no alinhamento predial, com apenas 1
pavimento, ornamentação geométrica acentuada e aberturas verticais. Foi também
observado nesta categoria um número significativo de conjuntos, estipulados por 2
prédios ou mais de 1 e 2 pavimentos. Em segundo lugar aparecem em muito menor
número as construções que estão situadas no alinhamento predial com apenas 1
pavimento, ornamentação geométrica pura e aberturas verticais ou quadráticas.
Figura 27 – Mapas das categorias gerais das edificações com revestimento de cimento penteado.
33
Correlação entre categoria dos prédios e período de construção
12 11
10
número de casos 10
6
4
4 33 3 3 3 3 3 3 3
2 2 2
2 1 1 1 1 1 1 111 1 1 11 1 1 11 1 1 1 1 11
0
1900-1905 1906-1910 1911-1915 1916-1920 1921-1925 1926-1930 1931-1935 1936-1940 1941-1945 1946-1950
ano
Ornamentos orgânicos c/abertura verticais Ornamentos geométricos acentuados c/aberturas verticais Ornamentos geométricos c/aberturas verticais
Ornamentos lineares c/aberturas verticais Ornamentos orgânicos c/abertura quadráticas Ornamentos geométricos acentuados c/aberturas quadráticas
Ornamentos geométricos c/aberturas quadráticas Ornamentos lineares c/aberturas quadráticas Ornamentos geométricos c/aberturas horizontais
Ornamentos lineares c/aberturas horizontais
Figura 28 – Gráfico das categorias gerais das edificações com revestimento de cimento penteado e
sua relação com as datas das construções.
34
associada a lotes que tendem a se localizar mais afastados da zona central e
começam a surgir em maior quantidade que as outras no sítio do porto e arredores;
35
Rua Gomes Carneiro, 1 Rua Benjamin Constant, 987
Figura 29 – Exemplos de arquitetura industrial com o uso de cimento penteado. Fotos da autora, 2006.
Figura 30 – Exemplo de prédio pintado, na Rua Benjamin Constant nº728. Fotos arquivo Secult e
autora 2006.
36
Parece que a arquitetura de cimento penteado não era apenas relacionada
com uma arquitetura “menor”, mais popular, ou com a arquitetura preocupada com a
durabilidade e a baixa manutenção como é o caso das casas de aluguel e a
arquitetura institucional e industrial; parece que o cimento penteado fez parte do
gosto de um período. Exemplos da adoção do cimento penteado em obras
residenciais de maior vulto podem ser vistas abaixo.
Figura 31 – Exemplos de residências com uso de cimento penteado. Em ordem: rua Gonçalves
Chaves 911, rua Lobo da Costa 866, rua Gonçalves Chaves 964 e Praça Cel. Pedro
Osório 55 (originalmente residência do Gen. Osório) Fotos do arquivo da Secult, 1986 e
da autora, 2006.
37
Figura 32 – Exemplos de arquitetura em grandes prédios públicos. Teatro Guarany e Catedral São
Francisco de Paula. Fotos da autora, 2006.
Figura 33 – Placa de construtor fixado na fachada, rua Gen. Osório, 461. Construtor Manoel da Silva
André. Foto da autora, 2006.
38
CONSTRUTORES x CIM. PENTEADO
8
QUANT. DE PROJETOS
7
7
6
APROVADOS
6
5
5
4
3 3
3
2 2 2 2
2
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1
Antônio André Sº
Ayres Seixas
Álvaro Martins Villar
Júlio Delanoy
F. Rheigantz
Manuel da Silva Andre
Alberto F. Calleno
Caetano Cazaretto
Stanislau Szarfarki
..Synnotti
Waldemar Berntrantt
João Sinnott
Liberato...
Bernardino Ferreira
Alberto Sampaio
Rodrigues Cia
Fernando Rullmann
Francisco Silva
Musc Letzoro
Gaspar Scangarelli
Dahme,Conceição e Cia
CONSTRUTORES
Figura 34 – Gráfico com a relação dos construtores identificados e respectivo número de projetos com
revestimento de cimento penteado.
Figura 35 - Rua Voluntários da Pátria, 612-627 e rua Gonçalves Chaves 911 – obras do arquiteto
Caetano Casaretto. Foto arquivo da Secult, 2003 e da autora, 2006.
39
paisagem urbana se tornou cinza, conforme vem descrito em alguns trabalhos. A
arquitetura formada por estes prédios tende a ser uma arquitetura de tipologia
simples, sem tendências monumentais, com marcantes linhas geométricas e
esquadrias verticais; não gerando uma ruptura acentuada com as construções
tradicionais.
Desta forma é possível dizer que o uso do cimento penteado não está
associado em mudanças significativas da paisagem urbana, a não ser no seu aspecto
cromático.
156
160
140
120
96
100
80
60
40
20
0
inventariado nehuma proteção
tipo de proteção
Figura 36 – Gráfico do tipo de proteção atualmente existente para os prédios de cimento penteado em
Pelotas.
40
N
LEGENDA
Cim_pent_sem proteção
Cim_pent_inventariados
Figura 37 – Mapa do tipo de proteção atualmente existente para os prédios de cimento penteado.
Rua Anchieta 11 2 -
Rua D. Pedro II 4 1 -
41
Pode ser observado, conforme a tabela 2 acima que a Rua Andrade Neves
foi a que mais descaracterizou prédios com cimento penteado. Os 2 prédios pintados
foram para instalação de comércio. O que vem a ser confirmado pela localização no
mapa abaixo.
LEGENDA
Prédios demolidos
Prédios pintados
Área em estudo
Zppc.shp
ZPPC 1 - Sítio do 1º Loteamento
ZPPC 2 - Sítio do 2º Loteamento
ZPPC 3 - Sítio do Porto
ZPPC 4 - Sítio da Caieira
Agua.shp
500 0 500 1000 Meters
Fi
gura 38 – Localização espacial dos prédios pintados ou demolidos.
42
Figura 39 – Localização espacial dos prédios por estado de conservação do cimento penteado.
43
Por fim, foi feita uma análise do nível de potencial pressão imobiliária que
está sendo exercida sobre os prédios com cimento penteado. Para isso foi avaliada
sua localização por rua:
18
16
16
14
número de prédios
13
12
12 11
10 9 9 9
8 7 7
6 6
6 5 5
4 3 3 3 3
2 2 2 2
2 1 1
0
Rua Andrade Neves
Av. Brasil
Rua Santa Cruz
Rua Garibaldi
Rua Santos Dumont
Rua Bento Martins
rua
18
16
número de prédios
14
12
10 9 9 9
8
6 6 6 6
6 5 5 5 5
4 4 4 4
4
2 2 2 2 2
2 1 1 1 1 1 1
0
Av. Bento Goncalves
Rua Tiradentes
rua
Figura 41 – Gráficos com o número de prédios localizados sobre as ruas no sentido norte-sul e leste-
oeste. Ruas mais centrais indicadas na cor vinho e menos centrais na cor lilás.
3
Esta afirmação se baseia em observações empíricas e foi verificada como verdadeira para as
construções com cimento penteado onde, para essas ruas, foi encontrado maior número de casos de
descaracterizações das fachadas e maior número de descaracterizações do cimento penteado.
44
e sem interesse dos proprietários em preservá-los, aguardando melhores ofertas do
mercado imobiliário para ser transformado em outro empreendimento. Um exemplo,
está no prédio da rua Major Cícero que só possui a fachada (figura 42). Estas
constatações, embora bastante iniciais, levam a uma grande preocupação quanto à
preservação destes prédios.
Figura 42 – Prédio parcialmente demolido, permanecendo apenas a fachada, rua major Cícero, 353.
Foto da autora, 2006.
A relação do homem com os bens culturais e o valor que a estes atribui são
o resultado da interação de fatores distintos, mas uma vez reconhecido o valor de um
bem cultural quaisquer que venham a ser suas razões para isto, se adquire a
responsabilidade de preservá-lo, seja este uma obra de arte ou um conjunto urbano
(UNESCO, 1979). Qualquer manifestação estética é um reflexo de um determinado
momento histórico vivido por um grupo social (WEIMER, 1987, p. 258).
45
Em Pelotas existe um número expressivo de construções que mantém este
revestimento, assim como a integridade de sua fachada. Estes prédios são
merecedores de medidas legais que garantam sua preservação de forma adequada,
além de incentivos para sua manutenção.
4
Carta Internacional sobre conservação e restauração de monumentos e sítios. Maio de 1964.
46
dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado
não podem depender somente do autor do projeto”.
47
Figura 43 – Matriz das categorias gerais dos prédios com cimento penteado e os imóveis que ficaram
fora do Inventário do Patrimônio Cultural de Pelotas. (Anexo2)
48
preservado do bem cultural”. E a reparação como: ”a intervenção, de natureza
corretiva, que consiste na substituição, modificação ou eliminação de elementos
integrantes visando à permanência de sua integridade, ou estabelecer a sua
conformidade com o conjunto”.
Na forma como foi redigida, a lei nº. 4568/00 traz um problema para a
preservação do cimento penteado pelo caráter excessivamente genérico na descrição
do objeto da preservação. A falta de explicitação da necessidade de se manter o tipo
de revestimento da fachada, além de seus elementos compositivos componentes,
pode levar a interpretações errôneas da manutenção e reparação a ser dada nestas
fachadas. Este fato é agravado pela lei Municipal nº5146/05 que “reduz alíquotas do
IPTU e dá outras providências”, altera a Lei 4878/02 que em seu art. 5º parágrafo V
isenta de IPTU “os imóveis tombados ou inventariados pelo patrimônio histórico, que
constem na lista oficial publicada pelo poder público, desde que mantidas as
características originais, conforme normas estabelecidas pelo órgão responsável pelo
respectivo tombamento ou inventariado”. Não existem normas para a preservação do
cimento penteado. Embora, quando solicitado, os técnicos da Secretaria Municipal de
Cultura não permitam a pintura deste revestimento. A lei de isenção de IPTU é um
estímulo aos proprietários a preservarem as fachadas de seus imóveis, mas também
induz os mesmos a querer sua limpeza, o que em geral é feito de forma inadequada
para a preservação do revestimento, de onde se conclui que há necessidade de um
amparo legal para sua preservação.
49
prédios comerciais pelo próprio interesse do comércio em adequar a sua propaganda
a uma cor de fachada mais chamativa.
Figura 45 – Exemplo de prédio demolido, na Pça Cel Pedro Osório esquina rua Princesa Izabel e o
empreendimento colocado no local. Fotos arquivo Secult (1986) e da autora (2006).
50
Figura 46 – Exemplo de prédio parcialmente demolido e pintado, na Pça Cel Pedro Osório no 55 e o
empreendimento colocado no local. Fotos arquivo Secult (1986) e da autora (2006).
51
Na definição da arquitetura utilizada pelo cimento penteado podemos
afirmar que esta caracteriza-se na sua grande maioria por linhas geométricas,
esquadrias verticais, ausência de adornos rebuscados, ”uma linguagem pouco
carregada e com menor apelação a elementos de artesanato artísticos”, (MOURA,
1998) acompanhando o uso de outros materiais como o ferro, embora constate-se a
presença de outros adornos num período de transição. Ressalta-se a existência de
elementos excepcionais na arquitetura monumental.
Quanto aos aspectos da paisagem urbana podemos dizer que a cor areia é
relevante com 31,75% presente na área estudada, conforme demonstrado pelos
registros do banco de dados, retificando a idéia de que a paisagem urbana se tornou
mais cinza.
52
7. Depoimentos:
53
8. Bibliografia
CURY, Isabelle (org). Cartas Patrimoniais. 2 ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Iphan,
2000.
54
MAGADÁN, Marcelo. Algunas cuestiones técnicas para la recuperación del símil
piedra. Disponível em:<http://www.cerroblanco.com.ar>. Acesso em 11 jul 2005.
NEAB, FAUrb. Tabela de alteração dos nomes de ruas no período de 1815 a 1967.
OLIVEIRA, Mônica Ribeiro. Juiz de Fora Vivendo a História. Disponível em < http//
www.acessa.com/cidade/cultura.apl. Acesso em 13/dez/2005.
55
PREFEITURA MUNICIPAL DE BAGÉ. Bagé Ontem, Bagé Hoje. Disponível
em:<http://www.alternet.com.br/bage/album/index.html>.Acesso em 15/fev/2006.
ROSA, Ailton Ávila da. Rio Grande em Fotos: Casarões e Prédios Históricos.
.Disponível em:<http// www.riograndeemfotos.fot.br/>. Acesso em 28/mar/2006.
ROIG, Carmem Vera, POLIDORI, Maurício Couto (org). Patrimônio Cultural, Cidade
e Inventário: um Caminho Possível para a Preservação. Pelotas: [s.n.], 1999.
SANCHEZ, Ana Maria. Como intervenir en un edificio con revestimiento símil piedra
en sus fachadas. Disponível em <http://www.cad2.org.ar/gaceta/65.htm> Acesso em
11/jul/2005.
56
WEIMER, Günter. A fase historicista da arquitetura no Rio Grande do Sul. In:
FABRIS, Annateresa (Org.) Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel,
1987. p. 258-296.
57