A Educação Da Criança Na Pedagogia Waldorf
A Educação Da Criança Na Pedagogia Waldorf
A Educação Da Criança Na Pedagogia Waldorf
Antonio Flávio Maciel de Souza Júnior (1); Jeannette Filomeno Pouchain Ramos (2)
RESUMO
O objetivo desse estudo é apresentar as vivências na escola Waldorf Micael, situada em Fortaleza-Ceará, que tem como
fundamento a Antroposofia, criada pelo filósofo Rudolf Steiner. A escolha da escola se deve pelo fato de ser única que
trabalha com essa proposta pedagógica no estado do Ceará. O trabalho de campo consistiu, fundamentalmente, de
observações participantes, realizada a partir de estágio extracurricular e revisão bibliográfica. Como referenciais
teóricos, utilizamos Rudolf Lanz (1998) para compreender a Pedagogia Waldorf, Renate Keller Ignácio (2014) para
entender o desenvolvimento da criança de 0 a 7 anos e a prática pedagógica que permite o desenvolvimento saudável da
criança nessa idade, além disso, compreender o ambiente acolhedor e aconchegante do jardim-de-infância, dentre outros
aspectos. O estágio na educação infantil possibilitou observar o ritmo e organização da escola nessa proposta
pedagógica, que é inovadora. Na escola investigada pode-se compreender que o currículo é trabalhado em épocas,
desenvolvendo nos discentes a capacidade de se socializar, integrarem-se no mundo que vivem, permitindo que eles
possam se tornar indivíduos livres, socialmente competentes e moralmente responsáveis pelos seus atos.
INTRODUÇÃO
Esse trabalho foi motivado pela vivência realizada na Escola Wardof Micael, situada no
bairro Eng° Luciano Cavalcante, na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, por meio de estágio
extracurricular na educação Infantil, no período de 30 de setembro a 01 de outubro do ano de 2015.
A Escola Waldorf Micael, tem como fundamento a Antroposofia, criada pelo filósofo e cientista,
Rudolf Steiner, no ano 1919, e foi fundada em 1994, sendo assim funciona há 21 anos.
A Antroposofia entende o ser humano como um microcosmo no qual vibram e pulsam os
processos do universo. Centrando seu estudo no homem, tenta responder às suas
necessidades, abarcando o científico, o cultural e o artístico-religioso, trazendo para a
sociedade impulsos de aplicação prática concreta. (PPP WALDORF MICAEL, 2015, p.05)
1 Projeto de extensão AFRODITA: a arte, o brincar, o cantar e o dançar nas educações interculturais
Waldorf, Renate Keller Ignácio (2014) para entender o desenvolvimento da criança de 0 a 7 anos e a
prática pedagógica que permite o desenvolvimento saudável da criança nessa idade, dentre outros
aspectos, também realizamos a analise documental do Projeto Pedagógico da Escola (2015) e a
observação participante, realizada no estagio. Ao desenvolver esse trabalho, também tenho como
base a minha relação com a educação infantil, das vivencias com as crianças das escolas da minha
comunidade e das experiências realizadas no projeto de extensão desenvolvido na universidade,
pelo qual faço parte.
A escolha desta proposta pedagógica para realização do estágio extracurricular destaca-se
pelos princípios de liberdade, convivência com a natureza e pensa na formação humana, não só
partindo do pensar logico, mas também da formação de forma holística. Desse modo que a escola
trabalha o fazer pedagógico, pensando na formação integral do ser humano.
EDUCAÇÃO INFANTIL NA PROPOSTA PEDAGÓGICA WALDORF
A escola busca de maneira artística atingir a formação do ser humano, atuando no seu
desenvolvimento físico e cognitivo, buscando incentivar o querer por meio das atividades
corpóreas, realizadas com as crianças e para, além disso, desenvolver nos discentes a capacidade de
socializar-se, integrarem-se no mundo em que vive, tornando-os indivíduos livres, socialmente
competentes e moralmente responsáveis pelos seus atos.
Este é um projeto pedagógico para toda a educação básica, entretanto, neste trabalho
enfatizo a educação infantil. A educação infantil da escola Waldorf Micael está organizada em
maternal, que atua com crianças de 1 a 3 anos de idade e o Jardim de Infância com crianças de 3 a 6
anos.
Na proposta pedagógica, de acordo com o plano político pedagógico da escola, o maternal
consiste em manter um ritmo saudável, na perspectiva de que as crianças possam criar hábitos de
higiene, dentre outros.
(...) ritmo diário saudável para as crianças onde elas possam: criar hábitos de higiene,
comer à mesa, aprender a apreciar frutas e alimentos saudáveis, realizar o desfralde, brincar
livremente em contato com a natureza e com materiais naturais, adquirir vivências das
estações do ano em forma de canções ou versos em cirandas, ouvir pequenas histórias, que
podem ser acompanhadas com bonecos bem simples de teatro ou de dedos. Algumas vezes
oferece-se um papel bem grande e giz de cera para “desenho”. (PPP WALDORF, 2015,
p.15)
No Jardim de Infância oferece-se uma maior variedade de brinquedos, todos oriundos de
materiais verdadeiros - ou seja, de origem mineral ou vegetal - dentre outras atividades. A
estruturação da sala é bem parecida com a do Maternal.
No Jardim de Infância dá-se à estruturação estética da sala o mesmo valor que no Maternal,
contudo oferece-se uma maior variedade de brinquedos, incluindo-se os de tamanhos
menores como, por exemplo, sementes, conchas e bloquinhos de madeira. No pátio, além
da caixa de areia, há balanços, tábuas e troncos de vários tamanhos para neles subir,
equilibrar e pular. Barbantes, cordas, bolas de pano e pernas de pau, indispensáveis ao
desenvolvimento do equilíbrio, das reações rápidas de destreza, da motricidade grossa.
(PPP WALDORF, 2015, p.15)
Os jardins na escola Waldorf, são considerados com um prolongamento do lar familiar, pois
“[...] assim como numa família os irmãos de idades diferentes educam-se mutuamente, reunimos as
crianças em grupos de idades mistas, onde elas têm a mesma oportunidade” (PPP WALDORF,
2015, p.16). Deste modo, as salas na educação infantil Waldorf são multiseriadas.
Nos Jardins de Infância, o ritmo funciona como uma respiração. Para Ignácio (2014, p.77) há
momentos de inspiração, por exemplo, rodar, contar histórias (concentração), e outros de expiração,
tal como brincar fora, arrumar (expansão), que se alternam. Esse ritmo deve ser repetido todos os
dias, pois é através dele, que a criança começa a ter confiança, segurança e saúde. Nas palavras de
Borba
No jardim de infância procura-se seguir um ritmo diário onde há momentos de expansão,
como o brincar no parque fora da sala, e momentos de contração, como a hora da
alimentação dentro da sala, por exemplo. Brincar livremente dentro da sala pode ser
compreendido como uma expansão e, fazer um desenho, uma pintura, uma atividade
culinária pode ser compreendido como um momento de contração. (BORBA, 2013, p.01)
Dessa forma, o ritmo marca as atividades durante à semana e “[...] as crianças são educadas
de acordo com os cinco erres: Ritmo, Rotina, Repetição, Ritual e Repouso” (BORBA, 2013, p.1).
Nessa perspectiva, a importância do ritmo se dá para que o desenvolvimento da criança seja de
forma saudável, pois é na infância que seu organismo esta sendo formado (corpo físico).
É, então, de fundamental importância que o jardim de infância seja um ambiente protegido e
calmo, transmitindo segurança para as crianças e que ela sinta-se motivada a novos desafios.
Observamos ainda que na educação infantil há a organização de um ambiente para o convívio com a
natureza, a fantasia e a criatividade.
O DIA – A- DIA DAS CRIANÇAS NO JARDIM WALDORF DA ESCOLA MICAEL
Ao chegar à instituição, fui recebido pela coordenadora pedagógica, que fez as primeiras
considerações em relação às normas estabelecidas pela escola, no sentido de que, pudéssemos nos
preparar para a observação e vivenciar o dia – a – dia das crianças. Inicialmente realizamos a
observação do espaço e o ambiente da escola. Notamos que o lugar é bastante agradável, possui
muitas árvores e parques. O espaço é amplo e acolhedor. Segundo o PPP da escola, na sala
(...) há mesas grandes que podem ser unidas para proporcionar que todas as crianças se
sentem em grupo. (...) A sala se compõe também de pequenos ambientes, como o “quarto
de bonecas” ou a “vendinha”, onde há cestas de vários tamanhos com sementes, conchas,
pedras, toquinhos, mas também cestas grandes com pinhas eliote, lã de carneiro não
desfiada e galhos cortados em pedaços de vários formatos e tamanhos, transformados em
diferentes brinquedos, conforme a imaginação de cada criança. Há vários cavaletes de
múltiplos usos, mas usados principalmente para construir cabanas com panos grandes de
várias cores, que também são usados como capas, saias e outras fantasias. Os quadros na
parede são reproduções de obras de arte e não de caricaturas. (PPP WALDORF, 2015, P.15)
Em seguida, fui apresentado à professora Larissa Saldanha, da educação infantil. No espaço
da sala, há armário, onde a professora guarda seu material de uso diário, uma mesa grande com
cadeiras de madeira, cestas grandes de palha com almofadas, uma cabana feita de tecido e dois
suportes de madeira e dentro dela há brinquedos diversos, como bonecas de pano, bolas de tecido
ou linhas, rabos de tigre, capas para as crianças brincarem de tecidos e, ao lado da cabana, há três
cavaletes de madeira do tipo balancê e um banheiro, adaptados para as crianças. É um ambiente
delicado, alegre e acolhedor. Do lado de fora da sala, tem um quintal, nesse local há uma árvore e
debaixo dela vários brinquedos de alumínio, tais como, panelas, copos e leiteiras. As crianças
utilizam esses brinquedos para fazerem bolinhos de areia, juntar folhinhas e sementes, dentre outras
utilidades. Há também um espaço com muita areia. Ao lado tem um parque, com balanço e
escorregador.
Além da professora da turma, que conduz a sala, há uma ajudante que auxilia a professora
em algumas atividades. Os brinquedos geralmente utilizados pelas crianças são: baldes de metal,
pás, colheres de pau, cascas de coco, balanço, escorregador, além de existir um espaço como já
citado acima, onde a criança possa correr, pular e brincar livremente. A professora orientadora da do
estágio me pediu que eu fizesse o meu primeiro trabalho manual e me ensinou a fazer um traçado de
barbante cru, chamado rabo de tigre. Esse material serve para as crianças brincarem de pular corda e
realizar outras atividades de acordo com sua imaginação. Participei do momento do lanche e da
contação de historia.
No segundo dia, participei da acolhida com as crianças, sentamos a mesa, fizemos uma
oração e em seguida comemos castanha, amêndoas, depois tomamos água. Após essa acolhida, as
crianças foram brincar. Enquanto as crianças brincavam, o adulto, no caso a professora, fazia algum
trabalho útil para o grupo. A professora por sua vez, consertou alguns brinquedos, costurou e na
maioria do tempo fez bordado. Desses trabalhos manuais, ela me ensinou a fazer um bordado e a
fazer rabo de tigre, que é feito com barbante entrelaçados, como já citado acima.
Enquanto isso, as crianças brincavam na área externa e expressavam, através das
brincadeiras aquilo que elas tinham visto ou vivenciado em casa ou no caminho até à escola, assim
como, o comportamento de algum adulto que tenha interseção com ela. Esse processo de imitação
faz com que a criança aprenda por meio da experimentação, por tentativa e erro.
Para Ignácio (2014, p.25) “A criança pequena é inteiramente força de vontade. Ela só quer
agir, transformar, brincar. Brincando ela imita os gestos do adulto. Assim, ela descobre o mundo”.
Segundo Lanz (1998, p. 147), “Brincar é uma das principais atividades que moldam o corpo etérico 2
BORBA. Pilar Tetilla Manzano. Terapeuta Ocupacional e Pedagogia Waldorf. 2013. Disponível
em <Fonte: http://www.antroposofy.com.br/wordpress/a-importancia-do-ritmo-na-educacao-
infantil/> Acessado em 09/06/2016.
Escola Waldorf Micael. Projeto Político Pedagógico. Fortaleza. 2015
IGNACIO, Renate Keller. Criança Querida: O dia a dia da Educação Infantil. 3º ed. São Paulo,
Ed. Antroposófica, 2014.
LANZ, Rudolf. A pedagogia Waldorf. São Paulo, Editora Antroposófica, 1998.