Fraoes e Numeros Decimais
Fraoes e Numeros Decimais
Fraoes e Numeros Decimais
ASSIS CHATEAUBRIAND
2009
NAIR DOS SANTOS LEÃO
ASSIS CHATEAUBRIAND
2009
FRAÇÕES E NÚMEROS DECIMAIS – APENAS FORMAS DIFERENTES DE
NOMEAR E DE GRAFAR OS NÚMEROS?
RESUMO: O corrente texto tem como objetivo fomentar uma reflexão sobre um trabalho
proposto e iniciado por um diagnóstico centrado nas dificuldades apresentadas pelos alunos
no que diz respeito ao entendimento, ao uso e à aplicação dos números fracionários e
decimais na escola, tendo em vista que, no cotidiano, esses números estão presentes na
maioria das situações. A pesquisa e o trabalho de implementação foram executados com os
alunos das séries finais do ensino fundamental da Escola Estadual Guimarães Rosa – Ensino
Fundamental, de Assis Chateaubriand, ano 2009. Os resultados coletados com a pesquisa
revelaram a necessidade da realização de um trabalho de base intenso, que os conceitos e os
significados dos números fracionários e decimais deveriam ser construídos de forma
elementar, o que havia sido previsto na proposta, que, ao identificar as dificuldades, seria
iniciado um trabalho diferenciado, na 5ª série, com material didático selecionado e elaborado
para esse fim. O trabalho foi realizado com uma metodologia que proporcionou maior
articulação dos conteúdos, além de parceria, colaboração e interação entre os alunos na
realização de trabalhos em grupos, utilizando materiais concretos e semiconcretos, com
intuito de trazer elementos significativos para a compreensão dos conceitos desses números.
ABSTRACT: The current text has as objective foments a reflection about a proposed work,
that initiated by a diagnosis centered in the difficulties presented by the students, relatives at
understanding, use and application of the fractional and decimal numbers, in the school, tends
in view that, in the daily, they are present in most of the situations. The research and the
implementation work were executed with the students of the fundamental level’s final part,
from State School Guimarães Rosa - Fundamental Level, of Assis Chateaubriand, in 2009.
The results collected with the research revealed the need of an intense base work, and that the
concepts and meanings of the fractional and decimal numbers should be built in an
elementary way. This had been foreseen in the proposal, which established that when it was
identified the difficulties, it would begun a differentiated work, in the 5th class, with selected
didactic material elaborated for this objective. The work was realized with a methodology that
provided larger articulation of the contents, partnership, collaboration and interaction among
the students in the realization of works in groups, using concretes and almost-concretes
materials, with intention of bringing significant elements for the understanding of those
number’s concepts.
1 Professora da Rede Pública Estadual / Núcleo Regional de Assis Chateaubriand - PR. E-mail:
[email protected].
2 Professora Orientadora do PDE e Docente do Curso de Matemática da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE) – Campus de Foz do Iguaçu. E-mail: [email protected].
3 Professora Orientadora do PDE e Docente do Curso de Matemática da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE) – Campus de Foz do Iguaçu. E-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
Embora as atividades propostas para a operação divisão, nas séries iniciais, preparem
o aluno para o futuro entendimento das frações, mais tarde, no tempo oportuno, eles
apresentam muitas dificuldades de fazer tais relações. A problematização que pode ser
realizada a respeito desta questão é que as crianças vivem cercadas por números de todos os
lados. Cada vez que têm necessidade de comprarem o pão e o leite, quando elas dividem o
bolo e o suco, ao cronometrarem o tempo até chegar à escola e, em quase todas as atividades
diárias, os números estão presentes. Na maioria das situações esses números são “quebrados”,
fracionários ou decimais.
No desenvolvimento do currículo na 5ª série observa-se que os alunos apresentam
dificuldades com esse conjunto de números e, na 8ª série, embora eles tenham mais
experiência, ainda assim continuam apresentando dificuldades dessa natureza.
Considerando que, no cotidiano, os alunos lidam com números fracionários e
decimais, por que, na escola, eles apresentam tantas dificuldades de compreensão e de
operação com esses números?
O questionamento “Para que servem as frações e os decimais?” é feito há muito
tempo. A tentativa é responder de várias formas, com os mais variados exemplos do cotidiano.
O que, porém, ainda é intrigante é a falta de intimidade que os alunos insistem em apresentar
em relação a esses números. É efetivamente intrigante a dificuldade de abstração que
demonstram ter quando se trata de frações e de números decimais.
Nilson José Machado diz, em sua obra “Matemática e Língua Materna”:
Nessa perspectiva, a preocupação é que possa de fato haver uma reflexão sobre esse
processo, que possa haver a realização de um trabalho intenso em busca de meios para que os
alunos façam abstrações e relações significativas e necessárias com frações e com números
decimais, já que “a matemática foi inventada e vem sendo desenvolvida pelo homem em
função de necessidades sociais, conforme o entendimento de Rosa Neto (1994, p. 7).
Pressupõe-se que, na maioria das atividades realizadas com alunos, quando são
atividades referentes à matemática, um dos principais entraves são frações e números
decimais. O livro “Na Vida Dez e na Escola Zero”, sobre experiências realizadas em Recife,
relata: “A maior dificuldade dos estudantes, no entanto, foi a de encontrar o significado dos
resultados de seus cálculos, especialmente quando apareciam decimais” (CARRAHER;
SCHLIEMANN; CARRAHER, 1991, p. 119).
O documento “Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do
Paraná” expõe que:
Com essa preocupação, foi realizada uma pesquisa, no intuito de identificar, através
de uma avaliação diagnóstica, elementos que contribuíssem para o rumo do deste trabalho. A
sondagem foi realizada com 138 alunos de 5ª série (6 turmas), 32 alunos de 6ª série (1 turma),
41 alunos de 7ª série (2 turmas) e 56 alunos de 8ª série (2 turmas). Atingiu, portanto, 11
turmas e um total de 267 alunos.
Questão 1. Você utiliza a matemática em seu dia a dia? Em que situações? Para
quê?
Três alunos deixaram a questão em branco – dois de 5ª série e um de 7ª série. Seis
alunos responderam que não utilizam a matemática – um de 5ª série, quatro de 7ª série e um
de 8ª série. As respostas dos demais alunos giraram em torno da utilização para compras e
vendas, cálculos, medir distâncias e tempo, comparar preços, observar validade de produtos,
controle do consumo alimentar e de objetos de trabalho e para se obter melhor emprego no
futuro.
Analisando as respostas dadas pela maioria dos alunos nessa primeira questão,
percebe-se que um grande número pensou na matemática aplicada, na matemática prática, na
matemática como instrumento para resolver questões do cotidiano.
Partindo dessa análise, é possível entrar em concordância com os autores do livro
“Na Vida Dez e na Escola Zero”, que diz:
Nove alunos de 5ª, três alunos de 7ª e três alunos de 8ª série deixaram a questão em
branco. Treze alunos de 5ª, seis de 6ª, doze de 7ª e cinco de 8ª série responderam que não
utilizam as frações. Cinco alunos de 5ª e quinze alunos de 7ª série disseram não se lembrar.
Um aluno de 5ª série disse não ter entendido a questão. Quatro alunos de 7ª e dez alunos de 8ª
série não sabiam a resposta. Os demais alunos responderam o seguinte: (Em vários casos
respostas com mesmo sentido não foram citadas duplamente).
“Utilizei na escola para dividir”. “Para contar”. “Serve para repartir bolo,
chocolate, eu utilizei domingo quando reparti um bolo em 1/2”. “Para fazer
compras e fazer contas para aprender mais”. “As frações servem para quebrar
números exemplo 1,99. Para dividir números com vírgula e ímpares. Já utilizei na
hora de pagar uma conta ou receber troco”. “Para você saber dividir, em várias
situações, como no trabalho, em casa, etc.” “Para contar as partes, pedaços, para
viajar, quando sobra bolo, quando faz festa para contar os salgadinhos”. “As
pessoas utilizam frações para escrever uma receita. Ex: 1/2 xícara de mel, 1/2
xícara de açúcar, etc.” “Para simplificar as coisas, por exemplo: quando tem 5
pedaços de pizza, como 3 ficaram 2/3”. “Para dividir pizza, maçã, etc.” “As frações
servem nas pizzarias para saberem os meios ou quartos das pizzas”. “As frações o
número de baixo é dividido e o de cima é vezes”. “Para fazer tererê”. “Elas servem
para ter resultados exatos”. “Em divisões e multiplicações”. “Em tudo”.
”Qualquer hora”. “Para medir 1/2, 1/3, 2/5, para tomar água ou alguma coisa, em
receita de pastéis, bolos, etc.”. “Horas, calendário”. “Sim porque tudo que tem
vírgula é um número decimal, exemplo 10,50”. “Para representar número”. “Para
medir, utilizo só na escola”. “Para fracionar contas e eu uso para coisas
importantes”. “Eu não gosto de fração”. “Para ajudar”. “Para facilitar nossa vida
lá na frente”. “Utilizo nas aulas de matemática e em casa, mas é raro”. “Para
cortar pão, servir alguma bebida, cortar pizza,...”. “Para grãos, rações”. “Para
dividir os números inteiros, em compras, por exemplo: Por favor, quero 1/2 kg de
mortadela”. “Para distinguir o peso de alimentos, fazer um desenho e marcar sua
metade”. “São para fracionar os litros, gramas, etc. Pode ser muito utilizado nos
kilos de arroz, etc.”. “Para distinguir o peso de carne e outros alimentos”. “Não
sei para que servem as frações e eu só utilizo nas tarefas da escola e nas receitas de
bolos, etc.”. “Para a gente ter um peso de arroz”. “Um exemplo é a quantidade de
alguma coisa, é um número sobre a população (10/25)”. “Eu as utilizo muito pouco,
mas uso para decifrar quantidades”. “Para denominar parte de algo. Utilizo
quando faço contas e converso com meus amigos”. “Eu utilizo principalmente na
cozinha para fazer sobremesa. Por exemplo: 1/3 de farinha, 1/2 de açúcar, etc.”.
“Para fazer o seu dia a dia ser mais fácil. “São os números”.
Dez alunos de 5ª, dois de 7ª e seis de 8ª série deixaram a questão em branco. Dez
alunos de 5ª, sete de 6ª, oito de 7ª e cinco de 8ª série disseram não utilizar esses números.
Quinze alunos de 5ª, quatro alunos de 6ª, sete alunos de 7ª e cinco alunos de 8ª série
responderam que só usam esses números na escola. Cinco alunos de 5ª, quatro alunos de 7ª e
seis alunos de 8ª série disseram não saber a resposta. As respostas dos demais, em vários
casos com mesmo sentido e não citadas duplamente, foram as seguintes:
“Eu uso sim, em todos os lugares que a gente vai”. “Vejo na TV escrito, por
exemplo, 7,5%, ou em enquetes no computador, etc.”. “Na escola, nos mercados, nos
preços”. “Quando compro alguma coisa ou vendo”. “Quando meu pai fala das
contas do mês”. “Quando vamos pagar alguma coisa sempre tem centavos, por isso
a conta tem uma vírgula, para separar o real dos centavos”. “Em tudo”. “Na
régua, relógio, nos preços, na calculadora, etc.”. “Estamos sempre fazendo
atividades com números decimais”. “Na decomposição dos números, nas contas de
dinheiro”. “Não em minha vida, em empresas”. “Na cabeça e no coração”. “De
onde a gente aprende”. “Em receitas”. “Nos quilos do meu peso, na minha casa, na
comida”. “Nas horas, calendário”. “Na escola, TV, em livros, placas na rua, etc.”.
“Na medida de tecidos, na tapeçaria do meu tio”. “Na escola e no trabalho”. “No
meu cérebro, na minha cabeça”. “Às vezes, não uso muito”. “Quando vou no
mercado eu peço 1,5 kg de carne moída e quando eu vou em um restaurante que a
comida é por peso”. “Nas compras. Por exemplo: me dá 1,5 kg de bife e 4,5 kg de
bisteca”. “Nas frações, quando você as divide dão números decimais. Também
utilizamos o dinheiro para quase tudo”. “Nos cálculos, números, preços, etc.”. “Ao
comprar algo como 1,99, 2,37, 10,90, isto sempre está presente em minha vida”.
“Nas vitrines das lojas, nos supermercados”. “Nas expressões que você resolve que
tenha vírgula”. “É quase a mesma coisa das frações”. “Em várias coisas, como no
peso, eu peso 45,3 kg, na idade, exemplo 12,3 anos (12 anos e 3 meses)”.
Onze alunos de 5ª, quatro alunos de 7ª e cinco alunos de 8ª série deixaram a questão
em branco. Vinte alunos de 5ª, nove alunos de 6ª, 11 alunos de 7ª e sete alunos de 8ª série
disseram não observar esses números. Oito alunos de 5ª, cinco alunos de 6ª e sete alunos de 8ª
série responderam que só utilizam esses números na matemática. Oito alunos de 5ª, três
alunos de 6ª, oito alunos de 7ª e cinco alunos de 8ª série alegaram não saber a resposta. Dois
alunos de 5ª, dois alunos de 7ª e dois alunos de 8ª série disseram não se lembrar. As demais
respostas referentes a essa quarta questão se assemelharam muito às respostas dadas nas
questões 2 e 3. Focaram o campo financeiro, referindo as lojas, preços de mercadorias dos
supermercados, farmácias e outros.
“Na TV”. “Me faz lembrar em terça-feira, terço, o número 13”. “Uma forma de
bolo”. “1,30, 0,13, etc.”. “Faz-me lembrar uma pizza dividida em 3 pedaços”.
“Muita coisa”. “Sorte, porque tirando a barra fica 13, dia do meu aniversário”.
“Uma receita, uma colher de açúcar, de café, de leite”. “Nas contas, nos problemas,
no ano passado na 4ª série”. “Quando divido algo, por exemplo, uma maçã “Faz
lembrar da matemática e da escola”. “Quando vou beber leite, repartir uma barra
de chocolate, quando minha mãe vai pôr açúcar no bolo, etc.”. “Exemplo tem 4
gente e uma pizza (fez o desenho) de 4 pedaços e um não quer a pizza”. “Me faz
lembrar um bolo pequeno dividido em três eu como um, sobra 2”. “Um pedaço de
pizza de três pedaços”. “1/4, 1/5, 1/6, 1/7, 1/8”. “Eu tenho uma caixinha de leite eu
bebo a metade fica 1/2”. “Quando minha mãe vai fazer compra e vai comprar 1/3 kg
de arroz”. “Quando minha mãe fez pizza e sobrou 3 pedaços, comi mais 2 ficaram
1/3”. “Eu tinha 3 chocolates, comi 2 fiquei com 1”. “Tem uma caixa de leite você
vai dividir em três partes”. “Quase a metade de 2/5”. “Me faz lembrar medidas,
divisões, etc.”. “A metade de um bolo”. “Me faz lembrar as divisões do número da
parte debaixo e o número de cima é de vezes”. “Tem que repartir”. “Quando eu
reparto um chocolate com 3 amigos, também me lembra divisão e multiplicação”.
“Quando vou repartir um bolo e tem 10 pessoas para comer aí eu reparto em 10
pedaços isso se chama fração”. “Me faz lembrar divisão por três e vezes um”. “1/3
de farinha de trigo”. “Numa pizza tem 3 pedaços eu comi 1 e ficou 2”. “Quando
como 1 pedaço e sobra 3 pedaços”. “Faz lembrar a fração 1/4”. “Quando como
pizza, a mãe corta quatro pedaços e eu pego um e um pedaço significa 1/3”. “Ao
redor da minha vida”. “Em todo lugar, na escola, na rua”. “1/3 do planeta Terra é
água doce”. “Tirado 1 parte de 3”. “A divisão de um alimento em três”. “1/3, 1/4,
2/5, 3/7, 5/8, 9/10, 13/13”. “1/3 copo de leite da receita”. “Quando tenho uma coisa
e tenho que repartir para 3”. “Um bolo dividido em 3 partes para 3 pessoas”. “Uma
xícara de café”. “Uma laranja dividida em 4 partes e comeram 1 parte”. “Para
dividir um pudim com meus primos”. “Um sujeito recebeu 1/3 da herança”. “Meio
copo de água, leite, etc.”. “1/3 de maçã”. “Um terço de pão, de pizza”. “Me lembra
1/3 de alguma coisa, exemplo, 1/3 de torta”. “Um objeto partido em 3”. “O número
3”. “Que 1 de 3 pessoas é menor de idade”. “Um rosário”. “Um décimo”. “É a
parte que é dividida em três partes iguais”. “1/3 da minha aprendizagem”. “Ódio”.
“Um pacote de balas que só tem 3 balas e tiramos uma “1/3 de um círculo (fez o
desenho: repartiu o círculo ao meio, e uma das metades dividiu em duas partes)”.
“São 3 círculos com uma parte sem dividi-los”. “Uma conta que não serve para
nada”. “São 3 círculos inteiros”. “Faz me lembrar de um bolo em 1/3 de pedaço”.
“Uma fração em que 1 se divide por 3 ou vice-versa 3 dividido por 1”. “Me lembra
da parte de alguma coisa, por exemplo, uma notícia: Apenas 1/3 da população
conseguiu se salvar”. “É como dividir chocolate um pedaço inteiro e três
pedacinhos de outra barra”. “Um copo de leite cheio um por metade e um por 1/3”.
“É quando alguém usa para dar exemplos como 1/3 de bolo, etc.”. “Ela me lembra
um terço, onde tem 58/60 bolinhas que é usado para rezar 50 ave Maria. “Uma
parte de 3”. “Por exemplo temos um bolo e ele está dividido em três partes e para
representar fazemos a fração”.
Chamou atenção o número de alunos que deixou a questão em branco e os que
disseram não se lembrarem da resposta nessa quinta questão, pois, se forem consideradas
essas respostas como indicativas de falta de compreensão conceitual, encontra-se aí um
número consideravelmente grande (31%) em relação ao total de alunos que participaram da
pesquisa, que desconhecem o significado de fração
Questão 6. Você se lembra de alguma atividade prática que realizou no estudo de frações
ou de decimais? Descreva-a:
“Ela só explicou no quadro com algumas figuras “Na 3ª série a nossa professora
cortou um bolo para nós em 32 pedaços para nos explicar depois”. “Nós fizemos um
bolo e ela fez a fração de 1/8”. “Sim 10/4 (dez quartos)”. “Quando a professora me
ensinou eu aprendi rápido”. “Neste dia eu aprendi que tem que acertar a vírgula no
lugar certo”. “Sim 3/4 x 3/4 = 12/12”. “Conferir cupons fiscal que a gente recebe
no mercado ao pagar a compra”. “Fazer bolo”. “Eu fiz isso na minha antiga escola,
quando fizemos um bolo redondo e a professora pediu para dividirmos o bolo em
2/8”. “Bom eu aprendi sobre os números decimais que: na divisão, se preciso for,
aumente uma casa e corte as vírgulas. Na multiplicação, vírgula embaixo de
vírgula”. “Eu lembro que nós tínhamos que desenhar círculos”. “Brincamos de
mercado e fomos comprar com o nosso dinheiro várias coisas”. “Dividi um
chocolate ou uma melancia”. “Quando há pescaria”. “Na pescaria, dividimos as
minhocas e iscas para cada um”. “Dividir uma pizza em 8 pedaços”.
Respostas da 6ª série.
“Na terceira série a professora pediu para a gente levar uma maçã para começar a
trabalhar com fração”. “Lembro de repartir a maçã, o bolo e a pizza”. “Na 3ª série
a professora começou explicar sobre fração”. “Sim 1/4 = 0,25”. Um aluno fez um
exercício usando a fórmula para encontrar uma geratriz.
Respostas das 8ª séries.
O que ocorre nas respostas dadas pelos alunos nessa sexta questão é, novamente,
preocupante. Dos 138 alunos de 5ª série participantes da pesquisa, 97 não tinham nenhuma
situação a descrever, aproximadamente 70% dos alunos. Quanto às descrições feitas pelos
demais alunos se observou pouca compreensão ou pouca sequência lógica das atividades
realizadas.
Dos 32 alunos de 6ª série, além de a maioria responder que não se lembravam, os
demais também não descreveram nenhuma ação.
Dentre os 41 alunos de 7ª série, o número dos que disseram não se lembrarem é
consideravelmente grande – 35 alunos. Os demais também ficaram na partilha, no repartir por
repartir, sem, porém, descrever o processo.
Dos alunos da 8ª série, que somavam 56, destes, 38 não tinham nenhuma atividade a
descrever. Os 18 restantes também não se apresentaram respostas que atendessem à descrição
solicitada.
Diante das respostas dadas pelos alunos nessa sexta questão, e o que se vem
observando, ano a ano, nas reações deles quando o assunto é fração e números decimais, é
que foi proposto este trabalho tentando encontrar respostas para os seguintes
questionamentos: Será que as dificuldades que os alunos apresentam em trabalhar com esses
números estão na fundamentação apresentada nas séries iniciais? Será que essas dificuldades
estão na ruptura do uso do material concreto e das aulas práticas? Ou esses devem ser
conteúdos que deveriam permear, de maneira mais elementar, as aulas nas séries finais do
Ensino Fundamental e deveriam ser trabalhados mais na prática, prevendo que os alunos são
muito imaturos para abstrair esses conceitos nas séries iniciais? De que forma esses conteúdos
podem ser distribuídos e trabalhados para que os alunos aprendam a lidar com esses
números?
É clara a confusão apresentada pela maioria dos alunos na grafia dos números
fracionários e decimais. Quando se trata de 5/2, grande parte deles relacionou esse número
com 5,2, assim não distinguindo a barra (divisão) da vírgula, atribuindo o mesmo significado
às duas notações.
As observações realizadas nas respostas dessa décima questão vêm, mais uma vez,
enfatizar que nenhum questionamento ou nenhuma confrontação de estratégias foi utilizada
pelos alunos. O que se percebe é que a maioria (os que escolheram as alternativas b e d) fez
uma simples relação entre os dois números apresentados na questão, o número 15 e o número
5, e escolheram um terceiro número, no caso o 3, onde uma operação com os dois primeiros o
resultaria.
Na segunda parte da questão também não foram apresentadas relações,
principalmente pelos alunos de 6ª, 7ª e 8ª, tanto que nem mesmo os tão poucos que acertaram
a primeira fase da questão conseguiram chegar a uma resposta que justificasse suas escolhas
feitas anteriormente.
IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA.
Nas questões que exigiam cálculos simples, o resultado também não foi animador, ao
tratarmos da soma de frações, o resultado não foi diferente e quando a questão se referia à
ordem crescente, grande parte dos alunos reclamava que não tinha alternativa correta para
assinalar.
Apesar de 52 alunos de 5ª série acertar o desenho da questão dos círculos, não foi o
mesmo número que assinalou a alternativa corretamente . A maioria dos alunos da 6ª, 7ª e 8ª
séries também atribuiu que 5 círculos seria 5/3 de 15 círculos.
4 Trabalho que faz parte das Produções exigidas no Programa PDE. É elaborada com as características de um
capítulo de um livro didático, contendo teorias e atividades. Esta produção focou a utilização dos números
fracionários e decimais nos movimentos da terra, dos meios de transporte e atividades de movimentos do
homem.
deles em quase todas as atividades do homem, a necessidade do uso e aplicação desses
números no dia a dia das pessoas.
Foi interessante a observação de um dos alunos que disse: “Professora, a gente devia
estudar muito mais os números quebrados, porque eles são mais que os inteiros. De 1 a 10,
tem só 10 números inteiros, e os quebrados é um monte”.
Para a continuidade dos trabalhos foi “adotada” a “horta de seu João”. (Discutiu-se a
importância dos legumes e das verduras na alimentação e da produção desses alimentos sem
uso de agrotóxicos). Então a horta foi dividida, inicialmente, da seguinte forma:
QUADRO 1
COUVE COUVE COUVE ALFACE ALFACE SALSA. E CEB.
A partir das discussões a respeito da horta e da produção dela, foi possível trabalhar
questões como: a fração da horta que representa a plantação de couve, de alface, a soma das
frações que representam a plantação de couve e alface juntas, a soma da fração que representa
a plantação de beterraba com a fração da plantação de tomate. Que houve um ataque de
lagartas na horta, elas destruíram um dos canteiros de couve. Seu João teve que revirar toda a
terra desse canteiro. Que a fração da plantação de couve que restou depois do ataque das
lagartas? A representação do que sobrou da plantação de couve com uma subtração de
frações.
A “horta de seu João” foi dividida também em 6 canteiros para que os alunos
visualizassem a adição com denominadores diferentes e automaticamente equivalências e
simplificação de frações.
Com a horta dividida em 6 canteiros, os alunos puderam perceber que a plantação de
cenoura agora corresponderia a 1/6 da horta. Isso significa que 2/12 na primeira divisão da
horta, equivale, ou tem o mesmo valor que 1/6 da segunda divisão. Quer dizer ainda que 1/6 é
a forma mais simples da fração 2/12. Perceberam também que quando se escreve a fração
2/12 = 1/6, está simplificando a fração.
O trabalho com “horta de seu João” continuou e assim foi possível ver outras
equivalências, quando esta foi dividida em 4 partes.
A plantação de couve agora corresponderia a 1/4 da horta, isto é, 3/12 na primeira
divisão da horta, equivale, ou tem o mesmo valor que 1/4 da terceira divisão.
Concluindo: 3/12 = 1/4 (Um quarto é a forma simplificada de 3/12).
Com o trabalho realizado através da “horta de seu João”, foi possível realizar
atividades como: a) fazer uma tabela com os produtos que seu João cultiva na horta
(Quadro1); b) escrever a fração correspondente a cada produto; c) escrever a forma
simplificada de cada fração (quando possível).
Com a tabela em mãos, foi possível trabalhar soma de frações com mesmo
denominador, como a fração que corresponde à plantação de couve somada à fração que
corresponde a plantação de alface 3/12 + 2/12 da segunda coluna e também a soma de frações
com denominadores diferentes como 1/4 + 1/6 na terceira coluna da tabela referida, o que
facilitou, e muito, a possibilidade de os alunos observarem, na própria tabela, que as frações
3/12 e 1/4; 2/12 e 1/6 são frações equivalentes, percebendo, sem dificuldade, que as duas
somas teriam a mesma resposta. Ou seja: 3/12 + 2/12 = 1/4 + 1/6.
Outras situações foram trabalhadas no papel quadriculado. Uma delas foi a seguinte:
MULTIPLICAÇÃO DE FRAÇÕES
Seu João colheu 7 cenouras de sua horta. Ele usou 4 dessas cenouras para fazer um
bolo e 2 cenouras para fazer salada. Que fração do total de cenouras colhidas seu João usou
para fazer o bolo?
As cenouras colhidas foram representadas pelo desenho seguinte, onde cada parte do
desenho representaria uma cenoura.
1 1 1 1
7 7 7 7 --------------------> 4 x 1/ 7 = 4/ 7
4 vezes 1/ 7
Desta forma, os alunos concluíram que seu João usou 4/7 das cenouras para fazer o
bolo.
Através de um desenho semelhante ao anterior, os alunos descobriram a fração das
cenouras que ele usou para fazer a salada e a cenoura restante.
DIVISÃO DE FRAÇÕES
João
filha
filho
esposa
A turma foi instigada a discutir a situação no seguinte aspecto: a metade do bolo foi
dividida em quatro partes. Isso quer dizer que, se todo o bolo fosse dividido da mesma forma,
seria dividido em oito partes. Aí seria possível perceber que cada um comeu 1/8 do bolo. Com
isso concluíram que: 1/2 : 4 = 1/8.
Situação 2. Seu João resolveu dividir igualmente o canteiro de salsa e cebolinha de
sua horta em duas partes iguais. Que fração da horta corresponde a cada um dos dois novos
canteiros?
Para se ter uma melhor visão de a que parte da horta corresponde cada um dos novos
canteiros, os alunos foram conduzidos a imaginar toda a horta dividida da mesma forma.
Após a representação através do desenho da nova horta, puderam perceber que a fração da
horta ocupada por cada um dos dois novos canteiros é igual a 1/24.
Confirmaram também que: 1/12 : 2 = 1/24
3 : 1/5 = 15
1 1 1 1 1
5 5 5 5 5
Perceberam que, ao transportar 1/12 para 1/2 da horta, isso seria o mesmo que dividir
1/12 por 1/2.
Um doze avos da horta dividido pela metade da horta é igual a um sexto desta
metade.
Foram trabalhados outros exemplos como a divisão de 3/8 por 3/4:
3/8 :
3/4
1/ 2
CONCLUSÃO
Sendo uma escola definida como devendo ser um local onde se “produz a
aprendizagem”, é sabido que a garantia de formação das crianças e de sua inserção no mundo
letrado adulto, bem como de sua compreensão de sociedade e de sua posterior atuação política
nela, tudo mediante a correta interpretação de informações recebidas continuamente através
dos meios de comunicação, depende da ação dos professores e dos profissionais envolvidos
na tarefa da educação.
Para se envolver num trabalho diferenciado, um trabalho que procura buscar causas
de entraves e estratégias eficientes para contorná-las, é necessário um desprendimento
profissional que inclui muita de força de vontade e, principalmente, de tempo. No caso da
presente pesquisa e atuação com as crianças, isso só foi possível em razão da disponibilidade
de horário que o programa PDE favoreceu. Um professor com 40 horas-aula semanais
dificilmente se propõe a realizar tal experiência (em razão da sobrecarga excessiva de
trabalho semanal).
A realização deste trabalho foi de grande valia, de muita contribuição para uma
experiência profissional de mais de 30 anos. Utilizando material didático específico e uma
metodologia diferenciada, foi possível mediar, aprofundar e vivenciar muitos desafios e
experimentos relevantes para a construção de teorias e de conceitos relacionados às frações e
aos números decimais. Comprovou-se, mais uma vez, que trabalhar dessa forma não é fácil,
pois exige muita preparação e, principalmente, paciência. De início, tudo parece ir de
encontro ao tumulto, à confusão – situação em sala de aula sempre temida por qualquer
professor. O caminho é longo e só após alguns tropeços as ideias vão se concretizando. É um
processo trabalhoso, cansativo, porém prazeroso, pois tem sua recompensa quando, se
percebe a aquisição dos conceitos trabalhados, e este é um dos principais objetivos do
professor e, ao longo dos corredores, praticamente toda a turma vem ao encontro da gente,
com sorrisos estampados, de olhos no material, perguntando: “Professora, que atividade a
gente vai fazer hoje?”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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matemática: 5ª série. São Paulo: FTD, 2002.
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