Os Sentidos Internos

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IRMÃO PEDRO CLAVER ORC.

OS SENTIDOS INTERNOS NO HOMEM

TRABALHO DE CONCLUSÃO
DO SEMINÁRIO ANTROPOLÓGICO

ORIENTADOR: PE. ANDREAS DANKL ORC.

INSTITUTUM SAPIENTIAE
ANÁPOLIS

25 de outubro do 2016
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RESUMO

Compreender o mistério do home, tem gerado várias questões através da história da


humanidade, já que dentro dele como dizia o filosofo Marcilio Ficino, se encerra todo
um microcosmos difícil de compreender por sermos imagem e semelhança de DEUS.
Este Trabalho se concentra numa pesquisa detalhada sobre a vida psíquica do homem,
caracterizada pelos sentidos internos (sentido comum, imaginação, cogitativa e
memória), e suas respectivas descrições, encontradas nos estudos de diversos autores
da área da Antropologia Filosófica. Assim se pretende dar esclarecimentos sobre a vida
interna do home, pouco conhecido no mundo de hoje que se fundamenta só no
conhecimento sensível dos sentidos externos, que é visível nas ideologias modernas do
Positivismo e Empirismo.

Palavras claves: Sentido interno, Cogitativa, estimativa, imaginação, memória,


consciência.
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ABSTRAC

The mystery of mam has given rise to many questions throughout history, for within
this mystery “is contained an entire micro universe difficult to understand because we
are image and likeness of GOD” (Marcilio Ficino). This essay is dedicated to a detailed
inquiry concerning the psychological life of mam, characterized by the interior senses
(common sense, imagination, cognitive and memory), and its respective descriptions,
found in various authors of Philosophical Anthropology and saints of the Catholic
Church. The purpose of this essay is to give lights on man’s interior life, little know in
modern day’s society which bases its knowledge exclusively on the exterior senses as
can be seen in the ideologies of Positivism and Empirism.

KEY WORDS: Interior sense, cogitative, estimation, imagination, memory, conscience.


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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO..................................................................................................................5

2. OS SENTIDOS INTERNOS................................................................................................6

2.1. Natureza dos sentidos internos..............................................................................6

2.2. Número e ordem dos sentido internos..................................................................6

3. O SENTIDO CENTRAL OU SENSO COMUM................................................................7

3.1 Função descritiva e unificadora...............................................................................7

3.2. Função da consciência sensível..............................................................................8

4. IMAGINAÇÃO OU FANTASIA..........................................................................................9

4.1. Funções da imaginação..........................................................................................9

4.2. Perigos da imaginação..........................................................................................11

5. ESTIMATIVA OU COGITATIVA......................................................................................12

5.1. Funções da estimativa..........................................................................................13

5.2. Funções da cogitativa...........................................................................................13

6. A MEMORIA.................................................................................................................14

6.2. O que ela não é.....................................................................................................14

6.3. Funções da memoria............................................................................................14

6.3. Meios de exercitar a memória.............................................................................15

7. CONCLUSÕES...............................................................................................................17

8. BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................18
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1. INTRODUÇÃO

Os sentidos externos são os primeiros em tomar contato com o mundo material.


Qualquer objeto corpóreo entra em nossa esfera cognoscitiva através dos sentidos
externos. Os sentido internos pressupõem um objeto já inserido em nossa esfera
psíquica.

Os sentidos internos tem como objeto os estados interiores de consciência. O ser


humano tem quatro: sentido central ou comum, imaginação, cogitativa e memória. Os
dois primeiros se denominam sentidos formais porque captam só formas, e os dois
últimos sentidos intencionais porque captam as intenções, é dizer, relações. Neste
trabalho se estudaram as operações psíquicas de cada um destes sentidos internos,
sem considerar as correspondentes funções orgânicas.
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2. OS SENTIDOS INTERNOS
Os sentidos externos nos permitem obter informações respeito as coisas sensíveis
próprias ou comuns. Porém a experiência manifesta que nossa atividade de
conhecimento sensível se estende para além de esta percepção imediata dos objetos;
este alcance em um nível superior do conhecimento das coisas precisa de certas
faculdades fora dos sentidos externos conhecidos como os sentidos internos (GARDEIL,
2013, p.68).

2.1. Natureza dos sentidos internos


Os sentidos internos se caracterizam pelo que tem em comum com os sentidos
externos; a sua diferença caracteriza-se por sua oposição a estes.

a. Os sentidos internos ao igual que os externos tem como objeto de


conhecimento realidades corpóreas singulares. Por isso também são faculdades
orgânicas. Os sentidos internos também são levados por uma percepção
sensível diferente aos sentidos externos; o estimulo físico produzido pelos
sentidos externos fazem surgir uma impressão física nos sentidos internos
muito mais elevada. O conhecimento dos sentidos internos é, por isso, mais
próximo do intelecto do que os sentidos externos.
b. Os sentidos internos diferem dos externos sobretudo pela ordem cognoscitiva
e pela sede da sensação. Os sentidos externos captam um objeto criando uma
unidade e fazendo-o entrar em uma ordem cognoscitiva. A sede dos sentidos
internos é o cérebro. Cabe a psicologia experimental determinar mais
exatamente a localização de cada um dos sentido internos, porém ainda não se
tem resultados concretos (CAROSI,1963, p.284).

2.2. Número e ordem dos sentido internos


Segundo os escolástico, existem quatro sentidos internos:

a. Sentido central ou Senso comum.


b. Imaginação ou fantasia.
c. Estimativa ou cogitativa.
d. Memoria.
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Os dois primeiros se denominam sentidos formais porque captam só formas, e os dois


últimos sentidos intencionais, porque captam “intenções” é dizer “relações” (S.Th, I,
78, 4).

A teoria do sentido central, da fantasia e da memória passou de Aristóteles para a


escolástica. A estimativa provém de Averróis, o qual elimino o intelectos nos homens
singulares, assim sentiu a necessidade de dar a máxima importância à mais alta
faculdade sensível existente em cada ser humano. Santo Tomas escolheu a teoria da
“estimativa”, embora rejeitasse a posição de Averróis sobre o intelecto único e
separado (CAROSI,1963, p.285).

3. O SENTIDO CENTRAL OU SENSO COMUM


O primeiro sentido interno é o que Aristóteles chama de Senso comum, mas em nossa
linguagem de hoje é conhecido como sentido central ou bom senso.

Este sentido interno é intermediário entre os vários sentidos externos e os outros


sentidos internos. Ele está ligado aos sentidos externos pois age em consequência
deles, assim a sua operação é conexa com a presença local e temporal do objeto. O
sentido central realiza a primeira unificação dos dados dos sentidos externos e as
primeiras sensações para transmiti-la aos outros sentidos internos (fantasia, estimativa
e memoria). Para Aristóteles todos os animais são dotados deste sentido, embora os
outros sentidos internos não se encontrem senão nos animais superiores (GARDEIL,
2013, p.71).

“Um exemplo prático do sentido comum o observamos quando num torrão de açúcar,
distinguimos o branco do doce e o referimos ao mesmo objeto. Porém, para comparar, há que
provar os dois termos. Mas isto nenhum sentido particular pode fazê-lo; a visão distingue o
branco e o vermelho, porque são dois cores, mas não o branco e o doce, porque ela não
experimenta o doce; igualmente o gosto distingue o doce e o salgado, mas não o doce e o
branco, porque não percebe os cores. Por conseguinte, temos que admitir no homem uma
função única que experimenta as diversas sensações e compara-las. Esta função se chama
sentido comum” (VERNEAUX, 1988, p.66, tradução nossa).

O sentido central tem uma dupla função:

3.1 Função descritiva e unificadora


Já pelo próprio conhecimento sensível, o homem distingue entre o objeto de um
sentido e o de outro, por exemplo distingue o calor do gosto no alimento; Além disso,
no mesmo objeto unifica tosas as sensações externas correspondentes. É importante
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saber que esta unificação não é feita só pelos sentidos externos, de maneira insolada,
nem tampouco é a inteligência que o realiza primeiramente, já que tal distinção e
unificação ocorre também nos animais privados de inteligência e nas crianças em que
ainda não está desenvolvida a inteligência, por exemplo diante de um liquido que
tenha cor mas não gosto de leite, o lactante o rejeita, sinal de que não confunde cor e
gosto. Portanto, é importante admitir um sentido interno, que tenha a função de
distinguir entre as várias sensações externas e unifica-las (CAROSI,1963, p.286).

3.2. Função da consciência sensível


O homem, como animal, não apenas sente os objetos exteriores, mas perceve que os
sente e entende. Essa consciência procede do desenvolvimento da inteligência. Este
fato apresenta várias características:

1. A consciência sensível é característica de toda faculdade cognoscitiva e não se


pode explicar só pelos sentidos externos, por exemplo uma coisa é ver a rosa e
outra é sentir diretamente a rosa. Os sentidos externos não são reflexivos por
ser puramente orgânicos. Santo Tomás na Suma Contra os Gentios diz
“nenhum sentido se conhece a si mesmo nem sua operação. A visão não se vê
a si mesma, nem vê que ela vê”.
2. Existem sensações inconscientes, não percebidas pela consciência sensível,
porque de início toda sensação é inconsciente, porque se requer algum tempo,
seja embora muito breve, para que a impressão do órgão periférico atinja o
cérebro; ela permanecerá sempre inconsciente se, por qualquer motivo não se
realiza a ligação ao cérebro, por exemplo quanto uma pessoa está conversando
com outra no bosque e não percebe que pisou um ninho de formigas, só até
que sente a dor das picaduras no corpo, porém a sensação de sentir as
formigas subir pelos corpo não foi percebida ficando no inconsciente.
3. Unido com a consciência sensível está o fenômeno da atenção sensorial. A
atenção em geral é orientação e concentração do conhecimento em
determinado objeto, com exclusão de outro. Esta atenção sensorial acontece
também nos animais e nas crianças, por exemplo no cachorro quando com
grande cuidado segue a caça; no gato que fica alerta a espera do rato; na
criança que acompanha os movimentos de um objeto colorido e iluminado.
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Essa atenção sensorial é possível graças a consciência sensível. No homem que


já chegou ao uso da razão, a atenção sensorial está unida á intelectiva, mas
também posta a seu serviço; e normalmente atuam juntas sobre o mesmo
objeto.
4. Segundo Aristóteles e os escolásticos, o sono é um enfraquecimento do corpo,
e enquanto mas profundo, cria uma suspenção temporária da atividade da
consciência sensível. A causa do sono é a fadiga e o desgaste do sistema
nervoso e dos músculos, e sua finalidade é a reparação das forças da vida
sensível.
Quando a consciência sensível se paralisa através do sono, também cessa a vida
intelectiva, e por tanto o exercício da liberdade. Porém no sono a consciência
sensível embora este atenuada, não deixa de funcionar totalmente, senão
como se explicaria as lembranças dos sonhos que tivemos dormindo. Até as
vezes no sono se tem consciência vaga de estar sonhando.

4. IMAGINAÇÃO OU FANTASIA
A imaginação é o sentido interno que tem por objeto a imagem ou fantasma sensível,
tudo aquilo que é percebido pelos sentidos: cores, formas, odores, sons, resistência,
calor, peso, etc. Tem como função conservar, reproduzir e combinar as imagens das
coisas sensíveis criando mundos fantásticos. É uma função do intelecto porque
representa objetos e é sensível porque seu objeto é concreto. O que distingue a
imagem da sensação é que seu objeto é irreal. A imagem não é a apresentação, mas a
representação de um objeto real, na ausência deste. Porém a alucinação é uma
exceção a este comportamento, a qual é considerada como anormal (VERNEAUX,
1988, p.68, tradução nossa).

4.1. Funções da imaginação


A imaginação como conhecimento supõe duas funções que lhe são anteriores e que a
tornam possível: A conservação e a reprodução de imagens. Elas são necessárias para
explicar a representação de um objeto ausente.

1. Conservação: A primeira função da imaginação é conservar as impressões da


sensibilidade periférica para depois utiliza-las, esta função é confundida com a
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memória. Mas difere essencialmente da memória porque, esta tem por objeto os
estados de consciência antigos, enquanto a imaginação tem como objeto as
imagens sensíveis, não enquanto elas foram a tal época de meu passado, mas as
imagens em si mesmas.
A imaginação guarda e conserva; Atesoura as impressões dos sentidos externos e
do senso comum. Esta faculdade é necessária ao animal, como o explica Santo
Tomás “Deve-se ter presente que para a vida do animal perfeito se precisa no
somente que perceba a realidade presente sensível, mas também a ausente. Isto
se observa quando os animais de movimento progressivo se movem para conseguir
o ausente que já tem percebido. Por tanto, é necessário que o animal, a través da
alma sensitiva, receba não só as coisas sensíveis em quanto estão presente, senão
que as guarde e as conserve”. Do ponto de vista metafisico a conservação das
imagens se origina pela sensação que o sujeito recebe dando uma forma a esta,
porém quando a sensação cessa esta forma permanece (VERNEAUX, 1988, p.69,
tradução nossa).
2. Reprodução ou criação: Consiste em tomar consciência da forma conservada, ou
mais exatamente, construir uma imagem. Esta é a função mais notória, e por ela
recebe o nome de fantasia, a qual realiza modificação das imagens. Porem ela tem
seus limites:
a. Limite de origem: nasce e se nutre da sensação externa; por isso a pessoa que
nasce cega jamais poderá imaginar as cores; é uma reprodução semelhante a
sensação.
b. Limite de termino: não poder ir mais além do sensível, transcendendo a formas
superiores de conhecimento; Por mais que estude os seus conteúdos, nunca
passará de imaginar cores, sons, odores, figuras, etc. Escreve São João da Cruz:
A razão de isto é porque a imaginação não pode fabricar nem imaginar coisas
fora das que os sentidos exteriores tem experimentado; mesmo a pessoa
imagine palácios de pérolas e montes de ouro é porque tem visto ouro e
pérolas em verdade (São João da Cruz, 2002, p. 225).
c. Limite da razão: se a imaginação é criadora, é por brotar da natureza racional;
por isso não há indícios que está se encontre nos animais. A razão por controlar
e dirigir a imaginação, limita sua espontaneidade.
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Uma das manifestações mais notáveis da imaginação criadora é o sonho. Não porque
atue mais que na vigília, levada pelo entendimento (na arte, no discurso, etc.), senão
porque no sonho seu desenvolvimento é mais simples e mais especifico. Ao finalizar o
exercício sensorial e o controle da mente, a imaginação reproduze y cria com maior
autonomia e exclusividade. No sonho a imaginação produz combinações mais o menos
fantásticas.

A imaginação criadora faz diferentes processos que se podem reduzir em três


principais:

a. A associação: este processo consiste em utilizar as relações e as analogias que


existem entre as coisas. O que caracteriza o grande artista e o escritor, é sua
aptidão especial de descobrir entre os seres da natureza semelhanças
imperceptíveis ao comum dos homens.
b. A dissociação: Para formar combinações com as imagens antigas, cumpre
inicialmente ter dissociado ou distinguido em seu elementos, os conjuntos em
que estas imagens se encontravam ligadas. Ainda aí é exclusivo do gênio saber
dissociar os fenômenos que, para nós, foram apenas um todo indistinto. Como
Newton, dissociando o movimento da queda de uma maçã, e associando-o em
seguida ao movimento da lua em torno da terra.
c. A combinação: Encontrar semelhanças, dissociar os conjuntos em seus
elementos, são os meios que a imaginação utiliza para realizar novas
combinações. É desse processo essencial da imaginação criadora que vivem as
artes liberais (Musica, pintura, escultura, arquitetura, etc.) e as artes
mecânicas. Todas as invenciones procedem de esta característica da
imaginação de combinar.

Nem mesmo a ciência pura deixa de se beneficiar da criação imaginativa, uma vez
que as grandes hipóteses cientificas são ante todo fruto de uma imaginação, que
reconstrói de alguma forma a natureza, segundo um plano antecipado, que a
experiência deverá posteriormente confirmar ou invalidar (JOLIVET, 1995, p. 151).
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4.2. Perigos da imaginação


Santa Teresa chama a imaginação “a louca da casa” e Pascal escreve que é uma
“mestra de erro e falsidade”. A imaginação muitas vezes forja erros, por isso diz Santo
Tomas: “O sentido não se engana sobre seu objeto próprio, mas as imaginações são na
maioria das vezes falsas”. As imagens não são nem verdadeiras nem falsas, porque o
erro de elas começa no momento em que se julga que a imagem é conforme a
realidade (VERNEAUX, 1988, p.70, tradução nossa). Existem vários caso de erro na
imaginação:

a. Ilusão e alucinação: A ilusão é uma imagem evocada por uma sensação


presente, porém mais viva e mais precisa do que está, de tal sorte que se crê
ver aquilo que na realidade, apenas se imagina. Assim tomar uma palavra por
outra ao se ler: acredita-se ler aquilo que se imagina a partir de alguns sinais
percebidos.
A alucinação é uma imagem viva e precisa sem objeto correspondente. Ver, por
exemplo, alguém no jardim, embora não haja ninguém nele. Mesmo neste
caso, a imagem é evocada na ocasião de uma sensação, de sorte que não há
uma diferença radical entre a alucinação e a ilusão.
a. O pessimismo: faz ver todas as coisas sob cores sombrias, descolora todas as
alegrias, e torna a vida um peso.
b. Alimenta as paixões: A imaginação alimenta as paixões, apresentando o prazer
sob cores enganadoras e por vezes tão viva que a razão fica paralisada e a
vontade aniquilada. É isto que se chama de Vertigem moral, de onde provêm
muitas quedas.
c. Devaneios romântico: Desvia o espirito da realidade e de suas exigências e
prepara assim os despertares desencantados, que gastam energia e geram o
desencorajamento.

Todos este perigos podem surgir. Mas não é necessário, contudo, atribui-los à
imaginação pura e simples, mas antes a uma imaginação disgregada e mal utilizada.
Uma viva imaginação é sempre uma riqueza, sob a condição de ser bem governada.
Por isso, aquele que, após verificar quaisquer desvios da imaginação, se aplicasse a
arruinar o impulso dessa faculdade, se assemelharia ao cirurgião que quisesse cortar as
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pernas de um doente, sob o pretexto de que ele sofre de reumatismo. Não se trata de
amputar mas de curar (JOLIVET, 1995, p. 159).

5. ESTIMATIVA OU COGITATIVA
Chama-se assim o elemento de conhecimento, no qual está implicado o instinto
(tendência ao saber-fazer inato) e o apetite natural (tendência inata). O saber-fazer é a
estimativa.

Se domina estimativa no animal e cogitativa no homem (por sua relação com a


razão=cogitare).

5.1. Funções da estimativa


É uma função do conhecimento: seu objeto é a utilidade ou a nocividade das coisas
percebidas. A estimativa pressupõe, não só a percepção de um objeto, mas também a
imaginação de uma outra coisa não dada, permitindo saber o efeito e a ação futura da
coisa percebida. A estimativa está inclinada para o futuro imaginado.

Esta faculdade é admitida como distinta dos sentidos externos e da imaginação porque
se observa que o animal procura ou foge de algumas coisas, não porque sejam boas ou
más de sentir (azedo, doce, etc.), mas por causa de sua utilidade e nocividade, não
percebida por esses sentidos; A ovelha foge do lobo, não porque a sua cor lhe
desagrada, mas porque tem o “pressentimento” se sua malignidade, e o passarinho
que constrói o ninho escolhe uma palhinha, não porque lhe agrada a vista, mas porque
“percebe” que pode server como elemento do seu ninho.

A estimativa se aproxima da inteligência, porque opera um princípio de abstração ao


captar uma relação. Porém não se pode reconhecer como inteligência porque não
capta os universais. Pode-se falar de inteligência animal análoga a inteligência
humana. A analogia é precisamente a conjunção de semelhanças e diferenças.

5.2. Funções da cogitativa


É a mesma função da estimativa mas considerada no homem. Tem um nome diferente
porque no homem a inteligência influência sobre o comportamento dos instintos
aperfeiçoando-os.
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A cogitativa é também chamada pelos antigos de “razão particular” e “entendimento


passivo”. Consiste numa reaproximação de casos particulares para tirar daí uma regra
empírica de ação. Se pode dizer que a cogitativa é a fonte da experiência no homem,
assim ela é de extrema importância para a vida pratica que se desenvolve em
concreto.

6. A MEMORIA
Frequentemente se confunde a memória com a imaginação. A memória é a faculdade
de conservar e de reproduzir imagens. Mas o que especifica a memória é o seu objeto
formal, ou seja o passado. Ela é o conhecimento do passado como tal.

Seu ato próprio é o reconhecimento das lembranças, ou a lembrança como tal, quer
dizer, uma imagem enquanto referida ao passado (VERNEAUX, 1988, p.73, tradução
nossa).

6.2. O que ela não é


“Define-se muitas vezes a memória como a faculdade de reviver o passado. Mas esta definição,
tomada ao pé da letra, não é exata, porque o passado não existe, e não poderá reviver.

A memória tampouco é a faculdade de conservar e evocar os conhecimentos adquiridos, pois


seu objeto é muito mais extenso. A memória pode evocar os sentimentos e as emoções
experimentadas, e, de fato, todo estado de consciência pode ser fixado, conservado e evocado
pela memória” (JOLIVET, 1995, p. 161).

6.3. Funções da memoria


A memória parece ser simples, porém ela é um ato complexo, em que se pode
distinguir quatro momentos: a fixação e a conservação, a evocação, o reconhecimento,
localização dos estados de consciência anteriores.

1. A fixação e conservação das lembranças: As lembranças subsistem em nós. Elas


não estão sempre presentes, mas uma vez que possamos evoca-las, é necessário
admitir que os nossos estados de consciência, depois de experimentados, são
conservados pela memória.
As condições de ficção e conservação, são ao tempo fisiológicas e psicológicas:
a. Condições fisiológicas: Quando a capacidade de conservar e fixar as imagens,
depende de certas condições orgânicas, que varia consideravelmente de
indivíduo para indivíduo: uns são dotados de boa memória, outros tem a
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memória rebelde por natureza. Em geral, as crianças dotadas de uma grande


plasticidade orgânica, fixam mais facilmente as lembranças do que os velhos. As
condições fisiológicas são influenciadas pelos estados físicos em geral, como a
fadiga, a debilidade nervosa, etc. prejudicam mais o menos a aptidão de fixar e
conservar lembranças.
b. Condições psicológicas: Existem poucas faculdades que se possa melhorar o
funcionamento, tão facilmente, como a memória. Assim as condições
psicológicas são bastante importantes. Estas condições podem ser
reduzidas a duas principais: A intensidade: quando uma lembrança se fixa
facilmente quando seja mais viva a impressão. A organização das ideias: As
ideias e sentimentos se fixam e se conservam melhor quando são ligados
uns aos outros de maneira lógica. É por isso que a inteligência na
organização das lembranças é um fator importante para sua conservação.
2. Evocação das lembranças: Pode ser espontânea ou voluntaria:
a. Espontânea: Quando a lembrança se apresenta a consciência por si mesma,
sim que nada pareça evoca-la.
b. Voluntaria: supõe um esforço mais o menos longo e difícil.
3. O reconhecimento das lembranças: Não existe lembrança verdadeira, a não ser
quando a lembrança é reconhecida como evocada de um estado anteriormente
experimentado por mim, quer dizer, com uns dos elementos do meu passado. Este
tipo de lembrança se distingue da percepção e da imaginação, porque ela não se
pode modificar a vontade.
4. Localização das lembranças: a memória para chegar as lembranças do passado
percorre aos acontecimentos antigos para encontrar o lugar preciso da lembrança
evocada.

6.3. Meios de exercitar a memória


A memória deve-se exercitar metodicamente, e os meios utilizados são as condições
psicológicas:

1. A atenção: A condição capital para fixar e conservar a lembrança é a


intensidade da primeira impressão.
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2. A memória de ideias: é essencial, não tentar apreender nada de cor que não
tenha sido, de início, perfeitamente compreendido, a fim de ajudar a memória
verbal pela memória de ideias, que é evidentemente a mais importante. O
melhor meio de reter as coisas é ligá-la segundo sua ordem natural.
3. O método dos conjuntos: se apreende mais facilmente se desde o início se tem
ligado as ideias dos sentimentos, das imagens, coisas que podem ser vistas em
conjunto e não em fragmento.
4. O concurso das diversas memórias: para fazer dar a memória todo os seu
rendimento, é bom apelar as diversas memórias: Memoria visual, das palavras
lidas, memória auditiva das palavras ouvidas, memória das imagens evocadas,
memória dos gestos realizados.
5. O esquecimento auxiliar da memória: Se deve aprender a esquecer. A
memória não deve ser embaraçada para que permaneça alerta e fresca, é
necessário que as lembranças sejam agregadas a algumas ideias fundamentais
e muito gerais, e tudo o que for inútil ser rejeitado e esquecido.
A educação da memória não é fácil por falta de experiência. Geralmente se
quer reter todo porque não sabemos classificar as ideias. Aprender a esquecer
é, então, apreender a pôr ordem nas lembranças (JOLIVET, 1995, p. 161).
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7. CONCLUSÕES

 Os sentidos externos superiores (cogitativa, memoria e imaginação), podem ser


educados, na medida que podemos exercer uma atividade voluntaria sobre
eles, por exemplo através da artística.
 A imaginação ajuda amar o bem e o belo, apresentando-os sob uma forma viva
que acalenta o coração e facilita o esforço cotidiano. É a imaginação que nos
torna sensíveis às misérias dos outros, apresentando-as a nós com vivacidade.
Ela sustenta assim o espirito de crescimento na caridade. Frequentemente os
corações áridos nada mais são do que imaginações pobres. A imaginação é um
bem precioso. Não se deve jamais, tentar sufocá-la. Mas é necessário restringi-
la ou dirigi-la quando tende a consumir-se e quimeras ou devaneios malsãos,
excitá-la, acalorá-la, quando naturalmente é lenta e fria. Posta ao serviço da
ração, regulada e vigiada por ela, a imaginação só pode contribuir para tornar a
vida mais fecunda, mais virtuosa e mais bela (JOLIVET, 1995, p. 150).
 A memória funde a identidade pessoal. Se identidade se entente como a
possibilidade de definir que é uma pessoa. Esta definição se faz então através
do passado. Um amnésico é incapaz de dizer quem ele é. Assim se pode dizer
que ele perdeu a identidade (VERNEAUX, 1988, p.74, tradução nossa).
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8. BIBLIOGRAFIA

- AQUINO, Tomás (S.th). Suma Teológica. Parte I. Questão 78. 4. Ed. BIBLIOTECA DE
AUTORES CRISTIANOS: Madrid, 2001.
- AQUINO, Tomás (S.th). Suma Contra os Gentios. Volumem II. 1. Ed. CO-EDIÇÃO:
Porto Alegre, 1990.
- CAROSI, Paulus. Curso de Filosofia. 1. Ed. EDIÇÕES PAULINAS: São Paulo, Brasil, 1963.
- GARDEIL, Heri-Dominique. Iniciação à Filosofia de São Tomás de Aquino. 1. Ed.
PAULUS: São Paulo, Brasil, 2013.
- JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. 19. Ed. Livraria AGIR Editora: Rio de Janeiro, 1995.
- São João da Cruz. Obras completas. 7. Ed. VOZES: Petrópolis, 2002.
- VERNEAUX, Roger. Filosofía del hombre. 10. Ed. EDITORIAL HERDER: Barcelona,
España, 1988.

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