Resumo História Da Educação Tema 3
Resumo História Da Educação Tema 3
Resumo História Da Educação Tema 3
Explicação das importantes mudanças ocorridas em âmbito mundial, pois o que foi vivido no passado
ainda está presente na contemporaneidade. Esclarecimento de como a aliança entre Educação e
Renascimento inaugurou a ideia de modernidade e construiu a cultura ocidental diante do embate:
tradição versus pensamento moderno.
PROPÓSITO
Entender o mundo contemporâneo a partir do reconhecimento da modernidade, do pensamento
renascentista e dos embates com a religião. Buscar o passado que nos identifica a fim de apontar a
origem de nossa língua, de nossa história e os caminhos que marcam nossa maneira de pensar a
Educação.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Conceituar modernidade para a História
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 4
MÓDULO 1
É importante analisarmos mais detalhadamente o conceito de moderno para compreendermos como ele
interfere na Educação que conhecemos. Moderno e seu derivado, modernidade, não são apenas
palavras; são conceitos e, por isso, podem ter múltiplos significados.
Neste vídeo, os professores Flávia Miguel e Rodrigo Rainha debatem conceitos importantes para a
construção do entendimento sobre o Ocidente e a modernidade. Vamos assistir!
ORIGENS
A origem da ideia de moderno como novo surge de uma construção histórica. Tradicionalmente, os
historiadores convencionaram dividir a História em eras para melhor compreendê-la e ensiná-la. Essa
proposta, que chamamos de linha do tempo, foi muito utilizada como método de estudo, sobretudo no
século XIX, pelos positivistas.
POSITIVISTAS
Conforme Abbagnano (2012), o positivismo foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e,
graças a ele, passou a designar uma grande corrente filosófica que, na segunda metade do séc.
XIX, teve numerosíssimas e variadas manifestações em todos os países do mundo ocidental. A
característica do positivismo é a romantização da Ciência, sua devoção como único guia da vida
individual e social do ser humano, único conhecimento, única moral, única religião possível. O
positivismo acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da organização técnico-industrial
da sociedade moderna e expressa a exaltação otimista que acompanhou a origem do
industrialismo.
Imagem: Ensineme
Nesse recurso, vemos que a História começa na Idade Antiga com o aparecimento da escrita. Isso se
fundamenta na premissa da tradição europeia de que povos sem escrita não teriam história, por isso,
Pré-História.
Essa concepção justifica, por exemplo, o estudo dos povos indígenas e africanos ter sido relegado
durante tanto tempo.
Após a Idade Antiga, surgiu a Idade Média, considerada a Idade das Trevas. Esse termo surge no
período renascentista, já na Idade Moderna. Os historiadores desse período não viam um valor na Idade
Média, entendendo-a simplesmente como uma fase entre a cultura clássica e a moderna. Daí a visão,
equivocada, de que a Idade Média havia sido um período de estagnação e obscurantismo.
O Moderno surge em oposição ao Medieval. O Novo e o Velho. Essa ideia se populariza, e temos ainda
dificuldade em compreender que o moderno é algo concebido em seu próprio tempo. Nesse caso,
seguindo a convenção, entre os séculos XV e XVIII.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
Moderno novo
Medieval velho
Embora ainda utilizemos o recurso da linha do tempo - que atualmente possui diversos usos, desde
histórico até biográfico – é sempre importante fazê-lo de forma crítica, entendendo que representa
apenas convenções.
Um período histórico não começa e termina com um único evento, por mais importante e significativo
que ele seja. O conhecimento e a cultura são frutos de um acúmulo, que ocorre ao longo dos séculos.
Temos, portanto, em nosso modo de viver, contemporâneo, diversos legados de períodos anteriores, dos
quais alguns são notórios enquanto outros são menos evidentes.
Como exemplo, podemos citar a nossa percepção estética, que é claramente derivada da cultura
clássica, greco-romana. Com certeza gostos, culturas e ideais de beleza se alteram, porém de modo
lento e sempre deixando resquícios.
A Pietá, esculpida por Michelangelo no século XV, é influenciada pela estética greco-romana.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
A urna marajoara feita pelos povos indígenas brasileiros é do período pré-cabralino e nela se destacam
as técnicas de pintura e escultura que fariam da arte marajoara uma das mais importantes da América.
Seu olhar provavelmente foi direcionado para a primeira imagem, enquanto na segunda é possível que
tenha havido um certo estranhamento. Isso acontece porque parte significativa de nossa “educação
estética” esteve voltada para os padrões europeus e não para o continente americano.
Essa construção estética que observamos foi articulada durante a Idade Moderna, período em que parte
da sociedade ocidental como conhecemos se estruturou.
Idade Média
Os deuses deram lugar a um único Deus cristão, em torno do qual o mundo medieval se organizava
culturalmente.
Idade Contemporânea
Saber científico modificando as sociedades.
A locomotiva a vapor é um grande símbolo das transformações econômicas e sociais que são a marca
do mundo contemporâneo.
PERÍODO MODERNO
A Idade Moderna foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Não que, subitamente, tudo se
fez novo e tudo que era ultrapassado tenha desaparecido. Mas, aos poucos, surgem novas formas de
ver o mundo, novas maneiras de explicar aquilo que se vive.
O ser humano é questionador por natureza; e esse desejo de aprender, sobre si e sobre o ambiente em
que vive fortalece e consolida a criação de instituições escolar. Em cada tempo histórico, esse
aprendizado teve um fundamento, uma forma de organização.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
ATENÇÃO
Perceba que o fato da Ciência começar a se estruturar como fonte de conhecimento na modernidade não faz,
de forma alguma, com que a questão religiosa seja deixada de lado ou esquecida. A religião, em geral, e o
cristianismo, em particular, assumem novos papéis na ordem social que se altera progressivamente.
CONSOLIDAÇÃO DO MODERNO
Dois elementos foram fundamentais para que a Idade Moderna se consolidasse:
FAMÍLIA
A família passa a ser fundamental para a inserção e o desenvolvimento do indivíduo na sociedade.
Com a decadência do feudalismo, um processo que levou séculos, as cidades passaram a recuperar
sua importância comercial, com o estabelecimento de feiras e a intensificação do comércio, e aquele
que nelas vivia – o burguês – passou a ser sinônimo de comerciante. À medida que alcançava
prosperidade financeira, o burguês criava para si um novo tipo de família. Seus filhos deveriam ser
instruídos e educados para continuarem seu ofício e assumirem seus negócios.
BURGUÊS
Originalmente, designava-se como burguês todo aquele que habitava o burgo. Essa referência
fazia uma clara distinção entre aquele que vivia na urbe (cidade ou burgo) e aquele que habitava o
feudo (campo ou área rural).
Nem sempre a família foi estruturada da forma como conhecemos. Na Idade Média, a vida social
possuía um caráter eminentemente coletivo, diferente do mundo privado dos dias atuais. O próprio
sentido de privacidade era desconhecido. As atividades eram coletivas e um indivíduo se
caracterizava pelo seu ofício e pelo papel social a ele atribuído.
No século XI, o bispo Adalberon de Laon expressou o que viria a ser uma das mais famosas
descrições da sociedade medieval:
“A casa de Deus, que se crê una, está, portanto, dividida em três: alguns oram, outros combatem e
outros trabalham. Essas três partes que coexistem não estão sujeitas à disjunção: os serviços
prestados por uma delas são a condição das obras das duas outras” (LAON, 1033 apud COMBY,
2001, p. 150).
Podemos perceber que era uma sociedade extremamente interligada. A vida particular possuía
pouco espaço naquele mundo. Somente com a crise do século XIV mudanças significativas
começam a ser evidenciadas. O crescimento da burguesia e sua posterior consolidação como
grupo social possui um papel central nessa mudança.
ESCOLA
A construção de um ambiente governamental que tinha função de dar formação de maneira estruturada
aos alunos é um fenômeno moderno. Ainda que existissem escolas – ou espaços que tendemos a
atribuir o nome de escolas – no mundo grego, romano e na Idade Média, a ideia de um prédio
fundamental, com funções públicas para formação dos sujeitos em níveis diversos é nova.
Mais ainda, se antes dependia-se de professores particulares ou iniciativas da Igreja passamos a falar
de modelos previstos em lei, mantidos pelo Estado e com funções de preparar o sujeito para o Estado.
Veremos mais sobre a escola – por seus aspectos práticos – no próximo módulo.
Se antes apenas as crianças de origem nobre eram alvo de alguma educação estrutural, agora também
se começa a educar fora da nobreza. Um dos principais estudiosos da questão familiar, Philippe Ariès
(1914-1984), afirma que:
(ARIÈS,1986, p.277)
Essa estrutura familiar, que se tornou uma das características da modernidade, fez com que surgisse
outro conceito que modificaria definitivamente as relações sociais: a infância. Retomando Ariès (1986),
no medievo não havia uma grande separação entre as idades, e as crianças eram tratadas como
pequenos adultos.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
Até então, não houvera grande preocupação com as crianças, seu desenvolvimento, aprendizado ou
bem-estar. A mortalidade infantil no medievo era acentuada, a mobilidade social, improvável. Se o
destino de uma criança era repetir – se tivesse sorte – o ofício de seu pai, a educação formal, letrada,
não fazia sentido.
Foram a modernidade e a retomada do letramento como algo a ser apreciado que modificaram, pouco a
pouco, esse cenário. A criança deixou de ser um “adulto em miniatura” e tornou-se um indivíduo com
necessidades próprias e sobre o qual ampliam-se as expectativas familiares.
A modificação da forma como a infância era entendida reflete uma alteração no comportamento social, e
a escola, elaborada a partir de então, traduz essa mudança. O sentido de aprendizado passa a se
estruturar em torno de uma proposta didática que, por sua vez, constitui o cerne de diversas disciplinas
e saberes organizados.
Veremos, a seguir, como esses saberes se conformam a partir da perspectiva de movimentos caros à
modernidade: o Renascimento, a Reforma e a Contrarreforma.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Determinou que a linha do tempo não tivesse mais qualquer sentido no estudo de História.
A) Na Idade Antiga, era a mitologia que dava sustento aos fenômenos do mundo; nela buscavam-se
justificativas para a realidade.
B) Na Idade Média, um único Deus cristão deu lugar a divindades míticas, e em torno dessa fé o mundo
medieval organizou-se culturalmente.
E) Embora o modelo de estrutura familiar da modernidade não altere o modelo medieval, o conceito de
infância é substituído.
GABARITO
Vivemos em uma sociedade fruto da expansão do domínio europeu, iniciado no século XVI e
consolidado no século XIX. Esse domínio inaugura a era da modernidade, período em que o mundo
passa a reconhecer a Europa – por conta do domínio político e econômico – como a referência inclusive
histórica de que a verdade do mundo era europeia. Isso leva a partes da história do mundo serem
completamente relegadas.
A Idade Contemporânea não é marcada apenas pelas tecnologias digitais; lembremos que sua primeira
grande tecnologia foi a utilização do vapor, na Revolução Industrial (fins do séc. XVIII). Além disso, todas
as tecnologias, inclusive as digitais, continuam baseadas, em grande parte, nos pressupostos científicos
modernos.
MÓDULO 2
RENASCIMENTO
O Renascimento, movimento intelectual ocorrido no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, é
um tema que tem sido exaustivamente estudado. Não só pela sua importância na concepção da história
intelectual do Ocidente, mas também pelas rupturas que provocou na organização do conhecimento até
então estabelecido.
Quando falamos em Renascimento, imaginamos a arte do período e seus representantes, como
Michelangelo e Leonardo da Vinci.
Essa é a face mais popular do movimento e tem sido constantemente recuperada em filmes e obras
literárias de ficção. Não que esse aspecto seja irrelevante; longe disso, a questão estética e cultural é
um dos fundamentos da ideologia renascentista. Contudo, é preciso desfazer o equívoco de que esse é
o principal aspecto de toda a movimentação intelectual gerada pelos cientistas, artistas e filósofos do
período.
IDEOLOGIA
Segundo Abbagnano (2012), pode-se denominar Ideologia toda crença usada para o controle dos
comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença, em seu significado mais amplo, como
noção de compromisso da conduta, que pode ter ou não validade objetiva.
DICA
Assista ao filme O Mercador de Veneza, baseado na obra de William Shakespeare, que apresenta uma
narrativa envolvente, instigante e ainda nos ambienta na Veneza renascentista.
O MERCADOR DE VENEZA
Na Veneza do século XVI, quando um comerciante pega um grande empréstimo com um agiota judeu
para ajudar um amigo com ambições românticas, o credor amargamente vingativo exige um pagamento
horrível.
RENASCIMENTO E ARTE
Neste vídeo os professores Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem conceitos importantes para a
construção do entendimento sobre a Arte no Renascimento. Vamos assistir!
O Renascimento não é apenas um. Por ser multifacetado, ele pode ser pensado em aspectos distintos
(comercial, urbano, científico e cultural), os quais estão interligados e juntos compõem um quadro de
mudanças extraordinárias e de grande movimentação intelectual que marcaria definitivamente o campo
da Educação.
Imagem: Ensineme
É necessário atentar para a ideia de retomada que tão frequentemente se utiliza ao discutir esse
momento. Essa “retomada de valores” não é, sob nenhuma circunstância, uma mera transposição.
Historicamente, não é possível fazer uma transposição sem alteração de um período histórico para
outro.
Um bom exemplo é a transformação das tecnologias e como elas impactam o mundo. Se antes os livros
eram belos e coloridos feitos nos scriptoria, com a prensa de Gutenberg sua produção foi acelerada e
houve o aumento de leitores.
SAIBA MAIS
Vamos utilizar o pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu no século V a.C., para
compreendermos melhor essa impossibilidade. Ele afirmava que uma pessoa jamais se banharia duas vezes
no mesmo rio, pois suas águas nunca são as mesmas; estão sempre fluindo. Da mesma forma, a
humanidade muda todos os dias: suas ideias, concepções, gostos e opiniões são impermanentes. Em
essência, o pensamento de Heráclito traduz a ideia de mutação constante.
Quando se recuperam valores ou modos de pensar que existiram no mundo clássico greco-romano, eles
são adaptados ao pensamento moderno, ou seja, a um tempo diferente daquele em que foram
originalmente concebidos. Portanto, por mais que o pensamento renascentista traga para a modernidade
conceitos clássicos, como a ideia de cidadão, ele o faz de acordo com seu próprio tempo e não apenas
reproduzindo o que se entendia como cidadão na Antiguidade.
HERÁCLITO DE ÉFESO
Conhecido como “o obscuro”, foi um pensador e filósofo pré-socrático considerado o “Pai da Dialética”
O Renascimento foi um terreno fértil para que se discutisse a condição humana. As mudanças no modo
de vida da população, a substituição progressiva do sistema feudal pela centralização política, a
recuperação e dinamização do comércio trouxeram novos questionamentos ao indivíduo moderno e,
dentre eles, qual era a natureza humana de fato e, sendo ela estabelecida, qual o papel do Estado no
seu controle.
À medida que o Feudalismo, fundamentado na fragmentação de poder, era substituído pela
centralização política, tornava-se importante compreender o Estado que derivaria dessa centralização.
FEUDALISMO
No sentido mais geral, o termo refere-se ao sistema de organização da sociedade medieval (Idade
Média), compreendendo elementos sociais, políticos, econômicos e ideológicos daquele período.
PENSADORES
O pensamento educacional no Renascimento e no movimento intelectual que o segue, o Iluminismo, se
estrutura apoiado em diversos autores. Analisaremos dois diferentes pensadores para compreendermos
suas ideias e como eles influenciaram o campo da educação.
Comecemos pelo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de uma das principais obras de política
já produzidas, O Príncipe; um manual de política escrito no século XVI, que expunha suas principais
ideias acerca da arte de governar.
NICOLAU MAQUIAVEL
Foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico renascentista. É reconhecido como fundador
do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo
como realmente são, e não como deveriam ser.
Fonte: Shutterstock.com
ATENÇÃO
De sua obra-prima nasceu o termo maquiavélico, que adquiriu o sentido de luta e manutenção do poder a
qualquer custo.
Os estudiosos da obra de Maquiavel contestam amplamente esse sentido porque - apesar de ter afirmado
que os fins justificam os meios - há ressalvas e condicionantes, como a ideia de justiça e bem comum,
também trabalhadas pelo filósofo.
Esses questionamentos estão no cerne da obra de Maquiavel e, em busca dessas respostas, o filósofo
discorre extensamente sobre a natureza humana, o Estado e o papel da Educação.
Note que não é ainda a ideia de educação formal como mais tarde seria estruturada, mas uma
educação prática, para a vida em sociedade.
Maquiavel e outros pensadores que o sucederam entendiam que o ser humano em estado natural tende
a ser selvagem. Sem um Estado e leis que o regulem, ele é dominado por suas paixões e seus desejos,
tomando para si aquilo que cobiça sem que haja consequências ou punições. Essa natureza torna
impossível a vida em sociedade, pois - sem disciplina e regulamentos, além de uma figura de
autoridade para impor, mesmo que com o uso da força - não haveria a ordem social.
A educação dá-se pelo exemplo. Cabe ao governante educar pelo exemplo para que se construa o
sentido da cidadania e formem-se bons cidadãos. Como colocam Oliveira e Rubim (2012):
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
La Divina Commedia di Dante, de Domenico di Francesco.
É importante percebermos que esse sentido de educação pelo exemplo é uma das primeiras
concepções de educação da modernidade. Na ausência de um formalismo, o mestre torna-se
exemplo daquilo que deve ser aprendido. Essa ideia de mestre e discípulo, de aprendizado pelo
exemplo, já existia na Antiguidade entre as primeiras escolas filosóficas, onde também se debatia a
natureza humana e seu comportamento social. Esse é um exemplo de retomada de valores clássicos,
adaptados por Maquiavel ao mundo moderno.
A Educação para Maquiavel estava, inegavelmente, vinculada à virtude. Mas ele não é o único
pensador moderno que entendia a educação dessa maneira.
O sentido de virtude aparecia em outras propostas pedagógicas, como a do filósofo inglês John Locke
(1632-1704).
JOHN LOCKE
Locke viveu em uma Inglaterra dividida entre um parlamento e a monarquia. Sua origem burguesa
fez com que tendesse para a defesa do parlamento e o desenvolvimento de teorias, que
constituiriam o sistema liberal, basilares para a história política e econômica da Inglaterra.
AUTORES CONTRATUALISTAS
O pensamento de Locke faz parte do que chamamos de autores contratualistas.
Esses pensadores acreditavam na existência de um contrato social que seria, de forma bastante
resumida, um contrato tácito entre Estado e indivíduo. Para ter direito à vida em sociedade, à
manutenção da propriedade e à garantia da vida e da segurança, o indivíduo abriria mão de seu direito
fundamental, a liberdade, legando ao Estado o direito de prender, julgar e punir com a privação da
liberdade e, em casos extremos, da vida para garantir o bem comum.
A despeito de considerar Deus como fundamental para o desenvolvimento das sociedades, Locke
condena a participação da Igreja em assuntos de Estado. Durante a Idade Média e boa parte da Idade
Moderna, Igreja e Estado funcionavam como um e, não raro, a Igreja Católica possuía prerrogativas de
Estado, como julgar e punir.
Podemos tomar como exemplo o processo da Inquisição, que teve início na Europa do século XII. A
despeito de seu caráter religioso, os inquisidores eram dotados de amplos poderes políticos, podendo
prender, conduzir julgamentos, proceder investigações, punir e até condenar à morte.
O racionalismo renascentista permitiu que essas discussões ocorressem. Esse princípio buscava
compreender o mundo por meio da observação dos fenômenos, recusando explicações simplistas ou de
caráter religioso. Mesmo os questionamentos simples, possuíam anteriormente, respostas teológicas.
O empirismo foi um dos pilares da modernidade e, como pensamento, está presente até nossos dias.
EMPIRISMO
Segundo Abbagnano (2012), foi uma corrente filosófica para a qual a experiência era critério ou
norma da verdade; o empirismo não se opõe à razão nem a nega, a não ser quando a razão
pretende estabelecer verdades necessárias, que valham em absoluto, de tal forma que seria inútil
ou contraditório submetê-las a controle.
LOCKE
Locke pode ser considerado um dos primeiros racionalistas. Podemos afirmar que sua lógica é o
conhecimento que surge a partir da razão e da empiria. Fora desse campo, é apenas matéria de
opinião ou, como diríamos, “achismo”.
Para Locke, a educação possuía um caráter eminentemente moral. De nada adianta a um indivíduo
dominar os princípios da Ciência se isso não o torna uma pessoa e um cidadão melhor. Vemos aí uma
sofisticação da premissa maquiavélica de educação virtuosa posto que, também segundo Locke, a
Educação deve servir a um propósito maior.
Educar pelo exemplo, educação para cidadania. Esses princípios são fundamentais para compreender a
Educação no Renascimento. A eles, Locke acrescenta um outro viés, herdado das concepções greco-
romanas: a saúde e o desenvolvimento físico. Locke demonstra cuidado no aperfeiçoamento moral e
físico do ser humano.
RENASCIMENTO OU ILUMINISMO?
Você já deve ter notado que é muito comum confundir o pensamento Renascentista com o Iluminista.
Embora o primeiro tenha acontecido nos séculos XV e XVI e o segundo no século XVIII, parece que são
a mesma coisa. Não são! Contudo, são inegáveis as influências e continuidades na ruptura desses
pensamentos.
A razão e a empiria renascentista eram alguns dos pilares do movimento iluminista, que ocorreu no
século XVIII. Esse período ficou conhecido como Século das Luzes, em oposição às trevas que
obscureciam a razão. Cada vez mais razão e ciência passaram a ser vistas como fontes de
conhecimento, e aumentava a necessidade de se educar com base nos princípios da empiria e da
razão.
Filósofo prussiano amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna, Kant
operou, na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo continental e a tradição empírica
inglesa.
Todo conhecimento deve ser questionado afastando, cada vez mais, o conhecimento científico do
teológico.
Partindo desse princípio, Kant foi além; defendia que devemos criticar a própria razão e que nem mesmo
ela é imune a erros. Sobre a pedagogia kantiana, Silva (2007) afirma que:
(SILVA, 2007)
RESPOSTA
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Era multifacetado, devendo ser pensado em diversos aspectos distintos: renascimento comercial,
urbano, científico e cultural.
B) Foi marcado por uma única dinâmica: continuidade; pois retomou valores clássicos que passaram a
definir o valor estético do período.
C) Possuía todos os seus aspectos interligados entre si, possibilitando mudanças extraordinárias e
grande movimentação intelectual.
E) Foi essencialmente marcado pela Arte: elemento que provocou, posteriormente, mudanças também
na economia, na política, na sociedade como um todo.
B) Somente II é verdadeira.
C) Somente II é falsa.
E) I e II são verdadeiras.
GABARITO
2. A centralização política nas mãos de um monarca, também caracterizou a Idade Moderna. Essa
centralização, porém, confrontada com a fragmentação que marcou o período anterior, gerou
uma série de questionamentos, que tentaram ser respondidos pelos filósofos do período. Sobre
isso podemos afirmar:
I. Entre esses questionamentos estavam aqueles acerca do limite do poder do rei e de suas
obrigações com seus súditos.
II. Alguns filósofos, como Kant, incluíam nesses questionamentos o papel da Educação frente
àquela nova realidade.
III. Maquiavel foi importante representante desse período e buscou responder a essas
inquietações.
Os questionamentos sobre Educação também estão presentes no período da Idade Moderna; porém,
são apresentados inicialmente por Maquiavel (ainda que não somente por ele). Kant, que com sua
filosofia questionou o modelo moderno, foi um grande representante do Iluminismo, período posterior ao
do Renascimento.
MÓDULO 3
RELIGIÃO NO RENASCIMENTO
Apesar da Idade Moderna ter sido marcada pelo enaltecimento da razão, o quesito religioso não deixou
de ser importante. Seria um equívoco enorme imaginar que suas manifestações não estavam em meio à
religião.
Se na Idade Média a religião era o centro do conhecimento e da vida em sociedade, na Idade Moderna
ela se modificou e adquiriu novo sentido.
Veja: se as ideias mudaram, a vida social mudou, tornando-se mais individualista, e o próprio conceito
de Ciência se alterou; certamente a religião, parte tão importante da cultura ocidental, também sofreu
mudanças.
No caso da Igreja Católica, as propostas de mudança remontam ainda à Idade Média. Ao longo do
tempo, a Igreja se tornara uma grande proprietária de terras, acumulando imensa riqueza e poder. Sua
soberania e influência política na maior parte dos reinos europeus entrava em contradição com aquilo
que era pregado pela Bíblia, sobretudo no que diz respeito ao Novo Testamento.
O papel primeiro da Igreja, salvar almas, foi, na visão de seus críticos, sendo deixado de lado.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
St. Peter’s, de Viviano Codazzi.
A Arte é um bom relevo do poderio da Igreja e da contradição de sua força social. Essa representação
foi feita de muitas formas, contudo uma das melhores é absorver toda a dor e a contradição nos
detalhes das obras de Caravaggio. A perspectiva, a Arte, a serviço da crença.
À medida que a instituição enriquecia, afastava-se das questões espirituais e se aproximava do campo
da política.
REFORMA RELIGIOSA
Não havia uma separação entre Igreja e Estado. Isso significa que a Igreja podia prender e julgar
aqueles que, segundo seu entendimento, cometessem crimes de fé, como renegar princípios católicos.
A despeito do temor que as punições provocavam, diversos pensadores, chamados de reformistas,
questionavam a conduta da Igreja Católica, o que desencadeou, na Idade Moderna, na chamada
Reforma Religiosa.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
Um dos primeiros pensadores a questionar a doutrina e a conduta da Igreja Católica foi Jan Hus (1369-
1415), ainda no século XIV. Para Hus, a Igreja devia se aproximar de seus fiéis e, por essa razão,
defendia que as missas deviam ser celebradas na língua de cada povo.
A modificação do idioma para facilitar a compreensão da missa (naquela época, as missas eram
rezadas somente em latim, idioma que a população não compreendia) tornou-se um tema constante
para os reformistas, os quais acreditavam que dessa maneira poderiam aproximar os fiéis da prática
religiosa.
JAN HUS
Jan Hus nasceu na Região da Boêmia, atual República Tcheca, e defendia os ideais de pobreza e
caridade bíblicos, além de condenar o acúmulo de riquezas da Igreja Católica. Por defender o que
a Igreja considerava como heresia, Jan Hus foi condenado à morte na fogueira, em 1415.
Embora houvesse punições severas, elas não impediram o movimento reformista. Diversas contradições
eram apontadas pelos críticos da Igreja:
Comércio de relíquias
Venda de indulgências
Adoração de santos
Celibato
ATENÇÃO
ATUAÇÃO DE LUTERO
É nesse contexto que as reformas de Martinho Lutero (1483-1546), considerado o Pai da Reforma
Protestante, ganham força. Daquilo que via como contradição, era a venda de indulgências um dos
principais alvos de suas críticas.
Sua recusa em retroceder em suas críticas o fez ser excomungado em 1521. Sua defesa da salvação
somente pela fé, no entanto, o fez ser acolhido em principados dos quais se tornou protegido.
MARTINHO LUTERO
Lutero nasceu em 1483, na atual Alemanha. Jovem, entrou para a ordem dos Agostinianos e,
como monge, estudou com afinco a Bíblia. Seus estudos o levaram a questionar a prática católica.
As propostas teológicas de Lutero logo se espalharam, em parte, devido a uma invenção que modificou
o mundo intelectual: a imprensa. A impressão de livros permitiu que a Educação ganhasse corpo e que
a leitura, antes restrita, começasse a ser popularizada. O reformista traduziu a Bíblia para o alemão,
aumentando assim o número de pessoas com acesso à sua doutrina.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
Martinho Lutero e a Reforma Protestante provocaram uma enorme mudança na Educação, posto que na
Idade Média cabia apenas à Igreja Católica o papel de ensinar, além de ela monopolizar a produção de
livros.
DICA
Assista ao filme O Nome da Rosa, de 1986, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano
Umberto Eco; No filme, é possível ver o scriptorium de um mosteiro medieval, onde os monges se dedicavam
à cópia dos livros permitidos pela Igreja.
O NOME DA ROSA
Um monge franciscano investiga uma série de assassinatos em um remoto mosteiro italiano. Isso
provoca uma guerra ideológica entre os franciscanos e os dominicanos, enquanto o monge lentamente
soluciona os misteriosos assassinatos.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
Lutero estimulava o desenvolvimento da Educação a fim de que não fosse restrita à elite e à nobreza,
mas alcançasse a população para que esta pudesse ler a Bíblia livremente, permitindo-lhe se aproximar
de Deus e de sua própria salvação.
CONTRARREFORMA
A Reforma Protestante provocou a resposta da Igreja Católica, conhecida como Contrarreforma
Católica. Foi realizado então o Concílio de Trento, que começou em 1545, cujas competências eram:
2 - Estabelecer o Index Librorum Prohibitorum (uma lista de livros que deveriam ser abolidos e cuja
leitura era proibida)
3 - Enfatizar a autoridade papal (segundo a doutrina, o papa era infalível, o que era criticado pelos
reformistas)
ATENÇÃO
Não podemos esquecer que o século XVI foi o século da Expansão Marítima. Os reinos europeus se
lançaram ao mar a fim de conquistar novas terras e chegaram ao continente americano, habitado por povos
que desconheciam o cristianismo. Para a Igreja, a conversão dos povos nativos da América era fundamental
para manter seu corpo de fiéis e consolidar sua influência no novo continente.
É importante explicar que uma historiografia vista mais de perto observa que não podemos considerar a
Contrarreforma como uma resposta pura e simples, mas sim como a consolidação de um processo que
a Igreja já experimentava: retomar seus preceitos conservadores, rompendo ciclos de “devassidão”
muito atribuídos a papas como Rodrigo Borgia, recuperando os mandamentos que marcam a Igreja.
A fundamentação teológica da Igreja é que, se houve perda de fiéis, foi porque alguns fundamentos,
caminhos, precisavam ser recuperados, os desvios combativos.
A fé precisava ser quente, pregada; ainda que o ideal das missões militares do período das cruzadas
não devesse mais existir, seu sentido missionário – cumprir e atender uma missão – deveria ser
alcançado.
OS JESUÍTAS
Santo Inácio de Loyola (1491-1556) deixou a Autobiografia com a qual podemos conhecer um pouco
mais de suas inspirações. Na obra, sobre a Educação, ele afirma:
"Exercitava-se em dar exercícios espirituais e a declarar a doutrina cristã, e com isso fazia-se
fruto para a glória de Deus. E houve muitas pessoas que chegaram a grande conhecimento e
gosto de coisas espirituais".
(AUTOBIOGRAFIA, Santo Inácio de Loyola)
Fundador da Companhia de Jesus, uma das mais importantes ordens eclesiásticas, encarregada
da conversão e catequese de fiéis. Seus membros, denominados jesuítas, desenvolveram práticas
pedagógicas que, na América, foram aplicadas aos indígenas para obter sua conversão ao
catolicismo. Os jesuítas foram, então, os pioneiros na Educação no Brasil.
De fato, a presença jesuítica foi tão marcante e está tão arraigada em nossa cultura que julgamos
que eles estiveram presentes desde o início da colonização. Quando vemos obras como o quadro
A Primeira Missa no Brasil, de Vitor Meirelles, nosso imaginário de imediato nos faz acreditar que o
padre que rezou essa missa era um jesuíta, o que não é correto. Frei Henrique Soares de
Coimbra, quem oficia o primeiro culto, era franciscano. Em 1500, a ordem jesuíta ainda não existia,
foi criada por Inácio de Loyola em 1534.
O exercício do ensinar e do aprender não podia ser para si, mas para conduzir, para levar os outros à
divindade, à salvação. O princípio máximo jesuítico era ensinar o caminho da salvação e, para isso, era
necessário ser educado, direcionado.
Os jesuítas eram considerados uma ordem militar. Sua missão era converter os povos não cristãos e
desde sua origem aproximaram-se da Educação, seguindo o que ficou conhecido como metodologia
inaciana, em referência ao fundador da ordem, Inácio de Loyola. Sua pedagogia estava fundamentada
no Ratio Studiorum, publicado em 1599.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
SAIBA MAIS
Os jesuítas chegaram ao Brasil com o Governo Geral, em 1549, portanto, antes da publicação do Ratio
Studiorum. Nos primeiros anos da presença jesuíta, destaca-se a atuação do padre Manoel da Nóbrega
(1517-1570), que criou os aldeamentos, locais onde os índios de diferentes etnias eram agrupados a fim de
serem catequizados.
Não podemos esquecer que a prática pedagógica jesuíta possuía um objetivo: converter os não cristãos.
Além disso, a visão do europeu sobre o indígena era extremamente etnocêntrica, desconsiderando que
esses povos tinham sua própria cultura e formas diversas de organização.
Os primeiros ensinamentos jesuítas focavam o domínio da língua portuguesa pelos indígenas, o estudo
da doutrina católica e, posteriormente, o aprendizado de um ofício. Os jesuítas viviam junto aos índios,
nos aldeamentos, para coordenar e manter o processo de catequese. Surgem então os chamados
colégios jesuítas, aos quais se deve a fundação de cidades como São Paulo, cujo núcleo de
povoamento inicial se deu através do colégio fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta,
denominado Colégio de São Paulo de Piratininga.
O modelo de constituir missões e colégios nos quais os membros do corpo jesuítico se organizavam e
estruturavam a sua presença foi outra marca importante, sendo Anchieta figura vital para entender a
fundação da cidade de São Paulo (ainda chamada de marco zero), com o estabelecimento do colégio
jesuíta na cidade.
No Rio de Janeiro, os jesuítas ocupavam o Morro do Castelo e possuíam algumas grandes propriedades
de terra, nas quais mantinham um sistema econômico e sua busca de troca e catequização dos
indígenas. Chama a atenção a variedade dessas atuações ao longo de todo litoral, sendo considerados
salvadores e inimigos, aliados do governo e grupos perigosos ao longo de nosso período colonial. Por
quê? Onde existia interesse na escravização de indígenas, como nas fronteiras do Norte e de São
Paulo, sua atuação era vista como um problema, um empecilho econômico. Em áreas de conflito, o seu
uso como interlocutores era visto como uma possibilidade de ocupação e dinamização com o território.
Anchieta é notório pelas práticas empreendidas. O volume de cartas trocadas entre ele e a sede da
ordem na França, permite-nos perceber o cotidiano. Anchieta é precursor também do estudo do
vocabulário Tupi, criando um dicionário, o que demonstra a tentativa que somente muitos anos depois
veríamos ser defendida em nossa República. A catequese e a tentativa de levar o texto de forma
didática é outro elemento importante, com a adoção do teatro e das dinâmicas do lúdico para
entendimento.
ATENÇÃO
É importante frisar que o Ratio Studiorum foi um dos primeiros planejamentos pedagógicos e escolares da
educação ocidental, tendo influenciado a Pedagogia séculos depois de sua elaboração. Constitui-se de uma
sistematização inédita de métodos, teorias, procedimentos curriculares que se tornaram um dos pilares da
pedagogia moderna.
A despeito do objetivo catequético, o Ratio Studiorum teve como fundamento a formação do indivíduo,
considerando aspectos como virtude e caráter, aliando as Artes Liberais e as Letras, unindo campos como
Retórica e Gramática, além da Teologia. Coube, portanto, aos jesuítas, o primeiro modelo educacional
brasileiro, que influenciou, de uma forma ou de outra, todos os demais que o seguiram.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Lutero era um monge da ordem de Santo Agostinho e com seu estudo aprofundado da Bíblia
começou a questionar a prática da Igreja Católica, à qual ele pertencia.
B) A invenção da imprensa auxiliou o projeto reformista de Lutero, que, ao traduzir a Bíblia para o
alemão, conseguiu meios para popularizá-la.
C) A Educação foi um ponto no qual Lutero teve dificuldade de atuar, pois acreditava que ela não seria
capaz de formar plenamente o ser humano da mesma forma que a fé o faria.
D) O rompimento de Lutero com a Igreja Católica, e desta com ele, fez com que Lutero fosse acolhido
em principados alemães, onde se tornou protegido e pôde divulgar suas ideias.
E) Lutero não foi o único reformador, mas seu discurso e propostas foram bem acolhidos naquele
contexto - realidade e momentos históricos – e por isso tiveram tamanho impacto.
A) Os jesuítas desenvolveram práticas pedagógicas que, na América, foram aplicadas aos indígenas
com objetivo de convertê-los ao catolicismo.
B) Aproximar-se da Educação era fundamental para os jesuítas. Por isso, desenvolveram a metodologia
inaciana, fundamentando sua pedagogia no documento chamado Ratio Studiorum.
D) Apesar de o objetivo primordial em relação aos índios ter sido o de catequese (instrução da fé), os
jesuítas não permaneciam junto às aldeias.
E) Embora se possa ter muitas vertentes de análise acerca da atuação dos jesuítas, uma crítica a eles –
que pertenciam a uma congregação religiosa – que parece não ter muito sentido está na afirmação de
que queriam converter os nativos à fé cristã (católica).
GABARITO
1. A Reforma foi um movimento que marcou profundamente o período da Idade Moderna. Dentre
os chamados reformadores, destaca-se o alemão Martin Luther (ou Martinho Lutero). Suas ideias
influenciaram não somente a religiosidade da época, como também aspectos culturais de outros
âmbitos. Sobre tais ideias, podemos afirmar, exceto:
A Educação tornou-se um instrumento fundamental para Lutero divulgar suas ideias. Como era centrada
nas mãos da Igreja Católica, quanto mais escolas estivessem sob controle dos principados e quanto
mais cedo as crianças fossem para a escola, mais fácil seria substituir a mentalidade cristã (católica)
pela reformada.
Os aldeamentos e missões eram locais incrustrados no interior do Brasil, junto às aldeias dos índios.
Muitos jesuítas destacaram-se exatamente por essa aproximação com os indígenas, como o caso de
José de Anchieta, que sistematizou a língua tupi, registrando-a em uma gramática.
MÓDULO 4
PEDAGOGOS
Nesse vídeo, Rodrigo Rainha e Flávia Miguel mostram como as ideias nascidas no Renascimento
marcam toda a Modernidade.
A PEDAGOGIA NA MODERNIDADE
A Idade Moderna trouxe uma preocupação com a natureza do conhecimento, o que levantou alguns
questionamentos:
Apesar de terem sido formulados há séculos, alguns desses questionamentos ainda não possuem uma
resposta consensual. É o caso do conhecimento inato. Nascemos com algum tipo de conhecimento ou
somos uma tabula rasa como dizia John Locke?
SAIBA MAIS
A expressão em latim tabula rasa tem o sentido de “folha de papel em branco”. Busque saber mais sobre
esse conceito de Locke e aprofunde seus conhecimentos!
Você consegue reparar que nossa forma de ver, pensar e discutir a Educação tem muita influência
desse momento?
Essa época trouxe modelos que ainda nos guiam e ofertam possibilidades de vivenciar a Educação.
COMO EDUCAR
Se, na Idade Média, não houve uma grande preocupação em sistematizar a Educação para todos, de
modo geral, a partir de então se começa a pensar qual a melhor e mais eficiente forma de educar.
O pensamento moderno foi muito importante para se debater a natureza do conhecimento. A disciplina,
tão importante na Idade Média e na educação religiosa, seria rediscutida, sendo revista como o principal
fator do aprendizado.
ATENÇÃO
Não houve uma ruptura definitiva. Os projetos pelo racionalismo e pela empiria influenciaram o processo
iluminista, passaram a se digladiar e acabaram se unindo.
AUTORES
Para entender esse projeto, precisamos conhecer um autor muito importante: Johann Heinrich
Pestalozzi (1746-1827). Ele escreveu depois do início do movimento que marcou a modernidade, porém
tornou-se um ícone desse movimento por não estar preso à dinâmica do pensamento iluminista francês,
mas às demais correntes filosóficas presentes na sociedade.
JOHANN HEINRICH PESTALOZZI
Pestalozzi nasceu na Suíça do século XVIII; tinha uma formação religiosa sólida e durante sua vida
buscou o que seria, em sua concepção, a melhor forma de servir e de ajudar o próximo. Assim,
dedicou-se à Educação e a encontrar maneiras eficientes e completas de educar as crianças.
SAIBA MAIS
No final do século XVIII, a Suíça foi invadida pela França durante as chamadas Guerras Napoleônicas. Essa
invasão provocou um aumento no número de crianças órfãs. Pestalozzi reuniu as crianças para que fossem
cuidadas e educadas, desenvolvendo algumas de suas ideias mais significativas a partir de então.
Para Pestalozzi, o afeto seria um dos principais componentes do processo educacional. É o amor que
estimula a criança a aprender, preenchendo-a de dentro para fora. Sua teoria comparava a escola a
uma casa. Uma casa bem organizada funciona a partir do amor e da disciplina.
A disciplina não seria o principal fator do aprendizado, mas sim o afeto. O que não quer dizer que ela
fosse deixada de lado, apenas não seria obtida a partir de castigos e punições.
Antes de se dedicar à Educação, Pestalozzi tentou ser agricultor, tarefa na qual não obteve sucesso.
Essa curta experiência permitiu que ele comparasse a criança à semente, referindo-se ao potencial
que esta teria se bem cuidada.
Se a afetividade de Pestalozzi se afastava do caráter científico proposto pela Idade Moderna, não
podemos dizer o mesmo das teorias de Johann Friedrich Herbart (1776-1841). Ao compartilhar a ideia
de Locke sobre a tabula rasa, entendendo que nascemos desprovidos de conhecimento e o vamos
adquirindo ao longo da vida, Herbart via a Educação como uma ciência.
Johann Friedrich Herbart foi um filósofo, psicólogo e pedagogista alemão, fundador da Pedagogia
como disciplina acadêmica.
PSICOLOGIA
Assim como Pestalozzi, Herbart também defendia que o objetivo final do processo educativo era a
formação moral e não meramente conteudista, mas entendia que a forma para chegar a esse objetivo
era distinta da afetividade proposta por Pestalozzi. Sua proposta se dividia em três procedimentos
fundamentais:
GOVERNO
Controle comportamental.
A criança deveria educar seu comportamento. Os primeiros educadores, neste caso, eram os pais e
depois os professores.
INSTRUÇÃO
O processo de aprendizado era baseado nos interesses e nas aptidões do educando.
Para Herbart, a instrução moral e intelectual eram parte de um único processo, formando um indivíduo
pleno.
DISCIPLINA
Fundamentada na autonomia. Cabia ao próprio aluno manter-se fiel aos princípios aprendidos e focar na
aquisição do conhecimento.
Dos três processos, a instrução - o processo de aprendizado propriamente dito - seria o mais importante.
Não podemos desvincular a pedagogia científica de Herbart do seu contexto de produção.
Herdeira da tradição iniciada por Kant acerca da racionalidade e da razão, essa pedagogia é fruto das
transformações intelectuais ocorridas entre os séculos XVIII e XIX. A Idade Moderna era baseada no
individualismo enquanto a Pedagogia, progressivamente, voltava-se para uma concepção mais coletiva,
o aprender como prática social.
ATENÇÃO
Tanto Herbart quanto Pestalozzi trabalharam o aprendizado como algo individual, particular, o que a
Pedagogia contemporânea tende a rejeitar como objetivo final do processo educativo.
A criança saiu do adulto em miniatura, na Idade Média, para o sujeito do pensamento pedagógico nos
séculos XVIII e XIX. Essa premissa se torna mais evidente ao estudarmos o pensamento de um dos
mais notáveis discípulos de Pestalozzi, o alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852).
Assim como Pestalozzi, Fröebel foi criado na doutrina protestante, o que influenciou sobremaneira seu
pensamento. Desenvolveu várias ideias de Pestalozzi, criando o primeiro segmento educacional voltado
totalmente para a criança, o que chamamos de jardim de infância.
Fröebel foi quem primeiro entendeu o brincar como uma forma de aprender e desenvolveu a
ludicidade como ferramenta pedagógica. Ainda preso ao individualismo da modernidade, Fröebel
propôs o desenvolvimento autônomo, não vinculado a uma prática coletiva, embora focasse também na
moralidade como objetivo do processo de aprendizagem.
LUDICIDADE
Luckesi (apud ALBUQUERQUE, 2016, p. 128) afirma que o lúdico situa-se na esfera do simbólico,
caracterizando-se assim como uma experiência do sujeito, o modo como a pessoa se comporta.
É interessante notar que esses pensadores têm em comum a ideia de uma educação prática.
Que o aprendizado só ocorre através do fazer e que a teoria, sozinha, é algo vazio. Essa característica
está muito ligada à modernidade, em que a ideia do “saber fazer” se desenvolve dotando a Educação de
seu caráter prático.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. PESTALOZZI É UM REPRESENTANTE DA IDADE MODERNA, ESPECIALMENTE
NAS QUESTÕES REFERENTES À EDUCAÇÃO, EMBORA SUA PRODUÇÃO SE DÊ
NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO DA IDADE MODERNA PARA A CONTEMPORÂNEA,
PORTANTO, PERÍODO DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES. SOBRE SUAS IDEIAS
E O SEU IMPACTO NA EDUCAÇÃO, PODEMOS AFIRMAR:
A) Preocupado com o estímulo necessário ao aprendizado das crianças, apresentou o afeto como um
dos principais componentes do processo educacional.
C) A disciplina não foi abandonada de suas propostas educacionais, mas não permitia que fosse obtida
a partir de castigos e punições.
D) Suas ideias foram além de seu tempo, influenciando a busca por uma educação cada vez mais
autônoma e harmônica.
E) A proposta educacional de Pestalozzi era laica porque ele era um forte opositor às ideias religiosas,
tendo se afastado delas ao longo de toda sua vida.
A) I e II são falsas.
E) Somente I é falsa.
GABARITO
Pestalozzi teve sólida formação religiosa, como era comum em sua época, mas sua proposta
educacional era laica. Embora não se possa garantir, tal formação pôde ser responsável, juntamente
com outros fatores, pela sua plena preocupação com as crianças, especialmente as órfãs, fruto das
Guerras Napoleônicas.
2. Dois representantes do pensamento Moderno foram Herbart e Fröebel. Graças a eles, como
também ao pensamento de Pestalozzi, a criança não mais seria considerada como adulto em
miniatura, mas sujeito do pensamento pedagógico. E sobre o pensamento pedagógico de Herbart
e Fröebel, podemos afirmar:
I - Herbart muda fundamentalmente o pensamento pedagógico ao aproximar a Psicologia da
Educação. Essa aproximação somente será rompida com a Psicologia do Desenvolvimento, de
Jean Piaget.II - Herbart, diferentemente de Pestalozzi, afirma que o objetivo do processo
educativo não é a formação moral, mas sim a aquisição de conteúdo, pelas crianças.
III – Fröebel, desenvolvendo as ideias de Pestalozzi, cria o primeiro segmento educacional
voltado totalmente para a criança, o jardim de infância, valorizando a ludicidade no processo
educacional.
Sobre as afirmativas acima:
As ideias de Herbart, em especial a aproximação que faz com a Psicologia, não será rompida por
Piaget; ao contrário, será desenvolvida por ele. E para Herbart, a formação moral deve ser entendida
como objetivo final da educação (assim como Pestalozzi); porém não será o afeto o caminho para
alcançá-la e sim a adoção de métodos quantificáveis.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Falamos sobre Renascimento ou de modernidade? De ambos! Modernidade é um termo genérico criado
para definir o momento de ruptura e afirmação do poderio Europeu.
Apesar de sua construção, ele é cheio de contradições, que você acompanhou ao longo deste tema.
Então, uma vez que, no século XV – XVI, a Europa inaugura uma ruptura do pensamento, conhecida
como Renascimento, descortina-se um conjunto enorme de possibilidades. Ao mesmo tempo, o campo
religioso se coloca em disputa na Reforma × Contrarreforma, chegando até o Brasil e marcando a
questão jesuítica.
A Educação é influenciada e passa a ser uma métrica ocidental, valorizada, que aponta para o
entendimento do nosso mundo. O Renascimento foi a pedra angular que inaugurou uma profunda
mudança de nosso mundo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2012.
SILVA, L. Kant e a Pedagogia. In: Revista Inter Ação, 32(1), 33-45. 2007.
EXPLORE+
1. Acesse o site do museu do Vaticano e faça um tour virtual. Perceba como a cultura renascentista –
crítica ao pensamento religioso – manifesta-se fortemente nos espaços da cultura religiosa.
3. Inspirado pelo contexto da época? Viva um pouco dessa experiência por meio da obra O mercador de
Veneza, de William Shakespeare.
CONTEUDISTA
Flavia Miguel de Souza
CURRÍCULO LATTES