All The Young Dudes Volume 1
All The Young Dudes Volume 1
All The Young Dudes Volume 1
Dudes
Volume 1: Anos 1-4
MsKingBean89
Arte por Swifty_Fox
Tradução por Paula Perez e Bruna Mello
Formatação por Paula Perez.
"Não, mãe." Hope olhou para sua xícara de chá. Sem leite, apenas uma fatia de
limão, servido em uma xícara de chá adequada com um pires que tinha um
design de folha de rosa combinando. Ela deveria ter recebido um conjunto de
porcelana semelhante quando se casou, mas Lyall não queria trouxas na
recepção.
“Eu sempre disse que ele não era bom. Homem assim - sem família, sem
igreja. E você nunca explicou exatamente com o que ele trabalhava.”
Sua mãe resmungou novamente. Ela achou que era um nome bobo. Hope havia
tentado se comprometer, e deu ao filho o nome de seu pai também - mas
Remus John soava ainda pior, de acordo com sua mãe.
A Sra. Jenkins preferia fingir que o filho de Hope não existia, mesmo quando
ele estava dormindo no quarto do andar de cima. Hope queria ir ver como ele
estava - dar-lhe um abraço - mas não se atreveu a levantar-se; sua mãe diria
que estava o mimando demais e Hope não queria discutir. Ele estava dormindo
muito – o que provavelmente era normal para crianças de cinco anos.
Mas Remus não era um menino normal de cinco anos, não mais.
Uma dor atingiu Hope no fundo de seu peito; seu coração parecia estar sendo
partido. Ela baixou a cabeça, deixando o cabelo cair para a frente, fechou os
olhos e deixou as lágrimas correrem por seus cílios. Fungou. Eu preciso de
você, Lyall. Como você pode fazer isto comigo?
“E o que você planeja fazer em relação a dinheiro? Eu não posso te bancar, não
na minha idade.”
"Ele sempre teve um fraco por você, se me bem lembro." Disse sua mãe. Ela
parecia pensativa; não estava realmente falando com Hope agora, estava
planejando. Hope estava bastante familiarizada com o modo como a mente de
sua mãe funcionava, sempre maquinando, organizando e suavizando as
coisas. Fazendo correções. Os últimos seis anos foram um erro - que logo seria
corrigido.
Isso não era nada novo para Hope; outras pessoas tomaram decisões por ela
durante toda a sua vida. Primeiro sua mãe, que a aconselhou a deixar a escola
mais cedo e conseguir um emprego na Central Telefônica. Depois, Lyall, cujo
ela seguira para dentro de um mundo completamente diferente. Agora ele se
foi, e estava de volta à mãe. Você nunca foi uma garota muito inteligente.
Ela nem mesmo foi questionada sobre o funeral. Tudo foi resolvido por seu
povo - homenzinhos estranhos em mantos que podiam arrumar qualquer coisa
com um aceno de suas varinhas. Eles foram muito gentis com Hope, mas a
trataram como uma criança - uma particularmente estúpida. Um deles pegou
todas as coisas de Lyall - seus livros e sua varinha. Ela foi autorizada a ficar
com a casa, mas lhe aconselharam a pôr à venda.
(Ela não mencionou mais nada que Remus tinha feito. Que a primeira vez que
a transformação ocorreu; a primeira vez que o pobre bebê dela foi virado do
avesso por aquela maldição terrível, ele ficou tão apavorado que fez a porta
desaparecer, e Lyall teve de barricá-lo com a cristaleira da sala de jantar no
final. Talvez essa tenha sido a gota d'água, para Lyall.)
"Isso é muito bom," o velho sorriu, "Ele receberá sua carta de Hogwarts após
seu décimo primeiro aniversário."
Ela não sabia o que dizer sobre isso, mas tentou parecer satisfeita. Hope
esperava que Remus fosse como seu pai - melhor do que ser como ela, de
qualquer maneira - mas não conseguia ver como ele entraria em uma escola
exclusiva como aquela, não mais.
"Hope, você está me ouvindo?" Sua mãe explodiu. Hope piscou e ergueu os
olhos.
"Desculpe, mãe."
“Eu estava perguntando sobre o menino. Você disse que tinha feito arranjos? "
“Oh. Sim."
O velho que perguntou sobre Remus a ajudou com isso também. Ele foi gentil
a respeito. Disse que dependia inteiramente dela, mas que conhecia alguém, se
ela precisasse de ajuda. Alguém que seria discreto. Ele a colocou em contato
com uma mulher chamada Sra. Orwell, que dirigia uma casa para meninos. Era
em Essex, mas talvez Remus se saísse melhor se crescesse na Inglaterra - não
era como se houvesse mais oportunidades no País de Gales. Hope sabia como
era difícil se sentir como um forasteiro, e Remus já teria o suficiente disso.
"Vou levar ele amanhã." Hope disse a sua mãe. "Vamos pegar o trem."
"Quer que eu vá com você, meu bem?" Sua mãe amoleceu. Ela sempre fazia
isso, quando Hope estava sendo obediente.
Hope abanou a cabeça. As lágrimas escorreram por suas bochechas, mas ela
mal percebeu. Era difícil acreditar que ainda não tinha murchado como uma
passa, com todas as lágrimas derramadas ultimamente. A mãe dela se levantou
e veio se sentar no braço do sofá. Ela colocou um braço em volta de Hope e
apertou-a suavemente.
“Tudo bem, meu amor. É a coisa certa. A melhor coisa. Você ainda é jovem,
vai se recuperar. Espere um ano ou mais e será como se nada disso tivesse
acontecido, eu prometo a você. "
No topo do pequeno patamar escuro, Hope foi presenteada com três portas
fechadas. O quarto dos pais, o banheiro e seu quarto de infância. Seu quarto
atual, na verdade, até que economizasse o suficiente para se mudar. Ela pensou
no dinheiro de Lyall novamente. Não. Isso não era dela.
Ela abriu a porta lentamente. Não rangeu, mas o carpete sempre ficava preso e
fazia um barulho desagradável quando você o empurrava. Lá dentro, as finas
cortinas amarelas estavam fechadas, mergulhando tudo em um brilho
amanteigado caloroso.
Seu vestido preto do funeral estava pendurado na porta do guarda-roupa. Ela o
comprou especialmente para a ocasião, porque nunca teve nada preto antes,
custou uma fortuna. Todos eles usavam túnicas, os amigos de Lyall, e ela se
sentia estranha.
Era tão estranho estar de volta a este quarto; tudo parecia tão pequeno e antigo,
embora na verdade só tivesse se passado seis anos desde a última vez que ela
dormiu aqui. Tudo ainda estava no lugar. Sua pequena penteadeira de vime
pintada de branco, que provavelmente ainda tinha um maço de cigarros
escondido em uma das gavetas de baixo, junto com os batons e sombras pelos
quais ela e o pai haviam brigado quando ela tinha quinze anos. Um pôster dos
Monkees na parede acima da cama, ao lado de uma impressão de Arthur
Rackham.
Se ao menos Lyall estivesse aqui agora. Era o toque dele que ela mais sentia
falta. Ele era tão alto, mesmo quando Hope usava seus saltos mais compridos,
ele conseguia descansar o queixo no topo de sua cabeça. As lágrimas arderam
em seus olhos e ela colocou a mão suavemente no peito de Remus, sentindo o
constante subir e descer.
Às vezes, nas tardes em que a pequena família ficava deitada na cama, Lyall
cantava uma velha canção de ninar para Remus. Hope nunca a tinha ouvido
antes, mas adorava a maneira como ele a cantava; era a única vez que você
podia ouvir o sotaque escocês suave em sua voz. Ela cantarolou alguns versos
agora, perguntando se Remus lembraria que seu pai cantava para ele, e apenas
para ele.
Oh, Lyall Lupin, seu bastardo. Era um fardo impossível odiar alguém que você
não conseguia deixar de amar. Como ele poderia colocá-la nesta posição? Ele
deve ter sabido que ela não poderia fazer isso sozinha. Ela não era mágica,
como ele. Ela não era forte. E ela nunca foi uma garota muito inteligente.
Ela estava chorando de novo, mas Hope aprendera a chorar sem fazer
barulho. Talvez isso fosse ser mãe, embora não se achasse merecedora desse
título. Ela puxou o corpinho quente de seu filho para perto do dela, sem se
importar caso o acordasse. Ela podia sentir seu pequeno coração batendo
contra o dela.
Esfregou a mão na cabeça, onde seu cabelo estava raspado bem perto do couro
cabeludo e era espetado sobre seus dedos. Ele odiava, mas todo os meninos do
abrigo tinham a mesma careca espetada. O que significava que, quando podiam
ir à cidade nos fins de semana, todos sabiam que eram rapazes de St. Edmund
– o que muito provavelmente era a intenção. Os donos das lojas sabiam em
quem ficar de olho. Não que os garotos tentassem subverter as expectativas.
Tinham lhe falados tantas vezes que eram a escória da sociedade; tinham sido
deixados para trás e ignorados - então porque não causar um pouco de
problema?
Remus ouviu passos no fim do corredor. Era a Matrona; podia sentir seu
cheiro, escutar as batidas de seu coração. Seus sentidos sempre estavam mais
aguçados após um de seus episódios. Ele se levantou, puxando o cobertor ao
seu redor de si apesar do calor, e foi em direção a porta para escutar melhor.
Ela não estava sozinha, havia um homem em sua companhia. O cheiro dele era
antigo e, de alguma forma, diferente. Um odor forte de ferro que vagamente
lembrava Remus de seu pai. Era magia.
"Você tem certeza que não está perdendo seu tempo?" Ela perguntou ao
estranho. “Ele é um de nossos piores casos."
"Ah, sim." O homem respondeu. Sua voz era rica e calorosa como chocolate
quente. "Nós temos certeza. É aqui que vocês o mantêm durante...?"
"Tudo que eu preciso saber." Respondeu friamente. "Ele está aqui desde os
cinco anos. E sempre nos deu trabalho - não só porque é um do seu tipo."
"Meu irmão era um. Não o vejo há anos é claro, mas ocasionalmente ele ainda
me pede favores. St. Edmund’s é uma instituição muito especial. Somos
equipados para casos problemáticos. " Remus escutou o chacoalhar de chaves.
"Agora, eu preciso vê-lo primeiro, geralmente tenho de fazer curativos. Eu não
entendo porque você decidiu visitá-lo após a lua cheia em primeiro lugar, se já
sabia o que ele era."
"Tô." Ele respondeu, puxando a coberta para mais perto de seu corpo. Suas
roupas eram retiradas para evitar que voltassem em pedaços.
Ele lhe mostrou as feridas. Não estavam mais sangrando. Havia percebido que
os ferimentos infligidos por si, apesar de profundos, se curavam mais rápido
que qualquer outro corte ou arranhão; nunca nem precisava de curativos.
Contudo, as cicatrizes nunca desapareciam, elas desbotavam e deixavam
marcas esbranquiçadas por todo seu corpo. A Matrona ajoelhou, passando
antisséptico e o envolvendo com uma gaze pinicante. Isto feito, o entregou
suas roupas e ele se vestiu rapidamente na frente dela.
"Você tem visita." Ela disse, finalmente, enquanto Remus passava a camiseta
sobre a cabeça. Era cinza, como a de todos os outros.
"Quem?" Ele perguntou, olhando-a nos olhos, pois sabia que ela não gostava.
"Não to afim." Respondeu, ele odiava a escola. "Fala pra ele dá o fora."
"Controle a língua." Brigou. “Vai fazer como foi mandado ou vou te deixar
aqui pelo resto do dia. Agora vamos." A mulher agarrou seu braço e o puxou
para frente.
Ele franziu a sobrancelha, pensou em se livrar dela, mas não tinha motivo.
Poderia ser trancafiado novamente, e agora estava curioso sobre o estranho.
Principalmente porque o cheiro de magia ficava cada vez mais forte à medida
que avançavam pelo corredor sombrio.
O homem que os esperava era bem alto e estava vestido no terno mais estranho
que Remus já tinha visto. Era de um marrom profundo, e as mangas e lapela
possuíam um bordado dourado caprichoso. Sua gravata era azul meia noite. Ele
deveria ser bem velho de fato — seu cabelo era branco como a neve, e possuía
uma barba incrivelmente longa que devia chegar no umbigo. Estranho como
era, Remus não se sentiu intimidado como sentia com a maioria dos adultos. O
homem tinha olhos gentis que sorriam para ele por trás do óculos meia-lua
conforme eles se aproximavam.
Remus olhou para a Matrona, que acenou com a cabeça. O que fez valer a pena
ter que conversar sobre escola com um desconhecido vestido de forma tão
peculiar - já que ela nunca o deixava sair nas luas cheias, nem mesmo com
supervisão.
Eles passaram por mais alguns corredores, apenas os dois. Remus tinha certeza
que nunca vira Dumbledore em St. Edumund’s antes, mas ele certamente
parecia saber o caminho. Quando finalmente chegaram ao lado de fora, o
garoto inspirou profundamente, os raios de sol quentes o encobrindo. A “área”,
como o homem havia dito, não era muito grande. Um pedaço de grama
amarelada na qual os meninos jogavam futebol e um pequeno pátio com ervas
daninhas crescendo nas rachaduras do concreto.
"O que você quer?" Remus finalmente perguntou, chutando uma pedrinha de
seu caminho.
"Eu suspeito que você tenha alguma noção." Dumbledore respondeu. Ele
alcançou o bolso, de onde tirou um saco de papel marrom. Remus sentiu o
cheiro de balinha de limão, e como esperado, Dumbledore o ofereceu uma. Ele
aceitou e a chupou.
Ele deu de ombros novamente. Não se lembrava muito bem. Tudo que sua
memória era capaz de recordar era a figura alta e magra de um homem que
vestia uma capa longa, enquanto se debruçava sobre o corpo do menino,
chorando. Assumiu que tinha sido a noite que foi mordido, se lembrava disso
bem o suficiente.
"Ele era mágico." Remus disse. "Fazia coisas acontecerem. Minha mãe era
normal."
Dumbledore parecia ter sido pego de surpresa com isso, o que agradou Remus.
Era algo a se orgulhar, ter uma história trágica e poder chocar as pessoas. Ele
não pensava no pai com frequência, a não ser para considerar caso teria se
matado se ele não tivesse sido mordido. Remus continuou;
"Mas minha mãe não morreu, ela só não me quis. Então to aqui." Olhou ao
redor. Dumbledore tinha parado de andar. Estavam na parte mais afastada do
terreno agora, perto das cercas altas. Uma delas tinha uma tábua solta que
ninguém sabia sobre. Remus conseguia passar por ela se quisesse e ir em
direção a cidade pela estrada principal. Nunca fazia nada em particular, só
vagava por aí esperando a polícia o encontrar e o levar de volta. Era melhor
que não fazer nada.
"Claro que não, cacete." Observou Dumbledore pelo canto do olho, mas não
ficou em problemas por falar um palavrão.
"Não sou pior que os outros." Remus retrucou. "Somos todos garotos
problemáticos."
"Sim, eu vejo." Dumbledore esfregou sua barba como se Remus tivesse dito
algo extremamente significativo.
"Tem mais uma bala?" Remus estendeu a mão com expectativa. Dumbledore
entregou a ele o saco e ele quase não acreditou em sua sorte. O velhote era
fácil de manipular. Ele mastigou o quadradinho dessa vez, sentindo-o quebrar
como vidro entre seus dentes. O gostinho de limão explodindo em sua língua
como fogos de artifício.
"Eu sou diretor de uma escola, você sabia. A mesma que seu pai frequentou."
"É uma escola especial. Para bruxos, como eu. E como você. Você gostaria de
aprender magia Remus?"
"Eu sou muito burro." Disse firme. "Não vou conseguir entrar."
"Pode perguntar pra ela." Remus virou a cabeça em direção ao grande edifício
cinzento na qual a Matrona os esperava. "Eu mal consigo ler. Não sou nada
inteligente."
"Você não teve uma vida muito fácil, Sr. Lupin, e eu sinto muito por isso. Eu
conheci seu pai – apenas um pouco – e tenho certeza que ele não iria querer
que... De qualquer forma, estou aqui para te oferecer algo diferente. Um lugar
com pessoas como você. Talvez até alguma forma de canalizar toda essa raiva
que há dentro de você."
"E meus episódios?" Ele perguntou, cruzando os braços. "Eu sou perigoso,
sabia?"
"Sim, Remus, eu sei." Respondeu soando triste. Pousou uma mão sobre o
ombro de Remus, bem gentilmente. "Vamos ver o que podemos fazer a
respeito. Mas deixe isso comigo."
Remus coçou sua cabeça, depois o nariz, que ainda estava escorrendo. Isso
estava o incomodando desde o jantar na noite passada, quando um outro
menino o socou. Na verdade, Remus o tinha chutado primeiro, mas o menino –
Malcolm White – tinha quatorze anos e duas vezes o tamanho de um Remus de
onze. Malcolm tinha feito alguma piada sobre Remus estar indo para uma
escola especial para crianças atrasadas, e ele não podia deixar barato. Agora
ele tinha um olho roxo, do qual se arrependia. Todos na escola nova iriam
achar que ele era um valentão, mas então, talvez ele realmente fosse um.
A Matrona afastou com um tapa a mão de Remus da cabeça e ele fez uma
careta para ela. Estavam parados na enorme plataforma de King's Cross,
encarando os números das duas plataformas. Havia uma de número nove, e
então o número dez. A Matrona olhou para a carta em sua mão de novo.
"Nós temos que correr em direção a parede." Remus diz, "Eu te disse."
Ele nunca havia tido tantos pertences, e, na verdade, ficou até feliz quando a
Matrona trancou tudo em seu escritório para que nada fosse pego por outros
meninos. Agora, todas suas coisas estavam amontoado em uma velha mala
surrada que fora doada. Remus tinha que segurá-la de um jeito bem específico
para que não desmontasse.
"Eu não vou te deixar em lugar nenhum, Lupin. Só espere aqui enquanto eu
tento achar um guarda." A Matrona saiu andando na direção da bilheteria, seu
grande traseiro balançando enquanto ela avançava. Remus olhou ao redor
furtivamente, então lambeu seus lábios. Aquela poderia ser sua única chance.
Lá dentro, ele não conseguia alcançar o bagageiro para guardar suas coisas,
então entrou em um compartimento vazio e colocou a mala ao seu lado no
banco. Observou as pessoas na plataforma pela janela, pressionando sua testa
contra o vidro frio. Se perguntou se todas aquelas crianças vinham de famílias
bruxas, se alguma delas tinham episódios como ele tinha. Provavelmente não,
já que nenhuma delas pareciam ter cicatrizes. Muitas crianças estavam
vestindo roupas normais, como ele (embora com menos buracos e manchas),
mas algumas usavam longos mantos escuras e chapéus pontudos. Muitas delas
tinham corujas, ou carregavam gatos em cestas. Ele até viu uma menina com
um pequeno lagarto pendurado no ombro.
Só então que ele percebeu que alguém o encarava da estação. Outro menino, da
sua idade. Ele era alto e esguio, mas não magrelo como Remus. Tinha cabelos
pretos, mais longos que o de qualquer menino que ele já tinha visto, que se
enrolavam graciosamente em seus ombros. As maçãs de seu rosto eram
salientes, os lábios grossos e olhos surpreendentemente azuis. Quando o
menino percebeu que Remus o encarava, arqueou uma sobrancelha perfeita em
um gesto que claramente significava 'o que você está olhando?'
Remus colocou sua língua por debaixo de seu lábio inferior, fazendo seu
queixo inchar em uma careta feia. O outro menino sorriu levemente,
levantando os dois dedos para ele. Remus quase gargalhou.
"Sirius, o que você pensa que está fazendo? Venha para cá de uma vez." Uma
mulher severa, com as mesmas sobrancelhas angulares que o garoto, apareceu
em sua visão, arrancando seu filho de frente da janela. O menino rolou os
olhos, mas obedeceu, desaparecendo plataforma a dentro.
Remus jogou suas costas sobre o estofado de couro batido e suspirou. Estava
ficando com fome. Esperava que a viagem não fosse ser tão longa. A Matrona
havia empacotado dois sanduíches de queijo e picles e uma maçã, mas Remus
não achava que estavam com uma cara muito boa.
Ela continuou acenando enquanto o trem andava, e seus pais faziam o mesmo,
mandando beijos. Uma garota de cara azeda estava parada ao lado deles, seus
braços cruzados. Quando o trem já havia deixado a estação completamente, a
menina ruiva se sentou de frente para Remus, suspirando profundamente. Ela o
olhou com grandes olhos verdes, molhados de lágrimas.
"É tão horrível dizer adeus, não é?" Ela possuía um sotaque de classe média.
"Eu não consegui acreditar quando recebi a minha carta," ela sorriu
calorosamente, se animando, "mas eu mal posso esperar para ver como a
escola é, você também está ansioso?"
Remus não conseguia pensar em como responder ela – mas ele não precisou. A
porta se abriu mais uma vez e um garoto colocou a cabeça para dentro. Ele
tinha cabelos longos e pretos, como o menino para quem tinha feito careta, mas
estes eram incrivelmente lisos. Tinha um longo nariz e uma expressão
carrancuda.
"Aí está você, Lily, estou te procurando faz tempo." Disse enquanto lançava a
Remus um olhar enojado, o tipo de olhar que ele já estava acostumado a
receber.
"Sev!" Lily pulou de seu assento e jogou seus braços em torno do menino,
"Estou tão feliz em te ver!"
Ele lhe deu tapinhas no ombro timidamente, suas bochechas ficando rosa.
"Ah..." Lily olhou para trás, "Remus pode vir? Ele está sozinho."
"Eu não tenho certeza," O outro menino, Sev, olhou para Remus de cima a
baixo, o investigando pedaço por pedaço. O corte de cabelo raspado, seu jeans
desgastado, a camiseta surrada, a mala de segunda mão. "Talvez não
haja tanto espaço assim."
"Sai daqui, então. Eu não quero ir para o seu vagão idiota mesmo." Então,
olhou para fora da janela de propósito.
Lily e o outro menino saíram. Remus deixou seus pés escorregarem de volta
para o chão. Ele suspirou. Estava barulhento do lado de fora, e ouvir gritos,
risos, corujas piando e alguns estudantes mais jovens ainda chorando. Mais
uma vez, ele se viu trancado longe de todos os outros. Estava começando a
pensar que talvez esse seria o fardo da sua vida. Talvez, quando chegassem a
Hogwarts, eles o forçariam a dormir em uma cela sozinho também.
Houve uma batida repentina na porta – um som curto e animado – e então ela
se abriu mais uma vez. Remus afundou ainda mais em seu assento, enquanto
um menino de rosto amigável com cabelos escuros bagunçados e óculos
redondos entrou, sorrindo.
"Olá!" Ele estendeu sua mão para Remus, "Primeiro ano? Eu também sou, meu
nome é James." Ele acenou sua cabeça para trás na direção de um menino
baixinho que o seguia. "Este é Peter."
Remus apertou a mão de James. Fora fácil e confortável. Pela primeira vez, o
forte nó de seu estômago começou a se desatar.
"Remus."
"Podemos sentar aqui? Todos os outros vagões estão cheios e Peter está
ficando enjoado por causa da viagem de trem."
"Sabe em qual casa você vai ficar?" James perguntou a diretamente a Remus.
Ele balançou a cabeça. Não sabia nada sobre casas. Será que eram o lugar onde
eles dormiriam? "Seus pais eram de qual casa?" James insistiu. "Eles
estudaram em Hogwarts?"
"Meu pai estudou sim, mas eu não sei de qual casa ele era. Minha mãe não. Ela
era norm—trouxa."
"Você é mestiço?"
Remus ia perguntar o que era um mestiço, quando a porta se abriu de novo. Era
o menino bonito que havia lhe mostrado o dedo na estação. Ele encarou todos
furtivamente.
"Acho que não." James respondeu, sorrindo, "James Potter." Ele estendeu sua
mão novamente. O outro a apertou.
"Ah ótimo, um Potter. Meu pai me disse para não falar com você." Se sentou
ao lado de Remus, rindo, "Sirius Black."
3. Primeiro Ano
A Seleção
Ninguém mais parecia interessado, exceto pela garota ruiva - Lily - e algumas
outras crianças cujos pais também deveriam ser trouxas. Remus estava com
seu uniforme agora e se sentia um pouco melhor por estar vestido como todo
mundo. Os outros alunos se sentavam em longas mesas de banquete, sob as
bandeiras de suas casas. James explicou com entusiasmo as diferenças entre
cada casa, para grande desgosto de Sirius e Peter, que estavam convencidos de
que acabariam no lugar errado. Remus não sabia se deveria ficar nervoso, não
conseguia ver como isso importaria para ele; provavelmente seria expulso após
sua primeira aula de qualquer maneira. Quanto mais tempo Remus passava
entre bruxos, mais ele se convencia de que não poderia realmente ser um.
Professora McGonagall, uma bruxa magra de rosto severo que liderou todos os
primeiros anos no corredor estava agora de pé ao lado de um banquinho,
segurando um velho e esfarrapado chapéu marrom. Este era o teste sobre o
qual James falou. Eles tinham que colocar o chapéu, então de alguma forma
cada um seria classificado em uma das casas. Remus olhou para cada uma das
bandeiras. Já sabia que não iria acabar na Corvinal; não se você tivesse que ser
inteligente. Aquela com o texugo não lhe despertou muito interesse – eram
animais meio desanimadores, especialmente em comparação as cobras. E se
fosse para escolher uma gravata, gostava da cor verde também. Mas então,
James e Peter eram entusiastas da Grifinória, e visto que foram as únicas
pessoas a serem amigáveis até agora, não se importaria de ficar com eles.
Sirius Black foi o primeiro do grupo a ir, e ele parecia positivamente nauseado
a se aproximar do banquinho. Houve alguns assobios da mesa da Sonserina -
algumas alunas mais velhas estavam chamando por ele, duas jovens com
cachos escuros e as mesmas maçãs do rosto salientes e lábios carnudos que
Sirius, que agora estava tremendo no banquinho. O salão ficou em silêncio por
alguns momentos quando o chapéu pousou na cabeça de Black.
"Grifinória!"
"Hmmm," uma voz suave soou em seu ouvido. Era o chapéu. Remus tentou
não se envergonhar enquanto ele ronronou baixinho, "Você é diferente, não é?
O que devemos fazer com você ... talvez Corvinal? Há um bom cérebro aqui. "
Remus arrancou o chapéu da cabeça assim que ele o classificou, sem esperar
que McGonagall o removesse. Correu para a mesa da Grifinória, mal
registrando os aplausos e comemorações ao passar. Se sentou em frente a Lily
e Sirius. Lily lhe direcionou um sorriso contente, mas ele apenas olhou para o
prato vazio.
"Isso é ótimo!" Ele se dirigiu aos três outros meninos: "Todos nós
conseguimos!"
"Fale por si mesmo", respondeu ele, a voz ligeiramente abafada, "Meu pai vai
me matar."
"Sr. Lupin," ela disse baixinho, mas não tão baixo que os outros meninos não
pudessem ouvir, "Você poderia vir ao meu escritório depois do jantar? É ao
lado da sala comunal da Grifinória, um dos monitores pode mostrar a você. "
Remus acenou com a cabeça, mudo, e ela saiu.
"Sobre o que foi aquilo?" James perguntou: "McGonagall já quer ver você?"
Até Sirius ergueu os olhos agora, curioso. Remus deu de ombros, como se ele
não se importasse de qualquer maneira. Ele sabia o que eles estavam pensando
- o garoto rude já estava em problemas. Sirius estava olhando para seu olho
roxo novamente. Felizmente, a comida apareceu, distraindo a todos. E
realmente tinha "aparecido" - os lugares anteriormente vazios foram
repentinamente preenchidos com um banquete real. Frangos assados dourados,
pilhas de batatas gratinadas crocantes, pratos de cenouras fumegantes, ervilhas
nadando em manteiga e uma enorme jarra de um rico molho escuro. Se a
comida fosse assim o tempo todo, Remus achava que conseguiria ignorar
chapéus falantes e colegas de casa esnobes.
"Entre." Uma voz veio de dentro. Remus abriu a porta. O escritório era
pequeno, com uma pequena lareira bem organizada e fileiras de livros contra
uma parede. McGonagall estava sentada atrás de uma mesa imaculadamente
arrumada. Ela sorriu levemente e gesticulou para Remus se sentar na cadeira
em frente. Ele o fez, fungando e esfregando o nariz.
"Achei melhor falar com você o mais rápido possível sobre sua ... condição."
Ela disse, calmamente,
"Dumbledore explicou que você teve uma interação mínima com o mundo
mágico até agora, e eu sinto que é meu dever informá-lo de que as pessoas com
seu problema específico enfrentam uma grande quantidade de estigma. Você
sabe o que significa 'estigma'? "
Remus concordou. Ele não sabia soletrar, mas conhecia a palavra bem o
suficiente.
"Eu quero que você saiba que enquanto estiver em minha casa, eu não vou
tolerar ninguém te tratando de forma diferente ou rude. Isso se aplica a todos
os alunos sob meus cuidados. No entanto, " ela limpou a garganta, " é prudente
que você tenha cautela ".
"Eu não vou contar a ninguém." Remus respondeu, "Como se eu quisesse que
alguém soubesse."
"Bem, certamente." McGonagall acenou com a cabeça, olhando para ele com
curiosidade. "Isso me leva ao meu próximo ponto. Arranjos foram feitos para a
lua cheia - que ocorrerá neste domingo, eu acredito. Se você puder se reportar
a mim depois do jantar, vou lhe mostrar aonde ir. Talvez você pudesse dizer a
seus amigos que vai visitar alguém em casa? "
"Posso ir agora?"
A professora acenou com a cabeça, franzindo ligeiramente a testa.
Lá fora, Remus encontrou James ainda parado, sozinho, esperando por ele.
"Eu disse que ficaria bem." Remus disse, irritado. James apenas sorriu,
"Sim, mas você perdeu Longbottom nos dando a senha. Não queria que você
ficasse aqui a noite toda. Vamos lá."
James o conduziu até o final do corredor, onde estava pendurada uma grande
pintura de uma mulher voluptuosa vestindo rosa.
Peter estava vasculhando suas próprias coisas, tirando roupas, revistas e livros,
fazendo uma bagunça terrível.
"Não consigo encontrar minha varinha," ele lamentou. "Mamãe me fez guardá-
la para que eu não perdesse no trem, mas não está aqui!"
"Pete", James sorriu, "sua mãe me pediu para cuidar dela, lembra?"
"Se anima, cara", disse James, sentando-se ao lado dele, "Você não queria ir
para a Sonserina de qualquer forma, queria?"
"Bem, já era hora de alguém tentar ser diferente, hein?" James deu um tapa nas
costas dele jovialmente.
Remus abriu seu baú. Dentro havia um grande caldeirão de estanho - outro
item que Dumbledore pegou dos suprimentos de segunda mão, ele imaginou.
Havia também uma caixa longa e fina no fundo, com uma nota no topo.
"Sabe," James disse a Sirius, ainda empilhando livros, "Há uma biblioteca
aqui."
Sirius sorriu,
"Eu sei, mas a maioria desses são livros trouxas. Meu tio Alphard os deixou
para mim, e minha mãe colocaria fogo em todos eles se eu os deixasse em
casa. "
"Isso é Abbey Road ?!" Ele perguntou, olhando para a caixa de vinil.
"Sim," Sirius sorriu, entregando-o a ele. Remus limpou as mãos em suas vestes
antes de pegá-lo, manuseando-o com cuidado. "Você deve ser nascido trouxa."
Sirius disse, "Nunca encontrei um bruxo que conhecesse os Beatles - exceto
minha prima, Andrômeda. Ela que comprou para mim."
"Eu amo os Beatles, um dos meninos do meu quarto lá em casa tem pelo
menos umas dez músicas, mas nunca me deixa tocar nenhuma."
"Meninos em casa?" Sirius arqueou uma sobrancelha. Remus achou que ele
parecia muito adulto, "Você quer dizer seu irmão?"
"Sabe, eu pensei que ele se esforçaria mais para fazer amigos", sussurrou Peter
em voz alta para os outros dois meninos. "Especialmente se ele é nascido
trouxa."
"Tem certeza de que o chapéu não deveria ter colocado você na Sonserina?"
Sirius falou lentamente. Peter ficou quieto depois disso.
4. Primeiro Ano
Lua Cheia
Não eram apenas seus sotaques que indicavam isso, mas também o que diziam.
Remus crescera com adultos constantemente gritando 'fique quieto!', e garotos
que enchiam o saco se você dissesse mais palavras que necessário e desse uma
de espertinho. James e Sirius falavam como personagens de um romance; o
vocabulário cheio de metáforas descritivas e sarcasmo mordaz. A inteligência e
perspicácia deles era muito mais intimidante do que um soco no rosto, Remus
pensou – pelo menos um soco era rápido.
Até agora ele evitara os outros garotos fazendo caminhadas pelo castelo. Em St
Edmund's, tinha pouca liberdade pessoal e passava a maior parte do tempo
trancado em quartos. Em Hogwarts, parecia que não havia um lugar que você
não pudesse ir, e Remus estava determinado a descobrir cada centímetro do
bizarro terreno.
Os alunos receberam mapas para ajudá-los a encontrar suas salas de aula, mas
Remus achou que o dele estava faltando muitas coisas e fora excessivamente
simplificado. Não mostrava, por exemplo, uma passagem secreta que ele tinha
encontrado, cuja levava das masmorras ao banheiro feminino do primeiro
andar. Não fazia ideia por que diabos alguém precisaria de uma conexão entre
os dois lugares, e a primeira vez que a usou foi abordado por um fantasma
particularmente irritante que esguichou sabonete nele. Também teria sido útil,
raciocinou Remus, animar o mapa da mesma forma que as pinturas - então,
pelo menos, você poderia acompanhar as ridículas escadas móveis. Tinha
quase certeza de que uma das salas também se movia, pois nunca parecia estar
exatamente no mesmo lugar.
"Boa noite, Sr. Lupin," McGonagall sorriu, "Obrigado por ser tão pontual.
Venha comigo."
"Eu vou ficar bem. Como faço para voltar de manhã? "
"Eu vou passar assim que o sol nascer," Madame Pomfrey o assegurou. "Fazer
seus curativos e te mandar para as aulas antes que alguém perceba que você
partiu." Ela sorriu, mas seus olhos pareciam tristes. Isso deixou Remus
desconfortável. Mas então, estava chegando aquele ponto da noite em que tudo
o deixava desconfortável, seu cabelo coçava, sua pele parecia muito apertada,
sua temperatura subia.
"É melhor vocês irem." Ele disse, rapidamente, retirando-se para a sala vazia.
Havia uma pequena cama contra uma parede com lençóis limpos. Parecia que
tinham sido colocados lá para ele.
Ele gemeu e chiou até que a dor fosse demais, então gritou. Só podia confiar
que estivesse longe o suficiente da escola para que ninguém pudesse ouvi-lo.
Ao todo, demorou cerca de vinte minutos - embora nunca tivesse realmente
cronometrado. As coisas ficaram nebulosas depois, nem sempre conseguia se
lembrar do que acontecia depois que se tornava o lobo. Aquela primeira noite
em Hogwarts foi um borrão, e ele acordou com menos ferimentos do que o
normal. Suspeitou que o animal havia farejado o território desconhecido,
testando seus limites, e tentado se jogar contra as portas ou janelas em algum
momento, porque o lado esquerdo de seu corpo ficou com uma fila de
hematomas por vários dias.
A transformação de volta foi tão desagradável quanto - uma sensação
esmagadora de aperto que o deixou sem fôlego e dolorido. Ele enxugou as
lágrimas dos olhos e rastejou para a cama, grato por uma hora tranquila de
sono antes de o sol nascer completamente.
"Eu não gosto da sua aparência", disse ela, quando ele abriu os olhos
sonolentos, "É uma loucura, pensar que você pode começar um dia escolar
inteiro assim. Você está exausto! "
Ninguém nunca havia expressado tal preocupação por ele antes, e isso o deixou
inquieto. Ele a empurrou, e se vestiu.
Ela o fez beber algo antes de deixá-lo se levantar - tinha um gosto frio e
metálico, mas ele se sentiu melhor depois. Correu até a torre da Grifinória para
colocar seu uniforme o mais rápido possível - não queria perder o café da
manhã, estava faminto.
"Onde você estava?!" James o abordou assim que ele entrou no quarto. Os
outros três meninos estavam todos acordados e vestidos, de aparência
impecável - exceto o cabelo de James, que sempre espetava na parte de trás.
"Lugar nenhum." Remus passou por ele para pegar suas coisas.
"Você está bem?" Sirius perguntou, olhando para longe do espelho onde estava
arrumando seu próprio cabelo.
"Caiam fora."
"Estamos apenas sendo legais." Peter disse, com as mãos na cintura. Os três
olharam para Remus, que estava prestes a tirar a camiseta quando se lembrou
dos hematomas.
"O que?!" Rosnou para eles, "Vocês todos vão ver eu me vestir? Vocês garotos
riquinhos são um bando de viados.” Ele marchou para o banheiro com suas
roupas e bateu à porta. Depois de alguns momentos, ouviu Peter reclamar que
estava com fome e todos foram embora.
5. Primeiro Ano
Poções
Transfiguração foi tão interessante quanto, mas muito mais séria, já que foi
liderada pela Professora McGonagall. Não haveria nenhum trabalho prático
durante a primeira semana, ela explicou, mas passaria muitos deveres de casa a
fim de avaliar os níveis de habilidade de todos.
Ele estava realmente ansioso por Poções, esperando pelo menos ver algo
explodir, como em química, mas a aula acabou envolvendo uma grande
quantidade de leitura também, e pior ainda, eles tiveram que dividir a aula com
os outros alunos do primeiro ano da Sonserina. O professor de Poções estava
irritantemente alegre e levou quase meia hora apenas para ler a lista de
presença.
"Black, Sirius - aha, aí está você! Fiquei bem surpreso com você durante a
cerimônia de seleção, meu menino, bem surpreso! Eu tive cada um dos Black's
na minha casa desde que comecei a ensinar! Não leve para o lado pessoal,
jovem Sirius, mas estarei esperando grandes coisas! "
"Um Potter e um Pettigrew, hein? Bem, bem, junto com o Sr. Black aqui, essa
classe tem um pedigree e tanto, não? Deixe-me ver ... Lupin! Eu conheci seu
pai; não um dos meus, mas um dualista muito bom. Uma pena o que
aconteceu..."
Remus piscou. Ele se perguntou se Slughorn sabia que ele era um lobisomem.
A turma inteira estava o encarando - sabiam que fora criado em um lar infantil
e que seu pai era um bruxo (Remus suspeitava que Peter havia contado a eles),
mas ninguém ousou perguntar muito mais. Parecia haver outro boato de que
ele era violento e possivelmente fazia parte de uma gangue. Tinha certeza de
que James e Sirius estavam encorajando isso também, e ele não se colocou
contra.
"A melhor coisa é já se concentrar e começar!" Ele sorriu, "Agora, se todos nós
trabalharmos quatro por um caldeirão, vocês poderão se revezar para seguir os
passos ..."
Remus decidiu que esperar até que todos estivessem agrupados para ver se ele
conseguiria se safar apenas se escondendo no fundo pelo resto da aula.
"Remus! Você pode se juntar a nós!" Lily agarrou seu pulso e puxou-o para o
caldeirão que ela estava dividindo com Severus Snape - seu amigo de nariz
comprido cujo Remus conheceu no trem - e Garrick Mulciber, um menino
bruto de nariz arrebitado de quem Remus tinha um pouco de medo.
Lily já estava tagarelando, colocando todos os ingredientes e esquentando o
caldeirão com cuidado. Ela estava olhando para o livro de Severus, que já tinha
anotações rabiscadas nas margens.
"Você pode ser bastante liberal com eles, Lily, não acrescentam muito no
geral." Severus falou lentamente, parecendo entediado. Lily os mediu de
qualquer maneira e os despejou na mistura borbulhante. Mulciber então pegou
o livro e mexeu por cinco minutos, recebendo instruções de Severus sobre a
velocidade de ir e em que direção. Então foi a vez de Remus. Lily entregou-lhe
o livro.
Encarou a página. Podia ver que eram instruções, conseguia entender talvez
metade das palavras, mas cada vez que pensava ter entendido, as letras
pareciam mudar na página e ele se perdia de novo. Suas bochechas ficaram
quentes e se sentiu um pouco enjoado. Encolheu os ombros, olhando para
longe.
““Deixe-o em paz, Sev," Lily repreendeu. "O livro está coberto por suas
anotações, não é à toa que ele não consegue entender. Aqui, Remus," ela abriu
seu novo livro de poções. Mas não adiantou. Remus encolheu os ombros.
"Por que você mesmo não faz, se é tão inteligente." Ele retrucou para Severus.
"Oh Merlin," os lábios de Severus se curvaram, "Você sabe ler, não é? Quero
dizer, até mesmo as escolas trouxas ensinam isso, certo? "
"Severus!" Lily engasgou, mas o garoto presunçoso não teve a chance de dizer
mais nada - Remus se jogou por cima da mesa em direção a Severus, os
punhos voando. Ele só tinha o elemento da surpresa a seu favor - Mulciber
agarrou seu colarinho e o puxou para trás, dando um soco bem no seu rosto,
tudo em questão de três segundos.
"Isso não é justo!" James disse, repentinamente do fundo da sala "Devia ser o
dobro da Sonserina, foram dois contra um!"
"De onde eu estava, foi o Sr. Lupin quem começou," Slughorn respondeu, mas
balançou a cabeça mesmo assim, "Ainda assim, você está certo - Mulciber,
cinco pontos por socar Remus. Violência não resolve violência, você sabe,
como eu disse ao seu irmão mais velho em várias ocasiões. Srta. Evans, por
favor, leve o Sr. Snape para a ala hospitalar. Lupin, você pode limpar a
bagunça que fez. "
Remus não conhecia nenhum feitiço de limpeza, então teve que limpar à mão.
Slughorn até o fez limpar o sangue de Snape do chão. Infelizmente, sendo logo
após a lua cheia, o cheiro forte de ferro fez seu estômago roncar. James, Sirius
e Peter estavam esperando Remus do lado de fora após o término da aula.
"Aquilo foi brilhante, cara," James deu um soco de leve no braço de Remus,
"O jeito que você só foi atrás dele!"
"Mulciber estava aqui se gabando depois, contou a todos o que Snape disse."
Sirius acrescentou, "Você estava certo em fazer isso - que idiota."
"Não se preocupe, todos ficaram do seu lado." James disse: "Bem, exceto os
sonserinos."
"Então." James disse na noite de domingo: "Como vamos nos vingar deles?"
"Se vingar de quem?" Peter perguntou sem erguer os olhos, procurando algo
em suas anotações.
"Ei, você já fez, Lupin?" Sirius olhou para cima. Remus tinha aberto seu livro,
mas sequer o olhara.
"Você pode copiar o meu se quiser." James deslizou sua redação sobre a mesa.
Remus empurrou de volta, cerrando os dentes.
"Ninguém disse que você era." James respondeu, casualmente. Sirius estava o
observando, no entanto. Remus queria bater nele, mas estava tentando se
controlar melhor - James e Sirius às vezes brincavam de luta, mas nunca
tentaram se machucar de verdade, como ele fizera com Snape. Forçando-se a
engolir seu temperamento, Remus optou por mudar de assunto.
Isso tinha sido uma questão de grande confusão para Remus - a roupa suja
simplesmente desaparecia e ressurgia - limpas e dobradas em seus baús. Ele
nunca vira alguém nos quartos e não conseguia entender como acontecia.
"Eu gosto da ideia." James respondeu, mastigando sua pena: "Mas algum de
vocês tem pó para coceira?"
"Pode ser", respondeu James. "Porém queria que a gente o fizesse o mais cedo
possível. Sabe, atacar enquanto o ferro ainda está quente. "
"Não precisamos comprar pó para coceira", disse Remus, tendo uma ideia, de
repente, "Vocês acham que eles têm rosa mosqueta na estufa?"
"Uhum," Peter falou, a cabeça ainda inclinada sobre o dever de casa, "Para
poções de cura de artrite, eu acho."
"Os pelos de dentro dão muita coceira." Remus explicou, animado, "A
Matrona - a mulher que cuida do abrigo infantil - os cultiva, e se você desse
trabalho, era obrigado a plantar eles sem luvas." As pontas de seus dedos se
irritaram só de pensar nisso.
"Boa ideia, no entanto!" Sirius sorriu. "No próximo intervalo, vamos dar uma
olhada. Então, podemos plantar eles - com luvas - e depois colocá-los nos
lençóis dos Sonserinos. Excelente!"
"Como vamos entrar nos dormitórios da Sonserina?" Peter perguntou,
finalmente terminando seu trabalho.
***
Obter a rosa-mosqueta foi fácil. Eles enviaram Peter, o único deles que ainda
não tinha recebido uma detenção e, portanto, estava sendo menos observado.
Peter era pequeno e bom em não ser visto; ele se esgueirou para a estufa
durante o intervalo da manhã e voltou com o rosto vermelho e alegre - um jarro
cheio sob a capa do uniforme.
"Mal posso esperar para ver a cara deles." Sirius estava sorrindo, sentado de
pernas cruzadas no chão ao lado de James. Remus observou, sentado na beira
da banheira, as duas cabeças escuras de James e Sirius curvadas sobre o
trabalho. Estava com um pouco de inveja da amizade. Eles tinham muito em
comum – ambos cresceram com magia, em famílias ricas e eram
completamente loucos por quadribol. Além disso, era claro que depois de
apenas três semanas, James e Sirius garantiram uma reputação de reis do
primeiro ano. Todos prestavam atenção quando eles falavam, riam quando
faziam piadas. Ninguém nem se aborrecia quando eles perdiam pontos da casa.
"Eu ainda não sei como vamos entrar nos dormitórios da Sonserina – nem
Peter é tão sorrateiro." Sirius olhou para James. Estava tentando convencer o
menino de óculos a revelar seu plano desde que tinha o mencionado.
Era terça-feira à noite quando finalmente tiveram uma chance. James decidiu
que fariam isso antes que todos fossem para a cama. Também determinou que
deveriam ir para os dormitórios da Sonserina separadamente, para evitar serem
vistos juntos e descobertos. Remus pessoalmente achou que isso era um
exagero, mas concordou, não querendo estragar a diversão do outro garoto.
Eles jantaram muito mais rápido do que o normal naquela noite, antes de se
levantarem da mesa um de cada vez e deixarem o salão. Peter parecia muito
nervoso - Remus pensou que ele entraria em pânico no último minuto e os
entregaria. Então fez questão de ficar perto do garoto menor, caso precisasse
tapar a boca dele ou puxá-lo para trás em algum momento.
Tinha pensado em manter essa passagem específica para si, mas como já havia
encontrado alguns outros bons esconderijos, pensou que não doeria
compartilhar esse com os meninos. Afinal, com que frequência precisaria ir até
as masmorras?
James riu, aquele sorriso irritante que ele vinha exibindo desde domingo.
"Ah ... ok então, aqui, segure isto," ele empurrou o pote de sementes de rosa
mosqueta nas mãos de Sirius, abrindo o uniforme.
Ele retirou uma capa muito longa e volumosa, tecida com o material de
aparência mais estranha que Remus já vira - cinza prateado e cintilante.
"Não!" Sirius ficou boquiaberto, "Você não, Potter, você não tem ..."
James sorria de orelha a orelha - Remus pensou que seu rosto se dividiria em
dois.
O garoto desengonçado piscou para todos eles e então, com um floreio, passou
a capa pela cabeça, de modo que o encobria da cabeça aos pés. Ele
desapareceu.
"Está na família há anos." Ele disse, triunfante: "Papai me deixou trazer, desde
que minha mãe não descobrisse.
"Acho que todos nós cabemos aqui dentro", James demonstrou, esticando os
braços como um morcego, "Venham, bem juntinhos e confortável..."
Todos eles se acomodaram debaixo da capa, então andaram para frente e para
trás algumas vezes, até que pudessem caminhar juntos sem problemas.
Finalmente, tentando não rir ou sussurrar muito, os quatro garotos invisíveis
seguiram para as masmorras. Remus mostrou quais ladrilhos bater para que o
chão da terceira cabine se abrisse.
"A gente vai sair por trás de um daqueles tapetes que eles penduram nas
paredes, nas masmorras" Remus respondeu, "Eu só olhei atrás dele."
"Hum ... acho que sim?" Remus estava feliz que nenhum deles pudesse ver seu
rosto.
"Cale a boca, Pettigrew." Sirius disparou. Remus sentiu um chute forte atingir
a parte de trás de seu tornozelo.
"Ei!", ele sibilou, chutando para trás com o dobro de força "Cai fora."
"Atrás daquela parede," Remus apontou, esperando que eles pudessem ver
onde ele estava mirando. Era uma parede de tijolos simples.
"Eu já os vi entrar antes," disse Remus, apressadamente. Não iria dizer a eles o
motivo de saber que havia duzentos sonserinos do outro lado porque o cheiro
de sangue e magia eram tão fortes que ele quase podia sentir o gosto.
"Não."
"Droga."
"Mostre o anel de novo, Bella!" Narcissa Black implorou à irmã mais velha.
Remus sentiu Sirius enrijecer, pressionando-se contra a parede. Bellatrix se
exibiu, estendendo um longo braço de marfim. Em seu dedo ossudo estava um
anel de noivado enorme e feio, prata e esmeralda, que estava exibindo desde o
início do semestre. Todos na escola sabiam que ela se casaria com Rodolphus
Lestrange, algum bruxo político, assim que concluísse seus NIEMs. Sirius
precisaria ir ao casamento.
"Lindo!" Ela chiou: "Oh, mal posso esperar para me casar ..."
"Espere sua vez," Bellatrix respondeu, sua voz era como unhas arranhando
uma lousa. "Assim que Lucius tiver uma posição melhor no ministério, tenho
certeza de que mamãe e papai concordarão com o casamento."
Pela primeira vez desde que chegara em Hogwarts, Remus estava realmente
grato por ter sido colocado na Grifinória. As diferenças entre a sala comum
aconchegante e confortável deles e a dos sonserinos eram gritantes. Está fora
construída como um salão de banquetes, em vez de uma sala de estar. As
paredes eram ricamente decoradas com tapeçarias ainda mais elegantes, a
lareira era enorme e ornamentada com esculturas e uma palidez verde macabra
pairava sobre tudo. Acima de tudo, o lugar parecia de alguma forma perverso.
Remus tentou não estremecer.
"Fique de olho, hein Petey?" Ele disse, correndo para dentro do quarto, "Será
que alguma dessas é a cama de Snape?"
"Está aqui pode ser," Sirius apontou, "Os lençóis parecem gordurosos o
suficiente." Todos os quatro meninos abafaram uma risadinha.
"Eles vão conseguir ver!" James disse, parecendo desapontado. Era verdade, as
pequenas sementes vermelhas brilhantes destacavam-se claramente contra os
lençóis brancos, mesmo no escuro.
"Bem ... se eles tentarem empurrar para fora da cama ainda vão entrar em
contato," Sirius ofereceu.
"Espere aí ..." Remus teve uma ideia repentina. Não sabia como tinha ocorrido
a ele, ou por que, mas de alguma forma tinha certeza de que iria funcionar.
Puxou sua varinha, mordeu o lábio e a balançou cautelosamente sobre a cama
que acabara de espalhar com as sementes. "Obfuscate." Ele sussurrou.
E assim, as sementes se foram. Bem, ele sabia que eles ainda estavam lá; mas
ninguém seria capaz de vê-las agora.
"Brilhante!" James encarou, "Como você fez isso? Flitwick ainda não nos
ensinou esse charme, não é? Estava na leitura?"
"Não," Remus deu de ombros, "Eu vi alguns alunos do quinto ano fazendo isso
com os doces que compraram do vilarejo, não é difícil de copiar."
"É melhor você fazer isso, Lupin, ou ficaremos aqui a noite toda." Ele decidiu.
Sirius tentou mais algumas vezes antes de desistir e deixar Remus assumir o
controle.
"Você vai me mostrar exatamente como fazer isso assim que estivermos de
volta em território neutro." Ele disse. Remus assentiu, embora não tivesse
certeza de como explicar. Ele só tinha feito isso por que acreditou que
provavelmente conseguiria.
"A gente realmente tem que fazer mais?" Peter perguntou, pulando de um pé
para o outro, "Isso não é o suficiente?"
"Nem de perto!" Sirius respondeu com uma risada, sacudindo a cabeça, "E se
ainda não tivermos nem chegado à cama do Snape? Temos que
pegar todos eles, Pete. Você está conosco ou não?"
Como James instruiu, todos eles ficaram o mais quieto possível até que
estivessem perto da torre da Grifinória, onde era seguro retirar a capa
novamente.
"Widdershins!" Todos eles cantaram para a mulher gorda, que se abriu para
eles.
"Biblioteca, obviamente."
"Eu gostaria de poder estar lá quando tudo começasse!" Sirius sussurrou, seus
olhos brilhando de alegria, "E eu queria ainda mais que pudéssemos ter
alcançado minhas primas."
Peter choramingou,
"Primeira missão?!"
7. Primeiro Ano
Marotos
"Aposto que ninguém vai aparecer por horas." Peter gemeu, dormente, apoiado
nos cotovelos.
"Não às seis da manhã." Peter respondeu, sorvendo seu chá. Sirius estremeceu
com o som e empurrou um prato para ele.
Remus pegou uma torrada também e cortou em quatro pedaços. Ele espalhou
marmelada em um quarto, geleia no segundo, manteiga no terceiro e coalhada
de limão no último. Ignorou o olhar curioso que Sirius estava direcionando a
ele. Remus nunca teve tantas opções antes, e estava determinado a aproveitar
ao máximo cada refeição.
Felizmente, eles não tiveram que esperar muito antes que os outros alunos
começassem a chegar para o café da manhã. Os primeiros sonserinos chegaram
bem quando Remus estava terminando sua torrada. Três meninos e duas
meninas; terceiro ano. Eles foram até a mesa, sem perceber os quatro
grifinórios ansiosos os observando atentamente. Por alguns momentos, foi
como se nada estivesse diferente. Sirius suspirou desapontado. Mas então. O
garoto mais alto se mexeu ligeiramente na cadeira, esfregando o braço. Outro
parecia estar procurando por algo em seu bolso, mas do ponto de vista de
Remus, ele estava claramente coçando a perna furiosamente. O terceiro
continuou usava a varinha para esfregar atrás da orelha.
"Funcionou!" James sussurrou, sem fôlego de excitação. Até Peter parecia
alegre agora.
Por volta das sete horas, a mesa da Sonserina estava cheia de meninos se
contorcendo e se arranhando, e garotas de aparência horrorizada. Amycus
Carrow, um garoto corpulento do sexto ano, eventualmente arrancou seus
robes, o suéter da escola e até mesmo a gravata para agarrar o peito que Remus
podia ver que já estava em carne viva. Ele quase sentiu pena deles.
Mas então Snape entrou. Fosse por carma ou por pura sorte, Severus parecia
ter reagido particularmente mal às sementes de rosa mosqueta. Ele entrou com
a cabeça baixa, o cabelo caindo sobre o rosto, mas seu nariz ainda estava
visível e claramente vermelho.
"Oh Merlin!" Sirius ofegou, rindo tanto que estava segurando o estômago. "Me
diga que pegamos o rosto dele!"
Snape se virou, olhando para cima; seu cabelo repartido. O lado esquerdo de
seu rosto estava coberto por uma erupção vermelha de alergia, das têmporas
até o pescoço, desaparecendo sob o uniforme. Seu olho esquerdo também
estava vermelho, a pálpebra inchada e irritada.
Sirius e James exibiam uma alegria de como se todos o natal tivessem chegado
mais cedo, e até mesmo Peter tinha se animado de uma forma extraordinária -
lembrando a todos que ele tinha ficado de guarda, afinal, tornando toda a
aventura possível.
"Foi tudo ideia de Lupin, no entanto," Sirius respondeu, dando um tapa nas
costas de Remus, "O que devemos fazer para comemorar, hein? Bombinhas
explosivas? Invadir as cozinhas?"
Remus afastou Sirius, sorrindo educadamente.
"Bem, o que quer que vocês façam, será sem mim", respondeu ele, "tenho
detenção dupla."
"Do Slughorn?"
Remus deu de ombros. Ele estava sempre sendo punido em St. Edmund's -
todos os meninos eram. A detenção não o incomodava. Embora as bombinhas
explosivas parecessem muito divertidas.
"Talvez seja melhor você começar a fazer sua lição de casa?" Sirius disse,
gentilmente. Remus revirou os olhos, levantando-se da mesa.
"Vamos lá", disse ele, "Primeiro é Defesa Contra as Artes das Trevas, pensei
que vocês dois adoravam essa aula."
***
Mais tarde naquele dia, Remus estava a caminho de sua detenção com
Slughorn, quando encontrou Lily Evans. Ficaria perfeitamente feliz em seguir
andando, mas ela sorriu e acertou o passo com ele.
"Oii Remus"
"Oi."
Ele assentiu.
"Eu também. Eu tenho que dizer a Slughorn que Severus não pode atender a
detenção. "
"Ah, certo."
"Louco, não é?" Lily continuou, "Pobre Sev, era alérgico ao que eles usaram.
Madame Pomfrey deu-lhe uma poção para dormir enquanto o inchaço diminuí.
Remus deu uma risadinha, sem pensar. Ele olhou para Lily, que estava olhando
para ele com reprovadores olhos verdes. Ela balançou a cabeça.
"Olha, eu sei que ele não foi muito legal com você. Outro dia em Poções ou no
trem. Ele é ... bem, ele é um pouco esnobe, ok? "
Remus bufou.
"Mas eu queria pedir desculpas." Lily continuou, "Eu preciso enfrentá-lo mais.
Não deveria deixar ele se livrar fácil. Ele é realmente uma pessoa muito legal
quando você o conhece. "
"Se você diz." Remus parou de andar. Eles estavam fora do escritório de
Slughorn agora. A porta estava fechada, e as vozes estavam altas do outro lado.
"Horace, seja quem for, deve ter sido um Sonserino!" Era a professora
McGonagall, "Quem mais teria a senha?"
"Você disse que apenas os dormitórios dos meninos foram afetados. Talvez
fosse uma das meninas."
"É mesmo!"
"Bem, quem mais? Pirraça? Ele nunca entra nas salas comunais - não entra nas
masmorras também, por falar nisso - tem muito medo do barão sangrento. "
"Pelo que Poppy disse, não era um produto da Zonko. Rosa Mosqueta, das
estufas."
Lupin sentiu um fio de medo correr por sua espinha. Se eles sabiam tudo isso,
seriam capazes de descobrir quem fez a pegadinha?
"Eu só queria saber quem fez isso!" Ele suspirou pesadamente. "Talvez a
verdade venha à tona. Acho que parece mais provável que fosse uma das
garotas da Sonserina do que ... "
"Bem, sim."
"Isso não quer dizer que sua detenção comigo foi cancelada. Venha agora,
vamos começar cedo."
***
McGonagall o fez escrever as linhas por uma hora - nada mal, considerando
que estava acostumado à palmatória em St. Edmund's. Não se importava de
copiar e repetir; era reconfortante. Vou completar todas as tarefas definidas.
Talvez engolisse o orgulho da próxima vez e copiasse a lição de casa de James.
Ou de Peter, se não quisesse parecer muito suspeito. Mas sabia que James iria
perguntar por que Remus nunca lia o texto dado. E se contasse, tinha certeza
que James e Sirius o fariam explicar a situação à McGonagall - os dois garotos
possuíam uma fé inabalável nos professores de Hogwarts. Remus, no entanto,
nunca conheceu um adulto em quem confiasse. Ela o mandaria de volta para
St. Edmund's imediatamente. De que adiantava para alguém um bruxo
analfabeto?
Assim que sua detenção acabou, ele passou pelo buraco do retrato e entrou na
sala comunal para encontrar seus três companheiros de quarto o esperando.
Peter e James estavam envolvidos em um jogo de xadrez muito sério (é claro
que as peças estão se movendo. Remus pensou consigo mesmo, tudo tem que
se mover neste maldito castelo) enquanto Sirius escutava um de seus discos
através de fones de aparência nova e muito chique. Remus estava morrendo de
vontade de ouvir, mas ainda não tinha criado coragem de pedir emprestado.
"Só tive que fazer uma no final," Remus explicou, "Slughorn me liberou, muito
ocupado tentando resolver a coisa do pó de coceira."
Sirius riu ainda mais alto. Seus olhos brilhavam. Remus nunca tinha visto
alguém exibir tanta alegria. Isso o fez querer socá-lo e virar seu amigo, tudo ao
mesmo tempo.
"Não vamos falar sobre meninas." Sirius revirou os olhos, "Este pode ser o dia
mais importante de nossas vidas! Este é o dia em que nos tornamos lendas; o
dia em que nossa amizade foi forjada no fogo do pó de coceira!"
"Eles não sabem que fomos nós, sabem?" Peter perguntou, nervoso, arrumando
seu tabuleiro de xadrez. Remus balançou a cabeça.
"Slughorn acha que foi uma garota Sonserina. Ou uma gangue de marotos."
"Bem, apenas finja." Sirius balançou a cabeça, irritado, "Deste dia em diante,
nós somos os Marotos!"
Ele disse isso com um esplendor tão dramático que apenas um silêncio
atordoado preencheu os próximos segundos. James estava sorrindo, Peter o
encarava em busca de uma explicação, sem entender o que estava acontecendo.
Remus explodiu uma risada.
A lua cheia seguinte foi tão ruim quanto a última. Desta vez, o lobo estava
claramente inquieto, porque Remus acordou com uma série de cortes
profundos.
"E mais rápido ainda com magia," ela sorriu, com um floreio de sua varinha.
Os cortes fecharam quase instantaneamente. Remus encarou, pasmo.
"Você pode se livrar das cicatrizes também?" Ele perguntou, ansioso. Ela
balançou a cabeça tristemente.
"Tudo bem." Ele suspirou, vestindo-se para a escola. Desta vez, trouxe uma
muda de roupa e as deixou no túnel do lado de fora da cabana para evitar voltar
ao dormitório.
"Você não precisar ir às aulas hoje," Madame Pomfrey estava dizendo, "Não se
estiver muito cansado. Posso escrever um bilhete."
"Não é tão ruim por enquanto. Temo que as transformações comessem a cobrar
seu preço conforme você cresce."
"Você cuidou de outras crianças como eu, então?" Ele queria perguntar há
muito tempo, mas não tinha certeza como.
"Não, querido, você é o primeiro aluno de Hogwarts que eu conheço que foi..."
"Mordido?"
"Que foi mordido." Ela aceitou, agradecida: "Mas eu prometo que sei o que
estou fazendo. Já li muitas coisas sobre o assunto."
"Bem, sim." Soou surpresa. Ela se sentou na cama enquanto ele terminava de
se vestir. "Você pode pegar um deles emprestado, se quiser?"
***
Eles tinham Transfiguração primeiro, mas McGonagall não lhe deu detenção
por ter esquecido a lição de casa - ela obviamente decidiu ser mais tolerante
perto da lua cheia. Ela o fez prometer trazê-lo na próxima aula, e ele
concordou, esperando ter soado sincero. James, Sirius e Peter passaram metade
da aula tentando chamar sua atenção, mas ele firmemente os ignorou até que
McGonagall ameaçou separar os quatro.
Nos corredores indo em direção a Feitiços, Remus sabia que não havia como
escapar. Era uma boa caminhada de cinco minutos.
"Ah, qual é," James implorou, surgindo a sua direita, "Fala pra gente! Era o
mesmo lugar que você foi mês passado?"
"Talvez."
"Então onde-"
Remus estava muito ocupado evitando as perguntas para olhar onde estava
indo, e deu de cara com Snape, que estava virando a esquina. Já irritado,
Remus endireitou os ombros e tentou passar por ele, bruscamente.
"Eu sei que foi você que invadiu nossos dormitórios na outra noite." Sibilou:
"Todos vocês."
"Eu não posso, ainda. Mas eu vou. Vou me vingar também, eu prometo. "
"Foi sua ideia, Black?" Snape falou lentamente, "Ou sua, Potter? Deve ter sido
um de vocês. Pettigrew não tem coragem e o querido Lupin aqui claramente
não tem o cérebro para ... "
"Se movendo agora, cavalheiros." Uma voz aguda de repente soou no corredor.
Era o professor Flitwick, saindo de sua sala de aula para ver o que estava
acontecendo. "Severus, você está atrapalhando os corredores, e vocês quatro
deveriam estar na minha classe. Venham comigo."
Remus se sentiu febril e agitado pelo resto da aula de Feitiços, que geralmente
era sua aula favorita. Dependia mais do trabalho prático com sua varinha do
que de ler ou escrever, e muitas vezes ele se saía melhor do que James e Sirius.
Achando difícil se acalmar, ele continuou atirando suas almofadas pela sala
como mísseis, em vez de guiá-los com cuidado pelos aros que Flitwick
pendurara do teto.
"Espero que todos vocês consigam levitar este livro até o fim desta semana",
disse Flitwick no término da aula. O livro era enorme, cerca da metade do
tamanho do minúsculo professor, e parecia que até um homem adulto teria
problemas carregando esse livro muito longe. "Então venham preparados para
um teste rápido de suas habilidades."
Remus tinha conseguido se acalmar por volta da hora do almoço, mas ao final
da tarde ainda estava com problemas controlando sua magia, e estava grato
pelas ultimas aulas serem Herbologia e História da Magia. Não sabia se era seu
temperamento – cujo sempre foi forte – ou a lua cheia. Sempre teve muita
energia depois das transformações, antes mesmo de saber que podia fazer
magia. Agora sua varinha zumbia em sua mão como a estática de uma TV de
antena. Ele tentou um rápido "Lumos", escondido no box do banheiro entre as
aulas, e quase queimou as retinas.
Talvez o livro que Madame Pomfrey mencionou pudesse lhe contar mais sobre
o que estava acontecendo, mas não tinha como saber agora. Também poderia
haver livros na biblioteca, mas ainda não tinha checado. Ele conhecia a
palavra, bem o suficiente, e poderia soletrá-la caso concentrasse bastante. Mas
ele não ousou. Remus vivia com o medo de que se escrevesse no papel, ou
dissesse em voz alta de alguma forma, todos descobririam seu segredo. E era
melhor deixar esse tipo de coisa na sua cabeça.
***
Quinta-feira, 7 de outubro de 1971
Este perseguidor era muito mais sutil, menos óbvio em sua vigilância, mas
ainda era perceptível. Sirius. No começo, Remus achou que o outro garoto só
era intrometido - parte do privilégio que ele e James compartilhavam. Eles
tinham que saber tudo sobre todos. Estavam constantemente contando a Remus
e Peter sobre a vida dos outros - o pai de fulano foi recusado para uma
promoção no ministério anos atrás, por isso ele é meio rancoroso. A tia-avó de
Miranda Thrup já esteve sob investigação pelo uso ilegal de uma poção do
amor, e agora ninguém bebia chá na casa dos Thrup; O Professor Slughorn
sabia mais sobre as artes das trevas do que deixava transparecer, e o Clube do
Slug era famoso por transformar bruxos das trevas influentes.
Claro, nenhum deles sabia absolutamente nada sobre Remus, e no começo, ele
presumiu que era por isso que Sirius estava tão observador. Mas ele nunca fez
nenhuma pergunta direta, e se estava curioso sobre a família de Lupin ou sobre
sua criação, então era um interesse particular que James não compartilhava.
James raramente observava outras pessoas, Remus notou - ele preferia que
outras pessoas o observassem.
Ninguém mais pareceu notar, felizmente. Sirius foi cauteloso a esse respeito.
Só de vez em quando, Remus conseguia pegá-lo desprevenido, o olhando
fixamente com aqueles olhos azuis profundos. Ele nem tinha a decência de
desviar o olhar quando era pego - apenas suavizou sua expressão em um
sorriso amigável, que Remus era obrigado a devolver.
Sirius estava finalizando sua redação e já havia escrito dez centímetros a mais
sobre o uso de crisopas em elixires transformativos – além de diagramas.
Havia livros espalhados por toda a mesa que eles reivindicaram para si, junto
com tinteiros e rolos amassados de pergaminho. Peter estava tentando levitar
uma maçã e colocá-la em um cesto de lixo a um metro de distância. Até agora
conseguia levantá-la no ar, mas então ela balançava e caia novamente.
Exausto, Peter passou os dedos pelo cabelo novamente e consultou seu livro.
"Você vai conseguir, Pete, não se preocupe." James murmurou, sem tirar os
olhos do papel de Remus. "Continue tentando."
"Não é assim." Ele disse, sem rodeios. "É como um S de lado. Veja." Ele
executou o feitiço, sem esforço, levantando a maçã e jogando a no cesto com
precisão.
"Como um S, tem certeza?" Peter franziu a testa. Ele apontou sua própria
varinha para uma bola de papel amassada da mesa, "Wingardium Leviosa!" Ele
cantou, acenando sua varinha da mesma forma que Lupin havia feito. O papel
voou tremulamente para cima, em seguida, voou com um pouco menos de
elegância para dentro da lixeira, quicando pelas laterais enquanto caía no fundo
e pousava ao lado da maçã. Peter olhou com os olhos arregalados: "Eu
consegui!" Ele engasgou, "Uma forma de 'S', por que simplesmente não dizia
isso no livro?!"
"Muito bem, Pete." James disse, olhando para cima e sorrindo. Ele tirou os
óculos e esfregou os olhos, "Você deveria ser professor, Remus.”
"Estou quase terminando aqui, só preciso verificar uma coisa - você pode me
passar a Teoria da Magia? O livro do Waffling?"
Os alunos dos primeiros anos não tinham permissão de trazer suas próprios,
mas James dizia, a qualquer um que parasse por tempo suficiente para ouvir,
que possuía um modelo top de linha em casa.
"Certo, montem suas vassouras, por favor, senhoras e senhores," Hooch berrou
para o grupo, "O vento hoje está bom e forte, então quero que todos vocês
tomem cuidado. Potter, sem se exibir!"
"Um pouco mais alto, Lupin! Vamos lá!" Hooch ribombou de baixo, gritando
através de um megafone. Ele queria ignorá-la, mas não havia como escapar -
pelo menos em St. Edmund's, quando era obrigado a fazer corridas de trilha,
dava pra se esconder em um canto e fugir para cidade pela tarde.
Ele se empurrou mais alto, tentando olhar para frente e não para baixo;
tentando pensar em outra coisa senão no espaço vazio entre ele e o solo. Ele
podia ver a trança vermelha brilhante de Lily à frente como o rabo de uma
raposa, o cabelo loiro de Peter em algum lugar no meio do grupo. Embora ele
não pudesse ver muito à frente, ele sabia que James e Sirius estavam quase
pescoço a pescoço. Remus apenas avançou sem animação, não querendo ir
mais rápido. Quem se importava se ele fosse o último, pelo menos não
quebraria o pescoço ao chegar lá. Ao dobrar uma curva no final do campo, o
vento realmente o atingiu e ele tentou não desacelerar muito, inclinando-se
para a frente. Estava muito frio e o ar cinzento da manhã batia em seu rosto. A
segunda volta foi tão ruim quanto a primeira. No terceiro, ele notou que James
circulava cada uma das torres das arquibancadas vazias, apesar das
advertências de Madame Hooch. Na quarta volta, Remus teve companhia.
"Se divertindo?" Sirius sorriu, voando junto dele. Ele parecia tão confortável,
como se pudesse levantar as duas mãos sobre a cabeça, girar de cabeça para
baixo e voar para trás sem nenhum problema.
"O que você está fazendo?" Remus franziu a testa, tentando ignorá-lo.
"Tentando perder?"
"James vai ganhar," Sirius deu de ombros, "É melhor deixar ele ter seu
momento. Pensei em te fazer companhia."
"Não."
"Você não pode me socar aqui, Lupin, a menos que queira soltar sua vassoura."
"Sou." Sirius voou a frente dele, então ao seu redor, fazendo um círculo
perfeito.
"Hora de pousar ... lembre-se de esticar as pernas e inclinar-se para trás ...
depois, dobre os joelhos ao bater no ... ei!"
"Fora do meu caminho!" Ele gritou, indo mais rápido, "Você vai ser o último a
chegar ao menos uma vez!"
"Ah não, não vou mesmo!" Sirius agarrou a cauda da vassoura de Remus,
rindo e deu puxão para trás. Agora talvez tinham ido longe demais, já que
estavam ambos muito perto do chão. Os dois garotos trombaram um com o
outro, as vassouras voando longe por de baixo deles enquanto caíam numa
grande poça lamacenta, derrapando e rolando, encharcando suas vestes no
processo.
"O que eu disse sobre tomar cuidado com a poça?" Madame Hooch ergueu
uma sobrancelha, entretida. Ela geralmente via a diversão nas coisas. "Um
ponto de cada um da Grifinória. É melhor você irem se lavar no chuveiro.
Podem ir."
"Os elfos domésticos vão cuidar delas." Sirius respondeu, sacudindo as suas e
jogando as em uma pilha no canto.
Ele esfregou a cabeça com força. Sem os cortes mensais da Matrona, seu
cabelo estava ficando macio e mais comprido, espetado para cima na maior
parte do tempo, tão bagunçado quanto o de James. Ele finalmente conseguiu
ver a cor, mas ficou desapontado - parecia ser um marrom claro sem graça.
"O que é isso?!" Sirius disse, de repente. Remus olhou para cima e depois para
baixo. Sirius estava apontando para uma longa faixa prateada que se estendia
da sua clavícula esquerda a seu mamilo direito. Ele se atrapalhou com os
botões, tentando fechar a camisa mais rápido.
"Uma cicatriz." Murmurou. Não adiantava dizer mais nada agora. Ele mal as
notava. Simplesmente estavam lá, tão parte dele quanto suas sardas ou os pelos
finos de seus braços.
"É ... isso aconteceu com você em casa? Onde você cresceu?"
Havia algo estranho na voz de Sirius. Remus descobriu que não conseguia
falar, então ele apenas balançou a cabeça. Sirius acenou com a cabeça também.
"Eu tenho cicatrizes." Ele disse, tão baixinho que Remus achou ter escutado
errado a princípio.
"Sim?"
"Nah."
"Valeu."
"Nunca te ensinaram?"
Remus deu de ombros, cansado e frustrado. Era uma semana depois da aula de
voo, e Sirius o encurralou sozinho novamente. Estava sentado em sua cama,
bem feliz, folheando uma das revistas de quadribol de James - gostava das
imagens em movimento, mesmo que ainda não entendesse as regras do jogo, e
eram a coisa mais próxima de televisão que tinham em Hogwarts.
"Mas como você tem feito?" Sirius era como um cachorro perseguindo o
próprio rabo.
"Feito o que?!"
"Sirius, eu não tenho feito nada. Caso você não tenha notado, estou na
detenção todas as noites."
"Bem, sim, obviamente," Sirius acenou com a mão, "Mas outro dia, em
Poções, eu vi você - você não fez nenhuma anotação, nem mesmo olhou para o
livro, ou a lousa, e ainda preparou todos os ingredientes para a cura de
furúnculos perfeitamente - Slughorn deu a você cinco pontos!"
Remus sentiu-se corar com a memória. Ele não estava acostumado a receber
elogios dos professores.
"Ah, aquilo foi fácil", ele balançou a cabeça, "Sluggy nos explicou como fazer
na aula anterior, eu só lembrei."
Remus encolheu os ombros. Ele supôs que era verdade. Seus professores em
St. Edmund's haviam observado mais de uma vez que ele sabia uma
quantidade de palavras muito grande para alguém de tão pouca educação.
"Se você pudesse ler, seria tão bom quanto eu e James. Melhor,
provavelmente."
Remus bufou.
Remus riu.
"Magia não pode consertar coisas desse tipo." Ele respondeu sem rodeios. "Por
que mais James usa óculos?"
"Acho que existem feitiços para a visão." Sirius disse: "Talvez eles
simplesmente não valham o esforço, ou sejam muito perigosos, ou
complicados ou algo assim."
Remus estava perdido. Sirius claramente não iria desistir. Ele mordeu o lábio.
"Você é meu companheiro Maroto! Não podemos ter você na detenção todos
os dias, e se os sonserinos contra-atacarem? Precisamos da sua mente maligna
para as pegadinhas. " Seus olhos brilharam. "Falando nisso, estou assumindo
que você ainda não fez sua lição de casa de história?"
"Não."
"Ok então, vamos começar." Sirius pulou da cama e começou a revirar seu baú.
"Não. Você não vai fazer minha lição de casa para mim. " Remus protestou,
levantando-se e cruzando os braços.
"Mas é óbvio que eu não vou." Sirius respondeu, puxando um livro pesado.
Era A História da Magia; Remus reconheceu o tamanho e a forma. "Eu só
queria refrescar minha memória, só isso. Então, vou sentar aqui e ler em voz
alta - porque isso me ajuda a estudar - e se acontecer de você reter um pouco
do que eu falar no seu cérebro enorme, então não há muito que eu possa fazer a
respeito. "
Remus bufou.
"Você não tem nada melhor para fazer? Onde está James, afinal?"
Sua voz era clara e firme, nunca tropeçando nas palavras ou frases mais
complicadas, como se ele tivesse lido o livro uma centena de vezes. Remus
uma vez o ouviu dizendo a James que era fluente em latim e grego - a família
Black aparentemente se orgulhava desse tipo de coisa.
Eventualmente, a voz do outro garoto estava quase rouca, e ele falava quase
sussurrando. A noite começara a cair em torno deles, e a sala comum fora
banhada num laranja dourado quando o sol se pôs. Na metade do 'capítulo
cinco; Tibério e os avanços da magia de batalha romana' Sirius soltou uma
tosse baixa e largou o livro.
"Eu não acho que consigo estudar mais hoje," ele resmungou.
"Tudo bem", disse ele, baixinho. "É hora do jantar, estou morrendo de fome."
"Lição de casa. “Sirius respondeu, derramando molho sobre seu próprio purê.
A sobremesa era shortcake de caramelo, que nem James Sirius nem gostavam.
Remus achou que eles eram malucos, e interpretou o desgosto deles como pura
evidência de seus esnobismos. Teria os comido se Peter não fosse tão rápido e
tivesse pegado tudo.
"Eu tenho alguns doces", o menino menor ofereceu, remexendo nos bolsos do
robe e retirando um saco marrom volumoso, "Mamãe os mandou, podem
pegar."
"Ah, hum, eu estava meio atrasado em história. Tive que voltar e revisar um
negócio."
Ver eles começaram a dar coceira em Remus também. A parte de trás da sua
mão fazia cócegas como se um inseto estivesse rastejando por ela. Ele de
repente pensou no pó de coceira e olhou para baixo.
Ele quase gritou. Nas costas de sua mão crescia uma pelagem escura, em ritmo
alarmante. Ele estava se transformando! Não era nem perto da lua cheia - como
isso podia estar acontecendo. Ele se levantou tão rápido que quase caiu para
trás. Tinha que sair dali - rápido!
Remus o olhou de volta e então para Sirius. Ambos estavam crescendo cabelo
também - tufos escuros brotando de seus rostos, mãos e braços - cada
pedacinho de pele exposta. Ele ficou boquiaberto, sem palavras. Passou a
língua pelos dentes - não estavam crescendo.
"Ah, maldição..." James disse, olhando para si mesmo, depois para os outros
dois meninos, "O que está acontecendo?!"
"Peter," Sirius rosnou, seu rosto agora quase coberto de pelos, “Tem certeza
que sua mãe mandou aqueles doces?"
Peter, que ainda não tinha comido nenhum doce, olhou para os dois e ficou
vermelho, gaguejando.
"Bem, quero dizer ... pensei que fossem dela ... chegaram esta manhã ..."
"Pete!" James rugiu. As pessoas estavam olhando para eles, agora, virando-se
e cutucando umas às outras. Logo, todo o refeitório estava sussurrando e
apontando para os três garotos incrivelmente peludos na mesa da Grifinória.
Muitas pessoas estavam dando risadinhas também, mas é claro que ninguém
estava rindo mais alto do que Severus Snape, nos bancos da Sonserina.
"Deve ter sido o Severus. Ele jogou uma de suas poções nos doces, eu tenho
certeza" Sirius ferveu.
"Sim, todos nós sabemos disso, cara." James respondeu: "Não se preocupe,
vamos pega-lo."
"Eu sinto muito!" Peter gemeu, pela centésima vez. "Eu realmente pensei que
eles vieram da minha mãe!"
"Está tudo bem, Peter," James deu um tapinha em seu ombro, "Só queria que
você tivesse nos dado segunda-feira de manhã, então poderíamos ter pelo
menos faltado a aula de Transfiguração."
"E você a terá!" Ele respondeu, empurrando os óculos mais para cima,
"Paciência é uma virtude, Black. Uma vingança como essa leva tempo. Não
acho que você tenha outras ideias brilhantes, não é Remus?"
"Desculpe," Remus balançou a cabeça. Seu coração ainda batendo forte com o
terror. Se tivesse visto Snape naquele momento, teria o estrangulado; não
simplesmente pensado em pregar uma peça nele.
"Eu vou te ajudar, James," Peter saltou, "Eu farei qualquer coisa, eu não terei
medo desta vez, eu vou ..."
Eles estavam quase virando a esquina que levava à torre da Grifinória quando
alguém atrás deles chamou.
"Sirius."
"O que você quer?" Ele perguntou, olhando para baixo e arrastando os sapatos
no chão de pedra. Era a postura mais não-Sirius imaginável, Remus pensou.
Ele também notou que James deu um passo à frente, ficando ombro a ombro
com seu amigo.
Sirius não se moveu. Bellatrix retirou sua varinha - Remus ficou chocado e,
pela primeira vez desde que estivera em Hogwarts, ele se sentiu assustado.
"Venha aqui", disse ela em voz baixa, "ou eu farei você vir. E não será com um
feitiço infantil de crescimento de cabelo, eu juro. "
Sirius avançou, balançando a cabeça para James, que tentou segui-lo. Todos
eles observaram os primos falando em voz baixa no final do corredor por
longos e desconfortáveis minutos. Sirius mal ergueu os olhos do chão durante
todo o tempo. Finalmente, ela afagou a cabeça dele, depois girou e saiu. Todos
eles respiraram, aliviados enquanto Sirius voltava, trêmulo.
"Sim." Ele acenou com a cabeça, parecendo mais pálido do que o normal, "Ela
hmm ... ela queria me convidar para um chá. No meu aniversário. Acho que
minha mãe deve ter obrigado ela, provavelmente fez uma reunião de família
para tentar me colocar no eixo de novo. "
"E pelos amigos que eu tenho", ele sorriu para todos eles.
***
Sirius fez doze anos e Remus não estava lá para comemorar, embora ele
achasse que ninguém se importava. Afinal de contas, James era o melhor
amigo de Sirius, e Peter ainda gostava de pensar que James também pertencia
um pouco a ele. Então Remus seria o único de fora, mesmo se ele não estivesse
trancado em uma cabana enquanto tenta se matar. Madame Pompfrey o fez
experimentar uma poção para dormir desta vez, antes que a lua estivesse
nascendo, mas aparentemente não surtiu nenhum efeito. O que foi pior desta
vez, foi ele ter conseguido fazer sua maior cicatriz até agora - bem nas costas.
Pomfrey o fez ficar na ala hospitalar o dia seguinte de manhã a noite, o que foi
realmente conveniente - significava que ele poderia simplesmente dizer aos
seus amigos que havia ficado doente repentinamente. Eles ainda ficaram um
pouco confusos sobre o porquê de ele não ter contado nada sobre estar se
sentindo mal antes, mas aceitaram a explicação. Provavelmente já achavam
Remus bem estranho, e agora aceitavam praticamente qualquer coisa que ele
dizia.
Ele não teria gostado do aniversário. James conversou com Madame Hooch e
organizou uma sessão de voo na hora do almoço para os três. Depois do jantar,
antes que Sirius tivesse que ir se trocar para o chá com seus primos, James e
Peter lideraram a mesa da Grifinória em uma rodada de 'Parabéns para você',
seguida por 'Sirius é um bom companheiro'. De acordo o que Remus ouviu dos
alunos depois, eles continuavam voltando para o início da música
repetidamente, ficando mais alto a cada minuto, até que a Professora
McGonagall teve que ameaçá-los com detenção se eles não parassem.
Embora eles não pudessem cobrir toda a matéria em tão pouco tempo, para o
espanto de todos (incluindo os dele mesmo), as notas de Remus estavam
melhorando em um ritmo surpreendente. Sirius aparentemente teve a ideia
certa; A capacidade de Remus de reter e lembrar informações era notável, e ele
se viu levantando a mão nas aulas pela primeira vez na vida.
As notas de Sirius, por outro lado, começaram a cair. Ele passou tanto tempo
tentando secretamente ajudar Remus, que aparentemente não fez mais
nenhuma das leituras extras que tanto havia se vangloriado. Desta forma, seu
próprio dever de casa tornou-se mediano, aceitável e ficou para trás de James
pela primeira vez. James estava alheio, é claro, e apenas presumiu que era ele
quem estava melhorando.
"Mas você passa tanto tempo na biblioteca!" Remus sussurrou para ele uma
vez, depois que Sirius recebeu uma nota 'Aceitável' em sua redação de Feitiços.
"Achei que você estava estudando." O próprio Remus ainda não tivera
coragem de visitar a biblioteca. A ideia de todos aqueles livros o horrorizava.
"Estou estudando", Sirius respondeu alegremente, "Só não essas coisas", ele
dobrou a redação, "Estou procurando feitiços de interpretação cognitiva - você
sabe, para que possa ler sozinho. É realmente complicado, nível N.O.M.s, na
verdade, mas acho que quase consegui. Não se preocupe, Lupin, não é como se
eu estivesse falhando. Isso é muito mais interessante, de qualquer maneira. "
Na verdade, havia uma coisa que Remus poderia dar a Sirius que nem mesmo
James poderia - mas dificilmente valeria a pena mencionar. Algo que Sirius
chamou de "percepção trouxa". Tudo começou quando Remus finalmente criou
coragem para perguntar sobre sua coleção de discos. Sirius estava muito feliz
em compartilhar; além de sua vassoura de corrida, que ainda estava em casa,
seus álbuns eram seus bens mais queridos.
Remus podia ver facilmente o porquê - ele tinha Introducing The Beatles, A
Hard Day's Night e Help!, bem como Abbey Road; Beggars Banquet e Sticky
Fingers ("Mick Jagger deve ser o trouxa mais legal que eu já vi", disse Sirius),
dois álbuns do Led Zeppelin - Remus não os tinha ouvido antes, mas os
meninos mais velhos em St. Edmund's eram todos obcecados - e um LP de
Simon e Garfunkle, escondido atrás.
Bruxos, no fim das contas, geralmente não escutavam muito música trouxa.
Todos os discos de Sirius foram dados a ele por sua prima, Andrômeda, que
aparentemente foi a primeira "ovelha negra" da família Black, tendo terminado
a escola alguns anos antes e se casado com uma trouxa.
"Eu quase nunca a vejo," Sirius explicou, "Não desde o casamento, mas ela os
manda para mim de vez em quando. Ela os envia pelo correio trouxa, para que
mamãe não descubra - ela não entende como funciona o correio. "
"Na televisão." Ele corrigiu. "É mais parecido com aquelas pinturas em
movimento que vocês têm. Apenas preto e branco. E só os Beatles - os Stones
tocaram uma vez e a Matrona nos fez desligar, por causa do cabelo deles. "
"Sim é. Mas garotos trouxas não têm cabelo comprido, normalmente não. "
"Não diga isso a ele!" Peter brincou: "Ele vai raspar a cabeça." Ele jogou uma
pedra no tabuleiro no chão - eles estavam jogando um jogo chato nos últimos
dias, tentando ensinar as regras a Remus. Ele rolou em uma das pedrinhas e
acertou a de Sirius, que caiu para fora do ringue, imediatamente esguichando
um líquido de cheiro nojento, que Sirius mal desviou a tempo. Peter sorriu,
"Ha, toma isso, fã de trouxas!"
"Hm ..." Remus vasculhou seu cérebro, "Bem, acho que é aquele que
transforma as coisas em ouro? Se você usar direito ... e Cleópatra, a
Alquimista, usou para transformar chumbo em prata, eu acho.''
"Bem, excelente. Alguns dos meus alunos do terceiro ano são incapazes de
fazer referência cruzada de seus estudos assim, estou feliz em ver você se
interessando." Ela disse à classe. "E começaremos a discutir alquimia depois
do Natal. O que me lembra - com o feriado se aproximando, eu gostaria de
pedir a todos os alunos que planejam permanecer em Hogwarts que me avisem
até o final da próxima semana. Obrigado, vocês estão dispensados. "
A classe se levantou para sair. Algumas pessoas deram tapinhas nas costas de
Remus ao passarem.
"Sr. Lupin, você tem um minuto?" McGonagall disse, assim que ele estava
passando por sua mesa. Seu estômago se contorceu. Ficara duas semanas sem
uma detenção dela; deveria saber que algo estava por vir. Ele ficou parado,
enfiando as mãos nos bolsos e olhando para os pés enquanto o resto da classe
ia embora.
Finalmente, a sala de aula vazia, ela caminhou e fechou a porta (bem na cara
de James) e voltou para a sala.
"Muito bem hoje, Remus," McGonagall disse gentilmente, "Você realmente
tem se saído muito bem ultimamente."
"Quem?!"
"Isso. Como você sabe, a lua cheia ocorrerá duas vezes em dezembro – dia
dois," (que era na próxima semana) "e trinta e um. Véspera de Ano Novo. A
Sra. Orwell tem a opinião que seria melhor você permanecer em Hogwarts
durante o Natal por esse motivo. Espero que você não esteja muito
desapontado. "
"Vou adicionar o seu nome à lista, então. Vejo você na próxima semana,
Remus. "
***
James convidou Sirius e Remus para visitá-lo durante o feriado, sabendo que
nenhum dos dois teria um Natal particularmente feliz. Remus foi forçado a
recusar - mesmo se não fosse incrivelmente tímido e envergonhado de visitar a
casa de James e conhecer seus pais, ele ainda estava legalmente sob os
cuidados da autoridade local de St. Edmund e precisava da permissão por
escrito da Matrona para deixar Hogwarts.
Remus foi até a fim do terreno com os marotos para se despedir deles no
último dia do semestre.
"Vamos enviar corujas para vocês!" James prometeu: "Tentem bolar nosso
próximo plano de ataque a Snape!"
Remus sorriu e prometeu que tentaria. Ele esperava que as cartas que James
fosse enviar não fossem muito longas. Era o único Grifinório do primeiro ano
que ficou para trás no feriado, e voltou caminhando solitário de volta ao
castelo.
No dia seguinte, ele dormiu até tarde - algo que eles nunca tiveram permissão
de fazer em St. Edmund's. Acordou só as dez horas, quando Frank Longbottom
enfiou a cabeça pela porta.
Em um momento, ele ficou tão entediado que até pensou em fazer parte do
dever de casa. Estava tentando melhorar sua caligrafia, mas era quase
impossível com as penas ridículas que eram requisitadas. Ninguém o respondia
direito quando ele perguntou por que não podiam simplesmente usar canetas
esferográficas. Até os lápis seriam mais fáceis. Eventualmente ele tentou ler
um pouco, mas depois de um parágrafo do livro de herbologia, ele desistiu em
frustação. Ao invés disso, copiou alguns diagramas – Remus não se importava
em desenhar; gostava da liberdade.
Todos os dias ele caminhava ao redor do castelo por algumas horas, com seu
mapa. Os outros meninos já haviam descartado os seus, tendo aprendido todos
os locais das salas de aula depois da primeira semana mais ou menos, mas
Remus se agarrou ao dele, ainda incomodado por estar incompleto. Começou a
marcá-lo, adicionando pontos de interesse, esconderijos e as passagens secretas
que encontrou.
Ele praticou alguns feitiços e se divertiu por algumas horas tentando ver
quantos objetos em seu dormitório poderia levitar de uma vez. Ele fez disso
um jogo, jogando vários objetos - livros, bolinhas de gude, baralhos de cartas -
no ar, e tentando detê-los antes que caíssem no chão. Ele teve que parar com
isso, eventualmente, quando Frank bateu na porta e lhe disse irritado para
diminuir o barulho.
***
"Sirius!" Remus saltou da cama, muito feliz por ver seu amigo.
Sirius tirou o cabelo molhado dos olhos - ele claramente tinha estado na chuva,
tirou sua pesada capa de viagem, deixando-a cair em uma pilha no chão.
"Tudo bem, Lupin?" Ele sorriu. "Está congelando, não?" Ele apontou sua
varinha para a lareira, "Incendio."
"Já fiquei lá o bastante", disse ele simplesmente, tirando as botas, que estavam
empastadas de lama. "Discuti com papai, depois toda a família se meteu. O de
sempre. Me chamaram de traidor do sangue, a vergonha da família, et cetera, et
cetera ..." Ele desabou na cama. "Então eu fui embora."
"Pó de Flu." Sirius deu de ombros, "No bar do vilarejo. Então simplesmente
andei até aqui."
"Estou morrendo de fome, eles me mandaram para a cama ontem à noite sem
jantar. Vamos, se vista! Café da manhã!"
McGonagall não ficou tão feliz em ver Sirius quanto Remus. Os dois garotos
tentaram sentar-se à mesa como se nada estivesse fora do normal, mas ela
apareceu ao lado deles quase imediatamente.
"Sr. Black." Ela disse, uma nota de advertência em sua voz que Remus
reconheceu de suas detenções. "Qual o significado disso?"
"Eu também senti sua falta, professora." Ele sorriu para ela.
"Você foi visto entrando no terreno de Hogsmeade às seis horas desta manhã.
Você se importa em se explicar melhor?"
"Na verdade, não, professora. Isso é praticamente tudo que há para lhe contar."
"Muito bem, Sr. Black. Terei que entrar em contato com seus pais, é claro,
para que eles saibam onde você está."
"Não há necessidade." Sirius respondeu, acenando com a cabeça para o bando
de corujas que acabara de entrar na sala. A maior dessas aves, uma enorme
coruja-águia imponente, deixou cair um grosso envelope vermelho no prato de
Sirius. Ele olhou para baixo e depois para McGonagall com um sorriso irônico,
"Acho que eles sabem exatamente onde estou."
Sirius pegou uma torrada, colocou em seu prato, então começou a colocar ovo
mexido nela, indiferente. Ele olhou para McGonagall novamente.
"Você pode mandar uma coruja para a mãe, se quiser, professora, mas duvido
que ela vá ler."
"Muito bem, Sirius," McGonagall acenou com a cabeça, "Apenas ... tente ficar
longe de problemas, está bem?" Com isso, ela caminhou rigidamente de volta
para a mesa dos professores no final do corredor.
Sirius comeu seu café da manhã em silêncio. Anos depois Remus se lembraria,
naquele momento, pensou que Sirius era o garoto mais corajoso do mundo.
***
O dia de Natal em St Edmund's costumava ser extremamente barulhento.
Alguns meninos recebiam presentes - aqueles com parentes distantes que se
importaram o suficiente para enviar um novo suéter talvez, mas não o
suficiente para visitar - outros se contentavam com a seleção usual de doações,
que a Matrona embrulhava para eles. A obtenção de presentes era rapidamente
seguida pela troca de presentes, e muitas vezes eles passavam a manhã
trocando os itens modestos que receberam. Depois, eram mandados para se
arrumarem na medida do possível e então, conduzidos em uma longa fila até a
igreja, onde se sentariam durante o serviço de Natal, entediados e indiferentes.
A manhã de Natal em Hogwarts era bem mais agradável. Remus quase ficou
comovido ao descobrir que a Matrona não o havia esquecido - o correio havia
chegado durante a noite e no final de sua cama ele encontrou um cartão dela
junto a um pacote irregular que continha um saco de nozes, uma laranja e um
lata de biscoitos. Para sua surpresa, James também mandou um presente - seu
próprio conjunto de gobstones. Peter tinha até enviado uma caixa de sapos de
chocolate.
"Feliz Natal," Sirius bocejou, abrindo seus próprios presentes. Ele não havia
recebido nada de seus pais, pelo que Remus percebeu, mas não mencionou
isso. James havia enviado a ele um anuário de seu time de quadribol favorito, o
South End Scorchers, e a caixa de sapos de chocolate de Peter.
"Feliz Natal," Remus respondeu, "Eu não comprei presentes para ninguém,"
ele admitiu culpado. "Eu não sabia que eles iriam..."
Isso perturbou Remus, mas ele tentou não pensar muito a respeito. Enquanto
Sirius estava no banheiro, outra coruja voou pela janela e deixou cair um
pacote grande, plano e quadrado em sua cama. Quando Sirius saiu e viu, seus
olhos brilharam e ele o abriu, ansioso.
Era outro álbum trouxa. A capa era preta, impressa com a imagem da silhueta
de um homem parado em frente a um grande amplificador tocando guitarra.
Ele tinha cabelo comprido e encaracolado, com as pernas separadas em uma
postura poderosa, delineado em ouro. Electric Warrior, o título berrava, T-Rex.
"Ahh, T-Rex, acho que já ouvi falar deles," disse Remus, enquanto Sirius o
virava para ler a lista de faixas.
"Coloca para tocar!" Remus encorajou, impaciente. Quem se importava com o
que a capa dizia?
Eles se sentaram e ouviram em transe, parando apenas para virar para o lado B.
Assim que acabou, Sirius silenciosamente o virou e começou do início
novamente. Eles alternavam entre sentar na cama, balançando levemente com
a melodia, ou balançando a cabeça enquanto as batidas aumentavam. Eles
trocaram sorrisos entre si com os riffs mais cativantes, e se deitaram para olhar
para o teto nas faixas mais lentas e sonhadoras.
Pelo resto do dia eles colocaram música na sala comunal, comeram sapos de
chocolate, nozes, biscoitos e jogaram jogos barulhentos de snap explosivo. As
refeições em Hogwarts sempre foram espetaculares, e o jantar de Natal não foi
diferente. Quando a noite caiu, Remus tinha comido tanto que pensou que
nunca mais sentiria fome.
Embora ele não tenha dito isso a Sirius (que, afinal, foi forçado a fugir de casa
pela primeira - senão a última - vez), foi o melhor Natal que Remus já teve.
13. Primeiro Ano
Lectiuncula Magna
Remus estava inclinado a concordar. Estava furioso demais com Snape para
pensar com clareza sobre isso nas últimas semanas. Não conseguia se livrar da
sensação de que Severus tinha de alguma forma acertado o feitiço exato que
deixaria Remus mais perturbado. Não sabia exatamente como o menino
sonserino tinha conseguido - provavelmente fora apenas um palpite inteligente
- mas ele não se importou.
"Devíamos apenas pegar a capa de James, segui-lo até que ele fique sozinho e,
em seguida, dar uma surra nele." Remus rosnou, enquanto eles se sentavam na
sala comunal vazia uma noite. Ele agarrou o braço do sofá ao dizer isso,
sentindo o couro ranger sob suas mãos. A lua cheia estava se aproximando e
seu temperamento estava cada vez pior.
"Sim, mais livros." Sirius respondeu, despreocupado. "Você vai amar todos
eles assim que os conhecer melhor, eu prometo."
Remus não tinha tanta certeza disso. Era verdade, ele começou a gostar
bastante de suas sessões de estudo secretas e ficou surpreso com o quanto
aprendera, mas ouvir Sirius era uma coisa - sentar-se sozinho e olhar para um
bloco de texto era outra coisa. Ainda assim, Sirius continuou prometendo a ele
que estava se aproximando de uma solução.
"Então, esse aqui é sobre o que?" Remus perguntou, conformado com seu
destino. Se Sirius estava determinado a fazer algo, havia muito pouco que
alguém pudesse fazer para impedi-lo. Você apenas tinha que segurar firme até
que tudo acabasse.
"Então, pensei que poderíamos falar qualquer ideia que passar pela nossa
cabeça, e ver se isso nos leva a alguma maldição boa." Sirius continuou, sem
se deixar abater pela relutância de Remus, "Então, eu sou muito bom em
transfiguração - tirei as melhores notas mesmo depois que você começou a
recuperar o atraso."
"E James é um pouco melhor do que eu em Defesa Contra as Artes das Trevas
– que talvez seria útil ao lidar com um verme viscoso como o Snivellus, mas
ainda não aprendemos nenhum feitiço bom, exceto coisas para desarmar, e isso
não adianta de nada."
Ele mastigou a ponta da pena, considerando. Não era uma pena nova e deixou
uma mancha escura no lábio inferior de Sirius. Remus não disse nada. Sirius
continuou, "James é bom em voar também, obviamente, mas eu não sei como
isso vai ajudar. E há Pete ... é bom em se esgueirar e trabalho pesado, eu
suponho... "
Remus achou isso injusto. Peter nunca foi o melhor da classe como Sirius e
James, mas era perfeitamente competente, geralmente se contentando com uma
nota satisfatória. Ele não tinha a vantagem competitiva que James e Sirius
tinham, o desejo de se provar. Remus entendia isso muito bem - às vezes ser
amigo de pessoas mais inteligentes e confiantes bastava. Você conseguia um
pouco do brilho deles sem a parte da pressão.
"Não o melhor," Remus disse, apressado, "Eu sou bom em levitação, eu acho,
mas é isso."
"Oh cale a boca, não é hora para modéstia, Lupin," Sirius acenou com a mão
impaciente, "Você aprende feitiços mais rápido do que qualquer um. Se
encontrarmos um feitiço suficientemente hediondo aqui, então conto com você
para descobrir como fazê-lo. "
Remus se contorceu. Ele odiava quando Sirius falava assim - como se Remus
fosse tão inteligente, ou tão talentoso quanto ele e James eram. Ele sabia que
não era verdade e isso o envergonhava. Ele lutou contra uma vontade repentina
de empurrar o livro grande e pesado de seus colos e ir embora.
Era apenas lua cheia, disse a si mesmo. Ele se sentia inquieto e com calor
muito perto do fogo, muito perto de Sirius, de quem ele podia sentir o cheiro
de sangue, misturado com o cheiro único de magia. Ele esperava vagamente
que o jantar fosse carne vermelha - algo em que ele pudesse sentir o gosto do
ferro.
"Tem que ser algo grande," Sirius murmurou, virando todas as páginas até o
final do livro - Remus soltou uma exclamação quando todo o peso dele bateu
em suas coxas. Sirius ignorou, passando um dedo pelo índice. "Algo muito
pior do que a coisa dos pelos."
"Não sei por que você acha que eu vou servir para alguma coisa." Remus
suspirou, bocejando agora.
"Sim, acho que sim." Sirius fechou o livro. "Poderíamos obter um balde
facilmente, mas parece que há muita chance para erros. E eu não sei se isso iria
realmente causar medo nele do jeito que nós queremos. Somos marotos,
devemos estabelecer certos padrões."
"Sim, eu disse a você que era uma porcaria de ideia. Uma pena, porque o
Snivellus bem que precisa de um banho."
"O que?!" Remus respondeu, chocado e um pouco irritado por ter sido
sacudido daquele jeito.
"Um bom banho! Isso é o que vamos fazer! É fácil, aposto, deve estar em um
daqueles livros ... espere aqui!" Ele desapareceu através do retrato. Remus
suspirou, faminto e esperou.
***
"Não é," Sirius balançou a cabeça, "Acho que é fácil. Feitiços climáticos são
difíceis em grande escala, mas este só precisa ser uma nuvem do tamanho
deste prato." Ele tocou a porcelana à sua frente.
"Mas ... não sabemos misturar feitiços ainda. Bem, eu não sei. Você sabe?" Ele
olhou para Sirius, que estava balançando a cabeça vigorosamente,
"Sim, eu tenho praticado, para sua coisa de leitura. Não é muito difícil na
verdade; só precisa se concentrar."
"Vamos praticar." Sirius disse, com firmeza, "Vamos praticar bastante, antes
que James e Pete voltem. Eles ficarão super impressionados. "
Não houve tempo para repetir o prato depois disso, então Remus teve que se
satisfazer com o resto de seus biscoitos de Natal enquanto Sirius procurava
feitiços de clima. Depois que ele encontrou o que queria, os dois se revezaram
para tentar, Sirius lendo as instruções várias vezes até que entendessem.
Foi a primeira vez que Remus tentou um feitiço sem que fosse demonstrado
para ele primeiro. Intimidante no começo, mas ele logo entendeu como o
movimento da varinha deveria fluir e girar, enquanto Sirius era o melhor na
pronúncia. Exigiu muita concentração, e era quase meia-noite quando qualquer
um dos dois produziu alguma coisa. Finalmente, Remus conseguiu lançar uma
pequena nuvem cinza. Saiu de sua varinha como fumaça, então pairou entre
eles por alguns momentos antes de estourar como uma bolha, deixando apenas
um leve traço de condensação.
***
Foi difícil se livrar de Sirius na noite de lua cheia. Remus até disse que ele
estava se sentindo doente, mas o outro garoto quis acompanhá-lo até a ala
hospitalar. Por fim, conseguiu convencê-lo de que deveria ficar para trás e
continuar praticando o feitiço da nuvem de chuva.
"A gente praticamente já sabe fazer." Sirius reclamou. Era verdade, os dois
conseguiram produzir satisfatórias tempestades em miniatura - o banheiro
quase inundou no processo. Era apenas uma questão de manter a concentração
e aperfeiçoar o feitiço de ligação agora.
"Como você sabe que ela vai te manter durante a noi- ?!"
Remus escapou antes de ter que responder a mais perguntas. Ele estava ficando
descuidado, pensou consigo mesmo enquanto batia na porta do escritório de
McGonagall. Eventualmente, teria que pensar em desculpas decentes para
todas as suas ausências. Eles poderiam conectar as noites em que ele
desapareceu à lua cheia - todos estudavam astronomia juntos.
***
"Oh", disse ela, ao entrar na sala e encontrá-lo no chão, "Uma noite ruim, não?
Talvez seja o solstício, terei que consultar meus livros. Você consegue se
levantar, Remus? " Ela tocou sua testa com as costas da mão.
Ela queria usar uma maca mágica para carregá-lo de volta para o castelo, mas
ele não suportava a vergonha disso, não importava o quão cedo fosse. Eles
voltaram, muito lentamente, até a ala hospitalar, onde ele finalmente desabou
em uma cama limpa e macia. A enfermeira continuou a mover em torno dele,
mas ele já estava caindo no sono.
"Sirius!" Ele murmurou, sua garganta ainda dolorida. Deus, ele realmente tinha
uivado? Que vergonha.
"Feliz ano novo," disse Sirius, alegremente. Ele estava sentado no banquinho
de madeira colocado ali para visitantes, segurando um livro contra o peito.
"Pensei em vir te procurar quando você não estava no café da manhã. Você
está bem?"
"Ótimo." Sirius acenou com a cabeça, "Porque eu tenho seu presente de Natal."
"Meu ... o quê?" Remus olhou para Sirius com cautela. Seus olhos azuis
estavam brilhantes e cheios de travessura.
"Desculpe pelo atraso", ele estava dizendo, "eu tive alguns ajustes de última
hora a fazer. Aqui." Ele entregou o livro. Era a cópia de Remus de A História
da Magia.
"O que...?" Remus não tinha certeza se estava apenas tendo um sonho muito
estranho. Por que Sirius estava dando a ele seu próprio livro de história?
"Abra!"
Remus fez. Ele mal tinha aberto o livro durante todo o ano, e as páginas ainda
estavam rígidas e imaculadas, exceto pela primeira página. Abaixo do título,
Sirius havia escrito algo em sua própria letra cursiva. Remus semicerrou os
olhos tentando ler, sua boca torcendo com esforço. Já estava exausto, não tinha
energia para charadas.
"Ponha a mão nele!" Sirius disse, ansioso, dando um passo à frente, "Palma
aberta contra a página - sim, assim. Agora, me dê um minuto..."
"Sirius, o que você está fazendo?!" Remus estava alarmado - nunca teve uma
varinha apontada para ele antes, e tinha visto Sirius explodir coisas maiores do
que sua cabeça.
"Eu ..." Remus olhou para baixo e olhou para a primeira palavra.
'Feliz'
Uma voz em sua cabeça disse. Remus piscou em choque - ele nunca tinha
ouvido a voz antes, embora soasse como ele. Era quase como o chapéu seletor,
só que mais familiar, menos invasiva. Ele olhou novamente.
'Feliz Natal,'
A voz dizia.
'Agora você pode fazer seu próprio dever de casa. Do seu companheiro maroto
e amigo, Sirius Black.'
Remus riu. Ele olhou para Sirius, então de volta para a página. Ele abriu o livro
em uma página do meio, olhando para as palavras impressas lá:
'Durante o final do século XVI, Cornelius Agrippa fez seus maiores avanços
no campo da magia natural ...'
"Ah meu Deus!" Remus exclamou. Virou uma página novamente e leu mais. A
voz continuou, confiante. Ele sabia ler. "Meu DEUS!"
"Ah, não," Sirius riu, "Não me diga que baguncei tanto seu cérebro que você
nem consegue formar uma frase coerente?"
"Obrigado." Foi tudo que Remus conseguiu dizer. Ele podia sentir seus olhos
ardendo de lágrimas, e imediatamente os esfregou com força com os punhos.
Sirius desviou o olhar, educadamente.
"Não há de que", respondeu ele, "agora você pode me ajudar a pesquisar nossa
próxima grande pegadinha."
"Nem conseguimos fazer esta ainda," Remus respondeu, fungando forte, se
recompondo. "Você tem que me mostrar como fez isso ... é ... quer dizer, deve
ser magia muito avançada."
Remus não conseguia parar de olhar para o livro, lendo linhas aleatórias e
sorrindo para si mesmo. Ele nunca tinha estado tão feliz em sua vida.
14. Primeiro Ano
A Pegadinha
James e Peter haviam voltado das férias de Natal apenas duas horas atrás, e
assim que o jantar acabou, Remus e Sirius os arrastaram escada acima para
uma demonstração.
"Lupin me deu a ideia, mas eu pesquisei os feitiços para fazer isso," Sirius
sorriu, orgulhoso, "Snape não vai ter ideia do que o atingiu!"
"Quando vamos fazer?!" James estava pulando para cima e para baixo agora,
pronto para explodir de animação. "Primeira coisa amanhã? Café da manhã?
Poções?"
"Sim, jantar," James acenou com a cabeça, sabiamente, como se a ideia fosse
sua. "Sério, vocês dois, estou tão orgulhoso."
"Valeu," Sirius ergueu uma sobrancelha irônica. Então ele olhou para Remus,
"Hum ... Lupin? Você provavelmente pode parar agora. Meus pés estão
ficando molhados."
"Ah!" Remus sacudiu o feitiço, vendo que ele havia produzido mais chuva do
que o tampão do ralo era capaz de suportar, e Sirius estava agora com água fria
até os tornozelos, a barra de suas vestes encharcada. "Desculpa."
"Está tudo bem," Sirius riu, saindo da banheira e puxando suas vestes, "Apenas
certifique-se de fazer o mesmo com Snape."
"Então, Lupin vai fazer este?" Perguntou James. Sirius encolheu os ombros.
***
O primeiro dia de aula depois do Natal foi muito estranho. James, Sirius e
Peter estavam cheios de energia nervosa, antecipando a pegadinha. Remus
estava ansioso por isso também - embora um pouco nervoso, pois era ele quem
tinha que fazê-la. Mas ele tinha outro motivo para estar animado. Seria o
primeiro dia de aula em toda a sua carreira acadêmica que ele seria capaz de
ler.
Sirius tinha mostrado a ele como executar o feitiço, e era muito difícil - no
final Remus apenas fez o outro garoto executá-lo, decidindo se dedicar a
aprender como fazê-lo sozinho mais tarde. Sua magia ainda estava um pouco
instável após a lua cheia, sujeita a se estender e 'explodir' se ele se concentrasse
muito. Não parecia uma boa ideia usar a varinha até que a lua diminuísse o
suficiente e ele tivesse mais controle.
A primeira metade do dia foi como ele esperava que fosse. Não conseguia ler a
lousa, mas Feitiços era principalmente baseado na prática, e Remus ficou
surpreso ao ver como tudo se tornava mais fácil quando ele podia apenas
consultar seu texto sem ter que se lembrar de tudo que Flitwick havia dito
sobre amuletos suavizantes. Ele foi o primeiro da classe a fazer seu tijolo
quicar - para grande consternação de Lily Evans, que geralmente era a melhor
aluna de Feitiços.
Foi à tarde, durante a aula de Poções, que as coisas começaram a dar errado.
Tudo começou com Slughorn retornando as redações sobre os doze usos do
sangue de dragão. Remus finalizara a dele antes do Natal com a ajuda de
Sirius, e os Marotos como um todo se saíram muito bem. Como de costume,
Snape obteve a nota mais alta e ganhou cinco pontos para a Sonserina. Lily foi
a segunda e ganhou um ponto para a Grifinória. Ela havia vencido Sirius
apenas por pouco.
"Gostaria de saber se vale a pena flertar com o Snivellus apenas por um mero
ponto para a casa." Ele resmungou alto o suficiente para que Lily e Snape
ouvissem. Lily se virou, duas manchas rosa brilhantes em suas bochechas,
"Cale a boca, Black", ela sibilou, "Ninguém gosta de um perdedor com dor de
cotovelo."
"Não estou perdendo se seu namorado deixa você copiar o trabalho dele."
Sirius sussurrou de volta, venenosamente.
"Eu não copio dele, e Severus não é meu namorado!" O rosto de Lily estava
ficando mais vermelho.
"Você está corando, Evans," Sirius sorriu, satisfeito consigo mesmo. Ele
cutucou James, "Isso não é fofo?" James riu, balançando a cabeça junto.
"Ignore eles, Lily," Snape sussurrou, sem virar a cabeça, "Eles estão apenas
com inveja."
"Inveja de quê, Snivellus?" James interveio, ainda tentando manter a voz baixa,
"Inveja de um idiota gosmento e seboso como você? Continue sonhando."
Sirius riu, satisfeito por ter atraído James. Peter riu também, para não ficar de
fora. Slughorn ainda estava alheio, agora de costas para a classe enquanto
rabiscava instruções no quadro negro.
Severus finalmente se virou em sua cadeira. Ele voltou seus olhos negros
redondos para Sirius.
"Ouvi dizer que você teve um Natal muito tranquilo, Black", disse ele, com a
voz baixa e cheia de perigo, "Sua família não suportou ficar com você por mais
do que alguns dias antes de despachá-lo de volta para a escola, estou correto?"
Seus lábios se curvaram, cruelmente, "Todas as famílias puro-sangue estão
falando sobre isso - a ovelha negra dos Black's."
Sirius cerrou os punhos, Remus viu os nós dos dedos ficando brancos.
"Cala. Sua. Boca." Sirius rosnou, sobre dentes cerrados.
"É, toma cuidado, Snape," James tinha uma carranca, "É melhor você tomar
cuidado com o que diz. Nunca se sabe o que pode acontecer."
Por reflexo, ele pegou sua varinha. Snape viu, e seu sorriso ficou ainda mais
cruel.
"Oh meu Deus, você realmente aprendeu alguma magia, Lupin? Estou
impressionado. Veja bem, ouvi dizer que eles podem treinar alguns macacos
para realizar truques básicos, então suponho que não seja uma grande
conquista."
Remus ergueu sua varinha, mas Sirius agarrou seu pulso e o empurrou para
baixo na mesa.
Remus mal conseguia se concentrar no resto da aula. Ele sabia que não deveria
se importar com o que Snape pensava dele, ou qualquer pessoa, por falar nisso.
Mas as farpas do garoto sonserino cravaram fundo e não podiam ser soltas.
Sirius não ajudou; ele continuou murmurando 'vamos mostrar a ele!' baixinho,
lançando olhares sombrios na direção de Snape.
"Vocês só deixem o Sev em paz, ok?" Ela guinchou: "Esta briga estúpida vai
durar para sempre se nenhum de vocês for maduro o suficiente para-"
"Dá um tempo, Evans," James revirou os olhos, "Já é ruim você ter que ser
amigo do idiota, agora está tentando defendê-lo? Onde está sua lealdade à casa,
hein? "
"Isso não tem nada a ver com casas", ela retrucou, "É uma briga ridícula por
nada."
"Ah é, então você tem que terminar, certo, Potter?!" Ela se levantou, de
repente, pegando sua bolsa, "Deus, você é tão cheio de si!" Ela se afastou, seus
sapatos de verniz batendo com raiva no chão.
"Ligare Pluviam!"
Ele não sabia o que estava acontecendo no início, cobrindo a cabeça com as
mãos e olhando para cima. Os alunos sentados de cada lado de Snape se
levantaram e recuaram, não querendo se molhar. Então Snape se levantou,
tentando se esquivar da nuvem, mas ela o seguiu, pairando persistentemente, a
chuva caindo.
As pessoas estavam rindo agora e apontando. Todos estavam olhando ao redor,
tentando ver quem tinha feito, mas ninguém tinha visto Remus lançar o feitiço,
exceto seus amigos. Ele se sentou, mas manteve sua varinha apontada para
Severus, sorrindo enquanto observava o garoto ainda tentando fugir da mini
tempestade.
"Sim!" Sirius sibilou em seu ouvido, "Assim mesmo, sim, Lupin, seu lindo!"
A imensa satisfação que Remus sentiu foi agravada pela risada ecoando ao seu
redor. Snape era um menino tão desagradável e rancoroso que até alguns
sonserinos pareciam satisfeitos em vê-lo receber o que merecia. Quanto mais
Remus pensava sobre isso, mais ele queria puni-lo e mais forte chovia. Na
verdade, a nuvem pareceu escurecer e aumentar.
"Pare!" Lily estava gritando com James, "Eu sei que é você! Pare com isso
agora!"
James continuou rindo e ergueu as mãos para mostrar que não estava fazendo
nada. Lily parecia à beira das lágrimas.
Severus fez menção de correr, os braços sobre a cabeça para impedir que a
chuva o atingisse, mas suas vestes estavam tão pesadas e tão encharcadas que
ele meio tropeçou, meio escorregou e caiu no chão. Remus teria rido, mas sua
concentração se aprofundou. A chuva caiu com mais força ainda, até que ficou
difícil até mesmo ver Severus através dos lençóis cinza. A nuvem também
estava maior e estalando com trovões e relâmpagos - isso nunca tinha
acontecido quando ele praticou em Sirius. Mas então, ele não estava tão
zangado com Sirius.
"Pare! Por favor!" Lily estava chorando agora. James parou de rir. Ele tocou o
braço de Remus,
Snape não estava se levantando. Remus percebeu que ninguém estava mais
rindo, e algumas pessoas estavam gritando.
"FINITE." Uma voz ecoou na sala de jantar.
"Todos para seus dormitórios, por favor," Dumbledore falou baixinho, mas de
alguma forma foi ouvido por todos no enorme corredor, "Srta. Evans, por
favor, traga Madame Pomfrey."
Remus se sentou em sua cama, olhando para o chão. Ele tinha ido longe
demais; ele sabia disso. Foi bom, por um tempo, e nada poderia convencê-lo de
que Severus não merecia. Mas agora James o olhava de forma estranha, e ele
sabia que Dumbledore iria descobrir de alguma forma - se Lily não contasse a
todos assim que ela voltasse para a sala comunal.
"Foi fantástico!" Sirius disse, de repente, "Ele vai pensar duas vezes antes de
cruzar nosso caminho de novo!"
"Mas ... quero dizer, não queríamos machucá-lo, não é?" James franziu a testa.
"Ele está bem, ele estava apenas fingindo, para a gente ficar encrencado."
"Será que vamos ficar encrencados?" Peter perguntou, torcendo as mãos: "Não
fomos todos nós que fizemos o feitiço, não é? Foi apenas..."
"Seu rato. Nós somos marotos. Um por todos e todos por um."
"O que quer que isso signifique," Peter murmurou, esfregando a cabeça e indo
se sentar em sua própria cama, amuado.
"Foi eu quem fez, vocês não deveriam se meter em problemas." Remus disse
baixinho, sem olhar para cima.
"Foi metade ideia minha!" Sirius disse, "Eu fiz a pesquisa! Não se preocupe,
Lupin, aposto qualquer coisa que ele está bem. "
"Se ele estiver," Remus disse pesadamente, "então não é graças a mim." Ele
finalmente encontrou os olhos de James. Eram de um marrom profundo e
estavam muito mais sérios do que o normal. "Eu queria machucá-lo."
Eles seguiram Frank escada abaixo e pela sala comunal, onde todos os
encaravam. Remus olhou para os pés o tempo todo, mas ouviu o burburinho se
calar enquanto eles caminhavam. Não importava o que acontecesse a seguir -
todos saberiam que eles eram os responsáveis.
"Acredito ser do interesse de vocês que o jovem Sr. Snape está bem – embora
seu orgulho esteja um tanto ferido."
"Ele parece pensar que vocês quatro tenham algo a ver com o infortúnio dele."
Dumbledore continuou, agradavelmente, como se estivesse apenas passando o
tempo. "Você em particular, Sr. Potter."
James olhou para cima, abriu a boca, então fechou novamente e olhou para
baixo. Remus não aguentou. Só tinha três amigos em todo o mundo e não iria
perdê-los agora. Ele deu um passo à frente.
"Fui eu, senhor, eu que fiz o feitiço. Ele disse algumas coisas para mim mais
cedo, e eu estava com muita raiva. Eu queria ensinar uma lição a ele". Remus
se forçou a olhar para cima, para os olhos azuis pálidos de Dumbledore. O
velho acenou com a cabeça, satisfeito. "Entendo. Você agiu sozinho?"
"Não foi só ele, senhor!" Sirius explodiu, "Eu pesquisei o feitiço, aprendi como
fazê-lo também, é igualmente minha culpa."
"Quer dizer que você planejou isso, Black?" McGonagall disse, bruscamente,
"Você planejou um ataque a outro aluno? Dez pontos da Grifinória. Cada."
"E detenção para todos vocês, por um mês." Ela continuou, "Acho muito difícil
acreditar que o Sr. Lupin aqui agiu sozinho."
Remus congelou. Ele deveria saber que não iria se safar tão facilmente. Ficou
parado enquanto os outros saíam da sala, McGonagall os seguindo para se
certificar de que não ficassem esperando do lado de fora.
Isso não era uma pergunta de forma alguma, então ele não respondeu. Olhou
para os pés, depois para cima novamente.
"Não, Remus, ninguém está sendo expulso. Posso ver que você lamenta o que
fez. O que me preocupa é como você fez isso. Esse foi um feitiço muito forte,
não esperava que um aluno do primeiro ano... você deve ter estado muito
zangado."
Remus assentiu, querendo mais do que tudo que a conversa acabasse. Ele
preferiria uma palmatória do que uma palestra. A pior parte é que Dumbledore
estava certo. Deixou que sua raiva contra Severus influenciasse o feitiço - ele
simplesmente não estava acostumado a ter esse tipo de força.
"Sinto muito, professor." Ele disse: "Sniv - quero dizer, Severus está bem?"
"Sim, ele está perfeitamente bem. Acho que ele pensou que, se simplesmente
parasse de lutar, quem quer que estivesse lançando o feitiço pararia. Ele está
seco e não vai sofrer nenhum efeito a longo prazo."
"Agora," Dumbledore sorriu, "Pode ir. Eu já segurei você por tempo suficiente
e tenho a sensação de que o Sr. Potter está esperando do lado de fora para que
você conte tudo a ele."
***
Dumbledore o deu muito em que pensar. E ele tinha muito tempo para isso -
McGonagall estava bem séria sobre as detenções deles, e chegou a separar os
quatro. Sirius foi encarregado de limpar caldeirões nas masmorras, Peter de
polir os troféus na sala de premiação e James de reconfigurar todos os
telescópios astronômicos da torre. Remus recebeu a pior tarefa de todas; limpar
o corujal. Claro, nenhum deles tinha permissão para usar suas varinhas e todas
as noites eles tinham que começar tudo de novo.
"Não sei do que você está reclamando," Sirius resmungou, "Eu adoraria polir
troféus. Vai saber o que eu achei raspando poções nojentas do fundo daqueles
malditos caldeirões. "
Remus não reclamou, porque achava que merecia. Ele se sentiu péssimo por
colocar todos os seus amigos em problemas, mas ainda mais terrível pelo que
havia feito. Isso só foi deixado de lado pela quantidade de leituras que ele
vinha fazendo. O feitiço de Sirius era difícil, menos intuitivo do que a magia
que estava acostumado. Sirius foi o primeiro a admitir que não era perfeito -
desvaneceu cerca de uma hora depois e teve que ser repetido. Remus dominara
o suficiente para fazê-lo sozinho, embora as vezes levasse algumas tentativas
antes de acertar.
A primeira coisa que ele fez foi visitar a biblioteca e pegar um livro
emprestado das prateleiras das criaturas mágicas.
Ele ficava acordado quase todas as noites, depois que o feitiço da leitura tinha
passado e ele estava cansado demais para lançá-lo novamente, mas inquieto
demais para dormir. Sua mente zumbia de preocupação e medo. Como tudo
parecia simples em St Edmund's. Sem mágica, sem lição de casa, sem dilemas
morais agonizantes. E, claro, sem amigos. Se alguma coisa impedia Remus de
desistir, era isso.
James, que tinha um ego do tamanho do lago, mas um coração tão grande
quanto. Peter - que, claro, era singular e um pouco alheio – mas na verdade
tinha um senso de humor perverso e podia ser infalivelmente generoso. E,
claro, Sirius. Sirius sabia guardar segredos, tinha um lado mesquinho, mas
nunca o dirigia aos amigos, era o aluno mais talentoso do ano, mas passava o
tempo todo inventando pegadinhas.
Remus não desistiria de nada disso, não se pudesse evitar. Mesmo se ele
tivesse que ser o aluno mais dedicado da escola; se tivesse que se forçar a ler
todos os livros, completar todas as tarefas, seguir todas as regras. Ele seria tão
bom que eles não saberiam o que os atingiu. Tão bom que eles teriam que
torná-lo um monitor - ele faria tudo, se isso significasse ficar em Hogwarts e
manter seus amigos.
Não havia ninguém com quem conversar sobre nenhuma dessas coisas.
Ninguém que iria entender, de qualquer maneira. Até onde Remus sabia,
apenas Dumbledore, McGonagall e Madame Pomfrey sabiam sobre sua
condição. McGonagall era muito severa para fazer perguntas como essa.
Remus ainda não tinha certeza se Dumbledore era totalmente são e, de
qualquer forma, ele não tinha ideia de como marcar um encontro com o diretor.
Então tinha que ser Madame Pomfrey, no final.
Ele esperou até a próxima lua cheia, cuja era final de janeiro. Era um domingo,
então depois do jantar ele se separou dos marotos e foi para a ala hospitalar
mais cedo do que de costume.
"Remus!" A enfermeira sorriu para ele, surpresa, "Eu não esperava você até o
anoitecer."
Era muito melhor do que os outros escritórios dos professores cujo Remus
tinha visitado. As paredes estavam alinhadas com centenas de garrafas
organizadas de poções e tônicos, era claro e arejado, ela não tinha uma mesa e,
em vez de bancos de madeira, havia poltronas confortáveis de cada lado de
uma lareira.
"Bem," ele engoliu em seco, sem saber como começar, "Eu só ... eu tinha
algumas perguntas sobre meu ... meu problema."
"Claro que tem, Remus, isso é perfeitamente natural. Há algo específico que
você gostaria de saber?"
"Ainda não", disse ela, rapidamente, "avanços estão sendo feitos o tempo
todo."
"Ah, ok. Mas, por enquanto, acho que só quero saber ... mais sobre. Não me
lembro de nada quando acordo, só que fico com muita fome."
"Você gostaria de saber mais sobre a transformação?"
"Não, não só isso. Coisas como ... isso muda quem eu sou, o resto do tempo?
Isso me faz..." Ele olhou para suas mãos, perdido. Ele não tinha certeza do que
queria dizer e havia um nó em sua garganta.
"Remus," Madame Pomfrey disse, "Esta é uma condição que você tem, não
quem você é."
"Eu fico com raiva, às vezes", disse ele, olhando para o fogo em vez de olhar
no rosto dela, "Eu fico muito, muito bravo."
"Todo mundo tem emoções, elas são perfeitamente naturais. Nós apenas
aprendemos a controlá-las, ao longo do tempo."
Ele acenou com a cabeça, absorvendo o que foi dito. Não podia contar a ela o
resto - "Quando eu transformo, está piorando. Ficando mais difícil."
"Sim", respondeu ela, solenemente, "li que pode piorar com o início da
puberdade."
"Ah ok." Remus concordou. Houve uma longa pausa. "Quão pior?"
"Eu... eu não saberia dizer. Você realmente é o primeiro que eu tratei. "
Outro silêncio. Remus não se sentia melhor do que antes; nem menos confuso.
***
Não passou despercebido que Remus se afastou dos Marotos desde o ataque a
Snape.
"Dever de casa", ele dava de ombros, ou às vezes "Detenção", - embora ele não
tivesse tido outra detenção desde a pegadinha.
A verdade era que ele estava sempre o mais longe possível de outras pessoas.
Tentava deliberadamente ficar fora do quarto até a hora de dormir, e até
evitava a sala comunal. Sentia que até que fosse capaz de controlar sua magia,
seria melhor não se envolver mais nas tramas de James e Sirius. E
eles estavam tramando, sabia com certeza. Às vezes, à noite, Remus podia
ouvi-los se esgueirando para a cama um do outro, e então sussurrando
furtivamente antes de lançar um feitiço silenciador. Outras vezes, eles saíam
sorrateiramente com Peter, por baixo da capa. Sempre tentavam acordar
Remus, mas ele os ignorou.
Ele tinha outro motivo para se esconder. Desde o incidente, o ódio de Snape
pelos marotos havia se intensificado, e ele ia a todos os lugares com Mulciber,
usando-o como proteção pessoal. Se eles se cruzassem nos corredores, Remus
sempre tinha que estar pronto com um feitiço de proteção - Mulciber conhecia
mais azarações do que Sirius e James juntos.
Uma tarde, Remus estava mergulhado em um livro sobre magia em batalhas
antigas - havia um capítulo nele sobre os Úlfhéðnar, guerreiros-lobos
germânicos que lutaram contra os romanos. Ele estava sentado no parapeito de
uma janela bem alta e não podia ser visto do chão, a menos que alguém
estivesse realmente olhando. Escalara usando um feitiço de corda que
aprenderam algumas semanas atrás. Estava prestes a descer e ir jantar quando
fez um movimento errado e derrubou o livro pesado da borda, estremecendo
quando caiu no chão de pedra dura com um baque ensurdecedor.
"Quem está aí?!" Uma voz veio, mais adiante no corredor. Ele ouviu passos, e
com um sentimento de desespero Remus percebeu que sabia quem era.
"Da biblioteca?"
"Quem está aí?" Snape chamou com sua voz anasalada e rancorosa. Silêncio.
"Homenum Revelio."
Remus sentiu uma estranha aperto no estômago e, antes que percebesse, estava
sendo puxado da borda por uma força invisível. Ele gritou, lutando por algo
para se segurar, e acabou pendurado no parapeito pelas pontas dos dedos.
"Ora, ora," Snape ronronou, "Se não é Loony Lupin ... onde estão seus
amiguinhos, hein? Colocaram você aí em cima e se esqueceram? "
"Cai fora, Snape." Remus sibilou, perdendo o apoio na pedra, esperando não
quebrar os tornozelos quando finalmente caísse.
"Igniscopum!" Snape sorriu, apontando sua varinha. Uma corda fina de fogo
disparou em direção a Remus, forçando-o a chutar a parede, caindo de costas
no chão, com força.
"Expeli- "
Remus sentiu seus pés se fundirem com o chão, prendendo-o no lugar. Ele
gemeu – agora estava preso. Poderia até valer a pena pedir ajuda, mas o
corredor estava silencioso e não queria parecer um covarde. Ele olhou para os
dois, desafiadoramente, apertando o queixo.
"Mulciber," Snape se virou para seu companheiro parecido com um troll, "Não
estávamos dizendo outro dia que você precisa praticar mais algumas
azarações? Acho que esta pode ser a oportunidade perfeita."
Mulciber sorriu, lambendo os lábios. Ele ergueu sua própria varinha, não tão
elegantemente quanto Severus, mas com a mesma intenção maliciosa.
"Lapidosus!"
Nada aconteceu por um momento, e Remus sentiu uma onda de alívio - antes
de repentinamente, vindo do nada, uma nuvem de pequenas pedras - como
cascalho - apareceu flutuando no ar. Pairou entre Remus e Mulciber por alguns
momentos, antes de começar a voar para o rosto de Remus, como um nado de
abelhas furiosas. Ele imediatamente ergueu os braços para se proteger, mas
Severus foi rápido demais:
"O que está acontecendo - Severus?" A voz de uma garota veio do final do
corredor.
"Finite Incantatum," Snape sussurrou, apressadamente. As pedras pararam
imediatamente, a corda desapareceu e as pernas de Remus se desprenderam,
todas de uma vez. Ele cambaleou e tropeçou para trás, encostado na parede.
Ele olhou para cima a tempo de ver Lily, sua salvadora, correndo em direção a
eles. Parou ao ver Remus, que rapidamente tentava limpar o sangue do rosto.
Ela olhou para Snape e franziu a testa,
"Nada", ele olhou para o chão, arranhando a ponta do sapato nas lajes. "Só
conversando com Lupin, não estávamos, Mulciber?"
"Espere! Remus!" Lily correu atrás dele. Ele não parou, mas a garota logo o
alcançou. Segurava seu livro de magia de batalha em um braço e agarrou-o
com o outro, "Por favor!" Bufou. Ele parou, suspirando pesadamente - queria
seu livro de volta.
"O que eles estavam fazendo com você? Sev não me contou, e eu sei que foi
ruim. "
"Eu disse a ele para parar de importunar você, eu não sei por que ele faz isso -
quero dizer, você nem sai mais com Potter e Black, eu disse a ele que-"
"São eles que ele realmente quer incomodar - se ele souber que você também
se cansou deles, então-"
"Espere." Remus parou, Lily quase colidiu com ele. "Você está dizendo que
estaria bem com isso se Mulciber e Snape estivessem amaldiçoando James e
Sirius em vez de mim?!"
"Bem," Lily corou, "quero dizer, seria uma luta justa, pelo menos. E, você
sabe, eles trazem isso sobre si mesmos, agindo da maneira que agem."
Remus se sentiu ainda mais desconfortável agora. Ela achava que James e
Sirius haviam atacado Severus nas duas vezes - ela não tinha ideia de que era
ele. Isso confirmou um de seus piores medos - Lily achava que Remus só
andava com James e Sirius porque ele era estranho e porque eles permitiam.
Todos no castelo achavam que ele era tão patético quanto Peter?
"Você está errada." Remus franziu a testa. "Agora me deixe em paz, ok?"
16. Primeiro Ano
Astronomia
"Qual é, cara", disse Peter, segurando a escada para James, "Não passou
despercebido que você tem nos evitado como se fôssemos a praga."
"Eu não tenho." Remus torceu a boca. "Eu só ando ocupado sabe, estudando e
outras coisas."
"Bem, espero que você tenha superado essa fase agora", James riu, descendo
lentamente, segurando a enorme gaiola com as duas mãos, "Eu realmente
apreciaria se você parasse de trabalhar tão duro - me faz ter que trabalhar duro,
sabe, e eu não estou acostumado com competição."
"Ah, não enche, Potter." Sirius falou rispidamente, vasculhando pelas gavetas e
mesas.
Remus decidiu que essa pegadinha não seria tão ruim – ele não precisaria usar
nenhuma magia, de qualquer maneira. Se fosse completamente honesto
consigo mesmo, sentia falta das travessuras. Ser um cdf era muito bom e tudo
mais, mas era entediante. Fazia sentido Evans estar carrancuda o tempo todo.
"O que você está procurando?" Peter perguntou, abafado sob a capa.
"Um Corvino me disse que havia um alçapão aqui embaixo." Sirius suspirou,
levantando-se e limpando os joelhos. "Mentiroso."
"Hogwarts: Uma História diz que existem muitas passagens não descobertas!"
Sirius disse, defensivamente. "Como aquela que você encontrou, Lupin.
Definitivamente há mais, quero encontrar pelo menos uma antes de partirmos."
"Um risco que estou disposto a aceitar," Sirius respondeu, e Remus pôde ouvir
o sorriso em sua voz, "Meu legado é muito mais importante."
***
"Honestamente," Peter gemeu, rabiscando algo no dele, "Você pensa que ele
acertaria a própria maldita estrela ..."
Sirius riu.
"'Sirius." Peter respondeu, "Qual é, Lupin, nós fizemos isso. É a estrela mais
brilhante do céu? A estrela do cão?" Ele suspirou, olhando para o trabalho de
Remus agora, "É, você também não prestou atenção." Grunhiu.
"A Mais Antiga e Nobre Casa dos Black sempre foi um pouco exagerada no
departamento de nomenclatura," Sirius ponderou, "Metade de nós tem nomes
astronômicos - há Bellatrix, é claro; Orion do meu pai, Regulus do meu irmão
... Mamãe não é uma estrela, acho que ela é um asteroide - bem apropriado, se
você já a viu de mau humor. Depois, há o bom e velho tio Alphard, tio Cygnus
... Andrômeda recebeu o nome de uma galáxia inteira. "
"Remus," James riu, "Você sabe que Lupin também é uma constelação, não é?
O lobo."
"O quê?!" Remus sentiu seu coração pular e quase engasgou com o jantar.
Sirius deu um tapa forte nas costas dele, habilmente mudando de assunto;
"Se você já terminou de nos dizer o quão estúpidos somos, Pete, podemos
prosseguir com a libertação de você-sabe-o-quê? Minhas adoráveis primas
acabaram de começar a comer, eu diria que é o momento perfeito... "
Era realmente o momento ideal. James deu um chute forte na gaiola para
acordar os diabretes antes de puxar a capa e sussurrar rapidamente um feitiço
de desbloqueio. Houve uma explosão de ruído, cor e caos.
Remus realmente não sabia o que esperar dos diabretes - eles pareciam
perfeitamente inofensivos durante toda a noite e o dia enquanto estavam
trancados dormindo embaixo da cama de James.
Mas agora podia ver exatamente porque Sirius e James estavam tão animados.
Ao saírem debaixo da mesa, as minúsculas criaturas se espalharam em todas as
direções, tagarelando coisas sem noção num tom agudo e zunindo de um lado
para outro do grande salão. Pulavam em pratos de purê de batata, gritando de
alegria, agarravam pratos e talheres das mãos dos alunos e os jogavam pelo
salão; puxavam rabos de cavalo e rasgavam pergaminhos.
"Rápido!" James se abaixou para passar por baixo da mesa, onde todos se
agacharam sob a capa da invisibilidade, observando a confusão se desenrolar
ao redor deles.
Remus se virou e viu Bellatrix gritando a plenos pulmões, seu cabelo rebelde
sendo puxado de um lado para o outro por uma minúscula praga azul. Outra
que voava acima dela tinha roubado sua varinha e estava acenando-a, lançando
raios azuis na direção de Bella.
"Me larga! Sua coisa imunda - nojenta- você - Aaargh! " Ela lamentou.
Narcissa estava encolhida sob a mesa, segurando sua própria varinha com
força.
"Ela definitivamente vai saber que fomos nós." Peter ofegou, enquanto eles
voltavam para a torre, ainda sob a capa.
"Nah," James respondeu, casualmente, "Aposto que ela vai culpar os Prewett,
eles sempre fazem grandes coisas assim. Algo a se inspirar."
***
"Por favooooor!"
"Não!"
"É só que seria... estranho! Eu não quero que você faça. "
"Ha."
"Eu não vou! Isso é muito importante!" Sirius estava com um humor inquieto,
o que o deixava ainda mais irritante - geralmente James era o único que o
aguentava.
Remus não via por quê. Ninguém nunca havia se importado antes. Havia bolo,
é claro, mas não sobrava muito quando se tinha que dividir um bolo com
cinquenta outros meninos. Além disso, todas as crianças pequenas insistiam
em ter a oportunidade de soprar as velas também, então demorava uma
eternidade. A Matrona embrulhava alguns presentes, mas geralmente eram
práticos - roupas novas, meias, cuecas, canetas e cadernos. Além disso, não
havia nada de especial no dia. Na verdade, ele estava ansioso para ficar longe
de St. Edmund's, porque achava que Sirius, James e Peter eram provavelmente
muito bem educados para saber sobre os 'murros de aniversário' - um soco no
braço para cada ano de idade (e um para sorte - geralmente o mais forte).
"Por que isso importa tanto?!" Remus bufou, passando pelo buraco do retrato.
Ele não suportava quando Sirius ficava assim - teimoso e persistente.
Mas quando ele se virou, ficou surpreso ao ver que Sirius estava esfregando
seu braço, parecendo atipicamente magoado.
"Todos vocês fizeram coisas para o meu aniversário e ... bem, foi muito legal.
Eu nunca ficava muito ansioso para o meu, mas ... bem, foi divertido, não foi?
"
Remus de repente se sentiu culpado. Percebeu que Sirius não queria apenas ser
o centro das atenções novamente - ele estava tentando fazer Remus feliz.
Como se isso também pudesse deixá-lo feliz. Remus nunca teve muitas
oportunidades de dar a alguém o que realmente queriam. Então cedeu.
"Ahh ... ok, tudo bem. Mas não uma grande comemoração nem nada, apenas
marotos, beleza? "
Ele foi acordado de manhã cedo por seus três companheiros de dormitório
amontoados em sua cama, todos gritando: "Feliz aniversário, Lupin!" Eles não
tentaram dar um soco nele, o que significava que o dia já havia começado
como seu melhor aniversário de todos os tempos.
"Aniversariante passando!"
Remus quis se esconder embaixo da mesa quando eles a alcançaram. Seus três
amigos fizeram um grande show servindo-lhe o café da manhã, ao invés de
deixar que ele se servisse. Peter serviu seu chá, James encheu seu prato
enquanto Sirius passou manteiga em sua torrada.
Agora o resto do salão se juntou a ele, e Remus cobriu a cabeça com as mãos,
"É pique, é pique! É hora, é hora, hora!" James gritou, de pé em sua cadeira,
"Pelo menos isso acabou," Remus murmurou, seu rosto queimando quando
eles terminaram de aplaudir. Peter olhou para ele com pena.
***
Eles ainda tinham que aguentar a aula de Poções já que era a última da semana
- Remus descobriu que mesmo fazendo os deveres de casa e entendendo todos
os textos, ainda não tinha nenhum talento natural para poções. Além disso, era
um assunto chato, e Slughorn começou a tagarelar sobre os cinco componentes
principais dos remédios para dormir, e Remus lutou contra a vontade de
cochilar.
Depois do jantar, eles se sentaram na sala comunal e Sirius puxou seu toca-
discos pesado e colocou o Electric Warrior pela centésima vez desde o Natal.
Em algum momento, um bolo foi feito, com glacê vermelho e dourado – cores
da Grifinória, e doze velas rosa. Quando Remus o cortou (o tempo todo
encorajado a fazer um pedido, mas sem conseguir pensar em uma única coisa
que queria), ele ficou surpreso ao descobrir que era feito de quatro sabores
diferentes - um quarto de chocolate, um quarto de limão siciliano, um quarto
de pão de ló e um quarto de café e nozes.
"Uau...obrigado!"
"Então, o que você quer fazer pelo resto do dia?" James perguntou: "Ainda está
claro se você quiser ir e assistir o -"
"Ele não quer, James! Que diabos, você vai ter que começar a desenvolver
alguns outros interesses, cara, você está ficando chato. "
Eles ficaram todos quietos por um tempo, antes de James limpar a garganta,
"Err, Lupin? O que você gosta de fazer?"
Remus pensou. Ele poderia facilmente dar uma lista de coisas que não gostava;
futebol, dever de casa, voar, poções. Mas ninguém nunca lhe perguntou antes
de que tipo de coisas ele gostava. Ele gostava de assistir televisão, mas até
agora não havia descoberto uma TV em Hogwarts. Gostava de poder escolher
o que comer no café da manhã e no jantar. Ele gostava de ouvir Marc Bolan
cantando na vitrola de Sirius. Mas nenhuma dessas coisas eram realmente
hobbies.
"Eu ?!" Remus ergueu as sobrancelhas. Ele não tinha pensado nisso, mas era
verdade. Desde o Natal, de qualquer maneira, terminou todos os seus textos
fixos para o ano e até mesmo alguns livros retirados da biblioteca.
"Ah sim, ótimo," James revirou os olhos, "Feliz aniversário, Lupin, vamos
começar um clube do livro."
"Bem, eu não sei! Além de ler, você parece realmente gostar de detenção,
Remus. "
"O que você quer dizer?! Eu te disse, estive doente, eu vou para a ala
hospitalar. " Disse apressadamente.
"Não, não nesses dias - às vezes você sai depois das aulas ou enquanto
assistimos ao quadribol. O que você fica fazendo?"
Remus sentiu-se ficar vermelho. Estivera vagando sozinho cada vez menos,
mas claramente seus amigos ainda notavam. Todos olharam-no com
expectativa. Ele mordeu o lábio,
"Eu só meio que ... ando por aí." Ele disse, sem jeito.
"Por todo lugar," Remus deu de ombros, "Eu só olho ao redor. Aí eu sei onde
as coisas ficam." Ele puxou o mapa do bolso de trás, "É estúpido, comecei a
adicionar coisas ao mapa que eles nos deram no início do ano e sempre que
vejo algo interessante, eu coloco."
"Minha letra é um lixo," Remus corou ainda mais, querendo pegá-lo de volta.
"O que é isso?" Ele apontou para uma marca que Remus havia feito em uma
das escadas.
"Um dos degraus falsos," Remus respondeu, "É nele que você pode afundar.
Aquele", ele apontou para uma marca em um degrau diferente, "é aquele que
desaparece. As escadas com setas são as que se movem. Eu marquei de
colorido onde elas dão."
"Merlin!" Peter exalou: "Você tem ideia de quanto tempo isso me salvaria?! Eu
juro que fico preso no corredor errado duas vezes por semana por causa
daquelas escadas giratórias."
"Quem liga pra chegar às aulas na hora certa!" Sirius explodiu, "Por favor,
tentem reconhecer a importância extrema da existência desse mapa! As
oportunidades agora são ilimitadas para novas pegadinhas."
"Ainda não está pronto. Tem um monte de coisa que eu quero fazer. Eu queria
por alguns feitiços nele, assim que descobrir como."
Remus hesitou. Não que ele não apreciasse o interesse de Sirius, ou sua
empolgação - mas Remus realmente queria trabalhar no mapa sozinho, por
mais bobo que parecesse. Afinal, Sirius tinha inventado o feitiço de leitura e o
encantamento da chuva. Por razões que ele não conseguia explicar, Remus
tinha um forte desejo de provar que ele era tão inteligente - ou tão capaz - de
fazer o trabalho desta vez.
"Apenas algumas melhorias", disse ele, com cautela. "Vocês vão achar que é
bobo."
"Claro que é seu," James sorriu, de modo assegurador, "Assim como a capa é
minha, certo? Mas para o bem da travessura..."
"Ainda é seu, Lupin," Black continuou, "Vamos colocar seu nome em primeiro
lugar e tudo!"
"Não tenho certeza se queremos nossos nomes nele ..." Peter disse, nervoso.
"Não temos apelidos." Remus respondeu, "Bem, até tenho um, mas eu
realmente não quero 'Loony Lupin 'escrito nele."
Os outros três começaram a rir. Depois disso, Remus decidiu que não era tão
ruim, deixá-los fazerem parte de seu segredo. Ele estava aliviado na verdade;
estava começando a se perguntar se era loucura dele – registrar tudo do castelo,
escrever num papel e depois tentar trazer algum sentido às anotações. James,
Sirius e Peter pareciam menos interessados na parte técnica da tarefa e mais em
planejar a próxima pegadinha com ela.
O resto da noite foi passado sob a capa, vagando pelos corredores. A capa, na
opinião de Remus, era desnecessária, pois planejavam voltar antes do toque de
recolher. Mas James e Sirius nunca perdiam a oportunidade de transformar até
mesmo o menor passeio em uma missão de grande escala, e Peter
simplesmente gostava de se esgueirar sem ser visto. Tudo ficou claro,
entretanto, quando Sirius apareceu com cinco bombas de estrume, com as
quais eles se divertiram no percurso; esgueirando-se por trás de casais
desavisados que se agarravam ou jogando-os nos bolsos de alunos mais velhos
que corriam para a biblioteca.
Remus mostrou a eles no que tinha trabalhado até agora, as passagens e atalhos
que havia descoberto e até mesmo alguns de seus cantinhos escondidos (nem
todos, é claro, por precaução). Ele até contou a eles seu plano de lançar algum
tipo de feitiço de rastreamento na Madame Nora, a gata de Filch, para que ele
pudesse vê-la chegando. Eles adoraram essa ideia.
"Por que parar aí?" Sirius sussurrou, enquanto eles viravam uma esquina de
volta para a sala comunal no final da noite, "Por que não rastrear todo mundo?"
"Todo mundo?"
Mas James e Peter estavam ocupados concordando com Sirius, dizendo que era
uma excelente ideia; já imaginando serem capaz de ver o que Dumbledore
estava fazendo, ou onde Snape estava espreitando. Remus acreditava
firmemente que em questão de tempo, Sirius Black e James Potter seriam
capazes de fazer qualquer coisa que quisessem - era só quem eles eram. Ele
apenas esperava que isto demorasse muito.
18. Primeiro Ano
Revisão
Sirius e James levavam os exames muito a sério; era uma competição para eles
- embora os dois negassem veemente caso perguntasse. Remus suspeitava que
ambos tinham o desejo de defender sua honra de sangue puro - era uma atitude
enraizada em toda a escola, até mesmo entre os professores. Isso não
incomodava Remus - mesmo que não estivesse obtendo as melhores notas em
tudo, ainda estava se saindo melhor do que antes. Estava, na verdade, grato por
não ter família para pressioná-lo.
A pressão sobre Peter era muito evidente. Ele não era um mau aluno de forma
alguma - em Herbologia e Astronomia ele até se superava, muitas vezes
vencendo James. Mas ele ficava nervoso, e isso tendia a afetar seu trabalho
com a varinha, tornando seus encantamentos desleixados. Peter não falava
muito sobre sua família, mas recebia muitas cartas deles, e Remus notou que
James era cuidadoso com o assunto.
"Peter, fique tranquilo", James o acalmava, "Você vai ficar bem; você conhece
toda a teoria de trás para frente agora, é apenas colocá-la em prática. "
"Eu não o culpo por ficar um pouco agitado," Sirius sussurrou para Remus
quando os outros dois estavam fora do alcance da voz, "Houve pelo menos
doze abortos na família Pettigrew - e isso apenas neste século."
"Abortos?"
"Bruxos não mágicos." Sirius explicou, pacientemente, "Você sabe como
famílias trouxas às vezes têm filhos mágicos? Funciona ao contrário também -
ninguém gosta de falar muito sobre isso. Meu bisavô, na verdade, tinha essa
teoria maluca de que os trouxas estavam trocando seus filhos pelos nossos para
que pudessem se infiltrar no mundo mágico. Maluquice completa,
obviamente."
"Certo." Remus respondeu, esperando soar como se entendesse tudo que Sirius
acabara de dizer. "Então é por isso que a magia de Peter é um pouco... fraca?"
"Não sei," Sirius deu de ombros, "Talvez. Eu não sei se eles podem
realmente provar que 'abortismo' corre nas famílias, mas é a razão pela qual os
Pettigrew’s não estão entre os Sagrados Vinte e Oito. "
Sirius sorriu.
"Bem, eu não sei, Lupin, com toda a leitura que você faz hoje em dia. É bom
saber que ainda há coisas nas quais eu sou melhor que você."
"Os Sagrados Vinte e Oito são os mais puros dos puros-sangues. As últimas
famílias 'não contaminadas' remanescentes."
Remus deu a Sirius outro olhar maldoso. O menino de cabelos escuros ergueu
as mãos, correndo para se explicar,
"Palavras deles, não minhas! Você sabe que eu não acredito em nada desse lixo
de pureza de sangue. "
"Sei," Remus ergueu uma sobrancelha. "Mas aposto que os Black's estão no
topo da lista."
"Na verdade," Sirius respondeu, os olhos brilhando com humor, "Os Abbot's
são os primeiros. É em ordem alfabética."
Havia duas coisas que estavam preocupando Remus muito mais que passar de
ano. Primeiramente, o triste e inevitável fato que retornaria a St Edmund's em
junho. Mesmo estando fora de lá por apenas alguns meses, as diferenças da
antiga instituição e Hogwarts eram gritantes. Enquanto os outros alunos
ansiavam por longas e quentes férias de verão, cheias de viagens, descanso e
cochilos, Remus sentia-se como se estivesse enfrentando um exílio.
Eles não tinham permissão para fazer nenhuma mágica fora de Hogwarts até os
dezessete anos, o que significava que, além de perder o contato com seus
amigos, Remus não seria mais capaz de ler. Para ele, o verão se estendia, vazio
e isolado, pontuado por longas noites trancado em sua cela.
E havia o segundo problema, pronto estragar a vida de Remus com seu focinho
feio e peludo. Como Madame Pomfrey imaginava, desde que Remus
completara 12 anos, suas transformações se tornaram muito, muito piores. Não
havia explicação para isso em nenhum dos livros que leu, a não ser algumas
palavras aqui e ali sobre adolescência e a puberdade.
Enquanto que antes, ele acordava na manhã seguinte com algumas marcas de
dentes e garras – como algo feito por um filhote brincalhão, sem intenção
alguma de machucar - ele agora se via com arranhões profundos que
sangraram copiosamente até Pomfrey chegar para estancá-los. A própria
agonia da transformação também chegava a níveis quase intoleráveis, e ele
frequentemente se sentia enjoado horas antes da lua nascer.
Para piorar a situação, Remus estava passando cada vez mais tempo na ala
hospitalar e estava cada vez mais difícil de explicar aos marotos. Seus amigos
começaram a se perguntar em voz alta, como se Remus nem estivesse ali, qual
seria a razão de seus sumiços - às vezes sugeriam que ele estava fingindo para
fugir das aulas, outras vezes provocavam-no dizendo que era contagioso.
Pelo menos em St. Edmund ele não tinha amigos que se importavam com onde
ele ia todos os meses.
Sirius claramente não estava ansioso pelo verão também. Ele ficava
estranhamente quieto sempre que as férias que se aproximavam eram
mencionadas, seus olhos tornavam-se turvos e a cor deixava seu rosto. James
os convidou para ficarem com ele o tempo que quisessem - mas Sirius
permaneceu pessimista.
"Tenta se animar, talvez eles deixem, cara," James jogou um braço ao redor de
seu amigo. Eles estavam sentados juntos no grande sofá da sala comunal, Peter
na poltrona concentrado em transformar uma banana numa pantufa. Não estava
dando certo. Remus estava deitado no tapete em frente à lareira, de barriga
para baixo. Ele tinha um corte nas costas que não estava cicatrizando direito,
mesmo depois dos cuidados da Madame Pomfrey, e essa era a única posição
confortável.
"Mas eles não vão. O maldito casamento de Bellatrix é em junho, pode apostar
que eles vão me querer presente pra todas as chatices."
"A gente recebeu um convite para ir." Peter falou de repente, erguendo os
olhos da pantufa, que ainda estava amarelo brilhante e parecia estranhamente
macia. "Quem sabe eu não te vejo lá."
"Ah sei, ótimo." Sirius bufou, suspirando tão forte que seu longo cabelo caiu
sobre sua testa. "Se até lá eu não for transformado em uma salamandra. Ou
amaldiçoado a ficar preso num retrato durante o verão todo - eles realmente
fizeram isso com Andrômeda uma vez. Ela nunca mais foi a mesma, odeia
pinturas de bruxos agora. "
Sirius sorriu para James e este sorriu de volta. A linguagem corporal deles era
igualzinha e Remus sentiu uma pontada de solidão. Ele sabia que os problemas
na família de Sirius eram muito maiores que o fato dele ser a ovelha negra da
família – haviam as cicatrizes que Sirius havia mostrado em setembro,
obviamente, mas para Remus isso era completamente normal. A Matrona o
batia se ele causasse problemas, e seus professores trouxas frequentemente
usavam a palmatória – não havia motivo para ele suspeitar que a vida
doméstica de Sirius era fora do comum.
James obviamente sabia muito mais sobre. Remus percebera, porque era a
única coisa sobre a qual Potter nunca zombava de Sirius - família. Eles
conversaram muito à noite, os dois - Remus tinha ouvido Sirius chorar mais de
uma vez. Isso o fez querer lançar seu próprio feitiço silenciador; ele odiava o
som das lágrimas e raramente chorava.
"Hm?" Remus saiu de seus pensamentos. Ele arqueou as costas com cuidado e
tentou não fazer uma careta quando a dor o invadiu como um raio.
"Você deveria vir e ficar durante o verão. Temos muito espaço e mamãe não se
importa."
"Não posso," Remus balançou a cabeça, olhando de volta para seu livro. Suas
costas estavam pegando fogo. "A Matrona não me deixa. Coisas de guardião
legal, lei trouxa."
Remus sorriu, mas sabia que não havia nada que James pudesse fazer. As luas
cheias aconteciam no final de cada mês, como sempre, e não sobrava tempo
nem mesmo para passar uma semana lá ao fim das férias. Além disso, a
Matrona realmente não o deixaria.
"Muito bem, Pete," disse Sirius, sem interesse. "Experimente para ver se cabe."
"Ele estava brincando, Pete! Você tem que parar de fazer as coisas só porque
mandamos."
"Você está bem, Lupin?" Sirius ergueu os olhos de repente. Remus estava
tremendo no tapete. Ele tinha que ir para a ala hospitalar imediatamente, mas
não tinha ideia de como se explicar.
"Onde? É quase toque de recolher," o rosto de Sirius se iluminou, "O que você
está planejando?"
"A gente vai também!" James também se levantou, "Vou pegar a capa."
Todos congelaram, até mesmo Peter, que estava tirando pedaços de banana dos
dedos dos pés.
"Eu ..." Remus gaguejou, "Não me sinto bem. Eu só quero ver Madame
Pomfrey, só isso. "
"Tudo bem, cara," James ergueu as mãos gentilmente, "Fica tranquilo. Quer
que a gente vá com você mesmo assim? "
"Eu vou." Sirius disse, rapidamente. Ele se levantou e pegou Remus pelo
cotovelo, conduzindo-o até o buraco do retrato antes que os outros dois
pudessem dizer alguma coisa.
"Sirius..." Remus começou, uma vez que eles estavam no corredor vazio.
"Tá tudo bem Lupin, eu só vou te acompanhar até lá. Não vou entrar com você
nem nada."
Remus olhou para ele confuso, então acenou com a cabeça e começou a andar,
tão rápido quanto suas costas doloridas permitiram. A essa altura ele conhecia
Sirius bem o suficiente para saber que não tinha como fazer ele mudar de ideia.
Peter deixaria seu nervosismo levar a melhor e voltaria correndo. James
respeitaria as vontades de Remus. Mas Sirius, Sirius era teimoso, tinha que
empurrar até o limite.
"Você está bem?" Sirius perguntou, olhando para ele, "Você está andando
meio esquisito."
"Não me sinto bem." Remus repetiu, com os dentes cerrados. Esperava que
Sirius apenas pensasse que ele estava bravo com, e não percebesse que na
verdade estava reprimindo um grunhido de dor.
"Espero que você melhore." Foi tudo o que Sirius disse. "Podemos vir te visitar
amanhã, se você não tiver saído?"
"Acho que sim." Remus disse, cautelosamente. Ele tentou encolher os ombros,
mas estremeceu. A expressão de Sirius não mudou.
"Se cuida, Lupin." Ele disse, baixinho, antes de se virar e voltar correndo pelo
caminho de onde vieram.
Remus o observou ir, até ele dobrar a esquina. Tinha a estranha sensação de
que Sirius olharia para trás antes de desaparecer. Quando não o fez, Remus não
pôde deixar de se sentir estranhamente desapontado, embora devesse saber
melhor - Sirius Black nunca fora previsível.
O mesmo não poderia ser dito sobre o resto de seus colegas de classe. Lily
Evans estava emboscando alunos na biblioteca e na sala comunal, exigindo que
a questionassem sobre as Revoltas dos Goblins do século 18. Peter estava
constantemente murmurando em voz baixa, torcendo as mãos. Marlene
McKinnon e Mary McDonald, duas grifinórias do primeiro ano, a quem Remus
tentava evitar, não paravam de explodir em gargalhadas histéricas por causa do
nervosismo. James e Sirius pareciam estar agindo com mais bravura do que
nunca; disparavam fogos de artifício nos corredores e realizavam feitiços de
desaparecimento em mochilas de alunos desavisados na biblioteca. Remus não
sabia dizer se os dois estavam apenas respondendo à atmosfera geral de
ansiedade ou se eles estavam gastando sua própria energia nervosa.
Os alunos mais velhos não tinham simpatia com seus colegas mais jovens.
Frank Longbottom deu mais detenções na última semana do semestre do que
durante o ano todo, e até ameaçou tirar cinquenta pontos da Grifinória se
James e Sirius não parassem de levitar tinteiros na sala comunal. Remus achou
que eles tinham sorte - Bellatrix Black amaldiçoou de verdade metade dos
sonserinos numa noite por falar muito alto enquanto ela estudava para os
NIEMs. Eles ficaram sem falar por três dias - Madame Pomfrey teve que fazer
crescer suas línguas de volta.
A primeira prova deles foi Feitiços, o que fez Remus já ter um bom começo.
Tudo o que precisavam fazer era enfeitiçar um coco para dançar à moda
irlandesa, o que ele achou bem fácil. Ele, James e Sirius conseguiram sem
problemas. Já Peter teve dificuldades, a princípio o coco dele recusou-se a
dançar, e quando ele finalmente conseguiu com que se mexesse, ele perdeu o
controle e o coco saiu rodopiando da mesa e espatifou-se no chão.
Transfiguração correu quase bem, embora fosse uma matéria mais complicada.
A tarefa deles era transformar um besouro em um saleiro - Sirius finalizou o
dele em minutos, mal escondendo seu orgulho quando McGonagall comentou
que era o melhor exemplo de transfiguração em pequena escala que ela já tinha
visto de um aluno do primeiro ano. O saleiro de Remus não ficou tão ruim,
embora ainda fosse brilhante e preto, enquanto Sirius de alguma forma
conseguira transformar o dele em vidro. James tentou transformar em
porcelana, e parecia ter se saído bem até que McGonagall tentou sacudir um
pouco de sal e ele abriu asas e voou para fora da janela, fazendo Marlene e
Mary gritarem. O de Peter ainda tinha perninhas e antenas, mesmo depois de
uma hora.
"Tem que ser grande." James disse, decisivamente. Estava sempre fazendo
declarações desnecessárias como essa, esperando que alguém tivesse uma ideia
para ele aprovar. "Nossa última marca."
"Só vocês vão voltar", preocupou-se Peter, "Eu tenho certeza que falhei em
tudo."
James acenou com a mão, dispersando os medos de Peter. O dia estava muito
quente e preguiçoso para ficar o tranquilizando o tempo todo. Estavam
descansando no novo lugar favorito, perto de uma árvore à beira do lago. Peter
sentava-se sob a sombra dos galhos porque era pálido e se queimava
facilmente. James e Sirius haviam tirado os robes do uniforme e arregaçado as
mangas de suas camisas para combater o calor. Remus simplesmente ficou
deitado ao sol, ainda com os robes para cobrir seus ferimentos mais recentes,
apreciando o calor que aquecia suas juntas doloridas. Gostara do novo local
porque o Salgueiro Lutador estava atrás deles, então não tinham que olha-lo.
"A gente ainda tem alguma bomba de bosta sobrando?" Remus perguntou,
encarando o céu azul, então fechando os olhos para observar os padrões
projetados em sua retina pelo sol.
"Eles saberão que fomos nós. McGonagall sempre sabe," Sirius acrescentou,
levantando-se e atirando uma pedra pelo lago. Ela quicou cinco vezes - Sirius
era incrível em atirar pedras. Ele tinha essa graça fluída que era mais animal do
que humano. Isso irritava Remus - afinal, ele quem era parcialmente não
humano, e tinha toda a graça natural de um verme-cego.
"Eles podem pensar que foram os Prewetts." James respondeu: "Eles têm nos
superado o ano todo."
"E o pó de coceira foi muito bom, vocês têm que admitir." Remus murmurou,
jogando um braço sobre o rosto.
"Exatamente," Sirius continuou, com entusiasmo, "Você precisa nos dar pontos
pela engenhosidade."
"E a nuvem de chuva!" Peter saltou, ansioso para se envolver. Todos ficaram
quietos. Remus se sentou. Eles não tinham conversado sobre esse incidente
desde janeiro. Peter mordeu o lábio, percebendo o que tinha feito.
"De qualquer forma, o que quero dizer é que nós quatro tivemos mais
detenções do que todo o resto da Grifinória combinado só este ano. O que mais
você quer que façamos, James? Assinemos nossos nomes?"
Ele ergueu um braço, pronto para jogar a pedra de volta no lago, mas James
saltou na hora e agarrou seu ombro, fazendo com que ela caísse.
"É isso aí!" James pulou, animado, "Vamos assinar nossos nomes!"
"A gente o que?" Remus semicerrou os olhos para os dois. Ele desejou não ter
olhado para o sol por tanto tempo, agora sua visão estava embaçada e ele
estava começando a ter uma dor de cabeça.
"Eu posso estar, Black." James mexeu as próprias sobrancelhas de volta - ele
não conseguia levantar apenas uma, como Sirius.
"Bem, eu lhe digo, velho amigo." Sirius sorriu, adotando um sotaque ainda
mais refinado e aristocrático do que o normal.
"Estonteante!"
"Magnificente!"
Os dois se desmancharam em risadas, caindo no chão e brincando de lutinha.
Remus e Peter trocaram um olhar. Esse tipo de coisa estava acontecendo cada
vez mais; James e Sirius se envolveriam em uma de suas piadas internas e
deixariam os outros sem entender nada. Remus se levantou e foi se sentar com
Peter.
"Alguma ideia do que eles estão falando?" Perguntou ao menino menor. Peter
estava com o rosto vermelho, a testa franzida. Estava claramente tendo
pensamentos profundos.
"Eles querem que a gente escreva nossos nomes em algum lugar. Talvez nas
paredes?'' Respondeu, devagar.
"O que?" Remus perguntou, "Tipo... entalhar na pedra ou coisa assim? Isso é
um pouco permanente, não é?"
"É tudo que eu consigo pensar.", Peter deu de ombros. "James diz que quer que
seja grande ... as paredes são as maiores ... ah ... AH!" Levantou num salto,
"Rapazes!" Ele gritou. "Tive uma ideia!"
"O gramado!" Peter continuou andando enquanto pensava em voz alta: "É a
maior tela e não teria que ser permanente, poderia ser ... se usássemos uma
poção cresce-rápido..."
Remus suspirou profundamente. Por que ninguém estava fazendo sentido hoje?
***
"Desculpa!"
"Certo." James disse, como um profissional, com as mãos nos quadris, "Nós
concordamos em escrever 'com amor' ou 'de'?"
"Aww, claro que você prefere, Black," James bagunçou o cabelo dele
brincadeira, fazendo Sirius se esquivar e fazer uma careta. " 'Amor', então.
Vamos, senhores, para o trabalho!"
Uma hora depois, o saco de sementes estava vazio, e Remus estava seguindo a
trilha que os outros haviam deixado, derramando a poção 'cresce-rápido' no
chão.
"Eu já fiz," disse Remus, terminando o resto da poção. "Enquanto eles ainda
estavam no saco."
"Bem pensando, Lupin!" Sirius deu um tapa no ombro dele, "Sempre soube
que você era o inteligente."
"Não vamos volta ainda", disse James, "Olha, podemos ver o sol nascer."
"O próximo ano será ainda melhor, rapazes," James sorriu, seus óculos
refletindo o sol enquanto ele jogava um braço em torno de Peter e Sirius.
Remus ficou um pouco afastado para o lado, contente apenas em estar na
presença deles.
Além disso, Remus não queria dormir. Suas últimas horas em Hogwarts
estavam se esgotando muito rapidamente, e ele não queria perder nenhuma
delas. Se sentou no parapeito da janela e observou a pegadinha deles se
desenvolvendo na grama abaixo. As sementes já estavam criando raízes e
crescendo muito rapidamente, contorcendo como algo saído de um filme de
ficção científica.
"Ainda acho que deveria ter sido 'tavam' não 'estiveram'." Disse Remus.
"Erro de gramática, Lupin," Sirius bocejou, "Eu não poderia ter vivido comigo
mesmo se tivesse errado." Ele se espreguiçou sonolento e deitou na cama de
Remus, que por acaso era a mais próxima, se enrolando para dormir.
Remus olhou para ele por um tempo do parapeito da janela. Com os olhos
fechados, na suave luz do amanhecer, Sirius parecia mais delicado, mais
jovem. Remus passou o ano inteiro admirando a ele e James; como eram
invencíveis, como eram ousados. Mas ambos eram apenas crianças, na
verdade. E não importa o quão grande a pegadinha final fosse, isso não
impediria o trem de vir buscá-los amanhã, para levar Remus de volta para St.
Edmund e Sirius de volta da onde quer que ele viesse - uma casa onde os
retratos gritavam com ele, e a família não se importava se ele fosse o primeiro
da turma em Transfiguração.
Ele olhou pela janela novamente, pressionando a testa contra o vidro frio e
suspirando profundamente. Fora uma brincadeira muito boa; todos eles
deveriam estar orgulhosos. McGonagall teria um ataque. Dumbledore
provavelmente iria gostaria. Não havia necessidade de se sentir tão triste, eram
apenas dois meses.
Caro Remus,
Semana passada foi o casamento de Bellatrix - pelo menos ela não estará em
Hogwarts no ano que vem. Regulus e eu fomos padrinhos e tivemos que usar
vestes verdes. Definitivamente não é a minha cor. Minha família inteira estava
lá, foi horrível. Você deveria ter visto o que Bella fez com cabelo, ela parecia
completamente louca. Cissy tingiu o dela também – de loiro, pra ela poder
ficar parecida com seu namorado metido, Malfoy. Não consigo nem acreditar
que minha tia deixou, duvido que minha mãe deixaria eu pintar meu cabelo.
James diz que seus pais estão me deixando ficar com eles neste verão. Meus
pais não me deixariam ir para os Potters, mas talvez eles me deixem ficar com
os Pettigrew’s, então vou pedir a Pete que me convide. James disse que iria
convidar você também, espero que você possa ir. Vai ser ótimo, assim como a
escola.
Te vejo em breve,
Sirius O. Black
***
Caro Remus,
Espero que você esteja tendo um bom verão e os trouxas não estejam te
abatendo.
Mamãe e papai dizem que você é mais que bem-vindo para uma visita. Sirius
está tentando vir para ficar o verão inteiro, o que seria brilhante. Se você puder
vir, responda a esta coruja o mais rápido possível. Mamãe disse que ela mesma
escreverá uma carta se sua Matrona precisar que ela o faça.
Sinceramente,
James.
***
Caro Remus,
James e Sirius disseram que tentaram entrar em contato com você, mas você
não respondeu. Eu disse a eles que talvez você não soubesse como as corujas
funcionam. Você só precisa amarrar a carta no pé deles, como fizemos, e
depois soltar. Elas normalmente acertam para onde deveriam ir.
Peter.
***
Caro Remus,
Você está bem? Não ouvimos nada de você, espero que não tenha tentado usar
o correio trouxa. Estou com os Potters agora, é ótimo. Os pais de James pais
são muito legais, nada como os meus.
James está sendo um pouco chato. Ele acha que nós dois vamos entrar no time
de quadribol este ano e continua me levantando às seis da manhã para praticar
voo. Completamente maluco. Mas é um pouco divertido, e se Grifinória
precisa de um batedor, então eu posso tentar. Mal posso esperar para mostrar
minha vassoura, você pode experimentar se quiser - talvez você goste de voar
se estiver usando um equipamento decente.
James acha que sua Matrona não vai deixar você vir - você acha que se
escrevêssemos para Dumbledore ou McGonagall, eles poderiam obter
permissão? Você é um bruxo, afinal, você não deveria ficar preso a trouxas
durante todo o verão.
Se você realmente não pode vir, você vai ir para o Beco Diagonal por causa
das coisas da escola? Talvez possamos nos encontrar lá em agosto?
Sirius O. Black.
***
Caro Remus,
Não somos os Marotos sem você, por favor, venha! Temos muito espaço e
mamãe não se importa. Tenho treinado Sirius e Pete para o quadribol no ano
que vem - acho que, se resolvermos seu problema com alturas, você poderia se
tornar um batedor decente.
Você gosta de bater nas coisas, não é? E você é provavelmente o mais forte de
nós quatro, então acho que faz sentido. Sirius quer ser um batedor também, ele
pode te mostrar como faz. Vou até ver se minha velha vassoura ainda está
guardada no galpão, e você pode ficar com ela!
James.
***
Caro Remus,
Por favor, venha e nos salve do reinado de terror de James. Eu nem quero estar
no time de quadribol.
Peter.
***
Caro Remus,
Espero que você esteja recebendo essas cartas. Estamos começando a ficar
preocupados com você.
Fomos todos ao Beco Diagonal juntos, foi ótimo. A mãe de James comprou
sorvete para nós e nos deixou ir aonde queríamos. Provavelmente passamos
cerca de três horas em Suprimentos de Qualidade para Quadribol. Eu
realmente queria sair para a Londres trouxa e encontrar uma loja de discos,
mas não tínhamos permissão para sair do beco.
Andromeda me enviou este novo álbum - Merlin, você realmente tem que
ouvir, Lupin! É melhor do que Electric Warrior. Melhor do que QUALQUER
COISA. Tenho certeza de que o cantor é na verdade um bruxo - você já ouviu
falar de David Bowie?
Você está tendo um bom verão? Como é estar de volta?
Escreva logo!
Sirius O. Black.
***
Caru Sirius,
Por faver não manda mas cartas. Não da pra ler e a Matrona tá irritada com
as corujas.
Te veju no trem.
Remus.
21. Segundo Ano
Regulus Black
Remus agarrou as alças de sua velha mala surrada, com os nós dos dedos
brancos. Seu estômago dava cambalhotas animadas enquanto ele observava a
multidão agitada. A Matrona o deixou correr para a barreira desta vez, embora
tivesse desviado o olhar no último minuto, apavorada. Agora ela estava bem
atrás dele, no lado trouxa da estação, e ele não teria que vê-la novamente por
mais dez meses.
Ele teve um pesadelo terrível na noite anterior, no qual eles chegariam a King's
Cross e seriam incapazes de chegar à plataforma 9 ¾ - e nada daquilo teria sido
real; magia, varinhas, bruxos, seus amigos. Mas Remus tentou afastar esses
pensamentos de sua mente enquanto olhava ansiosamente ao redor, procurando
por um rosto familiar.
"Deixaram você voltar, não é?" Uma voz fria interrompeu sua busca. "Os
padrões devem estar caindo."
Remus sentiu seus ombros ficarem tensos. Por que a primeira pessoa com
quem ele iria falar tinha que ser Snape?!
"Ugh, o que diabos é esse cheiro?" Snape falou lentamente, franzindo o nariz
grande demais. Remus corou - ele fedia a antisséptico, sabia disso; A Matrona
tinha sido liberal demais naquela manhã.
"Eu disse pra cair fora!" Remus murmurou, apertando o maxilar e cerrando os
punhos.
Viu Severus recuar, ligeiramente. Remus sabia como deveria estava parecendo
- havia passado dois meses sem magia, cercado por garotos maiores e mais
durões do que Snape. Ele estava com muita raiva acumulada e pronto para dar
um soco na menor provocação.
"Ei, careca!" Outra voz soou sobre a multidão. Um garoto com óculos e cabelo
preto espetado em todos os ângulos estava inclinado para fora de uma das
janelas da carruagem, acenando loucamente para Remus.
Lançando um olhar sujo para Snape, Remus agarrou sua mala e correu para o
trem, passando por outros alunos a fim de chegar ao vagão onde seus amigos
estavam esperando.
"Lupin!" Peter deu um pulo, animado. Ele não sabia bem o que fazer consigo
mesmo uma vez que estava de pé - eles certamente não iriam se abraçar como
garotas e, aparentemente, apertos de mão não eram adequados. Pettigrew deu
um tapinha desajeitado no braço dele, e Remus apertou o dele em troca.
"E aí rapazes," Remus sorriu, suas bochechas doendo de felicidade quando ele
se sentou. "Como tem estado?"
"Devíamos estar perguntando isto a você!" James riu, dando um soco no braço
dele. "Nenhuma coruja durante todo o verão!"
Remus olhou para Sirius, furtivamente. Ele não havia mencionado a carta que
Remus havia enviado, então.
"Você sabe que eu sou praticamente um trouxa nas férias", ele respondeu,
"Nem consegui pegar meu baú para fazer o dever de casa, deixaram ele
trancado."
Isso não era estritamente verdade - Remus pediu à Matrona para trancar suas
coisas de Hogwarts, com medo de que os outros meninos as pegassem. O dever
de casa que ele não fez porque não conseguia. Ouviu-se um ruído silencioso de
nojo no canto. Remus olhou, confuso.
Sentado no assento ao lado de Sirius estava outro garoto mais novo, com os
mesmos olhos azuis profundos e longos cabelos escuros; os mesmos traços
inconfundíveis dos Black's - lábios carnudos e maçãs do rosto tão afiadas que
poderiam cortar vidro.
"Este é o Reg." Sirius acenou com a cabeça, casualmente, "Diga olá, Reggie."
"É Regulus." O menino respondeu, irritado, sua voz alta e aristocrática soando
indignada.
"Oi Regulus," James sorriu, oferecendo uma mão amigável, "Eu sou James."
"Eu não queria sentar aqui." Regulus respondeu. "Você que me fez entrar."
"Uau, ele realmente tem o charme da família Black," James sorriu. Sirius
balançou a cabeça, desesperado, apoiando um pé no banco oposto e o cotovelo
no vidro da janela. O apito soou e o trem começou a sair da estação.
"Não devia ter esperado nada diferente," Sirius murmurou, "Ele sofreu uma
lavagem cerebral total. E tá irritado comigo. Eu não deveria ter ficado longe o
verão todo. "
"Provavelmente." Sirius franziu o cenho, "Ele sabe que eu não vou falar com
ele, se ele ficar. Preferia que ele ficasse na Lufa-Lufa."
Remus achou isso um pouco cruel. Certamente, ele não gostava de Snape e
Mulciber - e sim, eles pregaram algumas peças na Sonserina, mas Remus
nunca odiou a Sonserina como Sirius parecia odiar. Certamente ele não
renegaria o próprio irmão só porque eles tinham um uniforme ligeiramente
diferente? A única coisa que Remus podia ver de errado com os Sonserinos era
que a maioria deles eram esnobes - e Sirius, James e Peter eram esnobes
também, embora não percebessem.
O verão tinha sido incrivelmente tedioso. Tentou ler alguns dos livros
espalhados por St. Edmund's, mas sem magia era muito frustrante. Ele leu
muito lentamente cada uma das cartas de seus amigos, mas estava muito
envergonhado para tentar escrever de volta para qualquer um que não fosse
Sirius. Ele também teve que se esconder muito. Remus se sentia como se às
vezes tivesse passado dias inteiros sem falar com ninguém; os outros meninos
foram informados de que ele estava em um internato particular, pago pelo
testamento de seu pai. Isso, é claro, o tornava mais um alvo do que nunca e,
combinado com suas luas cheias cada vez mais difíceis, Remus passara grande
parte do verão coberto de hematomas.
Luas cheias eram outra razão pela qual ele ficou aliviado por estar voltando
para Hogwarts, onde Madame Pomfrey, a medi bruxa da escola, não era apenas
mais simpática do que a Matrona, mas muito melhor qualificada para lidar com
as peculiaridades de sua condição. A Matrona ficou horrorizada ao ver os
novos ferimentos que Remus infligia a si mesmo a cada mês, e o tratou como
se tivesse feito eles de propósito, apenas para irritá-la. Tinha sido muito pior do
que no verão anterior, quando escapava com alguns arranhões e hematomas
todas as noites. Agora, por baixo de suas roupas trouxas, Remus estava coberto
por bandagens e curativos que puxavam e pinicavam sempre que ele se movia.
Esperava que pudesse escapar para a ala hospitalar assim que chegassem.
Sirius e James estavam ocupados contando a Remus sobre seu próprio verão,
com Peter participando aqui e ali, ansioso para deixar claro que na maioria das
vezes eram eles três. Parecia que todos eles haviam se divertido muito, mesmo
havendo muito quadribol. Os pais de James tinham um chalé à beira-mar, bem
como o que James chamava de "casa de veraneio" perto de Londres. Os três
meninos acamparam na praia, pescaram, soltaram pipas e planejaram suas
pegadinhas para o ano seguinte. Eles conversaram sobre isso animadamente
por tanto tempo que Remus teve vontade de mandar todos calarem a boca.
***
Remus estava imensamente feliz por ter enchido o estômago no trem, porque
ele havia esquecido quão demorado era a cerimônia de seleção, especialmente
quando você não estava participando dela. Regulus foi de fato selecionado para
a Sonserina, o que foi uma surpresa apenas para Sirius, que Remus ouviu
exalar fortemente em descrença. O irmão Black mais jovem correu para se
juntar a seus colegas e a Narcissa, que agora usava um distintivo de monitora
prateado, bem como um novo penteado platinado elegante.
"Parece que ele precisa superar Evans," James disse, soando estranhamente
pensativo. Todos olharam para ele confusos. "Ah, é óbvio!" Ele sorriu,
"'Snivellus está claramente apaixonado por uma certa grifinória ruivinha", ele
piscou para Lily, que retribuiu com um olhar de nojo e evidentemente deu-lhe
as costas para continuar a conversa com Marlene.
"Então só porque temos o broto que ele gosta, ele vai ser um pé no saco pelos
próximos seis anos?" Sirius respondeu, desacreditado.
Remus piscou. Broto?! Sirius não era o tipo de pessoa que chamava garotas de
'broto', o vocabulário dele era muito rebuscado. Onde diabos ele tinha ouvido
isso?
Remus silenciosamente concordou com ele. Ainda assim, Potter não parecia se
importar em ter suas teorias contestadas. Ele deu de ombros, comendo suas
batatas assadas.
"Se você diz. Ainda deve estar irritado com aquela vez que Remus deu um
soco nele, então."
"O que aquela mulher tem feito com você ?!" Ela engasgou, com raiva.
"Ah não, eu mesmo fiz isso," Remus gesticulou secamente para seu peito nu. A
enfermeira resmungou, tirando outra bandagem.
"Sim, mas ela mal fez nada para tratar você ... Eu não fazia ideia que a
medicina trouxa era tão primitiva! Estas são feridas mágicas, elas precisam de
cuidados mágicos! "
Madame Pomfrey queria observá-lo durante a noite, mas ele recusou, mal-
humorado. Faltavam duas semanas para a lua cheia e ele queria dormir em sua
própria cama o máximo possível.
"Graças a Merlin você está aqui," James gemeu de sua própria cama, onde
estava folheando uma revista de quadribol. "Ele está falando daquele cantor
trouxa o verão todo."
"Ele não é trouxa!" Sirius retrucou, com as mãos nos quadris, "Ele tem que ser
um bruxo. Tem que ser! Você deveria ver as roupas que ele usa ..."
Remus cruzou o quarto e pegou a capa do disco. Ele sorriu, ligeiramente
surpreso,
"Oh, Bowie! Eu gosto dele. Mas eu não acho que ele seja bruxo,"
Sirius parecia um pouco desapontado por Remus ter ouvido falar dele, e
Remus explicou rapidamente: "Eu ouvi muito Starman no rádio, mas ninguém
em St Eddy's tem o álbum!"
Satisfeito, Sirius colocou o disco preto que estava segurando no prato e fixou a
agulha no lugar. James suspirou profundamente e se levantou, saindo da sala
com a revista debaixo do braço. Sirius o ignorou, observando o rosto de Remus
ansiosamente quando a lenta batida da bateria começou. Remus se sentou na
beira da cama e fechou os olhos para ouvir.
Não era o mesmo que Electric Warrior; era mais sombrio, mais
temperamental. Remus gostou muito. Havia uma história nele, embora não
tivesse certeza que tinha entendido todas as partes ainda. Enquanto as notas
finais de Rock n Roll Suicide reverberavam, Sirius ergueu a agulha e a moveu
de volta,
Remus sorriu – imaginava que fosse. Era alta e rude, e dava para dançar. This
mellow thigh'd chick's just put my spine outta place ...
Em sua opinião, ele achava que gostou mais de Moonage Daydream, porque
era estranho e espacial. Ou Lady Stardust, porque, por algum motivo, isso o
lembrava de Sirius. - his long black hair, his animal grace; the boy in the
bright blue jeans... Remus rapidamente descartou esse pensamento, certo de
que Sirius acharia histericamente engraçado.
"Te disse!" Sirius sorriu triunfante, "Eu vou conseguir mais, também, todos os
álbuns."
"Legal! Eu gostaria que a Sra. Potter nos tivesse deixado sair do Beco
Diagonal, eu até consegui algum dinheiro trouxa de Gringotes. "
"O que é o Beco Diagonal?" Remus perguntou, embora achasse que tinha
alguma ideia pelas cartas das férias.
"Maldição, Lupin," ele estalou a língua, "É uma rua mágica, em Londres. Os
trouxas não podem entrar - como em Hogsmeade."
"Oh, certo." Não parecia tão emocionante para Remus; fazer compras era
chato.
"Que coisas?"
"Coisas da escola - seus livros, seu uniforme ..." Seus olhos dispararam para as
mangas desgastadas das vestes pretas de Remus. Os de Sirius eram novos, com
acabamento imaculado e o corte ligeiramente melhor do que de todo mundo.
"É segunda mão, eu acho," Remus respondeu, "Dumbledore que manda pra
mim. Não sei como eu entraria numa rua mágica; não tenho permissão para ir a
Londres sozinho."
"Próximo verão." Sirius disse, com firmeza, "Você tem que vir ficar na casa de
James, podemos te levar ao Beco Diagonal, você vai adorar."
"Você sabe que não posso," Remus disse baixinho, sem fazer contato visual.
"Nós vamos dar um jeito." Sirius disse, com confiança, "A gente fala com
Dumbledore, McGonagall - o Ministro da Magia, se for preciso!"
Remus forçou um sorriso, fingindo que acreditava em Sirius.
***
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars tornou-se a
trilha sonora do dormitório masculino da Grifinória na semana seguinte, e até
mesmo James – que era desafinado para qualquer coisa relacionado a música -
começou a cantarolar junto.
Remus nunca se sentiu tão contente e à vontade em toda a sua vida. Ele estava
longe de St. Edmund's, longe de camisas cinza, da Matrona, quartos trancados
e meninos problemáticos que queriam bater nele. Não estava coberto de
bandagens (pelo menos por enquanto), e até o início das aulas na segunda-
feira, ele tinha todo o tempo que quisesse para ler, ouvir música e aprontar com
os marotos.
Também teve que ter uma série de conversas com James antes que pudesse
convencê-lo de que não tinha nenhum desejo de entrar no time de quadribol da
Grifinória. Remus se contentou em sentar nas arquibancadas com seu livro,
ocasionalmente erguendo os olhos para observar os outros três garotos voando
para frente e para trás em suas vassouras. Eles eram todos muito bons, mas era
óbvio até mesmo para Remus que James era o melhor dos três. Ele nem parecia
que precisava da vassoura; o garoto de cabelo preto voava como um falcão,
suas curvas eram suaves, seus mergulhos nauseantemente afiados. Remus não
assistira a muitas partidas de quadribol em seu primeiro ano, mas tinha certeza
de que James ganharia uma vaga no time.
Sirius era muito mais ostentoso em sua técnica de vôo - ele não carecia tanto
da habilidade de James quanto de sua disciplina. Black parecia ficar entediado
facilmente, podia ser bem rápido quando queria, mas se interessava mais em
dar loopings e desviar perigosamente do que em pegar goles ou repelir balaços.
Precisava que James gritasse com ele a cada poucos minutos para manter o
foco no jogo. Peter era muito competente depois de um verão de treinos, mas
era muito lento em longas distâncias - James decidiu que ele seria melhor
como goleiro.
"Você está agindo como se pudesse escolher a dedo todo o time." Sirius bufou
enquanto voltavam para o castelo após um treino.
"Eles deveriam me deixar." James deu de ombros, como se fosse óbvio, "Eu
sou melhor do que pelo menos metade do time atual, e você é melhor do que os
dois batedores. E eu sei táticas."
"Apenas tente não ficar muito chocado quando eles não o tornarem capitão,"
Sirius revirou os olhos, "Você ainda está no segundo ano. Não houve nenhum
segundo ano na equipe no ano passado."
"Tenha um pouco de fé, Black," James piscou, jogando o braço sobre o ombro
do amigo. Eles avançaram juntos, vassouras nas mãos. O sol estava se pondo
atrás deles, delineando os dois meninos de cabelos escuros em ouro heroico.
Remus os observou, alguns passos para trás sendo atrasado por seus livros,
pensando que provavelmente todos ficariam um pouco surpresos se James não
conseguisse exatamente o que queria.
23. Segundo Ano
Fraternidade
Remus não tinha um irmão - pelo menos não um que conhecesse. Ele supôs
que sua mãe poderia muito bem ter se casado novamente e gerado alguns filhos
legais, não mágicos e não monstros. Mas não sentia que isso era dá conta dele;
já tinha aceitado sua situação de vida a muito tempo.
James também era filho único, e isso explicava por que ele era tão presunçoso
e exigente. Sirius falava sobre os pais de Potter como se eles fossem perfeitos
santos, mas eles claramente haviam mimado seu filho. Peter tinha uma irmã
bem mais velha que ele que já havia deixado Hogwarts. Fora da Lufa-Lufa,
mas Peter não falava muito sobre ela. Agora estava estudando em uma
universidade trouxa, o que, aparentemente, era uma tragédia.
"Seus pais não confiscaram sua coruja de novo?" Peter perguntou, sem rodeios.
Sirius deu um confirmou intensamente, com um aceno.
"Ah sim", ele respondeu, coloquialmente, tão alto quanto James. Snape,
Regulus e a maioria dos outros sonserinos que estavam rindo agora estavam
quietos, estreitando os olhos para os dois garotos da Grifinória. Peter se afastou
ligeiramente. "Incesto e esquisitices são aspectos essenciais da minha nobre
herança. E implicar com crianças menores, é claro; trapacear, mentir e
amaldiçoar meu caminho em direção ao poder..."
"Bem, cara, detesto ter que te dizer isto", James respondeu jovialmente, "mas
não parece que você seja um Black de forma alguma."
"Meu Deus," a mão de Sirius voou para seu rosto em falsa surpresa, "O que
diabos eu sou?"
Sirius riu, assim como a maioria dos Grifinórios sentados por perto.
Remus viu a mão de Severus alcançar sua varinha e rapidamente agarrou a sua
própria em preparação, repassando uma lista de feitiços em sua cabeça,
tentando inventar um que o parasse mais rápido. Mas Regulus cutucou Snape
com o cotovelo, murmurando; tá tudo bem. Remus tinha certeza que fora o
único grifinório a escutar.
"Vamos," Snape zombou, "É melhor nos afastarmos de toda essa sujeira se
quisermos manter nosso café da manhã no estômago."
Isso só fez Sirius e James rirem ainda mais, e Snape saiu da sala, seguido por
Mulciber e um novo primeiro ano chamado Barty Crouch. Regulus se conteve,
olhando nervoso entre seus novos amigos e seu irmão. A nova coruja pousou
em seu cotovelo torto, examinando a cena com um olhar imperioso e
condescendente. Ele se aproximou de Sirius.
"Você pode pegar ela emprestado, se quiser." Regulus disse baixinho: "Eu
nunca pedi a ela que me enviasse nada, você sabe como ela é."
"Eu não quero sua coruja." Ele disse, tenso, olhando através de seu irmão: "Se
eu precisar enviar uma carta, vou pegar a de James emprestado."
Com isso, ele passou por Regulus e foi embora. James, Remus e Peter
levantaram-se apressadamente e o seguiram. Remus olhou de volta para
Regulus, que tinha o rosto muito pálido e frio.
Remus não pensou muito em Regulus depois disso - o limite da barreira havia
sido traçado, e era o dever deles, como marotos, apoiar Sirius. Além disso, eles
estavam muito ocupados assim que as aulas começaram.
Remus havia aprendido durante seu primeiro semestre em Hogwarts que ser
um 'mestiço' significava que ele era um pouco menos confiável do que outros
bruxos. Os sonserinos, em particular, tinham como alvo alunos com qualquer
tipo de herança trouxa - Marlene McKinnon, cujo pai era trouxa, havia se
aperfeiçoado azarações antes de qualquer outra pessoa do ano, como um meio
de defesa. Lily Evans era protegida do tormento sempre que Snape estava por
perto, mas estava claro que muitos dos alunos pensavam que ela era bastante
cheia de si, considerando as circunstâncias de seu nascimento.
Sirius nunca expressou nada em voz alta, mas Remus tinha a sensação de que
ser melhor do que todos os outros na escola era considerado uma prova de que
sua magia era melhor de alguma forma. E Remus tinha um desejo
extremamente forte de provar que ele estava errado, o que foi uma leve
surpresa; nunca fora competitivo antes - mas também, nunca tinha recebido as
ferramentas para poder competir.
Sua fome era voraz e constante, seus sentidos se aguçavam, sua magia crescia
pesada e espessa em sua língua como xarope e ele mal dormia direito, em vez
disso, passava metade da noite lendo, tentando ignorar os sussurros furtivos de
Sirius e James na cama ao lado.
"Ele é uma coisinha tão quieta, nunca reclama, mesmo quando deve estar com
tanta dor..."
Remus não ouviu mais nada, elas estavam muito longe na passagem e seus
próprios gritos as abafaram.
***
De manhã, Remus voltou para seu corpo ofegante como se tivesse acabado de
nascer. Não havia um centímetro dele que não doesse – seu sangue latejava
dentro da cabeça, pareciam ter agulhas pressionadas atrás de seus olhos; seu
pescoço e ombros pareciam elásticos, quebrados; doía respirar. Cada arfada de
seu peito fazia com que a dor percorresse seu corpo; e ele estava coberto de
suor, mesmo o ar estando frio.
Havia um corte profundo em sua barriga que o fez querer vomitar. Já perdera
muito sangue, mas a ferida continuava a borbulhar, como espesso vinho
escarlate. Ele meio que engatinhou, meio se arrastou pela sala até uma caixa de
suprimentos médicos de emergência mantida sob o assoalho. Puxou um pouco
de gaze, usando toda sua energia restante, e pressionou o mais forte que pôde
contra a ferida escura. Deu um grito de dor, mas continuou pressionando. Sua
respiração ficou mais fraca, embora até isso doesse. Se sentiu tonto, só queria
se enrolar e dormir. Fique acordado, ele pediu a si mesmo, furiosamente, fique
acordado ou você vai morrer, seu idiota.
Ele pressionou com mais força, grunhindo com o esforço. Em sua miséria, se
perguntou se a voz estava certa. Estava se agarrando a uma vida que nunca
realmente o quis; uma que talvez nunca valha a pena ser vivida? E se ele
morresse? E se apenas fechasse os olhos? Poderia simplesmente ser uma
questão de mais cedo, ou ao invés de mais tarde.
"Vá embora", ele murmurou, sem abrir os olhos, "Me deixe ir."
"Ah não mesmo, rapazinho." Madame Pomfrey disse - tão ferozmente que,
apesar de seu estado de confusão, Remus riu. Então ele estremeceu,
instintivamente segurando o peito. A medi bruxa apontou a varinha para sua
ferida aberta e costurou-a em questão de segundos, então ela sentiu seu peito,
onde ele havia tocado. "Costela quebrada," ela murmurou, "Pobrezinho", ela
balançou a varinha mais uma vez e Remus sentiu um estranho 'estalo' em seu
torso - e de repente, não doía tanto respirar.
Ele abriu os olhos e olhou para ela. Ela estava ocupada puxando um cobertor
sobre seus ombros para mantê-lo aquecido. "Aqui, pronto," ela sussurrou
suavemente, embora eles estivessem sozinhos, "O que você acha que está
fazendo, me dando um susto desses, hein?" Sua voz era tão calorosa e seus
dedos tão suaves. Com muito cuidado, ela o puxou para um abraço, "Não
podemos perder você, Remus, não enquanto eu ainda estiver em Hogwarts."
Ela o segurou com mais força e isso foi o suficiente. Pela primeira vez em
muito tempo, Remus começou a chorar. Não apenas algumas fungadas;
enquanto a doce e gentil enfermeira o segurava, ele envolveu seus próprios
braços ao redor dela e chorou como um bebê.
***
Ele teve que passar dois dias inteiros na ala hospitalar. O ferimento em seu
estômago não foi o único que ele infligiu naquela noite, embora tenha sido o
pior. O feitiço da Madame Pomfrey parou o sangramento por tempo suficiente
para tirá-lo da cabana, mas ele precisava descansar e ficar quieto. Ela lhe dava
poções para dormir regularmente, e ele bebia sem reclamar, preferindo não
estar acordado. Os marotos vieram para tentar vê-lo, mas a pedido de Remus,
Madame Pomfrey não os deixou.
"Vou enviar uma nota aos seus professores, avisar que não devem esperar por
você. Você deve ir direto para o seu dormitório e se deitar, entendeu? "
"Lupin!" Uma voz aguda quebrou sua calma. Sirius abriu as cortinas,
inundando o pequeno espaço com luz, queimando as retinas de Remus.
"Então?"
"É o James!" Sirius disse, desesperadamente, "Ele ... ele quer falar com você."
"... O que?"
"Sobre o seu... você sabe. Aonde você vai. Toda lua cheia."
"...Você sabia."
"Desde o último Natal. Eu ... eu não queria dizer nada. Não queria tornar isso
mais difícil para você. "
Remus estava sem palavras. Sirius balançou a cabeça, impaciente, "Mas James
descobriu também, o idiota maldito, e agora ele decidiu que todos nós
precisamos confrontar você sobre isso. Eu realmente sinto muito, eu tentei o
convencer que não, mas você sabe como ele é cabeça dura. "
"Tá tudo bem ... acho que vai ficar tudo bem." Sirius disse.
"Não! Não faz isso. Olha, ele quer falar com você sobre isso, ele não está indo
direto para Dumbledore ou algo do tipo, isso já não significa alguma coisa? "
"Remus!" Sirius agarrou seus ombros. Ele se encolheu, mas apenas porque
esperava que fosse doer. Os olhos azuis escuros de Sirius se fixaram nele e ele
tentou desviar o olhar. "Me escute," disse Black, muito suavemente, "Espere
um pouco, ok? Apenas espere e veja o que James tem a dizer - ele é seu amigo.
Somos marotos, todos nós! "
Foi a primeira vez que Sirius ficou sem palavras. Mas de qualquer forma, essa
havia sido a primeira vez que Remus disse tanto para ele. Sua boca se contraiu
uma ou duas vezes, como se ele quisesse falar, mas não conseguisse. Remus
continuou fazendo as malas.
"Apenas espere," Sirius disse, rouco, saindo do quarto, "Apenas espere e veja o
que ele diz."
24. Segundo Ano
Poções, novamente
Apesar de tudo que falou, Remus acabou esperando. Ele não tinha muitas
outras opções de qualquer forma, a não ser ir diretamente a Dumbledore e
pedir para ser enviado de volta para St Edmund's – e não fazia ideia de onde
ficava o escritório de Dumbledore. Infelizmente não tinha ido tão longe com o
mapa. O mapa - seria melhor ele deixar isso para trás. Sirius e James poderiam
terminar.
Pelo menos não estava mais cansado. Se sentou em seu malão, remexendo-se
pelo que pareceram horas. Pensou em descer para almoçar - mas e se eles
quisessem conversar ali mesmo, na frente de todos? Decidiu ficar aonde
estava. Não estava com fome de qualquer maneira. Até tentou ler, mas não
conseguiu se concentrar por tempo suficiente.
Quanto a Sirius - ele nem ao menos conseguia perdoar seu próprio irmão por
estar em uma casa diferente. Se família não importava para ele, então por que a
amizade importaria?
Logo depois que o sino das quatro horas tocou, Remus ouviu três pares de
passos subindo as escadas. Ele levantou, preparando-se. James entrou primeiro,
parecendo muito sério e, de alguma forma, mais velho do que todos eles. Sirius
veio atrás, sua expressão inescrutável, nenhum traço da emoção de antes. Peter
foi o último, parecendo - como sempre - muito desconfortável e perdido.
"E aí, Remus," disse James, imediatamente. Todos ficaram um de frente para o
outro, o quarto parecia muito pequeno, mesmo com a janela aberta.
"Oi." Remus respondeu, tentando manter os olhos nos três ao mesmo tempo.
"Bem."
"Olha cara, vou direto ao assunto, ok?" James correu os dedos pelo cabelo,
engolindo em seco, nervoso - Remus podia ver seu pomo de adão funcionando,
"Nós notamos ... bem, não podíamos não notar que você some muito, na ala
hospitalar. Quase todo mês."
"É" James acenou com a cabeça, como se eles estivessem tendo uma conversa
perfeitamente normal. "Todo mês ... perto da lua cheia."
Ele deixou pairar no ar. E Remus ficou impaciente para acabar logo com isso.
Remus olhou para Sirius, que ainda o encarava com uma expressão
determinada. Peter estava mordendo o lábio inferior, seus olhos passando
rapidamente entre Remus e James. Então ele endireitou os ombros.
"Sim." Ele projetou o queixo para frente, como se desafiando James. Seja o
que fosse; ele estava pronto para isso.
James exalou.
"Certo."
"É isso?"
"Sim, quero dizer, não, quero dizer ... que inferno ..." James passou as mãos
pelos cabelos novamente, virando-se para os outros em busca de apoio,
parecendo impotente.
"Tá tudo bem." Remus disse, sua voz dura, "Estou indo. Apenas me deixe ir e
falar com a McGonagall."
"De volta para St. Edmund's, eu acho." Como se houvesse outro lugar!
"Você não pode deixar Hogwarts!" James parecia ainda mais preocupado
agora, seus óculos escorregaram pelo nariz e ele nem percebeu.
"Não posso ficar se todo mundo souber." Remus explicou, o mais calmamente
que pôde.
"Não vamos contar a ninguém!" Peter guinchou de repente. Remus olhou para
ele surpreso, então para Sirius, então para James. James estava assentindo
agora.
Remus balançou a cabeça, não se permitindo alimentar tal ideia – nem mesmo
criar esperança. Esperança nunca o levou a lugar nenhum; se sabia de qualquer
coisa, era isso. Era algo que estava gravado em sua pele em grossas linhas
prateadas.
"Não vamos deixar isso acontecer." Sirius finalmente falou, dando um passo
hesitante para frente. "Não é?" Ele se virou para Peter e James, um de cada
lado dele. Os dois pareciam muito sérios e muito assustados, mas ambos
balançaram a cabeça com firmeza.
E realmente, quando pensava sobre isso, percebeu que nada ainda provava o
contrário. Estava claro há algum tempo que sua aflição estava sujeita a
mudanças à medida que ele chegava à adolescência. Remus não tinha ideia do
quão longe isso iria. Talvez um dia ele cruzasse essa linha; talvez fosse
simplesmente como as coisas eram.
Durante uma semana inteira, eles não falaram sobre isso. Nem uma palavra,
nem mesmo um sussurro. Remus tinha certeza de que todos iriam bombardeá-
lo com perguntas; Sirius especialmente, mas ele tinha sido tão severo com os
outros quando o confronto aconteceu que ninguém quis tocar no assunto
novamente. Na frente de todos os outros, eles agiam da mesma forma - James
falava alto e era confiante, Sirius era sarcástico e arrogante, Peter os adorando
enquanto era inseguro. Mas quando estavam sozinhos, os quatro se calavam,
perdidos em pensamentos e agindo com uma educação distante. As reuniões
noturnas de Sirius e James tornaram-se ainda mais frequentes.
Inesperadamente, mas talvez sem surpresa alguma, foi Severus Snape quem
acabou reunindo os Marotos.
Aconteceu, claro, durante uma aula de Poções. Neste semestre, eles estavam
aprendendo a fazer poções de "sonho agradável", que levariam algumas
semanas para serem preparadas.
Sirius e James olharam um para o outro, depois para Peter e Remus, medindo-
os. Remus se encolheu.
Felizmente Slughorn teve tato suficiente para não colocar nenhum deles com
Snape, embora Peter tenha acabado com Mulciber, que se elevava sobre ele,
com o dobro de seu tamanho. O professor separou Mary e Marlene, que eram
tão grudadas quanto James e Sirius, colocando-as com os meninos.
Remus fez par com Lily Evans, para seu desgosto. Ele realmente não gostava
de nenhuma das garotas, mas Lily era a última pessoa com quem ele gostaria
de trabalhar. Ela era intrometida e se esforçava demais para ser legal. Além
disso, ela era a melhor amiga de Snape, que agora o encarava do outro lado da
sala.
"Oi Remus, você está se sentindo melhor?" Ela falou, a voz muito fina. Ele
grunhiu em resposta, de cabeça baixa.
"É melhor ficar bem longe, Lily," Snape sibilou da mesa que estava dividindo
com uma garota Sonserina, "Loony Lupin pode ser contagioso."
"Sim, por favor, fique quieto, Sev," disse Lily, afetadamente, dando a ele um
olhar duro.
Eles trabalharam em silêncio por um tempo, e poderia ter ficado tudo bem se
estivessem em outra mesa, mas Snape estava logo atrás deles, lançando olhares
maldosos para Remus e falando um pouco mais alto que em um murmúrio.
"Claro que, 'Loony Lupin' é bastante adequado", disse ele para a garota com
quem estava trabalhando, "Porque ele, de fato, é totalmente louco - eu o vi
vagando pelo castelo sozinho, espreitando em cantos escuros. Você deve se
lembrar que ele realmente me atacou no ano passado. Ele é claramente
perigoso, não sei por que Dumbledore o permite aqui. "
Remus sentiu suas orelhas ficando vermelhas. Ele se virou, segurando sua
varinha.
"Diga mais uma palavra." Ele rosnou. Snape o olhou de cima a baixo, sorrindo
maliciosamente. Lilly agarrou o braço de Remus e o puxou de volta.
"Apenas ignore ele", ela sussurrou, embora parecesse muito irritada, "Ele está
passando por dificuldades em casa e culpa todos os outros, só isso."
"Está bem." Remus disse, voltando para sua cauda de rato. O sangue
manchando seus dedos.
"Eu mexo", disse ele, heroicamente - ele nunca tinha se oferecido para fazer
algo para uma garota antes; nunca tinha sequer mantido uma porta aberta, seu
contato com o sexo oposto tinha sido extremamente limitado. Parecia algo
muito adulto de se fazer, algo que James faria. Ele arregaçou as mangas e
agarrou a grande colher de pau.
"Eurgh! Olhe para ele!" A voz desagradável e enjoativa de Snape soou alto o
suficiente para metade da classe ouvir agora. Remus olhou para cima e
descobriu que todos o olhavam. Seus braços estavam descobertos. Ele
rapidamente puxou suas vestes para baixo para cobrir as marcas, mas todos já
haviam visto. "Que tipo de doença faz isso?!"
"Cale a boca Severus!" Lily gritou: "Por que você tem que ser tão horrível?!"
"Oh, fique fora disso, Potter!" Lily grunhiu, "Você só vai piorar as coisas!"
"Silêncio por favor!" Slughorn explodiu, "Vocês não são mais do primeiro ano,
acho que são capazes de se concentrar na tarefa em suas mãos."
Todos ficaram quietos. Remus estava segurando a colher com todas as suas
forças.
"A queridinha dos professores? Uma cdf? Certinha? " Ela sorriu mais
amplamente, mostrando todos os seus dentes brancos e bonitos, "Alguns de
nós sabem como não ser pegos, Sr. Maroto."
"Aqui," ela empurrou as pílulas em sua mão, "Você faz isso. Jogue quando ele
não estiver olhando. Ei, Potter!" Ela gritou para outro lado da sala. A cabeça de
James se ergueu, seus óculos embaçados com o vapor que emanava de seu
caldeirão.
"Hã?"
Snape também olhou para cima e agora estava encarando James. Remus se
moveu rapidamente, fingindo bocejar e esticando os braços, sua mão direita
alcançando o topo do caldeirão de Snape. Ele jogou os comprimidos, como
Lily disse.
A admiração dele cresceu ainda mais quando ela agarrou o braço de Remus,
puxando-o para trás bem na hora que o caldeirão de Snape explodiu atrás
deles, uma massa magnífica de bolhas roxas espumantes derramando-se sobre
as roupas de Severus e de seu parceiro.
A classe inteira começou a rir, e Snape ficou branco de raiva, suas narinas
dilatadas.
"Não fui eu!" Snape fumegou, bolhas roxas se instalando em seu cabelo, "Ele
fez alguma coisa!" Ele apontou para Remus, que estremeceu, "Deve ter feito!"
"Não, mas..."
"Vamos, garoto," Slughorn riu, jogando-lhe um pano de prato verde, "Todos
nós cometemos erros - até você!"
"Brilhante!"
Remus sorriu de volta para eles, sem confirmar nem negar. Por cima do ombro
de James, ele viu Lily lançar lhe um sorriso rápido, antes de subir correndo as
escadas.
Depois que o gelo inicial foi quebrado, as perguntas vieram como uma
enxurrada. Naquela noite, depois do jantar, todos os quatro meninos se
sentaram na cama de Remus,
Remus mordeu o lábio inferior. Ele nunca tinha falado sobre sua condição
antes, para ninguém - exceto por sua conversa com Madame Pomfrey no ano
passado. Nenhum dos trouxas com os quais ele cresceu teria acreditado nele, e
ele sempre fora levado a acreditar que os bruxos fugiriam dele.
"Er ..." ele tentou descobrir por onde começar, "Eu tinha cinco anos, quando
aconteceu. Eu realmente não me lembro muito antes disso. Sim, Dumbledore
sabe. Acho que nunca machuquei ninguém. Eu acho que provavelmente
saberia, se eu tivesse. "
"Hum ... não realmente?" Remus pensou muito, "Eu me lembro de sentir
coisas, mas não acho que tenho um cérebro humano enquanto sou assim. É
mais como um sonho muito ruim."
"Eu sempre pensei que os lobisomens fossem mais ..." Peter olhou para ele
pensativamente, "Não sei, assustadores?"
Remus se encolheu. Não por causa de seu pai, mas porque ele não estava
acostumado a ouvir tanto aquela palavra com 'l'. Ele mesmo nunca a havia dito.
"Não," ele respondeu, "Meu pai, ele ... uh ... bem, ele se matou. Depois que fui
mordido, acho que foi por minha causa. Minha mãe - você sabe, ela é uma
trouxa, eu acho que provavelmente foi um pouco demais para ela, então ela me
mandou para St. Edmund's. "
"Você já conheceu-" Sirius começou, mas James deu a ele um olhar penetrante,
Eles finalmente se separaram para começar o dever de casa, e James saiu para
uma corrida ao redor do terreno antes de escurecer. As audições de quadribol
estavam chegando e ele estava se tornando mais obcecado com sua preparação
física e resistência a cada dia. Tentou fazer Peter e Sirius irem junto, mas eles
recusaram.
Mais tarde, depois que as luzes se apagaram, Remus se sentou para ler um
livro que Sirius havia lhe emprestado. Era um trouxa - ficção científica. Ele
tinha visto alguns filmes desse tipo no cinema local em St Edmund's, mas não
sabia que havia livros também. Estava finalmente ficando emocionante quando
ele ouviu o ranger revelador das tábuas do chão, o que significava que Sirius
estava fazendo uma visita a James. Ele ouviu o farfalhar das cortinas e
sussurros baixos, antes de um súbito vazio de som não natural, o que
significava que alguém havia lançado um feitiço silenciador.
Remus ignorou, se aconchegando em seu edredom e focando em seu livro.
Passaram-se talvez vinte minutos, quando ele ouviu o feitiço silenciador sendo
retirado - era como se ele fosse surdo de um ouvido e pudesse ouvir de repente
novamente. Ele ouviu o farfalhar da cortina novamente, enquanto Sirius descia
e caminhava suavemente de volta para o outro lado do quarto.
"Oh," Remus inclinou a cabeça, surpreso, "Não, estou bem. Isso não me
chateia; estou acostumado."
"Certo."
Sirius não saiu, ele apenas continuou olhando para Remus. Isso o estava
deixando desconfortável, ele usava apenas uma regata fina para dormir, que
exibia uma série de marcas vermelhas e prateadas cruzando seus braços e
ombros nus. Sirius encarou, abertamente.
"Como você conseguiu suas cicatrizes?" Ele perguntou baixinho. Remus
franziu a testa, puxando os lençóis até o pescoço.
"Eu... dos meus pais. A maldição lacero, é como eles nos disciplinam. " Ele
disse, sua voz um pouco robótica.
"Não sei, não sou exatamente eu mesmo. Madame Pomfrey acha que é
frustração - porque é da minha natureza atacar as pessoas e eu não tenho
ninguém para atacar. "
"Há uma casa velha ... McGonagall e Pomfrey me levam lá todo mês, há uma
passagem sob o Salgueiro Lutador."
"Não! É muito perigoso. Acho que eles usam feitiços para me manter
trancado."
"Parece horrível."
"Nah, não é tão ruim quanto em St. Eddy's, eles têm uma cela para mim lá,
com uma porta de prata. Quando cheguei lá - a Matrona acha que eu era muito
pequeno para lembrar, mas me colocaram em uma jaula."
"Isso é nojento!"
"Eu não sei," Remus ficou surpreso com sua reação, "Era para manter todos os
outros seguros. E eu só podia ser do tamanho de um cachorrinho."
"Hã?"
"Oh."
"Então, onde você foi mordido?" Sirius havia trocado preocupação por
curiosidade mais uma vez.
"Oh, hum, aqui." Remus deu um tapinha em seu lado esquerdo, logo acima do
quadril. Sirius olhou para ele com expectativa. Remus suspirou novamente,
"Você quer ver?"
"Oh uau ..." ele respirou, perdido em sua observação como alguém que
desenterrou um grande tesouro arqueológico.
Remus sentiu os longos cabelos de Sirius roçarem sua pele, e o calor de sua
respiração, e o empurrou rapidamente.
***
"Concentrar no q – ai!"
"Chato do caramba," Sirius murmurou - mas ele ficou quieto depois disso.
"Você nos trouxe aqui para conhecer sua nova namorada, Lupin?" James
perguntou, sorrindo maliciosamente enquanto Remus continuava a encarar a
bruxa de um olho só.
"Por que você continua fungando assim?" Sirius lamentou, "Eu não quero estar
tão perto se você estiver pegando um resfriado."
"Cheiro do quê?"
"O que? Acha que a velha corcunda está cheia de doces ou algo assim? " Sirius
estava começando a soar entediado e irritado. Isso incomodava Remus um
pouco, às vezes. Ele e Peter eram arrastados em todos os tipos de "missões"
estúpidas pelos outros dois, mas se ele e James não estivessem no comando,
Sirius ficava emburrado.
"Não." Remus disse: "Acho que é uma das passagens secretas daquele seu
livro."
"Sério?!" Agora Sirius estava prestando atenção. "Você realmente pode sentir
o cheiro de chocolate? Isso é alguma coisa ... especial que você pode fazer? "
"Sim."
"Essa não leva às cozinhas", disse Peter, com conhecimento, "Ela fica no andar
térreo, um lufano me disse."
"Não quis dizer que seria exatamente a mesma senha, Peter." Disse James. Ele
estava sendo gentil, mas Sirius e Remus já estavam tendo ataques de riso.
"Isso é para fechaduras, de qualquer maneira", disse James, "não há outra coisa
para revelar entradas invisíveis?"
"Oh sim!" Sirius acenou com a cabeça, ficando animado, "Sim, há ... umm
... Dissendium!" Ele bateu com a varinha na corcunda da bruxa.
"Vamos então," ele disse, segurando sua varinha à frente deles, iluminando a
passagem escura, "Vamos lá!"
Todos o seguiram. Remus não se importou - ele havia feito sua parte.
Foi uma longa caminhada, descendo um lance de escadas de pedra fria, através
de um túnel que era terroso e úmido. Mas o cheiro ficou mais forte, e quando
eles finalmente chegaram ao fim, havia outra escada, levando a um alçapão de
madeira. Eles se entreolharam e silenciosamente concordaram que James
deveria ir primeiro. Eles o viram subir, abrir a porta e enfiar a cabeça. Remus
sentiu que todos estavam prendendo a respiração, observando o torso de James
desaparecer no desconhecido.
"Eu não acredito!" Ele riu acima deles, “Vocês têm que ver!" Ele se ergueu,
desaparecendo por completo. Sirius correu atrás dele, não querendo perder
nada. Remus foi o próximo, mas Peter hesitou atrás deles.
"A loja de doces?" Remus perguntou, achando que estava sendo bastante
redundante a este ponto. Sirius havia rasgado uma caixa que parecia conter
pelo menos quinhentas caixas de sapos de chocolate.
Remus tinha ouvido tudo sobre Hogsmeade pelos outros garotos - todos eles já
tinham visitado em férias em família antes; era um dos únicos vilarejos
inteiramente mágicos da Grã-Bretanha. Os alunos mais velhos podiam ir nos
fins de semana e muitas vezes traziam sacos de papel cheios de doces da
Dedos de mel. Parado no porão naquele momento, Remus não poderia ter
ficado mais feliz com o resultado dessa missão.
Eles finalmente persuadiram Peter e passaram uma boa hora explorando a loja,
maravilhados com sua própria sorte. Eles escolheram um pouco de tudo, com
Remus os dirigindo, como o único com algum tipo de experiência em furto.
James pensou que Remus não o vira tirar um saco de sicles e galeões de suas
vestes e deixá-lo no balcão quando eles estavam saindo.
"Eles nos arrastam para todo tipo de coisa, nos colocam em detenções - e eu
nunca reclamei."
"Bem. Você reclama às vezes." Remus ergueu uma sobrancelha. Peter acenou
com a cabeça,
"Ok, às vezes, mas eu sempre faço o que James diz. E Sirius, mesmo ele sendo
horrível comigo."
Remus estava inclinado a concordar, embora ele não fosse choramingar sobre.
Pelo menos Peter realmente gostava de quadribol. Eles olharam para o campo
silencioso, a grama espessa e verde sob um véu transparente de névoa matinal.
James e Sirius provavelmente ainda estavam nos vestiários com o resto dos
candidatos ao time de quadribol da Grifinória. Remus e Peter estavam
amontoados nas arquibancadas, enrolados em cachecóis e gorros, esperando o
início dos testes.
Eles já estavam lá há pelo menos uma hora - muito cedo até para o café da
manhã, porque James queria praticar antes. Eles poderiam ter dito não e, em
vez disso, dormido, deixando os outros dois irem mais cedo se quisessem. Mas
Peter estava certo; eles sempre faziam o que James dizia, ele era muito bom em
convencê-los. Remus bocejou novamente.
"Oh, olá, Remus," Lily Evans subiu as escadas, sorrindo para eles, cansada,
"Oi Peter."
"Frio, não está? Estão aqui para assistir aos testes de quadribol?"
"Uhum."
"Deveria saber que James iria tentar." Lily disse. O fanatismo de James pelo
quadribol não se restringia ao dormitório dos marotos; todos que o conheceram
sabiam como ele era obcecado.
"Marlene," Lily apontou para o outro lado do campo, onde o time de quadribol
da Grifinória e os novos candidatos estavam se reunindo perto das traves.
Remus conseguiu distinguir o rabo de cavalo louro claro de Marlene
McKinnon. "Ela está tentando para batedora."
"Essa é a posição que Siri-" Peter começou, mas Remus o chutou rapidamente
na perna.
"Remus, você pode verificar a poção de 'sonho agradável' esta noite? Estou
muito atrasado em astrologia e queria falar com o Professor Aster."
"Ainda não o fizemos", disse Remus, "vamos fazer isso mais tarde, enquanto
todos estiverem almoçando. Mas imagino que eles saibam que fomos nós e nos
deem detenção de qualquer maneira. "
"O que eu disse sobre ser pego, Lupin?" Ela sorriu travessamente.
"Ele tem que se exibir assim?" Ela disse, nervosa: "Ele vai se matar."
"Ele não vai", disse Peter, "Eu o conheço desde que tínhamos cinco anos e ele
nunca caiu da vassoura. Nem uma vez."
O resto dos aspirantes a artilheiros se revezaram, mas era óbvio que James era
a melhor escolha. Em seguida, foram os batedores - Sirius, Marlene e um
corpulento do quinto ano se equiparam de seus bastões e voaram para o céu
junto com seis balaços. Foi horrível de assistir; os nervos de Remus estavam à
flor da pele quando as brutais balas de canhão dispararam em direção à cabeça
e ao corpo de seu amigo. Sirius habilmente evitou os balaços e jogou alguns
para fora do caminho, mas Marlene era extraordinária. Ela voou em círculos ao
redor de seus adversários, balançando seu bastão com a precisão de uma
máquina e enviando os balaços para o outro lado do campo todas as vezes.
"Caramba!" Peter exclamou: "Não sabia que McKinnon era tão boa assim."
"O irmão dela joga pelos Cannons," explicou Lily, parecendo presunçosa em
nome de Marlene. "Ela tem treinado com ele durante todo o verão."
Remus não respondeu, nem mesmo para lembrar Peter que ele não havia
passado o verão com eles. Ele estava muito ocupado se envergonhando por
Sirius, e desejando que Marlene McKinnon não fosse tão boa em golpear
balaços - ou pelo menos desejando que houvesse duas posições abertas para
batedor. Ele não tinha certeza do por que se importava tanto - ele odiava
quadribol, e se Sirius e James estivessem no time, isso significava que ele teria
que passar muito mais tempo tremendo de frio nas arquibancadas. E ele estava
secretamente esperando que Sirius falhasse em algo por anos, esperando por
uma prova de que Sirius Black não era totalmente perfeito em todos os
sentidos.
Mas agora que o momento havia chegado, Remus se sentia culpado por pensar
isso. Sirius com certeza ficaria arrasado.
"Lá vem eles!" Lily saltou e desceu correndo as escadas para encontrar sua
amiga. Remus e Peter a seguiram lentamente.
"Eu entrei!" Marlene estava sorrindo, seu rosto corado. Ela e Lily se
abraçaram.
"Obrigada ... er ... você foi muito bom também, Sirius." Ela disse, nervosa. Ele
grunhiu, ainda sem olhar para cima.
James olhou para ele de lado e fez uma cara de desculpas para as meninas. Ele
estendeu a mão para Marlene,
"Vejo você na próxima semana para o primeiro treino?"
"Sim, ótimo!" Ela sorriu brilhantemente para ele, "Até lá, Potter!"
"Sirius, cara, não é o fim do mundo." James se virou para o amigo, parecendo
preocupado.
Remus não pôde deixar de se sentir um pouco irritado. Isso era tudo que Potter
falava desde que entraram em Hogwarts, e Sirius nem mesmo teve a decência
de ficar feliz por seu melhor amigo.
"Muito bem, James," Remus disse, bastante incisivamente, olhando para Sirius
enquanto dizia isso, "Você foi incrível, parabéns."
"Valeu, Lupin," James sorriu. Seus olhos enrugaram ligeiramente quando ele
sorriu e seu rosto se iluminou - como se esse fosse o estado natural de seu
rosto.
"Obrigado!"
Eles voltaram para o castelo juntos em silêncio. Sirius ainda não estava
falando, e andava alguns passos à frente do resto deles. James correu para
acompanhar,
"Você pode tentar de novo no ano que vem, Ardal já terá ido embora, ele me
disse que estava desistindo para se concentrar nos NIEMs."
"Eu não me importo, tá tudo bem." Sirius respondeu, encolhendo os ombros.
Ele caminhou ainda mais rápido, afastando-se rapidamente deles, a vassoura
ainda debaixo do braço. James foi alcançá-lo, mas Remus agarrou seu braço,
"Deixa ele." Ele disse, com raiva: "Se ele quer ser um idiota mal humorado a
respeito é problema dele."
Sirius não se juntou a eles para o café da manhã, nem estava na sala comunal
depois. James foi emboscado pela maioria dos outros grifinórios, que agora
tinham ouvido do time que ele era o novo artilheiro. Uma gangue de meninos
do quarto ano o puxou para falar sobre estratégia, e Peter foi também,
desfrutando da glória de seu amigo. Isso nunca importou para James; ele
sempre teve muito brilho para compartilhar.
"Vá embora, Lupin." Sirius fez uma careta, virando-se, os braços em volta dos
joelhos. Sua voz estava grossa, como se ele tivesse chorado, embora seu rosto
estivesse seco. "Você não pode me animar, ok."
"Se levanta", disse ele com firmeza, "não estou aqui para te animar, seu
idiota."
"O que?"
"Por que você está sentado aqui se lamentando? Seu melhor amigo acabou de
realizar todos os sonhos dele de uma vez, vai lá e seja legal com ele."
"Vai se ferrar!" Sirius deu um empurrão nele, mas Remus estava acostumado a
ser empurrado, e quer Sirius gostasse ou não, Remus era mais forte.
"Tá bom."
"Ótimo."
Eles voltaram para a sala comunal. Sirius enfiou as mãos nos bolsos.
"Não foi isso que eu disse." Disse Remus. "Você compete, no entanto."
Sirius parecia reconhecer isso. Ele ergueu os olhos novamente.
"E eu não me importo com o que minha família pensa." Ele disse isso com
tanta veemência que seus olhos brilharam, reluzindo ligeiramente, e Remus
ficou preocupado dele começar a chorar de novo. Ele estendeu a mão e tocou o
ombro de Sirius, cautelosamente, como se tentasse acalmar um cachorro
rosnando.
O décimo terceiro aniversário de Sirius não caiu na lua cheia, como seu
décimo segundo. Ele nunca contou aos outros sobre a conversa que teve de
Remus – pelo que Remus podia perceber, de qualquer maneira - mas ele
começou a agir de forma um pouco diferente com seus amigos. Considerando
que antes, ele às vezes tratava Remus como um projeto de estimação; se
espantando sempre que Lupin exibia pensamento independente; Sirius pelo
menos pareceu desenvolver alguma sensibilidade em relação aos dois marotos
secundários.
Remus ficou lançando olhares furtivos para Sirius, tentando ver se ele parecia
diferente agora que era um adolescente. Remus sempre quis ter treze anos;
parecia-lhe uma idade muito madura e grandiosa. Ele sabia que era bobagem
pensar que você poderia se tornar imbuído de algum tipo de nova sabedoria da
noite para o dia, mas certamente era um marco importante. Sirius estava
definitivamente se comportando de uma maneira ligeiramente diferente;
Remus tinha certeza.
Narcissa Black estava diante deles. Aos quinze anos, ela era mais alta do que
todos os quatro marotos. Ela era uma garota até que bonita, Remus pensou;
tirando a careta do rosto. Ela não tinha a aparência maluca de sua irmã mais
velha, e tinha tingido e alisado seu cabelo comprido para que ficasse
pendurado em um lindo lençol platinado, que brilhava na luz.
Ela parou diante deles com os braços cruzados, Regulus se escondendo ao lado
dela.
"Cissy." Sirius acenou com a cabeça em saudação. Ela se encolheu, mas não o
castigou.
"Bem, eu percebi."
Ela revirou os olhos. Parecia que ela não tinha o temperamento da irmã
também, o que fazia Remus se sentir agradecido.
"Não." Ela estreitou os olhos cinzentos, "Sua mãe deu instruções estritas.
Vamos comer em particular, na sala comunal da Sonserina, como no ano
passado. "
"Você pode comer com eles quando quiser." Narcissa retrucou, as mãos nos
quadris agora. "Aniversários são ocasiões de família."
Regulus olhou para seus pés, ainda parado atrás de sua prima. Sirius ainda
estava irritado, mas finalmente acenou com a cabeça. James colocou a mão em
seu ombro; um gesto inofensivo, mas Regulus olhou para cima e olhou
fixamente, como se eles estivessem fazendo algo sujo.
Assim que foi definido um horário para o jantar, os dois sonserinos da família
Black partiram e os Marotos ficaram olhando para eles. James desviou os olhos
para Sirius,
"Que droga", ele lamentou, "Quer cabular as aulas?"
"Nah," Sirius balançou a cabeça, "Vou só levar algumas bombas de bosta para
o jantar."
"Perfeito."
***
Sirius ficou fora por um longo tempo depois do jantar. James caminhou pelo
dormitório, checando o relógio a cada poucos minutos e se perguntando em
voz alta se deveria ir até masmorras e gritar.
"Estamos muito longe disso," Remus respondeu de sua cama, onde estava
lendo um livro. "Ainda não mapeei nenhuma parte da ala leste. Posso fazer um
pouco no Natal."
"Não," James parou ainda no meio da sala, "Você e Black vem para a minha
casa no Natal."
"Vou resolver tudo com o pai, não se preocupe. A lua cheia é no dia vinte, eu
verifiquei. Todos nós podemos ficar aqui até lá e partir no dia vinte e um."
Remus estava sem palavras, mas não importava. James decidiu rapidamente
colocar sua capa e sair à procura de Sirius. Peter, previsivelmente, o seguiu,
mas Remus estava gostando de seu livro e os deixou ir. Ele se recostou na
cama e pensou em colocar um disco. James e Peter colocaram uma proibição
de Bowie até o final do ano, mas se eles não estivessem na sala...
"É terrível." Sirius disse. "Realmente, realmente terrível. Vil. O pior, mais
impensável ... Horrível." Ele se jogou na cama, de bruços.
"Ele está assim desde que o encontramos nas masmorras", explicou James,
"Nada além de adjetivos."
"Tá, tá, você está sendo dramático", suspirou James. Ele correu os dedos pelo
cabelo novamente. Ficaria careca antes de chegar aos trinta, Remus pensou.
"Quer nos dizer por quê?!"
"O que?!" James e Peter pareciam tão chocados quanto Remus, então pelo
menos ele sabia que não era uma coisa normal para bruxos.
"Narcissa me contou." Ele acenou com a cabeça, ainda olhando fixamente para
cima, "Normalmente, eles não fariam um arranjo até eu atingir a maior idade,
como com Bellatrix, mas Cissy disse que eles decidiram apertar as rédeas no
meu caso."
"Fazer um arranjo?!" James parecia pasmo, "Os Black’s ainda não têm
casamentos arranjados, têm?"
"Claro que temos." Sirius soltou um suspiro, "A mais nobre e antiga, et cetera,
et cetera ... Eles querem realizar a cerimônia de noivado no próximo verão. Eu
devo 'me animar em relação a isso' a tempo para a ocasião. Então o casamento
vai acontecer assim que eu terminar Hogwarts. Duvido que vocês sejam
convidados. "
Sirius se sentou.
"Essa é a torção na cauda do dragão, não é", disse ele, com raiva, "Essa é
a pièce de résistance da minha mãe", ele pronunciou o francês lindamente,
com um sotaque perfeito. Mesmo em sua fúria mais sombria, Sirius Black
podia anunciar.
"Quem?!"
"Cissy."
"O que?!"
"Narcissa ?!"
"Sua prima?!"
"Narcissa Black ?!"
Sirius concordou. Seu ombro caiu. O olhar fechado voltou ao seu rosto e ele se
deitou.
"Mas deve haver outras garotas de sangue puro por aí," James raciocinou, "E
eu pensei que ela e aquele maluco Malfoy estavam namorando?"
"Eles estão," Sirius acenou com a cabeça, "Ela está tão irritada com isso quanto
eu, acredite em mim."
"E quanto a Regulus?" James estava perguntando. Sua mente parecia estar
trabalhando a mil por hora.
"O que tem ele?" Sirius disse, amargamente, "Acha que ele gosta dela?"
"Ela é bem bonita", disse Peter, humildemente. Sirius deu a ele um olhar que
poderia cortar vidro.
"Nem. Uma. Palavra." Sirius franziu o cenho e ninguém mencionou seu irmão
novamente.
"Bem, então." James empurrou os óculos para cima do nariz, "Temos até o
próximo verão. E temos Narcissa do nosso lado, acredite ou não. Então, eu
diria que não é impossível."
"Você não sabe o que é impossível até conhecer minha mãe." Sirius disse.
"E ela não sabe o que é um maroto." James disse com firmeza. "Senhores", ele
olhou para cada um, por sua vez. Remus podia ver exatamente o que estava por
vir. "Temos uma nova missão."
28. Segundo Ano
Suposições
Mas ele não pôde deixar de notar que sua poção era de uma cor ligeiramente
diferente da de Snape, o que não poderia ser um bom sinal. A deles era de um
negrito, azul marinho, muito mais escuro do que deveria ser. Snape
obviamente notou também.
"Você precisa adicionar mais lavanda." Ele disse, nasalmente, sem tirar os
olhos de sua agitação. "Pelo menos outra colher de chá."
"Uhum, sei." Remus franziu a testa, "Como se eu fosse aceitar seu conselho."
"Eu dificilmente vou estragar a poção de Lily, vou?!" Snape retrucou de volta.
Remus considerou isso. Era verdade que, apesar do comportamento geralmente
desagradável de Severus, a única outra coisa que os Marotos sabiam sobre ele
era que ele faria quase qualquer coisa por Lily Evans. Era estranho, mas quem
era Remus para julgar.
"Hum, sim, nós combinamos ... Eu só estava ... dando mais uma olhada." As
bochechas de Lily, geralmente pálidas, estavam vermelhas.
Snape bufou ironicamente, ao sair. Remus lutou contra a vontade de jogar uma
colher na parte de trás de sua cabeça gordurosa. Lily não percebeu, ela já havia
atravessado a sala e estava olhando para o caldeirão.
"Bem ..." ele esfregou a nuca, olhando para a porta. Snape estava fora do
alcance da voz. "Sim, eu só pensei que precisava de um pouco, suponho."
"Nada mais a fazer, então. Você está voltando para a sala comunal? "
"Sim."
Remus nunca se considerou tranquilo. Foi uma coisa legal dela dizer, mas
então, comparado a Snape, qualquer um pode parecer relaxado.
"Por que você anda com ele de qualquer maneira?" Ele perguntou.
"Ele é meu melhor amigo." Lily respondeu prontamente, como se ela tivesse
que justificar isso o tempo todo. "Nós nos conhecemos desde sempre."
"Oh, certo."
"Ele não é tão ruim quanto você pensa ", disse ela, olhando para ele de lado,
"Ele pode ser muito gentil. E engraçado."
"Por que ele anda por aí com Mulciber e a panelinha puro-sangue, então?"
"Bem, se vamos julgar as pessoas com base em seus amigos," Lily olhou para
ele de forma incisiva.
"O que há de errado com meus amigos?!" Remus ficou chocado. Todos
amavam James e Sirius. Lily revirou os olhos.
"Eles são todos herdeiros de casas de sangue puro, não são?" Ela jogou seus
cachos ruivos para trás, "Além disso, eles são tão exibidos. Potter pensa que é
um presente de Deus e Black é ... bem, ele é um Black, não é? Até eu sei sobre
eles, e sou nascida trouxa. Suponho que Peter é ok, mas é triste como ele os
segue por toda parte. "
"Sim, você segue." Ela olhou para ele novamente, de forma descarada.
"Você está errada sobre eles." Remus disse: "Quero dizer ... ok, você está certa
sobre eles se exibirem, mas eles não são só ... há mais sobre eles que isso."
"Bem, então você apenas terá que aceitar que há mais coisas em Severus
também, não?"
Era bem mais difícil discutir com ela do que com Sirius. Remus encolheu os
ombros, evasivamente. Ocorreu a ele que Lily poderia ser capaz de ajudar com
o enigma atual. Afinal, casamentos e noivados eram coisas de garotas, não
eram? Pelo menos ela poderia oferecer outra perspectiva.
"Evans?" ele disse, pensativo: "Você até que é bem esperta ..."
"O que você faria se sua família estivesse te forçando a casar com alguém que
você não queria?"
Ela franziu a testa, como se isso não fosse o que ela esperava.
"Um lar para crianças", corrigiu. "Eles são diferentes. De qualquer forma, não
sou eu, é ... outra pessoa."
"Hum ..." Ela parecia perplexa, o que não dava a Remus muita esperança.
"Puxa, quero dizer, não é algo que meus pais fariam. Mas se eles fizessem ...
eu ficaria muito brava, obviamente. E magoada."
"Mas é claro. Seus pais tem que te amar e querer o que é melhor para você ...
tomar uma decisão como essa sem a pessoa ter escolha, é o completo oposto. "
"Certo", ele acenou com a cabeça, embora ele realmente não entendesse,
"Bem, essa pessoa er ... realmente não se dá bem com os pais de qualquer
maneira."
"Mesmo assim," Lily deu de ombros, "Isso não significa que ela não fica
magoada por isso. Você deve ser capaz de confiar nas pessoas que o criaram."
"Ah, ok." Remus não sabia o que dizer sobre isso. Ele teve uma sensação
horrível de seu estômago estar se revirando - a mesma sensação que costumava
sentir quando era chamado para ler em voz alta. Lily não tinha notado. Eles
estavam quase na sala comunal agora.
"Eu ainda não sei o que faria", ela suspirou, "É como se a única opção fosse
desafiar eles – os pais. Mas isso vai causar todos os tipos de problemas ... De
quem se trata? Vamos lá, me conta!"
Lily assentiu, compreensiva. Remus sorriu para ela. Ela tinha uma presença
extremamente reconfortante.
"Flibbertigibbet", disse Lily para o retrato, que se abriu para eles entrarem.
"Tudo bem, Lupin?" James sorriu. Remus acenou com a cabeça para Lily e foi
até seus amigos. A ruiva subiu direto as escadas para o dormitório feminino.
"Nos trocou por Evans, foi?" James perguntou, sorrindo.
"Mais ou menos," Remus deu de ombros, "Ela é legal. Odeia vocês dois."
"Mas todo mundo gosta da gente!" Sirius disse: "Somos patifes amáveis!"
"Ela realmente disse isso?" James estava perguntando a Remus. Ele assentiu.
"É uma expressão trouxa," Remus explicou, "Significa que ela pensa que você
é cheio de si."
"Bem," Remus olhou para ele, "Você meio que é, para ser honesto."
"Esqueci de dizer", disse James, uma vez que o saco de feijão estava vazio,
"Recebi uma coruja do meu pai hoje - ele falou com McGonagall e a gente tem
permissão para te trazer no Natal."
"O que? Sério?!" Remus estava fascinado. Por que um adulto que nunca o
conheceu antes iria querer intervir a seu respeito? Ele fez uma nota mental para
nunca subestimar o poder da força de vontade de James novamente.
Remus balançou a cabeça, sem palavras. Ele queria agradecer, mas mal sabia
como.
"Só estou esperando por você agora, cara," James cutucou Sirius com o pé,
"Você já resolveu isso com sua mãe? Diga que você vai ao Pettigrew de novo."
"Não vou me incomodar," Sirius respondeu, ainda lendo, "Só vou com você
sem dizer nada."
James e Remus trocaram um olhar. Eles tinham que fazer algo sobre o noivado
em breve; a ideia de Sirius ficar com esse humor por mais cinco anos era uma
incrivelmente sombria.
29. Segundo Ano
Lua de Dezembro
Sirius recebeu um berrador todas as manhãs após o dia dezesseis exigindo que
ele voltasse para casa imediatamente, mas ele simplesmente jogara os
envelopes vermelhos na lareira, onde os gritos de Walburga Black ecoaram nas
chaminés. James estava claramente aborrecido com esse comportamento, mas
não disse nada. Sirius sempre estava pronto para uma briga ultimamente, e era
melhor se manter distante. Infelizmente, conforme a lua cheia se aproximava,
Remus também ficava com um pavio curto. Os dois garotos discutiam sobre
tudo e qualquer coisa, e o pobre James teve que se colocar entre os dois mais
de uma vez.
"Só escreva para ela de volta, pelo amor de Deus." Remus gemeu na manhã do
dia vinte, jogando um travesseiro em Sirius de sua cama. Ele foi acordado cedo
pela terceira manhã seguida por um berrador.
"Como vou ficar fora disso quando está no nosso maldito quarto todas as
manhãs?!" Remus rosnou, levantando-se agora.
"Eu sinto tanto por te incomodar!" Sirius respondeu, escorrendo sarcasmo. Sua
aparência era terrível, como se não tivesse dormido direito, mas Remus estava
de muito mau humor para se importar, e sua transformação estava a apenas
algumas horas de distância.
"Que tal não agir como uma criança mimada por cinco minutos ?!" Ele
retrucou: "Você é tão egoísta."
"Não estou pedindo que ela os envie! Pelo menos eu realmente recebo correio,
pelo menos as pessoas se importam o suficiente comigo para ..."
Remus se jogou em cima de Sirius e começou a bater nele o mais forte que
podia, fervendo em raiva.
"Ele começou!"
***
"Quem fez isso?" Ela perguntou a ele, "Se foi Potter ou Black, então eu quero
saber - eu disse a Minerva que era uma má ideia deixá-lo ir no Natal."
"Por que eu não deveria ir?" Remus perguntou, escandalizado, "Sirius está
indo!"
"Mas não vamos até amanhã, é logo depois da lua cheia, que é o mais seguro-"
"Claro que não, querido", disse ela, sem realmente ouvi-lo. "Agora sente-se um
pouco em silêncio, ok? Você já tomou café da manhã?"
Madame Pomfrey o fez ficar na ala hospitalar o dia todo de pijama. A medi
bruxa estava trabalhando em uma nova poção que esperava poder tornar sua
transformação mais suaves. Ela o deixou pegar emprestado alguns de seus
livros, então não foi tão ruim, mas ele se sentia como um inválido do mesmo
jeito. Seu rosto ainda estava formigando um pouco por causa da maldição de
Sirius, embora o inchaço tivesse diminuído substancialmente. Ele fez uma nota
mental para se lembrar de perguntar a Sirius exatamente como ele fez isso, era
um bom feitiço para usar em Severus.
Por volta da uma hora, logo após o almoço, James e Sirius vieram vê-lo.
Madame Pomfrey deu a eles um sermão de repreensão primeiro.
"Eu realmente sinto muito, Remus." Ele tinha um hematoma escuro e pesado
no alto da bochecha esquerda e seus olhos pareciam um pouco mais brilhantes,
Remus se perguntou se Sirius havia chorado por causa do que aconteceu. O
pensamento o fez se sentir engraçado. Ele balançou a cabeça, a raiva
diminuindo.
"Ela vai deixar você sair agora?" James perguntou: "Algumas horas ainda até a
lua."
"Não há," Remus disse, rapidamente, "Isso é apenas ... acho que é para tornar a
transformação, sabe ... mais fácil."
Os dois olharam para ele, perplexos. Ele se mexeu desconfortavelmente,
"Bem, sim." Remus franziu a testa. Ele tinha assumido que eles sabiam muito
mais do que ele, tendo crescido no mundo bruxo, então ficou surpreso que eles
não sabiam sobre a dor. Por muito tempo, a dor foi a única coisa que ele
conheceu.
Para sua surpresa e deleite, James e Sirius optaram por ficar na ala hospitalar
com Remus pelo resto da tarde. Eles jogaram alguns jogos tumultuados de
snap explosivo, antes que Madame Pomfrey dissesse severamente para eles
abaixarem o volume, então eles mudaram para gobstones. À medida que a
noite avançava, eles não desceram para jantar, mas comeram a mesma comida
de hospital que Remus.
Isso não era grande coisa para eles - James e Sirius trataram isso como
qualquer outra tarde; a cama do hospital como apenas uma extensão do
dormitório. Mas para Remus, era tudo - era um tempo que, de outra forma,
seria gasto estando ansioso e sozinho. Era a coisa mais próxima de uma família
que ele poderia imaginar.
***
"Tudo bem." Remus resmungou, se erguendo. Devia ser ruim. Ele ergueu o
espelho pesado e o virou na direção de seu rosto. Ah.
O corte já parecia meio curado, graças aos cuidados de Pomfrey, mas ainda era
um choque. A casca era dura e negra, com bordas de pele vermelha e macia.
Estendia-se do canto interno de um olho, passando pela ponte do nariz
diagonalmente para baixo em direção ao centro da bochecha oposta. Ele não
conseguia se lembrar de muito, mas parecia que ele quase havia partido seu
rosto em dois.
"Meu lindo rosto", disse ele, fracamente, numa tentativa de sarcasmo, mas se
sentindo terrível. Agora todos saberiam. Até agora, ele tinha sido capaz de
esconder as piores cicatrizes sob suas vestes, mas sabia que era apenas uma
questão de tempo até que sua sorte se esgotasse a esse respeito.
"Não é tão ruim", disse James, rapidamente, "Vai curar muito rápido, aposto
..."
"Como ..." Sirius começou, mas foi interrompido pela Madame Pomfrey, que
veio brigando.
Remus de alguma forma não acreditou nela - até mesmo suas cicatrizes mais
desbotadas ainda eram muito visíveis. Ela deu uma olhada mais de perto,
depois passou uma pomada transparente sobre o corte,
"Leve isso com você", ela instruiu, entregando-lhe o frasco, "Aplique todas as
manhãs e noites. Ainda dói? "
Ele balançou sua cabeça. Ela estalou a língua com ceticismo, "Bem, mesmo
assim. Pode coçar um pouco durante a cura. Talvez possamos tentar cortar suas
unhas no próximo mês? Embora eu suponho que as garras cresçam de qualquer
maneira. " Ela suspirou, parecendo frustrada, "Seu rosto ainda deve ter ficado
irritado, mesmo depois de diminuir o inchaço."
"Tá tudo bem," Remus deu de ombros. Ele estava bem ciente de seus amigos
do outro lado da cortina e queria que ela fosse embora. "Posso ir agora? Eu me
sinto bem."
"Não." Ele balançou a cabeça com veemência, "Estou com fome - quero descer
para o café da manhã." Ele sabia que isso funcionaria; ela estava sempre
tentando fazer com que ele comesse mais.
Sirius ficou muito quieto durante o café da manhã, deixando a conversa para
James e Remus - algo que nenhum dos dois tinha muita prática por conta
própria. Depois de alimentados, eles subiram para fazer as malas porque Sirius
e Remus haviam deixado para o último minuto. James, frustrado com a falta de
preparação deles, marchou até o escritório de McGonagall para ver se tudo
estava pronto para sua jornada.
Remus guardou algumas coisas - ele não tinha nenhum presente para os outros,
e fez todos eles prometerem não lhe dar nada também. Não era justo. A
Matrona havia enviado um pequeno pacote, e era isso. Ele jogou algumas
roupas - os outros provavelmente usavam robes em casa, mas os únicos robes
que Remus possuía eram o uniforme escolar (e ele não tinha certeza se
realmente o possuía, ou se era apenas emprestado), então ele apenas pegou
roupas trouxas.
Empacotado, Remus se virou para encontrar Sirius parado bem atrás dele,
parecendo ainda pior do que no dia anterior.
"É minha culpa." Sirius respondeu, sua voz estranhamente monótona, "Eu ouvi
Pomfrey dizer."
"Ãhn?"
Sirius tinha perguntado isso antes, ao olhar para suas velhas cicatrizes. Desta
vez, Remus percebeu que ele realmente entendia o que estava perguntando.
Mas Remus ainda não tinha uma resposta.
"Na verdade, não. Eu sei que estou sempre com fome – como se estivesse
faminto a vida toda. E com raiva."
"Do que?"
"Eu sinto muito, Remus." Sirius parecia triste novamente. Remus não
aguentou,
"Oh, cale a boca." Ele disse, meio brincando: "Você não pensaria duas vezes
antes de amaldiçoar James ou Peter."
"Não diga isso." Ele temia que isso fosse acontecer, "Por favor, não me trate
como se eu fosse doente, ou diferente, ou o que seja. É uma noite por mês. Se
eu te socar, você tem todo o direito de me amaldiçoar, ok? "
***
Viajar de pó de flu não era nada comparado a sentir sua própria coluna esticar
a cada mês, e Remus não entendia o motivo de tanta preocupação. Ele foi o
segundo a sair da lareira na sala dos Potter, depois de James. Limpando a
fuligem de seus ombros, ele rapidamente pulou do tapete da lareira para dar
lugar a Sirius, e observou James ser puxado para um abraço caloroso por seus
pais.
O Sr. e a Sra. Potter eram um pouco mais velhos do que Remus havia
imaginado, mas ambos tinham rostos gentis e alegres que compartilhavam
características familiares com o filho. O cabelo do Sr. Potter era branco como a
neve, mas espetado em todos os ângulos exatamente como o de James. A Sra.
Potter tinha seu sorriso cativante e olhos castanhos calorosos. Os dois
abraçaram Sirius também, enquanto Remus se encolheu, sentindo-se
terrivelmente deslocado.
Finalmente, a Sra. Potter voltou seu sorriso ensolarado para ele. Felizmente ela
não fez menção de abraçá-lo também, talvez percebendo que ele estava
desconfortável. Ela simplesmente acenou com a cabeça para ele suavemente,
"Olá, Remus, nós ouvimos muito sobre você, estou tão feliz que você está
passando o Natal com a gente."
Remus sorriu timidamente, mas não conseguiu falar. Não importava; por que
James e Sirius estavam falando por seis pessoas com Sr. Potter, que também
parecia um colega da escola, com os olhos brilhando de diversão e travessura.
A sala de estar - Remus supôs que fosse uma sala de estar, já que haviam três
sofás nela - era a maior em que ele já havia estado, com janelas largas e altas
que deixavam entrar a suave luz do sol de inverno que se acumulava no piso de
madeira polida. Uma gigantesca árvore de Natal estava em um canto, brilhando
com pó de prata e rodeada por uma montanha de presentes embrulhados em
cores vivas.
O quarto de James era grande o suficiente para todos os três - maior do que o
dormitório em Hogwarts, com uma cama king-size com dossel, mas Remus
ficou surpreso ao descobrir que havia quatro quartos igualmente grandes que
estavam desocupados. Sirius já havia reivindicado o que estava ao lado de
James, então Remus colocou sua mala no terceiro cômodo, imaginando como
seria dormir sozinho pela primeira vez.
"Vamos, rapazes!" O Sr. Potter gritou escada acima com uma voz estrondosa:
"Nevou a tarde toda e eu os trenos estão prontos!"
30. Segundo Ano
Natal com os Potter’s
Remus achava que nada poderia ser melhor do que o Natal em Hogwarts, o que
era (bem literalmente) mágico. O Natal na casa dos Potter, no entanto, foi uma
experiência totalmente diferente que parecia ficar cada vez ficar melhor.
A Sra. Potter chamou todos para o almoço e fez com que trocassem as roupas
gélidas e molhadas. Eles se sentaram perto da lareira, comendo bolos quentes e
pão tostados com uma manteiga amarela abastada. À tarde, eles queriam sair
novamente, mas o Sr. Potter tinha ido se deitar e a Sra. Potter não queria que
eles saíssem tão perto do anoitecer. Em vez disso, eles a ajudaram a decorar
um enorme bolo de Natal com glacê branco e pequenas estatuetas mágicas,
depois embrulharam presentes para os vizinhos e os elfos domésticos.
"Nós nunca damos nada para o elfo doméstico," Sirius disse com naturalidade,
seus dedos irremediavelmente presos em algum feitiço-fita, "Veja bem,
Kreacher é um mal humorado; duvido que ele queira alguma coisa."
"Eles aceitam presentes, desde que seja algo comestível, eu acho," a Sra. Potter
respondeu, sorrindo, "Nade de roupas, é claro, isso só os chateia."
"Diga à mamãe o que sua família faz com os elfos domésticos, Sirius," James
sorriu, prendendo ainda mais as mãos do amigo. Sirius riu, levemente,
"Empalha suas cabeças." Ele disse: "Assim que eles estiverem mortos. Pelo
menos, eu acho que esperamos até que eles morram ... Kreacher é o único elfo
doméstico de que me lembro. "
"Meu Deus", disse a Sra. Potter, "eu pensei que a essa tradição havia morrido."
"Não com os Black’s," Sirius suspirou. Remus percebeu que ele estava
pensando no noivado novamente.
Remus sorriu para ela, educadamente, sentindo o corte recente em seu rosto
puxar sua pele. Ele ainda não tinha realmente dito nada para nenhum dos pais
de James. Sempre foi dito para ser visto e não ouvido perto de pessoas mais
velhas - e ele nunca tinha estado na casa de um amigo antes. Sirius, ao
contrário, estava completamente à vontade, Remus nunca o tinha visto tão
feliz. Ele adorava a Sra. Potter como se ela fosse sua própria mãe - se ele
gostasse de sua própria mãe, é claro.
"É melhor você ir para a cama, querido", disse a Sra. Potter, ignorando o fato
de que eram apenas três horas da tarde. Remus se perguntou se James havia
contado a seus pais sobre ele - eles deveriam saber, McGonagall não teria o
deixado vir de outra forma.
"Oh, você está bem, não é, Lupin?" Sirius persuadiu: "Peter vai voltar daqui a
pouco, podemos sair de novo."
Remus piscou para ele, então olhou para James pedindo ajuda.
"Deixe ele, Sirius," a Sra. Potter repreendeu, "O pobre garoto não está se
aguentando em pé. Vamos, querido, pode ir. "
Grato, Remus se levantou da mesa da cozinha e foi para a cama. Enquanto ele
vestia seu pijama, não pode deixar de dar mais uma olhada no espelho, agora
que ele estava devidamente sozinho. Talvez fosse por causa do frio, mas a
cicatriz parecia pior do que naquela manhã, o contraste mais forte com sua pele
pálida. Seu rosto sempre o surpreenderia, agora? Sempre que tivesse um
vislumbre de si mesmo em algum espelho ou superfície brilhante, pularia? As
outras pessoas teriam medo dele?
Houve uma leve batida na porta, assim que Remus estava prestes a colocar a
pomada que Madame Pomfrey havia dado a ele. Era Sirius, Remus sentiu seu
cheiro antes mesmo dele bater.
"Tudo bem?" O garoto moreno se esgueirou para dentro, falando baixinho. Ele
segurava uma taça de estanho na mão. "A mãe de James enviou isso para você.
É uma poção curativa, eu acho."
"Não!" Remus disse, com muita firmeza, provavelmente soando mais irritado
do que pretendia. "Não tem nada a ver com vocês dois, é apenas o fato de que
eu fiquei acordado a noite toda uivando para a maldita lua e tentando arrancar
meu próprio rosto. Estou cansado."
"Desculpa." Sirius disse, ainda mais baixinho. Foi a segunda vez que ele se
desculpou naquele dia, e Remus odiava ouvir isso. "Vou te deixar sozinho."
Ele fechou a porta.
***
"Oh, Sr. Potter, Sr. Potter, ela veio buscar o jovem mestre Black, ela está me
dizendo que é a mãe dele! Eu lhe disse para esperar lá por você." O elfo estava
torcendo as mãos ansiosamente, claramente muito confuso com a virada dos
acontecimentos.
Sirius e James se entreolharam. O rosto de Sirius estava branco - parecia que
ele iria vomitar.
O Sr. Potter já estava de pé e fora da porta. Havia vozes altas no corredor agora
- Remus reconheceu dos berradores o tom cortante da Sra. Black.
"Sirius," a Sra. Potter disse gentilmente, "Seus pais lhe deram permissão para
nos visitar, querido?" Ele olhou para o chão. Ela estalou a língua. "Oh,
querido." Ela disse, soando muito triste.
Sirius se levantou, James também. Remus não queria, ele queria ficar perto do
fogo, onde todos estavam tão felizes momentos antes. Mas a Sra. Potter
também se levantou, e esta foi uma das vezes em que os marotos deveriam se
apresentar como uma frente unida, não importava o quão assustadora a mãe de
Sirius fosse.
Todos eles saíram para o corredor. Remus tinha visto a Sra. Black uma vez
antes, a primeira vez que ele embarcou no Expresso de Hogwarts. Naquela
época, ele simplesmente pensou que ela parecia muito severa e que se parecia
com o Sirius. Ela ainda parecia severa - seu cabelo estava penteado para trás e
puxado para cima em um coque alto que se enrolava como uma serpente no
topo de sua cabeça, preso com um alfinete de esmeralda. Seus olhos eram
escuros, não tão azuis quanto os de Sirius, mas ela tinha a mesma estrutura
óssea da família Black e aparência superior. Ela era mais baixa do que o Sr.
Potter, mas ainda conseguia encará-lo como se ele fosse sujeira em sua bota.
Seu olhar se aguçou quando James e Remus aparecerem.
"Sirius." Ela disse, friamente, estreitando os olhos para o filho mais velho.
"Você virá comigo imediatamente. Kreacher!" Ela estalou os dedos e um velho
elfo doméstico de aparência enrugada emergiu de trás de suas vestes. "Suba e
busque as coisas do mestre Black." O elfo doméstico curvou-se
profundamente, beijando as pontas prateadas das botas pontudas da Sra. Black
e correndo escada acima.
"Boa noite, Walburga", disse a Sra. Potter, agradavelmente, como se não
houvesse tensão alguma, "Posso te oferecer uma bebida? Estávamos prestes a
comer as tortas de carne moída, não é, meninos?"
Remus queria fugir; ela era mil vezes pior do que a Matrona. Ela era pior do
que Bellatrix e Snape e todas as pessoas desagradáveis que ele conheceu. A
ideia de deixar Sirius ir com ela fez seu estômago se revirar. O Sr. e a Sra.
Potter pareciam estar sofrendo da mesma coisa,
"Walburga, por que não o deixar ficar?" A Sra. Potter tentou, "Eu sei que ele
tem sido um pouco levado, mas não houve mal nenhum. Podemos ficar com
ele para o almoço e mandá-lo de volta antes do jantar amanhã. Todos estão se
divertindo muito juntos."
A Sra. Black soltou uma risada curta e crepitante, como se a diversão do filho
fosse a menor de suas preocupações. Ela virou-se para James, seu olhar
passando por sua bagunça de cabelo, então para Remus, olhando fixamente sua
nova cicatriz. Remus olhou para seus pés, apavorado. Ela saberia. Ela saberia
imediatamente.
Kreacher desceu correndo as escadas, seguido por Gully que parecia muito
ofendida. O malão de Sirius pairou atrás de ambos, aparentemente embalado e
pronto para ir. Walburga virou,
"Venha, Sirius."
"Não." Ele disse baixinho, mas com muita firmeza. Remus queria lhe mandar
para calar a boca, ele não conseguia ver em quantos problemas estava?! Mas
Sirius estava cerrando os punhos, olhando para sua mãe, "Eu quero ficar aqui,
com os Potter. Você não pode me obri-"
"SILENCIO!" Walburga se virou, apontando sua varinha para Sirius. Ele parou
de falar imediatamente - embora não voluntariamente. Abriu e fechou a boca
algumas vezes, e nada saiu. Ela havia roubado sua voz.
"Walburga, sinceramente!" O Sr. Potter engasgou, enquanto a Sra. Potter
soltou um pequeno grito e se ajoelhou ao lado de Sirius, envolvendo os braços
em volta dele protetoramente. "Ele é apenas um menino!"
"Ele é meu filho." Walburga ronronou, olhando ferozmente para a Sra. Potter,
"E ele é o herdeiro da mais nobre família da Grã-Bretanha. Ele aprenderá seu
lugar. Venha, Sirius."
"Ela faz pior do que isso." James disse baixinho. Remus acenou com a cabeça,
concordando, sentindo como se alguém tivesse tomado seu próprio poder de
fala.
"Hora de dormir, meninos." Sra. Potter disse, sua voz trêmula. "Tentem não se
preocupar muito." Ela abraçou James com força, beijando-o em cada
bochecha. Remus tentou se esquivar dela, mas ela o agarrou também, puxando-
o para um abraço apertado. Ela cheirava a laranja e cravo.
***
"Psst. Remus."
Remus tinha acabado de escovar os dentes e estava caminhando pelo corredor
para seu quarto, quando James colocou a cabeça para fora e o conduziu para
seu próprio quarto. Eles se ajoelharam na cama juntos. James retirou uma nota
do bolso do pijama, "Regulus enviou isto,"
"O que está dizendo?" Remus perguntou rapidamente, antes que James pudesse
dar a ele para ler.
"Oh, um, diz 'Sirius está em casa, não tente entrar em contato.'"
"Isso é tudo?"
"Legal da parte de Regulus," Remus comentou, olhando para a nota que foi
obviamente rabiscada com muita pressa. "Achei que eles se odiavam."
"Sim, bem, mas eles ainda são irmãos, não são?" James respondeu, encolhendo
os ombros, "Laços de família e tudo mais."
"Eu não sei." James mordeu o lábio. "Eu nem cheguei a dar meu presente. Ele
me disse que nunca ganha nada de natal dos pais, apenas relíquias de família e
essas coisas."
"Eu fui grosso com ele esses dias." Remus suspirou tristemente, "Sobre ...
sabe, meu probleminha peludo."
James riu,
"Não se preocupe com isso. Vocês dois estão sempre discutindo sobre alguma
coisa. É apenas algo da personalidade de vocês."
"Oh. Você acha?" Remus ficou um pouco irritado com aquela observação -
Sirius se irritava com Peter com muito mais frequência, definitivamente. James
sorriu,
"Eu te disse, não se preocupe com isso. Black adora uma discussão."
A família estendida dos Potter começou a chegar para o almoço de Natal por
volta do meio-dia, assim como os Pettigrew, que trouxeram com eles a irmã
mais velha de Peter, Philomena, e seu namorado trouxa que ela conhecera na
universidade. Remus foi apresentado a todos como um amigo de James, e
geralmente ignorado, exceto por um bruxo baixo e ancião que já estava alegre
e com o nariz vermelho de todas as bebidas que Gully estava oferecendo.
"Ele está aqui?!" O bruxo sorriu, olhando em volta, "Excelente homem, não o
vejo há anos."
"Er ... ele está morto." Remus respondeu, com um encolher de ombros
apologético.
Remus piscou. James olhou para ele com curiosidade. Felizmente, o Sr. Potter
interveio,
"Darius? Tome aqui outra bebida, deixe os jovens com seus jogos, hein?"
Remus engoliu em seco e voltou para o torneio de gobstones como se nada
tivesse acontecido.
"Talvez eles estejam usando a rede de flu", supôs Peter, "talvez a mãe dele não
confiasse nele para pegar o trem conosco."
"Talvez." James olhou pela janela, esfregando o nariz dolorido. Remus nunca o
tinha visto tão infeliz. James sentia a falta de Sirius mais do que qualquer um
deles, e estava muito animado com a perspectiva de vê-lo assim que chegassem
a Londres. Remus e Peter tentaram ao máximo animá-lo, mas era como se ele
tivesse perdido o braço direito.
Antes de partir, o Sr. e a Sra. Potter disseram que veriam o que poderiam fazer
para que Remus ficasse com eles durante o verão também, e ele os agradeceu
profundamente. Mas sabia que não era provável, então não alimentou muitas
esperanças. Em vez disso, ele apenas tentou ser grato por voltar à escola por
mais alguns meses com seus amigos. Com a maioria deles, pelo menos.
Sirius não estava no jantar naquela noite, nem apareceu quando eles estavam se
preparando para dormir. James e Remus trouxeram seus presentes de Natal
para ele, e os empilharam em cima de seu travesseiro, ainda embrulhados em
papel brilhante e fita. Três dos pacotes eram de Andromeda, e Remus sabia que
eram álbuns. Sirius pediu tudo e qualquer coisa de David Bowie.
Peter foi também, com uma caixa de biscoitos para mordiscar enquanto
observava. Remus ficou dentro da torre onde estava quente; lendo, ou pelo
menos fingindo. Agora que estava finalmente sozinho, começou a pensar sobre
as coisas que o amigo do Sr. Potter, Darius, disse sobre seu pai, revirando a
nova informação em sua mente como uma moeda. Seu pai era bom em duelar -
ele já tinha ouvido isso antes. Lyall Lupin obviamente tinha um temperamento
também - essa era uma nova descoberta, e uma coisa estranha de se saber,
depois de tanto tempo sem realmente saber de nada. Pela primeira vez, Remus
considerou que seus ataques de raiva podem não ter nada a ver com sua
condição. E quem era Greyback? O nome sozinho o fez se sentir quente e
desconfortável. Ele desejava mais do que tudo que James e Peter não
estivessem estado lá para ouvir tudo.
"O que diabos ele está fazendo?!" Uma voz guinchou por cima do ombro de
Remus. Era Lily Evans. Ela estava bebendo uma xícara de chá, assistindo da
janela James em sua vassoura.
"Liberando energia nervosa," Remus deu de ombros, sem se virar para olhar
para ela. A luz do dia deixaria seu rosto em nítido e sua cicatriz - embora não
mais vermelha e aparente - ainda era muito perceptível.
"James Potter, nervoso?!" Lily zombou: "Eu não tinha ideia que ele era capaz
de emoções tão complexas."
"Ei" Remus objetou, ainda olhando pela janela, "Não foi um natal bom para
ele, ok?"
"Ok, ok, desculpe, eu sei que ele é seu amigo." Ela sempre dizia isso logo
depois de insultar um dos marotos. "Como foi seu natal?"
"Ótimo, obrigado. E o seu?"
"Brilhante", ele podia ouvir o sorriso em sua voz, "mamãe e papai finalmente
me deixaram ter uma coruja."
"Ah legal!"
"E você?"
"Do seu ... hum, das pessoas com quem você vive?"
Ele finalmente olhou para ela, ainda mais irritado. Por que ela simplesmente
não se perdia por aí?
"Oh ... claro, sim." Lily estava conscientemente olhando para longe, para o
espaço logo à esquerda da cabeça de Remus. Ele suspirou pesadamente, todos
iriam ver de qualquer maneira. Pelo menos Lily era educada o suficiente para
não fazer perguntas rudes.
Cerca de uma hora após as luzes terem se apagado a porta se abriu novamente.
Sirius havia retornado - não havia como confundir seus passos familiares.
Remus sentiu uma onda de alívio passar por ele, um nó em seu estômago que
ele não percebeu que estava lá havia começado a se desenrolar. James e Peter
continuaram dormindo enquanto Sirius tentava manter seus movimentos
quietos, entrando no quarto e indo até sua cama, subindo rapidamente e
fechando as cortinas. Remus ficou parado, ouvindo Sirius deitado imóvel
também. Havia algo diferente em sua respiração. Eventualmente, a curiosidade
levou a melhor sobre ele e ele saiu da cama.
Não querendo se intrometer, Remus caminhou tão perto das cortinas de Sirius
quanto ousou e sussurrou,
"Sirius?"
"Remus."
"Ok." Remus voltou para sua cama e fechou os olhos, não se sentindo menos
preocupado.
***
Sirius corou ligeiramente e olhou para frente como se nunca os tivesse visto.
James deslizou para o assento ao lado dele,
"O que aconteceu? Onde você esteve? O que ela fez com você?!"
A sala de aula estava cheia agora, e todos pareciam estar cochichando nas
costas deles. Remus não podia culpá-los - ele também não conseguia parar de
olhar. Não era apenas a falta de cabelo - embora isso fosse incrivelmente
desconcertante; Sirius simplesmente não era Sirius sem o cabelo - ele também
tinha sombras escuras sob os olhos e não havia um traço de humor em seus
lábios.
"Tudo bem, acalme-se, por favor!" McGonagall entrou na sala. Ela olhou para
Sirius. Seus olhos se arregalaram por um milissegundo quando ela o
reconheceu, mas ela não disse nada, se dirigindo à classe; "Seus exames de fim
de ano começam em três meses, vamos ver quem está prestando atenção..."
McGonagall não chamou Sirius nenhuma vez para responder a uma pergunta,
embora geralmente essa fosse a única maneira de fazê-lo prestar atenção. Nem
incomodou nenhum dos outros marotos, que passaram a aula inteira lançando
olhares preocupados para o amigo. Quando a aula de Transfiguração terminou,
eles empacotaram suas coisas e seguiram Sirius apressadamente para fora da
porta.
"Eu disse mais tarde," Sirius respondeu, "Espere até o intervalo, ok?"
"Estou bem."
A próxima lição, História da Magia, foi uma agonia. James estava fora de si e
até recorreu a passar bilhetes para Sirius - que os ignorou firmemente. Ele
sentou-se rígido, as costas eretas, os olhos na lousa. Pela primeira vez em dois
anos, Remus o viu realmente lendo seu texto de história na aula. Algo estava
muito errado, de fato.
"O que parece?" Ele gesticulou para sua cabeça. Remus teve a sensação
peculiar de que nenhum deles se importava que ele e Peter estivessem ali - que
isso era entre os dois, como suas conversas noturnas.
"Bem, eu não fiz isso sozinho, fiz ?!" Ele retrucou, com raiva. James não
reagiu, apenas continuou olhando para o amigo. Esse era o segredo de James,
Remus percebeu, de repente, ele sempre era paciente e nunca levava nada para
o lado pessoal. De que outra forma você poderia ser o melhor amigo de alguém
como Sirius Black? Sirius agora estava remexendo em sua bolsa e tirou seu
chapéu vermelho da Grifinória, que até então nunca tinha sido usado. Ele
apertou sobre a cabeça raspada, "Frio maldito." Ele murmurou: "Não sei como
você lida com isso, Lupin."
Remus deu de ombros e sorriu, satisfeito por ser reconhecido. Sirius se apoiou
pesadamente na parede, olhando para os pés.
James e Peter engasgaram, Remus fez uma nota mental para perguntar sobre
isso mais tarde. Sirius continuou.
"Não recuperei minha voz até a ceia de Natal. Tive que fazer meu papel de
herdeiro; todos estavam lá, todos os vinte e oito sagrados - exceto os Weasley,
obviamente. Lucius Malfoy realmente me odeia agora, mas ele teve que ser
muito legal comigo e com Reg - panaca nojento. Acabei usando minha gravata
da Grifinória até que mamãe percebeu e sumiu com ela. Então eu ... eu hum ...
posso ter detonado algumas bombas de bosta durante o quarto prato..."
"É por isso ... o cabelo ...?" James perguntou novamente, hesitante. Sirius
olhou para cima.
"Ela disse que vendo que as punições usuais não estavam surtindo efeito, ela
tentaria algo diferente ... Tentei fazer com que Pomfrey crescesse de volta para
mim, mas a velha cadela disse que ali não era um salão de beleza. Pensou que
eu mesmo tivesse feito isso por acidente ou algo assim. "
"Regulus?" James perguntou de repente: "Ele também voltou? Ele nos enviou
uma mensagem para avisar que você chegou em casa, mas depois não ouvimos
mais nada."
"Éh, ele está de volta. Ainda com seu cabelo, obviamente. Papai montou uma
chave de portal para Hogsmeade. Ele ainda é ... sabe, um chato e tudo, mas ...
ele também não escolheu ser um Black. Ele simplesmente joga o jogo deles
melhor do que eu." Ele olhou para além de todos eles, seus olhos arregalados e
desesperados. Remus sentiu uma dor terrível no peito. "Eu só queria..." disse
Sirius. Mas não deu tempo. O sinal tocou e eles tiveram que voltar às suas
aulas.
32. Segundo Ano
Grifinória vs. Sonserina
Sirius olhou para Remus e, pela primeira vez desde a véspera de Natal, Remus
o viu sorrir. Aquele sorriso típico de Sirius Black - nada poderia estragar isso.
"Ah sim, acho que estou vendo," disse Sirius, ainda esfregando a cabeça. Ele
estendeu a mão e puxou Remus para a moldura do espelho, de modo que eles
ficassem lado a lado, olhando um para o outro. "Nós poderíamos ser irmãos."
"Aí está você." O menino mais novo disse, um tremor de nervosismo em seu
tom geralmente arrogante. Seus olhos continuavam se voltando para James. O
avião de papel de Barty começou a circundar todos eles.
"Eu não estava no jantar." Sirius respondeu, sem ajuda-lo. Eles haviam enviado
Peter à cozinha para pegar alguns sanduíches e sentaram em uma das alcovas
escondidas de Remus para comer. Remus estava gostando bastante deste jogo -
evitar o resto dos alunos, até mesmo os da Grifinória. Normalmente James e
Sirius fariam tudo em seu alcance para serem notados, já Remus preferia ficar
nas sombras.
"Posso falar com você?" Regulus se dirigiu a seu irmão mais velho.
"Certo." Regulus disse, cruzando os braços. "Eu só queria que você soubesse
que a mãe e o pai pediram a mim e a Narcissa para te observar. E informar a
eles."
Sirius fez um barulho de nojo. Regulus continuou, sem desviar o olhar, "E não
vamos. Nós dois vamos ficar fora disso, ok?"
"Muito nobre da sua parte." Sirius respondeu. James sorriu. Regulus revirou os
olhos novamente.
"O que eu quero dizer é que não sou seu inimigo, idiota. Nem Narcissa. Você
pode fazer o que quiser, isso é entre você e nossos pais."
"Ótimo."
"Ótimo."
"Vamos embora." Regulus murmurou para seu amigo, que estava pálido e
olhava para James com cautela. Os dois se dirigiram às masmorras. "Narcissa
disse para te desejar boa sorte no sábado, Potter." Regulus falou por cima do
ombro quando eles dobraram uma esquina.
James o ignorou, seguindo Sirius pelo buraco do retrato. Uma vez que todos
estavam na sala comunal Remus perguntou,
"Espero que você acabe com eles, cara." Sirius rosnou, jogando-se na poltrona
mais próxima.
James parou, percebendo o que disse. Ele olhou para Sirius. Sirius gemeu e se
levantou.
***
Tinha nevado a noite toda. Se Hogwarts fosse uma escola normal, Remus
pensou consigo mesmo, mal-humorado, eles teriam cancelado a partida idiota.
Mas não; em vez disso, a sala comunal da Grifinória zumbia em excitação,
com conversas sobre como essas eram 'condições perfeitas de voo'. Peter e
Remus passaram metade da manhã tentando lançar feitiços de aquecimento
duradouros no uniforme de James. Sirius havia realizado um de seus atos de
desaparecimento matinal e não estava em lugar algum.
"Não sei," Remus bocejou de volta, segurando sua xícara de chá quente como
se sua vida dependesse disso.
"Ele vai vir." Remus disse, ignorando Peter. "Ele quer ver a gente destruir os
Sonserinos."
Até Lily sorriu com isso - apesar de seus apelos habituais para a união entre as
casas, hoje ela estava vestida de vermelho e dourado da cabeça aos pés, assim
como todo mundo. Depois do café da manhã, eles saíram juntos para o campo
de quadribol. A parte da Grifinória no campo estava enfeitada com bandeiras e
fitas vermelhas e douradas, além de quatro grandes faixas exibindo o leão
dourado da casa. Felizmente, alguém havia limpado a neve dos bancos.
"Com frio, Remus?" Lily olhou para ele, enquanto ele tentava soprar ar quente
nas mãos enluvadas.
"Como você fez isso?!" Ele perguntou: "Temos tentado a manhã toda!"
Após isso ter sido feito, as duas equipes de quadribol já estavam se reunindo
no campo, que fora limpo o suficiente para que eles pudessem fazer o caminho
de seus vestiários, pelo menos. Eles estavam em duas fileiras organizadas -
uma escarlate, uma esmeralda. Remus conseguiu distinguir claramente alguns
dos jogadores - o inconfundível cabelo preto de James, o rabo de cavalo louro-
claro de Marlene. Ele também viu Narcissa Black, no time adversário; alta e
esguia, seu cabelo platinado entrelaçado em duas tranças elegantes que
desciam por suas costas.
"O que é que foi isso?!" Lily olhou em volta com os olhos arregalados, junto
com todos os outros. Até os jogadores em campo pareciam assustados. Remus
olhou para cima e viu que os leões nos estandartes da Grifinória acima deles
pareciam ter ganhado vida, e agora estavam rondando para frente e para trás
pelo material vermelho, rosnando e balançando a cabeça inquietamente.
Assim que todos o viram, a multidão riu - até mesmo a Corvinal e a Lufa-Lufa.
Mas Sonserina não o fez - a porção verde da multidão meramente observou a
demonstração extravagante do orgulho da casa.
James claramente não estava distraído pelos novos mascotes, mas sim
encorajado por eles - o que deve ter sido a intenção de Sirius. Ele marcou pelo
menos mais três gols - resultando em mais três rugidos ensurdecedores -
enquanto os sonserinos lutavam para se recuperar da surpresa.
"Ah, bem," Peter sorriu para Remus, "Nós perdemos, mas ainda estamos
empatados com a Corvinal na tabela de classificação - ainda estamos indo para
a final!"
Remus não poderia se importar menos.
"Sirius!" Uma voz fina e fria rompeu a multidão. Todos eles se viraram.
Narcissa estava caminhando em direção a eles, ainda em suas vestes
esmeraldas esvoaçantes, uma medalha de prata brilhante pendurada em seu
pescoço que fez Remus se encolher atrás de Peter. Sirius se levantou para
encará-la. Ela deu a ele um sorriso inesperado, "Tire essa peruca obscena." Ela
disse bruscamente.
"Mas que-?!" Sirius agarrou sua cabeça. Narcissa sorriu, mostrando fileiras de
dentes perolados,
"Isso é por sua ajuda em garantir a vitória da Sonserina." Com isso, ela se
virou, as tranças prateadas girando e disparou em direção ao seu próprio time.
As luas cheias de janeiro e fevereiro não foram boas. Não foram tão ruins
quanto a lua de dezembro, que o deixara obviamente assustado, mas também
não seriam nada agradáveis. Madame Pomfrey foi implacável em sua busca
para encontrar uma solução - em janeiro ela tentou remover as unhas
dele ('apenas temporariamente, você entende, você as terá de volta pela
manhã'), mas isso não impediu que suas garras crescessem uma vez que a
transformação tomou conta dele. Remus ficou um pouco aliviado com isso, já
que ela tinha planos de remover seus dentes em seguida.
Em fevereiro, ela tentou prender seus braços e pernas com algemas mágicas
para impedi-lo de se machucar. Ela se desculpou intensamente por essas
medidas – pedindo perdão ainda mais quando voltou pela manhã e descobriu
que ele havia deslocado os dois ombros, se libertando das algemas. Ele estava
cansado demais para se importar muito.
Feitiços e Poções ainda pertenciam a Lily Evans, mas ele queria diminuir a
distância entre eles o máximo possível. Como tal, ele finalmente superou seu
medo da biblioteca e passou quase todas as horas livres que tinha lá,
completando tarefas e revisando a matéria. Sua leitura havia melhorado um
pouco - ele ainda era lento se não usasse o feitiço, mas descobriu que sua
prática constante o ajudava a reconhecer as letras muito mais rápido do que
antes.
"Porque você faz isso?" Ela perguntou, olhando para ele com curiosidade.
"Fazer o que?"
"Cada vez que você abre um novo livro, você coloca a mão nele e coça a
cabeça com a varinha."
"Hum."
"Ah, vá em frente, me diga - tem algo a ver com os livros? É assim que você
descobre tudo mais rápido do que eu?!"
Remus ficou tão satisfeito com o elogio que baixou a guarda pela primeira vez.
"Prometo."
"É para me ajudar a ler. Eu não sei ... eu não posso ... hum ... bem, eu acho
mais difícil do que todo mundo. Ler da maneira normal."
"Não funcionou."
"É muito difícil de fazer." Ele explicou: "Levei séculos para acertar".
"Não fui eu – foi Sirius. Eu não acho que tem escrito em qualquer lugar, é
como se ele tivesse misturado alguns feitiços diferentes. Provavelmente esse é
o motivo dele ainda ser um pouco imperfeito. "
Assim como com Lily, Remus acabou se juntando as amigas dela também,
Mary e Marlene. No começo ele não tinha certeza sobre esse arranjo -
geralmente tentava evitar as outras garotas em seu ano puramente por instinto.
Além disso, Mary e Marlene geralmente eram encontrados rindo no fundo da
classe ou suspirando sobre alguma celebridade bruxa na sala comunal. No
entanto, ele ficou agradavelmente surpreso ao descobrir que as duas garotas
levavam seus estudos tão a sério quanto ele - e, na verdade, seu interesse por
estrelas pop bruxos não era muito diferente da obsessão de Sirius e James por
seus times favoritos de quadribol.
Elas o apresentaram a várias outras coisas femininas - Mary tinha uma queda
por Sirius e Marlene por James. Remus achou que elas estavam completamente
loucas e se perguntou se continuariam se sentindo da mesma maneira se
tivessem que dividir o banheiro com Potter e Black.
"Você é tão legal, Remus," Mary disse uma noite, em seu jeito brusco de
sempre, enquanto voltavam para a sala comunal juntos, "Marlene e Lily tinham
medo de você no primeiro ano."
"Você era muito agressivo", explicou Lily, "E James começou a dizer a todos
que você era realmente forte e que fazia parte de uma gangue."
Quando eles entraram na sala comunal, ele rapidamente avistou Sirius, James e
Peter amontoados em um canto, esparramados sobre um livro muito grande e
grosso. Marlene e Mary explodiram em gargalhadas quando eles as viram e
correram escada acima. Lily compartilhou um olhar de cumplicidade com
Remus antes de segui-las.
"Na biblioteca," Sirius afirmou, antes que Remus pudesse abrir a boca, "Com
seu fã-clube."
Remus sorriu.
"Cai fora, Black, eu sei que você está com inveja." Ele optou por não contar
aos amigos que Marlene e Mary gostavam deles. Seus egos podiam não ser
capazes de lidar com muito mais inflação. De qualquer forma, ele não queria
mudar de assunto, "Sério, o que vocês estão escondendo aí?"
Todos os três se entreolharam com culpa e Remus sentiu uma pontada de dor.
Todos eles estavam tramando algo sem ele - ele deveria saber. Ele supôs que
era justo - ele se recusou a participar de qualquer pegadinha por tanto tempo,
que agora eles não iriam querer incluí-lo em mais nada.
"Ah, certo", ele engoliu em seco, forçando um sorriso, "Bem, é melhor vocês
não estarem planejando me envergonhar como no ano passado."
"Ah não, nunca!" Sirius sorriu, levantando-se, juntando o livro contra o peito,
título ainda escondido, "Somos o tipo de amigos que gostariam de envergonhar
você, Lupin?"
***
"Então, se você não faz parte de uma gangue", refletiu Mary, alguns dias
depois. Eles estavam verificando os deveres de Herbologia um do outro e Mary
era a leitora mais rápida, então ela já havia terminado. "Onde você conseguiu
todos os cortes e hematomas?"
"Ah, em uma casa de crianças?" Mary olhou para cima, "Você também é
nascido trouxa?"
"Não", disse Marlene prontamente, "'Lupin' é um nome bruxo - seu pai?" Ela
olhou para ele esperando sua confirmação. Ele acenou com a cabeça, inquieto.
"Sim. Não consigo me lembrar do que era, acho que foi fora da sala comunal
da Corvinal. "
"Ah, certo." Ele nunca tinha sequer olhado para qualquer um dos troféus,
exceto para os da Copa de Quadribol, que James parava para deslumbrar pelo
menos uma vez por semana. Ele foi repentinamente tomado por uma vontade
irreprimível de correr até o corredor da Corvinal e largar a redação que estava
lendo.
Ele não tinha certeza o que exatamente esperava. Ele mal conseguiu ler por
alguns momentos; estava tão sem fôlego por subir correndo três lances de
escada. A prateleira era de mogno e vidro, regularmente polida por Filch - ou
pelos elfos domésticos, ele supôs. Estava repleta de troféus e prêmios por uma
centena de realizações diferentes. Feiticeiro Campeão de Xadrez, Vencedor do
Torneio Tri bruxo, Finalista do Jogo de Fazer a Melhor Bola Chiclete de
Droobles.
Ele ficou olhando para por um longo tempo, lendo e relendo. Ele tentou pensar
logicamente. Isso apenas confirmou coisas que ele já sabia. Seu pai era da
Corvinal - McGonagall havia dito isso a ele em seu primeiro ano. Ele era bom
em duelos - excepcionalmente bom, aparentemente. Tanto Slughorn quanto o
bêbado Darius haviam lhe contado isso. Realmente, tudo o que isso fez foi
confirmar que seu pai tinha estudado em Hogwarts - ele havia pertencido a
Hogwarts. Provavelmente tocou naquele mesmo troféu. Remus pressionou os
dedos contra o vidro como se pudesse quebrá-lo e agarrá-lo.
34. Segundo Ano
Treze
Os marotos não poderiam ter ficado mais felizes ao descobrir que o aniversário
de Remus cairia em um sábado naquele ano. Isso, de acordo com a opinião
deles, aumentaria as possibilidades para todo tipo de emoção que simplesmente
não seria possível em um dia de semana.
Remus pensava muito sobre ter treze anos - especificamente sobre ser um
bruxo de treze anos com um probleminha peludo como o dele. A descoberta do
armário de troféus da Corvinal havia causado coisas muito estranhas no
diálogo interno de Remus. Ele sempre achou que tinha uma boa ideia de quem
era - um garoto criado em uma casa de apoio, pobre, um pouco magricela,
irritado, cheio de cicatrizes, burro quando se tratava de coisas escolares, mas
inteligente o suficiente quando importava. A vinda para Hogwarts trouxe
algumas mudanças, é claro - talvez ele não fosse tão burro, mesmo que ainda
tivesse certeza de todo o resto.
Seu pai era muito inteligente. Afinal, ele fora da Corvinal. O chapéu seletor
também havia considerado colocar Remus lá, mas mudou de ideia. Isso não
significou muito para ele na época, mas agora ele se perguntava e pensava
sobre isso a todo momento. E se ele tivesse sido selecionado para a Corvinal?
Ele saberia mais sobre seu pai a essa altura? Saberia mais sobre quem ele era?
E se seu pai não tivesse se matado? E se ele nunca tivesse sido mordido? 'E se'
era um jogo perigoso.
Então ... então não há nada - nada sólido, nada real. Ele está com dor, há tanto
sangue e tantas lágrimas e muito barulho. Ele só quer dormir. Outro homem
paira sobre ele, alto, magro e preocupado.
"Papai."
"LUMOS MAXIMA!"
"Ainda está escuro, seus idiotas." Ele apertou os olhos, os esfregou e sentou-se.
Tentou fazer seu coração parar de bater tão forte.
"É precisamente meia-noite e um" disse Sirius, "e, portanto, oficialmente seu
décimo terceiro aniversário."
"Onde está o Pete?" Remus saiu da cama, colocando os pés no chão no quarto.
Os meninos o haviam decorado aleatoriamente com fitas - que ele tinha certeza
que geralmente enfeitavam o campo de quadribol nos dias de jogos - e cortinas
de luzes que sobraram do Natal.
"Lugar nenhum," Sirius respondeu, despreocupado, "Mas você vai querer estar
adequadamente vestido para quando seus convidados chegarem."
"Meus convidados?!"
Remus não sabia dizer se Sirius estava sendo sarcástico, então ele optou por
não responder. Em vez disso, vestiu uma calça jeans e uma camiseta de manga
comprida que parecia limpa o suficiente. Quando terminou, houve uma batida
forte na porta.
"Então ... quem está do outro lado da porta não pode exatamente nos ouvir?"
"A adorável Mary testou para nós na semana passada - nada de ruim parece
acontecer", explicou James.
"Um dia vocês lerão Hogwarts: Uma História e eu vou poder finalmente
descansar." Sirius suspirou, balançando a cabeça tragicamente.
"Lupin", disse ele com um sorriso largo, "Bem-vindo ao seu banquete da meia-
noite!"
Todos eles se sentaram juntos, e Sirius colocou um disco em seu tocador - ele
finalmente havia aberto os seus presentes de Andromeda - conforme solicitado,
ele ganhara dois álbuns de Bowie: Hunky Dory e The Man Who Sold the
World.
Todas as meninas deram a ele pacotes de doces e bolos - e Lily deu a ele um
livro sobre Poções. Ele olhou para ela com ceticismo, a fazendo sorrir.
"Não pode continuar dando a Severus uma razão para se vangloriar para você."
"Por favor, não mencione o nome de Snivellus nesta ocasião sagrada." James
disse com horror fingido. Lily revirou os olhos e voltou para sua torta de
geleia, visivelmente o ignorando. James mal pareceu notar, apenas pigarreou e
olhou para Remus, seus olhos escuros cheios de travessura, "Meu presente está
chegando mais tarde ... assim que todos nós nos empanturrarmos."
"Por Merlin, Potter," Marlene deu uma risadinha, "O que você planejou?"
Remus teve que admitir que estava se divertindo - ele esperava que James e
Sirius respeitassem seus desejos e guardassem as comemorações apenas para
os marotos, mas convidar as garotas não fora ruim. Ele as conhecia muito bem
agora, e na verdade gostava muito da companhia delas. Mary fazia Sirius
comer poeira quando o assunto era ser cara de pau e, como Remus previra, as
imitações de Marlene dos professores fizeram os marotos chorar de rir - Peter
até teve que ir e trocar de camisa depois de cuspir suco de abóbora nele
mesmo.
"Estou começando a ver por que Remus está nos abandonando por causa de
vocês." James disse por volta de uma e meia da manhã, enxugando as lágrimas
de riso do canto dos olhos.
"Sim, vocês não são tão ruins, para as meninas," Sirius piscou para Mary, que
zombou e lhe deu um empurrão brincalhão.
"Sim, não tem nada a ver com o fato de eu querer fazer meu dever de casa."
Remus respondeu secamente, imaginando se conseguiria comer outro sapo de
chocolate.
"Vocês todos vão se arrepender quando Remus se sair melhor que vocês nas
provas." Lily brincou.
"Esses são ..." Marlene torceu o nariz, "Isso não é Dr. Filibust?!"
"Ah não!" Lily disse: "Não podemos! Você vai acordar o castelo inteiro! "
"Cai fora se você não tá afim, Evans," Sirius retrucou, entregando alguns
foguetes para Peter, "Você prometeu não estragar nada."
"Remus," Lily se virou para ele, "Diga a eles, eles vão ouvir você!"
"Não, eles não vão," Remus respondeu, "De qualquer forma, eu quero ver!
Nunca vi fogos de artifício mágicos antes. "
"Treze, obviamente."
"Ah, pare de ser tão certinha, Lil!" Marlene jogou o braço em volta da ruiva.
"Opa!"
* BANG *
"Peter!"
Todos eles se inclinaram para fora da janela para ver o foguete que Peter havia
jogado caindo em direção ao solo em uma torrente de fagulhas verdes e
douradas.
"Não não, ótimo trabalho - agora que começamos, devemos continuar, né?" e
ele começou a lançar seus próprios fogos de artifício pela janela, claros no ar
noturno. James e Peter rapidamente seguiram o exemplo, e logo, até mesmo
Lily esqueceu de ficar irritada, pois todos eles olhavam maravilhados para a
exibição espetacular iluminando o céu estrelado.
"Ah merda!" James fez uma careta, "Melhor ir para debaixo da cama,
senhoritas ..."
"Eu tenho boas notícias," Madame Pomfrey sorriu calorosamente, "Eu não
queria mencionar isso caso não conseguisse resolver as coisas a tempo - mas
você me verá no verão."
Por um momento, Remus ousou ter esperanças de que isso significasse que ele
não voltaria para St. Edmund's, mas a medi bruxa continuou: "Sra. Orwell, sua
Matrona do orfanato, gentilmente me permitiu aparatar no terreno ao
amanhecer após as duas luas cheias neste verão. " Ela sorriu amplamente.
Ah, bem. Era melhor do que nada. Ele sorriu de volta fracamente.
"Ótimo!" Disse. Seus braços e pernas pareciam pesados como chumbo, ele mal
conseguia levantar a cabeça para beber a poção que ela estava lhe oferecendo.
Era cerca de quatro horas da tarde e Remus havia perdido as aulas - ele havia
dormido a maior parte do dia. O sono ainda era o único remédio que parecia
realmente funcionar.
"Eu disse a Dumbledore que faria isso com ou sem a permissão dele - eu não
poderia viver comigo mesma se você chegasse aqui em setembro no mesmo
estado que chegou no ano passado."
"Eu poderia ficar na casa de um bruxo neste verão, seria ainda mais seguro,"
Remus tentou, "Meu amigo James-"
Remus fechou os olhos e respirou fundo. Seriam apenas dois meses, e o verão
ainda estava muito longe. Fique positivo, continue positivo.
Um barulho repentino no final da enfermaria tirou Remus de seu estado
meditativo. Madame Pomfrey franziu a testa e se virou para olhar ao redor da
cortina da cama de Remus.
"Sr. Pettigrew!" Ela gritou: "O que você pensa que está fazendo?!"
"Ei, Remu," James espiou pela cortina, "Desculpe por todo o barulho."
"Tudo bem."
"Deite-se!" Madame Pomfey repreendeu: "Você teve três ossos quebrados, seu
arteiro."
*CRASH*
"Pronto para ir?" Ele perguntou, casualmente. Remus sempre poderia contar
com James para não o tratar como um inválido.
"Se ela deixar," Remus acenou com a cabeça para a cortina que Pomfrey havia
desaparecido atrás. "Como foi a partida?"
"Acabei com eles" James assentiu com entusiasmo, jogando o pomo no colo de
Remus. Ele passou os dedos pelos cabelos como se quisesse recuperar a
sensação de ter acabado de marcar um gol. "Fiz um dos batedores da Corvinal
chorar."
"Que bom."
"Sim. Tudo consertado agora com apenas um feitiço, ela é incrível. Os trouxas
precisam usar moldes de gesso por várias semanas."
"Que esquisito!"
"REMU!" Sirius puxou a cortina, "Você está VIVO!" Ele caiu dramaticamente
ao pé da cama, "Eu estava convencido que ela estava tentando encobrir algo, a
velha morcega não nos deixou vir."
"Não a chame assim," Remus respondeu, irritado, "E não me chame assim!"
"Não, não queria." Remus franziu a testa, "Quando foi que eu disse que-"
"Deus, você tem uma memória de elefante." Remus revirou os olhos. "De
qualquer forma," ele abaixou a voz, no caso de Madame Pomfrey estar
espreitando por perto, "O objetivo de ter um apelido era para que ninguém
soubesse quem escreveu o mapa. Eu acho que 'Remu' não vai enganar
ninguém."
"Hum, você tem um bom ponto." James disse, sabiamente: "Por mais divertido
que tenha sido."
"Ok, até que faz sentido," Sirius suspirou, "mas podemos te chamar Remu até
pensarmos em um apelido melhor?
"Não."
"Chato." Sirius procurou algo mais para dizer, visivelmente evitando olhar para
as bandagens de Remus. "Então, vamos sair daqui ou devo me acomodar para
um jogo estimulante de snap?"
"Ele não vai a lugar nenhum," Madame Pomfrey entrou apressada, "Estou
mantendo o Sr. Lupin em observação durante a noite."
"Não!" Remus protestou, "Estou me sentindo muito melhor!" Ele sempre dizia
isso - geralmente não era verdade, mas ele sabia que iria se sentir melhor
eventualmente, e não importava muito se ele estivesse na ala hospitalar ou não.
"Bem." Peter disse, com uma firmeza incomum. "Vamos ficar aqui então."
"Tenho certeza de que podemos arranjar algo só desta vez." Madame Pomfrey
disse, tentando não sorrir. "Tudo bem, meninos - mas vocês devem ficar
quietos. E façam sua lição de casa, não vou permitir que usem o Sr. Lupin aqui
como uma desculpa para não entregar nada. "
Com um aceno de sua varinha, mais três cadeiras apareceram do nada, junto
com uma longa mesa de pinho, com tinteiros para suas penas. Remus abriu a
boca para falar, mas Madame Pomfrey era aparentemente vidente - "E não,
Remus, sem lição de casa para você. Apenas descanse."
"Ah ah ah," James cobriu seu trabalho com a manga, "Sem olhar, Remu,
apenas descanse."
"Mas combina com você!" Sirius disse, por cima da pena, "Reeeeemuuuuuu."
"Reeeeemuuuu."
"Eu odeio meu nome." Remus cobriu o rosto com o livro que estava lendo.
Não era justo - James Potter era tão tranquilizadoramente comum; Peter
Pettigrew era perfeitamente respeitável e, maldito Sirius Black era o nome
mais legal de todos os tempos, de qualquer maneira que visse. "Vocês podem
muito bem me chamar de qualquer, não sei o que poderia ser pior."
"Hã?"
"As pessoas não vão ... sabe, entender?" Ele se preocupou, mordendo o lábio.
"Nah," Sirius acenou com a mão, "Vamos dizer a eles que é por causa daquele
trouxa no The Who."
"Eles são todos trouxas em The Who." Remus respondeu: "Mas eu não toco
bateria."
"Obrigado."
***
Algumas horas depois, depois que Madame Pomfrey trouxe o jantar para
todos, James saiu para o treino de quadribol e Peter para uma detenção. Sirius
havia desistido de sua lição de casa há muito tempo e estava tentando
aperfeiçoar uma azaração de braços de tentáculos em si mesmo.
Remus estava totalmente ignorando esse comportamento - ele sabia que Sirius
estava pronunciando o encantamento totalmente errado, com a ênfase no lugar
errado - mas ele não iria dizer a ele, porque ele não tinha certeza exatamente
por que Sirius queria tanto um braço de tentáculo, e não poderia ser por um
bom motivo.
"Entendi."
"Então?"
"Ok, você tem que concordar que esse é um nome pior do que Remus Lupin."
Remus riu.
"Olha, agora você tem minha atenção, é assim que todas as boas histórias
começam." Sirius apoiou a cabeça em ambas as mãos, olhando para Remus
como se ele fosse um professor ensinando a matéria favorita dele.
"Pfft, vou copiar a do James." Sirius acenou com a mão casualmente, "Conte-
me mais, oh guardião do conhecimento. Eu li para você várias vezes."
Remus suspirou, colocando o livro de lado. Não havia como escapar quando
Sirius estava com esse humor.
"Não. Eles lutaram por muito tempo, mas Gilgamesh ainda venceu. Mas ele
não matou Enkidu, - ele ... ele meio que reconheceu que eles eram iguais. E
eles se tornam amigos - melhores amigos. Eles vivem todas essas aventuras
juntos, lutando contra outros monstros e outras coisas. É legal."
"Enkidu. Ele era o mestre dos animais e era feliz vivendo na selva, mas depois
de ser enviado para controlar Gilgamesh, ele nunca mais poderia voltar para a
natureza. Então realmente, ele nunca pertence a nenhum lugar."
"Sim, mas ... bem, não quero estragar o final para você."
"O que?!"
"Para ensinar Gilgamesh sobre a morte, eu acho. Antes de Enkidu, ele era
arrogante demais para acreditar que algo poderia machucá-lo. Mas depois que
ele o perde, ele percebe que não é o mestre de tudo. Ninguém pode controlar a
morte."
"Esse é um pensamento muito deprimente, Moony."
Remus amava Hunky Dory mais do que tudo. Era brilhante e feliz - depois
escuro e introspectivo. Ele sentia que David Bowie devia ter algum
conhecimento sobre-humano da sua alma. Mesmo que ele nem sempre
entendesse totalmente as letras, sentia que de alguma forma elas faziam
sentido.
Com um barulho assustado, Remus puxou sua mão para trás e quase caiu do
banco, ficando cara a cara com Narcissa Black.
"Ugh, é você." Ela disse, com desagrado. Ela era uma cabeça mais alta do que
ele, então eles ficavam nivelados desde que ele mantivesse o equilíbrio. Ela
não soltou sua mão, "Me dê isso."
"Vá embora, garotinho. Para que você poderia querer isso? " Narcissa deu-lhe
um forte empurrão e ele tombou para trás, caindo dolorosamente de costas.
Narcissa sorriu para ele, vitoriosa, segurando o pesado livro. Ele fez uma
careta.
"Isso não é da sua conta," ela disse, tirando o cabelo claro dos olhos de uma
maneira estranhamente parecida com a de Sirius. Ela se virou e começou a se
afastar, entre as pilhas sombrias. Remus ficou de pé.
"Espere", disse ele, tentando manter a voz baixa para que Madame Pince não o
expulsasse de novo, "Ei, Narcissa, espere!" Ele puxou suas vestes.
Ela se virou com olhos furiosos, sua varinha erguida. Remus instintivamente
agarrou sua própria varinha bem na hora. Os dois ficaram parados como
estátuas por alguns momentos. Ele sabia que ela havia amaldiçoado James e
Sirius em várias ocasiões, e que toda a família Black conhecia todos os tipos de
magia negra. Mas, ao mesmo tempo, Remus nunca havia amaldiçoado uma
garota antes, e parecia errado.
Ela abaixou a varinha, lentamente, olhando para ele com interesse suspeito.
"Então ele lhe contou tudo sobre isso, não é?" Ela levantou uma sobrancelha -
que ainda era tão preta quanto a cor natural de seu cabelo. "Sim, garotinho, é
exatamente para isso que preciso. Você não acha que eu quero me casar com
aquele pequeno traidor de sangue chorão, acha? "
Remus apenas deu de ombros. A verdade era que não havia realmente ocorrido
a ele como Narcissa se sentia sobre nada disso. Ele estava tão focado em ajudar
Sirius que não havia considerado se mais alguém poderia estar trabalhando
exatamente no mesmo problema. Narcissa suspirou impaciente.
"Bem, eu não quero. E não espero que meu primo pirralho venha a encontrar
uma solução tão cedo, então aqui estou. "
Ela não parecia mais com raiva, apenas amarga. Agora que ele estava mais
perto dela, Remus podia ver que ela tinha olheiras.
"Quero encontrar uma solução." Ele disse, erguendo o queixo para encontrar o
olhar dela, desejando não ser mais baixo do que ela. "Estou tentando, de
qualquer maneira."
"Ha." Narcissa riu sem humor, "Uma criança do segundo ano?! E o que você
descobriu, hm?" Ela bateu seu salto preto envernizado nas tábuas escuras do
assoalho.
"Bem ..." Remus engoliu em seco, "Nada ainda - nada bom o suficiente ainda.
A não ser que ... bem, a não ser que você já fosse casada."
"Já pensei nisso." Narcissa retrucou: "Eu ainda não sou maior de idade, não
posso. Eu teria fugido com Lucius no momento em que eles propuseram esse
noivado ridículo, mas não tenho dezessete até outubro."
"Certo," Remus acenou com a cabeça, surpreso ao ouvir isso, "E ... não pode
esperar, por causa da cerimônia de noivado neste verão, certo?"
"Correto." Ela estava olhando para ele com um pouco menos de veneno agora,
como se achasse a conversa divertida ao invés de irritante.
Com isso, ela se virou e saiu, deixando Remus com muito a se pensar.
***
"Moony, para que servem todos esses livros?" James perguntou, enquanto
tropeçava em uma pilha que Remus tinha cuidadosamente empilhado perto da
entrada do dormitório - eles eram inúteis e ele estava planejando levá-los de
volta naquela tarde.
"Apenas algumas pesquisas." Ele respondeu, sem tirar os olhos de seu livro
atual, "Onde você esteve?"
"Maroteando." Sirius o seguiu, passando por cima dos livros espalhados que
seu amigo estava tentando limpar. Remus ergueu uma sobrancelha.
"Um pouco dos dois," Sirius sorriu, jogando-se na cama de Remus. Ele pegou
um livro.
"Rituais de casamento de bruxos?!" Ele riu, "Com quem você vai se casar,
Moony? Não com a Evans, James terá que desafiá-lo para um duelo."
"Eu NÃO gosto da Evans." James respondeu, de onde ele se agachou no chão.
"Casamentos mágicos." Ele leu, pegando o último livro e colocando-o no topo
da pilha, "Sério, Remus, sobre o que se trata tudo isso?"
"Estou tentando te ajudar," ele chutou Sirius gentilmente com o pé. "Alguém
tem que tirar você deste noivado estúpido."
"Ei!" Sirius fez uma careta, "Estou fazendo tudo que posso."
"O que você está fazendo?"
"Não tive mais detenções do que qualquer outra pessoa este ano? Devo estar
recebendo um berrador por semana. E os meus leões, não se esqueça dos meus
leões na partida de quadribol."
"Sem ofensa, cara," James interrompeu, vindo se sentar na cama com eles,
"Mas eu não acho que sua família realmente se importe que você não seja do
tipo para casar."
"Exatamente," Remus assentiu, "Você é o herdeiro. Você tem que se casar com
outro puro-sangue. E a família Black tem uma longa história de casamentos
entre si, até seus pais são primos."
"Estive lendo." Remus gesticulou para todos os livros. "Há um monte de coisas
na biblioteca sobre sua família. Uma das casas bruxas mais antigas da Grã-
Bretanha, voltando à Idade Média, onde a residência da família era em
Inverness, na Escócia..."
"Sim, mas você sabia que não é o primeiro Black a querer sair de um
casamento?"
"Bem, obviamente Andrômeda - embora fosse mais porque ela queria se casar,
só que Ted era do tipo errado..."
"Éh, não devemos falar sobre ele," Sirius respondeu, irritado, "Eu ouvi minha
mãe reclamando dele e tenho quase certeza de que ele era uma bicha."
Houve um silêncio constrangedor.
"Meu pai conhecia Alphard," James disse, "Disse que ele era um cara legal."
"Ele sempre foi legal comigo," Sirius deu de ombros, "Me deixou seu dinheiro
e tudo, certificou-se de que ninguém mais pudesse tocá-lo até que eu fosse
maior de idade. Isso deixou meus pais furiosos, sabe, por ele não ter devolvido
todo o dinheiro para o cofre da família, então eu tenho que dar crédito a ele por
isso, mesmo que ele fosse ... bem, tanto faz. "
"De qualquer forma, isso só mostra que você pode sair desse tipo de coisa. O
único problema é que não consigo encontrar nenhum detalhe bom sobre como
todos eles escaparam."
Remus mordeu o lábio, pensativo. Ele não sabia o que era o voto perpétuo -
parecia magia negra. Pelo que já havia lido sobre a Casa dos Black, ele sabia
que a seção restrita da biblioteca provavelmente teria que ser sua próxima
parada. Ele teria que pegar emprestada a capa de James para isso, e sair à noite.
Não importa. Ele se recusava a desistir. Ele devia isso a Sirius.
Remus uma vez não havia dito a Sirius que seu próprio problema era
impossível, inevitável? E Sirius não havia trabalhado incansavelmente,
aprendido a fazer uma mágica complicada de padrão NIEM, apenas para
ajudá-lo? Isso não era diferente. Ele só tinha que se esforçar mais. Saber que
Narcissa também estava trabalhando no problema era estranhamente
reconfortante. Remus sabia pelas maldições dela que ela devia ser uma bruxa
muito talentosa e inteligente, e não havia dúvida em sua mente que ela
geralmente conseguia o que queria.
Vou me casar com Lucius e isso é tudo. Tinha de haver alguma solução. Ele se
lembrou de Flitwick dizendo a eles que o amor - amor natural, cotidiano,
humano - era um dos tipos mais poderosos de magia. Embora Remus
pessoalmente não sentisse que nada sobre o namoro de Lucius e Narcissa fosse
natural, exatamente, ele sabia que era muito mais poderoso do que a honra à
família. Tinha de ser.
37.Segundo Ano
Exames
Maio de 1973
A semana de provas começou no pior momento possível para Remus, por volta
de meados de maio, próximo a lua cheia. Esta, cairia em uma sexta-feira, o que
significava que ele poderia comparecer à prova de Poções naquela manhã -
mas perderia o fim de semana inteiro dormindo, enquanto, o que realmente
queria, era revisar a matéria. Mais do que isso, a lua havia desestabilizado sua
magia completamente.
Ele achava que isso estava acontecendo menos durante o segundo ano, mas
conforme os exames se aproximavam – fosse o nervosismo ou o alongamento
dos dias - Remus percebera que sua magia estava ficando mais forte, mais
selvagem e mais difícil de controlar. O menor movimento da varinha causava
os resultados mais fantásticos, e às vezes, ele mal terminava de pronunciar o
encantamento antes que luz explodisse da ponta, fazendo seus dedos
formigarem com o choque.
James começou a dizer 'se acalme, Moony!' pelo menos três ou quatro vezes
por dia, enquanto Remus tentava praticar vários feitiços e transfigurações
básicas que, inevitavelmente, iam longe demais. Ele pensou que fazer apenas
encantamentos simples poderia ajudá-lo a ganhar algum controle, mas
aparentemente esse não era o caso, pois ele quebrou a janela do quarto pela
terceira vez tentando levitar seu conjunto de gobstones.
"Você realmente precisa relaxar, cara," James sorriu, "Não temos exames
práticos até a semana que vem, de qualquer maneira."
"Se você está para atrás, aonde eu estou?!" Peter gemeu do chão, cinco
pergaminhos se espalhavam à sua frente, cada um sobre um assunto diferentes.
"Eu sei que vou ser reprovado em Transfiguração, meu coelho não mudou
nada este ano, e eu sei que ela vai nos obrigar a fazer algo realmente difícil."
"Pelo menos você é bom em Poções." Remus atirou de volta. "E Herbologia,
não consigo me lembrar quais folhas significam o que ..."
"Vocês podem calar a boca?! Estou tentando revisar!" Ele gritou, levantando-
se. "Parecem um bando de velhas fofocando. Estou indo para a biblioteca." Ele
puxou sua bolsa para cima do ombro e saiu furioso do quarto.
"Ignorem ele, só está de mau humor porque tem que ir para casa logo. Não que
eu o culpe." Ele acrescentou, rapidamente. "Com pais daqueles, e tudo mais."
"Verdade," Remus deu de ombros, embora realmente não achasse que fosse
uma desculpa boa o suficiente. Não era como se ele mesmo estivesse ansioso
pelas férias de verão. Tudo bem que ele não precisaria se casar com sua prima
ou comparecer a banquetes estranhos e exagerados - mas Sirius também não
precisaria ser trancado em uma cela uma vez por mês, ou se esconder de
garotos muito mais velhos e fortes, cujo maior prazer era empurrar sua cabeça
na lama.
"Ele não vai ficar com você de novo, James?" Peter perguntou, nervoso -
provavelmente ansioso por um verão livre de Sirius, pois isso significava que
teria James só para ele.
Remus sentiu uma pontada de culpa em seu peito. Ainda não tinha descoberto
uma solução para isso, e entre as revisões e a lua cheia, não havia pensado
direito sobre o problema durante duas semanas. A julgar pelo comportamento
de Narcissa nos corredores - azarando qualquer um que sequer lhe olhasse pelo
canto dos olhos - ela não estava se saindo muito melhor.
"Bem, se ele continuar agindo dessa maneira, vai perder mais do que o cabelo
da próxima vez", disse Peter, afetadamente, remexendo em suas anotações.
"O que você quer dizer?" James franziu a testa, sentando-se, "Está dizendo que
é tudo culpa dele?!"
"Não!" Peter pareceu alarmado com o tom de James, "Não, eu só quero dizer ...
bem, você sabe, outro dia ele guardou todas aquelas faixas da grifinória na
mala. Ele quer pendurar elas em seu quarto para irritar os pais. Esse tipo de
coisa é exatamente o que o coloca em apuros. "
James, que era mais parecido com Sirius do que Peter ou Remus, discordava
com todo o coração. Em sua mente, o mais importante era sempre revidar. Mas
se tudo era uma batalha, então inevitavelmente alguém tinha que perder. E até
a maioridade, este seria Sirius. O tempo todo.
***
Remus respirou fundo, se concentrando para sua própria tentativa. Fazia uma
semana e meia desde a lua cheia e ele finalmente estava de volta ao controle,
embora seus nervos ainda ganhassem dele às vezes. O menino observou Sirius
acenar sua varinha preguiçosamente sobre seus próprios coelhos, que também
se transfiguraram em um lindo par de botinhas de lã preta.
As pantufas de Peter ainda tinham orelhas e cauda mesmo depois de três
tentativas, e deixaram fezes na mesa. Quando chegou a vez de Remus, ele
fechou os olhos primeiro, sentindo-se calmo e concentrado, antes de
finalmente pronunciar o encantamento.
As pantufas não eram tão bonitas quanto as de James e Sirius, mas podiam ser
usadas, e pelo menos não tinham mais nenhuma característica leporina, mesmo
que continuassem com uma cor marrom opaca. Pelo menos ele sabia que tinha
feito o seu melhor no trabalho teórico - na verdade, em todos os seus trabalhos
teóricos. Estava satisfeito por ter se lembrado de tudo que precisava lembrar
quando se tratava de suas melhores matérias, e por não ter sido horrível em
Poções, Herbologia ou Astronomia.
"Vocês devem estar cientes", disse ela, muito formalmente, "que no terceiro
ano, podem escolher um mínimo de duas disciplinas adicionais para
acrescentar em seus NOMs. Aqui estão suas fichas de inscrição. Por favor,
pensem com muito cuidado, revisando os méritos de cada assunto, preencha o
formulário e devolva-o ao meu escritório, no máximo até último dia do
semestre. "
"Estudos dos trouxas." Sirius disse, enquanto saíam para o sol de verão,
"Definitivamente vou fazer Estudos dos Trouxas."
Remus revirou os olhos. Não havia surpresa nisso - se alguma matéria ganharia
a desaprovação geral da família Black, então este seria o que Sirius faria.
"Você acha que Evans vai escolher essa?" James coçou o queixo. Sirius sorriu,
"Duvido, cara, ela é nascida trouxa. Você poderia impressioná-la com seu
conhecimento, no entanto."
"Sim ... sim, talvez ..." James olhou para baixo, pensativo.
"Você vai se inscrever nessa, então, James?" Peter perguntou, ansioso, "Você
acha que vai ser difícil? Acho que podemos pedir ajuda a Remus ... você vai se
inscrever nessa Moony?"
Ele secretamente desejava que houvesse uma matéria de 'Estudos Bruxos' que
pudesse cursar, então não precisava se sentir tão perdido o tempo todo. Mas,
ele supôs, isso fazia parte da arrogância dos bruxos.
Todos os três rabiscaram em seus papéis. Remus não. Ele não gostava da ideia
de saber o futuro - o que quer que fosse, ele tinha certeza de que não poderia
ser bom. Ele bateu em sua têmpora com a varinha rapidamente e sussurrou,
"Números, de qualquer maneira," Sirius respondeu, "É para ser muito difícil."
"Trato das Criaturas Mágicas ... não sei sobre isso," James bufou, "Você viu o
professor? Ele tem mais cicatrizes do que Moony."
"Ei" Remus chutou seu tornozelo. Trato das Criaturas Mágicas tinha realmente
soado muito interessante para ele. Afinal, ele próprio era uma espécie de
criatura mágica.
"Acho que vou fazer Aritmancia, se você for," Sirius disse, ainda lendo o
formulário.
"Você já vai à Dedos de mel três vezes por semana." Remus respondeu,
refletindo sobre a possibilidade de Runas Antigas.
Remus sorriu para ele. Estava realmente muito animado com os passeios para
Hogsmeade - nunca tinha estado em nenhuma das áreas bruxas protegidas além
de Hogwarts, e estava cansado de ouvir sobre como o Beco Diagonal era
incrível. Ele suspirou e se recostou, olhando para as nuvens. Pensaria sobre
seus assuntos do terceiro ano mais tarde, não havia pressa. Por enquanto, ele
queria aproveitar o final dos exames e se deleitar com a ideia de que ainda
tinham quase um mês inteiro antes do fim das aulas.
Remus suspirou internamente. James estava agindo cada vez mais como um
idiota no que diz respeito a Lily.
"Eu não sou um cachorro, Potter," sua voz ecoou pelo terreno, "Não grite
comigo como se fosse um."
Todas as três garotas tomavam sorvete, o que parecia uma excelente ideia
considerando o tempo excepcionalmente quente. Lily tinha até encantado um
leque chinês para segui-la, criando uma brisa fresca onde quer que as três
meninas fossem.
"Me dá uma lambida, então," James piscou para ela, obscenamente. Marlene
ficou vermelha como uma beterraba e se desfez em risadas, mas Lily
permaneceu calma, arqueando uma sobrancelha vermelha.
"Por que você fez isso?" Sirius rosnou, empurrando seu cabelo ensopado para
olhar para elas, parecendo um rato afogado.
"Pensei que você gostasse de pegadinhas?" Lily piscou para ele, antes de se
virar e caminhar em direção ao lago.
"Onde você acha que elas conseguiram o sorvete?" Peter perguntou, alheio.
Remus estava atrasado e ainda havia muito a se fazer. Como de costume, ele
havia dormido até mais tarde do que o resto dos marotos e, quando acordou,
Peter era o único que restava, correndo porta afora com um rápido, "Bom dia
Lupin! Boa sorte!"
Depois do café da manhã, ele teria que correr de volta o dormitório para fazer
as malas - Remus tinha certeza de que eles ganhariam uma detenção naquela
noite, e ele poderia não ter tempo suficiente na manhã seguinte antes de
pegarem o trem. Depois de fazer as malas, ele precisava devolver os livros da
biblioteca. Isso o encheu de um sentimento de culpa - ainda não tinha
encontrado nada para ajudar Sirius, apesar de semanas de pesquisa. Sua única
esperança agora era que Narcissa Black fosse capazes de encontrar uma
maneira de escapar do noivado, mesmo que fosse depois que a cerimônia de
noivado acontecesse.
Logo após o almoço, então, entraria em vigor a primeira etapa do plano de fim
de ano dos marotos. Ele evitaria o caos e verificaria se ele empacotou tudo -
possivelmente arrumando algumas das coisas de Sirius também, porque o outro
garoto ainda não tinha feito às malas e Remus suspeitava que estava deixando
para o último minuto. Então, os preparativos para o banquete começariam -
tudo o que ele precisava fazer era aparecer cedo o suficiente para ajudar James
e Sirius com os encantamentos finais. Isso, é claro, se nenhum deles fosse pego
antes disso.
Houve uma batida repentina na porta do banheiro, assim que Remus estava
puxando sua calça jeans.
Com sua lista de matérias escolhidas em mãos, ele desceu para a sala comunal,
onde todos os outros grifinórios pareciam estar fazendo suas malas de última
hora também. O espaço geralmente aconchegante estava um caos, com gritos
implorando pela devolução de livros e jogos sumidos, alunos rastejando sob as
mesas e levantando sofás a procura de itens perdidos, grupos de meninas do
sétimo ano choravam, abraçando-se em despedida, corujas voavam de um lado
para o outro.
"Sim." Ele acenou com a cabeça, com um sorriso travesso. Ela sorriu de volta.
"Ah, um ... estarei no Salão Principal para o almoço. Vou estar pouco ocupado
até lá, peça desculpas a ela!"
Com isso, ele correu pela porta do retrato e saiu para o corredor, que estava
igualmente cheio com os alunos correndo de um lado para o outro, se
despedindo de última hora. Pirraça, levado pela empolgação, obviamente
descobriu onde Filch guardava o papel higiênico e estava jogando chumaços de
papel molhado em qualquer um que chegasse perto o suficiente.
Com os braços acima da cabeça, Remus alcançou o escritório de McGonagall
no momento em que Pirraça arremessou papel na porta. Remus se abaixou bem
a tempo, e Pirraça começou a rir loucamente quando McGonagall - tendo
ouvido o "SPLAT" muito alto - abriu a porta do escritório. Ela olhou para
Remus, ainda agachado e cobrindo a cabeça.
"Sr. Lupin."
"Eu acredito em você." Ela deu um pequeno sorriso, "Os espíritos estão sempre
bem ativos no último dia do semestre. Você tem algo para mim? " A velha
professora olhou para o pergaminho que estava segurando.
"Er ..."
Mas você dificilmente poderia dizer 'não' para McGonagall, ou perguntar a ela
se isso poderia esperar até mais tarde. Ele se perguntou o que diabos ela queria
- certamente Sirius e James já não haviam sido pegos, ou haviam? Seria
bastante óbvio assim que a fase um do plano fosse iniciada, mas ele não tinha
ouvido nada...
"Hum ... sim, ok." Ele se sentou, inquieto. McGonagall acenou com sua
varinha, e o pequeno bule de tartan em sua mesa começou a derramar seu
conteúdo em duas xícaras iguais.
Ele não disse nada. Ela ergueu os olhos finalmente, examinando-o por cima
dos óculos quadrados. "Essas são as mesmas matérias que o Sr. Potter e o Sr.
Black escolheram, se não me engano? Sr. Pettigrew também, hm? "
"Er ..." Remus gaguejou. Ele não tinha ideia do que era o escritório de
comunicação trouxa, mas não parecia muito interessante.
"Achei que você tivesse conhecimento suficiente sobre o mundo trouxa, depois
de passar tanto tempo de sua vida nele."
Remus encolheu os ombros. Ele não sabia mais o que fazer. Sério, todas as
matérias o interessavam - ok, talvez não Estudos dos Trouxas, ela estava certa -
mas no final, ele não gostava muito da ideia de não fazer aulas com os outros
marotos.
"Uma das coisas mais maravilhosas sobre a escola, Sr. Lupin," McGonagall
começou, com muito tato, "São os amigos que fazemos - conexões e
relacionamentos que duram a vida toda. Eu sei que você fez alguns amigos
muito queridos em Hogwarts."
Remus lutou contra uma careta. Ela tinha que fazer isso soar tão feminino?!
Ela limpou a garganta, claramente divertida com a reação dele, "Alguns
amigos muito queridos. Mas a escola também é o lugar para nos desafiarmos,
para testar nossa capacidade. Você entende?"
Ele acenou com a cabeça, inexpressivamente. Ela suspirou, bebendo seu chá.
Remus torceu as mãos no colo. Tinha soado bastante interessante. Mas ele
passou tanto tempo lutando para ler em inglês, e lutando para alcançar o resto
dos alunos, que a ideia de aprender outro idioma era petrificante. McGonagall
parecia entender suas preocupações - pelo menos em parte.
"Você não acharia tão difícil quanto pensa, sabe. Você é um aluno
imensamente talentoso, e extremamente esforçado. E também, suas colegas de
casa senhoritas MacDonald e McKinnon estarão na mesma aula."
Isso não parecia tão ruim, na verdade. Ele gostava muito das M's agora, e seria
divertido passar um pouco mais de tempo com elas. Seria bom ter uma aula em
que não houvesse Sirius se exibindo, nenhum Peter tentando copiar suas
anotações e nenhum James agindo como um idiota para chamar a atenção de
Lily.
"Sim, Lupin?"
"Eu ... bem, eu estava pensando em outro matéria também. Talvez ... talvez em
vez de Adivinhação?"
"Bem, não posso fingir que vejo muita utilidade em Adivinhação ... a menos
que a bruxa ou mago em questão seja genuinamente dotado com a visão."
Remus assentiu, presumindo que isso significava que ele não era tão talentoso.
"Eu pensei, talvez ... quer dizer, provavelmente é bobo ..." James disse que era
bobo. Uma matéria de menina. "Hum ... Trato das Criaturas Mágicas." Ele
disse, tudo com pressa.
"Hum ... sim, acho que sim. Não apenas porque eu sou ... você sabe. Mas. Sim,
suponho que seja principalmente por causa disso. "
"Ótimo, ok, pode mudar." Ele acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco
envergonhado, mas também bastante satisfeito consigo mesmo. McGonagall
acenou sua varinha mais uma vez.
"Seu pai era bastante talentoso quando se tratava de criaturas mágicas, você
sabe." Ela disse. Remus ergueu as sobrancelhas.
"Oh sim," ela acenou com a cabeça, como se ela estivesse apenas passando o
tempo. "Um especialista em sua área."
"Sua... área?"
"Sim, tchau!"
Quando ele finalmente saiu do escritório de McGonagall, Remus olhou para o
relógio. Eram dez para as onze. Droga. Não havia tempo para a biblioteca
agora, ele tinha que encontrar Peter lá fora, e normalmente levava pelo menos
quinze minutos para sair do castelo, desde que nenhuma das escadas o
obrigasse a se desviar. Levantando sua mochila excessivamente pesada, Remus
suspirou e partiu.
Quando chegou às estufas, suando e com muito calor sob o sol forte, Peter
obviamente estava esperando há algum tempo e estava torcendo as mãos.
"Aí está você!" Ele engasgou, "Eu pensei que algo tinha acontecido."
"Sim," Peter acenou com a cabeça, os olhos correndo ao redor, "Assim como
James disse. Você os viu?"
"Não."
"Tudo deve estar bem, então. Aqui." Peter entregou a Remus a capa da
invisibilidade.
"Ok," Peter pegou a sacola. "Puta merda, Moony!" Ele gemeu, cedendo ao
peso da bolsa.
Olhando ao redor para se certificar de que a área estava vazia, Remus não
perdeu tempo em se aproximar do galpão de equipamentos. Ele já havia estado
ali uma vez para uma detenção em seu primeiro ano - era muito maior por
dentro do que parecia, e cheio de ferramentas para manter os cuidados nos
amplos terrenos de Hogwarts. A fechadura não respondeu ao
feitiço Alohomora, mas absolutamente respondeu a algumas torções rápidas
com um dos grampos de cabelo de Lily Evans. Ela o havia dado o objeto na
noite anterior, com um olhar interrogativo, mas não perguntou por que ele
precisava.
Uma vez lá dentro, Remus agiu rapidamente, encontrando o grande baú preto
de guarda-chuvas. Ele não tinha certeza de por que os bruxos ainda usavam
guarda-chuvas - certamente haviam feitiços para se proteger da chuva? Mas,
mesmo assim, eles não queriam que ninguém os convocasse e arruinasse a
diversão. Remus cobriu o baú com a capa da invisibilidade e lançou um feitiço
de leveza sobre ele, antes de levitar tudo para fora do galpão.
Ele caminhou de volta para a escola de uma maneira vagarosa, tentando não
parecer que estava tramando alguma coisa, escondendo sua varinha sob as
vestes para que ninguém pudesse ver que estava guiando o baú invisível.
Demorou uma boa meia hora para andar sozinho pelo castelo com o baú sem
ser notado e sem esbarrar em nenhum outro aluno. Várias vezes ele teve que
levitar a coisa sobre sua própria cabeça, o que exigiu muito esforço e
concentração.
Ainda assim, ele o fez, chegando ao seu destino com um enorme sentimento de
realização. Remus deixou o baú no dormitório e fez um feitiço para colar a
fechadura. Se alguém tentasse invocá-lo, não seriam capazes de abri-lo a
tempo de se salvar. Ele dobrou a capa cuidadosamente e a deixou no
travesseiro de James.
Mais uma vez, ele foi surpreendido, desta vez por Lily, que parecia
extremamente nervosa e extremamente satisfeita em vê-lo
"Aí está você!" Ela gritou, agarrando seus ombros, "Estive procurando por
você em todos os lugares!"
"Oi, Lily," ele sorriu, educadamente, "Desculpe, isso pode esperar? Eu tenho
que ir a ..."
"Eu iria querer saber o que é isso?" Ela disse, olhando para o grande baú preto.
"É um baú cheio de guarda-chuvas." Ele disse, prontamente. Ela ergueu uma
sobrancelha, mas não o questionou mais.
"Eu tenho uma coisa para você." Ela colocou sua bolsa em cima do baú,
vasculhando-a. Ela retirou um item muito estranho. Parecia uma folha de
plástico transparente. Remus franziu a testa, quando ela entregou a ele. Ele o
virou.
"Lamento ter demorado tanto - tive que esperar séculos pelo acetato. Minha
mãe comprou de uma amiga dela que é professora. Eles os usam como
retroprojetores em escolas trouxas. Bem, você sabe disso, obviamente."
"Tem um livro?" Lily acenou com a cabeça para a bolsa dele. "Pegue um, vou
te mostrar."
Ele obedeceu, curioso para ver onde isso estava indo. Ela abriu em uma página
aleatória, colocou-o em cima do baú e colocou a folha de acetato sobre ele.
"Veja." Ela disse.
Remus olhou, prestes a retirar sua varinha, caso ela quisesse que ele lesse algo.
Ela balançou a cabeça, afastando a mão dele. "Apenas olhe." Ela disse.
"Funcionou?!" Lily olhou para ele, ansiosa, "Você conseguiu ler isso?"
"Eu ... sim ... eu ... caramba, Evans!" Ele virou a página novamente, movendo
o acetato. Funcionou. Era muito menos complicado do que o feitiço de Sirius.
"Deve funcionar fora de Hogwarts também." Ela disse, com os olhos verdes
brilhando, "Eu mexi um pouco no encantamento e houve um trabalho de poção
envolvido, mas deve durar um bom tempo."
Do nada, Lily saltou sobre Remus, jogando os braços em volta do pescoço dele
e abraçando-o. Pego de surpresa, Remus se sentiu corar. Ele nunca tinha sido
abraçado com frequência antes - muito menos por uma garota. Ela era macia e
seu cabelo era cheiroso, como maçãs.
"Eu queria fazer isso a tempo para o seu aniversário," ela disse, dando um
passo para trás, ainda sorrindo, "Mas eu continuei estragando tudo. Graças a
Deus funcionou! Você teria pensado que eu era louca se não tivesse! "
"Você merece, Remus," ela disse, séria, "Honestamente, você trabalha tão duro
e está sempre ultrapassando Potter e Black."
"Olha, vou deixar você continuar o seu dia." Lily disse, finalmente: "Desculpe
por ter te emboscado desse jeito. Vejo você no banquete? "
"Sim ... sim, claro." Remus olhou de volta para o livro. "Ah merda, espere -
Evans, você tem um guarda-chuva?"
"Pegue ele de volta", disse com firmeza. "E leve para o jantar, ok?"
"... Ok?"
Assim que ela saiu, Remus se permitiu um momento para se sentar. Ele não
conseguia acreditar que ela tinha feito isso. Ele não conseguia acreditar que
não tinha pensado nisso! Era tão simples, tão elegante. Seria capaz de ler
durante todo o verão! Virou a página.
'É importante notar que o voto perpétuo, uma vez feito, não pode ser
substituído por qualquer outro tipo de voto, juramento ou promessa feita
posteriormente, independentemente de quaisquer preocupações legais ou
morais em torno de manter tal voto. Portanto, é fundamental que— '
***
Eram em momentos assim, Remus pensou, enquanto andava para cima e para
baixo no corredor escuro, que ele realmente apreciaria ter o mapa do maroto
pronto em suas mãos. Infelizmente, eles só conseguiram mapear três quartos
do castelo e ainda estavam muito longe de rotular todos os alunos.
Quando a parede da sala comunal se abriu mais uma vez, seu coração afundou
ainda mais.
"Ora, ora, ora." Snape sorriu, "Eles disseram que havia um Grifinório louco à
solta, mas não achei que fosse você, Loony Lupin."
Remus suspirou.
"Não seja tão rude," Snape ergueu a varinha, "Eu deveria lavar sua boca com
sabão."
"Achei que você não sabia como lavar." Remus respondeu secamente.
"Deixar você entrar?!" Os olhos negros de Snape brilharam com diversão, "Por
que diabos eu deixaria você entrar?!"
"Saia do caminho, Snape, seu idiota nojento." Uma voz veio da parede atrás de
Severus. Barty Crouch Jr. saiu, seguido por Regulus. Remus sentiu um
pequeno alívio.
"Mordeo!" Sem aviso, Crouch lançou uma maldição para Remus, que se
esquivou bem a tempo, puxando sua própria varinha.
"Expelli-" Ele começou, mas era tarde demais, Crouch o amaldiçoou uma
segunda vez e a dor disparou pelo crânio de Remus, sua cabeça zumbindo. Foi
horrível, mas ele não vacilou. Só doeu por um tempo, mas a dor já era uma
velha amiga. Se eles pensavam que algo tão comum quanto isso iria impedi-lo,
eles tinham outra coisa em mente.
"O que você quer, mestiço?" Crouch perguntou, sorrindo loucamente, "Ou
você é apenas burro, andando por aqui sozinho?"
"Cale a boca, Snape," Crouch diz, virando sua varinha para Severus, agora.
Remus estreitou os olhos, prestando atenção. Aparentemente, Snape era ruim
em fazer amigos onde quer que fosse.
"Eu preciso falar com Narcissa." Remus disse, muito claramente e tão
calmamente quanto pôde. "É urgente. É sobre ... você sabe, coisas da família
Black. "
Regulus o observou por mais alguns momentos, sem falar. Ele era tão parecido
com Sirius - só que sem nenhuma alegria ou humor. Se Remus não soubesse,
teria dito que Regulus era o irmão mais velho.
"Snape, vá buscar minha prima." Ele disse bruscamente, sem nem mesmo
mover a cabeça.
Snape parecia furioso, mas obedeceu. Todo mundo fazia o que os Black’s
mandavam? James costumava provocar Sirius por agir como se fosse da
realeza, mas talvez ele só estivesse desempenhando o papel para o qual foi
criado.
Crouch logo ficou entediado e foi embora, deixando Regulus e Remus ainda se
encarando em um silêncio sólido. Remus estava realmente feliz em ver o rosto
azedo de Narcissa, quando ela finalmente atravessou a parede.
"Ah Merlin," ela suspirou, olhando para Remus, "O que é agora?"
"Eu descobri!" Ele disse rapidamente: "O ... o problema. Eu tenho uma
solução."
"Um voto perpétuo", ele se apressou, ansioso para resolver tudo e ir. "Não
pode ser quebrado, nunca."
Ela bufou.
"Quero dizer," ele disse, mais lentamente, sua bravura crescendo, "que se você
fez um voto perpétuo, então você não pode fazer nenhuma outra promessa que
vá contra ele. Você não pode nem mesmo ser forçado a fazer outras promessas.
Ou votos." Ele enfatizou a última palavra, significativamente.
"Eu... hm ... eu tenho que ir!" Remus sorriu, piscando para Narcissa, então
começou a correr.
39 Segundo Ano
O Longo Último Dia (Parte 1)
O resto da tarde foi nada menos que caótico - e Remus sabia que Sirius e
James, onde quer que estivessem, deveriam estar se divertindo muito. Todos os
banheiros do castelo foram misteriosamente afetados pela enchente de espuma,
e ninguém parecia ser capaz de impedi-los por muito tempo. Enormes montes
de bolhas obstruíam os corredores como neve rosa, e os alunos que não
queriam brincar com ela, não pareciam se importar em serem forçados a sair
para descansar na grama e passar seu último dia ao sol.
Remus agarrou sua mochila e saiu imediatamente - ele pensaria nisso mais
tarde. Gostaria de ainda ter a capa da invisibilidade enquanto se esquivava de
Pirraça mais uma vez. O poltergeist estava se divertindo, mergulhando nas
pilhas de espuma e então explodindo para fora delas, assustando alunos e
professores desavisados. Remus se lembrou brevemente do que McGonagall
havia dito naquela manhã sobre seu pai 'bicho-papão, poltergeists ...' ele se
perguntou o que seu pai - seu campeão de duelo, pai da Corvinal que tinha um
temperamento forte – devia pensar de Pirraça.
"O Sr. Pettigrew não devolveu o Plantas venenosas das Ilhas Britânicas, e o
Sr. Black mais velho tem três livros de transfiguração vencidos."
"Eu direi a eles." Ele repetiu, quase fora da porta. Suspirando de alívio, ele
caminhou até a ala hospitalar em um ritmo vagaroso, lutando contra o desejo
de se jogar em uma luta de bolas de neve que os lufanos estavam travando
contra os sonserinos com a espuma.
Parecia que o feitiço ainda estava forte - ainda mais bolhas emanavam dos
banheiros pelos quais ele passou, e se ele não estivesse muito enganado, elas
estavam ficando maiores. Ele não tinha ideia de onde Sirius, James e Peter
estavam naquele momento, mas sabia que eles deveriam estar se divertindo
muito.
"Remus, querido!" Madame Pomfrey sorriu quando ele entrou na ala
hospitalar. "Obrigado por passar aqui - eu sei que você preferiria se divertir
com seus amigos hoje."
Ele a seguiu e aceitou com gratidão o prato de biscoitos que ela lhe ofereceu -
seu estômago roncava por ter perdido o almoço.
"De qualquer forma, entre nós, conseguimos organizar que estarei presente
antes e depois do seu confinamento nas duas luas cheias. Eu expliquei a ela
que sua condição se tornou... mais difícil durante o ano passado, mas que não
deve haver perigo para ninguém na escola."
"Certo." Remus concordou. Agora que ele estava acostumado com a ideia,
estava muito feliz por Pomfrey estar lá, mesmo que brevemente, durante as
férias. Isso tornaria as luas cheias um pouco menos sombrias, de qualquer
maneira.
"Eu quero ter certeza que você vai cuidar de si enquanto isso. Faça refeições
completas e tenha um bom equilíbrio entre descanso e exercícios."
Remus não teve coragem de dizer a Madame Pomfrey que ele tinha muito
pouco controle sobre as permissões para descansos; e que não conseguia se
lembrar se em algum momento havia se exercitado enquanto morava em St.
Edmund’s. Ninguém em Hogwarts parecia entender que tipo de instituição era.
Depois disso, ela verificou alguns de seus ferimentos da lua anterior para se
certificar de que estavam curando corretamente, então realizou alguns feitiços
de diagnóstico. Eram quase quatro da tarde quando voltou para a torre da
Grifinória, pelo que parecia ser a centésima vez naquele dia.
Filch ainda não tinha tido sucesso em acabar com a espuma, mas pelo menos
ela parou de jorrar de cada torneira e ralo do castelo. Os outros devem ter
ficado entediados e ido fazer outra coisa. Enquanto Remus subia a torre, ele
viu alguns alunos voando pelas janelas em suas vassouras. Estava um dia lindo
lá fora, os outros marotos provavelmente também estavam aproveitando ao
máximo.
"Oie, Moony," James sorriu para ele. O menino estava sozinho, em pé do lado
do quarto que pertencia a Sirius. Ele estava fazendo as malas dele. "Bom
trabalho conseguindo os guarda-chuvas."
"Obrigada, vocês também com a espuma. Filch está furioso." Ele esfregou a
nuca, sentindo-se constrangido, "Onde está Sirius?"
"Fazendo algo maluco em sua vassoura, eu acho. Pensei em resolver isso para
ele. "
"Nah, não se preocupe. Você não queria ler um livro ou algo assim?"
"Tudo bem, eu vou te ajudar." Ele disse, casualmente, como se isso não
importasse muito de qualquer maneira. "Você sabe que eu odeio voar."
"Sirius acha ... ele acha que pode não voltar em setembro."
"O que?!" Remus ergueu os olhos, de repente, alarmado. James franziu a testa.
"Sim, ele acha que com essa coisa de noivado ... eles podem mandá-lo para
Durmstrang. Para mantenha-lo longe de problemas até que possam casá-lo.
Muito drástico, eu acho, mas não impossível. "
"Narcissa?" James olhou para ele com curiosidade, "Do que você está
falando?"
"Só sei que ela não quer se casar com Sirius mais do que ele quer se casar com
ela, só isso." Remus balançou a cabeça. "Devo colocar as revistas trouxas dele
no seu porta-malas também?"
***
"Que ano maravilhoso tem sido", Dumbledore sorriu para o Salão Principal
enquanto os restos finais do banquete de fim de ano desapareciam de seus
pratos. Remus sentiria falta da comida mais do que tudo, e comeu três porções
de sobremesa. A corvinal havia ganhado a taça da casa naquele ano, e o salão
estava decorado com estandartes de seda azul royal e bronze. Cada vez que a
mesa da corvinal festejava durante a refeição, Remus sentia um puxão atrás do
umbigo e pensava em seu pai.
"Prontos, rapazes," Sirius sussurrou baixinho, tão baixo que apenas os marotos
podiam ouvir. Dumbledore continuou
"... Parabéns mais uma vez a Corvinal ..."
"Agora!"
"... por ter ganhado a taça das casas deste ano ---"
Ela estava encarando seu primo rebelde com tanto ódio que Remus se
perguntou como Sirius não caiu morto ali mesmo. Mas ele se consolou com o
pensamento de que esse incidente só pode ter cimentado ainda mais a ideia em
sua mente de que ela deveria escapar do casamento com Sirius a todo custo.
Caro Remus,
Só voltei para a casa dos meus pais faz meia hora e já me disseram que estou
envergonhando minha família cinco vezes. Cinco. Três dessas vezes nem
foram de pessoas vivas - os retratos de nossos ancestrais decidiram gritar
também.
Sirius O. Black
***
Caro Sirius,
Sua coruja chegou antes mesmo de eu voltar - tivemos que pegar dois metros e
um ônibus, demorou muito.
Sinto muito pelas coisas sobre sua família. Tome cuidado. Queria que todos
nós estivéssemos de volta à escola.
Remus.
***
Caro Moony,
Não mande nenhuma coruja para Sirius - a mãe dele interceptou a minha e
devolveu todas as cartas com maldições anexadas! Felizmente, papai percebeu
antes que tivéssemos qualquer problema, mas que inferno! Posso tentar entrar
em contato com a prima dele, Andrômeda, para ver como ela manda o correio.
Eu acho que é do jeito trouxa, mas - por Godrick! - como devemos entender
isso? - eu nem abri meus livros de estudos trouxas ainda.
Me avise se você puder vir e visitar. Lembre-se de que mamãe disse que pode
vir a qualquer hora. Podemos falar com sua Matrona e Madame Pomfrey - ou
Ministro da Magia, se for preciso!
James.
***
Caro James,
Eu sei como o correio funciona, mas eu teria que roubar alguns selos. E eu não
sei qual é o endereço de Sirius.
Eu perguntei a Pomfrey depois da última lua - ela disse que não. Ela disse que
o mundo mágico é muito perigoso para mim. Eu não sei se ela quis dizer que
eu sou o perigo.
Desculpe cara.
Moony.
***
Caro Moony,
Então. Você não vai acreditar no que aconteceu. Sério. A cerimônia estava
pronta para começar - eu estava com meus horríveis robes verdes (com punhos
de renda preta - RENDA, Moony. Tenta imaginar isso. Você teria pensado que
eu estava parecendo um completo idiota). Regulus estava lá, minha mãe, meu
pai e metade da família.
Então entra Narcissa, vestindo algo que parecia pertencer à minha avó. E ela
não parecia feliz, então pensei - bem, é justo, não estou exatamente
emocionado. Mas então ela se levanta, na frente de todo mundo e diz "Temos
que parar imediatamente".
Então, todo mundo para, e minha mãe parece que está prestes a começar a
cuspir maldições, e meu tio está perguntando a Narcissa "o que você acha que
isso é uma brincadeira?!" e Regulus está sorrindo para mim e Bellatrix está
sorrindo também, só que ela parece um pouco mais louca do que Reg. Então
Narcissa sussurra algo para seus pais e minha tia LITERALMENTE
DESMAIOU. Sem zoeira. E todo mundo está murmurando e sussurrando, e a
minha mãe não aguenta mais e exige saber o que está acontecendo, então
Narcissa se levanta, OLHA NOS OLHOS DA MINHA MÃE e fala.
Ela fez um voto perpétuo de se casar com Lucius Malfoy assim que terminasse
seu NIEM.
Não me lembro se disse a você o que é um voto perpétuo, mas basicamente ela
não pode não se casar com Malfoy agora - ou os dois caem mortos. Não sei se
deveria ficar um pouco ofendido sobre isso, para ser honesto. Quero dizer, o
que pensar quando uma garota prefere morrer a se casar com você, mesmo que
ela seja sua prima?
Espero que suas férias estejam indo tão bem quanto as minhas (embora eu não
consiga ver como isso poderia acontecer, porque - honestamente, que resultado
do caramba, hein Moony??)
Sirius O. Black
***
Caro Moony,
Aposto que Sirius já te contou a novidade, mas caso ele não tenha – O
NOIVADO FOI CANCELADO! Você estava certo, no final das contas tudo se
resumia a Narcissa. Que habilidade misteriosa que você tem aí, Remu velho
amigo, não tá afim de me dar umas dicas no próximo bolão na copa mundial de
quadribol no ano que vem, não?
Meu verão aqui completamente sozinho está sendo bem chato. A família de
Peter foi pra França visitar alguns parentes, então não tem ninguém para me
ajudar a praticar meus lances. Espero que o seu não esteja tão ruim. Eu pensei
que talvez você pudesse pedir a Madame Pomfrey te trazer ao Beco Diagonal
em agosto. Ou talvez a gente te busque e depois te leve de volta? Mamãe fica
perguntando por você, ela adoraria te ver de novo.
James.
***
Segunda-feira, 13 de agosto de 1973
Caro Remus,
Espero que suas férias sejam boas. Queria que vocês estivessem aqui.
Peter.
***
Remus respondeu a cada uma dessas cartas com vigor, muito mais do que no
ano anterior. Os marotos tinham visto o suficiente de sua caligrafia para saber
como era garranchosa, e ele não achou que se importariam com alguns erros de
escrita. Disse a James que sentia muito, mas que não poderia ir ao Beco
Diagonal (Madame Pomfrey disse que também não era seguro, mas não o
explicou por quê) e parabenizou Sirius por sua solteirice conquistada, mas não
contou que ele, Remus, tinha algo a ver com isso. Seria como se gabar, e não
queria que Sirius sentisse que lhe devia alguma coisa.
O verão de Remus foi talvez tão chato quanto o de James e Sirius, mas com
mais propósitos do que qualquer verão anterior. Madame Pomfrey foi fiel à sua
palavra e chegou na noite anterior e na manhã após cada lua cheia. Dessa
forma, ele passou menos tempo coberto de bandagens e teve mais tempo para
ler e planejar o ano que viria.
Até mesmo a Matrona comentou – com certa desconfiança - que Remus havia
mudado muito depois de dois anos na escola.
"É bom ver que você está se mantendo fora de problemas." Ela disse uma
manhã, quando o encontrou sentado no fundo do jardim lendo um livro pesado
usando sua folha mágica de acetato. Na hora, Remus simplesmente olhou para
ela e sorriu benignamente. É claro que ela não tinha ideia de que antes do fim
do verão ele cometeria seu primeiro crime grave.
Desde seu Natal com os Potter’s, Remus tinha sido atormentado por um
problema em particular e não tinha certeza da melhor forma de superá-lo.
Dinheiro. Ele não tinha nenhum - trouxa ou bruxo, Remus era tão pobre quanto
se poderia ser. Isso nunca importou muito - afinal, St. Edmund's supria suas
necessidades básicas e Hogwarts dava a ele todo o resto.
Uma sombra caiu sobre seu livro e ele olhou para cima. Craig Newman, um
skinhead de dezesseis anos, olhou para ele. A gangue de Craig estava no topo
da hierarquia no St Eddy's. Todos ouviam reggae, usavam coturnos de combate
e jeans colados presos por suspensórios. Alguns deles tinham tatuagens e todos
tinham hematomas.
"E aí, Lupin." Craig grunhiu para ele. Remus piscou, fechando lentamente seu
livro e pensou se este seria útil como uma arma. Era pesado, de qualquer
maneira.
"E aí, Newman." Ele acenou com a cabeça, tentando não parecer pequeno e
assustado. Ele deslizou naturalmente de volta a seu antigo sotaque durante o
verão, arrastando as palavras e comendo consoantes. Era o mais seguro.
"Éh," Craig assentiu. Remus não moveu um músculo. Ele não conseguia
entender o que estava acontecendo - Craig realmente queria só bater um papo?
"Tu é espertinho, né?" O menino mais velho disse, de repente.
Remus não sabia qual resposta faria com que ele apanhasse, então não
respondeu nada. De qualquer forma, Craig não parecia se importar. Ele apenas
coçou o queixo e puxou um maço de cigarros da manga da camisa. "Éh, tu é
inteligente. Sempre lendo e tudo mais. " Ele acendeu o cigarro com um fósforo
de sua bota e ofereceu o maço a Remus.
Remus estendeu a mão e pegou um. Ele nunca tinha fumado antes, mas a
maioria dos meninos em St Edmund's sim. Craig acendeu para ele e Remus
inalou. Seus olhos se encheram de lágrimas imediatamente, e ele tentou
desesperadamente não tossir e engasgar. Foi nojento.
Craig olhou para ele divertido e continuou. "É pequeno também, magrelo."
"Acho que sim." Remus respondeu, tossindo, observando Craig inalar e então
tentando imitá-lo.
"Trampo?"
"Éh, tu vai ser bom. Vai ser num mercadinho lá na cidade. Amanhã de noite.
Sem segurança. Não tem nada, só um cachorro. Vamo pegar dinheiro e bebida.
A gente divide. 'Se só precisa passar pela janela no fundo."
Por um lado, era muito perigoso. A gangue de Newman não era conhecida por
sua delicadeza e alguns deles estavam em liberdade condicional. Por outro
lado, não parecia ter muita escolha. Quando Craig Newman queria que você
fizesse algo, você meio que simplesmente tinha que fazer. Além disso, ele
definitivamente poderia se beneficiar. O dinheiro trouxa era quase inútil para
ele, é claro, mas poderia haver uma maneira ...
Craig sorriu e acenou com a cabeça. E assim, Remus começou sua curta
carreira como delinquente.
41. Terceiro Ano
Em Casa Novamente
In the corner of the morning in the past
I would sit and blame the master first and last
All the roads were straight and narrow
And the prayers were small and yellow
And the rumour spread that I was aging fast
Then I ran across a monster who was sleeping
By a tree
And I looked and frowned and the monster was me
Depois do primeiro trabalho, Craig e sua gangue ficaram tão satisfeitos com
Remus que o levaram junto em mais quatro, em casas e pequenos negócios nas
cidades vizinhas. Mesmo sem uma capa de invisibilidade, Remus descobriu
que tinha um dom natural para entrar em lugares que não deveria. Isso é o que
Craig dizia de qualquer maneira; "Porra, esse garoto nasceu pra isso."
Ainda assim, Remus decidiu nunca contar aos outros marotos o que ele fez
naquele verão, e passou o resto do verão sonhando acordado com todos os
presentes de Natal e aniversário que ele finalmente poderia comprar para seus
amigos.
Não demorou muito localizar para Sirius, que estava encostado em uma coluna
da estação ao lado de sua família. A Sra. Black estava arrumando Regulus, que
parecia mais pálido que o normal e com as costas muito eretas, enquanto
Walburga penteava seu cabelo e sibilava em seu ouvido. Ela estava
obviamente ignorando seu filho mais velho, cujo cabelo parecia
deliberadamente bagunçado e cujas vestes estavam artisticamente amarrotadas
e fora do lugar. Remus achou melhor não se aproximar.
"Ei, Moony," ele recebeu um tapinha nas costas e se virou para ver James e
Peter sorrindo para ele. James havia crescido alguns centímetros e seu rosto
parecia um pouco mais fino, mas ele tinha os mesmos olhos castanhos
brilhantes e a mesma cabeleira negra. Peter estava igual, embora parecesse
estar se recuperando de uma queimadura de sol bastante dolorosa.
"Oi," Remus sorriu de volta para eles, seu coração pulando de excitação. Tudo
estava exatamente como deveria ser.
"Nenhuma mudança sobre isso, então," James piscou para Remus. Sirius olhou
para todos eles e seu rosto se abriu em um sorriso. Aquele sorriso Sirius Black.
"Por Godrick, você sempre tem que ser tão dramático." James deu um soco no
ombro dele, quando todos se levantaram para cumprimentá-lo.
"Você não sabe como ela é," Sirius lamentou, segurando a mão de James em
um caloroso aperto fraternal. Então ele viu Remus e sorriu endiabrado, "É
você, Moony?!" Ele deliberadamente esticou o pescoço, levantando a mão
como se para proteger os olhos e olhando para cima, "Consegue me ouvir
daí??"
"Não, não mais" James rebateu, ficando ao lado de Remus para que pudesse
ver que ele era, de fato, uns bons centímetros mais altos que o garoto de
cabelos escuros.
"Viu, como é que acabei amigo de dois postes, hein?" Sirius sorriu, dando um
tapa nas costas de Remus de brincadeira, "Sorte que tenho você, hein Petey?"
"Hm?" Peter ergueu os olhos de sua empanada, confuso. Peter Pettigrew não
parecia mais alto do que quando todos tinham onze anos, embora parecesse
consideravelmente mais largo.
"Certo", James esfregou as mãos enquanto todos se sentavam, "Agora que tudo
isso está fora do caminho - eu digo para seguirmos com os negócios. Planos
para o ano?"
"Temos que terminar o mapa," disse Remus, rapidamente. Isso estava em sua
mente há algum tempo. "Não falta muito, e aposto que podemos descobrir o
feitiço homunculus se realmente nos esforçarmos".
"E aquela outra coisa," Sirius disse de repente, muito bruscamente. James e
Peter trocaram olhares e Remus sentiu um nó apertar seu estômago.
Remus se ofendeu com isso. Ele não tinha participado de quase todas as
pegadinhas ano passado e foi o que menos teve detenções? E não foi ele o
único que tentou falar com Narcissa sobre os problemas familiares de Sirius?
Claro, os outros não sabiam disso - se eles tinham um segredo, ele também
poderia ter. Ele olhou pela janela, irritado, ignorando o resto da conversa.
"Sim, mas quero algo doce." Peter fez um beicinho, esvaziando os bolsos e
vendo que haviam apenas embalagens vazias.
"Eu tenho a solução para isso, Pete", ele enfiou a mão em sua bolsa e tirou um
punhado de barras de chocolate, jogando-as no assento vazio ao lado dele. Os
outros três meninos olharam para a pilha.
"O que é isso?" Sirius pegou uma barra de chocolate Mars, parecendo
desconfiado.
"Chocolate trouxa," Remus disse, "Eles são bons! Vá em frente, eles não
mordem."
***
Remus percebeu que eles estavam sentados mais longe da mesa dos
professores quando tomaram seus lugares para o banquete. Com os alunos do
primeiro e segundo anos agora a frente deles, os marotos não se encontravam
mais entre os alunos mais jovens, o que lhes dava um sentimento desnecessário
de orgulho e realização.
"Você está fazendo Runas, não é Remus?" Lily perguntou, sentando-se ao lado
dele. Ela havia cortado o cabelo durante o verão e tinha uma franjinha fina que
a fazia se parecer um pouco com Jane Asher.
"Eu não vou deixar ninguém para trás," Remus murmurou, suas orelhas
ficando vermelhas, "Só não estava a fim de fazer adivinhação."
"O que?" Remus perguntou, nervoso. Sirius tinha aquele olhar perverso e
imprevisível.
"Eu não acho que tenha nada a ver com o avanço de sua carreira acadêmica",
ele coçou o queixo, sabiamente, "Eu acho que nosso querido Remoony foi
atraído para longe da nossa aula favorita pelo sexo oposto!"
"Cala a boca," Remus corou ainda mais, tentando não olhar para Lily. Sirius
sempre sabia exatamente a coisa mais embaraçosa a dizer.
"Sim, cale a boca, Black," Lily suspirou, "Honestamente, vocês não
conseguem nem mesmo ser legais um com o outro. Só porque nenhuma garota
chegaria perto de vocês nem pintados de ou –"
"Pois você devia saber que estive noivo recentemente," Sirius respondeu, com
um movimento de seu cabelo escuro. James abafou uma risada, seus ombros
tremendo.
"O que mais você está fazendo, Remus?" Lily perguntou, intencionalmente
ignorando os outros marotos.
"Trato das Criaturas Mágicas," Remus suspirou. Ele já tinha ouvido piadas o
suficiente sobre isso de James e Sirius.
O banquete, quando apareceu, foi delicioso como sempre. Remus teve suas
duas porções habituais de tudo, incluindo sobremesa e assim que a refeição
terminou, Dumbledore fez seu discurso habitual. Nos últimos dois anos,
Remus havia se desligado nesta parte da noite - estando muito cheio de boa
comida e muito sonolento por causa do longo dia para prestar muita atenção.
Mas algo sobre o tom sério da voz, geralmente brincalhona, do diretor o fez
ouvir.
Ele viu que não era o único. Houve um murmúrio baixo e agourento da mesa
da Sonserina, particularmente daqueles nos anos superiores. Os grifinórios ao
redor de Remus pareceram se endireitar um pouco mais também.
"Sobre o que era tudo aquilo?" Remus perguntou, enquanto eles deixavam o
corredor para seus dormitórios, os avisos confusos de Dumbledore soando em
seus ouvidos, "'Unidade em face da escuridão' e tudo mais?"
"Ah, certo, você não sabe ..." disse James, baixinho. Ele olhou para Sirius, que
estava arrastando os pés, as mãos nos bolsos. "Te conto quando estivermos
sozinhos, ok?"
"Ah, sim," James engoliu em seco. Ele olhou para Sirius novamente, que
parecia estar os ignorando. James suspirou, passando as mãos pelos cabelos. "É
tudo política, na verdade."
"Política?" Remus gemeu por dentro. Ele não sabia muito sobre política trouxa,
muito menos o que acontecia no mundo mágico - além do estatuto do sigilo,
que eles haviam aprendido no primeiro ano de História. Estava acontecendo
um referendo sobre a adesão da Grã-Bretanha à Comunidade Europeia - mas
isso não aconteceria em alguns anos, se Remus tivesse entendido os discursos
do primeiro-ministro corretamente, e não via como isso podia afetar os bruxos.
"Bem, você sabe que existem ... hum ... bem, bruxos das trevas?"
"Sim ..." Remus tentou parecer conhecedor. Ele se lembrou de ter lido algo
brevemente sobre Grindelwald, mas eles não estariam o estudando até seus
NOMs.
"Tem havido uma onda de magia negra ultimamente, só isso. E meu pai me
disse ... há algumas coisas acontecendo no ministério. Chefes de departamento
pressionando reformas mais rígidas contra bruxos nascidos trouxas e ... pessoas
que são diferentes. Papai disse que não havia nada com que se preocupar,
apenas o velho preconceito de sempre. Mas suponho que Dumbledore pense
que precisamos ficar de olho. "
Até mesmo James não tinha nada de positivo a dizer sobre este anúncio. Todos
ficaram quietos, até que Peter falou.
"Estamos em Hogwarts." Ele disse: "Minha mãe sempre diz que Hogwarts é o
lugar mais seguro da Grã-Bretanha. E nós temos Dumbledore. " Ele disse com
firmeza, resolvendo o assunto. "Vamos lá, Black, aposto que você tem outro
disco trouxa horrível que você está doido para assaltar nossos ouvidos com."
Todos olharam para Peter com uma leve surpresa. Sirius sorriu,
"Na verdade", disse ele, tirando a poeira de seu toca-discos, "eu tenho."
42. Terceiro Ano
Animais Fantásticos
Ao final de sua primeira semana do terceiro ano, Remus sentiu que precisava
de mais dois meses apenas para se recuperar - e nem havia passado por uma
lua cheia ainda. Ele se sentiu um tolo por não considerar que adicionar três
matérias extras ao seu horário também aumentaria sua carga de estudos. Mas é
claro que aumentaria, e quando a sexta-feira chegou, já estava se sentindo
sobrecarregado com a quantidade de dever de casa a ser feito no fim de
semana.
"Não é justo," Peter lamentou, "Este ano era para ser divertido, com
Hogsmeade e tudo."
"Estou com Pete," Sirius resmungou, bagunçando seu diário de sonhos para
Adivinhação, "Vamos largar isso e usar o campo de quadribol enquanto ainda
está claro."
"Não tá afim de revisar meu dever de estudos trouxas, não é, Moony?" Sirius
perguntou amistosamente. Remus ergueu as sobrancelhas.
"Se eu tiver tempo. James, Pete, querem que eu olhe a de vocês também? "
"Batalha perdida, cara," Sirius aconselhou. "Não sei por que você está tão
obcecado com ela."
Aritmancia foi uma verdadeira surpresa para Remus - ele esperava ficar atrás
de Sirius e James, pelo menos no início. Mas parecia que o assunto era lógica,
ao invés de habilidade mágica, e Remus achou que sua primeira aula havia
sido surpreendentemente direta. O dever de casa, que ele sabia que Sirius e
James ainda não haviam tentado, era calcular seus próprios corações e números
de batimentos usando o método de Agripa. Isso ele realmente achou muito
reconfortante, embora soubesse que nunca iria admitir isso para ninguém.
Herbologia avançou em seu ritmo normal - Remus não podia fingir estar
interessado, mas pelo menos não era difícil. Astronomia também não era seu
assunto mais forte, mas, felizmente, Peter geralmente ficava tão animado por
ser o único que sabia de algo que dava a Remus a maioria das respostas de
graça.
Depois, havia sua nova matéria favorita; Trato das Criaturas Mágicas, às
quartas e quintas-feiras. Ele não iria contar aos outros sobre isso também - eles
já o provocavam por gostar tanto de História e por fazer Runas. Todas
brincadeiras bobas, é claro - ele zombava deles por fazerem Adivinhação, que
parecia ser bastante entediante.
Ele havia lido seu exemplar de Animais Fantásticos e Onde Habitam duas
vezes no verão - era sua leitura favorita na hora de dormir. As fotos e
descrições eram tão vivas que enchiam seus sonhos com as mais espetaculares
imagens. Não havia nada no texto sobre lobisomens - Remus fez questão
verificar isso. Felizmente, eles não estavam na mesma categoria de 'criaturas
mágicas', e parecia que não estudariam 'meio-humanos' até o próximo ano em
Defesa Contra as Artes das Trevas.
"Estou feliz por não termos aula com o Kettleburn." Marlene respondeu. Isso
fez Remus prestar atenção.
"Quem quer que seja, não estava no jantar", Marlene deu de ombros, "mas meu
calendário diz 'Professor L. Ferox'."
Quando ela disse isso, a porta da sala de aula se abriu e os alunos do quinto
ano à frente deles saíram, conversando animadamente. O terceiro ano da
Grifinória entrou e Remus ocupou uma mesa perto da janela, ao lado de
Marlene. Quando o professor saiu de seu escritório, Mary e Marlene - e, na
verdade, todas as outras garotas da classe - sentaram-se um pouco mais eretas.
Ele era bem mais jovem do que Kettleburn, que era um pouco grisalho mesmo
na meia-idade. Remus teria adivinhado que esse professor estava com trinta e
poucos anos. Ele ainda tinha todos os seus membros, o que era definitivamente
uma vantagem. Seu cabelo era espesso e da cor da areia, longo o suficiente
para alcançar o meio das suas costas. Ele não estava vestindo túnicas como a
maioria dos outros professores, mas sim com roupas práticas de ar livre e
pesadas botas de couro marrom. Seu rosto era ligeiramente castigado pelo
tempo, o que servia para dar às suas feições fortes uma espécie de apelo
áspero. Seus olhos eram de um azul cintilante e brilhavam enquanto ele sorria
calorosamente para a classe.
"Boa tarde!" Ele trovejou, em um sotaque de Liverpool. Ele bateu palmas com
suas grandes mãos calejadas, "Sejam bem-vindos ao seu primeiro ano de Trato
das Criaturas Mágicas. Eu sou o Professor Ferox. Todos vocês têm o livro do
Scamander, espero?"
"Excelente!" Ele continuou: "Uma leitura incrível, como tenho certeza de que
alguns de vocês já descobriram. Fornece um guia bom e abrangente para
identificar e encontrar a maioria das criaturas mágicas conhecidas - mas o que
ele não pode lhe dar - e o que vocês precisam para se destacar nesta aula é
pensamento rápido, cabeça fria e autocontrole."
Algumas das garotas riram disso, e Remus sentiu uma onda de animação. Veja
James, ele pensou, não é uma matéria de garotas. Não tinha certeza sobre as
especificações, no entanto. Sabia que tinha autocontrole, talvez - tinha que ter,
depois do último verão - mas cabeça fria dificilmente era um de seus traços
marcantes.
O professor Ferox acariciou as costas do animal com um longo dedo, o que ele
pareceu tolerar, piscando lentamente.
Remus suspirou internamente. Ele sabia disso - ele deveria saber, de qualquer
maneira, ele se lembrava de ter lido sobre a cauda. Mentalmente, ele eliminou
o "pensamento rápido" da lista de requisitos de Ferox. Na esperança de mostrar
ao professor que ele estava pelo menos ansioso para aprender, Remus começou
a fazer anotações enquanto Ferox falava, ainda acariciando Aquiles
distraidamente.
"Você sempre pode identificar um kneazle por sua aparência de gato, alto nível
de inteligência, pelo salpicado e cauda emplumada", disse o professor,
indicando essas características com amor, "Eles são classificados como XXX
pelo ministério da magia - alguém pode me dizer o que isso significa?"
A mão de Remus voou novamente - tudo estava voltando para ele agora. Mas
Ferox escolheu outro Corvino, desta vez.
"Porque eles podem detectar pessoas suspeitas." Davy Kirk saltou, ganhando
outros cinco pontos para Corvinal.
"Ele é mesmo", Ferox respondeu, "Se todos vocês forem cuidadosos e não o
pressionarem, Aquiles provavelmente deixará você acariciá-lo. Façam uma
fila, classe."
"Aproxime-se dele devagar e não evite o contato visual. Se ele tentar ir atrás de
você, ele usará suas garras, então fique alerta ... lá vamos nós, ele vai deixar
você acariciá-lo agora, gentil e suavemente ... "
"Pode ir em frente – Qual é o seu nome?" O professor Ferox acenou para que
ele avançasse. Remus não se moveu.
"Remus Lupin. Eu não sou ... hum ... gatos tendem a não gostar de mim. " Ele
murmurou.
"Aquiles não é um gato." O professor disse, ainda sorrindo. "Vamos, Lupin,
pode vir."
Remus suspirou pesadamente e se aproximou. Ele não queria que alguém tão
legal quanto Ferox pensasse que ele era um covarde. Aquiles observou-o
avançar. Parecia muito inteligente, havia algo sobre seus olhos, embora tivesse
um nariz arrebitado muito feio. Ele estendeu a mão, permitindo que o kneazle
o cheirasse. Suas garras não estavam fora, mas Remus estava disposto a
apostar que eram muito longas e afiadas. Ele já tinha sido arranhado por gatos
antes e nunca gostou deles. "Muito bem", o professor Ferox estava dizendo,
"Agora, um pouco mais perto e dê um afago, vá em frente."
Engolindo em seco, Remus obedeceu, pronto para pular para trás se fosse
preciso. Mas Aquiles não parecia se importar que era um lobisomem. Em vez
disso, ele começou a ronronar enquanto Remus o esfregava timidamente atrás
da orelha, fechando os olhos e parecendo completamente dócil. "Aí está!"
Professor Ferox aplaudiu, encantado, "Excelentes juízes de caráter, kneazles.
Agora, não temos muito tempo de sobra, então se vocês apenas tomarem nota
da lição de casa ... "
"A aula foi boa, não foi?" Marlene conversou, ao saírem da primeira aula:
"Espero que ele sempre traga coisas para vermos".
"Não vai ser muito prático quando chegarmos às criaturas XXXXX." Disse
Remus.
"Quem se importa com o gato dele!" Mary a cutucou: "Ele é lindo pra
caramba."
"Ugh, volte para a cama, Lupin!" Sirius jogou um sapato nele de sua cama.
Ele desceu as escadas, sem querer incomodar ninguém, segurando uma caixa
de sapatos debaixo do braço. Com um livro novo para ler, Remus montou
acampamento na poltrona mais confortável da deserta sala comunal. Ele
costumava descer cedo, em manhãs como esta, quando seu corpo
simplesmente se recusava a dormir e ele tinha tanta energia que pensava que
poderia correr ao redor do castelo sem nem ao menos suar. Remus nunca havia
realmente tentado isso, mas ele tentou empurrar o estranho desejo para longe,
trancá-lo e se concentrar.
Ainda assim, ele lutou para focar em seu livro. Pensou em caminhar, mas eles
não eram realmente permitidos fora do castelo até o café da manhã começar às
seis. Ugh, ele tinha que tentar não pensar no café da manhã, ou seu estômago
começaria a roncar. Não importava que ele tenha comido três porções de purê
de batata com ensopado de carne na noite anterior. Até Peter pareceu
impressionado.
Mesmo que fosse hora do café da manhã, ele havia dito que ficaria na sala
comunal por uma hora a partir das seis e meia. Esta era a hora ideal, ele
decidiu - ninguém esperava que você fosse fazer algo nefasto tão cedo pela
manhã, e os outros marotos normalmente não se levantavam antes das sete e
meia, mesmo nos dias de semana. Sirius ficaria na cama pelo máximo de
tempo possível. James às vezes se levantava para praticar voo de manhã cedo,
mas geralmente não antes das sete.
Remus olhou para a caixa de sapatos em seu colo. Ele poderia lançar um
feitiço de realocação rápido se James descesse mais cedo do que o esperado,
isso não seria muito difícil. Porém, no estado que sua magia se encontrava no
momento, era melhor ele não fazer isso enquanto a caixa estava em seu colo -
ou ele corria o risco de sumir com algo muito mais vital. Já havia estado na
Madame Pomfrey uma vez neste semestre, ao tentar fazer seu cabelo crescer
em Transfiguração. Ele precisou que Peter e James ajudassem a carregar seus
cachos - que cresciam rapidamente - para a ala hospitalar - Sirius estivera rindo
demais para ser útil.
Remus experimentou levitar seu livro, mas este disparou até o teto, batendo
com força antes de cair no chão. Ele suspirou. Não podia fazer nada a não ser
ficar parado e esperar, parecia. Ele gostaria de poder ligar o toca-discos- Sirius
o havia deixado na sala comunal junto com seus mais novos álbuns
presenteados por de Andromeda - Aladdin Sane e Led Zeppelin IV. E ele
estivera ouvindo 'Black Dog' repetidamente há semanas.
Sirius certa vez obteve uma lista exaustiva de todas as regras de Hogwarts,
sugerindo que eles tentariam quebrar todas antes de chegar ao sétimo ano.
Remus leu e não encontrou nada que mencionasse tráfico de tabaco. Não se
você interpretasse a linguagem literalmente, de qualquer maneira. Além disso,
não seria para sempre - só tinha o que trouxera com ele.
Remus havia planejado pensar um pouco mais sobre isso, esperar até depois da
lua cheia, mas então ele descobriu que seu primeiro fim de semana em
Hogsmeade estava chegando no dia 15 e ele decidiu que precisava seguir em
frente.
Sirius e James já haviam planejado a viagem por completo, sem consultar Peter
ou Remus, que estavam felizes em segui-los, como de costume. Dedos de mel,
obviamente, e depois Zonko para estocar bombas de bosta. Em seguida, a Casa
dos Gritos, porque o pai de James não acreditava que fosse assombrada, o que
significa que James também não, e Sirius queria provar que os dois estavam
errados. E eles estavam muito ansiosos para que Remus experimentasse algo
chamado cerveja amanteigada.
Remus tinha seus próprios planos. Ele ia contar a eles que uma tia distante
havia morrido e deixara para ele uma pequena quantia em dinheiro.
Esperançosamente, isso seria uma explicação suficiente para satisfazer James,
que certamente perguntaria onde Remus havia adquirido sua nova fortuna.
Remus tinha certeza de que pequenos crimes, mesmo no mundo trouxa, não
seriam algo que James entenderia tranquilamente. Sirius poderia dar de
ombros, tendo pouca consideração pelas regras de qualquer forma - mas ele
provavelmente também tentaria emprestar a Remus um pouco de seu próprio
dinheiro, o que ia contra toda a intenção original.
"Lupin? É você?"
"Ótimo, hum ... você disse cinco sicles por um pacote de vinte?"
"Isso mesmo." Remus abriu sua caixa, rapidamente, mostrando para o menino.
Ele fez mais duas vendas para alguns do quinto ano e para uma garota do
sétimo ano que comprou um pacote de tabaco e perguntou se ele tinha algo
"mais divertido" para vender. Remus ficou um pouco confuso com o que ela
quis dizer. E apenas repetiu que ele só tinha pré-bolado e solto. Ela encolheu
os ombros.
Remus assentiu, ainda sem ter certeza do que ela queria dizer. De qualquer
forma, parecia que ele não era o único aluno na escola com uma mente
empreendedora.
Às sete e quinze, a caixa de sapatos de Remus estava meio vazia e seus bolsos
tilintando. Profundamente satisfeito, ele guardou tudo enquanto a sala comunal
se enchia de alunos começando seus dias.
"E aí Remu," James desceu as escadas, vassoura na mão, assim que Remus
estava subindo, "Você acordou cedo."
"Éh, não conseguia dormir." Remus respondeu evasivamente. Felizmente,
James estava ansioso para ir para o campo de quadribol e não prestou atenção à
caixa de sapatos ou ao estranho som de tilintar das vestes de Remus.
James obviamente abriu as cortinas antes de sair, e - Remus pensou com certo
aborrecimento - não havia recebido a mesma repreensão de Sirius que ele.
Havia luz suficiente para ele separar ordenadamente seu dever de casa e
guardá-lo cuidadosamente em sua bolsa. Ele fez toda a lição que deveria ser
feita para os próximos dias, sem saber quanto tempo Madame Pomfrey o faria
ficar longe das aulas. Ele esperava que não fosse muito tempo - pediu a James
para anotar a lição de casa nas aulas que compartilhavam, mas ele perderia
matérias em Trato das Criaturas Mágicas e Runas também. Não poderia muito
bem pedir a qualquer uma das garotas que pegasse as anotações para ele, não
sem que elas perguntassem onde ele estaria.
Peter olhou para Sirius - que ainda era apenas um releve sob o edredom -
ansiosamente, antes de ir na ponta dos pés com cuidado até sua própria cama
para pegar a gravata. Remus observou divertido enquanto Peter tentava juntar
suas coisas sem fazer nenhum som. Havia uma linha tênue, Remus pensou,
entre mostrar respeito pelos hábitos de sono de seus companheiros de
dormitório e apenas ser um completo e absoluto covarde.
Remus ofegou de tanto rir, tendo que se sentar em sua própria cama, segurando
o estômago. Quando ele abriu os olhos, ainda recuperando o fôlego, Sirius
estava acordado, ainda deitado na cama, apoiado em um cotovelo, olhando
para Remus como se ele estivesse louco.
"Idiota."
"O que? Pete parecia um tolo andando na ponta dos pés perto de você, não
pude evitar. "
"Ele está bem," Remus acenou com a mão indiferente, "Vou levar a gravata
dele. Enfim, alguém tinha que te acordar, vamos lá, é café da manhã. "
"Não."
"Peter traria."
"Não vou demorar! Apenas trate como penitência por ter me acordado."
"Não."
"Bem, então." Sirius saiu da cama, pegando seu uniforme. "Bem feito para
você de qualquer maneira, levantando em uma hora ridícula da manhã."
Sirius parou do lado de fora da porta do banheiro. Ele olhou para Remus com
algo parecido com pena - se Sirius Black ainda pudesse sentir pena de alguém
além de si mesmo. Remus se arrependeu de ter dito qualquer coisa - ele não
queria piedade, ele raramente mencionava a lua cheia exatamente por esse
motivo.
"Desculpe, Lupin." Sirius disse, "É ... quero dizer, você fica preocupado com
isso?"
"Não, não é assim", disse Remus, apressadamente, "Eu só fico agitado. Com
fome também, então se apresse." Ele riu, levemente, para mostrar que estava
tudo bem. Sirius sorriu, desaparecendo no banheiro.
"Você deveria estar grato, Moony," ele gritou de dentro, ligando o chuveiro,
"Poucos Grifinórios seriam capazes de se deitar quando sabem que estão
dividindo o quarto com um lobisomem agitado."
***
Ele acordou no andar de cima, o que era incomum. Havia ratos na casa, ele
sabia disso porque os via com frequência antes de se transformar. Talvez
quando estava, ele os perseguia, mas achava que nunca chegou a pegar um.
Três de seus dedos estavam quebrados, mas pelo menos seus ombros não
haviam se deslocado - isso já havia acontecido duas vezes este ano.
Antes de se mover, Remus fez uma série de check-ups mentais da cabeça aos
pés. O que estava machucado? Quanto doía? Ele estava dormente em algum
lugar? Todos os seus membros se moviam quando ele queria? Não, tudo
parecia certo. Alguns arranhões, nenhum muito profundo. Ele havia saído
dessa facilmente. Talvez o lobo também estivesse feliz por estar de volta a
Hogwarts.
Ele se levantou do chão e foi mancando até a janela. Às vezes, seus joelhos
ficavam um pouco desarticulados, mas esta manhã eles estavam apenas
doloridos. Ele tentou apertar os olhos pelas fendas das tábuas, mas não
adiantou. A casa fora totalmente lacrada.
***
"O que eu disse a vocês, meninos? Ele não pode receber visitas no primeiro
dia!" A repreensão da Madame Pomfrey interrompeu seus sonhos. Remus
piscou, bocejando. O hospital estava mal iluminado, as cortinas fechadas. Já
devia ser noite. Seu estômago roncou. Ele se perguntou se já tinha comido
alguma coisa ou se a enfermeira o tinha deixado dormir em vez disso. Ele
perdia tanto tempo, depois de uma transformação - como seus ossos, nada
parecia se encaixar perfeitamente.
"Já faz quase um dia", era a voz de Peter agora. "Trouxemos chocolate para
ele."
"Bem, isso é muito legal da sua parte, querido," a voz da Madame Pomfrey
suavizou um pouco. Ela não era uma disciplinadora natural. "Mas o Sr. Lupin
está dormindo –"
"Eu adoraria um pouco de chocolate", ele falou, esperando que eles pudessem
ouvi-lo. Sua garganta parecia em carne viva.
A cortina se abriu para revelar Peter, James e Sirius parados ali, parecendo
triunfantes.
"Ei, Moony!" James e Sirius falaram em coro, jogando-se na ponta da cama,
um de cada lado de seus tornozelos.
"Aqui está," Peter deixou cair três sapos de chocolate em seu colo.
"Valeu!"
"Aqui está sua lição de casa, seu esquisito." James puxou um pergaminho de
sua bolsa, entregando-o,
"E aqui está o resto," Sirius entregou-lhe mais alguns. "Eu tive que esperar fora
da sua aula de Trato das Criaturas Mágicas pela metade do almoço, então é
melhor você tirar as melhores notas nisso."
"Você esperou?!" Remus olhou para Sirius, surpreso. Sirius acenou com a
cabeça, imperiosamente,
"Sim. Tenho que admitir também, estou com um pouco de inveja de você.
Parece uma matéria muito interessante, gostaria de não estar preso a
Adivinhação. "
"Ei, Moony", disse Peter, de repente, "Arbella Fenchurch me deu isso para
você", ele largou um punhado de sicles. "Ela disse que você sabia para que
era?"
"Er... sim, valeu Pete." Remus rapidamente tentou juntar as moedas e escondê-
las debaixo do travesseiro. "Eu, hum ... eu tinha um cartão de sapo de
chocolate que ela realmente queria. Aglaonike da Tessália."
"Por quê?"
"Não se esqueça que você me deve um galeão naquela aposta que fizemos."
"Nunca." Sirius sorriu de volta, "Você percebe que esta é a maior emoção que
tive em meses? Eu nem mesmo tive permissão para ir ao Beco Diagonal neste
verão."
"Você tinha mais coisas acontecendo do que eu," James respondeu, ressentido,
"Você pelo menos teve todo aquele drama de noivado. Minha família é tão
chata."
"Eu me diverti muito na França." Peter ressaltou, mas ninguém prestou muita
atenção nele.
"E você, Moony?" James perguntou, enquanto desciam as escadas para a sala
comunal. Um grupo de terceiranistas empolgados esperava, pronta para sua
primeira visita à aldeia. Eles eram vigiados com uma espécie de nostalgia
afetuosa pelos alunos mais velhos.
"O que tem eu?" Remus perguntou, afastando flashbacks do verão, a memória
de se esgueirar por uma janela minúscula do banheiro e cair de joelhos no
ladrilho abaixo.
"Como foi seu verão? Você não nos contou nada. "
"Nada a dizer." Disse Remus. "Mais chato do que o de vocês - sem mágica. Eu
só li."
"Bem, vocês todos estão vindo para a minha casa no Natal." James disse,
alegremente. Eles começaram a sair da sala comunal e seguir em direção à
entrada principal. "Igual ao ano passado, certo? A lua é no dia 10 de dezembro,
então nem precisamos nos preocupar com isso."
"Como você sabe quando é?" Ele nem tinha olhado tão longe ainda.
"Eu te disse, estávamos entediados no verão," Sirius deu uma cotovelada nele,
"Nós pesquisamos, pelos próximos anos."
"Mas ... por que?!" Remus estava dividido entre se sentir muito tocado e um
tanto violado. Não era para eles se preocuparem. Era seu problema particular, e
sempre fora.
"É como quadribol." James disse - sempre que algo era importante para ele, ele
comparava com o quadribol - "Você tem que conhecer os pontos fracos do seu
time para trabalhar seus pontos fortes."
"Se você diz." Remus respondeu, taciturno, não querendo falar muito mais
sobre isso. Ele esperava que, uma vez que soubessem sobre sua condição, não
haveria mais pesquisas sobre isso pelas costas. Que todos continuariam com as
coisas da maneira que ele preferisse - que era ignorar o problema
completamente.
O problema era que nada era privado quando se tratava de James e Sirius - sua
vida inteira estava à disposição. Remus ainda não estava acostumado com isso
- por mais que tentasse acompanhar, haveriam algumas coisas que ele nunca
iria querer compartilhar. Era tudo mais fácil se você fosse James e tivesse pais
abertos que falassem com você e o ouvissem em troca. Ou Sirius, que era tão
extrovertido e quase totalmente sem vergonha.
"Olha quem é," Sirius cutucou James, apontando para uma figura escura
esperando na entrada em arco. Lily passou pelos Marotos e foi ao seu encontro.
Snape.
"Por que eles são amigos?!" James passou as mãos pelos cabelos
distraidamente.
"Ela me disse."
"Você gosta dela, então?" James perguntou, claramente lutando para saber
como reagir. Remus revirou os olhos.
"Não. Nós apenas conversamos." disse ele, com firmeza. "E se você gosta dela,
então talvez devesse tentar."
"Mas ela gosta de você." Disse James. "Vocês fizeram todas as suas revisões
juntos no semestre passado."
Quando eles finalmente chegaram a Hogsmeade, Remus não poderia estar mais
aliviado. A vila parecia o tipo de lugar que Remus pensava que só existia nos
livros infantis. As ruas de paralelepípedos cintilavam ao sol amarelo de
meados de setembro, e as fileiras desordenadas de chalés estilo Tudor com
vigas pretas, pareciam ser feitas de pão de mel e açúcar de confeiteiro.
"Dedos de mel?"
"Dedos de mel."
Remus nunca tinha entrado na loja de doces pela porta da frente antes, nem
tinha estado no piso da loja. Estava cheio até as vigas com caixas, potes e sacos
de todo tipo de doces imaginável. Grandes árvores de pirulitos de cores vivas,
grandes como cata-ventos, barras de chocolate do tamanho de pedras de
pavimentação; pilhas e mais pilhas de ratinhos de açúcar.
Depois disso, a próxima parada foi a Zonko's, a loja de brincadeiras, que estava
tão movimentada quanto a Honeyduke, e fora um dos lugares mais barulhentos
que Remus já estivera. A cada poucos segundos, alguma coisa parecia
explodir, estalar ou começar a assobiar em algum lugar da loja, acompanhada
pelas risadas encantadas ou gritos horrorizados dos alunos. James e Sirius eram
claramente experientes em compras e fizeram uma varredura eficiente nas
instalações, avaliando os benefícios e as desvantagens de cada engenhoca
como um par de banqueiros na bolsa de valores. Meia hora depois, eles
finalmente estavam saindo, carregados de sacos cheios de bombas de bosta,
varinhas artificiais, tinteiros explosíveis, balas de soluço e barras de sabão de
rã.
Remus pensou que eles talvez tivessem sido um pouco precipitados de fazer
todas as compras primeiro, porque em seguida James e Sirius queriam visitar a
Casa dos Gritos, o que significava deixar a rua principal e enfrentar uma
subida íngreme, carregando todas as mercadorias.
"Então, que lugar é esse, de novo?" Remus bufou enquanto lutava para subir a
colina, seu joelho e quadril ainda o incomodando.
"Eu ouvi dizer que os fantasmas de lá são realmente horríveis," Peter disse,
ansioso, lutando quase tanto quanto Remus estava com a inclinação íngreme.
"Piores que Pirraça."
"Acho que sim", disse James, "os moradores locais dizem que ouvem gritos
vindos da casa algumas noites."
"Só por alguns anos, no entanto," Sirius rebateu, "Poltergeists não se mudam a
qualquer momento. Teria que haver décadas e décadas de perturbação e
acumulação de energia negativa para ..."
Lupin parou e quase deixou cair as sacolas que ainda segurava. Ele olhou para
a casa pela primeira vez, e um calafrio atingiu seu estômago.
"O que foi, Moony? Quer que eu leve suas outras sacolas?" James estava
perguntando.
Remus balançou a cabeça, sem palavras, ele não conseguia desviar os olhos.
Ele nunca tinha visto pelo lado de fora antes; eles sempre vinham pelo túnel.
Mas ele reconhecia o tom da madeira, sabia como eram as janelas com tábuas.
"Caramba, se for assombrado, então eu acho que Moony está possuído." Sirius
disse, soando como se ele estivesse meio brincando. "ei, Lupin. Você está
estranho, pare com isso."
"Essa é..." Remus lutou para encontrar as palavras. Ele fechou os olhos e
tentou respirar algumas vezes. "Essa é a casa. Onde eles me colocam."
"Então ... na lua cheia, é para lá que você vai?" Peter perguntou. Remus acenou
com a cabeça, brincando com um porta-copos úmido na mesa. "Não é
assombrado, então?" Peter continuou.
"Eu."
"Cale a boca, Pettigrew." Sirius rosnou, de repente. Remus olhou para ele,
surpreso.
Eles não fizeram. Em vez disso, passaram uma tarde muito agradável bebendo
cerveja amanteigada e planejando a melhor forma de utilizar seu novo arsenal
de brincadeiras práticas. Peter teve a ideia extraordinariamente brilhante de
lançar um feitiço temporizador remoto nas bombas de bosta, para que
pudessem ser acionadas a qualquer momento de qualquer lugar do castelo.
"Ah, não vamos sentar aqui, Lily, não parece muito limpo." Uma voz
desagradável e amarga os interrompeu: "Eles permitem todos os tipos,
claramente."
Sirius saltou para frente em sua cadeira, olhando para Snape, que estava
pairando ao lado de uma mesa próxima.
"Não seja bobo, Sev, está tudo bem." Lily balançou a cabeça, puxando uma
cadeira.
"Tudo bem, Evans?" James acenou para ela, compulsivamente, ficando com
aquele olhar estúpido no rosto.
"Oi," ele acenou para ela, sorrindo. Ele não podia deixar de gostar da maneira
como ela tratava os marotos, ela era a única que não os bajulava.
"Eurgh," Sirius disse, segurando o nariz, olhando para Snape, "Que cheiro é
esse? Potter, você pisou em alguma coisa no caminho? "
"Como está a família, Black?" Ele perguntou, sua voz lisonjeira, insidiosa. A
boca de Sirius formou uma linha dura. Snape continuou, "Regulus estava
dizendo a todos que você teve um verão bastante
emocionante. Tão empolgante, na verdade, que você não é mais bem-vindo de
volta, hein?"
"Você não sabe do que está falando, Snivellus." Sirius cuspiu. Remus sabia
que agora era tarde demais - Sirius havia se envolvido e não haveria mais
volta.
Sirius tinha uma expressão muito estranha no rosto. Remus teve a impressão de
que estava percebendo algo pela primeira vez e tentando não deixar Severus
perceber. James parecia preocupado, não mais rindo.
Sirius se levantou, jogando sua cadeira para trás. Sua varinha estava em sua
mão; ele deve ter estendido a mão para pegá-la enquanto Snape falava. Remus
se levantou também, seus ossos doloridos esquecidos quando ele cerrou os
punhos, pronto para bater Severus até deixá-lo sem sentido, se Sirius desse a
ordem.
"Sirius, não!" James foi tirar sua varinha - eles não tinham permissão para
fazer mágica em Hogsmeade.
"Não." Sirius disse, sua voz irritantemente firme e autoritária. "Estamos indo
embora. Vamos, rapazes, não aguento mais esse fedor. "
Eles obedeceram às ordens, até mesmo James, que lançou apenas um olhar
ansioso para Lily ao sair.
"Isso foi ... muito maduro", disse Potter, coçando a cabeça enquanto saíam do
pub para a luz quente da noite. Sirius bufou, voltando para Hogwarts.
"Não acabou." Ele disse, ferozmente, os outros correndo para alcançá-lo com
seus passos decididos. "Vou mostrar a ele. Eu vou destruir ele! "
*Toc Toc*
"Sirius."
Nada.
"Sirius?"
"Oh, pelo amor de ... Sirius Orion Black Terceiro, eu sei que você está aí!"
James bateu na porta.
"Deixa ele em paz," disse Remus, virando a página de seu livro. Ele deitou de
barriga para baixo em sua própria cama, fingindo que não estava nada
preocupado. "Ele vai sair quando estiver pronto."
Isso era algo que ele sempre ouvia a Matrona dizer. Pelo menos uma vez por
semana, um dos meninos de St Edmund - geralmente um garoto novo - tinha
um acesso de raiva e se trancava em um quartinho ou se arrastava para algum
espaço pequeno onde ninguém pudesse alcançá-lo. A resposta dos funcionários
era sempre a mesma; ignore até que ele perceba que ninguém se importa; até
que perceba que nada que ele fizer fará diferença. Sempre funcionava, Remus
sabia disso em primeira mão.
"Black já odeia sua família, no entanto. Não sei por que ele deixa Snivellus
incomodá-lo com isso. "
James olhou para Remus, pasmo, como se tivesse acabado de dizer algo
inimaginavelmente cruel.
"Não significa que ele não se importe com o que eles pensam." James suspirou.
"Olha, Lupin, talvez seja melhor você ir antes que ele saia. Vá e encontre Pete
na biblioteca ou algo assim. "
"Sim, sim, claro que você é", James acenou com a mão, "Mas bem ... se ele
estiver chorando, acho que prefere que ninguém mais veja."
Mais do que nunca, Remus queria confessar sobre ter dado a Narcissa a ideia
do voto perpétuo, só para ver o rosto de James. Mas ele se acalmou. Não era
uma competição e, mesmo que fosse, não era uma que ele ganharia.
"Ok," disse James, "mas você tem que ser compreensivo sobre isso. Você não
pode começar uma briga."
"Do que você está falando?" Remus ficou mortalmente ofendido. Ele nunca
começava brigas.
O garoto de cabelos escuros pulou da cama mais uma vez e voltou para a porta
do banheiro.
James suspirou novamente. Remus, irritado com James agora tanto quanto
estava irritado com Sirius, levantou-se também e foi até a porta. Indicando para
James se mover, ele próprio bateu forte na madeira.
"Sirius, sou eu." Remus disse, sua voz dura e fria, como a da Matrona. "Olha,
se você vai ficar chorando como uma garotinha, pelo menos nos deixe entrar
para que possamos começar a planejar nossa vingança?"
Silêncio.
Remus resmungou, "Tudo bem, se deprima aí. Mas você está sendo um idiota
egoísta. Você sabe, você não é o único que tem uma família te odeia. "
"Não fiz de propósito," Sirius fungou, limpando o nariz com as costas da mão.
Foi um gesto taciturno e infantil, de alguma forma impróprio para Sirius que
era, mesmo aos treze anos, geralmente o epítome de graça e equilíbrio. "Eu
ainda destruo coisas às vezes, quando estou com raiva. Minha magia sai do
controle."
"Ah, certo," Remus assentiu, embora nunca tivesse ouvido falar disso antes.
"Vingança." Remus concordou: "O que você quer fazer com ele?"
"Não apenas ele." Sirius franziu o cenho, "Todos eles. Todos os Sonserinos da
escola."
Remus assentiu com entusiasmo - isso soava um pouco maluco, mas era um
começo. Haveria tempo para acalmá-lo mais tarde, quando ele estivesse agindo
menos estranhamente e não corresse o risco de explodir mais lâmpadas.
"Sim, vamos pegar todos eles, Black. Agora vamos lá, vamos lá e—"
"Eu não vou sair ainda." Sirius disse, amuado, cruzando os braços. Remus
suspirou. Ele se sentou no chão, encostado na porta.
"Ok, tudo bem. Gostaria de falar sobre isso? Porque James é provavelmente a
melhor pessoa para –"
"Você realmente quis dizer o que acabou de falar?" Sirius o interrompeu
novamente, "Você acha que minha família me odeia?"
"Ah Deus, eu não sei, não é? Não sou exatamente uma autoridade em
famílias." Remus esfregou a nuca. "Eu só estava tentando fazer você abrir a
porta, para ser honesto."
Ele quis dizer isso como uma piada, mas Sirius não sorriu. Ele olhou para
Remus através de uma cortina de cabelo escuro.
"Bem, eu acho que sim," explicou Remus. "Caso contrário, eles não ... bem, eu
não teria sido enviado para St Edmund's, teria?"
"Não." Remus refletiu, "Mas eu não acho que eles possam ter gostado muito de
mim, mesmo assim."
"Às vezes, obviamente. Mas, você sabe. Ninguém nasce merecendo uma vida
feliz." A Matrona havia dito isso muitas vezes. Pela primeira vez, falando isso
em voz alta, Remus se perguntou se ela estava totalmente certa.
Remus riu,
Remus não sabia o que dizer sobre isso, então ele ficou quieto. Ele pensou em
Narcissa, jurando enfrentar a morte se não pudesse se casar com Lucius. Ele
pensou em Regulus, que muitas vezes olhava para o irmão mais velho do outro
lado do salão, olhos verdes de ciúme. Famílias eram um negócio complicado.
Talvez ele devesse ser grato a Lyall Lupin por terminar tudo de uma só vez,
para que Remus nunca tivesse que saber se ele deixaria seu pai orgulhoso ou
não, ou se ele teria sido uma decepção afinal.
***
"Ai! Que diabos, há algo errado com aquele balaço! " Sirius gritou,
levantando-se. "Vamos, McKinnon, mova sua maldita bunda!"
"Sabe, Moony, você poderia mostrar um pouco mais de interesse." Sirius disse.
"Se eu te contasse, teria que te matar." Sirius disse, secamente. Mary revirou os
olhos,
"É o Snape?"
Todos os três meninos olharam para Mary com surpresa. Ela riu: "Qual é, não
é exatamente um segredo – vocês têm algo desde o primeiro ano. Além disso,
Lily é uma das minhas melhores amigas."
"Não fale comigo sobre Evans." Sirius resmungou, "Já ouço o suficiente."
"Eu acho que ela é uma idiota, andando por aí com aquele esquisito." Mary
disse, esfregando os braços como se apenas o pensamento de Severus fizesse
sua pele arrepiar. "Você sabe que ele fez Marlene chorar outro dia? Chamou o
pai dela de algo realmente desagradável. Não faz sentido também, porque Lily
diz que ele é mestiço, Severus ... de qualquer maneira, alguém precisa lhe dar
uma lição. "
"Sim." Mary disse friamente. "O Remus também. E eu sou nascida trouxa. E
daí?"
Remus finalmente ergueu os olhos de seu livro para sorrir maliciosamente para
Sirius, levantando uma sobrancelha para ele. Sirius olhou para baixo e de volta
para o quadribol.
Remus estava inclinado a concordar com Mary, que tinha mais coragem do que
ele, colocando Sirius em seu lugar daquele jeito. Os insultos dos Sonserinos
definitivamente aumentaram neste período, embora só pudessem ser
perceptíveis para estudantes de sangue não puro. Remus começou a se
preocupar em andar sozinho entre as aulas, embora raramente precisasse. Ele
teve alguns quase acidentes de qualquer maneira, e foi chamado de sangue-
ruim duas vezes. Ele não disse isso a James ou Sirius, parecia um pouco como
um choramingo. Além disso, no que diz respeito aos insultos, já havia sido
chamado de coisas piores que 'sangue-ruim'.
Ele não gostou da ideia de que isso fez Marlene chorar, no entanto. Estava tudo
bem que Remus fosse incomodado por Snape e Mulciber, ou mesmo pelo
pequeno e sádico Bartô Crouch, mas fazer garotas chorar era outra coisa.
Remus sentiu uma onda de proteção e cavalheirismo em relação a amiga. Ele
cerrou os punhos e depois os abriu.
O problema era que Snape não era o tipo de atacar com feitiços e grandes
pegadinhas. Ele podia fazer ambas as coisas, ele era tão capaz quanto os
marotos. Mas Snape usava palavras para ferir as pessoas - e elas eram muito
mais difíceis de rebater.
"Oh." Remus largou o livro de repente. Ele agarrou o braço de Sirius, "Oh!"
"O que?" Sirius franziu a testa para ele. Ele estava absorto em assistir o
treinamento enquanto a mente de Remus vagava. Houve outra oportunidade
para Sirius se juntar ao time de quadribol este ano, mas ele recusou. Talvez
porque ele mudou de ideia. Talvez porque estava com vergonha de tentar
novamente.
"Sim! Existem feitiços que você pode fazer para impedir alguém de falar,
certo?"
"Ok, então quão mais difícil pode ser para ... tipo, distorcer suas palavras?
Poderíamos definir uma palavra-gatilho – ou algumas – sangue-
ruim, ou traidor do sangue, ou mestiço, ralé, baba ovo de trouxa ou ... qualquer
coisa. E, em vez disso, fazemos com que ele diga algo realmente bom. Ou algo
estúpido. O que quisermos."
Mary deu uma risadinha. Remus se perguntou se Sirius achou isso tão irritante
quanto ele. Ele pegou seu livro e voltou para a Aritmancia.
"Você deveria estar fora do campo às cinco horas." Alguém grunhiu na frente
deles.
"O que é, Black?" Bulstrode zombou: "Se esse ainda é o seu nome." Todos os
sonserinos riram. Incluindo seu menor e mais novo membro, que estava atrás
dos outros.
Regulus Black.
Foi preciso James e Remus para puxar Sirius, enquanto os sonserinos riam e
sussurravam.
"Sirius, é melhor você pensar sobre as palavras que a gente vai substituir, você
é o mais ... er ..."
"Os marotos são uma utopia socialista", Sirius bocejou novamente, "Não temos
líderes".
"Gostando de estudos dos trouxas, não é?" Remus ergueu uma sobrancelha.
Sirius deitou a cabeça na mesa de jantar, fechando os olhos e mostrando dois
dedos para Remus.
"Que diabos?" James abriu a carta oferecida pelo pássaro com uma carranca.
"O ... Club do Slug?!"
"Ah sim," Sirius abriu um olho sonolento, "Eu também recebi uma.
Aparentemente, o velho preguiçoso gosta de alunos que têm uma certa
qualidade de estrela. Então, eu, obviamente. E suponho que você também. "
Nem Peter nem Remus receberam um convite; mas isso não foi uma grande
surpresa. Peter era muito bom em Poções, mas quase não tinha aptidão para
qualquer outra coisa. Quanto a Remus, ele tentava voar sob o radar do
Professor Slughorn.
"Nós não iremos então." James disse, dobrando sua carta com decisão. "Nós
marotos somos um por todos e todos por um."
"Eu não me importo," Remus deu de ombros, "Vá se quiser. Aposto que a Lily
vai. "
"Você acha!? Verdade, ela é realmente boa em Poções, não é? " James disse,
ficando com aquele olhar engraçado no rosto novamente, "Ela é muito boa em
tudo, provavelmente a mais inteligente do ano-"
Sirius fechou os olhos mais uma vez, satisfeito e tentou cochilar durante o
resto do café da manhã.
***
Depois dos kneazles, eles viram fadas mordentes e crupes. Esta semana foi
murtiscos. Mary e Marlene gritaram para as criaturas que Ferox apresentou em
uma grande gaiola no fundo da sala de aula. Remus não podia culpá-las -
murstiscos eram extremamente desagradáveis. Eles eram criaturas parecidas
com ratos, com massas de tentáculos brotando de suas costas como vermes.
Remus não se importava - eles eram nojentos, mas ele não se importava com
coisas nojentas. Ele tinha um estômago bem forte; Professor Ferox já havia
dito isso a ele na semana passada, quando eles estavam assistindo a eclosão
dos ovos de fada mordente. Remus sorriu com orgulho o dia todo.
"Sr. Lupin, tenho certeza de que posso contar com você para me dizer as
propriedades benéficas dos tentáculos de murtiscos."
"Eles são realmente bons para curar cortes e machucados superficiais", disse
ele, prontamente, "E se você os comer, eles o tornam imune à maioria das
maldições comuns."
Veja bem, ele teria que começar a comer mais, ou a fazer musculação ou algo
assim, porque se Ferox era alguma coisa, era grande. E Remus, embora fosse
centímetros mais alto que os outros marotos, permanecia eternamente
esquelético.
"É o seu metabolismo." Madame Pomfrey disse a ele, quando ele perguntou
uma manhã depois da lua. "Você poderia comer mais ou descansar mais, mas
pode ser apenas uma dessas coisas sem jeito, eu temo. Mas não se preocupe
querido, você é tão saudável quanto se poderia esperar. "
Isso não parecia muito reconfortante, mas ele aceitou. Seu pai também era
magro, ele tinha certeza. Pelo menos ele não era rechonchudo, como Peter, que
ainda parecia um garotinho em comparação com o resto deles.
Esse fato ficou ainda mais claro naquela noite, quando Sirius e James estavam
totalmente vestidos em seus robes formais, parecendo em cada centímetro
como jovens lordes donos de mansões, e Peter sentou-se olhando para eles com
inveja de sua cama, já de pijama.
"Você acha que vai ter dança?" Sirius perguntou, ansioso, endireitando a
gravata.
"Eu odeio esse tipo de coisa. Moony, vá por mim, aposto que o Sluggy nem vai
notar. "
"Até parece," Remus bufou atrás de sua cópia de Ataque Verbal: Trava-
Línguas Defensivos "Slughorn nem consegue lembrar meu nome na maior
parte do tempo. E acho que ele não vai gostar muito quando estiver esperando
um puro-sangue Black e conseguir o garoto mestiço que ele vive chamando
de Linchpin. "
"Ugh. Ele é um velho palerma nojento. Como uma lesma de verdade." Sirius
sorriu para si mesmo e cutucou Remus com o cotovelo, "Heh, uma lesma de
verdade, Moony."
"Você está pronto, então?" James suspirou, jogando fora seu pente,
aparentemente aceitando que sua tentativa era inútil.
"Eu vou descer com vocês," Remus disse, "Aproveito e já passo na biblioteca.
Quer vir, Pete? "
Peter olhou para ele como se ele fosse louco e balançou a cabeça.
James, Sirius e Remus desceram para a sala comunal, onde - para a alegria de
James - Lily estava esperando por eles em um vestido turquesa muito bonito.
Infelizmente para James, no entanto, conforme os três marotos se
aproximavam, ficava claro que não era ele que ela estava esperando.
"Você está bonita, Evans," disse James, esperançoso. Sirius suspirou alto.
"Eu queria falar com Remus," disse Lily, ignorando James. "Você me
acompanha até a festa?"
"Sobre o que você quer falar?" Remus perguntou, impaciente. Seu livro estava
pesado, e a lua cheia era sexta-feira, deixando-o mais agitado do que de
costume.
Lily olhou para James e Sirius, claramente não querendo dizer nada na frente
deles. Remus suspirou, "Estou indo para a biblioteca. Se você quiser andar
assim comigo, tudo bem. " Isso tiraria Lily do caminho, mas Remus decidiu
que não se importava. Ele empurrou o buraco do retrato e a ouviu correr atrás
dele, seus sapatos de festa pretos estalando nas lajes.
"Para que é esse livro?" Lily ofegou, lutando para acompanhar os passos
compridos de Remus.
"Não é algo ruim, é?" Lily perguntou, desaprovando, "Não é outra coisa
horrível para fazer com Severus?"
"Eu sabia que era sobre isso que você queria falar," Remus revirou os olhos,
ainda andando.
"Bem, você tem que admitir, Sirius começou naquela vez em Hogsmeade,
quero dizer, ele chamou Sev-"
"Eu não me importo, Lily." Remus retrucou, virando uma esquina, "Ele não
precisava ser tão baixo, Sirius e James estavam apenas rindo, e Snape teve que
ir e tornar pessoal."
"Você sabe que ele odeia pessoas como você também, não é?" Remus rebateu,
parando agora que eles estavam fora da biblioteca. Ele se virou para ela: "Você
sabe que o tipo dele odeia o nosso."
"Ele fez Marlene chorar," Remus persistiu, "Mary nos contou. O que você acha
que ele diz pelas suas costas? "
"Sev nunca diria algo assim sobre mim! Ele é meu melhor amigo!"
"Ah ótimo para você, mas o resto de nós não tem tanta sorte." Remus rebateu.
Lily olhou para ele, piscando por alguns momentos, atordoada em silêncio. Ela
parecia prestes a chorar, e Remus sentiu uma pontada de culpa. Quando ela
falou novamente, sua voz era mansa e baixa.
"Não só ele. Todos eles." Ele disse, baixando a voz e curvando-se um pouco
para o caso de serem ouvidos: "E não é nada ruim. Se ele parar de xingar as
pessoas, então nada vai ser feito."
Ela olhou para ele com ceticismo. Ele se endireitou. "É tudo que direi. Você
vai se atrasar para a sua festa. "
***
Mais tarde naquela noite, Remus pensou que tinha quase decifrado. Ele estava
sentado na sala comunal e havia feito suas anotações finais. Agora tudo que ele
precisava era a lista de palavras de substituição de Sirius e eles poderiam
começar a trabalhar na pegadinha. Eram quase onze horas quando o buraco do
retrato se abriu e Lily Evans entrou com uma expressão de raiva pura. Havia
estranhas marcas prateadas em seu vestido que refletiram a luz quando ela
entrou.
"E aí, Evans?" Remus perguntou, hesitante, ainda sentindo um pouco de pena
por ser tão rude com ela fora da biblioteca.
Ele não se perguntou a quem ela estava se referindo, mas se tivesse, teria sido
respondido em instantes, quando Sirius e James entraram pelo buraco do
retrato em seguida, rindo histericamente. Remus não pode deixar de sorrir
também - a alegria deles era contagiante.
"Foi tudo Sirius, cara," James deu um tapinha nas costas do amigo, então se
curvou para ele elaboradamente, agitando sua mão. Sirius fez o mesmo de
volta,
"Feito o que?" Remus perguntou, tentando conter sua irritação que surgiu do
nada.
"Lesmas." James disse, "Lesmas, malditas lesmas por toda parte. Comecei com
esses pequenos doces de lesma de geleia que foram colocados para comer,"
"Mas então," James sentou ao lado de Remus, com os olhos brilhantes, "Então
elas começaram a se multiplicar ..."
"Bem ... você viu os pedaços pegajosos no vestido dela? E um ... um pouco no
cabelo também, eu acho. As lesmas se moviam muito rápido, elas meio que se
espalharam em todo lugar ..."
"Aquela lá não tem senso de humor." Sirius bocejou. "Ela deveria estar nos
agradecendo por animar um pouco as coisas."
"A ousadia de algumas pessoas," disse Remus, secamente.
"Viu, você entende, Moony," Sirius sorriu, "Você nos deixaria te sujar com
lesmas, não é?"
"Sim, estava bastante óbvio. Éramos os únicos que não estavam gritando."
"Detenção?"
"Boas notícias, no entanto," Sirius disse, "Chega de festas para nós - estamos
fora do Clube do Slug."
"E entramos para os livros de história!" James gritou, fazendo com que os três
se dissolvessem em ataques de riso.
47. Terceiro Ano
James Potter e o Estrume Colossal de Elefante
"Está tudo bem, Moony, todos nós sabemos o que estamos fazendo." James
disse, voltando do treino de quadribol encharcado e coberto de lama. As noites
estavam ficando cada vez mais escuras e Remus raramente ia assistir ao treino
do time, embora Sirius e Peter geralmente o fizessem. Mary sempre ia também,
para assistir Marlene. Ela vinha os seguindo em todos os lugares nos últimos
dias.
"Eu só acho que deveríamos testar," Remus mordeu o lábio, observando Sirius
lançar um feitiço de secagem em James.
"Ah não." Peter disse, cruzando os braços: "Não serei sua cobaia desta vez. Da
última vez, não consegui me livrar daquele pedaço de cabelo roxo por
semanas!"
"Eu tinha esquecido disso", disse Sirius, sonhador, "Funcionou muito bem,
uma vez que descobrimos como lança-lo."
"Não reclame, Pete," Sirius gemeu. Ele se jogou na cama. "Faça em mim,
Moony, não sou um covarde."
"Ah, pelo amor de Deus." James suspirou, tirando sua roupa de quadribol,
"Faça em mim, Lupin, eu não me importo. Só não quero dizer nenhuma
palavra dessa sua lista horrível. Você pode fazer com outra?"
"Hm, sobre esta lista, Moony ..." Sirius disse, pegando-a da mesa de cabeceira,
"O que?"
"Sim," Remus ergueu uma sobrancelha, "Qual é o seu ponto? São todos
insultos contra não-puro-sangue, não são? "
"Sim," Sirius disse, coçando o queixo, "Sim, eles são, mas, hum ... bem, eu só
não sabia que houvesse tantos. Nunca os vi escritos assim. E de qualquer
maneira, onde você ouviu tudo isso?!"
"Evans." Sirius disse, de repente, "Estou cansado de ouvir isso sair da boca
dele."
"Não me digam!" James disse: "Faremos um teste cego para sabermos que
definitivamente funciona. Escolha algo que Black ainda não inventou."
Peter teve um ataque de riso tão forte que quase caiu da cama. Sirius deu uma
gargalhada, e James ficou vermelho,
"Eu não sabia que você escolheria algo assim!" Ele disse: "Ela é minha futura
esposa!"
Peter mal conseguia respirar de tanto rir agora, e Sirius teve que se apoiar na
cabeceira da cama.
"Excelente." Remus sorriu. Ele baixou sua lista. "Ei, são seis horas. Vamos
jantar?"
"Desculpe," Remus disse de novo, nem um pouco culpado, "Fique feliz por
não termos escolhido uma palavra comum."
"Oh, eu não acho que você vai," Remus deu um pequeno sorriso, "Quase não
há elefantes na Escócia."
"Você sabe o que eu quero dizer! Colossal! Estrume colossal de elefante?! "
***
"Cale. a. Boca." James cerrou os dentes e olhou duramente para seu prato.
Sirius balançou a cabeça em desaprovação, o rosto contorcido em piedade.
"Eu não vou cair nessa, você sabe. Eu sou mais forte do que isso." Disse
James, cortando seu bife e sua torta com força.
"Ela está bem ali, cara," Sirius disse, tentando controlar seu sorriso, "Como ela
vai notar você se você não chamar ela?"
"Ei, Evans," Remus disse, de repente, acenando para a ruiva, "Quer se sentar
com a gente?"
"Por quê?"
"Você é uma Grifinória, nós somos Grifinórios ..." Sirius disse, levantando-se
para dar a ela seu lugar ao lado de James, "Nós devemos sentar juntos. Além
disso, vai realmente irritar Potter. "
"Bem, nesse caso." Lily se sentou. Sirius empurrou Remus para abrir espaço ao
lado dele. Lily olhou para James com curiosidade, que tinha ficado vermelho
como uma beterraba. "Por que eu te irrito, Potter?"
"Você não me irrita!" Ele disse, rapidamente: "Eles estão apenas sendo
babacas."
"Olhe a boca, Potter!" Sirius disse, severamente, derramando molho sobre seu
purê de batata e ervilhas. "Isso não é jeito de falar na frente de uma senhorita."
"O que está acontecendo?" Lily olhou para Remus com desconfiança, "Vocês
estão tirando sarro de mim?"
"Mutatio Verbi."
"Hum ..."
"Estrume colossal de elefante." James disse, taciturno. Peter cuspiu seu suco de
abóbora e deixou seu garfo cair da mesa. Lily deu uma risadinha, nervosa.
"Colossal...?! Oh, pelo amor de Deus! " Lily olhou feio para Sirius, "É meu
nome, não é?"
"Não olhe para mim!" Sirius sorriu, erguendo as mãos, "Foi ideia do Moony!"
Lily se virou para Remus, sua carranca desaparecendo.
"Sério, Remus?"
"Err ... sim, mas não era para ser ofensivo ou qualquer coisa-"
***
"Ah sim, faz sentido. Hum ... Moony, vá e tropeça em um deles ou algo assim.
Faça isso com o Snivellus. Ou minha prima, sim, vá em Cissy! "
"Não." Remus disse, baixinho. Ignorando o fato de que ele realmente não tinha
nenhum problema com Narcissa, ele não queria ser tão óbvio. "Vamos apenas
esperar. Paciência, Black, paciência. "
"Não vai." Mary disse, friamente. "Vocês três devem ser cegos se não viram o
que está acontecendo por aqui." Isso os calou.
Mary estava sentada ao lado de Sirius pela segunda vez naquela semana.
Remus não se importava - ele gostava de Mary, ela era engraçada, descarada e
teimosa, mas infalivelmente gentil e cheia de compaixão. Ela era sua amiga.
Mas. Bem, ela não era um maroto, era?! Sua presença parecia intrusiva, de
alguma forma; não combinava bem com o vai e vem de costume. E
ela sempre se sentava ao lado de Sirius, o que significava que ninguém podia
falar com ele sem que ela ouvisse e lhe piscasse os cílios. Claro, Remus sabia
que ela gostava dele e tudo mais, mas ele não tinha certeza se Sirius sabia disso
ainda - ou talvez fosse assim que você deveria agir quando alguém gostava de
você.
"O que está acontecendo, então?" James perguntou, muito sério. "Você anda
sendo xingada, MacDonald?"
"Tem sido pior este ano. Você deve saber, Remus? "
"Se você fizer meu dever de Poções." Remus respondeu, rápido como um
dardo.
"Está bem! Qualquer coisa! Eu vou te dar minha maldita vassoura se você..."
"Finite." Remus apontou sua varinha para James. James olhou para ele,
parecendo atordoado. Ele limpou a garganta.
"O que é agora, Potter?!" Lily se virou, sua conversa com Marlene
interrompida.
"Obrigada, Moony."
"Estou à disposição."
"Sim."
"Eu nunca disse que era difícil. Vocês, puros sangues, não têm um pingo de
senso comum entre vocês."
Mary guinchou de tanto rir, James engasgou com sua batata assada e Sirius deu
um tapa nas costas de Remus.
O lufano estava tremendo tanto que derramou sua bebida, derramando a maior
parte em suas próprias vestes, mas também borrifando levemente as pontas dos
enormes sapatos pretos de Mulciber. O sonserino de nariz arrebitado agarrou o
outro pela gravata - o resto da mesa da Sonserina se virou para assistir,
ansiosos.
"O que você disse, Mulciber?" Snape perguntou, olhando para ele.
"Puta merda" Sirius disse, baixinho, "Mulciber realmente sabe xingar, hein?
Não achei que eles usariam metade da minha lista. "
"Sente-se, seu idiota." Snape disse ao valentão, que havia soltado a gravata do
lufano e continuava dizendo várias palavras fofas.
"Oie, Moony," uma voz atrás dele o assustou tanto que ele deixou cair a tampa
do porta-malas com um * THUNK * pesado e se virou. James estava saindo do
banheiro, seu cabelo escuro molhado e seus óculos embaçados.
"Oi." Ele disse, esperando que não parecesse estar tramando algo.
"Você está tramando alguma coisa?" James semicerrou os olhos para ele.
"Não."
"Nada!"
"Sim."
"Você não precisa esconder isso de mim, Moony," James riu, facilmente,
jogando a toalha na cama e começando a se vestir. "Eu não vou contar a ele."
Remus apenas deu de ombros sem jeito. Ele realmente só queria esconder o
fato de que tinha passado as últimas duas horas no banheiro feminino do quarto
andar tentando embrulhar o estúpido presente, com a Murta Que Geme
cacarejando no alto, sem dar nenhum conselho útil.
Ele também estava tentando evitar perguntas embaraçosas sobre onde ele havia
conseguido o dinheiro. Seu estoque de cigarros roubados estava quase
totalmente esgotado agora, e ele tinha dinheiro suficiente para comprar
presentes de Natal para seus amigos e - se ele fosse prudente - algo para si
mesmo. Ele não queria nada, mas Remus gostava da ideia de que ele poderia
simplesmente ir e comprar algo se quisesse.
"Sorte que caiu em um sábado este ano", disse ele a James, relaxando um
pouco, "Você sabe o que vamos fazer?"
"E almoço e jantar. Tenho treino de quadribol pela manhã, mas pedi a Hooch
que me deixasse ficar meia hora extra no campo antes que os corvinos entrem,
para que possamos voar um pouco. "
"Ah, legal," disse Remus, com um pouco menos de entusiasmo. Sua ideia de
diversão não era sentar-se na arquibancada de quadribol sozinho em uma fria
manhã de novembro - mas era o aniversário de Sirius, afinal. Talvez ele
pudesse levar um livro.
"Então eu suponho que ele terá que fazer aquele chá da tarde com Regulus e
Narcissa. Então, teremos que descobrir quando isso acaba antes de podermos
organizar uma festa adequada. Você acha que os outros se importarão se
usarmos a sala comunal? "
"Nah," Remus balançou a cabeça, com confiança. Ninguém poderia negar nada
a James e Sirius - especialmente uma festa de aniversário muito barulhenta.
Isso era verdade em qualquer época do ano, mas especialmente nesta semana,
quando a popularidade dos marotos parecia estar no auge.
Desde quarta-feira, Remus mal conseguia andar por um corredor sem ouvir
comemorações ou receber um tapinha nas costas de outros grifinórios, corvinos
ou lufanos. Os sonserinos, ainda carrancudos, lhe fuzilavam com olhares se
passasse por eles - mas não podiam dizer nada. Alguns tentaram, é claro.
Durante os primeiros dois dias após o Halloween, os ocasionais "docinho
angelical" ou "meu pãozinho de mel" podiam ser ouvidos - e recebidos com
risos estridentes. Snape até perdeu completamente a paciência durante a aula
de Feitiços de Sexta-feira e chamou James de "gatinho fofuxo", o que quase
matou Sirius de tanto rir e deixou Lily mortificada.
"Bem feito para eles", Marlene deu uma risadinha, no início da manhã, "Se
eles fossem da Lufa-Lufa, já teriam se livrado do feitiço."
Mary sentou-se com eles no jantar naquela noite, mais uma vez. Uma ou duas
vezes, Remus pensou em perguntar a James como ele se sentia sobre esse novo
arranjo, mas se conteve. Afinal, James parecia não se importar nem um pouco
e continuou como de costume. E Mary não estava fazendo nada de errado ao
sentar-se na mesa de sua própria casa.
Sinceramente, Remus ainda não tinha conseguido entender por que a presença
dela o incomodava tanto, exceto que ela sempre se sentava ao lado de Sirius, o
que ele achava que era uma exibição um tanto óbvia. O contínuo silencio de
Sirius sobre todo o assunto era igualmente irritante. Remus não gostava que
outras pessoas guardassem segredos.
"A que horas você estará livre amanhã, Black?" James perguntou, enquanto
comiam bacalhau empanado crocante e batatas assadas.
"O que você quer dizer?" Sirius perguntou, colocando vinagre generosamente
sobre seu prato, antes de passar a garrafa para Remus. Mary, que estava
tentando alcançar o vinagre, lançou a Remus um olhar engraçado.
"Sabe, que horas você acha que o chá da família Black vai terminar? Para o seu
aniversário?"
"Oooh, é seu aniversário, Sirius?" Mary sorriu: "Você nunca disse! Eu teria
comprado algo para você! "
"Você teria?" Sirius olhou para ela, ligeiramente confuso. Ele se virou para
James, "Eu não acho que o chá vai acontecer este ano. Não me mandaram
nada.''
"Sério?" James ergueu as sobrancelhas, o que sempre dava a ele uma expressão
como a de uma coruja, "Você ... quero dizer, está tudo bem?"
"Bem ... ótimo, então." James sorriu, lançando um olhar para Peter e Remus
que só eles entenderiam, "Podemos começar a planejar a festa mais maneira
que a torre da Grifinória já teve."
"Obviamente." Remus disse, sua voz mais sarcástica do que ele pretendia,
"Todos estão convidados."
"Olha, talvez seja melhor não fazer nada grande." Sirius disse, brincando com
suas ervilhas, "Não estou muito animado."
"Ah por que não?" Mary guinchou "Vai ser divertido! Vai ser tão bom quanto
o aniversário de Remus no ano passado - ainda melhor! "
Sirius não disse nada, e James lançou outro olhar para Peter e Remus. Eles
comeram o resto da refeição em um silêncio quase total.
***
Fomos para o treino de quadribol - sabia que não gostaria de vir, então o
deixei dormir. Vejo você mais tarde. S.
Remus tomou banho e decidiu que era melhor ir para a biblioteca. Ele havia
terminado sua redação sobre as criaturas mágicas da classe XXX e queria obter
uma vantagem inicial nas criaturas da classe XXXX. (Ele soube recentemente
que ele, o Remus Lupin esquelético de treze anos, era classificado como
XXXXX, junto com mantícoras e dragões.)
Eles estavam indo adiante com a festa com ou sem o consentimento de Sirius -
uma decisão tomada por James e apoiada por Remus. Mesmo quando estava
para baixo, Sirius não resistia em ser o centro das atenções e fazer o máximo
de barulho possível. Peter foi encarregado da decoração e - com a ajuda de
Mary e Marlene tudo deu certo –com um baú cheio de serpentinas e balões
escondido no dormitório feminino do terceiro ano. James lidou com os
convites - que, pelo que Remus tinha percebido, envolvia gritar para vários
alunos dizendo a eles que seria melhor eles estarem lá. Remus era responsável
pela comida - algo que era bastante simples quando você tinha acesso ao mapa
e à capa da invisibilidade.
Ele tomou um café da manhã tranquilo sozinho com seu livro. A hora das
refeições estavam muito mais pacíficas, já que os sonserinos haviam sido
temporariamente amordaçados. Mesmo aqueles que conseguiram quebrar o
feitiço ficaram de boca fechada, pelo menos por um tempo.
O livro que Remus estava lendo era tão interessante que ele não conseguia
largá-lo e, em vez disso, continuou a ler enquanto vagava lentamente em
direção à biblioteca, ocasionalmente esticando a mão para evitar bater em
qualquer pilar ou porta. Então, foi completamente culpa sua quando ele bateu
de cabeça em Regulus Black, jogando o garoto mais novo no chão.
"Eu pedi desculpas." Remus respondeu, um pouco irritado. Ele não queria
começar nada, só queria chegar à biblioteca em paz.
"O que você está fazendo vagando sozinho, afinal," Regulus perguntou,
desconfiado, "Planejando algum outro ataque hilário à nossa liberdade de
expressão?"
Remus zombou.
"Ah, é?"
"Hmm?" Remus tentou parecer despreocupado com isso - mas ele não tinha
ideia de que Sirius havia amaldiçoado seu irmão de forma diferente.
"Toda vez que tento dizer o nome da minha casa, sai ..." Regulus olhou
furtivamente ao redor, como se estivesse com medo de ser ouvido, "Vai,
Grifinória, vai!"
"Desculpe," Remus disse, pela terceira vez, "É ... bem, é muito engraçado."
"Claro que você acha isso engraçado." O menino mais novo fungou. Ele era
mais baixo do que Remus, mas de alguma forma ainda conseguiu olhar para
ele de cima, "Você ... seu tipo não consegue entender o que meu irmão está
colocando em jogo. Eu fiz o meu melhor para esconder o pior de nossos pais,
mas ele tem que continuar pressionando ... "
"Então é por isso que ele não foi convidado para o seu chá estúpido de
garotinhas?" Remus perguntou, irritado em nome de seu amigo.
"Narcissa não achou que valia a pena este ano", o olhar frio de Regulus vacilou
e ele desviou. Remus teve a impressão de que Regulus gostaria muito de uma
chance de ver seu irmão. "E esta última brincadeira dele acaba de provar isso.
Ele nunca vai ... voltar. "
"Reg, espere!"
***
"Eu só sei dançar valsa", ele confidenciou a eles em um sussurro, "E vai ser um
inferno se eu tiver que dançar aquela merda de novo."
"Você é Lupin, não é?" Uma garota se inclinou sobre o encosto do sofá, seu
longo cabelo preto roçando o ombro de Remus. Ele a tinha visto antes; ela era
do sexto ano.
"Err, venha aqui!" Ele saltou sacudindo a cabeça freneticamente. Ele até agora
conseguiu conduzir seus negócios de forma privada e sem que os outros
marotos soubessem. "O que você quer?" Ele perguntou, uma vez que eles
estavam no canto mais distante de Sirius e Peter.
"O que?!" Ela exclamou: "Mas Fariahah disse que eram cinco sicles por
maço!"
"Ugh, tudo bem." Ela cruzou os braços e balançou a cabeça: "Um galeão."
"Não posso pegar eles agora. Encontre-me aqui às sete amanhã. Sete da
manhã."
"Em um domingo?!"
"O que está acontecendo aí, Moony?" Sirius olhou para ele enquanto Remus
voltava para o sofá. Seu olhar suspeito era idêntico ao de seu irmão. "Não
é outra namorada?"
"Ah. Está bem." Ele respondeu, tentando não mostrar a ela o quão irritado
estava.
"Eu não poderia dizer a você." Mary respondeu, fazendo a mímica de um zíper
passando por seus lábios. Remus queria que ela fizesse isso de verdade, para
sempre.
"Garotas." Sirius disse, exasperado, "São um pesadelo, todas vocês."
Mary fez beicinho, mas não disse mais nada. Sirius balançou a cabeça para ela,
mas estava sorrindo. Finalmente, ele voltou para Remus, "Então o que você
está vendendo? Aquela garota disse que você estava vendendo alguma coisa."
"Eu vou descobrir, você sabe." Sirius disse, um olhar de alegria em seus
profundos olhos azuis. "Não que eu não esteja grato pelo presente de
aniversário verdadeiramente excelente", ele acenou com a cabeça para o chão
onde seu kit de brincadeiras práticas deluxe da Zonko recentemente
desembrulhado estava aberto com orgulho; 'Para completar a coleção de
qualquer mestre piadista'. "Mas eu vou descobrir como você pagou por isso,
eventualmente. Eu não acredito nessas coisas sobre uma tia morta deixando
dinheiro para você. "
"Mas não posso tocar até atingir a maioridade, posso?" Sirius disse,
astutamente, "Não, você está tramando alguma coisa, Lupin, eu te conheço -
você não é Moony se não tiver um segredo."
"Me deixe ter o meu segredo, então" Remus virou a cabeça misteriosamente.
49. Terceiro Ano
Conhece-te a ti Mesmo
Ainda assim, se havia tanto sangue quanto ele pensava, provavelmente não era
uma boa ideia dormir. Ele deveria ficar acordado pelo menos até que Madame
Pomfrey pudesse chegar - o que não deveria demorar muito. Remus ficou
imóvel e concentrado em sua respiração. Havia um jogo da Grifinória hoje
também, outra coisa que perderia. Não só isso, mas seus amigos estariam
ocupados demais para visitá-lo.
Ele virou a cabeça e levantou. Ele esperava não vomitar, era tão constrangedor
vomitar. Ele não tinha sua varinha com ele, então não poderia limpar.
"Bom dia, Remus," Madame Pomfrey finalmente entrou na sala. "Oh querido,
um pouco de bagunça, hein?"
***
"Não tenho certeza se gosto de toda essa leitura que você faz." Madame
Pomfrey resmungou enquanto trazia uma poção curativa para ele. "Eu sei que
seus estudos são importantes para você, mas você precisa descansar."
"Eu dormi a manhã toda." Ele respondeu: "E eu fico tão entediado, se não ler.
Você sabe como foi a partida de quadribol? "
"Receio que não", sorriu a medi bruxa. "Tenho certeza que o Sr. Potter estará
aqui para lhe dizer assim que puder."
Isso não era muito provável, se eles tivessem vencido - haveria uma festa para
comemorar a vitória, e Remus tinha feito James prometer não a perder por sua
causa. Ele aceitou a poção que lhe foi dada e engoliu tudo sem reclamar. Era
amarga, mas ele já havia se acostumado a essa altura.
Ele precisava ler, porque se não o fizesse, não teria nada para fazer, exceto
pensar em suas cicatrizes recentes. Este mês, o lobo havia rasgado seu torso, o
que era melhor do que seus braços ou rosto - pelo menos ele poderia esconder
as marcas mais facilmente.
"Sr. Lupin!" Uma voz alegre ecoou pelo chão do hospital, fazendo Remus
pular. Era o Professor Ferox, segurando dois grandes potes de um líquido claro
em seus braços.
"Hum ..." Remus queria se encolher e se esconder debaixo dos lençóis. Ele
odiava a ideia do forte e enérgico Ferox vê-lo em seu estado de fraqueza.
"Estou bem."
"É a segunda vez aqui neste ano, hein?" O professor disse, parecendo
preocupado. Remus assentiu, embora fosse sua terceira lua neste semestre. Se
Ferox não tivesse notado uma ausência, então talvez ele não ligasse os pontos.
"Sabe, se precisar de mais tempo para fazer o dever de casa, é só pedir."
"Eu consigo fazer tanto quanto qualquer outra pessoa." Remus disse, olhando
seu professor nos olhos.
"Eu posso ver isso." Ferox agora olhou para a pilha de livros na mesinha de
cabeceira. "Isso é tudo para a escola?"
"Sim, posso perceber isso dos seus deveres" Ferox estava sorrindo de novo, o
que fez Remus relaxar um pouco. "Você gostaria de uma carreira cuidando de
criaturas mágicas? Ou talvez algo mais parecido com seu pai? "
Ferox riu. Ele bateu no livro no topo da pilha. Fora emprestado de Sirius - um
livro de filosofia trouxa.
"Exatamente." Ele bagunçou seu cabelo antes de se virar para sair, "Espero que
você se sinta melhor logo, Lupin. Te vejo na quarta-feira."
Era tudo muito enigmático, Remus pensou, percebendo que estava prendendo a
respiração por quase um minuto quando Ferox saiu da sala. Ele ainda não tinha
começado Platão, apenas o folheou - não era o tipo de coisa que ele era
normalmente se interessaria, mas estava disposto a tentar um pouco de tudo.
Secretamente, ele queria ser capaz de mostrar a Sirius que havia lido mais
livros. Sirius dificilmente gastava mais tempo lendo - sua missão obstinada de
cumprir o papel de ovelha negra da família Black significava que ele tinha
pouco tempo para outra coisa senão causar problemas. Ele se arrependeria, um
dia, na opinião de Remus. Tinha visto muitos garotos em St. Edmund's
tentando forçar seus limites assim - o problema era que alguns limites não
eram cercas. Às vezes eles eram precipícios; sem nada do outro lado.
***
"Tudo bem, Remus? Onde você esteve?" Mary perguntou, sem tirar os olhos
de suas cartas.
"Ah, desculpe McKinnon." Remus esfregou a nuca. Isso era estranho - se eles
haviam perdido e não houve festa, então por que os outros não vieram vê-lo?
Ele tentou ignorar a pontada em seu estômago. "Você viu James desde então?
Ou Sirius ou qualquer um? "
"Quer jogar?"
"Er ... não. Ainda me sinto um pouco mal. Vou deitar. Mas, obrigado."
Remus deitou em sua cama em cima das cobertas. Ele se sentia como se
estivesse tirado o pijama há apenas uma hora, ele vestir de novo, não
importava o quão cansado ele estivesse. Pensou em ler, mas não tinha energia.
Poderia ouvir um disco, mas isso significaria se levantar. No final, ele ficou
parado, deitado no escuro com as cortinas fechadas.
Em St Edmund's, antes que pudesse ler, antes de ter magia ou amigos, Remus
se acostumou ao tédio. Ele inventava histórias em sua cabeça, repassava as
letras das músicas que havia memorizado ou tentava pensar nas palavras mais
longas que já tinha ouvido. Agora, enquanto esperava o sono chegar, Remus
ponderou sobre o que Ferox havia dito a ele antes.
Remus sabia tudo sobre seus amigos. Ele sabia que James era um líder natural,
um deus do quadribol e que faria qualquer coisa por qualquer um. Remus sabia
que, embora todos eles zombassem de James por estar apaixonado por Lily,
James tinha uma compreensão mais clara do amor do que qualquer pessoa, e se
ele dissesse que se casaria com ela um dia, provavelmente o faria. Remus sabia
que Peter tinha vergonha de sua família, especialmente de sua irmã mais velha,
cuja ele uma vez admirou, e que se encaixar significava mais para ele do que
qualquer outra coisa no mundo. Remus sabia que os pais de Mary nasceram na
Jamaica e que ela era a única bruxa em uma família de sete, e que ela nunca,
nunca chorava, mesmo quando estava furiosa. Ele sabia que Lily chorava toda
vez que recebia uma carta de casa, e que ela escrevia para a irmã todas as
semanas e nunca havia recebido uma resposta. Ele sabia que Marlene não se
dava muito bem com o pai, que era trouxa e bebia muito às vezes.
Então havia Sirius - mas não era preciso nada de especial para conhecer Sirius.
Ele se achava todo indiferente e misterioso, mas a verdade é que Black vestia
seu coração na manga e não guardava nada. Ele sentia tudo tão fortemente, e
sua felicidade era tão caótica quanto sua miséria. Às vezes você tinha que dar
um passo para trás, para não ser arrastado em sua confusão.
Quem era Remus, então? Órfão - mas não exatamente. Bruxo, mas apenas um
mestiço. Um monstro, mas não todos os dias. O que mais havia? Não havia
necessidade de desenvolver muito os personagens secundários.
*CREAK*
"Moony?" O sussurro encheu o quarto tão alto quanto uma buzina. Remus não
respondeu. Ele estava muito mal-humorado.
"Não."
As cortinas foram abertas. Remus se sentou para abrir espaço para James,
então Sirius, então Peter se arrastou para dentro para se sentar com ele.
"Fomos para a ala hospitalar, mas ela disse que você já tinha ido." James
explicou.
"Biblioteca."
"Não foi ... quero dizer, você não se machucou demais?" Peter perguntou,
torcendo as mãos.
"Um pouco." Remus acenou com a cabeça, "Nada muito ruim. O que estavam
fazendo na biblioteca?"
"É sobre isso que queríamos falar com você!" Sirius explodiu. Obviamente, ele
estava morrendo de vontade de dizer algo, e Remus sentiu o resto de sua
irritação derreter quando sua curiosidade atingiu o pico.
"Sirius." James disse, na voz que ele usava para acalmar seus amigos. Ele
olhou para Remus, "Estávamos fazendo algumas pesquisas e é mais ou menos
sobre você."
"Mais ou menos!" Sirius zombou, "É tudo sobre você, Moony, eu queria te
contar desde o semestre passado, mas James não ..."
"Eu só queria ter certeza de que poderíamos fazer isso." James deu uma
cotovelada em Sirius, "Pare de me interromper, inferno. Remus. A questão é
que, desde que descobrimos sobre ... hum ... seu pequeno problema peludo,
queríamos fazer algo para ajudar. "
"Não há cura." Remus respondeu rapidamente. Ele não gostou de como isso
estava soando. Se sentiu terrivelmente constrangido enquanto todos o
encaravam com o mesmo olhar louco.
"Não, não, nós sabemos disso", James acenou com a mão, "mas pensamos que
deveria haver algo que poderíamos fazer - para fazer você parar de se
machucar, você sabe."
"Nós descobrimos que lobisomens normais não fazem isso", disse Peter,
ansioso para ter sua própria opinião, "Então, lo--"
"Não normais," Sirius chutou Peter, "Outros. Outros como você. Que não
ficam presos durante a lua."
"Okay..."
"Então você provavelmente está fazendo isso a si mesmo porque está preso e
frustrado."
"Bem ... sim, eu sabia disso." Remus puxou os joelhos até o peito e recuou um
pouco. Ele desejou que eles não estivessem em sua cama, estavam todos muito
perto. Podia sentir o cheiro de seu sangue; podia ouvi-lo correndo em suas
veias.
Remus olhou para ele. Ele olhou para cada um de seus amigos por vez.
Estavam todos loucos.
"Como... mas ela é um animagus! Você tem que estudar, treinar e se registrar,
e não podem nem começar antes dos dezessete anos— "
"É por isso que estamos te falando sobre isso", disse Sirius, "Eu queria que
tudo fosse uma surpresa, mas James nos lembrou que ... bem, é realmente
muito difícil, então quanto mais ajuda conseguirmos, melhor."
"Vocês realmente acham que podem fazer isso, não é?" Remus franziu a testa.
"Se você nos ajudar." James acenou com a cabeça, "Nós somos os melhores
alunos do ano, exceto por Evans. Não vejo por que não devemos tentar."
"E se der errado ?!" Remus mordeu o lábio, "E se eu ainda ... depois de me
transformar, e se eu puder sentir que vocês não são realmente animais? E se eu
for atrás de vocês mesmo assim?"
"Vamos testar. Vamos testar várias vezes até sabermos que é seguro." Sirius
disse.
"Apenas pense, Moony!" Sirius sorriu, como se não os tivesse ouvido, "Depois
de fazer isso, não há nada que não possamos fazer. Seremos imparáveis! "
Depois que ele finalmente teve espaço para pensar sobre isso, Remus se
perguntou por que ele havia pedido mais tempo. Claro que diria sim. Ele
achava que nunca diria não para seus amigos, mesmo que o deixasse nervoso.
E isso definitivamente o deixou nervoso.
Ele chamou James em particular um dia, não muito depois de terem proposto a
ideia, e pediu todas as pesquisas que tinham feito até agora. Prontamente, foi
apresentado a ele como um enorme pergaminho; parágrafos e parágrafos de
notas e diagramas escritos em uma escrita cursiva bem familiar. Dizer que
tinham sido meticulosos seria um eufemismo. Se Sirius prestasse tanta atenção
em escrever suas redações dessa forma, Remus nunca teria a esperança de
vencê-lo e ser o melhor da classe.
Eles não deixaram nada passar. Os garotos mapearam as luas cheias até
próxima década, no mínimo. Praticamente reescreveram por completo a
história da licantropia na Europa, junto com hábitos alimentares, padrões de
migração, comportamento da matilha e sinais de comunicação canina. Eles
listaram todos os ingredientes de que precisariam, seu custo e disponibilidade.
Cada ritual foi cuidadosamente transcrito, passo a passo e os encantamentos
soletrados foneticamente. Haviam cronogramas, locais sugeridos para certos
aspectos do extenso processo - tudo minuciosamente detalhado.
"Cristo." Remus disse, quando terminou de ler. "Vocês fizeram tudo isso ..."
"Principalmente Sirius." James sorriu, "Na verdade, basicamente tudo isso foi
Sirius. Ele fez a maior parte durante as férias de verão, enquanto estava
entediado. Um verdadeiro trabalho de amor."
O estômago de Remus deu uma volta. Ele não sabia o que dizer - como poderia
recusar depois de tudo isso? De repente, vender cigarros roubados para bruxos
menores de idade parecia algo muito inofensivo.
Ficou combinado que o trabalho começaria para valer nas férias de Natal,
quando todos estariam longe de Hogwarts. Remus havia conseguido a
permissão da Matrona, McGonagall e Madame Pomfrey para passar o recesso
com os Potters e, como sempre, Peter estaria na vizinhança. Sirius começou a
ficar de mau humor à medida que o fim do ano se aproximava - até que ele
recebeu uma nota extremamente curta durante o café da manhã:
Assinado,
Orion Black.
"Sim!" James aplaudiu, quase derrubando seu mingau, "Podemos até passar o
verão juntos, nesse ritmo!"
"Ah, o pequeno Príncipe Reg vai passar o Natal em casa," Sirius respondeu,
colocando o bilhete no bolso. "Só eu que eles desconvidaram. Bom. Perfeito.
Excelente. Eles não se importam; eu não me importo. "
Ele não se animou adequadamente até que estivessem fazendo as malas. Sirius
secretamente mostrou a Remus os presentes que ele comprou para o Sr. e a
Sra. Potter - uma linda corrente de relógio de ouro e um broche brilhante.
"Você acha que eles são bons?" Ele perguntou, nervoso, "Minha família é uma
merda em dar presentes, então eu nunca sei realmente ..."
"Black ... Sirius, eles são ... quero dizer, eles são perfeitos. Não se preocupe."
Remus sentiu uma sensação de desânimo ao pensar na caixa um pouco surrada
de biscoitos medianos que comprou para seus anfitriões. Não havia jeito agora,
mas ele havia feito o seu melhor.
Na verdade, Remus estava ansioso pelo Natal deste ano, pelo que pode ter sido
a primeira vez. Ele ainda estava um pouco tímido em passar o recesso na casa
de outra pessoa, mas agora que sabia como os Potter eram, relaxou com a
ideia. Havia vendido o último de seus cigarros ilícitos a um preço absurdo e
comprou presentes para todos - até mesmo Lily, Mary e Marlene. Era
verdadeiramente um prazer dar presentes às pessoas, percebeu. Talvez até
melhor do que ganhar.
Havia outra coisa que ele esperava ganhar durante o recesso. Algo que ele não
mencionou aos outros, porque era particular. Ano passado, na festa de Natal do
Potter, Remus foi abordado por um velho que sabia muito sobre Lyall Lupin.
Na época, Remus ficou mudo com a revelação e o choque disso - mas agora,
um ano mais velho e sentindo-se bastante maduro na grande velhice dos treze
anos, Remus esperava poder aprender um pouco mais.
***
A lua cheia havia caído no início do mês deste ano, então todos os quatro
marotos puderam ir para casa no sábado, a bordo do Expresso de Hogwarts,
como de costume. Porém, havia uma mudança em sua viagem habitual de
trem, Marlene e Mary se juntaram aos meninos no compartimento. Remus
suspeitava que Lily estava em algum lugar sozinha com Severus,
provavelmente ouvindo ele reclamar sobre como ninguém gostava dele.
"Sim, eu fui bem ..." Remus respondeu, envergonhado por seu terceiro
'Excelente' naquele semestre.
"Vai a merda." Remus sorriu, "Hogwarts têm clube do Slughorn para gente
esnobe como você."
Quando eles pararam em King's Cross, Remus sentiu uma certa emoção ao ver
que o Sr. e a Sra. Potter estavam lá para pegar todos eles. Normalmente ele
tinha que cruzar a barreira e ir procurar a Matrona no café ou na banca de
jornal. No entanto, ele ficou em choque quando soube que estava prestes a
aparatar pela primeira vez.
"Segure meu braço, querido," a Sra. Potter sorriu gentilmente para ele, "Feche
os olhos, tudo vai acabar em um momento."
Era muito pior do que pó de flu. Pior do que voar. Ele quase arrastou a Sra.
Potter com ele quando pousaram, no momento em que perdeu o equilíbrio e
caiu com força na calçada em frente à casa dos Potter.
"Ops ops, querido!" A Sra. Potter riu gentilmente, levantando-o. "Você está
bem agora." Ela limpou seus joelhos e ombros. "Agora, vou voltar para pegar o
Sirius, Monty vai chegar com James em dois segundos."
Quando todos estavam lá, a Sra. Potter conduziu todos para dentro, fazendo
com que seus malões voassem escada acima para seus respectivos quartos,
colocando uma chaleira para ferver e cortando um bolo caseiro no que
pareceram alguns segundos. Enquanto Remus estava sentado à grande mesa de
madeira da cozinha dos Potter, comendo bolo e tomando uma enorme caneca
de chá, ouvindo James e Sirius falando pelos cotovelos, não resistiu a suspirar
contente para si. Seriam duas semanas inteiras disso.
Infelizmente, ao contrário do ano anterior, ainda não havia neve neste inverno,
apenas chuva. Na verdade, com o cair da noite, o aguaceiro foi ficando cada
vez mais forte, até que um trovão estalou no céu lá fora e granizo começou a
atingir os vidros das janelas. Em vez de sair, os meninos se sentaram na sala de
estar sob a árvore de Natal, jogando e comendo bolo de frente para a lareira.
Remus começou a ler um livro sobre transfiguração humana, e a Sra. Potter
revisava suas listas para as próximas celebrações.
"Temos mais algumas pessoas vindo este ano", explicou ela, enquanto as
longas tiras finas de pergaminho pairavam diante de seu rosto, uma pena azul
royal trabalhando rapidamente na superfície, marcando vários itens. "Alguns
amigos de velhos tempos e alguns que conhecemos recentemente", enquanto
dizia isso, ela olhou furtivamente para Sirius, que não estava prestando
atenção, imerso no jogo. "Mas saibam que sempre terá espaço suficiente para
todos vocês!" Ela continuou, com aquele sorriso feliz que era igual ao de seu
filho.
Só então, houve uma batida na porta. Sirius sentou-se ereto, como se tivesse
sido acertado por um raio. Ele se virou para a Sra. Potter com os olhos
arregalados. Não era a mãe dele, Remus sabia disso - mas não disse, porque
como diabos isso soaria? Não se preocupe, Sirius, eu conheço o cheiro da sua
mãe. - Assustador para caralho.
"Está ficando tarde - é melhor vocês todos irem para a cama. Philly vai passar
a noite aqui, e acho que não temos quartos sobrando - Sirius, você se
importaria de dividir com James esta noite, querido? "
"Acho que ela brigou com os pais de Pete - eles não gostam que ela frequente a
universidade trouxa, e," ele abaixou a voz, "papai disse que ela tem um
namorado trouxa."
"Mesmo?!" Os olhos de Sirius se arregalaram de admiração. Remus não disse
nada - ele não sabia que sair com trouxas era particularmente um tabu.
"Sim, e você sabe como é a mamãe," James cutucou Sirius, "Adora acolher um
vira-lata."
***
A irmã de Peter era cerca de sete anos mais velha do que ele, e você poderia
não saber que eles eram parentes, a não ser pelo cabelo cor de palha. Enquanto
Pete era atarracado e rechonchudo, Philomena era esguia e de feições
delicadas. Ela tinha olhos castanhos chocolate e um punhado delicado de
sardas castanhas claras sobre seu pequeno nariz. Seu cabelo estava penteado no
mesmo estilo de muitas garotas trouxas que Remus tinha visto; longo e reto
com uma franja espessa repartida, como Marianne Faithfull.
James, que a conhecia melhor, não poderia fazer o suficiente pela bela
visitante. Ele ofereceu chá a ela, afastava a cadeira para ela se sentar e
basicamente se tornou seu servo, até mesmo Sirius se cansar dele.
"Estou sendo legal." James franziu a testa. "Nada de errado em ser legal com a
irmã do meu amigo."
Eles não tinham visto Peter. Assim que a Sra. Pettigrew soube onde sua filha
estava hospedada, ele foi confinado em casa. Enviavam corujas, que iam e
viam cruzando a rua, o que provavelmente era mais divertido para James e
Sirius do que para Peter.
"O que a Evans diria?" Sirius provocou James, que ficou excessivamente
vermelho.
"Ela ficaria feliz por alguém ter tirado ela da sua cabeça," Remus sugeriu de
onde estava descansando em sua cama.
"Quem é você para falar, Black." James empurrou seu amigo, "O que está
acontecendo entre você e Mary?"
"Ah, qual é," James gemeu, "Diga! Você beijou ela ou o quê? "
Remus largou seu livro. Beijou?! Desde quando beijos estava na mesa?! Sirius
deu um olhar tímido.
Por fim, inquieto e exausto, ele se levantou para pegar um pouco de água. Saiu
da sala para o banheiro do outro lado do corredor e abriu a torneira, bebendo
um pouco da água morna e se olhou no espelho. Na penumbra, ele não
conseguia ver suas cicatrizes. Será que uma garota gostaria dele, se ele fosse
do jeito que era? Ele nunca seria tão bonito quanto Sirius, ou James, mas talvez
ele fosse um pouco mais que Peter? Como diabos ele saberia?
"Oh, desculpe!" Philomena estava parada na porta com uma longa camisola cor
de pêssego. Ela parecia chocada, "O que você está fazendo vagando no
escuro?!"
"Hum ... eu tenho uma visão muito boa." Ele murmurou, afastando-se da pia.
"Eu não conseguia dormir."
"Nem eu," ela suspirou. Assim que a surpresa desapareceu de seu rosto, ela
parecia triste novamente. Remus esperava que ela não chorasse. Ele era inútil
quando alguém chorava - ah Deus, se ele tivesse uma namorada, ele teria que
lidar com o choro?! Ele não teve tempo de engolir o pânico, antes de
Philomena começar a falar novamente: "É horrível ficar longe da família no
Natal, não é?"
"Meu pai era um bruxo," disse Remus, com alguma confiança, "Mas ele
morreu."
"Mestiço." Ela murmurou. "Mas mesmo assim ..." Ela parou, desanimada.
Remus se mexeu desconfortavelmente; seus pés descalços estavam começando
a ficar frios no piso do banheiro, e ele só estava de cueca e blusa para dormir, o
que era bastante constrangedor. Ela não parecia se importar, "Você tem sorte",
disse ela, "não ter que crescer com toda essa merda."
"Você quer dizer magia?" Remus franziu a testa. Ele nunca tinha ouvido uma
bruxa ou feiticeiro - sangue puro ou nascido trouxa - falar assim.
"Sim, magia", ela fungou, "O que há de tão bom na magia, hein? O que nos faz
tão especiais? Quer saber um segredo? "
Ele não queria, mas achou melhor não dizer isso. Ela continuou de qualquer
maneira, sussurrando agora, "Eu gostaria de ser uma trouxa, às vezes," ela
disse, um vislumbre de loucura em seus olhos, "Se eu pudesse fazer isso, eu
fugiria para sempre e nunca seria encontrada. E eu teria um bom trabalho
normal, e uma boa vida normal, e me apaixonaria por quem eu quisesse. " Com
esta última afirmação, ela começou a chorar.
"Bem, o que está impedindo você?" Ele perguntou. "Você é maior de idade.
Você pode fazer o que quiser. Vá e seja uma garçonete, ou fuja para a América
e seja uma estrela de cinema. Case com o Príncipe Charles, se quiser. Quer
dizer ... você pode precisar usar um pouco de magia para começar, mas poderia
simplesmente não usar mais magia. Ninguém diz que você é obrigada a usar."
"Oh!" Ela começou a rir: "Coitadinho, é quase tão ruim quanto Philomena!"
51. Terceiro Ano
O Menino que gritou “Lobo”
Remus pensou em Narcissa pela primeira vez em muito tempo. Ele tinha
pensado secretamente que Narcissa era a garota mais bonita que ele conhecia -
até ela pintar o cabelo pelo menos. A menina possuía uma postura régia que o
atraía minimamente. Mas, até ela, se tornou tola por causa do amor - até
mesmo, arriscando sua própria vida.
A manhã de Natal foi tão maravilhosa quanto no ano anterior - até mesmo
Philomena se animou ao ver os presentes debaixo da árvore com seu nome
neles. Remus foi capaz de desfrutar da imensa satisfação de distribuir seus
próprios presentes, e Sirius e os Potters ficaram devidamente satisfeitos e o
agradeceram profundamente. Ele próprio ganhou um jogo de xadrez dos
Potters, que talvez fosse a coisa mais cara que Remus já teve – algo comprado
especialmente para ele, não de segunda mão. Junto com os doces de sempre e
os kits de pegadinhas dos marotos.
"A coruja pode estar atrasada - você sabe como elas ficam atarefadas nesta
época do ano."
James tinha ganhado uma vassoura nova em folha no Natal, e assim que o café
da manhã terminou, os três garotos foram direto para fora para testá-la. Sirius
estava com sua própria vassoura, e o Sr. Potter sugeriu, com uma sobrancelha
arqueada, que Remus pegasse a velha de James.
"Sim, fique com ela se quiser, Moony!" James assentiu com entusiasmo, "Para
sempre!"
"Obrigado ..." Remus aceitou, incapaz de dizer não na frente dos pais de
James. O que ele deveria fazer com uma vassoura durante o verão em St.
Edmunds? Como explicar um presente desses para a Matrona?
Os meninos foram chamados pelo elfo doméstico do Potter, Gully, que estava
vestido com uma toalha de chá festiva e tinha um ramo de azevinho enfiado
atrás da orelha. Era quase hora do almoço e a casa cheirava deliciosamente a
rosbife com todos os acompanhamentos.
"Vão lá para cima, tomem banho e se arrumem, todos vocês." A Sra. Potter
balançou a colher de pau para eles " Gully já arrumou suas coisas."
"Sirius!" A jovem sorriu de volta, e Remus relaxou, vendo que não era
Bellatrix. Essa mulher tinha o mesmo cabelo encaracolado selvagem de sua
irmã, embora fosse de um tom de castanho muito mais claro - tinha que ser
Andrômeda.
"Uma boa surpresa, então?" Ela perguntou, enquanto Sirius apertava a mão de
Ted e dava um tapinha hesitante na cabeça do bebê.
"Effie teve a gentileza de nos convidar," Ted sorriu, seus olhos brilhando.
"Prazer em conhecê-lo, Sirius. É bom conhecer alguém da família de Dromeda.
"
***
Andromeda era o oposto do resto da família Black - ou pelo menos aqueles que
Remus conheceu até agora. Embora ela fosse tão incrivelmente bela quanto o
resto deles, com os mesmos olhos penetrantes e sagacidade mordaz, ela era
cheia de risos e alegria. Ted claramente a adorava também e dificilmente
parecia se importar que ela o deixasse com a bebê a maior parte do tempo.
'Dora' era a criança mais estranha que Remus já tinha visto - embora, ele
admitisse, não tivesse conhecido muitos bebês. Ela era tão alegre quanto sua
mãe, com um sorriso cheio de gengivas. Seus fios de cabelo mudavam de roxo
para verde para azul a cada momento, o que todos os outros pareciam achar
fofo, ao invés de bizarro.
"Um brinde", o Sr. Potter ergueu a taça, parecendo meio embriagado, ao final
da refeição, "Aos amigos, antigos e novos!"
"Aos Potters!" Andromeda ergueu seu próprio copo, "Protetores dos excluídos
e defensores das ovelhas negras de todos os lugares."
"Acho que devo ser o mais excluído", disse Sirius, feliz, "afinal, sou da
grifinória."
"Para a Grifinória!" O Sr. Potter declarou outro brinde, do outro lado da mesa.
Apenas os Grifinórios brindaram, Andrômeda estreitou os olhos para Sirius.
"Se acha o mais excluído, priminho? Tente se casar com alguém que não seja
seu parente.''
"Eu terei que casar com alguém de fora" Sirius respondeu, enquanto Gully
tirava os pratos e a Sra. Potter pegava a sobremesa de Natal, "Depois do
casamento de Cissy, não sobrou nenhuma mulher da família Black."
"Tem a Dora."
Com a certeza de que não sentiriam sua falta, Remus deslizou entre a multidão
de pessoas em busca de Darius. Devia haver uma centena de bruxas e bruxas
presentes - alguns deles professores de Hogwarts, que Remus fez de tudo para
evitar. Ele ouviu pelo menos três pessoas murmurando que Dumbledore estava
lá, em algum lugar.
"Ambos são Black, você sabe," ele ouviu uma bruxa sussurrando para sua
amiga, enquanto observavam Andrômeda e Sirius rindo histericamente perto
do toca-discos, "Ela fugiu e teve um bebê com aquele tal de Tonks, e o menino
- bem, ele era o herdeiro, mas ouvi que Orion está planejando deserda-lo assim
que seu filho mais novo atingir a maioridade. Ele é bastante rebelde, pelo que
ouvi. "
"Ele não pode ser pior do que Orion, fui para a escola com ele. Garoto
desagradável e cruel. Sirius é um raio de sol comparado a Orion - e não me fale
sobre aquela vadia da Walburga. "
"Shh." A primeira bruxa disse, nervosa: "Você nunca sabe quem está ouvindo
hoje em dia, mesmo nos Potter."
"Ele é amigo do menino Potter. Você sabe como Effie e Monty são - eles
acolheram a mais velha dos Pettigrew também, ela está aí. "
"Bem, não é nenhum segredo por que ela está aqui - os Pettigrew’s e os Potters
são sangue puro, afinal, apesar dos rumores. Veja bem, Effie pode querer agir
rapidamente - se Philomena vê sua chance de se aliar ao herdeiro Black, então
o pobre James não vai ter chance de manter o sangue puro na família, vai?
Quero dizer, todo mundo sabe o que está acontecendo; todos nós precisamos
escolher um lado. Os Potter escolheram o deles há muito tempo, infelizmente."
Remus sentiu seu sangue ferver. Era horrível ouvir alguém falando sobre seus
amigos falando dessa forma - e os Potter’s, os quais Remus tinha certeza
absoluta que não tinham segundas intenções quando se tratava de seu
filho, ou da companhia que ele mantinha. Afinal, eles deixaram James ser
amigo dele, sabendo exatamente o que ele era.
Ele cerrou os punhos, desejando que ele pudesse fazer algo - fazer qualquer
coisa para calar aquelas vadias velhas. Sirius e Andrômeda estavam gritando a
plenos pulmões, acompanhados por James e Philomena.
"Boa noite, Sr. Barebones", disse ele, imitando o sotaque pomposo aprendido
depois três anos ouvindo a pronúncia de James e Sirius. Ele estendeu a mão
para o velho, que a apertou, olhando para ele, intrigado, "Remus Lupin - você
se lembra que nos conhecemos no ano passado?"
"Lyall Lupin! Melhor duelista que já conheci! Casou-se com uma trouxa em
algum lugar do País de Gales, não foi? "
"Ah, muito bem, muito bem," Darius assentiu com entusiasmo, emocionado
por ter alguém com quem conversar, "Trabalhei com ele no ministério, antes
de todo o problema começar. Nunca conheci ninguém melhor com bichos
papão - ou dementadores, por falar nisso. O escritório administrativo de
Azkaban sentiu sua falta, posso te dizer isso. "
"O problema?" Remus perguntou, pegando outro copo de uísque de Gully, que
passou correndo com uma bandeja, e entregou ao velho.
"Você está falando sobre ... os eventos que levaram ao suicídio de Lyall?" Ele
não conseguia dizer. Darius teria que falar por ele.
"Não poderíamos saber, você entende, nenhum de nós ... bem ... Lyall era um
grande bruxo - um grande bruxo, está me ouvindo?" Ele perguntou. Remus
concordou. "Mas ..." o velho olhou para cima, com os olhos vidrados, "Bem,
ele tinha uma tendência a ficar obcecado com as coisas. E aquele
temperamento! Ficava furioso no trabalho - até mesmo durante as audiências
do comitê".
"Sua mãe não te contou?" Darius olhou para ele, surpreso, "Malditos trouxas,
não servem para criar nossos filhos, eu digo isso há anos ..." Ele suspirou, "Seu
pai estava em vários comitês no ministério para a regulamentação e controle de
criaturas mágicas."
Remus estava feliz por estar fazendo a aula de Trato das criaturas mágicas,
caso contrário, ele poderia não saber nada sobre isso. Como estava, ele foi
capaz de acenar com a cabeça, conscientemente. Darius continuou.
"Só a área dele, é claro, ele era um gigante no campo. Mas ele gostava das
coisas do seu próprio jeito e era visto como um pouco extremista naquela
época. Queria uma reformulação do Registro de Lobisomens, uma melhor
identificação e medidas de rastreamento. Simplesmente não tínhamos mão de
obra para isso, e os recursos eram mais bem gastos em outro lugar. E Lupin ...
ele tem trabalhado com criaturas das trevas por tantos anos, ele achava que via
lobisomens em todos os lugares - sempre via perigo onde claramente não havia
nenhum. Honestamente, todos nós pensamos que ele era um excêntrico, não
poderíamos saber ... quando eles trouxeram Greyback, eu estava lá. Eu o vi, e
não me importo de dizer a você, nenhum de nós pensou que ele era uma
ameaça. Estava claramente bêbado. Confuso. Um vagabundo, foi o que
pensamos. E então Lupin começou a dar um de seus discursos sobre
lobisomens, bem.... nós não pensamos duas vezes.''
"Vocês deixaram Greyback ir." Remus disse, friamente. Darius parecia muito
triste agora, quase chorando. Ele assentiu.
"Nós o deixamos ir. Claro agora, agora sabemos ... se apenas tivéssemos
ouvido. Lyall se matou logo depois disso, nem quis ouvir o pedido de
desculpas do comitê. " Ele suspirou e olhou para Remus novamente, "Eu
sempre me perguntei o que o levou a isso, você sabe. Alguns dizem que foi a
culpa - não ser capaz de impedir Greyback. Eu não teria pensado que ele era do
tipo ... e abandonar sua família assim, quero dizer, você não poderia ter sido
muito mais que um bebê? "
"Pela última vez que ouvi, ele está aliado a você-sabe-quem." Darius balançou
a cabeça, "E a maldita ironia de tudo isso é que precisamos do seu pai mais do
que nunca. Ainda assim," ele sorriu para Remus, gentilmente, "Não pense que
ele morreu em vão, garoto. Acabamos implementando muitas de suas
reformas, particularmente no que diz respeito aos transformados. Não é
possível escapar do registro agora, não senhor! " Ele bateu com o punho velho
e enrugado.
"É uma pena voltar para a escola, não é?" Sirius disse amuado, olhando para
fora da janela.
Remus olhou para Peter, que estava encarando Sirius incrédulo. Sirius não
percebeu. Remus suspirou,
Ele não estava realmente lendo. Não tinha sido capaz de se concentrar
adequadamente em um livro desde a festa de Natal dos Potter's. Na verdade,
ele não fora capaz de se concentrar em nada. Seja voar, jogar, conversar, ou o
planejamento animago de James e Sirius. Então, ele fingiu ler, esperando que o
deixassem sozinho. Em St Edmund's, ele poderia ter apenas escapulido sozinho
para a cidade, mas essa não parecia uma boa maneira de mostrar gratidão aos
pais de James, que com certeza se preocupariam.
Era como se houvesse uma lista de perguntas em sua cabeça que ele não tinha
como obter as respostas, então elas apenas se repetiam, sem parar. Onde estava
Greyback agora? Quem era 'você sabe quem'? Lyall Lupin odiava tanto assim
seu filho?
Remus já sabia que seu pai se matara porque ele havia sido mordido. Sempre
presumiu que Lyall fora motivado pela culpa. Mas agora ... bem, e se Remus
estivesse errado? E se o verdadeiro motivo fosse ódio - ou pior ainda -
vergonha?
Nos últimos três anos, Remus tinha trabalhado duro na escola, usando a
varinha de seu pai e estudando as matérias que seu pai poderia ter estudado.
Ele não pensava em Lyall o tempo todo, mas no fundo de sua mente, isso ainda
significava algo. Desde a festa de Natal, ele não tinha mais tanta certeza. Ferox
disse 'conhece a ti mesmo', mas Remus estava falhando em ver a sabedoria
disso agora. Ele estivera muito mais feliz quando não sabia sobre nada.
"Hum ... não." Ela respondeu, mexendo nervosamente no cabelo, "Sirius, posso
falar com você?"
"Dizer o quê?"
"Er ... ok ..." Sirius se levantou e a seguiu para fora do corredor. Os outros três
trocaram olhares divertidos enquanto esperavam. Ugh, Remus pensou, ele se
enganou sobre a coisa da Mary e do Sirius?! Era Sirius e Marlene agora?
"Não sei." Ele se sentou, coçando a cabeça, "Eu estava saindo com ela?"
Remus comemorou internamente. Graças a Deus, tudo isso havia ficado para
trás.
***
Mais tarde, ele soube que Mary começou a sair com um garoto trouxa que ela
conhecia de casa.
Quanto a si mesmo, ele não estava mais irritado com Mary, e nem mesmo se
importou dela falando sem parar sobre seu novo namorado, e como ele a levou
ao salão de dança local, e as fotos, e como sua mãe o amava, e seu pai achava
que ele era um 'bom rapaz'. Marlene, no entanto, parecia mortalmente
entediada enquanto eles se sentavam perto da lareira, fazendo as últimas lições
de casa juntos.
"Eu não estou." Marlene franziu a testa. "Só acho que você está sendo horrível
com Sirius."
"O que?!"
"Terminando com ele assim! Você ... você feriu os sentimentos dele! " As
bochechas de Marlene ficaram com um tom incomum de rosa.
"Oh meu Deus!" Mary olhou para sua amiga, "Marlene, você gosta de Sirius
?!"
"Não!" Marlene se levantou, ainda mais vermelha agora, "Ah, você é uma
vadia, Mary!" Ela correu para o dormitório feminino. Lily suspirou, olhando
para cima,
"Problema dela, não meu." Mary encolheu os ombros. "Ela gosta do Sirius?!"
"Isso importa?"
"Ah não, não vá, Remus!" Mary disse: "Vamos parar de falar sobre meninos,
eu prometo."
"Estou cansado", ele mentiu, "E terminei a minha lição já. Vejo vocês
amanhã."
Remus lembrou a si mesmo que estava tentando gostar de Mary de novo e não
reagiu. Ele subiu as escadas e foi sentar-se sozinho no dormitório. James, Peter
e Sirius estavam todos na detenção por uma pegadinha que pregaram antes do
Natal.
Remus não estava nem um pouco cansado. Faltavam duas noites para a lua
cheia e ele estava começando a sentir a habitual inquietação em seus membros,
a familiar aceleração de seus batimentos cardíacos. Deixado por conta própria,
Remus voltou aos pensamentos perturbadores que o incomodavam há semanas.
Novamente, eles pareciam apenas girar em seu cérebro em uma grande espiral
confusa, sem começo ou fim.
Todos os bruxos se sentiam da mesma forma que Darius? Que Lyall Lupin? As
ações de seu pai foram realmente justificáveis? Remus não podia ignorar o fato
de que sua mãe também o havia abandonado - o que tinha que significar
alguma coisa. Seus amigos certamente não o trataram diferente depois de
descobrir ..., mas então como alguém poderia realmente saber o que seus
amigos pensavam dele? Os marotos gostavam de tudo que fosse perigoso;
talvez dividir um quarto com Remus fosse simplesmente outro risco
emocionante.
O que ele realmente precisava, era falar com alguém imparcial. James tinha
muita sorte, tendo dois pais sempre dispostos a ouvir. Sirius tinha sorte de ter
James. Remus não tinha certeza se Peter tinha problemas ou não.
Provavelmente sim. Provavelmente contava para James também.
Havia McGonagall, Remus sabia que eles deveriam ir até ela com seus
problemas. Mas ela era tão severa e difícil, e gostava mais de James de
qualquer maneira. Madame Pomfrey, é claro; ela tinha o apoiado antes. Mas
ela não deixaria você sentir pena de si mesmo; apenas tentaria chegar a uma
solução com bom senso ou então diria a ele para não se preocupar tanto. Então
Dumbledore - mas Remus não tinha ideia de como falar com ele, e nem tinha
certeza se queria.
Remus sentiu uma espécie de parentesco não identificável com seu professor
de Trato das Criaturas Mágicas. Ele tinha uma presença muito reconfortante, e
Remus achou que se sentiria melhor se pudesse falar com ele, de alguma
forma, certo de que Ferox o ouviria com simpatia. Seu estômago deu uma volta
engraçada, como ansiedade, e Remus achou que era um bom sinal. Ele olhou
para o relógio no canto. Eram apenas cinco horas, os outros meninos não
estariam fora da detenção antes das seis e o toque de recolher não seria até as
oito.
Ainda assim, ele lançou seu feitiço localizador agora, e descobriu que o
Professor Ferox estava caminhando do Salão Principal para a sala dos
professores. Remus se levantou, apressado - se ele fosse rápido, poderia fazer
com que parecesse um encontro casual. Ele agarrou a capa de James antes de
sair, apenas no caso de Mary e Lily ainda estarem na sala comunal.
O que diabos ele estava fazendo? Indo ver o professor Ferox - e depois o quê?
Choramingar para ele sobre seu pai morto? Reclamar para ele sobre como
ninguém jamais iria entendê-lo, porque ele era uma criatura assassina das
trevas com um sotaque de classe média? Sobre como seus amigos estavam
ficando loucos por garotas, e ele se sentia deixado para trás?
O que diabos Ferox pensaria dele? Que ele era um grande covarde, só isso.
Você não podia simplesmente ir chorando para os professores sempre que algo
o incomodava; você não podia simplesmente esperar que todos sentissem pena
de você. Ninguém lhe deve uma vida feliz, a Matrona sempre dizia.
Ele se deitou na cama e olhou para o dossel. Se sentia pior agora. Não sabia o
que tinha acontecido - normalmente nunca foi do tipo que agia por impulso -
não mais, desde seu primeiro ano. Ele tinha uma forte sensação de que deveria
ver seu professor. Ah! Lá estava ela novamente, aquela cambalhota em sua
barriga. Não era emoção de forma alguma - era ... bem, ele ainda não tinha
certeza do que era. Ele se sentia quente, corado e estranhamente pinicante. Era
algo ... animal.
Uma besta boa é uma besta morta. Isso é o que Darius disse a ele. Na época,
Remus achou que era um pouco injusto ... afinal, ele nunca machucou
ninguém. Dumbledore não deixaria isso acontecer. Ele definitivamente não
queria machucar ninguém, exceto ocasionalmente Snape, e isso era normal,
não era?
Talvez Remus fosse mais perigoso do que ele pensava. Ele aprendeu a
controlar seu temperamento na maior parte do tempo agora, aprendeu a
controlar sua magia. Ele apenas tinha que aprender a controlar o que quer que
isso fosse também.
"Não é à toa que você precisou se deitar," Sirius sorriu. Remus jogou um
travesseiro nele.
"Sim?" Sirius parecia ansioso agora, ainda esfregando a cabeça, "Teve uma
ideia? Eu amo as ideias do Moony!"
"Hum ... não exatamente," Remus se sentiu estranho agora. Ainda assim, tinha
que ser feito. Ele tomou uma decisão. "Eu ... eu não quero que vocês façam
isso."
"Ele não quer que nos tornemos animagos." James disse, olhando para Remus
com aqueles olhos claros e honestos. "Está certo disso?"
"Estou muito grato, estou. Eu só ... eu não acho que nenhum de vocês
realmente entende o quão perigoso seria. Eu poderia machucar vocês. Eu
poderia ... eu poderia matar vocês. Eu não tenho controle sobre isso."
"Mas vai funcionar!" Sirius protestou, "Eu fiz toda a pesquisa, James, você
mostrou a ele?"
"Obrigado." Remus sorriu para James. Ele se sentiu péssimo por tê-los
decepcionado - mas era para o bem deles, e ele tinha que ser maduro.
Sirius parecia querer dizer outra coisa, mas James deu a ele um olhar severo
que era tão parecido com a Sra. Potter que silenciou o garoto mais baixo de
uma vez. Eles não falaram muito pelo resto da noite, e Remus teve que fingir
que estava lendo seu livro novamente.
Mais tarde naquela noite, depois que as luzes se apagaram, Remus ouviu Sirius
se arrastar até a cama de James e lançar o feitiço silenciador pela primeira vez
em muito tempo. Ele gostaria que o convidassem, apenas uma vez. Ele gostaria
de não ser sempre o único deixado de fora, gostaria de saber como é ter um
amigo tão próximo quanto James. Mais do que nunca, ele queria alguém com
quem conversar.
***
Remus nunca conheceu Davey Gudgeon antes - pelo que ele sabia, nem
qualquer um dos outros. Ele nunca descobriu como o garoto era. Mas ele se
lembraria desse nome até o dia em que morresse.
Dessa forma, Remus nem estava lá quando aconteceu. Era um dia após a lua
cheia e ele estava na ala hospitalar, como de costume. Peter estava sentado no
chão, separando seus cartões de sapo de chocolate, murmurando para si mesmo
feliz. James estava marcando o dever de adivinhação de Sirius, e Sirius estava
secretamente sacudindo sua varinha para James nas costas, mudando as cores
de seu cabelo para a diversão de Remus. Azul, rosa, verde, amarelo - estava
funcionando também; Remus achou isso histericamente engraçado, porque
James parecia tão sério, e quando ele estava se concentrando, sua língua
aparecia entre os dentes como um gato.
Foi uma tarde perfeitamente agradável, e Remus quase podia ignorar o quanto
seus ossos e dentes doíam enquanto estes voltavam ao lugar para mais um
ciclo.
Curiosos como eram, Sirius e James pularam da cama para espiar pelas
cortinas verdes claras. Remus suspirou, recostando-se no travesseiro. Ele
estava acostumado agora com o vai e vem da ala hospitalar; vozes elevadas
como aquela geralmente significavam que um feitiço deu errado. Ele tentou
ignorar - ele se ressentia de qualquer coisa que o lembrasse que ele estava em
um hospital, e não apenas aproveitando uma tarde preguiçosa com seus
amigos.
"O que?"
James acenou com a cabeça e saiu imediatamente, sem ao menos olhar para
seus amigos ou seu dever de casa. Você sempre podia contar com James.
"Sim," Sirius respondeu, parecendo abalado, "Não sei o que aconteceu, mas ...
era o rosto dele."
"Sim, sim, estou." Ele deu de ombros para Sirius, envergonhado, desejando
que ele pudesse ser normal pelo menos uma vez.
"Tudo bem, rapazes," Mary entrou na sala, Marlene a reboque, "Ouviram o que
aconteceu com aquele garoto Gudgeon?"
"Você viu o que aconteceu ?!" Remus perguntou, tentando manter o pânico
longe de sua voz.
"Eles terão que se livrar dele!" Marlene disse, estridente. "Dumbledore não
pode deixar isso aí agora. Alguém pode ser morto."
"Ele deveria ter ficado longe." Sirius disse, franzindo a testa, "É um jogo
estúpido. Todo mundo sabe como é aquela árvore."
Remus estava começando a ficar com dor de cabeça. Ele esfregou a têmpora e
fechou os olhos novamente, encolhendo-se na poltrona. A culpa rastejou por
sua espinha, pontadas de calor e frio. A árvore o acertou na cara?! Esse
menino Gudgeon ficaria bem? Certamente Madame Pomfrey seria capaz de
consertar, fosse o que fosse. Ela poderia consertar qualquer coisa.
***
Sirius recusou.
"Essa árvore tem tanto direito de estar aqui quanto qualquer um." Ele disse,
com firmeza, enquanto Marlene o perseguia com uma pena.
"Balaços também!" Ele voltou, esquivando-se dela, "Você vai deixar o time de
Quadribol?"
"Ugh, apenas assine, Black," Lily gemeu, tentando terminar seu dever de
Runas, "O que tem com você?"
"Princípios!" Ele cruzou os braços com firmeza. Lily revirou seus enormes
olhos verdes.
"Idiota." Ela murmurou baixinho, "Ele não consegue ver o quão chateada
Marls está?"
"Por que ela está tão chateada?" Remus perguntou, em um sussurro, quando
Marlene estava fora do alcance da voz. "Ela conhecia Davey?"
"Acho que não", Lily suspirou, "acho que ela só quer um projeto para tirar sua
mente das coisas em casa. Família, sabe."
Remus pensou sobre isso. Ele não conhecia Marlene tão bem quanto conhecia
Lily e Mary. Mary era tão extrovertida e conversava com qualquer pessoa. (Na
verdade, ela compartilhava até demais. Remus sabia mais do que gostaria sobre
suas preferências de amassos, para o gosto dele.) Marlene sempre foi a mais
quieta, mais tímida - menos segura de si mesma, mesmo nas áreas em que se
destacava. Ele não sabia muito sobre a família dela simplesmente porque
nunca lhe ocorreu de perguntar sobre as famílias das pessoas.
Remus não achava que a petição iria realmente a lugar algum. Dumbledore
havia feito um discurso proibindo qualquer um de se aproximar do salgueiro
novamente, e isso foi tudo que foi dito sobre o assunto. Os funcionários
estavam claramente inquietos e Remus estava apenas tentando manter a cabeça
baixa.
Os outros marotos não haviam dito nada a ele sobre isso e mudavam de
assunto sempre que surgia. Normalmente Remus preferia não discutir nada
relacionado ao seu 'probleminha peludo', mas agora ele estava começando a se
perguntar se eles secretamente o culpavam por tudo. James nunca diria isso em
voz alta, é claro - Peter talvez diria. Sirius poderia dizer e então retirar
imediatamente. De qualquer forma, nenhum deles disse uma palavra, deixando
a imaginação de Remus correr solta.
"Seus pais o estão levando para a América, onde estão sendo feitos avanços
nas poções de cura ocular." A professora atarracada explicou no café da
manhã. "Tenho certeza de que Davy e sua família são muito gratos por todas
seus desejos de boa sorte."
"Eles não vão se livrar dele, no entanto", disse Sirius, mais tarde naquela noite,
quando os marotos estavam sozinhos em seu quarto.
"Não, eu duvido," Remus chutou uma meia perdida debaixo da cama, as mãos
nos bolsos.
"Parecia a coisa certa a fazer. Quero dizer. Marlene está certa - a árvore é
perigosa. Não deveria estar em uma escola."
"Isso é estúpido." Sirius disse, sem rodeios, balançando a cabeça, "Você não
plantou aquilo, não é? Não sei se escapou da atenção de todos, mas esta escola
não é exatamente preocupada com a segurança. É construída ao lado de uma
maldita floresta cheia de criaturas mais perigosas do que uma bendita árvore, e
supostamente há um monstro literalmente adormecido em algum lugar abaixo
de nós e – sem ser engraçado - mas você já viu Hagrid?!"
"Não sei," Sirius deu de ombros, "Merdas acontecem? Não se culpe? Parede se
lamentar? "
"Lamentar ?!" Remus rosnou, sua temperatura subindo, "Vai se foder. Tem
uma criança que não consegue enxergar porque sou muito perigoso para estar
na escola! Tente dizer a Marlene o que eu sou, aposto que ela conseguiria
muito mais assinaturas NAQUELA petição."
"Você é nosso amigo." James disse, de repente. Remus olhou para ele. Foi uma
coisa estúpida, piegas e dramática de se dizer. Mas isso era metade do
problema com James - ele personificava tanto os valores irreais de lealdade,
justiça e honra, que obrigava você a acreditar neles também. Ele se sentou ao
lado de Remus na cama. "Você é nosso amigo, e isso é o mais importante, ok?"
Ele encontrou o olhar de Remus e olhou de volta, sorrindo. "Ok?" Ele disse.
Remus continuou a olhar feio, e James se aproximou mais, de modo que seus
joelhos bateram juntos, "Ok?!" Ele disse, inclinando-se para frente agora, seu
nariz a centímetros do de Remus. Remus conhecia essa tática - James fazia a
mesma coisa às vezes para animar Sirius. Ele nunca piscava - era altamente
enervante e, finalmente, Remus riu, se afastando,
"Ok! Ok!"
"Graças a Deus! Não podíamos perder você, Moony! " Ele falou. De repente,
Sirius e Peter seguiram o exemplo, se empilhado em Remus, que se viu no
fundo de uma confusão muito risonha.
"Ahh, você realmente nos ama" Sirius deu um tapinha em sua cabeça.
54. Terceiro Ano
Marlene
"Eu não vejo por que, no entanto," James respondeu, inocentemente. "Vocês
dois vieram para o Natal."
"Sim, mas há alguma regra sobre eu ficar em St. Edmund's durante todo o
verão," Remus deu de ombros. "Enquanto estou lá, tenho que seguir a lei
trouxa. Você não pode visitar ninguém quando está sob o cuidado deles, a
menos que sejam parentes."
"E você sabe como minha família é." Sirius suspirou pesadamente. "Mesmo
depois do Natal - e acho que foi apenas para me manter fora do caminho, para
ser honesto. Reg já me disse que sou esperado."
"Quando você falou com Regulus?" James ergueu os olhos, surpreso. Sirius se
mexeu ligeiramente em seu banquinho, parecendo constrangido,
"Er ... outro dia. Não valeu a pena mencionar, só o vi por um minuto. "
"Eu estarei lá durante todo o verão, James", disse Peter em voz alta.
"Não." Remus disse isso com tanta força que as cabeças de Sirius e Peter se
ergueram, alarmadas. Remus engoliu em seco, "Não faça isso, ok? É uma má
ideia."
"Talvez você não vá," Sirius disse, de repente, "Lua cheia é no dia 29 de
dezembro."
Remus olhou para ele estranhamente. Ele se orgulhava de ter uma excelente
memória, mas Sirius levava a melhor quando se tratava dos ciclos lunares.
James riu,
"Como é que você memorizou cada maldita lua cheia dos próximos cinquenta
anos, mas você não consegue receber mais que um 'Aceitável 'em
Astronomia?!"
"Algumas coisas são importantes a lembrar, outras não," Sirius deu de ombros,
esvaziando sua caneca, "E não saber as constelações é algo que realmente irrita
meus pais. Então."
***
Meados de maio de 1974
Remus bocejou e fechou seu livro. Ele havia estudado muito. Mais do que
suficiente. Estudado demais, se você perguntar a Sirius. Mas então, tudo era
muito mais fácil se você tivesse a sorte de ter a fortuna de parentes ricos e
mortos. Alguém com as perspectivas de Remus não podia se dar ao luxo de
relaxar.
Ele gostava de ficar na biblioteca até tarde - era quieto e tranquilo. Crescer
num lar de crianças e dividir um quarto com os marotos deu a Remus poucas e
preciosas oportunidades de paz e sossego.
"Remus?"
"Você dormiu", explicou ele, mantendo a voz baixa, "A biblioteca está
fechando em breve."
"Ah não!" Ela parecia perturbada, olhando para seu pergaminho, que estava em
branco. Ela espalhou um pouco de tinta na parte superior, mas nada mais. "Ah
não." Ela disse novamente, desamparada.
"Tenho tantas revisões para fazer! Não consigo me lembrar de nada sobre
crupes, e você? "
"O que? Mesmo?! Você tem certeza??" A garota agarrou seu braço, em pânico
irracional com essa informação.
"Er ... sim," disse Remus, recuando, incapaz de se livrar do aperto de Marlene.
"Claro que você tem certeza!" Ela disse, tristemente, finalmente o deixando ir,
"Você é o melhor da classe."
"Você também é muito boa ..." Remus começou, mas parou. O rosto de
Marlene se contraiu e ela começou a chorar.
Um grupo de sonserinos que passava riu dela, antes que Remus apontasse sua
varinha ameaçadoramente para eles. Marlene, ainda chorando, se jogou em
Remus, os braços em volta do pescoço dele enquanto soluçava em seu ombro.
Pego de surpresa, Remus tentou acariciá-la, gentilmente, enquanto o corpo
minúsculo dela tremia contra o dele. Ele nunca tinha sido abraçado por uma
garota antes - exceto a mãe de James, e isso dificilmente era a mesma coisa.
Ele não gostou. Seu ombro estava ficando molhado.
Marlene estava completamente alheia à sua estranheza, no entanto, "Eu sou
uma porcaria!" Ela fungou: "Eu estraguei tudo, nunca vou ser tão boa quanto
Danny, ou mamãe, ou você, ou Lily ..."
"Mas Mary tem um namorado e todo mundo gosta dela e ninguém gosta de
mim!" Ela chorou ainda mais.
Neste ponto, Remus decidiu que ele estava definitivamente perdido. Deu um
tapinha nas costas dela, sem jeito mais uma vez, e disse:
"Não, não está tudo bem ..." Marlene se afastou, ainda fungando. Seu rosto
normalmente pálido agora estava vermelho e manchado, seus olhos cinzas
ainda brilhantes. "Vou apenas lavar meu rosto", ela gesticulou em direção ao
banheiro feminino mais próximo, "Você espera por mim?"
Ela desapareceu e Remus caiu pesadamente contra a parede. Ele agora estava
carregando ambas as bolsas de livros e seus ombros doíam com o peso. O que
os outros fariam, nesta situação? James seria cavalheiresco, obviamente. Ele
provavelmente saberia exatamente o que dizer para impedi-la de chorar. Peter
nunca se colocaria nessa situação em primeiro lugar. Sirius ... bem, Remus
achava que Sirius provavelmente seria tão ruim quanto ele, na verdade. Ele
também não era bom com emoções; mal conseguia lidar com as próprias.
Ainda assim, Remus sabia que a coisa certa era esperar e levá-la de volta para
a sala comunal, então o fez. Não que Remus não sentisse simpatia por Marlene
- a pressão sobre todos era enorme, era difícil de ignorar. Era mais sua aversão
geral por choros. E é claro que ele nunca gostou de estar perto de pessoas
chorando; o deixava nervoso.
"Estou sendo boba", disse ela, enquanto caminhavam, "eu sei que estou - meu
padrasto odeia quando eu fico desse jeito. Diz que isso o deixa louco. Então
mamãe fica com o pior. Danny diz que preciso ficar mais forte e parar de agir
como um bebê, mas ..."
"Meu irmão", ela parecia surpresa, "tenho certeza de que o mencionei. Ele é
um batedor para os Canhões de Chudley. "
"Ah, certo, sim, eu sabia disso." Remus acenou com a cabeça, "Deve ser por
isso que você é tão boa."
"Bem." Remus tentou encolher os ombros sob o peso dos livros, "Você tem
apenas quatorze anos. Aposto que seu irmão não era tão bom aos quatorze
anos. Você venceu Sirius, e ele é muito bom. "
"É, bem, mas James é louco, você não quer ser como James."
"Não." Ele já havia esquecido o que ela disse sobre Mary, para ser honesto.
"Ela é minha melhor amiga," Marlene fungou, "E eu não tenho inveja dela nem
nada, ela só ... bem, ela gosta de se exibir, sabe. Ela é tão engraçada e tagarela
e tudo mais, às vezes eu me sinto um pouco ... quero dizer, ela já saiu com
Sirius e agora ela tem aquele namorado trouxa, e eu acho que o Professor
Ferox gosta dela mais do que de mim. "
"Ele é um professor." Remus disse, "Ele gosta de todos igualmente. Enfim,
você é engraçada. James está sempre falando sobre como você faz todo mundo
rir nos treinos de quadribol. "
"Mesmo?!" Ela pareceu corar novamente com a notícia. "E quanto a ... hum ...
e quanto a Sirius, ele acha que eu sou engraçada?"
"Sim, óbvio," Remus acenou com a cabeça, satisfeito por ela finalmente estar
sorrindo de novo, "Todos nós achamos. Sua imitação da McGonagall é a
melhor."
Atrás dele, alguém assobiou, alto. Ele nem precisou se virar para saber quem
fora.
"Lá vem ele! Cuidado, senhoras, o galã número um da Grifinória, passando! "
Sirius gritou quando Remus foi se juntar a seus amigos perto da lareira. James
estava imerso em um livro, mas olhou para cima e deu uma piscadela para
Remus. "Você vai ter que nos contar seu segredo, Moony," Sirius continuou,
"Você parece conseguir todas as garotas."
"Ela é apenas uma amiga e você sabe disso. Onde está Pete?"
"No banho", respondeu James, "Pirraça o atacou com uma jarra de creme de
leite do jantar de ontem."
"Eurgh."
"Sim, foi esse mesmo som que ele fez", James sorriu, voltando ao livro.
"Graças a Merlin, você voltou," Sirius se dirigiu a Remus, "James está tão
chato hoje."
"Estou revisando." James disse, calmamente, virando uma página: "Você
também deveria estar."
"Pfft."
"Eu cansei de revisar por hoje," Remus sorriu, "Quer um jogo de snap?"
"Muito bem, garoto!" Ferox deu um tapa nas costas dele no café da manhã, na
manhã seguinte a que os resultados saíram. "Meu melhor aluno."
"Eu tenho alguns livros se quiser emprestado durante o verão - apareça no meu
escritório antes de ir, hein?"
"Não posso acreditar que é 'até o quarto ano agora." James disse, limpando os
óculos em suas vestes.
"Tenho muito o que fazer durante o verão", James respondeu, "Vai passar
voando."
"O que vocês vão fazer no verão?" Remus perguntou, desconfiado.
Era o último dia oficial do semestre, então Remus decidiu ignorar o fato de que
isso era claramente uma mentira. Ele teria todo o verão para ficar paranoico
sobre os outros três o deixando de fora; não havia necessidade de se preocupar
com isso ainda.
Depois do café da manhã, ele queria ir direto ver o Professor Ferox, mas achou
que isso poderia parecer um pouco ansioso demais - além disso, os outros três
certamente iriam querer ir com ele, e Remus não suportava a ideia de Ferox
conhecer Sirius e James. Ele, sem dúvida, ficaria encantado com o carisma
natural deles e se perguntaria por que achava que Remus era especial.
"Vai ter que ser feito, quer você goste ou não", James repreendeu, com as mãos
nos quadris em uma imitação muito boa de sua mãe.
"Você faz pra mim, como no ano passado," Sirius respondeu, de pé em sua
cama e tentando fazer flexões penduradas na estrutura da cama. As vigas de
madeira antigas rangeram.
Remus fechou seu próprio malão. Seu canto da sala parecia muito vazio, sem o
caos usual de livros, papéis, penas e roupas espalhadas sobre ele. Ele foi até a
vitrola para dar uma última carícia afetuosa nas capas de seus álbuns favoritos.
Os verões eram tão quietos, sem a música de Sirius. A Matrona só ligava o
rádio uma vez por semana - no Radio 3 Choral Evensong.
"Moony," James disse, de repente, "Você não tem que ir ver a Madame
Pomfrey?"
"Er ... sim, mas não agora ..." Remus ergueu os olhos, surpreso.
"Bem, quero dizer, se você terminou de fazer as malas, pode ir, certo? Quando
eu terminar as coisas de Sirius, iria sugerir que todos nós saíssemos para dar
uma volta em nossas vassouras, e você odeia voar, então ... "
"Ah sério? Ok então." Remus assentiu, sentindo-se inexplicavelmente
magoado. Não era típico de James expulsar você do quarto.
"É, acho que sim ..." Remus saiu da sala, sentindo-se como se estivesse sendo
escoltado de uma festa para a qual não foi convidado. É justo, ele não gostava
muito de voar. Mas isso geralmente não importava - muitas vezes ele se
sentava nas arquibancadas e lia seu livro enquanto os outros se divertiam no ar.
Ele não teria se importado em fazer isso desta vez.
Ele tinha que ver a Madame Pomfrey, de qualquer maneira, então ele foi para a
ala hospitalar, lutando para se livrar da sensação desagradável de exílio.
***
"Você vai sentir falta dos seus amigos", ela estalou a língua com simpatia. "É
uma pena, eu sei. Ainda assim, imagino que você tenha muitos amigos trouxas
com quem brincar. "
Ela lhe deu as mesmas instruções do ano anterior - coma bem, faça exercícios e
descanse.
Tendo resolvido isso, Remus considerou voltar para o dormitório. Talvez todos
eles tivessem acabado de falar sobre ele, ou seja, lá o que for que eles
precisavam fazer quando ele estava fora do caminho. Talvez eles já tenham
voado. Ele não os invejava por isso; James achava que, se Sirius estivesse
irritado ou muito nervoso, uma boa hora de exercício era a melhor coisa (e
geralmente era). Além disso, era uma das poucas vezes que Peter não ficava de
fora. Apesar de sua falta de jeito em terra, Pettigrew era surpreendentemente
bom com a vassoura. Sem dúvida, um resultado do treinamento implacável de
James.
Era realmente o momento perfeito para ir ver o Professor Ferox, é claro, mas
Remus demorou. Se sentiu repentinamente muito tímido, nunca tendo ido ver
um professor sozinho antes - a menos se tivesse tomando bronca, é claro.
Caminhando lentamente, eventualmente teve que fazer uma escolha direcional
em um determinado corredor e decidiu que era melhor acabar logo com isso.
Ele não estava sentado em sua mesa - Remus achava que nunca tinha visto
Ferox sentado, exceto na hora das refeições, ele estava sempre se movendo.
Agora mesmo, o homem estava embalando um pequeno baú, enquanto
Aquiles, o kneazle, observava em silêncio do parapeito da janela. Mesmo
depois de um ano de aulas com Ferox, Remus ainda estava um tanto surpreso
com seu professor. Sua presença gigantesca não havia diminuído, sua juba de
cachos cor de areia ainda era gloriosa, seu rosto, ainda heroico, com os traços
decididamente esculpidos.
"Olá, senhor," Remus sorriu ao entrar, fechando a porta atrás de si. "Você
pediu para me ver?"
"De fato, eu pedi", Ferox sorriu amplamente, acenando para uma pilha de
cinco livros em sua mesa, "Esses são para você, se você tiver espaço em seu
baú. O livro definido para o próximo ano e algumas outras coisas que achei
que poderiam interessar a você."
"Bem, eu sei que você fica um pouco fora de alcance durante as férias, então
achei que você gostaria de começar." Ferox continuou a sorrir seu grande
sorriso fácil.
Remus sentiu um estranho tipo de calor percorrendo seu abdômen. O que era
estranho, porque ele ainda não tinha bebido sua cerveja amanteigada.
Remus piscou. Era uma notícia interessante - ele presumira que a maioria dos
professores de Hogwarts - na verdade, a maioria dos adultos que ele respeitava
- fossem todos puro-sangue. Foi um imenso alívio saber que não era esse o
caso.
"Nós, crianças perdidas, temos que ficar juntas, não?" Ferox piscou para ele.
"Bem, sempre haverá pessoas que não conseguirão ver além do seu status
sanguíneo, não importa quem você seja", disse Ferox, com um sorriso irônico
em sua voz, "Mas você aprende muito rápido como provar que estão errados.
Bem, eu não preciso te dizer como. "
"Não." Remus concordou. Ele tomou um gole de sua cerveja amanteigada.
"Então ... você também é órfão, professor?"
"Eu sou. Criado na sarjeta, também, você não acreditaria o quanto eu fui zoado
pelo meu sotaque naquela época. "
"Mary e Marlene acham que você soa como Paul McCartney." Disse Remus.
Ferox riu, uma risada grande, alegre e ofegante.
"Só serve para mostrar", disse Ferox, "você nunca sabe o que as outras pessoas
vão pensar de você. Portanto, nunca assuma nada, hein? "
Remus estremeceu - ele pensou que sabia o que estava por vir. Estava
esperando por isso desde antes do Natal. "Tudo bem se você não quiser falar
sobre isso", disse o professor.
"É uma maneira de falar," Ferox disse, em um tom medido. "Não sei se você
sabe disso, mas conheci seu pai, Lyall, muito bem."
Remus quase engasgou com sua cerveja amanteigada. Ele não esperava por
isso. Ferox continuou: "Nosso trabalho muitas vezes se sobrepunha, você vê -
eu era jovem, havia começado no departamento de Controle de Criaturas
Mágicas. Eu o conhecia de reputação, é claro, então tentei aprender o que
pude, embora nunca tenha dominado bichos-papão como ele."
"Eu ..." Remus desviou o olhar, para fora da janela. Ele não achava que poderia
falar e olhar para Ferox ao mesmo tempo. "Ele era da Corvinal", ele começou,
como se estivesse marcando itens em uma lista, "Ele era bom em duelar. Ele
era bom com bichos-papões, dementadores e poltergeists, e odiava lobisomens,
queria todos eles mortos e ele..." - Remus engasgou, querendo se levantar e
sair da sala.
"Onde você ouviu tudo isso?" Ferox parecia chocado. Remus olhou para ele,
embora tudo estivesse borrado em lágrimas agora. Parecia que todos os
pensamentos desagradáveis e rancorosos que ele vinha tendo desde dezembro,
haviam vazado como veneno.
"Darius Barebones." Ele disse, esfregando os olhos com força nas mangas de
suas vestes, forçando-se a se controlar. "Conheci ele na festa de Natal do
Potter."
"Aquele velho bêbado." Ferox retrucou, rispidamente. Ele parecia irritado, mas
não com Remus. "Eu sinto muito, Lupin, que coisa a se ouvir. Não é verdade,
você sabe. "
"É verdade." Ferox disse, com firmeza. "Ele era um bom homem. Ele faria
qualquer coisa por qualquer pessoa. "
"Darius disse que achava que Lyall foi mordido por Greyback, é por isso que
ele se matou."
Remus concordou. Ferox parecia muito sério. "Eu ouvi esse boato. Não ficaria
surpreso se Dumbledore começou isso para proteger você, para ser honesto.
Pessoalmente, nunca acreditei. Então eu conheci você, é claro, e tudo ficou
claro."
"É tão óbvio?" Remus perguntou, levantando os dedos até a cicatriz em seu
rosto, com mais de um ano agora, mas ainda dura e vermelha.
"Não," Ferox balançou a cabeça, "A maioria dos bruxos não reconheceria um
lobisomem se ..."
"Professor?"
"Sim?"
"Receio que não tenhamos certeza. Ele ainda está vivo, e no que diz respeito ao
ministério, ainda é procurado por seus crimes. Não sei se eles vão pegá-lo, para
ser honesto, o homem é um maníaco, pelo que sei. "
"Talvez."
Remus ficou surpreso com a honestidade de Ferox. Ele não parecia tão
preocupado quanto a maioria dos adultos em protegê-lo das verdades mais
duras. "Isso te assusta?" O professor perguntou.
"Eu acho ... que sempre soube. Que vou encontrá-lo novamente. "
"Eu não vou." Remus sabia que era mentira, mas também sabia que não havia
nada que Ferox pudesse fazer para detê-lo.
"Se você tiver mais perguntas, quero que se sinta confortável para me
perguntar." Ferox disse, "Há alguns recortes de jornal antigos dentro do livro
de cima," ele acenou com a cabeça para a pilha que ele presenteou Remus, "Eu
pensei que você deveria ficar com eles. Coisas assim não devem ser escondidas
das pessoas, e você já tem idade suficiente."
"Obrigado professor."
"Não, professor."
Estava muito quieto na torre da Grifinória agora. A maioria dos alunos havia
terminado de fazer as malas e, sem dúvida, estava lá fora aproveitando o ar
livro. Os pensamentos de Remus se voltaram para Davy Gudgeon, e ele os
reprimiu. Uma crise emocional de cada vez.
Lyall Lupin, que morreu aos 36 anos, será lembrado como um especialista de
renome mundial em aparições espirituais não humanas, por seu extenso
trabalho com bichos-papões e poltergeists, dementadores e, mais recentemente,
seus esforços para reformar o registro nacional de lobisomens.
Lupin deixa sua esposa, a trouxa Hope Lupin, com quem se casou em Cardiff
em 1959. O casal tem um filho pequeno, Remus John Lupin, nascido em 1960.
A família pediu privacidade durante o período de luto.
A primeira vez que os leu, Remus nem mesmo usou seu auxilio de leitura. Na
segunda, terceira e quarta vezes, ele o usou. Repetidamente, como se houvesse
algo mais neles, como se pudesse sugar a verdade para fora. Não tinha mais
respostas do que antes, e uma bola de fúria quente e raivosa começou a crescer
dentro de seu peito, queimando mais fortemente cada vez que ele relia e relia.
Moony,
As coisas estão estranhas aqui - meus pais nem estão mais interessados em me
disciplinar, eles simplesmente continuam participando de todas essas reuniões.
Às vezes elas são na nossa casa, às vezes eles saem - eu acho que eles vão para
a casa de Bellatrix, talvez. Ou dos Malfoy. Regulus não quer me dizer o que
está acontecendo - eu acho que eles provavelmente colocaram um feitiço
de lábios travados nele ou algo assim, porque normalmente ele não conseguia
resistir se vangloriar de algo assim para mim.
Eu sinto que algo ruim vai acontecer. Eu sei que parece estúpido, mas algo
definitivamente não está certo nesta casa. Às vezes, fico feliz que você, James
e Peter estejam tão longe.
Vou tentar pedir para ficar com James novamente. Eu sei que é maluquice, mas
honestamente, se eles vão me ignorar de qualquer maneira, qual é o ponto?
Nem mesmo fui convidado para ser o padrinho no casamento de Cissy (melhor
ainda, para ser honesto), então sempre há a possibilidade de que eles tenham
me deserdado e simplesmente esquecido de mencionar isso.
Mal posso esperar até que tenhamos dezessete anos, então podemos
simplesmente morar juntos o tempo todo, como em Hogwarts. Eu quero morar
na Carnaby Street, como no Melody Maker. Você vai ter que me mostrar a
cidade - eu sei como o dinheiro trouxa funciona agora, graças aos estudos dos
trouxas.
Desejo o melhor,
Sirius O. Black.
***
Sirius,
Remus.
***
Caro Moony,
Só para você saber, Sirius está vindo para ficar conosco neste verão. Ele deve
chegar esta tarde, então envie seu correio aqui. Espero que seu verão esteja
indo bem? Você parecia um pouco estranho no final do semestre.
Eu sei que você vai dizer não, mas mamãe e papai ainda dizem que você está
convidado para ficar quando quiser. E poderíamos sempre ir até você, apenas
para visitar. Não quero que você fique sozinho aí, cara, especialmente hoje em
dia.
James.
***
James,
O que você quer dizer com 'hoje em dia'? Era disso que Sirius estava falando
sobre as reuniões de família? Você sabe como os Black's são, eles adoram
segredos. Provavelmente não é nada. Eles provavelmente estão planejando o
noivado de Regulus ou algo parecido e querem Sirius fora do caminho.
***
Caro Remus,
Desculpe se eu chateei você, cara, eu não queria. Vou parar de perguntar sobre
isso, se quiser.
Espero que você esteja tendo um bom verão de qualquer maneira, todos nós
gostaríamos que você estivesse aqui. Você está certo, se Dumbledore diz que
você está seguro aí, você está seguro aí. Papai disse que Dumbledore pode ser
o único em quem podemos confiar, em breve.
Se cuida,
James.
***
Oi Moony,
Quatro marotos são definitivamente melhores do que três. É ótimo ter Sirius
aqui e tudo, mas é como se sempre tivéssemos que fazer o que ele quer
Tenho muita sorte que mamãe me ainda me deixe vê-los depois que Phil saiu
de casa. Recebi um cartão-postal dela outro dia, ela está na América, você
pode acreditar nisso? Ela disse para te dizer olá, então 'olá' de Phil.
Peter.
***
Moony,
Por que você se chateou James? Ele acha que não foi sua intenção de soar
assim, mas eu sei como você é, seu velhote rabugento. E aí?
Sirius O. Black
P.S. Como é que Philomena disse 'olá' para você, e não para qualquer um de
nós? Você é um maldito mulherengo.
***
Remus,
Eu sei que você recebeu minha última carta, a coruja voltou e as corujas dos
Potter são ainda mais confiáveis do que as da minha família.
Sirius O. Black
***
James.
***
Moony?
***
Craig foi preso em algum momento durante o ano letivo e Remus voltou para
descobrir que o companheiro de Craig, Ste, agora estava encarregado das
atividades criminosas de St. Edmund's. Ste era muito mais feio e estúpido do
que Craig.
"Agora 'cê ta meio alto p'roubar, não ta não?" Ste apertou os olhos para Remus.
"Brigando."
"Vai se foder," Remus deu um passo mais perto, "Eu não sou nenhum mimado
não." Ele era tão alto quanto o garoto de dezesseis anos - talvez até alguns
centímetros a mais. Sim, ele era magricela, mas estava mantendo seu
temperamento e Ste estava começando a parecer muito menos seguro de si.
"Ok, ok." O garoto mais velho disse, inclinando a cabeça para trás, longe de
Remus. "Se acalma aí maluco, 'cê tá dentro."
Até agora, nada havia lhe dado satisfação alguma. Se sentia mais isolado do
que nunca - e com mais raiva do que jamais sentiu.
Remus quase odiou Ferox por dar a ele aquelas informações no último dia do
semestre - ele não conseguia entender, ou fazer qualquer coisa a respeito. Não
havia ninguém para conversar; ele era proibido de mencionar Hogwarts para
qualquer pessoa em St Edmund's, e ele nem sabia por onde começar com os
outros marotos.
As cartas deles o enfureciam, e ele amassou cada uma delas com seus punhos e
então as jogou fora. Não conseguia ler ou assistir TV, ou mesmo encostar em
sua lição de casa. Se sentia como se tivesse energia infinita acumulada, como
um animal espreitando por toda a extensão de sua jaula. Isso crescia dentro
dele, fervendo até que estivesse quase explodindo com o desejo de atacar e
espancar a próxima pessoa que cruzasse seu caminho.
Seu primeiro trabalho foi fácil; ele nem precisava ser pequeno para isso. Eles
roubaram um carro e tudo o que ele precisou fazer foi entrar com o resto deles.
Eles dirigiram por aí na maior parte da noite, fumando e bebendo de uma
garrafa de vodka que surrupiaram de uma loja de esquina.
Remus decidiu que gostava de fumar. O fazia parecer mais durão e mantinha
suas mãos ocupadas; ele gostava de bolar cigarros e de como eles queimavam,
a centímetros de seus lábios. Ele gostava de respirar nuvens de fumaça e
pensava em Ferox perseguindo dragões na Romênia.
"Precisa botar umas roupa direita, Lupin," Ste gaguejou, uma noite, "Não
posso deixar 'cê parecendo um cafetão o verão todo."
Remus olhou para seu jeans padrão de St Edmund's e sua camiseta cinza.
Havia vômito em seu tênis. Ele tinha feito isso? Não conseguia se lembrar.
"Num tenho dinheiro, tenho?" Ele respondeu, procurando o cigarro que enfiara
atrás da orelha apenas alguns minutos atrás - ou pelo menos pensava que tinha.
E eles realmente arranjaram. Pela primeira vez, Remus parecia com todos os
outros garotos de sua idade - não em roupas de segunda mão, mas novas em
folha. Calça jeans azul brilhante, uma camisa de botão (imitação de Ben
Sherman, mas tão boa quanto a verdadeira), suspensórios brancos e botas
pretas de couro. Eles rasparam seu cabelo, ainda mais curto do que a Matrona
fazia.
" 'Cê tá a cara do trabalho." Ste o segurou pelo braço, esfregando sua cabeça
com os nós dos dedos ásperos.
Ele apenas balançou a cabeça e esperou que ela fechasse a porta - já podia
sentir seu sangue fervendo enquanto a mudança começava.
No dia seguinte, ele estava fraco demais para se mover. Madame Pomfrey
insistiu em ficar o dia todo para vigiá-lo, até mesmo providenciou para que
uma cama fosse colocada em sua pequena cela. A ressaca não era nada
comparado as transformações, Remus pensou consigo mesmo. Ele teria matado
por um cigarro, no entanto.
Entediado e cansado demais para ficar com raiva, ele finalmente pegou um
livro. Os três pedaços de jornal caíram novamente e ele rapidamente fechou a
capa antes que Madame Pomfrey pudesse ver.
Greyback.
Era por isso que ele estava com tanta raiva, percebeu, no primeiro momento de
clareza que teve durante todo o verão. Na verdade, Greyback era basicamente a
razão por trás de tudo que havia dado errado na vida de Remus. Onde ele
poderia estar? Era possível caçar um lobisomem? Havia muitos livros sobre
isso na biblioteca de Hogwarts, mas Remus sempre os evitou antes, com medo
do que poderiam dizer.
Bem, difícil. Ele teria que parar de ser sensível com coisas assim. Teria que
parar de se esconder de si mesmo; parar de deixar todo mundo pisar nele, se
ele algum dia ainda fosse ... sim.
Ele iria matar Greyback. Caçá-lo e depois acabar com ele, exatamente como
seu pai queria. Lyall Lupin não teria morrido em vão. Uma onda de adrenalina
percorreu Remus enquanto ele pensava nisso. Era muito melhor do que raiva.
Poderia levar anos antes que ele estivesse pronto, ele sabia disso. E ele
precisaria de dinheiro. Assim que Remus se recuperou, ele se aproximou de
Ste mais uma vez.
"E aí Lupin, meu parça?" O menino mais velho sorriu com dentes amarelos
através de uma névoa de fumaça doce e cheirosa. "Puta que pariu, que é que te
aconteceu?" Ele franziu a testa para os cortes recentes de Remus.
"Esqueça isso." Remus rosnou, não enfatizando mais seu antigo sotaque, "No
verão passado, Craig roubou tantos pubs e mercadinhos que eu tinha um baú
cheio de de cigarros. Este ano não tenho porra nenhuma. Você não é tão bom
quanto Craig, ou coisa assim?"
"Não, você toma cuidado." Remus rosnou, mostrando os dentes, "Eu só tenho
mais duas semanas e preciso estocar. Você tá dentro ou não?"
57. Quarto Ano
Uma Tempestade Se Formando
Enquanto Remus se aproximava da estação King's Cross pela quarta vez desde
sua infância, ele se sentia totalmente invencível. Ele havia crescido ainda mais
durante o verão, e seu rosto também mudara - não mais infantil e redondo; sua
mandíbula estava rígida e seus olhos maldosos. Com suas pesadas botas pretas
(polidas até brilhar naquela manhã) e suas roupas novas e elegantes, Remus
sentiu um senso de identidade mais forte do que nunca. Ste queria muito fazer
uma tatuagem nele antes de voltar para a escola, mas Remus se recusou a fazer
isso - ele já tinha marcas suficientes.
"Todos vão pensar que você se juntou a uma gangue", resmungou a Matrona,
mal escondendo seu desdém quando o deixou do lado de fora da estação,
"Você parece um delinquente."
Ela deu-lhe um golpe certeiro atrás de sua orelha e ele estremeceu. Hoje em
dia, ela tinha que estender a mão para fazer isso, mas ela ainda sabia
exatamente onde doía mais.
"Você estará na escola antes de escurecer, não é?" Ela disse, como um negócio.
Ele acenou com a cabeça, taciturno. Era lua cheia naquela noite. "Ótimo." Ela
assentiu. "Até o próximo verão, então."
Ele entrou na estação sozinho e caminhou por entre a multidão com um andar
masculino treinado - pernas abertas, mãos fechadas em punhos. As pessoas
saíram rapidamente de seu caminho quando ele se aproximava, e um guarda da
estação o olhou com desconfiança. Remus ignorou todos eles e avançou,
propositalmente, diretamente através da barreira de tickets, entrando na
Plataforma 9 ¾ sem nem mesmo pestanejar.
James, que estava sentado no meio, segurando o papel, abaixou-o e três pares
de olhos olharam para Remus. Peter parecia pálido e nervoso, o que era
bastante normal, e começou a mastigar o lábio inferior, olhando para James em
busca de uma resposta apropriada.
James sorriu, tentando ser amigável, mas seus olhos castanhos vagaram por
Remus, desde suas botas de combate com solado de aço até sua cabeça
raspada. Sirius era o mais difícil de ler; seus olhos se arregalaram ligeiramente,
mas sua expressão permaneceu neutra. Remus se jogou no assento oposto
como se não tivesse notado. "Bom verão?"
"Nada mal", disse James, com cautela, "O de sempre, você sabe ... como foi o
seu?"
"É, foi bom." Remus retirou uma pequena caixa de lata do bolso de trás e abriu
para revelar cinco cigarros pré-enrolados. Ele colocou um entre os lábios e
acendeu-o com um fósforo quando o trem começou a se afastar da estação.
Peter agora estava olhando para Remus com a boca ligeiramente aberta, como
se não o reconhecesse. James parecia preocupado, uma pequena ruga se
formou entre suas sobrancelhas,
"Fazendo o que?" Sirius perguntou, sem rodeios. James se levantou para abrir a
janela e expulsar a fumaça, mas não disse nada sobre isso.
"Apenas ocupado." Disse Remus. Afinal, eles mantinham segredos dele. Não
precisava contar tudo a eles.
"Já vi trouxas vestidos assim," Sirius finalmente falou, "É legal, certo,
Remus?"
"Ah, bem, se for uma coisa trouxa ..." disse James, incerto. "Tem certeza que
está bem?"
"Não enche, Potter," Remus suspirou, revirando os olhos. Ele não queria mais
falar sobre isso. Embora ele esperasse - até quisesse - uma reação, ele não
gostou da maneira como todos estavam olhando para ele. Típicos puro-sangue,
eles podiam andar por aí em túnicas centenárias e chapéus pontiagudos
estúpidos e ninguém dizia uma palavra - mas jeans e doc martens
aparentemente eram longe demais.
"O que você está lendo, então?" Ele perguntou, apontando para o jornal, na
esperança de distraí-los.
"Guerra?!" Isso o fez sentar-se direito. "Que guerra?" Ele olhou para a
manchete, que dizia 'Jenkins crítica ao passo que as medidas de segurança no
ministério se tornam mais rígidas'.
"Você não sabia?" James parecia incrédulo, "O mundo mágico está
oficialmente em guerra desde 1970."
"Acho que essas são as reuniões a que minha família vai," disse Sirius, em voz
baixa, embora estivessem sozinhos. "O pai de James concorda comigo."
"É por isso que foi um prazer estar por perto dos sonserinos no ano passado?"
Remus perguntou, ligando os pontos agora.
"Sim," disse Sirius. "E será pior este ano, pode apostar."
"Houve alguns ... ataques neste verão." James disse, nervoso. "À trouxas e
algumas famílias de sangue misto."
"Eles acham que o Lorde das Trevas está usando criaturas perigosas", disse
Peter, com a voz trêmula de medo, "Vampiros e gigantes e ... e ..."
"E lobisomens?"
Ele andou pelo trem como um furacão, os alunos mais jovens saltando para
fora de seu caminho quando ele passou por eles, apavorados. Não precisava do
banheiro, obviamente, mas não havia exatamente outro lugar para ir, então ele
se trancou dentro de um cubículo na extremidade do vagão. Era muito mais
elegante do que os banheiros em trens trouxas - com cortinas de veludo
vermelho de verdade nas janelas e luminárias douradas cintilantes. O espelho
tinha até uma moldura dourada. Ele se encarou por alguns minutos, encarando
seus próprios olhos, cerrando os punhos nos lados da pia até que os nós dos
dedos ficassem brancos.
Ele pensou que seria mais forte depois deste verão - pensou que nada poderia
tocá-lo agora. Mas tudo já estava desmoronando, mais rápido do que esperava,
e ele havia perdido a cabeça na primeira menção de lobisomens. Como faria o
que precisava ser feito se não pudesse ficar calmo? Greyback o comeria no
café da manhã.
Incapaz de olhar para si mesmo por mais tempo, Remus sentou no assento do
vaso sanitário e considerou socar o apoiador de sabonete. Isso provavelmente
não proporcionaria a satisfação de que ele precisava, e apenas acabaria coberto
de limo rosa com perfume floral. Em vez disso, ele chutou a pia com a bota,
deixando uma longa mancha de borracha preta na porcelana branca.
"Porra." Ele murmurou. Isso foi bom. "PORRA." Ele gritou, chutando a bacia
novamente.
Severus pode tê-lo assustado quando os dois tinham onze anos, mas aos
quatorze Remus se elevava sobre Snape agora, e com sua varinha apontada e
seu rosto contorcido em irritação, ele deve ter sido uma visão assustadora.
"Você." Ambos assobiaram. Snape jogou seu cabelo preto oleoso e zombou,
"O que você está vestindo?" Snape fez uma careta, olhando-o de cima a baixo
com nojo. "Essas são roupas trouxas?"
"E daí se eles forem?" Remus deu um passo à frente, agora tão perto do garoto
Sonserino que estava praticamente respirando nele. "Tem algo a dizer? Você
não é tão durão sem seus amiguinhos assustadores por perto, não é, Snivellus?
" Ele lhe deu um empurrão forte, jogando Snape no chão.
"Você vai descobrir tudo sobre meus 'amigos' este ano, Loony Lupin, eu
prometo." Ele disse, muito friamente.
Os olhos de Snape brilharam e um olhar de puro ódio cruzou seu rosto. Ele
pegou sua varinha, mas - seja graças à proximidade da lua cheia, ou apenas
pura adrenalina - Remus foi mais rápido. Ele agarrou o pulso de Severus e o
jogou contra a parede da carruagem, fazendo o sonserino gritar e largar sua
varinha. Então, pensando em nada além de causar o máximo de dor possível,
Remus jogou a cabeça para frente e deu uma cabeçada em Severus,
derrubando-o uma segunda vez.
Snape estava olhando para ele, seus olhos negros brilhando de medo e raiva,
ele agarrou o manto contra o nariz, que agora jorrava sangue. Remus, não se
sentindo melhor com nada disso, cuspiu no chão e passou por cima de Snape.
"Este é o seu aviso para o resto do ano", ele rosnou, "Fique fora do meu
caminho."
Snape não disse nada, mas não tentou se levantar. Remus se afastou, confiante
de que o outro garoto não tentaria nada agora. Ele retrocedeu pelo caminho de
onde veio, tentando fugir do cheiro forte e inebriante de sangue, e se trancou
no primeiro compartimento vazio que encontrou.
Remus olhou para ele, surpreso. Sirius sorriu, compreensivo, então um lado de
sua boca se repuxou para cima, "E se quiser saber, eu realmente acho que você
tá foda pra caralho."
"Sério?"
"Obrigado."
"Foi ok. Eu estava ... fiz muitas coisas. Eu não quero que James saiba sobre
isso."
Ele pronunciou a palavra como se fosse nova para ele, com um sotaque
ligeiramente francês, o que era estranhamente cativante. Remus sentiu uma
onda de afeto por seu amigo, o que fez seu coração disparar novamente. Ele
pescou um cigarro de sua caixa e jogou-o junto com os fósforos. Observou
Sirius franzir os lábios cuidadosamente ao redor do cilindro de papel branco,
riscando um fósforo e colocando as mãos perto do rosto. Ele não tossiu, o que
era bastante impressionante por si só, mas apenas respirou fundo antes de
expirar e fez uma careta.
Foi estranhamente hipnótico observar Sirius fumar. A névoa cinza azulada fez
a carruagem parecer mais íntima e privada. Remus começou a relaxar pela
primeira vez em meses, como se algo dentro dele estivesse se desenrolando,
lentamente. Ele olhou para Sirius e pensou - por que não?
"Eu descobri algumas coisas, final do semestre passado." Ele disse baixinho,
olhando para as botas novamente.
Ele enfiou a mão no bolso da camisa e retirou os três recortes de jornal que
Ferox lhe dera no ano anterior. Os entregou a Sirius, que estendeu a mão
através da fumaça com longos dedos brancos para recebê-los. "Não quero falar
sobre isso ainda." Remus disse, rapidamente, "Mas leia se quiser."
"Caso você esteja com fome", explicou a enfermeira, "você ainda tem um
pouco de tempo".
Ele estava morrendo de fome, mas não conseguia comer. Em vez disso, ele
apenas se sentou em sua cama e esperou ser trancado, desejando que houvesse
pelo menos um pouco de luz no quarto sombrio. Remus pensou sobre o
banquete - sem dúvida sua parte favorita da primeira noite, além de dormir em
sua cama grande e confortável. Nenhum dos dois estaria acontecendo esta
noite.
***
"Eu realmente não estou tão mal.", ele persuadiu, "Você fez um ótimo trabalho
no meu ombro ... Acho que estou bem para ir às aulas."
"Não gosto do jeito que você está mancando", respondeu ela, "primeiro a ala
hospitalar, vamos ver como você estará na hora do almoço."
"Mas é meu primeiro dia ..." ele sabia que estava choramingando, mas tinha
que tentar.
"Sinto muito, Remus. De qualquer forma, olhe para você, você está caindo de
sono. Algumas horas dormindo e você se sentirá muito melhor."
"Como James conseguiu acordar vocês dois tão cedo?" Remus sorriu para eles.
"Não foi fácil," James sorriu de volta, Sirius abafando um bocejo atrás dele.
"Tive de recorrer a ameaças de violência".
"E violência real", disse Peter, esfregando o braço, que parecia muito
vermelho.
"Você está bem, Moony?" Sirius perguntou, piscando muito para tentar se
manter alerta.
"Não podemos ficar muito tempo de qualquer maneira", disse James, "Aulas e
tudo mais. Trouxemos para você seu novo horário, Moony." Ele entregou a
folha.
"Vamos pegar sua lição de casa, Moony, não se preocupe," disse Sirius,
entretido. "É bom ver você de volta ao normal."
"É," Remus ergueu uma sobrancelha, esticando um braço nu para exibir suas
novas marcas de garras, "Não dá pra ficar mais normal que isso."
***
Ele se sentiu muito melhor depois de dormir pela manhã inteira. A raiva que o
havia dilacerado nos últimos meses ainda estava muito presente - mas de
alguma forma ela havia mudado e ele era capaz de pensar em outras coisas. Em
Hogwarts, ele se sentia melhor equipado para controlar seu temperamento, se
sentia mais equilibrado e mais são. Por mais que não gostasse de admitir para
si mesmo, Remus estava começando a se sentir mais em casa no mundo bruxo
do que no mundo trouxa.
Além disso, ele se sentia surpreendentemente bem por ter dado a Sirius os
recortes de jornal. Eles estavam queimando um buraco em seu bolso durante
todo o verão, e estava feliz por se livrar deles; por deixar outra pessoa saber o
segredo.
Pomfrey permitiu que ele saísse para jantar, e ele tentou entrar no Salão
Principal sem muito barulho. Este plano foi frustrado, no entanto, quando ele
foi abordado por três garotas muito emotivas,
"Oi!" Ele engasgou, tentando não estremecer quando Marlene apertou suas
costelas recém-remendadas.
"Você teve um bom verão?" Marlene perguntou, sua voz ligeiramente abafada
sob o braço de Mary.
"Sim, foi ótimo, obrigado!" Remus endireitou suas roupas quando eles
finalmente o soltaram, recuando e sorrindo para ele. "Eu não estava me
sentindo bem, mas estou bem agora. Como foram seus verões?"
"Não no jantar!" Lily disse, parecendo exasperada, "Remus não quer ouvir o
que você fez com seu namorado!"
Todas as garotas pareciam um pouco diferentes. Remus estava tão alto agora
que mal notou as outras pessoas crescendo também, mas Mary, Marlene e Lily
definitivamente tinham. Elas se pareciam menos com as crianças de que se
lembrava do primeiro ano, e agora o lembravam das garotas para as quais Ste e
sua gangue assobiavam quando estavam na cidade. Mary, particularmente,
havia desenvolvido curvas perceptíveis em algum momento, e Remus não
podia ignorar o fato de que metade dos garotos na mesa da Grifinória estavam
olhando para a maneira como sua camisa escolar branca repuxava sobre seu
peito.
"Oi, garotas," Sirius chamou de mais longe na mesa, "Podemos ter Moony de
volta, por favor?"
"Não." Mary respondeu, mostrando a língua. Ela se virou para Remus, "Eu
realmente gosto do seu cabelo! Avni disse que viu você no trem e você estava
vestido como um skinhead - você não se juntou a uma gangue agora, não é? "
"Ah é, eu me esqueci," Mary ergueu uma sobrancelha, "Lily tem uma queda
por um sonserino há anos."
"Severus é meu amigo." Lily respondeu, fulminante. "Você que é louca por
garotos."
"Eu não posso evitar se eu sou mais experiente do que vocês," Mary ergueu o
queixo de uma forma muito digna e madura. Marlene tapou os ouvidos
dramaticamente,
"Se você vai começar a falar sobre Darren fazendo ... aquilo de novo, então eu
vou embora!"
"Tudo bem, tudo bem," Mary riu levemente. "Eu vou calar a boca."
Ela não o fez, no entanto. Ela e Marlene entraram em um debate muito intenso
sobre quem era mais atraente - David Essex ou Donny Osmond. Remus
aproveitou a oportunidade para sussurrar para Lily.
"Erm ... ele disse alguma coisa sobre ... me ver no trem?"
"Mhm." Lily respondeu, olhando para sua comida e brincando com o garfo.
Ela parecia estranhamente nervosa. "Ele pode ser um pouco idiota às vezes."
Ela olhou para cima novamente, para Remus, e baixou a voz ainda mais, de
modo que ele teve que se aproximar para ouvi-la em meio ao barulho do Salão
Principal,
"Foi apenas uma aula de teoria hoje, em Poções," ela sussurrou, "Nós não
tínhamos que formar uma dupla. Então ... se você quiser trabalhar juntos
novamente este ano?"
"Não, eu acho ... bem, você é muito menos mandão e nós estudamos muito
juntos de qualquer maneira, eu apenas pensei."
"Sim, parece bom para mim," Remus deu de ombros, voltando para sua
comida. Ele realmente estava morrendo de fome. Isso também o agradou -
James e Sirius sempre formavam pares, assim como Marlene e Mary.
Havia Peter, é claro, mas ele tinha muitos amigos na Sonserina e costumava
cometer erros quando estava ansioso, o que irritava Remus, que era um
perfeccionista. Lily era um tipo de garota legal e sensata, com senso de humor,
e ela sempre poderia explicar as coisas para ele para que parecessem fáceis.
Além disso, James ficaria maluco.
O incidente com Snape ainda o incomodava um pouco. Ele meio que esperava
que McGonagall estivesse esperando para lhe dar uma bronca assim que ele
tivesse alta da ala hospitalar - Severus quase sempre corria para um professor,
se conseguisse escapar impune. E Remus estava absolutamente, 100% errado
desta vez, ele sabia disso - Snape não havia sequer colocado a mão nele,
Remus apenas o humilhara porque queria.
E Snape não gostava de ser humilhado. Remus não sabia muito sobre o garoto
problemático da Sonserina além de detalhes aqui e ali que Lily tinha
confidenciado, mas ele sabia que Severus Snape guardava rancor como
ninguém. Ele teria sua vingança, e se não fosse colocando Remus em
problemas com os professores, então seria algo muito mais desagradável.
***
"Então, do que as meninas estavam falando?" James perguntou, uma vez que
todos estavam em seu dormitório à noite. Ele estava tentando soar casual, mas
Remus percebeu.
"É, eu sei," Remus franziu o rosto para mostrar seu desgosto pelo assunto, "É
tudo que elas estão interessadas, atualmente. Mary e seu namorado trouxa
fizeram algo durante o verão."
"O que eles fizeram??" Sirius parecia muito interessado agora - nem um pouco
enojado, Remus percebeu.
"Er ..." ele hesitou, "Bem, eu realmente não sei. Lily não deixou ela falar sobre
isso enquanto estávamos comendo. "
"Ah," James acenou com a cabeça, com orgulho, "Ela é muito inteligente para
todo esse absurdo, a Lily."
"Como você saberia que isso é um absurdo?" Sirius perguntou. "Não é como se
você beijasse."
"Se você quisesse," James sorriu, "Então, o quê, você tem garotas fazendo fila
para te dar uns amassos e você simplesmente ... não está interessado?"
"Retire isso!" James rugiu, lançando-se sobre seu amigo, lutando contra uma
chave de braço.
"Eles estavam assim durante todo o verão." Ele disse, taciturno: "Tudo é uma
competição".
***
Algumas horas depois, Remus estava quase adormecendo quando seus ouvidos
aguçaram, e ele ouviu aqueles passos familiares cruzando o quarto. Em pouco
tempo, a cortina de sua cama se abriu e Sirius sussurrou,
"Moony? Tá acordado?"
"Sim..."
"E aí?" Remus perguntou, esfregando os olhos enquanto Sirius acendia sua
varinha.
"Os artigos," disse Sirius, puxando os recortes do bolso do pijama. "Eu li eles."
"Ah." Remus sentiu uma onda de vergonha correr por sua espinha. "Certo."
"Eu sei que você disse que não queria falar sobre isso." Sirius disse,
rapidamente, "Mas eu só ... bem, eu queria que você soubesse que eu li eles,
acho."
"Mm?"
Remus não sabia o que dizer sobre isso. Ele dificilmente poderia discordar.
"Eu não vou contar para James ou Pete," Sirius disse, "Não, a menos que você
queira."
"Não, por favor, não." Remus disse: "Eu não estou ... não estou envergonhado,
é apenas ... particular, sabe?"
"Como você ousa!" Sirius respondeu, com altivez, "Eu nunca iria tão baixo.
Um dos rapazes do sexto ano veio 'perguntar por você, queria saber se você
ainda estava vendendo este ano."
"O suficiente. Por favor, não diga a James, você sabe como ele em relação a
roubo ..."
"Eu não sei como você faz isso, Moony," Sirius disse, maravilhado, "Mas você
me surpreende todas as vezes."
59. Quarto Ano
Setembro
Remus nunca descobriu exatamente o que Mary fez, ou o que fizeram a ela nas
férias de verão. Seja o que fosse, tinha dado a ela uma certa quantidade de
status entre as outras garotas de seu grupo anual que era difícil de ignorar.
"E não doeu ...?" Uma garota da Corvinal perguntou, em tom baixo,
"Nah, está tudo bem se você relaxar," Mary respondeu, com uma bravata que
lembrou Remus de James.
"Você acha que vai ... você sabe ... com Darren ...?" Outra garota perguntou,
sua voz praticamente trêmula de emoção,
"Bem, eu ..." Mary começou, mas naquele momento o Professor Ferox saiu de
seu escritório, anunciando sua presença com uma saudação alegre,
Ferox claramente teve um verão fantástico - seu cabelo louro estava um pouco
mais claro, sem dúvida descolorido pelo sol. Estava mais comprido e agora ele
o usava torcido para trás em uma cauda longa e cheia de nós. Seu rosto estava
ainda mais castigado pelo tempo, e seu nariz um tanto vermelho e ligeiramente
descascado pela queimadura de sol. Ele arregaçou as mangas, como de
costume, revelando braços bronzeados e uma estranha marca de queimadura.
"Bom verão?" Ele perguntou à classe, que assentiu e murmurou
afirmativamente. Ele sorriu e bateu palmas, "Excelente! Espero que todos
tenham tido um bom descanso e que estejam prontos para começar a trabalhar
em criaturas com classificação XXXX neste semestre! Primeiro, vamos fazer
uma rápida recapitulação do trabalho do último semestre, depois ver quem fez
a leitura de verão ..."
"Você está sendo muito duro consigo mesmo," Sirius disse a ele, enquanto eles
eram expulsos da sala comunal na noite anterior por monitores que os
mandavam ir para a cama. "É o início do ano - se você vai fuder tudo, é muito
melhor se você fuder tudo agora."
"Fácil para você falar! Alguns de nós realmente tem que estudar para tirar
notas boas! Além disso, são os NOMs no próximo ano! Não posso abaixar meu
nível agora."
"Argh, por favor, não mencione os NOMs", disse James, colocando-se entre
eles rapidamente em uma tentativa nada sutil de evitar uma discussão,
"McGonagall e Flitwick já colocaram medo em mim. E por que decidimos
fazer Adivinhação?!"
"Eu gosto bastante de Adivinhação," Peter disse, pensativo, jogando sua pilha
de livros, "Profecias e coisas assim. É emocionante."
"É tudo besteira." Sirius deu ao menor maroto um olhar fulminante. "Você só
gosta porque é bom em Astronomia."
"James," Sirius disse, em uma voz muito solene, "O que diabos vamos fazer se
o pequeno Petey aqui der um amasso adequado antes de qualquer um de nós?"
"O que eu tenho, senão minha reputação?" Sirius sorriu de volta, indo para a
cama.
"Claro, que se eu beijar antes de você, não doeria." James disse: "Eu estou no
time de quadribol."
"... aposto com vocês DEZ GALEÕES que posso conseguir uma garota para
me beijar dentro de um mês."
Remus ficou incomodado com isso a semana toda, até sua aula de Trato das
Criaturas Mágicas, com a qual ele agora estava sonhando acordado.
Quando a palestra de Ferox chegou ao fim, Remus percebeu que não havia
feito nenhuma anotação. Ele olhou para baixo, em pânico, e viu um pedaço de
pergaminho dobrado com cuidado. Quem colocou isso lá? Ele olhou ao redor,
furtivamente, e então abriu.
Por favor, diga a Sirius que acho ele lindo. Effie Scunthorpe x
Calor subiu por seu pescoço quando Remus enrolou a nota em uma bola e a
enfiou no bolso. Era exatamente isso. Todo mundo tinha perdido a cabeça.
***
Além de lutar contra os hormônios em fúria que agora pareciam infectar cada
um dos círculos sociais de Remus, houve outra mudança notável na atmosfera
de Hogwarts. Mesmo que James não tivesse explicado a ele que o mundo
bruxo estava em guerra, Remus achava que teria percebido por si mesmo este
ano.
"Acho que até os monitores estão com medo," Sirius respondeu, encostando-se
na parede, parecendo entediado enquanto James ajudava o lufano a se levantar.
"Covardes."
"Tudo o que eles podem fazer é distribuir detenções e tirar pontos da casa,"
Remus acrescentou, "E eu não acho que os sonserinos se importam mais com
isso. Eu ouvi Mulciber na semana passada dizendo que todos eles deveriam
tolerar 'punições triviais pela promessa de uma recompensa maior'".
"Mulciber disse isso?" Sirius arqueou uma sobrancelha, "Caramba, ele é mais
eloquente do que eu pensava."
"É, ou ele está repetindo o que disseram a ele", James rebateu, observando o
menino menor correr em direção à cozinha.
"Dinheiro? Poder? Vida eterna? " Sirius suspirou, rolando para longe da parede
e cambaleando pelo corredor. "Godric sabe. Eles não vão conseguir, no
entanto. "
***
No final de setembro, Snape ainda não havia feito seu ataque. O que deixou
Remus um pouco nervoso - e ele se perguntou se essa era a intenção. Suas
únicas matérias compartilhadas neste ano eram Poções e Aritmancia.
Felizmente, Aritmancia era uma aula relativamente tranquila, que envolvia
principalmente tomar notas e descobrir equações. Poções, sendo mais práticas,
davam a Snape (e aos sonserinos como um todo) espaço para uma interferência
muito maior.
"Não, não exatamente." Ela disse. "Ele ficou irritado quando a Mary e Marlene
vieram me visitar no verão, só isso. Acha que eles não são do 'tipo' certo. Eu
tenho que lembrar a ele que também sou nascida trouxa. "
"Eu não aguento, de verdade", respondeu ela, parecendo triste, "Eu sempre
brigo com ele quando ele fala esses absurdos puro-sangue, e às vezes acho que
ele me escuta. Mas ... bem, não é fácil para ele, sabe. "
James não estava tornando as coisas mais fáceis; qualquer um poderia ver isso.
Ele e Sirius convenientemente montaram seu próprio caldeirão ao lado do de
Remus e Lily, e desde que fizeram sua aposta, a perseguição de James por Lily
havia aumentado.
Bem, James Potter era uma verdadeira estrela no campo de quadribol - isso não
podia ser negado. Ele era elegante e gracioso; ele pensava taticamente e se
movia com sutileza simples.
Lily ficou tão chocada que balançou a varinha ferozmente no ar, virando o
conteúdo do caldeirão de James. Ele e Sirius ficaram manchados de azul
brilhante por uma semana inteira.
"Eu gosto muito do seu cabelo", disse ele, confiante, assim que ela se
aproximou da bancada de trabalho.
"Gosta tanto assim, não é?" Ela perguntou. Sirius, que estava observando
Remus, deu um passo para trás também. O pobre James estava muito animado
por finalmente ter a atenção dela e acenou com a cabeça vigorosamente.
Sirius gargalhou tão alto que metade da classe se virou para olhar, e Remus
teve que cobrir a boca para esconder sua própria risada. A confusão de James
tornou tudo ainda mais engraçado, até que Marlene entregou a ele seu espelho
compacto para que ele pudesse ver seu cabelo ruivo recém-brilhante.
Demorou 48 horas para passar, mas não adiantou de nada. Mesmo depois de
dois dias inteiros sendo chamado de 'raposinha' e 'cabeça de cenoura' (entre
alguns apelidos um pouco mais rudes) onde quer que fosse, James permaneceu
completamente inabalável em sua adoração.
"Só tenho que ser paciente", disse ele, sonhador, passando a mão pelos cabelos
castanhos avermelhados bagunçados, "Tudo que vale a pena, exige esforço."
"É impressionante." Sirius sussurrou em voz alta para os outros, "Eu meio que
não quero ganhar a aposta, porque ele facilitou muito."
Quando os beijos de Lily não aconteceram, James exigiu que eles estendessem
a aposta para o ano inteiro. Sirius, por sua vez, disse que nesse caso deveria
valer o dobro dos galeões, o que deixou Peter pálido. Remus mais uma vez
registrou sua desaprovação de tudo, e exigiu que o excluíssem da aposta.
Ele tinha coisas muito melhores para gastar seu tempo - e não gastaria mais
dinheiro do que o necessário. Os outros teriam que ficar felizes com um sapo
de chocolate cada no Natal, porque ele simplesmente não tinha dinheiro
suficiente. Remus sabia que precisaria guardar até o último nuque até o
momento em que fizesse dezessete anos, para começar sua missão de encontrar
Greyback.
Sua investigação até agora havia sido infrutífera. Ele havia reuniu o maior
número possível de edições antigas do Profeta Diário, na biblioteca e largadas
na sala comunal. Algumas das edições mais recentes tinham artigos que
mencionavam bandos de lobisomem - mas quase não havia nenhum detalhe ou
nenhum nome mencionado. No final, Remus foi forçado a concluir que
ninguém realmente sabia nada de sólido. Ele imaginou que lobisomens eram
difíceis de encontrar, especialmente se fossem bruxos comuns na maior parte
do tempo.
Outubro começou e terminou com lua cheia naquele ano, o que parecia muito
injusto, especialmente porque significava que Remus perderia o banquete de
Halloween. Ainda assim, o clima estava excepcionalmente quente, e os
marotos passavam a maior parte de seu tempo livre aproveitando o lado de fora
sob um céu azul claro, cercado pelos vermelhos e marrons dourados do outono
mais lindo que Remus conseguia se lembrar.
Nos fins de semana, ele se acomodava nas arquibancadas de quadribol com
vários livros, pergaminho e uma pena, e completava seu dever de casa e
leituras antecipadas, ocasionalmente levantando os olhos para assistir a um dos
truques de James, ou torcer para o pobre Peter, que muitas vezes ficava preso
como o goleiro. Às vezes, Marlene praticava com eles, o que tornava as tardes
ainda mais agradáveis, pois Lily e Mary inevitavelmente apareciam por lá.
Sirius não conseguia ficar parado durante esses treinos. Ele alternava entre
tentar se concentrar em seu dever de casa, pular em sua vassoura para voar
com James e rabiscar táticas complexas que achava que o time da Grifinória
deveria usar em seu primeiro jogo, marcado para novembro.
"Temos que vencer a Sonserina este ano." Ele continuou resmungando. "Tenho
que mostrar para eles."
"Eu acertei nove de dez balaços." Ela respondeu, ofegante: "Acerto dez nos
meus melhores jogos. Nem mesmo Mulciber não consegue fazer isso."
"Olha, Black, se você acha que pode fazer melhor, tem testes para batedores na
terça-feira."
"Nah." Ele acenou com a mão, desviando o olhar. "Você me venceu, de forma
justa."
"Me diga."
"Você é orgulhoso."
Sirius riu.
Naquela terça-feira, Remus foi assistir aos testes do time da Grifinória e não
disse nada quando viu Sirius chegar, vassoura na mão. Ele nem mesmo sorriu
presunçosamente, embora quisesse muito. Duas horas depois, Grifinória tinha
seu novo batedor, e Remus percebeu que agora tinha que dividir seu dormitório
com dois James.
- Exceto por uma diferença muito importante - enquanto Sirius era sem dúvida
cheio de paixão pelo esporte, ele parecia não ter a disciplina de James.
Particularmente nas manhãs.
"Acorda-acorda!" James gritou, animadamente, ao sair do banheiro, o cabelo
brilhando e molhado - a única vez que ele ficava controlado em sua cabeça. Ele
colocou os óculos e balançou a varinha na direção da cama de Sirius, abrindo
as cortinas.
Passou-se uma semana após os testes, e essa cena estava se tornando comum.
Remus já estava acordado, quase vestido para o café da manhã, planejando ler
uma hora antes das aulas começarem. Ele estava amarrando os cadarços
enquanto observava James e Sirius começarem sua nova rotina matinal.
Sirius, que era pouco mais do que um pedaço disforme sob o edredom, gemeu
como um troll descontente.
"Você queria estar no time, Sirius, meu velho amigo. Vamos lá, levanta
... Leviocorpus! "
Com isso, o corpo de Sirius voou no ar, aparentemente puxado por alguma
força invisível, deixando-o pendurado de cabeça para baixo no ar enquanto
James ria histericamente.
"Não acredito que funcionou! Estou tentado fazer isso desde o Natal passado."
"Seja educado!"
"Me solta!"
"Finite."
"Puta merda!" Ele sorriu para James, "Isso foi incrível! Agora, me deixe
tentar."
"Ok!"
***
A levitação corporal não se tornou uma característica regular do dormitório
masculino do quarto ano, mas tentar arrastar Sirius para fora da cama, sim.
"Só um dia de folga por semana, Potter, estou te implorando!" Ele gemeu na
mesa do café, numa manhã de domingo. Ele mal abria os olhos, a cabeça
pendurada apoiada no cotovelo.
"Achei que você estivesse fazendo a sua parte azarando eles nos corredores."
Disse Remus, comendo uma fatia da torrada de Sirius.
"Exatamente." Sirius grunhiu, os olhos ainda fechados. "E isso pode ser feito
em uma hora razoável."
"A Matrona costumava fazer todos nós levantarmos às seis nos fins de
semana," disse Remus, pensativo, engolindo o resto de sua torrada. "Ela achou
que era saudável, ou coisa do tipo. Um dos meninos mais velhos entrou em seu
quarto uma vez e mexeu com o despertador, e nós escapamos com duas horas
extras na cama todos os dias durante uma semana até ela perceber."
"Os trouxas são engenhosos." James riu. "Mas fique longe do meu
despertador."
"Deixe Moony em paz e coma o seu café da manhã." James castigou. "Quero
você no campo em cinco minutos."
"Tudo bem ..." Sirius suspirou pesadamente, e olhou para seu prato, "Ei! Onde
está meu café da manhã??"
A ideia demorou um pouco para se formar adequadamente, mas ele queria que
fosse clara e completa antes de apresentá-la aos outros marotos. Então, pelo
menos, seria totalmente sua pegadinha. Remus sentiu a necessidade de deixar
sua marca em algo este ano. Todo mundo parecia estar focado em outras coisas
- a guerra, ou quadribol, ou "a grande corrida de amassos", como Sirius tão
eloquentemente apelidou. Eles nem mesmo tentaram se esgueirar para a
Dedosdemel nenhuma vez. Remus sentia intensamente que os marotos
precisavam de uma pegadinha - e uma grande.
"Petrificus Totalus!"
Snape ficou rígido, um olhar de surpresa em seu rosto que teria sido cômico, se
Remus não estivesse tão zangado. O garoto de cabelos pretos caiu no chão,
braços e pernas retos como uma tábua, completamente paralisado. Seus olhos
pretos redondos olharam ao redor, freneticamente, enquanto Remus saía de seu
esconderijo. Ele deu um chute - não muito forte, apenas na canela - e sorriu
para Severus.
Snape olhou impotente para ele, e Remus riu antes de ir para Poções com um
passo rápido.
61. Quarto Ano
Novembro (Parte 1)
"Bem, nós meio que saímos ano passado." Mary disse, arrogantemente,
resmungando para Remus. "E vocês sempre fazem tantas comemorações nos
aniversários que é muito difícil se esquecer. Deus, espero que Grifinória vença
para que ele esteja de bom humor. "
"Sim." Remus concordou. Ele não tinha pensado nisso. Havia planejado
revelar seu grande plano para uma pegadinha no aniversário de Sirius, em vez
de um presente adequado. Agora ele se perguntava se deveria comprar algo -
embora eles não fossem para Hogsmeade por mais algumas semanas. Ele
sempre poderia dar a Sirius um maço de cigarros, mas parecia um pouco
barato, especialmente porque Sirius sabia que eles eram roubados.
"Obrigada", Marlene sorriu para ele, "Sabe, eu amo ela, mas há um limite para
a quantidade de vezes que eu posso revisar suas cartas indecentes para
Darren."
"O que?"
Remus lutou contra sua reação inicial, que foi de desespero. Parecia que ele
ainda não havia passado uma semana do novo ano sem ter que ouvir os
problemas românticos de alguém. Por que todos achavam que ele era a melhor
pessoa para conversar? Quando ele deu a impressão de estar interessado no
assunto, mesmo que remotamente?
"Não sei." Ele disse, esperando não soar muito irritado. "Você teria que
perguntar a ele."
"Eu não acho que ele me daria uma resposta direta," Marlene riu. "Desculpe, é
só que ele está agindo muito estranho perto de mim durante o treino de
quadribol."
"Esquisito?"
"Sim, apenas comentários e outras coisas. É um pouco chato, para falar a
verdade, eu realmente não gosto dele tanto quanto antes - você sabe, ele está
sempre querendo chamar atenção, ele sempre foi mais o tipo de Mary. "
"Que comentários?"
"Coisas sobre eu dar um beijo nele para dar sorte, ou algo ... Talvez seja a ideia
dele de flertar, ou talvez seja uma piada - você nunca sabe com James e Sirius,
não é?"
"O que?" Marlene disse, parando do lado de fora da biblioteca, "Que cara é
essa?"
"Ugh, Marlene, olha, eu realmente sinto muito por isso, mas ..." e ele explicou
a ela tudo sobre a aposta.
"Faz muito sentido!" Ela disse, ofegante, "James ficava tentando impedir Sirius
de falar comigo e tudo mais. Aqueles meninos! Eles são completamente
ridículos. "
"Sim." Remus sorriu, aliviado por mais alguém compartilhar essa opinião.
"Ah, ótimo, agora eu posso me divertir um pouco com isso," Marlene sorriu,
quando entraram na biblioteca, abaixando suas vozes. Ela então acrescentou,
um pouco melancólica: "É uma pena que James não tenha tentado. Ele poderia
ter uma chance."
Marlene suspirou,
"Er ... eu acho que Peter está também. Ele pode estar um pouco arrependido
agora, no entanto."
"Que pena", respondeu ela, com os olhos brilhando, "porque aposto que você
poderia vencer."
Ele bufou,
"Até parece."
"Ah meu Deus, Marlene ..." Remus começou a andar um pouco mais rápido,
sentindo as orelhas muito quentes, "Você é minha amiga!"
"Sim, mas só para você ganhar a aposta." Ela sorriu, acompanhando seu ritmo.
Ele havia se esquecido de como ela era atlética, ao contrário dele, que ainda
tinha um quadril ruim. "Não há ninguém que você goste?"
Não era uma mentira, Remus pensou consigo mesmo. No entanto, parecia uma.
***
"VAI VAI GRIFINÓRIA VAI VAI!" Remus cantou junto com todos os
outros. Ter Peter girando freneticamente o cachecol de lã sobre a cabeça como
um lunático, ajudava a mitigar qualquer constrangimento que Remus pudesse
sentir por si mesmo.
Ele estava nervoso, no entanto; mais nervoso do que estivera no primeiro jogo
de James e Marlene; porque Sirius - embora fosse muito bom em voar - nem
sempre tomava as melhores decisões sob pressão. E quadribol era um esporte
perigoso, se você fosse imprudente.
Os dois batedores tinham estilos muito diferentes - Marlene era focada e tendia
a seguir os jogadores em vez dos balaços para proteger melhor seus
companheiros de equipe. Sirius preferia uma tática diferente - ir diretamente
atrás das bolas agressoras, não importando onde elas estivessem, e jogando-as
o mais longe possível do jogo.
"Este é o primeiro jogo de Black e ele está obviamente dando tudo de si", a voz
do comentarista ecoou na multidão, "Sem dúvida, ele recebeu bastante
treinamento de Potter - que acabou de marcar o primeiro gol! Essa é a
Grifinória na liderança com dez pontos!"
Remus estava muito nervoso para poder comemorar junto com todos os outros,
estando tonto após tentar seguir seus três amigos no ar.
***
This is genocide!"
***
Remus e Sirius colocaram suas cabeças para fora de suas respectivas cortinas
ao mesmo tempo.
"Nah," Remus deu de ombros, "Eu estava ... na verdade, eu estava pensando
numa pegadinha..."
Remus sorriu, timidamente. Ele pensou que teria que esperar até o próximo fim
de semana para contar a eles, mas James magnanimamente abriu as cortinas da
cama ainda mais, "Por favor, Sr. Moony", disse ele, "Entre em nosso escritório
..."
Remus os ignorou; eles estavam agitados e tolos pela falta de sono, ele teria
que pelo menos dar a eles a essência de seu plano antes que eles finalmente
caíssem no sono.
"Ninguém jamais imaginaria que você é o mais velho, Black", James sorriu.
"Moony, por favor, continue. O grande relógio ...?"
"Certo, sim," Remus ajeitou sua camisa de dormir, sentindo-se muito quente e
corado com o ataque repentinamente, "Err ... então ... hum ... eu tive essa ideia
... eu ..." Isso não era bom, ele havia perdido completamente a linha de
raciocínio, agora tudo o que ele conseguia pensar era o quão idiota e irritante
Sirius era.
Ele terminou, recostando-se e olhando para James, porque ele ainda estava
irritado com Sirius por perturbá-lo e quase estragar tudo. O cérebro de James
estava trabalhando em alta velocidade - Remus sabia disso porque ele
empurrou os óculos para trás no nariz. Finalmente, ele olhou para Sirius e
sorriu.
"Não sei não." Peter disse, torcendo as mãos novamente. "A professora
McGonagall diz que não devemos mexer com o tempo."
"Não vamos" Sirius resmungou, já tendo explicado o plano duas vezes. "Esta é
uma brincadeira trouxa, Peter, enfie isso na sua cabeça dura!"
"Não." Remus franziu a testa, sentindo pena de Peter, que ficou de mau humor
o dia todo porque havia sido deixado de fora do planejamento noturno. "Não
estamos mexendo com o tempo, Pete," Remus explicou gentilmente, "Estamos
apenas mexendo com os relógios."
Eles concordaram em fazer isso o mais rápido possível e lutaram para terminar
as aulas naquele dia com a crescente expectativa para seu plano diabólico.
Remus teve que calar James e Sirius mais de uma vez quando a empolgação
deles levou a melhor - eles não eram muito sutis na maior parte do tempo.
"Não vai funcionar se alguém mais souber disso." Remus sibilou na hora do
almoço quando Mary perguntou sobre o que eles estavam cochichando. "Então
calem a boca! Eu sei que vocês sabem manter um segredo se realmente
tentarem."
Eles mal podiam esperar que a noite caísse e o castelo ficasse vazio e quieto. Já
fazia muito tempo que não ficavam juntos depois de escurecer e, embora fosse
uma tarefa muito simples, todos queriam ir.
Havia um problema. Agora, era muito mais difícil colocar os quatro sob a capa
do que há três anos.
"Por que eu?" Pedro protestou: "Por que sou sempre o único deixado de fora?!"
"Não estamos deixando você de fora, idiota, isso é puramente uma
preocupação logística." Sirius revirou os olhos.
"James!"
"Eu vou ficar," Remus ofereceu. "Eu sou o mais alto, é minha culpa."
"Mas foi ideia sua," Sirius lamentou, "Você não pode perder!"
"Espero que os dois parem de brigar se dermos a eles uma hora a sós." James
sussurrou, quando eles deixaram o buraco do retrato e entraram no corredor
escuro e vazio.
"Por que Sirius está sendo um idiota com Peter, afinal?" Remus perguntou o
mais baixo possível. Eles não queriam incomodar Pirraça - ou pior ainda, Sra.
Norris.
"Você não acha que foi Peter, então?" Remus perguntou, inocentemente.
"Ah."
Ele não tinha certeza do por que resolveu contar a James - ou por que escolheu
um momento tão inoportuno para fazê-lo. Supôs que só queria que alguém
soubesse. Talvez fosse uma coisa de ostentação - foram eles que não o
incluíram na competição em primeiro lugar.
"Ha," James riu, "Não diga a Sirius, ele nunca vai superar isso."
Era muito grande e muito bonito, com uma vasta moldura de mogno entalhada
com várias criaturas - com os rostos e mãos moldados em ouro cintilante - e
plantas mágicas.
James acenou com sua própria varinha para o relógio, e o ponteiro mais longo
rolou cinco minutos para trás. Ele olhou para seu próprio relógio e ambos
viram a sincronização acontecer. James riu baixinho.
"Olha Moony, eu sabia que tinha que ser você. Vamos, é melhor voltar. "
Eles voltaram a subir as escadas, mais rápido agora, tontos de triunfo. No topo,
Remus teve que parar para respirar por um momento. Ele apoiou a mão no
ombro de James para se equilibrar, e o outro garoto esperou pacientemente.
"Ei, James?"
"Sim?"
"Ela não me odeia." James riu. "Lily Evans não tem um pingo de ódio em seu
corpo."
Remus não disse nada sobre isso, sabendo que era verdade. James continuou:
"Só não é hora ainda, isso é tudo. Mas eu não me importo. "
"Ah." Disse Remus. Pela primeira vez, ele percebeu que James não
simplesmente gostava de Lily. Era algo completamente diferente. Remus
queria fazer mais perguntas, mas ele não sabia como - ele não era Sirius, não
poderia ser tão descarado.
Quando eles voltaram para o quarto, Sirius estava andando de um lado para o
outro, e as cortinas estavam fechadas ao redor da cama de Peter. Pode-se
presumir que eles não usaram o tempo para resolver suas diferenças.
"A questão é," Sirius bocejou durante o café da manhã, em seu uniforme de
quadribol amarrotado com os olhos sonolentos. "Não estamos realmente
dormindo meia hora extra, não é? Não estamos indo para a cama mais cedo. "
"Não, bem, essa não era realmente a intenção ..." disse Remus, tentando fazer
um sanduíche com torrada, marmelada, geleia de morango e outra torrada.
"Ainda assim, acho que deveríamos ter algum benefício disso tudo."
"O que você fez ontem à noite?" Remus perguntou, assim que Sirius
finalmente acordou, "Você e James voltaram o relógio, não é?"
"O que?!"
Algumas pessoas comentaram como era estranho acordar em plena luz do dia
no inverno às sete horas da manhã, mas como era domingo de qualquer
maneira, Remus achou que eles tinham se safado. Naquela noite, Remus e
Peter desceram as escadas como de costume, e Remus tentou corrigir a
imprudência de Sirius.
"Podemos colocar para que acordemos mais cedo no próximo sábado?" Peter
perguntou, incerto - Remus ainda não tinha certeza se Peter havia entendido
completamente o que eles estavam fazendo.
"Não vejo por que não," Remus deu de ombros. "Por que você quer acordar
cedo?"
"Quem??"
"Quem, Pete?"
"Desdemona Lewis."
Remus foi para a cama com o coração pesado naquela noite. Ele sentia que
havia perdido todos os seus amigos agora - o único que não queria falar
constantemente sobre suas relações com o sexo oposto era Lily. E ele se sentia
um pouco culpado perto de Lily, por ter arruinado indiretamente o projeto de
Poções deles.
"Eu sei o que você está fazendo." Remus disse a ele, quando eles acordaram
em uma 'manhã' com o sol já em seu ponto mais alto no céu.
"E eu sei o que você está fazendo," Sirius respondeu com um sorriso,
"Senhor certinho."
Era verdade - Remus estava descendo a cada duas noites e tentando consertar
qualquer destruição que Sirius havia causado, de modo que na terceira semana
de novembro os relógios estavam todos girando descontroladamente para um
lado e para outro, às vezes alterados em até quatro horas. O principal problema
era que Sirius não dizia a ele o quanto ele estava mudando, então Remus estava
tendo que adivinhar suas correções.
"O que diabos está acontecendo?!" Mary disse, certa manhã no café da manhã,
depois de talvez apenas quatro horas de sono - Remus se arrependia disso, mas
foi a única maneira de recuperar terreno no ridículo cabo de guerra com Sirius.
"O que você quer dizer?" James perguntou, indiferente. Sirius não estava
falando naquela manhã, apenas bocejando e ocasionalmente lançando olhares
raivosos para Remus.
Enquanto isso, Remus estava muito preocupado com a lua cheia que se
aproximava. Ele achava que era em breve, mas de qualquer maneira, não havia
como ter certeza. Se Sirius não diminuísse as mudanças, ele poderia perder
completamente o controle do tempo e apenas se trancaria na Casa dos Gritos
por uma semana. Não sabia como explicar isso para Madame Pomfrey - mas se
ele não fizesse algo a respeito, então correria o risco de se transformar em
algum lugar do castelo.
***
Na quarta semana, Remus achava que nenhum dos marotos tinha a mais vaga
ideia de que horas deveria ser. Ele desistiu de tentar corrigir Sirius e, em vez
disso, achou melhor deixar as coisas acontecerem. Tudo finalmente chegou a
um ponto crítico quando, enquanto bocejava durante uma aula de
Transfiguração, Peter de repente olhou pela janela e arfou.
"O que foi, Pettigrew?" McGonagall retrucou - ela estava muito mais irritada
do que o normal. Na verdade, todo mundo estava, e Remus resolveu nunca
mais bagunçar o padrão de sono de ninguém novamente.
Mas era tarde demais; toda a classe, incluindo McGonagall, agora estava
olhando pela janela também - e assistindo ao nascer do sol às onze horas da
manhã.
"Oh, pelo amor de Deus!" McGonagall disse. "Classe, eu quero todos vocês no
Salão Principal de uma vez. Estou chamando o Diretor. "
"O que você acha que está acontecendo?" Lily perguntou a Remus. Mary
estava cochilando em seu ombro.
Imediatamente, todos no salão se viraram para olhar para Remus, Sirius, James
e Peter. Remus continuou olhando para frente, ignorando-os; Peter começou a
sacudir o joelho ansiosamente, olhando para James, que sorriu de volta para o
público de maneira afável. Remus não conseguia ver o que Sirius estava
fazendo, mas com certeza seria algo ridículo e altamente desrespeitoso. Ainda
assim, Dumbledore não fez acusações, apenas sorriu agradavelmente e
continuou, "Fiquem tranquilos, pois os relógios estão sendo corrigidos e as
medidas tomadas para garantir que isso não aconteça novamente. Nesse
ínterim, acho que todos nós poderíamos descansar um pouco - estou
cancelando o resto das aulas de hoje, para serem retomadas em nosso horário
normal - e correto - amanhã de manhã."
"Agora," Dumbledore ergueu os braços, "Podem ir, usem este tempo com
sabedoria!"
"Vou deixar isso em suas capazes mãos, então. Só uma coisa, rapazes."
"Três semanas não é nada ruim!" Sirius deixou escapar. James o chutou, mas
Dumbledore riu. McGonagall ficou vermelha de raiva.
"Idiota."
63. Quarto Ano
Dezembro
I'm torn between the light and dark
Isso também significava que Remus não poderia comprar nenhum presente de
Natal para seus amigos, mas ele estava grato por essa desculpa. Até agora,
Lupin possuía uma pequena fortuna (aos seus olhos, pelo menos) de dez
galeões e doze sicles. Não estava nem perto da herança de James, é claro, ou
mesmo da de Sirius, herdada de seu tio - mas era mais do que Remus jamais
tivera, mesmo em dinheiro trouxa.
Nesse semestre, desde que voltou para Hogwarts, Remus estava lendo O
Profeta Diário do início ao fim. Pegava emprestado a cópia de James e fazia
anotações em particular - geralmente na biblioteca, onde os outros marotos não
o incomodariam. Estava procurando por qualquer coisa; ataques, avistamentos,
rumores. Qualquer coisa relacionada a lobisomens ou "criaturas das trevas não
identificadas". Havia muito pouco ali - James afirmou que isso acontecia
porque o ministério não queria assustar ninguém.
Mas ainda havia pistas. Às vezes, havia histórias sobre aurores interrompendo
'reuniões ilegais' - sempre em lugares distantes; nas Hébridas exteriores, ou em
Brecon Beacons. E sempre aconteciam na noite anterior à lua cheia. Isso era
uma evidência sólida, no que dizia respeito a Remus - Greyback estava
reunindo seguidores, e ninguém mais parecia se importar; até mesmo os
aurores estavam sendo casuais sobre isso. Exatamente como aconteceu com
Lyall.
O curso de estudos de Trato das Criaturas Mágicas deste ano provou ser tão
fascinante quanto do ano anterior, e a dedicação de Ferox ao ensino não
diminuiu. Ele até insinuou trazer um seminviso real como um presente de
Natal, embora Remus não tivesse ideia de onde conseguiria uma.
O professor levou todos eles até o lago para uma aula, onde Ferox teve uma
longa e aguda conversa com um dos sereianos que moravam lá. Ninguém tinha
a menor ideia do que eles estavam falando, mas tinha sido interessante mesmo
assim, e Remus tinha feito alguns diagramas muito úteis.
"Eu estou com minha redação sobre os sereianos aqui", ele a colocou no único
pedaço livre da superfície.
Remus sorriu educadamente e usou sua própria varinha para servir o chá. Ele
achava levitação muito fácil e Ferox parecia impressionado. "Minha avó
costumava beber no pires e tudo," ele murmurou, nostalgicamente, levando a
xícara aos lábios, "Achava que era elegante, bendita seja."
Remus nunca sabia o que dizer quando as pessoas começavam a falar sobre
seus parentes. Levou quatro anos para aprender que as pessoas que tinham
famílias, não queriam realmente ouvir sobre as experiências de pessoas que
não tinham. Isso as deixava desconfortáveis. Ferox pareceu notar a reticente
educação de Remus e mudou de assunto "A este ponto, ela ofereceria um
biscoito e um cigarro, mas acho que os dois acabaram."
"Como você fez isso?!" Ele perguntou, tentando com sua própria varinha, sem
sucesso. Ferox riu,
"Vem cá", e Remus se inclinou sobre a mesa para permitir que Ferox
acendesse seu cigarro. "É melhor eu não te ensinar", o professor deu uma
piscadela, "É um hábito terrível."
"Então," Ferox disse, recostando-se na cadeira, "presumo que essa seja mais do
que apenas uma visita social, jovem Lupin?"
"Erm ... sim, mais ou menos," Remus acenou com a cabeça, limpando a
garganta, "Eu só tinha mais algumas perguntas sobre ... bem, eu não sabia a
quem perguntar, e você disse ano passado que eu sempre poderia vir até você."
Ele pode ter soado um pouco mais enérgico do que pretendia - mas
estava farto de Lyall Lupin e do sentimento terrível, vazio e de culpa que sentia
quando pensava no homem. Ele não queria saber mais sobre o passado - isto
era sobre o futuro.
Remus deu outra tragada, deixando seus nervos se acalmarem. "É sobre
Greyback."
"Remus ..."
"Pelos artigos que você me deu, um deles disse que o ministério pensava que
ele estava tentando formar um exército, é por isso que ele gosta de ... crianças."
"Ainda não quer dizer ... bem, se ele tivesse tentado fazer isso nos anos 60, nós
já teríamos escutado sobre isso nessa altura, hein?"
Essa era uma linha de raciocínio errada, na opinião de Remus, ele acenou com
a mão,
"Houve ataques, se você for ler os jornais com atenção. O Lorde das Trevas,
ele é a pessoa perfeita para encorajar Greyback, pelo que ouvi. Algo precisa ser
feito para impedir que as pessoas se juntem a eles. Para impedir ... que pessoas
como eu se juntem a ele."
"Eu não sei o que você sabe sobre esse tal 'Lorde das Trevas'," Ferox
respondeu, rigidamente, "Mas ele só está interessado em pureza do sangue. Ele
consideraria alguém como Greyback um mestiço. Abaixo dele."
"Ele pode não o respeitar, mas contanto que Greyback faça o trabalho - e se ele
conseguir seguidores suficientes -"
"Você está superestimando o poder deles dois. O Lorde das Trevas é apenas
um arrivista político, alimentando-se de alguma opressão percebida; ninguém o
leva a sério. Ninguém que importa. E Greyback - bem, ele é praticamente um
abandonado, um lunático delirante. Nenhum deles tem nada substancial a
oferecer aos seus seguidores."
Remus bufou,
"É sim! Tenho quase quinze anos, não sou mais um menino. Minhas
oportunidades de emprego são um pouco menos merda como trouxa do que
como bruxo. Não posso deixar de notar que eu sou o único em Hogwarts, que
não posso contar a ninguém - ah, espere, até eu ter dezessete anos, então eu
tenho que contar a TODOS, certo? Então todo mundo sabe que deve me evitar,
caso eu fique com um pouco de fome. Greyback pode não ter muito oferecer a
nós, mestiços, mas quando você não tem nada mais a seu favor ... "
"Fique." Ele disse baixinho, inalando: "Sinto muito. Eu não queria gritar."
Remus olhou para ele com curiosidade. Ferox relaxou um pouco, "Eu acho que
você vê a raiva como uma fraqueza, mas não é. É bom ficar com raiva - e você
tem uma boa razão para estar. Você está certo. Todos nós precisamos nos
preocupar com Voldemort, Greyback e o resto da multidão de sangues puro. Se
o ministério está tratando bruxos bons, inteligentes e perspicazes como você
desse jeito, então pessoas como o Lorde das Trevas sempre terão seguidores.''
"Mas." Ferox disse: "Sempre haverá pessoas trabalhando contra eles também.
E enquanto nós continuarmos com raiva, eles não vão ganhar."
"Eles não vão ganhar." Remus repetiu. Ele normalmente se sentia
envergonhado depois de uma explosão como aquela, mas agora ele realmente
se sentia mais calmo - até aliviado.
"E não pense por um minuto que tem você tem oportunidades de merda."
Ferox ergueu uma sobrancelha, "Se você pensa que Dumbledore moveu céus e
terras para te dar uma educação só para ver você acabar menos pior do que um
aborto, então você não conhece Dumbledore, meu garoto."
***
Isso não tinha sido realmente ideia de Sirius - James tinha começado usando
um feitiço de cola permanente para fixar as decorações nos colarinhos e
punhos dos robes de Sirius enquanto ele dormia. Se ele pensou que isso
poderia deixar Sirius com vergonha, ele estava redondamente enganado -
Black adorava seu novo visual e o exibia com orgulho. Na verdade, no último
dia do semestre, pelo menos quinze outros garotos o haviam copiado, assim
como um grupo de garotas que recentemente começaram a seguir Sirius.
Mary era perfeita para isso – temperamento curto, sempre pronta para falar o
que pensava, e nem um pouco interessada em Sirius.
"Você é um covarde", ela suspirou, na última noite do semestre, enquanto
todos se sentavam ao redor da lareira juntos. James estava brincando com um
pomo de ouro que roubou do depósito de jogos, tentando impressionar Lily,
que estava de cabeça baixa e terminava freneticamente seus cartões de Natal.
Peter não estava em lugar nenhum, Marlene estava jogando xadrez com Remus
e Sirius acabara de chamar Mary para se sentar mais perto dele, observando
com cautela um grupo de garotas que o observava de um canto.
"Bem, sim," Sirius respondeu, em um tom medido, "Mas elas não deveriam
saber disso, eu deveria conquistá-las com meu charme e beleza malandra."
"Eu seria um louco se não tivesse medo de meninas." Sirius riu, "Vocês são
todas malucas."
"Harvey." Mary disse: "Deus, você não está enviando um cartão para ele, está?
Você só o encontrou uma vez! "
"Como você tem escrito para ele o ano todo?" Remus perguntou, genuinamente
interessado.
"Eu mando as cartas para minha mãe, e ela as enfia na caixa de correio dele.
Ele mora só do outro lado do corredor. E há uma cabine telefônica perto de
Hogsmeade, então já nos falamos uma ou duas vezes."
"Onde você passará o Natal, Remus?" Lily perguntou, lambendo seu último
envelope. "Não vai ficar aqui, imagino?"
"Lupin e Black vão para minha casa de novo", disse James, ansiosamente. Lily
deu a ele um olhar fulminante.
"Ah, claro."
Remus estava realmente ansioso pelos Potters este ano. Ficaria apenas uma
semana, pois a lua cheia caía no dia vinte e nove, mas era mais que perfeito
para ele - mal podia esperar pelos presentes, a decoração e a comida da Sra.
Potter.
"Não faço ideia de onde ele está." James disse: "Não o vejo desde o jantar."
"Você não diz ..." Sirius se levantou também, seguindo-o. Remus suspirou.
Sirius passava metade do tempo implorando por doces para o resto deles. Não
que ele não fosse generoso com os seus - ele apenas muito raramente parecia
ter algum.
"Verifique o mapa," Sirius disse, espalhando migalhas por toda parte, a boca
cheia de bolo. Remus ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada, e pegou o
mapa de sua mesinha de cabeceira.
Ele lançou o feitiço localizador, e o mapa rapidamente destacou uma pequena
bandeira com o nome 'Peter Pettigrew'. Parecia que ele estava em um armário
de vassouras perto da sala de Feitiços.
"O que 'cê tá vend?" Sirius balbuciou, enfiando outro bolo na boca. Remus
resmungou dessa vez, dobrando o mapa.
"Err ..." Sirius olhou para a porta, e Remus soube na hora que ele estava com
medo de passar pelo grupo de garotas esperando lá embaixo. "Nah, vamos
pegar a capa e nos esgueirar - não vai demorar muito, e apenas dois de nós
cabem, de qualquer maneira."
"Talvez eles tenham atacado por trás," Remus sugeriu, "Ou talvez houvesse
muitos deles."
Ele não sabia por quê, mas adorava contradizer Sirius. James chamava de
discussão, mas Sirius nunca deu nenhum sinal de que isso o incomodava. Eles
seguiram, através dos corredores de pedra sombrios, em direção ao corredor de
Feitiços.
"Sim," Remus respondeu, "Ele está aí." Ele podia sentir o cheiro dele.
"Quem está aí?!" Ela olhou em volta, pálida e com os olhos arregalados, o
cabelo despenteado e os lábios muito rosados e molhados. Pete também olhou
em volta, um pouco mais desconfiado, mas igualmente amarrotado.
"Vou voltar para a minha sala comunal, vou ter muitos problemas se for pega
fora dos limites de novo", Desdemona estava dizendo, endireitando a blusa.
Ela beijou Peter delicadamente no nariz, "Vejo você amanhã, Petey? No
trem?"
"Sim ... ok ..." Peter respondeu, muito distraído, ainda olhando em volta,
procurando por seu agressor invisível. Remus agradeceu a qualquer deus que
existisse por sua força superior, enquanto Sirius lutava loucamente para se
libertar e causar ainda mais danos.
"Tudo bem, apareçam!" Ele puxou sua varinha assim que Remus soltou Sirius
e os dois saíram de baixo da capa da invisibilidade.
"SEU SAFADO!" Sirius gritou, rindo tanto que estava segurando o estômago,
"Há quanto tempo isso está acontecendo?!"
"Espere até James ficar sabendo disso!" Sirius disse, soando pasmo, "Eu não
consigo acreditar. Realmente não consigo. Peter Pettigrew: Um garanhão."
"Oh, cale a boca." Peter ficou amuado, enfiando as mãos nos bolsos. "Vou para
a sala comunal, não estou com fome."
Sirius riu todo o caminho até a cozinha, e ainda estava um pouco histérico no
caminho de volta, mesmo carregado com guloseimas dos elfos domésticos.
"Bem, você não precisa mais pensar sobre isso agora," Remus retrucou,
esfregando o cotovelo onde havia batido, "Pete ganhou."
"Você está certo, Moony. Ugggh! Isso significa que se eu não conseguir um
beijo até o final deste ano, serei mais perdedor do que Pettigrew!"
Embora Hogwarts fosse tão fascinante quanto um cartão de Natal, sob seu
manto de neve, os marotos desceram do trem em Londres e encontraram uma
garoa cinzenta vinda do sul. O clima continuou da mesma maneira durante a
maior parte do feriado de Natal, o que significava que andar de trenó estava
fora de questão este ano, para grande decepção de Remus.
Remus os convenceu a ir - ele não tinha ido assistir um filme desde que
começou em Hogwarts, e a gangue de Ste tinha falado sobre Desejo de
Matar durante todo o verão, então ele estava morrendo de vontade de ir
assistir. Foi tão emocionante quanto ele esperava; cheio de vingança e sangue -
e Charles Bronson o lembrava um pouco do Professor Ferox. James e Sirius
estavam mais interessados em descobrir como o projetor funcionava - o que
estava tudo bem para Remus, porque significava que eles concordaram em ir
com ele duas vezes.
"Moony," Sirius disse, sem tirar os olhos do grupo de pernas compridas que
acabara de passar, "Que tal vermos algo diferente hoje?"
"Sim," James assentiu, sem expressão.
Remus olhou para o pôster acima da porta. O Grande Gatsby. Ele torceu o
rosto,
"Ugh, é um romance, porque vocês querem ver isso?" Ele protestou. Mas era
tarde demais, eles já estavam entrando na sala.
Meia hora depois e - por mais que ele não quisesse admitir - Remus estava
completamente imerso no filme, com todos os tons pastéis e fantasias bobas.
Não tinha havido nenhum tiroteio até agora, mas ele ainda tinha esperanças e,
nesse meio tempo, torcia para que Daisy criasse bom senso e largasse seu
marido horrível.
Em algum momento, Remus olhou para a esquerda, para ver se Sirius e James
estavam gostando do filme também - e descobriu que havia sido abandonado.
Virando-se em seu assento, ele olhou para a escuridão atrás dele e quase
conseguiu distinguir as formas escuras de seus dois amigos sentados na última
fileira - ambos envolvidos em algum tipo de luta adolescente horrenda com
duas das garotas de mais cedo.
Até James havia o decepcionado agora. James! Cuja adoração pura e honesta
por Lily Evans foi a única coisa que convenceu Remus de que beijar pode não
ser tão nojento, afinal. Ele esperava algo assim de Sirius, que nunca teve
qualquer tipo de controle sobre seus impulsos de qualquer maneira,
mas James?!
"Ei, Moony!" Como por mágica, James e Sirius apareceram do outro lado da
rua, sob o grande guarda-chuva preto. Ele tentou ignorá-los, mas era um pouco
estúpido, visto que eram as únicas três pessoas ali.
"Para onde você vai?" Sirius sorriu, enquanto eles cruzavam a rua para se
juntar a ele sob o abrigo de ônibus.
"Ugh, não quero ouvir sobre isso." Remus tapou os ouvidos. Ele olhou para
James, "E quanto a Lily? E toda aquela história de 'ainda não está na hora, mas
não me importo'?" Remus repetiu as palavras que James havia falado em
novembro.
James pareceu chocado por um momento, mas Sirius riu com vontade e deu
um tapa no ombro de Remus,
"Ah, pare com isso. Evans não vai se importar se Potter tiver ficado com
alguma garota trouxa quando tinha quatorze anos. Se acalma, Moony."
Isso foi o suficiente. Se havia algo capaz de deixá-lo mais furioso, era alguém
pedindo para que 'se acalmasse'.
"Não!" Ele rosnou, "Você me fez assistir aquele filme estúpido de garotas só
para poder passar a mão em uns brotos trouxas na última fileira!"
"Merlin, Lupin - podemos ir ver seu amado Charles Bronson amanhã, se você
quer tanto. Quer dizer, me desculpe se queremos agir como
adolescentes normais por cinco minutos."
Algo sobre esse insulto atingiu Remus tão fortemente, que se ele tivesse sua
varinha, teria amaldiçoado Sirius ali mesmo. Do jeito que estava, ele só tinha
os punhos - felizmente ele era muito bom com eles, e socar costumava ser
muito mais satisfatório do que amaldiçoar. No momento em que James os
separou e se colocou entre eles, o nariz de Sirius estava extremamente
sangrento e Remus podia sentir o início de um olho roxo se formando.
"Ele é um babaca!" Remus cuspiu, tentando manter a garoa longe de seu olho
dolorido.
"Ele é um idiota!" Sirius retrucou, com a voz abafada, segurando seu suéter
molhado contra o nariz.
"Vocês são dois imbecis", disse James, com firmeza, quando chegaram ao
portão da frente.
***
A Sra. Potter consertou os dois muito rapidamente - ela era tão rápida em
feitiços de cura quanto Madame Pomfrey - então lhes deu uma boa repreensão,
com o Sr. Potter parado atrás dela, tentando não sorrir e dizendo "Meninos
serão meninos, Effie querida..."
Depois, Remus foi direto para o quarto de hóspedes e sentou-se na cama pelo
resto do dia fazendo o dever de casa passado para o recesso. Ele sabia que era
bobo e infantil ficar de mau humor, mas se tivesse que ver Sirius novamente,
não tinha certeza de que não voaria para cima dele. Pensou em Ferox dizendo
'É bom ficar com raiva' - mas de alguma forma não achou que era isso que o
professor queria dizer.
Ele estava com inveja? Com inveja porque todos os seus amigos tinham ficado
com garotas e ele não? Talvez fosse isso. Remus não podia realmente ignorar o
fato de que era o único de seus amigos que não era completamente guiado por
seus hormônios - como um adolescente normal, como Sirius tão gentilmente
disse. Ouch; ali estava aquela dor novamente. Remus encolheu os joelhos sob
o queixo, encolhendo se o máximo possível. Se ele ganhasse um galeão por
cada aspecto em que ele não era normal...
Remus desceu para jantar, mas não falou com James ou Sirius, limitando-se
apenas a conversas educadas com o Sr. e a Sra. Potter. Depois que foram
dispensados da mesa, ele voltou direto para cima e se enrolou sob o edredom
com um livro até adormecer.
"Pelo amor de Deus!" Ele gritou. Lily ergueu os olhos para ele e riu - Mary
também, e agora Peter e James as imitaram.
Sirius apareceu bem no fundo do teatro, sua silhueta recortada pelo projetor
atrás de si,
"Ignorem ele", ele riu junto com os outros, "Ele não é normal como nós."
Remus se virou bem a tempo de ver Ferox atirar em Robert Redford, então
acordou com um pulo.
Ele estava quente e suado sob o edredom pesado e teve que lutar para se
libertar. Sentindo-se muito bobo por ter tido um pesadelo na sua idade, ele
saltou da grande cama de dossel e se dirigiu ao banheiro mais próximo. O
relógio marcava meia-noite, então ele não acendeu nenhuma luz, e pôde ver
um leve brilho amarelado saindo de debaixo da porta de James.
Remus usou o banheiro, então lavou as mãos e o rosto, tomando alguns goles
da torneira fria antes de se enxugar nas mangas do seu pijama. Sentindo-se
muito melhor, ele voltou para seu quarto, assim que a porta de James se abriu.
"Caramba, é você, Moony!" James sussurrou, parecendo aliviado, "O que você
está fazendo andando no escuro?!"
''Achei que você fosse Gully, nos espionando para mamãe ou algo assim. Quer
entrar? Vamos todos ser amigos de novo."
Não demorou muito para que Remus concordasse. Brigar consumia muita
energia, especialmente quando todos viviam juntos. Ele ainda não queria falar
com Sirius, mas entrou pelo bem de James.
"Ah ok." Remus concordou. E então, porque ele não queria que fosse mais
estranho, perguntou; "Como está seu nariz, Black?"
"Tá ok," Sirius sorriu para ele, relaxando e mudando de humor, "Você está
perdendo o jeito."
Remus sorriu,
"Não."
"Ainda não." Remus disse, tentando não soar muito nervoso com isso,
"Provavelmente está planejando algo. Qual é a pegadinha?"
"Vamos hm ... te contar quando soubermos como fazer. Pode não dar certo."
James disse, rapidamente, fechando o livro mais próximo dele. Remus ergueu
uma sobrancelha e não disse nada - isso apenas confirmou uma suspeita que
tinha há algum tempo. Ele não queria entrar em nada disso agora, esperaria
para ver se algo aconteceria.
"Desculpe, eu mencionei Lily." Ele disse a James: "Eu não quis dizer isso,
Sirius está certo, ela não vai se importar - se ela for estúpida o suficiente para
sair com você, claro."
"Vai a merda."
"Não vamos entrar em pânico," o Sr. Potter disse calmamente, "Albus estará
aqui em breve. Rapazes, terminem de limpar aqui, hein? Eu estarei em meu
escritório."
Eles organizaram em silêncio, todos esperando para ver o que aconteceria a
seguir. Um ataque - o que isso poderia significar? A mente de Remus foi direto
para Greyback - mas não era lua cheia, então improvável que fossem
lobisomens. Poderia ser Voldemort? Ou haviam outros bruxos das trevas lá
fora? Culpadamente, ele olhou para Sirius, que estava olhando pela janela para
a chuva, parecendo pálido e chocado. Sua família era majoritariamente
formada por bruxos das trevas. Ele sabia alguma coisa sobre isso? Certamente
não, Remus rapidamente descartou a ideia, sentindo-se ainda pior; Sirius não
tinha voltado para casa desde o verão, e era de conhecimento geral que sua
família o odiava.
Finalmente, depois do que pareceu uma década, mas poderiam ter sido apenas
vinte minutos, houve um estalo de aparatação do lado de fora, e o Sr. Potter foi
até a porta da frente. A Sra. Potter se juntou a ele, e James, Sirius e Remus
ficaram no corredor, assistindo.
"Lá em cima, meninos." Sr. Potter disse, severamente. James parecia prestes a
discutir, mas Dumbledore interveio em seu lugar.
"Se você não se importasse, Fleamont, acho melhor que os meninos ouçam
isso. Estará em todos os jornais amanhã de qualquer maneira."
"Não. O Sr. e a Sra. Fraser eram nascidos trouxas. Eles tinham dois filhos que
ainda não tinham idade suficiente para Hogwarts, mas até onde sabemos,
mostravam sinais de habilidade mágica."
Remus estremeceu com a sentença dita no passado. O Sr. Potter também havia
notado isso claramente, pois parecia muito pálido e cansado de repente.
"Todos os quatro?"
"Sim."
"E nós sabemos com certeza?" O Sr. Potter continuou, ansioso, "Nós sabemos
que foi ... ele?"
"Uma marca?"
"Vai sair nos jornais amanhã, eu imagino. O Profeta Diário estava lá antes de
eu ser alertado."
"Até agora." Sirius repetiu. "Mas você sabe que eles ... eles são ..."
Ele disse isso diretamente para Sirius, e parecia estar falando com James e
Remus também. Remus sentiu uma torção desconfortável em seu abdômen -
ele não havia entendido tudo, mas sabia que uma grande responsabilidade
havia pousado em seus ombros. Uma que ele não tinha certeza se poderia
cumprir.
Remus não disse nada, mas acenou com a cabeça, esperando que Dumbledore
soubesse que ele também havia escolhido seu lado.
"Espero que não chegue a esse ponto." Dumbledore estava sorrindo, seus olhos
azuis cintilando de emoção. "Mas obrigado, meninos."
"Eu vou me tornar maior de idade em dois anos!" Sirius disse, endireitando-se,
afirmando sua posição como o maroto mais velho. "E nós somos os melhores
do ano em feitiços defensivos!"
"De fato." Ele disse: "Sua mãe está certa, entretanto. Tudo o que peço é que
vocês estejam em guarda e cuidem uns dos outros. Agora, devo ir, tenho outras
visitas a fazer. Fleamont," Dumbledore se levantou e apertou a mão do Sr.
Potter, "Entrarei em contato. Eufêmia," ele se virou para a Sra. Potter se
desculpando, "Feliz Natal. Receio não comparecer à sua festa, esta noite. "
Foi a primeira vez que Remus - ou qualquer um deles - viu a marca negra, e
eles não tinham ideia de que era um símbolo que temeriam pelo resto de suas
vidas. Uma grande caveira negra com a boca aberta e uma longa serpente
dobrada se contorcendo. Era nitidamente uma marca Sonserina, e assim que
eles voltaram para Hogwarts, Sirius queimou todos as marcas de cobras de
suas coisas, incluindo seu malão.
"Eu não dou a mínima." Sirius respondeu, disparando sua varinha contra a
madeira enegrecida mais uma vez, para garantir, "É meu, e não quero que nada
meu tenha essa marca maldita."
Era inútil tentar argumentar com ele. Desde a visita de Dumbledore aos Potter,
o ódio de Sirius por qualquer coisa remotamente Sonserina havia aumentado
dez vezes mais. Ele vinha usando feitiços para defender os alunos mais jovens
da Sonserina o ano todo, mas agora parecia estar ativamente procurando por
confrontos.
"A guerra não está acontecendo aqui." Remus tentou dizer a ele uma vez, após
sua terceira detenção em alguns dias, "Dumbledore nos disse para ficarmos
vigilantes, não começar brigas."
"A guerra está em toda parte." Sirius respondeu, e James concordou com a
cabeça. "De qualquer forma, quem é você para falar, e você e Snape?"
Era verdade; ele não odiava Snape porque ele era um bruxo das trevas, ou um
sonserino, ou qualquer coisa assim. Remus não gostava Snape, porque ele era
um filho da puta intrometido - isso, e ninguém realmente gostava de Snape,
exceto Lily.
"Não sei se beijar uma trouxa no fundo do cinema realmente conta como
amadurecimento." Remus respondeu, resgatando o livro maltratado e alisando
os cantos que James havia dobrado.
"Eu não quis dizer isso," James sorriu, "Quis dizer ... em geral. Eu não
entendo, eu me dou bem com a Marlene."
"Você está no time de quadribol com a Marlene", disse Peter, "Você tem coisas
em comum com ela."
"Então, o quê," James disse, lentamente, "Você acha que eu deveria tentar
colocar Lily no time de Quadribol?"
"Por que você não descobre algo que vocês dois têm em comum? Tipo, como
eu e Desdêmona gostamos de xadrez e sanduíches de queijo e..."
"Não temos nada em comum", respondeu James, sonhador, "É por isso que
gosto dela."
"Não dê ouvidos a ele," disse Remus, com pena, "As pessoas não saem com
outras pessoas porque são iguais, isso seria chato. Os opostos se atraem e tudo
mais."
"Sim, você está certo, Moony!" James se animou. "Talvez eu deva descobrir de
que tipo de coisas ela gosta ..."
"Er ... sim, pode ser um começo." Remus balançou a cabeça, voltando ao seu
dever de Feitiços. Ele tinha feito as pazes com aquela obsessão por garotas
agora; era mais fácil apenas acenar com a cabeça e fingir ser solidário.
Como consequência, Remus viu muito pouco deles no início do semestre - ele
passava muito do seu tempo na biblioteca, como sempre, e quando os outros
dois não estavam em campo praticando (com Peter assistindo, é claro), eles
estavam em detenção por uma coisa ou outra. Mal havia tempo para trabalhar
no mapa ou mesmo planejar uma nova pegadinha; os marotos se cruzavam
ocasionalmente na hora de ir dormir.
"Justo." Ele sorriu. Ele gostava muito da companhia de Lily - quase tanto
quanto dos marotos.
"Então, por que todos eles estão na detenção?" Ela perguntou, enquanto
caminhavam pela neve até o vilarejo.
"Várias coisas," Remus acenou com a mão, "Peter foi pego fora dos limites
depois de escurecer, James foi culpado por mudar as palavras nos troféus da
Sonserina ... e acho que Sirius azarou um aluno segundo ano."
"Não foi uma coisa muito legal de se fazer." Lily franziu a testa. Remus
suspirou. Por que as meninas sempre querem ser boazinhas?!
Depois disso, foram para o correio, onde Remus mandou um pacote para os
Potter em nome de James - era o aniversário da Sra. Potter, ele explicou a Lily;
e James odiava perder qualquer ocasião para dar um presente. A essa altura, já
muito frio, eles decidiram que a próxima parada seria uma cerveja amanteigada
e optaram pelo Três Vassouras.
"Vocês quatro estão sempre juntos?" Lily parecia entretida. Isso incomodou
Remus da maneira errada.
"Bem, eu meio que queria conhecer você um pouco melhor, não seus amigos."
Lily tinha duas manchas vermelhas em suas bochechas agora, como uma
boneca holandesa. Remus não conseguia entender por que ela estava tão
irritada.
Lily olhou para ele, sem acreditar. Então sua expressão mudou. Ela passou a
mão pelo cabelo e riu, sem humor.
"O quê?"
"Eu sou uma idiota. Você realmente não tem ideia do por que eu queria passar
o fim de semana com você, não é? "
Ele encolheu os ombros. Ela sorriu, dando a ele aquele olhar de pena que as
garotas eram tão boas em fazer. "Não importa", disse ela, "Não se preocupe
com isso."
Depois disso, o tom da tarde pareceu mudar. Lily pareceu relaxar em seu eu de
sempre e começou a brincar com ele. Ela até reclamou um pouco sobre Snape,
que disse algo extremamente rude para Mary recentemente. Remus nunca
entendeu por que ela ficou tão mal-humorada em primeiro lugar, mas ele achou
que poderia ter sido apenas por mencionar seus amigos - ela sempre foi clara
sobre os achar irritantes. E, como presente, ela só aceitaria dele o preço de uma
cerveja amanteigada e garantiu-lhe que não precisava sentir que lhe devia algo.
Foi só no dia seguinte, quando Remus, James, Sirius e Peter estavam sentados
no café da manhã, que tudo ficou claro. James e Sirius estavam com suas
vestes de quadribol prontos para o treino, discutindo táticas furtivamente,
enquanto Peter ouvia com profundo interesse, balançando a cabeça e
murmurando, "Sim, exatamente" de vez em quando. Remus estava checando
sua lista de livros - ele tinha vários para devolver e alguns mais que ele ainda
precisava usar para completar sua redação de Transfiguração.
"É," Sirius olhou para cima, curioso, "Do que você está falando, McKinnon?"
"Ele não te contou?" Ela mexeu com açúcar no chá, inocentemente, "Remus e
Lily tiveram um encontro ontem."
"Moony em um encontro?!"
"Não foi um encontro!" Remus disse, batendo sua pena. Ao dizer essas
palavras, ele sentiu uma sensação horrível no estômago - teria sido um
encontro? Como ele deveria saber, se as pessoas simplesmente te emboscavam
assim?! Ele olhou para James, desesperadamente, "Mas eu não gosto de Lily,
ela é apenas uma amiga!"
"Sim ... eu sei, cara." James disse, embora Remus não achasse que ele parecia
muito convencido. "Está bem. Eu ... te vejo depois do treino. "
Com isso, James se levantou e saiu da mesa. Sirius ficou olhando para ele por
um momento, então olhou para Remus, depois de volta para James, antes de
encolher os ombros impotente e se levantar para seguir seu amigo para fora do
corredor. Peter o seguiu logo depois, e Remus deitou a cabeça na mesa,
gemendo.
"Uau, desculpe Remus," Marlene disse, muito baixinho, "Eu não tinha ideia.
Hum ... James realmente gosta dela, então? "
"Estou indo para a biblioteca." Ele disse, sem olhar para ela.
***
O problema com isso, é claro, era o quanto ele havia crescido desde seu
segundo ano. Muitos de seus cantos habituais eram simplesmente pequenos
demais agora. No final, ele se acomodou atrás da estátua da bruxa corcunda,
bem dentro da passagem para a Dedos de mel. Estava escuro, mas ele acendeu
sua varinha para iluminar, e o leve cheiro de chocolate era muito reconfortante.
Ele tentou ler, mas seu cérebro não o deixou se concentrar - parecia querer
apenas continuar repetindo sua visita a Hogsmeade outra vez. Lily disse algo
que ele perdeu? Teria sido sua linguagem corporal, talvez; ela deu dicas?
James as teria entendido? Sirius teria? Era muito injusto, Remus pensou
consigo mesmo, lamentavelmente. Lily era uma ótima amiga, por que ela iria
querer bagunçar tudo com sentimentos e dar as mãos e beijar?!
Ele realmente esperava não ter que falar com ela sobre isso agora. Talvez ela
estivesse tão envergonhada quanto ele. Pior de tudo, e se James nunca mais
falasse com ele? Ele não sabia como explicar que não via Lily dessa maneira -
não quando todos os outros grifinórios em seu ano pareciam decididos a
formar pares.
Talvez ele devesse ter beijado Marlene quando ela ofereceu, em novembro. Ele
se perguntou se todos eles o deixariam em paz quando ele acabasse com
isso. Você tem que começar a beijar garotas algum dia, ele disse a si
mesmo. Todo mundo beija - é normal. Mas não Lily - ele não poderia fazer
isso com James. Na verdade, Remus decidiu, essa era provavelmente a razão
pela qual ele não estava interessado nela - porque ela era extremamente bonita,
engraçada, gentil, inteligente - e melhor do que ele em Feitiços. Lily
era exatamente o tipo de garota que ele gostaria, Remus sabia com certeza, mas
a amizade dele com James era muito mais importante.
Mas, como Remus tinha ouvido uma vez; os melhores planos geralmente dão
errado. Ele estava quase chegando ao fim da grande escadaria - subindo três
degraus de cada vez só porque podia, e sem realmente olhar para onde estava
indo - ele bateu de cabeça em outro aluno subindo.
"Cuidado, Loony Lupin," Snape estreitou seus olhos redondos, "Não diga algo
que você vai se arrepender."
Snape deu um passo para o lado imediatamente, dando um floreio com a mão
para mostrar a Remus que ele estava livre para ir. Era inquietante, mas Remus
não podia se preocupar com isso agora, e continuou seu caminho.
66. Quarto Ano
Fevereiro
James Potter era uma pessoa muito mais complexa do que parecia à primeira
vista.
Externamente, ele era feliz, confiante, gentil (embora às vezes fosse um pouco
arrogante) e geralmente popular com todos. Recebia muitas detenções? Sim,
mas no final sempre acabava tirando notas boas, e a maioria dos professores
ainda gostavam muito dele. Ele aproveitava ao máximo o fato de estar no time
de quadribol - bagunçando o cabelo deliberadamente, fazendo parecer que
tinha acabado de voar e usando seu uniforme vermelho em todas as
oportunidades. Mas ninguém poderia dizer que ele não merecia o direito de
agir assim - bastava vê-lo jogar para saber o porquê de seu ego gigante.
Acima de tudo, James Potter era amado. Seus pais o mimaram e lhe incutiram
a noção de que não havia nada que ele não pudesse fazer; que nenhuma porta
jamais estaria fechada para ele. Sirius, Peter e Remus o admiravam,
nomeando-o líder em quase todas as aventuras, e no geral, ele era admirado na
escola pelas pessoas que importavam, e invejado por todo o resto.
Exceto por Lily Evans, é claro. Ela era o fio fora do lugar que parecia desandar
tudo na vida de James. Tendo crescido cercado de amor – entregue livremente
e aceito imprudentemente – James ficara muito perturbado com a ideia de que
alguém que ele gostasse poderia não gostar dele. Essa era a razão pela qual ele
agia como um idiota sempre que Lily estava presente, e a razão pela qual ele
parou de falar com Remus por uma semana inteira durante o início da
primavera de 1975.
Ele não estava sendo maldoso, ou fazendo isso de propósito - Remus conhecia
James bem o suficiente para compreender isso. Só aconteceu de seus
sentimentos terem sido feridos – e como alguém que raramente experienciou
ter seus sentimentos feridos – ele não sabia como lidar com a dor. Pelo menos
Sirius explodia com você se o irritasse, para que pudesse ser resolvido
rapidamente. Peter ficaria emburrado. Remus provavelmente tentaria dar um
soco. Mas James apenas ficava quieto.
"Ele não está bravo com você," explicou Sirius, quando James foi para a cama
uma noite assim que Remus chegou na sala comunal. "Ele está apenas sentindo
pena de si mesmo."
"Bem ... não acho que ele pense que você está mentindo, exatamente, mas ...
você é muito próximo da Evans, não é? Sempre andando juntos."
"Ela é minha amiga." Remus disse, exasperado, "Eu também ando com a
Marlene e a Mary, ninguém pensa que vou sair com elas!"
Era impossível.
Quanto a Lily, ela estava sendo muito madura sobre a coisa toda. Remus
presumiu que Marlene a tivesse informado sobre a situação, mas ela não
pressionou, e eles puderam continuar como parceiros de Poções normalmente.
James e Sirius, no entanto, mudaram sua mesa de trabalho para o fundo da
sala.
Para piorar as coisas mais ainda, Lily, Mary e Marlene sentaram-se perto de
Remus - elas estavam com pena dele e, sendo meninas, estavam tentando
animá-lo fazendo exatamente a coisa errada.
"Você não pode nos culpar, Lily," Marlene respondeu, "Mesmo que não sejam
todos eles, a maioria dos Sonserinos foram totalmente baixos este ano."
"Falando no diabo ..." Mary abaixou a voz, de repente, lançando um olhar sujo
por cima do ombro de Lily.
Lily e Remus se viraram para ver Severus Snape parado ali, com um sorriso
estranho no rosto que era tudo menos alegre.
"Oi Sev," Lily respondeu, com um tipo de educação forçada, "O que foi?"
"Só passei para ver se você precisava de alguma ajuda extra com a tarefa de
Poções. É muito complicada,"
"Eu sei." Ela respondeu, irritada: "Mas tenho certeza de que vou conseguir ..."
* BANG *
Todos na mesa pularam e se viraram para olhar para o final do corredor, onde
Mulciber havia acabado de soltar um foguete no final da mesa da Sonserina.
Ele estava rindo muito enquanto a escola inteira observava, apavorada.
O jantar voltou ao normal. Snape ainda estava parado ali. Lily olhou para ele,
"Como eu disse, Remus e eu vamos dar um jeito." Ela disse: "Eu não sou
burra, você sabe, Severus."
"Eu nunca disse que você era ..." Snape parecia genuinamente chateado com
isso, "Eu só ... ah, deixa pra lá." Com isso, ele lançou um olhar desagradável
para Remus, então foi embora, de volta para sua própria mesa.
"Deixa ele em paz." Lily retrucou. Ela parecia tão feroz que Mary nem mesmo
teve uma resposta.
"Er ... algum de vocês teve alguma sorte com aquela redação sobre
hinkypunk?" Marlene perguntou rapidamente, tentando manter a paz. "A
minha tá uma merda."
"Ah sim, desculpe, Moony, pera aí, elas estão na minha bolsa ..." Ele começou
a vasculhar o ferro-velho que era sua mochila, retirando bolas de pergaminho
amassadas, bombas de bosta, doces e penas quebradas.
"Como você consegue encontrar alguma coisa aí?" Remus suspirou, bebendo
mais um pouco de suco de abóbora, "Você é a pessoa mais bagunceira que eu
já vi."
"Oooh, Remus," disse Mary, "Eu te contei que recebi outra carta de Darren
esta semana?"
Remus grunhiu,
"Sim." Ele choramingou: "E foi tão entediante quanto as últimas quinhentas
cartas que você me fez ler."
"Desculpe," ele disse, olhando para baixo. Ele se sentiu estranho. Talvez a
coisa do James o estivesse afetando ainda mais do que ele pensava.
"Não, eu que peço desculpas." Mary disse, levantando-se, seu lábio inferior
tremendo: "Não vou mais te entediar, então!" Ela se virou rapidamente e saiu
do salão, seu prato comido pela metade.
"Mary!" Marlene se levantou, correndo para segui-la. Lily olhou para Remus,
"Remus!" Lily disse, parecendo chocada – embora, mais forte que Mary, ela
não foi embora, "Não há nada de errado em Mary querer falar sobre seu
namorado ou ... hum ... ou adolescentes tendo paixões, é normal, não é?"
"Eu não me importo se é normal." Ele encolheu os ombros, "Eu acho que
vocês estão agindo como idiotas. Até você - por que diabos você iria querer
sair comigo, se o garoto mais popular da escola está perdidamente apaixonado
por você? Ele é dez vezes mais legal do que eu também, você que é muito
arrogante para ver isso."
"Estou bem, mas ainda estou com um pouco de fome. Acha que Mary se
importará se eu terminar suas batatas?"
"Hum certo," Sirius se levantou, "Para de falar, Moony, antes de dizer algo que
você vai se arrepender."
"Sabe," ele sorriu, "Isso é exatamente o que Snape disse na escada outro dia ..."
"SEVERUS!" Lily gritou, no topo de sua voz. Ela se levantou e foi até a mesa
da Sonserina, com Sirius, James, Remus e Peter a reboque. "O que você fez
com Remus?!" Ela exigiu, batendo o pé com raiva no chão de pedra.
"Acho que não," Remus deu de ombros, "Se bem que eu continuo dizendo
coisas que não deveria, tipo ..."
Oh Deus, por onde começar? Remus pensou consigo mesmo. Ele sabia que não
deveria dizer nada. Não devo dizer nada. Ele estaria em um perigo terrível se
alguém descobrisse ..., mas ele queria, ele queria muito - ele tinha tantos
segredos, e todos eles estavam nadando para a superfície de sua mente, como
boias salva-vidas.
"Desculpe, Remus," Sirius disse, "Mas eu tinha que fazer isso, você ia ..."
"Eu sei." Remus baixou a cabeça, sentado em sua cama, ''Snape, aquele
canalha! Quanto tempo leva para passar?"
"Depende de quanto você tomou, eu acho." James disse, folheando seu livro de
poções, "Godric, como ele fez isso?! Isso é coisa de nível NEWT, soro da
verdade!"
"Que velho chato." Sirius bufou, juntando-se a James na busca pelo livro,
"Tente não dizer nada, Moony, ok?"
"Ok, certo, diz aqui que você deve estar limpo em vinte e quatro horas, então
... na hora do jantar amanhã, no máximo."
"E as aulas?!"
"A gente diz que você está doente. Você não pode arriscar, Moony! Eu
poderia matar Snape, aquele imundo, sujo, dissimulado ... "
"Não vou perder nenhuma aula por causa dele." Remus cruzou os braços,
"Deve haver um antídoto."
"Sim, boa ideia, acho que ele ainda está no Salão Principal," Sirius assentiu.
Ele se virou para Remus e falou muito claro e lentamente, como se estivesse
falando com uma criança, "Remus. Fique. Aqui."
"Eu vou ficar com ele." Disse James. "Vocês dois vão."
Sirius não precisou de mais que isso, e logo estava descendo as escadas,
gritando de lá,
Mas eles não puderam ouvir o resto; Sirius tinha ido, e Peter com ele. Houve
um silêncio longo e constrangedor. Remus não confiava em si mesmo para
falar. Finalmente, James o fez.
"Você não foi! Eu só queria poder provar a você que eu ... espere! Me
pergunte!"
"Ahn?"
"Remus, eu não quero," James franziu a testa. Isso não combinava com sua
ideia de bom espírito esportivo.
"Pode ir," Remus encorajou, "Eu realmente não me importo - é entre eu e você,
certo?" Ele se levantou e agarrou James pelos ombros, encontrando seus olhos
com confiança, "Me pergunte."
"Não. Nunca, nunca irei. Elas são minhas amigas, como vocês."
James olhou para ele muito intensamente, então seu rosto se abriu em um
sorriso genuíno. Ele deu um tapa nas costas de Remus.
Remus riu,
***
"É melhor assim," Remus assegurou-lhes, "Ele vai ficar muito nervoso se ele
não entrar em apuros imediatamente - vai ficar se perguntando como vamos
nós vingar."
"Como é que vamos nos vingar?" Sirius perguntou, ansioso, durante o café da
manhã no jogo Sonserina x Grifinória, "Ele quase te dedurou, Moony, a gente
tem que ensinar uma lição a ele!"
"Fácil," Sirius deu uma piscadela. Remus sorriu em retorno. Era difícil não
sorrir para Sirius quando ele estava de tão bom humor - resplandecente em
suas vestes de quadribol douradas e vermelhas, cabelo puxado para fora do
rosto, olhos afiados e cheios de determinação. Era a melhor versão de Sirius, e
o coração de Remus bateu forte com orgulho e adrenalina.
As vaias ficaram tão altas agora que Remus mal conseguia ouvir Darcy por
causa do barulho. Peter não estava ajudando e não parava de pular na cadeira.
Remus se manteu sentado o máximo que pôde - seu quadril estava causando
dores de novo, e ele não queria piorar a situação. 'Limpy Lupin' era pior do que
'Loony Lupin', de alguma forma.
Agora Remus o viu - agora todo mundo viu, os gritos se elevaram quando o
balaço acertou a cabeça de Regulus e o derrubou de sua vassoura.
Eles assistiram com tal horror que todos os preconceitos da casa foram
esquecidos, enquanto o corpo inerte de Regulus Black despencava no chão.
67. Quarto Ano
Fevereiro (Parte 2)
Sirius tentou - ninguém poderia negar isso. No momento em que viu o balaço
acertar Regulus, ele se abaixou na vassoura e disparou para frente como se o
diabo estivesse em seus calcanhares, mais rápido do que Remus jamais vira
alguém - até mesmo James - voar. Na verdade, Sirius ganhou tamanha
velocidade, e em um ângulo vertical tão assustador, que Remus teve certeza de
que iria cair no chão também, e seu estômago embrulhou de medo. Sirius
chegou tarde demais, mas Madame Hooch não.
Mas assim que alcançaram o nível do solo, não puderam entrar em campo; os
chefes das casas estavam conduzindo os alunos de volta ao castelo e não os
deixavam passar.
"Eles devem ter levado Regulus para a ala hospitalar," Peter disse, "Talvez
Sirius esteja nos vestiários?"
"Não," Remus balançou a cabeça, "Não, ele gostaria de ir com Reg ... ele
provavelmente pensa que é tudo culpa dele."
"Bem," Peter olhou para ele, "Ele acertou o balaço, não foi?"
E é claro que ele estava. Quando Peter e Remus chegaram do lado de fora da
ala hospitalar, tendo lutado para abrir caminho através da multidão de alunos
fofoqueiros, eles encontraram James sentado no chão do lado de fora, os
cotovelos apoiados nos joelhos, olhando para o nada. Ele ainda estava com
suas vestes de quadribol, suas bochechas ainda estavam coradas de voar e seu
cabelo estava uma bagunça.
"Ele está bem?!" Remus perguntou imediatamente – e não tinha certeza a quem
estava se referindo.
"Sim, acho que sim," James olhou para eles com uma surpresa atordoada, "Mas
ele tá apagado. Pomfrey não me deixa entrar."
"Sirius?"
"Sim, ele está lá. Achei melhor esperar ... Slughorn está contatando os pais
deles, então..." Ele encolheu os ombros. "Achei melhor eu estar aqui."
"Você viu o que aconteceu?" James perguntou, finalmente. "Eu estava do outro
lado do campo, não ..."
"Um balaço," Remus disse, "Mulciber acertou um direto em Sirius, deve ter
sido uma falta. Sirius bateu de volta nele, mas Mulciber saiu do caminho, e
Regulus estava bem atrás dele. Sirius não poderia ter visto ele, foi um acidente.
Foi ... foi horrível."
Eles foram perturbados de seus pensamentos pelo barulho rápido de saltos alto
batendo no chão de pedra, e a voz preocupada da Professora McGonagall
virando a esquina,
"Por favor, Walburga, ele não poderia estar em mãos mais seguras que com
Madame Pomfrey - é realmente melhor que ele não seja movido -"
"Acho que eu vou tomar as decisões aqui, Minerva." Aquela voz baixa e fria
respondeu.
Ela estava acompanhada por um pequeno bruxo idoso com uma longa barba,
carregando uma pesada maleta de pele de dragão. Walburga olhou para os três
meninos esperando do lado de fora da ala hospitalar e Remus prendeu a
respiração - mas ela não pareceu pensar que valia a pena, e passou,
empurrando as portas de madeira com as duas mãos e marchando para dentro.
"Ele está bem, foi apenas uma batida forte", disse ela, de modo tranquilizador,
"eu já lhe dei uma poção curativa e consertei as fraturas."
"Estou lhe dizendo, tudo o que poderia ser feito já foi feito." Madame Pomfrey
disse, parecendo bastante zangada agora.
"Dentro de sua competência, tenho certeza. Mas ele é meu filho e eu cuidarei
dele como achar melhor."
Madame Pomfrey ficou com o rosto vermelho e parecia estar sem palavras,
então McGonagall teve que se inclinar e sussurrar algo em seu ouvido para
acalmá-la. O velho mago barbudo colocou sua maleta na mesa de cabeceira e a
abriu, antes de se curvar silenciosamente sobre Regulus.
Enquanto isso, Walburga voltou sua atenção para seu filho mais velho. Ela não
se moveu do final da cama, mas seu olhar feroz foi o suficiente para segurar
Sirius no lugar.
"Você." Ela disse. "E o que você está fazendo aqui?"
Sirius disse algo, mas saiu pouco mais que um sussurro. Walburga franziu a
testa,
"Ele é meu irmão." Sirius disse, mais alto agora, embora sua voz estivesse
rouca e ligeiramente falha. A Sra. Black estalou a língua.
"Pelo amor de Deus, você andou chorando?! Tente mostrar pelo menos um
pouco de decoro. Toujours Pur, Sirius! Tente se lembrar de seu dever."
Sirius não respondeu, mas abaixou a cabeça, o cabelo caindo na frente de seu
rosto. Remus esperava que ele não ter começasse a chorar de novo. Walburga
continuou, "Você pode ir, Sirius. Seu pai e eu lhe veremos junho."
Com isso, ela se voltou para Regulus e ignorou Sirius novamente. James
começou a avançar, incapaz de assistir por mais tempo, mas Remus se conteve
junto a Peter. Não parecia seu lugar, de alguma forma; ele não tinha o direito.
E embora Remus desejasse mais do que qualquer coisa saber o que fazer,
James sempre foi muito melhor com Sirius.
"Vá direto para a cama e beba cada gota, está me ouvindo? A dor
provavelmente já terá passado, mas vai ser desconfortável esta noite. "
Sirius acenou com a cabeça, cansado, sem falar. James deu um tapinha em seu
ombro e o apertou, então acenou com a cabeça para McGonagall. Ela parecia
querer muito dizer algo, mas segurou a língua, apenas olhando para Regulus e
a Sra. Black. Ela ficaria de olho na situação, Remus tinha certeza. Ela deixaria
Sirius saber se algo acontecesse.
"Que bela cena devemos estar." Sirius murmurou, sem humor, enquanto eles
pararam em uma das escadas para respirar.
"Um monte de garotas lá embaixo quer ver Sirius," ele bufou, jogando tudo em
sua cama, "Há uma gangue de segundos anos fazendo cartões de melhoras –
mandei elas caírem fora."
Peter sorriu, finalmente. Ele acenou com a cabeça para a porta fechada do
banheiro.
"Ele vai ficar." James suspirou, tirando suas vestes de quadribol, deixando-as
em uma pilha no chão. Apenas com sua regata e cueca, ele pegou um
sanduíche de frango da cama de Peter e o mordeu faminto. Remus e Peter
interpretaram isso como permissão e seguiram o exemplo.
Sirius ficou no banheiro por um longo tempo, e eles acharam melhor deixá-lo
sozinho. James trocou de roupa e começou a arrumar a cama eternamente
bagunçada de Sirius. Remus ajudou, recolhendo os livros espalhados e as
redações pela metade. Ele iria terminá-las, Remus decidiu, ele faria todo o
dever de casa de Sirius durante a semana inteira, se isso ajudasse alguma coisa.
"Eu odeio a porra da família dele." James disse, de repente, enquanto sacudia
um dos travesseiros de Sirius.
"A mãe dele é ainda pior do que a minha," Peter fungou. Remus começou a
examinar as anotações de Sirius, alisando os pergaminhos e tentando entender
o que era para quando.
"Você está com fome, cara?" Peter perguntou, nervoso, oferecendo um prato
de sanduíches. Sirius balançou a cabeça e caminhou em direção a sua cama.
Sirius olhou para ele, seu rosto suave após o banho, seus olhos cansados e
sombrios. Ele sorriu gentilmente e encolheu os ombros.
***
Sirius continuou com seu dia, mas a luz nele havia diminuído. Ele não azarou
ninguém, fez piadas, ou mesmo falou fora de hora em suas aulas. Ele
simplesmente empurrava seus dias, como se estivesse sonâmbulo. Remus
estava começando a se perguntar se ainda era o choque do acidente ou a
ansiedade de ter que enfrentar sua mãe dentro de Hogwarts.
Aquela noite era lua cheia, então Remus seria de pouca ajuda a Sirius. Na
verdade, ele estava um pouco feliz por ter uma desculpa para sair do
dormitório, que havia se tornado um lugar sombrio e silencioso enquanto
Sirius estava naquele humor. Remus não foi o único - Peter continuava
escapulindo para visitar Desdêmona.
Talvez fosse todo o silêncio, todas as coisas não ditas e a tensão não resolvida,
mas a lua de fevereiro fora ruim. Remus acordou com a garganta em carne viva
de tanto uivar, farpas de madeira sob as unhas e hematomas por toda parte.
Ultimamente, ele notou que quanto mais velho ficava, mais era capaz de se
lembrar depois das transformações. Ainda não estava totalmente claro; era
como lembrar de um sonho; imagens e sentimentos entrando e saindo de vista,
mas desta vez Remus pensou que talvez o lobo quisesse algo - talvez quisesse
sair mais do que o normal.
Ele estava deitado na cama do hospital tentando se lembrar, febril e com dor de
cabeça, muito desconfortável para dormir, os lençóis enrolados em seus
tornozelos como algemas.
"Bom dia, Moony," Uma voz suave e triste falou com ele. Ele teve que
esfregar os olhos e piscar algumas vezes antes mesmo de perceber que era
Sirius.
"Bo-bom dia," ele balbuciou, grogue de qualquer analgésico que tinha tomado.
Que sempre fazia seu sotaque escorregar, o que ele odiava. "Que 'cê tá
fazendo'qui?"
"Mas eu sim."
"Moony?"
"Sim?"
"Não foi sua culpa." Remus disse, com firmeza. Com um pouco de firmeza
demais, ele sentiu os músculos da garganta se tensionarem e se contraírem e
começou a tossir. Sirius pulou da cama e pegou o copo d'água da mesinha de
cabeceira, entregando-o a Remus. Remus engoliu, envergonhado, derramando
um pouco.
"Eu não atingi ele de propósito, você tem razão," Sirius disse, olhando pela
janela sobre a cabeça de Remus, semicerrando os olhos levemente como se
estivesse procurando por algo lá fora. "Mas ... quando o vi cair daquele jeito,
pensei ... pensei - não o deixe morrer."
"Bem, é claro," Remus franziu a testa. Ele gostaria que Sirius encontrasse seus
olhos. "Ele é seu irmão, é claro que você não queria que ele ..."
"Mas eu não estava pensando nele." Sirius disse, "Eu estava pensando em mim.
Eu estava pensando ... se ele morrer, eu serei o único que resta, e meus pais ...
eu não teria nenhuma saída. Eu preciso de Regulus para permanecer vivo. Eu
preciso que ele seja o filho perfeito, então não vai importar se eu for o pior
filho. Era isso o que eu estava pensando. Eu sou um covarde."
Remus não sabia o que dizer, mas ele tinha que dizer algo.
"Você ainda teria ficado triste se ele morresse, porém. E não só por causa
disso."
"As pessoas não pensam direito quando estão com medo. Acredite em mim."
Remus disse, esperando que soasse autoritário. "Eu vi você, você arriscou sua
vida para tentar salvar ele - isso não é covardia. Você quebrou seu tornozelo
estúpido como o grifinório teimoso e idiota que você é. "
Sirius exalou, uma risadinha tensa. Ele olhou para seus pés novamente, então
para Remus. Remus sorriu para ele, encorajando-o, embora sua mandíbula
doesse.
"Sim, tá tudo bem. Ele me mandou uma coruja esta manhã - sendo servido
tudo na cama, pelo que parece. Minha mãe também tentou me expulsar do
time, mas ele a impediu.
Sirius riu.
68. Quarto Ano
Março
Como de costume, tudo foi planejado com extremo sigilo, e Remus ficou
completamente de fora até o último momento. Era sábado antes de seu
aniversário, e ele estava descansando em sua cama lendo, com um dos discos
de Sirius tocando baixo ao fundo. Ele tinha o costume de pegar emprestado o
toca-discos e deixa-lo em sua cama ultimamente - Sirius nunca parecia se
importar.
Era apenas cerca de nove horas, mas ele estava sozinho e pensando em dormir
cedo. Assim que ele decidiu colocar o pijama, Sirius irrompeu no quarto com
um sorriso malicioso no rosto que só poderia significar uma coisa - seria uma
longa noite.
"Pronto?!" Ele disse, saltando pelo chão, trazendo o cheiro de lenha da lareira
da sala comunal.
"Para fora." Sirius começou a vasculhar seu baú. Ele retirou uma calça jeans
trouxa e uma camiseta preta lisa.
"Ah, você quer dizer para fora, fora?" Remus ergueu uma sobrancelha quando
Sirius começou a se despir.
"Você sabe que meu aniversário ainda é daqui a dois dias." Remus disse, um
pequeno sorriso dele brincando em seus lábios.
"E o jantar." Sirius terminou, agora eles estavam descendo as escadas da Torre
da Grifinória.
"Aqui vamos nós, rapazes." James disse, jogando a pesada capa de
invisibilidade sobre os quatro. Contanto que todos eles ficassem muito
próximos, e Remus encurvado, eles quase cabiam. Mas a capa não aguentaria
outro estirão de crescimento de qualquer um deles.
Felizmente, eles não tiveram que andar muito - como Remus esperava, eles se
dirigiram para a estátua da bruxa corcunda e deslizaram atrás dela, para dentro
do túnel que levava à Dedos de mel.
"Eu realmente nunca pensei a respeito. Você me diz, você é o mais velho."
"Bem, obviamente sou muito mais sábio e maduro do que o resto de vocês ..."
James bufou, caminhando à frente com sua varinha acesa. Sirius o ignorou,
"Eu preferiria ter dezessete anos. Então poderíamos aparatar, pelo menos. "
"Ah, não comece," Peter bufou, ficando atrás, "Ele realmente queria tentar
aprender a aparatar, Remus, apenas para o seu aniversário, para que
pudéssemos entrar em Hogsmeade mais facilmente."
"Dez pontos para Moony." Sirius sorriu, "Nós poderíamos ter aparatado para
fora do porão, no entanto. Nos poupar de tentar passar pela velha Dedos de
mel."
"Aparatar é muito difícil, não é?" Perguntou Remus. Ele secretamente não
tinha certeza se seria capaz de fazer isso - até mesmo pegar carona com o Sr.
Potter aquela vez havia sido exaustivo e o deixara enjoado.
"Seria pouca coisa comparado a tudo que tivemos que fazer neste semestre,",
disse Peter.
Sirius deu ao menino menor um olhar muito irritado, e o queixo de Peter caiu,
como se ele tivesse dito algo muito errado.
"Você quer dizer com os exames chegando?" Remus perguntou,
inocentemente, para salvar Peter. Ele estava surpreso que Pettigrew tivesse
conseguido ficar quieto por tanto tempo - embora não fosse como se James e
Sirius fossem tão discretos quanto pensavam que eram.
"Droga." James disse, enquanto tentava abrir a porta trancada. "O velho
geralmente ainda está fazendo as contas ou algo assim. Deve ter ido para a
cama cedo."
"Ou ele pode estar fora," Remus sugeriu. "É uma noite de sábado."
"O que nós vamos fazer??" Peter perguntou: "Alohomora? Ah, mas não
podemos fazer mágica ..."
"Deixa eu ver," Remus deu um passo à frente, remexendo em seu bolso de trás
o grampo que ele usava desde o verão. "Fácil", disse ele, inspecionando a
fechadura. Ele se abaixou e inseriu o grampo, acariciando-o lentamente para
cima e ouvindo com atenção. O clique satisfatório lhe disse que tinha
funcionado e ele deu um passo para trás, abrindo a porta com um floreio. "Ta-
da!"
Uma vez dentro da loja, foi ainda mais fácil, pois a fechadura funcionava por
dentro. Então, de repente, eles estavam lá fora, na rua principal de Hogsmeade,
no ar frio da noite. Era deliciosamente emocionante estar em um lugar onde
eles não deveriam - Remus nem se importava se eles fossem pegos ou não. Ele
seguiu Sirius e James pela rua de paralelepípedos, passando pelo Três
Vassouras, as lojas fechadas e os correios.
"Ah meu Deus!!" Remus exclamou - essa era absolutamente a última coisa que
ele esperava. Agora ele sabia por que Sirius estava sorrindo tão abertamente
que suas bochechas deviam estar doendo.
"Sirius nos prometeu que você amaria," James disse, parecendo menos seguro.
Remus apenas olhou para o quadro-negro, depois para Sirius,
Lá dentro, não estava nem muito movimentado nem muito silencioso, e parecia
que a primeira apresentação estava apenas começando. Não era tão arrumado
quanto o Três Vassouras; o chão era de feno ao invés de um tapete, e cheirava
levemente a um curral, mas Remus podia ver que eles definitivamente não
iriam esbarrar em ninguém que conhecessem - e ninguém iria jogá-los de volta
na escola.
"Mmm..."
"Nah," James balançou a cabeça, parecendo tão perplexo quanto. "Tem havido
uma tendência a isso ultimamente. Desafiar o Lorde das Trevas e toda sua
merda de sangue puro, esse tipo de coisa. "
"Eles vão tocar David Bowie?" Peter perguntou. O pobre Peter teve a
impressão de que a música trouxa começava e terminava com David Bowie,
graças a Sirius e Remus.
A banda se anunciou como Banshee Blues assim que Sirius voltou com uma
bandeja de bebidas. Cerca de quinze delas.
"Sirius!" James ergueu as sobrancelhas,
"O que?!" Sirius piscou para ele, "Eu trouxe sua cerveja amanteigada!"
"Eu quis dizer apenas cerveja amanteigada, para todos nós. Como é que você
foi servido? Isso é Whisky de fogo?"
"E hidromel." Sirius concordou. "Não beba se você não quiser. Aqui," ele
pegou um copo com cerca de cinco centímetros de um líquido de cor marrom
dourado nele, erguendo-o, " Para nosso amado Moony - inventor do mapa dos
marotos, arquiteto de nossas maiores pegadinhas, fazedor do nosso dever de
casa atrasado ... "
Ele nunca tinha visto música ao vivo antes, muito menos música ao vivo
executada por bruxos. Suas roupas eram previsivelmente estranhas - uma
mistura de robes tradicionais e vestimentas trouxas variadas - o vocalista usava
um chapéu de caubói branco, por algum motivo, combinado com um boá de
penas rosa. Os instrumentos pareciam trouxas o suficiente, mas não tinham
amplificadores - aparentemente a magia cuidava do volume.
Eles tocaram algumas músicas dos Beatles, depois alguns Rolling Stones e
Remus achou que eram muito bons. Até mesmo James estava batendo o pé no
final, embora isso pudesse ser devido ao fato de Sirius ter colocado um pouco
de Whisky de fogo em sua cerveja amanteigada. Whisky de fogo era muito
ruim, Remus pensou, mas não era pior do que a vodka barata que bebeu no
verão passado. Ele orgulhosamente engoliu seu primeiro copo de uma vez, sem
estremecer, e Sirius olhou para ele com admiração.
"Arnold Doyle! Eu estive em Hogwarts ano passado, lembra? " Ele era alto e
magro, mas metade dos meninos da escola também. "Seus cigarros me
ajudaram a aguentar meus NIEM!"
"Oh! Certo, sim, Oi Arnold, desculpa." Ele ainda não tinha certeza se lembrava
dele, mas o uísque o fez se sentir amigável e caloroso com todos. "O que você
está fazendo aqui?"
"Minha namorada está tocando," ele acenou com a cabeça para o palco, onde a
garota de aparência suada estava afinando seu violão. "E você? Pensei que
ainda estava na escola?"
Arnold riu,
"Entendi. Bem, eu não vou te dedurar. Posso te pagar uma bebida? Agradecer
pelos cigarros?"
"Você é o nosso tipo de homem, Arnold," Sirius gritou, mais alto do que o
necessário em um pub tão pequeno, mas ele tinha bebido tanto quando Remus.
Arnold apenas riu e voltou para o bar. A namorada dele começou a tocar - uma
música de Bob Dylan, parecia, mas Remus não estava familiarizado com folk.
Ele ainda não conseguia se lembrar de alguma vez ter vendido algo a Arnold,
mas Arnold claramente sentia que havia uma dívida, porque ele comprou para
Remus uma garrafa inteira de Whisky de fogo e a colocou na mesa.
"Na verdade-" Peter começou, então parou quando Sirius o chutou com força
por baixo da mesa.
"Essas coisas fedem, Moony." James reclamou, fazendo uma careta. "E o que
ele quis dizer com 'seus cigarros' o ajudaram nos NIEMs?"
"Ele deve ter me confundido com alguém," Remus deu de ombros. Sirius
explodiu em risadinhas histéricas.
Sirius, é claro, achou que isso tudo era muito divertido, e depois de duas
tentativas de subir em seu próprio banquinho (rapidamente capturado por
James, que estava com melhor controle de seus sentidos), acabou com os
braços em volta de Peter e James, balançando para lá e para cá, cantando no
topo de sua voz;
"So you think we have a lazy time, well you should know better...
And you say I got a dirty mind, well I'm a mean go getter!
Anymore! Oh no--ooooh!"
Na verdade, os marotos estavam todos tão absortos nesse clima que ainda
estavam cantando o mais alto que podiam enquanto cambaleavam de volta por
Hogsmeade para a rua principal, de braços dados, tropeçando e rindo enquanto
caminhavam. Lá fora, no ar frio, Remus se sentiu um pouco mais sóbrio e um
pouco culpado ao perceber o estado em que Sirius e Peter estavam.
No final do túnel, James e Remus estavam muito sóbrios, Peter mal estava
consciente e Sirius parecia preocupantemente verde.
"Merlin, como vamos levá-los de volta para a cama sem acordar todo o
castelo?!" James bufou, ainda apoiando Peter. Sirius prontamente se inclinou e
vomitou.
"Cristo," Remus agarrou seus ombros, pois estava em perigo de cair na piscina
de náuseas. Ele puxou o cabelo de Sirius para trás, rapidamente, e deu um
tapinha nas costas do amigo. "Errr..." ele olhou para James, "Por que você não
leva Peter com a capa, será mais fácil. Vou esperar um pouco mais com ele,"
ele sacudiu a cabeça para Sirius, "Aí eu convoco a capa em meia hora mais ou
menos? Mais fácil com dois, de qualquer maneira."
"Bom plano." James disse, agradecido. "Tem certeza que não quer que eu
cuide dele?"
"Nah, eu já cuidei de bêbados antes," Remus sorriu. "Você vai. Valeu pelo
aniversário, James, foi brilhante pra cacete."
James sorriu para ele antes de desaparecer sob a capa da invisibilidade com
Peter ainda se agarrando a ele como se sua vida dependesse disso. Remus
suspirou e se sentou ao lado de Sirius. Ele apontou a varinha para a bagunça
oposta,
"É, parece que está tudo bem. Ei, não vomite em mim, ok? "
"Mmmph."
"Com sede?"
"Uhum."
Remus bebeu o resto de sua garrafa de Whisky de fogo, então tocou a varinha
na abertura,
"Mmm." Sirius bebeu um pouco, os olhos ainda fechados. Seu rosto estava um
pouco pálido e úmido, mas ele parecia dez vezes melhor do que Remus
provavelmente estava. "Você é tão bom nas coisas, Moony." Ele balbuciou,
apoiando-se pesadamente no ombro de Remus.
"Eu sou bom em magia," Sirius suspirou, "Mas você, tipo ... é magia, sabe?"
"Você está bêbado e falando besteira." Remus riu. "Ei, não durma, tenho que te
levar de volta."
"Você consegue ver através da tela?!" Ele falou de volta. Tinha pensado que
estava praticamente sozinho.
"Não", respondeu ela, "eu só te conheço muito bem." Ela apareceu, abrindo as
telas verdes claras de hospital. O dia estava mais claro, além deles - Pomfrey
lançou um feitiço que criava uma cápsula de escuridão ao redor da cama de
Remus. Para que ele pudesse dormir um pouco, disse ela.
Ela agarrou o livro, agora, dando a ele um olhar severo. "Eu esperava que você
estivesse descansando os olhos, não forçando-os."
"Eu consigo ver no escuro," ele encolheu os ombros. Era verdade - não
importava quanta punição seu corpo recebesse, seus olhos permaneciam
perfeitos, mais que perfeitos, até.
"Podem entrar, então," ela chamou James, Sirius e Peter, que apareceram em
fila única atrás da tela. "Sem muito barulho e sem livros!"
"Por que você não pode ter livros?" James perguntou, inclinando-se sobre a
cabeceira da cama.
"Mas você não quer ter um colapso," Sirius disse, com a boca cheia de
chocolate, "Você está quilômetros à frente do resto da classe, e os exames não
são daqui um bom tempo."
"Eles são daqui duas semanas", disse James, mordiscando seu próprio pedaço
de chocolate, surpreendentemente delicado. "Acho que você deveria se
preparar mais, Black."
"Não dê ouvidos a ele, James," Remus sorriu, "Eu estou orgulhoso de você.
Obrigado pelos sapos, Pete."
"Oh, eles não são de mim", disse Peter, acomodando-se na poltrona ao lado da
cama, "Dezzie diz que espera que você fique bom logo."
"Er ... sim?" Peter parou de mastigar seu chocolate e começou a parecer
nervoso. "Ela me perguntou por que eu não poderia ver ela hoje, então eu disse
que tinha que ver o Moony. O que?!" Ele olhou de James para Sirius, "Eu não
falei nada do por que ele estava doente, só falei-"
"Não está bem!" Sirius ferveu, ele estava em pé perto de Peter agora, "Você
não pode contar a qualquer um que Remus está na ala hospitalar! Nem todo
mundo é tão lerdo quanto você! A palavra 'segredo' não significa nada para
você?!"
"Você sabe que significa", disse Peter, projetando o queixo, o lábio inferior
tremendo, "Eu guardei todos os tipos de ..." ele olhou furtivamente para
Remus, então mudou de assunto, "De qualquer forma, Dezzie não é qualquer
um, ela é minha namorada."
"E daí?!" Sirius se enfureceu, "Você vai contar para qualquer puta que deixa
você enfiar sua língua gosmenta na garganta dela?!"
"Só porque eu tenho uma namorada! Só porque ... porque alguns de nós
realmente gostam de passar tempo com garotas!"
"Que eu prefiro estar com Dezzie do que com vocês, agora. Desculpe, Remus.
" Peter disse, muito rapidamente, antes de partir, saindo da enfermaria com um
novo passo confiante.
Houve um silêncio acerado, e Remus descobriu que não conseguia olhar para
Sirius - qualquer emoção que ele estivesse lidando no momento parecia ser
algo completamente privado. Ele olhou para James, ainda de pé ao fim da
cama, mordendo o lábio. Ele encontrou os olhos de Remus e deu-lhe um
sorriso tranquilizador.
"Uns velhos rabugentos esses dois, hein?" Ele quebrou a tensão, "De qualquer
forma, como você está se sentindo? A lua foi boa? "
"O que ele quis dizer?" Sirius disse, de repente, virando-se para olhar para
James.
"Não sei, cara," Potter deu de ombros, "Não dê ouvidos a ele, ele só terminou o
que você começou; você tá irritado porque ele finalmente se defendeu. "
"Ele quis dizer alguma coisa." Sirius murmurou.
A Grifinória havia ganhado por apenas cinco pontos, o que era uma sorte,
porque Remus não conseguia imaginar Sirius com um humor pior do que já
estava. As coisas não estiveram boas.
Na sua parte, Remus estava tentando ser o mais gentil possível com Sirius
desde fevereiro. Embora Remus sempre soubesse que os Black’s estavam
longe de ser uma unidade familiar ideal e protetora, ele sempre achou que não
poderia ser tão ruim. Afinal, em sua experiência, os adultos estavam lá para
manter a ordem, instruir e punir. James já estava acostumado com esse tipo de
situação, pelo que Remus sabia, então fazia sentido que ele fosse simpático a
Sirius.
Talvez fosse a maturidade, ou talvez fosse ter visto o brilhante e vivaz Sirius
ser derrubado por sua própria mãe, mas Remus estava finalmente começando a
entender que os acontecimentos da Nobre e Antiga Casa Black não eram
normais. Na verdade, eram totalmente inaceitáveis. O fato de Sirius ter
sobrevivido sob tal opressão por tanto tempo sem se transformar em Snape ou
apenas ter quebrado sob o peso de tudo isso era admirável. Remus sabia como
era difícil ir contra as expectativas das outras pessoas - contra sua própria
natureza, às vezes.
"Bem," Mary franziu a testa, "a família dele é um pesadelo ... bruxos das trevas
e tal. Não pode ser fácil, com tudo o que está acontecendo nos jornais."
"Eu sei disso." Mary retrucou: "Só quis dizer que ele pode estar se sentindo um
pouco divido, só isso." Ela tinha se irritado muito com Remus, desde a
'pegadinha' de Veritaserum de Snape. Mesmo que Remus tenha se desculpado
profusamente, muitas vezes, ele não podia negar que as coisas que dissera
eram verdade.
"Desculpa," ele disse novamente, abaixando a cabeça. "Você está certa. Não
tem sido fácil."
"Você, entre todas as pessoas, não deveria ter pena dele, Remus." Lily bufou,
colocando uma pilha inteiramente nova de livros para revisão.
"Ele teve todas as vantagens sobre você e ainda não consegue ser uma pessoa
legal", disse ela, dividindo os livros entre os quatro. "Ele é ridiculamente rico,
puro-sangue, vem de magia antiga, recebeu educação particular, tem ambos os
pais - ugh, ele e Potter são tão--"
"James e Sirius não são assim tão parecidos." Foi a única resposta que Remus
teve.
"Desculpa," Remus disse, "É um pouco chato para vocês dois aqui. Vocês não
têm que ficar."
Potter começou a colocar um esforço extra em seus estudos naquele ano pela
primeira vez, para a decepção de Sirius. No início, Remus pensou que era outra
manobra para se aproximar de Lily, mas James nunca pediu para se envolver
no grupo de estudo deles, e na verdade parecia preferir trabalhar sozinho. Ele
lhes disse que seus pais haviam ameaçado tirar sua vassoura no verão se seus
resultados não fossem melhores do que no ano passado - mas Sirius sussurrou
para Remus depois que, na verdade, McGonagall o avisou que se ele não
tomasse jeito ele não teria a chance de ser capitão de quadribol.
"Ugh, bem, se vocês vão fazer isso, eu vou embora." Sirius disse, se
levantando. "Eu sou uma merda em tudo isso."
"Desde quando você se importa com que o Peter fala ?!" Remus franziu a testa.
Mas era tarde demais, Sirius já estava indo embora.
"Ah, certo ..." Remus olhou para baixo. Ele deveria ter percebido.
"Éh, eles disseram que ele tem que ir para casa durante todo o verão este ano -
aprender seus deveres familiares de uma vez por todas, ou alguma besteira
assim. Ele diz que vai ficar muito entediado, mas ... sei lá, acho que ele está
com medo, para ser honesto. Todo mundo fala que eles estão bem próximos
de você sabe quem"
"Ele vai ficar bem, não vai?" Remus brincou com a ponta do lençol
ansiosamente, "Eles não podem forçar ele a se casar com ninguém de novo, e
ele ainda não é maior de idade, então não pode se juntar a eles, ou algo assim."
"Não sei, cara," ele disse suavemente. "Eu não sei o que eles querem. De
qualquer forma, não vou a lugar nenhum. Vamos começar com Poções?"
70. Quarto Ano
Despedidas
Na verdade, na terceira semana de maio, Remus se viu meio perdido. Ele havia
completado todos os seus exames, mas nenhum de seus amigos tinha - entre os
Estudos dos Trouxas e Adivinhação, os marotos e as meninas ainda estavam
enclausurados estudando ou na sala de provas. Mas ele estava longe de estar
solitário. Remus passava seu tempo livre dando passeios vagarosos pelo
terreno, lendo o que queria e quando queria, e dando os toques finais em sua
maior realização; o mapa do maroto.
Remus estava pouco ansioso pelo verão, talvez ainda menos do que o normal.
Agora que ele estava totalmente ciente do clima político no mundo mágico,
achava a ideia de sair dele por dois meses muito desconcertante. Quem sabia o
que poderia acontecer nesse meio tempo – sem dizer no perigo em que seus
amigos poderiam se encontrar. No primeiro verão desde 1972, os marotos
estariam completamente separados. Sirius havia sido proibido de ver os Potter,
Remus estaria em St. Edmund's como de costume 'para sua própria segurança'
e os Pettigrew’s estariam indo para a América para visitar Philomena - Peter
suspeitava que era para tentar trazê-la para casa.
A situação de Sirius era a mais preocupante. James tentou de tudo; até mesmo
escrever para Dumbledore, mas ninguém estava disposto ou era capaz de
ignorar os desejos da família Black. Até mesmo Sirius havia se resignado um
pouco com seu destino.
"Eu vou ficar com Reg," ele suspirou pesadamente, "Talvez se ele não estiver
cercado por sonserinos o tempo todo, ele vai ouvir um pouco de razão - ele tem
idade suficiente, agora."
Remus havia pensado em como passar seu próprio verão e já havia decidido
que não repetiria os eventos do ano anterior. Não que ele recusasse a chance de
'ganhar' um pouco de dinheiro caso ela aparecesse em seu caminho - seus
planos para caçar Greyback não haviam mudado e ainda precisaria de
financiamento - mas ele também precisava manter o foco. Ficar fora a noite
toda bebendo e brigando não era produtivo, nem resolveria nenhum de seus
problemas. Ele também sabia que precisava se manter discreto o máximo
possível, e ser preso por pequenos crimes não era uma jogada inteligente.
Ele teve um sonho muito estranho. (Embora, Remus pensara consigo mesmo
muito mais tarde, todos os sonhos eram bem estranhos, não eram?) Ele não
conseguia se lembrar exatamente o que estava acontecendo no sonho, ou onde
ele estava ou quem estava com ele. Mas parecia haver outra pessoa - outro
corpo, pelo menos, muito próximo ao seu. Foi uma sensação intensamente
física, semelhante às suas lembranças de ser o lobo, mas sem dúvida mais
agradável. A maneira como este outro corpo se ajustava ao seu era
profundamente calmante, quente e satisfatório de uma forma que ele nunca
havia sentido antes.
Remus não tinha certeza de quanto tempo ele dormiu, mas quando ele acordou
havia conversas ao seu redor. Um dos exames obviamente tinha terminado e os
alunos estavam se espalhando pelo terreno, exaltados em sua liberdade
conquistada com dificuldade. Remus piscou contra a forte luz do sol de verão e
se endireitou, um pouco envergonhado por ter cochilado - sem mencionar a
reação física que o sonho estranho havia causado. Ele rapidamente reorganizou
suas vestes, procurando verificar se ninguém havia notado.
Suas costas estavam rígidas e doloridas agora, de tanto encostar no tronco. Sua
boca estava seca e seu pé esquerdo estava dormente. Ele se espreguiçou e
sacudiu, estremecendo quando formigamento espalhou pela sua perna.
"Bom dia, Remus!" Um áspero sotaque liverpudiano veio de trás dele, "Não
estava dormindo, estava?"
Remus agarrou Emma e tentou fingir que só o havia largado por um momento.
Ferox sorriu para ele com reconhecimento, mas não fez graça. Ele largou um
balde pesado com algo viscoso que cheirava mal.
"Vim dizer adeus à lula." Ele acenou com a cabeça para o lago, que estava
parado como um lago de moinho.
"O que?!" Remus piscou, assustado, "Mas ... quem vai nos ensinar Trato das
Criaturas Mágicas?"
"Oh." Remus sabia disso o tempo todo, mas mesmo assim foi um choque. Ele
se sentiu terrivelmente triste, ele nunca teve que dizer adeus a ninguém que ele
sabia que sentiria falta antes. Ele teve um forte desejo de contar isso a Ferox;
para dizer o quanto ele gostaria de ficar, mas as palavras não saíram. "Que
pena." Foi tudo o que ele conseguiu reunir.
"Eu não vou mentir, vou sentir falta deste lugar." Ele disse, pegando
outro. Squelch. Ele olhou para Remus, "E minha melhor turma, é claro."
"Eu imaginei que sim!" Ferox sorriu, jogando outra coisa escorregadia. Splash.
"Eu não deveria te contar seus resultados até agosto, mas ... bem, estou muito
orgulhoso de você, Lupin. Só notas altas, as melhores do ano. Melhor do que
muitos dos meus alunos de NOM."
"Ah não." A expressão de Ferox mudou. Ele não franziu a testa, exatamente,
mas seus traços escureceram, o sorriso desapareceu. "Eu tenho alguns negócios
para Dumbledore. Não tenho certeza se o ministério iria ... de qualquer
maneira, não é para você se preocupar." Ele balançou a cabeça e sorriu
novamente, olhando para Remus. "Estarei no exterior por um tempo."
Squelch. Splash.
"Vou pedir atualizações a Kettleburn, sabe." Ferox disse, lendo sua mente:
"Então não pense que você pode começar a relaxar. Nós, crianças perdidas,
temos que mostrar ao resto dos mauricinhos esnobes como se faz, hein? Agora
mais do que nunca."
***
"Não vale a pena." Sirius suspirou, "Aposto que eles vão chegar cedo só para
encher meu saco. Vou ter que pensar em outras formas de irritar eles."
"Ou você poderia apenas tentar manter a cabeça baixa e sobreviver ao verão."
Remus sugeriu, levemente, terminando seu sorvete.
Sirius apenas ergueu uma sobrancelha para ele. Remus colocou a língua para
fora. Ambos sabiam que isso era praticamente impossível, mesmo que Sirius
tentasse o seu melhor.
Eles não tiveram muito tempo para sentir pena de Sirius, entretanto - Mary,
que também havia recebido alguma postagem, soltou um grito e depois caiu
em prantos. A coruja na frente dela pulou para trás, alarmada, então deu um
'pio' ofendido e voou para longe para o corujal.
Mary balançou a cabeça, aparentemente sem fala, depois cobriu a boca e fugiu
do refeitório. Lily e Marlene se entreolharam e pularam imediatamente para
segui-la.
"O que você acha vocês acham que foi?" Peter perguntou.
"Coisas de garotas."
Eles só descobriram mais tarde naquela noite. Mary não estava na sala
comunal, mas Lily desceu procurando um cardigã perdido que ela havia
deixado em algum lugar.
"Darren terminou com ela," ela disse gravemente para Remus, "Ela está um
desastre completo, pobrezinha."
"Bem antes das férias?" Remus disse, chocado, "Que babaca!"
"Sim," Lily respondeu, tristemente, "Disse que não queria ficar esperando por
ela o ano todo enquanto ela estava na escola - quer uma namorada mais perto
de casa. Acho que está bem melhor assim, ele parece ser horrível."
"Mas aposto que Marlene está feliz," Remus sorriu, "Não vai precisar ouvir
mais nada sobre isso."
"Não aposte nisso," o rosto de Lily estava sombrio, "Ela ainda não calou a
boca sobre o quanto o amava ..."
"Coitada." Remus vasculhou o bolso e retirou seu último doce, "Dê isso a ela,
diga que eu espero que ela se sinta melhor, hein?"
"Ahh, você é tão fofo, Remus," Lily o beijou na bochecha, então subiu as
escadas novamente.
"Ela não ficou tão chateada quando terminou comigo," Sirius murmurou
indignado, movendo uma peça de xadrez.
"Bem," Remus deu de ombros, voltando ao jogo, "Ela deu um fora em você,
não foi? Imagino que seja diferente quando é você que leva o fora."
"Eu não achei que você e Mary fossem tão sérios," James bocejou, jogando
snap explosivo no tapete com Peter. "Vocês tinham apenas treze anos."
"Quatorze." Sirius corrigiu. "Mas eu aceito seu ponto. Não demos uma chance
de verdade, não é? "
"Você não foi muito maduro a respeito", murmurou Peter, folheando suas
cartas.
'' Ei, todos vocês me prometeram que o negócio de amassos tinha acabado."
Remus disse, incisivamente, dando a todos eles um olhar sombrio.
"Não critique antes de tentar, Moony," Peter sorriu.
71. Quarto Ano
Junho
"Oi, Remus!" Lily o assustou quando ele estava saindo da ala hospitalar. Ele
tinha acabado de fazer sua verificação final com Madame Pomfrey antes do
fim das aulas.
"Olá." Ele disse, nervoso: "O que você está fazendo aqui?"
"Vim deixar isso para o Professor Slughorn," ela levantou um grande frasco de
algo que parecia uma prole de rã roxa, "Nós temos feito poções de cura no
Clube do Slug neste semestre. Espere aqui, eu vou voltar com você."
"Er ... prefiro não dizer." Ele ergueu uma sobrancelha sugestivamente,
esperando que ela entendesse. Felizmente, sua mente foi para outro lugar,
"Foi o Potter de novo? Ugh, ele azarou Sev semana passada com algo que fez
seu pescoço inchar um monte!"
"Bem, eu não teria pensado que ele azararia as pessoas que supostamente são
seus amigos," Lily respondeu, afetadamente.
"Não foi ele!" Remus respondeu, irritado. Ele fazia questão de não falar mal de
James na frente de Lily, depois da confusão em janeiro.
"Black, então." Lily encolheu os ombros, "Ele é tão mau. Não tenho ideia por
que todo mundo gosta dele."
"Mm."
"Então ... Grandes planos para o verão?" Lily mudou de assunto, talvez
percebendo que Remus não gostava particularmente de suas tiradas sobre os
outros Marotos.
"Vou visitar Marlene em julho, estamos tentando fazer com que Mary venha."
Mary tinha faltado a todas as refeições desde o grande termino, e mal tinha
saído do dormitório feminino, pelo que Remus sabia.
"Todo dia!"
Remus fez barulhos de vômito, o que fez Lily rir, mas ganhou uma carranca
furiosa de Peter. Eles rapidamente escalaram o retrato e deixaram os
pombinhos em paz.
Sirius e James não estavam fazendo muito para ajudar no processo - eles
estavam secretamente levitando vários itens para trás de uma das grandes
poltronas, rindo um para o outro alegremente. Remus sorriu, pensando
novamente no quanto sentiria falta de tudo isso.
"Por que você não pode simplesmente deixar as pessoas em paz, Black ?!"
"Por que você não pode nos deixar em paz", ele retrucou, disparando faíscas
verdes no teto por trás das costas de James, "Você ainda não é monitora, sabe!"
"Oooh, espere até eu ser!" Ela disse, tentando lançar um feitiço em Sirius. Em
vez disso, atingiu James, e nabos imediatamente saltaram de suas orelhas, a
expressão de choque em seu rosto foi tão cômica que Remus caiu na risada.
"Bem, isso não foi muito certinho," Sirius riu, transfigurando uma lâmpada
próxima em um bando de pássaros que voaram gritando pela sala, aumentando
o caos.
"Ahh ... ok, tudo bem," Remus suspirou, ainda enxugando as lágrimas de riso
de seus olhos. Juntos, eles conseguiram restaurar a ordem na sala comunal, re-
transfigurar a lâmpada, consertar as marcas de queimado no teto e acalmar um
primeiranista chorando que havia perdido seu gato. Lily deixou que Remus
cuidasse de James e Sirius, que estavam em um verdadeiro estado agora.
"Ela não é maravilhosa," James sorriu estupidamente, enquanto Remus tentava
ajudá-lo a se sentar em uma cadeira próxima, com as pernas ainda instáveis,
dobrando-se embaixo dele.
"Vocês dois têm sorte que ela só usa seu poder para o bem," Remus os
repreendeu, "Vocês não seriam páreo para ela se ela decidisse começar a
realmente quebrar as regras. Finite." Ele apontou sua varinha para Sirius, que
finalmente foi solto. Ele esfregou os braços com força,
***
"Ei vocês dois! Vamos perder o trem!" Remus bufou, subindo as escadas para
o dormitório pelo que parecia ser a centésima vez naquela manhã.
"Sim, claro," Sirius se levantou também. Ele tinha uma expressão confusa e
distraída que fez Remus doer por dentro. "Olha o que James me deu," Sirius
disse, enquanto cruzava a sala. Ele estendeu algo redondo e prateado. Remus
pegou. Estava quente das mãos de Sirius. Era um espelho compacto,
lindamente gravado com um design ornamentado em estilo filigrana.
"Er ..." Remus o virou, abrindo-o, "Muito hum ... bonito?"
James riu,
"É mágico - pertenceu ao meu avô. Olha," ele abriu seu próprio espelho
idêntico e olhou para ele. Remus olhou para o espelho de Sirius e ficou
surpreso ao ver o rosto de óculos de James sorrindo para ele. "Para que
possamos manter contato durante o verão."
"Eu sei", James acenou com a cabeça, fechando o seu e deslizando-o no bolso
de trás. "Gostaria de ter comprado para todos nós, mas eles são heranças de
família antigas e só há dois ..."
Remus ficou mais desconcertado ao descobrir que este ano o pequeno espaço
da carruagem deles estava lotado de pessoas. Não apenas os quatro marotos,
mas é claro que Desdêmona foi convidada a se juntar a eles - Remus ainda não
a ouvira dizer mais do que duas palavras, possivelmente porque seus lábios
estavam sempre ocupados.
Mary se juntou a eles também, a pedido de Sirius. Ele tinha estado prestando
muita atenção a ela nos últimos dias, e era óbvio que ela estava gostando,
tendo recentemente levado uma forte pancada em sua autoestima. Com Mary,
como sempre, estava Marlene e, finalmente, Lily, que teria sido forçada a se
sentar sozinha, caso contrário.
Como tal, foi uma viagem incrivelmente barulhenta de volta a Londres. Entre
Sirius tentando impressionar Mary cantando todas as músicas dos Beatles que
conhecia, James alternando entre tentar atrair a atenção de Lily e conversar
sobre táticas de quadribol com Marlene e os desajeitados e febris beijos de
Peter e Desdemona, Remus simplesmente se recostou na janela e aproveitou a
companhia de seus amigos pelo que poderia ser a última vez em muito tempo.
Ele tentou não pensar na guerra ou em quem poderia desaparecer durante o
verão. Ele tentou não pensar em Sirius, sozinho e sofrendo em uma mansão
fria de Londres. Ele tentou não pensar em Ferox, fora em missões perigosas
para Dumbledore. Ele apenas observou seus amigos, seus rostos brilhantes e
animados, cheios de entusiasmo e emoção.
Ele esfregou a nuca, sonolento. Seu corte skinhead crescera e agora ele tinha
uma pilha de cachos castanhos claro. Talvez ele não cortasse novamente. Ele
não deixaria a Matrona fazer isso, decidiu; ele gostava mais dele longo e
macio. Ele não queria mais parecer duro e malvado, ele não sentia que
precisava. Sorrindo para si mesmo, Remus caiu no sono.
***
Remus arrastou seu malão do ônibus e desceu a longa estrada até St. Edmund's
sozinho. Era o primeiro ano em que a Matrona não o encontrou em King's
Cross - ela havia enviado a passagem de ônibus com antecedência e disse que
ele já tinha idade suficiente para fazer a viagem sozinho. Talvez ela esperasse
que ele não voltasse. Mas para onde mais ele iria?
Havia um menino sentado na cama ao lado da dele. Ele devia ser novo; Remus
não o reconheceu do ano passado. Parecia ter quinze ou dezesseis anos e usava
uma regata azul clara com acabamentos em laranja e jeans boca de sino. Suas
meias não combinavam. Seu cabelo era loiro e encaracolado, seu rosto
ensolarado e o nariz arrebitado. Ele tinha um ar casual e amigável.
"Oh, olá." Remus disse baixinho, arrastando seu malão até a cama.
"E aí?" O outro garoto o cumprimentou. Ele tinha um dente da frente lascado e
um sorriso torto que fez Remus querer sorrir de volta para ele. Seu cabelo era
meio comprido e caía em seus olhos. "'Cê que é o riquin' que vai pr'escola
chique o ano todo, é? Sou Grant."
"Caramba," Grant deu um sorriso ainda maior, "Não é que falaram que 'cê era
chique! Devo me curvar pro 'cê, milorde?"
"Gosta de ler, é?" Grant acenou com a cabeça para os livros que Remus estava
desempacotando.
"Eu tenho muito dever de casa." Respondeu. Então ele decidiu relaxar um
pouco, "E sim, eu gosto de ler."
Caro Moony,
Tenho quase certeza que agora posso me safar escrevendo algumas cartas por
enquanto. Eu imagino que elas estão sendo lidas, mas EU ESTOU POUCO
ME FUDENDO, TÁ ME ENTENDENDO REGULUS?
O verão está sendo terrível até agora. Parece que minha mãe tentou tirar
minhas coisas da Grifinória enquanto eu estava fora, mas eu usei feitiços de
cola permanentes. Vou ver se há mais alguma coisa que eu possa colocar para
irritar ela.
Haverá uma grande reunião familiar na próxima semana, jantar chique, roupas
elegantes, melhor comportamento, etc. etc. James acha que eu devo manter
minha cabeça baixa e apenas anotar quem comparece e o que é dito, caso seja
útil mais tarde. Mas eu não sei. Estava pensando em detonar algumas bombas
de bosta em vez disso. O que você faria?
Sirius.
***
Sirius,
Se dando bem com o Reg, então? Pegue leve com ele, você não tem mais
ninguém do seu lado.
Por favor tome cuidado. Não sei o que eu faria, nunca fui a um jantar chique.
Provavelmente faria papel de idiota. Não faça nada estúpido, ok? James
geralmente está certo.
Remus.
***
Caro Remus,
Não acredito que tenho que passar o verão inteiro sem nenhum de vocês. Às
vezes eu realmente odeio ser filho único. Aposto que você nunca está sozinho,
em St Edmund's.
Sirius parece estar ok, ele me chama com frequência, acho que está entediado.
Se tédio for o pior de tudo, é uma coisa boa, certo? Eu continuo tentando
convencê-lo a não fazer nenhuma merda - não sabemos em que tipo de coisa os
Black’s estão envolvidos. Pode não ser nada.
Espero que o seu verão tenha começado bem. Você já deu uma olhada na lição
de casa? Aquela redação de Feitiços parece ser um pé no saco.
James.
***
James,
Ele ficaria bem se pudesse se controlar, mas eu duvido. Continue falando com
ele, lembre-o de que precisa voltar para Hogwarts inteiro.
O verão está sendo bom. Você está certo, eu nunca fico sozinho. Eu gostaria de
um pouco de privacidade na maioria das vezes, mas este verão tem sido bom.
Não se preocupe comigo.
Remus.
***
Moony,
Saudações de São Francisco! Achei que ia estar calor aqui, mas está muito frio
e chove na maior parte do tempo. Merlin sabe por que Philomena iria querer
morar aqui, não é nada diferente da boa e velha Inglaterra.
Pete.
***
Caro Moony,
Causei um certo tumultuo, foi brilhante. Encontrei um monte de pôsteres
antigos de trouxas numa beira de estrada - fotos de garotas, você sabe o tipo.
Elas nem se movem, é hilário. De qualquer forma, pendurei nas paredes com
meu feitiço colante patenteado, e mamãe ESTÁ FURIOSA.
Eu acho que ela provavelmente só está irritada porque são garotas trouxas, ela
não dá a mínima que elas estão com os peitos de fora. De qualquer forma,
agora não posso sair sem supervisão. Mas valeu a pena.
Sirius.
***
Sirius,
Você é um idiota e sabe disso. Posters??? Você não se sente estranho com
todos eles olhando para você?
Remus.
***
Caro Remus,
Estou realmente preocupado com Sirius. Eu não sei se você ficou sabendo da
proeza dos pôsteres, mas ele é um idiota por fazer isso. Não acredite se ele diz
que está bem, ele definitivamente estava chorando quando nos falamos pela
última vez com o espelho (não diga a ele que eu te disse isso, obviamente).
James.
***
James,
Remus.
***
Moony,
Não dê ouvidos a Potter, ele é uma senhora velha. Está tudo bem, nada que eu
não seja capaz de lidar. Espero que você esteja tendo um bom verão. Mal
posso esperar por setembro.
Sirius.
***
"Onde 'cê tava?" Ele perguntou: "Tava achando que 'cê foi preso ou vai lá
saber".
"Doente de que?"
Remus suspirou, jogando-se na cama. Foi uma noite difícil e ele só queria
dormir. Ele fechou os olhos. Não estava afim de dar desculpas hoje.
"Bem, era lua cheia na noite passada, sabe." Ele disse, calmamente: "Quando
eu tinha cinco anos, fui mordido por um lobisomem e agora sou um. Eu me
transformo todo mês, e a Matrona me tranca para que eu não machuque
ninguém."
Remus abriu os olhos, congelando por um momento. "Tá tudo bem", garantiu
Grant, acariciando sua bochecha, "Tá todo mundo lá fora, eu chequei."
Remus o beijou de volta.
Foi um verão estranho, mas um dos mais agradáveis que Remus já tivera. Ele
não tinha se sentido sozinho, pela primeira vez; não tinha contado os dias até
primeiro de setembro.
No início, ele e Grant conversavam sobre David Bowie, T-Rex e Neil Young -
até Deep Purple, por quem Grant era louco por eles e Remus achou que Sirius
provavelmente gostaria. Os dois odiavam futebol - e os outros meninos - então
eles andavam juntos pela cidade ou se sentavam atrás prédios abandonados
fumando maços roubados de cigarros.
"Tá tudo bem," Grant sussurrou, desespero tomando sua voz, pressionando sua
testa contra a bochecha quente de Remus, "Ninguém vai descobrir." Ele tinha
gosto de cigarro e queimadura de sol.
Foi uma surpresa, mas na maior parte não. Remus rapidamente percebeu que
ele sempre quis isso - isso ou algo parecido. Era como se uma névoa se
dissipasse. Considerando todas as coisas, ele estava grato a Grant por ter
tomado a iniciativa.
Não era o que você poderia chamar de romântico ou afetuoso. Era mais como
uma coisa necessária. Algo que Remus sabia que precisava empurrar o
máximo que pudesse, para que pudesse identificar todos os cantos e limites.
Estava mapeando seus próprios desejos e usando Grant como uma bússola.
Seu nome completo era Grant Chapman. Ele tinha acabado de fazer dezesseis
anos e estava em St. Edmund's desde maio, embora não fosse de forma alguma
seu primeiro lar. Ambos os pais de Grant estavam vivos, e ele até tinha alguns
parentes - avós, tias, tios e primos adultos. Mas nenhum deles parecia querer
mantê-lo por muito tempo,
"Eu dou muito trabalho.", Grant disse sorrindo, descaradamente. "Todo mundo
fica enjoado de mim no final."
Como a maioria dos meninos de St. Edmund's, ele não se dava bem na escola e
teve problemas com a polícia algumas vezes por delitos menores, embora
nunca tivesse sido oficialmente preso. Ele não era violento, mas tinha uma
boca suja e tendência a retrucar. Não havia um osso ameaçador em seu corpo,
ele era claramente bom da cabeça aos pés.
Ele tinha um sorriso espetacular; que enrugava todo seu rosto e te fazia gostar
dele de uma vez. Um de seus caninos era meio torto e isso lhe dava um charme
diferente. Remus não conseguia ver por que ninguém o queria por perto. Ele
era um pouco bobo às vezes; um pouco imaturo, mas isso não importava -
Remus sabia que ele próprio podia ser muito sério na maior parte do tempo.
Algo sobre a natureza alegre e relaxada de Grant deixava Remus mais
confiante - confortável. E Grant simplesmente gostava de Remus. Realmente
gostava dele.
"'Cê é o cara mais engraçado que já conheci." Grant riu, quando Remus nem
havia dito nada tão engraçado. "Sabe, nunca fiquei com ninguém de
escola particular antes."
"Eu não sou muito diferente de você," Remus respondeu, "Um pirralho de
orfanato."
"Até parece," Grant empurrou-o, brincando, "'Cê tem futuro, qualquer um pode
ver isso."
Remus não tinha uma resposta para isso, mas deu um sorriso. Grant sempre o
fazia sorrir.
Além de todas essas coisas, Grant beijava muito, muito bem. Pelo menos,
Remus presumiu isso, considerando que Grant era a única pessoa que ele já
tinha beijado. Na primeira vez, ele sentiu um arrepio selvagem percorrer seu
corpo ao pensar consigo mesmo; então é por isso o fuzuê todo!!
Ele poderia beijar Grant o dia todo, sem precisar parar para recuperar o folego.
Às vezes, ele se pegava franzindo os lábios compulsivamente durante a noite,
quente com dores de abstinência. Remus achava que beijar seria assustador e
estranho, mas - como com tantas outras coisas - Grant apenas o deixou à
vontade. Ele tornava tudo divertido, desde o início; sem confusão, sem
perguntas.
"Se tá aqui só pro verão, então a gente pode muito bem aproveitar, não?" Ele
dizia, alegremente: "Fica tranquilo, não é como se eu fosse te pedir em
casamento, não importa o quão fofo 'cê é."
"Fofo!" Remus zombou.
Eles tinham que se esconder na maior parte do tempo, é claro. Dos outros
meninos e dos funcionários. Remus não conseguia imaginar o que aconteceria
se fossem descobertos - eles seriam separados, definitivamente, isso se não
recebessem uma surra. A Matrona contaria a Dumbledore? Eles poderiam
expulsar você, por ser um ... bem, por beijar outros meninos? Felizmente,
Grant tinha alguma experiência em operações secretas e eles nunca nem
chegaram perto de serem perturbados.
"Quantas vezes você já fez esse tipo de coisa?" Remus teve coragem de
perguntar, um dia. Eles estavam atrás de alguns galpões de bicicletas
abandonados na escola secundária local.
"...Ah meu Deus!" Remus engasgou, imagens de Ferox caindo sobre ele. Grant
riu novamente.
Esse era um dos motivos. O outro era que Remus gostou da ideia de guardar
para si mesmo. Os marotos não precisavam saber tudo sobre ele, e ele tinha
permissão para ter outros amigos, não tinha?
***
Fim do Volume 1.