À Escuta Dos Planetas - Jacques Bergier

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A ESCUTA DOS PLANETAS

Os extraordinários progressos da Ciên­


cia nos permitem atualmente enviar e
receber mensagens do Cosmos. Vale dizer,
que podemos nos comunicar com outros
seres inteligentes que não o homem, seres
que não são nem homens e nem ani­
mais, bem diferentes de nós e que habi­
tam planetas que giram em tomo de
outros sóis e a distâncias prodigiosas no
infinito. Não se trata de ficção cientí­
fica, mas de pesquisas científicas bem
reais e já iniciadas. Trata-se de um pro­
longamento racional da astronomia e
que podemos denominar de astronomia
ativa. Esse prolongamento é para a astro­
nomia o que o radar é para o rádio. A
astronomia comum e o rádio ou a tele­
visão consistem em emitir sinais, vê-los
e entendê-los... ou em receber uma
resposta.

H EM US
JACQUES BERGIER
autor de O DESPERTAR DOS MÁGICOS

Tradução de
EDITH DE CARVALHO NEGRAES

HEMUS — LIVRARIA EDITORA LTDA.


0 acaso fez as distâncias. So­
mente o espírito pode tudo modi­
ficar.
Beaumarchais
As Janelas da Prisão

Não era mais do que o canhão


do cárcere circular avisando da
fuga de um pisioneiro.
G. K. Chesterton
O poeta, e os lunático»

O azul transparente do céu diurno, a abóbada es­


trelada do céu noturno formam, na realidade, os muros
de uma prisão agradável à qual três milhões de anos
nos habituaram. Não existe, a dez dezenas de anos-luz
de nosso Sol, lugar onde o homem possa viver tão bem.
São esses os limites de nossa prisão, que conhece­
mos atualmente, embora existam outros que a ciência
futura sem dúvida determinará.
Antes de mais nada, a gravitação torna a fuga di­
fícil. Todo mundo sabe agora que será preciso atingir
uma velocidade de 11.3km por segundo para fugir à
atração da Terra.
Em segundo lugar, a atmosfera detém a maior parte
das radiações. Existem um céu ultravioleta e um céu
de raios-X que não podemos ver da superfície da Terra.
Os foguetes e satélites revelaram alguns segredos.
A atmosfera deixa passar a luz visível com raios ultra­

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violeta e raios infravermelhos, abrindo assim uma pri­
meira janela em nossa prisão.
As ondas curtas de rádio de vinte centímetros tam­
bém atravessam a atmosfera. Ao contrário, a atmosfera
detém a maior parte dos projéteis que nos vêm do espa­
ço: raios cósmicos, meteoros.
O espaço livre além da atmosfera deve estar cheio
desses projéteis, e é provável que o satélite Lunik-3, que
fotografou a face oculta da Lua, e o foguete Venusik,
lançado pelos soviéticos em direção ao planeta Vênus,
tenham sido vítimas do bombardeio incessante desses
raios e desses meteoros.
Uma das correntes de nossa prisão é o campo mag­
nético terrestre. Invisível e potente, ele curva em torno
da Terra as partículas carregadas, de origem solar e
cósmica.
Não conhecemos a causa exata nem o mecanismo
de produção do campo magnético da Terra. Alguns
cientistas, como Elsasser, acreditam que, no interior da
Terra, correntes de matéria fundidas a alta temperatura
atuam como um dínamo gigante.
Outros, como Blackett e Charon, são de opinião que
todo corpo material que gira, cria automaticamente em
torno de si um campo magnético. Seus raciocínios se
basearam em cálculos que começam exatamente onde
Einstein terminou, e aos quais eu poupo o leitor.
A Física teórica e a exploração das profundidades
da Terra acabarão por solucionar o problema. É certo
que o campo magnético da Terra existe e que dele co­
nhecemos pouca coisa. Citemos, a respeito, o professor
Émile Thellier que escreveu, na Èncyclopédie de la
Pléiade, no volume La Terre, página 531: “Tempera­
mento sempre um pouco fechado, até mesmo para os
íntimos, o campo magnético da Terra tem uma sólida

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reputação de complexo e enigmático. Se não oferecesse
a todos, como faz, um meio de orientação, impreciso, é
certo, mas tão cômodo, seria inteiramente ignorado do
grande público para o qual a ciência do magnetismo
terrestre se reduz ao capítulo da bússola. No entanto,
que variedade em suas manifestações! Que riqueza de
afinidades muitas vezes inesperadas, com tantos fenô­
menos pertencentes a todos os ramos da Geofísica, à
Geologia, à Astrofísica!”
O último dos limites conhecidos é constituído por
um cinturão de partículas que giram no espaço. O mais
próximo desses cinturões de radiação começa a 2.500
metros acima da superfície da Terra. Um outro se de­
senvolve a 10.000 quilômetros de altitude e se estende
até 15.000 quilômetros.
Esses cinturões de radiação foram descobertos,
quase simultaneamente, pelo norte-americano Van Allen
e pelo russo Vernov. Ambos interpretaram de maneira
engenhosa as mensagens de rádio empregadas pelos sa­
télites artificiais automáticos.
Sabemos agora que os cinturões de radiação se
compõem de partículas carregadas, prótons ou eléctrons.
Essas partículas, provavelmente emitidas pelo Sol,
ficam aprisionadas no campo magnético da Terra. Al­
gumas provêm talvez da atmosfera terrestre onde são
criadas, ao mesmo tempo, pelo bombardeio cósmico e
pelos ensaios atômicos.
Ao atingir o revestimento de metal de um satélite,
essas partículas carregadas produzem raios-X, que pode­
rão ser mortais para os futuros astronautas.
Se, como certos cientistas supõem, o cinturão in­
terno de radiação foi constituído pelas explosões das
bombas atômicas, a humanidade não fez mais do que se
aprisionar a si própria na superfície da Terra.
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Dia virá, talvez, em que possamos nos evadir. No
momento, o vôo dos cosmonautas se realiza abaixo do
primeiro cinturão de radiações e nada leva a crer que
ele possa ser ultrapassado. Mas, do interior de nossa
prisão, podemos observar uma pequena parte do mundo
exterior, assim como trocar'sinais com outros planetas.

* *

A luz permitiu que os seres vivos soubessem que


havia um universo exterior à Terra. Na exploração do
espectro visível para nossas civilizações há algumas
grandes datas a recordar.
Em 1666, Isaac Newton descobriu que a luz, ao
atravessar um prisma, se decompunha em faixas colo­
ridas a que se chamou espectro. É o mesmo fenômeno
que determina o arco-íris.
Isaac Newton era um homem estranho, mais um
mágico do que um cientista. A alquimia e os mistérios
dos números o interessavam mais do que a ciência. Para
ele, as descobertas que fez no terreno da Matemática e
da Física, eram secundárias. Não cogitou de prosseguir
nas pesquisas sobre o espectro luminoso nem de asso­
ciá-las à utilização do telescópio, inventado em 1609.
Foi preciso esperar até 1914 para que o óptico ale­
mão, Joseph von Fraunhofer, percebesse a existência
de linhas negras no espectro solar.
Em 1859, dois químicos alemães, Robert Wilhem
Bunsen e Gustav Robert Kirchhoff, conseguiram iden­
tificar os elementos químicos, tanto através dos raios lu­
minosos que apareciam nas chamas, como nos raios
escuros que se produziam quando a luz atravessava um
meio material.
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Desse modo se descobriu a forma de analisar as
estrelas e de determinar sua composição química.
Mal o filósofo Augusto Comte afirmara que se
tratava de uma quimera, a ciência o contradizia. A par­
tir de 1900 já se conhecia a composição química do Sol
e de certo número de estrelas. Começava-se a obter in­
formações sobre a atmosfera dos outros planetas.
A luz informava sobre outros mundos. Não pode­
riamos então nos servir dela para informá-los de nossa
existência?
A idéia de enviar sinais luminosos aos habitantes
de outros planetas fora sugerida pelo matemático ale­
mão Karl Friedrich Gauss, e, mais tarde, pelo poeta
e inventor francês Charles Cros. Eles sugeriam que se
acendessem no Saara ou na Sibéria, gigantescas foguei­
ras, cuja disposição correspondería à demonstração de
um teorema clássico de geometria: por exemplo, o teo­
rema de Pitágoras.
Revelaríamos, assim, aos seres inteligentes de
outros planetas o grau de nossa civilização. Por sua vez,
eles nos responderíam com outros sinais.
A idéia se generalizou. A tal ponto que, no começo
do século XX, uma francesa legou toda a sua fortuna a
quem encontrasse o meio de comunicação com os outros
planetas. Entretanto, acrescentou a seu testamento uma
cláusula prevendo que a fortuna não seria entregue se
o planeta em questão fosse Marte, com o qual a comu­
nicação seria muito fácil!
Atualmente nos libertamos dessas ilusões. É pro­
vável que não existam outros seres inteligentes em nosso
sistema solar e que as comunicações com outros planetas
assumam a forma de sinais enviados para eles ou pro­
cedentes deles.

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A experiência proposta por Gauss e mais tarde por
Cros, jamais foi tentada, pois pareceu absurda. No en­
tanto, ela tem o mérito de haver inspirado a um escritor
irlandês, Lord Dunsany, um magnífico romance. Em
seu relato, os homens constroem, no Saara, com um
grande número de lâmpadas elétricas gigantes, um teo­
rema de Pitágoras luminoso. Os marcianos respondem,
a princípio reproduzindo a mesma imagem. Depois, des­
locam os diversos segmentos da direita do teorema. À
força de os substituir, conseguem um desenho que re­
presenta uma potência. Os homens então os compreen­
dem. A resposta marciana era: “Vão se enforcar em
outro lugar”.
Há apenas um ano a idéia de fazer sinais luminosos
visíveis a dezenas de anos-luz parecia impossível.
Era preciso, com efeito, conseguir brilhâncias mui­
to superiores às do Sol.
A questão voltou inesperadamente a ser conside­
rada depois da invenção de um instrumento novo e ex­
traordinário: o laser. O laser permite amplificar a luz e
obter fontes luminosas de extraordinária potência. A
primeira concepção do laser deriva dos trabalhos do
cientista francês Alfred Kastler. Ela foi emitida em
1958, pelos norte-americanos Charles H. Townes e Ar-
thur L. Schawlow. Em julho de 1960, outro norte-ame­
ricano, T. H. Maiman, nos laboratórios da sociedade
norte-americana Hugues Aircraft Company, fabricava o
primeiro laser.
Um rubi artificial, especialmente excitado, emitia
luz mais intensa que a do Sol. O rubi havia sido traba­
lhado de modo a formar um cilindro compacto de quatro
centímetros de comprimento e meio centímetro de diâ­
metro. Esse cilindro fora cercado por uma poderosa lâm­

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pada fluorescente em forma de espiral. A luz branca
dessa lâmpada era captada pelo cristal e reunida sob a
forma de um intenso raio vermelho com duração de
aproximadamente meio milésimo de segundo.
O raio laser possui prodigiosa intensidade. A quan­
tidade de luz emitida por uma superfície inferior a um
centímetro quadrado é de 10.000 watts. O Sol emite
apenas 6 watts por centímetro quadrado. O raio não se
desvia senão aproximadamente um metro por quilôme­
tro de trajetória. Portanto, seria possível projetar, sobre
a superfície da Lua, uma mancha luminosa de cinco
quilômetros de diâmetro, visível à distância.
Melhor ainda: concentrando os raios, chega-se a
obter cem milhões de watts por centímetro quadrado!
Esta técnica, entretanto, ainda está dando os pri­
meiros passos. Pôde-se calcular que é perfeitamente pos­
sível, sem nenhuma invenção nova, construir lasers que
forneceríam uma potência luminosa cem milhões de
vezes superior à do Sol, sendo essa potência calculada
em watts por centímetro quadrado de superfície.
Esse fantástico resultado foi previsto pela ficção
científica, mas os cientistas jamais esperaram chegar
a ele.
Agora, que os laboratórios já fizeram ouvir a sua
voz, as imaginações se desencadeiam de novo.
O presidente da Academia de Ciências da URSS
declarou, em julho de 1961, que cogitava da criação de
lasers com potência suficiente para enviar sinais visíveis
a dezenas de anos-luz. Esses sinais poderíam ser obser­
vados pelos habitantes dos planetas que giram em torno
de estrelas, como Tau Ceti e Epsilon Eridani.
O que nós podemos fazer deve estar ao alcance de
outras inteligências que o poderão fazer também. Assim,
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não se exclui a possibilidade da utilização de um laser
por outros seres inteligentes, tanto mais que podem exis­
tir diferentes formas de lasers. Alguns utilizam cristais,
mas outros se servem de gases excitados.
Três norte-americanos, Javan, Bennet e Herriott,
construíram um laser de gás, de extraordinária estabili­
dade. A cor da luz emitida por ele muda muito pouco:
varia em menos de mil períodos por segundo para uma
freqüência de cem bilhões por segundo. Em outras pa­
lavras, é possível utilizar essa fonte de luz para enviar
mensagens muito complexas: televisão em cores, por
exemplo, a enormes distâncias, sem deformação nem
parasitas. Será talvez, graças à luz e não ao rádio, que
chegaremos finalmente a nos comunicar com outros pla­
netas.
Os astrônomos do passado não conheciam o laser.
Eles tinham a tendência a atribuir às forças naturais
qualquer emissão de luz vinda de um astro frio. Mas,
não seria o caso de rever as diversas observações de
pontos de luz incandescente que surgem por vezes em
Marte ou na Lua? Ou, pelo menos, de reunir todas as
informações desse gênero?
Certamente, é pouco provável que existam selenitas
ou marcianos. Contudo, exploradores vindos do espaço
exterior, além do sistema solar, talvez tenham deixado
em Marte ou na Lua, aparelhos automáticos que emitem
sinais periódicos. A janela óptica, a mais antiga de
todas, ainda não disse a última palavra.
Passemos agora à segunda janela, a janela radio­
elétrica, muito mais ampla que a janela óptica; na ver­
dade, cem milhões de vezes mais ampla! Se representar­
mos a amplitude da janela óptica por uma lâmina de na­
valha, a da janela radioelétrica podería ser representada

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por trinta metros. Em outras palavras, uma diferença
de oito milímetros para trinta metros, pela qual ondas
vindas do espaço podem chegar a nós, contém cem mil
vezes mais comprimentos de onda (ou freqüências uti­
lizáveis) que o curto intervalo no espectro de raios visí­
veis que permite ver o Sol, e as estrelas. Em outras pa­
lavras, há cem bilhões de vezes mais oitavas de radia­
ção entre oito milímetros e trinta metros do que entre
o vermelho e o violeta.
A primeira idéia da janela radioelétrica não foi
emitida por cientistas, mas por um inventor empírico,
o maior inventor de todos os tempos, o norte-america­
no Thomas Alva Édison. Édison tinha como conselheiro
o professor A. E. Kennelly, o primeiro a supor a existên­
cia de camadas eletrizantes na alta atmosfera.
A 2 de novembro de 1890 (antes da radioativida­
de, antes dos raios-X, antes da aviação), o professor
Kennelly escreveu a um de seus colegas, o dr. Holden,
que dirigia o Observatório de Lick, nos Estados Unidos,
para anunciar que Édison e ele iriam tentar detectar
ondas eletromagnéticas emitidas pelo Sol, supondo que
essas ondas fossem atraídas pelo minério de ferro na­
tural. A experiência não foi bem sucedida porque a hi­
pótese básica era falsa.
Não é menos verdade, entretanto, que Édison, pai
do fonógrafo e da luz elétrica pode, a justo título, ser
considerado o fundador da radioastronomia.
Depois de Édison, em 1894, a idéia da radioastro­
nomia foi retomada por um grande cientista, hoje desa­
creditado, Sir Oliver Lodge.
Lodge era inglês e, como mu.tos ingleses, acredi­
tava em fantasmas. Ele pretendia ter detectado ectoplas-

19
mas por métodos consagrados. Provavelmente ele se en­
ganava.
Contudo, no plano puramente científico ele foi um
grande experimentador. Interessava-se, particularmente,
pela detecção das ondas eletromagnéticas por meio do
conec|or, inventado por um cientista francês, Édouard
Branly.
Quatro anos depois de Édison, Lodge tentou, com
um conector sensível, detectar as ondas eletromagnéticas
provenientes do Sol. Ele malogrou, pois trabalhava em
um laboratório situado na cidade de Liverpool, cru­
zada por bondes elétricos. As radiações emitidas pelos
bondes perturbavam as experiências e Lodge não chegou
a nenhum resultado. No entanto, sua idéia era boa.
Durante trinta e oito anos, de 1894 a 1932, a ra-
dioastronomia ficou reservada aos romancistas e à fic­
ção científica.
Em dezembro de 1932, a famosa revista científica
norte-americana Proceedings of the Institute of Radio
Engineers publicou um artigo que se tomou histórico.
O artigo era assinado por Karl Jansky. Esse
cientista norte-americano utilizava uma antena direcio­
nal para estudar, por conta da sociedade norte-america­
na Bell, os parasitas de rádio. Ouvia as tempestades, os
crepitamentos emitidos pelos automóveis e pelos aviões,
quando descobriu ruídos provocados por ondas vindas
do espaço. Essas ondas não procediam nem da Terra
nem do Sol, mas de uma direção que ia da Terra para
o centro da Via-láctea: a radioastronomia estava des­
coberta.
Se o ano de 1932 tivesse sido um ano de importan­
te atividade solar, Jansky teria, provavelmente, desco­
berto a radiação emitida pelo Sol, mas em 1932 o Sol
estava calmo.
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Um radioamador norte-americano, Grote Reber,
interessou-se imediatamente pelos trabalhos de Jansky.
Construiu à custa própria, no pátio de sua casa, uma an­
tena parabólica giratória de dez metros de diâmetro.
Jansky trabalhava com ondas de quinze metros de
comprimento.
Reber construiu um receptor sensível sobre sessenta
centímetros utilizando lâmpadas novas na época. Pôde
assim traçar os primeiros radiomapas do céu invisível.
Descobriu as ondas de rádio procedentes do Sol e obser­
vou a existência, no céu, de fontes invisíveis de radiação
sobretudo nas constelações de Cassiopéia, do Cisne e
do Touro.
Reber publicou o resultado de seus estudos entre
1940 e 1942: o radar acabava de ser inventado.
Durante a guerra, o receptor extremamente sensí­
vel criado para as necessidades do radar permitiu ao
inglês J. S. Hey detectar ondas de um metro, emitidas
pelo Sol, assim como descobrir a grande fonte de radia­
ção na constelação do Cisne.
Paralelamente, a radioastronomia nascia na União
Soviética sob a direção de I. S. Schklovsky.
A segunda janela de nossa prisão fora aberta. Co­
mo a radioastronomia, ela permitia detectar sinais pro­
cedentes de objetos que se encontram a fantásticas dis­
tâncias de nosso planeta.
Tudo estava preparado para que se abrisse uma ter­
ceira janela. Pesquisas nesse sentido foram anunciadas,
na URSS, em janeiro de 1961.
Durante o verão de 1962, a revista Estudos Sovié­
ticos publicava, à página 38, o extraordinário texto se­
guinte:

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Ter-se-ia, na verdade, encontrado um meio de
descobrir o “antimundo”? Pode-se ver o Sol atra­
vés da Terra? Uma comunicação feita à Comissão
de Cosmólogia do Conselho Astronômico anexo à
Academia de Ciências da URSS era consagrada a
essas questões que parecem inacreditáveis.
Conseguimos uma entrevista com um dos auto­
res dessa comunicação, Bruno Pontecorvo, mem-
bro-correspondente da Academia de Ciências da
URSS. Ele nos falou das extraordinárias proprieda­
des do neutrino, partícula elementar que promete
ser, no futuro, um meio essencial de conhecimento
do universo.
Alguns processos nucleares — por exemplo, um
dos tipos de transformação radiativa chamado “de-
sintegração-beta” do núcleo atômico — dão nasci­
mento ao neutrino. No espaço, graças a sua massa
nula, os neutrinos se propagam à velocidade da luz.
Mas, diferentemente das oscilações eletromagnéti­
cas, os feixes de neutrinos não conhecem pratica­
mente nenhum obstáculo. Para eles, o mundo é
transparente. A irradiação dos neutrinos atravessa
mais facilmente nosso planeta do que a luz atraves­
sa um vidro.
É espantoso, mas compreensível: o neutrino
não tem carga elétrica; interage muito facilmente
com as outras partículas; é inerte.
Mas, em que podem os neutrinos ajudar no
conhecimento do universo?
Até aqui, apenas a luz e as ondas de rádio nos
informavam sobre o universo. Mas não podiam nos
levar a conhecer as propriedades da superfície das

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estrelas. Quanto à profundidade dos corpos celes­
tes, estávamos reduzidos a hipóteses.
Os feixes de neutrinos permitirão aos cientis­
tas ver o “coração” das estrelas. Isso porque as es­
trelas são potentes geradores de neutrinos, pelo
menos as estréias cujos processos nucleares são se­
melhantes aos que se desenvolvem no Sol.
Contudo, ainda não é possível utilizar os neu­
trinos para radiografar o centro das estrelas dis­
tantes. É necessário, antes disso, intensificar a sen­
sibilidade dos aparelhos que registram os feixes de
neutrinos.
Com o Sol acontece coisa inteiramente diversa.
A cada segundo, cada centímetro quadrado da su­
perfície terrestre é atravessado por dezenas de bi­
lhões de neutrinos vindos do Sol. Embora seja
extremamente difícil “captar” essa “onda”, con­
tudo é possível fazê-lo.
Já foram elaborados processos que permitem
registrar as irradiações de neutrinos dessa potência.
Aparentemente, não está longe o tempo em que os
cientistas estudarão os processos nucleares que se
produzem além da atmosfera e da fotosfera do Sol.
O homem olhará o centro do “reator” solar e esta­
belecerá, com precisão, qual a natureza da energia
solar. As observações poderão prosseguir tanto de
dia como de noite, pois a Terra é transparente para
a “luz” neutrínica!
Olhar através da Terra o que se passa dentro
do Sol parece fantástico, mas será coisa comum
para a astronomia futura.
Se pensarmos em tempos ainda mais distantes,
perspectivas ainda mais assombrosas se abrem
diante da astronomia neutrínica.
23
Cada partícula tem um sósia — a antipartícula
— que se distingue da partícula pelo sinal de sua
carga. Por exemplo, o eléctron tem um sósia posi­
tivo, o posítron. Mas, neste caso, a noção de “carga”
não significa apenas a carga elétrica. O neutrino
também tem — digamos — seu sósia antineutrino.
Mas nem um nem outro têm carga elétrica. Sua di­
ferença reside no fato de que, em seu movimento,
o neutrino gira da direita para a esquerda e o anti­
neutrino em sentido inverso.
Teoricamente, não é impossível que existam, no
universo, estréias, planetas e nebulosas feitas de
antimatéria: o “antimundo”.
No entanto, até o presente, nenhum meio per­
mitia verificar, mesmo em princípio, se o antimun­
do existe ou não. E essa verificação interessa apai-
xonadamente aos físicos e aos astrônomos. Ela é a
chave de numerosas questões relativas à origem das
galáxias.
Os quanta das irradiações eletromagnéticas e
das zonas de rádio não têm sósias antiquanta. Eis
porque nem a astronomia óptica nem a radioastro-
nomia podem ajudar os cientistas a estabelecer a
existência de um antimundo. Isso porque a luz e a
irradiação das estréias não se distinguem da luz e
da irradiação das antiestrélas.
A astronomia neutrínica dá a possibilidade teó­
rica de determinar se existe um antimundo no uni­
verso. As ondas de irradiação neutrínica provindas
do Sol se compõem, sobretudo, de neutrinos. Nelas
quase não se encontram antineutrinos. Ao contrá­
rio, um anti-sol não deveria difundir, no espaço,
senão antinêutrons. Conforme a relação entre os
24
neutrinos e os antineutrinos nas ondas de irradia­
ção procedentes das estrelas, tomar-se-á possível
estabelecer se se trata jie uma estréia do tipo an­
ti-sol. d
Tal foi, em suas linhas gerais, o conteúdo da
entrevista que mantivemos com Bruno Pontecorvo.
Ele nos falou de certos resultados obtidos pela Fí­
sica moderna e de alguns sonhos de cientistas. Já
não lhe parece audacioso olhar no centro das es­
trelas.

O professor Bruno Pontecorvo, que havia feito à


imprensa soviética essa extraordinária comunicação, é
um especialista em raios cósmicos e em aceleradores de
partículas.
Passando para o Leste, ele provocou muita in­
quietação no mundo ocidental. Na verdade, sua partida
se deveu a motivos científicos. Ao que parece ele não
ajudou, de nenhum modo, o Leste, a construir bombas
atômicas.
Aliás, depois da partida de Pontecorvo, o lança­
mento dos sputniks, o dos satélites lunares, o do homem
ao espaço, demonstraram que a ciência soviética não
depende de ajuda do exterior.
A idéia de Pontecorvo de abrir uma terceira ja­
nela, de criar uma terceira astronomia que estude o
neutrino, não foi ainda concretizada, mas sem dúvida
é viável.
Um detector de neutrinos vindos do espaço permi­
tirá demonstrar facilmente que a vida inteligente existe
em outros lugares que não a Terra. Com efeito, se des­
cobrirmos uma fonte de neutrinos que não seja uma
estrela, poderemos apostar que essa fonte é um gerador
25
de energia atômica. Algumas de nossas pilhas atômicas
emitem no espaço, sob a forma de neutrinos, até 14 por
cento de sua energia. Em conseqüência, se recebemos
uma potente corrente de neutrinos vindos de um ponto
do espaço vizinho de uma estrela, mas que não é uma
estrela, esses neutrinos devem, provavelmente, provir de
um planeta habitado por seres que sabem construir pi­
lhas nucleares.
Melhor ainda, se recebemos neutrinos provenien­
tes de uma fonte que se desloca a grande velocidade
no espaço, entre as estrelas, haverá probabilidades de
que essa fonte seja uma nave cósmica viajando de um
sistema estelar a outro. A exploração dessas possibili­
dades pode ser, contudo, perturbada por nossas próprias
atividades que criam parasitas.
Para a astronomia visível, a poluição da atmosfera
dificulta o funcionamento dos observatórios. Estes de­
vem estar afastados das grandes cidades, o que cria pro­
blemas. Foi assim que em um grande observatório norte-
-americano, os astrônomos tiveram de se instalar com
suas famílias em local afastado do centro. Surgiu então
o problema da educação das crianças. O Ministério da
Educação dos Estados Unidos não abre novas escolas,
a não ser que haja num mesmo lugar quinze crianças
em idade escolar. Ora, nesse Observatório havia ape­
nas onze crianças. Como, ao mesmo tempo, o observa­
tório tinha necessidade de um carpinteiro, publicou-se
na imprensa especializada o seguinte anúncio: “Pre­
cisa-se de um carpinteiro com quatro filhos”.
Mas se o astrônomo óptico encontra em sua ati­
vidade embaraços devidos ao desenvolvimento de nossa
civilização industrial, o astrônomo radioelétrico corre o
risco de ficar inteiramente paralisado. A tal ponto que
se pergunta se a radioastronomia não deverá se tornar

26
inteiramente impossível. Isso porque os detectores dos
grandes radiotelescópios, equipados com enormes ante­
nas, captam tanto o rádio, a televisão e os radares como
os parasitas das indústrias, dos barbeadores e dos brin­
quedos elétricos.
Alguns radiotelescópios norte-americanos tiveram
de ser instalados a várias centenas de quilômetros da
menor aglomeração populacional. Os cientistas que aí
devem trabalhar chegam de bicicleta. O barbeador elé­
trico é proibido. Mas todas essas precauções ainda não
são suficientes.
É que os satélites artificiais e os sinais, refletindo-
-se sobre os meteoritos, tornam as recepções anormais.
Os radioastrônomos sentem-se ainda ameaçados pelos
projetos, soviéticos e norte-americanos, que consistem
em colocar em órbita, em torno da Terra, milhões de pe­
quenas folhas metálicas refletindo ondas. Essa técnica
foi empregada durante a guerra para neutralizar os ra­
dares. Utilizada em escala gigantesca, permitiría fazer
voltar à Terra as ondas da televisão. Os franceses rece­
beríam as emissões soviéticas e norte-americanas, mas
estaríamos para sempre separados do universo exterior:
as ondas vindas do espaço seriam refletidas e retorna­
riam ao vazio interestelar.
Os radioastrônomos protestam, pois, violentamente
contra experiências desse gênero. Eles lamentam as ex­
periências norte-americanas do tipo Argus. Essas expe­
riências consistem em fazer explodir bombas atômicas
a grande altitude. Os norte-americanos criaram assim,
em torno da Terra, um círculo de energia que perturba
a transmissão radioelétrica e provoca belas auroras bo­
reais artificiais.
Tudo isso torna cada vez mais difíceis as ativida­
des dos radioastrônomos. No entanto, a radioastronomia
27
é uma ciência essencial que, com a imensa esperança
da comunicação pelo rádio com outras inteligências, nos
trazem informações indispensáveis sobre o universo. Por
outro lado, a radioastronomia permite acompanhar, no
espaço, os engenhos lançados para outros planetas do
sistema solar. Desse modo, a defesa da radioastronomia
contra os empreendimentos dos militares e dos indus­
triais constitui um problema social da mais alta impor­
tância, para o qual a opinião pública não foi ainda su­
ficientemente sensibilizada.
Seria muito importante ver criar, sob a égide das
Nações Unidas e da UNESCO, uma Comissão de De­
fesa da Radioastronomia.
Seria estúpido que, no momento em que se iniciam
as viagens pelo espaço, a humanidade fechasse, por si
mesma, uma das três janelas que dão para o espaço,
isolando-se, assim, do universo.
No caso da radioastronomia se tornar impossível
sobre a Terra, os radioastrônomos poderiam instalar-se
em outra parte. Estão em estudo planos de um satélite
equipado com um radiotelescópio.
Um cientista inglês escreveu: “Todo o futuro da
humanidade se resume em uma única questão: Os fo­
guetes lançados ao espaço serão equipados com os ra-
diotelescópios dos cientistas, ou com as bombas dos
assassinos”?
Também estão sendo estudados satélites radioelé­
tricos, verdadeiros observatórios do espaço. Existem, in­
clusive, planos para uma cidade de radioastronomia, na
superfície lunar. Trata-se do plano “Instituto Lunar”.
Todos esses projetos dependem da ficção científi­
ca mais que de possibilidades reais. Um Instituto de
pesquisas radioastronômicas como, por exemplo, o Insti­
tuto Francês de Nançay, ou a urbanização inglesa de
28
Jodrell Bank, é uma organização imensa, com máqui­
nas que pesam milhares de toneladas, com centenas de
colaboradores científicos, uma superfície que exigiría
centenas de quilômetros quadrados.
Antes que possam ser estabelecidos no espaço ou
na Lua sistemas completos desse gênero, ainda decorre­
rão muitos séculos. É preciso, no entanto, defender, por
ipdos os meios, o direito que a radioastronomia tem à
Mda.
A terceira astronomia, a do neutrino, ainda não
existe. Mas já sabemos que ela será perturbada simul­
taneamente pelos ensaios com bombas atômicas e pelo
funcionamento de pilhas nucleares.
Entretanto, tudo tem sua utilidade: a astronomia
do neutrino permitirá situar, através da espessura do
globo terrestre, todas as fontes de energia nuclear, e lo­
calizar todos os depósitos de trício, ou de hidrogênio
superpesado, radioisótopo necessário à fabricação das
bombas de hidrogênio.
Alguns telescópios de neutrinos, nas mãos dè um
organismo internacional, permitiríam um desarmamen­
to controlado, uma vez que nenhuma fonte de energia
nuclear, nenhum armazenamento de bombas H, pode­
ríam subtrair-se à detecção. Se ainda estiverem vivos,
dentro de vinte anos, os leitores deste livro, é que o pro­
blema terá sido resolvido e ter-se-á chegado a um desar­
mamento nuclear. Do contrário, este livro, como todas
as obras humanas, estará reduzido a pó.
A manutenção das três janelas é, pois, uma função
da evolução de nossa sociedade mais do que do desen­
volvimento científico.
Será preciso encontrar uma forma de organização
internacional para reservar certos lugares do globo aos

29
observatórios, aos centros de radiostronomia, aos pos­
tos de detecção de neutrinos.
Será necessária uma legislação internacional que
proiba as emissões de rádio na faixa de freqüência da
abertura da segunda janela, isto é, nos comprimentos de
onda que vão de oito milímetros a trinta metros.
Será preciso impedir a poluição progressiva da
atmosfera pelos produtos das explosões das armas atü^
micas experimentais.
Os mais vitais interesses da humanidade coincidem
com o objetivo deste livro. Pois é possível, com efeito,
fazer as seguintes perguntas:
“Para que? A humanidade não viveu, até o pre­
sente, sem qualquer contato com outras inteligências?
Seria útil buscar esse contato? Não se trataria de uma
idéia mais própria da ficção científica?”
As respostas a essas perguntas dependem de cada
um. Eu me apaixono, evidentemente, pelos contatos in­
terplanetários. Parece-me que a rejeição de um contato
interestelar equivalería, para toda a humanidade, a imi­
tar a atitude de loucos fechados em quartos de paredes
forradas para evitar que se comuniquem com outros se­
res humanos. P-arece-me — e esta é, sem dúvida, uma
opinião pessoal — que um contato com o mundo exte­
rior constituiría, para toda a humanidade, um enrique­
cimento prodigioso, que deve ser buscado por aqueles
que consideram que a vida merece ser vivida.
Quanto à questão da utilidade prática desses con­
tatos, não posso fazer mais do que repetir as palavras
de Michael Faraday a quem perguntaram: “De que pode
servir a eletricidade”?
— Para que serve uma criança recém-nascida?

30
II

Através da Primeira Janela, Olha-se

Inclinados à mesma janela eles


olham; nós ouvimos.
Victok Hugo

Na extremidade dos grandes telescópios que reú­


nem o que provém do universo exterior pela janela ópti­
ca, há três detectores: a câmara fotográfica, o olho hu­
mano e a célula fotoelétrica acompanhada de um am­
plificador eletrônico.
No estado atual da técnica,1 o olho humano é, in­
felizmente, o mais sensível. Infelizmente porque ele nos
transmite impressões através de um cérebro influenciá­
vel e sugestionável. Assim, não é possível responder às
questões mais evidentes sobre as descobertas feitas atra­
vés da primeira janela:
Existem canais em Marte?
Já se verificou uma explosão atômica em Marte?
Foram vistas luzes inexplicadas na Lua?
Foram entrevistos continentes sob as nuvens de
Vênus?
(1) Alguns anos atrás.

31
Observadores de boa fé acreditam ter visto uma
rede regular de canais em Marte, uma explosão que se
assemelhava à de uma bomba atômica, no coração do
deserto marciano, luzes estranhas nas crateras da Lua,
etc. Em cada um desses casos, tratava-se de observado­
res especializados, utilizando um telescópio moderno.
Mas, outros cientistas, igualmente bem equipados e que
observavam ao mesmo tempo, nada viram. Os debates
em tomo do assunto ainda prosseguem.
O problema é muito mais complexo do que parece.
Parece que para ver um objeto qualquer é preciso saber
que ele existe. Uma verdadeira cegueira mental impediu
os astrônomos de ver as luas de Marte até a sua desco­
berta. Logo depois, todo mundo as viu.
A única solução, evidentemente, seria a detecção,
por um instrumento imparcial como a chapa fotográ­
fica.
Foi utilizando essa chapa que o astrônomo sovié­
tico N. A. Kozyrev fotografou, em 1958, uma luz in­
tensa na cratera Alphonse, da Lua. A análise espectros-
cópica dessa luz mostrou que se tratava de hidrocarbo-
neto, isto é, de gases análogos ao gás butano, tornados
luminosos pela luz solar. A explicação oficial esclare­
ceu que se tratava de uma erupção de gás natural como
se produzira em Lacq.
Essa tomada de posição contradiz, entretanto, as
versões precedentes que apresentavam a Lua como um
astro morto onde não existiam nem gás natural, nem
vulcanismo, nem petróleo.
Pode-se observar que gases, escapando do reserva­
tório de combustível de um motor, teriam produzido o
mesmo efeito. Mas, nessa época, não havia na superfície
da Lua nenhum aparelho feito pelo homem...
32
O certo é que se um astrônomo do século XIX ou
mesmo do primeiro quarto do século XX pudesse ver
sinais luminosos feitos com um laser, a partir da Lua
ou de Marte, teria acreditado numa imperfeição do
seu telescópio ou em uma alucinação. E não admitiría
a possibilidade de um sinal. Agora que os astrônomos
reconhecem a astronáutica (não sem má vontade em
alguns casos: o astrônomo inglês Royal continua a afir­
mar que a astronáutica não existe e que, por outro lado,
“seria sem interesse se existisse”), pode-se esperar que
observem de boa vontade fenômenos luminosos e inten­
sos na superfície da Lua ou de planetas, ou ainda no
espaço livre.
Descrições desses fenômenos foram mais freqüen-
tes em 1961 do que em 1861. Certamente, eles foram
assinalados depois que o telescópio foi inventado. Mas,
do ponto de vista estatístico, as luzes inexplicadas pa­
recem ser mais numerosas e é difícil fugir à conclusão
de que os astrônomos as observam com maior boa von­
tade em nossos dias.
A explosão “atômica” em Marte, em 1954, con­
trariamente às luzes da cratera Alphonse, da Lua, não
pôde ser registrada fotograficamente. Ela teria sido
observada por dois astrônomos, um na União Soviética,
outro no Japão. Emprego à vontade o condicional por­
que não pude obter a confirmação dessas observações.
Encontra-se sua descrição em artigos de vulgarização,
mas, quando se vai às fontes, não se acha nenhuma re­
ferência precisa.
Teria sido essa explosão inteiramente forjada por
um jornalista?
Ou fora observada por um astrônomo que logo
depois se desmentira para evitar aborrecimentos?

33
As duas soluções são possíveis. Charles Fort regis­
trou, em seu livro, grande número de casos nos quais,
sob a pressão da opinião de outros cientistas, vários
astrônomos desmentiram afirmações que haviam feito
sobre observações que, na época, pareciam inteiramente
impossíveis.
Em outros casos, é verdade, pôde-se demonstrar
que observações aparentemente sensacionais tinham
sido feitas por amadores incapazes de interpretar o que
viam.
Foi esse o caso de um norte-americano que, há
alguns anos, descobriu uma ponte na Lua. Verificou-se
depois que se travava de uma sombra projetada em um
ângulo anormal.
Mas, durante anos, a lenda de uma ponte na Lua,
recentemente construída por extraterrestres que teriam
estado em nosso satélite natural, circulou na imprensa
popular e até mesmo em jornais norte-americanos con­
siderados sérios.
Foi necessária uma pesquisa feita por meu emi­
nente confrade Willy Ley, para reduzir a nada essa fan­
tasia. No entanto, correspondentes científicos de jornais
tão respeitados como o New York Times haviam acre­
ditado nela.
Essa história absurda começou a 29 de julho de
1953. O astrônomo amador norte-americano, John J.
O’Neill, observava uma porção circular da superfície
da Lua, conhecida pelo nome de Mare Crisium.
O Mare Crisium não é um mar, mas uma sombria
depressão de aproximadamente 500 quilômetros de diâ­
metro. Como toda a superfície da Lua ela é recoberta
não se sabe por que substância: poeira? vidro natural?
rochas que, sob a influência do bombardeio solar e cós­
34
mico assumiram uma estrutura diferente das rochas
terrestres?
Haja o que houver sobre essa superfície desconhe­
cida1 observam-se duas montanhas que quase se encon­
tram. ESsas montanhas lunares são conhecidas há pouco
mais de um século. Receberam os nomes de: Promon-
tcrium Olivium e Promontorium Lavinium.
O’Neill julgou observar uma ponte unindo as duas
montanhas. Uma ponte que ali não se encontrava no
ano anterior só podería ser artificial.
Os fenômenos naturais de erosão que, na Terra,
chegam a formar pontes naturais, não existem na Lua,
onde não há água nem atmosfera.
Um astrônomo do século passado, de 1853, por
exemplo, tendo feito semelhante descoberta, ter-se-ia ca­
lado pelo receio de cair no ridículo.
Mas em 1953, O’Neill, astrônomo amador e cro­
nista científico profissional, sabia que a conquista do
espaço estava próxima. Teria ele pensado que os sovié­
ticos já haviam pisado na Lua? Acreditaria que outras
inteligências, vindas do espaço, tinham estabelecido
um posto avançado em nosso satélite natural? O’Neill
morreu sem ter dado qualquer explicação.
Enquanto isso, a história tinha corrido mundo. As­
trônomos ingleses conseguiram bater fotografias da fa­
mosa ponte, e essas fotos demonstraram que se tratava
de uma ilusão de óptica. Um simples jogo de sombras
dava a impressão de uma ponte. Esse jogo de sombras
desaparecia quando as fotos eram batidas em um outro
período do dia lunar. Viam-se então as duas montanhas
inteiramente nuas, sem qualquer espécie de ponte ligan­
(1) Quando este livro foi escrito o Homem ainda não havia pisado
a superfície lunar.

35
do uma à outra. Entretanto, nem por isso a história de
O’Neill é menos plausível. Dia virá em que existirão
construções artificiais na superfície da Lua. Essas cons­
truções serão obra dos soviéticos?
Contudo, nada pode provar que outros seres, vin­
dos do espaço exterior, não se tenham servido e não
venham a se servir de nosso satélite como de uma base.
Por outro lado, todos os fenômenos estranhos que
observam agora na Lua são considerados com seriedade
e cuidadosamente anotados. Esses fenômenos são nume­
rosos: jorros de luz, estranha mudança de coloração,
objetos que parecem se mexer, e até mesmo o desapa­
recimento de uma cratera! Ela existia há alguns anos e
agora as fotos já não a revelam!
A que conclusão se deve chegar?
É possível, como acreditam os astrônomos soviéti­
cos, que a Lua seja um astro vivo, trabalhado por vul­
cões. Nesse caso, ter-se-iam observado erupções. Tam­
bém teria havido tremores da Lua capazes de fazer de­
saparecer crateras inteiras.
Essa explicação parece cientificamente improvável:
o vulcanismo, ao que se acredita, é o resultado da radio­
atividade natural. Ora, em face da fraca densidade da
Lua, ela não deve conter muitos elementos radioativos,
que são elementos pesados. Por outro lado, a Lua não
tem campo magnético e, sem dúvida, não tem núcleo
líquido fundido. Feitas todas essa reservas, a ciência
está constantemente a rever suas teorias.
Os pontos luminosos, o desaparecimento de crate­
ras e mesmo outras crateras existentes poderíam ser de­
vidos à queda de meteoritos gigantes sobre a Lua. Nunca
se observou um meteorito caindo em nosso satélite, mas
é possível que isso tenha sido simplesmente obra de um

36
mau acaso. Contudo, nenhum observador, nenhuma câ­
mara automática, tiveram a oportunidade de captar esse
fenômeno.
Não é absurdo pensar, por outro lado, que as ati­
vidades lunares sejam devidas a seres inteligentes que
não o homem. Os primeiros sinais vindos do espaço
exterior teriam sido as luzes observadas na Lua no sé­
culo XVII e que tanto intrigaram Cyrano de Bergerac.
Os primeiros exploradores a desembarcar na Lua
encontrarão talvez esses traços de uma vida estranha e
não ficarão surpreendidos: vários cientistas soviéticos
escreveram que se encontrariam, talvez, na Lua, vestí­
gios de “nossos irmãos em inteligência” — como os so­
viéticos designam outras inteligências do universo.
Observaram-se, igualmente, mudanças de colora­
ção e luzes estranhas em certos asteróides, Eros e Vesta,
por exemplo. A natureza desses astros nos é, no momen­
to. inteiramente desconhecida, o que nos impede de
aventar qualquer hipótese.
Do mesmo modo, não se pode apresentar hipóte­
ses válidas sobre os clarões de luz que se observam no
espaço aparentemente vazio. Aí também, provavelmen­
te, será preciso esperar para obter explicações, que o
homem explore o espaço em torno do Sol.
Muito recentemente foram observadas, em Vênus,
auroras boreais e austrais. Ao mesmo tempo, os norte-
-americanos explodiam bombas nucleares a grande alti­
tude e provocavam, desse modo, auroras boreais artifi­
ciais na Terra.
Eis aí um novo meio de comunicação: sinais lumi­
nosos, entre os planetas, um meio no qual parece que
ainda não se pensou. Seriam artificiais algumas auroras

37
boreais de Vênus? É possível levantar essa hipótese,
mas não se pode ir mais longe.
No que se refere a Marte, não me parece que seja
de alguma utilidade voltar à discussão a propósito dos
canais marcianos. É provável que, antes de dez anos,
os primeiros aparelhos automáticos de observação, pou­
sem no solo do planeta vermelho, e câmaras de televisão
nos mostrem a superfície de Marte.
Por outro lado, informações que nos chegaram,
através da janela óptica, sobre um dos satélites de Marte,
Fobos, são, quando menos, curiosas. Segundo o cientista
soviético Chklovsky, Fobos podería ser um satélite arti­
ficial.
Esse minúsculo satélite tem aproximadamente 12
quilômetros de diâmetro, e circula seis mil quilômetros
acima de Marte. Ora, parece que ele está se aproximan­
do do planeta de maneira anormal.
Segundo o astrônomo norte-americano Sharpless,
Fobos ter-se-ia adiantado quatro minutos em seu horá­
rio, de 1940 a 1941! Ele se comporta como um satélite
artificial terrestre, contido pela atmosfera.
Mas a atmosfera de Marte tem densidade muito
fraca para poder conter a queda de um satélite. Para
diminuir a velocidade de Fobos, seria necessário que ele
fosse oco. Uma vez que não existem corpos naturais
ocos, Fobos seria então, segundo Chklovsky, um aste-
róide que marcianos ou outros seres inteligentes extra­
terrestres teriam equipado com reatores, colocado em
órbita em torno de Marte e, progressivamente esvaziado,
para em seu interior instalar laboratórios e institutos de
pesquisa.
Essa hipótese, evidentemente magnífica, tem duas
falhas:

38
1. ° Seria preciso estar seguro quanto às observa­
ções de Sharpless. Ora, estas não parecem ter sido con­
firmadas. Alguns astrônomos franceses as desmentiram.
2. ° Seria preciso estarmos certos de que a freagem
de Fobos não é devida a fenômenos eletromagnéticos.
Talvez, o minúsculo satélite seja carregado de eletrici­
dade ou composto de materiais através dos quais passa
uma corrente elétrica.
O campo magnético de Marte produziría então,
sobre o satélite, um efeito de contenção eletromagné­
tica.
Enquanto se aguarda, os telescópios voltados para
Marte permitem observar numerosos fenômenos estra­
nhos.
No que concerne ao resto do sistema solar, nossos
próprios telescópios, mesmo equipados com amplifica­
dores eletrônicos, não estão em condições de nos dizer
se existe vida em Marte.
Se há seres inteligentes no satélite de Júpiter ou
nos satélites de Saturno, em Ganimedes (satélite de Jú­
piter) ou Titã (satélite de Saturno), eles estão muito
distantes de nós para que os telescópios nos possam
trazer sinais de sua atividade.
Ao contrário, e por fantástico que pareça, esses
instrumentos podem nos dar indicações de uma ativi­
dade inteligente procedente do universo estelar, para
além do sistema solar!
Essa atividade se manifesta, a princípio, por per­
turbações em certas estrelas, efeitos que parecem de­
monstrar que essas estrelas possuem satélites ocultos, de
dimensões relativamente pequenas em relação às da es­
trela, e de massa comparável à dos planetas gigantes
do sistema solar: Júpiter ou Saturno.
39
Muitos astrônomos não aceitam a explicação pla­
netária e pensam, de preferência, que as estrelas pertur­
badas são sistemas de estrelas duplas, dos quais a segun­
da estrela seria extremamente pequena, de massa re­
duzida e quase oculta. Outros não hesitam em afirmar
que se trataria de planetas.
Se outras estrelas que não a nossa possuem plane­
tas gigantes como Júpiter e Saturno, por que não gover­
nariam elas também planetas menores, que teriam as
dimensões e as propriedades da Terra?
E por que não existiríam nesses planetas outros
seres inteligentes, semelhantes ao homem?
Eis aí uma questão difícil de responder. Foram
enunciadas numerosas hipóteses sobre a formação dos
planetas. Segundo algumas dessas hipóteses, o fenôme­
no é raro. Segundo outras, é geral: todas as estrelas
possuiríam planetas. Desse modo, pode-se discutir in-
terminavelmente.
À medida que se aprofundam nossos conhecimen­
tos sobre a matéria, surgem novas especulações quanto
à formação dos planetas.
Para alguns cientistas, eles foram arrancados ao
Sol. Para outros, se formaram a frio, pelo encontro de
partículas.
O calor solar, os campos magnéticos, a pressão da
luz devem, certamente, intervir no fenômeno.
O que se pode dizer é que nenhuma das teorias
sobre a formação dos planetas é satisfatória e que sur­
gem três ou quatro novas teorias por ano. Os autores
dessas teorias falam sempre com grande autoridade,
como se eles próprios tivessem assistido à formação dos
planetas. No entanto, suas afirmações se contradizem.
Apenas a observação nos poderá dar provas.

40
As perturbações de outras estrelas, certas anoma­
lias em sua rotação, parecem indicar que existem outros
sistemas planetários.
Acredita-se que as estrelas azuis e brancas que apre­
sentam uma rápida rotação sobre si mesmas, não pos­
suem planetas, enquanto as estrelas amarelas, alaran-
jadas e vermelhas, de rotação mais lenta, os possuiríam.
O Sol é uma estrela amarela.
Pode-se esperar que a instalação, nos grandes teles­
cópios, de amplificadores elétricos inventados na Fran­
ça pelo professor Lallemand, permitirá registrar anoma­
lias suficientes para provar a existência de outros siste­
mas planetários no universo.
Alguns especialistas acreditam que se verificará,
então, que uma estrela, sobre mil, possui planetas.
Que seres habitariam esses planetas? A observação
direta, por telescópio, jamais nos poderá responder a
essa pergunta. Será apenas trocando sinais com eles que
poderemos conseguir algumas informações. Não seria
de nenhuma utilidade enumerar os diversos seres inven­
tados pelos autores de ficção científica. A realidade é,
certamente, ainda mais estranha.
Alguns cientistas, como por exemplo Freeman J.
Dyson, acreditam que existem no espaço inteligências
que constroem, em torno das estrelas, imensas esferas
feitas de matéria cósmica endurecida. Eles habitariam
o interior dessas esferas e, para viver, poderíam utilizar,
por intermédio da síntese clorofiliana ou outras sínte­
ses, toda a energia de uma estrela e não apenas, como
fazemos, os minúsculos fragmentos dessa energia que
chegam à superfície dos planetas.
Assim, esses seres tornariam real a genial profecia
de Ziolkovsky, o precursor russo da astronáutica, que
escreveu:
41
“A Terra é o berço da humanidade, mas não se
pode passar toda a vida no berço.
Chegará a hora em que o homem utilizará todos
os recursos do Cosmos e não apenas a miserável esmo­
la que lhe chega até a Terra.”
O professor Freeman John Dyson, membro da So­
ciedade Real das Ciências, fez seus estudos em Cam-
bridge onde foi “Fellow of Trinity College”.
Depois de ter feito pesquisas para a Royal Air
Force, durante a guerra, em 1947 foi nomeado en­
carregado das bolsas de estudo em Princeton. Ensinou
Física na Universidade de Cornell até 1953. Tornou-
-se então professor de Matemática em Princeton, no fa­
moso Institute for Advanced Studies. Isso significa que
não se pode imaginar um cientista mais sério.
Ora, os seres cósmicos imaginados pelo professor
Dyson teriam realizado, há milhares ou milhões de anos,
o programa que Ziolkovsky propunha para a humani­
dade em 1892.
É preciso admirar a coragem do professor Dyson
que não hesitou em escrever nas páginas da respeitável
revista Science: “Seres superiores ao homem existem
talvez no universo”.
É preciso notar que talvez existam, no universo,
construções artificiais ainda mais extraordinárias que as
imaginadas por Dyson.
Quando se assiste a um Congresso de Astrônomos,
por vezes se ouvem nos corredores, à margem das dis­
cussões públicas, estranhas conversas. Foi assim que
ouvi, da boca de um astrônomo que, infelizmente, não
me autorizou a citar o seu nome, a seguinte e formidá­
vel hipótese:

42
“A captura de uma estrela por outra estrela, para
formar uma estrela dupla é, matematicamente, impro­
vável. Os sistemas de estrelas múltiplas, estrelas duplas,
estrelas triplas e assim por diante, até estrelas sêxtuplas,
se formaram, portanto, ao mesmo tempo e se conden­
saram juntas a partir da poeira cósmica. Ou então, como
pensa o russo Ambartzunian, elas nasceram ao mesmo
tempo, da explosão de uma mesma estrela superdensa.
“Ora, observam-se estrelas múltiplas e, sobretudo,
estrelas duplas, nas quais as duas componentes não têm
a mesma idade. Uma estrela de algumas centenas de mi­
lhões de anos de idade acompanha, por vezes, girando
em torno de um centro de gravidade comum, uma outra
estrela que data de cinco ou seis bilhões de anos. Quem
sabe se essas estrelas não foram ali colocadas por seres
cósmicos inteligentes? Se o sistema não é artificial?”
O astrônomo se deteve e me olhou com inquietação.
Eu lhe respondi simplesmente: “Senhor professor, sua
hipótese já foi publicada, preto no branco, em 1931, por
um de seus eminentes confrades, o matemático norte-
-americano Eric Temple Bell”.
Se a hipótese de Eric Temple Bell for a verdadeira,
existem no espaço sinais permanentes de uma vida inteli­
gente. É preciso, simplesmente, ser bastante cientista
para os interpretar e, antes disso, possuir elementos de
observação.
Cabe, portanto, indicar as possibilidades e as limi­
tações da astronomia óptica.
Tomarei alguns elementos a um excelente artigo
de M. J. Rosch: “Limites da observação astronômica:
realidades e perspectivas” publicado na revista Nucleus.
Essa revista, editada em francês, inclui resumos
em latim, e publica artigos de vulgarização científica
do mais elevado nível.

43
J. Rosch começa por definir a amplitude da pri­
meira janela. A astronomia óptica, segundo ele, é “li­
mitada aos comprimentos de onda superiores a 0,29
mícrons (valor abaixo do qual o ozônio da alta atmos­
fera é absorvente) e inferiores a alguns mícrons (região
onde aparecem outras faixas atmosféricas).

Em astronomia óptica:

A atmosfera
terrestre : absorve o ultravioleta e o infravermelho.
Limite da resolução. Traz um ruído de
fundo.

As dimensões
realizáveis do
coletor : limitam a energia disponível, não limitam
a resolução.

O receptor : aproxima-se do rendimento ideal. Intro­


duz pouco ruído de fundo.

Se é possível esperar ver instalar-se no espaço, den­


tro em breve, pequenos telescópios que tomem fotos pas­
síveis de recuperação quando o satélite portador do
telescópio pousar em terra, a instalação, no espaço, de
observatórios como os de Saint-Michel, na Provença,
ou do Monte Palomar, não é realização remota. A luta
da astronomia óptica se desenrolará sobretudo em terra.
Sem dúvida, o envio desses instrumentos para fora
da atmosfera permitirá detectar aí astros pouco lumino­
sos. Como escreveu J. Rosch:

44
“Para a absorção total, um só remédio: transportar
os aparelhos de observação para fora da atmosfera. O
mesmo se pode dizer quanto ao ruído de fundo devido
à luminescência própria do céu noturno. Um ângulo
sólido de um segundo quadrado nos envia tanta energia
quanto uma estrela de 22° de magnitude. Por pouco
que a imagem seja revelada pelas não-homogeneidades
atmosféricas, uma estrela de uma ou duas magnitudes
mais fracas não se distinguirá do fundo. Apenas uma
evasão para fora da atmosfera permitirá liquidar essa
limitação.”
Mas a análise pormenorizada das observações, a
possibilidade de por em ação poderosos meios de regis­
tro e de amplificação quando se produz um aconteci­
mento apaixonante, permanecerá ainda, por muito tem­
po, privilégio dos observatórios terrestres.
Entre esses instrumentos de detecção e amplifica­
ção, o mais extraordináro continua a ser o olho huma­
no. A luz é composta de partículas a que se dá o nome
de fótons. A fantástica sensibilidade do olho humano
lhe permite reagir a somente quatro fótons. Jamais se
conseguirá algo melhor — acredita-se — que o olho
humano na extremidade de um grande telescópio: espe­
lho de 5 metros de diâmetro no Monte Palomar, de 6
metros de diâmetro em um telescópio soviético, em
construção. O olho, entretanto, não é um registrador,
e essa é a sua grande deficiência. O astrônomo poderá,
sem dúvida, desenhar o que viu. Mas, de imediato, ele
não pode reproduzir as cores. Além disso, com a melhor
boa vontade do mundo, o astrônomo imagina, ao mesmo
tempo que reproduz. É por isso que não se dá muito
crédito aos canais de Marte.

45
Os desenhos feitos pelo norte-americano Percival
Lowell podem estar, talvez, mais de acordo com a reali­
dade marciana do que pormenorizadas fotografias. Mas
também é possível que a imaginação de Lowell tenha
funcionado de tal forma que seus desenhos sejam desti­
tuídos de qualquer valor. Se essa reflexão pode ser apli­
cada a fenomenos permanentes como os canais de Mar­
te, ela o será ainda com maior razão a fenômenos tran­
sitórios e excepcionais.
Desse modo, procura-se substituir o olho humano
por instrumentos eletrônicos.
O efeito fotoelétrico, adequadamente explorado,
diz Rosch, já pode dar resultados da mesma ordem no
domínio óptico: no aparelho mais aperfeiçoado que se
empregue — a câmara eletrônica de Lallemand — um
fóton, caindo sobre uma camada sensível aí emite um
eléctron que, acelerado em um campo elétrico, deixa o
seu traço em uma emulsão nuclear; o rendimento não
é ainda igual à unidade, mas são suficientes menos de
dez fótons para produzir um traço que se possa perce­
ber. Sendo o campo elétrico o de uma lente eletrônica,
observa-se correspondência, ponto por ponto, entre o
fotocátodo e a placa nuclear.
Assim, obtém-se diretamente uma imagem do cam­
po óptico. Deve-se, portanto, esperar sensibilidade quase
igual à do olho humano — com a materialização do
sinal e, além disso, com a possibilidade de integração.
Efetivamente, para um mesmo coletor de luz, che­
ga-se a fixar, em um tempo de pose da mesma ordem
que o tempo de integração do olho (alguns centésimos
de segundo) os pormenores de estrutura da figura de
difração de uma estrela quase tão fraca quanto a mais
fraca, sobre a qual o olho humano possa perceber esses
mesmos pormenores.
46
Contrariamente aos fenômenos que se produzem
no olho, os eléctrons emitidos pela câmara eletrônica
do professor Lallemand podem ser registrados por uma
placa fotográfica. Assim, restará um traço permanente,
que se pode discutir, pois, mesmo que se chegue a uma
sensibilidade semelhante à do olho e próxima da sensi­
bilidade limite, restará a definir o significado dos por­
menores assim fixados pela fotografia. Essa discussão
promete ser difícil.
As poucas fotografias tomadas a várias centenas
de quilômetros de altitude, por foguetes ou satélites, e
trazidas de volta à Terra, não revelam nenhum traço
de vida ou de atividades inteligentes em nosso planeta.
Massas de nuvens, continentes vagamente percebi­
dos, eis tudo o que vê uma boa câmara a quinhentos
quilômetros... Que dizer então das observações que
se pode fazer sobre outros planetas e sobre outras estre­
las?
Se invertermos o problema, parece certo que habi­
tantes inteligentes de Marte ou de Vênus seriam inca­
pazes de detectar a vida na Terra.
Quanto aos habitantes inteligentes de um planeta
que girasse em torno da estrela mais próxima, a uma dis­
tância de quatro a cinco anos-luz, poderíam detectar,
quando muito, o planeta Júpiter, mesmo supondo-se que
eles possuíssem telescópios ópticos com espelho de dez
metros de diâmetro.
Isso significa que a janela óptica apresenta limita­
ções. Dentro desses limites pode-se, entretanto, fazer
descobertas.
Foi assim que, em agosto de 1961, um astrônomo
polonês descobriu duas novas luas da Terra. São nu­
vens de poeira girando ao redor da Terra e cuja exis­
47
tência fora teoricamente prevista pelo matemático La-
grange, no século XVIII. Mas até o presente, haviam
escapado à nossa observação.
A Conferência Astronômica que se reuniu na Uni­
versidade de Berkeley, na Califórnia, em agosto de
1961, revelou que a astronomia óptica estava em plena
atividade.
Com essas duas novas luas da Terra, assinalou-se
também a descoberta, por cientistas franceses, de um
estranho fenômeno em uma galáxia espiralada distante.
Os braços dessa galáxia, as voltas parciais da espiral são
iluminadas e, no entanto, não encerram estrelas. Tem-se
conhecimento de nuvens interestelares que fazem parte
de uma galáxia e cujos gases se tornam fluorescentes sob
o efeito da energia emitida por estrelas que se encontram
no centro da nuvem gasosa.
Mas não é esse o caso da nova galáxia descoberta
pelos astrônomos franceses. Trata-se de nuvens de gás,
iluminadas por um elemento desconhecido. Uma ener­
gia, da qual não se supõe a natureza, excitou os átomos
de hidrogênio que a compõem, criando no espaço um
gigantesco sinal luminoso.
Trata-se muito provavelmente de um fenômeno na­
tural e no entanto!. . . Não é proibido sonhar. Um gi­
gantesco luminoso desse gênero, criado por seres inteli­
gentes, revelaria a presença e a atividade da vida a mi­
lhões de anos-luz.
Um outro ponto interessante ressaltado na Confe­
rência de Berkeley é a existência, no universo, de con­
juntos estelares mais antigos que todos os objetos co­
nhecidos: até trinta bilhões de anos.
Se os planetas nascem ao mesmo tempo que as
estrelas, como se tem a tendência a acreditar, deve exis­
48
tir, nesses conjuntos estelares, seres cuja evolução
se estendeu por um período dez vezes maior que a nossa.
Seres que tiveram tempo de atingir os cimos da inteligên­
cia e do domínio da natureza. Esses seres, segundo al­
guns astrônomos, poderão se encontrar não apenas em
pequenos planetas semelhantes à Terra — Marte ou
Vênus — mas também nos planetas gigantes como Jú­
piter.
Na Universidade da Califórnia, o astrônomo Carl
Sagan, fez experiências em uma atmosfera artificial se­
melhante à de Júpiter, que reproduziu em um tubo de
ensaio. Sagan chegou à conclusão de que essa atmos­
fera pode agir como uma estufa e reter a energia solar.
Júpiter não seria, então, um astro gelado, mas um
imenso e verde paraíso para a vida. Uma vida que não
poderia jamais fugir dele, pois a forte gravitação e a
fantástica pressão atmosférica sobre esse planeta gigan­
te, impediríam qualquer lançamento de foguetes.
Mas a janela óptica tem muito a nos ensinar, ape­
sar de todas as suas limitações ainda consideráveis. Con­
cluiremos, com o astrônomo Rosch:
“A conclusão deveria ser, portanto, pessimista.
Não, certamente, a curto prazo, pois as possibilidades
atuais — sobretudo as dos receptores mais sensíveis —
não estão mais do que nos primórdios de sua explora­
ção. Um muro, no entanto, parece se erguer no fundo
das perspectivas de exploração do universo. A menos
que, antes de atingi-lo, nós possamos descobrir nele
portas até agora não suspeitadas...”

49
III

Através da Segunda Janela, Escuta-se

As trevas têm ouvidos


E as profundidades gritam.
Victor Hugo

Pela segunda janela, a do rádio, chegam até nós


sinais produzidos por seres inteligentes.. . Alguns são
emitidos por nossos próprios instrumentos, instalados
em foguetes e satélites.
Estudos feitos sobre transmissões de rádio vindas
do espaço permitem situar o problema. Da energia emi­
tida no espaço, por um satélite, chega até nós, no má­
ximo, um milionésimo. O resto é absorvido:
— pelo oxigênio que assimila, sobretudo, as ondas
de freqüência aproximadamente igual a 60.000
megahertz, isto é, 60 bilhões de vibrações por
segundo
— pelo vapor d’água
— pela ionização das moléculas de ar. Sob a ação
da irradiação solar e do bombardeio cósmico,
as moléculas se dissociam em átomos e os áto­
mos se carregam de eléctrons ou os perdem. Os
íons assim criados refletem para o espaço ondas
de freqüência relativamente baixa.
51
Pela janela que se abre para o espaço entram, igual­
mente, numerosos ruídos parasitas. Existem ainda ruídos
de fundo produzidos pelo próprio receptor. Para redu­
zir esses ruídos há dispositivos especiais: maser que uti­
liza cristais, amplificador paramétrico, circuito especial
de fraco ruído.
Finalmente, foram inventadas antenas que permi­
tem um aumento de potência de 100.000 em relação às
antenas comuns. Essas antenas se apresentam como pa­
rábolas de 50m de diâmetro. Não foram ainda instala­
das sobre satélites, mas logo o serão. Depois disso, com
o equipamento atual, pode-se chegar às seguintes reali­
zações:
— Um watt de potência sobre um satélite dá uma
ligação rádio à distância Terra-Lua: 400.000km.
— Com 10 watts, um satélite e uma antena trinta
vezes melhor que a primeira, ter-se-ia uma ligação com­
parável a uma distância da Terra ao Sol: 150 milhões
de quilômetros.
— Finalmente, com um emissor de 100 watts sobre
um satélite ou um foguete e uma antena mil vezes su­
perior à primeira, poder-se-iam estabelecer comunica­
ções a distâncias da ordem do Sol ao planeta Plutão, o
planeta mais afastado do sistema solar. A distância
Sol-Plutão é de 5,89 bilhões de quilômetros.
Na verdade, as distâncias máximas atingidas por
nossos foguetes são de 50 milhões de quilômetros apro­
ximadamente, mas parece fora de dúvida que mesmo
a ligação Terra-Plutão seja possível, desde que se dispo­
nha de foguetes que possam ir até esse planeta.
Assim, estamos em condições de nos comunicar
com não importa que ponto dentro do sistema solar.

52
Se houvesse outros seres inteligentes em nosso sis­
tema, já teríamos nos comunicado com eles através do
telégrafo sem fio.
Da mesma forma que todas as idéias comumente
recebidas, esta é bastante discutível.
Em primeiro lugar, só há alguns anos passamos a
dispor de receptores realmente sensíveis.
Em segundo lugar, cientistas sérios receberam si­
nais (não se pode chamá-los de outro modo) que pare­
ciam não provir da Terra. O próprio Marconi e o norte-
americano C. Francis Jenkins, um dos grandes precur­
sores da televisão, estavam certos de ter recebido sinais
que suas antenas direcionais haviam captado como pro­
cedentes de Marte.
Mais recentemente, numerosos experimentadores
como o professor John D. Kraus, da Universidade de
lowa, receberam de Vênus e de Júpiter ondas modula­
das de modo complexo. O registro conseguido se asse­
melha, na opinião de Kraus, às transmissões do exér­
cito norte-americano, em código.
Ora, as possibilidades de vida em Vênus e Júpiter
não foram de nenhum modo excluídas.
Contudo, os eventuais habitantes desses planetas,
vivendo envoltos em uma atmosfera espessa, podem mui­
to bem ignorar nossa existência e até mesmo a do siste­
ma solar.
Os feixes de cuidas recebidos por Kraus podem ter
sido emitidos por máquinas elétricas ou por aparelhos
de telecomunicação locais.
Ainda não estamos em condições de enviar a Júpi­
ter ou Vênus um sinal bastante potente para atingir
esses planetas. Ainda mal começamos a explorar a at­
mosfera superior de Vênus com o auxílio do radar.

53
Quanto a Júpiter, esse planeta gigante está, no
momento, muito afastado.
Não se exclui, entretanto, a possibilidade de rece­
bermos sinais inteligentes de nosso sistema solar, que
cheguem até nós através da segunda janela. No entanto,
os cientistas, na grande maioria, consideram que se trata
de um acontecimento improvável.
Ao contrário, os cientistas mais ortodoxos acredi­
tam que devem existir, no universo, planetas habitados
por seres inteligentes. Assim, pode-se esperar, razoavel­
mente, entrar em comunicação com esses parentes dos
homens, que vivem a milhares, ou talvez a milhões de
anos-luz distantes de nós. A recepção de sinais proce­
dentes desses seres pertence ao domínio da radioastro-
nomia.
A radioastronomia se ocupa, sobretudo, das ondas
emitidas pelo Sol, pelas estrelas e pelas fontes de rádio
do espaço distante.
Foi apenas recentemente que alguns radioastrônomos
particularmente corajosos se puseram a investigar siste­
maticamente as mensagens procedentes dos espaços in-
terestelares.
Durante a guerra de 1939-1945 havia, no Obser­
vatório holandês de Leiden, um jovem estudante que se
chamava H. van de Hulst. Enquanto buscava fugir ao
trabalho obrigatório na Alemanha, o jovem van de Hulst
refletia sobre as possibilidades da astronomia do futuro.
Assim, passou pela sua mente uma idéia prodigiosa que
pode ser resumida da seguinte forma: na imensidade do
universo tudo pode acontecer, mesmo o impossível!
Ora, van de Hulst se interessava por um aconteci­
mento teoricamente improvável: a emissão de uma onda
de TSF de 21 cm de comprimento por um átomo de
hidrogênio.
54
Mas um átomo de hidrogênio, entregue a si mesmo,
no espaço, não tem mais do que uma sobre vários bi­
lhões de possibilidades, de emitir uma onda de 21 cm.
“Esse acontecimento impossível” não pode, pois, se pro­
duzir, a não ser uma vez em cinco milhões de anos. Mas
é tão grande a quantidade de átomos de hidrogênio no
universo que esse fenômeno se produz com freqüência
bastante para que ondas de 21 cm, verdadeiro grito das
profundezas, emitido pelo átomo de hidrogênio no espa­
ço interestelar e intergaláctico, possam ser detectados
na Terra.
Depois da guerra, a idéia genial de van de Hulst
foi verificada experimentalmente: Harold Ewen, de Har-
vard, Christiansen e Hindman, na Austrália, consegui­
ram detectar o raio H/21.
Essa descoberta permitiu elaborar o mapa de um
espaço invisível e medir a temperatura do hidrogênio
interestelar. Bem entendido, essa temperatura varia. Ela
é de 10.000° absolutos (-173°C) nas profundezas do
espaço, longe de qualquer outro foco de calor.
Como se sabe, a temperatura é uma agitação e esse
movimento produz uma variação do comprimento da
onde de hidrogênio galáctica, o que permite conhecer
o movimento das nuvens de hidrogênio no interior da
galáxia.
A descoberta de van de Hulst é de tão grande im­
portância que qualquer civilização científica deve, ne­
cessariamente, dispor de postos de escuta de ondas de
21 cm de comprimento.
Se a descoberta do raio 21 do hidrogênio foi possí­
vel graças aos trabalhos de um teórico de gênio, compro­
vados pela experiência, a descoberta dos feixes de ondas
procedentes de Júpiter é um belo exemplo de acaso na
pesquisa. E merece ser contada em pormenores.
55
Dois cientistas norte-americanos, Burke e Franklin,
no Instituto Carnegie, de Washington, estavam elabo­
rando uma antena de radiotelescópio. Essa antena, re­
gulada em freqüência bastante baixa, 20 megahertz, era
um instrumento bastante rudimentar que, por diversos
motivos, foi abandonado a si mesmo durante dois meses,
depois de ter sido orientado em direção ao Sol.
Ao fim de dois meses, quando se examinou os re­
gistros feitos durante esse tempo, encontrou-se um sinal
estranho que lembrava os parasitas emitidos pelos faróis
de um automóvel ou por uma perfuradora elétrica.
Esse sinal aparecia durante vários minutos por dia.
Depois de se ter eliminado todas as possíveis fontes de
interferência, pensou-se no planeta Júpiter em cuja dire­
ção o aparelho estava acidentalmente voltado. Obser­
vou-se que as ondas vinham de Júpiter, mas que nenhum
outro instrumento do mundo teria podido detectá-las.
Teria sido necessária freqüência exata, antena cer­
ta e o momento adequado.
Ao contrário, soube-se que, na Austrália, havia-se
registrado, durante um ano, tudo o que intervinha em
uma freqüência vizinha: 18 megahertz.
O exame desses registros, a princípio julgados sem
interesse, permitiu localizar outros sinais procedentes
de Júpiter.
O termo “sinal” não significa, na mente dos cien­
tistas, ondas emitidas por seres inteligentes. No entan­
to...
A forma desses sinais não se assemelha à dos raios.
Seu espectro não se parece com nenhuma outra fonte de
radiação conhecida. A radiação é emitida com bastante
precisão, sobre 20 megahertz. A 10 megahertz e a 30
megahertz, já não se detecta coisa alguma. Tudo se
56
passa como numa estação de radiodifusão cuja freqüên­
cia tivesse sido deliberadamente escolhida.
A observação é de um cientista tão eminente quan­
to sério, o dr. F. Graham Smith, de Cambridge. Ela se
encontra à página 186 de seu livro sobre a radioastrono-
mia, publicado por Pelican Books.
Coisa mais séria ainda, foi possível demonstrar que
as ondas são emitidas apenas por um ponto na superfí­
cie de Júpiter, um ponto bastante distante do Equador,
aproximadamente a 10° de longitude. Exatamente como
se se tratasse de um posto de emissão...
“Sem dúvida — escreveu o dr. Smith com muita
sabedoria — nós não podemos ainda afirmar que existe
em Júpiter uma estação emissora criada e explorada por
seres inteligentes.”
Afirmar? No sentido filosófico do termo, é claro
que não. No entanto, outro eminente cientista, o pro­
fessor Sagan, acredita que Júpiter é habitável.
A que conclusão chegar? Antes de mais nada, im­
põe-se a maior prudência. Se somos inundados de sinais
de rádio emitidos por seres inteligentes, eles não estão
provavelmente na freqüência adequada. Será preciso
talvez um outro acidente do tipo que narramos e que en­
volveu o planeta Júpiter, para que os possamos desco­
brir.
Com efeito, já se tem verificado que o planeta gi­
gante Saturno não emite faixas de ondas semelhantes
às que procedem de Júpiter.
Também não se tem detectado ondas semelhantes
vindas de Urano ou de Netuno, de Marte ou de Mer­
cúrio.
Ondas desse tipo foram descobertas por John D.
Kraus, procedentes de Vênus.

57
Contudo, outros pesquisadores, ao que parece, não
as localizaram. Aí também, talvez se trate de um aci­
dente feliz. Enquanto se espera, a misteriosa fonte de
Júpiter continua a emitir para a Terra sempre às nove
horas cinqüenta e cinco minutos e trinta segundos. Espe­
ra-se que essa emissão seja um dia interrompida por um
dos satélites de Júpiter, durante um eclipse, no momen­
to em que ele passar exatamente entre essa fonte e nós,
o que permitirá aos astrônomos determinar com preci­
são a posição da fonte.
Essa aventura científica demonstra o interesse que
existe em examinar, com o maior cuidado, os registros
que possuímos de sinais de rádio ou de parasitas de pro­
cedência desconhecida.
A terceira aventura da radioastronomia é a da Su-
pernova, na nebulosa de Caranguejo.
Ela começa por algumas linhas de uma velha crô­
nica chinesa correspondente ao nosso ano de 1054:
No segundo dia cíclico, do quinto mês, do pri­
meiro ano do Chih-Ho de Sung, uma estrela veio nos
visitar. Ela surgiu a sudoeste do céu, na região dos
Tien-Kuan e durou mais de um ano.”
E mais adiante:
“No sexagésimo dia cíclico, do décimo mês, do
segundo ano de Chung-Ping, da dinastia de Han, a es­
trela que veio nos visitar tinha cinco cores diferentes
e começava a diminuir. Ela desapareceu no sexto mês
do ano seguinte.”
A astronomia óptica moderna identificou os restos
da explosão dessa estrela com uma nebulosa luminosa,
descoberta pelo astrônomo francês Messier, em 1784,
na constelação do Touro e a que Messier deu o nome
de nebulosa do Caranguejo.

58
Essa nebulosa ainda é luminosa em nossos dias.
Os astrônomos ópticos a estudam com grande cuidado.
Em 1947, John Bolton, em Sydney, tentou detec­
tar ondas de rádio emitidas pela nebulosa do Carangue­
jo, e as localizou sobre toda uma gama de ondas de um
centímetro a dez metros.
Da mesma forma que a luz visível emitida por esse
corpo (que está a aproximadamente 4.000 anos-luz dis­
tante de nós) as ondas de rádio emitidas pela nebulosa
do Caranguejo são polarizadas, isto é, elas não vibram
mais do que em um plano. Nas ondas de rádio esse fe­
nômeno é difícil de detectar. Foi preciso, para pô-lo em
evidência, que a Marinha norte-americana elaborasse
um reflector parabólico de quinze metros de diâmetro,
de alumínio sólido, construído com muita precisão.
O fato de que se tenha podido detectar ondas de rá­
dio vindas dos restos de uma Supernova é importante.
O fato de que essas ondas sejam polarizadas o é
ainda mais, porque essa polarização parece mostrar que
elas são emitidas por eléctrons acelerados, de veloci­
dade idêntica à da luz e curvados para um campo mag­
nético.
Esse fenômeno já foi observado em máquinas de
cindir os átomos, o síncrotron.
Parece, portanto, que depois da catástrofe que des­
truiu a Supernova, os eléctrons provenientes dos átomos
que a constituíam afastam-se dela a uma velocidade
próxima à da luz. Sua trajetória não é retilínea, mas
curva. Exatamente porque essa trajetória é curva é que
a radiação síncrotron é emitida.
A medida da polarização dessa radiação permite
deduzir a intensidade do campo magnético que a pro­
duz. Essa intensidade é bastante considerável e os resí­

59
duos da Supernova parecem se conduzir como uma for­
midável máquina eletrônica.
Empregou-se muita engenhosidade no estudo des­
sas ondas emitidas pela nebulosa do Caranguejo.
Conseguiu-se, em particular, observar um fenôme
no raro e precioso: o eclipse da nebulosa do Caranguejo
pela Lua. Passando diretamente entre a Terra e a ne­
bulosa do Caranguejo, a Lua provoca a diminuição pro­
gressiva da emissão o que permite traçar, ao mesmo
tempo, o mapa em luz visível e o mapa-rádio da nebu­
losa.
Um pouco mais tarde, os soviéticos chegaram a
confirmar a polarização da radiação emitida pela nebu­
losa do Caranguejo em ondas de comprimentos dife­
rentes das captadas pelos norte-americanos.
O fenômeno parece agora bem estabelecido, obser­
vando-se em ondas de um centímetro a dez metros. Te­
mos assim um magnífico exemplo de fonte de radiação
natural cuja explicação pode servir de ponto de compa­
ração com outras fontes de radiação das quais ainda
não conhecemos a origem.
Essas fontes de radiação são muito numerosas no
espaço. Algumas puderam ser identificadas como sendo
restos de Supernova. É o caso da estrela Cassiopéia, si­
tuada a aproximadamente dez mil anos-luz de nós, no
interior de nossa própria galáxia.
Ela parece ter explodido em 1702. Na época não
foi observada ao telescópio, uma vez que não dispú-
nhamos de instrumentos suficientemente poderosos.
Também se pôde reconhecer como um resto de Su­
pernova, a nebulosa IC 443, que se apresenta ao te­
lescópio sob a forma de um anel simétrico.
60
Os astrônomos esperam observar, um dia, uma Su-
pernova em nossa própria galáxia. Até o presente, suas
esperanças não se concretizaram.
Contudo, outras fontes de radiação, sobretudo as
extragalácticas, são mais estranhas e mais difíceis de
identificar. Algumas entre elas se situam a distâncias
que atingem oitocentos milhões de anos-luz.
Ryle, em Cambridge, acreditou ter identificado
fontes de radiação a distâncias de quatro bilhões e meio
de anos-luz (fonte de radiação 3 C 295 na constelação
de Bootes).
Ainda hoje se discute sobre essas medidas que não
são diretas, mas o resultado de deduções baseadas em
hipóteses bastante discutíveis.
É muito provável que entre as radiações que nos
chegam de outras galáxias, algumas sejam emitidas por
seres inteligentes, uma vez que cada galáxia contém,
possivelmente, vários milhões de planetas habitados.
As distâncias entre as galáxias são grandes demais
para que possamos distinguir essas radiações do ruído
de fundo produzido por misteriosos fenômenos estelares.
Que forças seriam essas, capazes de produzir emis­
sões de rádio de tal modo potentes que chegam até nós
vindas de distâncias que atingem bilhões de anos-luz?
As misteriosas fontes de radiação no espaço têm
uma potência difícil de calcular com precisão. Cálculos
aproximados mostram, por exemplo, que a fonte Cyg-
nus A, na constelação do Cisne, emite com uma po­
tência de 1031kw.
É mais do que emitem, em luz-Sol, em luz-calor e
ondas de rádio, todas as estrelas de nossa galáxia reu­
nidas.
Dessa prodigiosa potência, que se expande em
todo o universo, apenas 10 watts chegam à Terra. Desses

61
lOwatts, um bom receptor, bastante sensível, pode
captar apenas 10’13watts.
Nada há de surpreendente nisso. Essa fonte está a
quinhentos milhões de anos-luz da Terra, e se afasta
de nós à velocidade prodigiosa de 16.830 quilômetros
por segundo, enquanto os mais rápidos dos Sputniks
não se deslocam senão a uma velocidade de vinte quilô­
metros por segundo.
Uma viagem no espaço é também uma viagem no
tempo, uma vez que nada se desloca com maior velo­
cidade do que a luz. Alguma coisa aconteceu há qui­
nhentos milhões de anos na Constelação do Cisne. Um
acontecimento formidável, uma catástrofe sem prece­
dentes. Mas, que teria acontecido realmente?
Alguns cientistas como Mac Crea acreditam que
nem mesmo se deve procurar elucidar o que se passa a
tais distâncias no tempo e no espaço.
Outros, mais ambiciosos, levantam hipóteses. A
mais famosa dessas hipóteses foi sugerida por um escri­
tor de ficção científica, o dr. Edward E. Smith.
Em 1940, ele propôs, como explicação, uma coli­
são entre duas galáxias.
Esse acontecimento quase não perturbaria a vida
dos habitantes dos planetas que giram em torno das
estrelas nas galáxias em colisão. Os gases interestelares
das duas galáxias que se chocaram emitiram uma prodi­
giosa quantidade de ondas de rádio.
Essa hipótese conseguiu grande número de adeptos,
apesar de ter tido sua origem na ficção científica.
Em certos casos, a observação parece mostrar que
houve, com efeito, colisão de galáxias.
Entretanto, outras hipóteses foram aventadas. Fa-
lou-se da possível colisão de uma parte de nosso uni­

62
verso com fragmentos de um outro universo, compos­
tos de antimatéria. Destruindo-se ao contato recíproco
a matéria e a antimatéria provocariam o grito das pro­
fundezas captado por esses ouvidos das trevas: os ra­
diotelescópios.
Alguns consideram que essas colisões são possíveis
mesmo na Terra.
O misterioso meteorito siberiano de 1908 seria
composto de antimatérias e viria de nosso universo. Isso
é bem possível.
O soviético Naan acredita que essas colisões entre
fragmentos de universo são improváveis porque o outro
universo se desloca em sentido contrário no tempo, di­
rigindo-se do futuro para o passado.
Trata-se exatamente de hipótese difícil de demons­
trar, mas fascinante para a inteligência.
Uma sugestão ainda mais extraordinária acaba de
ser feita pelo norte-americano Geoffrey R. Burbidge.
O professor Burbidge trabalha no Observatório de
Yerkes, da Universidade de Chicago.
A idéia lhe veio observando uma galáxia distante
na constelação de Centauro. Essa galáxia tem a desig­
nação de NGC 5128. Ela emite 16 1030kw de energia
de rádio. Isso corresponde a aproximadamente um mi­
lhão de bilhões de grandes bombas atômicas explodindo
por segundo. É, portanto, uma das fontes de radiação
mais potentes do universo.
Essa galáxia se encontra a dezesseis milhões de
anos-luz de nosso planeta. Burbidge a observou muito
particularmente e deduziu, dessa observação, uma idéia
extraordinária: As fontes de radiação seriam causadas
por uma reação em cadeia destruindo toda uma galáxia.

63
Uma estrela explodiría, e essa explosão engendra­
ria a desintegração de algumas outras estrelas que, por
sua vez, provocaria a desintegração de outras. Cento e
cinqüenta anos decorreríam entre cada uma das explo­
sões. A inconcebível catástrofe se prolongaria pelo pe­
ríodo de vários milhões de anos.
O espírito recua diante de concepções dessa enver­
gadura.
A idéia de uma pilha atômica no espaço, tão grande
como a Via-láctea, a idéia de uma reação em cadeia
queimando estrelas e não núcleos de urânio, paralisa
logo de início a imaginação.
No entanto, segundo cientistas merecedores de cré­
dito, seria essa a explicação das fontes de radiação no
espaço.
Explicação fantástica, sem dúvida, mas segundo
Teilhard de Chardin: “Na escala do universo, apenas o
fantástico tem a probabilidade de ser verdadeiro”.
Qualquer que seja a origem das fontes de radiação,
o certo é que as emissões feitas por seres inteligentes
vindas do universo estão em concorrência com elas.
Se houvesse seres inteligentes na galáxia NGC
5128 e se, há dezoito milhões de anos-luz essas inteli­
gências emitiram sinais anunciando que seres vivos exis­
tem nos planetas das estrelas dessa galáxia, esses sinais
são abafados por um ruído infernal sobre as ondas de
rádio, ruído produzido pela catástrofe que destruiu essa
galáxia.
Portanto, não há esperanças de detectar sinais in­
teligentes provenientes daquilo a que um escritor de
ficção científica, como Francis Carsac, chamaria “a ga­
láxia maldita”.

64
Felizmente o universo é grande e pode-se esperar
receber sinais de outras galáxias e, sobretudo, de outras
estrelas de nossa própria galáxia como, por exemplo, a
Epsilon Eridani e a Tau Ceti, ambas situadas à distân­
cia de cerca de vinte anos-luz.
Inteligências de potência igual à nossa, com meios
de telecomunicação semelhantes aos nossos, poderíam
fazer chegar até nós mensagens zindas de distâncias
dessa ordem.
Existe ainda uma outra possibilidade de receber
ou de transmitir tais mensagens, instalando o emissor
em um foguete que seria lançado para fora do sistema
solar.
É preciso, para isso, imprimir-lhe velocidade da
ordem de 50 quilômetros por segundo. Essa operação
seria feita em duas etapas.
Pesando o foguete menos de uma tonelada, seria
inicialmente lançado ao espaço com foguetes químicos
ordinários que se desprenderíam pouco a pouco. O últi­
mo estágio prosseguiría na rota, afastando-se cada vez ’
mais do Sol.
Então, por-se-ia em funcionamento a mais recente
das invenções espaciais: o motor elétrico para foguetes.
Esse motor elétrico não é uma invenção da ficção
científica. A sociedade norte-americana Republic Avia-
tíon Corporation fez uma demonstração pública desse
motor, em setembro de 1961. Ele projeta no espaço par­
tículas de azoto, cuja velocidade pode atingir 500.000
quilômetros por hora.
Essas partículas são aceleradas por um raio artifi­
cial: descargas emitidas periodicamente por um conden-
sador elétrico carregado a 3.000 vults. Esse condensa-
dor é alimentado por acumuladores. No espaço, esses

65
acumuladores tornarão a ser carregados por pilhas so­
lares.
Antes de sair do sistema solar, o foguete terá
acumulado, assim, energia suficiente para atingir, ao
fim de alguns anos, velocidade da ordem de 100 quilô­
metros por segundo.
A seguir, os acumuladores se esgotarão. Levado
pelo seu próprio impulso, o foguete prosseguirá em di­
reção a uma outra estrela.
Uma vez chegando nas proximidades dessa estrela,
baterias solares carregarão de novo os acumuladores
que, ao atingir certa voltagem, porão em funcionamento
um potente emissor de rádio instalado a bordo do fo­
guete.
Então ele enviará para todos os planetas da outra
estrela (se esses planetas existirem) mensagens em ondas
de 21 centímetros de comprimento.
Se forem recebidas por seres inteligentes, capazes
, de se deslocar no espaço, essas mensagens os conduzi­
rão à captura do foguete. Aí eles encontrarão microfil­
mes, objetos em relevo, registros magnéticos, dando a
descrição completa da Terra e de seus habitantes.
Estará estabelecida a comunicação interestelar, em
um único sentido, é verdade.
Uma experiência desse gênero está quase ao nosso
alcance.
O cientista que dirigiu a fabricação do motor elé­
trico norte-americano, o professor Alfred E. Kunen,
determinou que se fizessem experiências do envio de
foguetes elétricos ao espaço desde 1962, e para Vênus
e Marte em 1963 e 1964.
Os soviéticos também trabalham no foguete elé­
trico, que cogitam de lançar brevemente ao espaço.

66
Assim que o motor elétrico tiver sido submetido a
provas, poder-se-á pensar na propulsão dos foguetes elé­
tricos para fora do sistema solar.
Sem dúvida, o impulso dos motores elétricos atuais
é fraco: alguns gramas apenas. Mas é contínuo, o que
permite um constante aumento da velocidade.
Ao fim de alguns anos, o foguete terá saído do sis­
tema solar e, ao fim de alguns séculos, terá atingido as
estrelas. É um meio de comunicação mais lento mas
mais seguro que o envio direto de mensagens através
do TSF.
Uma nova técnica, em pleno desenvolvimento —
a eletrônica molecular — permite construir aparelhos
de rádio cada vez menores. Já foram construídos recep­
tores visíveis apenas ao microscópio, e emissores que
caberíam num dedal. E a eletrônica molecular data ape­
nas de há cinco anos.1
Imaginemos que o progresso nessa direção se es­
tenda sobre alguns milhares de anos. Chegaremos então
a emissores e registradores tão pequenos, que um con­
junto compreendendo um emissor e um eletrofone re-
gistrador, não será maior do que um grão de poeira.
Poder-se-á então fabricar, em série, milhares desses mi-
croemissores e semeá-los no espaço com o auxílio de
foguetes que explodiríam.
Esses microemissores se apresentarão como grãos
de germânio, que têm apenas meio milésimo de milí­
metro.
Eles não teriam sido fabricados por uma máquina,
mas os faríamos surgir como se faz brotar uma planta,
provocando o crescimento de um cristal, em um meio
apropriado.
(1) Essa afirmação foi feita alguns anos atrás!

67
Trata-se de uma técnica já inteiramente elaborada.
No interior do grão ter-se-á modificado os átomos do
germânio pela adição de impurezas e pelo bombardeio
atômico, de modo que o conjunto do cristal funcione
ao mesmo tempo como registrador de informações,
captador de energia solar e gerador de ondas de rádio.
Tudo isso já foi feito em laboratório e mesmo na
indústria, mas em dimensões relativamente maiores.
Os microemissores semeados no espaço serão en­
tão arrastados ao mesmo tempo pela pressão dos raios
luminosos e do raios invisíveis emitidos pelo Sol, pelas
estrelas e pelos ventos cósmicos.
Isso porque existem, no espaço, e disso estamos
certos agora, ventos e tempestades em escala cósmica.
São turbilhões magnéticos e fluxos de eléctrons capazes
de arrastar a matéria. Quando atingem a Terra, esses
ventos cósmicos provocam as auroras boreais, as tem­
pestades elétricas que interrompem as comunicações,
e talvez mesmo os ciclones.
Meu eminente amigo Fritz Zwicky acaba de de­
clarar em sua exposição à Conferência de Bruxelas que
os ventos cósmicos são por vezes suficientemente fortes
para varrer do seu caminho, no espaço, as próprias
estrelas.
A pressão das radiações e os ventos cósmicos vão
arrastar os microemissores para além dos confins do
sistema solar, em direção a outras galáxias.
Desse modo, ter-se-á realizado, sob uma outra for­
ma-, a idéia de um cientista alemão do século XIX que
propunha enviar aos marcianos mensagens gravadas
com um micromanipulador sobre minúsculos grãos de
metal que se lançariam ao espaço com a ajuda de um
canhão.

68
Apresentada sob essa forma, parecería mais uma
fantasia do que uma idéia razoável e realizável. Mas,
com microemissores que não exigiríam nenhuma ener­
gia para a propulsão, praticamente eternos, esse proje­
to, sem dúvida seria viável. Teria sido ele tentado por
outras inteligências?
Pessoalmente acredito que sim, embora eu seja ex­
tremamente cético quanto aos discos voadores e mais
particularmente quanto àqueles que transportam seres
que saem ao exterior para abraçar os guarda-barreiras.
Estou convencido de que, um dia, examinando-se
ao microscópio poeiras cósmicas coletadas no espaço
por um satélite ou um foguete, veremos microobjetos fa­
bricados por seres inteligentes, emitindo sinais.
Como a emissão de sinais pelo rádio, a projeção de
microemissores ao espaço será, até certo ponto, um ato
de fé.
Aqueles que fizerem essas experiências acreditarão
que existem, em algum lugar, seres inteligentes capazes
de os localizar, de lhes dar resposta e, eventualmente,
de lhes fazer uma visita.
Certos cientistas avançados, como, por exemplo
Jean Charon,1 pensam que a velocidade da luz não cons­
titui uma barreira intransponível.
Um minucioso exame das leis da Relatividade per­
mite demonstrar que se pode viajar da Terra às estrelas
mais distantes em tempo relativamente reduzido.
Um cientista alemão, o professor Sãnger, calculou
que se pode ir, em vinte e sete anos, até a grande nebu­
losa de Andrômeda.
í1) Ver seu livro: La Connaissance de 1’Univers.

69
Se esses precursores tiverem razão, o envio de men­
sagens de rádio ou de microemissores, ou ainda de fo­
guetes equipados com emissores, permitiría atrair para
nós a atenção de seres inteligentes superiores e capazes
de nos atingir.
Mas, seria preciso chamar a atenção para nós?
Alguns cientistas não são dessa opinião. Eles con­
sideram que inteligências superiores correríam o risco
de nos vir colonizar.
Eles acreditam também que esse contato nos des­
truiría, provocando nos homens um gigantesco comple­
xo de inferioridade.
Uma coisa é certa: a comunicação com outras in­
teligências será o acontecimento mais importante da
história humana. E é por isso que devemos permanecer
à escuta, enquanto esperamos poder lançar sinais ao
espaço.
No momento, a tentativa norte-americana conhe­
cida sob o nome de Projeto Ozma, não deu qualquer
resultado. Mas a experiência, que durou apenas alguns
meses, vai ser repetida com meios mais aperfeiçoados.
Acredito, por outro lado, que os registros de ondas
procedentes de outros planetas, em particular de Vênus
e de Júpiter, assim como registros vindos do espaço,
provavelmente contêm mensagens.
Até o presente, entretanto, nenhum exame foi feito
nesse sentido, pois os astrônomos não acreditam, na
maior parte, na possibilidade de outra vida inteligente
no espaço.
Por esse motivo é que nada foi tentado no centro
francês de Nançay, em Sologne.
70
Dia virá em que certos radioastrônomos já não
terão vergonha de confessar que se interessam pela vida
no espaço e pela possibilidade de receber mensagens.
A própria União Racionalista já não considera fan­
tástica essa hipótese e dois pesquisadores, Pierre Guérin
e Lionel Laming, fizeram recentemente, perante a
assembléia da União, várias conferências sobre as men­
sagens interestelares.
Pode-se apresentar uma objeção às idéias expostas
neste capítulo: se existem seres mais inteligentes do que
nós no espaço, talvez eles tenham deixado de lado o
TSF para empregar meios de comunicação mais efi­
cazes.

71
IV

Pela Terceira Janela entra o Desconhecido


í
Daqui por diante esta página
onde nada mais se inscreve.
Saint-John Perse

“Neutrino: partícula estável de massa muito pe­


quena (menor que 5.10"3), de carga nula e sujo spin é
igual a 1/2. Sua existência foi sugerida em 1927 por
Pauli para solucionar certas dificuldades que surgem
na explicação dos espectros da desintegração beta.
Fermi elaborou, em 1934, a teoria dos espectros
beta baseada na existência dessa partícula. O neutrino
não dá senão pequena interação com a matéria, o que
torna difícil sua detecção experimental. A prova expe­
rimental não pode ser feita a não ser quando se dispõe
de um fluxo importante de neutrinos.
Os reatores de grande potência são, no momento,
melhores fontes de neutrinos. Com efeito, os nêutrons
que eles produzem em abundância são instáveis: nêu­
tron = próton + négaton + neutrino (o neutrino é geral­
mente designado pela letra grega nu). Procura-se então
identificar os nêutrons produzidos pela reação: neutrino
+ próton = nêutron + posítron.

73
“A secção eficaz para essa reação é de aproxima­
damente 6.10-44 cm2 (as secções eficazes para as reações
nucleares são, em geral, da ordem de 10-26 cm2). O pro­
blema é, portanto, detectar os dois produtos (nêutron
e posítron) característicos da interação do neutrino. Uti­
liza-se para isso um imenso recipiente contendo um cin-
tilador líquido. O posítron, quando produzido, não tarda
a encontrar, no cintilador, um négaton com o qual dá,
por desintegração, dois fótons gama de 0,51 MeV cada
um e que são emitidos em direções opostas. Os fótons
gama são em geral absorvidos no cintilador, dando nas­
cimento a um impulso nos fotomultiplicadores que cer­
cam o líquido. Por outro lado, o cintilador líquido é
carregado de cádmio. Assim, o nêutron que deve ser
produzido ao mesmo tempo que o posítron será, com cer­
teza e muito rapidamente, absorvido (alguns microsse-
gundos) para dar nascimento a um raio gama (113CD +
+ n = 114 Cd + gama) que, alguns microssegundos mais
tarde, produzirá um novo impulso no fotomultiplicador.
O sistema de detecção é ensaiado com o reator parado.
O número de coincidências retardadas, observado quan­
do o reator está em funcionamento, é maior, dando
assim prova manifesta da existência do neutrino como
partícula livre.” Essa definição concisa e precisa, pro­
cedente do excelente dicionário nuclear redigido por
M. Jean Combe para a revista Industries Atomiques
esconde uma das realidades mais fantásticas da ciência
moderna.

O neutrino é o nada em movimento, um nada que


se inscreve em uma página. Ele tem tal potência de
penetração que uma muralha de chumbo com a espessu­
ra de um milhão de anos-luz não bastaria para deter

74
completamente o seu fluxo. No entanto, as experiências
têm demonstrado que o neutrino existe.
Os detectores de neutrinos, exatamente complexos
e delicados, são suscetíveis de aperfeiçoamento.
Quando se percebe a distância percorrida no mo­
mento em que a eletrônica deu um salto do detector de
Branly com seu unificador de limalha, ao receptor mo­
derno, constituído por rubis sintéticos mergulhados em
hidrogênio líquido, temos o direito de imaginar que
aperfeiçoamentos do mesmo alcance serão introduzidos
pelos detectores de neutrinos.
Cientistas de todo o mundo trabalham na fabrica­
ção desses detectores e pode-se prever que serão bem
sucedidos.
Imaginemos um vídeo de televisão sobre o qual sur­
ge uma mancha luminosa correspondente a uma fonte
de neutrinos. Esse aparelho, que torna visíveis os neu­
trinos, tem propriedades telescópicas. É sensível aos
neutrinos procedentes de uma certa direção, determi­
nada com grande precisão, por exemplo, um milímetro
de segundo de arco.
Que veremos com esse telescópio?
O Sol, bem entendido. Nosso Sol, como todas as
estrelas, é um formidável gerador termonuclear e perde
energia sob a forma de neutrinos.
Girando nosso telescópio de modo a fazê-lo per­
correr o espaço, veremos também pilhas nucleares em
funcionamento e estoques de hidrogênio superpesado
para bombas termonucleares. As pilhas perdem até 8%
de energia sob a forma de neutrinos. O trício, ou hidro­
gênio superpesado, é um emissor beta que fabrica neu­
trinos. Essas fontes terrestres de neutrinos nós as vere­

75
mos mesmo nos antípodas, mesmo através de toda a
espessura sólida do globo terrestre!
Isto porque os neutrinos atravessam os corpos só­
lidos com mais facilidade do que aquela com que a luz
atravessa o ar mais límpido. Nada pode detê-los.
Este não é o momento de descrever a imensa re­
volução social que o telescópio de neutrinos produzirá
em nossa Terra. Sua invenção levará, finalmente, ao
desarmamento, pois, nenhuma pilha, nenhuma bomba,
mesmo profundamente enterrada, poderá lhe escapar.
Utilizando o telescópio de neutrinos, Comissões
Especiais da Organização das Nações Unidas poderão
controlar qualquer operação de desarmamento.
Voltado para o espaço, o telescópio de neutrinos
vai provavelmente revelar fontes móveis de neutrinos:
serão as naves interplanetárias, vindas da Terra que
explorarão o sistema solar.
Examinemos agora, com o telescópio de neutrinos,
a Lua e os planetas. Se neutrinos são emitidos em gran­
de quantidade por um desses astros, poderemos estar
certos de que nele existe vida, pois não pode haver liber­
tação natural de energia nuclear e de neutrinos em um
astro frio como a Lua ou os planetas.
Se localizarmos pilhas atômicas ou geradores termo­
nucleares na Lua, em um planeta ou um satélite, pode­
remos estar certos de que seres inteligentes que não o
homem, aí se desenvolvem.
Imaginemos que esse telescópio de neutrinos, ainda
mais aperfeiçoado, chegue a captar emissões proceden­
tes de outras estrelas, de outras galáxias, até chegar ao
mesmo ponto de desenvolvimento técnico que a astro­
nomia da luz ou a radioastronomia.

76
Antes de mais nada, veremos o interior das estre­
las. Cada estrela possui um núcleo denso que liberta
energia atômica. Um fluxo de neutrinos dele se escapa.
Se pudermos captar e analisar esse fluxo, medir sua
quantidade, energia e outras propriedades que ainda
não conhecemos, teremos, sem dúvida, realizado o im­
possível: a observação direta do interior das estrelas.
Há vinte e cinco anos, qualquer astrônomo sério
teria afirmado que essa observação era impossível, mas
a ciência caminha muito depressa. E pode-se admitir,
agora, que antes de cinqüenta anos os telescópios de
neutrinos nos revelarão o que se passa no interior do Sol,
assim como das estrelas mais distantes.
Será uma extraordinária revolução, pois as estre­
las dispõem de vários mecanismos de libertação de ener­
gia. Quando tivermos atingido e compreendido esses me­
canismos, poderemos então construir Sóis artificiais aci­
ma de nossa Terra, em torno dela ou de satélites.
Imaginemos que esse telescópio permite distinguir,
nas proximidades dessa formidável fonte de neutrinos,
que é uma estrela, fontes mais fracas.
Poderemos apostar que essa fonte é uma pilha atô­
mica ou um gerador situado em um planeta, sobretudo
se ela se desloca em torno da estrela.
Quando uma fonte de luz ou qualquer outra radia­
ção se desloca, pode-se perceber esse movimento quan­
do se conhece sua cor, isto é, a freqüência da radiação
no momento em que ele se produz.
Essa cor muda quando a fonte de radiação se des­
loca em relação ao observador: é o que se chama o efei­
to de Dõppler. Esse efeito existe tanto para a luz como
para os raios-X, para as ondas de TSF como para os
raios ultravioletas. É uma propriedade geral das radia­
ções eletromagnéticas.

77
Nada de análogo parece existir no que concerne
ao neutrino. Mas a física do neutrino está dando os
primeiros passos e é provável que um equivalente ”neu-
trínico” do efeito de Dõppler seja descoberto.
Talvez assim se encontre o meio de identificar a
reação da qual decorre o neutrino: ter-se-á, desse modo,
provado que existem diversas espécies de neutrinos que
não são idênticas entre si. Nos dois casos, estará pre­
parado o caminho para uma descoberta extraordinária.
Suponhamos que nosso telescópio de neutrinos lo­
caliza no espaço, longe de qualquer estrela, uma fonte
de neutrinos. A observação mostrará que essa fonte se
desloca muito rapidamente no espaço. Teremos então a
prova de que o espaço é povoado de máquinas, de naves
interplanetárias, de “astronaves” como dizem os autores
de ficção científica, que se movimentam entre as estrelas.
Saberemos então, sem qualquer dúvida, que exis­
tem no espaço infinito seres mais avançados do que nós,
que conquistaram as grandes distâncias e se deslocam
em máquinas acionadas pela energia nuclear.
Será preciso, então, tentar enviar-lhes sinais: pode­
remos utilizar os neutrinos para esse fim?
Estamos em condições de produzir feixes de neutri­
nos graças a diversas reações nucleares. Mas não sabe­
mos, no momento, orientar os seus feixes em uma deter­
minada direção: não possuímos projetores de neutrinos.
E não parece que possamos fabricar, com a matéria tal
como a conhecemos, espelhos para neutrinos, ou ante­
nas direcionais que os possam concentrar.
Os neutrinos atravessam os corpos e não são nem
rafletidos nem refratados. Talvez possamos dirigi-los
quer com a ajuda de campos de força apropriados, quer
graças a feixes de partículas que reajam de tal modo

78
que os neutrinos sejam emitidos com um ângulo cal­
culável de avanço com os dois feixes. Isto será a apli­
cação de um princípio científico: o da conservação da
quantidade do movimento.
Já sabemos produzir poderosos impulsos de neu­
trinos. Modula-se o campo elétrico que emite feixes de
partículas a fim de que estas sejam produzidas durante
um milionésimo de segundo. A produção se interrompe.
Recomeça-se. Se o feixe de partículas produz neutrinos
no momento em que atinge o alvo, o jato de neutrinos
também terá impulsos.
Daí por diante poderemos enviar, sobre um feixe
de neutrinos, os traços e pontos do alfabeto telegráfico
morse ou os sinais da linguagem universal lincos.1
Nada impede, portanto, que se enviem ao espaço
raios de neutrinos diferentes daqueles que a natureza
pode produzir; sinais enviados indefinidamente ao es­
paço, atravessando a poeira cósmica, os planetas e as
estrelas, acionando, à sua passagem, detectores suficien­
temente sensíveis.
Seres assim inteligentes devem ser numerosos no
espaço, mas não estamos em condições de captar suas
mensagens. Nossos detectores de neutrinos são pouco
sensíveis, embora já tenham determinado a sua exis­
tência.
No futuro, provavelmente, utilizaremos para esses
detectores núcleos extremamente instáveis, artificiais,
de peso atômico elevado. Esses núcleos, à passagem de
um neutrino, se desintegrariam, libertando imensas ener­
gias catalisadas pela ação dos neutrinos. Sua média de
vida será, portanto, muito fraca uma vez que sempre
existem neutrinos circulando através do espaço.(i)
(i) Ver página 149.

79
Entretanto, na presença de um feixe de neutrinos
mais intenso que a média de radiação cósmica esses
núcleos se destruiriam então mais rapidamente, reve­
lando, assim, a passagem do neutrino. Essa desintegra­
ção acionará diversos dispositivos de orientação e reve­
lará finalmente, que um feixe de neutrinos atravessou
o espaço onde o detector se encontrava.
Qualquer que seja a sensibilidade desse detector
fictício, será preciso colocá-lo longe do Sol, assim como
de qualquer pilha atômica, e lançá-lo no espaço, para
além de Plutão, a menos que o consigamos isolar por
meios ainda imprevisíveis, em todas as direções, salvo
aquela que se pretende estudar.
Uma vez que esse telescópio de neutrinos se en­
contra em boas condições (talvez nas proximidades do
zero absoluto) parece-me certo que ele detectará emis­
sões “inteligentes”.
Essas emissões poderão ser de três espécies:
1. ° — Geradores de energia atômica situados em
outros planetas do sistema solar ou em planetas de
outras estrelas.
2. ° — Os mesmos geradores deslocando-se rapi­
damente no espaço e utilizados para a propulsão da
nave cósmica interestelar.
3. ° — Emissões de neutrinos modulados. Não de­
vemos imaginar que esses sinais nos sejam destinados.
Tratar-se-ia, talvez, de uma ramificação feita pelos ho­
mens em um sistema de telecomunicações inteligentes
se estendendo sobre a galáxia.
Essas três hipóteses, ao que me parece, cobrem
todas as possibilidades da astronomia do neutrino.

80
Estamos, portanto, em condições de imaginar que,
em futuro próximo, poderemos ter uma prova absoluta
da existência de outros seres inteligentes no universo.
Não há nenhuma razão para que possamos afir­
mar que no universo existe só uma civilização, uma
vez que conhecemos a física do neutrino.
O professor Harlow Shapley está convencido de
que em nossa galáxia existem milhões de civilizações.
No raio de detecção de nossos instrumentos encon­
traremos dezenas de milhares, talvez centenas de mi­
lhares.
A astronomia da terceira janela se encontrará, en­
tão, diante de uma tarefa inconcebível para as outras
astronomias:
Ela estará em condições de traçar o mapa do céu
inteligente.
Teilhard de Chardin já havia sonhado com isso: os
astrônomos do neutrino estarão em condições de tomar
um mapa do céu e apontar, nessa carta, as regiões onde
a vida inteligente dominou a energia nuclear.
Provavelmente, eles encontrarão radiações indi­
cando que astronaves partiram, há milhões de anos, para
explorar as estrelas vizinhas.
Do mesmo modo o mapa do globo terrestre foi assi­
nalado, pelos historiadores da navegação a vela, por
traços de caravelas navegando a partir da Europa para
atingir “no fundo dos oceanos as novas estrelas”.
O neutrino, como todas as outras formas de ener­
gia que caminham com a velocidade da luz, representa
o passado da galáxia inteligente que vai, assim, nos
ser revelado.
Eu não sou pessimista e não creio que uma civili­
zação que inventou as bombas nucleares deva, necessa­
riamente, destruir-se a si mesma.

81
Penso, ao contrário, que seres que conheciam, há
dez mil anos, o neutrino e a energia nuclear, continua­
ram a se desenvolver e devem ainda existir.
Uma vez traçado o mapa do céu inteligente, seria
útil ao homem fazer sinais ou tentar enviar astronaves,
pilotadas ou teleguiadas para os locais onde a vida e a
inteligência se tiverem manifestado a nós pela emissão
de neutrinos.
Alguns astrônomos acreditam que esse foco de in­
teligência existiría no centro de nossa galáxia. As estre­
las, aí, são mais próximas entre si que em nossa região,
o que facilitaria as viagens interestelares. Elas são tam­
bém mais antigas e os habitantes de seus planetas teriam
tido mais tempo para evoluir.
Fora do centro de nossa galáxia, o norte-americano
Allan Sandage parece ter encontrado alguns grupos de
estrelas muito antigas, das quais algumas chegam a ter
até vinte e oito bilhões de anos.
Seria interessante saber, e espero viver suficiente­
mente para estar ainda aoii, se o mapa do céu inteli­
gente corresponde à distribuição das estrelas mais anti­
gas de nossa galáxia.
Durante muito tempo os físicos duvidaram da pró­
pria existência dos neutrinos. Acabaram por ter uma
primeira prova de sua existência em 1953. Entre os
cientistas aos quais se deve essa prova, é preciso citar,
sobretudo, os norte-americanos Reines e Cowan.
Em 1956, dois chineses, trabalhando nos Estados
Unidos, Yang e Lee, fizeram uma descoberta que lhes
valeu o Prêmio Nobel: a “não-conservação da parida­
de”. Ela consiste em um conjunto de fórmulas matemá­
ticas complexas. Qualquer tradução dessas fórmulas em
linguagem corrente implica, necessariamente, uma de­

82
formação. A tradução que vamos apresentar se aproxi­
ma, entretanto, da verdade:
A descoberta de Yang e Lee significa que os neutri­
nos não têm imagem no espelho. Eles se comportam
como os fantasmas e os vampiros das lendas.
Se colocarmos diante de um espelho uma luva da
mão direita, a imagem que vemos corresponde à luva
da mão esquerda. Acreditava-se que essa lei se aplicava
a todos os objetos do universo. Tinha-se mesmo demons­
trado que havia eléctrons “da mão direita” e eléctrons
“da mão esquerda”. Acreditava-se igualmente que ha­
via neutrinos “da mão direita” e neutrinos “da mão
esquerda”.
Mas os cálculos de Yang e Lee e as experiências
feitas por uma chinesa residente nos Estados Unidos, a
senhora Wu, provaram, de maneira irrefutável, que não
existem senão neutrinos da mão esquerda e que os neu­
trinos da mão direita não existem!
Se chegarmos alguma vez a detectar, com nossos
futuros telescópios de neutrinos, neutrinos da mão di­
reita, saberemos então que eles procedem de outro uni­
verso. Não de uma galáxia distante, mas de um univer­
so onde a matéria não é a mesma que em nosso universo,
e onde o espaço e o tempo também seriam diferentes.
Essa descoberta abalou toda a ciência. Ainda pros­
seguem os trabalhos nesse domínio. Estuda-se, em parti­
cular, as relações entre o neutrino e o tempo.
Se invertermos, pelo pensamento, o curso do tem­
po, dever-se-á chegar a neutrinos da mão direita. A me­
nos que o neutrino não reflita nenhuma imagem no espe­
lho do tempo, tal como não reflete no espelho do es­
paço ...
Após essas descobertas, foram organizadas nume­
rosas equipes de cientistas especializados em pesquisas

83
sobre os neutrinos. A mais importante dessas equipes
parece ser aquela que, na União Soviética, é dirigida por
Bruno Pontecorvo e Y. A. Smorodinsky. Eles resumi­
ram em um artigo,1 os resultados a que chegaram.
Os dois autores retomaram, cuidadosamente, no
plano teórico, a questão da interação dos neutrinos com
a matéria. Chegaram a resultados conhecidos e que já
citamos: normalmente, são necessárias imensas quanti­
dades de matéria para deter o neutrino.
A situação se modifica quando se considera os neu­
trinos de energia muito elevada.
Se a energia do neutrino é tão grande que ela pode
se materializar sob a forma de uma partícula especial, o
méson mu, essa conversão pode se operar com bastante
facilidade.
Esses autores tentaram fazer uma verificação ex­
perimental, o que não foi fácil, pois os raios cósmicos
fabricam igualmente mésons mu quando dissipam sua
energia na matéria. Os dois cientistas tiveram de traba­
lhar a grande profundidade, sob a terra, onde não che­
gam os raios cósmicos.
Desse modo, detectaram neutrinos cuja energia
ultrapassa várias centenas de milhões de eléctrons-volts.
Pode-se chegar, então, à conclusão de que a quanti­
dade de neutrinos no universo é considerável, e não se
exclui a possibilidade de que a quantidade de energia
transportada no neutrino seja da mesma ordem que a
quantidade de energia contida na matéria sólida, nos
átomos e nas estrelas do universo. Existiría então, ao
lado do universo, um segundo universo constituído de
neutrinos.(i)
(i) Joumal de la Physique théorique et expérimentale, 1961, t. 41,
vol. 7.

84
Pontecorvo e Smorodinsky chegaram assim à con­
clusão de que o neutrino é praticamente eterno. Trans­
correríam 1025 anos antes que um determinado neutrino
fosse absorvido pela matéria da galáxia. Isso significa
que uma mensagem levada por neutrinos não teria a
possibilidade de se perder.
Se ele não for absorvido por uma matéria sensibi­
lizada aos neutrinos e utilizada por. seres inteligentes
para fabricar detectores de neutrinos, a mensagem girará
em torno no universo fechado até o fim dos séculos. Isso
porque a cifra de 1025 anos corresponde a um tempo
mais longo que a duração de vida provável de nossa
galáxia.
Pontecorvo e Smorodinsky conseguiram mesmo cal­
cular a variação da densidade de neutrinos à medida
que o universo se dilata. Isso porque, segundo a teoria
do universo em expansão, o universo se dilataria cons­
tantemente tal como uma bolha de sabão.
Durante essas dilatações, a densidade dos neutrinos
diminuiría mais depressa que a densidade da matéria.
No raiar dos tempos, no momento em que nosso
universo começou a existir (o abade Lemaitre e Teilhard
de Chardin diríam: foi criado) a densidade dos neutrinos
era muito maior, de tal forma poderosa talvez, que sua
pressão sobre a matéria provocou a explosão que criou
o universo.
Poderosos meios foram postos, pelo governo sovié­
tico, à disposição dos pesquisadores. A física do neu­
trino progride rapidamente.
É provável que o telescópio de neutrinos venha a
nascer na URSS. Bem entendido, os cientistas de outros
países não estão inativos.
Em setembro de 1961, uma “conferência de cúpu­
la” de físicos se reuniu no Vermont, nos Estados Uni­

85
dos. Falou-se muito do neutrino. Chegou-se a propor a
criação de uma cidade internacional da Física, onde
seriam estudadas as perspectivas que se abrem para
além da energia atômica, sobretudo o neutrino.
Um dos participantes da Conferência, um norte-
americano, chegou a sugerir que essa cidade interna­
cional fosse criada em Berlim, fazendo-se com que suas
fronteiras ultrapassassem ao mesmo tempo Berlim Oci­
dental e Berlim Oriental o que reduziría a tensão in­
ternacional. ..
No momento, os dois grandes centros mundiais de
estudo do neutrino são os de Doubno, na União Sovié­
tica e o de Princeton, nos Estados Unidos.
Trabalhos experimentais também continuam a ser
feitos em outros pontos do globo: perto de Genebra,
no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares.
Os pesquisadores têm numerosos problemas a so­
lucionar, dos quais um dos principais consiste em saber
se existem vários tipos de neutrino.
Os neutrinos são produzidos tanto nas reações nu­
cleares (transformação do nêutron em próton, desinte­
gração beta), como no momento da transformação dos
mésons, partículas intermediárias entre o nêutron e o
próton.1
Contudo, nesses dois tipos de reação seriam pro­
duzidos os mesmos neutrinos?
Como podería haver aí vários tipos de partículas,
todas de massa nula, sem carga elétrica nem momento
magnético? A única distinção seria a rotação em torno
do eixo, mas todos os neutrinos giram no mesmo sen­
tido.
(x) Partículas de massa encontradas entre os prótons e os eléctrons;
são positivas, negativas ou neutras. Também chamadas mesótrons.

86
Se existem vários tipos de neutrinos, eles se distin­
guem por propriedades extremamente sutis, situadas na
própria fronteira da Ciência.
Se os neutrinos emitidos por uma pilha nuclear ou
por um gerador termonuclear não são os mesmos que
os produzidos por uma estrela; se um instrumento sensí­
vel os pode separar, seria fácil traçar um mapa do céu
inteligente sem ser embaraçado pelos neutrinos emitidos
pelas estrelas.
A resposta a essa questão será dada, em poucos
anos, pela experiêincia. Seria de desejar que ela
fosse positiva e estabelecesse a existência de vários tipos
de neutrinos.
Os neutrinos emitidos quer pela desintegração do
urânio, quer pela fusão dos hidrogênios pesados para
dar o hélio e energia, seriam diferentes dos outros neu-
trinos. Uma resposta desse gênero seria preciosa para
a humanidade, tanto no que concerne ao controle do
desarmamento na Terra, quanto à prospecção do céu.
As pesquisas efetivamente em curso nos Labora­
tórios e nos Institutos de Física teórica, permitem ter
uma vaga idéia do que poderá ser, um dia, o projetor de
neutrinos.
Um de meus confrades da Academia de Ciências
de Nova York publicou, em 1958, um trabalho que se
revelou dos mais importantes da Física moderna.1
O objetivo do trabalho de Grebe, perfeitamente
realizado é, ao que parece, fazer para as partículas ele­
mentares, o que já foi feito para os elementos químicos:
uma tabela periódica que dê suas propriedades e per­
mita descobrir as partículas desconhecidas.(i)
(i) Periodic Table for Fundamental Particles, J. J. Grebe, Nova
York, Academy of Sciences, Anais, pág. I, setembro, 1958.

87
Uma tabela desse gênero implica a existência de
uma pedra fundamental, única, a partir da qual são
construídas as partículas elementares.
Sabe-se que, para os elementos químicos, essa pri­
meira pedra é o núcleo, partícula elementar que nos
aparece sob um duplo aspecto, ora como próton, ora
como nêutron.
Mas o próprio núcleo não é mais do que uma das
trinta e sete partículas elementares da Física moderna.
O dr. Grebe acredita que essas partículas são fei­
tas de neutrinos.
Nessas condições, desintegrando a matéria, dever-
-se-ia poder criar poderosos impulsos de neutrinos.
Ora, nas gigantescas máquinas de dividir os áto­
mos como existem na Suíça, na URSS e nos Estados
Unidos (a máquina suíça é o resultado de um esforço
cooperativo para o qual a Europa contribuiu) chega-se
a energias nas quais a matéria é inteiramente destruída.
Energias nas quais aparecem “antipartículas” que po­
dem ser utilizadas, a seguir, para bombardear um alvo
material.
Consideram os teóricos que, a partir de uma certa
energia das outras partículas, o alvo totalmente destruí­
do se transformará em neutrinos.
Ora, esse bombardeio do alvo pode ser feito por
impulsos, isto é, pode-se emitir neutrinos, fazendo sinais
curtos, longos ou outros sinais.
Pode-se, desse modo, imaginar os futuros projeto­
res de neutrinos como um enorme toro (um toro é uma
figura geométrica que tem a forma de um pneu de auto­
móvel) de metal magnético.
No interior desse toro, partículas aceleradas por
ondas de TSF de alta freqüência (cuja trajetória é
88
curvada pelo imenso campo magnético produzido) atin­
giríam um primeiro alvo e fabricariam, assim, a anti­
matéria.
Depois, essa antimatéria acelerada destruiría, por
sua vez, a matéria, emitindo neutrinos que se evadiriam
no espaço. A operação se processaria em uma fração de
segundo durante a qual se renovaria diversas vezes.
Desse modo obter-se-iam sinais morse que se propa­
gariam no espaço, circulando no universo curvo, ou
afastando-se para o infinito quando o universo não é
curvo. Esses sinais seriam dirigidos para as regiões onde
se verificasse emissão de neutrinos feita por seres inte­
ligentes.
Depois disso só restaria esperar a resposta, que se­
ria captada por telescópios de neutrinos.
Sob reserva de qualquer nova invenção, um teles­
cópio de neutrinos deveria se apresentar da seguinte
forma:
Em uma caverna profundamente enterrada, ou a
bordo de um satélite artificial, uma peça, grande como
um cômodo normal de habitação conteria, em total
obscuridade, um receptor de televisão ultra-sensível, vol­
tado para uma cuba ou um cintilômetro de matéria plás­
tica, cheio de um líquido especial.
Foram cubas dessa espécie que Reines e Cowan
empregaram para verificar, em 1956, a existência do
neutrino. Aí se produzem descargas fosforescentes, pe­
quenas emissões de luz invisíveis a olho nu, mas que a
câmara de tomadas de vista de televisão amplifica. Essas
descargas se registram ininterruptamente, porque os
neutrinos se encontram por toda parte. De tempos em
tempos o número dessas centelhas invisíveis aumenta: o
aparelho detectou um bombardeio de neutrinos.

89
A câmara de televisão transmite, em ondas-curtas,
as informações recolhidas, a máquinas poderosas capa­
zes de as analisar. Esses cérebros eletrônicos fazem seu
relatório sob a forma de gráficos perfurados, com a mes­
ma impassibilidade com que fariam a contabilidade de
uma grande loja.
Os gráficos perfurados passam para uma máquina
de imprimir e os cientistas lêem, a seguir, uma fita
semelhante àquela que se vê nos teletipos dando as co­
tações da Bolsa, as notícias internacionais ou os resul­
tados das corridas.
Certo dia, ao examinar essa fita, os cientistas terão
a certeza: um sinal emitido por seres inteligentes chegou
até nós vindo de um ponto no espaço.
Nesse dia começará uma nova era. A Terra terá
entrado na comunidade dos seres inteligentes da Ga­
láxia.

90
Quem Está no Aparelho?

Em 1965, 40% das conversações


telefônicas nos Estados Unidos
serão feitas entre máquinas e não
mais entre assinantes humanos.
Declaração do presidente da
Companhia de Telefones Bell.

É virtualmente possível receber mensagens proce­


dentes de outros seres vivos. Mas, conhecemos sua iden­
tidade?
Poder-se-iam enumerar, durante anos, as criaturas
saídas da ficção científica ou do folclore.
Dos marcianos aos anjos, a imaginação humana se
estende ao infinito.
Tratou-se de criaturas feitas de luz, formadas de
raios-X, compostas unicamente de campos de força.
Algumas menores que um eléctron, outras maiores que
o universo conhecido.
Falou-se de nuvens inteligentes, de seres invisíveis.
Mas, não podemos imaginar seres diferentes de
nós. Quando se trata de aplicar o que sabemos da vida
sobre a Terra, percebe-se que a descrição pormenoriza­
da de uma criatura composta de energia, ou de uma
91
nuvem inteligente, está acima de nossos meios. Contu­
do, isso não exclui sua existência.
Os biologistas são precisos. Toda forma de vida,
para eles, é composta de células. Essas células se orga­
nizam em torno de um núcleo de ácidos aminados, que
são compostos químicos contendo carbono, oxigênio,
hidrogênio e azoto.
Esses ácidos aminados fabricam catalisadores que
favorecem as reações químicas.
Assim, nossos filhos se assemelham a nós, e os ali­
mentos que ingerimos se transformam em nós mesmos
depois da eliminação dos resíduos.
O escritor norte-americano John W. Campbell pôde
definir as ciências biológicas e humanas como conjun­
tos de fenômenos nos quais um grupo de ácidos ami­
nados examina outros grupos de ácidos aminados mais
ou menos complicados do que ele. Os biologistas, na
maior parte, estão de acordo com essa definição.
Entretanto, alguns dentre eles, como o professor
Florkin, de Liège, falam da necessidade de desmistifi-
car a evolução, e cogitam da publicação de um tratado
de zoologia química.
Para Florkin, assim como para Oparin1 ou Halda-
ne, a vida não inclui nenhum mistério sobrenatural. A
vida se compõe de uma série de fenômenos químicos
definidos que devem se produzir onde quer que existam
condições apropriadas.
Desse modo, pode haver vida em certos planetas
de nosso sistema: Marte, Vênus, Júpiter, como também
em planetas de outros sistemas solares.
Na Universidade da Califórnia, nos Estados Uni­
dos, um cientista chinês, o dr. Su-Shu Huang, elaborou(i)
(i) Autor do livro Habitantes do Universo, edição HEMUS.

92
um estudo sobre as possibilidades de vida em um raio
de quinze anos-luz de distância em torno do nosso Sol.
Ele considera que duas estrelas, Epsilon Eridani e Tau
Ceti, podem muito bem possuir planetas habitáveis.
Os astrônomos, na maior parte, consideram que
existem mais possibilidades de encontrar seres inteligen­
tes nos planetas dessas estrelas do que em outros pla­
netas de nosso sistema solar.
Se raciocinarmos no plano da realidade e não no
da ficção científica, chegaremos à conclusão de que os
seres “de outros planetas” devem, até certo ponto, asse­
melhar-se a nós.
Com efeito, é difícil imaginar “plantas” inteligen­
tes. Embora seres marinhos, como os golfinhos, tenham
possibilidades de desenvolvimento, essas possibilidades,
entretanto, não se concretizarão, uma vez que a vida
marinha não o permite. No entanto, Lilly assegura que
os golfinhos têm um cérebro superior ao nosso.
Restam os animais terrestres. Percebe-se que não
se pode construir, com a matéria viva, um olho sensí­
vel aos raios-X.
Um olho sensível às ondas de rádio e dando ima­
gens nítidas, deveria ser, no mínimo, do tamanho de um
ônibus.
Chega-se desse modo a seres que assimilam a mes­
ma luz que nós. São grandes as possibilidades de que
eles sejam munidos de dois olhos, o que permite a visão
binocular. É evidente que esses olhos têm todo o inte­
resse em ser situados na parte mais alta do corpo.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado a outras
funções.
A conclusão do escritor científico norte-america­
no Willy Ley parece justa: um ser do planeta X asse­

93
melhar-se-ia a um homem, ao menos para um observa­
dor míope, que se encontrasse mergulhado na neblina.
Vistos à televisão interestelar, eles não nos pare­
cerão mais desconcertantes do que o polvo, o canguru,
os insetos, as bactérias ou os vírus, ampliados pelo mi­
croscópio.
É provável que a diferença física que nos separa
de seres capazes de construir radiotelescópios e detecto­
res de neutrinos, seja menor do que possam crer os auto­
res de ficção científica.
As diferenças psicológicas, ao contrário, podem
ser imensas. Nós não utilizamos senão uma pequena
parte de nosso cérebro. Outros seres podem utilizar o
seu modo infinitamente melhor, privando-nos assim de
uma possibilidade de comunicação.
Algumas espécies não se interessam, talvez, de ne­
nhum modo, pelo universo exterior. Outros seres, entre­
tanto, poderão saber mais sobre nós do que nós mesmos,
graças a seus aperfeiçoados instrumentos de observa­
ção.
Podem existir seres que tenham dominado o tempo
e que vivam mentalmente no espaço-tempo dos físicos
relativistas.
Deve existir no universo grande número de espé­
cies que não se distanciam muito de nós. O ideal seria
uma espécie cujo desenvolvimento fosse suficiente para
poder nos instruir. Precisaríamos, sobretudo, de seres
afins que evocassem mais o homem do século XXII do
que os anjos ou os marcianos da ficção científica.
Esses seres do futuro teriam não apenas um cére­
bro, órgãos, sentidos, mãos e membros análogos aos
nossos, como também se serviríam de máquinas.
94
Não se pode conceber que a carne viva, tão sensí­
vel, suporte as concentrações de energia necessárias para
mover as máquinas e estabelecer comunicação através
do espaço.
Seria preciso, portanto, que esses seres semelhantes
a nós possuíssem aparelhamento mais aperfeiçoado que
o nosso, permitindo-lhes lançar uma ponte entre seu
universo e o nosso.
Quem diz máquina, diz lógica, número, organiza­
ção, método.
A comunicação poderá se estabelecer mais facil­
mente do que em geral se acredita. Nas duas extremi­
dades da cadeia, máquinas semelhantes quanto a seus
princípios vão analisar o sinal, traduzi-lo, fazer com
que as inteligências que nós criamos tomem conheci­
mento dos seus resultados.
A primeira comunicação interestelar se estabele­
cerá entre máquinas e não entre seres vivos. Essa men­
sagem será traduzida em uma “linguagem de máquina”
que a enviará ao espaço. Ela será recebida e traduzida
por outra máquina que a apresentará a um ser inteli­
gente e não a um ser humano.
Esse ser inteligente se assemelhará a nós mais do
que se costuma supor. Ele terá dois olhos para olhar
o vídeo de televisão, órgãos dos sentidos para receber
os impulsos elétricos que saem da máquina.
Esse ser, que se parece com o homem e que habita
o espaço interestelar, talvez receba o choque elétrico
diretamente sobre a pele.
Talvez ele prove, com sua língua, uma fita cujas
propriedades químicas ter-se-ão modificado sob o efeito
de correntes elétricas emitidas pela máquina.

95
Talvez ele tenha órgãos que lhe permitam ler uma
fita magnética pelo simples tato.
Nesse ponto ele terá sobre nós uma grande vanta­
gem, porque para os nossos órgãos dos sentidos e para
a maior parte dos nossos instrumentos, uma fita magné­
tica não difere em nada de uma fita magnética não re­
gistrada.
Nós podemos pesá-la, examiná-la com uma lente,
analisá-la, mas só um órgão magnético especial permi­
tirá extrair os sons ou as imagens nela escondidos.
A inteligência que se encontrará na outra extre­
midade da cadeia terá meios de se comunicar com as
máquinas e de fazer com que sejam traduzidos os sinais
que recebeu. Desses sinais, ela poderá deduzir a matu­
ridade das civilizações.
Nosso hipotético ser extraterrestre, mas não ima­
ginário, deve existir em milhares de exemplares no espa­
ço e deve possuir, uma vez admitido que contados com
o sistema decimal, um meio bastante simples para nos
fazer perceber o seu nível na ciência física.
Há no universo uma constante natural a que cha­
mamos constante de estrutura fina. Essa constante inter­
vém na maior parte dos fenômenos atômicos. Nós a
conhecemos com três decimais. Ela se aproxima de 137
e o valor que lhe atribuímos é de 137,039.
Provavelmente, será necessário um século para ga­
nhar um ou dois decimais. Isso porque, cada decimal
ganho sobre a constante da estrutura fina representa um
aperfeiçoamento prodigioso de nossos métodos de men-
suração, um aprofundamento considerável de nosso co­
nhecimento do universo.
Se, portanto, recebemos do espaço a constante de
estrutura fina com cinco ou seis decimais além do nove,

96
poderemos concluir que os seres que emitiram o sinal
estão vários séculos mais avançados do que nós. As
coisas são muito simples!
Pode-se imaginar que esses seres possuem o segre­
do da produção de quantidades ilimitadas de energia a
partir da fusão termonuclear. Eles saberiam criar, à von­
tade, vírus e micróbios, a partir do ser inanimado.
Há, no entanto, uma certeza: se recebemos do espa­
ço interestelar a cifra 137 seguida de seis ou de sete
decimais, é que nos encontraríamos na presença de seres
que teriam suprimido a guerra e conquistado o segredo
do átomo sem se reduzir a nada.
No entanto, o cientista francês Alexandre Dauvil-
lier, a quem se devem estudos notáveis sobre a astrofí­
sica e sobre a origem da vida, escreveu que todas as for­
mas de vida que descobrem a radioatividade estão des­
tinadas ao auto-extermínio. Assim, nós jamais recebe­
remos sinais do espaço.
Eu não compartilho esse pessimismo. Os assassinos
e os candidatos ao suicídio constituem uma ínfima mino­
ria da população terrestre.
Da mesma forma, as populações interestelares que
se suicidariam com suas bombas de 100 megatons de­
veríam ser a exceção que confirma a regra.
Os seres interestelares podem ter cinco olhos, nove
tentáculos, órgãos dos sentidos que eu não consigo ima­
ginar, mas pode-se ter a certeza, ao contrário, de que
eles sobreviveram à descoberta das forças nucleares para
ter podido medir um certo número de cifras significati­
vas da constante de estrutura fina 137,039...
Pode-se, da mesma forma, imaginar que eles re­
solveram outros problemas sociais. Se eles procuram
estabelecer comunicação com o exterior, fazer progredir

97
sua ciência, é porque não vivem sob uma tirania totali­
tária.
Alguns teóricos, em particular os soviéticos, que
retomaram essas idéias do norte-americano Freeman Dy­
son e do russo Tsiolkovsky, vão ainda mais longe. Eles
consideram que os seres do espaço, afins dos homens,
aqueles pelo menos que nos são amplamente superiores,
vivem não sobre planetas naturais, mas sobre hiperpla-
netas artificiais.
Um planeta normal como a Terra ou Marte não
recebe mais do que uma pequena fração de energia so­
lar. Um planeta artificial construído a partir da poeira
cósmica e englobando uma estrela, formaria um imenso
globo oco, no centro do qual se encontraria um Sol.
Esse planeta artificial recebería toda a energia emi­
tida por esse astro. E ele podería ser habitado por seres
vivos em quantidade ilimitada.
Um estudo bastante pormenorizado, incluindo al­
gumas cifras, foi publicado pela revista soviética Téc­
nica e Juventude em seu número 10 do ano de 1961.
Outros estudos foram feitos pelo cientista suíço-
-norte-americano Fritz Zwicky.
Desses estudos se deduz que a construção de um
tal planeta é empreendimento concebível.
Uma outra conclusão pode ser tirada: o hiperpla-
neta ocultava a luz do Sol. Ele enviaria ao espaço, sob
a forma de raios infra-vermelhos, invisíveis a olho nu e
impressionando mal as chapas fotográficas, uma parte
da energia emitida pelo Sol.
Essa invisibilidade óptica faz com que possa haver
hiperplanetas, estrelas ocultas por uma vasta constru­
ção artificial mais próxima de nós que as estrelas visí­
veis mais próximas: a um ou dois anos-luz, por exemplo.

98
Nossas tentativas de contato através do TSF po­
deríam ser bem sucedidas muito antes do que se possa
crer. A perspectiva de uma viagem interestelar para en­
contrar nossos seres afins do espaço já não parecería
definitivamente excluída.
De qualquer modo, habitam eles um planeta ou um
hiperplaneta, a existência de seres superiores preocupa
o governo norte-americano que, recentemente, encomen­
dou ao Instituto Brookings um relatório sobre:
“O efeito das atividades pacíficas no espaço sobre
a condição humana.”
Segundo esse relatório, seres vivos mais evoluídos
do que nós poderíam se manifestar de um momento para
outro. O efeito desse confronto seria desastroso: o com­
plexo de inferioridade que provocaria um encontro com
seres evoluídos destruiría nossa civilização. E o rela­
tório observava:
“Sociedades superiores, seguras de seu lugar no uni­
verso, se desintegraram literalmente pelo contato com
sociedades que as superavam.”
Mais uma vez esse pessimismo me parece absurdo
e contrário aos fatos experimentais mais elementares da
Sociologia.
Estamos em constante contato com os suecos que
constituem, em relação à França, à União Soviética ou
aos Estados Unidos, uma sociedade superior. Há um
século e meio que os suecos não têm uma guerra. Eles
resolveram seus problemas sociais, não são racistas, vi­
vem em uma liberdade da qual certos aspectos chocam
o visitante. No entanto, seu contato não desintegra os
povos mais primitivos.
Por outro lado, tenho a impressão de que essas
previsões ingênuas sobre uma eventual comunicação
99
entre nós e os seres do espaço que nos são afins não
levam em conta o fato de que ela se efetuaria por inter­
médio de máquinas.
O simples fato de existirem nas duas extremidades
da cadeia de comunicação máquinas de traduzir que re­
duzem as mensagens ao menor denominador comum
bastará para impedir qualquer contato brutal, uma in­
vasão excessivamente rápida de idéias novas em nossa
civilização.
As primeiras dezenas de anos de comunicação con­
sistiríam na simples troca de lugares comuns.
Esperar-se-á, durante muito tempo, uma resposta
à pergunta: Qual é o vosso peso? E, ao fim de vinte anos,
saber-se-á que, em média, os seres do espaço não nos
são afins, pesam “x” quilos por pessoa.
Essa troca bastante simples de mensagens já terá
exigido máquinas de traduzir de extraordinária comple­
xidade, além de códigos que permitam explicar ao ha­
bitante de um outro planeta ou de um hiperplaneta si­
tuado muito longe no espaço, o que significa um grama.
Nesse ínterim, a comunicação interestelar ter-se-á
tornado banal e os jornais não falarão de mensagens do
espaço senão em suas páginas internas e em tipos muito
pequenos.
A troca de mensagens através do espaço se pro­
cessará, não como um choque brutal, mas como uma
bomba de tempo que explodirá quando as máquinas ti­
verem conseguido estabelecer um contato por televisão.
A partir desse momento, receberemos do espaço
não mais comunicações limitadas e intermitentes, mas
um fluxo contínuo de imagens.
Será necessário, então, inventar supercérebros ele­
trônicos para as interpretar. Talvez o próprio filme

100
enviado de um outro planeta contenha a descrição desse
cérebro. Até o presente, não conseguimos um cérebro
eletrônico capaz de isolar idéias.
Imaginemos uma máquina que vê passar um filme.
O filme mostra o navio France, a jangada Kon Tiki,
uma barcaça de desembarque, uma rede de salvamento,
barcos, um veleiro.
A partir desse conjunto de imagens, a máquina de­
verá deduzir a idéia que lhes é comum.
Uma criança de quatro anos o faria. Ela exclama­
ria: “São barcos que se movimentam na água”.
Essa operação do espírito, que parece simples, exi­
ge, na realidade, o exercício de uma faculdade prodigio­
sa: o poder de abstração.
Ao que saibamos, nenhum animal o possui. Como
também nenhuma máquina. E o cérebro eletrônico que
imaginamos, deverá, no entanto, proceder a abstrações
muito mais delicadas do que a que consiste em isolar a
idéia de um barco, a partir de um filme mostrando bar­
cos extremamente diversos.
Esse cérebro imaginário deveria, por exemplo, de­
pois de ter examinado filmes nos quais ver-se-ão seres
talvez muito diferentes de nós entregando-se a atividades
complexas e indefiníveis, concluir que se trata de reli­
gião, de filosofia ou de uma atividade mental que não
podemos conceber.
Os autores de ficção científica negligenciam esse
problema. Ao que eu saiba, o único que o estudou foi
Maurice Leblanc, em um romance intitulado Les Trois
Yeux (Os Três Olhos).
O autor de As Aventuras de Arsène Lupin imagina
uma comunicação por imagens entre os habitantes do
planeta Vênus e nós.

101
Graças a um emprego extremamente inteligente da
imagem, projetando alternativamente cenas fotografadas
sobre a Terra e cenas de sua própria vida, os venusianos
chegam a nos fazer compreender que eles também tive­
ram, como os terrestres antes de Cristo, um grande mo­
vimento espiritual e que, da mesma forma que Cristo, o
chefe espiritual venusiano pagou com a vida sua tenta­
tiva de melhorar o próximo.
Um momento igual ocorrerá, certamente, fora da
ficção científica, mas não é possível prever o dia em
que o vídeo de nossas televisões nos mostrará imagens
desses seres distantes, semelhantes a nós, que vivem além
dos anos-luz*

102
VI

Agentes Secretos da Terra

E o vazio último dos planetas


negros.
H. P. Lovecraft

“É a maior tragédia de nossa época.”


Assim se exprimiu o professor A. B. C. Lovell, que
dirige o radiotelescópio de Jodrell Bank, ao saber que
a estação interplanetária lançada pelos soviéticos em
direção ao planeta Vênus deixara de emitir.
O desgosto do professor Lovell pode parecer exa­
gerado, mas a História talvez lhe dê razão. Isso porque
se um misterioso acidente não tivesse detido os emisso­
res da estação-robô, nós saberiamos talvez, neste mo­
mento, se nosso planeta-irmão é habitável e se podere­
mos, um dia, nele instalar uma colônia.
Talvez a estação-robô já nos tivesse transmitido
informações sobre a presença de seres inteligentes na
superfície de Vênus.
O professor Leonid Sedov afirmava-me, recente­
mente, que a explicação desse fenômeno é bastante pro­
saica. Os acumuladores e as pilhas instaladas a bordo
da estação automática se polarizaram e deixaram de pro­
103
duzir a voltagem indispensável para que os instrumentos
de bordo pudessem funcionar normalmente.
Os soviéticos tentaram fazê-los prosseguir, sacudin­
do-os a dezenas de milhões de quilômetros de distância.
Puseram em funcionamento um mecanismo a ar com­
primido que impelia a estação automática a girar sobre
si mesma.
Não chegaram a nenhum resultado e a estação Ve-
nusik se perdeu no Sol depois de ter quase atingido o
seu objetivo.
Os soviéticos e os norte-americanos recomeçarão.
Estações automáticas interplanetárias partirão para
Marte, Vênus, Júpiter e para os últimos vazios dos pla­
netas negros.
Os leitores mais jovens deste livro verão, daqui a
alguns anos, sem surpresa, na última página do seu jor­
nal, estas três linhas:
“A estação automática interplanetária n.° 1.287
foi posta com êxito em órbita em tomo do planeta
Plutão.”
Mas, o que são, na realidade, estações automáti­
cas interplanetárias?
Uma estação-robô é o último estágio de um foguete,
tal como um satélite automático ou pilotado. Ela con­
têm uma fonte de energia, quase sempre constituída por
um acumulador que toma a se carregar por meio de
pilhas solares.
Nos últimos tempos, começou-se a instalar a bordo
dessas estações, pequenos geradores atômicos. Mas esses
geradores são, no momento, de tipo muito primitivo.
Nas atuais condições da técnica não se cogita de
colocar uma pilha atômica a bordo de um foguete. Colo­
ca-se nele uma substância radioativa que se desintegra

104
produzindo calor. Esse calor é convertido em eletrici­
dade por um termobinário.
A eletricidade põe em movimento o robô e permite
que ele se comunique com a Terra.
O último aperfeiçoamento nesse domínio foi a subs­
tituição de produtos radioativos por elementos artifi­
ciais, muito pesados, mais do que o urânio, que re­
gistram espontaneamente a fissão, sem que se precise
submetê-los a um bombardeio de nêutrons.
Não há, portanto, nenhuma necessidade de reação
em cadeia. Pretende-se utilizar, com esse objetivo, o
cúrio.
Esclareçamos isso tudo com algumas cifras: o ge­
rador norte-americano Snap-3, lançado ao espaço a 28
de junho de 1961, tem as dimensões e a forma de uma
laranja, que pesaria 2 quilos. Custou 2.000 dólares o
grama. Produz 2,7 watts de eletricidade, menos que uma
pilha de lâmpada de bolso! Ele os produzirá durante
cinco anos, sem interrupção. Serão precisas 500 tonela­
das de lâmpadas de bolso para produzir o mesmo efeito.
Sua fonte de energia é o plutônio 238.
Trata-se de um subproduto da fabricação do plutô­
nio 239, utilizado nas bombas atômicas. Sua vida média
(período de radioatividade) é de noventa anos.
A potência desse gerador diminui muito lentamente
e, ao fim de cinco anos, cairá a 2,5 watts apenas, isto é,
geradores desse gênero são suficientes para a exploração
do sistema solar.
Foram fabricados alguns Snap-3 experimentais com
cúrio 242, dos quais o período radioativo é de cento e
sessenta e três dias.
Em todos os casos, a reação atômica produziu calor
transformado em eletricidade por vinte e sete pequenos
termobinários.

105
Evidentemente, seria desejável substituir esse mé­
todo por uma verdadeira pilha atômica. Esse é o obje­
tivo do projeto SPUR (Self Propelled Uranium Reac-
tor: reator de urânio autopropelido).
Quando esse projeto tiver sido realizado, dispor-
-se-ão de pilhas atômicas minúsculas que produzirão um
kw por quatro quilos de pilha.
Cogita-se de geradores desse gênero com potências
que atingem l.OOOkw, com os quais se conseguirá es­
tabelecer comunicação entre as estrelas mais próximas
da Terra.
O calor produzido pela pilha fará ferver um fluido
e girar uma turbina.
Muito recentemente, na França, foi outorgado um
prêmio Galabert de Astronáutica ao professor Martelli,
do Conservatório de Artes e Ofícios, pela sua invenção
de um motor térmico especialmente adaptado a funcio­
nar a partir de uma pilha, a bordo de uma astronave.
Existe nos Estados Unidos um projeto ainda mais
ambicioso que o projeto SPUR. É o projeto STAR
(Space Thermionic Auxiliary Reacton Gerador termo-
iônico auxiliar para o espaço).
O projeto STAR cogita de transformar direta­
mente o calor produzido por uma minúscula pilha atô­
mica em eletricidade, utilizando um gás ionizado pela
transformação.
Considera-se que um gerador STAR poderá fun­
cionar automaticamente produzindo milhares de kilo­
watts durante um período mínimo de quatrocentos dias
e um período máximo de oitocentos e vinte e cinco dias.
Essas cifras, previstas no contrato, foram escolhi­
das a fim de permitir um fornecimento constante de
energia elétrica durante as viagens de uma estação-robô
para Marte ou Vênus.

106
Essa energia elétrica não é utilizada nem para im­
pelir a estação no espaço, nem para fazê-la girar sobre
si mesma. A rotação é conseguida por meio de um mi­
núsculo foguete que emite um gás comprimido.
O projeto STAR está sendo, no momento, inten­
sivamente estudado pela General Electric norte-ameri­
cana. Um comunicado dessa sociedade anunciava, re­
centemente, que um dos problemas mais delicados do
projeto STAR — o problema de pôr em funciona­
mento um conversor de energia à base de plasma em
condições de peso nulo — tinha sido solucionado.
As futuras estações automáticas interplanetárias
poderão dispor de quantidade de energia elétrica sufi­
ciente para transmitir informações à Terra, mesmo
quando são lançadas aos limites do sistema solar, para
além de Plutão, a fim de aí procurar um décimo e hipo­
tético planeta.
Para registrar essas informações, os robôs enviados
ao espaço dispõem de instrumentos de extraordinária
sensibilidade. Alguns são colocados do lado de fora da
estação, como por exemplo: os dispositivos que reco­
lhem as partículas carregadas que flutuam no espaço,
procedentes do Sol ou da atmosfera dos planetas.
Os detectores de meteoritos são placas compostas
de substâncias piezoelétricas, isto é, de substâncias que
transformam um choque ou uma pressão em corrente
elétrica. Cada vez que um micrometeorito, um mi­
núsculo grão de poeira do espaço, atinge uma dessas
placas produz um impulso elétrico que é registrado.
É preciso ainda citar as células detectoras de radia­
ções ultravioletas e de raios-X emitidas pelo Sol. Essas
radiações são detidas pela atmosfera da Terra. Seu estu­
107
do é muito importante para o conhecimento da estrela
que nos faz viver.
Outros instrumentos são, ao contrário, colocados
no interior da estação interplanetária, como por exem­
plo: os detectores de raios cósmicos, os instrumentos
sensíveis ao campo magnético e as câmaras que tomam
as fotos e as transmitem à Terra.
As informações são transmitidas graças ao sistema
de rádio da estação interplanetária. A experiência de­
monstrou que essas transmissões se efetuam perfeita-
mente. Se a informação recebida parece inacreditável,
a falha não é dos instrumentos, mas do espaço interpla­
netário onde se processam fenômenos não previstos pela
ciência.
Este é o caso dos cinturões de radiação que cercam
nossa Terra, assim como o dos ventos solares que são
tempestades de partículas inundando o espaço em certos
períodos. Eles são produzidos por erupções que trans­
formam as condições de emissão de partículas à super­
fície do Sol. Acredita-se que essas erupções são bom­
bas magnéticas que libertam energia condensada. Mas,
no momento, não se sabe mais nada a respeito.
A principal missão de que se encarregam as esta-
ções-robô é a da determinação das dimensões do sistema
solar e da avaliação da distância entre os planetas.
Os astrônomos não coincidem em sua opinião sobre
essas distâncias, quando se trata de atingir uma alta
precisão.
Tanto assim que, quanto à distância média do cen­
tro da Terra ao centro do Sol, a discordância é da
ordem de 40.000 quilômetros.
Os últimos valores foram obtidos em 1950. O as­
trônomo norte-americano Eugene K. Rabe, do Obser­

108
vatório de Cincinnati, estudou a trajetória do pequeno
planetóide Eros, no espaço. Ele pôde assim determinar
com precisão a unidade astronômica. Essa determinação
não coincidia com a de outros astrônomos, nem com os
resultados obtidos em 1958 quando foi enviado um sinal-
-radar para o planeta Vênus.
A diferença entre a medida assim obtida e os re­
sultados de Rabe é de 80.000 quilômetros, o que é
muito, mesmo na escala astronômica.
Tentou-se conciliar os dois valores por meio da es­
tação automática norte-americana Pioneer V que con­
tinuou a emitir até 22,46 milhões de milhas norte-ame­
ricanas de distância da Terra, isto é, aproximadamente
40 milhões de quilômetros.
Um emissor de 5 watts fora suficiente para manter
as comunicações a essa distância extraordinária. O sinal,
entretanto, era quase coberto pelo ruído e foi preciso
um análise estatística extremamente minuciosa para os
separar. Pôde-se, desse modo, determinar a unidade as­
tronômica com uma margem de 40.000 quilômetros, o
que, até o momento presente, não foi explicado.
Uma das primeiras tarefas das futuras estações-
-robô lançadas em direção ao Sol será liquidar essa in­
certeza. Enquanto isso não for feito, poder-se-á pergun­
tar se as leis de Einstein continuam a ser exatas e se
não seria preciso corrigir as leis da gravitação conside­
rando não apenas Einstein como também introduzindo
fatores até agora desconhecidos.
Um outro tipo de emissão se relaciona com o estu­
do de outros astros.
A Lua constitui um problema apaixonante, mas é
provável que estações automáticas interplanetárias nor­

109
te-americanas e soviéticas pousem na Lua para nos
transmitir informações.
Estudou-se a construção de instrumentos ao mes­
mo tempo sólidos e extremamente sensíveis para resis­
tir ao choque da aterrissagem ou da alunissagem, para
empregar um neologismo do qual eu não gosto muito.
Esses instrumentos deverão sondar o solo com ultra-
-sons, de modo a detectar a existência de cavernas. Se
elas estiverem suficientemente próximas à superfície
para serem acessíveis, serão a base de futuras cidades
lunares.
Outros instrumentos deverão detectar os fracos mo­
vimentos do solo lunar para determinar se na Lua exis­
tem tremores. É bastante possível que na Lua exista o
vulcanismo, o que explicaria certas luzes estranhas aí
observadas.
Outros instrumentos ainda vão medir a radioativi­
dade, a temperatura, o estado elétrico da superfície. A
atmosfera lunar é praticamente inexistente, mas, os pou­
cos traços de gás na superfície de nosso satélite serão
analisados e os resultados dessa análise transmitidos à
Terra.
Finalmente, câmaras de televisão deverão nos
transmitir imagens das paisagens lunares.
Foram construídos diversos tipos desses robôs lu­
nares. Uns apropriados para pousar, outros para des­
locar-se.
Os soviéticos esboçaram vários tipos de pequenos
veículos automotrizes, munidos de lagartas, acionados
por motores elétricos cuja energia será proveniente de
um dispositivo carregado por um gerador atômico ou
por uma batería solar.

110
Esses veículos poderão percorrer a superfície da
Lua, se ela ainda não estiver recoberta de uma camada
de poeira de tal forma espessa que as lagartas se afun­
darão, se não se afundar o próprio foguete.
Ao contrário, se for possível a circulação na su­
perfície da Lua, o veículo prosseguirá em sua explora­
ção, a uma velocidade de vinte quilômetros por hora,
até cair em alguma fenda.
Bem entendida, logo no começo, não se poderá
explorar assim mais do que a face visível da Lua, pois
as ondas de rádio emitidas pelo veículo se propagam em
linha reta. Mais tarde poder-se-á enviar, para a face
oculta da Lua, veículos que façam filmes automatica­
mente desenvolvidos a seu bordo. Em seguida, eles serão
transmitidos por rádio e nós teremos, assim, imagens da
Lua que permitirão preparar, tanto em sua face visível
como em sua face oculta, a colonização.
Existem alguns projetos ainda mais ambiciosos. Foi
construído nos Estados Unidos um microscópio que, a
partir de um robô, colocado sobre a Lua, permite exa­
minar amostras do seu solo para aí descobrir, eventual­
mente, a existência de bactérias. As imagens do mi­
croscópio serão mostradas, a seguir, nos vídeos de tele­
visão na Terra.
Cogitou-se também da possibilidade de coletar
amostras do solo lunar, em um foguete que seria enviado
para a Terra, por um processo de teledireção e telema-
nipulação. Esse projeto parece difícil, mas não impossí­
vel de realizar. Bastaria transmitir à Terra uma dezena
de gramas de poeira lunar para que os cientistas se
ocupassem com elas durante uma boa dezenas de anos.
Provavelmente encontrar-se-ão estruturas cristali­
nas e talvez mesmo estruturas vivas inteiramente desco­
nhecidas.

111
Depois da Lua, virá Marte. Não se pode cogitar,
em futuro próximo, de desembarcar estações-robô na
superfície de Marte.
Será possível, entretanto, fazê-las passar muito per­
to do planeta vermelho. Talvez se consiga controlar o
vôo das estações-robô com tal precisão que se chegue a
colocá-las em órbita como a dos satélites artificiais, em
torno de Marte.
Os especialistas, na maior parte, consideram im­
possível esse empreendimento. Na verdade, ele o seria
se se pretendesse guiar a estação a partir da Terra. Mas,
poder-se-ia instalar, a bordo da estação, um dispositivo
automático suficientemente preciso para poder aplicar
correções à órbita dos pequenos foguetes-nônios.
Uma estação em órbita teria a vantagem de poder
observar indefinidamente o planeta Marte.
Uma estação que passasse nas vizinhanças da su­
perfície do planeta nos transmitiría imagens durante al­
gumas horas.
E podemos esperar revelações inteiramente extraor­
dinárias. Nossas idéias sobre Marte são terrestres. Os
canais de Marte foram inventados na época em que os
homens abriam os grandes canais de Suez e do Panamá.
Começou-se a dizer que os seis satélites de Marte
eram artificiais no momento em que o homem lançou
seus primeiros satélites artificiais, e assim por diante.
Essas idéias não devem corresponder a uma reali­
dade diferente da nossa. O mesmo se pode afirmar rela­
tivamente aos desertos vermelhos de Marte, às areias
marcianas e a todas as outras idéias dos autores de vul­
garização e de ficção científica.
Na verdade, as poucas fotos tomadas de Marte
por foguetes soviéticos, a grande altitude, mostram uma

112
espécie de quadriculado violeta e alaranjado, que não
se assemelha a nada de terrestre.
A pergunta muitas vezes feita: “Existem marcia­
nos?” talvez não tenha um sentido preciso. A vida talvez
seja um fenômeno puramente terrestre e a organização
da matéria em Marte talvez possa assumir formas dife­
rentes da vida.
Os exploradores que desembarcarem em Marte, no
século XXI, provavelmente nos esclarecerão a respeito.
Mas, enquanto esperamos, as estações planetárias auto­
máticas poderão, sem dúvida, transmitir-nos informações
e algumas imagens de Marte, melhores do que as que
até agora possuímos.
A análise espectral precisa da atmosfera de Marte
e o exame, pelo radar, do solo marciano, a partir da
estação interplanetária, talvez sejam mais interessantes
do que as imagens.
Desse modo poder-se-á saber de que é composto o
planeta Marte. Em particular, poder-se-á conhecer a
natureza das calotas glaciais que se encontram nos seus
polos. Tratar-se-ia de gelo comum? De neve carbônica?
De óxidos de azoto gelados? Nenhuma dessas hipóteses
pôde ser comprovada, pois é difícil analisar a atmosfera
marciana a partir da atmosfera terrestre.
A estação-robô nos transmitirá, igualmente, medi­
das exatas da temperatura reinante na superfície de
Marte, em diferentes pontos e em diferentes épocas do
ano.
Esse mapa térmico preciso de Marte permitirá tor­
nar mais exata nossas idéias sobre o planeta.
Outros instrumentos medirão o campo magnético
de Marte, tentarão detectar ondas de rádio procedentes

113
do planeta: fenômenos naturais, marcianos, ondas proce­
dentes do Sol.
Ao mesmo tempo, a estação-robô tentará determi­
nar se Marte é cercado de um cinturão de radiações
como acontece com a Terra e se esse cinturão é peri­
goso.
É pouco provável que uma única estação interpla­
netária automática seja suficiente para esses trabalhos,
e será preciso, provavelmente construir estações espe­
cializadas.
Algumas serão reservadas ao estudo da cor de Mar­
te. Outras poderão medir a radioatividade, a intensidade
dos cinturões de radiação, a emissão radioelétrica.
Outras ainda analisarão a noite marciana para detectar
fontes de luz artificial.
Uma variedade de estações procurará precisar a
natureza das mudanças da superfície de Marte. Sabe-se,
atualmente, que existem movimentos lentos que corres­
pondem a uma evolução colorida.
Tratar-se-ia de um fenômeno químico? Da exten­
são de uma vegetação que podería ser semelhante à ve­
getação terrestre? Ou de um elemento que não temos
meios de conceber?
Pessoalmente, eu me inclinaria para a terceira hi­
pótese, apesar da detecção, por William Sinton, em
Marte, de faixas de absorção que parecem provar a
existência de vegetais.
As provas dadas pos Sinton não me parecem con­
cludentes. De qualquer forma, uma estação de obser­
vação nas vizinhanças de Marte permitirá, pela trans­
missão de fotos sucessivas, tomadas na mesma região,
verificar se esses movimentos lentos não correspondem a
movimentos rápidos: deslocamento de nuvens de poeiras

114
vulcânicas transportadas pelos ventos, movimentos de
seres vivos. Provavelmente, Marte não é da mesma fa­
mília que a Terra.
A viagem do foguete de exploração a Marte durará
nove meses se forem utilizados os métodos atuais de
propulsão.
A data mais favorável para esse lançamento situa-
-se aproximadamente em 1970. Para que o foguete
possa juntar-se a Marte, será necessário atingir uma
velocidade de arranque de 18 quilômetros por segun­
do. Novos combustíveis para foguete permitirão, antes
dessa data, que se atinja tal velocidade.
Depois de Marte, o planeta mais interessante é
Vênus. Os momentos mais favoráveis a um lançamento
em sua direção se reproduzem periodicamente ao ritmo
de um ano e sete meses.
As próximas tentativas serão feitas em março de
1964, em outubro de 1965, em junho de 1967, em ja­
neiro de 1969 ou em agosto de 1970. Esperemos que
uma dessas datas possa ver, enfim, o sucesso da expe­
riência.
A duração da viagem para Vênus será de mais ou
menos 150 dias. Chegando a 120.000 quilômetros de
Vênus o satélite poderá se transformar em uma Lua ar­
tificial girando, em três semanas aproximadamente, em
torno de Vênus e se aproximando a menos de 3.000 qui­
lômetros. O artefato poderá, a seguir, permanecer inde­
finidamente em órbita e nos transmitir informações que
levarão cinco minutos para chegar até nós.
O mistério venusiano é mais irritante que o mis­
tério marciano. Nada se sabe de preciso sobre a nature­
za das nuvens espessas que nos escondem Vênus. Po-
der-se-ia tratar de vapor d’água, de gotículas de petróleo,

115
de poeiras, de partículas de um produto químico desco­
nhecido na Terra, e assim por diante.
Ninguém tem a menor idéia do que se poderá en­
contrar sob essas camadas de nuvens. Foram aventadas
numerosas hipóteses que, tal como em relação a Marte,
têm a deficiência de ser terrestres.
Na verdade, Vênus é, muito provavelmente, um
mundo com personalidade própria. É um erro imaginar
que se trata de uma reprodução da Terra em época di­
ferente e que, por exemplo, os grandes répteis do Car-
bonífero ainda vivem em Vênus.
Esse planeta, com certeza, evoluiu de modo dife­
rente. Como para Marte, podemos perguntar se a orga­
nização da matéria não teria assumido, em Vênus,
formas radicalmente distanciadas de tudo que podemos
chamar vida.
A estação interplanetária medirá o campo magné­
tico de Vênus, detectará, registrará e enviará à Terra as
ondas de TSF emitidas pelo planeta.
Sua análise permitirá fazer uma idéia das condi­
ções elétricas coexistentes na superfície de Vênus e tal­
vez, mesmo, detectar um elemento análogo à inteligên­
cia.
A estação interplanetária poderá tomar, desse mo­
do, um grande número de fotos enquanto espera que a
camada de nuvens, vistas de uma altitude de apenas
100.000 quilômetros, apresente pontos pelos quais se
possa ver a superfície do planeta. A análise dessas fotos
permitiría obter, pelo menos, uma vaga idéia das rea­
lidades dissimuladas por trás do mistério de Vênus.
Cogita-se, enfim, de instalar, a bordo da estação
interplanetária, um radar cujas ondas poderíam atra­
vessar as nuvens e nos dar imagens do planeta.

116
A 10 de fevereiro de 1958, conseguiu-se, nos Esta­
dos Unidos, obter sinais de radar suficientemente po­
tentes para que se possa cogitar do retomo do sinal
enviado a Vênus.
É mais fácil fazer essa experiência a partir de uma
distância de 100.000 quilômetros apenas desde que se
disponha, a bordo da estação interplanetária, de pode­
rosas reservas de energia.
Imagens de radar suficientemente nítidas deveríam
nos dar uma idéia bastante precisa da superfície de Vê­
nus e nos informar, por exemplo, se nela existem conti­
nentes e oceanos, se o planeta não é mais do que um
vasto oceano ou uma extensão continental sem água.
Entre Vênus e o Sol não existe mais do que o pla­
neta Mercúrio. No momento, não parece que a precisão
de lançamento e orientação dos foguetes seja suficiente
para que se possa lançar um satélite às vizinhanças de
Mercúrio.
Ao contrário, enviar-se-á número cada vez maior
de estações automáticas destinadas ao estudo do Sol.
Uma delas, girando modestamente em tomo da
Terra, foi lançada pelos norte-americanos.
Estações girando tão perto quanto possível do Sol,
isto é, a distâncias comparáveis às do planeta Mercúriq,
poderíam nos proporcionar preciosas informações.
Os enigmas do Sol são numerosos: a maneira pela
qual ele produz sua energia; suas manchas; sua atmos­
fera que se estende a distâncias enormes, restam ainda
a estudar.
O conhecimento mais exato do Sol deverá permi­
tir a previsão do tempo, a construção, na Terra, de ge­
radores de energia termonucleares, a compreensão de

117
um grande número de fenômenos que não podem existir
senão em uma estrela extremamente quente.
Eis porque as estações automáticas girando em
tomo do Sol deverão se multiplicar. O Sol lhes forne­
cerá, por intermédio das baterias solares, a energia de
que terão necessidade para transmitir informações.
Tratar-se-á certamente de estações fortemente es­
pecializadas, das quais umas estudarão a irradiação cor-
puscular do Sol, outras os raios-X, a irradiação ultravio­
leta, a irradiação visível, as ondas de TSF, os neutri­
nos e, talvez, as irradiações que, no momento, nos são
inteiramente desconhecidas.
Para além da Terra, o corpo mais interessante é
o planeta gigante Júpiter. Quando se observa Júpiter,
não à luz visível, mas com ondas de rádio, vê-se que o
planeta não surge como um corpo redondo, mas oval,
cujo grande eixo é quase três vezes tão longo quanto o
pequeno eixo.
Ao que parece, pode-se chegar à conclusão de que
as ondas de rádio provenientes de Júpiter revelam um
cinturão de radiações infinitamente mais potente que o
da Terra. Esse cinturão teria a forma de um toro, isto
é, de um sólido que se assemelha a um pneu de automó­
vel, de 550.000 quilômetros de diâmetro e de 125.000
quilômetros de espessura.
Esse prodigioso anel de partículas provavelmente
é mantido em seu lugar por um campo magnético infi­
nitamente mais potente que o da Terra. Ele emite ondas
que nossos grandes radiotelescópios recebem.
Estações automáticas interplanetárias estarão em
atividade durante séculos. Sem dúvida, os explorado­
res humanos jamais poderão por os pés em Júpiter. O

118
enorme peso e a pressão atmosférica elevada parecem
tornar impossível essa viagem.
Os homens serão substituídos por estações automá­
ticas girando em torno do planeta e que nos revelarão
o que se passa nele. Poderão igualmente nos transmitir
fotos das luas de Júpiter, das quais algumas são sufi­
cientemente vastas para que nelas se possa encontrar ma­
téria organizada sob formas que lembram a vida.
Para além de Júpiter, pairam outros mistérios: Sa­
turno, Urano, Netuno, Plutão, assim como um décimo
astro (Prosérpina) seguido de outro ainda mais proble­
mático (Perséfone).
As estações automáticas nos transmitirão a imagem
de mundos que o homem não ousa abordar, salvo talvez
o satélite gigante de Saturno: Titã.
Provavelmente, nossos filhos assistirão ao lança­
mento de estações-robôs para as estrelas mais próximas,
e nossos netos receberão as primeiras ondas emitidas
por aparelhos construídos pelo homem e procedentes
dessas estrelas.

119
VII

Agentes de Fora?

Os Senhores de Dzyan vieram


das estrelas trazendo o fogo, o
arco e o martelo.
Antiga lenda hindu.

Existem, na televisão, recepções anormais, isto é,


nas quais se vêem surgir no vídeo de um televisor, ima­
gens que, normalmente, aí não deveriam aparecer,
imagens que a curvatura da Terra, que detém as ondas
curtas, deveria, normalmente, impedir de atingir a
antena.
Algumas vezes, perturbações nas camadas carre­
gadas da atmosfera permitem essas recepções.
Certo dia, no ano de 1958, na Inglaterra, recebeu-
-se, desse modo, uma emissão norte-americana.
O fato nada apresentaria de extraordinário se a
estação não tivesse cessado de emitir há quatro anos!
Suas ondas não poderiam retornar à Terra mesmo que
se tivessem refletido sobre algumas camadas carrega­
das, desconhecidas, a uma distância de dois anos-luz
de nós. Elas teriam sido de tal forma enfraquecidas que
a recepção teria sido impossível.

121
Como explicar o fenômeno? Diz a lenda que não
se procurou explicá-lo e que o caso foi enterrado em
um desses arquivos que todos os governos anglo-saxões
possuem e aos quais se chama “dossiê” FF, o que quer
dizer: File and forget: classificar e esquecer.
Essa história talvez seja apócrifa. Mas, ecos desse
gênero, menos chocantes uma vez que o intervalo de
tempo raramente ultrapassa vinte e cinco segundos, fo­
ram observados desde 1917.
Um cientista australiano, o professor R. N. Bra-
cewell, que atualmente ensina nos Estados Unidos, na
Universidade de Stanford, formulou, a respeito, uma
prodigiosa hipótese.
Bracewell estudou esses ecos estranhos que haviam
sido detectados em 1927, em 1928, em 1934.
Ondas de rádio tinham sido emitidas na Holanda.
Essas ondas deram a volta à Terra e retornaram ao re­
ceptor em um sétimo de segundo. Contudo, quinze se­
gundos depois essas mesmas ondas reapareceram. Nada
no espaço as teria podido refletir. Ao invés de perder
intensidade, tinham sido reemitidas por estações auto­
máticas interplanetárias.
À objeção de que não havia estações automáticas
interplanetárias nessa época, Bracewell replicou:
— Não se trata de estações interplanetárias hu­
manas. Elas foram construídas por outros seres inteli­
gentes, pertencentes, talvez, a uma civilização galáctica.
Essas inteligências lançaram, em nosso sistema, es­
tações automáticas que registram as mensagens que emi­
timos ao espaço e as refletem tornando a emiti-las do seu
planeta de origem, quando as condições são propícias.
Não estou contando um romance de ficção cientí­
fica, mas procurando resumir um trabalho científico
122
sério divulgado pela austera revista inglesa Nature, bas­
tante conceituada nos meios científicos.
Segundo esse estudo, estações automáticas inter­
planetárias, não construídas pela mão do homem, giram
acima de nossas cabeças. Provavelmente, são muito pe­
quenas para serem vistas (embora se tenha observado
em torno de nosso globo satélites que não parecem ter
sido lançados nem pelos soviéticos nem pelos norte-
-americanos), mas detectáveis pelos sinais que emitem.
Talvez essas estações interplanetárias encerrem
mensagens para nós, antecipadamente registradas em
um código universal, que se manifestarão quando o me­
canismo do espião interestelar invisível tiver sido esti­
mulado por um sinal suficientemente poderoso emitido
da Terra.
Bracewell propôs lançar esse sinal a partir de uma
das estações terrestres, detectar os seus ecos normais e,
talvez, uma resposta.
Em 1963 deverão ser feitas experiências nesse sen­
tido.
A hipótese de Bracewell é uma das idéias mais
fascinantes que já se tenham formulado.
Centenas, milhões de planetas habitados devem
existir na galáxia. Serão necessários alguns milhares de
anos para que um foguete vindo desses planetas atinja
nosso sistema solar. Mas que são milhares e mesmo mi­
lhões de anos para civilizações talvez mais avançadas
do que a nossa?
Provavelmente, existem planetas nos quais há vida
há cinco ou dez bilhões de anos; vida inteligente e cons­
ciência há um bilhão de anos.
Tais civilizações sabem esperar. Seus agentes gi­
ram talvez, por sobre a Terra, desde o Carbonífero. Uti­
lizando a inesgotável energia dos raios do Sol para trans­

123
mitir mensagens, esses instrumentos puderam fotografar
a Terra, transmitir essas fotos através de distâncias ini­
magináveis, a receptores situados em longínquos pla­
netas.
A seguir, o extraordinário mecanismo, espécie de
robô fóssil, esperou até que sinais eletromagnéticos, que
não poderíam ser efeito do acaso, lhe chegassem da
Terra. Esses sinais foram registrados em fitas magnéti­
cas ou por um meio que ainda ignoramos. Foram emi­
tidos para serem depois captados por nossos receptores
terrestres, como, em alguns séculos, pelos dispositivos
eletrônicos ultra-sensíveis, inventados algures, na galá­
xia: essa é, provavelmente, a estranha verdade.
Pesquisas norte-americanas parecem demonstrar
que os seres que teriam colocado esses satélites em
órbita em torno da Terra, podem ter origens comuns
conosco.
Parece que a Terra espalha no espaço parcelas de
matéria contendo substância viva.
Quando um meteoro gigante atinge a Terra, a ener­
gia desprendida é tão grande que uma parte de sua
massa e uma porção de matéria terrestre em tomo do
ponto de impacto projetadas no espaço, afastam-se sem
possibilidade de retomo.
Esse choque deixa, na superfície da Terra, uma ci­
catriz especial a que se chama astroblema. Foram en­
contrados e identificados numerosos astroblemas.
Por outro lado, foram encontradas células vivas,
que poderíam muito bem ser de origem terrestre, em
meteoritos.
Esses fragmentos de matéria contendo micróbios
e esporos vão viajar pelo espaço interplanetário e inter­
estelar para atingir os planetas de outros sóis.

124
Esses esporos vão então evoluir e dar nascimento
a seres que não serão muito diferentes do homem uma
vez que têm o mesmo potencial genético, baseado nos
mesmos ácidos nucléicos.
Acidentes de revolução podem muito bem ter feito
que seres cuja evolução se desencadeou há um bilhão
de anos, por exemplo, tenham podido evoluir mais de­
pressa do que nós. Sua ciência pode ter permitido que
eles descobrissem sua origem, pode ter-lhes demons­
trado que a Terra lançou meteoritos que levaram os es­
poros da vida ao seu globo.
Enquanto esperam poder visitar seu astro de ori­
gem, esses seres enviam, talvez, através dó espaço, men­
sagens que, girando em torno da Terra, lhes revelam de
que modo evoluiu a vida no planeta de seus ancestrais
microscópicos.
Essa hipótese explicaria porque, de todos os pla­
netas da galáxia, a Terra teria sido escolhida para objeto
de estudo das estações automáticas interestelares.
Vários séculos decorrerão antes que foguetes auto­
máticos vindos de fora surjam em nosso céu.
Mesmo a cinqüenta quilômetros por segundo, serão
necessários milhões de anos para vencer as distâncias
entre as estrelas.
É possível, entretanto, que a experiência de Mar-
coni, em 1901, tenha assinalado o início de uma nova
era nas relações interestelares.
De qualquer forma, é apaixonante para a mente
imaginar esse gênero de acontecimentos: há dois bilhões
de anos, tendo um meteorito gigante atingido a Terra,
pedaços da crosta terrestre contendo micróbios foram
arremessados ao espaço.
Cem mil anos mais tarde, um desses fragmentos
caiu sobre um planeta cujas condições eram favoráveis

125
à vida terrestre. A evolução aí seguiu o seu curso, mais
rapidamente que na Terra. Um bilhão e algumas cen­
tenas de milhões de anos mais tarde, há, por exemplo,
um milhão de anos terrestres, uma civilização se criou
em outra estrela.
Essa civilização compor-se-ia de seres orgânicos,
baseados em ácidos nucléicos que continham micróbios
vindos da Terra. As condições externas da evolução
fariam com que esses seres se assemelhassem a nós e
que, há um milhão de anos, já voltassem sua atenção
para o espaço.
Outro milhão de anos mais tarde (agora não se
pode na realidade falar de simultaneidade para dois lu­
gares distantes várias dezenas de anos-luz, mas é preciso
simplificar) esses seres aparentados com o homem pos­
suiríam uma ciência que dataria de várias dezenas de
milhares de anos ou mesmo de várias centenas de mi­
lhares de anos.
É quase impossível imaginar o que pode constituir
esse saber. Talvez seja suficiente, para localizar o lugar
onde a vida nasceu sobre esse outro planeta, demonstrar
que o meteorito que a transportou veio da Terra, lançar
mensagens para a Terra.
A uma velocidade de cinqüenta quilômetros por
segundo, permitindo-lhe subtrair-se à atração de sua pró­
pria estrela, essas mensagens se escoam para nosso Sol.
Milhares de anos mais tarde, mecanismos automá­
ticos as encaminham para o terceiro planeta desse Sol,
em torno do qual elas se põem a girar.
Depois, as ondas eletromagnéticas de Marconi e
as ondas ulteriores as alcançam. Esses sinais registrados
são emitidos para o espaço.
126
No momento atual, nossos programas de televisão,
de rádio, nossas telecomunicações militares e civis são
registrados e retransmitidos. Èm algumas dezenas de
anos, serão captados e analisados e nossos primos do es­
paço perceberão que não estão sós.
Será um grande momento na história interestelar,
cujas conseqüências se farão sentir em nosso globo. En­
quanto se aguarda esse momento, o satélite interplane­
tário invisível que não é talvez maior do que a mão
fechada, absorve energia solar que acumula, transforma
e da qual se serve para estabelecer comunicações.
Essa troca de informações será feita por meio de
ondas que nós ainda não conhecemos, talvez ondas gra-
vitacionais.
Na União Soviética estão sendo feitos estudos para
a concretização de telecomunicações por esse método.
É possível que tais estudos tenham sido concluídos em
uma civilização mais avançada do que a nossa. Mas os
satélites artificiais de origem não-humana devem igual­
mente utilizar o rádio comum e devem ter sido sinais de
rádio que chamaram a atenção do professor Bracewell.
Pode-se fazer a pergunta: Fomos visitados? Seres
extraterrestres teriam desembarcado em nosso planeta?1
Parece certo que os discos voadores não existem e
que as conjecturas do professor Agrest e de outros sobre
intervenções extraterrestres não são mais do que imagi­
nação não controlada. Seria desejável ter outras provas
de contatos com outros mundos. Mas essas provas não
existem.
Os partidários dos discos voadores responderão:
“Mas não se pode provar o contrário”.
(!) Ler a respeito, na coleção Enigmas e Mistérios do Realismo Fan­
tástico o livro de J. Bergier, Os Extraterrestres na História, Editora
HEMUS.

127
É difícil provar que o raio represente a cólera do
deus Zeus. Mas, pode-se demonstrar que é mais criativo
afirmar que os relâmpagos são um movimento de eléc­
trons, que atribuí-los à vingança de Zeus.
O conhecido escritor norte-americano L. Sprague
de Camp participava um dia, em um programa de tele­
visão, dos debates sobre discos voadores.
Seu adversário, partidário ferrenho da existência
dos discos, dizia a cada minuto: “Prove-me o contrário”.
Exasperado, Sprague de Camp acabou por lhe di­
zer: “Já que é assim, eu vou lhe dizer uma coisa. Eu,
professor Sprague de Camp, sou seguido, por toda parte,
por homenzinhos verdes que mal chegam a um metro
de altura. Mas eles não são visíveis a não ser para mim
e desaparecem quando eu me volto. Agora, prove-me o
contrário”.
Da mesma forma que os homenzinhos verdes de
Sprague de Camp, os discos voadores e o aparecimento
de seres extraterrestres deixam de existir quando se faz
uma pesquisa. É certo que não existem discos voadores.
Em compensação, os satélites artificiais do profes­
sor Bracewell são muito mais prováveis.
Invisíveis ao telescópio, são provavelmente cons­
truídos com base no princípio da eletrônica molecular,
isto é, sem peças destacáveis. Suas funções eletrônicas
seriam exercidas por níveis de energia em uni cristal.
A eletrônica molecular já permite, na Terras, ter um
milhão de peças destacáveis: condensadores e resistên­
cias, bobinas de auto-indução, transistores, num volume
de um centímetro cúbico. Pode-se imaginar em que se
tornou a eletrônica molecular entre seres que têm qui­
nhentos séculos de progresso técnico à nossa frente.
Extrapolando o curso do progresso em eletrônica mo­

128
lecular, chega-se à conclusão de que um globo do tama­
nho de uma mão fechada pode conter um observatório
completo, com meios de transmissão que podem atingir
receptores situados em um raio de cem anos-luz em
torno da estação automática.
Um telescópio eletrônico utilizado como espelho
de campos de força que curvam a luz, detectores mag­
néticos de ressonância que permitem analisar à distância
outros meios de análise devidos a técnicas muito supe­
riores às nossas, poderiam ser postos à nossa disposição
se chegássemos a localizar um desses satélites e tomar
posse dele, buscando-o com nossos foguetes.
Dentro em breve nossos satélites artificiais serão
equipados com radiotelescópios dotados de outros detec­
tores de radiação.
Seria preciso, então, estimular o satélite artificial
de origem não-humana por uma emissão de radiações
potente e modulada que o satélite repetirá.
Chegar-se-á, desse modo, a localizá-lo suficiente­
mente, no espaço, para que um foguete pilotado possa
ser lançado em sua procura, se ele não estiver muito
longe da superfície da Terra.
Foguetes-planadores pilotados estão sendo atual­
mente construídos nos Estados Unidos: trata-se do pro­
jeto Dyna-Soar.
Outros planos do mesmo gênero existem na União
Soviética. Dentro de aproximadamente quinze anos de­
verão chegar a artefatos do vácuo tão fáceis de mano­
brar quanto um avião. Seu raio de ação será, provavel­
mente, muito limitado para que se possa utilizá-los para
ir até a Lua. As principais aplicações que possivelmente
terão esses engenhos serão de caráter militar.

129
Enquanto se aguarda, nos Estados Unidos, os pri­
meiros lançamentos de foguetes pilotados já são previs­
tos. O foguete será propulsionado por dois reatores
Titã-II de 33 metros de altura e 4 metros de diâmetro.
Esse primeiro estágio tem 215 toneladas de impulso. Um
segundo estágio, de 50 toneladas de impulso, de com­
bustível líquido, põe em órbita, em torno da Terra, o
conjunto pilotado. Este se estabiliza no espaço graças a
um reator especial de oxigênio líquido e hidrogênio. O
aparelho, que pode ser pilotado no espaço, tem condi­
ções de pousar em terra graças a asas em delta.
Cogita-se de lançar outras versões desse aparelho
que permitam manobrar dentro da atmosfera, sair dela
e para ela retomar.
Mais tarde, em 1970, por exemplo, foguetes pilo­
tados desse gênero, poderão se deslocar no espaço, entre
a Terra e a Lua. Se eles aí encontrarem satélites de ori­
gem não-humana, poder-se-á cogitar de capturá-los.
Pilotos já estão sendo treinados em um modelo
Dyna-Soar, estático, mas que contém todos os sistemas
de condicionamento do ar como o conjunto do escafan-
dro que deve preparar o vôo ao espaço.
É provável que os astronautas norte-americanos
Glenn, Scott Carpenter e Walter Schirra possam pilo­
tar um Dyna-Soars no espaço.
Não é fazer ficção científica conceber que o obje­
tivo de uma de suas missões podería ser a procura, no
espaço, de satélites que tenham repetido um sinal rece­
bido da Terra.
É possível, por outro lado, que se tenha descoberto
até lá que esses satélites emitem de modo permanente
sinais de localização sobre alguns tipos de ondas ultra-
curtas que ainda não conhecemos.
130
É assim que, no espectro eletromagnético, a de­
tecção e emissão de ondas de menos de um centímetro
de comprimento são embrionárias.
Atualmente, existem amplificadores que permitem
descer até 2.000 metros. Já foi elaborado um emissor
que chega a emitir 1/2 watt sobre 80 gigaciclos de fre­
qüência, para o que correspondem ondas de 3.8mm de
comprimento.
Não se sabe ainda se essas ondas atravessam cama­
das eletrizadas e as barreiras de radiação que envolvem
a terra.
É possível que, fazendo experiências sobre essa
faixa de freqüências, se possa encontrar sinais perma­
nentes emitidos pelo satélite de Bracewell.
Procurou-se, nos últimos tempos, localizar inter­
venções vindas de outros planetas, não no domínio do
electromagnetismo, mas no do folclore.
Especialistas procuram descobrir extraterrestres na
Bíblia, e nos outros livros sagrados da humanidade. Se
se pretende explicar os círculos luminosos percebidos no
céu pelo profeta Ezequiel, parece-me mais simples ima­
ginar uma crise de epilepsia.
A visão de objetos redondos e luminosos caracte­
riza, com efeito, um certo tipo de crise de epilepsia. O
mesmo se pode dizer quanto às aparições redondas e lu­
minosas dos livros sagrados hindus.
Pretendeu-se encontrar, nos desenhos de cerâmica
dos hindus hopis, representações da superfície do planeta
Marte.
Submetí esses desenhos a especialistas que me afir­
maram que essas vagas semelhanças não passam de mera
coincidência e que não se pode, de nenhum modo, falar
de mapas do planeta Marte.

131
A história dos mapas de Piri Reis talvez seja mais
séria. Piri Reis era um almirante turco, enforcado pelo
crime de pirataria que, em 1513 e em 1526, havia tra­
çado mapas nos quais se acreditou encontrar pormenores
do relevo continental do Antártico, em uma época em
que não tinha ainda sido recoberto pelos gelos.
Tais afirmações, a serem exatas, não poderiam pro­
vir senão de uma civilização desaparecida e mais avan­
çada do que a nossa.
Os mapas de Piri Reis foram decifrados em 1945
por um engenheiro norte-americano, chamado Mallery,
cujos trabalhos foram publicados, pela primeira vez, em
1946 e 1947. Tomamos conhecimento deles. Paul-Émile
Victor, a revista Science et Vie e eu mesmo, sobretudo
no livro O Desperto dos Mágicos, como em artigos que
tiveram repercussão mundial.
Os mapas de Piri Reis não utilizam o sistema clás­
sico de projeção. Nem sequer é evidente que o autor
desses mapas soubesse que a Terra fosse redonda...
Mallery os traduziu e encontrou, assim, o relevo do
Antártico assim como o do Norte, praticamente desco­
nhecido, do continente americano.
Se a interpretação de Mallery for exata, trata-se de
uma verdadeira revolução, pois os mapas que ele apre­
senta, ao que parece, não foram projetados senão com
a ajuda de meios aéreos ou de observações feitas do
espaço.
Mas, seriam exatas essas interpretações? Pode-se
duvidar disso.
Depois da publicação dos meus artigos, os soviéti­
cos fizeram estudos extremamente pormenorizados sobre
os mapas de Piri Reis, dos quais possuem os originais.

132
Essas análises parecem demonstrar que se trata de
uma interpretação arbitrária.
Quando se restabelece corretamente a projeção, vê-
-se que as costas da América do Sul são consideravel­
mente deformadas. Além disso, lendas sobre um grande
continente austral seriam correntes na época de Piri
Reis.
Eu não sou cartógrafo, mas as interpretações sovié­
ticos parecem-me mais sérias do que as interpretações
norte-americanas.
Quanto aos mitos, pode-se, evidentemente, inter­
pretá-los como se deseja. Todos os povos reivindicam
uma origem celeste, falam de visitantes vindos do céu.
Os estudos modernos mostram que os mitos, na maior
parte, não têm o menor fundamento científico.
A imaginação humana é capaz de construir estru­
turas imaginárias provavelmente a partir de um incons­
ciente coletivo do qual se admite a existência.
Nada prova, portanto, que tenhamos sido ou que
somos visitados por seres do espaço. Acredito, por outro
lado, que eles se manteriam invisíveis.
Uma viagem interestelar não pode ter outra razão
senão a pesquisa científica. Ora, seres capazes de ultra­
passar a distância de anos-luz que separam as estrelas,
nada teriam a aprender de nossa ciência.
Nós não podemos interessá-los a não ser do ponto
de vista ecológico, isto é, como um meio vivo diferente
do seu, curioso e interessante. Nessas condições, sua pri­
meira tarefa será não perturbar esse meio para que o
estudo conserve valor científico.
É preciso não esperar a chegada dos senhores de
Dzyan, trazendo-nos os segredos da ciência galáctica.
Deixemos esses mitos à ficção científica e aos desenhos
animados.

133
VIII

Sinais de Atividade

Há, em sua região do céu, estre­


las que explodem sob o efeito de
forças que não são de origem na­
tural.
Robert A. Heinlein

Não seria ingênuo esperar receber sinais de um


outrô planeta? É possível, afinal de contas, que os habi­
tantes de outros sistemas estelares já nos tenham obser­
vado graças a suas estações automáticas e, julgando-nos
sem interesse, tenham renunciado a se comunicar co­
nosco.
Nesse caso, existiría um meio de reconhecer a exis­
tência da vida e da inteligência através de outro método?
Não seria o universo o campo de atividades que
poderiamos detectar da Terra?
No que concerne aos discos voadores, respeito o
trabalho de pesquisadores sérios como, por exemplo,
meu amigo Aimé Michel, que até o presente não conse­
guiu, entretanto, convencer-me. Os canais de Marte são
igualmente aplicáveis por efeitos de óptica.
Ao contrário, é preciso retomar muito seriamente,
como fazem os soviéticos, neste momento, as observa­
ções feitas sobre a Lua desde o século XVII.
135
Numerosos observadores assinalaram, na Lua, cra­
teras que aparecem e desaparecem, luzes estranhas, obje­
tos que parecem se deslocar
Já falamos desses fen' enos a propósito da astro­
nomia óptica: parece que ; não devem ser negligen­
ciados.
A Lua não é necessariamente um astro morto quan­
to se acredita e isso por duas razões: de um lado, pode
haver vida nas grandes cavernas do centro do astro como
já acreditava Wells; de outro, esse satélite pode servir
de base a viajantes vindos de outros pontos do espaço.
A exploração da totalidade de sua superfície nos
esclarecerá, mas não se exclui a possibilidade de se en­
contrar, na Lua, senão exploradores vindos de fora, pelo
menos traços de sua atividade, preservados pela ausên­
cia de qualquer atmosfera.
Quanto aos outros planetas, a suposta explosão atô­
mica observada em Marte jamais foi confirmada.
Não é impossível que certos sinais emitidos por
Vênus provenham de um aparelhamento técnico bas­
tante semelhante ao nosso. Nossas grandes centrais elé­
tricas emitem sinais que devem ser perceptíveis em Vê­
nus assim como em Marte.
No que concerne ao resto do sistema solar, quase
não dispomos de meios para nele observar sinais de ati­
vidade.
A forma regular de alguns asteróides pôde fazer
supor que eles eram artificiais ou recobertos de cúpulas.
Até nova ordem, essa observação pertence ao cam­
po da ficção científica.
Se há sinais de atividade inteligente nos satélites
de Júpiter ou de Saturno, apenas a observação direta,

136
por meio de estações automáticas interplanetárias, nos
poderá dizer.
Os planetas gigantes como Júpiter ou Saturno não
são acessíveis à observação. Quanto a Urano, Plutão,
Netuno, estão fora do nosso alcance.
Se alguns sinais de atividade se manifestassem na
imensidade do espaço seriam, necessariamente, de gran­
de envergadura.
John W. Campbell, redator-chefe da revista norte-
-americana Analog levantou a seguinte hipótese:
“Os raios cósmicos primários são, como se sabe,
partículas vindas do espaço. Nessas partículas obser­
vam-se núcleos de todos os elementos conhecidos na mes­
ma proporção que no gás interestelar extremamente ra-
refeito que enche o interior da galáxia. Tudo se passa,
portanto, como se uma porção do gás interestelar fosse
bruscamente acelerada a velocidades vizinhas da luz.”
Encontrou-se uma explicação para esse mecanismo
de aceleração em casos particulares (cf. a revista norte-
-americana Science de 19 de janeiro de 1962, pág. 186),
senão em geral. Explica-se bastante bem a parte mais
leve dos raios cósmicos: tratar-se-ia de núcleos de hidro­
gênio ejectados pelas estrelas que explodem.
Campbell sugere que uma parte da irradiação cós­
mica é uma esteira. A esteira de astronaves que se deslo­
cam à velocidade da luz em algum ponto do espaço e
que deixam atrás de si um rasto de gás interestelar.
Se a teoria de Campbell for exata, deve haver um
meio de separar os raios cósmicos naturais dos raios
cósmicos artificiais e de detectar, na irradiação global,
a esteira de astronaves.
A irradiação cósmica se propaga à velocidade da
luz.

137
A esteira detectada na Terra ou em sua proximi­
dade deverá datar, portanto, de vários milhares de anos,
ou ainda mais. Pouco importa!
Se existia no passado uma civilização galáctica
cujas astronaves percorriam o espaço a velocidades pró­
ximas à da luz, essa civilização deve existir ainda.
Se existem no espaço astronaves que atravessam o
vácuo a velocidades próximas à da luz, sua central de
energia, suas telecomunicações, a ação que exercem so­
bre o meio interestelar, deverão ser detectáveis.
Em particular, se o modo de propulsão desses en­
genhos é uma utilização do campo gravitacional, eles
emitem ondas de gravitação de um tipo especial que
dever-se-ia poder detectar.
Os matemáticos, na maior parte, concordam quan­
to ao fato de que a rotação de um planeta ao redor do
Sol perturba o campo de gravitação com emissão de
ondas.
Mas a energia dessas ondas é extremamente fraca e
até o presente ainda não se conseguiu detectá-las.
Os norte-americanos e os soviéticos desenvolvem,
nesse sentido, amplos projetos. Eles elaboram detecto­
res que consistem em imensos mosaicos de cristal, no
qual as ondas de gravitação devem produzir variações
de pressão que se traduzem em corrente elétrica.
Outros planos cogitam da utilização da Terra como
um detector de ondas de gravitação: estas produziriam,
em nosso globo, ondas de compressão que sismógrafos
ultra-sensíveis poderíam detectar.
Se essa nova ciência “gravitônica” chegar um dia
à perfeição da eletrônica, não se exclui a possibilidade
de se detectar, a enormes distâncias, a passagem de
“naves espaciais”.

138
Se essas naves se comunicarem entre si por meio
de emissões de neutrinos, ou com a ajuda de qualquer
outro tipo de sinal que atravesse a poeira cósmica e que
não seja perturbado pela emissão das fontes de radiação
do espaço, talvez cheguemos a detectá-las em terra. Um
único sinal de natureza nitidamente artificial, emitido
por uma fonte que se desloque a velocidade próxima à
da luz, provaria a existência de uma civilização galác­
tica.
Provavelmente receberemos esse sinal antes de en­
viar mensageiros vivos ao espaço.
Os outros sinais de atividade que podemos esperar
detectar através dos anos-luz situam-se em uma imensa
escala.
Nada prova que o homem, tal como existe em
1963, tenha chegado ao ápice da inteligência e do poder.
Outros seres, talvez mais poderosos que o homem,
exerceriam maior influência sobre a natureza. Suas ati­
vidades se desenvolveríam em escala tão formidável que
seriam visíveis da Terra. Essa hipótese extraordinária
se deve a dois astrônomos: Otto Struve e Fritz Zwicky,
ambos norte-americanos.
Essa técnica se baseia na observação das estrelas
Novas e Supernovas.
As Novas são devidas, provavelmente, à explosão
de estrelas. Algumas dessas explosões, tão violentas, cor­
respondem a cataclismos estelares imensos, a que se deu
o nome de Supernovas.
A luminosa de uma Supernova é igual a de 200
milhões de estrelas normais ou à de mil Novas. Uma
Supernova, quando atinge o clímax, apresenta um brilho
superior ao de toda a galáxia em conjunto.

139
A história da astronomia nos conta que três Super-
novas surgiram em nossa própria galáxia. Uma em 1054,
observada pelos chineses; outra em 1572, observada por
Tycho Br-ahé e a de 1604, que foi observada por Kepler.
As Novas mais recentes são as da constelação de
Hércules (1934), da constelação Puppis (1952) e da
Coroa boreal (1946). As Novas, na maior parte, não
sofrem mais do que uma explosão e se extinguem antes
de voltar ao normal. Existem, no entanto, Novas re­
correntes, que explodem periodicamente, a intervalos
que variam entre dez e cem anos. Esse é o caso da Co­
roa boreal, que já explodiu em 1866, antes de recomeçar
em 1946.
O fenômeno das Supernovas é ainda mais pertur­
bador. Essas explosões prodigiosas dão à estrela um
brilho cem milhões de vezes mais intenso que o do Sol.
A quantidade de energia libertada é de 1051 ergs, isto é,
a energia total de uma estrela. Uma catástrofe desse
gênero não pode jamais se renovar.
Assinalou-se a presença de Supernovas em nossa
galáxia em 1054, 1572 e 1604. Também se observou o
fenômeno em outras galáxias. Por vezes elas são de
brilho mais intenso que toda uma galáxia de estrelas.
Isto significa que um único Sol se torna mais luminoso
que toda uma Via-láctea.
Em média, pode-se concluir que uma Supernova
se produz em uma galáxia a intervalos de três a cinco
séculos. Seu brilho, como o de uma Nova, diminui com
o tempo.
Observou-se que em muitas Supernovas essa dimi­
nuição da intensidade do brilho se estende por quarenta
e cinco dias, isto é, de cinqüenta e cinco em cinqüenta e

140
cinco dias, a energia emitida pela estrela se reduz à me­
tade.
Isto permitiu elaborar uma hipótese que explica o
fenômeno. Uma Supernova seria causada pelo desaba­
mento de uma estrela sob seu próprio peso. Sob o efeito
dessa contração ocorreríam no centro da estrela reações
nucleares que emitiríam nêutrons.
Bombardeando os núcleos dos átomos da estrela,
esses nêutrons levariam à formação de um elemento, o
califórnio, do qual um dos isótopos se desintegra espon­
taneamente, com um período de cinqüenta e cinco dias.
A estrela teria, assim, fabricado, por si própria o
explosivo que a faria em pedaços.
Essa hipótese explicaria o fenômeno das Super-
novas.
Ao contrário, para algumas delas, essa variação
do brilho é de tal forma irregular que não é possível
atribuir essa catástrofe a uma reação nuclear conhecida.
Surge aqui a explicação de Otto Struve:
As Supernovas, cujo período não é de cinqüenta e
cinco dias e cujo brilho é muito irregular, não seriam
devidas a um fenômeno natural. Seriam o resultado de
experiências de laboratório feitas por seres inteligentes
tão superiores ao homem quanto este é em relação ao
“paramécio”.
Essa hipótese, aventada por um verdadeiro cientis­
ta e seguida por outros especialistas igualmente irrefu­
táveis, é considerada digna de discussão.
Não cabe aqui perguntar por que seres superiores
fazem explodir as estrelas.
Um chimpanzé não tem a menor idéia da Física
Nuclear e não se pode explicar a ele porque os homens
produzem explosões atômicas. Pode-se, no entanto, per­

141
guntar como é possível explodir uma estrela. A Física
Nuclear nos dá resposta a essa pergunta.
Existem elementos que podem atuar como catalisa­
dores em reações nucleares e nas aceleradas. O carbono
é um exemplo.
Um projétil de alguns milhares de toneladas pode,
em certos casos, desequilibrar suficientemente uma es­
trela para que a explosão de uma Supernova se produza.
Essa explosão é, necessariamente, rica de ensina­
mentos para os cientistas. A vida não seria mais um
fenômeno parasita na superfície dos planetas. Ela seria
capaz de agir sobre as estrelas e de inscrever sinais no
céu.
De modo geral, pode-se considerar que atividades
de seres inteligentes possam influir na evolução de uma
estrela produzindo sinais que seriam visíveis em todo
o universo?
Outros pesquisadores tiveram a audácia de acre­
ditar nisso. O norte-americano Peter Lefferts escreveu,
a esse respeito, um curso ensaio1 no qual ele imagina oito
meios pelos quais seres inteligentes poderiam estabelecer
comunicações a distâncias de milhares de anos-luz.
Ele cogita, inicialmente, da possibilidade de um
gerador termonuclear de grande potência que seria colo­
cado em órbita em tomo de uma estrela, como um pla­
neta artificial. Esse gerador podería ser localizado se a
maior parte de sua energia fosse emitida sob a forma
de luz, e surgiria então como um estrela dupla, intei­
ramente anormal.
Ora, observou-se um grande número de anomalias
nas estrelas duplas.
(!) Publicado no número de setembro de 1961, página 72, da
revista norte-americana Analog.

142
Assim, a revista Sciences et Avenir (agosto de
1962) publicou a seguinte informação:
“No Monte Palomar foi descoberto um “objeto”
celeste de tipo novo: uma estrela dupla da qual uma
das componentes girava em redor da outra, a uma velo­
cidade fantástica, completando uma revolução em 81,5
minutos.”
É preciso lembrar que se conhecem duas categorias
de estrelas duplas: as estrelas duplas “telescópicas” das
quais, ao telescópio, podem-se distinguir as duas compo­
nentes, e as estrelas duplas “espectroscópicas”, cuja
complexidade não é revelada senão pelo seu espectro. O
deslocamento alternativo de certos raios nesse espectro
(devido ao efeito Dõppler-Fizeau) mostra a aproxima­
ção e o afastamento alternado de uma componente que,
sem isso, não poderia ser localizada. Foi desse modo
que se descobriu a dualidade dessa surpreendente estrela.
Trata-se, com efeito, de uma Nova, isto é, de uma
estrela explosiva, surgida na constelação do Sagitário,
em 1913.
Essa estrela tinha, então, inesperadamente, multi­
plicado seu brilho por dois mil; depois voltou à lumi­
nosidade anterior, muito fraca, o de uma estrela de 15.a
grandeza. Em 1946, ela apresentou os sintomas de uma
nova crise.
Ao estudar pelos métodos mais modernos essa es­
trela, que depois de dezesseis anos voltara ao brilho nor­
mal, três astrônomos e astrofísicos do Monte Palomar
e do Monte Wilson, Robert P. Craft, John Mathews e
Jesse L. Greenstein, puseram em evidência sua parti­
cularidade: uma enorme velocidade de rotação da com­
ponente exterior, uma velocidade de 670 km/segundo.

143
Para compreender o interesse do fenômeno é pre­
ciso ter conhecimento das declarações feitas pelos auto­
res da descoberta:
“Se o segundo objeto tem massa suficientemente
grande, não inferior a um centésimo da massa do pri­
meiro, então — declarou Robert Craft — o sistema
poderá permitir determinar se as ondas gravitacionais
irradiam energia.”
A existência de ondas de gravitação é uma conse-
qüência matemática da equação einsteiniana da relati­
vidade generalizada. As opiniões diferem quanto ao fato
de saber se elas podem transportar energia. Se a res­
posta for positiva, elas poderiam ser assimiladas, por
exemplo, às ondas-rádio.
No entanto, não foi possível, até aqui, detectar sua
existência, pois a gravitação é uma força muito fraca
em condições normais.
“Mas (agora é J. Mathews que fala) se o primeiro
objeto da estrela dupla tem mais de cem vezes a massa
do segundo, então a energia gravitacional poderá ser
aí detectada. O sistema perderá energia gravitacional
pela sua radiação. O período de sua rotação tornar-se-á
mais curto e os dois objetos poderão entrar em colisão
a uma enorme velocidade.”
A equipe de astrofísica considera que o período
de rotação pode decrescer de um milímetro de segundo
daqui a quinze anos. O desvio acumulado durante esses
quinze anos em relação ao ritmo atual, deve chegar
então a mais de um minuto. Será possível pôr em evi­
dência esse desvio, talvez muito antes de três lustros.
Aplicando um campo de força à atmosfera de uma
estrela, poder-se-ia mudar a intensidade da emissão lu­

144
minosa ou polarizá-la de modo a produzir fenômenos
que não tenham aspecto natural.
Essa idéia, ao que parece, é inteiramente nova. Sa-
be-se, com efeito, que os campos de força, o campo
elétrico em particular e o campo magnético afetam o
plano de polarização de um raio luminoso, desdobram
os raios, etc.
Fenômenos naturais desse gênero são, por outro
lado, utilizados em astrofísica para medir os campos
magnéticos do sol e das estrelas.
Seria preciso uma tecnologia superior à nossa para
produzir esse efeito, mas, seres mais inteligentes que nós
podem, talvez, converter a totalidade da energia con­
tida na matéria em campo elétrico ou em campo magné­
tico.
De qualquer modo, a idéia é suficientemente inte­
ressante para que, num dia próximo, qualquer astrofí­
sico imaginativo examine fenômenos luminosos anor­
mais nas estrelas e chegue a uma descoberta.
O mesmo efeito podería ser aplicado a uma Super­
nova produzida por seres inteligentes, para criar uma
emissão luminosa modulada, que sirva de meio de in­
formação entre as galáxias.
A única objeção é que a luz leva milhões de anos
para vencer as distâncias entre as galáxias.
Mas se os seres vivos, quando isolados, morrem, as
civilizações vivem. Uma civilização estável pode esperar
alguns milhões de anos, o tempo necessário para que os
sinais voltem da nebulosa de Andrômeda.
Poder-se-ia também excitar nuvens de gás estelar
por bombeamento óptico, fazendo-as funcionar como
um laser contínuo.
145
A hipótese de um sinal de néon com vários anos-
-luz de comprimento, que se estenderia no céu, põe a
imaginação a funcionar. Ela não é absurda.
Ao que parece, foram observadas em gases inter-
estelares descargas de vários anos-luz de comprimento
que parecem naturais. Esse fenômeno poderia ser pro­
vocado artificialmente, com a ajuda de uma tecnologia
avançada. Talvez ele pudesse ser observado atualmente,
através de nossos grandes telescópios que estariam, nesse
momento, instalados na Lua e nas profundezas do es­
paço.
Com um campo magnético suficientemente pode­
roso poder-se-ia, por outro lado, desencadear oscilações
em um sistema que incluísse uma estrela-dupla. Produ-
zir-se-iam então emissões de luz, ondas gravitacionais e,
talvez, neutrinos suficientemente potentes para serem
detectados, no universo, a enormes distâncias.
Devemos nos lembrar de que nossa ciência está
dando os primeiros passos. Talvez um dia possamos
produzir os polos magnét':os vivos previstos em certas
teorias. Nesse dia, a realidade ultrapassará de longe a
ficção científica.
Por que não imaginar que essa experiência tenha
sido realizada no universo e que a observação de certas
estrelas-duplas anormais possa, um dia, nos dar a prova
de atividades inteligentes no Cosmos?
Por outro lado, induzindo, por um campo magné­
tico, reações em uma estrela, poder-se-ia fazer jorrar
feixes modulados de partículas cósmicas que levariam
um sinal ao universo.
Trata-se, em suma, de utilizar uma estrela como
um amplificador. Fornecendo-lhe um pouco de energia
poderiamos fazê-la produzir mais energia, conservando

146
embora a forma de sinal. É o que fazem em escala ter­
restre as estações emissoras de rádio e televisão.
Finalmente, um acelerador de partículas suficien­
temente poderoso poderia produzir pseudopartículas
muito pesadas cuja oscilação emitiria ondas de gravita­
ção detectáveis à considerável distância.
Enrico Fermi havia proposto a construção de um
acelerador constituído por uma cadeia de satélites em
torno da Terra, cujas partículas atingiríam a velocidade
da luz.
Um acelerador desse gênero emitiria sinais ou pelo
menos perturbações comparáveis às que recebemos do
cinturão de radiações que cerca o planeta gigante Jú­
piter.
No Ocidente, os astrônomos parecem se opor à
pesquisa de sinais de atividade inteligente no universo.
Na maior parte, eles consideram a vida um epifenôme-
no negligenciável, incapaz de produzir, no universo, uma
perturbação de importância.
Os soviéticos, ao contrário, consideram a vida uma
das forças fundamentais do universo, capaz de o trans­
formar. Assim, prepara-se, na União Soviética, a criação
de Institutos de Pesquisa no campo da biologia extra­
terrestre.
No Ocidente, entretanto, começam a se manifestar
sinais de interesse racional pela vida extraterrestre.
Arthur C. Clarke, que acaba de receber o prêmio
Kalinga, da UNESCO, pelo conjunto de suas atividades,
escreveu que se pode conceber a existência, no universo,
de criaturas inteligentes de uma dimensão ilimitada. Que
esses seres ter-se-iam desenvolvido, não em um planeta,
mas no espaço.

147
Ele evoca nuvens cósmicas inteligentes que Fred
Hoyle imaginou em La Nuée de 1’Apocalypse, sem re­
jeitar, entretanto, a possibilidade de estrelas inteligentes,
ou mesmo galáxias inteligentes.
Além do que, é preciso observar, uma galáxia tem
mais estrelas do que o cérebro humano tem neurô­
nios ...
E Clarke conclui: “Talvez seja melhor, para nossa
tranqüilidade de espírito, que jamais saibamos o que se
desloca dentro da noite cósmica na grande rota das
galáxias”.

148
IX

Como Falar aos Marcianos

Não existe mais do que uma


palavra na língua marciana: ké-
-ré-leu-leu-ko-rex. Significa tudo
que se quiser.
Blaise Cendrars, Moravagine

A série de livros publicados em Amsterdão e inti­


tulada Studies in Logic and the Foundations of Mathe*
matics, orientada por L. E. J. Brouwer, E. W. Beth e
A. Heyting, constitui um exemplo de obra científica
séria.
Essas obras analisam os próprios fundamentos das
matemáticas e são consideradas essenciais para aqueles
que se interessam por essa arte suprema e difícil.
No entanto, foi nessa série que começou a apa­
recer, em diversos volumes, a obra intitulada Lincos
Design of a Language for Cosmic Intercourse.
O autor dessa obra é o dr. Hans Freudenthal, que
ensina matemática na Universidade de Utrecht. O título
poderia ser traduzido da seguinte maneira:
“Lincos: Projeto de uma língua para as comunica­
ções cósmicas.”
Dois volumes foram editados (1963).
149
Essa obra monumental constitui a primeira tenta­
tiva séria de elaborar uma língua que permita a comu­
nicação com outros seres inteligentes.
O autor começa por definir a palavra “língua” sem
se lançar no terreno da semântica.
Para ele a língua inglesa é o meio de que se utili­
zam os ingleses para falar entre si. As fronteiras dessa
definição são vagas. O autor é o primeiro a reconhe­
cê-lo.
Quando dois astrônomos falam entre si um inglês
técnico entremeado de termos de astronomia, continuam
a falar inglês?
Em 1250 o monge Robert de Gloucester já escre­
via em inglês?
O autor se propõe, em seguida, a definir os códi­
gos cifrados. Ele emprega o termo “código” em um sen­
tido muito geral e admite que o conjunto dos sinais
utilizados para a circulação automobilística pode ser
considerado um código.
Ele vai até o ponto de considerar as Matemáticas
uma língua. Em sua opinião, existe uma diferença essen­
cial entre as matemáticas e as outras línguas, diferença
que reside no emprego dos parênteses, dos quais se pode
dar um exemplo na fórmula:

(x + yY = x1 + 2 xy + y2
dão à linguagem matemática uma precisão que não exis­
te na linguagem comum.
Se dissermos: “Ele estudou História da Medicina
em Florença”, essa frase encerra uma certa ambigüi-
dade. A pessoa de que se trata pode ter ido a Florença
para aí estudar a História da Medicina, ou pode ter es­

150
tudado, em Paris, a História da Medicina tal como
existia em Florença. O emprego dos parênteses nas ma­
temáticas provém dessas ambigüidades.
Outra característica da linguagem matemática per­
mite às variáveis definirem-se como tais.
Ao contrário, nas linguagens correntes, o sentido
de uma palavra pode ser modificado pelo seu contexto
e sem qualquer aviso prévio.
Na matemática sabe-se quando uma quantidade é
variável.
Assim, o autor propõe utilizar a linguagem mate­
mática modificada para o estabelecimento de comuni­
cações cósmicas.
Ele supõe que seres inteligentes, em algum ponto
do universo, podem medir o comprimento de ondas e a
duração da emissão de um sinal de rádio.
Ele não parte do princípio, comumente admitido
por outros autores de ficção científica, de que se come­
çará pela televisão, mas acredita que por descrições ver­
bais com a ajuda da língua que criou, chegar-se-á a
tornar conhecidos elementos suficientes para que os ha­
bitantes de outros planetas possam construir receptores
de televisão que nos permitirão mostrar-lhes objetos.
Para registrar as mensagens que ele vai enviar em
Lincos, o autor pretende utilizar símbolos procedentes
das matemáticas, das ciências, da lógica formal.
As regras da gramática e da sintaxe de Lincos serão
vagas, sendo Lincos destinada à interpretação por seres
inteligentes que se adaptam a estruturas novas.
Sua pontuação é constituída por interrupções apro­
priadas. O ponto de interrogação é introduzido de forma
matemática.

151
Lincos será emitido sob a forma de uma longa
série de mensagens transmitidas durante anos e que le­
vará séculos ou milênios para atingir seu objetivo.
Esse conjunto de mensagens constituirá um curso
que deverá, se for registrado e estudado com paciência,
dar àqueles que o receberem, um grande número de no­
ções fundamentais: a matemática, o tempo, o espaço, o
movimento, a massa, a matéria, a vida, a Terra, o com­
portamento dos seres vivos.
No fim do curso Lincos, um extraterrestre inteligen­
te conhecerá tanto sobre nossa Terra quanto um bacha­
rel dotado de boa memória.
O primeiro capítulo do curso interestelar por cor­
respondência corresponde às matemáticas. Ele com­
preende a introdução de números, a pontuação matemá­
tica, as frações, o que permitirá ao autor introduzir o
termo “etc.”, utilizando frações contínuas que se pro­
pagam indefinidamente.
A seguir, o curso introduzirá os números comple­
xos, a teoria dos conjuntos, as funções, noções de álge­
bra avançada e, finalmente, as palavras: verdadeiro,
falso e não, introduzidas a partir das matemáticas.
O capítulo dois concerne ao tempo. Começa a sur­
gir um relógio. Ensina-se ao interlocutor invisível, si­
tuado no espaço, a milhares de anos-luz, a registrar os
acontecimentos graças a suas coordenadas-tempo.
O capítulo três concerne ao comportamento. Ele
se compõe de uma série de peças de teatro, nas quais
as ações são acompanhadas de palavras: bem ou mal.
Um problema matemático cuja solução é certa é
bem; um problema cuja solução é falsa, é mal.
Nesse capítulo, o autor introduziu as palavras ida­
de, nascimento, tamanho, homem, animal. Ele chega

152
assim a descrever um homem, um ser humano, e a
mostrar que os seres humanos são numerosos na Terra.
O capítulo quatro evoca o espaço, o movimento, a
massa. Ele permite definir nosso planeta e apresentar
as leis de Newton e de Einstein.
Outros capítulos permitirão descrever o interior
de nosso corpo, o do animais, dando, ao mesmo tempo,
noções sobre nossa psicologia.
O autor, que é matemático, parece não ter grandes
conhecimentos de eletrônica. Ele teria podido simplifi­
car o trabalho mental de seus interlocutores invisíveis,
utilizando ondas convenientemente moduladas, isto é,
utilizando um outro sinal que não a duração de uma
emissão contínua.
Por outro lado, ele não esclarece, em nenhum pon­
to de sua exposição, que os sinais que emite são pro­
duzidos por uma máquina. Ele percebe essa falha à pá­
gina 184 e observa no pé da página:
“Nosso interlocutor pode obter, a partir deste texto,
a impressão de que o corpo humano pode produzir ondas
eletromagnéticas de comunicação.”
Parece-me que se o autor tivesse começado por
emitir uma descrição do aparelhamento que produz as
ondas, o que parece possível, ele teria permitido que seu
interlocutor ganhasse meses ou anos. Mas pouco im­
porta.
Quando se está pronto a esperar dois mil anos para
receber a resposta a um sinal, um mes não tem qualquer
importância.
Ao que sabemos, não existem talvez seres inteli­
gentes a menos de dez mil anos-luz de distância de nós.
O interesse de um trabalho como o do professor
Freudenthal é forçar-nos a analisar com precisão os
153
dados mais elementares, considerar nossa linguagem e
nosso mundo com olhos novos.
O interlocutor interestelar de Freudenthal pode
correr o risco de crer que o microscópio produz os pon­
tos chamados micróbios em uma gota d’água.
Freudenthal consagra numerosas páginas do pre­
fácio do seu livro aos meios de construir uma linguagem
na qual se tenha a certeza de poder evitar mal-entendi­
dos dessa espécie.
Ele tenta definir um conjunto de sinais que possam
traduzir a palavra “significar”. Essa palavra, aliás, se­
gundo Freudenthal (ele se inclina aí, por um momento,
para a estrutura da língua francesa) deveria ser substi­
tuída por “querer dizer”.
A esse propósito ele observa que a antiga magia
consiste em crer que todas as coisas têm um verdadeiro
nome e que o conjunto dos verdadeiros nomes constitui
uma linguagem.
Considera que é preciso encontrar idéias modernas
generalizadas ao substituir essa idéia. Segundo Freuden­
thal, jamais se encontrará uma expressão cujo sentido
seja independente do contexto. Essa atitude científica
se opõe a devaneios tais como a semântica geral de Kor-
zydski.
Freudenthal esclarece também que nenhuma filo­
sofia nem qualquer idéia preconcebida o orientaram na
elaboração de sua linguagem artificial.
Ele introduziu a descrição do corpo humano depois
da definição do homem e esclarece que será preciso pre­
caver-se de concluir que ele acredita na imortalidade
da alma.
Por outro lado, se ele define a vida como a possi­
bilidade de percepção, os leitores não devem deduzir
disso que sua posição é a de um homem sensual.
154
Podemos, entretanto, perguntar a que ponto certas
idéias preconcebidas influíram nas concepções de Freu-
denthal e a que ponto uma psicanálise de Lincos apre­
sentaria certo interesse.
Se a experiência for bem sucedida e a comunicação
por intermédio de Lincos puder ser estabelecida um dia
com outros seres inteligentes, serão iniciados estudos
sobre a origem de Lincos e inclusive uma psicanálise
do autor!
Na linguagem Lincos, um curto impulso de ondas
de rádios contínuas traduzir-se-ia em alto-falante, por
uma espécie de grito de pardal (o que Freudenthal
chama a peep).
Esse pequeno grito de pardal transmitirá, a prin­
cípio, números, em notação decimal.
Mais tarde, depois de algumas dezenas de mensa­
gens, ele lançará cifras em linguagem binária, isto é,
em um sistema de numeração no qual não se encontram
senão duas cifras, 0 e 1.
É o sistema empregado nas grandes máquinas ele­
trônicas de calcular.
Em seguida, serão introduzidos sinais de pontua­
ção, constituídos por pausas. Essas interrupções serão
mais ou menos longas, conforme a importância da pon­
tuação: fim de frase, fim do parágrafo, fim do capítulo.
Depois disso dar-se-á um certo número de cálculos
e um sinal correspondente ao ponto de interrogação.
Esse sinal vem no fim de um problema ao qual não se
deu resposta.
Seguem-se então a soma, a multiplicação, a divisão
e a introdução de frações.
Quando se verem aparecer frações que se prolon­
gam indefinidamente, como por exemplo 3/5, intro­

155
duzir-se-á um sinal correspondente à expressão “etc.”,
representado por uma fração que se prolonga indefini­
damente.
Isso permite introduzir séries de números que se
prolongam ao infinito. Chega-se, desse modo, simples­
mente a introduzir os grandes números essenciais das
matemáticas: pi (relação do diâmetro para a circunfe­
rência), e (base de logaritmos), e assim por diante.
Esses números servirão, mais tarde, para descrever
os objetos. Nesse momento, chega-se facilmente a defi­
nir os números: inteiros, primitivos, fracionários, com­
plexos. Isso permite emitir, com igual facilidade, dois
sinais significando “e” e “ou”.
E o curso de matemática prossegue: funções deri­
vadas, cálculo integral e cálculo diferencial.
O interlocutor invisível ainda não sabe nada de nós,
salvo que conhecemos a matemática elementar...
Explicamos agora os sinais do tempo a seres que
vivem em outros sistemas solares. Enviamos um sinal
que se reproduz a intervalos periódicos, em um certo nú­
mero de comprimento de ondas. Ele permite definir,
bastante depressa, o comprimento de onda e a freqüên­
cia de uma radiação; datar os acontecimentos e intro­
duzir sinais Lincos que significam “antes” e “depois”!
Desse modo pode-se predizer que se enviará um
sinal ao futuro. Se o sinal atingir uma galáxia distante
na qual o tempo de desenvolvimento for em sentido in­
verso, esses esforços serão reduzidos a nada.
Mas, não nos envolvamos demais em extrapolações
fantásticas. A própria idéia da comunicação, através
do rádio, com habitantes de um planeta situado a dez
mil anos-luz já não seria prodigiosa?

156
O autor descreve, a seguir, com sinais radioelétri­
cos: “Uma extensa comédia de cem atos diversos, cujo
cenário é o Universo.”
Trata-se de desempenhar, de qualquer modo, uma
peça que representa a vida sobre a Terra. Os autores
estabelecerão um diálogo do qual certas partes serão
verdadeiras, outras serão falsas. Esse diálogo deverá,
pouco a pouco, levar à descrição do emissor, isto é,
do homem.
Os receptores de além-céu nos localizarão graças a
fórmulas matemáticas que situarão nosso Sol.
Com a ajuda da velocidade da luz constante por
toda parte no universo, eles estabelecerão nossas di­
mensões.
Uma tabela de elementos químicos revelará que
somos alguns compostos de carbono.
Os seres interestelares saberão, desse modo, que so­
mos numerosos, que sabemos nos deslocar no espaço,
que temos um certo volume, que somos compostos de
átomos e de moléculas.
A partir daí, poderemos descrever o nosso meio.
Nossa posição no espaço será determinada pelas coorde­
nadas de algumas estrelas, que permitem delimitar a
posição de nosso Sol.
O autor nos dirá, em volumes que ainda deverão
ser editados, de que modo esses dados permitirão esta­
belecer um receptor de televisão sobre o qual os habi­
tantes de outros planetas poderão nos ver.
Depois do que a emissão de sinais prosseguirá
com a ajuda de filmes especiais.
A execução desse programa exigirá um esforço
constante de nossa civilização. Não se conhece, na his­

157
tória da humanidade, nenhum exemplo de empreendi­
mento feito com tal perseverança.
Antes que se estabeleçam as comunicações interes-
telares, pode-se esperar que Lincos já nos tenha permi­
tido um melhor conhecimento de nosso mundo e de nós
mesmos.
Lincos também podería se tornar uma linguagem
comum entre o homem e a máquina, ou talvez, entre
o homem e animais tais como o golfinho.
Mas, pode-se esperar também que, finalmente, che­
gue o dia em que receberemos, do espaço, mensagens em
Lincos.
Seres diferentes podem ter desenvolvido ciências
das quais nem mesmo temos a menor idéia, filosofias que
não concebemos.
Para acelerar esse intercâmbio seria preciso, pro­
vavelmente, substituir as ondas de TSF pela luz, uti­
lizando os lasers.
Poder-se-á, assim, receber das estrelas, em um se­
gundo, o equivalente aos conhecimentos de uma enci­
clopédia.
Talvez tenhamos a sorte de atingir um planeta já
ligado a outros sistemas solares, por telecomunicações
interestelares. Desse modo herdaremos tesouros de um
saber comum a múltiplas civilizações.
Os seres de outros planetas devem, logicamente, ter
inventado Lincos ou um método análogo, da mesma
forma que os diversos povos da Terra inventaram a lin­
guagem.
O Lincos constitui uma primeira aproximação de
uma linguagem cósmica universal que um dia unirá as
espécies e se aperfeiçoará indefinidamente.

158
A tentativa de Freudenthal liquida, no plano inte­
lectual, os outros empreendimentos do gênero. Contudo,
algumas idéias engenhosas foram lançadas.
Assim, o professor Philip Morrison, da Universi­
dade de Cornell, aventou a hipótese, bastante prová­
vel, de que nossos interlocutores desconhecidos possuam
um dispositivo que lhes permita determinar a forma
do número.
Normalmente, as ondas são sinusoidais, isto é, for­
mam uma curva que sobe e desce como uma onda. Mas
pode-se produzir também ondas quadradas, ondas trian­
gulares, etc.
Um dispositivo para determinar a forma do núme­
ro é indispensável a quem quer que receba ou emita.
Na Terra emprega-se, mais freqüentemente, o osciló-
grafo catódico, espécie de posto de televisão em minia­
tura, que faz parte do arsenal do perfeito mecânico de
máquinas e motores.
O oscilógrafo se baseia no sentido da vista, mas
poder-se-á imaginar um desses aparelhos que utiliza o
tato ou outros sentidos até o presente desconhecidos.
Morrison propôs enviar ondas quadradas represen­
tando os números e ondas de outras formas correspon­
dendo às operações aritméticas: adição, subtração, mul­
tiplicação, divisão. Cada número é representado por
um número equivalente de ondas quadradas.
Uma vez que o interlocutor desconhecido com­
preendeu os símbolos de operação, então passamos a en­
sinar-lhe o que é a recíproca de um número, isto é, 1 di­
vidido pelo número em questão. Assim 1 /2 é a recíproca
de 2.
A partir daí, introduzem-se frações e depois séries
de frações.

159
Transmite-se, então, uma série correspondente ao
número pi (relação do diâmetro para a circunferência).
Quando o interlocutor invisível tem a idéia de for­
mar um círculo na tela do seu instrumento, nós lhe en­
viamos ondas pontudas representando a varredura do
vídeo de modo a reproduzir imagens de televisão. Esta­
belecido o sistema de televisão, o contato se tornará
fácil.
Morrison considera que, em dez minutos, seu pn>
grama pode ser compreendido. Bem entendido, milhares
de anos poderíam se escoar antes que nos chegue qual­
quer resposta. É preciso, é claro, esperar — diz Morri­
son — que a resposta não nos venha trazida em um feixe
de neutrinos ou por outro meio que ainda desconheça­
mos.
Os cientistas discutiram muito sobre o segundo tem­
po da operação e sobre o programa de televisão a exibir
quando o contato estiver estabelecido.
A questão não é inútil: bastaria a vista de um dos
nossos filmes de guerra para tirar a qualquer ser inteli­
gente o desejo de comunicar-se conosco!
Será preciso, portanto, escolher cuidadosamente
as imagens. É pouco provável que nossos conhecimen­
tos sejam excessivamente perigosos para serem transmi­
tidos. Seres capazes de se comunicar através de anos-
-luz certamente já superaram a crise da energia atômica
sem se autodestruir.
Por outro lado, talvez a guerra seja um fenômeno
patológico, uma doença mental coletiva, que se verifica
exclusivamente em nosso planeta.
Ao contrário, nossos interlocutores cuidarão de
não nos transmitir fórmulas capazes de transformar
nosso Sol em Nova ou de fazer explodir nosso planeta.

160
Eles nos darão (pelo menos é o que se pode ima­
ginar) o meio de fabricar o açúcar a partir do ar, de
curar as doenças, e talvez mesmo, de viver em paz.
No Scientific American de abril e maio de 1962,
Martin Gardner consagra dois artigos às dificuldades
que se encontraria em levar aos habitantes de outro pla­
neta as noções de direita e esquerda. Gardner imaginou
a seguinte situação:
“Mensagem do planeta X aos habitantes da Terra:
Vocês nos enviaram descrições de nebulosas espirais.
Vocês dizem que a nebulosa espiral n.° 5.194 do catá­
logo geral, vista da Terra, apresenta dois braços voltados
para o exterior, no sentido dos ponteiros de um relógio.
Que querem dizer com isso?”
A resposta evidente seria que os ponteiros de um
relógio giram da esquerda para a direita.
“Mas, que querem vocês dizer com direita e es­
querda?”
É praticamente impossível dar essa informação, a
menos que os habitantes do planeta X tenham desco­
berto o fenômeno da não-conservação da paridade.
Em virtude desse fenômeno, os eléctrons produzi­
dos em certas desintegrações são enviados, de preferên­
cia, em direções definidas. Tudo se passa como se o
espaço não fosse simétrico para certas reações o que,,
em terminologia técnica, se traduz quase pelas seguintes
palavras: “A paridade não é conservada para as reações
fracas.”
Enquanto não se tiver conseguido traduzir em Lin­
cos essa noção complexa não conseguiremos levar os
habitantes do planeta X a compreender a diferença que
existe entre a direita e a esquerda.

161
Por outro lado, a mesma dificuldade se apresentará
com todas as outras polaridades, sobretudo com as car­
gas elétricas.
Se o planeta X é composto de antimatéria, seus ha­
bitantes chamarão positivo o que qualificamos de ne­
gativo e inversamente.
Se lhes ensinarmos a filosofia chinesa eles poderão
tomar o Yin pelo Yang. O Yin e o Yang na filosofia
chinesa são os dois princípios opostos cuja existência
explicaria todas as polaridades do universo: o amor e o
ódio, a eletricidade positiva e a negativa, a matéria e a
antimatéria, o bem e o mal, a vida e a morte.
Poder-se-á dizer o mesmo no que concerne aos pro­
blemas de moral. Esse aspecto da comunicação preo­
cupou um certo número de filósofos segundo os quais,
em um universo essencialmente hostil, em planetas onde
a luta pela vida é dura, ninguém enviará sinais, pelo
medo de se fazer localizar e desencadear a guerra dos
mundos.
Na verdade, o conflito material e a guerra galácti­
ca são provavelmente impossíveis. Pode-se esperar, por
outro lado, que o progresso científico e técnico seja
acompanhado, em geral, de uma evolução moral.
Ao contrário, poderá haver uma guerra psicológica
no espaço, no sentido de que a introdução de idéias no­
vas pode produzir, ao mesmo tempo, na Terra e no
Planeta X, guerras religiosas e problemas políticos.
Sem dúvida, milhares de anos se escoarão entre
as mensagens, mas uma só mensagem, transmitida em
um raio de luz modulada, poderá ser ampla como uma
enciclopédia. . .

162
X

Viagens ao Infinito

Além dos espaços vazios, até as


estrelas mais distantes.
John Taine
(Pseudônimo do matemático
norte-americano Eric Temple Bell,
em A Onda do Tempo)

Um Congresso de Amadores de Ficção Científica


se realizou em Nova York há alguns anos. Vários laurea­
dos do prêmio Nobel e cerca de cinqüenta professores
de universidade estavam presentes. Repentinamente uma
mão se ergueu e um dos participantes declarou:
— Eu não sou mais do que um modesto amador,
mas gostaria de fazer uma pergunta. Albert Einstein
demonstrou, sem sombra de dúvida, que nenhum objeto
que se move pode deslocar-se mais depressa do que a
luz?
— É exato — respondeu um dos laureados com
o Prêmio Nobel.
— Contudo, senhores autores de ficção científica,
os senhores se obstinam em imaginar astronaves que se
deslocam mais rapidamente do que a luz graças ao hi-
perespaço?

163
— Exatamente — responderam vários autores.
— Então, eu gostaria de perguntar: Qual é a di­
ferença entre o hiperespaço e a feitiçaria?
Ninguém foi capaz de lhe responder.
Com efeito, a lei de Einstein é formal. Para ultra­
passar a velocidade da luz, seria preciso despender mais
energia do que a que existe no universo. Além disso,
ultrapassando a velocidade da luz no espaço, recuar-se-ia
no tempo.
Certos físicos avançados, entre os quais Jean Cha-
ron, não compartilham desse ponto de vista. Jean Cha-
ron acredita que as equações de Einstein devem ser
revistas. Não seria o tempo que se contrai quando nos
deslocamos muito depressa, mas o espaço. Por conse­
guinte, poder-se-ia atingir as galáxias mais distantes e
voltar em tempo semelhante àquele que se escoaria a
bordo do foguete. Seria possível ir à nebulosa de Andrô-
meda e voltar no lapso de tempo de cinqüenta anos. O
mesmo período ter-se-ia escoado sobre a Terra.
Seu raciocínio não me parece convincente: é me­
lhor nos atermos à teoria de Einstein.
Este afirma que não podemos nos deslocar mais
depressa do que a luz. É inútil, ao que parece, buscar
um caminho mais curto: um hiperespaço onde pudesse
haver caminhos mais curtos que a linha reta. Essa idéia
de ficção científica não corresponde ao mundo real.
Não existe nenhuma prova da existência de uma
quarta dimensão espacial (o tempo é uma quarta dimen­
são, mas uma quarta dimensão do universo e não do
espaço).
Se se pretende imaginar que, tendo estabelecido
comunicações interestelares através do Lincos, deseja­
ríamos melhorar essas comunicações por meios mate­

164
riais, é preciso examinar os fatos à luz daquilo que sa­
bemos efetivamente.
A primeira conclusão que se impõe é que mesmo
com a contração do tempo, as estrelas distantes nos são
interditas. As quantidades de energia necessárias para
produzir as grandes contrações do tempo são de tal
forma consideráveis que podemos, no máximo, pensar
em explorar uma esfera de cinqüenta anos-luz de raio
em. torno do nosso Sol.
Para além disso, as viagens durariam milênios. E
não parece que os mais extraordinários progressos cien­
tíficos possam alterar esses dados em futuro previsível.
É preciso então pensar em enviar ao espaço quer
mensagens em estado de animação suspensa, adormecida
e provavelmente congelada, quer colônias inteiras, quer
mensagens para as quais o tempo não tem valor, isto é,
máquinas e talvez micromáquinas.
A nova ciência da microeletrônica permite acumu­
lar grande número de componentes eletrônicos em um
volume reduzido. Um milhão por centímetro cúbico, ou
talvez um bilhão.
Cogita-se, em geral, como aplicação principal da
microeletrônica, da construção de máquinas tão compli­
cadas como o cérebro humano. Construindo-se máqui­
nas suficientemente pequenas para dispensar um motor
e serem propelidas por foguetes da aviação solar, pode-
-se semear o universo com máquinas desse gênero, emi­
tindo um sinal a cada vez que se aproximam de uma
estrela.
Essas micromáquinas emitiríam o programa Lincos
enquanto fossem alimentadas de energia pelos raios de
uma estrela.

165
Do tamanho de uma bola de tênis, poderiam ser
lançadas para fora da atração solar, a uma velocidade
da ordem de 50km/seg. por foguetes químicos de
estágios.
Com a energia nuclear isso seria ainda mais fácil.
Um objeto desse gênero levaria mais tempo que um
sinal de rádio ou um sinal luminoso para chegar à vizi­
nhança de uma grande estrela.
Uma vez capturada pelas astronaves ele fornecerá
a nossos irmãos do espaço a prova irrefutável de nossa
existência, permitir-lhes-á situarmos e mostrar-lhes-á
que as comunicações conosco valem a pena.
A troca de objetos desse tipo através dos anos-luz
é concebível. Seria indispensável uma esterilização, pois
não temos qualquer defesa contra os micróbios de outro
sistema solar, e a recíproca é verdadeira.
Além das micromáquinas pode-se cogitar do envio,
para fora do sistema solar, de objetos mais importantes,
entre os quais um verdadeiro palácio da descoberta,
contendo o essencial de nossa civilização. Enquanto não
houver seres vivos a bordo, a questão da duração da
viagem não existirá. Tratar-se-á de um ato gratuito, um
presente feito aos habitantes de outro planeta.
A própria operação poderá ser encarada à luz dos
conhecimentos científicos atuais.
Afirma-se, em geral, que a famosa equação de
Einstein E = mc2 significa que a matéria pode ser con­
vertida totalmente em energia. Isso é falso. Na reali­
dade, a equação da Einstein se refere unicamente às
variações de massa que podem verificar-se durante uma
transformação. Com efeito, essas transformações de
massa podem ser convertidas em energia.

166
Mas, nada nas equações de Einstein indica que a
massa possa ser inteiramente destruída e não se conhece
nenhum meio de chegar a isso.
O que se pode fazer — teoricamente — é construir
uma espécie de superacumulador fabricando, no labo­
ratório, com grande gasto de energia, a antimatéria.
Essa antimatéria teria núcleos compostos de anti-
partículas: antinêutrons e antiprótons. Esses núcleos se­
riam cercados por um cortejo de posítrons. A destrui­
ção dessa antimatéria ao contato da matéria libertaria
energia.
O problema é conseguir essa energia de forma em
que possa ser refletida por um espelho sem o fundir to­
talmente. Se a energia fosse produzida sob a forma de
luz visível, o melhor espelho conhecido não refletiría
senão 99.99% dessa energia, o 1/1% restante bastaria
para fundir o espelho.
A única radiação para a qual nós saberiamos cons­
truir espelhos que refletissem a quase-totalidade dos
raios, conservando menos de 100/1.000.000, encon­
tra-se no espectro de ondas de TSF. Ela é composta
de ondas de 1/10 de milímetro de comprimento.
Um espelho de cobre, suficientemente maciço.e po­
lido, reflete a totalidade da energia com uma perda mí­
nima. Sob o efeito dessa reflexão, o espelho recua e nós
conseguimos, assim, o que chamamos a lâmpada voa­
dora ou, em termos mais técnicos, o foguete fotofônico.
O professor soviético Stanioukovitch estuda em la­
boratório o foguete fotofônico mas não espera conse­
guir resultados durante sua vida. Ele acredita, entretan­
to, que aproximadamente no ano dois mil o laboratório
que ele teve a iniciativa de criar terá construído fogue­

167
tes fotofônicos e que o século XXI verá o envio desses
engenhos para fora da Terra.
É possível que os alemães estejam mais adiantados
do que os soviéticos pois, a 22 de fevereiro de 1963,
sua imprensa anunciava que o principal colaborador
do professor alemão Eugen Sãnger, o maior especia­
lista ocidental em matéria de foguetes fotofônicos, ha­
via sido alvo de misterioso atentado.
Teriam pretendido assassiná-lo para se apoderar
dos planos do foguete? É provável. Já há um ano afir­
mava-se que as pesquisas de Sanger estão mais adian­
tadas do que se poderia pensar e que ele teria conse­
guido um foguete fotofônico cujo motor seria o famoso
gerador laser.
Também se pode cogitar de um foguete fotofônico
pilotado. Os problemas levantados por esse engenho pa-
recem, no momento, insolúveis. Deslocando-se a uma
velocidade próxima à da luz, o foguete fotofônico inter­
cepta os raios cósmicos dos quais sua tripulação rece­
bería uma dose mortal. Os primeiros cálculos feitos no
laboratório de Stanioukovitch o demonstram. Pode-se,
evidentemente, cogitar de um anteparo contra os raios
cósmicos, uma barreira magnética que os curvaria em
torno do foguete.
A questão está sendo estudada. No momento, con­
tinuamos com o foguete fotofônico sem piloto, trans­
portando um museu, para uso dos habitantes de outros
sistemas solares.
Uma vez construído, esse engenho seria transpor­
tado pelos foguetes químicos ou atômicos para longe,
no espaço, a fim de ser submetido a provas. Os jatos de
radiações que dele se escapassem seriam capazes de dis­
solver continentes inteiros.

168
Na União Soviética, o dr. Agrest pensa que certas
extensões vitrificadas, nos desertos da Líbia em parti­
cular, são devidas a reatores de frenagem de foguetes
fotofônicos vindos de fora.
Eu lhe deixo inteira responsabilidade no que con­
cerne a essa hipótese original.
O foguete fotofônico teleguiado será experimentado
no espaço. Depois de terminado, encher-se-á completa­
mente seus reservatórios com a matéria comum e anti-
matéria. A matéria comum poderá ser água. A antima-
téria utilizada, que poderá ser a “antiágua”, isto é, uma
mistura de anti-hidrogênio e de antioxigênio, será con­
tida em um recipiente magnético que a impede de tocar
as paredes do foguete. Dois minúsculos jatos de água
e de antiágua, de vapor e antivapor se unirão no centro
de um gigantesco espelho parabólico de cobre maciço.
Um dispositivo fará com que a energia produzida apa­
reça sob a forma de ondas de TSF de 1/10 de milí­
metro.
A reação dessas ondas projetará o engenho no
espaço a velocidade sempre crescente.
O efeito Dõppler diminui o comprimento das ondas
emitidas pelo foguete que se transformarão, finalmente,
em luz visível.
Esse ponto de luz intensa no céu será acompanhado
pelos grandes telescópios instalados na Lua e no espaço.
O engenho continuará aumentando de velocidade até o
esgotamento das reservas de antimatéria. Depois seguirá,
por uma trajetória prevista, para uma estrela da qual
teremos razão para pensar que possui um sistema pla­
netário.

169
Chegando à proximidade da estrela, o engenho
deter-se-á por meio de um reator atômico e emitirá sinais
sobre ondas de comprimento conhecido.
Pode-se esperar que, nesse momento, seres mais
avançados do que nós se apoderem do engenho e exa­
minem o museu que lhes foi enviado, há dezenas de mi­
lhares de anos, por primitivos habitantes de qualquer
ponto do espaço.
Provavelmente, sua televisão anunciará: “Um visi­
tante do passado nos traz preciosas informações sobre
os primórdios de uma civilização de há cem mil anos,
nas proximidades de uma estrela a que os seres dessa
civilização chamavam ‘Sol’.
Esses seres, que se chamavam Terrenos, devem ter
atingido mais tarde um alto grau de civilização e vamos
tentar entrar em comunicação com eles”.
E duzentos mil anos depois do lançamento desse
engenho, nossos descendentes, dos quais não sabemos
se ainda se assemelharão a homens, receberão, por sua
vez, um foguete fotofônico, cuidadosamnte esterilizado
no momento da partida e contendo as invenções, a arte,
a filosofia e a religião de nossos irmãos interestelares.
A máquina terá, desse modo, vencido os imensos
espaços que a pequena duração de vida dos seres organi­
zados não atravessa.
Uma comunicação ter-se-ia estabelecido, não entre
indivíduos, mas entre civilizações.
E nossos descendentes não teriam nenhuma dúvida
quanto à existência da vida em outros mundos, pois,
terão em seu poder objetos que não foram feitos pela
mão do homem.
O foguete fotofônico seria o único motor para um
engenho interestelar?
170
Até nova ordem, parece que será esse o caso. Co-
gitou-se, em ficção científica, da propulsão por campos,
isto é, de máquinas que de algum modo se apoiavam
sobre a própria estrutura do espaço. Mesmo o espaço
vazio é composto de campos de força, que reagem entre
si e que vibram.
A Física moderna fala de flutuações do vácuo.
Pode-se, evidentemente, imaginar um dispositivo que se
apóie nessas flutuações do vácuo para obter uma pro­
pulsão no espaço.
Nenhuma experiência de laboratório indica, entre­
tanto, a possibilidade de tal processo.
Quanto aos diversos motores atômicos e elétricos
para foguetes, que estão sendo experimentados, seu im­
pulso será sempre insuficiente 'para atingir velocidades
próximas à da luz.
O foguete interestelar será fotofônico ou será pro-
pelido por um motor que ninguém ainda imaginou.
Talvez esse motor utilize a própria força de re­
pulsão Cósmica, força que afasta as galáxias umas das
outras e que causa a expansão do universo.
O foguete fotofônico se baseia na síntese, em labo­
ratório, de duas antipartículas antinêutron e antipróton.
A eletrônica molecular não é de nenhum modo uma
utopia. Ela consiste em produzir cristais extremamente
puros a partir de um semicondutor: silício ou germânio,
por exemplo, e introduzir impurezas nesses cristais.
Os eléctrons emitidos ou absorvidos por essas im­
purezas se comportam como resistências, como conden-
sadores, unidades de memória, emissores ou receptores
de ondas.
Chega-se a ter assim, por centímetro cúbico, até
um milhão dessas peças destacadas.

171
Além disso, a superfície de uma micromáquina ele­
trônica pode ser tratada de modo a absorver energia
solar e a fornecer energia à máquina.
Também se pode incorporar ao cristal átomos ra­
dioativos que, durante milhões de anos, fornecerão à
micromáquina eletrônica a energia necessária ao seu fun­
cionamento.
Daí por diante já se poderá construir micromáqui­
nas eletrônicas que emitem sinais detectáveis a milhares
de quilômetros.
Quando pousarem na superfície de um planeta,
essas micromáquinas certamente chamarão a atenção
dos seus habitantes se estes utilizarem ondas hertzianas.
Mas, seria possível conceber uma micromáquina
suficientemente poderosa para emitir sinais que possam
atravessar os anos-luz e nos informar sobre o que se
passa no meio em que ela se encontra?
Essa técnica vai progredir. Pode-se imaginar mi­
cromáquinas comportando-se como um condensador do
qual cada átomo receba uma carga de energia que, des-
carregando-se bruscamente, emitiría um sinal que atra­
vessaria as distâncias de anos-luz antes de ser captado
pelas antenas dos grandes radiotelescópios instalados na
Lua ou no espaço.
Cada micromáquina será regulada de modo a nos
informar sobre uma única propriedade do meio onde se
encontrar colocada.
Algumas dessas micromáquinas funcionarão como
termômetros; outras medirão a radioatividade, a pressão
atmosférica, o campo magnético.
Finalmente, com a condição de saber de que mi­
cromáquina provém o sinal (e vai nisso um problema

172
de código perfeitamente solúvel), nossos descendentes
acabarão por ter uma idéia bastante precisa das condi­
ções inerentes ao espaço interestelar e aos outros pla­
netas.
Muitas micromáquinas serão perdidas, porque cai­
rão sobre um sol, sobre uma estrela incandescente ao
invés de pousar sobre um planeta. As outras terão con­
dições de emitir sinais.
A menor dessas micromáquinas será do tamanho
de um grão de poeira, mal visível a olho nu. A maior
terá a dimensão de uma bola de tênis.
Pode-se cogitar de utilizar um foguete fotofônico
para lançar micromáquinas nas proximidades de uma
estrela. O foguete lançaria milhões dessas micromáqui­
nas assim que tivesse detectado um planeta semelhante
à Terra.
Provavelmente, esse método será utilizado por ci­
vilizações diferentes da nossa. O exame da poeira cós­
mica sobre a Terra ou no espaço nos reserva, provavel­
mente, numerosas surpresas.
Pensou-se muito em micromáquinas que conseguis­
sem a informação pura, transportada por um sistema
de ondas.
O escritor científico inglês Arthur C. Clarke obser­
vou que essas organizações evocariam bastante a alma
imortal. Um ímã de ferro que se utiliza para recolher
alfinetes modifica o espaço em torno dele. Suponhamos
que se encontre um meio de retirar o ímã, conservando,
entretanto, a modificação do espaço. A teoria prova que
não há limites à quantidade de informações que se pode
colocar em um espaço estruturado modificado. Se con­
seguirmos, depois, lançar esses fragmentos de espaço
modificado em direção às estrelas, como um raio de luz

173
ou uma onda de TSF, teremos construído a última
máquina, o definitivo receptor de informações.
O que o homem concebeu, o homem poderá, um
dia, realizar, desde que se trate de um conjunto de idéias
isento de contradições internas.
Uma tal máquina, tão imaterial como um campo
magnético, tão rápida quanto um raio de luz, poderá
se deslocar por toda parte.
A diferença entre esse sistema e uma onda de
TSF ou uma onda luminosa modificada, é que uma
onda modulada é obrigada a se propagar em linha reta.
A modulação desaparece quando há interrupção com
a matéria, enquanto a informação instalada no espa­
ço, poderá se conservar indefinidamente. Seria possível
transportá-la em uma fita magnética, enquanto o registro
original permanecería eterno.
Talvez o espaço em torno de nós esteja cheio desses
registros, que não sabemos detectar tanto quanto os an­
tigos não sabiam detectar a radioatividade.
Nossos sentidos e nossa imaginação são de tal
forma limitados, e o universo é tão vasto...

174
Epílogo

As maravilhas são numerosas,


mas não seria o próprio homem
a mais surpreendente?
Heródoto

Ventilamos grande número de hipóteses. Tavez te­


nha chegado o momento de verificar que proporção de
realidades elas contêm.
O laser não pertence, de nenhum modo, ao domí­
nio dos sonhos. Eu vi um feixe de luz vermelha cortar
em duas uma lâmina de barbeador com a mesma facili­
dade com que um fio distendido penetraria na man­
teiga.
Os soviéticos, assim como os norte-americanos,
constroem lasers cada vez mais aperfeiçoados. Utilizam
para isso um conceito que se teria acreditado impossível
há alguns anos: o das temperaturas mais baixas que o
zero absoluto, isto é, temperaturas verdadeiramente ne­
gativas.
A matéria nesse estado é muito instável e pronta a
libertar enormes quantidades de energia.
Durante uma discussão que travei com eminentes
cientistas, pelo rádio, alguns negaram a possibilidade de
temperaturas inferiores ao zero absoluto.
175
Ora, um artigo1 de Lucienne Couture, profes­
sora na Faculdade de Ciências de Paris, Laboratório
Aimé-Cotton, Bellevue (Seine-et-Oise) e de M. Rodol-
phe Spoendlin, engenheiro do Serviço de Baixas Tem­
peraturas do Laboratório Joliot-Curie, Orsay (Seine-et-
Oise) esclarece e define essa questão da temperatura ne­
gativa:
“Alguns físicos falam, atualmente, de temperatu­
ras negativas. Não se trata de uma nova grandeza física
diretamente mensurável, mas de um simples conceito
procedente de uma generalização da fórmula de Boltz-
mann chamada então temperatura estática.
Com efeito, em uma fórmula, pode-se sempre supor
que um parâmetro, neste caso T, seja negativo. Que re­
sulta disso para a distribuição dos sistemas atômicos
entre os diversos estados de energia? Chega-se simples­
mente à conclusão de que, no caso de dois níveis, é o
nível superior que deve ser o mais povoado.
Essas divisões podem ser feitas pela excitação da
matéria. Esta se encontra, então, fora de equilíbrio ao
qual voltará em tempo relativamente prolongado (tem­
po de relaxamento).
Não se pode, entretanto, falar de temperatura ne­
gativa senão para estudos instáveis da matéria e obser­
vando bem que tais temperaturas não são atingidas a não
ser passando por propulsões iguais e, portanto, passando
por temperaturas infinitas. Não é um domínio de tempe­
ratura que se pode atingir ao passar pelo zero absoluto,
o que seria impossível.”
Graças a esses novos estados instáveis da matéria,
cogita-se de poder produzir, dentro em breve, feixes de
luz de tal forma intensos que os habitantes de planetas(i)
(i) Indústrias atômicas, n.° 78, 1962, pág. 61.

176
que giram ao redor de outras estrelas acreditarão, à pri­
meira vista, que o Sol se tornou uma estrela dupla.
Eles perceberão, em seguida, que o feixe de luz é
modulado e poderão detectar que ele transporta imagens
de televisão.
A experiência de transmissão de imagens de televi­
são sobre um feixe de luz laser foi feita na Alemanha,
muito recentemente. Foi inteiramente bem sucedida.
Poder-se-ia assim enviar os três primeiros volumes
do programa Lincos, em menos de uma hora. A expe­
riência será repetida tantas vezes quantas forem necessá­
rias, apontando os projetos laser para diversas estrelas
onde se pode esperar encontrar planetas habitáveis.
As micromáquinas não são de nenhum modo pro­
duto de imaginação. Muito recentemente, a imprensa
técnica norte-americana publicava anúncios publicitá­
rios descrevendo um circuito eletrônico completo susce­
tível de numerosas aplicações para a automação.
Depois disso, virava-se a página e podia-se ler:
“Nota complementar de informação: o circuito que nós
vos propomos é do tamanho disto”.
O conjunto do aparelhamento completo anunciado
não era maior do que um ponto feito pela máquina de
escrever!
É preciso esclarecer, por outro lado, que se trata de
uma criação muito recente e que a empresa que vende
esse circuito reconhece que se está nos primórdios da
nova técnica.
As micromáquinas que imaginamos não têm, por­
tanto, nada de fantástico.
E os foguetes que puseram Nicolaiev e Popovitch
em órbita podem igualmente projetar, para fora do sis­
177
tema solar, a uma velocidade de 50km por segundo,
um objeto que pesa um cento de gramas. Esse objeto
conteria, no entanto, milhões de micromáquinas e uma
pequena carga química explosiva comandada por uma
fotocélula que pode dispersar essas máquinas no espaço
assim que a micromáquina chegue à proximidade de um
outro planeta.
Se existem venusianos e se eles dispõem de instru­
mentos de detecção, perceberão, provavelmente, que um
satélite artificial passou muito perto do seu planeta antes
de se transformar em um satélite do Sol.
A estação automática de observação norte-ameri­
cana Mariner n está já bastante adiantada. Outros sa­
télites certamente serão lançados.
O excelente boletim de informações CISEP in­
forma:
“O engenho de observação astronáutica norte-
-americano Mariner, lançado a 25 de agosto de 1962,
atingirá a vizinhança de Vênus no começo de dezembro.
Acredita-se agora que ele passará bastante perto para
fazer observações interessantes sobre o planeta.
“O aparelhamento do Mariner é feito para inspe­
cionar minuciosamente Vênus sobre ondas milimétricas
e infravermelhas. Ele poderá, desse modo, determinar
a natureza e a temperatura da superfície de Vênus e das
nuvens que o recobrem.
“Um magnetômetro ultra-sensível dever-lhe-á per­
mitir detectar o campo magnético de Vênus. Supõe-se
que esse campo seja fraco e que, em conseqüência, os
cinturões de radiação venusianos são muito menos im­
portantes que os cinturões terrestres.

178
“O programa do Mariner não prevê a fotografia da
‘estrela do pastor’, mas inclui, em sua trajetória, certas
observações muito interessantes como as da distribuição
da poeira interplanetária, graças a um detector acústico
representado por uma fita de magnésio que transmite a
um microfone o choque de cada grão de poeira. Essa
parte do programa será cumprida, mesmo que o Mari­
ner passe longe de Vênus, com a condição, bem enten­
dido, de que a ligação-rádio seja mantida.
“Antes do lançamento, o Centro de Informações da
NASA havia anunciado que o Mariner passaria a menos
de vinte mil quilômetros de Vênus, pois na base do en­
genho fora colocado um pequeno reator de hidrazina,
dirigido por rádio e em condições de retificar a trajetó­
ria do engenho em movimento.
“O lançamento balístico de 25 de agosto foi bem
sucedido e a trajetória obtida passava normalmente a um
milhão de quilômetros de Vênus o que, em um percurso
de sessenta milhões de quilômetros, era um bom resul­
tado para a técnica norte-americana de lançamento. A
correção dessa trajetória conseguida depois depende de
uma outra técnica: a das transferências de órbita tele­
comandadas.
“Teriam os soviéticos feito também uma tentativa
em relação a Vênus?
“Sim, segundo a NASA. Mas essa afirmação parece
gratuita. Há vários ‘objetos’ não anunciados, lançados
recentemente pela URSS para órbitas próximas, de bai­
xa altitude, mas é improvável que eles tenham qualquer
relação com uma missão a Vênus.
Receando que esses corpos tenham um objetivo
militar, os norte-americanos lançaram um boato para
saber a verdade.”

179
Assim, portanto, o desenvolvimento técnico que
deverá levar à comunicação com nossos irmãos das es­
trelas, parece seguir a direção que indicamos.
Há aproximadamente cinqüenta anos, quando se
falava da conquista do espaço, a grande questão era
saber se ela seria feita com a ajuda de dirigíveis leves,
ou de dirigíveis flexíveis.
Alguns cérebros particularmente audaciosos como
o do soviético Tsiolbovski (o pai da astronáutica) che­
gavam a predizer que a conquista do espaço far-se-ia em
um dirigível mais leve que o ar, porque nele se faria
o vácuo.
Todos consideravam que apenas um dirigível per­
mitiría a conquista do espaço.
Enquanto isso, dois consertadores de bicicletas, os
irmãos Wright, inventavam o avião. Existirão, por aca­
so, em qualquer ponto do planeta, consertadores de bi­
cicleta capazes de concretizar os projetos que expuse­
mos e de estabelecer, por outros meios, a comunicação
com as estrelas?
Talvez. Outro caminho poderia se abrir, o dos fe­
nômenos telepáticos dos quais um jornal tão sério como
O Figaro ressaltava em 15 de setembro de 1962:
“O semanário Orszag-Vilag, da Associação Hún-
garo-soviética revelou, em uma reportagem que “o hip­
notismo e a transmissão de pensamento” eram agora
considerados, na URSS, processos científicos baseados
no materialismo dialético.”
Segundo o professor soviético Vassiliev, que dirige
as experiências de transmissão de pensamento em dife­
rentes laboratórios, o cérebro do hipnotizador constitui
uma espécie de emissor de rádio e os dos médiuns fazem
funcionar receptores.

180
Suas experiências — como afirmou — demonstra­
ram que os médiuns obedecem às ordens do hipnotiza­
dor, sejam eles colocados em uma mesma sala ou em
outra peça, outra casa e até mesmo em outra cidade.
Quanto à telepatia, o professor a considera um fe­
nômeno perfeitamente explicável: quando um cérebro
emite, com força, sinais na direção de outro cérebro,
este último deve captá-los sem dificuldade.”
Essa informação se confirmou. O estudo dos fenô­
menos telepáticos parece ter sido abordado, na URSS,
com espírito científico e meios apropriados.
Até o presente esses trabalhos não foram bem su­
cedidos porque aqueles que estão interessados neles,
como o norte-americano Rhine, procuravam mais a pro­
va da existência da alma imortal do que precisar o as­
pecto científico do problema.
As experiências feitas parecem demonstrar que
existe um espaço-tempo psicológico muito diferente do
espaço-tempo dos físicos.
As distâncias no espaço, tal como as concebiam os
astrônomos e os físicos, quase nada tinham a ver com o
pensamento.
Nessas condições, pode-se emitir uma hipótese: o
sentido telepático, a faculdade de transmissão de pen­
samento, não são talvez um atavismo, um laço com o
animal, mas, ao contrário, um novo sentido que emerge,
um sentido do qual a humanidade talvez tenha necessi­
dade para a conquista do espaço.
Cinqüenta milhões de anos antes que o primeiro
peixe saísse do mar, pulmões rudimentares e inúteis
permitindo respirar o ar e não o oxigênio sob a água
já começavam a aparecer. A evolução é orientada. Ela
não se processa ao acaso.

181
Teria a transmissão de pensamento começado a
aparecer porque se tornará necessária?
O cérebro humano poderia, por si só, vencer os
abismos entre as estrelas?
Heródoto afirmou: “As maravilhas são numerosas,
mas não seria o próprio homem a mais surpreendente”?

182
índice

I. — AS JANELAS DA PRISÃO .................................................. 11


II. — Através da primeira janela, olha-se .... 31
III. — Através da segunda janela, escuta-se .... 51
IV. — Pela terceira janela entra o desconhecido 73
V. — Quem está no aparelho? ............................... 91
VI. — Agentes secretos da terra ........................ 103
VII. — Agentes de fora? .................................. 121
VIII. — Sinais de atividade ......... 135
IX. — Como falar aos marcianos ...................... 149
X. — Viagens ao infinito ......................................... 163
Epílogo 175

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