Processos de Fundição e Sinterização
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Izabel
Machado
Índice
1. Fundição
1.1. Solidificação de Metais e Ligas
1.1.1 Temperatura de vazamento.
1.1.2 Taxa de resfriamento.
1.1.3 Fluidez
1.1.4 Características do escoamento.
1.1.5 Contração de solidificação.
1.1.6 Transferência de calor no molde.
1.1.7 Tempo de solidificação.
1.2 Defeitos em peças fundidas.
1.3 Processos de fundição.
1.3.1 Fundição utilizando moldes de areia.
1.3.2 Fundição em casca (Shell-mold).
1.3.3 Fundição utilizando cera perdida.
1.3.4. Fundição por centrifugação.
1.3.5 Fundição a vácuo.
1.3.6 Fundição utilizando moldes permanentes.
1.3.7 Fundição sob pressão.
1.3.8 Fundição contínua.
1.3.9 Outros processos.
2. Metalurgia do Pó (Sinterização).
1. Fundição
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O material com o qual vai ser produzida a peça no processo de fundição parte do estado
líquido. Logo aspectos relacionados com a solidificação de metais e ligas devem ser considerados.
Esses aspectos são relacionados no próximos item.
1.1. Solidificação de Metais e Ligas
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Figura 4. Ilustração esquemática da solidificação de lingotes.(a) metais puros, (b) soluções sólidas e
(c) adição de inoculantes.
A estrutura típica de um material fundido é a presença de dendritas, que são ilustradas na
figura 5.
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Um metal apresenta uma temperatura de fusão bem definida, isto é, ele inicia e termina o
processo de solidificação em uma temperatura bem determinada. Já as ligas apresentam uma
temperatura onde se inicia o processo de solidificação e uma temperatura onde termina esse
processo. Isso é ilustrado na figura 6 para o sistema cobre-níquel. Dentro da faixa de temperaturas
em que ocorre a solidificação para uma liga existe sempre uma mistura de sólido e líquido. A
temperatura de vazamento dever ser estar sempre acima da temperatura onde existem 100% de
líquido (superaquecimento). O vazamento, no caso de ligas, dentro de uma faixa de temperaturas
onde se tem sólido e líquido prejudica o preenchimento completo do molde.
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Figura 7. Ilustração esquemática de frentes de solidificação (a) dendrítica colunar, (b) dendrítica
equiaxial e (c) equiaxial.
1.1.3 Fluidez
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Figura 8. Teste de fluidez. A fluidez é medida pela distância que o metal percorre antes de se
solidificar.
A figura 9 ilustra o sistema por onde o metal líquido flui durante o processo de fundição.
Figura 9. Funil de vazamento (pouring cup), massalote ou alimentador (riser), canal de alimentação
(runner), canal de descida (sprue), canal de entrada (gate) , fundido (casting).
valores de Re entre 2000 e 20000 o fluxo apresenta uma mistura entre laminar e turbulento e acima
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de 20000, o fluxo é severamente turbulento. Para a maioria dos casos reais o fluxo se aproxima do
turbulento. Isso permite que ocorram mais reações do metal líquido com formação de gases, o que
não é bom, pois pode haver formação de bolhas. Essas bolhas de gás podem ficar presas e
constituírem defeitos nas peças fundidas.
Tabela 1. Variação de volume durante a solidificação. A maioria dos materiais metálicos apresenta
redução de volume (-), mas ou apresentam expansão (+).
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volume
Tempo de solidificação = C , onde C é uma constante que depende do molde, das
área superficial
propriedades do metal e da temperatura.
Existem vários defeitos ou mesmo efeitos indesejáveis que podem ocorrer em peças
fundidas. Dentre eles estão:
1. Crescimento dendrítico. Formação de dendritas (observadas na figura 5) que se encontram em
planos diagonais, como ilustra a figura 12. Essas diagonais formam planos de maior fragilidade,
podendo aparecer fissuras ou trincas durante processos posteriores de conformação plástica.
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Figura 12. Dendritas se encontram em planos diagonais do lingote. (b) Aspectos típicos da seção de
um lingote. (c) Crescimento dendrítico ocorrendo de forma as dendritas se encontrarem em planos
diagonais.
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5. Gases que são formados durante o processo de fundição podem formar bolhas tanto na superfície
quanto no interior das peças. No interior das peças a porosidade formada pelos gases se diferencia
dos microrechupes por apresentar formas mais aredondadas.
6. Presença de inclusões, que são não metálicos como SiO2 e MnO, causam diminuição das
propriedades mecânicas das peças fundidas e podem comprometer os lingotes em processos
posteriores de deformação plástica.
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fundição permite a fabricação de peças com formas bastante complexas e sem limitação de
dimensões. Existe uma série de processos de fundição dentre eles: fundição por gravidade, sob
pressão, por centrifugação, de precisão. Devem ser consideradas as seguintes etapas dentro dos
processos de fundição, independentemente do processo adotado: desenho da peça, projeto do
modelo, confecção do modelo, fusão do metal, vazamento no molde, limpeza e rebarbação e
controle de qualidade. O projeto de uma peça a ser fundida deve levar em conta os fenômenos que
ocorrem durante a solidificação tal como contração de solidificação, estrutura dendrítica, tensões de
resfriamento e espessura das paredes (paredes muito finas não são preenchidas pelo metal líquido no
molde).
A figura 16 ilustra moldes e a figura 17 ilustra modelos para fundição, os quais são
utilizados em processos de fundição onde não são utilizados moldes permanentes (ou perdidos). Os
moldes podem ser feitos utilizando-se areia (não permanentes) ou mesmo ligas metálicas
(permanentes). Os modelos são utilizados para dar a forma do fundido, quando são utilizados
moldes não permanentes. Esses modelos podem ser feitos de madeira, de plástico ou de metal. A
seleção do material do modelo depende do tamanho, forma, tolerâncias e quantidade de peças a
serem produzidas. Os modelos devem ser facilmente retirados dos moldes e devem ser de tamanho
que compense as contrações térmicas decorrentes da solidificação. Deve-se também deixar um
sobremetal para posterior usinagem, quando for o caso. A figura 18 apresenta esquematicamente
um modelo utilizado em processos de fundição.
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Outros componentes importantes em fundição são os machos. Os machos são utilizados para
preencher cavidades ou passagens da peça. O macho é colocado no molde antes do vazamento do
metal líquido. Os machos, como os moldes, devem apresentar certa resistência, permeabilidade e
devem ser quebradiços para poderem ser retirados com facilidade. Para se obter essas
características, os machos são confeccionados a base de areia e aglomerados. A figura 19 ilustra
esquematicamente a função de um macho em fundição. Os machos são normalmente secos em
estufa em temperaturas entre 150 e 250oC.
Os processos de fundição podem ser divididos, de uma forma bastante geral, em processos
em que são utilizados moldes permanentes e moldes não permanentes. Os moldes não permanentes,
ou moldes perdidos ou ainda temporários, são os moldes feitos de areia ou cerâmica. A fundição
utilizando moldes de areia é apresentada na seqüência.
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areia são também colocados os machos. Após a solidificação do metal ou liga no estado líquido
vazado, o molde e os machos são quebrados. São também cortados os massalotes e canais de
alimentação e feita a rebarbação. Esses processos são ilustrados nas figuras 21 e 22.
A moldagem em areia pode utilizar dois tipos de areia: a areia comum ou a areia sintética.
Dentre as areias comuns está a areia verde. A areia verde é composta essencialmente de areia
silicosa, de argila e de água. A areia sintética tem a seguinte composição em porcentagem em peso:
80% de areia, 16% de argila e 4% de água. As areias de fundição são preparadas em misturadores,
onde inicialmente são adicionados os componentes secos e posteriormente a água até a total
homogeneização da mistura. Essa areia é colocada ou montada sobre o modelo, colocado na caixa
de moldar. A figura 23 ilustra a adição de areia na caixa de modelar. Na areia para confecção de
machos são também adicionados aglomerantes como silicato de sódio, cimento, resinas etc. A
figura 24 ilustra a fundição utilizando areia verde. A areia utilizada nos processos de fundição é
reaproveitada. Após a fundição a areia passa por um peneiramento e em seguida é levada novamente
para o misturador.
Quando se deseja melhor acabamento e estabilidade dimensional pode ser utilizada areia
seca. Essa areia contem aditivos orgânicos para melhorar suas propriedades. Os moldes são secos
em estufas em temperaturas que variam de 150 a 300oC. Para peças médias e grandes, a moldagem
em areia e cimento pode ser a mais adequada. Sua composição em porcentagem em peso é de 90%
de areia silicosa, 10% de cimento portland e 8% de água.
Outro processo de fundição que utiliza areia é o processo com CO2. Esse processo consiste
na passagem de CO2 pela areia compactada e aglomerada com silicato de sódio. O CO2 reage com o
silicato formando sílica gel, carbonato de sódio e água. Essa reação propicia endurecimento do
molde em tempo relativamente curto.
Existe ainda outro processo que utiliza moldes perdidos é o processo de moldagem plena.
Nesse processo são utilizados como modelos espuma de poliestireno. A espuma de poliestireno
pode ser facilmente cortada e podem ser obtidos com facilidade modelos bastante complexos. A
moldagem é conduzida do mesmo modo que no processo de fundição em areia, mas o modelo não é
retirado, pois durante o vazamento o poliestireno vaporiza, sendo substituído pelo metal. Existem
grandes vantagens na confecção de peças. Embora a grande quantidade de gás gerado leva a um
acabamento superficial ruim. A figura 25 ilustra esse processo.
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Existe ainda um outro processo importante, que utiliza areia, é o processo Shell ou fundição
em casca. Esse processo consiste em utilizar um modelo de material metálico ferroso ou alumínio,
que é aquecido entre 175 e 370oC. Sobre o modelo é feito um recobrimento de um material como o
silicone. Esse modelo é então colocado dentro de uma caixa com areia e 2,5 a 4% de uma resina. A
caixa é então movimentada, como mostra a figura 26. A areia fica então aderida à superfície do
modelo. Essa “casca” (Shell) é curada por um período curto de tempo e será o molde para a
posterior fundição da peça. O processo Shell tem grande aplicação na produção de peças como
engrenagens, onde grande precisão e bom acabamento superficial são necessários.
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O processo de utilizando cera perdida é ilustrado na figura 27. A primeira etapa desse
processo consiste em injetar cera na matriz para a confecção dos modelos. Esses modelos de cera
são conectados a um canal central. Sobre os modelos é depositada uma pasta refratária, que pode ser
constituída por várias camadas, formando o molde. Quando o molde endurece, ele é aquecido para
que a cera derreta e seja retirada do molde. Após a retirada da cera, o metal líquido é vazado no
molde. Após a solidificação do metal ou liga, o molde é quebrado e são retiradas as peças, as quais
são separadas do canal central e feito o acabamento final. A figura 28 apresenta o modelo de cera a
as peças produzidas.
Nesse processo o molde tem um movimento de rotação. A força centrifuga faz com que o
metal líquido vá de encontro às paredes do molde, onde solidifica. O cilindro que atua como molde
é rodeado por uma camisa de água. A figura 29 ilustra o processo de fundição por centrifugação.
Tubos de ferro fundido, utilizados em suprimento de água, são produzidos dessa forma.
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Figura 29. Sistema de fundição centrífuga para produção de tubos de ferro fundido.
Uma das aplicações mais importantes de moldes permanentes, que são moldes metálicos, é
na produção de lingotes. Lingotes são fundidos de forma cilíndrica ou prismática, os quais são
processados termomecanicamente. A figura 31 ilustra esquematicamente alguns desses moldes
metálicos para a produção de lingotes, os quais são chamados de lingoteiras.
Podem ser também produzidos moldes metálicos para a produção de peças, como no caso
dos processos apresentados anteriormente. A figura 32 apresenta um molde metálico utilizado em
fundição. A utilização desses moldes apresenta vantagens, pois as peças apresentarem maior
uniformidade, melhor acabamento superficial, tolerâncias dimensionais mais estreitas e melhores
propriedades mecânicas. No entanto, a utilização de moldes permanentes é limitada à fabricação de
peças pequenas, devido ao elevado custo dos mesmos.
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Figura 31. Ilustração esquemática de lingoteiras (moldes permanentes para a produção de lingotes).
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Figura 33. Representação esquemática do processo de fundição sob pressão em câmara quente.
Figura 34. Representação esquemática do processo de fundição sob pressão em câmara fria.
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Como todo o processo de fabricação, a fundição sob pressão tem uma série de vantagens e
desvantagens. As vantagens são: 1. peças de ligas como as de alumínio, fundidas sob pressão,
apresentam maiores resistências do que as fundidas em areia; 2. as peças fundidas sob pressão
podem receber tratamento de superfície com um mínimo de preparo prévio da superfície; 3.
possibilidade de produção de peças com formas mais complexas; 4. possibilidade de produção de
peças com paredes mais finas e tolerâncias dimensionais mais estreitas; 5. alta capacidade de
produção; alta durabilidade das matrizes. As desvantagens são: 1. limitações no emprego do
processo: ele é usado para ligas não-ferrosas, com poucas exceções; 2. limitação no peso das peças
(raramente superiores a 5 kg.); 3. retenção de ar no interior das matrizes, originando peças
incompletas e porosidade na peça fundida; 4. alto custo do equipamento e dos acessórios, o que
limita seu emprego a grandes volumes de produção.
A indústria automobilística utiliza uma grande quantidade de peças fundidas sob pressão:
tampas de válvulas, fechaduras, carcaças de motor de arranque, maçanetas, caixas de câmbio de
máquinas agrícolas. O mesmo acontece com a indústria aeronáutica, que utiliza peças fundidas
principalmente de ligas de alumínio e magnésio. Essa variedade de produtos indica a importância
desse processo de fabricação dentro do setor de indústria metal-mecânica.
2. Melt spinning é um processo onde a liga é solidificada de forma tão rápida, que o sólido
formado não tem estrutura cristalina definida, ele é amorfo. Isso gera um aumento do limite de
solubilidade e redução da micro-segregação. A figura 37 ilustra o processo de melt spinning.
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2. Metalurgia do Pó (Sinterização).
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Esse pó pode ser também produzido por redução de óxidos, utilizando gases como
hidrogênio e monóxido de carbono. Os pós produzidos por esse método são porosos e de tamanho
uniforme. Outro processo de produção de pós é o eletrolítico. Nesse processo há deposição do pó
metálico em um dos eletrodos.
Existem também processos de produção de pós que são mecânicos. No processo de
cominuição, por exemplo, o metal ou liga é moído até a produção do pó. A figura 41 ilustra o
processo de cominuição. Um processo semelhante ao de cominuição, mas que utiliza diferentes
tipos de metais é o “mechanical alloying”. Durante a moagem os diferentes metais reagem,
produzindo uma liga na forma de pó. Embora existam outros processos esses são dos mais
importantes.
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A compactação pode ser feita de várias formas. Uma das maneiras de se obter
homogeneidade no prensado é se fazer uma compactação isostática. Essa compactação pode ser
feita a frio (CIP-cold isostatic pressure), utilizando água, ou a quente (HIP-hot isostatic pressure),
utilizando um gás ou outro fluido. Esses processos são apresentados esquematicamente nas figuras
43 e 44, respectivamente. Outras formas de se compactar os pós é por laminação, como mostra a
figura 45, ou por processos de extrusão.
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A figura 47 ilustra o que pode ocorrer durante o processo de sinterização e que causa a
união entre as partículas de pó metálico ou cerâmico.
Figura 47. Ilustração do que pode ocorrer durante o processo de sinterização e que causa a união
entre as partículas de pó.
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3. Bibliografia
1. Kalpakjian, S. et al. Manufacturing Engineering and Technology. USA. Prentice Hall. 2000.
2. Ohno, A. Solidificação dos Metais. São Paulo. Livraria Ciência e Tecnologia Ltda.
3. Chiaverini, V. Tecnologia Mecânica – Processos de fabricação e tratamento. São Paulo.
Makron. 1986. 2a edição.
4. Torre, J. Manual de Fundição. São Paulo. Hemus. 1975.
4. Leitura complementar
5. Exercícios
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