Regularidade Maçônica

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Recebido em: 29/03/2020

Aprovado em: 01/06/2020

CONSIDERAÇÕES SOBRE A REGULARIDADE MAÇÔNICA


(CONSIDERATIONS ON MASONIC REGULARITY)

Rodrigo Otávio dos Anjos¹

Resumo
A regularidade, ainda que de extrema relevância para a Maçonaria, é um tema pouco explorado sob uma óti-
ca científica. Os conceitos básicos que a compõem, em função dessa subexploração, frequentemente geram
interpretações equivocadas. Este artigo busca o esclarecimento de alguns pontos fundamentais relativos à
regularidade, para que, ao fim, o maçom brasileiro tenha uma ideia clara quanto ao assunto.

Palavras-chave: Maçonaria; Regularidade; Reconhecimento.

Abstract
Regularity, yet extremely important to Freemasonry, remains a very little explored subject under
a scientific point of view. Its basic concepts, due to this underexploration, frequently generate
misinterpretations. This article aims to the enlightenment of some of the core components re-
lated to regularity, to provide Brazilian Freemasons with a clear idea on the subject.

Keywords: Freemasonry; Regularity; Recognition.

¹ Rodrigo Otávio dos Anjos é arquiteto e urbanista, graduado pelas Faculdades Metodistas Integradas Izabela Hendrix, e
artista plástico, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais, com habilitações em Desenho e Gravura. E-mail:
[email protected]

C&M | Brasília, Vol. 7, n.1, p. 29-40, jul/dez, 2020.


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1. Introdução
nos países de origem não latina, a expressão equiva-
Especialmente nos últimos anos, quando a lente é corpo maçônico.
discussão sobre esse tema foi intensificada no Brasil,
Assim, a despeito de serem considerados in-
muito se tem falado sobre regularidade maçônica. No
tercambiáveis, entendemos que cabe uma diferencia-
entanto, ainda que tenhamos excelentes artigos escri-
ção, baseada nas definições de ambas as palavras nos
tos por pesquisadores sérios (e, obviamente, adotan-
dicionários da língua portuguesa, que pressupõem
do uma metodologia científica em suas pesquisas),
uma diferenciação clara.
boa parte do material que encontramos disponível
sobre o assunto é baseado exclusivamente no empi- Enquanto o verbete “potência” define a sobe-
rismo, fundamentado em experiências e opiniões rania, o poder e a capacidade de se fazer obedecer,
pessoais. isto é, a autoridade sobre algo ou alguém que a ela
se submeta, “obediência”, ao contrário, implica a ideia
Por mais que reconheçamos as boas intenções
de submissão a uma autoridade superior.
que permeiam parcela considerável desses escritos,
frequentemente os resultados obtidos não são exata- Dessa oposição conceitual, depreende-se que,
mente aqueles que deveríamos esperar. Muitas vezes considerando exclusivamente as organizações maçô-
esses artigos resultam em um verdadeiro desserviço à nicas regulares no Brasil, o Grande Oriente do Brasil
Maçonaria, uma vez que propagam informações in- (poder central), as Grandes Lojas confederadas à Con-
corretas (incompletas, para dizer o mínimo), contribu- federação da Maçonaria Simbólica do Brasil-CMSB e
indo para a desinformação do maçom brasileiro. os Grandes Orientes estaduais confederados à Confe-
deração Maçônica do Brasil-COMAB podem ser consi-
Embora não faça parte do escopo deste traba-
derados potências maçônicas, enquanto os Grandes
lho, é importante frisar a importância do que chama-
Orientes estaduais federados ao Grande Oriente do
mos de “educação maçônica”, de buscarmos informa-
Brasil se enquadram no conceito de obediência ma-
ções em autores sérios, que baseiam seu trabalho em
çônica.
fontes confiáveis, e não apenas em opiniões pessoais.
Na obra “Masonic Discourses”, de um ex-dirigente de No entanto, em nome de uma maior pratici-
uma importante Grande Loja norte-americana, lemos dade, neste trabalho foi utilizado o termo “potência
que “um maçom educado é um maçom dedica- maçônica” para se referir a potências ou obediências.
do” (ALADRO, 2014, V. 1, p. 13).

2.2 Grande Oriente e Grande Loja


2. Conceitos básicos
Existem algumas hipóteses quanto às diferen-
Tendo em vista as frequentes confusões cau- ças entre as duas denominações e, como era de se
sadas por seu emprego e interpretação equivocadas esperar, é muito difícil afirmar que essa ou aquela
e, em nome de uma melhor compreensão, antes de seja a correta. No entanto, indubitavelmente, o em-
entrarmos efetivamente no tema central deste artigo, prego do termo Grande Loja é anterior ao surgimento
é fundamental que trabalhemos alguns conceitos bá- de Grande Oriente.
sicos, no intuito de esclarecer suas definições e apli-
A seguir analisaremos algumas dessas teorias:
cações práticas.
Conforme observa Carolino (2018), inicialmen-
te, por Grande Oriente, entendia-se o local (a sede)
2.1 Potência e Obediência onde tinham lugar as assembleias, convenções e co-
municações das Grandes Lojas. Para ele, a denomina-
Potência maçônica e obediência maçônica são
ção Grande Loja teria surgido inicialmente na Alema-
dois termos amplamente utilizados no Brasil e fre-
nha, embora sua sistematização tenha se dado na In-
quentemente tidos como sinônimos.
glaterra, no ano de 1717. Por outro lado, ainda se-
A dificuldade em torno de suas definições re- gundo o mesmo autor, o primeiro Grande Oriente, na
side, sobretudo, no fato de que sua utilização no con- acepção que utilizamos atualmente, teria se origina-
texto maçônico é algo eminentemente latino, isto é, do na França, por volta de 1773, e por mera obra do
os termos são raramente encontrados em outras cul- acaso.
turas, onde quer que seja. A título de esclarecimento,

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Já Christopher Hodapp, em “Maçonaria para um Grande Oriente é subordinado a um


Leigos”, nos apresenta uma versão diferente. De acor- Supremo Conselho do Rito Escocês”, o que
do com esse autor, há alguns detalhes que diferenci- “apresenta uma barreira ao reconhecimen-
am um Grande Oriente de uma Grande Loja: to”, embora existam aqueles que
“controlam um sistema do Rito Escocês
dentro de sua Jurisdição; e alguns são
completamente separados do Rito Escocês
Um Grande Oriente considera-se uma fe-
deração de diferentes Lojas. As Lojas que (2001, p. 32).
ele preside podem ter uma grande varie-
dade de rituais, costumes e práticas, e o
Grande Oriente age como um corpo admi- Hoje em dia, a despeito das origens e formas
nistrativo simples, com poucas regras para de governo diversas, os dois termos carregam o mes-
todo o grupo. mo significado, qual seja, um corpo maçônico superi-
or, que congrega sob a sua égide todas as suas Lojas
Um Grande Oriente é composto de um
Grão-Mestre e um conselho nomeado por
jurisdicionadas.
ele. Esse conselho, por sua vez, nomeia o Assim como feito quando da opção pela utili-
Grão-Mestre. Ele não tem um órgão admi- zação da expressão potência maçônica (devidamente
nistrativo composto por representantes explicitado na subseção anterior) e, pelas mesmas
das muitas Lojas que supervisiona. De fato,
razões, foi empregado, de maneira genérica, o termo
é uma oligarquia […]. (HODAPP, 2015, p.
119-120). “Grande Loja” para designar tanto Grandes Lojas
quanto Grandes Orientes.

Uma terceira visão, sustentada por Henderson


e Pope, diz que uma Grande Loja 2.3 Regularidade e Reconhecimento
Certamente dentre os termos menos compre-
endidos pela maioria esmagadora dos maçons, regu-
Consiste em representação livre e igual de
laridade e reconhecimento, embora absolutamente
suas Lojas constituintes.
diferentes, estão intimamente ligados, e isso causa
É independente, soberana e autônoma, toda a confusão que os envolve.
formada e mantida pelos Maçons de sua
jurisdição. Em rápidas palavras, tentaremos esclarecer
todas as dúvidas que pairam sobre o real significado,
Assume, através de constituições escritas,
maçonicamente falando, dessas duas palavras.
todo o poder legislativo sobre suas Lojas
constituintes e muitos poderes administra- Regularidade é um conceito concreto, absolu-
tivos e judiciais. to, que não deixa margem para quaisquer dúvidas,
É controlada por um Grão-Mestre eleito, uma vez que se faça uma análise cuidadosa de alguns
por seus Membros e pelos Grandes Ofici- documentos.
ais, sendo todos responsáveis por ela.
Existem certos conjuntos de princípios para a
(HENDERSON; POPE, 2001, p. 30).
determinação da regularidade ou não de uma potên-
cia maçônica, que serão descritos adiante, na seção 4.
Por outro lado, assim como Hodapp (2015, p. Uma vez que a potência em questão preencha todos
120), os autores definem Grande Oriente como “uma aqueles requisitos, uma vez que siga todos aqueles
oligarquia Maçônica”, onde “o Grão-Mestre sempre é princípios, ela é indubitavelmente regular. Lado ou-
designado pelo conselho e este tem o poder executi- tro, o não atendimento de um único princípio, qual-
vo para designar qualquer Membro, com um resulta- quer que seja ele, é o bastante para decretar sua irre-
do autoperpetuante” (2001, p. 31). gularidade.

Ainda sobre essa forma de governo, Hender- Reconhecimento, por sua vez, é uma prerro-
son e Pope acrescentam que, com frequência, gativa de cada potência, calcada no princípio básico
da soberania, segundo o qual potência alguma pode
estar sujeita à autoridade de qualquer outro corpo

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maçônico. Trata-se de um acordo, um ato diplomáti- tuições, mas que, a rigor, tem significado diverso. Tra-
co, uma decisão necessariamente bilateral (ainda que ta-se do termo “espúrio”.
a vontade de um dos envolvidos possa ter um peso
Irregular, segundo os dicionários da língua
maior).
portuguesa, seria toda pessoa ou instituição que não
Conforme nos diz a Confederação da Maçona- esteja em conformidade com as normas ou regula-
ria Simbólica do Brasil, um dos principais pontos do mentos estabelecidos, em suma, que incorra em uma
protocolo de relações interpotenciais maçônicas é ou mais irregularidades.
aquele que diz que “sempre a Potência Maçônica
Espúrio, por sua vez, denota aquilo que seja
mais nova solicita o reconhecimento da Potência
ilegítimo, falsificado. Ou seja, implica uma atividade
mais antiga” (2000, p. 6).
ilegal, algo absolutamente diverso do simples não
Para uma compreensão mais ampla dos con- atendimento de determinados requisitos.
ceitos aqui abordados, há dois outros pontos dignos
Assim, é correto dizer que toda organização
de menção:
espúria é necessariamente irregular, embora nem to-
ainda que seja prerrogativa exclusiva de uma da irregular possa ser classificada como espúria, por
potência maçônica, o reconhecimento só deve ser envolver questões outras que não os princípios bási-
estendido (maçonicamente, estender o reconheci- cos de regularidade.
mento é o mesmo que concedê-lo) a outra potência
sobre cuja regularidade não reste qualquer dúvida.
Ao reconhecer um corpo irregular, a potência que 2.5 Landmarks
estende o reconhecimento se torna, automaticamen- Muito se fala sobre os chamados landmarks,
te, tão irregular quanto aquela; e mas será que realmente sabemos a que nos referimos
reconhecimento é um privilégio, não um direi- quando os mencionamos?
to, significando que a assunção da regularidade de Segundo Pound, os landmarks nada mais são
uma potência não implica, em absoluto, no seu reco- que “um conjunto de preceitos de validade Maçônica
nhecimento, embora seja condição sine qua non para universal, unindo Maçons e organizações Maçônicas
que possa ser efetivamente reconhecida. em todos os lugares e em todos os tempos” (POUND,
Finalizando esta subseção, ainda sobre a situ- 1953 apud COOPER, 2015, p. 3, tradução nossa).
ação descrita no item “b” acima, Aquiles Garcia nos Já Mckeown (2016, p. 1, tradução nossa) apon-
lembra que: ta que “a primeira tentativa, por parte de alguma
Grande Loja, de definir os landmarks foi na união das
O NÃO RECONHECIMENTO DE UMA PO- Grandes Lojas Inglesas em 1813, quando elas os defi-
TÊNCIA POR OUTRA NÃO INDUZ, NECES- niram como a iniciação, passagem, elevação e instru-
SARIAMENTE, QUE A PRIMEIRA SEJA ção de candidatos – nada mais que isso”.
“IRREGULAR”, mas sim, alternativamente, Até esse ponto tudo pode parecer muito cla-
ou porque (a) não há similitude ritualística,
ro, mas é justamente onde o quadro começa a se
doutrinal e organizacional entre as duas
Potências, o que dificultaria sobremodo o complicar. Ao contrário do que muitos maçons brasi-
intercâmbio maçônico, ou porque (b) não leiros possam pensar, os landmarks que conhecemos
há interesse politico para esse reconheci- não só não são universalmente aceitos como também
mento, que é fator eminentemente subje- não constituem o único conjunto existente.
tivo. (GARCIA, 2012, p. 183).
O que adotamos no Brasil é tão somente a
compilação de 25 preceitos, dentre os muitos que
eram então aceitos pelas mais diversas Grandes Lojas,
2.4 Irregular e Espúrio
feita pelo maçom norte-americano Albert G. Mackey,
Baseado no exposto na subseção anterior, res- em 1858 (mais de um século, portanto, após a funda-
ta pouca dúvida quanto ao que venha a ser uma or- ção da primeira Grande Loja, ocorrida em 1717). Se
ganização maçônica irregular. No entanto, existe ou- são assim tão fundamentais, e se a compilação de
tro termo amplamente utilizado para definir tais insti- Mackey é mesmo a única válida, como a Maçonaria
sobreviveu por mais de 100 anos sem eles?
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Assim como Mackey, outros estudiosos tam- 2.6 List of Lodges, Masonic
bém o fizeram, de modo que existem diferentes con-
Tão mal compreendido quanto os termos a-
juntos de landmarks, que diferem, não só em seu
nalisados nas subseções anteriores é o List of Lodges,
conteúdo, mas também no número de preceitos in-
Masonic.
cluídos. Dentre os principais autores de compilações
de landmarks, citamos Luke Lockwood, H. B. Grant, Não raro ouvimos maçons brasileiros se refe-
John Simons, Rob Morris, Roscoe Pound e Albert Pike. rirem a essa publicação como sendo de responsabili-
dade das Grandes Lojas norte-americanas; a referên-
E mais, se Mackey não foi o único a compilar
cia definitiva quanto a quem seja ou não regular; e,
sua própria lista, tampouco foi o primeiro. Aqui recor-
até mesmo, a lista de todas as potências maçônicas
remos novamente a McKeown (2016, p. 1, tradução
do mundo que tenham sido reconhecidas pela Gran-
nossa), que nos diz que, apenas nos Estados Unidos,
de Loja Unida da Inglaterra. Todas essas afirmações
antes de Mackey, o fizeram as Grandes Lojas dos es-
não poderiam estar mais distantes da verdade.
tados do Missouri, em 1850, da Califórnia, em 1852
(embora sem sucesso), e de Minnesota, em 1856, a- Em primeiro lugar, trata-se de uma publicação
lém da iniciativa pessoal de Rob Morris, também em independente, produzida por uma companhia edito-
1856, ainda que, anos mais tarde, em 1874, em sua rial que não tem nenhuma ligação, exceto uma rela-
“Enciclopédia de Maçonaria”, apresente a alegação de ção estritamente comercial, com quaisquer Grandes
que teria sido o primeiro a fazê-lo. Lojas, de onde quer que sejam.
E diferentes Grandes Lojas aderem a diferen- O requisito para que uma Grande Loja seja
tes conjuntos de landmarks, existindo até mesmo a- incluída no livro é que seja reconhecida por, no míni-
quelas que não adotam nenhum deles. Como exem- mo, 10 Grandes Lojas dentre as 51 dos Estados Uni-
plo, podemos citar Silas Shepherd (1915), que, em um dos. Ou seja, para qualquer potência maçônica, ter
artigo publicado na revista “The Builder”, destaca que seus dados nas páginas da publicação garante, tão
as Grandes Lojas norte-americanas dos estados do somente, que ao menos uma dezena de Grandes Lo-
Alabama, Louisiana, Mississippi, Ohio, Texas e Utah jas a reconhecem e, ao contrário, a ausência de qual-
não adotam nenhum conjunto em particular e, de ou- quer Grande Loja no List of Lodges, Masonic não im-
tro lado, temos as Grandes Lojas dos estados de Con- plica em sua irregularidade.
necticut, que adota uma lista com 19 landmarks, Ken- Finalmente, e em decorrência do exposto aci-
tucky, com 54 princípios, New Jersey, com 10, Neva- ma, a Grande Loja Unida da Inglaterra não necessari-
da, com 39, Tennessee, com 15 e, finalmente, West amente reconhece todas as potências maçônicas que
Virginia, com 7. aparecem no livro, uma vez que o requisito é o seu
E Morris acrescenta que se trata de algo emi- reconhecimento por 10 Grandes Lojas dos Estados
nentemente americano, uma vez que “a Grande Loja Unidos.
da Inglaterra, que deve saber algo sobre o assunto,
não adotou os Landmarks”, considerando-os um
“desperdício de energia” (MORRIS, 1993 apud Biz- 3. Antecedentes históricos
zack, 2018, p. 11, tradução nossa). Em meados do século XVIII, a Maçonaria viveu
Andrew McBride, já em 1914, chamava nossa sua primeira grande divisão, quando duas Grandes
atenção para o fato de que “entre maçons, não há Lojas antagônicas lutavam pela hegemonia da institu-
palavra mais comum, e nem menos compreendida, ição na Inglaterra: a Grande Loja de Londres que, em-
que „landmarks‟. A importãncia de sabê-los é do co- bora mais antiga, foi alcunhada como “dos Moder-
nhecimento de todos; sua compreensão é restrita a nos”, e a Grande Loja dos Antigos, que observou um
poucos” (McBRIDE, 1914 apud Bizzack, 2018, p. 1, tra- crescimento significativo, aliado à sua aproximação
dução nossa). Embora escritas há mais de um século, com as Grandes Lojas da Irlanda e Escócia (DEL SO-
suas palavras permanecem perfeitamente adequadas LAR, 2017, p. 23-24). Esse crescimento dos Antigos,
à realidade atual. em grande parte, se deveu à sua maior expansão nos
Estados Unidos.
Entre os anos de 1777 e 1791, Lojas em diver-
sos estados norte-americanos se desligaram dos in-

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gleses, iniciando o processo de constituição de Gran- 4.1. United Grand Lodge of England
des Lojas independentes.
Inicialmente veremos a versão inglesa, origi-
Para Felipe Santiago Del Solar nalmente publicada em 4 de setembro de 1929, e
certamente a mais aceita em todo o mundo.

Foi durante esse processo que se gerou o Segundo o que podemos ler nas Constituições
princício de exclusividade jurisdicional, da Grande Loja Unida da Inglaterra, para que seja
norma que estabelecia que cada Grande considerada regular e, consequentemente, apta a so-
Loja exercia soberania em um setor geo- licitar o reconhecimento inglês, qualquer potência
gráfico determinado e, consequentemente, maçônica deve preencher os seguintes princípios:
controlava as Lojas que ali existissem.
Deste modo, o Pacto de União de 1813,
que deu vida à Grande Loja Unida da In- 1. Regularidade de origem; isto é, cada
glaterra, se permitiu a unidade britânica, Grande Loja deve ter sido legalmente esta-
manteve a existência de um espaço com- belecida por uma Grande Loja devidamen-
pletamente autônomo, como os Estados te reconhecida ou por três ou mais Lojas
Unidos, que não só deixou de reconhecer regularmente constituídas.
a primazia da Inglaterra mas, ainda, impul- 2. Que uma crença no Grande Arquiteto
sionou um processo de territorialização do Universo e Sua verdade revelada seja
análogo ao desenvolvido pelo Grande Ori- uma qualificação essencial para filiação.
ente de França na Europa (2017, p. 24-25,
tradução nossa). 3. Que todos os Iniciados tomem seus Ju-
ramentos sobre ou na presença do Volume
da Lei Sagrada, o que significa a revelação
do alto, que é o compromisso na consci-
Importante notar que a questão da exclusivi-
ência do indivíduo em particular que está
dade jurisdicional (ou territorial), mencionada por Del sendo iniciado.
Solar, ainda que não esteja explicitada nas listas de
princípios de regularidade expostas detalhadamente 4. Que a filiação à Grande Loja e às Lojas
a seguir, exceção feita àquela elaborada pela Confe- individuais seja composta exclusivamente
por homens; e que cada Grande Loja não
rência de Grão-Mestres de Maçons na América do
mantenha relacionamento Maçônico de
Norte, é algo aceito tacitamente por todo o mundo qualquer espécie com Lojas mistas ou com
maçônico. corpos que admitam a filiação de mulhe-
res.

4. Princípios de Regularidade 5. Que a Grande Loja tenha jurisdição so-


berana sobre as Lojas sob seu controle;
Existem alguns conjuntos de princípios funda- isto é, que seja uma organização responsá-
mentais a serem respeitados por toda e qualquer po- vel, independente e autogovernada, com
tência maçônica que deseje ser considerada regular, autoridade exclusiva e não-disputada so-
dos quais os mais frequentemente considerados são bre o Ofício ou Graus Simbólicos
aqueles elaborados pela United Grand Lodge of En- (Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom)
na sua Jurisdição; e, de modo algum, este-
gland, pela Grande Loge Nationale Française e pela
ja sujeita a, ou divida tal autoridade com
Commission on Information for Recognition, órgão um Supremo Conselho ou outra Potência
da Conference of Grand Masters of Masons in North alegando qualquer controle ou supervisão
America. A Confederação da Maçonaria Simbólica do sobre esses graus.
Brasil-CMSB, também adota sua própria lista de prin-
6. Que as três Grandes Luzes da Maçonaria
cípios de regularidade.
(o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o
Esses quatro conjuntos são transcritos nas Compasso) devam sempre ser expostos
subseções seguintes. quando a Grande Loja ou suas Lojas su-
bordinadas estejam trabalhando, o princi-
pal desses sendo o Volume da Lei Sagrada.

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7. Que a discussão de religião e política 4) A Maçonaria visa, pelo aperfeiçoamento


dentro de Loja seja estritamente proibida. moral de seus membros, o de toda a hu-
manidade.
8. Que os princípios dos Antigos Land-
marks, usos e costumes do Ofício sejam 5) A Maçonaria impõe a todos os seus
estritamente observados. (UNITED GRAND membros a prática exata e escrupulosa
LODGE OF ENGLAND-UGLE, 2020, p. xiv- dos rituais e do simbolismo, meios de a-
xv, tradução nossa). cesso ao conhecimento pelas vias espiritu-
ais e iniciáticas que lhe são próprias.
6) A Maçonaria impõe a todos os seus
O não cumprimento de quaisquer dos itens membros o respeito pelas opiniões e cren-
acima listados implica na irregularidade, o que não ças de cada um. Ela proíbe em seu seio
admite questionamentos. Desde que não atenda a qualquer discussão ou controvérsia políti-
um único desses princípios, de nada adianta que uma ca ou religiosa. É, assim, um centro perma-
Grande Loja respeite todos os demais; ainda assim nente de união fraternal onde reina uma
será tida como irregular. Importante lembrar que a compreensão tolerante e uma frutífera
irregularidade decretada pelo descumprimento de harmonia entre homens que, fora dela,
determinados princípios em particular, devido à sua teriam permanecido estranhos uns aos
natureza, é passível de reversão. outros.
7) Os Maçons tomam seus juramentos so-
Ressalte-se que, assim como ocorre com to-
bre um Volume da Lei Sagrada, a fim de
das as potências macônicas regulares do mundo, o dar à promessa o caráter solene e sagrado
cumprimento integral dos princípios de regularidade indispensável à sua perenidade.
não garante o reconhecimento por parte da Grande
Loja Unida da Inglaterra, uma vez que se trata de uma 8) Os Maçons se reúnem, fora do mundo
profano, em Lojas onde estão sempre ex-
prerrogativa exclusiva de cada Grande Loja, o que é
postas as três grandes Luzes da ordem: um
assegurado pelo princípio de número 5, que garante Volume da lei Sagrada, um Esquadro e um
sua soberania e independência. Compasso, para trabalhar de acordo com
o rito, com zelo e assiduidade, em confor-
midade com os princípios e regras prescri-
4.2 Grande Loge Nationale Française tas pelas Constituições da Obediência.
Visto o que pressupõe a versão inglesa, passe- 9) Os Maçons não devem admitir em suas
mos à apresentação do que dita aquela adotada pela Lojas senão homens adultos, de reputação
Grande Loja Nacional Francesa, conhecida como a perfeita, homens de honra, leais e discre-
“regra em doze pontos”, aprovada por sua Assem- tos, dignos em todos os aspectos de ser
bleia Geral, realizada no dia 7 de dezembro de 1968: seus irmãos e aptos a reconhecer os limi-
tes do domínio do homem e do infinito
poder do Eterno.
1) A Maçonaria é uma fraternidade iniciáti- 10) Os Maçons cultivam em suas Lojas o
ca que tem por fundamento tradicional a amor à Pátria, a submissão às leis e o res-
fé em Deus, Grande Arquiteto do Universo. peito às Autoridades constituídas. Eles
consideram o trabalho como o dever pri-
2) A Maçonaria se refere aos "Antigos De-
mordial do ser humano e o honram em
veres" e aos “Landmarks” da Fraternidade,
todas as suas formas.
notadamente quanto ao respeito absoluto
às tradições específicas da Ordem, essenci- 11) Os Maçons contribuem, pelo exemplo
al à regularidade de sua jurisdição. ativo de seu comportamento viril e digno,
para a resplandecência da Ordem em res-
3) A Maçonaria é uma Ordem à qual só
peito ao sigilo maçônico.
podem pertencer homens livres e respeitá-
veis, que se engajam a colocar em prática 12) Os Maçons devem honra, ajuda e pro-
um ideal de paz, de amor e de fraternida- teção fraternal mútua, mesmo que com
de. risco a suas vidas. Eles praticam a arte de
conservar, sob todas as circunstâncias, a
calma e o equilíbrio indispensáveis a um

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DOS ANJOS. CONSIDERAÇÕES SOBRE A REGULARIDADE MAÇÔNICA

perfeito autocontrole. (GRANDE LOGE NA- nal” (CONFEDERAÇÃO DA MAÇONARIA SIMBÓLICA


TIONALE FRANÇAISE-GLNF, 2020, tradu- DO BRASIL-CMSB, 2000, p. 2).:
ção nossa).

a) a crença em Deus, o Grande Arquiteto


4.3. Commission for Information on Recognition do Universo que invoca;
Aqui são reproduzidos os princípios adotados b) o sigilo absoluto;
na América do Norte, elaborados em 1952 pela Co- c) o simbolismo da Maçonaria Operativa;
missão de Informações para Reconhecimento, órgão
da Conferência de Grão-Mestres de Maçons na Amé- d) a divisão da Maçonaria nos 3 graus: A-
prendiz, Companheiro e Mestre-Maçom;
rica do Norte:
e) a lenda do Terceiro Grau;
f) o juramento em nome de Deus sobre o
1. Legitimidade de Origem.
Livro Sagrado que é parte imprescindível
2. Jurisdição Territorial Exclusiva, exceto das alfaias da Loja e aberto durante os
por consenso mútuo e/ou tratado. seus trabalhos;
3. Aderência aos Antigos Landmarks – es- g) a presença em Loja das três Grandes
pecificamente, uma Crença em Deus, o Luzes da Maçonaria: O Livro Sagrado, o
Volume da Lei Sagrada como uma parte Esquadro e o Compasso, durante os traba-
indispensável do mobiliário da Loja, e a lhos;
proibição da discussão sobre política e
h) as finalidades dominantes da Caridade,
religião. (CONFERENCE OF GRAND MAS-
Benevolência e Educação, assim como a
TERS OF MASONS IN NORTH AMERICA-
livre investigação da Verdade;
COGMNA, 2019, tradução nossa).
i) a absoluta proibição de toda a discussão
de questões partidárias, políticas e religio-
À primeira vista, especialmente sob um olhar sas. (CMSB, 2000, p. 3.)
incauto, os princípios norte-americanos podem pare-
cer demasiadamente simplificados, mas uma análise
um pouco mais atenta mostra que basicamente todos Importante ressaltar que, salvo pequenas vari-
os princípios adotados na Inglaterra e na França estão ações e diferenças no estilo de redação, os princípios
aqui contemplados. básicos que norteiam o conceito de potência maçôni-
ca regular são os mesmos em todo o mundo.
Em estrito cumprimento ao princício da sobe-
rania de cada Grande Loja, - e não poderíamos esessa
Comissão, por definição, apenas abastece as Grandes 5. Landmarks e Constituições de Anderson
Lojas membros da Conferência com o resultado de
suas investigações, “e não tenta influenciar ou reco- De acordo com o exposto na subseção 2.5, é
mendar que ação deva ser tomada” (COGMNA, 2019, difícil determinarmos precisamente o que vêm a ser
tradução nossa). os landmarks, mencionados nos três primeiros con-
juntos de princípios básicos de regularidade vistos na
seção anterior.
4.4 Confederação da Maçonaria Simbólica do A Grande Loja Unida da Inglaterra (2020, p.
Brasil XV) exige “que os princípios dos Antigos Landmarks,
Encerrando esta seção, voltemo-nos para os usos e costumes do Ofício sejam estritamente obser-
princípios adotados pela Confederação da Maçonaria vados”. Já para a Grande Loja Nacional Francesa
Simbólica do Brasil-CMSB, conforme estabelece seu (2020), “a Maçonaria se refere aos ‘Antigos Deveres’ e
“Manual das Relações Exteriores das Grandes Lojas aos „Landmarks‟ da Fraternidade, notadamente quan-
Brasileiras”, elaborado para servir como um “roteiro to ao respeito absoluto às tradições específicas da
teórico e prático” a seus membros, como forma de Ordem, essencial à regularidade de sua jurisdição”.
“orientar e padronizar o relacionamento entre as Finalmente, a Comissão de Informações para Reco-
Grandes Lojas Brasileiras e a Maçonaria Internacio- nhecimento (COGMNA, 2019) pressupõe a “aderência

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aos Antigos Landmarks – especificamente, uma Cren- vre, “As Constituições dos Pedreiros-Livres contendo
ça em Deus, o Volume da Lei Sagrada como uma par- a História, Deveres, Regulamentos, etc. da mais Anti-
te indispensável do mobiliário da Loja, e a proibição ga e Respeitável Fraternidade”), foi escrita por James
da discussão sobre política e religião”. Anderson como sendo o conjunto de regras e regula-
mentos da primeira Grande Loja.
Mas, se os landmarks são amplamente aceitos
como um requisito fundamental para a regularidade Ocorre que a própria Grande Loja Unida da
maçônica, e se existem diversas compilações, como Inglaterra, sucessora daquela Grande Loja original, já
saber a que landmarks exatamente nos referimos? não adota as Constituições de Anderson há cerca de
dois séculos e meio. Como, então, em pleno século
Ainda que, aparentemente, não tenhamos a
XXI, ainda há tantas potências que declaram segui-las
resposta a esse questionamento, Cooper (2015, p.10-
fielmente?
14) nos apresenta uma hipótese bastante plausível.
Ele sugere que, uma vez que não tenhamos condi- No Brasil, explicitamente, adotam as Constitu-
ções de definir com precisão a que landmarks deve- ições de Anderson o Grande Oriente do Brasil-GOB,
mos nos ater, a solução seria nos voltarmos àqueles as Grandes Lojas dos estados de Alagoas, Amazonas,
princípios fundamentais, comuns a todas as organiza- Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso,
ções maçônicas, quais sejam: a tradição iniciática e a Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná,
preservação de seus rituais. Em outras palavras, para Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte,
Cooper, a resposta à questão da definição dos land- Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catari-
marks estaria nos próprios rituais maçônicos. na, Sergipe e Tocantins, além dos 22 Grandes Orien-
tes estaduais confederados à COMAB (que, segundo
O mesmo Cooper nos fala sobre a máxima Lex
seu Estatuto, só aceita como membros aquelas obe-
Orandi, Lex Credendi que, em tradução livre, pode ser
diências que adiram às Constituições de Anderson).
entendida como “a lei da oração é a lei da cren-
Lado outro, há quem, como as Grandes Lojas do Dis-
ça” (2015, p. 11, tradução nossa). Ora, é inegável que
trito Federal e Piauí, que não faz menção alguma a
os rituais maçônicos são uma importante fonte de
elas, e ainda outras que afirmam adotar as “antigas
conhecimentos, e que, especialmente os rituais mais
Constituições”, embora não mencionem diretamente
antigos, nos fornecem preciosas informações sobre a
o nome de Anderson, como as Grandes Lojas do Acre,
natureza da Maçonaria. Assim, a resposta que tanto
Espírito Santo, Pará e São Paulo.
buscamos estaria encerrada nos vários “catecismos”
encontrados nos rituais maçônicos, tanto os atuais Se a questão envolvendo esse documento é
quanto os mais antigos. complexa, a resposta a essa pergunta, todavia, é sim-
ples: porque parcela considerável dos maçons brasi-
Voltemos, pois, nossa atenção ao terceiro
leiros sequer sabe o que realmente pregam as Consti-
princípio de regularidade elencado pela lista norte-
tuições de Anderson.
americana, que nos diz claramente que os antigos
landmarks seriam “especificamente, uma Crença em Uma leitura rápida de seu conteúdo é o bas-
Deus, o Volume da Lei Sagrada como uma parte in- tante para constatarmos que trata-se de um conjunto
dispensável do mobiliário da Loja, e a proibição da de normas absolutamente ultrapassado, impossível
discussão sobre política e religião” (COGMNA, 2019, de ser seguido nos dias de hoje (inadequadas, para
tradução nossa), e não qualquer outra compilação de dizer o mínimo). No entanto, ainda assim, insistimos
deveres feita por esse ou aquele autor, e adotada por em dizer que as adotamos.
essa ou aquela Grande Loja em particular. Isso parece
E isso sem mencionar o fato de que, como nos
esclarecer nossa dúvida.
lembra Ismail (2015), por se tratar da legislação parti-
No que se refere às Constituições de Ander- cular de uma Grande Loja específica, como podería-
son, o desafio não é tão mais simples do que aquele mos ser instados a segui-la, uma vez que não somos
que diz respeito aos landmarks. filiados àquela potência maçônica?
Publicada originalmente em 1723, sob o título Assim, no tocante aos landmarks e às Consti-
The Constitutions of the Free-Masons containing the tuições de Anderson, pode-se dizer que sua impor-
History, Charges, Regulations, &c. of the most Anci- tância, nos dias de hoje, é tão somente histórica
ent and Right Worshipful Fraternity (em tradução li- (valor esse que não pode ser menosprezado), não

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tendo lugar, no entanto, como legislação a ser cum- número superior a uma centena. Esse esforço conjun-
prida. to foi iniciado há mais de uma década, e seus resulta-
dos vêm sendo constantemente atualizados, até mes-
mo em função do frequente surgimento de novas
6. Organizações regulares no Brasil instituições.
Ante o exposto nas seções anteriores, e com Dentre todos os organismos identificados até
base nos vários reconhecimentos firmados no Brasil, ao momento, 61 têm atuação nacional, enquanto as
tarefa de enumerar as potências maçônicas regulares outras restringem sua área de influência a alguma
existentes em nosso país não se constitui em nenhum região específica. Por razões óbvias, e também em
desafio em especial. nome da brevidade, a lista completa não será repro-
Ainda que nem todas se reconheçam mutua- duzida neste trabalho.
mente, e ainda que subsistam algumas divergências No entanto, apenas a título de ilustração, as
aqui e ali, podemos com relativa facilidade enunciar Unidades da Federação com maior incidência de or-
que, no Brasil, existem três grandes grupos maçôni- ganizações irregulares são os estados do Rio Grande
cos regulares, conforme dito acima, na subseção 2.1: do Sul, com 8, São Paulo, com 7, Minas Gerais e Para-
 o Grande Oriente do Brasil-GOB, com seus
ná, com 4 cada, e Amazonas, com 3 organismos.
Grandes Orientes Estaduais federados; Importante ressaltar que tais instituições estão
 as Grandes Lojas, em número de 27
presentes, em maior ou menor escala, em todas as
(sendo uma em cada Unidade da Federa- Unidades da Federação.
ção), confederadas à Confederação da Ma-
çonaria Simbólica do Brasil-CMSB;
8. Regularidade de Corpos Maçônicos dos Altos
 os Grandes Orientes estaduais, em número Graus
de 22, confederados à Confederação Ma-
Até aqui tratamos exclusivamente do conceito
çônica do Brasil-COMAB.
de regularidade aplicado à Maçonaria Simbólica, isto
Assim, chegamos ao número total das potên- é, no que se diz respeito às potências maçônicas cuja
cias maçônicas simbólicas regulares brasileiras, qual jurisdição abrange tão somente os três graus simbóli-
seja, 50. cos (Aprendiz Maçom, Companheiro Maçom e Mestre
Maçom).

7. Organizações irregulares no Brasil Mas os chamados “altos graus”, independen-


temente do rito maçônico a que se referem, não es-
Ao contrário do que ocorre com as potências tão isentos da questão da regularidade de suas orga-
maçônicas regulares, qualquer tentativa, por modesta nizações. Ao contrário, organismos irregulares exis-
que seja, de catalogar as organizações que, a despei- tem em profusão.
to de não preencherem um ou mais dos princípios de
regularidade, se autoproclamam maçônicas, é tarefa Embora situação similar ocorra no que tange a
das mais árduas. diversos outros ritos, nesta seção, a título de exem-
plo, abodaremos apenas os altos corpos do Rito Es-
Isso porque, movidas por razões as mais di- cocês Antigo e Aceito-REAA, devido à sua maior in-
versas, tais organismos não cessam de surgir, tanto fluência em nosso país.
no Brasil quanto em várias outras partes do mundo.
Os Supremos Conselhos, como são chamados
Como o foco deste estudo são as organiza- os os altos corpos do REAA, para que sejam tidos co-
ções desse tipo existentes em nosso país, vamos vol- mo regulares, devem preencher alguns requisitos,
tar nossa atenção a elas, desconsiderando, aqui, to- impostos pelas leis internacionais do rito. E segundo
das aquelas em funcionamento em outros países. essas leis, conforme descreve Ismail, em sua obra
Fruto de um trabalho de pesquisa realizado “Ordem Sobre o Caos”,
por um grupo de maçons brasileiros, foi elaborada
uma listagem com todas as organizações irregulares
que lhes foi possível identificar, até o momento em

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DOS ANJOS. CONSIDERAÇÕES SOBRE A REGULARIDADE MAÇÔNICA

com exceção dos EUA, somente pode ha- pouco compreendida por grande parte dos maçons
ver um Supremo Conselho por país, o qual brasileiros.
deve ter sua linhagem comprovada até o
Supremo Conselho “Mãe do Mundo” e a Assim, movido por essa lacuna na literatura
sucessão de seus Soberanos Grandes Co- maçônica disponível em nosso país, este estudo se
mendadores, do atual, até daquele a quem propôs a apresentar, com a maior clareza possível, os
a carta foi outorgada (ISMAIL, 2020, p. 50). principais aspectos relacionados à regularidade e su-
as várias implicações, como por exemplo, os reconhe-
cimentos – o que é usualmente chamado de
O mesmo Ismail ainda nos conta que “relacionamento interpotencial maçônico”.
Não temos a pretensão de esgotar o assunto,
são basicamente três pontos essenciais de até mesmo em função de sua complexidade, mas es-
regularidade no REAA: 1) ter sido fundado peramos que este trabalho seja útil no sentido de e-
com base em carta emitida por outro Su- lucidar as dúvidas mais frequentes.
premo Conselho comprovadamente regu-
lar; 2) apresentar sucessão de Soberanos Esperamos, ainda, que sirva de estímulo a que
Grandes Comendadores, do atual até a- outros maçons se debrucem sobre o tema, contribu-
quele para quem foi emitida a carta; 3) não indo para o sempre necessário incremento da chama-
possuir outro Supremo Conselho compro- da “educação maçônica”.
vadamente regular mais antigo no mesmo
país (com exceção dos EUA) (ISMAIL, 2020,
p. 55). 10. Referências
ALADRO, Jorge L. Masonic Discourses – Volume I.
Qualquer organização, que se autoproclame Melbourne, Florida: Blue Note, 2014.
um Supremo Conselho do REAA, desde que não pos- BIZZACK, John W. Treading on Soft Ground: Invented
sa traçar sua genealogia até o Supremo Conselho da Landmarks – The Early List-Makers. 2018. Disponível
Jurisdição Sul dos Estados Unidos, em Charleston, em: <https://thecraftsman.org/wp-content/
Carolina do Sul, não pode ser considerada regular. uploads/2020/01/DONE-Invented-Landmarks-JB.pdf
Outro indicador da regularidade é a participa- >. Acesso em: 22 abr. 2020.
ção efetiva na Conferência Mundial de Supremos CAROLINO, Aildo V. Os Sistemas Grande Oriente e
Conselhos. Em não podendo comprovar sua regulari- Grande Loja. 2018. Disponível em <https://gob-
dade, um Supremo Conselho simplesmente não é rj.org.br/portal/2018/03/16/os-sistemas-grande-
aceito na conferência, o que, para o mundo maçôni- oriente-e-grande-loja/>. Acesso em: 19 abr. 2020.
co, equivale a dizer que ele não exista. E uma irregu-
laridade na origem é algo que não se pode modificar. CONFEDERAÇÃO DA MAÇONARIA SIMBÓLICA DO
BRASIL. Manual das Relações Exteriores das Grandes
Vale lembrar que, em função da necessária Lojas Brasileiras. Brasília: CMSB, 2000.
dissociação entre um Supremo Conselho e qualquer
potência maçônica simbólica, é perfeitamente possí- CONFERENCE OF GRAND MASTERS OF MASONS IN
vel que um maçom esteja em condição regular no NORTH AMERICA. Commission on Information for
simbolismo, sendo membro de uma Grande Loja re- Recognition. The Standards of Recognition. 2019. Dis-
gular, mas apresente situação diversa nos altos graus, ponível em: <http://www.recognitioncommission.org/
ao ser filiado a um Supremo Conselho irregular. publish/2004/06/10/the-standards-of-recognition/>.
Acesso em: 19 abr. 2020.
COOPER, John L. Into the Maelstrom: The Issue of Ma-
9. Conclusão sonic Regularity, Past and Present. Policy Studies Or-
Embora seja, indubitavelmente, um tema da ganization, 2015. Disponível em: <http://
mais alta relevância, e que, direta ou indiretamente, www.ipsonet.org/proceedings/2015/07/28/into-the-
diz respeito a todos os membros da Maçonaria, a maelstrom-the-issue-of-masonic-regularity-past-and-
questão da regularidade maçônica é ainda muito present/>. Acesso em: 19 abr. 2020.
pouco explorada e, em consequência disso, muito

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