A Maçonaria Simbólica e A Filosofia
A Maçonaria Simbólica e A Filosofia
A Maçonaria Simbólica e A Filosofia
SUMRIO - O contexto deste artigo procura mostrar ao leitor o real sentido da filosofia manica dentro e fora dos
Templos Manicos. Nas entrelinhas, instiga os irmos a fazerem uma reflexo interior com relao aos
conhecimentos adquiridos no que diz respeito ao crescimento pessoal como maom, na compreenso do
VITRIOL, com vrios questionamentos que vo alm dos rituais apresentados em cada grau da maonaria
simblica. Tenta mostrar tambm que todo maom deve ser um investigador da verdade em busca do conhecimento,
um pensador, um questionador na arte de filosofar e no um mero obreiro, que participa das reunies simplesmente
para ouvir batidas de malhetes e ler rituais.
ABSTRACT - The context of this work seeks to show to the reader the real meaning of Masonic philosophy inside
and outside the Masonic Temples. In between the lines, it instigates the brothers to make an inner reflection on the
acquired knowledge, concerning to their personal growth as a mason, in the understanding of the VITRIOL,
with several questions that go beyond the rituals presented in each degree of symbolic Freemasonry. It also tries to
show that every Mason should be a truth seeker in search of knowledge, a thinker, a questioner in the art of
philosophizing and not a mere worker, who participates in the meetings simply to listen to beats of Mortice and read
rituals.
* O autor Venervel Mestre da Loja Manica de Estudos e Pesquisas Renascena n 1 e Ex-Venervel Mestre da
Loja Simblica Pedro Tomaz de Medeiros n 7. Mdico Veterinrio, especialista em Extenso Rural para o
Desenvolvimento Sustentvel com enfoque e aperfeioamento em Agroecologia
O Buscador - Campina Grande- PB Brasil Ano I N 2 pag. 21 31 abr/jun - 2016
Alveriano de Santana Dias
deuses, mas que os homens podem desej-la ou am-la, uma vida nova, expressando sua peculiaridade, em suas
tornando-se filsofos. respectivas filosofias.
Nosso humanismo, por natureza, difere sensivelmente "A tarefa essencial da filosofia manica irradiar a luz
da atitude espiritual dos demais humanismo: difere da de nossos princpios e de nossos hbitos para melhorar a
atitude humanista renascentista, da de Herder ou de condio humana. Mais que monovalente, ou seja, de
Goethe, que apenas pretendem elevar-se acima do uma s linha, de uma s raiz, ela polivalente. Tem
puramente material; difere dos atuais humanismo no vertentes, ento, que a alimentam e ela se reparte como
domnio econmico, social-tico, marcial e poltico; um delta no mundo profano. tradicionalista e s vezes
difere ainda do humanitarismo dos pseudocristos, da progressista; isto parece um paradoxo, mas no o ;
Maonaria, do Desmo e dos Livres Pensadores. tradio conservar o melhor do passado para utiliz-lo
(http://www.samauma.biz/site/portal/conteudo/opini em compreender mais o presente e preparar um porvir
o/g00304incidencia.htm). melhor que o presente. Ela no o ensinamento de um
conjunto de normas e princpios; nem um pensar
nesse contexto que a Maonaria abre exclusivo e excludente; uma reflexo da vida e para a
suas portas para o pensamento filosfico, procurando se vida". (http://www.lojasaopaulo43.com.br.htm).
libertar dos dogmas, das supersties que escravizam o
homem, e passa a questionar a sua existncia, atravs da Ele ainda afirma: "Diremos que nossa
investigao cientfica, at reconhecer os valores e filosofia se identifica com esta Idade Moderna; sua
direitos individuais de cada ser humano. identidade quase total. Esta identidade quase uma
coerncia, tratando-se do movimento filosfico chamado
Alicerada no amor fraternal, passa a Ilustrao".
dar nfase ao amor ao prximo, a Deus, a Ptria e (http://www.samauma.biz/site/opinio/g00304inciden
Famlia; os seus membros se reconhecem como cia.htm).
verdadeiros irmos. A livre investigao da verdade,
simbolicamente, a busca constante da Palavra Perdida Observe-se, agora, o que est escrito
que nunca ser encontrada e, se encontrada, no ser no VADE MECUM MANICO da Grande Loja
decifrada, por ser a chave dos mistrios da vida; se assim Manica do Estado da Paraba, com relao definio
o fosse, perderia a razo da sua existncia por conhecer e princpios da ordem:
toda a verdade, algo inalcanvel para qualquer Maom.
A Maonaria uma Ordem Universal formada de
A Liberdade de pensamento, a homens de todas as raas, credos e nacionalidades,
Igualdade entre os homens de qualquer credo e a acolhidos por iniciao e congregados em Loja, nas
Fraternidade universal constituem o trip que faz da quais, por mtodos ou meios racionais, auxiliados por
Maonaria uma Escola de pensamento filosfico, em smbolos e alegorias, estudam e trabalham para a
busca da felicidade interior, do bem-estar social, construo da Sociedade Humana, fundada no Amor
anulando toda e qualquer aspereza que asfixia o homem, Fraternal na esperana de que com Amor a Deus,
no exerccio do amor ao prximo. Ela tem como grande Ptria, Famlia e ao Prximo, com tolerncia, virtude e
objetivo a razo e a justia para que o mundo alcance a sabedoria, com a constante livre investigao da
felicidade geral e a paz universal. verdade, com o progresso do conhecimento humano, das
cincias e das artes, sob a trade Liberdade, Igualdade e
Para tanto, necessrio que o Maom Fraternidade -, dentro dos princpios da Razo e da
seja um pesquisador na arte de filosofar, procurando Justia, o mundo alcance a felicidade e a paz universal.
encontrar a paz interior, a tolerncia, a humildade, o (VADE MECUM MANICO, 1991, p.21)
lapidar da Pedra Bruta para da, ento, deixar fluir todo o
conhecimento adquirido, durante anos de aprendizado e Fazendo-se uma anlise dessa
pesquisa, iluminando a todos com o seu exemplo, como definio, verifica-se que a Arte de Filosofar est
cidado diferenciado no mundo profano. implcita nos princpios da Ordem. Cabe ao Maom
entender qual a sua real misso, qual o seu compromisso
para com a Instituio e com os irmos na construo de
uma sociedade, alicerada no amor fraternal. Para tanto,
preciso que ele seja um homem tolerante, virtuoso e constitucional, a Maonaria se diz filosfica. Porm
um sbio pesquisador. O diagnstico na Arte do questionemos mais uma vez: Ela o efetivamente?
Filosofar est na proposta da investigao da verdade.
Todo processo investigatrio passa pela arte do pensar, Poder-se-ia responder a essas
do deduzir, do saber, do compreender, para ento chegar indagaes ora formuladas com uma resposta simplria.
concluso atravs do conhecimento. Alm disso, no se Entretanto o simplrio, ao tempo que satisfaz, tambm
deve esquecer que todo homem na senda do saber no induz acomodao e ignorncia, porque leva as
pode se excluir da fraternidade universal, nem se isolar pessoas a pensarem que j sabem tudo, quando na
no seu prprio mundo, o que o impedir de entender toda verdade esto longe do saber, do conhecer. Assim, cabe
a riqueza que o processo investigatrio lhe prope. aos Maons compreenderem que a prtica da filosofia
Totalmente introspectivo, ele ser incapaz de conhecer o implica em esclarecer as questes que a realidade lhes
progresso da razo humana, das cincias e das artes, impe com a inteno de melhor elucid-la. No ritual de
porque no as compreender em sua essncia. Ele ser aprendiz, h uma orientao inicial para a compreenso
um cego, um limitado e egosta pensador inconcluso. A do seu interior, quando se afirma que todo homem
energia que o alimenta, dando-lhe fora para alcanar o uma Pedra Bruta e que pode se tornar uma Pedra Polida.
seu objetivo visando construo de um mundo melhor
o amor fraternal entre os irmos, famlia e a Deus.
na interpretao do V I T R
I O L, onde esto subentendidos os primeiros
Como Escola na arte de filosofar, a passos na arte de filosofar. Para compreender melhor a
Maonaria no se limita a uma vertente da Filosofia. Ela realidade, primeiro deve-se atravs da investigao
busca, atravs dos seus postulados, incentivar seus elucidar todos os questionamentos interiores, com o
membros a compreenderem o seu EU, com vistas esprito de desbastar a Pedra Bruta. Esclarecendo essas
construo de uma sociedade mais fraterna. Para isso, questes, que impedem de ver o real sentido da vida,
tm o livre arbtrio que lhes permite estudar e pesquisar encontra-se o brilho necessrio e transformador para
o que lhe convm, com a sabedoria que lhes deve ser construir uma sociedade harmoniosa e feliz.
peculiar, da serem livres pensadores. Para realizar esse
sonho quase utpico, o Maom deve, portanto, se
libertar do egosmo, das vaidades humanas para se tornar nesse processo alomrfico e
um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, construtivo que a Maonaria utiliza os instrumentos de
trabalho da arquitetura e das construes, como smbolos
livre, feliz e perfeito, para ento ser a Pedra Polida na
construo de uma perfeita sociedade humana. filosficos para o aprendizado dos seus membros.
indivduo, assim como a justia se coloca para a paixes mundanas deve ser a sua primeira reflexo; num
sociedade. estgio seguinte, ele trabalha desbastando as asperezas
que o deixam cego, enquanto profano, impedindo-o de
O malho ou mao e o cinzel so enxergar o diamante que o homem. Agora, o
instrumentos preciosos que o Aprendiz usa para Aprendiz, enquanto nefito, instrudo a trabalhar no
transformar a Pedra Bruta em Pedra Cbica. Ele trabalha sentido de quebrar as arestas que encobrem todo o brilho
pacientemente deixando aflorar a sua arte. da essncia humana, para, ento, quando Companheiro,
Simbolicamente esses instrumentos mostram-lhe como trabalhar na Pedra Cbica. no mestrado que esse
deve corrigir os seus defeitos, tomando decises sbias conhecimento filosfico adquire corpo slido. Assim
(o cinzel), com determinao enrgica (o malho). sendo, de fundamental importncia que o Maom deva
instruir-se a respeito dessa parte filosfica, porque a vida
em si o exerccio da filosofia.
Enquanto a Pedra estiver Bruta, no se
pode utilizar o compasso, pois um instrumento usado
pelo Mestre, quando a pedra estiver polida, esquadrejada Para adquirir esses conhecimentos, o
e perfeitamente acabada. Aprendiz tem que evoluir simbolicamente e subir com
dificuldade os degraus da escada de Jac. A cada
conhecimento adquirido, ele faz uma reflexo de sua
A rgua permite traar linhas retas que
podem ser prolongadas at o infinito. Para o Maom, ela existncia; a percepo individual e intransfervel,
simboliza o direito inflexvel e a lei moral, no entanto as levando-o com seus estudos e observaes a uma
realizaes desse trabalho podem ser limitadas; antes, interpretao pessoal da vida na compreenso do amor
porm, deve-se traar um programa que direcione passo ao prximo, alicerce de toda felicidade humana.
a passo os caminhos a seguir, que vo alm da idia do
abstrato (Rgua), enquanto o compasso simboliza a A investigao da verdade a base da
realidade concreta com a qual se vivencia. Filosofia Manica. A compreenso da Arte Real deve
ser interpretada, na Maonaria Especulativa, como sendo
o aperfeioamento na arte de pensar, da investigao em
Filosoficamente ser Maom significa
ser um pedreiro no processo construtivo da virtude, ser busca do significado da existncia e da verdade.
um obreiro incansvel dessa obra interminvel, ser
perseverante no uso da trolha com prudncia e Jules Michelet, historiador e escritor
perspiccia, pacientemente, quebrando as asperezas francs, afirma: preciso planar sobre o que ns
ainda existentes em seu interior. Para se construir uma fazemos. necessrio saber muito mais por cima e por
sociedade mais justa e fraterna, o Maom precisa baixo, ao lado e de todos os lados, rodear o seu objeto e
primeiro se tornar uma pessoa melhor e exercitar com tornar-se o seu dono".
excelncia a fraternidade.
Grau de Aprendiz Maom
A FILOSOFIA NOS GRAUS SIMBLICOS
O grande filsofo Scrates ensina ao
A Maonaria, como Instituio Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer
filosfica e inicitica, procura despertar no homem o aprender a pensar. Ele afirma: Conhece-te a ti mesmo.
senso de justia e a perfeio. Para tanto, faz-se Aprendendo a pensar, aprende-se a conhecer, a discernir,
necessrio, inicialmente, que ele mergulhe em seus a falar. Foi o que o prprio Scrates fez. Dessa forma a
pensamentos, buscando a fonte da razo de sua linguagem que ele usa sempre a linguagem do
existncia. S assim ser capaz de decifrar os enigmas conhecimento. Eis a o primeiro passo do Aprendiz
interiores, quebrando as arestas que o separam da Maom: Aprender a pensar. Como a Filosofia est
verdadeira luz, polindo a sua alma e tornando-se um embasada na busca e na investigao para chegar ao
homem capaz de trabalhar a Pedra Bruta que o simboliza conhecimento, por analogia, o Aprendiz Maom,
em seus estgios evolutivos na investigao, mergulhado em seu interior, no seu pensar, procura
interpretao e compreenso do seu prprio EU. Nesse entender o sentido do seu prprio EU, passando a
sentido, interpreta-se ao iniciado o mundo manico, no conhecer-se melhor. Dessa forma, morre para o mundo
qual a Loja o smbolo do macrocosmo, o Universo; e profano, renascendo com outra viso de mundo,
do microcosmo, o homem. buscando outro estilo de vida completamente
transformador.
misso do Aprendiz trabalhar a sua
interioridade no controle de si, buscando compreenso Scrates afirma tambm que o homem
atravs dos ensinamentos a ele transferidos: os deve morrer instintivamente, para que as virtudes do seu
significados do desbastar a Pedra Bruta. Vencer as interior possam aflorar, elevando-o acima das pequenas
coisas desse mundo. Scrates ainda nos fala: O existir
nada mais que o cotidiano na busca do saber. Para ele, Por estar filosoficamente bem mais
a virtude s ser alcanada quando se adquire a cincia, elevado, o Grau de Companheiro Maom, direciona-o
mas para isso depende do trabalho e da luta constante para a verdade cientfica, anulando definitivamente as
que o homem pode empregar na busca do conhecimento. supersties. Nesse grau, pode-se fazer uma sntese das
filosofias de Pitgoras, de Parmnides, de Scrates, alm
Filosoficamente, sabe-se que a de outros.
existncia humana passa pela questo do SER. O
Aprendiz Maom deve ter como objetivo conhecer O que somos? O que que existe? De
primeiro a si mesmo, desbastando a Pedra Bruta, para onde vieram as coisas? Para onde iremos? Esses
da, ento, compreender todo o sentido da lapidao do questionamentos so, na verdade, a primeira grande
esprito; no limitar-se ao pensamento primrio de que o influncia filosfica do Segundo Grau, advindos dos
ser est singularizado no SER , O NO-SER NO primeiros pensadores pr-socrticos. Eles procuravam
. compreender e buscar solues para os princpios das
coisas existentes. O ato de pensar era o caminho para
Cabe aqui descrever o que Toms de chegar a concluses concretas, visando encontrar uma
Aquino, preceitua: O ser no se pode acrescentar nada resposta que se baseasse num ponto de vista lgico para
que lhe seja estranho, porque nada lhe estranho, com seus questionamentos.
exceo do NO-SER, que no pode ser nem forma nem
matria. A constante mudana que sucedia na
natureza deixava o homem deslumbrado, diante do
Conhecer, portanto, descobrir o fenmeno que consistia em as coisas mudarem,
SER; assim, para o Aprendiz Maom, o conhecimento desaparecerem e a natureza continuar a mesma.
pode significar o nascimento do seu SER interior. Simbolicamente o que acontece com o Companheiro: a
Compreendendo a si mesmo, ele se diferencia do sua primeira tarefa fazer uma anlise objetiva da
profano, pois uma nova luz ilumina o seu caminho, uma realidade fsica, a fim de que possa chegar a um
vez que visualiza as coisas com o olho do pensamento, conhecimento tanto maior da existncia. A vida um
usando a lente da inteligncia, ao passo que o profano enigma e, no Segundo Grau, o tema abordado
olha e no v. a onde reside a diferena entre o olhar e filosoficamente: O que sou eu? O que a vida? Que
o ver, entre o profano e o Aprendiz Maom. estou fazendo neste mundo?
BIBLIOGRAFIA