Apostila Eja Ensino Medio 1 Ano

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GEOGRAFIA

CADERNO DO ESTUDANTE

E N S I N O M é d io

VOLUME 1
Nos Cadernos do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho/CEEJA são
indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos
apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram
verificados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria
de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados
permaneçam acessíveis ou inalterados após a data de consulta impressa neste material.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação autoriza a


reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do País, desde
que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos*
deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos
artigos da Lei no 9.610/98.

* Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que
não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Geografia : caderno do estudante. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,


Tecnologia e Inovação (SDECTI) : Secretaria da Educação (SEE), 2015.
il. - - (Educação de Jovens e Adultos (EJA) : Mundo do Trabalho modalidade semipresencial, v. 1)

Conteúdo: v. 1. 1a série do Ensino Médio.


ISBN: 978-85-8312-112-1 (Impresso).
978-85-8312-090-2 (Digital)

1. Geografia – Estudo e ensino. 2. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Médio. 3.


Modalidade Semipresencial. I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e
Inovação. II. Secretaria da Educação. III. Título.

CDD: 372.5

FICHA CATALOGRÁFICA
Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262
Geraldo Alckmin
Governador

Secretaria de Desenvolvimento Econômico,


Ciência, Tecnologia e Inovação

Márcio Luiz França Gomes


Secretário

Cláudio Valverde
Secretário-Adjunto

Maurício Juvenal
Chefe de Gabinete

Marco Antonio da Silva


Coordenador de Ensino Técnico,
Tecnológico e Profissionalizante

Secretaria da Educação

Herman Voorwald
Secretário

Cleide Bauab Eid Bochixio


Secretária-Adjunta

Fernando Padula Novaes


Chefe de Gabinete

Ghisleine Trigo Silveira


Coordenadora de Gestão da Educação Básica

Mertila Larcher de Moraes


Diretora do Centro de Educação de Jovens e Adultos

Adriana Aparecida de Oliveira, Adriana dos Santos


Cunha, Durcilene Maria de Araujo Rodrigues,
Gisele Fernandes Silveira Farisco, Luiz Carlos Tozetto,
Raul Ravanelli Neto, Sabrina Moreira Rocha,
Virginia Nunes de Oliveira Mendes
Técnicos do Centro de Educação de Jovens e Adultos
Concepção do Programa e elaboração de conteúdos

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Coordenação Geral do Projeto Equipe Técnica


Ernesto Mascellani Neto Cibele Rodrigues Silva, João Mota Jr. e Raphael Lebsa do Prado

Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap

Wanderley Messias da Costa Heder, Herbert Rodrigues, Jonathan Nascimento, Laís Schalch,
Diretor Executivo Liliane Bordignon de Souza, Marcos Luis Gomes, Maria Etelvina
R. Balan, Maria Helena de Castro Lima, Paula Marcia Ciacco da
Márgara Raquel Cunha
Silva Dias, Rodnei Pereira, Selma Borghi Venco e Walkiria Rigolon
Diretora Técnica de Formação Profissional
Autores
Coordenação Executiva do Projeto
Arte: Roseli Ventrella e Terezinha Guerra; Biologia: José Manoel
José Lucas Cordeiro
Martins, Marcos Egelstein, Maria Graciete Carramate Lopes e
Coordenação Técnica Vinicius Signorelli; Filosofia: Juliana Litvin de Almeida e Tiago
Impressos: Dilma Fabri Marão Pichoneri Abreu Nogueira; Física: Gustavo Isaac Killner; Geografia: Roberto

Vídeos: Cristiane Ballerini Giansanti e Silas Martins Junqueira; História: Denise Mendes
e Márcia Juliana Santos; Inglês: Eduardo Portela e Jucimeire
Equipe Técnica e Pedagógica de Souza Bispo; Língua Portuguesa: Claudio Bazzoni e Giulia
Ana Paula Alves de Lavos, Carlos Ricardo Bifi, Cláudia Beatriz de Murakami Mendonça; Matemática: Antonio José Lopes; Química:
Castro N. Ometto, Elen Cristina S. K. Vaz Döppenschmitt, Emily Olímpio Salgado; Sociologia: Dilma Fabri Marão Pichoneri e
Hozokawa Dias, Fabiana de Cássia Rodrigues, Fernando Manzieri Selma Borghi Venco

Gestão do processo de produção editorial

Fundação Carlos Alberto Vanzolini

Mauro de Mesquita Spínola Leitão, Cláudia Letícia Vendrame Santos, David dos Santos
Presidente da Diretoria Executiva Silva, Eloiza Mendes Lopes, Érika Domingues do Nascimento,
Fernanda Brito Bincoletto, Flávia Beraldo Ferrare, Jean Kleber
José Joaquim do Amaral Ferreira
Silva, Leonardo Gonçalves, Lorena Vita Ferreira, Lucas Puntel
Vice-Presidente da Diretoria Executiva
Carrasco, Luiza Thebas, Mainã Greeb Vicente, Marcus Ecclissi,
Gestão de Tecnologias em Educação Maria Inez de Souza, Mariana Padoan, Natália Kessuani Bego
Maurício, Olivia Frade Zambone, Paula Felix Palma, Pedro
Direção da Área
Carvalho, Polyanna Costa, Priscila Risso, Raquel Benchimol
Guilherme Ary Plonski
Rosenthal, Tatiana F. Souza, Tatiana Pavanelli Valsi, Thaís Nori
Coordenação Executiva do Projeto Cornetta, Thamires Carolline Balog de Mattos e Vanessa Bianco
Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Felix de Oliveira

Direitos autorais e iconografia: Ana Beatriz Freire, Aparecido


Gestão do Portal
Francisco, Fernanda Catalão, José Carlos Augusto, Larissa Polix
Luis Marcio Barbosa, Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e
Barbosa, Maria Magalhães de Alencastro, Mayara Ribeiro de
Wilder Rogério de Oliveira
Souza, Priscila Garofalo, Rita De Luca, Roberto Polacov, Sandro
Gestão de Comunicação Carrasco e Stella Mesquita
Ane do Valle Apoio à produção: Aparecida Ferraz da Silva, Fernanda Queiroz,

Gestão Editorial Luiz Roberto Vital Pinto, Maria Regina Xavier de Brito, Natália

Denise Blanes S. Moreira e Valéria Aranha

Projeto gráfico-editorial e diagramação: R2 Editorial, Michelangelo


Equipe de Produção
Russo e Casa de Ideias
Editorial: Carolina Grego Donadio e Paulo Mendes
Equipe Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas
de Araújo, Alícia Toffani, Amarilis L. Maciel, Ana Paula S.
Bezerra, Andressa Serena de Oliveira, Bárbara Odria Vieira, CTP, Impressão e Acabamento
Carolina H. Mestriner, Caroline Domingos de Souza, Cíntia Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Caro(a) estudante

É com grande satisfação que a Secretaria da Educação do Estado de São


Paulo, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,
Tecnologia e Inovação, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa Edu-
cação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho para os Centros Estaduais
de Educação de Jovens e Adultos (CEEJAs). A proposta é oferecer um material
pedagógico de fácil compreensão, que favoreça seu retorno aos estudos.

Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-


car aos estudos, principalmente quando se parou de estudar há algum tempo.

O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos


têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-
zagem. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimentos e convicções
que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos respeitar a trajetória
daqueles que apostaram na educação como o caminho para a conquista de um
futuro melhor.

Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você perce-
berá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o mundo do trabalho
e respeitar as especificidades da modalidade de ensino semipresencial praticada
nos CEEJAs.

Esperamos que você conclua o Ensino Médio e, posteriormente, continue estu-


dando e buscando conhecimentos importantes para seu desenvolvimento e sua
participação na sociedade. Afinal, o conhecimento é o bem mais valioso que adqui-
rimos na vida e o único que se acumula por toda a nossa existência.

Bons estudos!

Secretaria da Educação

Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
apresentação

Estudar na idade adulta sempre demanda maior esforço, dado o acúmulo de


responsabilidades (trabalho, família, atividades domésticas etc.), e a necessidade
de estar diariamente em uma escola é, muitas vezes, um obstáculo para a reto-
mada dos estudos, sobretudo devido à dificuldade de se conciliar estudo e traba-
lho. Nesse contexto, os Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos (CEEJAs)
têm se constituído em uma alternativa para garantir o direito à educação aos que
não conseguem frequentar regularmente a escola, tendo, assim, a opção de realizar
um curso com presença flexível.
Para apoiar estudantes como você ao longo de seu percurso escolar, o Programa
Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho produziu materiais espe-
cificamente para os CEEJAs. Eles foram elaborados para atender a uma justa e
antiga reivindicação de estudantes, professores e sociedade em geral: poder contar
com materiais de apoio específicos para os estudos desse segmento.
Esses materiais são seus e, assim, você poderá estudar nos momentos mais
adequados – conforme os horários que dispõe –, compartilhá-los com sua família,
amigos etc. e guardá-los, para sempre estarem à mão no caso de futuras consultas.
Os Cadernos do Estudante apresentam textos que abordam e discutem os conteúdos
propostos para cada disciplina e também atividades cujas respostas você poderá regis-
trar no próprio material. Nesses Cadernos, você ainda terá espaço para registrar suas
dúvidas, para que possa discuti-las com o professor sempre que for ao CEEJA.
Os vídeos que acompanham os Cadernos do Estudante, por sua vez, explicam,
exemplificam e ampliam alguns dos assuntos tratados nos Cadernos, oferecendo
informações que vão ajudá-lo a compreender melhor os conteúdos. São, portanto,
um importante recurso com o qual você poderá contar em seus estudos.
Além desses materiais, o Programa EJA – Mundo do Trabalho tem um site exclu-
sivo, que você poderá visitar sempre que desejar: <http://www.ejamundodotrabalho.
sp.gov.br>. Nele, além de informações sobre o Programa, você acessa os Cadernos
do Estudante e os vídeos de todas as disciplinas, ao clicar na aba Conteúdo CEEJA.
Já na aba Conteúdo EJA, poderá acessar os Cadernos e vídeos de Trabalho, que abor-
dam temas bastante significativos para jovens e adultos como você.
Os materiais foram produzidos com a intenção de estabelecer um diálogo com
você, visando facilitar seus momentos de estudo e de aprendizagem. Espera-se que,
com esse estudo, você esteja pronto para realizar as provas no CEEJA e se sinta cada
vez mais motivado a prosseguir sua trajetória escolar.
como se aprende A estudar?

É importante saber que também se aprende a estudar. No entanto, se buscar-


mos em nossa memória, dificilmente nos lembraremos de aulas em que nos ensi-
naram a como fazer.

Afinal, como grifar um texto, organizar uma anotação, produzir resumos, ficha-
mentos, resenhas, esquemas, ler um gráfico ou um mapa, apreciar uma imagem
etc.? Na maioria das vezes, esses procedimentos de estudo são solicitados, mas
não são ensinados. Por esse motivo, nem sempre os utilizamos adequadamente ou
entendemos sua importância para nossa aprendizagem.

Aprender a estudar nos faz tomar gosto pelo estudo. Quando adquirimos este
hábito, a atitude de sentar-se para ler e estudar os textos das mais diferentes disci-
plinas, a fim de aprimorar os conhecimentos que já temos ou buscar informações,
torna-se algo prazeroso e uma forma de realizar novas descobertas. E isso acontece
mesmo com os textos mais difíceis, porque sempre é tempo de aprender.

Na hora de ler para aprender, todas as nossas experiências de vida contam


muito, pois elas são sempre o ponto de partida para a construção de novas apren-
dizagens. Ler amplia nosso vocabulário e ajuda-nos a pensar, falar e escrever
melhor.

Além disso, quanto mais praticamos a leitura e a escrita, desenvolvemos


melhor essas capacidades. Para isso, conhecer e utilizar adequadamente diferentes
procedimentos de estudo é fundamental. Eles lhe servirão em uma série de situa-
ções, dentro e fora da escola, caso você resolva prestar um concurso público, por
exemplo, ou mesmo realizar alguma prova de seleção de emprego.

Por todas essas razões, os procedimentos de estudo e as oportunidades de


escrita são priorizados nos materiais, que trazem, inclusive, seções e dois vídeos
de Orientação de estudo.

Por fim, é importante lembrar que todo hábito se desenvolve com a frequência.
Assim, é essencial que você leia e escreva diariamente, utilizando os procedimen-
tos de estudo que aprenderá e registrando suas conclusões, observações e dúvidas.
Conhecendo o Caderno do Estudante

O Caderno do Estudante do Programa EJA – Mundo do Trabalho/CEEJA foi


planejado para facilitar seus momentos de estudo e de aprendizagem, tanto
fora da escola como quando for participar das atividades ou se encontrar com
os professores do CEEJA. A ideia é que você possa, em seu Caderno, registrar
todo processo de estudo e identificar as dúvidas que tiver.

O SUMÁRIO
Ao observar o Sumário, você perceberá que todos os
Cadernos se organizam em Unidades (que equivalem
a capítulos de livros) e que estas estão divididas em
Temas, cuja quantidade varia conforme a Unidade.

Essa subdivisão foi pensada para que, de preferên-


cia, você estude um Tema inteiro de cada vez. Assim,
conhecerá novos conteúdos, fará as atividades pro-
postas e, em algumas situações, poderá assistir aos
vídeos sobre aquele Tema. Dessa forma, vai iniciar
e finalizar o estudo sobre determinado assunto e
poderá, com o professor de plantão, tirar suas dúvidas
e apresentar o que produziu naquele Tema.

Cada Unidade é identificada por uma cor, o que vai


ajudá-lo no manuseio do material. Além disso, para
organizar melhor seu processo de estudo e facilitar a
localização do que gostaria de discutir com o professor
do CEEJA, você pode indicar, no Sumário, os Temas que
já estudou e aqueles nos quais tem dúvida.

AS UNIDADES
Para orientar seu estudo, o início
de cada Unidade apresenta uma breve
introdução, destacando os objetivos e
os conteúdos gerais trabalhados, além
de uma lista com os Temas propostos.
OS TEMAS
A abertura de cada Tema é visualmente
identificada no Caderno. Você pode perceber
que, além do título e da cor da Unidade, o
número de caixas pintadas no alto da página
indica em qual Tema você está. Esse recurso
permite localizar cada Tema de cada Unidade
até mesmo com o Caderno fechado, facili-
tando o manuseio do material.

Na sequência da abertura, você encontra


um pequeno texto de apresentação do Tema.

As seções e os boxes
Os Temas estão organizados em diversas seções que visam facilitar sua aprendi-
zagem. Cada uma delas tem um objetivo, e é importante que você o conheça antes
de dar início aos estudos. Assim, saberá de antemão a intenção presente em cada
seção e o que se espera que você realize.

Algumas seções estão presentes em todos os Temas!

O que você já sabe?

Essa seção sempre aparece no início de cada Tema. Ela tem o objetivo
de ajudá-lo a reconhecer o que você já sabe sobre o conteúdo a ser estu-
dado, seja por estudos anteriores, seja por sua vivência pessoal.

Em nossa vida cotidiana, estamos


o tempo todo utilizando os conheci-
mentos e as experiências que já temos
para construir novas aprendizagens. Ao
estudar, acontece o mesmo, pois lem-
bramos daquilo que já sabemos para
aprofundar o que já conhecíamos. Esse é
sempre um processo de descoberta.

Essa seção pode ser composta por


algumas perguntas ou um pequeno texto
que o ajudarão a buscar na memória o
que você já sabe a respeito do conteúdo
tratado no Tema.
Textos

Os textos apresentam os conteúdos e


conceitos a serem aprendidos em cada
Tema. Eles foram produzidos, em geral,
procurando dialogar com você, a partir
de uma linguagem clara e acessível.
Imagens também foram utilizadas
para ilustrar, explicar ou ampliar a
compreensão do conteúdo abordado.
Para ampliar o estudo do assunto tra-
tado, boxes diversos ainda podem apa-
recer articulados a esses textos.

Atividade

As atividades antecipam, reto-


mam e ampliam os conteúdos abor-
dados nos textos, para que possa
perceber o quanto já aprendeu.
Nelas, você terá a oportunidade de
ler e analisar textos de outros auto-
res, mapas, gráficos e imagens, de
modo a ampliar sua compreensão
a respeito do que foi apresentado
nos textos. Lembre-se de ler atenta-
mente as orientações antes de rea-
lizar os exercícios propostos e de
sempre anotar suas dúvidas.
Para facilitar seus estudos, assim
como os encontros com o professor
do CEEJA, muitas dessas atividades
podem ser realizadas no próprio
Caderno do Estudante.
Hora da checagem

Essa seção apresenta respostas e explicações


para todas as atividades propostas no Tema.
Para que você a localize com facilidade no
material, ela tem um fundo amarelo que pode
ser identificado na margem lateral externa do
Caderno. É nela que você vai conferir o resul-
tado do que fez e tirar suas dúvidas, além de
ser também uma nova oportunidade de estudo.
É fundamental que você leia as explicações
após a realização das atividades e que as com-
pare com as suas respostas. Analise se as infor-
mações são semelhantes e se esclarecem suas
dúvidas, ou se ainda é necessário completar
alguns de seus registros.
Mas, atenção! Lembre-se de que não há ape-
nas um jeito de organizar uma resposta correta.
Por isso, você precisa observar seu trabalho
com cuidado, perceber seus acertos, aprender
com as correções necessárias e refletir sobre
o que fez, antes de tomar sua resposta como
certa ou errada.
É importante que você apresente o que fez
ao professor do CEEJA, pois ele o orientará em
seus estudos.

Essa seção é proposta ao final de cada Tema. Depois de


REGISTRO DE você ter estudado os textos, realizado as atividades e con-
DÚVIDAS E sultado as orientações da Hora da checagem, é importante
COMENTÁRIOS que você registre as dúvidas que teve durante o estudo.
Registrar o que se está estudando é uma forma de
aprender cada vez mais. Ao registrar o que aprendeu,
você relembra os conteúdos – construindo, assim, novas
aprendizagens – e reflete sobre os novos conhecimentos
e sobre as dúvidas que eventualmente teve em determi-
nado assunto.
Sistematizar o que aprendeu e as dúvidas que encon-
trou é uma ferramenta importante para você e o profes-
sor, pois você organizará melhor o que vai perguntar a
ele, e o professor, por sua vez, poderá acompanhar com
detalhes o que você estudou, e como estudou. Assim,
ele poderá orientá-lo de forma a dar prosseguimento aos
estudos da disciplina.
Por isso, é essencial que você sempre utilize o espaço
reservado dessa seção ao concluir o estudo de cada
Tema. Assim, não correrá o risco de esquecer seus
comentários e suas dúvidas até o dia de voltar ao CEEJA.
Algumas seções não estão presentes em todas as Unidades,
mas complementam os assuntos abordados!

ORIENTAÇÃO DE ESTUDO
Essa seção enfoca diferentes proce-
dimentos de estudo, importantes para
a leitura e a compreensão dos textos
e a realização das atividades, como gri-
far, anotar, listar, fichar, esquematizar
e resumir, entre outros. Você também
poderá conhecer e aprender mais sobre
esses procedimentos assistindo aos dois
vídeos de Orientação de estudo.

DESAFIO
Essa seção apresenta questões
que caíram em concursos públicos
ou em provas oficiais (como Saresp,
Enem, entre outras) e que enfocam o
conteúdo abordado no Tema. Assim, PENSE SOBRE...
você terá a oportunidade de conhe-
cer como são construídas as provas Essa seção é proposta sempre que houver
em diferentes locais e a importân- a oportunidade de problematizar algum con-
cia do que vem sendo aprendido teúdo desenvolvido, por meio de questões
no material. As respostas tam- que fomentem sua reflexão a respeito dos
bém estão disponíveis na Hora da aspectos abordados no Tema.
checagem.
MOMENTO CIDADANIA

Essa seção aborda assuntos que têm


relação com o que você estará estudando
e que também dialogam com interesses
da sociedade em geral. Ela informa sobre
leis, direitos humanos, fatos históricos
etc. que o ajudarão a aprofundar seus co-
nhecimentos sobre a noção de cidadania.

PARA SABER MAIS


Essa seção apresenta textos e
atividades que têm como objeti-
vo complementar o assunto estu-
dado e que podem ampliar e/ou
aprofundar alguns dos aspectos
apresentados ao longo do Tema.

Os boxes são caixas de texto que você vai encontrar em todo o material.
Cada tipo de boxe tem uma cor diferente, que o destaca do texto
e facilita sua identificação!

GLOSSÁRIO
A palavra glossário significa “dicionário”.
Assim, nesse boxe você encontrará verbe-
tes com explicações sobre o significado de
palavras e/ou expressões que aparecem
nos textos que estará estudando. Eles têm
o objetivo de facilitar sua compreensão.
BIOGRAFIA
Esse boxe aborda aspectos
da vida e da obra de autores ou
artistas trabalhados no material,
para ampliar sua compreensão a
respeito do texto ou da imagem
que está estudando.

ASSISTA!
Esse boxe indica os vídeos do Programa,
que você pode assistir para complementar
os conteúdos apresentados no Caderno. São
indicados tanto os vídeos que compõem os
DVDs – que você recebeu com os Cadernos –
quanto outros, disponíveis no site do Programa.
Para facilitar sua identificação, há dois ícones
usados nessa seção.

FICA A DICA!
Nesse boxe você encontrará sugestões
diversas para saber mais sobre o conteúdo
trabalhado no Tema: assistir a um filme ou
documentário, ouvir uma música, ler um
livro, apreciar uma obra de arte etc. Esses
outros materiais o ajudarão a ampliar seus
conhecimentos. Por isso, siga as dicas
sempre que possível.

VOCÊ SABIA?
Esse boxe apresenta curiosidades relacio-
nadas ao assunto que você está estudando.
Ele traz informações que complementam
seus conhecimentos.
GEOGRAFIA

SUMÁRIO

Unidade 1 ‒ Cartografias do mundo contemporâneo..................................................17

Tema 1 – A elaboração e o uso de mapas.................................................................................17


Tema 2 – As modalidades de representação cartográfica......................................................29

Unidade 2 ‒ Globalização, uma nova face do mundo atual.......................................... 41

Tema 1 – Globalização: agentes e processos............................................................................41


Tema 2 – Efeitos da globalização...................................................................................................... 53

Unidade 3 ‒ Conflitos no mundo contemporâneo...........................................................62

Tema 1 – O mapa-múndi político atual....................................................................................62


Tema 2 – Conflitos e tensões no mundo atual............................................................................. 74

Unidade 4 ‒ Natureza, sociedade e urgências ambientais...........................................89

Tema 1 – Aquecimento global e mudanças climáticas............................................................ 90


Tema 2 – Gestão da água no mundo............................................................................................. 100
Tema 3 – Biomas, biodiversidade e proteção ambiental......................................................106
Caro(a) estudante,
Você está iniciando agora o Volume 1 do Ensino Médio da disciplina Geografia do
Programa EJA – Mundo do Trabalho. Prosseguir nos estudos é uma decisão importante, e
é fundamental que essa oportunidade apresente novos horizontes para sua vida, seja na
sua família, na sua comunidade ou no seu local de trabalho.
Nesse percurso, são colocadas perguntas como: Por que é importante estudar Geografia?
O que você espera aprender nessa disciplina? O que você já sabe e o que precisa aprofundar?
Você já pensou sobre isso?
Os conhecimentos de Geografia ajudam a compreender melhor o mundo, a relação
entre sociedade e natureza e os processos associados à construção da sociedade. Um
aspecto essencial desses processos é o da produção do espaço geográfico por meio do tra-
balho. O espaço geográfico é uma das bases fundamentais da vida humana. Desvendá-lo,
entender como ele se constitui e se transforma, é objeto de estudo central da disciplina.
Este Caderno está voltado a estudos sobre a produção do espaço na escala mundial,
examinando percursos históricos desse processo, assim como as formas de representação
que permitem compreendê-lo melhor. Trata, portanto, de questões relativas ao mundo e
à vida de cada um de nós.
Na Unidade 1, o assunto explorado será o da cartografia. Isso permitirá ler e interpre-
tar os mapas como formas de representação do espaço, localizar fenômenos, compreender
suas dinâmicas e estabelecer relações entre eles. Você poderá conhecê-los em diferentes
escalas e utilizá-los em sua vida cotidiana.
A Unidade 2 enfatiza a globalização, destacando a maneira como ela vem se consti-
tuindo e suas principais repercussões para a vida das populações, dos grupos sociais e dos
países. Esse assunto permite examinar o papel das novas tecnologias de comunicação e
informação no mundo atual e como elas vêm interferindo na vida das pessoas.
Na Unidade 3, são examinados alguns dos principais conflitos no mundo contempo­
râneo, com base nos quais são analisados e avaliados os contextos de guerra e de paz. Você
verá como surgem conflitos sociais e políticos de diferentes ordens, que opõem grupos da
sociedade civil ou países, e como esses conflitos são superados. Para essa avaliação, entram
em cena princípios dos direitos humanos, de paz, cidadania e superação das desigualdades.
A Unidade 4 dedica-se ao estudo das relações entre natureza, sociedade e urgências
ambientais. Ela apresenta alguns dos principais fundamentos das bases naturais do espaço
geográfico, sua transformação pela ação humana e os efeitos dessa transformação para a
vida e os ambientes em geral. Aborda também iniciativas e soluções para superar impactos
ambientais.
A Geografia tem como objeto de estudo o espaço que o ser humano produz e trans-
forma. Entre as principais ferramentas dessa área do conhecimento estão a leitura e a
interpretação de textos, mapas e gráficos, as quais o ajudarão a aprofundar seus saberes
e a relacionar diferentes fatos e fenômenos. Além disso, possibilitarão que você utilize
diversas fontes de informações presentes no cotidiano, como textos de jornais e revistas,
imagens e filmes, de forma mais crítica e consciente.
Bons estudos e aproveite!
GEOGRAFIA
CARTOGRAFIAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
Unidade 1

Temas
1. A elaboração e o uso de mapas
2. As modalidades de representação cartográfica

Introdução
Nesta Unidade, o tema principal será a linguagem cartográfica. O objetivo será
identificar os elementos que estruturam os mapas, como o título, a legenda e a
escala cartográfica. Você examinará também algumas das principais modalidades
de representação cartográfica existentes. Elas estão presentes não só em livros esco-
lares, mas também em jornais, revistas, sites ou trabalhos de pesquisa acadêmica.

A elaboração e o uso de mapas T E M A 1

Desde tempos remotos, diferentes sociedades humanas vêm criando formas


de representação dos seus espaços de vida. Povos antigos elaboravam mapas em
diversos materiais, como barro cozido, madeira e tecido. Muitos desses mapas
procuravam representar realidades locais, como você pode observar nas imagens
a seguir.

Mapa de Ga-Sur Mapa de Bedolina


© Corbis/Latinstock

© DEA/E.Papetti/DeAgostini/Getty Images

Mapa feito em barro cozido, descoberto nas ruínas Mapa gravado em uma rocha em 1500 a.C., no vale do
de Ga-Sur, antiga Babilônia, datado de 2500 a.C., Rio Pó, na Itália.
aproximadamente.
18 UNIDADE 1

Embora existam variações nos tipos e nas funções dos mapas atuais, eles apre-
sentam alguns elementos em comum, chamados de estruturais, por exemplo, título
e legenda. Como em textos escritos, o título tem a função de indicar assuntos,
dados, fenômenos ou espaços representados. As legendas facilitam a leitura e a
interpretação dos mapas. Elas revelam o que significam símbolos, sinais gráficos
(figuras, linhas, círculos, setas etc.) e cores. Assim, elas “traduzem” elementos da
linguagem cartográfica.

Para você, o que é um mapa? Para que serve? Algum mapa já foi útil para resol-
ver alguma situação em sua vida? Como?

Registre suas respostas nas linhas a seguir.

A linguagem dos mapas


A linguagem cartográfica moderna integra o campo das linguagens visuais, ou
seja, utiliza símbolos, sinais gráficos e faz uso próprio das cores.

Uma vez conhecidos seus principais elementos (título, legenda e toponímia –


nome do lugar), um mapa poderá ser lido e entendido por qualquer pessoa, isto é,
a linguagem cartográfica é universal.

O mapa pode ser definido como uma representação plana, simplificada e con-
vencional da superfície terrestre, em sua totalidade ou em partes dela. Muitos
mapas foram produzidos para atender a interesses, como os dos Estados nacionais
ou do poder econômico.

Vale lembrar, também, que um mapa não é a realidade, mas a representação de


alguns elementos nela presentes.
UNIDADE 1 19

Atividade 1 Os elementos estruturais dos mapas

Observe o mapa a seguir.

Brasil: divisão regional 1

© IBGE
2

3
4 4

IBGE. 7 a 12. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/images/7a12/mapas/Brasil/brasil_grandes_regioes.pdf>. Acesso em: 31 out. 2014. Mapa original (adaptado para fins didáticos).
20 UNIDADE 1

1 Indique os elementos do mapa que estão numerados de 1 a 6.

1
2
3
4
5
6

2 Escreva suas conclusões a respeito do que você observou no mapa.

Funções e elementos dos mapas

Entre as principais funções dos mapas estão as de orientação e localização de


pontos na superfície terrestre. Eles podem retratar a distribuição de fenômenos
geográficos diversos: áreas naturais, fluxos de mercadorias, crescimento da popu-
lação, avanço do desmatamento, entre outros. É possível citar outras funções, tais
como relacionar fenômenos, conhecer limites entre países, auxiliar na construção
de obras públicas e na preservação ambiental. Há também mapas ligados à repre-
sentação do poder, seja de países, seja de grupos econômicos.

O importante é que, para cada tipo de evento, deve-se utilizar uma determi-
nada forma de representação. De acordo com suas características, os fenômenos
podem ser anotados na forma de ponto, linha ou área. Assim, um mapa de rodo-
vias é constituído basicamente de linhas de diversas cores, que indicam o traçado
e a condição de cada estrada, isto é, se ela é, por exemplo, asfaltada ou de terra, ou
se são rodovias principais ou estradas secundárias.

Em alguns mapas, as cidades aparecem representadas por pontos, indicando sua


localização. Em outros casos, elas estão representadas por círculos de diferentes tama-
nhos para indicar, entre outros fatores, quantidade de população em cada área urbana.

As cores ou hachuras (traços verticais, horizontais ou diagonais) servem, em geral,


para identificar áreas como a de um determinado cultivo ou a vegetação de uma região.

Portanto, para representar cada fenômeno, devem-se escolher símbolos ou


cores correspondentes.
UNIDADE 1 21

Projeção cartográfica

Os mapas são construídos segundo uma projeção cartográfica. Cada projeção


busca resolver o problema de representar a superfície curva da Terra no plano,
uma vez que os mapas são feitos em folha de papel ou em tela de computador.
Nenhuma projeção reproduz perfeitamente no plano a superfície curva; sempre
haverá alguma distorção na forma, nas distâncias ou nos tamanhos
e nas proporções das áreas representadas. Para representar o globo

© IBGE
terrestre, foram desenvolvidas diversas projeções cartográficas.

Para fazer a transposição da superfície curva para a plana (que é


a do mapa), os cartógrafos desenvolveram técnicas de projeção da
esfera terrestre. Essas projeções foram feitas sobre um cilindro, um
cone ou diretamente no plano. Deve-se observar que não existem
projeções cartográficas livres de deformações.

Mercator foi um impor- Projeção de Mercator

© IBGE
tante cartógrafo do século
XVI. Ele nasceu no território
que hoje é a Bélgica e, em
1569, publicou um mapa-
-múndi em 18 folhas, que
ficou conhecido como proje-
ção de Mercator. Seu mapa-
-múndi, que é uma projeção
cilíndrica, popularizou-se,
pois foi a primeira represen-
tação do mundo feita depois
que os europeus ampliaram
seus conhecimentos sobre
os continentes africano,
asiático e americano.

A projeção de Mercator
apresenta distorções no tama-
nho das terras emersas, como
no caso da Groenlândia, que,
apesar de ser menor que a
América do Sul, aparece IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012, p. 21 e 23. Mapa original.

bem maior nessa projeção.


22 UNIDADE 1

Mercator sabia que haveria distorções desse tipo, Meridiano


pois ele considerou os meridianos como retas
Semicírculo imaginário que cruza
paralelas, e não como linhas curvas que se encon- a Terra de polo a polo (sentido
tram nos polos. Mas manteve ângulos e formas, norte-sul), tendo como referên-
cia o meridiano de Greenwich (0o)
mesmo quando as aumentava, criando um mapa (veja mapa da próxima página).
adequado a navegações marítimas.

Os mapas podem ter projeções equivalentes (não alteram as áreas), conformes (não
alteram formas e ângulos, como a de Mercator) ou equidistantes (representam os compri-
mentos de modo uniforme).

Projeção equivalente Projeção conforme


© IBGE

Projeção equidistante

Para saber mais sobre projeções cartográ-


ficas, consulte as seguintes referências
do IBGE:

• Atlas geográfico escolar. Disponível em:


<http://biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.
php?id=264669>. Acesso em: 29 set. 2014.
Aqui, você encontra links para baixar os
capítulos da 6 a edição do Atlas Geográ-
fico Escolar do IBGE. (Acesse o capítulo 2,
p. 21-24.)

• Noções básicas de cartografia. Disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/
cartografia/manual_nocoes/representacao.
html>. Acesso em: 11 ago. 2014.

IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE: 2012, p. 22. Mapas originais.
UNIDADE 1 23

Coordenadas geográficas

As coordenadas geográficas são um impor- Glossário


tante elemento presente nos mapas. São as linhas Paralelo
imaginárias que, em mapas e globos terrestres, Círculo completo que cruza os
meridianos em ângulos retos.
resultam dos cruzamentos entre os paralelos, no
O círculo máximo é o da Linha do
sentido leste-oeste, e os meridianos, no sentido Equador (0°) (veja mapa a seguir).
norte-sul. Esses cruzamentos auxiliam na orien- Latitude
tação e permitem a localização de qualquer ponto Distância medida em graus da
na superfície terrestre com precisão, por meio Linha do Equador a um ponto qual-
quer para o norte ou para o sul.
das latitudes e das longitudes. O município de
Longitude
São Paulo, por exemplo, localiza-se nas coorde-
Distância medida em graus do
nadas geográficas: 23o32’51” S (lê-se latitude sul) Meridiano de Greenwich a um
e 46o38’10” O (lê-se longitude oeste). ponto qualquer para leste ou para
oeste.

Planisfério – Coordenadas geográficas

© IBGE
180° 120° 60° 0° 60° 120° 180°
90°

CÍRCULO POLAR ÁRTICO


60°

Paralelos
MERIDIANO DE GREENWICH

30°

TRÓPICO DE CÂNCER
Meridianos
LINHA DO EQUADOR 0°

Hemisfério Norte
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
30°
Hemisfério Sul

60°
ESCALA 1:360 000 000
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO 1 800 0 3 600 km
90°
PROJEÇÃO DE ROBINSON

IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012, p. 34. Mapa original.

Sistemas de coordenadas são encontrados também nos guias de ruas das cidades
ou no sistema GPS (Sistema de Posicionamento Global, em português), existente em
aparelhos instalados em alguns veículos, em telefones celulares e tablets. Em des-
locamentos pelas cidades, guias e GPS são muito eficientes para localizar pontos e
definir trajetos.

Sistemas de orientação nos mapas

Os mapas, de modo geral, trazem uma rosa dos ventos com as direções car-
deais ou colaterais, por exemplo, ou uma seta indicando a direção norte. Isso serve
para dispor a orientação no mapa e situar qualquer ponto em relação a outro.
24 UNIDADE 1

Por convenção, o Norte fica na parte superior do mapa e a Europa, no centro. Mas
há projeções que procuram apresentar outros pontos de vista, alterando essa visão
eurocêntrica que se “naturalizou” desde projeções como a de Mercator. A projeção
Dymaxion (a seguir) é um exemplo de como é possível mudar essas determinações
norte-sul dos mapas-múndi.

Planisfério – Projeção Dymaxion

© Eric Gaba
A projeção Dymaxion foi criada por Buckminster Fuller (1895-1983). Ela dispõe outra visão do mundo e questiona a indicação da
orientação norte-sul no planisfério.

Nomes de lugares e fontes dos mapas

Observe também que nos mapas há nomes. São nomes próprios de municípios,
países, serras, oceanos, mares, continentes etc. Esse elemento recebe o nome de
toponímia, palavra de origem grega (topos = lugar + ónoma = nome).

É importante lembrar que o mapa também tem autoria, pois é produzido por
alguém ou alguma instituição. Assim, é sempre conveniente observar a fonte e a
autoria do mapa, bem como a data de sua publicação, informações normalmente
anotadas na parte inferior dos mapas.

A escala cartográfica

A escala cartográfica pode ser registrada com números (1:5.000; 1:450.000.000 etc.)
ou na forma gráfica (uma barra horizontal com medidas aproximadas em metros
UNIDADE 1 25

ou quilômetros). Ela se refere à relação de proporção entre o espaço e sua represen-


tação no mapa e mantém a relação entre a medida de um objeto ou lugar representado
no papel e sua medida real. Define, portanto, o grau de redução da superfície para que
possa ser representada na folha do mapa ou na tela do computador.

Mapas com escalas grandes têm um grau menor de redução da realidade.


Neles, podem-se observar mais detalhes do lugar representado. É o caso das plan-
tas, como aquelas utilizadas na construção de casas.

Em mapas com escalas pequenas Região Sudeste: localização de Osasco (SP)


há uma grande redução da superfí- Escala: 1:10.000.000

© Eduardo Dutenkefer
Minas Gerais Espírito Santo
cie. Por isso, não é possível verificar
os detalhes dos lugares representa-
dos (veja mapa ao lado). Em compen-
Rio de Janeiro
sação, neles pode-se ter uma grande
São Paulo
área representada, como acontece nos
Osasco

mapas-múndi.
Oceano Atlântico

Além das escalas grandes e das 0 25 50

KM

escalas pequenas, existem também


No canto inferior direito, observa-se a escala gráfica. Nesse mapa,
escalas cartográficas intermediá- 0,5 cm equivale a 50 km na realidade.
Mapa elaborado por Eduardo Dutenkefer para o Desafio Viagem do Conhecimento/National
rias, por exemplo, entre 1:50.000 e Geographic Brasil 2008. Disponível em: <http://www.viagemdoconhecimento.com.br/
arquivos/PROVA_3_FASE.pdf>. Acesso em: 21 out. 2014. Mapa original.

1:100.000. Essas escalas são utiliza-


das, em geral, para fazer o que na linguagem cartográfica é chamado de carta. Um
exemplo são as cartas topográficas do IBGE, que representam elementos naturais,
como rios e elevações do terreno (chamadas de curvas de nível, indicam as varia-
ções de altitude), e elementos humanos, como estradas, fazendas, cidade-sede de
um município etc.

Vale lembrar também que escala cartográfica não é o mesmo que escala geo-
gráfica. Ambas estão presentes nos estudos de Geografia. Como você viu, a escala
cartográfica implica uma relação de proporção e medidas entre a realidade e a
sua representação. A escala geográfica, por sua vez, refere-se à abrangência espa-
cial dos fenômenos em diferentes situações: o deslocamento das pessoas de casa
para o trabalho em um município é um evento de escala geográfica local; já os
fluxos financeiros ou de bens realizados no mercado mundial são situações que
envolvem a escala geográfica planetária ou global.
26 UNIDADE 1

Geografia – Volume 1
O mundo da cartografia

O vídeo mostra a importância e a utilidade dos mapas no dia a dia. Observe como surgiram os
primeiros mapas e suas formas de utilização. Verifique como as convenções cartográficas são
organizadas para o aprimoramento da leitura universal das formas de representação e como
a tecnologia permite, com maior facilidade, o acesso e a consulta aos mapas.

Atividade 2 Construção de mapas: a legenda

Observe o mapa a seguir e responda às perguntas.

A GRANDE MIGRAÇÃO TRANSATLÂNTICA, final do séc. XIX – início do séc. XX

Escandinávia

Canadá
Irlanda Rússia
Grã-Bretanha
Alemanha
Áustria-Hungria
Detroit Boston França
São Chicago Espanha
Francisco Itália
Estados Nova York Portugal
Unidos
Japão
China
Benoît Martin, nov. 2008

Número de migrantes

17 500 000

Proporção de imigrantes 5 000 000


na população, Brasil
1881-1890* (%) Rio de Janeiro 2 000 000
São Paulo menos de
Argentina 22 500 000
Cuba 12
Estados Buenos Aires
Unidos 9 Polos e regiões
Canadá 8 imigratórias.
Argentina
Brasil 7
*exceto Cuba (1901-1910)
Segundo “Espaço Prólogo” da exposição permanente da
Cidade nacional da história da imigração. Paris, 12o distrito.
Fonte: compilação dos autores.

DURAND, Marie-Françoise et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo.


São Paulo: Saraiva, 2009, p. 27. Mapa original.

1 Qual é o assunto tratado no mapa? Como você chegou à resposta?


UNIDADE 1 27

2 Identifique os elementos da legenda do mapa. Qual é o significado de cada um


deles? Por exemplo, o que significam as setas que aparecem no mapa?

3 Descreva como você realizou a leitura do mapa. Em seguida, responda: A qual


conclusão você chegou sobre o tema representado?

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Os elementos estruturais dos mapas


1

1 Título.

2 Toponímia.

3 Orientação: norte.

4 Escala.

5 Legenda.

6 Fonte e autoria do mapa.

2 Resposta pessoal. Para realizar a leitura do mapa presente nesta atividade, você certamente
considerou elementos como título, legenda, escala cartográfica, coordenadas, fontes e autoria etc.
presentes nos mapas.
28 UNIDADE 1

Atividade 2 – Construção de mapas: a legenda


1 Ao analisar o mapa com cuidado, talvez você tenha percebido que ele trata das grandes migra-
ções transatlânticas, entre o final do século XIX e o início do século XX, informação que você encon-
trou no título.

2 Ao analisar a legenda, você pode ter observado que cada uma das setas representa uma quanti-
dade diferente de migrantes. As manchas azuis demarcam os polos e as regiões imigratórias naquele
período. É possível notar também, no canto inferior à esquerda, a presença de um pequeno gráfico
HORA DA CHECAGEM

contendo a proporção de imigrantes na população de diferentes países.

3 Resposta pessoal. Você pode ter associado o mapa com conceitos trabalhados previamente na
própria disciplina de Geografia. O mapa destaca grandes fluxos de europeus em busca de trabalho
e de uma vida melhor, em especial nos Estados Unidos, no Canadá, na Argentina e no Brasil. Esse
movimento se refere à grande onda migratória no final do século XIX, da qual se pode mencionar
o exemplo da imigração de italianos rumo ao Brasil, sobretudo para trabalhar nas lavouras de café
no Estado de São Paulo.
29

As modalidades de representação cartográfica T E M A 2

Neste tema, você estudará as diferentes modalidades de mapas. Partindo


de regras relativamente simples, baseadas na percepção visual, o leitor é capaz de
distinguir objetos, tamanhos, proporções e quantidades que aparecem expressas
na linguagem cartográfica.

Assim, a leitura e a interpretação de mapas ajudam a entender e a relacionar


fenômenos e a ampliar as “leituras” de mundo de cada pessoa.

Procure os mapas que você conhece, encontrados em atlas ou livros escolares.


Por que em alguns deles existem áreas em tons da mesma cor (como verde ou azul)
mais claros e mais escuros? Por que alguns deles trazem círculos de diferentes
tamanhos? E por que, em outros, aparecem setas de diferentes larguras? Por que,
no mapa-múndi político, os países estão representados com uma gama variada de
cores? Escreva suas impressões nas linhas a seguir.

As variáveis visuais e a representação cartográfica


Você viu no Tema 1 que as informações podem ser implantadas nos mapas pelo
uso de pontos, linhas e áreas. Para cada um desses três tipos de representação são
escolhidos e utilizados determinados símbolos ou formas gráficas. Isso envolve as
chamadas variáveis visuais dos mapas. Elas orientam o olhar e são essenciais para
realizar a leitura. A seguir, serão apresentados alguns exemplos.

Uma das variáveis visuais é a forma dos símbolos ou dos sinais escolhidos para
uma representação qualquer. Por exemplo, as cidades podem ser representadas
com pontos (pequenos círculos, geralmente na cor preta) em um mapa de escala
30 UNIDADE 1

pequena (como o mapa-múndi). Em outras situações, determinados locais que pos-


suem certas qualidades ganham pontos em forma de símbolos, como o desenho de
um avião (para aeroportos) ou de um navio (para portos). Isso ajuda a identificar e
a separar objetos que são diferentes (porto, aeroporto, fábrica etc.).

Há também formas para representar fenômenos implantados em linhas. Assim,


em um mapa de redes de transportes, por convenção, as linhas contínuas pintadas
de vermelho são usadas para mostrar o traçado das rodovias, e as linhas pretas com
traços perpendiculares, para mostrar as ferrovias. Ou, no caso da representação de
áreas, cores ou hachuras são utilizadas para separar áreas distintas.

O quadro a seguir mostra modos de implantar informações nas representa-


ções cartográficas.

Ponto Linha Área (ou Zona)


© Daniel Beneventi

Forma

Fonte: JOLY, Fernand. A cartografia. Campinas: Papirus, 1990, p. 15.

Outra importante variável visual é a cor, que salta à vista no primeiro instante.
Há mapas com áreas (como os países) pintadas de cores diferentes. O que isso quer
dizer? Nesse caso, as cores também são usadas para separar elementos. Em mapas
de divisão política, elas indicam o contorno e a área dos países, delimitando clara-
mente seus territórios.

A cor pode ser usada ainda com base na variável valor, que expressa a intensidade
do fenômeno. Em mapas que contêm apenas tons da mesma cor (como os mapas de
população que utilizam diferentes tons de verde), o tom mais escuro indica maior
intensidade do fenômeno; por oposição, o tom mais claro é usado em áreas em que o
fenômeno é menos intenso.

Outra variável visual é o tamanho. Em um mesmo mapa, pode haver círcu-


los ou retângulos de diferentes tamanhos que se referem ao mesmo fenômeno,
tal como a quantidade de população urbana. Os círculos maiores representam os
núcleos mais populosos e os menores, os menos populosos.
UNIDADE 1 31

A figura a seguir mostra algumas variáveis visuais.

As variáveis visuais
As variáveis da imagem

y
2 dimensões
do plano
x
4 1 2 4

tamanho e também

valor e também

As variáveis de separação

granulação e também

Benoît MARTIN, dezembro de 2005


cor

orientação e também

forma

a partir de Jacques Bertin

DURAND, Marie-Françoise et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo.


São Paulo: Saraiva, 2009, p. 14.

Por que é importante conhecer as variáveis visuais? Porque elas são essenciais
na leitura e na interpretação de mapas dos tipos: qualitativos, quantitativos, ordena-
dos e dinâmicos. É o que será visto a seguir.

É comum deparar-se com mapas que acompanham notícias e reportagens de


jornais, revistas ou sites. Vários deles estão anotados de forma correta e completa,
mas em outros não há títulos, escala cartográfica, autor ou fonte. Também há
casos nos quais os símbolos escolhidos não têm relação exata com proporções e
quantidades. Você já viu mapas assim? Qual é a sua opinião sobre eles, após ter
estudado esse assunto nesta Unidade? Para você, eles deveriam atender a regras e
convenções cartográficas? Reflita sobre essas questões.
32 UNIDADE 1

Atividade 1 Conhecendo mapas qualitativos

Observe o mapa a seguir e responda às questões propostas.

LÍNGUAS OFICIAIS A PARTIR


DA COLONIZAÇÃO NA ÁFRICA, 2008

Inglês

Francês

Português Benoît Martin, janeiro de 2009

Árabe

Uma ou mais línguas locais

Fonte: compilação de autores.

DURAND, Marie-Françoise et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial


contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 54. Mapa original.

1 Qual é o fenômeno representado no mapa? Como você chegou a essa conclusão?

2 Observe a legenda e responda: Quais são as cores e os sinais gráficos usados no


mapa? O que eles significam?
UNIDADE 1 33

Mapas qualitativos
O mapa apresentado na atividade anterior é do tipo qualitativo. Em geral, o
mapa qualitativo procura mostrar não só a existência e a localização de fenô-
menos, mas também sua diversidade interna. Assim, o fenômeno estudado é o
mesmo: as línguas oficiais de países da África. Mas as cores ressaltam as dife-
renças e a diversidade: a cor azul indica países que têm o inglês como língua ofi-
cial; a marrom, a língua francesa; a laranja, a língua portuguesa; e a amarela, a
língua árabe.

Observe que esse mapa traz também hachuras, que são os traçados diagonais
ou horizontais. É um recurso que usa as mesmas cores para mostrar combinações
do fenômeno – no caso, países com pelo menos duas línguas oficiais. Há, ainda, os
pequenos círculos, que assinalam países com uma ou mais línguas locais.

Outros mapas qualitativos bem conhecidos são os de vegetação, relevo ou divi-


são política. Da mesma forma, mapas de recursos minerais, em que cada minério
é representado por um símbolo gráfico. Uma consulta a atlas geográficos pode aju-
dar a confirmar essas informações.

Assim, os mapas qualitativos destacam a existência, a localização e a diversi-


dade de fenômenos. Cores, símbolos e outros sinais são usados, nesses casos, para
identificar e diferenciar os elementos no mapa.

Mapas quantitativos
Toda vez que um mapa apresenta o mesmo símbolo com tamanhos diferentes,
é possível, de imediato, relacionar isso à representação de diferentes quantida-
des. Essa é a característica essencial dos mapas quantitativos. Assim, há sempre um
símbolo gráfico (círculo, quadrado etc.) ou pictórico (desenhos ou ícones de armas
nucleares, exércitos, dinheiro, navios etc.) que, disposto em diferentes tamanhos,
indica quantidades diversas. Os dados quantitativos também podem ser combina-
dos com outras formas de representação de fenômenos, como será apresentado
mais adiante.

Existem outros mapas quantitativos, como os de pontos de contagem. Um


exemplo é o dos mapas de densidade demográfica (habitantes por km2). Neles, são
assinaladas diferentes quantidades de pontinhos em porções da superfície, indi-
cando áreas de grande concentração de pessoas (com maior quantidade de pontos)
ou aquelas de baixo povoamento (com menor quantidade de pontos).
34 UNIDADE 1

Atividade 2 Conhecendo mapas quantitativos

Observe, agora, o mapa a seguir. Depois, responda às questões.

Usuários de Facebook, abril 2012

Ateliê de cartografia da Sciences Po, 2012


155
Em milhões 40
10
1

Somente os valores superiores a 1 milhão


são representados
Fonte: www.socialbakers.com

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/sites/default/files/maps/037_Facebook_avril2012-02_2.jpg>.


Acesso em: 19 jan. 2015. Mapa original.

1 Qual é o fenômeno apresentado no mapa? Como você chegou a essa conclusão?

2 Quais recursos da cartografia foram usados nesse mapa? Explique por que os
símbolos têm tamanhos diferentes.
UNIDADE 1 35

Atividade 3 Conhecendo mapas ordenados

Observe, agora, o mapa a seguir e responda às questões.

Taxa de fecundidade, 2005-2010

Marshall
Cook, Kiribati,
Micronésia, Nauru,
Quantidade de crianças Salomão, Samoa,
ausência Tonga, Tuvalu, Vanuatu
por mulher de dados Fiji, Palau
em idade de procriação 1 2 3 4,4 7,2

Nota: a maior parte dos países dispõe de valores relativos ao período 2005-2010,
com exceção de algumas ilhas do Pacífico, que têm dados relativos ao intervalo de 1991-2008.
Fonte: ONU, Divisão de População, www.un.org Ateliê de cartografia da Sciences Po, 2012

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/taxa-de-fecundidade-2005-2010>.


Acesso em: 13 ago. 2014. Mapa original.

Obs.: A taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que uma mulher tem ao longo de sua idade
reprodutiva. No caso do Brasil, pelo critério do IBGE, essa faixa vai dos 15 aos 49 anos de idade.

1 Qual é o fenômeno representado no mapa? Como você chegou a essa resposta?

2 Quais recursos cartográficos foram utilizados na elaboração do mapa? Nesse


caso, qual é o significado desses recursos?

3 Com base no mapa, o que se pode afirmar sobre as variações da taxa de


fecundidade entre os países e as regiões do mundo?
36 UNIDADE 1

Mapas ordenados

O exemplo dado anteriormente é o de um mapa ordenado. Por que ordenado?


Porque, pela disposição das cores, ele estabelece uma determinada ordem quanto
ao fenômeno representado.

Um elemento muito importante é o resultado visual que esse mapa apresenta.


Ele utiliza tons da mesma cor (no caso, o azul) para representar um mesmo fenô-
meno (taxas de fecundidade). Então, quanto mais escuro o tom de azul, maior é o
número de filhos por mulher; portanto, maior é a intensidade do fenômeno. Inver-
samente, quanto mais claro o tom de azul, menos intenso é o fenômeno. Neste caso,
o número de filhos por mulher é menor.

Desse modo, é possível perceber, em largas faixas do planeta, países com baixa
taxa de fecundidade, como o Japão, a China, a Rússia, a Austrália, o Canadá e boa
parte da Europa, e países com taxa de fecundidade elevada, como o Afeganistão,
o Iêmen e os da África central.

Atividade 4 Conhecendo mapas dinâmicos ou de movimento

Observe o mapa da próxima página, procurando verificar quais diferenças ele


apresenta em relação aos mapas anteriores. Depois, responda às questões.

1 Qual é o fenômeno representado no mapa?

2 O que significam os recursos gráficos usados, como setas e círculos?

3 O que diz o mapa sobre a exportação mundial de bens agrícolas e alimentos?


Como você chegou a essa resposta?
UNIDADE 1 37

Ateliê de cartografia da Sciences Po, 2012


ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/exporta-o-de-produtos-agr-colas-
e-aliment-cios-no-mundo-2010>. Acesso em: 22 set. 2014. Mapa original.

Mapas dinâmicos ou de movimento

A Atividade 2 do Tema 1 apresentou um mapa de fluxos migratórios, intitu-


lado A grande migração transatlântica, final do séc. XIX – início do séc. XX. Esse é um
ótimo exemplo de mapa dinâmico, que representa fluxos ou movimentos no espaço
associados, entre outros fatores, à circulação de pessoas, bens, serviços ou infor-
mações. Para representá-los, é comum o uso de setas de diferentes larguras, da
origem ao destino. As larguras diferentes referem-se ao item quantidade; portanto,
nessas representações gráficas, combinam-se diversos dados quantitativos.

Outros mapas dinâmicos ou de movimento mostram também a evolução tem-


poral de um dado fenômeno, utilizando um jogo ou uma coleção de mapas da mesma
superfície em períodos distintos. Temas comuns nesse tipo de mapa são os da evo-
lução do desmatamento, da urbanização ou dos níveis de concentração demográfica.

Nem sempre os mapas trazem todos os elementos estruturais. Dependendo do


que está representado, a ideia é que eles não fiquem carregados com muitas infor-
mações, pois isso pode dificultar a análise. Assim, alguns mapas desta Unidade
dispensaram coordenadas geográficas ou nomes de lugares.
38 UNIDADE 1

Anamorfoses Total da população, 2000

© 2006 SASI Group (University of Sheffield)


and Mark Newman (University of Michigan)
Existem, ainda, outros
mapas que trazem olhares
distintos. Entre eles estão
as anamorfoses. O nome
anamorfose significa “dis-
forme” ou “fora da forma”.
Também denominadas
cartogramas, as anamor-
foses distorcem proposi-
WORLDMAPPER. Disponível em: <http://www.worldmapper.org/display.php?selected=2>.
talmente o fundo do mapa Acesso em: 22 set. 2014. Mapa original.

para evidenciar um fenô-


meno. Assim, as anamorfoses mudam as formas e as proporções das áreas representa-
das, de acordo com a relação entre superfícies e quantidades. Portanto, representações
como essa rompem com as heranças da cartografia que “naturalizam” os mapas.

No mapa acima, de população mundial, é possível observar que as formas e pro-


porções dos territórios foram alteradas. Evidenciam-se, por exemplo, a China (em
verde) e a Índia (em amarelo-escuro), os dois países mais populosos do planeta.

População mundial

Chamada por muitos de “deformação”, a representação cartográfica acima, na verdade, altera o fundo
de carta convencional, que mede distâncias em metros ou quilômetros. De acordo com o geógrafo Jacques
Lévy, trata-se de recurso utilizado para evidenciar diferenças, de modo que as superfícies de fundo de carta
sejam sensíveis às realidades ou temas representados. A representação em questão é conhecida como:

a) Carta topográfica. c) Anamorfose.


b) Sistema de posicionamento global. d) Representação em escala grande.
Viagem do Conhecimento/National Geographic, 2010. Disponível em: <http://viagemdoconhecimento.com.br/arquivos/PROVA_2_FINAL_V4.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.
UNIDADE 1 39

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Conhecendo mapas qualitativos


1 Observando o título do mapa, você pôde verificar que ele representa as línguas oficiais em paí-
ses da África a partir da colonização do continente, ocorrida principalmente nos séculos XIX e XX.

2 Você deve ter percebido que o mapa usa cores variadas, hachuras e círculos. As cores destacam
países que possuem como língua oficial o inglês (azul), o francês (marrom), o português (laranja)
e o árabe (amarelo). As hachuras (faixas verticais ou diagonais) aparecem em países com mais de
uma língua oficial. Os pequenos círculos identificam países com uma ou mais línguas locais, como
é comum no continente africano. O texto Mapas qualitativos, do Tema 2, traz informações sobre
como esses mapas normalmente são representados e o que cada instrumento gráfico indica.

Atividade 2 – Conhecendo mapas quantitativos


1 Analisando o mapa, você deve ter percebido que ele traz o número de usuários de Facebook em
cada país. Você pôde chegar a essa resposta por meio do título do mapa.

2 Ao observar o mapa, você verificou que ele apresenta círculos de diferentes tamanhos para
expressar o número de usuários em cada país. Como você pôde observar na legenda, localizada no
canto inferior direito, o círculo maior corresponde a 155 milhões de usuários, sendo encontrado ape-
nas nos Estados Unidos. Seguindo o mesmo critério, você deve ter notado que os círculos menores
referem-se a quantidades menores (40 milhões, 10 milhões e 1 milhão). Além disso, deve ter verifi-
cado que os países que não possuem círculos têm menos de 1 milhão de usuários, segundo informa-
ção que consta na parte inferior do mapa.

Atividade 3 – Conhecendo mapas ordenados


1 Você verificou que o tema do mapa é a taxa de fecundidade entre os anos de 2005 e 2010, ou seja,
uma estimativa do número médio de filhos que uma mulher teria no seu período reprodutivo, em
cada país. Note que essa informação está expressa no título Taxa de fecundidade, 2005-2010.

2 O mapa traz uma escala de tons de azul para mostrar a quantidade de filhos por mulher em idade
de reprodução nos países do mundo, entre os anos de 2005 e 2010. Após sua análise, você deve ter
percebido que, quanto mais escuro é o tom de azul, maior é o número médio de filhos por mulher, e
que, quanto mais claro é o tom, menor é o número de filhos por mulher. Portanto, esse é um mapa
ordenado, com tons de cor para estabelecer ordens ou hierarquias do fenômeno representado.

3 Nesta questão, você deve ter relacionado as diferenças entre os tons de azul e notado que o mapa
mostra que há taxa de fecundidade elevada em países da África central, ocidental e oriental e tam-
bém na Ásia central e no Oriente Médio. Por sua vez, as menores taxas de fecundidade são registra-
das, principalmente, na Rússia, na Europa ocidental, no Japão e em alguns países da América Latina.

Atividade 4 – Conhecendo mapas dinâmicos ou de movimento


1 Uma análise atenta deve ter mostrado a você que o tema do mapa é a exportação de produtos
agrícolas e alimentícios no mundo em 2010, conforme você observou no título. A leitura da legenda
também pode ter auxiliado na compreensão dos tipos de fluxo e do papel das diferentes regiões na
exportação dos bens citados.
40 UNIDADE 1

2 Por meio de sua análise, você deve ter identificado que esse mapa foi elaborado com pro-
jeção centrada no Polo Norte, que permite observar f luxos entre todos os continentes. Você
deve ter observado também as setas e os círculos. No caso das setas, as diferentes larguras se
referem a valores obtidos com a exportação agrícola e alimentícia. As setas de cor verde indi-
cam fluxos e valores entre regiões do planeta. Os círculos (na cor laranja), por sua vez, indicam
o comércio agrícola dentro da mesma região. Um ponto em comum, presente tanto nas setas
quanto nos círculos, são os números, os quais você precisa ter reconhecido em cada um dos
elementos citados. Esses números são representações dos valores em dinheiro das transações
comerciais relativas a cada um desses casos. Trata-se, portanto, de um mapa dinâmico ou de
movimento, que mostra f luxos em escala mundial.

3 Entre tantas informações presentes no mapa, as que devem ter chamado sua atenção são os
fluxos significativos de bens agrícolas e alimentícios da América do Norte para a Ásia e da América
do Sul e Central para a Ásia e a Europa. Portanto, esse mapa possibilitou a você uma oportunidade
de analisar o papel de regiões produtoras e consumidoras de bens agrícolas e alimentos e os res-
HORA DA CHECAGEM

pectivos fluxos.

Desafio
Alternativa correta: c. Você deve ter percebido que o mapa desta atividade é uma anamorfose, uma
vez que as formas dos continentes sofreram propositalmente deformações para evidenciar diferen-
ças nas quantidades da população dos países do mundo. Para entender melhor esse instrumento
cartográfico, volte ao texto Anamorfoses.
GEOGRAFIA
GLOBALIZAÇÃO, UMA NOVA FACE DO MUNDO ATUAL
Unidade 2

TEMAS
1. Globalização: agentes e processos
2. Efeitos da globalização

Introdução
Esta Unidade aborda o tema globalização. Trata-se de um processo ainda em
andamento, associado a grandes transformações políticas, econômicas e sociais
ocorridas em especial nas últimas décadas, quando se ampliaram e se consolida-
ram múltiplas relações na escala global.

Você verá que, nesse novo quadro, diferentes setores da atividade econômica,
empresas, países e indivíduos passaram a atuar nessa escala, traçando estratégias
que possuem componentes espaciais. Você verá também que, paralelamente a
isso, aprofundaram-se diferenças sociais e entre as regiões.

Globalização: agentes e processos T E M A 1

O que é a globalização? Como ela vem se constituindo e quais são os seus prin-
cipais elementos? O que isso tem a ver com a vida de todos nós?

Para saber um pouco mais sobre esse processo, que hoje diz respeito ao mundo
todo e a cada país ou sociedade em particular, é preciso examinar algumas mudan-
ças ocorridas nos últimos anos do século XX.

Entre essas mudanças está o desmonte do chamado socialismo real e do prin-


cipal país que adotou esse sistema econômico, a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), mais conhecida como União Soviética. Houve, nesse período,
o desenvolvimento de um extraordinário conjunto de inovações tecnológicas,
em especial da informática e das telecomunicações, tendo a internet e seus desdo-
bramentos como carros-chefe. Esses processos têm sido marcados pela contínua
expansão da produção e da venda de bens e pela intensificação de fluxos de capi-
tais pelo mundo.
42 UNIDADE 2

Para você, o que é globalização? Quais ideias vêm à sua cabeça ao ouvir essa pala-
vra? Você possui ou tem acesso a aparelhos que permitem ficar “conectado”? Quais?
Para que você utiliza esses aparelhos? Para você, o uso desses aparelhos favorece ou
dificulta as relações pessoais? Escreva seus pontos de vista nas linhas a seguir.

O surgimento da globalização
O debate em torno de visões sobre a globalização e seus principais elementos
tem sido intenso nos últimos anos. Nesse processo, ainda em construção, são mui-
tos os pontos de vista e divergências. Levando isso em conta, pode-se dizer que
ela se refere a uma aceleração nos fluxos de bens, pessoas, serviços e informações,
que hoje circulam mais livremente e ultrapassam fronteiras nacionais.

Isso precisa ser avaliado criticamente. Por exemplo, nem todos os trabalhadores
imigrantes podem circular livremente. Mas é inegável que há um quadro de crescente
integração entre mercados, pessoas e países. Nele, empresas ou grupos ampliam sua
escala de atuação no espaço mundial. Esse ponto será retomado mais adiante.

Como ressalta o geógrafo Milton Santos, isso foi possível, entre outras razões,
por causa das inovações tecnológicas na informática, na microeletrônica e nas
telecomunicações. A primeira inovação, a da informática, refere-se a uma verda-
deira revolução, com o uso generalizado de computadores. O desenvolvimento da
UNIDADE 2 43

microeletrônica possibilitou a construção de circuitos eletrônicos e componentes


muito pequenos que são instalados em computadores, celulares e máquinas indus-
triais, assim como em automóveis, eletrodomésticos e brinquedos.

As transmissões via satélite e o uso de Fibra óptica


cabos de fibra óptica permitiram, por sua
Fio que pode ser feito com diferentes
vez, a rápida transmissão de informações a materiais (vidro, sílica) e que realiza a
distância, ampliando o alcance das teleco- condução da luz. Flexível e muito fino,
comparável a um fio de cabelo, substi-
municações. Hoje, pode-se assistir pela TV
tui fios metálicos com vantagens, por
ou pela internet a algo que está ocorrendo sua grande capacidade de transmissão
no mesmo instante em diferentes lugares de dados e por estar menos sujeito a
do planeta. interferências.

Esses avanços cada vez mais se integram ao espaço geográfico e à vida


social, criando o que Milton Santos chamou de meio técnico-científico-informacional.
Significa que o espaço geográfico passou a incorporar progressivamente as ino-
vações tecnológicas. Isso pode ser percebido em infraestruturas de telecomuni-
cações (torres, cabos, antenas etc.), usos de tecnologia “de ponta” nas fábricas
e fazendas modernas ou nos chamados edifícios “inteligentes” das grandes
metrópoles. Nesse último caso, as tecnologias permitem, por exemplo, redu-
zir o consumo de água e energia, aproveitar melhor a iluminação natural e
diminuir custos e desperdícios.

Nesse contexto, ganha destaque uma mercadoria especial, a informação, difun-


dida pela internet ou pelas redes globais de comunicação (agências de notícias,
portais de bancos de dados, redes de televisão etc.). Ela é essencial para que empre-
sas globais e países possam tomar decisões, enviar ordens ou realizar investimentos.
Vive-se nos dias de hoje o que passou a se chamar sociedade da informação, na qual
se produz e se consome vorazmente
informações.

Inovações nos meios de trans-


As divisões e classificações regionais agrupam
porte também podem ser incluídas países de acordo com características comuns,
nesse conjunto. O uso de moder- entre as quais os níveis de desenvolvimento
nos aviões, trens e navios de carga econômico e social. São frequentes classifica-
ções como norte/sul; países ricos/países pobres;
permite o envio de bens por longas
Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos; países
distâncias em tempo mais curto. desenvolvidos/países em desenvolvimento (ou
Evidentemente, tais medidas têm subdesenvolvidos), cada qual organizada por cri-
térios diferentes. Mas todas elas têm vantagens
contrapartida social: muitas vezes
e imperfeições e sofreram mudanças ao longo
prejudicam regiões, setores econô- do tempo.
micos ou sociedades inteiras.
44 UNIDADE 2

Atividade 1 As empresas e a globalização

Observe o mapa e o esquema. Em seguida, responda às questões propostas.

Toyota: locais de produção e mercados, 2009

0
23 574
EUROPA Rússia
886
Reino U. Polônia AMÉRICA
DO NORTE Canadá
Rep. Tcheca
França 2 442
0
24 China EUA
Portugal Turquia
“Toyota City”
Paquistão ÁSIA 1 27 México
ORIENTE-
-MÉDIO 1534
Taiwan JAPÃO
482
Ateliê de cartografia da Sciences Po, 2010

Bangladesh Vietnã 1 375


Filipinas
Tailândia Venezuela
Índia
Malásia

Indonésia AMÉRICA
67

61 LATINA
294
14

ÁFRICA
4

201 Brasil
OCEANIA
231
África do Sul Argentina
Austrália

Produção Exportações do Japão Vendas por regiões


Locais de montagem em milhares Adotamos o recorte regional da própria Toyota
de veículos 1 040 de veículos
Outros locais em 2007 (valores em milhares de veículos
(em milhares 435
de produção no mapa) vendidos em 2009 (valores
de veículos 100 de peças no mapa)
montados 20 Evolução das exportações
em 2009) entre 2000 e 2009 (em %) Evolução das vendas
1a5 Centros de P&D
(Pesquisa e entre 2000 e 2009
desenvolvimento (em %)
-50 0 90 - 22 20 50 310
científico-tecnológico)
Segundo Marie-Françoise DURAND, Philippe COPINSCHI, Benoît MARTIN, Patrice MITRANO,
Fonte: Toyota, Toyota in the World 2010, www.toyota.co.jp Delphine PLACIDI-FROT, Atlas de la mondialisation, dossier spécial Russie, Paris, Presses de Sciences Po, 2010

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/toyota-locais-de-produ-o-e-mercados-2009>. Acesso em: 13 ago. 2014.
Mapa original. Foi adotado o recorte regional da própria Toyota, considerando o México junto aos países latino-americanos [nota do editor].

Produção mundial de microcomputadores 1 Quais são os temas retratados no


© National Geographic Brasil

ESTADOS UNIDOS
Concepção e marca
dos produtos
mapa e no esquema?

CHINA CHINA
Montagem Alumínio; placas de
de baterias circuitos; montagem

MALÁSIA
ISRAEL Montagem de máscaras
Microprocessadores com circuitos; vidro

CHINA – TAIWAN
Monitores LCD
ou CRT

Dossiê Terra 2010 : o estado do Planeta. São Paulo: Ed. Abril/National Geographic, 2010, p. 54.
UNIDADE 2 45

2 Quais foram os recursos gráficos usados nessas representações?

3 Como é a organização espacial da produção, venda e pesquisa científica da


montadora de veículos? Relacione essa organização com o processo de globaliza-
ção em curso.

4 Segundo o esquema, como é feita hoje a produção de microcomputadores?


É uma produção de bens em escala global? Justifique sua resposta.

A ação das empresas globais

Foi visto o exemplo da organização de uma grande empresa global ou trans-


nacional. Para compreender por que as empresas globais são também chamadas
de transnacionais, primeiramente é preciso compreender o conceito de empresa
multinacional. Multi significa “vários”, “muitos”. Assim, multinacionais são
empresas que possuem sede em seus países de origem, mas que também têm
muitas filiais em outros países. Portanto, ainda que operem em muitos países, as
multinacionais têm uma origem nacional.

O prefixo trans quer dizer “além de”, como na palavra transcender (“ir além de”,
“ultrapassar o limite”). As empresas transnacionais seriam, portanto, entidades que
ultrapassam os limites nacionais, independentemente de suas origens. Apesar de
46 UNIDADE 2

instalar suas unidades em vários territórios nacionais, a empresa transnacional


tem como objetivo atingir a escala global. Assim, suas unidades espalhadas pelo
mundo integram uma mesma rede global, criada e organizada pela empresa. Várias
corporações já transferiram, inclusive, sedes administrativas ou científicas para
fora do país de origem, embora ainda mantenham alguns laços e vínculos com
seu território.

A montadora japonesa mostrada no mapa instalou centros de pesquisa e


desenvolvimento científico-tecnológico em outros países, como a França e os
Estados Unidos. Não significa, entretanto, que não haja ordem ou hierarquia
nessa distribuição: os comandos para as unidades ficam concentrados na sede
da empresa. Mesmo assim, muitas empresas passaram a ter vínculo mais frágil
com seu país de origem.

O mesmo se dá com os bens que elas fabricam, como o automóvel. Parte das
peças e componentes é fabricada em uma unidade, em certo país; os acessórios
são fabricados em outro; e a montagem final é feita em um terceiro. Este último,
por sua vez, exporta os bens prontos para outros países. Assim se organiza a pro-
dução do chamado carro mundial.

Essas montadoras também costumam “ficar de olho” nos mercados nacio-


nais com potencial de crescimento (como o do Brasil), adaptando seus veículos a
preferências ou demandas locais. Desse modo, no México, elas produzem carros
pequenos e econômicos e, na Austrália, picapes e utilitários. São os chamados
mercados personalizados.

As empresas escolhem criteriosamente os locais de instalação de suas unidades


produtivas. E elas têm motivos para isso. Um deles, talvez o principal, está ligado aos
baixos salários nos países procurados. Os ganhos, porém, podem aumentar também
com as concessões oferecidas por governos locais que, por sua vez, têm interesses
na atração de novas empresas e novos investimentos. Muitas vezes, uma grande
empresa já sai ganhando com as isenções fiscais do país que vai receber sua nova
fábrica. Isso se refere à participação dos Estados nacionais no cenário global, com
políticas industriais e atração de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE).

Quando se examinam setores como o automobilístico, o de produtos de infor-


mática ou o de máquinas e equipamentos industriais, pode-se verificar que suas
fábricas operam no novo sistema produtivo, chamado de produção flexível. As uni-
dades, atualmente, são intensivas em tecnologia, com robôs e outras máquinas
informatizadas que desempenham o trabalho de várias pessoas.
UNIDADE 2 47

Desse modo, nesse sistema produtivo, as fábricas são mais enxutas, com quadro
reduzido de funcionários. Distintas, portanto, da grande empresa industrial de décadas
anteriores, com dezenas de Fordismo
milhares de operários. As Sistema produtivo criado pelo empresário estadunidense
empresas de hoje têm ape- Henry Ford, fundador da montadora de automóveis Ford.
nas algumas centenas de Baseia-se na produção em massa de um único ou de poucos
produtos, no uso da linha de montagem e na especialização de
trabalhadores, que podem
cada trabalhador, que deve desempenhar apenas uma tarefa
produzir mais do que as das etapas de produção. Henry Ford também voltou sua aten-
antigas unidades, que ope- ção para o consumo, aumentando os salários e a oferta de cré-
ravam no regime fordista. ditos para converter cada operário em consumidor.
© Minnesota Historical Society/Corbis/Latinstock

© Ricardo Azouny/Pulsar Imagens


Linha de produção de automóveis Ford, nos EUA, em 1935. Linha de produção de automóveis, em Juiz de Fora (MG), Brasil, 1999.

Para que uma empresa se instale em um país, há também exigências quanto à


infraestrutura. Os locais precisam contar com telecomunicações, fontes de energia,
estradas em boas condições e posição estratégica, próxima de portos e aeroportos,
por exemplo.

A atual produção global de mercadorias é viabilizada por meio das sucessivas


inovações nos meios de transporte, nas comunicações e nas informações. Esses
elementos compõem as redes geográficas globais, que estão por trás da produção
global de mercadorias. Elas não devem ser confundidas com as redes sociais da
internet, pois as redes geográficas são um modo de organizar o espaço. Não são
espaços contíguos, e sim formadas por pontos, linhas e nós, como uma rede de
pesca. Nessa disposição espacial, os pontos e nós são as fábricas, e as linhas são os
fluxos de mercadorias e informações entre as unidades. Nesses sistemas, fábricas
e centros de pesquisa e de gestão pertencentes a um mesmo conglomerado podem
estar localizados em países ou continentes diferentes.
48 UNIDADE 2

Processos similares ocorrem também no setor de serviços, a começar pela pró-


pria informática, com a produção de softwares em diferentes países.

Nas empresas industriais, essa rede tem uma estrutura física implantada nos
territórios (fábricas, pátios, galpões de armazenagem, escritórios etc.), o que a dis-
tingue de outro importante ator global, o sistema financeiro global. A conexão e os
fluxos entre as unidades vão configurar a rede de cada empresa.

O sistema financeiro global

O sistema financeiro é composto por ins- Título público e privado


tituições e operadores que lidam diariamente Emitido, respectivamente, por gover-
com a compra e a venda de ações em bolsas de nos e empresas privadas, é uma
forma de captar recursos para finan-
valores, títulos públicos e privados, fundos
ciar dívidas, obras e investimentos
de investimento, créditos imobiliários etc. Na em infraestrutura. Em troca, os inves-
arena global, esse sistema movimenta trilhões tidores recebem uma remuneração
de dólares todos os dias. pelo dinheiro aplicado.

O sistema financeiro global se caracteriza por não necessitar, em boa parte, de


atividades territorializadas (ou seja, implantadas fisicamente nos territórios), como
ocorre com as fábricas. Para muitas operações, basta um agente, um computador
conectado à internet, determinadas informações e o recebimento de mensagens em
uma praça financeira, mesmo estando ela situada do outro lado do planeta (como
a bolsa de valores de Tóquio em relação à de São Paulo). Desse modo, os fluxos e as
aplicações podem circular nas redes informatizadas sem se fixarem em um território.

Outro dado importante é que os fluxos de investimentos podem ocorrer ininter-


ruptamente, 24 horas por dia. Ao anoitecer, um operador de Nova Iorque já pode
fazer operações na Bolsa de Tóquio ou de Shangai.

Apesar de global, esse sistema também tem uma


hierarquia: é conhecido o fato de que praças financei-
Saiba mais sobre o funciona­
ras como Nova Iorque, Londres e Tóquio concentram
mento do sistema financeiro
assistindo ao filme Wall Street – mais da metade das transações do mundo. Como
Poder e cobiça (dire­ção de Oliver comportam margens de risco, as operações podem ser
Stone, 1987) e para compreen-
um desastre para países, empresas ou investidores.
der a crise econômica de 2008
nos Estados Unidos, veja o Crises ocorridas nos últimos anos tiveram as finan-
documentário Trabalho interno ças como protagonistas, como a de 2008, que teve iní-
(direção de Charles Ferguson,
2010).
cio nos Estados Unidos e se espalhou para o resto do
mundo, com efeitos percebidos até hoje.
UNIDADE 2 49

Uma sociedade civil global?


Foi visto que indivíduos e grupos
REDES MUNDIAIS
DE ESCRITÓRIOS DE ALGUMAS ONGS, 2008 podem utilizar as tecnologias moder-
nas de comunicação e informação para
WWF
diversos fins, por exemplo, para mobili-
zar pessoas em torno de causas comuns.
Ártico

Desde os anos 1990, muitos movi-


mentos protestam contra a globalização.
sede em Gland (Suíça)
Fiji, Grupos, fóruns e organizações passaram
Ilhas Salomão
a se organizar para as mais diversas fina-
lidades, utilizando mensagens em SMS,
e-mails e redes sociais. Esse tipo de mobi-
lização ocorreu, por exemplo, durante
a crise econômica iniciada em 2008,
rede WWF afiliados ações
nos Estados Unidos, com o movimento
Occupy Wall Street, e também durante o
Anistia Internacional
Fórum Social Mundial.
sede em Londres (Reino Unido)

WWF
Criado em 1961, o WWF (Fundo Mundial para
Fiji
a Natureza, em português) tem por objetivo
a proteção da natureza e do meio ambiente,
em especial a preservação da biodiversidade.
Reúne cerca de 5 milhões de membros em
97 países.
Benoît Martin, 2008

ANISTIA INTERNACIONAL
escritório ações Criada em 1961 para defender o direito à
liberdade de expressão, estendeu suas ativi-
dades para a defesa das vítimas de tortura
e de desaparecimento, dos condenados à
Fontes: Relatórios de atividades; www.panda.org e www.amnesty.org pena de morte e dos direitos sociais. Conta
com 3 milhões de membros em mais de 150
ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie. países e territórios.
sciences-po.fr/en/ongs-redes-mundiais-de-escrit-rios-de-algumas-ongs-2008>.
Acesso em: 3 dez. 2014. Mapas originais.

Para produzir um texto e compartilhar suas ideias, você deve planejá-lo anteci-
padamente. É útil, primeiro, fazer um rascunho com as ideias que deseja desenvol-
ver. Lembre-se de que um bom texto traz logo na introdução – no primeiro parágrafo
– a ideia central, apresentando ao leitor o assunto sobre o qual vai tratar.
50 UNIDADE 2

Na sequência, desenvolva o assunto e exponha seu ponto de vista. Cada um


dos seus argumentos poderá ser apresentado em um parágrafo, com exemplos
ou comparação de informações. Se for preciso, procure artigos sobre o assunto
em jornais, revistas, internet e livros. Leia alguns deles para saber como as pes-
soas estão se posicionando sobre a temática a ser abordada por você e para ver
se reforçam ou refutam seus argumentos.

Para finalizar, organize as conclusões: retome a ideia central apresentada e


seus argumentos, indicando possíveis desdobramentos para o tema discutido. Essa
parte do texto pode ser realizada em um parágrafo.

Terminada a versão final, retome a leitura. Aproveite para checar a organização


das ideias e corrigir a ortografia das palavras.

Muito bem, agora pode passar o seu texto a limpo!

Atividade 2 A sociedade civil no contexto global

Com base no texto Uma sociedade civil global? e nos mapas apresentados, escreva
um texto dissertativo sobre a importância e as formas de organização de movimentos
sociais, relacionando-os ao espaço geográfico e ao uso de ferramentas da internet.
UNIDADE 2 51

As novas tecnologias estão se generalizando, permitindo a realização de múlti-


plas interações à distância. Por exemplo, quando alguém dispõe de recursos para
enviar mensagens e imagens a outras pessoas que estão a milhares de quilômetros
de distância. Você acha que essas novas tecnologias trazem benefícios? Em sua
opinião, elas ajudam a conhecer e encontrar pessoas, melhorar a formação pessoal,
ter mais informações, alcançar um bom emprego ou lutar por uma causa? É sem-
pre bom conversar com pessoas conhecidas para formar um ponto de vista. Você
pode conversar sobre esse tema com sua família, seus vizinhos e colegas. Registre
suas reflexões a seguir.

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – As empresas e a globalização


1 Por meio de elementos estruturais típicos dos mapas, você pôde observar que o mapa apre-
senta os locais de produção e mercados da montadora japonesa de veículos Toyota, em 2009.

Já o esquema traz a divisão de tarefas entre países na produção de microcomputadores no mundo,


ou seja, onde cada peça é produzida. O esquema traz, portanto, uma configuração característica da
fabricação em escala global.

2 O mapa utiliza diversos elementos, por isso é necessário que você o tenha observado com atenção.
Ele combina recursos quantitativos, qualitativos, ordenados e dinâmicos. Você deve ter associado os
círculos, quadrados e triângulos à legenda, na qual é possível ver que eles se referem aos locais das
fábricas, dos centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou aos mercados regionais. O mapa também
possui setas verdes que indicam a quantidade e a direção dos fluxos de exportação. Por fim, os tons do
amarelo ao laranja dos círculos representam a evolução das vendas nas regiões entre 2000 e 2009.

O esquema é outra forma de representação de informações. Ele traz um círculo no meio represen-
tando a Terra, dentro do qual há o desenho de um computador. Em torno do círculo, foram colocadas
52 UNIDADE 2

bandeiras de países que participam do processo produtivo. Você pôde verificar que os Estados Unidos
ocupam a parte superior do esquema, já que ali estão as etapas de criação dos produtos. A participa-
ção de Israel está associada aos microprocessadores, enquanto a Malásia contribui na montagem dos
circuitos e de objetos feitos de vidro.

3 Você deve ter observado, no mapa, que a empresa tem várias unidades distribuídas pelo pla-
neta, incluindo fábricas e centros de P&D. As unidades de montagem e exportações concentram-se
no Japão, mas há também grandes unidades em outros países e continentes, com destaque para
sua presença nos importantes mercados da Europa e dos Estados Unidos.

4 O esquema mostra a divisão do trabalho entre diferentes países para a produção de microcompu-
tadores. É importante observar que a concepção e a marca do produto – elementos mais valorizados –
estão nos EUA, conforme a resposta do exercício 2 relativa ao fluxo de produção da Toyota. A produção
de computadores é global, pois envolve países localizados em diferentes regiões do mundo. No entanto,
ainda assim, está concentrada em quatro países: Estados Unidos, China, Malásia e Israel.
HORA DA CHECAGEM

Atividade 2 – A sociedade civil no contexto global


Seu texto pode ter abordado diversos pontos de vista. Os mapas e o texto Uma sociedade civil global?
destacam instituições e organizações sociais que possuem unidades espalhadas por diferentes
países e continentes, o que quer dizer que elas também passaram a se organizar em redes globais.
As comunicações entre essas unidades são possíveis devido ao uso das modernas ferramentas da
internet, que permitem interações e organização de ações a distância.
53

Efeitos da globalização T E M A 2

No Tema 1, você analisou alguns aspectos da globalização e a participação de


alguns de seus principais atores. Foi discutido também como novas tecnologias
de comunicação e informação vêm se disseminando e permitindo conexões e inte-
rações sociais a distância. Agora, serão avaliados alguns efeitos desses processos,
em particular os que geram ou reforçam desigualdades sociais.

Você já ouviu falar de situações nas quais grandes empresas globais demi-
tiram funcionários em unidades espalhadas pelo mundo? Qual(is) foi(foram) a(s)
empresa(s)? Por que você acha que ela(s) fez(fizeram) isso? Escreva suas respostas
nas linhas a seguir.

Globalização e desemprego
Em função da crise econômica mundial ocorrida a partir de 2008, diversas
empresas globais resolveram fechar fábricas e demitir trabalhadores. Como elas
atuam em escala global, suas decisões provocam desemprego e turbulências eco-
nômicas mundo afora. Há, nesses casos, uma relação direta entre o seu modo de
operar e o aumento do desemprego ou a transferência de empregos. Mas é sempre
bom lembrar que o desemprego também pode resultar de políticas econômicas
nacionais, uma atribuição dos governantes dos países.

É importante considerar ainda que, além de fechar as fábricas de uma mesma


empresa, tais situações atingem outras companhias a ela associadas. É comum
que as unidades das empresas globais operem com a terceirização, isto é, a empresa
principal repassa etapas do processo produtivo a outras empresas menores, que se
responsabilizam, por exemplo, pela fabricação de peças e componentes.
54 UNIDADE 2

É comum também que tarefas como limpeza, manutenção e alimentação


sejam terceirizadas pela firma principal. Não raro, o trabalho terceirizado é mais
precário e instável, embora em muitos casos o trabalhador tenha carteira assi-
nada e direitos trabalhistas assegurados.

Há perdas visíveis nas cidades que sediam as


fábricas, pois trabalhadores demitidos poderão se
Assista ao filme Roger e eu
deslocar ou deixar de consumir bens, afetando a eco- (direção de Michael Moore,
nomia local. Isso interfere na arrecadação de impos- 1989), que mostra os efeitos
da quebra de uma montadora
tos. Um exemplo conhecido é o de Detroit (EUA), de veículos na cidade de Flint
cidade polo de montadoras de automóveis que (EUA), desempregando apro-
ximadamente 30 mil pessoas.
hoje está em franca decadência demográfica
e econômica.

Certas empresas globais transferem unidades para outros países, seja porque
os salários serão mais baixos no lugar de destino ou porque terão vantagens na
instalação. Transfere-se, assim, todo o sistema produtivo e, com isso, os empre-
gos. Esse traço perverso da globalização não se dá apenas em períodos de crise.
É comum que haja deslocamento industrial (que alguns chamam de deslocalização)
de acordo com circunstâncias e interesses dos agentes. Isso também tem ocorrido
no Brasil, com algumas diferenças.

O município de São Paulo, por exemplo, deixou de sediar algumas das fábri-
cas que havia em seu território. Elas se transferiram para outros municípios da
Região Metropolitana, para o interior do Estado de São Paulo ou para outros Esta-
dos da federação – processo conhecido como desindustrialização. O mesmo ocor-
reu na aglomeração industrial do ABCD. Mas isso não significa, necessariamente,
decadência econômica. São Paulo é uma metrópole global que cada vez mais con-
centra sedes de grandes empresas e serviços modernos. A capital paulista não é
mais o espaço das fábricas, mas do comando dessa produção.

As inovações tecnológicas em curso desde os últimos anos do século XX


já haviam provocado ajustes na estrutura das empresas, das atividades e do
mercado de trabalho. A regra foi a demissão de pessoas, como ocorreu com os
bancos, que, com a informatização dos seus serviços e com o uso da internet,
fecharam agências. O mesmo aconteceu com fábricas e certos setores da agri-
cultura moderna, que substituíram o trabalho humano por máquinas. Hoje, no
Brasil, já existem políticas e programas para inserir novamente essas pessoas
no mercado de trabalho.
UNIDADE 2 55

Tanto em países ricos como em países em desenvolvimento houve absorção de


parte dos trabalhadores excedentes dos setores primário e secundário pelo setor
terciário da economia, em especial nos serviços. Trata-se de um subsetor amplo,
com diferentes níveis de qualificação para o trabalho. Mas, mesmo com essa absor-
ção de trabalhadores, não é possível que todos voltem a ter empregos.

Em face da atual crise global, Espanha, Grécia, Itália e Portugal são países que
vivem o drama do desemprego de forma intensa. Nesses países, há casos de pes-
soas que ocultam de seus currículos sua formação para conseguir empregos. E nem
sempre os novos empregos atendem aos direitos trabalhistas, reforçando o trabalho
informal ou o trabalho precário.

Muitos trabalhadores tiveram de mudar de ramo ou buscar nova formação e


novos cursos de qualificação profissional para fugir do desemprego. Essa mudança
pode se constituir em uma nova “janela” de oportunidades, mas também pode reve-
lar outra face da mesma história.

Outra situação que não tem


necessariamente vínculo direto
A terceirização foi a forma encontrada pelas
com o desemprego foi o surgimento
empresas para reduzir custos relativos aos
e a ampliação do teletrabalho ou tra- trabalhadores. Mesmo que as empresas regis-
balho a distância. Ele se tornou possí- trem os empregados, é uma forma de fragilizar
vel, sobretudo, por causa do avanço o contrato de trabalho, pois os trabalhadores
terceirizados não possuem os mesmos direitos
de novas tecnologias de comunica-
que aqueles contratados pela empresa princi-
ção, em particular da internet e da pal. Veja um exemplo: os bancários, em razão
telefonia. da ação dos sindicatos, conquistaram diversos
direitos. Entre eles, o vale-refeição, o seguro-
Nesses casos, o trabalhador não -saúde e o piso salarial.
precisa se deslocar para a empresa
Por isso, os bancos, principalmente a partir da
todos os dias, ainda que muitas década de 1990, passaram a terceirizar serviços e
tarefas exijam o cumprimento de demitir os bancários, ao mesmo tempo que inten-
horários e metas. Além disso, o tra- sificaram o uso de tecnologias.

balhador deve arcar com custos de As tecnologias não eliminaram a necessidade de


água, eletricidade, telefone, mate- trabalhadores, pois alguém vai continuar fazendo
o serviço desses bancários. No entanto, as empre-
riais, equipamentos, alimentação
sas que passam a prestar serviços aos bancos vão
etc. Quem trabalha em casa pode contratar pessoal com salários menores e, como
ser solicitado a qualquer momento não são bancários, não possuem os mesmos direi-
– situação que invade sua vida pri- tos que os demais trabalhadores da categoria.
Assim, o serviço prestado é mais barato e, com
vada e pode acabar ampliando sua
isso, os bancos reduzem seus custos.
jornada de trabalho.
56 UNIDADE 2

Assista!

Trabalho – 6o ano/1o termo

Trabalho precário e terceirização

O vídeo expõe, por meio da história de dois trabalhadores que exercem a mesma ocupação,
diferenças entre trabalho formal e trabalho precário. Além disso, discute o trabalho terceiri-
zado, procurando responder à seguinte questão: Trabalho terceirizado é trabalho precário?
Com esse vídeo, você poderá refletir sobre os assuntos abordados neste tema, relativos a ques-
tões de emprego no mundo globalizado.

Atividade 1 Globalização, deslocalização industrial e emprego

Os textos da próxima página foram extraídos de portais de notícias na inter-


net. São, portanto, textos da esfera jornalística. Em regra, essas matérias infor-
mam sobre acontecimentos ocorridos recentemente, indicando os fatos, quando
e onde ocorreram, e quem esteve envolvido neles. Leia os textos, procure identi-
ficar esses elementos e responda às questões.

1 Leia os títulos e as datas das notícias. Qual assunto elas têm em comum?

2 Quais são as empresas citadas? Em quais setores elas atuam? Indique também
como as cidades e os países mencionados foram afetados pelos acontecimentos.

3 Para você, existe relação entre os fatos citados e o funcionamento da economia


global? Qual? Explique sua resposta.
UNIDADE 2 57

http://www.voxeurop.eu/pt/content/news-brief/146541-belgica-impotente-perante-perda-de-empregos

VOX EUROP
27/11/2009

A Bélgica impotente perante a perda de empregos


Le Soir

[...] A empresa alemã DHL acaba de anunciar a 788 empregados na Bélgica que os seus
postos de trabalho vão ser deslocados para Praga [República Tcheca], Leipzig ou Bonn
[Alemanha]. Uma deslocalização que se soma aos 2.000 lugares ameaçados na fábrica Opel
de Antuérpia e ao despedimento de 43 assalariados da Sanofi, em Diegem. A Bélgica, que
acolhe inúmeras empresas estrangeiras, “perdeu o controle sobre os empregos”, preocupa-se
o [jornal] Le Soir, que duvida da “pertinência da política econômica belga dos últimos vinte
anos”. “Poucos foram os que se manifestaram preocupados com a saída dos grandes centros
de decisão econômica do nosso país”. [...]

Vox Europ, 27 nov. 2009. Disponível em: <http://www.voxeurop.eu/pt/content/news-brief/146541-belgica-impotente-perante-perda-de-empregos>.


Acesso em: 13 ago. 2014.

http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,ford-fechara-fabricas-e-cortara-5-7-mil-empregos-na-europa,132303e

O ESTADO DE S. PAULO | ECONOMIA


25/10/2012 / 11:53

Ford fechará fábricas e cortará 5,7 mil empregos na Europa

Demanda por veículos na região caiu mais de 20% desde 2007;


montadora prevê economizar até US$ 500 milhões

Clarissa Mangueira, da Agência Estado

A montadora planeja corte de custos, que incluem o fechamento de fábricas europeias,


transferência de produção de alguns produtos, melhora significante de utilização de capa-
cidade e reduções de vagas de empregos. As ações planejadas reduzirão a capacidade de
montagem de veículos, excluindo a Rússia em 18%, ou 355 mil unidades. As economias
brutas anuais relacionadas às medidas serão de entre US$ 450 milhões e US$ 500 milhões.

A Ford observou que há um excesso de capacidade de produção na região, decor-


rente da queda de mais de 20% da demanda total da indústria de veículos na Europa
Ocidental desde 2007. A montadora disse que as vendas de veículos novos na região
atingiram seu menor patamar em quase 20 anos neste ano e deverão manter-se estáveis
ou cair ainda mais no próximo ano.

Os fechamentos de fábricas incluem duas unidades no Reino Unido [...] e a outra [...] na
Bélgica [...]. Estas três unidades empregam atualmente cerca de 5.700 funcionários.

Os planos [...] afetam 6.200 pessoas ou cerca de 13% da força de trabalho europeia da Ford. [...]

O Estado de S. Paulo, 25 out. 2012, 11h53. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,


ford-fechara-fabricas-e-cortara-5-7-mil-empregos-na-europa,132303e>. Acesso em: 15 out. 2014.
58 UNIDADE 2

Atividade 2 Disputas por espaços voltados à economia global

Leia a reportagem a seguir, destacando e pesquisando as palavras cujo significado


você não compreende. Depois, responda às questões.

http://www.estadao.com.br/noticias/economia,montadoras-chinesas-se-preparam-para-chegar-ao-brasil,426947,0.htm

O ESTADO DE S. PAULO | ECONOMIA


30/08/2009 / 09:25

Montadoras chinesas se preparam para chegar ao Brasil

As montadoras chinesas preparam seu desembarque no mercado brasileiro. Além da


Chery, que acaba de lançar o utilitário esportivo Tiggo no País, a [...] BYD e a [...] JAC têm planos
concretos para entrar no Brasil [...].
A estratégia chinesa é começar com importações, para testar o mercado, e logo depois
instalar fábricas no País, utilizando peças vindas da China. Para as empresas, a presença local
é importante para evitar os 35% de tarifa de importação de carros do Brasil, para ganhar a
confiança dos consumidores e das concessionárias e se adequar às regras brasileiras.
O grande diferencial das montadoras chinesas promete ser o preço. Na China, a JAC
vende o Tongyue, motor 1.3 pelo equivalente a R$ 15 mil, enquanto o F3, da BYD, motor
1.5, sai por R$ 20 mil. O Tiggo, da Chery, é vendido hoje por R$ 49,9 mil no Brasil, mas custa
R$ 26 mil na China. A montadora também quer trazer para o País o QQ , um compacto simples,
motor 0.8, que custa apenas R$ 8,8 mil na China.
As montadoras chinesas estudam o mercado brasileiro há algum tempo. Agora, conver-
sam com os Estados para obter vantagens fiscais. Segundo o embaixador do Brasil na China
[...], Rio, Bahia e Ceará disputam essas montadoras.
Presentes no Brasil desde a década de [19]50 e donas de um lobby poderoso, as montado-
ras europeias e americanas vão tentar dificultar o desembarque das marcas chinesas. Mais
recentemente, também se instalaram no País montadoras coreanas e japonesas.

O Estado de S. Paulo, 30 ago. 2009, 9h25. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,montadoras-chinesas-se-preparam-para-chegar-ao-brasil,426947,0.htm>.


Acesso em: 22 set. 2014.

1 O que as montadoras de veículos chinesas pretendem fazer no Brasil?

2 Em sua opinião, o que são as vantagens fiscais e as disputas entre Estados bra-
sileiros citadas no texto?
UNIDADE 2 59

Em 2012, o Ministério da Educação brasileiro passou a distribuir computadores,


tablets, câmeras de vídeo, lousas digitais e outros equipamentos a professores de
redes públicas de ensino no Brasil. Trata-se do programa Educação Digital, que tam-
bém prevê a entrega de tablets a estudantes. A iniciativa conta ainda com a partici-
pação de secretarias estaduais e municipais de ensino. Avalie como essas medidas
podem contribuir para melhorar a qualidade da educação no país, registrando suas
reflexões nas linhas a seguir.

Um celular novo, um televisor cheio de recursos, um notebook mais leve – depois de certo
tempo, todos têm necessidade ou vontade de comprar novos produtos para substituir os que fica-
ram obsoletos. Surge, então, um problema: o que fazer com os eletrônicos antigos? Na maioria das
vezes o destino é o lixo. Com isso, a montanha de resíduos eletrônicos cresce em alta velocidade.

No Brasil, a luz amarela já acendeu há algum tempo. Após muita discussão, a Política
Nacional de Resíduos Sólidos prevê que as empresas sejam obrigadas a recolher e dar destino
adequado a seus produtos, enquanto o governo e os consumidores não podem fazer descaso do
assunto. Seria também proibida a eliminação de resíduos onde possa haver contaminação da
água ou do solo.

Fonte: JORDÃO, Priscila. A rota do lixo. Revista Exame, março de 2010. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br> (com adaptações).

As medidas citadas buscam, pela primeira vez, distribuir a responsabilidade sobre o descarte
dos resíduos entre:

a) Fabricantes e ONGs.
b) Ambientalistas e Estado.
c) Setor privado, poder público e sociedade.
d) Empresas, poder estadual e trabalhadores rurais.
Viagem do Conhecimento/National Geographic, 2010. Disponível em: <http://viagemdoconhecimento.com.br/arquivos/PROVA_2_FINAL_V4.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.
60 UNIDADE 2

Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da assalariação do trabalho e


socialização da produção, que foi característica predominante na era industrial. A nova organi-
zação social e econômica baseada nas tecnologias da informação visa à administração descen-
tralizadora, ao trabalho individualizante e aos mercados personalizados. As novas tecnologias
da informação possibilitam, ao mesmo tempo, a descentralização das tarefas e sua coordenação
em uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os
andares de um mesmo edifício.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006 (adaptado).

No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças constantes nas ferramentas de


comunicação que afetam os processos produtivos nas empresas. Na esfera do trabalho, tais
mudanças têm provocado
a) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as linhas de montagem sob influência dos
modelos orientais de gestão.
b) o aumento das formas de teletrabalho como solução de larga escala para o problema do desem-
prego crônico.
c) o avanço do trabalho flexível e da terceirização como respostas às demandas por inovação e com
vistas à mobilidade dos investimentos.
d) a autonomização crescente das máquinas e computadores em substituição ao trabalho dos espe-
cialistas técnicos e gestores.
e) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes, executivos e clientes com a garantia de
harmonização das relações de trabalho.
Enem 2011. Prova azul. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/01_AZUL_GAB.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Globalização, deslocalização industrial e emprego


1 Depois de ler as matérias, você deve ter verificado que elas têm em comum o anúncio de demis-
sões e fechamento de fábricas na Europa por grandes empresas. Há também anúncio de realocação
de trabalhadores e transferência de unidades para outros países. Esses são alguns exemplos dos
efeitos causados nos mercados de trabalho mundiais pelo aprofundamento da globalização.

2 São citadas a Ford, montadora de veículos criada nos Estados Unidos; a Opel, automobilística
de origem alemã, hoje uma empresa coligada à estadunidense General Motors; e a DHL, empresa
alemã que atua em serviços de correio expresso. Você deve ter notado que as cidades e os países
que sediavam essas empresas foram duramente afetados, pois passaram a ter maior número de
desempregados. Com isso, aumentou a demanda por assistência social e pela criação de novos
empregos. Em situações como essa, as pessoas sem emprego passam a consumir menos, afetando
estabelecimentos locais e ampliando a crise.

3 Resposta pessoal. Você deve ter observado que as demissões e a transferência ou deslocalização de
fábricas integram estratégias de empresas transnacionais em busca da redução de custos e do aumento
de lucros. As novas unidades são transferidas para outras cidades e até mesmo para outros países.
UNIDADE 2 61

Atividade 2 – Disputas por espaços voltados à economia global


1 Você pôde concluir, na leitura da matéria, que montadoras chinesas pretendem instalar
fábricas no Brasil com a intenção de ingressar no mercado nacional e reduzir impostos de impor-
tação. Essa estratégia de instalar unidades produtivas dentro de alguns países é uma resposta
às políticas de protecionismo praticadas por outros países que visam defender as empresas
nacionais na globalização.

2 Resposta pessoal. Você pôde notar que as montadoras buscam vantagens fiscais como isenção
ou redução de impostos para ficarem mais competitivas. Há disputas entre Estados brasileiros para
receber novas fábricas – cada Estado tenta oferecer melhores condições para as empresas, configu-
rando a chamada “guerra fiscal” – ou disputas entre lugares para atrair novos investimentos.

Desafio

HORA DA CHECAGEM
1 Alternativa correta: c. De acordo com o texto, o descarte de lixo eletrônico é responsabilidade
tanto do poder público como das empresas e da sociedade em geral.

2 Alternativa correta: c. No texto Globalização e desemprego, você viu que o trabalho flexível é uma
tendência da globalização, caracterizado pela descentralização e terceirização (que repassam tarefas
a indivíduos e pequenas empresas). Ele é, portanto, uma resposta às novas formas de organização
social com base nas tecnologias da informação.
GEOGRAFIA
CONFLITOS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
Unidade 3

TEMAS
1. O mapa-múndi político atual
2. Conflitos e tensões no mundo atual

Introdução
Esta Unidade está voltada ao exame dos conflitos no mundo atual, sejam eles
confrontos entre países ou conflitos internos. A ideia é refletir sobre os motivos que
levaram à ocorrência de tais episódios. Para isso, é preciso estabelecer relações entre
as disputas e a formação social e territorial dos Estados nacionais. Nesse quadro,
é importante saber também o papel de grupos políticos em cada país e os possíveis
interesses externos no desfecho dos conflitos.

Hoje, no quadro das relações internacionais, cabe a cada país tomar suas
decisões de forma soberana. Mas é preciso reconhecer que há países mais
poderosos e países menos poderosos, tanto em termos econômicos como polí-
ticos e militares.

T E M A 1 O mapa-múndi político atual

O mapa-múndi político

© Marcin Suder/Corbis/Latinstock
traz a divisão entre os países,
cada qual com seu nome ofi-
cial e suas fronteiras.

Ao longo do tempo, paí-


ses foram criados e outros
desapareceram. Muitos des-
ses percursos foram marca-
dos por violentos confrontos.

Mulher vota em plebiscito ocorrido em 2010, no


qual a população foi chamada a se posicionar
sobre a divisão do país entre Sudão e Sudão do
Sul, após décadas de conflito.
UNIDADE 3 63

Você leu ou ouviu recentemente notícias sobre mudanças no mapa-múndi polí-


tico? Houve a formação de novos países ou o desaparecimento de outros? Quais
foram os povos envolvidos diretamente? Em sua opinião, em que essas mudanças
afetam a vida cotidiana dessas populações? Escreva suas impressões sobre o tema
nas linhas a seguir.

Atividade 1 Analisando o mapa-múndi político

Observe o mapa-múndi político da próxima página e responda às questões


a seguir.

1 Qual é o tema apresentado e qual é o significado das cores nesse mapa?

2 Com base na observação do mapa-múndi, o que se pode afirmar sobre a exten-


são territorial dos países?

3 Para você, como podem ser explicadas as diferenças de tamanho entre os países?
Planisfério político
Planisfério Político
165º O 150º O 135º O 120º O 105º O 90º O 75º O 60º O 45º O 30º O 15º O 0º 15º L 30º L 45º L 60º L 75º L 90º L 105º L 120º L 135º L 150º L 165º L
© IBGE

OCEANO GLACIAL ÁRTICO


75º N Groenlândia (Din) Svalbard (Nor) 75º N
Jan Mayen (Nor)

CÍRCULO POLAR ÁRTICO CÍRCULO POLAR ÁRTICO

Alaska (EUA) ISLÂNDIA SUÉCIA


Is. Faroe (Din)
FINLÂNDIA FEDERAÇÃO RUSSA
NORUEGA
60º N (RÚSSIA) 60º N
ESTÔNIA
CANADÁ LETÔNIA
DINAMARCA
LIT.
IRLANDA REINO BELARUS
UNIDO HOL ALEMANHA POLÔNIA
BÉL
LUX. REP. TCH ESLQ UCRÂNIA
ÁUSTRIA HUNGRIA CASAQUISTÃO
FRANÇA SUÍ MONGÓLIA
S.Pierre & CRO ROMÊNIA
45º N Miquelon (Fra) 45º N
BÓS.HER SÉR
GEÓRGIA UZBEQUISTÃO
ITÁLIA MONT. MAC BULGÁRIA QUIRGUISTÃO
ALB ARMÊNIA AZERBAIJÃO CORÉIA
ESTADOS UNIDOS Açores (Por) PORTUGAL ESPANHA DO NORTE
DA AMÉRICA GRÉCIA TURQUIA TURCOMENISTÃO TADJIQUISTÃO
CORÉIA JAPÃO
CHIPRE SÍRIA CHINA DO SUL
Madeira (Por) TUNÍSIA LÍBANO AFEGANISTÃO
Bermuda (R.Un) MARROCOS IRAQUE
ISRAEL IRÃ
JORDÂNIA
OCEANO
30º N Is. Canárias (Esp) 30º N
KUWAIT
PAQUISTÃO NEPAL
Is. Midway (EUA) ARGÉLIA BAREIN BUTÃO
LÍBIA EGITO
SAARA CATAR EMIRADOS
TRÓPICO DE CÂNCER BAHAMAS OCEANO OCIDENTAL ÁRABES BANGLADESH TRÓPICO DE CÂNCER
MÉXICO TAIWAN
ARÁBIA SAUDITA UNIDOS
ÍNDIA MIANMA
CUBA REP. DOMINICANA MAURITÂNIA LAOS
OMÃ Is. Marianas I. Wake
Atol Johnston (EUA)
CABO VERDE (EUA)
Is. Havaí (EUA) BELIZE JAMAICA HAITI MALI NÍGER (EUA)
Is. Paracel
HONDURAS CHADE ERITRÉIA IÊMEN TAILÂNDIA (Chin)
15º N SENEGAL 15º N
GUATEMALA SUDÃO FILIPINAS
EL SALVADOR NICARÁGUA GÂMBIA BURKINA Is. Laquedivas CAMBOJA ILHAS MARSHALL
FASO (FRA) Is. Spratly Guam (EUA)
GUINÉ-BISSAU GUINÉ DJIBUTI Is. Andaman (Chin-Viet-Fil
Is. Clipperton (Fra) COSTA RICA PANAMÁ TRINIDAD E TOBAGO (Ind) VIETNÃ Malá)
NIGÉRIA SOMÁLIA

BENIN
SERRA LEOA COSTA SUDÃO ETIÓPIA PA C Í F I C O

GANA
VENEZUELA REPÚBLICA Is.Nicobar

TOGO
DO
Atol Palmyra (EUA) GUIANA Guiana Francesa (Fra) CENTRO AFRICANA DO SUL SRI LANKA (Índ) BRUNEI
OCEANO LIBÉRIA MARFIM CAMARÕES PALAU ESTADOS FEDERADOS
COLÔMBIA SURINAME MALDIVAS M A L Á S I A DA MICRONÉSIA
Is. Galápagos (Eq) GUINÉ EQUATORIAL UGANDA
LINHA DO EQUADOR CONGO QUÊNIA CINGAPURA LINHA DO EQUADOR
0º 0º
I. Jarvis EQUADOR SÃO TOMÉ GABÃO
(EUA) & PRÍNCIPE RUANDA NAURU
REPÚBLICA I N D O N É S I A KIRIBATI
DEMOCRÁTICA BURUNDI
K I R I B A T I DO CONGO Território Britânico
PAPUA
Ascenção (R.Un) TANZÂNIA SEICHELLES NOVA GUINÉ
Atol Aldabra do Oceano Índico ILHAS TUVALU
TUVALU Tokelau (SEI) (R.Un)
(Nov.Zel) PERU I. Agalega TIMOR-LESTE SALOMÃO
Wallis e COMORES (Maurício)
Futuna SAMOA BRASIL ANGOLA
(Fra) Samoa MALAUÍ Mayotte OCEANO
St. Helena (R.Un) ZÂMBIA (FRA)
15º S Americana Is. Cook VANUATU 15º S
(EUA) (Nov.Zel) Polinésia Francesa (Fra)
TONGA BOLÍVIA MOÇAMBIQUE
Niue ZIMBÁBUE MADAGASCAR MAURÍCIO FIJI
FIJI Nova Caledônia
(Nov.Zel) NAMÍBIA (FRA)
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
AT L Â N T I C O BOTSUANA Reunião (FRA) TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Is. Pitcairn (R.Un) PARAGUAI
I. de Páscoa
(Chil) CHILE SUAZILÂNDIA AUSTRÁLIA
Is. Kermadec
(Nov.Zel)
ÁFRICA LESOTO
30º S 30º S
DO SUL
URUGUAI ÍNDICO
PA C Í F I C O Tristão da Cunha (R.Un)
ARGENTINA I.Amsterdam
Terras Austrais e (FRA)
Antár ticas Francesas NOVA ZELÂNDIA
(FRA)
Is. Chathan
(Nov.Zel) Is.Prince Edward Is.Crozet
45º S (Áfr.S) (FRA) 45º S
Is.Kerguelen
(FRA)
Is. Malvinas

Is. Bouvet (Nor) I.Heard


(Austr)
Geórgia do Sul e Is. Sandwish

60º S 60º S

CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO

SUÉCIA LETÔNIA
DINAMARCA FEDERAÇÃO
75º S 75º S LITUÂNIA RUSSA
MERIDIANO DE GREENWICH
A N T Á R T I D A Irlanda do FEDERAÇÃO
BAHAMAS Norte (R.Un) RUSSA
Is. Turks e Caicos (R.Un)
CUBA BELARUS
IRLANDA
120º O 105º O 90º O 75º O 60º O 45º O 30º O 15º O 0º 15º L 30º L 45º L 60º L 75º L 90º L 105º L 120º L
REINO UNIDO HOLANDA POLÔNIA
Escala no Equador
ALEMANHA
BÉLGICA
0 900 km Guernsey (R.Un)
Ilhas Virgens Fronteira REPÚBLICA TCHECA UCRÂNIA
Is. Cayman (R.Un) I. Navassa HAITI REPÚBLICA (R.Un) Jersey (R.Un) LUXEMBURGO
(EUA) internacional Projeção de Robinson ESLOVÁQUIA
DOMINICANA Anguilla (R.Un)
JAMAICA Porto Rico (EUA) Is. Virgens
(EUA) S.Martin (Fra) LIECHTENSTEIN ÁUSTRIA
Saint Rio HUNGRIA MOLDÁVIA
Eustatius ANTÍGUA E FRANÇA SUÍÇA
(Hol) O
à BARBUDA ESLOVÊNIA
ÓV ROMÊNIA
T CROÁCIA
O C RIS VIS n)
E R.U 45º N
Guadalupe (Fra) BÓSNIA
HONDURAS SÃ E N rat ( SAN MARINO
er HERZEGOVINA SÉRVIA
nts DOMINICA MÔNACO
Mo
15º N ANDORRA MONTENEGRO BULGÁRIA
Martinica (Fra) ITÁLIA

SANTA LÚCIA MACEDÔNIA


ALBÂNIA
PORTUGAL
NICARÁGUA Antilhas SÃO VICENTE & GRANADINAS ESPANHA
Aruba (Hol) Holandesas BARBADOS Escala no Equador GRÉCIA
Escala no Equador
GRANADA TURQUIA
0 200 km
0 300 km

TRINIDAD E Projeção de Robinson


Projeção de Robinson
COLÔMBIA TOBAGO MALTA
VENEZUELA Gibraltar (R.Un) TUNÍSIA
COSTA RICA 0º ARGÉLIA 15º L
65º O 60º O MARROCOS 30º L

IBGE. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/233fo>. Acesso em: 12 dez. 2014. Mapa original (supressão da escala numérica).
www.ibge.gov.br 0800 721 8181
UNIDADE 3 65

Um mundo formado por Estados nacionais


O mapa apresentado na página anterior mostra a divisão política do mundo,
ou seja, o mundo dividido segundo a extensão dos territórios e as fronteiras de
Estados nacionais. Os territórios diferem bastante quanto à extensão territorial: a
Rússia tem 17 milhões de km2 (quase o dobro do tamanho do Brasil, que também é
muito extenso), e Andorra tem apenas 468 km2 (menos de ⅓ da área do município
de São Paulo).

A Organização das Nações Unidas


(ONU) tem, atualmente, 193 países-
-membros. Não entram na lista o A ONU foi criada em 1945, logo após a devasta-
dora 2a Guerra Mundial, e substituiu a antiga Liga
Vaticano (sede da Igreja Católica), das Nações – idealizada com o fim da 1a Guerra
Taiwan (considerado uma província Mundial. A ONU possui diversos órgãos e agên-
cias e tem, entre seus princípios, a promoção da
rebelde pela China) e os Territórios paz, a manutenção da segurança internacional e
Palestinos (que desde 2012 possuem a cooperação internacional. Atualmente, ela sofre
status de observadores). Existem ainda pesadas críticas por causa da influência das gran-
des potências no seu Conselho de Segurança,
muitos territórios coloniais, que não instância que atua como intermediária na reso-
são independentes: Guiana Francesa, lução de conflitos internacionais e cujas decisões
devem ser acatadas pelos Estados-membros.
Groenlândia, algumas ilhas da Oceania
e da América Central, entre outros.

O que são Estados nacionais? Como Glossário


eles se formaram e como se organizam? Nação
O que isso tem a ver com guerras e con- Parte de uma população que tem característi-
flitos internos? Basicamente, um Estado cas étnicas, históricas, linguísticas e religiosas,
muitas vezes supervalorizadas, para garantir,
nacional é formado por um Estado, uma
por exemplo, a unicidade a um Estado Nacional.
ou mais nações, um território e um
governo. O Estado refere-se à organi- Território
zação do poder político da sociedade Porção do espaço geográfico que pertence a um
Estado nacional e é por ele controlado e admi-
nacional. Ele é regido por leis e possui nistrado, ou seja, compreende os limites terri-
instituições permanentes, como o Poder toriais de exercício da soberania desse Estado.
Executivo e o Poder Legislativo.

É frequente aparecerem na TV ou na internet imagens de policiais atuando em


manifestações ou das forças armadas (exército, marinha e aeronáutica) vigiando fron-
teiras. O que isso quer dizer? Significa que a sociedade autoriza cada Estado a usar a
força em certas situações, seja para manter a paz social interna e proteger fronteiras,
seja para fazer guerra com outro país. Evidentemente, tais atribuições deveriam ser
levadas adiante quando os direitos dos cidadãos estão ameaçados.
66 UNIDADE 3

Os Estados podem enviar também representantes à ONU e às embaixadas de


países, estabelecendo relações diplomáticas.

Em um mesmo Estado nacional podem existir diferentes nações, cada qual com
sua identidade cultural, língua ou origens próprias e distintas das demais. Não é
raro que uma dessas comunidades queira mais autonomia ou mesmo se separar
do Estado nacional ao qual está vinculada, ainda mais quando ocorre o enfraqueci-
mento, com o decorrer do tempo, dos laços culturais originais da comunidade. Por-
tanto, os grupos se valem da ideia de que existe uma identidade nacional e que isso
deve se traduzir em poder político, por exemplo, criando um novo Estado nacional.

O caso da Espanha pode ajudar a entender melhor essa questão. Os bascos, que
vivem ao norte do território espanhol, congregam um povo com língua e história
comuns. Essa comunidade se estende também ao sudoeste da França. Durante
décadas, os bascos buscaram se separar da Espanha, e grupos como o ETA (Pátria
Basca e Liberdade, em português) usaram de violência para atingir esse fim. No
nordeste do país, a Catalunha, cuja capital é Barcelona, também luta por mais
autonomia, e muitos de seus habitantes acreditam que seria melhor se ali fosse
criado um novo país, independente da Espanha.

Existem ainda países que tinham autonomia política e identidade cultural, mas
foram dominados. É o caso do Tibete, invadido e anexado pela China em 1951. Até hoje
os tibetanos lutam para manter tradições culturais e libertar-se do domínio chinês.

O mundo está em constante movimento e isso se reflete no mapa-múndi. As


divisões políticas e as extensões territoriais mudam o tempo todo, resultado de
conquistas e dominações, insatisfações e anseios de emancipação política.

O século XX ficou marcado por dois grandes conflitos mundiais (a 1a e a 2a Guerra


Mundial), tornando-se um dos períodos da história humana com maior número de
mortos. Somente na 2a Guerra, estima-se que morreram mais de 60 milhões de pes-
soas. Arrasadas pelas guerras, as potências capitalistas europeias necessitaram de
ajuda externa (em especial, dos EUA) para se reer-
guerem, ao mesmo tempo que, aos poucos, foram
perdendo domínios coloniais. Inúmeras lutas de A respeito das lutas de liberta-
ção colonial na Ásia, assista ao
libertação colonial tiveram lugar entre os anos 1950 filme Gandhi (direção de Richard
e 1990. Em alguns países, isso aconteceu antes, Attenborough, 1982), sobre a
vida do líder da libertação colo-
como no caso da Índia, que se libertou do domínio
nial da Índia.
colonial britânico em 1947.
UNIDADE 3 67

Nesse processo, o mapa-múndi político novamente se modificou: surgiram novos


Estados independentes na África e na Ásia. Povos foram reunidos ou separados por
fronteiras estabelecidas ou reforçadas pelos colonizadores. As linhas retas, comuns nas
novas fronteiras nacionais estabelecidas na África, são exemplos do resultado desse
processo que culminou com muitos conflitos no final do século XX e início do XXI.

© Dinodia Photos/Alamy/Glow Images


Mahatma Gandhi discursa para seguidores na luta pela libertação colonial da Índia. A independência foi conquistada em 1947, formando-se logo a
seguir dois Estados: Índia, com mais de 80% de adeptos do hinduísmo, e Paquistão, de maioria muçulmana. Gandhi foi assassinado no ano seguinte
por um militante nacionalista de crença hindu.

Atividade 2 Guerra Fria e conflitos no mundo

O mapa da próxima página apresenta um painel das relações de poder e de con-


flitos ocorridos no pós-2a Guerra Mundial. Examine o mapa e responda às questões.

1 Identifique os assuntos representados e o significado das cores e dos símbolos


utilizados no mapa. Depois, responda: Que tipo de mapa é esse?
68 UNIDADE 3

2 De acordo com o mapa, como o mundo estava organizado no período represen-


tado? Para responder, leve em conta o papel dos EUA e da URSS.

3 Cite exemplos de guerras e conflitos regionais associados aos quadros da Guerra


Fria. Pesquise a esse respeito em livros, jornais e sites e escreva o que compreendeu.

Guerra Fria e conflitos no mundo (1945-1989)

© crédito

BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009, p. 18. Tradução: Graziela Marcolin/ BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas du monde global. Paris:
Armand Colin/Fayard, 2008. Mapa original.

Obs.: Plano Marshall: plano de financiamento realizado pelos EUA para reconstrução da Europa no pós-2a Guerra Mundial.
UNIDADE 3 69

Guerra Fria, superpotências e conflitos no mundo


Os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) foram os dois grandes vitoriosos na 2a Guerra Mundial. No pós-
-guerra, predominou o poder e a influência dessas superpotências. No período
conhecido como Guerra Fria, cada uma liderava um bloco de países, com regimes e
ideologias distintos: capitalistas, Ideologia
com os EUA à frente, e socialis- Refere-se a ideias, valores e visões de mundo, em um
tas, liderados pelos soviéticos. sentido mais amplo. Nos estudos do filósofo alemão Karl
O socialismo real, como era cha- Marx (1818-1883), significa falsa consciência ou visão
mado, baseava-se em uma eco- invertida do real, um corpo de ideias produzido para
manter ou estabelecer relações de dominação em diferen-
nomia planificada e num regime
tes âmbitos sociais (por exemplo, entre classes sociais).
de partido político único.

Aos poucos, o poder dos conselhos populares


(sovietes), criados na Revolução Russa de 1917, que
Para saber mais sobre a
Revolução Russa de 1917 estabeleceu o regime socialista no país, foi sendo
e o socialismo real, assista retirado. Sob o governo de Josef Stalin (1924-1953), os
aos filmes: opositores foram perseguidos, presos ou mortos. A
• Reds (direção de Warren organização do socialismo na URSS passou por diver-
Beatty, 1981), sobre um sas modificações enquanto vigorou, entre os anos de
jornalista estadunidense
1917 e 1991.
em plena Revolução Russa.

• D r. Jivago (d i reção de O capitalismo, por sua vez, mesmo cedendo a algu-


David Lean, 1965), sobre mas reivindicações dos trabalhadores por direitos sociais,
a história de um médico não abandonou sua busca incessante por lucros e mer-
russo que viveu a implan-
cados, tornando a desigualdade social e econômica um
tação do regime soviético.
elemento permanente do sistema.

Tendo sido os dois blocos (capitalista e socialista) assim constituídos, seguiu-se


um período de permanente tensão no mundo. Mesmo sem confronto armado entre
os países-líderes, ambos participaram direta ou indiretamente de outros conflitos,
cada qual apoiando um dos lados. Sem pretender esgotar o tema, podem-se apre-
sentar, resumidamente, alguns destaques:

• Juntamente com Europa ocidental e Canadá, os EUA efetivaram a criação da


Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pacto político-militar de defesa
dos interesses capitalistas, atuando principalmente contra avanços socialistas.
A URSS criou o Pacto de Varsóvia, ao lado de países socialistas do Leste Europeu
(Polônia, Alemanha Oriental, Tchecoslováquia, Hungria e outros).
70 UNIDADE 3

• Estadunidenses e soviéticos investiram pesadamente em efetivos militares


e armas, em especial as nucleares. O poder de destruição das bombas atômicas
foi ampliado, e bases de lançamento de mísseis de longo alcance foram criadas.
Ambos desenvolveram equipamentos para a exploração espacial, com o lança-
mento de satélites artificiais e missões espaciais. Tais iniciativas ficaram conheci-
das, respectivamente, como corrida armamentista e corrida aeroespacial.
© Leslie Illingworth/Daily Mail, 29 out. 1962/
British Cartoon Archive, University of Kent

A charge satiriza Nikita Kruchev (à esquerda) e John Kennedy (à direita), líderes, respectiva-
mente, da URSS e dos EUA, durante a crise dos mísseis em Cuba, no ano de 1962.

• Um momento de grande tensão foi a crise dos mísseis, em 1962. Mísseis com ogi-
vas nucleares foram instalados pela URSS em Cuba, aliado soviético localizado a
apenas 180 km dos EUA. Um ataque aos estadunidenses teria retaliações, com alto
risco de conflito nuclear e efeito desastroso para a humanidade. Nenhum conflito
foi deflagrado, e o período seguinte foi chamado de coexistência pacífica, durante o
qual os dois lados assinaram acordos de redução de armas estratégicas.

• Os soviéticos criaram vínculos com países recém-saídos de guerras de libertação


colonial, como Angola e Moçambique. Para barrar o avanço comunista na Ásia, os
EUA invadiram o Vietnã, em um longo e sangrento conflito que terminou com a
vitória dos partidários do comunismo, apoiados pela URSS e pela China. Outro epi-
sódio com características similares foi a Guerra da Coreia, que só terminou com a
divisão do país em Coreia do Norte, comunista, e Coreia do Sul, capitalista e aliada
do Ocidente. Até hoje, há um foco de tensão na região, com ameaças de uso de
armas atômicas pelos norte-coreanos.

• Ao longo dos anos 1980, os soviéticos ocuparam o Afeganistão. A intervenção bus-


cava salvar o então regime pró-socialista e evitar instabilidades em um país situado
em suas fronteiras na Ásia central. Depois de anos de conflito, os soviéticos saíram
derrotados por combatentes apoiados pelo Ocidente.
UNIDADE 3 71

Após instabilidades no campo


econômico, as reformas implemen-
Há vários filmes inspirados na Guerra do Vietnã.
tadas na URSS ao longo dos anos
Assista, se possível, a dois deles:
1980 não foram suficientes para
evitar a derrocada do regime em • Bom dia, Vietnã (direção de Barry Levinson,
1987), que narra a história de um radialista em
1991. Ela foi precedida, em 1989,
plena Guerra do Vietnã.
pela queda do Muro de Berlim, na
• Platoon (direção de Oliver Stone, 1986), filme
Alemanha, que havia sido erguido
narrado por um jovem soldado que, ao se alistar
nos anos 1960 pelo regime comu- voluntariamente para lutar no Vietnã, passa a
nista alemão oriental. contar sobre o cotidiano da guerra, permeado por
confrontos militares.
Em vista disso, seguiram-se
Sobre o desmoronamento do socialismo real na
intensos debates sobre a natureza da
antiga Alemanha Oriental, assista ao filme:
“nova ordem mundial” que se insta-
• Adeus, Lenin! (direção de Wolfgang Becker, 2003).
lava. Para alguns, haveria uma ordem
Em tom bem-humorado, o filme narra a história
unipolar, ou seja, de predominância de uma mulher que entra em coma na Alemanha
político-militar de uma única super- Oriental e não vê o desmonte do regime socialista.
Seu filho, temendo pelo estado de saúde da mãe,
potência: os Estados Unidos. Para
faz de tudo para que ela não perceba as mudanças
outros, seria multipolar, com múlti- em curso quando ela sai do coma.
plos centros de poder no mundo.

Os que defendem a tese de uma ordem unipolar afirmam que os estaduni-


denses teriam ficado mais livres para defender seus interesses geopolíticos.
Nos anos 1990, eles continuaram a
Geopolítica
desenvolver sucessivas ações mili-
Dimensão espacial das relações de poder, de
tares, pressionaram governos ou controle de territórios e uso, ainda que eventual,
colaboraram para destituí-los. de forças armadas entre Estados nacionais.

Aqueles que apoiam a ideia de uma ordem multipolar dizem que a Rússia, potên-
cia militar e principal herdeira do aparato militar aeroespacial soviético, também
estava interferindo em conflitos pelo mundo (como no Cáucaso, instável região ao
sul da Rússia). Eles ainda lembram que, nos anos seguintes, além da União Europeia
e do Japão, começaram a se destacar também as chamadas economias emergentes:
China, Índia e Brasil.

Desse modo, o final da Guerra Fria não trouxe paz nem desarmamento. Alguns con-
flitos se encerraram e outros surgiram, com novos atores e novas motivações. Os
equipamentos militares se sofisticaram, assim como os meios de se obter e usar
informações. Os gastos militares nunca cessaram nos países e, em muitos casos,
até aumentaram.
72 UNIDADE 3

Estima-se que o movimento do comércio mundial de armas convencionais beira os 80 bilhões de


dólares por ano. Mas esse valor, somado a outras finalidades de mercado e de serviços bélicos,
pode ultrapassar o montante de 460 bilhões de dólares anuais. Segundo cálculos de especialistas,
para se reduzir, à metade, a pobreza mundial até o ano de 2015, os gastos anuais ficariam entre
135 e 195 bilhões de dólares, valor muito inferior ao gasto com armas e serviços bélicos.
Fontes: BRANDÃO, Renato. Ricos, poderosos, sem limites. O trilionário negócio das armas.
Revista do Brasil, 22 set. 2014. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/
revistas/91/ricos-poderosos-e-sem-limites-2814.html>. / ONU afirma que países ricos poderiam acabar com a miséria no mundo se arcassem com a ajuda prometida. Quem
Acontece. Disponível em: <http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI48436-9531,00-ONU+AFIRMA+QUE+PAISES+RICOS+PODERIAM+ACABAR+COM+A+
MISERIA+NO+MUNDO+SE+ARCAS.html>. Acessos em: 22 set. 2014.

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Analisando o mapa-múndi político


1 Você deve ter percebido que o mapa traz a divisão política do mundo atual. Além disso, é possí-
vel reconhecer que as cores servem para identificar e diferenciar os limites dos Estados nacionais.

2 Você certamente notou que há países de diferentes tamanhos, alguns muito extensos, como a
Rússia, e outros pequenos, como os países-ilhas do Oceano Pacífico.

3 Resposta pessoal. Você deve ter notado que a maior ou menor extensão dos países está asso-
ciada aos processos de conquista e expansão territorial e ao domínio de alguns povos sobre outros.

Atividade 2 – Guerra Fria e conflitos no mundo


1 Analisando o mapa, você deve ter notado que é apresentado um panorama mundial dos con-
flitos no período de 1945-1989, conhecido como Guerra Fria. Com base nele, é possível perce-
ber a divisão do mundo segundo os blocos capitalista e socialista e seus respectivos aliados.
É possível ver também a presença de armas nucleares no conflito (no canto superior direito há um
gráfico apresentando dados importantes sobre esse tema). O mapa traz ainda a intervenção dos
países-líderes (EUA e URSS) em crises ou conflitos armados envolvendo diversos países do mundo.
As cores designam os grupos de países; os símbolos e sinais gráficos destacam conflitos, armas e
intervenções. Esse tipo de mapa é qualitativo, pois não está representando quantidades, mas sim,
elementos distintos e dinâmicos, porque evidenciam o movimento desses conflitos a partir de setas.

2 Baseando-se em seus estudos sobre a Guerra Fria, sua resposta deve ter informado que o
mundo estava dividido predominantemente de maneira bipolar, ou seja, que ele estava organi-
zado em dois blocos de países – capitalistas e socialistas – liderados respectivamente por EUA
e URSS. As duas superpotências detinham grande poderio militar. Isso pode ser visto no mapa
pelos tons de vermelho e laranja (áreas de influência soviética) e tons de azul (áreas de influên-
cia estadunidense).

3 Sua pesquisa deve ter trazido alguns exemplos dos diversos conflitos originados da influência
ou intervenção direta das superpotências e dos aliados. Entre eles, você pode ter citado os casos
da Guerra do Vietnã (1961-1975), das invasões dos EUA na América Latina, da participação da
URSS na descolonização de Angola e Moçambique e da intervenção soviética ao Afeganistão no
final da década de 1970.
UNIDADE 3 73
74

T E M A 2 Conflitos e tensões no mundo atual

Dados recentes mostram que houve redução significativa de confrontos violen-


tos em algumas regiões, como na Europa e no continente americano. Entretanto,
não há paz: há intensos conflitos em regiões da África e da Ásia, e muitos deles se
dão internamente nos países, em um cotidiano de disputas e conflitos com o uso
de armas.

Você já ouviu falar de algum conflito político interno ou de alguma guerra entre
países que esteja ocorrendo no mundo neste momento? Escolha um ou dois exem-
plos e responda: O que motivou esse(s) episódio(s)? Quem está envolvido nele(s)?
Quais são os seus efeitos, tanto no passado recente como no momento atual?
Escreva suas reflexões nas linhas a seguir.

Atividade 1 Conflitos armados no mundo: um mapeamento

Observe o mapa da próxima página e responda às questões propostas.

1 Identifique o tema do mapa e o que significam as cores e os sinais gráficos.

2 Segundo o mapa, quais são os principais tipos de conflito no mundo atual?

3 Destaque duas áreas afetadas por conflitos no mundo atual.


UNIDADE 3 75

CONFLITOS ARMADOS DURANTE O ANO 2012

Rússia/Geórgia
Chechênia (Rússia)
Armênia/Azerbaijão
Coreia do Norte/Coreia do Sul
Afeganistão
Paquistão
Norte do México
Transnístria (Moldávia) Índia/Paquistão
Abkházia, Ossétia do Sul (Geórgia) Caxemira (Índia) China/Taiwan
Curdistão (Turquia)

Argélia Iraque Karens, Shans e Kachins (Mianma)


Israel/
Marrocos/Saara Ocidental Autoridade Palestina/
Tuaregues (Mali) Líbano Índia Mindanao (Filipinas)
Etiópia/
Eritreia
Darfur
(Sudão)
Iêmen
Colômbia
Puntlândia e Somalilândia (Somália)
Somália Pattani (Tailândia)
Delta do Níger Etiópia/Somália
(Nigéria)
República Sudão do Sul
Democrática Uganda
do Congo
República Democrática do Congo
/Ruanda/Uganda
Ateliê de cartografia da Sciences Po, 2012

Zonas de insegurança: territórios nos quais


o Estado não exerce mais o monopólio da Presença de grupos armados
violência e onde grupos armados contestam a que contestam a autoridade
autoridade do Estado (guerrilhas, milícias, do poder vigente
grupos armados, piratas etc.)
Movimentos separatistas Tensões interestatais susceptíveis
Conflitos latentes ou autonomistas armados de degenerar em conflito armado

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Mapa original. Tradução: Benjamin Potet.

Refletindo sobre conflitos no mundo atual


Os dados do mapa acima trazem reflexões sobre a escalada dos conflitos no
mundo. Embora em menor número, persistem tensões interestatais (entre países). É o
caso, por exemplo, da disputa entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, que se prolonga
desde os anos 1950: os primeiros, pobres e socialistas, apoiados pela China, amea-
çam com armas nucleares a Coreia do Sul, capitalista, aliada do Ocidente. Paquistão
e Índia, por sua vez, disputam a Caxemira, região de maioria islâmica ao norte do
território indiano. A tensão entre esses dois países é agravada pelo fato de que ambos
têm armas nucleares. Há também movimentos separatistas na Chechênia, na Geórgia,
em Mianmar e nas Filipinas, envolvendo grupos nacionais em luta pela emancipação
e pela criação de países independentes.

Portanto, um rápido exame dos episódios revela que hoje predominam confli-
tos internos, embora sempre tenham em torno de si alguma participação ou inte-
resse estrangeiro. Esses conflitos podem ter a configuração de violentas guerras
civis, como na Líbia e na Síria após 2011, ou rebeliões populares, como no Egito e na
Tunísia, que contestavam governos instalados há décadas no poder.

Esse mapeamento propicia reflexões sobre o significado dos conflitos atuais.


A paz não é simplesmente a ausência de guerras. O Zimbábue, por exemplo, não está
76 UNIDADE 3

em guerra com outro país nem vive conflito interno, mas Robert Mugabe governa
o país desde 1980, reelegendo-se com fortes suspeitas de fraudes. Não há guerra,
mas o país vive uma verdadeira crise humanitária.

Nos conflitos atuais, cresce a participação dos grupos identificados como terro-
ristas, não ligados oficialmente a nenhum país. Eles mantêm bases de treinamento
em diversos territórios e usam meios de comunicação para articular suas ações. São
grupos transnacionais, como a Al Qaeda, organizados em redes globais que ultrapas-
sam fronteiras. Sua ação não pode ser analisada da mesma forma que os conflitos
do século XX: não são confrontos entre dois ou mais exércitos regulares nacionais.

Deve-se assinalar a presença de interesses e formas de intervenção das gran-


des potências nos conflitos. Os EUA, por exemplo, são uma espécie de “polícia do
mundo”: sempre intervêm quando acham que seus interesses econômicos e proje-
tos geopolíticos estão em risco.

As guerras e os conflitos armados são danosos para as sociedades. Muitos mor-


rem com os bombardeios ou vítimas da fome e de doenças. Os confrontos devastam
ambientes e destroem cidades, plantações, infraestruturas, atividades econômicas e
patrimônios históricos. Muitas vezes, vítimas dos conflitos são obrigadas a se refu-
giar em outros países, passando a viver em abrigos precários e superlotados.

Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR),


agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados, apenas no ano
de 2011, aproximadamente 4,3 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar em
função de conflitos, guerras ou perseguição política em todo o mundo.

Artigos de opinião e Reportagens

Os artigos de opinião, em geral, são organizados da seguinte maneira: identificação do tema


e, na sequência, tomada de posição pelo autor. Essa posição é a tese defendida, que, por sua
vez, deverá ser justificada e sustentada com argumentos. São textos nos quais há apresenta-
ção ou confronto de ideias, explicações, comentários, crenças e valores.

As reportagens, por sua vez, são textos expositivos que pretendem explicar algum assunto,
ajudando a defini-lo de forma a favorecer a compreensão do leitor pouco familiarizado com
a temática abordada. Algumas reportagens podem ser também argumentativas, tais como os
artigos de opinião.
UNIDADE 3 77

Atividade 2 Estudo de caso: a Primavera Árabe e a questão síria

Os textos a seguir, um artigo de opinião e uma reportagem, foram extraídos de


publicações que apresentam matérias sobre conflitos políticos no mundo. Leia-os e
identifique os episódios dos quais eles tratam. Procure identificar os pontos de vista
dos autores, em especial no que se refere às causas dos conflitos e aos recursos utili-
zados pela população para se organizar. Em seguida, responda às questões propostas.

LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL / DOSSIÊ São Paulo, setembro de 2011

Primavera árabe Silvio Caccia Bava

O despertar do mundo árabe tem raí- [...]


zes profundas. Uma região que há décadas
é controlada por regimes ditatoriais que A Primavera Árabe, como é conhecido
reprimem a ferro e fogo toda manifestação este amplo movimento que já se estende
em defesa de direitos que venha a desesta- pela Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein, Síria,
bilizar relações de poder amplamente favo- Iêmen, Argélia, Jordânia, ao que parece,
ráveis às suas elites e aos interesses estadu- tem mais fôlego. Em alguns países levou à
nidenses e das antigas metrópoles coloniais guerra civil, em outros a reformas nos gabi-
ainda muito presentes na região. O que está netes e na legislação para evitar a revolu-
em jogo é o controle do petróleo. ção, em outros o impasse continua, sem
sabermos seu desenlace. [...]
Mas nem toda opressão leva a uma
revolta. É preciso que algo aconteça para De uma maneira geral estamos
detonar um levante popular. No caso da vivendo um momento em que novos e
Tunísia, tudo começou quando um jovem vigorosos movimentos sociais estão que-
vendedor ambulante ateou fogo a si pró- rendo mudanças. [...] A Primavera Árabe
prio em protesto contra o confisco pela precisa ser melhor compreendida, ela traz
polícia das frutas e vegetais que ele vendia. os germens do novo.

Le Monde Diplomatique/Dossiê, set. 2011. Disponível em:<http://www.diplomatique.org.br/edicoes_especiais_editorial.php?id=6>. Acesso em: 18 ago. 2014.

NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL Julho de 2011

Conflitos no mundo árabe: chamas da mudança


Do norte da África ao Oriente Médio, mostrando os protestos com ambu-
uma nova geração – armada com celula- lantes foi postado no Facebook. A rede
res, redes sociais e muita determinação Al Jazeera, do Catar, transmitiu o vídeo.
– luta pela posse do seu futuro. [...] Em Os protestos na Tunísia recrudesceram
dezembro de 2010, na Tunísia, um ven- [tornaram-se mais intensos]. Em janeiro
dedor de frutas de 26 anos, humilhado de 2011, o presidente da Tunísia, no poder
pelos achaques de policiais e por um havia 23 anos, fugiu. Em um mês, o pre-
Estado corrupto e conivente, ateou fogo sidente do Egito desde 1981 também caiu
em si mesmo. Um vídeo feito com celular – o estopim para outras revoltas.

National Geographic Brasil, n. 136, jul. 2011, p. 100, 102.


78 UNIDADE 3

1 De acordo com os textos, responda: O que é o movimento intitulado Primavera


Árabe?

2 Quais são os países envolvidos e as principais reivindicações dos manifestantes


nesse movimento? Se necessário, consulte um atlas geográfico para localizar os países.

3 Houve uso de novas tecnologias nos protestos? Qual é sua opinião sobre isso?
UNIDADE 3 79

Primavera Árabe: causas e desdobramentos


A partir de 2010, uma série de manifestações populares tomou conta de países
de maioria árabe e/ou muçulmanos na chamada Primavera Árabe. Elas surgiram em
regimes autoritários, isto é, países sem liberdades políticas e governados com “mão
de ferro” por ditadores que ficaram décadas no poder. Boa parte dessas sociedades
vinha sendo também fortemente afetada pelo desemprego, pela pobreza e pela falta
de perspectivas para sua população. Em 2011, as rebeliões levaram à deposição de
Ben Ali na Tunísia. A seguir, grandes manifestações na Praça Tahrir, no Cairo, e em
outras cidades derrubaram Hosni Mubarak, que governava o Egito desde 1981.

Após o período de transição, foram realizadas eleições no Egito, com a escolha


de Mohamed Mursi, do grupo islâmico Irmandade Muçulmana. Em uma associação
inédita entre militares – que nunca deixaram o poder – e a oposição política, Mursi
foi retirado do cargo e preso em seguida. Em parte, isso se deveu à recusa da maio-
ria da população em ter um governo pautado por orientações religiosas. Contudo,
essa deposição contraria princípios democráticos elementares.

A instabilidade no Egito é considerada motivo de preocupação mundial. O


país exerceu nos últimos anos o papel de representar interesses do mundo árabe,
atuando como mediador em Israel e nas potências ocidentais.

Na Líbia, uma sangrenta guerra civil levou à deposição e à execução de Muamar


Kadafi, que baseava seu poder nas ricas reservas de petróleo do país. Os rebeldes
contrários a Kadafi contaram com apoio militar da Otan (leia-se, Estados Unidos e
França – essa última é uma grande importadora do petróleo líbio).

A Líbia não tinha exército estruturado e influente no governo, como aconte-


cia no Egito, ou recortes religiosos importantes, como no caso de países do Golfo
Pérsico, entre os quais, o Barein. Ela apresentava, porém, identidades tribais e
divergências profundas entre as três províncias do país, quase sempre manipu-
ladas por Kadafi durante os 40 anos em que esteve no poder. O desafio atual é
restaurar a estabilidade política, ameaçada pela existência de diversas milícias
armadas, e reconstruir a unidade nacional.

As revoltas atingiram também Argélia e Marrocos e, no Golfo Pérsico, Barein,


Omã e Iêmen. Na Argélia, no Marrocos e em Omã foram feitas reformas políticas e
econômicas para conter os protestos. No Iêmen, o presidente Abdullah Saleh tam-
bém foi deposto, após 33 anos no poder. No Barein, os confrontos se deram entre
80 UNIDADE 3

os xiitas, que eram minoria, e os sunitas, que esta- Xiita e sunita


vam no poder. Houve forte repressão aos revoltosos,
Duas principais correntes do isla-
apoiada pela Arábia Saudita – que, por sua vez, foi mismo, que se formaram a partir
palco de manifestações menores, ocorridas também de disputas sobre a herança ou
no Irã, na Jordânia, no Kuwait e no Iraque. descendência do profeta Maomé
(Muhammad), fundador do Islã.
A situação na Síria se configurou em 2012 e Os xiitas (de Shiat Ali, filhos de
Ali) são maioria no Irã, no Iraque,
2013 como tragédia humanitária. Aliada da URSS,
no Barein e no Iêmen, e os sunitas
depois Rússia, e também do Irã, a Síria é gover- (de Sunna, uma das obras deixa-
nada desde 1970 pela família Al-Assad. O pai, das por Maomé a seus seguido-
Hafez, chegou ao poder com um golpe de estado. res) são majoritários no mundo
islâmico e predominam no Egito,
Desde essa época, os sírios se envolveram em inú-
na Arábia Saudita, na Jordânia, na
meros conflitos. Bashar, filho de Hafez, assumiu o Indonésia e em outros países.
poder no ano de 2000, à frente de um Estado forte-
mente armado e com numeroso exército.

O país foi atingido por levantes populares em 2011, que logo se converteram em
confronto armado entre grupos rebeldes, formados por amplo leque de facções que têm
apoio do Ocidente e também por ativistas ligados à Al Qaeda, e o governo, que conta
com o apoio interno de minorias islâmicas e cristãs e, no plano externo, do Irã, da
Rússia e da China. Russos e chineses vetaram sistematicamente sanções à Síria na ONU.
As sanções são um mecanismo adotado em relações internacionais para pressionar
regimes políticos ou governantes em situações de crise. Uma das sanções – o mesmo
que pena ou punição – existentes é a do embargo econômico, tipo de bloqueio das trocas
comerciais realizadas pelo país alvo das medidas.

No caso sírio, após negociações envolvendo a ONU, os EUA e a Rússia, a Síria


aceitou eliminar seu arsenal de armas químicas, feitas com gases letais para os
seres humanos. As medidas ocorreram após denúncias de uso dessas armas pelo
exército sírio em 2013.

Registrou-se a morte de mais de 110 mil sírios e 2 milhões de refugiados (10%


da população) entre 2011 e meados de 2013. Sírios em fuga abrigaram-se, sobre-
tudo, na Turquia, no Líbano, no Iraque e na Jordânia.

Geografia – Volume 1
Primavera Árabe
O vídeo apresenta o início dos conflitos internos e guerras civis em países do norte da África e do
Oriente Médio. Entenda a derrubada de governos autoritários na Tunísia, na Líbia, no Egito e como
isso suscitou manifestações em outros países árabes. Analise as relações atuais entre o poder
político e o islamismo e o interesse das intervenções internacionais nesses países.
UNIDADE 3 81

Atividade 3 Estudo de caso: conflitos no Oriente Médio

Expor e debater a natureza dos conflitos no Oriente Médio é uma tarefa com-
plexa. Berço de culturas milenares e de três grandes religiões (judaísmo, cristia-
nismo e islamismo – ou religião muçulmana), a região foi dominada por chefes
árabes, turcos otomanos e colonizadores franceses e ingleses. Por isso mesmo, sua
história é repleta de lutas e resistências. Essa história se tornou mais complexa
após descobertas de reservas de petróleo, que acabaram por acirrar as disputas no
“xadrez” geopolítico que ali se desenrola.

Sobre conflitos e tensões entre israelenses e palestinos, observe o quadro e o


mapa a seguir.

Conflito árabe-israelense: uma cronologia


1948-49 – Criado o Estado de Israel. Início de guerra 1994 – Arafat retorna aos territórios ocupados. Israel
com Líbano, Síria, Jordânia e Egito. Vitória de Israel. e Jordânia assinam acordo de paz. O Prêmio Nobel
da Paz é dado a Arafat, Yitzhak Rabin e S. Peres.
1956 – Guerra de Suez: Israel, apoiado por França e
Reino Unido, declara guerra ao Egito. Ocupa Gaza. 1995 – Rabin é assassinado por extremista israelense.
1964 – É formada a Organização para a Libertação da 1998 – Acordo leva à retirada de Israel da Cisjordânia.
Palestina (OLP). Em 1969, Yasser Arafat torna-se seu
2000 – Tropas de Israel retiram-se do sul do Líbano.
líder. Em 1974, a OLP é reconhecida pela ONU como
Em julho, Israel e OLP falham ao iniciar novo acordo
representante do povo palestino.
de paz. Em setembro, dá-se a 2a Intifada.
1967 – Guerra dos Seis Dias: após meses de tensão,
2001 – Ariel Sharon é eleito primeiro-ministro de
Israel investe em ataque surpresa. Ocupa a Cisjordânia,
Israel. Este ocupa a Cisjordânia. George W. Bush,
Gaza, as colinas de Golã e o Sinai. [...]
Sharon e M. Abbas comprometem-se a novo acordo
1973 – Guerra do Yom Kippur: Egito e Síria atacam de paz.
sem sucesso o Sinai e as colinas de Golã. [...]
2002 – Israel inicia a construção de um muro sepa-
1978 – O presidente egípcio Anuar Sadat e o primeiro- rando cidades palestinas de assentamentos de colo-
-ministro israelense Menachem Begin assinam acor- nos judeus na Cisjordânia.
dos de paz em Camp David (EUA). Ambos ganham
2004 – Sharon inicia retirada de colônias judaicas
o Prêmio Nobel da Paz. O Sinai é devolvido ao Egito,
em Gaza. Arafat morre num hospital de Paris.
mas Israel ocupa o sul do Líbano.
2006 – O grupo Hamas conquista o poder em Gaza.
1981-82 – Anuar Sadat é assassinado. Israel anexa
No ano seguinte, ocorrem conflitos com Israel.
as colinas de Golã ao seu território e invade o
Líbano. A OLP retira-se para a Tunísia. 2008-10 – Fracassam tentativas de reconciliar o
Fatah e o Hamas. Há uma cisão, em clima de guerra
1987 – Intifada: estoura a revolta palestina contra a
civil.
ocupação israelense.
2011 – Mahmoud Abbas discursa na ONU, reivindi-
1988 – OLP reconhece soberania de Israel sobre 78% do
cando o ingresso da Palestina como membro pleno na
território histórico da Palestina e proclama o estabeleci-
organização.
mento de um Estado palestino independente.
2014 – Ocorre uma aproximação entre os grupos
1990 – Cai a URSS e aumenta a migração de russos
Fatah (que governa a Cisjordânia) e Hamas (que
para Israel (187 mil em um ano).
governa a Faixa de Gaza). Tropas israelenses em
1993 – Acordos de Oslo: OLP e Israel assinam Decla- guerra com o Hamas invadem Gaza, e mais de 2 mil
ração dos Princípios pela Paz. Os acordos preveem a pessoas são mortas.
criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Fontes: SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. Tradução: Carmen Olivieri e Regina Aparecida de Melo Garcia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2007, p. 64-65./
ISRAEL x Palestinos. O Estado de S. Paulo, Acervo. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,israel-x-palestinos,888,0.html>. Acesso em: 21 out. 2014.
82 UNIDADE 3

Voronezh Aktyubinsk
Kharkiv
Lviv

O Golfo e seu entorno geoestratégico, situação em 2010 Donetsk


RÚSSIA Atyrau
MOLDÁVIA Odesa UCRÂNIA Rostov-on-Don
Astracã CASAQUISTÃO QUIRGUISTÃO
ROMÊNIA Elista
Krasnodar
Bucareste
Cherkessk
Sebastopol Maikop
Grozny
SÓFIA MAR NEGRO Makhachkala Noukous
BULGÁRIA GEÓRGIA TBILISSI UZBEQUISTÃO
Ourgentch
SKOPJE Istambul BAKU
IEREVAN
Salônica
Bursa
TURQUIA ARMÊNIA AZERBAIJÃO Samarcanda
ANKARA TURCOMENISTÃO
Izmir Kayseri MAR Türkmenabat
ATENAS CÁSPIO
Konya Mary
Adana Gaziantep ASHKHABAD

Ti
Tabriz

gr
GRÉCIA Mazar-i-Sharif

e
Mersin Mosul Gorgan
Mashhad
Alepo SÍRIA TEERÃ
NICÓSIA
Eu Kirkuk Herat
CHIPRE BEIRUTE
fra Kermanshah Qom
Mar Mediterrâneo LÍBANO tes
DAMASCO
Sexta Frota ISRAEL BAGDÁ Natanz 150 000
dos Estados Unidos
IRAQUE
TEL AVIV 50 000 Ahvaz AFEGANISTÃO
AMÃ Isfahan
TERRITÓRIOS PALESTINOS Jerusalém
Alexandria Abadan IRÃ Kandahar
Suez JORDÂNIA Basra Kerman
CAIRO Shiraz
KUWAIT Quetta
Realização: Roberto Gimeno e Ateliê de cartografia da Sciences Po. © Dila, Paris, 2010

Zahedan
1 Bushehr
GOLFO
Bandar-e ’ Abbas PAQUISTÃO
BAREIN
N

Buraidah
EGITO
ilo

Dammam 2 CATAR
LÍBIA 3 DOHA
Medina Dubai
Assuan RIAD Karachi
ABU DHABI
Haradh EMIRADOS MASCATE
MAR
ÁRABES UNIDOS
Jeddah Meca OMÃ Quinta Frota
ARÁBIA
SAUDITA dos Estados Unidos
VERMELHO
Abha
OCEANO ÍNDICO
SUDÃO
SANA Salalah
ERITREIA
CARTUM IÊMEN Diego Garcia
Kassala
ASMARA
El Obeid Áden
DJIBUTI
ETIÓPIA
DJIBUTI Escala no Equador
SOMÁLIA 0 1 000 km

País sujeito a embargo da comunidade internacional


Importação e exportação de armas
País beneficiário de ajuda financeira estaduninense
Países importadores em % do total de armas importadas no Oriente Médio
Centros de comando: KUWAIT 1,2
1 – Kuwait: comando avançado das forças terrestres do Comando
Central Americano (CentCom) OMÃ 2,3
2 – Barein: posto de comando da Quinta frota dos Estados Unidos JORDÂNIA 3,2
3 – Catar: Quartel general e base CentCom das forças aéreas IÊMEN 3,7
Bases permanentes estaduninenses IRAQUE 4,5
IRÃ 4,5
Bases francesas ARÁBIA SAUDITA 5,8
EGITO 12,3
Zonas de tensão altamente estratégicas TURQUIA 12,7
ISRAEL 19,0
Atos frequentes de pirataria marítima EMIRADOS ÁRABES 29,6
UNIDOS
Central Outras instalações nucleares Outros 1,2
nuclear
Principais países exportadores em % do total de armas exportadas para
ISRAEL Estado com armamento nuclear o Oriente Médio
Jazidas de petróleo FRANÇA 16,1
ESTADOS UNIDOS 53,6
Número de militares recrutados pelos Estados Unidos da América DA AMÉRICA
e em coalizões internacionais
Fontes: www.centcom.mil/en/countries/coalition/; http://www.whitehouse.gov/infocus/iraq/news/20030327-10.html; World Energy Atlas 2004, The Petroleum Economist Ltd;
http://books.sipri.org/files/misc/SIPRIBP097.pdf

ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/en/golfe-environnement-g-ostrat-gique>. Acesso em: 21 out. 2014.
Mapa original. Tradução: Benjamin Potet.
UNIDADE 3 83

1 Registre as relações entre israelenses e palestinos quanto aos conflitos, ao con-


trole de territórios e aos esforços de paz. Se necessário, cite passagens da cronologia.

2 Localize no mapa as jazidas de petróleo e as zonas de tensão no Oriente Médio.


Por que elas são consideradas estratégicas?

3 Observando o mapa, o que se pode afirmar sobre a presença de potências ociden-


tais na região? Em relação a isso, o que há em comum entre Iraque e Afeganistão?

Conflitos e tensões no Oriente Médio


Entre os diferentes conflitos e tensões em curso no Oriente Médio, sobressai
a luta entre palestinos e israelenses, uma das mais duradouras e complexas em
todo o mundo. Recuando © Ton Koene/age fotostock/Easypix

um pouco no tempo, é pos-


sível ver que as disputas
entre eles surgiram com a
criação do Estado de Israel
em 1948, como delibera-
ção da ONU pela morte de
milhões de judeus na 2 a
Guerra Mundial.

À época, a proposta era


de partilha da Palestina,
Ao fundo, assentamento israelense instalado nas proximidades de Ramallah, na
área sob controle britânico. Cisjordânia.
84 UNIDADE 3

A partir daí, sucederam-se conflitos, ataques mútuos e medidas israelenses de


expansão territorial, embora tenham sido muitas as conversações entre líderes da
Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e governantes de Israel, assim como
tentativas de acordos de paz. Mas ainda há inúmeros fatores a superar: o grupo
Hamas exerce forte oposição aos acordos, e os governos de Israel seguem instalando
colônias judaicas na Cisjordânia.

Outros casos a mencionar na conflituosa


região do Oriente Médio são os do Iraque,
Para acessar mapas sobre a evolução
Irã e Afeganistão e do povo curdo. Os dois dos conflitos entre palestinos e israelen-
primeiros envolveram-se em uma guerra ses e o controle de territórios a partir de
que durou oito longos anos (1980-1988). 1948, consulte:

O Iraque ainda sofre efeitos das Guerras • ATELIER de Cartographie de Sciences


Po. Disponível em: <http://cartographie.
do Golfo (1990-1991 e 2003), lideradas pelos
sciences-po.fr/fr/isra-l-fronti-res-1947-
EUA, que, por sua vez, mantiveram efetivos 2007>. Acesso em: 22 set. 2014.
militares no território iraquiano até 2011.
• SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mun-
Nesse percurso, o líder Saddam Hussein foi
diais. Tradução: Carmen Olivieri; Regina
deposto, condenado e executado, e houve Aparecida de Melo Garcia. São Paulo:
acirramento dos conflitos entre xiitas e suni- Cia. Editora Nacional, 2007.
tas, que se desenrolam até hoje.

O Irã corresponde à antiga Pérsia. É um país muçulmano, de maioria xiita, mas


de população não árabe. Tornou-se Estado teocrático (ou seja, baseado em precei-
tos religiosos) em 1979, com a revolução dos aiatolás, líderes islâmicos. Nos últi-
mos anos, os iranianos viveram sob governo conservador, que procurou desafiar o
Ocidente e calar opositores internos.

A situação do país é assunto de debates e fóruns internacionais, pois há suspei-


tas de que os iranianos estejam desenvolvendo um programa nuclear secreto. Os
alvos preferenciais seriam Israel (que também tem armas nucleares) e o Ocidente.
Em 2013, a eleição de um novo governante foi vista como uma possibilidade de
facilitar a visita de inspetores da ONU para fiscalizar o programa nuclear do país.
Isso foi estabelecido em acordo provisório que permite o acesso dos inspetores às
instalações daquele país.

O Afeganistão ainda tem tropas dos EUA em seu território. País de grande
diversidade cultural, ele convive há três décadas com invasões estrangeiras, gol-
pes de estado e atentados, desde a intervenção da URSS nos anos 1970. Em 1996,
o grupo extremista Talibã conquistou Cabul, a capital, e ganhou poder. Dois anos
depois, controlava 90% do país, implantando ali um opressivo regime baseado em
sua visão da sharia (a lei islâmica).
UNIDADE 3 85

Esse quadro afetou em especial mulheres e ativistas políticos, com repres-


são, mortes, condenações arbitrárias, censuras à imprensa e à produção artística.
O regime caiu em 2001, com os ataques dos EUA e aliados. Estes acusavam o Talibã
de abrigar Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, e outros membros dessa organi-
zação terrorista. Posteriormente, os estadunidenses permaneceram no país, mais
uma vez ocupando e controlando territórios, segundo seus interesses geopolíticos.

Após o período conflituoso, as tropas estrangeiras ainda permaneceram no país,


mas houve a escolha de um líder moderado. A partir do território afegão, em 2011,
uma missão estadunidense chegou ao Paquistão. Lá, capturou e executou Osama bin
Laden. Mesmo com a retirada de solda-

© Denis Sinyakov/Reuters/Latinstock
dos estrangeiros, o retorno à vida normal
está distante e o Talibã continua atuando,
agora como milícia insurgente. Há ainda
muitos refugiados, abrigados em boa
parte no Paquistão. Note-se a posição
estratégica do território afegão, situado
em uma encruzilhada próxima da Rússia
e da China e com extensas fronteiras com
Crianças em distrito no sul do Afeganistão observam soldados
Irã e Paquistão. canadenses em patrulha no país no ano de 2010.

Os curdos formam uma antiga e numerosa comunidade nacional, mas que não
conseguiu formar um país independente nos arranjos feitos após a 1a Guerra Mundial.
Na época, o Curdistão integrava o Império Otomano, desfeito após o conflito. Atual-
mente, quase 40 milhões de curdos vivem espalhados pela Turquia, pela Síria, pelo Irã
e pelo Iraque, além dos que migraram para a Europa.

Outros conflitos no mundo

Outros conflitos também ocorrem na África, ao sul do Saara. Por ora, vale a
pena fazer alguns registros sobre a região:

• Aindapreocupam situações como as da Somália, da República Democrática do


Congo (RDC) e do Mali. A Somália está hoje dilacerada e sem comando político
e é alvo da ação de grupos terroristas e piratas nas costas do Oceano Índico. A
RDC viveu nos anos 1990 e no início do século XXI sangrentos conflitos políticos,
com quase 4 milhões de mortos, o maior número já registrado em conflitos após a
2a Guerra Mundial. No Mali, aproximadamente metade do território foi tomado por
grupos rebeldes.

• Algunspaíses da África Subsaariana têm dado exemplos de superação de seus gra-


ves problemas políticos, econômicos e sociais, entre eles, a África do Sul, com o fim
86 UNIDADE 3

do apartheid (palavra da língua dos bôeres, os colonizadores, que significa separação,


em português), regime de segregação racial que durou décadas. A luta foi liderada por
Nelson Mandela e outros ativistas. Melhorias sociais e econômicas e certa estabili-
dade política são observadas na África do Sul, Angola, Gana, Quênia e Tanzânia.

• Burundi e Moçambique criaram programas efetivos de prevenção de doenças. Segundo


o relatório O Estado da População Mundial de 2011, publicado pela ONU, há registros
de queda no número de infectados pelo vírus HIV entre 2001 e 2012 em Botsuana, na
Costa do Marfim, em Eritreia, na Etiópia, no Gabão, em Gana e em outros países.

Não há soluções fáceis e de curto prazo para conflitos como os citados. Eles se
somam a desafios como a ação das redes terroristas e os circuitos do crime organizado
global, que geram violência e provocam mortes. Os chefes de Estado devem buscar solu-
ções diplomáticas, evitando o uso das armas. Organizações sociais também têm papel a
cumprir, pressionando governos por mais democracia e respeito aos direitos humanos.

O ACNUR foi criado em 1950 para proteger e dar assistência a refugiados víti-
mas de perseguição (em função de etnia, religião, nacionalidade ou opção política),
de violência e de intolerância. Desde essa época, já ajudou mais de 50 milhões de
pessoas, convertendo-se em uma das principais agências humanitárias do mundo.
Publica o relatório Tendências Globais, com dados e ações voltadas a comunidades
mais atingidas.

Saiba mais detalhes consultando o portal e os documentos da agência em


<http://www.acnur.org/t3/portugues/> (acesso em: 22 set. 2014). Confira como é a
participação do Brasil, país apontado como “generoso e solidário”.

No mundo árabe, países governados há décadas por regimes políticos centralizadores con-
tabilizam metade da população com menos de 30 anos; desses, 56% tem acesso à internet.
Sentindo-se sem perspectivas de futuro e diante da estagnação da economia, esses jovens
incubam vírus sedentos por modernidade e democracia. Em meados de dezembro, um tuni-
siano de 26 anos, vendedor de frutas, põe fogo no próprio corpo em protesto por trabalho, jus-
tiça e liberdade. Uma série de manifestações eclode na Tunísia e, como uma epidemia, o vírus
libertário começa a se espalhar pelos países vizinhos, derrubando em seguida o presidente do
Egito, Hosni Mubarak. Sites e redes sociais – como o Facebook e o Twitter – ajudaram a mobili-
zar manifestantes do norte da África a ilhas do Golfo Pérsico.

SEQUEIRA, C. D.; VILLAMEA, L. A epidemia da Liberdade. Istoé Internacional. 2 mar. 2011 (adaptado).
UNIDADE 3 87

Considerando os movimentos políticos mencionados no texto, o acesso à internet permitiu


aos jovens árabes
a) reforçar a atuação dos regimes políticos existentes.
b) tomar conhecimento dos fatos sem se envolver.
c) manter o distanciamento necessário a sua segurança.
d) disseminar vírus capazes de destruir programas de computadores.
e) difundir ideias revolucionárias que mobilizaram a população.
Enem 2011. Prova azul. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/01_AZUL_GAB.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Conflitos armados no mundo: um mapeamento


1 Sua análise certamente indicou que o mapa mostra os conflitos armados no mundo em 2012.
Você deve ter visto o que significam as cores e os sinais gráficos na legenda, presentes na parte infe-
rior do mapa. O círculo azul, o triângulo roxo e o retângulo amarelo identificam os tipos de conflito;
as manchas em laranja em diferentes tons indicam as zonas de insegurança e de conflitos latentes.

2 Lendo o mapa, você deve ter notado que estão destacadas as zonas de insegurança (quando o
monopólio da violência pelo Estado é desafiado por grupos armados – guerrilhas, milícias parami-
litares, piratas), conflitos que afetam a população civil, movimentos separatistas ou nacionalistas
e tensões interestatais diversas. Estão destacadas também as zonas nas quais os conflitos foram
suspensos, mas podem retornar caso as tensões aumentem.

3 Você deve ter observado que, entre as áreas afetadas, estão faixas da África Subsaariana, o
Afeganistão, o subcontinente indiano, o Sudeste Asiático e países do Oriente Médio. Na América
do Sul, há zonas de conflito na Colômbia (embate entre Estado e guerrilhas) e no Peru (tensão asso-
ciada às disputas socioambientais).

Atividade 2 – Estudo de caso: a Primavera Árabe e a questão síria


1 Após ter lido os textos, você pode ter inferido que a Primavera Árabe se refere a revoltas popula-
res, algumas convertidas em guerra civil, ocorridas em países do norte da África e do Golfo Pérsico.

2 Com base nos textos, você observou que, entre os países envolvidos, estão Tunísia, Egito e
Líbia, no norte da África; e Iêmen, Barein, Síria e Jordânia, no Oriente Médio. Você pôde concluir,
portanto, que os manifestantes se insurgiram contra a falta de liberdades políticas e a situação de
pobreza e desemprego nos países.

3 De acordo com os textos, você deve ter respondido que os revoltosos utilizaram a internet e as
redes sociais para convocar e organizar protestos. Sobre o uso dessas novas tecnologias nessas situa-
ções e baseando-se nos textos e em seus estudos do Tema 2, você pôde dar sua própria opinião.

Atividade 3 – Estudo de caso: conflitos no Oriente Médio


1 Provavelmente sua resposta contemplou as seguintes informações: houve uma sucessão de
guerras e posses de territórios ao longo dos conflitos (Suez, Seis Dias, Yom Kippur etc.), com ane-
xações feitas por Israel, e tentativas de acordos de paz, como os de Oslo e Camp David, mas sem
solução definitiva para os conflitos.
88 UNIDADE 3

2 Você pôde ver na legenda do mapa que as jazidas de petróleo estão representadas pela cor
verde. Assim, as principais reservas de petróleo estão no leste da Península Arábica, nos territórios
da Arábia Saudita, do Kuwait, dos Emirados Árabes Unidos, do Catar, do Iraque e do Irã. As zonas
de tensão estão representadas por hachuras de cor vermelha, entre a cidade de Dubai e o Irã, e
entre a cidade de Djibuti, o Iêmen e a Arábia Saudita. Algumas dessas áreas são passagens estraté-
gicas de navios petroleiros.

3 A partir da legenda do mapa, você deve ter visto que há bases militares e frotas dos EUA (repre-
HORA DA CHECAGEM

sentadas por um círculo azul com uma estrela no centro), assim como bases da França (representadas
por um círculo vermelho e azul), revelando a presença e os interesses das potências nessa região
conturbada, além de rica em petróleo. Você também deve ter notado que Iraque e Afeganistão são
dois países que ainda contam com efetivos militares estadunidenses em seus territórios.

Desafio
Alternativa correta: e. A internet foi uma ferramenta utilizada para mobilizar as populações.
GEOGRAFIA
NATUREZA, SOCIEDADE E URGÊNCIAS AMBIENTAIS
Unidade 4
TEMAS
1. Aquecimento global e mudanças climáticas
2. Gestão da água no mundo
3. Biomas, biodiversidade e proteção ambiental

Introdução
Esta Unidade examina as interações entre clima, relevo, águas, solos, plantas
e animais, que resultam em diferentes ambientes naturais na superfície terrestre.

A Terra é um grande sistema Glossário


natural, movido pela energia do
Atmosfera
Sol, que se divide em subsistemas:
Camada de gases que envolve o planeta Terra
atmosfera, hidrosfera e litosfera. Na (nitrogênio, oxigênio, gás carbônico etc.). Seu dina-
interação entre eles está a biosfera, mismo é dado por variações de pressão e tempera-
tura e por movimentos de massas de ar quentes e
a esfera da vida. Mesmo estudados
frias, que influenciam tipos de clima e variações no
separadamente, eles são integra- tempo.
dos, interdependentes e, juntos,
Hidrosfera
f o r m a m a s b a s e s n a t u ra i s d o
Conjunto formado pela água presente no pla-
espaço geográfico. neta Terra, em oceanos, superfícies continen-
tais, icebergs, camadas subterrâneas e pela água
Ao longo do tempo, as socieda-
que está na atmosfera, nesse caso sob a forma
des, cada qual à sua maneira, foram de vapor.
se apropriando da natureza para
Litosfera
garantir sua sobrevivência, criando
Camada de rochas que constitui a base sólida da
o u t ra n s f o r m a n d o e s p a ç o s d e superfície terrestre. Envolve a crosta terrestre conti-
vida: florestas, campos e savanas nental e oceânica e a camada inferior formada pelo
manto. Na superfície, surgem as formas de relevo.
deram lugar a cultivos e pastagens;
rios foram usados para abaste- Biosfera
cer e gerar energia ou como vias Esfera da vida, que surge na intersecção das
de transporte; cidades e estradas demais esferas. É formada por plantas, animais,
incluindo os seres humanos, e micro-organismos.
foram construídas etc.

Alguns efeitos dessas ações são altamente nocivos. O sinal de alerta soou nas
últimas décadas. Ficou evidente a existência de uma crise ambiental no planeta.
Isso está ligado aos padrões de desenvolvimento atuais. Porém, especialmente
90 UNIDADE 4

nas últimas quatro décadas, diversas ações humanas têm se dedicado a proteger
biomas e ecossistemas, tratar resíduos ou replantar espécies nativas.

Glossário
Bioma
Grande conjunto de formas de vida (plantas, animais, micro-organismos, todos em equilíbrio com
o meio físico). Visualmente, pode ser identificado pelo agrupamento de coberturas vegetais seme-
lhantes, dando-lhe um aspecto relativamente homogêneo. Por exemplo: floresta tropical, floresta
temperada, savana etc. Em sua extensão, cada bioma também apresenta condições climáticas
similares e história compartilhada de mudanças, resultando em diversidade biológica própria.

Ecossistema
Sistema natural integrado e com funcionamento próprio, que consiste em interações entre ele-
mentos bióticos (seres vivos) e abióticos (meio físico, inorgânico), com dimensões territoriais
que podem variar consideravelmente – de um tronco de árvore em decomposição em uma flo-
resta a um ambiente formado pela foz de um rio.
Fonte: IBGE. Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.

T E M A 1 Aquecimento global e mudanças climáticas

Este tema aborda dinâmicas atmosféricas e questões relativas ao chamado


aquecimento global e às mudanças climáticas. Mesmo cercadas de controvérsias,
elas estão entre os principais desafios no mundo atual.

Você já ouviu falar em aquecimento global ou mudanças climáticas? Em sua


opinião, o que são e quais são as suas causas? O que significam clima e tempo? Há
diferenças entre eles? Como é o clima onde você vive? Tem ocorrido ali algum tipo
de alteração climática nos últimos anos? Registre suas reflexões a seguir.
UNIDADE 4 91

Dinâmicas atmosféricas e interferências humanas


A atmosfera é a camada de gases que envolve a Glossário
Terra. Em especial na troposfera, a parte mais baixa Clima
da atmosfera, mais próxima à superfície, ocorrem Comportamento comum e
fenômenos climáticos variados e a constituição de habitual das condições atmos-
tipos de clima e variações do tempo. Isso é decisivo féricas em dada área (clima
tropical, polar, temperado etc.).
para os seres humanos e para a vida em geral. Quando se diz que um local é
quente e seco, significa que
Há variação na composição de gases na atmos-
temperaturas mais elevadas
fera, mas sua distribuição é relativamente uniforme e precipitações mais escassas
até 90 km de altitude, com aproximadamente 78% definem o clima da região.
de nitrogênio, 21% de oxigênio e parcelas menores de
Tempo
gás carbônico (CO2), também conhecido por dióxido de
Variação diária dos elementos
carbono, e outros gases. Além disso, há presença do clima (chuvas, temperatura,
de vapor-d’água, que é variável e provém do solo, das ventos, umidade do ar, pres-
são atmosférica etc.). Quando
plantas, dos rios ou oceanos, influenciando a distribui-
se diz “hoje vai chover” ou
ção de formas de vida. Existem ainda materiais como “amanhã vai esfriar”, está se
poeira e cinzas provenientes de erupções vulcânicas. referindo a variações do tempo
Tais materiais podem resultar também da atividade atmosférico.

humana, originados do uso de combustíveis fósseis.

A radiação solar é a principal forma de

Para acessar outras informações, entrada de energia no planeta. Ao atingir a


esquemas e figuras sobre as cama- superfície da Terra, ela é em parte absorvida,
das da atmosfera, consulte o portal
em parte refletida (irradiação terrestre) ou
do Centro de Divulgação Científica
e Cultural da Universidade de São transferida para um corpo qualquer.
Paulo em: <http://www.cdcc.sc.usp.
br/cda/aprendendo-basico/sistema- O gás carbônico e o vapor-d’água estão pre-
solar/terra.html#Heading19> (acesso sentes na atmosfera e são muito eficazes na
em: 18 ago. 2014).
absorção da energia emitida pela superfície ter-
restre. O resultado desse processo é o chamado
efeito estufa. Se não fosse a retenção de calor por gases da atmosfera, a temperatura
média no planeta seria muito mais baixa. Portanto, a ocorrência natural do efeito
estufa possibilita a vida na Terra.

A distribuição da radiação solar no planeta é desigual. A Terra possui um eixo


inclinado, o que faz com que os raios solares sejam mais concentrados em algumas
áreas. Assim, latitudes mais baixas (ou seja, mais próximas da Linha do Equador)
recebem radiação solar mais intensa.
92 UNIDADE 4

As características do clima devem-


-se à circulação atmosférica, como
Saiba mais sobre massas de ar, entradas de
o movimento das massas de ar e das frentes, previsão do tempo e outros fenôme-
frentes (quentes ou frias), à latitude nos climáticos no site do Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto
(posição na superfície em relação à
Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC-INPE)
Linha do Equador), à altitude, às cor- em: <http://www.cptec.inpe.br> (acesso em:
rentes oceânicas, à proximidade ou não 18 ago. 2014).

do mar e ao tipo de cobertura vegetal.

Atividade 1 Dinâmicas atmosféricas e emissão de gases estufa

O esquema a seguir reproduz o efeito estufa em sua dinâmica natural. Com


base nisso, é possível pensar sobre as interferências humanas nesse sistema.
Observe o esquema e responda às questões.

Balanço da energia na atmosfera


Energia proveniente Energia proveniente da superfície
da radiação solar e da atmosfera terrestres
© Hudson Calasans

Radiação solar incidente (total)

Espaço

Emitida pela
Emitida atmosfera em Atmosfera
gases atmosféricos pelas nuvens e ondas longas
aerossóis e nuvens absorvida
pela atmosfera
Gases de
efeito estufa

Emitida pela Terra Emitida


Absorvida em forma de pela atmosfera
pela superfície pela superfície evaporação e absorvida
da Terra da Terra e transpiração pela Terra

Terra

Da energia proveniente da radiação solar, aproximadamente a metade é absorvida pela superfície da Terra. A energia irradiada volta
para o espaço, onde é absorvida por nuvens e gases ou, dependendo da composição da atmosfera, é devolvida e aumenta o calor na
superfície. Outra parte da energia da superfície da Terra é transferida para a atmosfera por meio da evaporação e da transpiração.

Fonte: TEIXEIRA, Wilson et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2009, p. 115.
UNIDADE 4 93

1 Com base no esquema, explique como ocorre o aquecimento natural da atmosfera.

2 O que são os gases de efeito estufa e qual é o seu papel no aquecimento da


atmosfera? Indique atividades humanas que emitem esses gases e que podem
intensificar seus efeitos.

Aquecimento global e mudanças climáticas: debates e iniciativas


O tema do aquecimento global e das mudanças climáticas é repleto de polêmi-
cas e incertezas. O aquecimento global seria uma elevação da temperatura média
no planeta em função da retenção do calor na atmosfera pela ação dos gases
estufa, como o gás carbônico, o gás metano, a amônia, o vapor-d’água e outros.
Parte das emissões desses gases decorre do uso de combustíveis fósseis, como o
petróleo e o carvão mineral, e da proliferação de queimadas em diversos biomas.
As mudanças climáticas, por sua vez, seriam alterações nas condições e nos fato-
res que definem os climas da Terra.
94 UNIDADE 4

© Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), 2014. A empresa já foi multada devido à emissão de poluentes no ar.

A literatura científica fala em diversos tipos e efeitos de alterações ou mudanças


climáticas, sejam elas de curta ou de longa duração. Com base em dados e simu-
lações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre
IPCC
Mudanças Climáticas, em português), pesquisadores
Órgão da ONU criado em 1988
assinalam que houve variações climáticas naturais para organizar e divulgar conhe-
ao longo da história do planeta. Essas informações cimentos científicos e relatórios
revelam a sucessão de ciclos glaciais (mais frios) e de avaliação sobre mudanças
interglaciais (mais quentes) nos últimos 400 mil climáticas. Reúne milhares de
especialistas de todo o mundo.
anos. No pico interglacial (ou seja, entre períodos Em 2007, destacou que “o aque-
glaciais), no qual a humanidade se encontra agora, cimento global é inequívoco”,
o o
a temperatura está em torno de 5 C a 6 C mais alta fruto de atividades humanas.
em relação ao pico da última glaciação, há aproxi-
madamente 20 mil anos.

Há intenso debate em torno das causas do aquecimento global. Muitos pesqui-


sadores defendem que ele resulta da ação humana, em especial como decorrência
do aumento na concentração de gases emitidos na atmosfera pelo uso de com-
bustíveis fósseis e pelas queimadas. Parte da energia liberada estaria indo, em boa
medida, para os oceanos. Ainda que discreta, estaria havendo elevação do nível
dos mares, colocando regiões litorâneas em risco.
UNIDADE 4 95

Cientistas e outros pesquisadores apontam que, diante de incertezas sobre


os efeitos das ações humanas, o mais recomendável seria mudar aquelas que
emitem grandes quantidades de gases estufa, em especial o gás carbônico. Veja
a figura a seguir.

© Hudson Calasans
EMISSÕES GLOBAIS DE CARBONO PARA A ATMOSFERA
Várias fontes contribuem para as emissões de gases de efeito estufa. As duas principais são a
queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de regiões tropicais como a Amazônia

80% 20%
Queima de combustível Mudança no uso do solo
7,2 bilhões de toneladas 1,6 bilhão de toneladas
de carbono por ano de carbono por ano

As florestas representam um importante


estoque natural de carbono.
O desmatamento e as queimadas liberam o
carbono armazenado na biomassa florestal
para a atmosfera na forma de CO2.

A queima de combustíveis fósseis


(gás natural, carvão mineral e,
especialmente, petróleo) ocorre
principalmente pelos setores de
produção de energia (termelétricas),
industrial e de transporte
(automóveis, ônibus, aviões etc.).

Fonte: INSTITUTO de Pesquisas da Amazônia (IPAM). Disponível em:<http://www.ipam.org.br/saiba-mais/abc/mudancaspergunta/Quais-sao-as-principais-fontes-de-gases-de-


efeito-estufa-decorrentes-das-atividades-humanas-/11/3>. Acesso em: 12 dez. 2014.

Caso persista o quadro de grandes emissões, há certo consenso sobre os impactos


no regime de chuvas e temperaturas, com a geração de extremos climáticos, degelo
nos polos, riscos à sobrevivência de espécies, prejuízos em atividades agrícolas e pes-
queiras etc. Entre os grandes emissores de gases de efeito estufa estão China, EUA, os
países da União Europeia, Índia, Indonésia, Rússia e Brasil. Brasil e Indonésia figuram
nessa lista em função das queimadas e do desmatamento de florestas tropicais.

Tratados internacionais: acordos e resistências

O impacto negativo das ações humanas no ambiente global e as medidas capa-


zes de reverter esse quadro vêm sendo objeto de discussão em conferências da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o meio ambiente. A primeira conferên-
cia ocorreu em Estocolmo (Suécia), em 1972, e teve como principal resultado a cria-
ção do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
96 UNIDADE 4

Vinte anos depois, ocorreu a Glossário


conferência que se tornou divisor
Desenvolvimento sustentável
de águas para questões ambien-
Conceito que surgiu em discussões na década de
tais, a Rio-92. Firmou-se ali a noção 1980 e que procura integrar e harmonizar ideias e
de desenvolvimento sustentável conceitos associados ao crescimento econômico, à
e aprovou-se a Convenção da justiça, ao bem-estar social, à conservação ambiental
e à utilização racional dos recursos naturais, preser-
Diversidade Biológica, a Declara-
vando-os para as gerações futuras.
ção sobre Florestas, a Agenda 21
e a Convenção-Quadro das Nações Agenda 21
Unidas sobre Mudança do Clima Documento aprovado na Rio-92 com extenso con-
junto de propostas aos países sobre meio ambiente,
(UNFCCC), que destacava a neces-
demografia, lixo, poluição, saneamento básico,
sidade de reduzir a emissão glo- transportes, energia etc. O texto recomenda que os
bal dos gases de efeito estufa. Tais países ricos arquem com os custos de implantação
documentos e princípios influen- de suas linhas de ação e a criação de uma agenda
em cada país.
ciaram ações e propostas em
escala mundial.

Organizações sociais realizaram um grande evento paralelo à conferência oficial,


denominado mais tarde de Cúpula dos Povos. Além de traçar estratégias planetárias,
os ativistas desempenharam o papel de pressionar governos e países a assumir com-
promissos para reverter impactos ambientais.

Cinco anos depois, as indicações para os países reduzirem suas emissões de


gases estufa não estavam sendo cumpridas. Em vista disso, aprovou-se o Protocolo
de Quioto, em 1997, que estabeleceu prazos e metas obrigatórias, em especial para
os países do chamado Anexo I do documento, que são os países desenvolvidos,
considerados emissores históricos.

A meta inicial era atingir redução média de 5,2% da emissão de gases do efeito
estufa em relação ao emitido pelos países ricos em 1990. Alguns assumiram compro-
missos maiores: Japão (6%) e União Europeia (8%). Para que o protocolo entrasse em
vigor, deveria ser assinado pelo bloco de países responsáveis por 55% das emissões
globais. Os EUA haviam se comprometido a reduzir as emissões em 7%. Porém, não
assinaram o acordo e ofereceram muitas resistências à contenção de emissões, ao
lado do Canadá e dos países produtores de petróleo. A vigência do protocolo passou
a depender da adesão da Rússia, feita só em 2004. No período 2004-2012, apenas os
países ricos tinham metas obrigatórias.

Nas últimas décadas, ocorreram transformações econômicas e sociais no mundo.


China e Índia tiveram grande crescimento econômico e tornaram-se grandes emisso-
ras, em especial pelo uso do carvão mineral. O Brasil também emitiu mais, mas em boa
parte por causa das queimadas em suas florestas e em outros biomas.
UNIDADE 4 97

Apesar dos impasses, alguns


avanços das conferências mere-
O MDL, previsto no Protocolo de Quioto, permite que
cem destaque. Entre eles, a criação
países com metas específicas de redução das emis-
do Mecanismo de Desenvolvi- sões, caso dos desenvolvidos, financiem projetos de
mento Limpo (MDL), iniciativa redução ou “compra” de volumes de redução de países
que teve o Brasil como impor- em desenvolvimento. Entre os projetos estariam os de
investir em tecnologias limpas e em fontes alternati-
tante articulador.
vas de energia e os de criar “sumidouros” (processos e
atividades que absorvem gases estufa, como plantar
Do mesmo modo, há uma
árvores nativas em áreas degradadas). Há, assim, um
convocação aos países para que comércio internacional de emissões: o vendedor é o
invistam em energias limpas e país que conseguiu redução e o comprador é aquele
renováveis. Sobretudo a partir de que não cumpriu sua meta. O Brasil foi o primeiro país
a ter um projeto de MDL certificado, de transformação
2008, países “emergentes” – caso
de gás metano em energia elétrica em aterro de Nova
do Brasil – firmaram compromissos Iguaçu (RJ). Críticos entendem que o mercado de emis-
voluntários para reduzir emissões. sões pode diminuir ou eliminar a responsabilidade de
No Brasil, houve relativo sucesso países pelas emissões em seus próprios territórios,
algo como “paga-se para que o outro reduza”.
na contenção de queimadas nos
últimos anos. Na China, tradicio-
nalmente uma grande usuária de
carvão mineral, destacam-se os

© Juca Varella/Folhapress
pesados investimentos em fon-
tes renováveis de energia, como a
eólica, a solar e a hidrelétrica.

Em 2012, realizou-se a Rio+20,


nova conferência mundial reali-
zada também no Rio de Janeiro
que agregou ao debate o princí-
pio da erradicação da pobreza, após
muitas negociações entre os paí-
ses. Falou-se também em economia
verde, baseada em baixas emissões
de carbono, conceito ainda a ser
aperfeiçoado.

Ativistas na Marcha da Cúpula dos Povos, evento paralelo


à Rio+20, realizado em 2012. Seus participantes fizeram
duras críticas aos resultados da conferência oficial, como
a ausência de mecanismos de financiamento do desen-
volvimento sustentável e de debates sobre a situação
dos oceanos e o conceito de economia verde — conside-
rado insuficiente e que não rompe com os padrões de
acumulação capitalista.
98 UNIDADE 4

Hoje, existem vários projetos


para reduzir emissões de gases
Saiba mais sobre datas, lugares e decisões das
estufa. Um exemplo é o uso do
conferências das partes sobre o clima – as COPs – a
etanol em veículos, já consolidado partir da década de 1990, consultando o Portal Brasil
no Brasil, em substituição à gaso- – Histórico das COPs, em: <http://www.brasil.gov.br/
lina ou ao diesel. O investimento meio-ambiente/2010/11/historico-das-cops> (acesso
em pequenas centrais hidrelétri- em: 18 ago. 2014).
cas e no uso das energias eólica e Visite também os portais da Rede Clima-Brasil,
solar, em vez de termelétricas a <http://redeclima.ccst.inpe.br>, e do Painel Brasileiro
carvão ou diesel, também consti- de Mudanças Climáticas (PBMC), <http://www.pbmc.
tuem alternativas para a redução coppe.ufrj.br/pt/> (acessos em: 21 out. 2014).

das emissões.

Nas cidades, pode-se investir em ciclovias e transportes coletivos movidos a ele-


tricidade ou a gás natural. Outras iniciativas são o replantio de espécies nativas e a
criação de parques e reservas para preservar áreas verdes.

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Dinâmicas atmosféricas e emissão de gases estufa


1 O esquema mostra que a radiação solar envia luz e calor para a Terra. Parte dessa energia é refle-
tida de volta ao espaço. Na observação número 2, você viu que parte da radiação solar é absorvida
pela superfície. Analisando novamente a imagem, você pôde perceber que nas setas voltadas para
cima outra parte dessa radiação é refletida, por irradiação. Por meio dos textos lidos neste tema, você
pôde compreender que esse processo é responsável pelo aquecimento natural da atmosfera.

2 Os gases estufa estão presentes naturalmente na atmosfera e exercem o papel de reter calor e
aquecê-la. A partir disso, pode-se refletir sobre o papel da ação humana na intensificação do efeito
estufa e no aquecimento global. Nesse caso, é importante considerar a emissão de gases estufa
derivados de atividades humanas por uso de combustíveis fósseis e pelas indústrias. Entre as con-
sequências disso estão a elevação das médias térmicas e perturbações climáticas.
UNIDADE 4 99
100

T E M A 2 Gestão da água no mundo

Neste tema, serão examinados a distribuição e a disponibilidade de água no


mundo, além dos usos da água, alguns dos quais são responsáveis pela sua escas-
sez ou contaminação. A água está presente na atmosfera, nos solos, nas geleiras,
nos lençóis subterrâneos e nos seres vivos. É um recurso vital: sem ela, as plantas
e os animais não sobreviveriam. Observe o esquema do ciclo da água na natureza
e identifique suas principais etapas.

Ciclo da água na natureza

© Hudson Calasans
Neve

Formação de nuvens

Evapotranspiração
Chuva Vento Neve e gelo
Vento

Evaporação
Evaporação
Infiltração
Rios e lagos

Oceano
Água subterrânea

Sua casa, seu bairro ou município já sofreu problemas de falta de água? Você
sabe dizer por que isso ocorreu? Esse é um problema frequente ou eventual?
Escreva suas impressões nas linhas a seguir.
UNIDADE 4 101

Água: usos e abusos


Os dados mostram que a água doce disponível representa apenas uma pequena
parcela do total da água no mundo. Ela está em rios, lagos, solos, subsolos e nos
próprios seres vivos (ou biota). Outra parte não está disponível, como é o caso de
geleiras e da neve, mas a água no estado sólido é fundamental, pois na época do
degelo ela derrete e se dirige aos rios e lagos, abastecendo-os. O Brasil é privile-
giado: segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), o país dispõe de 12% das reser-
vas de água doce da Terra.

A água doce que circula no mundo é sempre a mesma, em igual quantidade.


Há regiões que naturalmente são secas, como os desertos na África ou a região
semiárida do sertão nordestino, no Brasil. Mas a escassez é agravada pelos seres
humanos, que às vezes usam a água de forma insustentável.

Como são esses usos? É possível separá-los em dois tipos:

• usos que consomem, comprometem ou gastam água (irrigação, certos usos


industriais e em residências etc.);

• usos que não consomem ou gastam água (geração hidrelétrica, pesca, turismo,
hidrovias etc.).

Contudo, como será visto, a maioria dos usos pode, em alguma medida, causar
impactos ambientais e sociais.

De modo geral, quem mais usa água é a agricultura, que responde por algo
em torno de 69% do consumo global de água doce. O restante é dividido entre
indústrias (21%) e uso doméstico (10%). Nesse quadro, é preciso dizer que há usos
que comprometem outros usos. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, a
coleta e o tratamento de esgotos são precários e levam ao uso de rios, córregos,
lagos, baías, estuários e manguezais como locais de despejo de esgotos.

Esse uso contamina a água, que poderia ser usada para o abastecimento ou
mesmo para pesca, lazer ou transporte. Tais impactos são frequentes principal-
mente em países pobres da África, Ásia e América Latina.

Diversas publicações trazem diagnósticos e medidas sobre usos que comprome-


tem a qualidade das águas. O relatório Cuidando das águas, publicado no Brasil pelo
PNUMA e pela ANA, apresenta uma lista extensa de comprometimento da qualidade
da água ou de interrupções no seu ciclo natural. Seguem-se alguns exemplos:
102 UNIDADE 4

• As atividades agrícolas, industriais e de mineração geram diversos contaminan-


tes das águas superficiais e subterrâneas. Entre eles, estão compostos orgânicos,
metais (zinco, cobre, arsênio etc.) ou nutrientes em excesso (como nitrogênio e
fósforo de origem agrícola ou dejetos domésticos e industriais), provocando a pro-
liferação de algas que consomem oxigênio da água.

• O DDT já foi um pesticida muito usado na agricultura. Mesmo proibido em vários


países, ele permanece em rios, lagos, sedimentos e nas águas subterrâneas. Isso
provoca a proliferação de doenças, a morte de plantas e da fauna aquática e a
sobrecarga nos ecossistemas, incluindo os litorâneos e oceânicos.

• A erosão e a sedimentação, somadas, podem alterar a vazão e a velocidade das


águas dos rios. Isso prejudica ambientes de procriação de espécies e leva à concen-
tração de contaminantes em sedimentos finos.

• O aumento da temperatura da água (em especial como decorrência do uso indus-


trial) e o aumento da salinidade (por uso agrícola, industrial ou deposição de sais na
superfície em função de perfurações no solo, com bombeamento – caso da extra-
ção de petróleo) são outros fatores que provocam alterações nos ambientes.

• A introdução de espécies exóticas de plantas e animais pode alterar o consumo de


água ou a umidade do ar em certos locais.

• A compactação do solo por máquinas agrícolas ou rebanhos cria obstáculos à infil-


tração e ao abastecimento de lençóis subterrâneos de água.

• O corte de matas deixa os solos desprotegidos e acelera a erosão. Barragens e


reservatórios de usinas hidrelétricas não contaminam a água, mas alteram o fluxo
dos rios e dificultam a adaptação de espécies aquáticas.

Gestão sustentável da água

Existem inúmeras maneiras de conter a degradação dos recursos hídricos e


elevar a oferta de água de qualidade para as populações. Há recomendações feitas
desde a Rio-92 em campanhas e conferências mundiais sobre a água (como a de
1977). Vários países aprovaram leis de proteção da água, entre eles o Brasil. Por-
tanto, o País já possui um sistema nacional de gestão dos recursos hídricos.

É preciso levar em conta, antes de tudo, que a quantidade de água que circula
na natureza é sempre a mesma. Assim, qualquer comprometimento do recurso
vai resultar em perturbações na oferta e na qualidade da água. Entre as recomen-
dações estão a de reduzir o consumo e o desperdício e realizar controle permanente
da qualidade da água. Além disso, universalizar os sistemas de saneamento básico
(coleta e tratamento de esgotos, redes de água e coleta de lixo), que são decisivos
UNIDADE 4 103

para evitar o comprometimento de rios, córregos e lagos. Nesse quesito, o Brasil


ainda precisa avançar muito: pouco mais da metade dos domicílios tem rede de
esgotos, mas aproximadamente 80% do que é coletado não é tratado.

Outra medida é ampliar os sistemas de proteção de áreas de mananciais, criando


reservas ambientais que impeçam a destruição da vegetação e de nascentes de
água. Nas cidades, é essencial também desenvolver planos de despoluição
de mananciais de água e reverter a excessiva pavimentação do solo, pois isso
impede a infiltração de água e aumenta o escoamento superficial.

Os países devem também criar rigorosos programas de controle do uso de agro-


tóxicos e de resíduos industriais. Na agricultura, pode-se adotar a irrigação por goteja-
mento, que gasta menos água. O agrotóxico pode ser substituído progressivamente
por técnicas como o controle biológico de pragas, que utiliza, entre outros meios,
insetos que comem as larvas que atacam os cultivos.

Diversos programas da Organização das Nações Unidas (ONU) apoiam inicia-


tivas que buscam preservar os recursos hídricos em muitos países do mundo,
como a conservação dos solos e a captação da água da chuva no meio rural na
Nicarágua; o ecossaneamento (separação de resíduos humanos e o uso deles
na compostagem agrícola) na China, na Índia e em vários países da África; ou
ainda a revitalização das bacias hidrográficas como a do Rio Nairóbi, no Quênia, e
do Rio Danúbio, que atravessa a Europa central. Mata ciliar
No Brasil, há recuperação de bacias com replan-
Vegetação com predomínio
tio de matas ciliares, como no Rio São Francisco. de árvores que acompanha as
Isso ajuda a evitar a erosão das margens dos rios e margens dos rios.
seu assoreamento.

Alguns países também já adota-


ram medidas para punir com multas
Para conhecer o mapa de acesso à
pesadas quem compromete os recur- água no mundo, consulte o site <http://
sos hídricos. Entre eles estão Holanda cartographie.sciences-po.fr/fr/acesso-gua-e-
dessaliniza-o-2007> (acesso em: 22 set. 2014).
e Colômbia.
As informações presentes no mapa do site
sugerido podem ser complementadas com
É importante destacar que os paí-
a leitura de reportagens sobre usos da água,
ses devem formular também acordos disponíveis em: <http://planetasustentavel.
sobre o uso de rios que atravessam abril.com.br> (acesso em: 17 out. 2014).

as fronteiras. Isso pode evitar dispu- Assista também ao filme Erin Brockovich –
Uma mulher de talento (direção de Steven
tas pela água, como nos casos do Rio
Soderbergh, 2000). Baseado em uma história
Jordão (entre Israel, Síria e Jordânia) e real, conta a luta de uma mulher para com-
do Rio Colorado, que passa pelos EUA provar a contaminação da água por uma
empresa na Califórnia (EUA).
até chegar à fronteira com o México.
104 UNIDADE 4

Geografia – Volume 2
A água que nos resta
O vídeo mostra a concentração e a disponibilidade de água no planeta. Observe a distribuição
irregular de água e os déficits hídricos no Brasil. Verifique diferenças no consumo de água e reflita
sobre maneiras de economizar esse recurso. Entenda os processos de tratamento da água e a
importância da mobilização de diferentes setores da sociedade em prol do seu uso sustentável.

A oferta de água de qualidade depende de muitos fatores, como ter saneamento


básico (redes de água, coleta e tratamento de esgotos, coleta e disposição ade-
quada do lixo), conter o desmatamento, evitar a erosão e a impermeabilização dos
solos, proteger nascentes de rios, entre outros. Em vista disso, reflita: Como está a
situação da água em seu município? Há escassez ou cortes regulares no abasteci-
mento? A água é de boa qualidade? Registre suas impressões nas linhas a seguir.

A irrigação da agricultura é responsável pelo consumo de mais de ⅔ de toda a água


retirada dos rios, lagos e lençóis freáticos do mundo. Mesmo no Brasil, onde achamos que
temos muita água, os agricultores que tentam produzir alimentos também enfrentam secas
periódicas e uma competição crescente por água.

MARAFON, G. J. et al. O desencanto da terra: produção de alimentos, ambiente e sociedade. Rio de Janeiro: Garamond, 2011.

No Brasil, as técnicas de irrigação utilizadas na agricultura produziram impactos socioambien-


tais como
a) redução do custo de produção.
b) agravamento da poluição hídrica.
c) compactação do material do solo.
d) aceleração da fertilização natural.
e) redirecionamento dos cursos fluviais.
Enem 2012. Prova azul. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2012/caderno_enem2012_sab_azul.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.
UNIDADE 4 105

HORA DA CHECAGEM

Desafio
Alternativa correta: e. A retirada excessiva de água dos rios pode mudar o fluxo e a velocidade dos
cursos fluviais, alterando o regime hídrico, o que causa impactos no meio ambiente e provoca a
escassez de água potável. Caso você tenha dúvidas, consulte o professor do CEEJA.
106

T E M A 3 Biomas, biodiversidade e proteção ambiental

Neste tema, serão examinados elementos da biosfera, a esfera da vida (solos,


plantas e animais), que surge do contato entre as demais esferas. Serão estudadas
também urgências ambientais que afetam esse domínio da natureza.

Você conhece tipos de cobertura vegetal? E a fauna que habita esses tipos de
cobertura? Sabe como essas formas de vida se distribuem na superfície? Como a
distribuição de plantas e animais está relacionada ao clima e à oferta de água?
Como é a vegetação e a fauna em seu município ou sua região? Elas vêm sendo
afetadas pela ação humana? De que forma? Em seu caderno, escreva um texto que
exponha criticamente essas questões.

Atividade 1 Biomas, biodiversidade e ação humana no mundo

Compare os mapas da próxima página e responda às questões propostas.

1 De quais tipos são essas representações?

2 Cite três tipos de cobertura vegetal e sua distribuição na superfície terrestre.


Coberturas vegetais originais

© IBGE
180° 120° 60° 0° 60° 120° 180°
90°

60°

30°

30°

60°

Escala no Equador

90° 0 1 800 km

Projeção de Robinson

Floresta de Floresta Formações


Tundra Mediterrânea
coníferas temperada herbáceas
Formações de Floresta pluvial Floresta estacional
Deserto regiões semiáridas tropical e subtropical e savana Alta montanha

IBGE. Atlas geográfico escolar. Ensino Fundamental do 6o ao 9o ano. Rio de Janeiro, 2010, p 106. Mapa original (supressão de escala numérica).

Florestas originais e florestas remanescentes

© IBGE

IBGE. Atlas geográfico escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004, p. 71. Mapa original (supressão de escala numérica).
108 UNIDADE 4

3 Conforme o mapa Florestas originais e Biodiversidade


florestas remanescentes, o que vem ocor- Total de genes[*], espécies e ecossistemas
rendo com as florestas? Em sua opinião, o de uma região. A biodiversidade genética
refere-se à variação dos genes dentro das
que essas ocorrências podem representar
espécies, cobrindo diferentes populações
para a biodiversidade do planeta? da mesma espécie ou a variação genética
dentro de uma população. A diversidade de
espécies refere-se à variedade de espécies
existentes dentro de uma região. A diver-
sidade de ecossistemas refere-se à varie-
dade de ecossistemas de uma dada região.
A diversidade cultural humana também
pode ser considerada parte da biodiver-
sidade, pois alguns atributos das culturas
humanas representam soluções aos pro-
blemas de sobrevivência em determinados
ambientes. A diversidade cultural mani-
festa-se pela diversidade da linguagem,
crenças religiosas, práticas de manejo da
terra, arte, música, estrutura social e sele-
ção de cultivos agrícolas, dentre outros.
*Gene — região do DNA que controla determinadas
características hereditárias particulares de uma forma
de vida [nota do editor].

IBGE. Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente.


Rio de Janeiro: IBGE, 2005.
UNIDADE 4 109

Biosfera: aspectos naturais e ação humana


Ao tratar de biosfera, fala-se de
plantas, animais e solos e suas múlti-
Saiba mais sobre florestas tropicais e formas de
plas interações, entre si e com o meio
conservação com a “floresta em pé”, assistindo
físico. O mapa Florestas originais e flores- ao documentário Novas ideias para o futuro da
tas remanescentes da Atividade 1 mos- Amazônia em: <http://planetasustentavel.abril.
com.br/blog/planeta-em-acao/documentario-do-
tra que as florestas correm riscos. Hoje,
planeta-sustentavel-sobre-futuro-da-amazonia-
as atenções estão voltadas às florestas e-apresentado-no-programa-capital-natural/>
tropicais, de grande biodiversidade, (acesso em: 17 ago. 2014).
que sofrem com queimadas e desma-
tamentos. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem feito sucessivos alertas sobre a
devastação dessas florestas, mas essa degradação já se deu, em boa medida, em flores-
tas temperadas e boreais (ou taigas). De menor biodiversidade, elas foram devastadas
para se obter lenha, madeira para construções e dar lugar a assentamentos humanos.
Elas são mais extensas na Suécia, na Noruega e na Finlândia.

O que se perde com o desmatamento e as alterações nos biomas? Além


da redução da biodiversidade, espécies animais sofrem com a perda de seu
habitat, como o orangotango das matas da Indonésia, os felinos e outros animais
de grande porte de f lorestas tropicais e savanas ou, ainda, os peixes de água
doce e os pássaros.

Há outros agravantes: a vegetação deixa de oferecer os chamados serviços


ambientais, que contribuem para a vida e o equilíbrio natural. As florestas tropicais
armazenam carbono, ajudam a regular o clima (evapotranspiração, temperatura
etc.) e protegem o solo. Manguezais, matas e estuários são criatórios de espécies
marinhas, filtram a água e são pousos de aves migratórias.

Conforme a ONU, são várias as categorias de serviços oferecidos por biomas e


ecossistemas: reguladores de funções vitais (controle das chuvas, regulação dos esto-
ques de carbono etc.), de provisão (oferta de madeira, peixes, plantas medicinais
etc.) ou de suporte (garantia de processos essenciais, como a formação de solos e o
crescimento de plantas).

Entre as áreas com elevada biodiversidade que preci- Endêmico


sam de proteção por abrigar espécies endêmicas e pelos Nativo, próprio de um deter-
riscos que correm estão algumas florestas da Indonésia, minado lugar ou região (diz-
-se de espécie, organismo ou
de Madagáscar, da África central e da Amazônia, e a população).
Mata Atlântica brasileira, além das matas dos Andes
110 UNIDADE 4

tropicais e da América Central, as savanas africanas, e o cerrado e a caatinga encon-


trados no Brasil. Entre essas espécies está a seringueira, endêmica da Amazônia, da
qual se extrai o látex.

Grande parte das espécies


© Ricardo Azoury/Pulsar Imagens

do planeta está em florestas


úmidas da América do Sul:
são 21 mil tipos de plantas na
Amazônia, 932 na caatinga
(380 endêmicas) e 6 mil tipos
de árvore no cerrado. Estudos
sobre a Mata Atlântica regis-
traram 450 espécies de árvo-
res e arbustos em um único
trecho de 10.000 m 2 no sul
Extração de látex no Projeto de Assentamento Extrativista Chico Mendes – da Bahia.
Seringal Cachoeira, Xapuri (AC), 2012.

Assim como em outras questões, o combate ao desmatamento e à degradação


dos biomas e das coberturas vegetais também não tem soluções fáceis e imediatas.
A Convenção sobre Diversidade Biológica oferece princípios que são referência para
os fóruns mundiais e para as políticas nacionais. Além dela, existe o Fórum da ONU
sobre florestas e iniciativas do FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação, em português), que propõe ações para conservar florestas como meio
de garantir alimentos às populações, com a “floresta em pé”.

As convenções sobre o clima devem buscar avanços na proteção de florestas, já


que queimadas agravam o efeito estufa. Cabe aos países criar unidades de conser-
vação (parques, reservas, estações ecológicas) e terras indígenas, proteger popu-
lações tradicionais e estimular a conservação ambiental. E também aprovar leis e
sistemas de fiscalização para punir responsáveis por impactos ambientais.

Geografia – Volume 1
Desmatamento e preservação
O vídeo demonstra as causas e consequências do desmatamento nos diferentes biomas do
Brasil, bem como as necessidades de contê-lo e de preservar nossas matas. Veja também
o que são hotspots (áreas mundiais com grande biodiversidade e potencial de vulnerabilidade
com prioridade de proteção) e como as políticas internas e externas de sustentabilidade estão
contribuindo para a diminuição da degradação ambiental e a preservação da flora e da fauna.
UNIDADE 4 111

Um dos principais objetivos de se dar continuidade às pesquisas em erosão dos solos é


o de procurar resolver os problemas oriundos desse processo, que, em última análise, geram
uma série de impactos ambientais. Além disso, para a adoção de técnicas de conservação
dos solos, é preciso conhecer como a água executa seu trabalho de remoção, transporte e
deposição de sedimentos. A erosão causa, quase sempre, uma série de problemas ambientais,
em nível local ou até mesmo em grandes áreas.

GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007 (adaptado).

A preservação do solo, principalmente em áreas de encostas, pode ser uma solução para evitar
catástrofes em função da intensidade do fluxo hídrico. A prática humana que segue no caminho
contrário a essa solução é
a) a aração.
b) o terraceamento.
c) o pousio.
d) a drenagem.
e) o desmatamento.

Enem 2011. Prova azul. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/01_AZUL_GAB.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.

HORA DA CHECAGEM

Atividade 1 – Biomas, biodiversidade e ação humana no mundo


1 Depois de ter comparado os dois mapas, você pôde notar que: o primeiro mapa é de tipo quali-
tativo, em que as cores diferenciam os tipos de cobertura vegetal. O segundo mapa é do tipo dinâ-
mico, pois mostra a evolução no tempo da devastação de florestas no mundo. Caso seja necessário,
você pode consultar novamente a Unidade 1.

2 Resposta pessoal. Você pode ter citado as florestas tropicais (América do Sul e Central, África
central, Sudeste Asiático etc.), de coníferas (norte da América do Norte, Rússia europeia e asiática etc.)
e savanas (Brasil central, norte da América do Sul, África ocidental e Subsaariana, sul da Ásia etc.).

3 As florestas têm sido sistematicamente desmatadas, por várias razões: exploração da madeira,
mineração, avanço da agropecuária, construção de estradas, cidades e usinas hidrelétricas etc. Isso
provoca redução da biodiversidade, perturbações climáticas locais, exposição de solos à chuva e
erosão, entre outros impactos. É importante que você tenha se lembrado de que o desmatamento
afeta também as comunidades que dependem da floresta para sobreviver.

Desafio
Alternativa correta: e. O desmatamento deixa os solos desprotegidos e vulneráveis à erosão pela
ação das chuvas, dos ventos e de outros fatores.
112 UNIDADE 4

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