12 .Política 2020 Isaac Abrao

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Apontamentos de Filosofia – Francisco Manyanga – 12ª Classe, CD/CN, Ficha nº 1 IIº Trimestre 2020Pág. 1 de 19
2. CONVIVÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS HOMENS:
2.1. Noções Básicas:
2.1.1. Política e Filosofia política
Política: O conceito de “política” tem origem na palavra grega politiké ou “polis” que etimologicamente quer dizer
cidade. Sendo assim, a política é a ciência ou arte de governar a cidade ou uma nação. A política na antiga Grécia
era traduzida por, República que em latim “Res + publicae” que significa “as coisas públicas”. Sendo assim,a
República significaria um regime político, ou constituição de uma cidade, de uma comunidade, etc. Aristóteles
entendia a política como a arte ou ciência de governar bem a cidade. Para ele, o homem é um animal político,
sociável, pelo simples facto de viver em sociedade.
A política actualmente é concebida como um conjunto de acções levadas a efeito por indivíduos, grupos e
governantes com vista a resolver os problemas com que se depara uma colectividade humana. Estas práticas são
orientadas por imperativos, tais como: o bem comum, a ordem pública, a justiça social, a harmonia e o equilíbrio
social. O conceito de política, entendido como forma de actividade ou pática humana, está estreitamente ligado ao de
poder, quer compreendendo “a luta por sua conquista, manutenção e expansão” segundo Maquiavel, quer as
instituições por meio das quais ele se exerce, ou a reflexão sobre a sua origem, estrutura e razão de ser. O poder é
tradicionalmente entendido Hobbes como “meios adequados à obtenção de qualquer vantagem”; por Russell como
“conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”.
De acordo com Bobbio, existem três formas de poder, nomeadamente: poder económico, ideológico e poder
político: O poder económico - vale-se da posse de certos bens necessários, que leva àqueles que não os têm a manter
um certo comportamento. O poder ideológico - é o exercido através da influência que uns (detentores do poder:
Sacerdotes, Pastores, Líderes comunitários ou de partidos e organizações sociais ou afins) exercem sobre os demais
determinando-lhes o comportamento. O poder político – é o poder do homem sobre outros homens. Uma das formas
de exercício deste tipo de poder é a força, pela coerção. As outras formas de poder são exercidas por persuasão, quer
através das limitações económicas, quer através do discurso. Por outras palavras, o poder político é a faculdade que
um povo possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e
imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção. Assim, o poder político têm três
características principais: a exclusividadetendência de não permitir a organização de uma força concorrente, por
exemplo, grupos armados independentes que ameaçam o seu monopólio de uso da força, como resulta do nº3 artigo
52 da CRM “São proibidas as associações armadas de tipo militar ou paramilitar e as que promovam a violência, o
racismo, a xenofobia ou que prossigam fins contrários à lei.”; a universalidade, que é a capacidade de tomar
decisões para toda a colectividade e por fim a inclusividade que é a possibilidade de intervir, de modo imperativo, em
todas as esferas possíveis da actividade de membros do grupo e de encaminhar tais actividade aos fins desejados ou de
desviá-los de um fim não desejado Ex. A intervenção do Presidente da República no Moçambola.
A política é uma ciência porquedescreve, analisa e prevê os factos políticos. A finalidade ou função da política e da
comunidade política é assegurar o bem comum, a ordem pública, a justiça, a paz, o bem-estar e o equilíbrio
social. A disciplina que investiga sobre a política chama-se ciência política. A ciência políticaanalisa o Estado, a
soberania, a hegemonia, os regimes políticos, os governos, as linhas históricas, em regimes democráticos.

2.1.2. Filosofia Política


A Filosofia política é a ciência que tem por objecto a meditação filosófica dos factos políticos no conhecimento da
sua essência ou na discussão em função de certos valores.
São tradicionais nessa área, as hipóteses sobre o contrato original que teria dado início à vida em sociedade,
instituído o governo, os deveres e os direitos dos cidadãos. Muitas dessas situações hipotéticas são elaboradas no
intuito de recomendar mudanças ou reformas políticas aptas a aproximar as sociedades concretas de um determinado
ideal político.
A Filosofia política alimenta-se das práticas políticas, ou seja, dos acontecimentos políticos levados a cabo por
políticos e por aqueles que pensam o facto político. O facto políticoé todo o acontecimento político relativo à origem
do Estado, à sua organização, à sua forma ideal, à sua função e ao seu fim específico, à natureza da acção política
e suas relações com a moral, à relação entre o Estado e o indivíduo, entre o Estado e a Igreja e entre o Estado e os
partidos políticos, compreender e esclarecer os conceitos de justiça, bem comum, de tolerância, e entre outros
conceitos no âmbito político.

2.13. Relação entre Filosofia e Política


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A filosofia está estreitamente ligada a política numa relação de interdependência e complementaridade. A
política precisa da filosofia para melhor esclarecer as formas de conhecimento e os fundamentos dos factos políticos,
sua natureza e a respectiva valoração. Foram filósofos (sofistas) os primeiros pensadores que se debruçaram sobre os
problemas suscitados pelo facto político e até sobre as próprias manifestações do facto político.
O filósofo político é a pessoa que analisa criticamente a sociedade (identifica aspectos positivos e negativos) e aponta
soluções filosóficas para os problemas identificados. Por isso, a relação entre Filosofia e Política é positiva, na medida
em a filosofia denuncia e critica toda a forma da dominação do homem pelo homem e a absolutização da política. A
filosofia ilumina os conceitos inerentes a política: o bem comum, a ordem pública, a justiça social, a harmonia e o
equilíbrio social, a tolerância, a sua relação com a política. Por outro lado, a relação entre a política e a filosofia é
polémica (negativa) porque, o filósofo não é bem-vindo pelos governantes (em algumas sociedades), pois é
considerado um perturbador da sociedade e da ordem pública. Basta lembrar na Grécia antiga, Sócrates foi obrigado a
beber cicuta (um tipo de veneno), no ano 400 a.C., sob a acusação de corromper a juventude e não fazer crer os deuses
da cidade; E Levy disse que o filósofo fala muito e por isso perturba a ordem do mundo, incluindo os próprios
políticos. Bochinski diz quem quer saber para onde nos encaminhamos deve prestar atenção aos filósofos e não aos
políticos porque os filósofos anunciam hoje o que será verdade de amanhã. Dai que Platão na Repúblicadeclara que
para ser político é necessário que este se torne em filósofo ou o filósofo se tornar em político, vice-versa.

2.1.4. Estado / Nação. Elementos do Estado: Governantes, Governados, Constituição (caso da Constituição de
Moçambique), Soberania, Símbolos nacionais.
2.1.5.1. Estado/ Nação
Estado é uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupando um território definido, normalmente
onde a lei máxima é uma constituição escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto
interna como externamente. O Estado é legítimo quando age de acordo com o direito e de acordo com os interesses da
maioria. Um Estado tem como elementos fundamentais: o povo, o território e o poder político.
Nação. O conceito nação é muitas vezes associado ao de Estado. A nação é a comunidade natural de homens que,
reunidos num mesmo território, possuem em comum a origem, os costumes, cultura, e raça (factores objectivos)
e a consciência do grupo humano de que esses elementos comunitários estão presentes (factores subjectivos). A
maior parte dos Estados modernos constituíram-se em nações, na medida que os povos foram se unindo e
adquirindo sentimentos de pertença de uma mesma nação, como, por exemplo, a França, a Itália, Moçambique,
Estados formados por vários povos e culturas, que constituem hoje uma mesma nação.

2.1.5. Elementos do Estado: Governantes, Governados, Constituição (caso da Constituição de Moçambique),


Soberania, Símbolos nacionais.
a) Povo (Governados) é o conjunto dos indivíduos ligados pelos laços de cidadania ou nacionalidade. O conceito de
povo é político, composto pelos cidadãos; não se confunde com o conceito população (de natureza económico,
demográfico estatístico), o conjunto de pessoas físicas residentes no território de um Estado num determinado
momento histórico, sejam eles nacionais, estrangeiros e os apátridas residentes no território nacional bem como os
turistas e visitantes que nele poisem ou temporariamente residam (população flutuante) e exclui os nacionais não
residentes. O que distingue o conceito de Povo e População é a nacionalidade.
b) O governo é usualmente utilizado para designar a instância máxima de administração executiva, geralmente
reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação. Normalmente chama-se o governo ou gabinete ao
conjunto dos dirigentes executivos do Estado (pessoas portadoras de cargos oficiais e de autoridade), ou ministros
(por isso, também se chama Conselho de Ministros). Os governantes são (ou deviam ser) os servidores do povo. A
origem etimológica da palavra ministro, por exemplo, significa escravo, do latim “minister”. A legitimidadede um
governo reside na delegação do poderpeloscidadãos, atrás do voto num Estado democrático.
Poder político (Governantes) é definido como a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade própria,
instituir órgãos que exercem, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um território, nele criando e executando
normas jurídicas usando os necessários meios de coacção. Governante é qualquer funcionário público que assume
cargos de direcção, que dirige uma instituição pública.
c) Território. Geralmente não se concebe Estados sem território, excepcionalmente existiram Estados antes da
definitiva e fixação de fronteiras. Ex. Polónia depois da 1ª grande guerra. O território de um Estado integra o solo e o
subsolo (território terrestre); o espaço aéreo (território aéreo) e o mar território, no caso de se tratar de um Estado
ribeirinha (território marítimo).
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d) A Constituição ou Carta Magna é um conjunto de regras de governo que define a política fundamental, princípios
políticos, e estabelece a estrutura, procedimentos, poderes e direitos, de um governo e garante certos direitos para o
povo. A Constituição é a estrutura de uma comunidade política organizada, a ordem necessária que deriva da
designação de um poder soberano e dos órgãos que o exercem. Dito de forma mais simples, a constituição é o
conjunto de leis básicas que regulam o relacionamento de todos elementos pertencentes a um mesmo Estado
(indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). As outras leis particulares são elaboradas com o respeito à
constituição, que é lei-mãe. Por isso, mesmo os Estados absolutistas do século XVII e os totalitaristas do século XX
tiveram uma constituição. Portanto, a constituição tem a função de traçar os princípios ideológicos da organização
interna (do Estado). Para Aristóteles a constituiçãoé “a estrutura que dá ordem à cidade, estabelecendo o
funcionamento de todos os cargos, sobretudo da autoridade soberana”.
A Constituição da república de Moçambique caracteriza-se por reafirmar, desenvolver e aprofundar os princípios
fundamentais do Estado moçambicano, consagrar o carácter soberano do Estado de Direito Democrático, baseado no
pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos; garantir que ninguém está acima da lei e todos cidadãos devem obedência à lei. As normas constitucionais
prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento jurídico, nº4 do art. 2 da CRM.
A mudança da constituição implica a mudança de tipo de Estado, por exemplo, a Constituição de 1990 torna o Estado
moçambicano um Estado Democrático, por abrir a possibilidade da participação política através do voto e a liberdade
de reunião de associação e de formação de partidos políticos, entre várias mudanças.
e) Soberania: De acordo com Jean Bodin, teórico da soberania, define que “A soberania é o poder absoluto e
perpétuo de um Estado ou Nação”. Para Jean Bodin, não existe outra entidade superior a ela tanto na ordem externa
como na ordem interna, é uma autoridade suprema de um país ou nação, pode ser atribuída a um grupo de pessoas (no
nosso caso, artigo 133º da CRM = são órgãos da soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o
Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional), ou a um indivíduo (na monarquia absoluta o monarca é chamado
soberano ou a Deus, como no caso do Daesh = Estado Islâmico). Em Moçambique a soberania reside no povo, Artigo
2, nº 1 da CRM.
Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através da qual as normas e decisões elaboradas
pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais como: a
família; a escola; a empresa, a igreja, etc. Neste sentido, no âmbito interno, a soberania estatal traduz a superioridade
de suas directrizes na organização da vida comunitária. A soberania se manifesta, principalmente, através da
constituição de um sistema de normas jurídicas capaz de estabelecer as pautas fundamentais do comportamento
humano. No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a ideia de igualdade de todos os Estados na comunidade
internacional. A soberania caracteriza-se por ser unae indivisível, própria e não delegada, irrevogável, suprema
na ordem interna e independente na ordem internacional.
f) Símbolos Nacionais: são representações visuais, verbais ou icónicas do povo, dos valores, objectivos ou da história
nacional que pretendem unir pessoas e que são frequentemente mobilizados como parte de celebrações de patriotismo
e projectados para ser inclusivos e representativos de todas as pessoas da comunidade nacional. Os símbolos nacionais
constam do Artigo 13 da Constituição da República de Moçambique, nomeadamente: a Bandeira Nacional; o
Emblema de República de Moçambique e o Hino Nacional, Cfr.art. 297 a 299 da CRM.

2.1.6 Participação política dos cidadãos.


O problema político diz respeito ao cidadão na sociedade. O cidadão tem de participar em todos os assuntos que dizem
respeito a sociedade. Aristóteles no seu tratado “A Política”defendia que“o homem é, por natureza, um animal
político”porque “foi feito para viver em sociedade, sente a necessidade de fazer parte da Cidade e há tendência nele
de se associar”. Péricles dizia que “um homem que não participa da política deve ser considerado não um cidadão
tranquilo, mas um cidadão inútil”. Maquiavel, já na Idade Moderna,em Discurso Sobre a Primeira Década de Tito
Lívio diz que “não há cidade forte sem povo, mas também não há cidade livre sem participação da maioria na vida
política da cidade”. Maquiavel, contudo, ressalva que a participação popular traz consequências, pois leva o público a
intenções e desejos que não são consensuais (como acontece na maior parte das vezes) pode resultar em conflitos
políticos.
A vida social é condicionada, sobremaneira, pela política. Sabe-se que todo cidadão tem sua existência acompanhada
do exercício de direitos fundamentais e do direito de participação. Pasquino entende que “Participação política é o
conjunto de actos e de atitudes que aspiram a influenciar de forma mais ou menos directa e mais ou menos legal as
decisões dos detentores do poder no sistema político ou em organizações políticas particulares como a sociedade civil,
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bem como a própria escolha daqueles, com o propósito de manter ou modificar a estrutura (e, consequentemente, os
valores) do sistema de interesses dominante”.
Sobre a participação, cumpre asseverar que este direito significa a capacidade de ser consultado para as tomadas de
decisão que dizem respeito à direcção da sociedade em que vive o cidadão e que, dentre os direitos de participação
política, tais como a igualdade de sufrágio, o direito de voto e de elegibilidade, e o direito de petição, moção, ainda
importa recordar outro que também a integra, é o direito de iniciativa popular (para abertura de escolas, postos
sanitários, mercados, etc.).
Outra forma de participação política é a formação e participação cívica através de partidos políticos. O Partido
político funda-se num agrupamento de indivíduos que se encontram unidos por ideias e actividades comuns, com vista
à consecução de certos fins políticos ou à eleição de funcionários para o Estado, quer se trate de órgãos para o
Governo central, assembleias provinciais ou para as autarquias locais. Em regimes democráticos, os partidos
políticos sobem ao poder através de eleições. Em Moçambique, a eleição é a escolha, por meio de sufrágios universal,
directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus representantes, por referendo sobre as grandes questões
nacionais e pela permanente participação democrática dos cidadãos na vida da Nação, Art.73 CRM. Na eleição, o
povo escolhe o programa do partido que acha que resolverá melhor os problemas do seu grupo social. Os sofistas
deram um valioso contributo na política, pois, falavam em espaço público sem reservas, eram os educadores do povo,
com o intuito de formar bons cidadãos, viajavam de cidade em cidade ensinando que a virtude fundava-se no saber e
que não era hereditária. Jurgen Habermas fala do espaço público que é o lugar onde os cidadãos discutem ideias,
para o bom funcionamento da sua sociedade.

Exercícios: 1
1. Quando é que um Estado é legítimo?
2. De entre os três fundamentais elementos do Estado: o povo, o território e o poder político, qual deles é
indispensável? Porquê?
3. Nos dias de hoje, podemos considerar Moçambique como uma verdadeira Nação? Justifica.
4. Quais foram as principais mudanças que ocorreram em Moçambique com a alteração da Constituição de
1990.
5. Qual é entidade superior de um país, acima da qual não existe nenhuma outra? Defina-a. Como é que
manifesta.
6. O que é que se pretende dizer quando se diz que em democracia, a soberania nacional reside no Povo.
7. Se entendemos que o homem é um animal político pelo facto de viver em sociedade e, por isso, é chamado a
participar activamente na vida política. Imagina-te estar a viver numa cidade com problemas de saneamento,
lixo, estradas esburacadas, enchente nos hospitais, estudares em condições não adequadas. Que meios usarias
para reverter a situação?

2.1.7. Direitos Humanos e Justiça social


Os direitos humanossão o conjunto de princípios básicos e essenciais à existência humana condigna, de todos os
seres humanos. Trata-se de regras ou normas de relacionamento entre os homens, ou seja, resultam da natureza
humana, visando um tratamento mútuo com dignidade, endereçados à sociedade, desde que o individuo nasce, isto é,
são direitos que se caracterizam como sendo: universais, individuais, inalienáveis e anteriores ao Estado. Ninguém
pode usurpá-los ilegitimamente, sobretudo o direito à vida, à inviolabilidade física e psicológica. Normalmente o
conceito de direitos humanos tem a ideia também de liberdade de pensamento e de expressão, e a igualdade perante a
lei.“Os direitos humanos” significam também o dever de o Estado não usurpar ilegalmente as liberdades do homem.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela ONU a 10 de Dezembro de 1948. Esboçada
principalmente por John Peters Humphrey, do Canadá, mas também com a ajuda de várias pessoas de todo o mundo
– EUA, França, China, Líbano, entre outros -, delineia os direitos humanos básicos. O Bill of Right de Virgínia é um
documento importante na luta pelos direitos humanos na América porque continha princípios de direitos inatos de
liberdades e separação dos poderes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) da Organização das
Nações Unidas tem como objectivo principal promover a igualdade entre os homens e entre as nações evitando
atrocidades como a tortura, a violência, a censura e a guerra. Na (DUDH)temos os direitos pessoais, judiciários,
sociais, civis e cívicos. A primeira Constituição escrita a exaltar os direitos humanos foi estabelecida na América
em 1787.
Justiça social
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A justiça consiste na vontade firme e constante de dar a cada um o que lhe é devido. A justiça supõe que uma pessoa
tem direito a um objecto que lhe pertence e outra tem o dever correlativo de o respeitar (justiça comutativa que se
aplica aos iguais). O conceito de Justiça social está vinculado ao do bem comum, igualdade de direitos. A justiça
social é uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e na solidariedade colectiva, é vista como o
cruzamento entre o pilar económico e o pilar social.
A justiça social corresponde à justiça distributiva que se aplica aos desiguais: justa distribuição da renda ou riqueza, de
acordo com as necessidades e a capacidade das pessoas; aumento do nível de rendimentos das massas (salário
mínimo); diminuição das assimetrias entre as classes sociais, etc. o seu principal teórico contemporâneo é o filósofo
liberal John Rawls, que em sua Obra “Uma Teoria da Justiça, 1971, defende que uma sociedade justa seria aquela
que respeitasse os três princípios nomeadamente: garantia das liberdades fundamentais para todos; igualdade
equitativa de oportunidades e manutenção de desigualdades apenas para favorecer os mais desfavorecidos.
A justiça social propõe a criação de condições razoáveis para a existência humana, daí a sua relação estreita
com os direitos humanos. Onde não se respeitam direitos humanos não há justiça social, por sua vez, onde não
há justiça social não há respeito pelos direitos humanos. Os direitos humanos e justiça social devem ser vistos
como irmão siamês.

2.1.8. Estado de Direito e suas funções


O Estado de Direito: O conceito de Estado de Direito é aplicável aos Estados onde os membros dessa sociedade estão
todos, de forma directa e clara, ninguém está acima da lei, todos estão submetidos à mesma lei, ou seja, onde a lei
prevalece e reina sobre todos os indivíduos, todos respeitam a Constituição. Num Estado de Direito há respeito pela
hierarquia das normas, separação de poderes e, por consequência, pelos direitos fundamentais.No Estado de Direito a
legitimidade de um governo reside na delegação do poder pelos cidadãos, atrás do voto. Uma das garantias do Estado
de Direito é a divisão e separação de poderes, pois permite que haja legisladores para aprovar as leis, executores para
as aplicar e magistrados para que possam julgar todos aqueles que não agirem em conformidade com a lei (poderes
legislativos, executivos e judiciais).
Funções do Estado de Direito:
As funções principais do Estado com actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político são: função política,
jurisdicional e administrativa, sobretudo, a função de zelar pela ordem e segurança da sociedade. Num Estado de
direito, o poder político está dividido em poder executivo, poder legislativa e poder judicial.
O poder executivo que exerce a função administrativa ou política é o poder do Estado que, de acordo com a
Constituição do país, possui a atribuição de governar o povo e administrar os interesses públicos, fazendo cumprir
fielmente a lei e interpretado pelo sistema judicial. Ex: Cobrar do importador o imposto na quantidade prevista na lei é
acto executivo.
Poder ou Função legislativa: é o poder do Estado que tem como atribuição elaborar leis, normas de direito de
abrangência geral ou individual que são aplicadas à toda a sociedade; poder de fiscalizar o executivo com o objectivo
de satisfazer os grupos de pressão, administração pública, a sociedade e própria causa. O órgão exerce o poder
legislativo é o parlamento.
Ex: Quem importa mercadoria paga o imposto sobre importação. Esta é uma lei.
O poder ou A Função jurisdicional consiste no julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados,
ou públicos e privados, bem como a punição da violação da Constituição e das leis através de órgãos entre si
independentes, colocados numa posição de passividade e imparcialidade, e cujos titulares (os juízes) são inamovíveis
e, em princípio não podem ser sancionados pela forma como exercem a sua actividade. Ex: Se o importador dos
exemplos acima, considera indevido o imposto cobrado surge uma contenda a ser resolvida definitivamente pela
função jurisdicional.
Exercícios: 2
1. Justifica porque é que os Direitos Humanos são universais, individuais, e anteriores ao Estado.
2. Em termos de justiça é lícito sacrificar a liberdade da minoria para o bem comum? Justifica.
3. Os direitos garantidos pela justiça na constituição estão dependentes da negociação política ou do cálculo dos
interesses sociais ou partidários?
4.Como está dividido o poder num Estado de Direito?
5. “Não há regras sem excepção.” A lei pode ser aplicável para uns em detrimento dos outros pela posição em
que algumas pessoas ocupam na sociedade?

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2.2. A Filosofia Política na História
2.2.1. A Filosofia Política na Antiguidade (Platão e Aristóteles)
A. Os sofistas: A democracia ateniense solicitava novas habilidades intelectuais, sobretudo a capacidade de persuadir.
É nesse momento que se destacam os filósofos que se dedicam justamente a ensinar a retórica e as técnicas de
persuasão – os sofistas. A educação sofística buscava preparar os seus alunos para uma vida prática, a política. Os
Sofistas foram os primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes para efectuar suas defesas, dada sua alta
capacidade de argumentação. São também considerados por muitos os guardiães da democracia na antiguidade, na
medida em aceitavam a relatividade da verdade. Hoje, a aceitação do "ponto de vista alheio" é a pedra fundamental da
democracia moderna. Estão entre os primeiros sofistas conhecidos são: Protágoras, Górgias, Pródigo, e Isócrates.

2.2.1.1. Platão (427 a.C. 347 a.C.)


a) Vida: Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C. oriundo de uma família aristocrática, foi ainda, discípulo de Sócrates.
O seu verdadeiro nome era Aristócles. Platão é apelido que derivou de seu vigor físico ou da amplitude de seu estilo
ou ainda da extensão de sua testa. (em grego, platos significa “amplitude”, “largueza”, “extensão”. O mais genial dos
discípulos de Sócrates, de decidida vocação política, depressa se desenganou das praticas políticas atenienses da sua
época, especialmente depois da condenação de Sócrates. A partir de então, dedicou o seus esforço intelectual a
construir e fundamentar teoricamente um modelo ideal de sociedade. Platão entendia a política como “a arte de
governar persuadindo os homens”.
b) Obras importantes: Os escritos em que Platão trata especificamente do problema da política, são “a República”,
“o Político” e “as Leis”. Na República, a obra fundamental de Platão sobre o assunto, traça o seu estado ideal, o
homem ideal, o reino do espírito, da razão, dos filósofos, em chocante contraste com os estados e a política deste
mundo.A República é uma utopia. Utopia significa, etimologicamente, em nenhum lugar. Platão imagina uma cidade
(que não existe), mas que deve ser modelo de todas as cidades terrenas, é a cidade ideal. Na obra, examina a questão
do bom governo e do regime justo. O bom governo depende da virtude dos bons governantes.
c) A Origem e Finalidade do Estado
O Estado em Platão é convencional (acontece por meio de necessidade), e a finalidade do Estado é proporcionar
o bem do homem na sua plenitude. Um Estado nasce porque cada um de nós não é “autárquico”, ou seja, não é auto-
suficiente, não se basta a si mesmo e tem necessidade dos serviços de muitos outros homens. Dai a necessidade dos
homens se associarem uns aos outros, em que cada um tem uma função específica a desempenhar. De facto, ninguém
pode ser ao mesmo tempo professor, advogado, mecânico, técnico de frio, etc. para satisfazer todas as suas
necessidades, o homem deve associar-se a outros homens e dividir com eles as várias ocupações. Dividindo os
encargos e o trabalho, poderá ele satisfazer a todas as suas necessidades do melhor modo possível, porque cada um se
torna uma especialista na sua área.
d) Organização Social em Platão
O projecto de Platão para a construção de uma sociedade perfeita foi apresentado em A República. Tem na sua base
numa concepção particular de justiça, baseada no interesse geral e não no interesse individual.
Sendo a justiça uma qualidade da sociedade perfeita (ideal), Platão propõe uma sociedade dividida em três classes
sociais: classe dos trabalhadores, dos guardas e dos governantes.
i) Classe dos trabalhadores (lavradores, artesãos e comerciante). É a classe dos produtores, responsáveis pela
manutenção das demais. A eles cabe providenciar as necessidades materiais, desde o alimento até às vestes e à
habitação. A temperança é a virtude que neles deve predominar, que consiste numa espécie de ordem, domínio e
disciplina dos prazeres e desejos, supondo também a capacidade de se submeter às classes superiores de modo
conveniente. As riquezas e os bens administrados exclusivamente pelos membros dessa classe não deverão ser nem
muitos nem poucos demais.
ii) Classe dos guardas (vigilantes ou militares). Incumbidos da defesa da cidade e da preservação da ordem, interna
e externa, e cuja virtude é a fortaleza ou a coragem. Esta classe deve ser composta de homens que se assemelham aos
cães de raça, ou seja, dotados ao mesmo tempo de mansidão e ferocidade. Deverão evitar a primeira classe produza
exageradamente riqueza ou desmaiada pobreza, mas que tenha uma vida mínima e decente.
iii) Classe dos magistrados (arcontes, governantes ou filósofos), aos quais compete o governo da cidade, a
legislação e a educação das outras classes e cujas virtudes são a prudência, sabedoria e a justiça.
À classe dos filósofos cabe dirigir a república. Com efeito, contemplam eles o mundo das ideias, conhecem a realidade
das coisas, a ordem ideal do mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana, e estão, portanto, à altura de

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orientar racionalmente o homem e a sociedade para o fim verdadeiro. Tal actividade política constitui um dever para o
filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim supremo é unicamente a contemplação das ideias.
e) Formas de Governo
Na perspectiva platónica, a melhor forma de governo é aquela em que o poder é exercido pelo Rei filósofo porque só
um filósofo pode governar melhor a Cidade e a Filosofia é o caminho seguro de acesso aos valores de justiça e do
bem.
Platão formulou uma tipologia de formas de governo de natureza dinâmica e cíclica. Dinâmica, porque as formas de
governo eram passíveis de se modificarem em consequência das circunstâncias. Cíclica, porque partia de uma forma
perfeita para chegar a uma forma degenerada passível de ser transmutada na forma perfeita ideal.
Platão classifica as formas de governo em graus de degenerescência. Os regimes vão degenerando de Aristocracia
(sofiocracia que é governo do rei-filósofo) passando para a Timocracia (governo dos ricos), a Oligarquia (governo
de poucos), a Democracia (governo das massas incapazes de actuar de acordo com a razão) até resultar na forma de
Tirania (governo de um só), a pior de todas. Nessa ocasião estariam reunidas as condições para retomar a sofiocracia
através da conversão do tirano pelo filósofo e a sua transformação em Rei-filósofo.
Ao governante, para Platão, corresponde a função de legislar a favor do bem comum, podendo modificar as leis
segundo as circunstâncias e conforme sua prudência. Para fazer respeitar as leis, o governante deve recorrer a razão, a
qual lhe serve de fundamento. Pois, só ao governante, filósofo, pertence o mais alto grau de racionalidade e demais
virtudes.
Depois de Ter proposto o seu plano de governo na obra A República, Platão escreve “O Político” na qual ele
argumenta que: "Já que é difícil encontrar o rei (governante) ideal, o poder do monarca deve substituir-se pela ditadura
da lei". Mais no final de sua vida Platão abandona um pouco o idealismo e atém-se mais a realidade. Sua afirmação
revela a reflexão que ele faz sobre a função das leis. Diz Platão que: "Um Estado, em que a Lei depende do capricho
do soberano, de por si mesma não tem força, está, a meu juízo, muito próximo da sua ruína. Em troca, onde a lei é
senhora sobre os senhores, e estes são seus servidores, ali vejo florescer a alegria e a propriedade que os deuses
outorgam ao Estado".

2.2.1.2. Aristóteles (384 – 322 a. C.)


a) Vida: Filosofo grego que influenciou grandemente o pensamento europeu durante a idade Média, nasceu em
Estagira (Trácia), em 384 a.C. e morre em 322 a.C. foi Discípulo de Platão e mestre de Alexandre Magno. Aos 18
anos ingressou na academia platónica, tendo permanecido durante 20 anos. Em 335 a. C., fundou em Atenas a sua
própria escola, o Liceu, onde se dedicou ao ensino e à investigação. Morreu na Ilha de Fubeia aos sessenta e dois anos
de idade.
b) Obras importantes: “A Constituição de Atenas”, “ O Económico”, “ a Ética” e “a Política”. A sua obra mais
importante que chegou até nós é “A política” onde analisa os elementos que integram a cidade (polis): território,
população e governo.
c) A Origem e Finalidade do Estado
Para Aristóteles, a política é a arte de governar a cidade, a origem do Estado é natural e não convencional como
defendia o seu mestre Platão. O homem é por natureza animal político, um ser que tende a viver em sociedade. A
finalidade do Estado em Aristóteles moral e a felicidade. O que une a ética e a política é a justiça.
d) Organização social: Aristóteles, séc. IV a.C., defendeu no seu tratado A Política, “ o homem é, naturalmente, um
animal político”, porque é “feito para viver em sociedade” (I, i, 9 e 12). Aquele que não for assim, “ ou é uma criatura
degradada, rebelde à sociabilidade ou é um ente superior, um deus que se basta si mesmo. Há assim uma tendência
natural para uma tal associação. Para Aristóteles a família é célula original; o conjunto de famílias constitui aldeia e o
conjunto de aldeias, a cidade, a polis. O fim da família é assegurar a procriação e a sobrevivência, e o da polis, bem-
estar. A família é imperfeita ou insuficiente, porque nela o homem não se pode realizar plenamente, o que só ocorre na
cidade. A natureza social e política do homem manifesta-se na linguagem que supõe um interlocutor, a pessoa com
quem se fala. O ser político do homem funda-se, portanto, em sua “loquência”, e o homem é político porque é logos,
razão palavra e diálogo.
e) Formas de Governo
Ao estudar as formas de governo, Aristóteles identificou três formas de governos rectos, nomeadamente: a
monarquia, aristocracia e politia (república) e três formas de governos corruptos que são: tirania, oligarquia e
democracia.Na perspectiva deste filósofo e do seu mestre Platão, a pior formade governo é ademocracia,

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consideram-na de corrupta. Assim como a virtude é o meio-termo, também o melhor regime será o misto ou
temperado, em que as virtudes de uns neutralizam os vícios ou defeitos dos outros.
Aristóteles distingue a monarquia, governo de um só, a aristocracia, governo de uma elite, e a democracia governo
do povo ou da maioria. Essas formas se corrompem quando os governantes sobrepõem seus interesses particulares ao
interesse geral ou colectivo. A monarquia se corrompe emtirania governo de um só homem que procura o interesse
próprio; a aristocracia em oligarquia governo dos ricos, que procuram o bem económico pessoal e a democracia em
demagogia (governo dos falsos). Aristóteles, como o seu professor Platão, justifica e sistematiza a escravidão,
sustentando que os homens são, “por natureza”, uns senhores e outros escravos. O escravo é coisa, instrumento e
objecto, e sua única razão de se ser é servir ao senhor, do qual é propriedade.
Exercícios: 3
1. Segundo Platão, como se constitui o Estado?
Comenta a seguinte frase baseando-se nas teorias platónicas “O homem não é um ser autárquico, isto é, cada
um precisa do outro para garantir a sua existência.” (Platão)
2. Na perspectiva platónica, a melhor forma de governo é aquela em que o poder é exercido pelo rei filósofo.
Este pensamento é aplicável aos dias de hoje, nos mesmos moldes em que Platão procurou defender? Porque?
3. Porque é que Aristóteles defende que o Estado surge de forma natural e que o homem é por natureza um
animal político?
4. Aristóteles classifica os deferentes tipos de governo existentes em rectos e corruptos. Na perspectiva deste
filósofo qual é a pior e a melhor forma de governo? Justifica.

2.2.3 A Filosofia Política na Idade Moderna (Machiavelli, Hobbes, Locke e Rosseau e Montesquieu)
A Modernidade tem o seu início no século XV até aos fins do século XVIII. O marco teórico da época moderna é a
exaltação da ciência e política. Na Filosofia política da idade moderna, o pensamento filosófico caracterizou-se
pelo primado da razão humana e desinteresse pela metafísica.

1. Nicolau Maquiavel (1469 – 1527)


Vida: Nicolau Maquiavel, em italiano Niccolò Machiavelli, (Florença, 3 de Maio de 1469 — Florença, 21 de Junho de
1527) foi um político, escritor, historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como
fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo facto de haver escrito sobre o Estado e o governo como
realmente são e não como deveriam ser. O adjectivo maquiavélico, criado a partir do seu nome, significa esperteza,
astúcia.
Obra: Nicolau Machiavelli escreveu, entre outras as seguintes obras: “O Príncipe”, “História de Florença” e
“Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio”. O objectivo fundamental da sua obra é o Estado sendo, aliás,
Maquiavel o criador deste termo na sua acepção moderna.
- Classificação original e inovadora dos regimes políticos
Maquiavel inova, na classificação dos regimes políticos, ao apresentar uma bipartição que distingue entre república e
monarquia. Assim, a república caracterizar-se-ia por ser dirigida por uma vontade colectiva, e poderia ser uma
república aristocrática ou uma república popular democrática, consoante fosse representada a vontade de poucos ou
de muitos.
- Formas de Governo: Na perspectiva maquiavélicagovernar éuma grande arte. Maquiavel não distingue entre formas
de governo boas e más, ou sãs e degeneradas. Daqui resulta que, para Maquiavel, todos os regimes políticos são
legítimos. Enquanto, a monarquia seria caracterizada por ser governada pela vontade de um só individuo, o monarca
deve ter, por isso, a sua actuação apreciada em função do êxito político alcançado, e não de acordo com os critérios
éticos. Mas a melhor forma de governo para Maquiavel é a república.
O nome Maquiavel é conhecido universalmente, sendo “Maquiavélico” sinónimo de um determinado tipo de
comportamento daquele que “não olha os meios para atingir os fins”.
- Governante (Príncipe): se governar é uma grande arte, para Maquiavel, o governante deve impor-se pela força,
partindo do pressuposto de que todos os homens são réus. O príncipe, tem por obrigação, como fim da política,
conquistar e manter o poder, nem que para isso se utilize de estratégias pouco convencionais, afinal “Os fins
justificam os meios”. Nestes termos, Maquiavel vai sustentar que qualquer actividade que seja levada a cabo para
manter o poder é justificada, não obstante a apreciação que possa ser feita pela moral. A estabilidade da sociedade
precisa ser conseguida em todo o custo. A finalidade das acções do governante, passa a ser a manutenção da pátria e o
bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não se sob
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uma perspectiva histórica. A natureza humana, para Maquiavel, seria essencialmente má e os seres humanos
querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, por isso, a concepção política de Maquiavel é
consequência da sua concepção antropológica.Por isso, o príncipe deve ser uma espécie de lobo com pele de cordeiro.
- Em razão do seu pensamento realista, Maquiavel vai ser um defensor da “razão de Estado”, isto é, da doutrina
segundo a qual o Estado deve obedecer a regras próprias de acção, diferentes das que tradicionalmente foram
ensinadas com regra moral aplicável aos indivíduos. A essência da doutrina de Maquiavel e do maquiavelismo é,
assim, que em política deve praticar-se o bem quando possível, mas fazer o mal sempre que necessário”.
2.2.3.2. Thomas Hobbes (1588 – 1679)
A. Vida: Filósofo e teorista político inglês (1588 - 1679. foi defensor acérrimo do poder absoluto dos soberanos. Foi
também o primeiro a avançar com a noção de Estado moderno, assente no conceito de soberania entendido como a
capacidade de decidir em última instância. Segundo Hobbes, este poder não é original nem divino, antes será resultado
de um contrato através do qual os súbditos o delegam no Estado, tendo em vista a harmonia dos interesses da
sociedade.
B. Obra: Sua doutrina política encontra-se nas obras De Cive e Leviatã. O leviathan (figura bíblica que significa “o
Deus mortal”, poder superior a todos os poderes terrenos.
C. Organização Social em Hobbes
Hobbes começa por defender a existência de dois grandes estados da história da humanidade: o “Estado de natureza” e
o “Estado de Sociedade”.
- O estado de natureza (status naturalis): refere-se em geral, ao momento hipotético vivido antes da organização
social em que o homem goza de todos os direitos e que a liberdade é total.
Inicialmente os homens viviam sem leis, sem autoridade e sem Estado. Em Estado. A concepção de Hobbes (no século
XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra
de todos contra todos (“o homem lobo do homem” ou “homo homini lupus”). Nesse estado, o homem é mau por
natureza, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os
humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. O Estado de natureza era, pois, uma situaçao de
desordem, de injustiça e de agressao permanente: era de guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes).
- Passagem para o Estado de Sociedade
A passagem do estado de natureza para o de sociedade visa obter a ordem, a paz e a justiça. Essa passagem é feita pelo
contrato social, um acto puramente racional e voluntário. Só o Estado permite alcançar a segurança da vida individual
e colectiva. Segundo Hobbes para que o Estado seja capaz de garantir os fins que se propõe tem de ser um Estado
forte, que concentre em si definitivamente o poder supremo (summa potestas imperium absolutum), ilimitado, mais
forte de todas, assim surge o Leviatã, poder superior a todos os poderes terrenos.
O estado de natureza ocorre sempre que o Estado se extingue, ou temporariamente enfraquece, e deixa de garantir,
pela sua presença e pelo seu uso legal da força publica, a segurança dos indivíduos e da sociedade. Quando isso
acontece, imediatamente vem à luz a natureza violenta e agressiva do homem e renasce a guerra de todos contra todos.
Assim o estado de natureza segundo Hobbes é uma permanente ameaça que pesa sobre a sociedade e que pode
irromper sempre que a paixão silenciar a razão ou a autoridade fracassar. Hobbes fundou no contrato um regime
absolutista e é tido como o precursor dos regimes totalitários modernos.

2.2.3.3. John Locke (1632 – 1708)


A. Vida: Igualmente Inglês e contemporâneo de Hobbes, descendente de uma família de burgueses comerciantes.
Depois dos seus estudos em Oxford entrou para a casa do conde Shaftesbury como preceptor (mestre, educador),
médico, secretário e amigo. Esteve refugiado por um tempo na Holanda, por ter-se envolvido com pessoas acusadas de
fazer movimentos contra o rei Carlos II. Preocupou-se também, para além dos problemas gnoseológicos, pelos
problemas políticos.
B. Obra: As suas principais obras são: “Ensaio sobre o Entendimento humano”, “Pensamentos sobre a Educação” e
“Dois tratados sobre o governo civil”.
C. Organização Social em Locke
Tal como Hobbes, Locke concebe a existência inicial de um estado de natureza e a passagem deste para o estado de
sociedade por via contratual com duas diferenças fundamentais:
- O estado de natureza para Locke, era um estado de perfeita liberdade e igualdade segundo a lei natural, pois que
todos os homens nascem livres e iguais; o problema residia apenas em que as diferentes interpretações da lei natural

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geravam incerteza, por cada homem ser juiz de causa própria. Dai o pacto social, cuja cláusula fundamental é a
renúncia do direito de reprimir as infracções à lei natural e a sua entrega (delegação) à justiça do Estado.
A segunda diferença consiste em Hobbes ter fundado no contrato um regime absolutista e, mais do que isso, ser
precursor dos regimes totalistas moderno, ao passo que Locke fundou o liberalismo e a doutrina da limitação do poder
com base nos direitos individuais.
- O estado de sociedade em Locke não substitui o estado de natureza, mas continua-o. Entre a sociedade e a natureza
não existe relação de oposição, mas de progressão: o estado de sociedade é o melhor que o estado de natureza.
Segundo Locke, os homens no estado de natureza são bons; porem facilmente surge entre eles divergências; é para
eliminar estas divergências que eles se constituem sociedade. A sociedade, nascida por livre contrato, tem por escopo
melhorar as relações dos indivíduos, impedindo os abusos dos direitos naturais, como a liberdade e a propriedade. O
estado não pode violar esses direitos naturais, cuja defesa constitui a única razão da sua existência: neles encontra,
portanto, o limite das suas atribuições. O cidadão pode rebelar-se, se esses limites forem ultrapassados.

2.2.3.4. Jean-Jacques Rousseau (28 de Junho de 1712, Genebra, Suíça – 02 de Julho de 1778, 66 anos,
Ermenoville, França)
A. Vida:Jean-Jacques Rousseau, simplesmente Rousseau, foi um importante filósofo, teórico político, escritor e
compositor autodidactasuíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.
Amigo de Diderot e Voltaire onde se tornaram enciclopedistas, divulgando ideias de tolerância religiosa, confiança na
razão livre, oposição à autoridade excessiva, naturalismo, entusiasmo pelas técnicas e pelo progresso. Os grandes
princípios da filosofia rousseanianasão: o estado de natureza, o estado de sociedade, o contrato social, a teoria da
vontade geral e o conceito de soberania popular
B. obras:A sua obra política fundamental é “O Contrato Social” (1762). Outras obras com relevância política são
“Projecto para a Constituição da Córsega” (1765) e “Considerações sobre o Governo da Polónia e sobre a sua
Reforma” (1772).

C: Organização Social em Rousseau: Estado de Natureza e Contrato Social


Rousseau concebe o estado de naturezacomo um paraíso perfeito e o homem como um bom selvagem. Rousseau
defende que o homem no estado de natureza é bom, puro, são, inocente, sem qualquer tipo de abuso, sendo que as suas
características negativas são resultado de uma corrupção pela sociedade, provocada pelo processo de civilização.
A transformação do homem tem lugar, em conformidade, com a descoberta da agricultura e da metalúrgica com o
desenvolvimento da propriedade privada. Assim, a propriedade introduz a desigualdade entre os homens, a
diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, culminando na predominância da lei
do mais forte. O homem que surge é um homem corrompido pelo poder e esmagado pela violência. Trata-se de um
falso contrato. Há que considerar a possibilidade de um verdadeiro contrato, legítimo, em que o povo esteja reunido
sob uma só vontade.
O nascimento do Estado resultaria da necessidade dos homens se associarem, em vez de se combaterem e se
destruírem mutuamente, através de um contrato social em que cada individuo renúncia ou vai alienar a sua liberdade,
seus direitos ao corpo social em prol da comunidade e do bem comum e torna-se cidadão. Segundo Rousseau isto não
significa deixar de ser livre, na medida em que, quando obedece aos comandos do poder político, está a obedecer a si
próprio, sendo legislador e súbdito ao mesmo tempo.
Vontade Geral: Rousseau defende que o Estado existe não para defender interesses particulares dos governantes, mas
sim para defender avontade geral. A vontade geral não é consenso, nem vontade da maioria e muito menos a soma
das vontades individuais, é a vontade do corpo político, ou seja, a vontade do Estado, que é a vontade do “Todo” (a
sociedade), considerada como infalível, é auto determinante, não seria constrangida por nada, tendo o "Todo"
(sociedade) se submetendo a ela, recebendo cada um parte individual do "Todo". Nestes termos, quem não quiser
voluntariamente adequar os seus comportamentos à decisão da maioria deve ser constrangido a fazê-lo pela força. Para
atingir a vontade geral é necessário que a sociedade reduza a desigualdade social, maior educação da sociedade às
expensas do Estado, pois assim as opiniões, as leis deveriam ser aprovadas pela religião, pois "Um bom cidadão será
um bom religioso". Conceitos e principalmente vontades seriam mais próximos e estreitos. Caso haja o
descumprimento da vontade geral ou recusa a aceita-la, o indivíduo será constrangido pelo corpo, ou seja, pelos
demais da sociedade, sendo esse indivíduo forçado a ser livre e independente, sem vínculo com os outros. 
O conceito de soberania popular traduz a ideia de que a soberania reside no povo. Com base neste conceito faz a
defesa da democracia direita, considerando que a democracia representativa não é uma verdadeira democracia. Em
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conformidade, os projectos de leis que tivessem sido elaborados pelos representantes do povo, só poderiam ser
considerados legítimos se fossem aprovados pelo povo, através de um instrumento democracia directa: o referendo.

2.2.3.5. Charles de Montesquieu (18 de Janeiro, 1689, – Paris, 10 de Fevereiro de 1755)


A. Vida: foi um político, filósofo e escritorfrancês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes,
actualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais, de reconhecido saber enciclopédico e
pai do constitucionalismo liberal moderno.
B. Obras: Hábil escritor concebeu livros importantes e influentes, como: “Cartas persas (1721), Considerações sobre
as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734) e O Espírito das leis (1748), a sua mais famosa obra.
Contribuiu também para a célebre Enciclopédia, juntamente com Diderot e D'Alembert.
O Espírito das Leis (L'Esprit des lois, 1748),
É uma obra volumosa, na qual se discute a respeito das instituições e das leis, e busca-se compreender as diversas
legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Esta obra inspirou os redactores da Constituição de 1791 e
tornou-se na fonte das doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legislativo, executivo
e judiciário. Na obra, analisa de maneira extensa e profunda os fatos humanos com um rigoroso esboço de
interpretação do mundo histórico, social e político.
C. As leis: Montesquieu, na sua obra, ele pretende descobrir as leis naturais da vida social. A lei social entende-a não
como um princípio racional do qual se deve deduzir todo um sistema de normas abstractas, mas a relação intercorrente
dos fenómenos empíricos. Para ele, na sociedade, existem dois tipos de leis: leis da natureza e leis positivas.
Asleis da natureza são: 1ª Lei – igualdade de todos os seres inferiores; 2ª Lei – procura de alimentação; 3ª Lei –
encanto entre seres de sexos diferentes; 4ª Lei – desejo de viver em sociedade (exclusivo ao homem; provém do
conhecimento). Nas leis positivas temos o direito das gentes que sãoleis regulam a convivência entre diferentes
povos, porque os homens organizados em sociedade, perdem a fraqueza e a igualdade e instaura-se um estado de
guerra entre nações, em virtude de cada uma das nações sentir a sua força; o direito político que se baseia no princípio
de que as diversas nações devem fazer umas às outras, na paz, o maior bem e, na guerra, o menor mal possível, sem
prejudicar os seus verdadeiros interesses; e o direito civil, com normas que regulam as relações entre os cidadãos, os
governados e os governantes.

D. Classificação dos Regimes Políticos e Formas de Governo:


Montesquieu procura determinar os diversos tipos de associação política do Estado tendo em consideração a natureza
do governo e o princípio de sua actuação. Sendo assim, são tipos sociológicos fundamentais de formas de governo: a
Monarquia - soberania nas mãos de uma só pessoa (o monarca), age segundo leis positivas e o seu princípio de
actuação é a honra; Despotismo - soberania nas mãos de uma só pessoa (o déspota, tirano) age segundo a sua
vontade e o seu princípio é o medo; e a República - a soberania está nas mãos de muitos (de todos = democracia, ou
de alguns = aristocracia) e o seu princípio motor é a virtude.
São formas puras de governo amonarquia, a aristocracia e a democracia. As formas impuras do governo sãoa
tirania corrupção da monarquia, oligarquia corrupção da aristocracia e demagogia corrupção da democracia.

E. A Teoria da Separação de Poderes:


Em sua filosofia política, na sua obra “O Espírito das leis”, Montesquieu propõe a divisão tripartida da separação do
poder político em poderes legislativo (exercido pelo parlamento), executivo (exercido pelo governo) e judicial
(exercido pelos tribunais), contra o poder despótico, com o fim de estabelecer condições institucionais de liberdade
política através de uma equilibrada divisão de funções entre os órgãos do Estado. Essa separação, segundo o autor, é
essencial para que haja a liberdade do cidadão em se sentir seguro perante o Estado e perante outro cidadão, pois se
fosse dado a mais de um desses poderes o poder de legislar e ao mesmo tempo julgar essa medida seria extremamente
autoritária e arbitrária perante o cidadão que estaria praticamente indefeso, ou seja, estaria a mercê de um juiz
legislador.

Exercício: 4
1. A concepção política de Maquiavel é consequência da sua concepção antropológica.
2. Qual é o fim último do príncipe no Estado para Maquiavel?
3. O que é que significa governar para Maquiavel? Porquê?
4. Diga como Maquiavel concebe o homem e como deve ser o comportamento do príncipe.
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Comenta as seguintes expressões maquiavélicas:
5. “Os fins justificam os meios”, “razão de Estado”.
6. O governante deve partir do pressuposto de que todos os homens são réus ou seja, o príncipe deve ser uma
espécie de lobo vestido de cordeiro”
7. Explica porque é que na visão de Thomas Hobbes, no Estado Natural, o homem encontra-se constantemente
numa situação de guerra de todos contra todos, e, por isso, comporta-se, em relação aos outros, como um
verdadeiro lobo (homo hominilupus) foi?
8. “O maior dos poderes é poder do Estado, resultado da soma de poderes de todos os homens na formação do
contrato social” Thomas Hobbes.
a) De que poderes é que se trata na formulação dos poderes de Bobbio?
b) Como é que John Locke se propõe discutir os direitos do homem na sua relação com o Estado?
Porque é que para Locke, a autoridade do Estado só é legítima quando usa o poder para o bem dos cidadãos.
9. Rousseau é um dos expoentes do iluminismo francês e autor da obra “O contrato Social”. Quais as principais
ideias expressas nessa obra?
10. “O homem nasce bom mas a sociedade é que lhe o corrompe”.
a) Com esta afirmação, Rousseau pretendia rejeitar a tese defendida por que filósofo? Qual tese é essa?
b) Caracterize o estado de natureza de Rousseau.
c) Quais são as causas da sua corrupção.
d) Como é que se soluciona o problema da corrupção do homem em Rousseau?
11. Que consequências advém para aqueles que recusarem conformar seus comportamentos à vontade geral?
12. Moçambique é um Estado de Direito que se enquadra na Teoria de Montesquieu. Apresenta a divisão
tripartida do poder político rousseuniana presentes na organização política da sociedade moçambicana.
13. Qual é o problema que Rousseau pretendia resolver com a sua teoria de separação de poderes?
14. Diferencie o direito das gentes do direito político em Montesquieu.
15. Montesquieu procura determinar os diversos tipos de associação política do Estado. Preenche o quadro
seguinte:
Formas de Governo Titular do poder Formas de actuação Princípio de actuação
Monarquia
Despotismo
República

2.3. A Filosofia Africana


Entende-se por Filosofia Africana (F.A.) o conjunto de pensamentos relativos à emancipação do negro.A F.A. tem
por objecto de estudo os problemas concernentes a realidade do continente negro ligados à liberdade, identidade, e
autonomia existencial africana. Na preparação da Filosofia africana é importante destacar um grupo de pensadores (os
sábios africanos) cujo trabalho não chega a ser uma Filosofia no verdadeiro sentido, pois faltava-lhes a sistematização
crítica e a escrita. Temos de acolher que a reflexão sobre a Filosofia Africana expressa-se em três domínios ou
correntes da Filosofia Africana, a saber: a Etno-filosofia, a Filosofia Política e a Filosofia Profissional que nos leva
ao debate sobre a existência ou não da Filosofia Africana e suas implicações.

2.3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana: Podemos falar de “Filosofia em África ou Filosofia
africana? Que implicações?”
No século XVIII, em um contexto histórico de colonização, aparece na Europa para a Filosofia o seguinte problema:
há ou não uma filosofia africana? A resposta que o debate vai produzir reflecte a visão do mundo e a compreensão
que o colonizador europeu tinha de África e do africano na época. Posteriormente, no século XX, esse problema será
levantado outra vez, graças à obra “La Philosophie Bantoue” do missionário franciscano Placide Tempels,
publicada em 1945. Tal debate ou polémica nos envia desde logo às páginas da História Geral da África.

2.3.1.1. Questões históricas


Na filosofia do colonizador os africanos foram identificados como una raça subhumana. Ora vejamos alguns
argumentos:

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A Teologia definiu o negro como descendente de Caim, personagem bíblica que matou seu irmão Abel, em que se diz
que tenha sido ele o pai da raça negra africana, um sujeito que viu a nudez do pai. Portanto, o negro aparece como
símbolo de maldição e pertenceria a geração dos condenados de Deus.
No âmbito filo-antropológico e sócio-histórico: Voltaire afirma, na sua obra História do Século XIV,que o povo
mais elevado é o francês e o mais baixo é o africano; Montesquieu afirma que “o negro não tem alma”;Hume diz-
se inclinado a suspeitar que os negros são, por natureza, inferiores aos brancos; Jean Jacques Rousseau vai dizer
que os africanos são bons selvagens; para Hegel, “a África está fora do movimento da história universal, porque nela
e dela não emergiram nem a razão nem a liberdade. A África “é o país da infância”, é “um Estado de inocência”, e o
negro “representa a natureza no seu estado mais selvagem ”;“Quando olhamos para um negro, não vemos nele
alguma característica que nos recorde um homem”. A tese deste pensador é a de que no continente africano não se
vislumbram traços da racionalidade, nem existem instituições políticas consistentes, organizações sócio-políticas
complexas para além de predominar a tradição oral. Por isso que os africanos são povos sem história e, por
consequência, desprovidos de humanidade; Kant chega à conclusão de que os africanos são povos sem interesse por
não ter a racionalidade; Levy Brhul vai dizer que nós os africanos temos uma mentalidade pré-lógica; os antropólogos
Morgan e Tylor vão dizer que a África é uma sociedade morta.
Na área do Direito: Montesquieu afirmou que os africanos são povos sem leis; Luís XIV, considerado “rei do sol”
escreveu O Código Negro, uma espécie de direitos dos senhores sobre os negros. Assim ocidente tinha arrebatado a
teoria de dominação e inferiorização dos africanos. Em Panafricanisme ou Commonisme?George Padmore diz que
este facto provocou uma crise no pensamento, na palavra e no agir do homem africano. O ocidentalismo promovia,
directa ou indirectamente, uma antropologia triunfalista, cujas teorias e doutrina exaltavam uma classe que se auto
proclamava herdeira exclusiva da humanidade e da racionalidade. Por essa razão, se arrogava o direito de destruir,
assumir ou “esmagar” outros povos. Este tipo de antropologia foi classificado por Lecrec na sua obra “Crítica da
Antropologia” como um verdadeiro “vandalismo” cultural, narcisista, agressivo, destruidor. Mais tarde, as ciências
sociais e humanas começaram a fazer novas abordagens com uma nova visão em relação às outras culturas. Passou-se
a reconhecer que toda a cultura representa uma determinada civilização, independentemente da sua situação
geográfica, histórica, social e económica. Hoje, o filósofo africano, partindo da sua própria história, tem um papel
muito importante de projectar o futuro homem africano, reabilitando a imagem do negro, reactivando a sua auto-
estima e mostrar que o negro é igual ao branco. Foi para responder a esta preocupação que alguns pensadores africanos
desenvolveram debates acesos sobre a existência ou não da Filosofia Africana.

2.3.1.2. Filosofia em África ou Filosofia africana (FA)?


O pequeno livro publicado em 1945 por um missionário belga, totalmente desconhecido no mundo dos africanistas, o
Padre Placide Tempels com o título “La Philosophie bantue”1, foi um começo de centenas de publicações e outros
trabalhos científicos – livros, artigos, memórias, teses, comunicações, etc. – Consagrados seja na definição da FA, ou
segundo casos, da filosofia de tal…, ou filosofia de tal nação africana.
Há filósofos académicos em África e fora dela em que os seus relatos foram voluntariamente escondidos dos livros da
história da filosofia, ou quando mencionados são agrupados com os filósofos Greco-Orientais. Alguns de nós sabem
pouco que Plotino, que escreveu obras em filosofia e abriu uma escola em Roma, era de Licon no Egipto; não sabem
que a primeira mulher filósofa, Hypatia, era de Alexandria e foi morta pelos cristãos; que nomes como Santo
Agostinho, Origenes, Cirilo e Tertuliano não são estranhos, são africanos. Assim, começa o debate sobre a
existência ou não da filosofia africana ou poderia apenas falar de filosofia em África e quem seriam os
protagonistas desta ou daquela outra filosofia. Seriam os africanos dentro de África ou fora dela ou ainda
incluir-se-iam estrangeiros dentro de África ou ao serviço de África?
O que é mais pertinente no nosso tema é o facto de que o que chamamos filosofia grega ou ocidental é copiado de
filosofia indígena africana de “sistemas misteriosos”. Todos os valores de sistemas misteriosos foram adoptados pelos
gregos jónios que vieram ao Egipto a estudar.
Os sábios africanos do passado definiram as bases culturais para uma Filosofia Africana. O seu esforço na actividade
especial não chegava, no entanto, a ser Filosofia, porquehes faltava o enfoque sistemático e crítico.
O problema fundamental do debate é antes do objecto de estudo, os problemas concernentes a realidade do
continente negro ligados à liberdade, identidade, e autonomia existencial africana, do que o nome em si. Até

1
T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra do Padre Tempels e falar do conteúdo da obra “La PhilosophieBantue”.
Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Hypatias, que foi a primeira mulher filósofa.
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certo ponto, os críticos abrem a possibilidade da existência da filosofia africana, questionando em que moldes tal
filosofia deverá ser feita para que seja chamada filosofia africana. Neste debate sobre a Filosofia Africana, a
questão mais discutida é o estatuto da oralidade tradicional africana, problema este que se prende-se com falta de
escrita. A filosofia etíope é tida como um caso especial pela existência de uma certa tradição de filosofia escrita.

2.3.2 As Principais Correntes Filosóficas Africanas: Etno-filosofia, Filosofia Política e a Filosofia Profissional
3.2.1 A Etnofilosofia. A Oralidade e a Lateralidade na Filosofia Africana
A etnofilosofia ou a corrente tradicionalista considera todos os elementos do africano presente nos contos, lendas,
fábulas, mitos, nos provérbios nas tradições africanas como sinais de existência da filosofia africana. A
etnofilosofia deriva da etnologia, que esta por sua vez deriva de etnia. Entende-se etnia ao conjunto de indivíduos
unidos por características somáticas, culturais, linguagens comuns, etc. Os etnofilósofos são assim chamados por
terem feito estudos de etnias africanas. Eles defendem que toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, ninguém faz
filosofia sem se basear em alguma cultura. Esta escola sustenta que a filosofia africana repousa nos provérbios, nas
máximas, nos costumes que os africanos de hoje herdaram dos seus antepassados através da tradição oral. Por isso, a
função do filósofo africano que se refere à filosofia africana é a de coleccionar, interpretar e difundir os
provérbios, contos folclóricos, mitos e outro material deste tipo. Assim, a etno-filosofia é uma visão do mundo
que se baseia em tradições, rituais, sistemas de crenças, mitos e linguagens africanas, ou seja, é uma filosofia
mítica (existência, origem e finalidade dos africanos), cosmológica, ao debruçar-se dos modos de vida (usos e
costumes do africano) e é subjacente às estruturas linguísticas, isto é, analisa se nas estruturas linguísticas há
um pensamento coerente, lógico, que constitui a base da construção de todo o pensamento mítico ou
cosmológico. O intento dos filósofos desta corrente é provar ao homem branco, Ocidental que em África existe
filosofia. Eles estudavam um aspecto numa tribo ou num grupo étnico particular. Esses aspectos são: a língua, o mito,
a religião, as lendas, a cultura, características somáticas, psicológicas, etc.

Representantes: Placide Tempels, Alexis Kagame, John Mbiti, P. Laléyé,Cheik Anta Diop, A. Ndaw, M. Sylla,
M. Griaule; Leopold Senghor, etc2.
Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sempre existiu filosofia africana, só que ela é diferente na forma e no
conteúdo da filosofia europeia. O padre Placide Tempels no seu livro intitulado “La Philosophie bantue”, que sonha
com uma cristianização acelerada, tem por objectivo pôr ao lume a sabedoria popular e os sistemas de pensamento
tradicionais e contribuir assim para a edificação de uma Filosofia Africana. Tempels na sua obra Filosofia Bantu
defendeu a ideia de que os Bantu não só têm uma mentalidade lógica, mas também possuem um sistema lógico,
uma filosofia positiva completa do universo, do homem e das coisas que o rodeiam, da vida, da morte e da
sobrevivência. Para Tempels os Bantu possuem uma ontologia, por conseguinte uma filosofia.
Para Anyanw, a missão do filósofo africano é de compreender e explicar, os princípios sobre os quais se baseia cada
uma das culturas africanas. O método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste na análise da experiência
africana,da sua cultura e princípios que os rege.
Alexis Kagame, (Padre católico do Ruanda), considerado pai da etno-filosofia por Hountondji, escreveu a obra “A
Filosofia Bantu Ruandês do ser”, inspirando-se na filosofia aristotélica, onde na sua reflexão desenvolveu as
categorias aristotélicas do ser, através da análise gramatical rigorosa das estruturas linguísticas. A partir desta obra,
vários estudantes africanos defenderam as suas teses, cada um deles com a filosofia bantu da sua língua vernácula
(genuína, nacional ou da pátria).
Cheik Anta Diop (historiador afrocêntrico senegalês) teve como instrumento étnico a cultura. Em “Nações Negras e
Cultura”, Diop esforça-se em mostrar as influências das culturas africanas na formação da cultura grega que deu
origem à filosofia. Ele recorda que o próprio Tales, Pitágoras, Heródoto fizeram viagens até ao Egipto. Ele defende
que “a civilização universal foi essencialmente uma civilização africana negra”, não só, descobriu muitas
semelhanças entre o Antigo Egipto e as culturas africanas, como também, encontra inclusive, pontos comuns entre as
línguas faraónicas antigas e as línguas africanas modernas. Sustenta ainda que as civilizações europeias derivam do
Antigo Egipto.

2
T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra de Alex Kagame, John Mbiti, Cheik Anta Diop e Leopold
Senghor . Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Anyanwu, Franz Crahay, M. Towa, Weredu.

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John Mbiti (teólogo queniano) fala da filosofia africana numa dimensão religiosa do africano, onde diz que o africano
não sabe existir sem religião. No fim ele diz que “quem quer ser africano deve pertencer à comunidade e envolver-se
na participação das crenças, nos ritos e nas festas africanas”. Segundo John Mbiti, a Etnofilosofia pode ser
considerada Filosofia porque na tradicão oral subjaz um pensamento especulativo que está debaixo nos
proverbios, nas maximas e nos costumes que os africanos herdaram dos seus antepassados através da tradição
oral.

Criticas: Figuram na lista dos críticos da etnofilosofia: Hountondji, Franz Crahay, E. Boulaga, M. Towa, Oruka,
Weredu, entre outros. A questão que os críticos colocam é: Uma simples catalogação de mitos, crença e provérbios
pode-se considerar filosofia africana? Pode-se falar de Física ou Química Africanas, da mesma forma que eles falam
da Filosofia Africana. Como obviamente a resposta é não, eles negam a ideia da existência de uma Filosofia Africana.
Paulin Hountondji, ao criticar a etnofilosofia, diz que “A filosofia começa onde a opinião e a sabedoria popular
terminam”, porque ambas são uma concepção acrítica da tradição e da autoridade dos costumes.As críticas
formuladas por P. Hountondji na problemática da existência da Filosofia Africana têm a ver com a colectividade,
misticidade e oralidade dos africanos. Para Hountondji, o termo etnofilosofia significa um trabalho desenvolvido por
etnólogos com pretensão filosófica. Hountondji usou o termo “etno-filosofia” para reagir à ideia da existência da
filosofia africana de Temples, que na visão de Hountondji, Temples parte dos dados etno-filosóficos concernentes à
cultura bantu e se serve do modelo filosófico da Escolástica (Aristóteles e S. Tomas) cuja finalidade era de
evangelizar, libertar teologicamente e civilizar o homem africano; a intensidade da aspiração da vida dos bantu, a
fecundidade, a união constituíra para Temples elementos fundamentais para aprofundar o seu pensamento para
defender a tese de que o comportamento dos bantus deve ser
Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e PaulinHountondji é acerca do papel do estatuto da oralidade
compreendido como um comportamento racional, que se apoia num sistema coerente do pensamento.
Contra - críticas:
K.C. Anyanwu: começa por atacar o pensamento de Hountondji ao dizer: “há peritos que acreditam que a filosofia é a
mesma em África, na Ásia, na Europa e afirmando que uma filosofia distintamente africana, não existe”. Pelo
contrário, toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, é filosofia condicionada e limitada pela cultura, ou por
outras palavras, o universal é sempre particular, local. A filosofia africana tem que partir do dado concreto, isto é,
a vida de cada dia, a prática dos costumes religiosos e morais, o trabalho e o tempo de lazer.
Na visão de Kwasi Wiredu o pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos, visto estarem
relacionados com o homem e o mundo.
Para Olabiyi Babaida Yai, é necessário fazer uma discussão racional com Hountoundji que, pela sua definição
eurocêntrica da filosofia, nega a filosofia africana. Assim como o mito foi a base da filosofia grega, pode-se dizer que
a base da filosofia africana é a cultura com os seus mitos e crenças.
Segundo A. Ndaw, a Filosofia Africana precisa ter em conta a tradição a fim de que o homem negro reencontre a sua
identidade. O interesse pelos contos, provérbios, ritos de iniciação, pelos mitos deve ser objecto da ontologia com
objectivo claro de “encontrar um pensamento que nos une é comum e evitar uma confusão entre o que pende ao
racismo e um pensamento aberto, sobre o universal”. O autor acrescenta: através dos mitos negro-africanos, “o que
nós queremos atingir não são as ideologias, mas as palavras de vida que nos permitem compreender a nós
mesmos”.

3.2.2 A Filosofia Política em África: Corrente Ideológica.


Considera a filosofia como um saber virado para a libertação buscou sobretudo dar uma resposta à exigência
imediata dos problemas ligados ao colonialismo, da necessidade inadiável de aceder às independências, assim como,
ao fim à escravatura e à exploração do homem africano; à emancipação da África nos contextos políticos,
económico e social. Neste contexto a filosofia africana entende-se como uma ideologia que acompanha todo o
processo histórico e de desenvolvimento das sociedades a nível universal. Opõe-se diante de todos os prejuízos ou
das teorias que justificam o racismo e o colonialismo. Valoriza o pan – africanismo, a negritude, a filosofia dos
movimentos de libertação, O “Black Renaissance”, “African Renaissance”, a personalidade africana, o
consciencismo de Nkrumah, o humanismo africano e o socialismo africano.

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Representantes: William Edward Burghard Dubois, Marcus Garvey, Edward Blyden, Booker Washington,
Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda Eduardo C. Mondlane, Samora M. Machel, Nelson
Mandela, T. Mbeki, M. Kadaf, Albert Luthuli.
A característica fundamental da Filosofia política africana tem a ver com a luta pela liberdade das nações africanas
e a criação de um futuro sócio-económico e político de África. Muitos pensadores africanos optaram pelo socialismo,
como forma conveniente os países africanos, motivados por concepção de que a unidade da família e da riqueza estão
para o povo. A filosofia Politica Africana actualmente está preocupada com: a independência económica africana, o
tribalismo,a ditadura e a democracia.

Pan-africanismo vs Negritude
Com o objectivo comum de lutar pela liberdade, estes dois movimentos foram desenvolvidos por estudantes e
académicos africanos residentes em Inglaterra e em França, respectivamente. O primeiro, o pan-africanismo, lutava
pela emancipação política de todos africanos, ao passo que o segundo, a negritude, lutava pela unidade dos negros sob
o ponto de vista cultural, como veremos mais pormenorizadamente na unidade didáctica que fala sobre a filosofia
africana.
O Pan-africanismo
O termo Pan-africanismo vem do grego, pan (toda) e africanismo (referindo-se a elementos africanos). A origem do
termo é inserido na corrente filosófica-política historicista do século XIX sobre o destino dos povos. [2].
É discutido se a autoria da expressão pertence a William Edward Burghardt Du Bois ou Henry Sylvester Williams.
O aparecimento do movimento pan-africano coincide com dois aspectos históricos inesquecíveis para os
africanos, nomeadamente o fim do comércio dos escravos e o início do colonialismo. A motivação do surgimento
do Pan-africanismo foi de âmbito político.
o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos direitos do povo africano e
da unidade do continente africano no âmbito de um único Estado soberano, para todos os africanos, tanto na África
como em diáspora.
A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos indivíduos na diáspora americana descendentes de
africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William Edward
Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena política por africanos
como Kwame Nkrumah.
O primeiro encontro histórico de africanos (Pan-africanismo) teve como objectivo estruturar a ideologia
necessária para unir os africanos oprimidos e escravizados realizou-se nos EUA, em 1900.
Ainda assim, o movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política da
África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos os
africanos.
Negritude
Negritude (Négritude em francês) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros de países
que foram colonizados pela França. Os objectivos da Negritude são a valorização da cultura negra em países africanos
ou com populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.
foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir ("O estudante negro") e no seu
livro de poemas “Cahier d’un retour au pays natal”. Com o conceito pretendia-se em primeiro lugar reivindicar a
identidade negra e sua cultura, perante a cultura francesa dominante e opressora, e que, ademais, era o instrumento da
administração colonial francesa (Discurso sobre o colonialismo, Caderno dum retorno ao país nataletc.). O conceito
foi retomado mais adiante por LeopoldSedar Senghor, que o aprofunda, opondo a razão helénica à emoção negra.
Mais tarde o próprio Césaire admitiu o conceito ser racista e Senghor dirá, houve, no começo da filosofia da
negritude, um racismo anti-racista.
Segundo Senghor, a negritude é o conjunto de valores culturais do mundo negro. Para Césaire, esta palavra designa
em primeiro lugar a repulsa. Repulsa ante a assimilação cultural; repulsa por uma determinada imagem do negro
tranquilo, incapaz de construir uma civilização. O cultural está acima do político.Jean Paul Sartre definirá a
negritude como a negação da negação do homem negro.
O projecto da Negritude resume-se em três conceitos identidade, fidelidade e solidariedade e deveu-se a
personalidades tais como Senghor, Césaire e Damas. A Negritude surge tomando várias formas e variados nomes
como Movimento do renascimento negro, segundo Du Bois; “Regresso a África”,de Marcus Garvey e “o
desenvolvimento segregado” de Booker Washington.
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Renascimento Africano
O Renascimento Africana é um conceito de que o povo e as nações da África devem superar os atuais desafios com
que se defronta o continente, promovendo uma renovação cultural, científica e económica. A noção de Renascimento
Africana foi inicialmente formulada pelo antropólogo e historiador senegalês Cheikh Anta Diop, em 1946, mais tarde
popularizado por Nelson Mandela (1994) e Thabo Mbeki (1999 - 2008).
O povo africano conheceu várias humilhações, facto que o levou a sentir-se inferior a outros povos, sobretudo os
europeus, que o escravizaram durante séculos. Sendo assim, é necessário desenvolver uma ideologia que levasse o
homem africano a renascer e a sentir-se um homem igual aos outros. Renascer significava tornar a nascer. Depois do
nascimento biológico, o africano precisava de voltar a nascer psicologicamente para recuperar a auto-estima extirpada
pelos colonizadores.
Azekiwe dizia “ensinai o africano que renasce a ser homem”, pretendendo dizer que o africano tem dignidade, tem
história, uma cultura e devia se orgulhar com isso. Nkrumah assinala que o africano é um ser espiritual, dotado de
dignidade e inteligência, é hospitaleiro, diferente do europeu que é individualista competitivo e materialista.
Em Abril de 1997, Mbeki articulou os elementos constitutivos do Renascimento Africana como: coesão social,
democracia, reconstrução económica e crescimento e a inserção da África, de forma significativa, no cenário
geopolítico mundial.
Em 11 de Outubro de 1999, foi fundado o African Renaissance Institute (ARI) em Pretória, sediado em Gaborone,
Botswana e suas prioridades incluem o desenvolvimento de recursos humanos, ciência e tecnologia, agricultura,
nutrição e saúde, cultura, comércio, paz e boa governação a na África.
3.2.3 Filosofia Profissional e Académica: a Africanidade da Filosofia
Esta corrente entende que a filosofia existe quando haja filósofos singulares, conscientes da pesquisa filosófica, pois
ser filósofo comporta em lançar-se na pesquisa livre e permanente da verdade que se expressa e não contemplada,
como acontece na religião. A Filosofia Africana como disciplina académica e profissional tem a função importante de
analisar e interpretar a realidade em geral, com relação à realidade africana.
Os críticos da etnofilosofia dizem que não podemos confundir o emprego do termo filosofia usando-o no sentido
ideológico. Filosofia é uma palavra que se usa para designar uma ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os
africanos tenham a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou manter a desilusão
de que os africanos têm a sua filosofia, porque o que nós temos são mitos, crenças e provérbios. Eles negam, portanto,
uma filosofia estritamente africana. A questão da existência de uma filosofia africana para encontrar solução deve
levar em conta o surgimento do desenvolvimento espontâneo e autônomo da sociedade africana. Dessa forma, os
filósofos africanos estão obrigados a inventar sua própria definição de filosofia em virtude de seu tempo e lugar.

Representantes:Paulin Hountondji, Ngoma Binda, Ntite Mukendi, Eboussi Boulaga, Franz Crahay, Marcien
Towa, Kwasi Wiredu e Odera Oruka, entre outros.

Paulin Hountondji filósofo beniniano (Benin) na sua obra “African Philosophy, Mythe and Reality de 1974” torna-se
um dos grandes críticos contra a existência da filosofia africana fazendo-se valer com os seguintes argumentos:
Filosofia, no seu sentido restrito, para Hountondji é uma disciplina científica, teorética e individual, assim como a
linguística, a álgebra e, portanto, não se pode substituí-la por crenças populares, práticas tradicionais,
comportamento popular de um povo qualquer. Seria um abuso da palavra filosofia. A filosofia não se deve
identificar com o mito ou com a religião tradicional. A filosofia emerge sempre em oposição ao mito, às religiões
tradicionais e à sua respectivo dogmatismo e conservadorismo. O que é dogmático não pode ser filosófico.Hountondji
enfatiza a importância da escrita na criação de uma Filosofia Africana;
A relação filosófica para com o mito e as religiões tradicionais não é uma relação arquivista ou arqueológica com
função de sistematização e perpetuação dela, nem sequer uma protectora desse passado popular, ao contrário, a relação
da filosofia com o mito e a religião tradicional é de continuidade, transformação consciente, crítica contínua da
tradição do povo perante os desafios encarados pelo povo no presente e no futuro. Portanto, a filosofia deve abrir os
horizontes do povo para enfrentar os desafios do futuro. Querer que a filosofia africana exista não tem sentido.
PaulinHountondji,no fim, pensa que a Filosofia Africana deve ser um tipo de literatura produzida por Africano e
que versa sobre os problemas africanos.Todos nós concordamos que a FA não pode nascer “ex nihil” (do nada), mas
que necessariamente parte da herança cultural. Contudo, esta herança cultural não consiste necessariamente em olhar
atrás. A FA deve ser uma confrontação criativa das suas ideias com o presente e o futuro.
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Hountondji afirma que o problema que se coloca é substancialmente a ideia de filosofia quando é qualificada pela
palavra africana, se esta palavra (filosofia) mantém ainda o seu significado original. Na sua opinião, é que a
universalidade da filosofia deve ser conservada. Não é que a filosofia deva tratar necessariamente os mesmos temas ou
fazer as mesmas perguntas, mas porque as diferenças de conteúdos são significativas. É preciso notar que os primeiros
propagandistas da FA foram homens da Igreja, como por exemplo: Tempels (Belga), Alexis Kagame (Ruandês), John
Mbiti (keniano) Vicente Mulago (congolês). Estes pensadores queriam somente encontrar bases psicológicas para
implantar o Evangelho no terreno africano, sem prejudicar a ninguém.
Quando a palavra filosofia é qualificada pela palavra africana não tem o mesmo significado que quando se fala da
filosofia ocidental do século XIX. “Parece-me que uma palavra muda o seu significado se aplicada à Europa, à
América em vez da África. Este é um fenómeno comum, como Odera Oruka (keniano) humoristicamente comenta:
“o que é superstição é apresentado como religião africana. O Ocidente é esperado que diga é mesmo assim, religião
africana; o que é mito é apresentado pelos africanos como filosofia africana, e os africanos estão a espera que os
ocidentais confirmem que não é mito, mas filosofia africana. O que é claramente ditadura é considerada como
democracia africana e a cultura europeia é esperada a apoiar que é mesmo assim”. Nós manipulamos as palavras em
nome da cultura africana. O que é pseudodesenvolvimento (desenvolvimento da elite, favoritismo) é descrito na África
como desenvolvimento cultural e esperamos que o Ocidente aplauda tudo isso como desenvolvimento africano”.
Portanto, segundo Hountondji, as palavras mudam o seu significado quando passam do contexto europeu ao contexto
africano. O papel criador da FA tem de ser actuado por filósofos africanos que são sujeitos da actividade filosófica
como os protagonistas.
A africanidade da FA só emerge a partir duma actividade filosófica de discussão, crítica dos africanos que são
filósofos. A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano. A africanidade não consiste em
falar da África ou em tratar de problemas africanos, ao contrário, consiste na partilha e na conversa entre africanos que
são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de maneira crítica e criadora.

3.3. Filosofia africana: Que implicações?


A Filosofia africana existe. Em África há pensadores individuais académicos africanos e não africanos que procuram
livre e continuamente a verdade que se abrem ao universal, entre eles Christian Neugebauer, Marcien Towa,
Severino E. Ngoenha, Henry Odera Oruka (filósofo keniano), e Kwasi Wiredu (Ghana).
A filosofia africana deve estar ao serviço da liberdade, da dignidade humana na sua totalidade; a filosofia africana
deve essencialmente ser destinada como toda a filosofia, ao serviço do homem, homem africano oferecendo-o
possibilidades de saber descobrir pessoalmente a verdade tornando-o autónomo.
Outra das condições para a existência de uma Filosofia Africana é, segundo F. Crahay, a necessidade de evitar os
“curto-circuitos” e o “culto da diferença”. Crahay entende por “curto-circuitos” a pressão excessiva de adoptar
superficialmente os métodos e os sistemas estrangeiros, sem se impor ou tentar dominar. O “culto da diferença”
consiste em afirmar de forma excessiva a sua originalidade correndo o risco à margem da civilização.
Os filósofos africanos não devem ter como intenção final convencer à Europa sobre a originalidade da filosofia
africana, mas de ajudar os africanos na pesquisa essencial sobre e para a África. Em outras palavras, cabe aos filósofos
africanos a missão de contribuir para a realização existencial dos africanos e de toda a humanidade seja qual for a sua
etnia, nação e continente, como desejam os filósofos profissionais ou académicos seguintes:
Segundo Wiredu(Ghana), a Filosofia Africana existe porque responde a interrogações fundamentais do homem.
Na opinião do filósofo Keasi Wiredu, estão criadas as condições para a utilização de uma filosofia africana, no
pensamento africano tradicional, pois, encontramosem áfrica elementos que são filosóficos relacionados com o
homem e o mundo.Wiredupensa comoHountondjique a utilização de uma filosofia africana ainda constitui um
problema, principalmente na maior parte da África Subsahariana porque ainda há uma fraca tradição de
umafilosofia escrita.
Marcien Towa: De acordo com Marcien Towa, a etnofilosofia seria uma construção colonial que possui a pretensão
de julgar a produção de conhecimento de um determinado povo enquanto atrelado à cultura e o exercício de um
pensamento subalterno.entende que “a filosofia começa com a decisão e submeter a herança filosófica e cultural à
uma crítica sem complacência”. Para este filósofo, nenhum dado, nenhuma ideia tão venerável que seja é receptível
antes de ser passada ao crivo do pensamento crítico. Por isso “nós devemos resolver os problemas filosóficos actuais
por um esforço de elucidação da nossa actual relação com o mundo. O mundo actual não é mais aquele dos nossos
antepassados; a sua concepção de mundo não pode ser a nossa. Nós devemos chegar à uma apreensão e expressão
filosófica do nosso estar-no-mundo”.
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Segundo OderaOruka“Os sábios tradicionais vivos estão destinados a converterem-se em filósofos, pois têm a sua
racionalidade elaborada para a defesa das suas doutrinas e seus pontos de vista.”
Christian Neugebauer, filósofo que escreve sobre África, diz que existe três (3) lugares possíveis para a filosofia e
para o filósofo em África: estar no Governo (a defender a política governamental); estar no estrangeiro (como
grande místico); estar no túmulo (como herói morto).
O outro desafio que se coloca é em relação à produtividade, que tem sido o centro das atenções dos povos africanos.
Severino Ngoenha (filósofo e professor moçambicano) que definiu a filosofia como um instrumento de emancipação
que ajuda a resolver os problemas da humanidade, entende que a filosofia Africana deve ser interventiva (nas questões
africanas) influenciou a política actual moçambicana centrada no distrito. Ele escreveu, numa das suas obras que,
“para se devolver aos homens o direito à iniciativa, deve começar-se de baixo. Devem ser os distritos a exercerem as
funções estatais primordiais e depois passa para as estâncias superiores”.

Exercícios: Trabalho em grupos de 4 elementos


1. Por que é que o paradigma do pensamento africano em relação a filosofia africana é a liberdade?
2. Define-se Filosofia Africana (F.A.) como o conjunto de pensamentos relativos à emancipação do negro.
a) O que entendes por emancipar o negro?
b) Qual é o objecto de estudo da Filosofia Africana? Justifique.
c) Por que é que se diz que na FA o trabalho dos pensadores (sábios) africanos não chegava a ser uma filosofia
no verdadeiro sentido? Argumente.
3. No debate sobre a filosofia africana, qual é a questão mais discutida? Justifica.
4. Dado os argumentos teológicos argumente concordando ou não a sua posição:
a) o negro é da descendência de Caim. b) o negro é pai da raça negra africana. c) o negro é símbolo de maldição.
d) o negro pertence à geração dos condenados de Deus.
5. Expõe e contrapõe pelo menos dois dos argumentos dos pensadores que colocam os africanos como uma raça
subhumana.
6. A investigação filosófica em África tem três orientações tidas como principais correntes da filosofia.
a) Quais são? O que cada uma delas defende?
b) Por que é que a Filosofia Etíope é considerada um caso especial?
7. Qual a característica fundamental da Filosofia política africana?
8. Quais são os desafios actuais da Filosofia política africana? Desenvolva um dele.
9. A que se atribui a expressão: “A condição da libertação de África é o regresso a África”?Fale da sua
Biografia.
10. No 5º Congresso pan-africano, Du Bois passou o testemunho político a Nkrumah.
a) Quem foram Du Bois e Nkrumah na Filosofia Política Africana?
b) Fale do “Consciencismo” de Nkrumah, tendo em conta o seu papel no renascimento africano.
11. Um dos críticos do movimento da Negritude é Jean Pauls Sartre, que diz a negritude é “a negação da
negação do homem negro. Quais são as outras críticas dele e de outros autores sobre esse movimento?
12. Quais são as possibilidades de fazer Filosofia em África segundo Christian Neugebauer?
13. Em que é que consiste o método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste?
14. Com que argumentos os filósofos críticos que negam a existência da Filosofia Africana? Achas legítimo?
15. Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e Paulin Hountondji é acerca do papel do estatuto da
oralidade. Porquê?
16. Segundo Wiredu, a Filosofia Africana existe. Quais os fundamentos.
17. Por que é que para John Mbiti, a Etnofilosofia pode ser considerada Filosofia?
18. Paulin Hountondji, ao criticar a etnofilosofia, diz que “a filosofia começa onde a opinião e a sabedoria
popular terminam”, porque?

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