Gênero em Angola - Willi Domingos

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VOZES DE MULHERES: GÉNERO E CIDADANIA

EM ANGOLA
Willi Cardoso Domingos1

Artigo recebido em: 28/05/2018


Artigo aceito em: 03/07/2018

RESUMO:
Este texto analisa as implicações sociais da discriminação de género no exercício da
cidadania e participação das mulheres em Angola. Embora as mulheres sejam maioria
demográfica (52% da população), são, paradoxalmente, minoria, pois o poder
económico, político e cultural está fundamentalmente concentrado nos homens.
Assim, a fraca participação das mulheres nos espaços de decisão demonstra que as
medidas elaboradas para a emancipação das mulheres e igualdade de género não têm
tido uma aplicação efectiva. Um diálogo entre a sociedade civil e as instituições do
Estado, é fundamental, para dinamizar e ampliar a capacidade de exercício da
cidadania e participação das mulheres, bem como para a desconstrução da
discriminação das mulheres.
PALAVRAS-CHAVE:
Mulheres, género, cidadania, participação.

ABSTRACT:
This text analyzes the social implications of gender discrimination in the citizenship
exercise and women's participation in Angola. Although the women are
demographically the majority (52% of population), they are, paradoxically, the
minority, because the economic, political and cultural power is concentrated
fundamentally on men. This way, the women's weak participation in the decision
spaces demonstrates that the measures elaborated for women's emancipation and
gender equality have not been taking an effective application. A dialogue between civil

Licenciado em Sociologia, pela faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.


1

Revista Espacialidades [online]. 2018, v. 13, n. 1. ISSN 1984-817X


society and State's institutions, it is fundamental, for boosting and to enlarge the
citizenship exercise capacity and women's participation, as well as for deconstruction
of the women's discrimination.
KEYWORDS:
Women, gender, citizenship, participation.

***

1. INTRODUÇÃO
O percurso histórico de Angola é profundamente marcado por longos
períodos de violência, resultantes, sobretudo, do processo de colonização e da guerra
civil. Estes períodos influenciam a prática quotidiana da cidadania e participação, na
medida em que condiciona a génese das dinâmicas e processos sociais que
caracterizam a situação política, económica, social e cultural presente.

Assim, os eventos históricos contribuíram, em grande medida, para um


afastamento dos angolanos e das angolanas sobre as questões de política e governação
e, consequentemente, para um fraco exercício de cidadania e participação pública e
política.

Em Angola, o exercício activo da cidadania e participação é um fenómeno


recente e em desenvolvimento (Pereira, 2008), marcado por desigualdades de
participação entre os diferentes actores sociais, pois estes não possuem igualdade de
condições e de oportunidades para participar e exercer plenamente a cidadania. A
pobreza, as desigualdades e exclusão sociais; o acesso diferenciado ao sistema de
educação, saúde, justiça e a outros recursos e vantagens sociais são alguns dos factores
que limitam o exercício da cidadania e participação em Angola (Abreu, 2016). Mas as
desigualdades de condições e de oportunidades, entre mulheres e homens, têm sido
reforçadas pela questão do género. Mulheres e homens têm acesso diferenciado aos

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recursos disponíveis. Estes últimos gozam de maiores privilégios e, portanto, exercem
de forma mais ampla a cidadania.

As mulheres, embora constituam a maioria da população, apresentam níveis


mais baixos em termos de presença e participação activa nos espaços público e
político, sobretudo naqueles onde há tomada de decisões.

Este texto tem como objectivo reflectir sobre as implicações sociais da


discriminação de género no exercício da cidadania e participação pública e política das
mulheres em Angola. A categoria de género é aqui interrogada a partir de várias
dimensões da vida social. Estas incluem a história do país, o regime de cidadania, a
educação, as desigualdades sociais, os direitos humanos, e outras.

A análise baseia-se no contexto da história política recente e contemporânea


de Angola – pós-independência. Não buscamos produzir um olhar universalizante
sobre o tema, nem tão pouco esgotá-lo. Mas fundamentalmente, problematizar a
realidade social, a fim de se construir uma visão mais alargada sobre os processos e
dinâmicas sociais contemporâneos que influenciam as questões de género, cidadania
e participação. Neste sentido, este texto apresenta-se como um exercício de
desnaturalização dos processos epistemológicos e questionamento dos princípios de
organização social relativos às questões de género, cidadania e participação.

O texto está dividido em dois momentos. Interroga, num primeiro momento,


o conceito de género, bem como a sua relação com conceitos fundamentais da teoria
feminista e crítica, como o patriarcado e a subalternidade. Posteriormente, discute,
teoricamente, o conceito de cidadania e participação, analisando, através de um olhar
transversal. Num momento posterior, analisa o exercício da cidadania, a presença e
participação das mulheres nos espaços público e político, ao longo dos anos.
Apresenta as ‘vozes de mulheres’, através de um olhar às acções extra-institucionais,

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dos movimentos sociais e organizações de mulheres, para a emancipação das
mulheres e a igualdade de género em Angola.

2. GÉNERO, PATRIARCADO E SUBALTERNIDADE

Os debates sobre os conceitos de género e sexo há muito que ganharam a


atenção das ciências sociais – antropologia, sociologia, história, ciência política, por
exemplo – e tem se levantado um aceso debate em torno dos mesmos2.

Os estudos das pesquisadoras e feministas norte-americanas, nos anos 1970,


sobre os problemas com que as mulheres se deparavam, figuram como precursores
dos debates sobre género e sexo. Porém, a década de 1960 ficou já marcada por
estudos sobre a problemática do género e pela luta pela emancipação feminina e busca
de uma efectiva igualdade entre mulheres e homens, fundamentalmente através das
lutas dos movimentos sociais de 19683.

As pesquisadoras norte-americanas foram das primeiras a usar o conceito de


género para explicar o carácter social das tarefas e papéis diferenciados entre mulheres
e homens (cf. Grossi, 1998, pp. 4-5). Apesar de todos os estudos feitos e da vasta
bibliografia disponível, persiste ainda uma certa confusão no uso dos conceitos de
género e sexo, sendo, muitas vezes, aplicados como sinónimos. Torna-se, assim,

2Ver, dentre outros, Joan Scott (1996), Margareth Mead (1999).


3“As revoltas estudantis de Maio, em Paris; a primavera de Praga, na Tchecoslováquia; os black
panters; o movimento hippie e as lutas contra a guerra do Vietnã, nos EUA; a luta contra a ditadura
militar no Brasil… É justamente no bojo destes movimentos que se identifica um momento-chave
para o surgimento da problemática de género, quando as mulheres que deles participavam
perceberam que, apesar de militarem em pé de igualdade com os homens, tinham nestes movimentos
um papel secundário. Raramente elas eram chamadas a assumir a liderança política. Cabia-lhes, em
geral, o papel de secretárias e de ajudantes de tarefas consideradas menos nobres…” (Grossi, 1998,
pp. 1-2).

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necessário apresentar uma breve distinção conceptual entre sexo e género, de modo
a tornar mais clara a discussão que nos propomos elaborar.

Genericamente, o conceito de sexo refere-se às características biológicas


específicas e diferenciadas do aparelho reprodutor das pessoas, já o género diz
respeito às diferenças socioculturais atribuídas às pessoas em função do sexo. Ou seja,
sexo é ‘biologia’ e género é ‘cultura’. O género é uma apropriação cultural das
diferenças sexuais, isto é, “uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais
das identidades subjectivas dos homens e das mulheres” (Scott, 1996, p. 7) e como tal
varia em função da sociedade, da cultura e do contexto histórico.

Joan Scott, uma das grandes e mais importantes teóricas sobre o uso do
género enquanto categoria de análise, no seu célebre texto “Género: uma categoria
útil para a análise histórica”, destaca a importância fundamental do estudo do género
como categoria para se analisar e compreender o lugar e o papel das mulheres nas
sociedades ao longo do tempo (Scott, 1996).

Embora, formalmente, o género não seja um eixo de discriminação e/ou


diferenciação social, este tem servido como factor de disseminação e/ou legitimação
de sistemas e normas sociais que contribuem para a dominação das mulheres, na
medida em que promove uma naturalização das desigualdades entre mulheres e
homens, apresentando-as como ‘normais’, biologicamente determinadas. Neste
enquadramento, os homens são tidos como superiores às mulheres.

O conceito de género não se esgota nos papéis diferenciados entre mulheres


e homens, construídos socioculturalmente. O género, enquanto eixo de diferenciação
social, influencia os princípios de organização das sociedades, afectando seus
processos e dinâmicas sociais. Ao ocultar a verdadeira natureza das diferenças e
desigualdades sociais entre mulheres e homens, o género reforça tais desigualdades e

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ignora as necessidades, os anseios, as experiências e práticas vividas por um vasto
grupo social; as mulheres.

De acordo com Pierre Bordieu (2005), a desigualdade entre mulheres e


homens, que coloca os homens numa posição dominante e as mulheres numa posição
subalterna, não se resume apenas na questão de género, perpassa toda a estrutura
social. A dominação masculina estende-se por todas as instituições e processos, como
por exemplo, família, trabalho, economia, política. É o processo de “biologização do
social” ou “socialização do biológico”.

Assim, problematizar o género torna-se necessário para a compreensão da


condição e posição das mulheres nas sociedades – a vários níveis e sectores –, bem
como para um estudo profundo e detalhado sobre as relações de poder entre mulheres
e homens.

A naturalização e reprodução das desigualdades entre mulheres e homens


têm sido reforçadas por sistemas sociais que têm como ponto de partida a ideia de
género – como, por exemplo, o patriarcado. Tais sistemas contribuem para submeter
as mulheres num ciclo de dominação permanente.

O patriarcado pode ser entendido como um “sistema de domínio masculino


que utiliza um conjunto de estratagemas para manter subordinadas as mulheres…”
(Cobo apud Vergo, 2014, p. 36). O patriarcado traduz-se numa “relação de poder entre
homens e mulheres, pela qual os homens controlam, usam, subjugam e oprimem as
mulheres” (Maia, 2002, p. 283).

A principal consequência deste sistema é a permanente subalternização das


mulheres. O conceito de subalternidade designa o “conjunto de camadas mais baixas
das sociedades, constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da
representação política e legal e da possibilidade de se tornarem membros plenos no

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estrato dominante” (Spivak, 2010, p. 12). Assim, o sujeito subalterno encontra-se em
situação de desigualdade, em que não consegue ser ouvido, nem articular-se a si
próprio como sujeito íntegro e autónomo, ou seja, o sujeito subalterno “não tem
nenhum espaço a partir do qual possa falar” (Spivak apud Bonnici, 1998, p. 14). Neste
sentido, a mulher em situação de subalternidade torna-se num sujeito mudo e
invisível, na medida em que não tem espaços a partir dos quais possa falar, e quando
o faz, a sua voz não é ouvida; tomada em consideração.

O conceito de subalternidade ocupa um lugar central nas abordagens pós-


coloniais e nos estudos sobre a colonialidade. Estes estudos visam a emancipação e
inclusão de pessoas, grupos sociais e/ou sociedades – marginalizadas, sobretudo, pelo
processo histórico do colonialismo –, através de uma prática sistemática de
descolonização das formas de produção do conhecimento e de construção de
identidades, realçando a posição primordial e fundamental que os indivíduos e/ou
sociedades devem ocupar.

Neste sentido, estas abordagens relacionam-se com o feminismo, na medida


em que ambos buscam a elaboração de um novo projecto de sociedade capaz de
incluir os grupos sociais marginalizados, no caso particular as mulheres, na sociedade,
‘dando-lhes’ voz e visibilidade.

De acordo com Gayatri Spivak, não se deve tomar a palavra pelo sujeito
subalterno, pois isso significaria “mantê-lo silenciado, sem lhe oferecer uma posição,
um espaço de onde possa falar e, principalmente, no qual possa ser ouvido” (Spivak,
2010, p. 12). Assim, para a superação da subalternização das mulheres é
imprescindível a criação de espaços a partir dos quais as mulheres subalternas, possam
falar e ser ouvidas. É fundamental, também, alargar as bases de participação política
e as possibilidades de exercício da cidadania pelas mulheres.

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Deste modo, o questionamento e análise crítica sobre o género, patriarcado
e subalternidade são fundamentais, na medida em que traduzem, primeiro, uma busca
pela igualdade de oportunidades e de participação entre mulheres e homens a todos
os níveis e em todos os domínios da vida social – político, económico, laboral,
familiar, cultural, etc.; segundo, buscam a justiça social, na medida em que procuram
eliminar a marginalização e subalternização de um determinado grupo social; terceiro,
procuram superar os preconceitos, estereótipos e discriminações sociais, sobretudo
aquelas baseadas na noção de género; por fim, visam a desnaturalização dos
pressupostos epistemológicos que sustentam qualquer forma de preconceito ou
discriminação baseada no género.

3. CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO EM ANÁLISE

Os conceitos de cidadania e participação têm sido amplamente debatidos,


por vários autores, em diferentes perspectivas das ciências sociais, desde clássicos,
modernos e contemporâneos.

Os debates sobre cidadania e participação começaram a ganhar maior


expressividade e visibilidade sobretudo com as grandes revoluções 4 que marcaram e
mudaram profundamente o rumo dos vários acontecimentos sociais, políticos e
económicos em muitas sociedades. Estas revoluções assinalaram o despertar destas
sociedades sobre a importância central da participação política e cidadã na construção
de uma sociedade cada vez mais justa e igualitária.

4Revolução Francesa (1789-1799), com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade; a Revolução


Russa (1917), que fez ‘nascer’ o socialismo; a Revolução Industrial (1760), que alavancou o sistema
capitalista moderno, através do aumento de produção como nunca antes visto; a Revolução Inglesa,
etc.

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A referência teórica mais influente do conceito de cidadania moderna
encontra-se na obra “Cidadania, Classe Social e Status” de Thomas Marshall (1967).
Para este autor, a cidadania “é um status concedido àqueles que são membros integrais
de uma comunidade. Todos aqueles que possuem o status são iguais com respeito aos
direitos e obrigações pertinentes ao status” (Marshall, 1967, p. 76).

Marshall distingue três grupos de direitos que fundamentam a cidadania e


participação política: os direitos civis, aqueles direitos que asseguram as liberdades
individuais; os direitos políticos, aqueles que garantem a participação dos cidadãos no
exercício do poder político; e os direitos sociais, aqueles que asseguram o acesso a um
mínimo de bem-estar material. É com a garantia desses direitos que os indivíduos
estarão em melhores condições de intervirem nos assuntos que à todos dizem
respeito.

O conceito de cidadania apresentado por Thomas Marshall é,


fundamentalmente, de uma cidadania passiva ou de status, facto que torna tal
concepção problemática, incompleta e alvo de várias críticas. Janoski, por exemplo,
considera a cidadania como a “pertença passiva e activa de indivíduos em um Estado-
nação com certos direitos e obrigações universais em um específico nível de
igualdade” (Janoski apud Vieira, 2001, p. 36).

A cidadania deve ser vista e entendida, mais do que uma condição ou status,
como um processo dinâmico, de participação activa e constante. Deste modo, a
cidadania passiva, aquela outorgada pelo Estado, diferencia-se da cidadania activa, em
que os cidadãos, enquanto portadores de direitos e de deveres, são criadores de novos
direitos, através de uma reconfiguração sistemática e contínua dos espaços de
participação pública e política, por meio de uma participação activa. Assim, cidadania
significará, não só, a condição de pertencer a um Estado, e também a garantia do

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acesso e uso efectivo dos direitos e deveres das pessoas, que as permite participar nas
decisões de interesse geral.

A cidadania moderna tem se deparado com alguns constrangimentos e


dilemas. Por um lado, o exercício da cidadania e da participação engloba, mesmo que
implicitamente, valores como confiança, cooperação, consciência cívica, mas as
sociedades actuais têm sido dominadas por valores ‘individuais’ (como o egoísmo,
individualismo ou atomismo) e um crescente sentimento de falta de confiança. Por
outro lado, a grande complexidade e desigualdades sociais, prevalecentes em muitos
contextos, inviabilizam o pleno exercício da cidadania e da participação, pois estas
pressupõem que os indivíduos estejam em condições de argumentar e participar, de
se organizarem e agirem, criando e conduzindo as transformações políticas e sociais.

A problemática da cidadania ganhou novas configurações e dinâmicas,


resultantes das grandes transformações actuais que se registam no mundo todo.
Muitos dos problemas actuais extrapolam as fronteiras dos Estados, ganhando
dimensões e contornos globais, afectando a todos. É o caso das grandes questões
económicas, sociais, políticas, ecológicas da actualidade; a crescente preocupação com
a problemática das migrações, a problemática da pobreza e desigualdades sociais, não
são mais problemas particulares de determinado Estado ou sociedade.

Surgem, neste contexto, os conceitos de cidadania planetária e o de cidadão


cosmopolita. Embora a nacionalidade seja um pressuposto para o exercício da
cidadania – ser nacional de um Estado é condição primordial para o exercício dos
direitos e o cumprimento dos deveres dentro desse Estado – muitos dos grandes
problemas que afectam as sociedades actuais têm um impacto global e, como tal,
exigem igualmente uma intervenção global.

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A cidadania planetária designa assim “um conjunto de princípios, valores,
atitudes e comportamentos que demonstram uma nova percepção da Terra como
uma única comunidade” (Padilha et al, 2011, p. 26). A cidadania planetária consiste na
percepção de pertença e participação dos actores sociais a um nível global. O conceito
de cidadania planetária está intimamente ligado à noção de desenvolvimento
sustentável.

Neste novo cenário, o cidadão, apesar de estar física e juridicamente presente


num dado território, é um cidadão fortemente ligado ao mundo; um cidadão
cosmopolita. O cosmopolitismo é um forte “sentimento” de pertença ao mundo,
resultante de uma escolha livre e racional, pois o “ideal cosmopolita significa que as
pessoas são livres para escolher as formas locais de vida humana em que querem
viver” (Appiah, 1998, p. 87). O cidadão cosmopolita possui um elevado grau de
civilidade, ou seja, uma grande preocupação com o bem comum a um nível global.

4. CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO EM ANGOLA: DA TEORIA E DA


PRÁTICA

O percurso histórico de Angola é profundamente marcado por longos


períodos de violência, resultantes, sobretudo, do processo de colonização e da guerra
civil, havendo dinâmicas de continuidade e de ruptura entre os períodos. As dinâmicas
de ruptura e transformação social foram, muito sumariamente, marcadas pela
independência e pela paz militar. As dinâmicas de continuidade são, por seu turno,
observáveis noutras dimensões – muito especialmente no que diz respeito à cidadania
e à participação política.

Daí a independência em Angola, alcançada em 1975, não ter significado uma


abertura do espaço público, materializada numa participação activa das cidadãs e dos

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cidadãos na condução dos destinos do país. Pelo contrário, Angola passou a viver um
novo contexto caracterizado por conflitos, violências e práticas que impediam o pleno
exercício da cidadania e o desenvolvimento da democracia: a guerra civil; a adopção
de um sistema político mono partidário; uma economia centralizada; o trágico 27 de
Maio de 19775. Estes acontecimentos contribuíram, em grande medida, para a criação
de uma ‘cultura do medo’ e o afastamento das angolanas e dos angolanos sobre as
questões de política e governação e, consequentemente, deram lugar a um fraco
exercício de cidadania e participação pública e política.

No início da década de 1990, assiste-se a uma ruptura na dinâmica histórica


de Angola: a adopção e institucionalização do multipartidarismo 6. Esta abertura
viabilizou a realização das primeiras eleições em Angola, em 1992, assistindo-se com
isso um caminhar para a democratização do país. Esta opção política “contribuiu para
a reabertura do espaço público de participação e estruturação da sociedade civil”
(Pereira, 2008, p. 2).

Apesar da ruptura formal com o sistema de partido único ter assegurado um


novo contexto, Angola vivia mergulhada numa guerra civil7 sangrenta – que perdurou
desde a conquista da independência, em 1975, até 2002 –, que ceifou muitas vidas e

5Esta data foi marcada por uma onda de repressões, prepetradas pelo MPLA, com recurso a violência
directa, prisões e execuções sumárias à supostos ‘golpistas’. Foi resultado, sobretudo, das grandes
contradições internas no seio do próprio MPLA – tendo Nito Alves e José Van Dúnem como
principais fíguras na contestação contra o governo – e serviu de pretexto ao tipo de poder que veio
a ser edificado e exercido em Angola (Gomes, 2009).
6O sistema multipartidário é caracterizado pela presença, na arena pública e política, de uma variedade
de actores políticos que concorrem entre si para o alcance e exercício do poder político.
7A guerra civil angolana teve início na alvorada da independência, em que os movimentos de
libertação nacional guerreavam entre si pelo controlo do país (cf. Carvalho, 2002, pp. 27-30;
Comerford, 2005, p. 5).

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trouxe vários prejuízos ao país. Com a conquista da paz militar, em 2002, Angola
passa a conhecer uma nova arquitectura de organização política, económica e social.
O calar das armas permitiu um novo recomeço. Possibilitou pensar a reconstrução do
país, devastado pelos longos anos de guerra civil.

Embora estes acontecimentos – a institucionalização do multipartidarismo e


o alcance da paz militar – tenham sido propícios para uma abertura e consequente
desenvolvimento da cidadania e da participação em Angola, a arquitectura do sistema
político e da cultura política em vigor dificultaram o livre exercício daqueles. Neste
sentido, tanto a independência, conquistada em 1975, como a paz militar, alcançada
em 2002, não têm sido acompanhadas, de modo suficiente, por um desenvolvimento
social que sustente a prática quotidiana de cidadania e participação na vida pública e
política.

Estão em marcha processos de construção de espaços de participação activa,


mas ainda existem diferenças gritantes quanto ao exercício da cidadania e participação,
pois os actores sociais não usufruem de igualdade de condições e de oportunidades
para participar e exercer efectivamente a cidadania (Abreu, 2016).

A fraca e desigual participação das angolanas e dos angolanos na vida pública


e política, resulta de fenómenos como a pobreza, a desigualdade e exclusão sociais, o
acesso e uso efectivo, diferenciados, aos recursos e vantagens sociais, e aos sistemas
de ensino, saúde e justiça, etc.8.

De acordo com Cesaltina Abreu (2016, p. 183), em Angola, a fraca


participação política e cidadã é um problema estrutural, na medida em que

não há garantias de igualdade de condições e de oportunidades para o


exercício da cidadania; pela inexistência de interesse em aumentar os níveis

8Ver, dentre outros, Cesaltina Abreu (2016); Aline Pereira (2008).

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de participação nos processos de tomada de decisão e de gestão da coisa
pública; pela inexistência de uma democracia de facto; pelo acesso desigual
aos serviços públicos, como educação, saúde, saneamento, justiça, etc.;
pelo distanciamento entre as instituições do Estado em relação aos
cidadãos.

Um outro factor que inibe o exercício da cidadania e participação, em Angola,


está relacionado com a tendência de ‘dominação’ do espaço público, por grupos
ligados à elite no poder (Pacheco, 2004). Os actores sociais, em muitos casos, não
encontram espaços a partir dos quais possam se expressar ou reivindicar algum
direito. Assiste-se, assim, a uma ‘privatização’ do espaço público e uma despolitização
de vários problemas que afectam a todos. Deste modo, vários problemas têm se
mantido no domínio privado, sem merecer uma ampla discussão, envolvendo a
sociedade no seu todo, e não têm tido uma resposta eficaz com acções políticas
concretas (Pereira, 2004).

Neste contexto, uma maior abertura do espaço público para o pleno exercício
da cidadania e da participação e, também, a politização dos diferentes problemas que
afectam a dinâmica da sociedade em geral, permitiria um alargamento da participação
dos indivíduos na resolução de tais problemas, na medida em que as várias vozes e
experiências seriam incluídas, tidas em conta na elaboração de medidas para a
resolução dos problemas.

A pobreza e as desigualdades sociais afectam profundamente um largo


número de angolanas e angolanos, colocando-os à margem na participação em
questões ligadas a política e governação9.

9Segundo dados do Relatório Social de Angola de 2013, cerca de 61% dos agregados familiares faz
apenas uma ou duas refeições por dia. Dados do IBEP (Inquérito de Bem-estar as Populações)
referem que os níveis de pobreza são de 58,3% no meio rural e 18,7% nas zonas urbanas, o que
reflecte um desenvolvimento divergente e socialmente separado (CEIC, 2014, pp. 14-18).

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Os segmentos mais pobres – em situação de carência, privação e
marginalização –, muitas vezes, não encontram espaços para, a partir dos quais,
reivindicarem a sua situação e exigir os seus direitos mais elementares. Encontram-se
numa posição subalterna, estando ‘mudos’ e ‘invisíveis’, na medida em que não têm
voz nem espaço para se expressarem.

A guerra civil, as políticas inadequadas e a má governação são factores que


contribuíram para um crescente empobrecimento e deterioração das condições de
vida das angolanas e dos angolanos10. A riqueza nacional não é distribuída de forma
igualitária, não beneficiando a todos, pois “os salários da grande maioria dos
trabalhadores são baixíssimos e não acompanham a elevada quebra de poder de
compra da moeda” (Carvalho, 2002, p. 109).

Assim, a pobreza e as desigualdades sociais contribuem para a dinâmica de


subalternização de pessoas ou grupos, na medida em que os mantém fora dos padrões
de vida dominantes, privados de determinados bens e serviços sociais elementares
(instrução, assistência sanitária, emprego, rendimento, laser, etc.), afectando,
profundamente, suas capacidades e condições de exercerem a cidadania e
participarem activamente na vida pública e política do país.

5. MULHER E POLÍTICA, MULHER NA POLÍTICA: UMA


TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICO E POLÍTICO EM
ANGOLA

Historicamente, as mulheres têm sido subordinadas em vários aspectos da


vida social, política, económica e cultural. Os papéis tradicionais de género têm
relegado as mulheres para os papéis de reprodutoras e consumidoras, associadas,

10Ver Carvalho, 2002, pp. 107-117.

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sobretudo, ao papel de maternidade, cuidado das(os) filhas(os) e do lar. Já aos homens
tem cabido a responsabilidade de produtores e gestores – prover o sustento da família.
Porém, em muitos contextos, verificam-se profundas mudanças destes papéis,
tradicionalmente, atribuídos às mulheres e homens dentro das famílias. Em muitos
casos, as mulheres assumem a responsabilidade do sustento das famílias, quer por
conta de situações de pobreza e carência, que as impulsiona a trabalhar fora de casa
para aumentar a renda familiar, ou ainda por conta da sua emancipação e crescente
presença no mercado de trabalho formal.

A organização e funcionamento das sociedades segundo lógicas capitalistas,


sexistas e patriarcais contribuem activamente para a subalternização das mulheres
(Grossi, 1998; Amaral, 2003).

Em muitos contextos, elas enfrentam a chamada “dupla opressão” (Grossi,


1998, pp. 2-3): de classe e de género. Por um lado, as mulheres experimentam uma
fraca e desigual participação e exercício da cidadania por pertencerem a uma classe
social desfavorecida e estarem inseridas num contexto social que não estimula a
igualdade social e a participação. Por outro lado, elas são marginalizadas e/ou
excluídas dos espaços público e político pelo facto de serem mulheres, ou seja, sofrem
uma opressão decorrente do patriarcado.

Em Angola, os processos que caracterizam o cenário da cidadania e


participação das mulheres não diferem muito daqueles que caracterizam, de modo
geral, África e o mundo. A cidadania e participação das mulheres enfrenta ainda
inúmeros constrangimentos, muitos dos quais decorrentes do percurso histórico do
país.

Desde o período da luta anti-colonial que o papel da mulher angolana não


tem sido suficientemente reconhecido. No contexto pós-independência, no âmbito

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das negociações do cessar-fogo da guerra civil angolana, o cenário manteve-se
idêntico. As mulheres não foram chamadas a ser parte activa do processo de mediação
e negociação para pôr fim a guerra civil angolana. A exclusão das mulheres nos
processos de paz é uma prática recorrente em África. De acordo com o Relatório
Africano de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2016, p. 7), “historicamente, a
participação formal das mulheres nestes processos tem sido limitada, apesar da
profusão de acordos de paz em todo o continente”.

No contexto de paz militar, a inclusão e participação das mulheres não


conheceu grandes melhorias. Sua presença e participação nos órgãos de decisão são
ainda muito fracas.

Por exemplo, em 2008 – seis anos depois de alcançada a paz militar –, dos 29
Ministros de Estado, as mulheres eram titulares de três pastas; dos 45 vice-ministros,
apenas cinco mulheres. No parlamento, do total de 220 deputados, apenas 36 eram
mulheres. Na governação local, entre os 18 governadores provinciais e os 37 vice-
governadores, só uma mulher. Entre os 161 Administradores municipais, apenas três
mulheres e entre os 347 administradores comunais, apenas cinco mulheres. No poder
judiciário as mulheres ocupavam apenas 13,3% dos cargos. Na carreira diplomática a
desigualdade repete-se: dos 72 embaixadores apenas duas mulheres e dos 12 cônsules,
duas mulheres (cf. Pereira, 2008, pp. 7-8).

Neste mesmo ano, 2008, depois de realizada as segundas eleições em Angola,


o número de mulheres a ocuparem cargos de decisão aumentou consideravelmente,
se comparado aos anos anteriores11. Já em 2012, depois da realização das eleições, o

11Por
exemplo, dos 220 acentos no parlamento, 85 eram ocupados por mulheres (Relatório sobre os
ODM – Angola, 2015, p. 51).

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quadro da participação das mulheres nos órgãos de decisão conheceu uma
significativa redução. As mulheres passaram de 85 a 76, dos 220 deputados 12.

Nos anos seguintes, a desigualdade se manteve. As mulheres continuam a ser


a minoria nestes espaços. Em 2010, por exemplo, dos 31 Ministros, apenas 9
mulheres; dos 36 Vice-ministros, as mulheres eram 7; dos 18 Secretários de Estado, 4
mulheres; dos 18 Governadores provinciais, apenas 3 mulheres; dos 40 Vice-
governadores provinciais, 9 mulheres; dos 160 Administradores municipais, 26
mulheres; dos 383 Administradores comunais e adjuntos, 30 mulheres (PAANE,
2015).

Em 2014, a desigualdade se mantém. Dos 41 Ministros, 8 mulheres; dos 61


Secretários de Estado, 10 mulheres; dos 18 Governadores provinciais, 2 mulheres;
dos 41 Vice-governadores provinciais, 8 mulheres; dos 205 Administradores
municipais, 42 mulheres (idem).

Com os resultados saídos das eleições gerais de Agosto de 2017, que teve
como vencedor o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e seu cabeça
de lista, João Lourenço, a expectativa era alta, pois no período de campanha, este
defendeu um maior equilíbrio de género nas esferas de decisão e maior atenção às
questões que afectam as mulheres. Porém, a prática revelou-se diferente do discurso.
A presença de mulheres nos espaços de decisão continua baixa.

Na actual legislatura, dos 220 Deputados, apenas 60 são mulheres, contra os


80 da legislatura anterior. Dos 30 Ministros, 11 são mulheres, 18 Governadores
provinciais, apenas uma mulher.

12Idem, p. 52.

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Estes números revelam que, em Angola, as mulheres, embora sejam
demograficamente a maioria13, são sociologicamente uma minoria, pois o poder –
político, económico, cultural, etc. – está fundamentalmente concentrado nos homens.
São também importantes indicadores de que a presença e participação activa das
angolanas na vida pública e política, especialmente nas esferas de tomada de decisão,
são ainda um grande desafio. Angola está ainda longe de alcançar a algum equilíbrio
de género nestes espaços.

Este distanciamento das mulheres na participação nos órgãos de decisão e


nos espaços públicos, está relacionado com a desigualdade, entre mulheres e homens,
no acesso, uso e controlo dos recursos. Esta desigualdade de género tem uma
influência negativa sobre o “desenvolvimento da igualdade de oportunidades entre
homens e mulheres no acesso ao poder, contribuindo para a discriminação das
mulheres nas esferas de tomada de decisão” (Relatório Sobre os ODM, 2015, p. 52).

Não obstante a este cenário, verificaram-se, em Angola, importantes avanços


– do ponto de vista político e legal – para a emancipação das mulheres e, consequente,
igualdade de género. Angola ratificou e elaborou vários documentos, com vista a
ampliar a cidadania e participação das mulheres.

Estas medidas incluem, a nível nacional, a Constituição da República, que


consagra o princípio da igualdade (artigo 23º), e garante o direito de participação na
vida pública e política (artigo 52º). A lei dos partidos políticos (lei nº 2/2005), “obriga
todos os Partidos a observar a inclusão, nos seus estatutos, do princípio da igualdade
de género e representação por sexo não inferior a 30%” (Relatório sobre os ODM,
2015, p. 51). A Política Nacional para Igualdade e Equidade de Género, elaborada em
2013, que visa “promover a igualdade de género para homens e mulheres, com iguais
oportunidades, direitos e responsabilidades em todos os domínios da vida económica,

1352% do total da população angolana é do sexo feminino (INE, 2014).

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política e social” (ponto 41). A lei contra a violência doméstica (lei nº 25/11) é outra
importante conquista para a igualdade de género em Angola.

No plano regional e internacional, Angola é signatária e ratificou vários


documentos, comprometendo-se cumprir um conjunto de medidas em prol dos
direitos e da emancipação das mulheres. Por exemplo, a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979); o
Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento; o Decénio da Mulher
Africana (2010-2020); a Plataforma de Acção de Beijing (1995); o Plano de Acção do
Cairo (1994); a Declaração dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, e outros
documentos.

Estas medidas, políticas e jurídicas, traduzem, por um lado, a necessidade de


uma reforma das políticas para a inclusão das questões de género e, por outro lado, a
necessidade de promover acções específicas para a igualdade de direitos entre
mulheres e homens, como forma de assegurar o exercício pleno da cidadania e uma
inclusão social, económica e política das mulheres.

Apesar desses avanços, em termos de medidas políticas e legais, não se vê


grandes mudanças no quadro da participação das mulheres, pois tem havido uma fraca
efectividade destas medidas, ou seja, o princípio de igualdade entre mulheres e
homens, garantido pelos vários instrumentos, nacionais, regionais e internacionais
não tem tido uma concretização efectiva. Este não é um problema exclusivo de
Angola ou de África, sendo verificado em muitas outras partes do mundo14.

14O princípio da igualdade entre homens e mulheres, tal como esta na Carta das Nações Unidas, na
maioria das constituições nacionais, na legislação governamental, nos programas de desenvolvimento
e em numerosos instrumentos internacionais como a Declaração Universal de Direitos Humanos, o
Convénio sobre Direitos Humanos, a Convenção sobre a Eliminação de todas as de Discriminação
contra as Mulheres, as Estratégias de Nairobi e outros mais, nem sempre tem tido concretização. Não
só em África, mas por todo o lado: é um fenómeno global (Amaral, 2003, p. 153).

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Assim, os espaços público e político, em Angola, são ainda masculinizados,
construídos e articulados segundo lógicas masculinas. Geralmente, nesses espaços, as
mulheres continuam sem grande voz e visibilidade (Pereira, 2004). As práticas e
experiências masculinas são tomadas como hegemónicas e gerais, não se incluindo as
práticas e experiências particulares das mulheres. Com isso, a mulher permanece
como sujeito subalterno, mudo e invisível.

A fraca qualificação escolar e profissional, bem como a situação de pobreza


e subalternidade a que estão sujeitas, inviabilizam a emancipação das mulheres. As
mulheres possuem menor qualificação escolar e profissional comparativamente aos
homens15, facto que contribui para a sua permanência na situação de pobreza e
subalternidade a que estão sujeitas. Esta fraca qualificação escolar e profissional, em
muitos casos, “impossibilita as mulheres de competirem, no mercado de trabalho
formal, em condições de igualdade com os homens, facto que as coloca, muitas vezes,
a exercer actividade económica no domínio informal” (Gonçalves, 2015, p. 48).

Cabe realçar que, actualmente, há um grande número de mulheres a estudar,


com destaque para o ensino superior16. Porém, este progresso que se verifica na
presença de meninas e mulheres nos diferentes níveis de ensino, não se traduz em
ganhos, para as mulheres, em termos de oportunidades, independência económica,
liderança, etc. As mulheres continuam, em grande número, a desempenhar actividades
‘tradicionalmente femininas’, como decoração, culinária, corte e costura, cabeleireira,
e outras e com grande presença no sector informal da economia.

6. VOZES DE MULHERES

15A taxa de alfabetização é de 66%, sendo que no espaço urbano a taxa é de 79% e no espaço rural é
de 41%. A taxa de alfabetização e escolarização das mulheres é de 53%, enquanto a dos homens é de
80% (INE, 2014).
16A taxa de mulheres matriculadas no ensino superior, em 2013, era de 120.564, enquanto que a dos

homens era de 98.114 (PAANE, 2015).

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Apesar de o cenário não estar ainda a seu favor, as mulheres, em Angola, têm
conseguido conquistar algum espaço de participação, quer através de organizações,
associações e movimentos sociais, como de modo individual. Buscam influenciar a
elaboração das políticas públicas a seu favor. Elas tomam consciência da sua situação
de subalternas e marginalizadas e reivindicam por mais espaços; por uma verdadeira
inclusão na vida política, profissional e cultural do país e lutam para desconstruir os
sistemas sociais que tendem a subalternizar e marginaliza-las.

Destacamos aqui o papel da sociedade civil na luta pela emancipação das


mulheres. A acção das organizações e movimentos sociais de mulheres constitui-se
num dos principais mecanismos de promoção da igualdade de género em Angola.

Surgiram, ao longo dos anos, inúmeras organizações e movimentos sociais


que trabalham sobre as questões de género e/ou lutam pela emancipação da mulher
angolana, como por exemplo, Mulher, Paz e Desenvolvimento (MPD), Federação de
Mulheres Empresárias de Angola (FMEA), Rede Mulher, Fórum de Mulheres
Jornalistas para Igualdade de Género, Mulheres de Carreira Jurídica, Ondjango
Feminista, Associação de Apoio a Mulher Polícia de Angola (AAMPA), Plataforma
Mulheres em Acção (PMA), Comité das Mulheres Sindicalizadas, Rede Mwenho,
Associação de Mulheres Empresarias de Luanda (ASSOMEL) e outras. Estas
organizações e movimentos sociais buscam uma maior inclusão das mulheres nas
dimensões política, económica, profissional, social e cultural.

É importante reconhecer os passos dados ainda durante a luta anti-colonial,


com a criação das organizações de mulheres (ala feminina) no seio dos movimentos
de libertação nacional.

O MPLA criou, em 1962, a OMA – Organização da Mulher Angolana –


como forma de organizar e coordenar as actividades desempenhadas pelas mulheres

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dentro do movimento. A OMA tinha como objectivo “promover o papel das
mulheres e dar suporte à campanha nacionalista” (Pereira, 2008, p. 6). No âmbito das
suas actividades, além de coordenar as actividades das mulheres dentro do MPLA,
cabia a OMA a responsabilidade de interligação “com mulheres que pertenciam a
outras organizações de diversos países, envolvidos directa ou indirectamente com a
luta anti-colonial” (idem).

A UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola –, por


sua vez, criou em 1973 a LIMA – Liga Independente de Mulheres Angolanas – que
teve igualmente um papel importante na luta pela libertação e independência nacional.

A OMA e a LIMA ilustram o papel que as organizações de mulheres


desempenham na dinamização e ampliação da participação das mulheres na
sociedade. Mas não constituem o centro da nossa atenção aqui. Queremos apresentar
o papel central e activo dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, no
debate sobre os problemas que afectam as mulheres.

Dentre os diferentes movimentos e organizações de mulheres apresentamos,


sumariamente, a Rede Mulher e o Ondjango Feminista, sem, no entanto, menosprezar
o contributo que todas outras organizações e movimentos têm dado para a
emancipação da mulher angolana.

Destacamos a Rede Mulher, por esta ser uma associação que agrega um
conjunto de várias organizações que, desde finais da década de 1990, trabalham para
a igualdade e equidade de género em Angola; e o Ondjango Feminista, por este ser
um movimento social recente e constituir-se numa das primeiras experiências, do
ponto de vista formal, do feminismo em Angola e, também, pelo contributo que tem
dado na conscientização e mobilização de mulheres para o exercício de uma cidadania
activa.

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A Rede Mulher é um fórum de organizações não-governamentais
(organizações comunitárias de base) que defendem interesses de género em Angola.
Foi fundada em Agosto de 1998, tendo 80 organizações membros, actuando em 12
províncias do país. Reúne diversas organizações da sociedade civil angolana, cujo foco
são as “questões de género e ainda outras organizações em que, embora o género não
seja a temática dominante, desenvolvem projectos nesta área” (Pereira, 2008, p. 5).
Esta organização “estabeleceu-se com a missão de promover oportunidades de
igualdade entre homens e mulheres” (idem).

A Rede Mulher trabalha as questões de género sob diferentes perspectivas,


como a violência contra a mulher, promoção da paz, participação das mulheres no
processo decisório, saúde da mulher, integração das questões de género nos diversos
projectos governamentais. Sua acção visa, por outro lado, promover o
desenvolvimento da sociedade civil angolana através da promoção da participação e
do debate.

O Ondjango Feminista17 é um movimento social feminista – de e para


mulheres –, criado em meados de 2016 por um grupo de mulheres interessadas numa
ampla discussão e reivindicação da igualdade entre mulheres e homens.

O Ondjango Feminista é um movimento autónomo, cuja agenda,


transformadora, articula-se fundamentalmente nos princípios da justiça social,
solidariedade e liberdade. Busca a justiça e igualdade entre mulheres e homens e nega
a cultura que relega à mulher posições e papéis inferiores. E, igualmente, a
conscientização política das cidadãs e dos cidadãos. No seu quadro de actuação e
mobilização, o Ondjango Feminista, promove encontros periódicos – nos últimos

17Para
mais informações sobre o Ondjango Feminista pode-se consultar o seu web site:
www.ondjangofeminista.com.

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domingos de cada mês – que servem para a análise e discussão de um conjunto de
demandas sociais que afectam as mulheres e a sociedade, de modo geral.

A Rede Mulher e o Ondjango Feminista são exemplos de como as acções


extra-institucionais, encabeçadas pelas próprias mulheres, são fundamentais para a
tomada de consciência das mulheres sobre a sua situação de subalternidade e
marginalidade, buscando articular-se a si próprias como indivíduos íntegros e
autónomos, lutando e reivindicando pelos seus direitos. Demonstram, por outro lado,
que as mulheres são capazes de pensar e agir por si e que devem ter uma presença
cada vez mais forte e uma voz mais activa e actuante no processo de decisão.

Têm dado, igualmente, um grande contributo para a dinamização da


sociedade civil angolana, trabalhando para a

criação de um processo de dinâmica social que contribui para o despertar


da consciência pública para as questões de paz e da participação, para os
problemas enfrentados pelas mulheres na sociedade angolana e para a
inclusão da mulher no mercado de trabalho em condições de justiça e
igualdade (Pereira, 2008, p. 5).

A participação activa da sociedade civil na dinâmica de questões ligadas ao


exercício da cidadania e participação é fundamental, por um lado, para a elaboração
de políticas públicas inclusivas e eficazes e, por outro lado, contribuem para o reforço
de uma democracia cada vez mais participativa.

A acção da sociedade civil na promoção da cidadania e participação das


mulheres, em Angola, enfrenta vários constrangimentos, muitos dos quais decorrem

da capacidade limitada de planeamento estratégico de muitas


organizações; da falta de apoio financeiro; dos reduzidos mecanismos de
comunicação; da fraca capacidade de captação de recursos; da dificuldade
de legalização (que dificulta, em grande medida, a capacidade de diálogo
com as instituições do Estado; obtenção de financiamentos e legitimação
de alguns de seus projectos); da falta de capacidade para monitorizar o
desenvolvimento das políticas públicas e seus impactos nas questões de
género; da baixa capacidade para a elaboração de estudos e diagnósticos

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que permitam um melhor planeamento dos projectos (PAANE, 2015, p.
29).

Estas dificuldades, em muitos casos, são agravadas atendendo o espaço (rural


ou urbano) de actuação das organizações, sendo que em zonas rurais, as dificuldades
são maiores. Nestas zonas, por exemplo, o diálogo entre as organizações da sociedade
civil com as instituições do Estado é muito fraco, estabelecendo-se “por meio de
convites para participar em eventos ou para a mobilização da comunidade para
participação em eventos promovidos pelo Estado” (PAANE, p. 30).

Neste contexto, o exercício dos direitos elementares e a participação da


mulher rural tendem a ser muito baixos. Aqui a mulher experimenta maiores
dificuldades e uma acentuada exclusão da participação nos processos decisórios. Por
exemplo, a incidência da pobre é de 58,30% nas zonas rurais, enquanto nas zonas
urbanas é de 18,70%. Por outro lado, há ainda uma baixa presença de mulheres nos
sectores não agrícolas, sendo que muitas mulheres encontram sua ocupação activa no
sector agrícola ou no mercado informal (Relatório sobre os ODM, 2015).

Torna-se, assim, necessário um diálogo amplo e aberto entre as instituições


governamentais e as organizações da sociedade civil para a efectivação do exercício
da cidadania e da participação das mulheres na sociedade, de forma justa, igualitária e
equitativa. As respostas extra-institucionais servem igualmente para despertar as
mulheres para um maior envolvimento na vida pública e política do país e
conscientizar a sociedade, de modo geral, sobre as questões de cidadania, direitos,
igualdade, paz e justiça social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação das mulheres e homens na sociedade é profundamente


marcada por diferenças e desigualdade entre os mesmos.

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Vários os factores que constrangem e limitam a presença e participação das
mulheres na vida pública e política. Muitos destes factores decorrem da dupla
opressão – de classe e de género – a que as mulheres estão sujeitas; da ‘dupla jornada
laboral’ que elas desenvolvem; da fraca educação e socialização para o exercício da
cidadania e participação política; de discriminações e estereótipos decorrentes do
género; da ineficiência e ineficácia das medidas elaboradas para a emancipação da
mulher; da ‘masculinização’ dos espaços públicos e políticos; da despolitização de
vários problemas que afectam as mulheres.

A interiorização e reprodução de papéis sociais subalternos, pelas mulheres,


são reforçados e naturalizados pela visão religiosa e cultural. Tal reprodução social da
subalternidade feminina e sua naturalização estão profundamente enraizados, que, às
vezes, dificulta olhar criticamente a natureza dos constrangimentos à participação
pública e política das mulheres. A prática social demonstra, por um lado, como o
género continua a funcionar como um eixo de discriminação e, por outro lado, como
esta questão afecta profundamente a posição e participação das mulheres na
sociedade.

É fundamental que se invista numa educação inclusiva e abrangente, que não


se esgote nos currículos da educação formal e que seja capaz de trazer à discussão,
questões de género, cidadania, participação, igualdade, paz, justiça social, e outros.
Deve-se educar, desde cedo, as meninas e meninos, para a igualdade, desconstruindo-
se assim as formas hegemónicas de discriminação e subalternização de pessoas e/ou
grupos.

Por outro lado, promover a igualdade, a justiça e o desenvolvimento social,


através de uma progressiva desnaturalização de todas as formas de desigualdade,
discriminação e marginalização, que tendem a inferiorizar as mulheres. As mulheres,
por seu turno, devem tomar consciência de que a sua emancipação depende,

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sobretudo, de si própria. Precisa abandonar os estereótipos de género e sexo que a
cultura lhe incute e reivindicar uma mudança e transformação dos espaços público e
político a seu favor.

As medidas políticas e legais, elaboradas e adoptadas para a promoção e


desenvolvimento da participação das mulheres nos espaços públicos e políticos,
precisam ser reformadas, revistas, reelaboradas e melhor aplicadas. As mulheres
devem ter um papel activo na elaboração, aplicação, avaliação e monitoramento destes
instrumentos. Pelo contrário, muitas dessas medidas poderão estar condenadas ao
fracasso. Assim, torna-se necessário promover acções concretas, eficientes e eficazes,
para a igualdade de direitos e oportunidades entre mulheres e homens, como forma
de assegurar o exercício pleno da cidadania e uma verdadeira inclusão social,
económica e política das mulheres.

É importante dinamizar e ampliar a possibilidade e capacidade de exercício


da cidadania e da participação das mulheres. Para tal, os movimentos sociais e as
organizações de mulheres devem ocupar um papel central na emancipação das
mulheres e na conscientização da sociedade para as questões de género, justiça e
igualdade.

As iniciativas extra-institucionais buscam despertar as mulheres para um


maior envolvimento na vida pública e política do país. Deve haver um maior diálogo
e aproximação entre as organizações e movimentos sociais de mulheres, por um lado,
com as experiências sociais das próprias mulheres e, por outro lado, com as acções
do governo. É importante que as organizações e movimentos sociais de mulheres
alarguem a sua base de acção e influência para a dinamização da participação pública
e política das mulheres.

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