Livro U2 Sep
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Análise do sistema
elétrico de potência
Rafael Schincariol da Silva
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Sumário
Unidade 2
Análise do sistema elétrico de potência������������������������������������������������� 5
Seção 2.1
Sistema por unidade (PU)������������������������������������������������������������� 7
Seção 2.2
Geradores e cargas utilizados em SEP....................................... 21
Seção 2.3
Introdução ao fluxo de potência������������������������������������������������ 34
Unidade 2
Convite ao estudo
Olá aluno, seja bem-vindo a segunda unidade de Sistemas Elétricos de
Potência I. Nessa unidade iniciaremos a análise dos sistemas de potência
abordando alguns fundamentos básicos que serão aprofundados posterior-
mente na análise de um sistema elétrico por meio do fluxo de carga. Aliás,
você saberia dizer qual a importância de se analisar um sistema elétrico,
definindo os modelos dos componentes da rede e realizando cálculos para
determinar as variáveis do sistema em determinados pontos de operação?
Bom, essa análise é de extrema importância. Conforme já vimos, um dos
requisitos essenciais do sistema elétrico de potência é a confiabilidade. Isso
significa que o sistema elétrico deve ser capaz de atender o consumidor final
continuamente, sem interrupções, com a qualidade de energia requerida e
com o menor custo possível. Com esse objetivo, as fases da operação de um
sistema elétrico são divididas em pré-despacho, despacho e pós-despacho.
Na fase de pré-despacho ocorre o planejamento e programação da operação.
Na fase de despacho, ocorre a coordenação das diversas fontes centralizadas
de forma a atender a demanda programada, visando fechar o balanço de
potência. Já na fase de pós-despacho ocorrem os cálculos estatísticos e as
contabilizações dos fluxos de energia para verificar se o balanço de energia
foi realizado adequadamente. Nesse processo, visa-se garantir que o número
de desligamentos de circuitos seja o mínimo possível, prevendo até mesmo
planos de contingência para garantir a continuidade de atendimento da
demanda e que as tensões de suprimento sejam mantidas dentro de padrões
pré-estabelecidos.
Somente para se ter uma ideia, durante a operação do sistema interligado
nacional é necessário que se atenda ao critério N-1. Isso quer dizer que o
sistema deve operar considerando a possibilidade de retirada de um equipa-
mento (uma linha, um transformador, etc.), seja para manutenção ou por um
evento de contingência simples, sem prejuízo ao atendimento da demanda.
Assim, para os estudos realizados nas fases da operação é necessária uma
ferramenta denominada fluxo de carga. Essa ferramenta modela todos os
componentes do sistema de estudo em um sistema determinado de sistema
por unidade, para fins de simplificação de cálculo. Após a modelagem podem
ser previstas diversas situações de operação, com as previsões de demanda,
de forma a planejar quais dos geradores serão acionados e a quantidade de
potência elétrica que deve ser despachada por cada um.
Dessa forma, para adquirirmos os conhecimentos necessários para
analisar um sistema elétrico de potência, esta unidade se divide em três
seções. Na primeira, conheceremos o sistema de valores por unidade e
como modelar um sistema elétrico utilizando esse sistema. Na segunda
seção, estudaremos os geradores e os tipos de carga utilizados para análise
de um sistema elétrico de potência e finalmente na terceira seção faremos
uma introdução à análise dos sistemas elétricos abordando os fundamentos
do fluxo de carga. Esta unidade é fundamental para que você entenda como
realizar uma análise completa do sistema de potência, por isso sugerimos que
você se empenhe o máximo possível. Bons estudos!
Seção 2.1
Diálogo aberto
Olá aluno, seja bem-vindo à primeira seção em que daremos início à
análise de sistemas elétricos de potência. Nesta seção estudaremos um
conceito essencial para realizar o estudo de um sistema elétrico de potência:
o sistema de valores por unidade (ou sistema PU). Você já pensou que em
um sistema elétrico de potência temos diversos transformadores os quais
são responsáveis por elevar e rebaixar a tensão durante todo o caminho que
a energia elétrica percorre? Se tivéssemos que considerar os mais variados
níveis de tensão nos cálculos que deveriam ser realizados com valores reais,
a análise do SEP seria extremamente complexa. No entanto, com o sistema
por unidade, as diferentes variáveis são convertidas em um único sistema
de unidades.
Para contextualizar nosso estudo, vamos imaginar que você trabalha no
centro de operação de uma empresa que coordena o despacho de energia
desde a geração até a carga. Você precisa fazer um estudo de um sistema
elétrico composto por uma unidade geradora na tensão de 10 kV, que se
conecta a um transformador elevador e transporta a energia elétrica por
uma linha de 100 kV. Posteriormente essa tensão é rebaixada para 20 kV e
utilizada por um reator, conforme mostra a Figura 2.1:
Figura 2.1 | Sistema elétrico alimentando um reator
Exemplificando
Um sistema elétrico tem uma potência de base assumida em 100
200
MVA. Parte desse sistema tem uma tensão nominal de kV que
3
é adotada como valor de base. Qual será o valor da corrente de 250
A em pu nesse sistema?
Resolução:
Uma vez que os valores de potência e tensão de base são dados, preci-
samos inicialmente calcular a corrente de base:
250
I pu = = 0,5 pu .
500
Reflita
Alguns equipamentos fornecem os valores de impedância (resistência
ou reatância) em por unidade na base do equipamento. Isso quer dizer
que os valores adotados para o cálculo dos valores em pu fornecidos
foram os valores nominais dos próprios equipamentos, adotados como
valores de base. Nesse caso, quando o equipamento é considerado
em um sistema elétrico de potência, não basta apenas utilizar o valor
percentual ou por unidade, indicado nas informações do equipamento.
Deve ser feita uma mudança de base. Em que tipo de equipamentos essa
mudança é importante?
Exemplificando
Seja um gerador de 50 MVA e 10 kV que possui uma reatância de 12%. Se
esse gerador for conectado a um sistema de 100 MVA, qual será o valor
da reatância do gerador em pu?
Resolução:
Nesse caso podemos fazer o seguinte cálculo:
2
(10kV )
50 MVA
MVA MVA Z MVA 50 MVA MVA 100 MVA
x100
pu = x 50
pu
base
100 MVA
= x 50
pu 2
= x 50
pu
Zbase (10kV ) 50 MVA
100 MVA
Assim, temos:
MVA 100
x100
pu = 0,12 = 0,24 pu.
50
Figura 2.2 | Modelo do transformador (a) com impedância total no secundário (b) com a impe-
dância do secundário refletida no primário
(a) (b)
Fonte: elaborada pelo autor.
Reflita
Em transformadores com tap variável, como deve ser feito para que as
possíveis mudanças de tap sejam consideradas no modelo equivalente
do transformador em valores por unidade?
Exemplificando
Considere o sistema elétrico de potência apresentado na Figura. Os
valores do transformador são dados na base do equipamento. Deter-
mine o sistema equivalente PU na base de 100 MVA.
Resolução:
É possível verificar que podemos dividir o sistema em duas zonas, uma
referente ao lado do primário do transformador e uma referente ao lado
do secundário, conforme mostra a Figura 2.4.
Vb1 = 10 kV Vb 2 = 100 kV
Zb1 = = =1 W
Sb 100´106
2
(Vb2 )
2
(100´10 ) 3
Zb2 = = = 100 W
Sb 100´106
As impedâncias em pu de cada linha serão:
j0,3 W j30 W
z1-2 = = j0,3 pu z 3-4 = = j0,3 pu
1W 100W
Para o transformador, é necessário fazer uma mudança de base:
100
z 2-3 = j0,05 = j0,1 pu
50
Assim, temos o sistema equivalente em pu conforme dado na Figura 2.5
Pesquise mais
Para complementar seus estudos, sugerimos que você confira, na Seção
7.4 do livro da referência a seguir, algumas aplicações do sistema de
valores pu, mais especificamente para sistemas radiais e malhados.
æ S ö÷ æ100 ÷ö
ç
xT'' 1' = xT'' 1 çç b ÷÷÷ = 0,1çç ÷ = 0,25 pu
çè Sbg ø÷ çè 40 ø÷
æ S ö÷ æ100 ö÷
ç
xT'' 2' = xT'' 2 çç b ÷÷÷ = 0,1çç ÷ = 0,25 pu
çè Sbg ÷ø èç 40 ÷ø
Será preciso agora calcular a impedância de base nas regiões 2 e 3 para
obter a impedância pu da linha e do reator. Assim:
Zb2 = = = 100 W
Sb 100´106
2
(Vb3 )
2
(20´10 )
3
Zb3 = = =4 W
Sb 100´106
E, então, calculamos as impedâncias em pu da linha e do reator:
j100
z LT = = j1,0 pu .
100
j12
zR = = j3,0 pu
4
O circuito equivalente será conforme a figura a seguir:
Figura 2.8 | Sistema equivalente em pu para alimentação do reator
A corrente que passa pelo reator pode ser calculada em valores pu:
1 1
IR = = - j pu .
j0,5 + j0,25 + j1,0 + j0,25 + j3,0 5
A potência no reator, então, é dada por:
1
QR = jx R I R2 = - j3,0 × j = 0,6 pu .
5
Assim, podemos determinar o valor da potência em valores reais multi-
plicando pelo valor da potência de base.
QR (MVA r ) = QR ´Sb = 0,6´100 = 60 MVA r .
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Vamos imaginar agora que você trabalha na operação de uma concessio-
nária de distribuição e prevê o aumento de carga em um dos alimentadores
Resolução da situação-problema
Uma vez que os transformadores e o gerador têm impedâncias muito
inferiores podemos considerar que esses equipamentos possuem impedância
nula e dessa forma o circuito pode ser reduzido como mostrado na figura.
Assumindo a potência de base de, por exemplo, 100 MVA, teremos a seguinte
impedância de base para a linha de transmissão:
2
(Vb )
2
(69´10 )
3
Zb = = = 47,61 W
Sb 100´106
Sb 100´106
Ib = = = 836,7 A
3Vb 3 ´69´103
Dividindo a impedância da linha e a corrente na carga pelos valores de
base teremos:
3 + j4
z LT = = 0,063 + j0,084 pu
47,61
160
IC = = 0,1912 pu
836,7
Agora, o circuito em pu pode ser representado pela figura:
(a)
(b)
Fonte: elaborada pelo autor.
Assumindo uma potência de base de 100 MVA, e a tensão nominal da linha como
tensão de base, assinale a alternativa que contém a impedância série da LT expressa
em valores por unidade.
Diálogo aberto
Caro aluno, seja bem-vindo a mais uma seção de Sistemas Elétricos de
Potência l. Na primeira seção desta unidade estudamos o sistema de valores
por unidade, também conhecido como sistemas pu. Nesta seção daremos
continuidade aos nossos estudos e iremos analisar algumas particularidades
do principal gerador utilizado em sistemas elétricos de potência (SEP),
principalmente em usinas hidrelétricas e termelétricas: o gerador síncrono.
Também iremos analisar algumas características de modelagens das cargas
elétricas que são utilizadas em SEP.
Para contextualizar o nosso estudo, imagine que você trabalha como
técnico de campo em um projeto de uma grande usina hidrelétrica que está
em fase de comissionamento. Os geradores que serão instalados nessa usina
deverão atender a alguns requisitos para se manterem estáveis. Na fase de
comissionamento, alguns valores referentes ao gerador deverão ser ajustados
nos seus devidos controladores. Os principais controladores de um gerador
hidrelétrico são o regulador de velocidade e a excitatriz. O regulador de
velocidade controla a velocidade da turbina de maneira a fornecer a potência
mecânica adequada para o eixo do gerador. O controlador faz isso por meio
do controle adequado da passagem do fluxo de água pela turbina, contro-
lando a sua velocidade. Já a excitatriz é responsável por controlar adequada-
mente a tensão de excitação do enrolamento de campo de forma que a tensão
gerada acompanhe a excitação do campo. Essa excitação é responsável até
mesmo por fornecer a potência reativa adequada para a máquina em cada
situação. Posteriormente, quando o gerador for conectado ao sistema elétrico
será necessário fazer um processo denominado sincronização. Como técnico
de campo, você precisa cumprir as tarefas a seguir:
• Determinar os limites de potência para o controle adequado da
turbina da máquina.
• Determinar os limites de potência de forma a não exceder a excitação
da máquina.
• Determinar os requisitos necessários para conduzir o processo de
sincronização do gerador com a rede.
Você estaria preparado para realizar essa tarefa? Onde é possível encon-
trar as informações necessárias para que os controladores sejam ajustados?
Qual o passo a passo para a sincronização do gerador com a rede elétrica?
Assimile
No processo de sincronização do gerador com o sistema elétrico que ele
será conectado, deve-se atender, basicamente, três requisitos no ponto
comum de conexão (PCC) entre o gerador e a rede elétrica:
1. Mesmo nível de tensão.
2. Mesma sequência de fase.
3. Mesma frequência elétrica.
O não atendimento de um desses requisitos pode levar o gerador à insta-
bilidade e pode ocasionar faltas severas na rede elétrica.
Reflita
No caso de Vˆt = E g , como seria formado o diagrama fasorial da
máquina? como seria o fornecimento de potência reativa nesse caso?
Pesquise mais
A excitação da máquina deve ser controlada no gerador síncrono junta-
mente do controle de velocidade da turbina. Para saber mais sobre o
controle de excitação de campo, sugerimos a leitura das Seções 9.5 e 9.6
da referência a seguir:
MOHAN, N. Sistemas elétricos de Potência – um curso introdutório. Rio
de Janeiro: LTC, 2016.
Considerando tensão terminal da máquina ( Vˆt ) como uma tensão de fase fixa,
a potência complexa por fase da máquina é definida na seguinte equação:
S = P + jQ = Vˆt Iˆa*
E gVt Vt 2
Q= cos(d ) -
Xs Xs
Exemplificando
Se um gerador síncrono conectado a um barramento infinito, com
reatância síncrona de 0,8 pu, fornece 0,4 pu de potência ativa com um
ângulo de carga de 10 graus, determine se essa máquina está subexci-
tada ou sobrexcitada.
Resolução:
Podemos usar a equação diretamente:
E gVt E g 1,0 0, 4´0,8
P= sin(d ) ® 0, 4 = sin(10°) ® E g = = 1,84 pu
Xs 0,8 sin(10°)
Logo a máquina está sobrexcitada.
æV (t ) ö
Q = Qo ççç k ÷÷÷
çè V0 ÷ø
Cargas de potência constante: modelo mais utilizado em simulações de fluxo
de carga dos sistemas elétricos de potência, principalmente em sistemas de trans-
missão de energia. As potências ativas e reativas permanecem constantes indepen-
dentemente das variações de tensão, como mostram as equações:
P = Po
Q = Qo
Além desses, outros modelos estáticos de carga são possíveis, tais como
os modelos exponenciais. No entanto, o modelo exponencial não tem um
significado físico. Um modelo que apresenta um significado físico, corres-
pondendo a um agregado de cargas que combina os tipos de impedância
constante, corrente constante e potência constante é o modelo ZIP, que
pode ser representado pelas duas equações a seguir. Esse é o modelo mais
conhecido para caracterizar o comportamento estático de cargas, largamente
empregado em estudos de fluxo de potência e de estabilidade de tensão. As
equações os coeficientes a, b e c determinam a porcentagem de cada um dos
tipos de carga para a modelagem na barra.
ì æ
ï 2
æV (t ) ö ïü
ï çVk (t ) ÷ö ï
P = Po ï
ía çç ÷ + b çç k ÷÷÷ + cï
÷ ý
ï ç
è V0 ø ÷ ç
è V0 ø ï
ç ÷
ï
ï
î ï
ï
þ
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Imagine que você está trabalhando em uma usina termoelétrica. Nessa usina
existe um turbo-gerador que está conectado à rede por meio de um barramento
infinito. Um barramento infinito consiste em um barramento cuja tensão de
operação é fixa e não sofre alterações de tensão em decorrência da conexão de
uma carga ou um gerador. Esse turbo-gerador é do tipo de polos lisos, e a tensão
na barra infinita corresponde à barra de tensão terminal do gerador, podendo
ser assumida como igual a 1 pu. Inicialmente, o gerador opera sobrexcitado, com
tensão de excitação 50% acima do valor nominal. O barramento infinito demanda
do gerador uma potência ativa de 25% da potência de base do sistema. A reatância
síncrona desse gerador é de 1 pu. Nessas condições, os operadores precisam identi-
ficar se a máquina está ou não próxima de atingir o ângulo de carga de 90 graus
levando a máquina à instabilidade. Como você faria para identificar o valor do
ângulo de carga? Caso a máquina esteja em uma operação segura, qual seria o
menor valor de excitação que a máquina poderia operar, de forma a não levar a
máquina à instabilidade?
Resolução da situação-problema
O diagrama que representa a situação descrita é conforme mostra a figura.
2. Uma das questões cruciais na operação de geradores síncronos conectados à rede elétrica
é com relação à sua estabilidade. Dessa forma, sabe-se que um gerador síncrono é capaz de
fornecer potência elétrica até um valor máximo. Considere um gerador que tem reatância
síncrona de 0,8 pu e está conectado a um barramento infinito.
Se a excitação da máquina está ajustada em 20% acima do valor nominal, qual deve
ser o valor da potência ativa máxima entregue pela máquina, em pu?
a) 1,2 pu.
b) 1,3 pu.
c) 1,4 pu.
d) 1,5 pu.
e) 1,6 pu.
Se, a potência ativa para a tensão nominal é de 0,8 pu, na situação descrita qual será o
valor da potência ativa em pu?
a) 0,6544.
b) 0,7224.
c) 0,8345.
d) 0,9334.
e) 0,2334.
Diálogo aberto
Caro aluno, após compreender como modelar os elementos presentes no
sistema elétrico de potência, poderemos dar prosseguimento aos nossos estudos
e partir para a formulação básica e solução de problemas de fluxos de carga. Esse
conhecimento é fundamental para a análise do sistema elétrico e você deve ser
capaz de aplicar métodos eficientes para isso.
Basicamente a solução do problema de fluxo de carga consiste em determinar
o estado de operação da rede (tensões nas barras e fluxos de potência nos ramos)
para uma dada condição de demanda na rede elétrica. Isso requer que as teorias
de circuitos sejam aplicadas, como descrever as equações nodais e de malhas e
resolução do sistema. Veremos que, devido aos objetivos do algoritmo de fluxo de
carga, a implementação dessa ferramenta requer que métodos numéricos iterativos
sejam utilizados.
Para tanto, vamos voltar a imaginar que você trabalha em uma empresa de
transmissão de energia elétrica e está responsável pelo departamento de operação
dos sistemas. Entre suas tarefas está a elaboração de relatórios que determinem e/
ou analisem tensões nas barras, fluxos de potência pelas linhas, soluções para fluxo
de carga e outras grandezas de interesse.
Além disso, você recebeu uma rede de 3 barras para a qual deve realizar uma
análise para obter as condições operativas do sistema. O sistema elétrico em
questão é dado pelo Figura 2.17. Esse sistema se trata de uma rede em anel e é
composto por três barras das quais uma se conecta a uma carga caracterizada por
uma impedância fixa (barra 3), enquanto as outras duas barras são conectadas a
equivalentes externos. Esses equivalentes externos são modelados pelo equivalente
Norton dos sistemas conectados a cada uma das barras (uma fonte de corrente fixa
Figura 2.17 | Sistema elétrico para a análise em paralelo com uma reatância).
As duas fontes de
l1 j0,5 j1,0 l2
0,02+j0,04 corrente injetam correntes
1 1,38 + j2,72 pu na barra 1 e
0,69 + j1,36 pu p.u. na barra 2.
0,01+j0,03 0,0125+j0,025 Seu supervisor está interes-
3
sado nos resultados inerentes
0,4+j0,2 a barra 3, nesse caso, você
deve apresentar a ele um
Fonte: elaborada pelo autor. relatório técnico com a análise,
Assimile
No fluxo de potência fazemos a modelagem estática dos componentes
e a análise estática da rede. Por modelagem estática, entende-se que
Exemplificando
Considere o modelo da rede radial a seguir, formada por uma linha de
transmissão e uma Carga na barra 2, conforme mostra a Figura 2.20.
Sabendo que:
P2 = 1,0 pu Q2 = 0 pu V1 = 1,0112 pu r12 = 0,01 pu x12 = 0,05 pu
Determine a potência necessária na barra 1 para que o balanço de
potência ocorra e a tensão na barra 2 para o atendimento dessa carga.
Resolução:
A Tensão na barra 1 pode ser fornecida, por exemplo, por um transfor-
mador elevador na subestação de uma usina, mantida constante por
meio de um complexo sistema de controle.
As Leis de tensão de Kirchhoff para analisar esse sistema. Assim,
deveremos ter que:
( )
2
2 2 2 2
(V1V2 cos q2 ) + (V1V2 senq2 ) = (V2 ) + r12 P2 + Q2 x12 +(r12Q2 - x12 P2 )
V24 + V22 ëéê2(r12 P2 + x12Q2 ) -V12 ûùú + ëéê(r12Q2 - x12 P2 )2 + (r12 P2 + x12Q2 )2 ûùú = 0
Substituindo os valores, temos:
y 2 -1,0025 y + 0,0026 = 0
æ r Q - x P ÷ö æ
-1 -0,05 ÷
ö
q2 = sen-1 ççç 12 2 ÷ = sen ççç
12 2 ÷
÷ = 2,8°
çè V1V2 ÷
ø ÷
è1,0112 ø
P1 = 1,01 pu e Q1 = 0,05 pu .
Exemplificando
Seja a linha de transmissão no modelo p dada na figura abaixo, deter-
mine a matriz de admitância nodal.
é Iˆ ù éY Y Y1n ù éêVˆ1 ùú
ê 1 ú ê 11 12
ú
ê ˆ ú êY Y Y2n úú êêVˆ1 úú
ê I 2 ú ê 21
ê ú Þ éêë Iˆùûú = [Ybus ] éëêVˆ ùûú Þ éêë Iˆùûú = [G + jB ] éëêVˆ ùûú
22
ê ú=ê
êú ê úú ê ú
ê ú ê ê ú
ê Iˆ ú êëYn1 Yn2 Ynn úúû êVˆ ú
ëê n ûú ëê n ûú
mÎK
Pesquise mais
Conforme vimos, o método de solução do fluxo de carga depende de
uma série de fatores. Existe um método numérico de solução que é
amplamente utilizado na análise de sistemas de transmissão que é o
Método de Newton-Raphson. Para saber mais sobre esse método,
acesse as Seções 5.6, 5.7 e 5.8 do livro da referência a seguir:
MOHAN, N. Sistemas elétricos de Potência – um curso introdutório. Rio
de Janeiro: LTC, 2016.
I L1 0,0524 - j2,0578
I L3 2,0000 - j1,0006
I 23 = -I 32 0,9171 - j0,4003
S3 = P3 + jQ3 0
SL 2 = PL 2 + jQL 2 0 + j1,0439
Cargas
SL 3 = PL 3 + jQL 3 2,0003 + j1,0002
Perdas nas
SP13 = PP13 + jQP13 0,0153 + j0,0460
Linhas
Descrição da situação-problema
Imagine que a sua empresa foi contratada para analisar uma linha de
transmissão de 90 Ohms conforme mostrado na Figura 2.24. Essa linha está
conectada entre dois geradores que operam cada um em valor nominal de
tensão. A linha tem uma capacidade térmica de 62,5 MW, ou seja, essa é a
potência máxima que pode ser transportada pela linha de transmissão de
forma que as perdas joule não comprometam o funcionamento da linha. Sua
tarefa nessa análise é determinar qual é a máxima abertura angular entre
os geradores de forma que não se exceda essa capacidade de transferência
de potência da linha. Como você realizaria essa tarefa? Como você deve
equacionar o sistema e quais as variáveis e envolvidas?
Figura 2.25 | Rede com dois geradores ligados por uma linha de transmissão
Resolução da situação-problema
Primeiramente, devemos obter um sistema equivalente pu para toda a
rede compreendendo as impedâncias dos geradores, dos transformadores e
da linha de transmissão. Inicialmente, podemos definir a potência de base
do sistema como sendo 100 MVA, portanto, as impedâncias percentuais dos
geradores permanecem as mesmas e as impedâncias em percentuais dos
transformadores precisam passar por uma mudança de base, ou seja:
Sbase ,sistema 100 0,025
xtpu ,novo = xtpu = 0,025 = pu
Sbase ,trafo 200 2
Para a linha de transmissão temos que converter os valores de ohms para pu:
VLT2 ,base 1502 90
Z LT ,base = = = 225 W ® z LT , pu = = 0, 4 pu .
SLT ,base 100 225
Basta, então, somarmos as impedâncias e teremos: