Contenção Física de Animais Domésticos

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Semiologia Veterinária – Pequenos Animais

\CONTENÇÃO FISICA – PEQUENOS ANIMAIS

A contenção mecânica tem como principal finalidade


restringir, a atividade física do animal, na tentativa de
avaliar o paciente e/ou executar outros procedimentos
(curativos, administração de medicamentos). Tanto para o
examinador quanto para alguns tutores é sempre um
momento delicado. No entanto, por mais dócil, meigo e
inofensivo que pareça ser o seu paciente, a simples
palpação, por exemplo, de uma determinada estrutura
que apresente aumento de sensibilidade fará com que ele Contenção manual. Coloque um braço sob o pescoço e passe o outro
se defenda. Por esse motivo, não se deve manipular um braço sob o abdome do animal.
animal, mesmo que seja para a execução de
procedimentos simples, sem que ele esteja A colocação de mordaça é importante para se evitar
adequadamente contido, o que resultará em maior acidentes com o médico veterinário, principalmente se o
segurança para o médico veterinário e para o próprio animal for agressivo ou apresentar sensibilidade dolorosa
animal. Além de evitar fugas e acidentes como fraturas em alguma parte do corpo, pois, instintivamente, reagirá
de maneira defensiva à manipulação (palpação). A
Antes da fase de contenção, é necessário realizar algumas focinheira é preferível para a avaliação, devido à maior
tentativas para acalmar o animal. A aproximação segurança que dá ao médico veterinário e à não oclusão
enquanto se pronuncia o nome do animal, ou fazendo das vias respiratórias superiores do animal. Quando
“festinha”, acaricie-o, brinque, ofereça guloseimas e/ou necessário, cães muito agressivos devem inicialmente ser
alimentos apetitosos, é interessante e deve ser tentada, contidos por um cambão, ao fazê-lo, é indispensável o
deixando o animal mais relaxado e menos desconfiado cuidado, a fim de evitar enforcamento (asfixia) e/ou
com relação aos futuros procedimentos. Dê oportunidade fratura de vértebras cervicais no animal. Para a colocação
ao paciente para conhecê-lo também. Ambiente calmo, da mordaça, o examinador deve proceder da seguinte
bem iluminado, sem muita interrupção por pessoas ou maneira:
chamadas telefônicas melhoram consideravelmente os
dados obtidos pelo exame físico.  Utilize um cordão de algodão ou tira de gaze
resistente com aproximadamente 1,25 m de
CÃES comprimento
 Promova uma laçada de duplo nó com o dobro do
Antes de efetuar qualquer exame, é necessário que o diâmetro do focinho do animal antes de sua
veterinário se informe com o tutor sobre o temperamento aproximação
do animal (se é dócil e/ou falso), principalmente se o cão  Coloque a laçada ao redor do focinho, posicionando o
for de guarda ou de raças reconhecidamente agressivas, nó duplo acima deste. Aperte o nó e cruze as
para que se possa escolher o melhor método de extremidades sob o queixo do cão
contenção a ser empregado para cada caso. Na maioria  Desloque as pontas da mordaça para que elas
das vezes, a contenção mecânica pode e deve ser permaneçam atrás das orelhas e amarre-as com
auxiliada pelo tutor, cabendo ao médico veterinário a firmeza; caso contrário, o animal conseguirá tirá-la
orientação correta. Em casos de cães muito agressivos é com as patas dos membros anteriores.
imprescindível a utilização de focinheira, do cambão e/ou
de contenção química.

Os animais de pequeno e médio portes são mais


facilmente contidos, mantendo-os sobre uma mesa de
superfície não escorregadia, após a colocação da mordaça
ou de uma focinheira, o que inibe o animal de querer
fugir. Já os cães de raças grandes ou gigantes são mais
bem imobilizados no chão.

A imobilização manual do animal em posição quadrupedal facilitam a


sequência do exame físico e a realização de vários outros procedimentos
(coleta de sangue, raspado de pele, punção exploratórias etc.).

Anna Júlia Martins -Medicina Veterinária 2020


Semiologia Veterinária – Pequenos Animais
GATOS

A contenção de gatos é uma das tarefas mais difíceis e


requer muito cuidado e habilidade motora por parte do
médico veterinário. A contenção de gatos é bem mais
complicada que a de cães pelo fato de:

 Serem mais ágeis e se desvencilharem com grande


facilidade, principalmente quando a contenção é
realizada por pessoa inabilitada
 Serem animais relativamente pequenos, tornando a
sua imobilização mais trabalhosa, o que pode
ocasionar acidentes quando se utiliza força excessiva
 Defenderem-se com as unhas e os dentes
 Estarem mais sujeitos ao estresse causado pela
mudança de ambiente, por apresentarem
características territoriais.

Os gatos devem ser mantidos com os seus tutores (dentro


de caixas de transporte) e retirados somente no momento
da sua avaliação. A interação veterinário-paciente não é
tão fácil como a observada na maioria dos cães, mas é
possível tentar uma aproximação do animal, como, por
exemplo, coçar a sua cabeça antes mesmo de realizar a
contenção. O primeiro passo na contenção dos gatos é
lembrar-se de fechar as janelas e portas do local de
exame para evitar evasão ou acidentes. Se o animal
estiver mantido dentro de caixas de papelão, madeira ou
mesmo sacolas de pano, sua retirada deve ser feita por
seu tutor. Os gatos devem ser examinados, de
A. Colocação de focinheira em cães. B. Imobilização de preferência, sobre uma mesa.
cães após decúbito.

Para realizar a contenção em decúbito:

 Coloque o braço sob o pescoço, prendendo-o


moderadamente com o antebraço
 Passe o outro braço sob o abdome do animal,
segurando o membro anterior que se encontra do
mesmo lado de quem executa a contenção.

Caixa de transporte de felinos.

Os gatos mudam rapidamente de comportamento e,


muitas vezes, a cooperação inicial é substituída por
inquietação ou hostilidade. Nesses casos, a contenção
manual do gato é recomendada, mantendo-se a cabeça
do animal presa dentro da palma da mão do ajudante, e
os membros posteriores contidos e esticados. Após a
colocação do animal em decúbito lateral, pode-se passar
Cambão: espécie de bastão de madeira no qual se prende uma toalha de mão dobrada em volta do pescoço do gato,
uma longa tira de couro ou uma corda, que deslizará por mantendo dois dedos entre a toalha e a pele do animal
um anel, alargando-se ou estreitando-se em torno do para adequar a pressão exercida e evitar asfixia. É possível
pescoço do animal, segurar gatos muito agressivos ou assustados pela pele
que reveste a porção superior da região cervical, logo

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atrás das orelhas, o que o impedirá de virar a cabeça e Além disso, ressalta-se a necessidade de alguns
morder a pessoa que realiza a contenção. posicionamentos específicos exigidos por exames
diagnósticos, utilizando radiografias ou ultrassonografias,
possíveis apenas com a tranquilização ou mesmo com a
anestesia geral do paciente (p. ex., necessidade de
relaxamento muscular potente para a realização de
exame radiográfico para o diagnóstico de displasia
coxofemoral e imobilidade completa do paciente para a
coleta de liquor cerebrospinal).

Alterações de temperatura corporal, frequência cardíaca,


frequência respiratória e pressão arterial são algumas das
6 Contenção manual com colocação de botinhas de esparadrapo.
consequências mais comuns após o uso desses agentes.

Caso se faça necessária a permanência do animal na O estado físico do paciente pode limitar o uso de alguns
clínica ou hospital veterinário após a avaliação, o gato fármacos que trariam risco a pacientes desnutridos,
deve ser alojado em local ventilado, confortável, higiênico hipovolêmicos ou desidratados, por exemplo. A existência
e seguro de outras enfermidades concomitantes, tais como as
cardiopatias, os processos respiratórios, as hepato e
nefropatias, assim como as doenças neurológicas,
também pode influenciar a escolha do agente a ser
utilizado.

Por fim, a via de aplicação possível na situação


apresentada também influencia a definição da técnica e
dos medicamentos a serem empregados.

Gaiolas de alojamento para felinos.

Locais anatômicos de aplicação de fármacos: por vias subcutânea (SC),


CONTENÇÃO QUÍMICA DE CÃES E GATOS
intramuscular (IM) e intravenosa (IV).
Muitas vezes, é necessário conter os pequenos animais
por meio de fármacos, para que o exame clínico realizado VIAS DE APLICAÇÃO MAIS UTILIZADAS NA
pelo médico-veterinário seja satisfatório e seguro. Sob o CONTENÇÃO QUÍMICA
efeito de tranquilizantes ou sedativos, animais agressivos,
agitados ou estressados podem ser mais bem VIA ORAL
examinados, possibilitando menores alterações Para que um medicamento possa ser aplicado por esta
paramétricas decorrentes do estresse, evitando agressões via, é necessário que seja palatável. No tipo líquido,
ao profissional que os examina. podem ser utilizados em administração direta, na boca,
ou por meio de seringas, puros ou misturados a uma
Frequentemente, é necessário que felinos, de maneira
pequena quantidade de água ou outro líquido. Os
geral, e cães de raças violentas ou de comportamento
comprimidos ou drágeas podem ser colocados
nervoso sejam contidos farmacologicamente, para
diretamente no fundo da cavidade oral ou inseridos em
permitir a realização de exames de boa qualidade. Alguns
alimentos sólidos, tais como pedaços de pão ou
exames clínicos podem, ainda, envolver dor, quando uma
“bolinhos” de carne, impedindo que o animal perceba a
região lesada ou inflamada precisa ser manipulada, como
existência do medicamento.
ao examinar-se traumatismos osteomusculares, feridas,
enfermidades otológicas etc.

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A grande limitação desta via de aplicação é o longo tempo utilizada para facilitar a localização do vaso sanguíneo e
de latência, entre 1 e 2 h, com efeito bastante variável melhorar o efeito do antisséptico.
entre os pacientes.
O material utilizado para a injeção do fármaco deve ser
Trata-se de uma excelente via de aplicação a ser descartável, a espessura e o comprimento da agulha e a
empregada pelo proprietário, especialmente nos casos de capacidade da seringa devem ser adequados ao local de
animais agressivos ou de difícil transporte. O aplicação e ao volume do medicamento.
medicamento pode ser administrado no próprio
domicílio, algum tempo antes de transportar o animal ao O bisel da agulha deve ser posicionado de maneira a
consultório. Desse modo, o paciente chega ao ambiente facilitar a perfuração e a escala numérica da seringa,
estranho já previamente tranquilizado ou sedado e, caso sempre voltada para o aplicador, a fim de possibilitar o
o efeito seja menor que o necessário, a suplementação controle do volume e da velocidade de injeção.
por outras vias de aplicação torna-se mais fácil. Nessa
Há várias maneiras de aplicação parenteral e, dentre elas,
situação, o médico-veterinário deve estar ciente de que
as mais usadas na contenção química são: (1) subcutânea;
os parâmetros já estarão alterados pelo efeito do
(2) intramuscular; e (3) intravenosa.
fármaco, o que poderá mascarar o estado físico real do
paciente ao exame físico. Via subcutânea

VIA TÓPICA Esta via é escolhida nos casos em que se deseja retardar a
absorção do fármaco ou quando é possível a espera maior
Trata-se da deposição do princípio ativo, no caso para o efeito ser alcançado, pois o período de latência é,
específico, um anestésico local, sobre a pele ou mucosas, em média, de 30 a 45 min; além disso, pode ser útil no
com o fim de absorção direta. Os produtos para este caso de animais muito agressivos e de difícil contenção.
objetivo apresentam-se em gel, pomadas, sprays ou
colírios. O efeito sobre as mucosas é bastante superior ao O local anatômico de escolha deve possibilitar o
produzido pela aplicação sobre a pele, em que a absorção deslocamento da pele para a introdução da agulha no
é menor espaço subcutâneo, sendo as regiões dorsal ou lateral do
tórax ou do abdome as mais indicadas.
Um procedimento muito comum é o emprego de colírios
anestésicos para produzir a analgesia da superfície da
córnea, o que torna possível realizar alguns exames
oftálmicos e até retirar um corpo estranho, por exemplo.

Os sprays ou pomadas podem ser úteis nos exames


ginecológicos ou orais e facilitam a intubação traqueal.

Colírio anestésico instilado na córnea de um cão.


Modo de aplicação subcutânea

VIAS PARENTERAIS
Via intramuscular
Nestas vias, é importante a antissepsia do local e do
Assim como a via subcutânea, a intramuscular pode ser
material a ser utilizado, pois a possibilidade de
útil naqueles animais agressivos nos quais a abordagem
contaminação é considerável. O antisséptico mais
mais segura é a aproximação pela porção posterior do
indicado para isso é a solução de álcool iodado e,
corpo. Dessa maneira, o animal pode ser amordaçado e
especialmente na via intravenosa, a tricotomia pode ser

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firmemente contido pela coleira pelo próprio proprietário,
enquanto a aplicação é realizada no membro pélvico.

O local de eleição para a aplicação intramuscular em cães


e gatos é a massa muscular das coxas (músculos
semitendíneo e semimembranáceo)Medicamentos muito
viscosos ou de pH extremos podem produzir dor à
aplicação, resultando em reação e movimentação do
animal. Nesta via de aplicação, o período de latência pode
ser, em média, de 15 a 30 min, e a duração de efeito, em
regra, é menor que na aplicação subcutânea e maior que
na intravenosa.

Via intravenosa

Nesta via de aplicação, não há necessidade de absorção e


o efeito inicia-se quase imediatamente. A velocidade de
aplicação deve ser criteriosa, a fim de evitar a ocorrência
de alterações paramétricas bruscas. O período de latência
é de, no máximo, 15 min, conforme as características do
fármaco empregado.

A principal vantagem desta via de aplicação é o início


rápido de efeito, mas requer imobilidade física do
paciente que possibilite a localização e a punção do vaso.
Nesta via, as veias mais utilizadas são a radial ou a cefálica
e a safena.

Nos casos de necessidade de aplicação de grandes


volumes ou nos quais o acesso às veias citadas seja difícil
(aplicações repetidas, flebites, animais hipotensos ou em
choque etc.), a veia jugular pode ser uma boa opção.

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