Ricardo Kaniama
Ricardo Kaniama
Ricardo Kaniama
As minhas pesquisas, lembra, começaram aí, para saber o que era necessário fazer
para sair da pobreza.
Leu as leis da criação da riqueza de Benjamim Franklim, americano que já em 1709
descobrira a importância da educação financeira e que hoje tem a imagem na nota
de 100 dólares. Este homem, que não estudou muito, mas devido às pesquisas
sobre as leis da criação da riqueza, diz Ricardo Kaniama, tornou-se rico e
posteriormente Presidente dos EUA, foi a primeira pessoa que fez a vulgarização da
educação financeira, conta.Educou o povo americano a entender princípios básicos
para sair da pobreza e enriquecer como a poupança, investimento e ter um
objectivo. “Foi graças a esse trabalho que gradualmente se criou uma classe de
ricos nos Estados Unidos”, sublinha.
Determinado a elaborar uma tese científica sobre a obtenção da riqueza, Ricardo
Kaniama continuou a investigar, para encontrar a resposta, até que deu de caras
com o que considera “maior descoberta do nosso tempo”, feita pelo filósofo e
psicólogo americano William James.
Segundo esse autor, “o homem pode mudar a sua vida mudando a sua maneira de
pensar”, de onde nasce a teoria segundo a qual, “se quiseres ser rico tens que
pensar como os ricos”. A diferença entre o rico e o pobre, explica o empresário,
hoje com 40 anos de idade, está na maneira de pensar.
“Investi tempo para mudar a minha maneira de pensar”, diz Ricardo Kaniama, que
continuou a aprofundar o tema, lendo autores como Napoleon Hill, WallaceWat-
tles, Joseph Murphy, Robert Colier, Jim Rohn e outros.
“Fui estudando tudo o que eles publicaram e daí cheguei à conclusão que os
nossos pais, que não foram à escola, tinham uma cultura de riqueza melhor do que
nós que estudamos”, reconhece, justificando por que escreveu “A cabra da minha
mãe”, publicado inicialmemente em francês, em 2016.
Ricardo Kaniama explica que a mãe, que nunca frequentou uma escola, sabia que
tendo uma cabra, mesmo passando por algumas privações, devia esperar a cabra
procriar e dar mais cabras do que matá-la e perder tudo.
O homem que foi formado na escola convencional, explica, mata a sua cabra
(destina ao consumo tudo o que produz) e não tem como sair da pobreza.
“É uma lei de Deus. Deus criou as coisas de uma vez. Os antepassados sabiam que
se tiveres dez sacos de milho, qualquer que for a necessidade, não podes consumir
os dez. Podes gastar até nove, mas o décimo deves usar para semear e esperar.
Esta é a grande sabedoria da educação financeira”, sublinha.
Para reduzir os gastos e poupar dinheiro, vivia na cantina com a mulher, logo
depois do casamento. “As pessoas à nossa volta não compreendiam que um casal
de jovens universitários pudesse viver numa loja. Viam isso com muito maus olhos”,
escreve no livro.
Os frutos não tardaram. No final do mesmo ano, abriu uma farmácia, também no
Benfica, com três funcionários. Em 2009, mais uma farmácia. Continuou a crescer e
a investir no ramo da Saúde, abrindo um Centro Médico em 2014 e uma clínica em
2016. Nunca recorreu a um crédito bancário, apesar de ter sido distinguido, em
2013 e 2014, como o melhor empreendedor do ano pelo antigo banco Millenium
Angola (hoje banco Millenium Atlântico).
A versão francesa já vendeu mais de 60 mil exemplares. O autor diz que esses
números precisam de ser actualizados, porque o livro está no site Amazon.com e
todos os dias há encomendas pelo mundo, com a distribuição a ser feita a partir de
Paris. “Constituiu- se uma equipa de africanos, que gostaram muito do livro e
decidiram fazer a promoção. Hoje, quando chego a Paris, chamam-me o ‘Robert
Kiyosaki africano’. Dizem: ‘agora temos o nosso Kiyosaki’, por- que a riqueza
também é cultural”. Robert Kiyosaki é um empresário e autor americano que
escreveu o livro sobre educação financeira “Pai rico pai pobre”.
Se cada angolano poupasse 1 dólar/dia teríamos mais de 20 milhões por dia
Ricardo Kaniama diz que se houvesse educação financeira, o Governo podia
encontrar no país o dinheiro que procura junto de instituições financeiras como o
FMI.
No seu entender, se a pobreza permanece até agora é por ser “uma doença mal
diagnosticada”. Um bom médico, para fazer um bom tratamento, sublinha, primeiro
tem que fazer um bom diagnóstico da doença.
“Qual é a preparação que dão nas nossas escolas? Somos pais e também fomos
crianças. O que é que nos disseram para sobressair na vida? Basta ir à escola. Mas
nós fomos à escola. Amaioria das pessoas afectadas pela pobreza hoje têm
certificados, estudaram, são profissionais”, lembra, acrescentando que a limitação
de conhecimentos em termos financeiros faz com que, mesmo trabalhando, a
pessoa permaneça no estágio de dependência financeira. Porque, quando parar de
trabalhar, também logo cai na pobreza.
“A causa principal da pobreza e da manutenção da pobreza é a pobreza mental. É
por isso que, se quisermos combater a pobreza da melhor forma, não podemos
combater consequências. Isso seria um tratamento paliativo. Devemos combater a
causa, que é a pobreza mental, que consiste no desconhecimento dos princípios
básicos da educação financeira”, apelou.
Para o efeito, sugere que se dê espaço às pessoas que fizeram pesquisas
nesta área, como é o seu caso, tal como se faz quando há uma pandemia, dando-
se a palavra aos médicos e investigadores em ciências da Saúde, para poderem
esclarecer os governantes e os que tomam as decisões e assim enquadrar
estratégias eficazes.
“Nós nos formamos neste ramo e temos competências científicas e investimos
muitos anos de estudo, estamos em condições de trazer a nossa contribuição, que
pode levar o país, primeiro, ao estágio da consciencialização”, sublinhou,
apontando como forma mais rápida de sensibilização a utilização das televisões,
rádios e jornais.
“Sou a pessoa que mais sofre ao saber que a pobreza pode ser vencida”
No livro a “Cabra da minha mãe”, Ricardo Kaniama partilha a experiência pessoal e
os princípios que lhe permitiram sair da pobreza e tornar-se um homem de
negócios bem sucedido.
O empresário diz que escreveu o livro por amor à Humanidade. Não partilhar a
experiência do sucesso, disse, seria o mesmo que alguém descobrir a cura para o
VIH/Sida e guardar só para si.
O empresário lembra que no princípio dava apenas palestras. Para explicar de uma
forma simples que é possível tornar-se rico a partir do pouco, Ricardo Kaniama
dava o exemplo da cabra que pertencia à mãe, para mostrar que “o nosso
comportamento financeiro joga um papel muito importante”. Nas palestras
começou a ser encorajado a escrever a história da cabra. “Fico feliz porque, hoje, o
livro está em toda a parte de África, em toda a parte da Europa. Todo o tempo as
pessoas estão a encomendar através da Amazon”, sublinha.
O hábito tem a ver com a forma como se vive com aquilo que se ganha. No livro “A
cabra da minha mãe”, lembra, existe uma escada para a riqueza. “Se a pessoa fizer
uma auto- avaliação em relação à escada da riqueza e ver como usou os seus
rendimentos nos últimos dez anos; se concluir que gastou tudo que ganhou e que
não constituiu um capital de investimento, esta pessoa é pobre, mesmo quando
ganha um bom salário”.
Sobre a forma de produzir, adianta, se a pessoa é obrigada a trabalhar para ter
renda, então ainda está no estágio da pobreza. Infelizmente, acrescenta, é esta a
forma de produzir que o emprego traz. A pessoa é obrigada a trabalhar
diariamente. A sua renda está ligada à sua energia, tempo, contribuição. Se parar
de trabalhar, a renda também pára. Mas nós somos homens, de uma forma ou
outra pararemos de trabalhar algum dia.
Vimos, com a crise, muitas pessoas perderam o emprego, mesmo sendo
profissionalmente competentes. Encontravam- se na pobreza, porque ainda não
tinham independência financeira”.
Quem atinge o último grau, com o capital de 9.500.000,00 kwanzas, sai da rede de
independência financeira, porque ao longo do percurso já terá recebido bastante
educação financeira.
Ricardo Kaniama justifica que, muitas vezes, o que falta não é dinheiro. “A pessoa
tem dinheiro, mas não usa esse dinheiro da melhor forma. É por isso que insistimos
na educação financeira, onde vamos ensinar às pessoas como aumentar esse
capital com poupança pessoal, mas também aconselhar em que tipo de
investimentos pode apostar”.
Por: Fonseca Bengui