Calendario Zoosanitario Caprino Ovino PUBVET

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RODRIGUES, C.F.C. et al.

Boas práticas, gestão sanitária e bem estar animal na produção de


ovinos e caprinos. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 11, Ed. 198, Art. 1330, 2012.

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Boas práticas, gestão sanitária e bem estar animal na produção de ovinos


e caprinos

Carlos Frederico de Carvalho Rodrigues1, João Elzeário Castelo Branco Iapichini2,


Daniela Pontes Chiebao1, Fábio Henrique de Lima Gabriel1

1 – Pesquisador Científico - Médico Veterinário, da APTA - Agência Paulista de


Tecnologia dos Agronegócios/Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado
de São Paulo. [email protected]
2 - Pesquisador Científico - Zootecnista, da APTA - Agência Paulista de Tecnologia
dos Agronegócios/Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo.

Resumo
O potencial para consumo interno de carne ovina e caprina na região Sudeste do
Brasil é enorme, em especial de produtos que atendam os preceitos de qualidade
sanitária e denominação de origem. Para tanto, o objetivo deste trabalho é
apresentar os conceitos fundamentais de Boas Práticas de Manejo, de Gestão
Sanitária e de Bem-estar Animal, que executados em distintos sistemas de
produção, visam que estes sejam sustentáveis. Boas Práticas de Manejo são
técnicas e normas de conduta visando incrementar a produção animal, garantir
segurança e qualidade da carne produzida, conquistar maior confiança e
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ovinos e caprinos. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 11, Ed. 198, Art. 1330, 2012.

satisfação dos consumidores, melhorar as condições do meio ambiente e de


saúde dos trabalhadores rurais e demais atores envolvidos. Gestão sanitária
estratégica é alicerçada pelo Planejamento. O calendário zoosanitário, que é
intrinsecamente relacionado e dependente do manejo reprodutivo, deve ser
implantado para organizar os procedimentos adotados, principalmente para
prevenir a ocorrência de enfermidades. Cada sistema de produção é único, com
desafios e oportunidades próprias. Portanto, não existe um “calendário padrão” a
ser preconizado indiscriminadamente para todos, pois cada sistema requer
cuidadosa coleta de informações, análises e interpretações de profissional
habilitado para elaboração do calendário anual de atividades. Bem-estar animal é
o seu estado em relação às suas tentativas de adaptação ao ambiente, variando
de um contínuo bom até o ruim, pois os animais criados com finalidade de
produzir alimentos têm direito de sobreviver dignamente e, dessa forma, a
produção tende a melhorar conforme melhores são as condições de vida do
rebanho. Para tal, segundo a OIE, devemos garantir aos animais as “Cinco
Liberdades”: psicológica, comportamental, fisiológica, sanitária e ambiental. O
grande desafio da ovinocaprinocultura de corte brasileira é fornecer ao
consumidor final uma carne de qualidade, com regularidade de oferta através da
produção em escala e a um preço competitivo, oriunda de sistemas de produção
sustentáveis.

Well - being animal, management practices and good health in the


production of sheep and goats

Abstract
The potential for domestic consumption of goat meat and sheep in the Southeast
region of Brazil is huge, especially for products that meet the precepts of health
and quality designation of origin. Therefore, the objective of this work is to
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present the fundamental concepts of Practice Management, Health Management


and Animal Welfare, which run in different production systems, intended that
these are sustainable. Best Management Practices are techniques and standards
of conduct for increased animal production, ensure safety and quality of meat
produced, gain greater confidence and consumer satisfaction, improve the
environment and health of rural workers and other actors involved. Health
management is underpinned by strategic planning. The calendar Animal Health,
which is intrinsically linked and dependent on the reproductive management,
must be deployed to organize the procedures adopted, mainly to prevent the
occurrence of diseases. Each production system is single with its own challenges
and opportunities. Therefore, there is a default calendar to be recommended for
all indiscriminately, because each system requires careful data collection, analysis
and interpretation of a qualified professional to prepare the annual calendar of
activities. Animal welfare is their status in relation to their attempts to adapt to
the environment, ranging from a continued good until the bad, because the
animals created with the purpose of producing food have the right to survive with
dignity and thus, the production tends to improve as better the living conditions
of the herd. To this end, according to the OIE, the animals must ensure the Five
Freedoms: psychological, behavioral, physiological, and environmental health.
The great challenge of cutting Brazilian Sheep and Goat Farming is to provide the
consumer a quality meat, regular supply through the production scale and a
competitive price, coming from sustainable production systems.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O rápido retorno econômico, a possibilidade de integração com diferentes
sistemas de produção animal e vegetal e o amplo mercado consumidor a ser
conquistado, principalmente o de produtos cárneos, credenciam a
ovinocaprinocultura como atividade economicamente viável, tanto para a
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agricultura familiar como para grandes empreendimentos agroindustriais


integrados.
Para sua transição e consolidação como agronegócio, a ovinocaprinocultura
necessita ser norteada para atender critérios e princípios específicos como o
desempenho econômico, bem-estar animal, responsabilidade social, impacto
ambiental, saúde pública e ética empresarial.
Antes de tudo, deve ocorrrer uma mudança de mentalidade, onde a
ovinocaprinocultura passa a ser vista como um empreendimento e o
ovinocaprinocultor, um empreendedor, tomando consciência de que através do
gerenciamento sanitário e financeiro da propriedade, a atividade pode
proporcionar o retorno esperado.
Mesmo sendo um negócio economicamente rentável, a produção e oferta de
carne ovina e caprina ainda não atende o mercado interno. Além de indicar boas
oportunidades de negócios para o produtor rural, tal contexto também justifica a
importância do agronegócio da ovinocaprinocultura como estratégia para o
desenvolvimento regional.
Com o potencial de crescimento e desenvolvimento de produção, atrelado
aos índices produtivos de rebanhos ovinos e caprinos, que podem produzir até
4,5 vezes mais que os bovinos, ficando clara a importância social e econômica
que essa espécie pode a vir desempenhar no contexto sócio-econômico do Brasil.
O mercado, cada vez mais competitivo, exige do produtor rural uma
organização financeira e qualidades técnicas muito maiores do que exigidas no
passado. Além disso, deve conhecer a organização da cadeia de produção da
ovinocaprinocultura para que todos os segmentos sejam satisfatoriamente
integrados, objetivando fornecer ao consumidor final uma carne de qualidade,
com regularidade de oferta através da produção em escala a um preço
competitivo. Esse é o grande desafio da ovinocaprinocultura brasileira.
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A gestão sanitária da cadeia produtiva de ovinos deve priorizar a promoção


da saúde, a prevenção às doenças, a biosseguridade e a qualidade dos alimentos
produzidos a partir dela.
As diversas práticas de manejo sanitário devem preconizar o
relacionamento e sintonia com o ambiente e os manejos reprodutivos e
zootécnicos.
Dessa forma, a manutenção da saúde animal depende de certos fatores,
como a implantação de programas preventivos, definição e dimensionamento do
sistema de produção, mão-de-obra capacitada e estimulada e de questões
administrativas e econômicas.
Diferentes medidas devem então ser colocadas em prática, de maneira
rotineira, a saber:
- Escrituração zootécnica individual.
- Avaliação dos índices de produtividade.
-Calendário sanitário anual estritamente relacionado com o calendário
reprodutivo.
- Educação sanitária das pessoas envolvidas na atividade.
- Quarentena de animais introduzidos no criatório.
- Diagnóstico das doenças prevalentes no rebanho.
- Descarte orientado por motivos zootécnicos e ou sanitários.
Devemos encarar essas necessidades técnicas e operacionais não
somente como entraves para o ovinocaprinocultor, mas principalmente como
desafios a serem suplantados através do investimento em conhecimentos e
ferramentas de gestão da atividade, visando à viabilidade econômica e
sustentabilidade da ovinocaprinocultura.
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Desempenho econômico da Produção de Ovinos e Caprinos:


Com o objetivo de maximizar os resultados econômicos da atividade, o
ovinocaprinocultor deve priorizar, além dos processos técnicos e produtivos, as
ações gerenciais e administrativas envolvidas em todas as fases da produção de
ovinos e caprinos.
Para tanto, conhecer e interpretar os custos de produção e os índices
econômicos resultantes é fundamental para o gestor estabelecer as prioridades,
identificar a possibilidade e ou necessidade de novos investimentos e avaliar a
viabilidade econômica da ovinocaprinocultura.
Quando da elaboração de um projeto de criação de ovinos é preciso
descrever os investimentos necessários, os custos e seus diferentes componentes
e as estimativas de receita do empreendimento, gerando assim o “fluxo de caixa”
do projeto pretendido e conseqüentemente a avaliação da sua viabilidade
econômica.
Investimentos são os desembolsos necessários para a implantação e
condução do sistema de produção pretendido, tais como: terra, animais (matrizes
e reprodutores), benfeitorias (instalações zootécnicas diversas: cercas,
bebedouros, comedouros, curral de manejo, abrigos etc) e implementos (trator,
carreta, roçadeira, eletrificadores de cerca, trituradores etc).
Os conceitos de custo de produção, que é representado pelo somatório de
todos os gastos realizados no ciclo de produção de ovinos e caprinos, podem ser
calculados com diferentes níveis de precisão, variando conforme a realidade de
cada criatório.
Custo Operacional Efetivo são os gastos efetuados para o devido custeio da
atividade, implicando no desembolso do produtor: alimentos, mão-de-obra,
medicamentos, energia elétrica, adubos e sementes, combustíveis, manutenção
de instalações, impostos e taxas diversas, assistências técnicas etc.
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Custo Operacional Total significa o custo operacional efetivo mais os custos


correspondentes à mão-de-obra do ovinocaprinocultor e à perda de valor do
capital investido (depreciação) em benfeitorias, máquinas, equipamentos,
forrageiras não anuais e de categorias de ovinos que não geram receitas diretas
(carneiros reprodutores e ovelhas matrizes).
Custo Total engloba o custo operacional total mais a remuneração do capital
investido em benfeitorias, máquinas, equipamentos, animais, forrageiras não
anuais e terra.
O ovinocaprinocultor deve realizar as anotações dos gastos diretos e
indiretos com a criação, determinar a sua renda bruta e receita líquida (renda
bruta menos os custos), possibilitando assim uma análise consistente da
lucratividade do seu sistema de produção.
Aliar os conceitos de produtividade e rentabilidade é fundamental para a
sustentabilidade do sistema de criação explorado, e para tanto, os custos de
produção devem ser compatíveis com o mercado consumidor a ser atendido e a
remuneração alcançada.

Planejamento de Saúde Animal (PSA)


O PSA deve ser implantado em propriedades como forma de organizar os
procedimentos adotados na produção de ovinos e caprinos para, principalmente,
prevenir a ocorrência de enfermidades as quais o rebanho esteja susceptível.
A implantação de um PSA requer profissional especializado e que conheça
todos os pontos problemáticos da propriedade. O ideal é que o PSA seja
elaborado como forma de prevenir situações que causem comprometimento do
bom estado sanitário de uma propriedade. Porém o que ocorre com mais
freqüência é a requisição de tal serviço quando um problema já se encontra
instalado e, em alguns casos, com alguma enfermidade já acometendo parte do
rebanho.
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A elaboração do PSA requer tempo para que o profissional faça um


levantamento detalhado de todas as características da propriedade como, por
exemplo, a área total, localização e condição das as instalações, finalidade e raça
do rebanho, tipo de alimentação oferecida, outras espécies que eventualmente se
encontre na mesma área, relevo, solo predominante, textura do solo, fonte de
energia elétrica, fonte de água (nascente), vento predominante, destino dos
dejetos produzidos, mão-de-obra e condições sócio econômicas. Também se deve
observar preliminarmente os tipos de manejo sanitário, reprodutivo e nutricional
a que os animais são submetidos.

Calendário Zoossanitário
A melhor maneira de se aperfeiçoar os procedimentos relacionados ao
manejo sanitário dos rebanhos é fazendo um planejamento das ações e
programação das atividades - como, por exemplo, as vacinações, aplicação de
vermífugo, corte da cauda, apara de cascos, banho contra parasitas, eventuais
colheitas de sangue e fezes para exames, etc. - conforme as necessidades ao
longo de um período, que pode ser de 1 ano ou 6 meses - dependendo da
necessidade da propriedade - e fazendo um agendamento dividido por semanas
ou quinzenas.
A programação das atividades só facilita o trabalho de todos os envolvidos
no manejo do rebanho, reduzindo gastos com mão-de-obra, aumentando a
eficiência de vermífugos e dos banhos contra parasitas – pois serão utilizados em
períodos estratégicos, conforme a época do ano. Aumenta também a eficiência do
manejo reprodutivo, reduzindo as repetições de cio e permitindo a implantação
de estações de monta.
É interessante que se faça um calendário para cada categoria animal. Por
exemplo, os procedimentos de manejo das matrizes durante a estação de monta
até o período de parição deve estar detalhado em um calendário apenas,
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podendo-se incluir o manejo dos cordeiros até a desmama. Outro calendário pode
ser utilizado para se detalhar os procedimentos de manejo dos cordeiros e
cabritos durante o período de engorda até o abate, e assim sucessivamente.
Temos a seguir um exemplo simplificado de calendário para procedimentos
de manejo sanitário em uma propriedade produtora de ovinos de corte.

Tabela 1: Calendário de procedimentos zoossanitários no período de 1


ano (arquivo pessoal)

1° Quinzena 2° Quinzena
Início da estação de monta
Janeiro Vermifugação se necessário (**)
Colheita de fezes (*)
Fevereiro Pedilúvio
Março Fim da estação monta
Coleta de sangue para leptospirose e
Abril brucelose/
Clostridiose fêmeas prenhes (1°dose)
Pedilúvio / Clostridiose(reforço
Maio
fêmeas prenhes)
Junho P Descola
A
R Clostridiose nascidos em
Julho Descola
I junho(1°dose)
Ç Pedilúvio
Agosto à Clostridiose dos nascidos em Descola
O junho(reforço) e julho(1°dose)
Clostridiose dos nascidos em
Setembro
julho(reforço) e agosto(1°dose)
Coleta de sangue para leptospirose e
brucelose.
Outubro
Clostridiose dos nascidos em
agosto(reforço)
Tosquia e 2 dias após, banho de
Novembro Casqueamento / Pedilúvio imersão, pulverização ou
ectoparasiticidas injetáveis
Dezembro Repetir banho de imersão
Exame andrológico
(*) Colheita de fezes feita mensalmente.
(**) A vermifugação deve ser feita de acordo com os resultados do exame
coproparasitológico.
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É importante salientar que não existem fórmulas prontas para a realização


de um calendário zoosanitário, já que não se encontram propriedade exatamente
nas mesmas condições de clima, área total, topografia, vegetação, pastagem,
fertilidade do solo, uniformidade e aptidão do rebanho, etc...
O monitoramento da sanidade do rebanho pode ser feito por meio de
relatórios dos grupos de produção, como por exemplo:
- Relação macho: fêmea.
- Taxa de prenhez.
- Porcentagem de nascimentos.
- Quantidades e razões de mortalidade de animais jovens e adultos.
- Mortalidade pré e pós-desmame.
- Taxa de prevalência de doenças.
- Tratamento e recuperação de animais doentes.
- Taxa de descarte e razão do descarte.
- Taxa de crescimento.
- Escore corporal do rebanho.
Atualmente, ovinocaprinocultores e profissionais da área de produção de
ovinos contam com diferentes e eficientes softwares para gerenciamento e
monitoramento das diversas etapas e ações técnicas exigidas pela moderna
ovinocaprinocultura.

Bem-estar animal
Segundo as diretrizes da Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE),
animais criados com finalidade de produzir alimentos têm direito de sobreviver
dignamente e, dessa forma, comprovadamente, a produção tende a melhorar
conforme melhores são as condições de vida do rebanho.
Em uma propriedade produtora de ovinos e ou caprinos, por exemplo, os
animais que não sofrem estresse engordam mais rapidamente, as fêmeas
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produzem mais leite aos filhotes, os animais lanados produzem lã de melhor


qualidade, o manejo reprodutivo transcorre-se com menos incidentes
indesejáveis à propriedade.
A OIE determina que princípios básicos sejam respeitados para que o bem-
estar animal seja garantido. Dentre esses princípios estão as chamadas “cinco
liberdades”:
1- Liberdade psicológica: em que os animais não podem estar submetidos a
medo, ansiedade ou estresse.
2- Liberdade comportamental: os animais devem ter liberdade para expressarem
seus comportamentos naturais.
3- Liberdade fisiológica: os animais não podem ser privados de água e
alimentação.
4- Liberdade sanitária: onde o animal não pode estar exposto à doenças, injúrias
ou dor.
5- Liberdade ambiental: deve permanecer em ambiente adequado,
proporcionando, principalmente, conforto térmico.
Quando quaisquer desses princípios não forem respeitados, existem
grandes chances que ocorram as chamadas situações de estresse.
Os ovinos, particularmente, são mais susceptíveis ao estresse que outros
animais de produção. Entretanto ações específicas de manejo podem ser
adotadas com finalidade de que se diminua o estresse na lida diária com os
animais. Para isso deve-se:

- Conhecer o comportamento e as particularidades dos animais;


- Ter contato gentil;
- Fornecer alimentação adequada e água limpa;
- Fornecer sombra natural ou artificial;
- Utilizar instalações que propiciem aos animais uma zona de conforto térmico;
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- Fazer pouco barulho ao manejar os animais;


- Movimentar-se lentamente quando perto dos animais;
- Evitar o manejo de muitos animais em áreas pequenas;
- Evitar juntar animais de categorias diferentes;
- Não usar ferrão para tocar os animais;
- Evitar transportes estressantes;
- Evitar isolar ou transportar apenas 1 animal e
- Evitar o uso de cães no pastoreio.

Estresse X Conforto térmico


Naturalmente qualquer animal sobrevive bem em certa faixa de
temperatura, chamada de zona de conforto térmico.
Estudos mostram que a zona de conforto térmico para caprinos e ovinos de
raças deslanadas adaptados aos países tropicais, como o Brasil, se estabelece
entre 20°C e 30°C e para as raças lanadas, entre 5°C e 30°C.
Quando os animais são submetidos à temperaturas acima da zona de
conforto térmico, seu próprio organismo reage no sentido de reduzir seu
metabolismo, fazendo com que aumentem o consumo de água e diminuam o
consumo de alimento, alterando seu desenvolvimento e ganho de peso normal.
O ambiente pode ser adaptado para uma melhor condição de sobrevivência
de um rebanho. Isso pode ser feito dimensionando adequadamente as
instalações, de forma a fornecer condições ambientais próximas as ideais,
dependendo da finalidade e do sistema de manejo dos animais.
A adequação de determinados ambientes para que se obtenham níveis
satisfatórios de conforto térmico, não necessariamente deve demandar custos
elevados. É comprovado, por exemplo, que animais que têm disponível sombra
de árvores para se refugiarem da radiação solar enquanto pastam, sofrem menos
de estresse térmico.
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Saúde Pública
A ovinocaprinocultura exige uma mão de obra especializada para o manejo
dos animais. Essa mão-de-obra deve ser preparada adequadamente para que não
ocorram situações que interfiram no bom andamento da criação.
O ovinocaprinocultor deve ter a consciência que incentivar a realização de
treinamentos e capacitação para todas as pessoas envolvidas na atividade é um
investimento que garantirá a viabilidade econômica do seu criatório.
Medidas devem ser tomadas em relação à eventual transmissão de doenças
que podem ser comum entre os animais e o homem, as chamadas Zoonoses.
Algumas zoonoses podem ser relacionadas diretamente à criação de ovinos
e caprinos, como por exemplo, a epidedimite ovina (bruelose ovina), a
leptospirose, a toxoplasmose, a raiva e a linfadenite caseosa e o ectima
contagioso, que já foram devidamente esclarecidas nos capítulos anteriores.
A maior preocupação deve ser com os trabalhadores que lidam com os
animais e que estão constantemente suceptíveis à possível transmissão dessas
enfermidades vindas do rebanho.
Os equipamentoss de proteção e segurança que serão utilizados pelos
criadores e/ou funcionários de uma propriedade produtora de ovinos têm
importância fundamental para minimizar ou suprimir as possibilidades de
contaminação, como por exemplo, a utilização de luvas e máscaras descartáveis
quando no trato com animal doente ou em uma manipulação de ferimento em
qualquer região do corpo do animal.
Não só no contato direto com o animal, mas também na limpeza e
higienização das instalações, existe o risco de contágio de diversas doenças. Isso
obriga também o uso de equipamentos de proteção e desinfetantes apropriados.
É importante ressaltar que um funcionário que se encontre em condições
precárias de saúde tem seu desempenho reduzido e está mais susceptível a
enfermidades e a sofrer acidentes de trabalho, podendo interferir nos resultados
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produtivos e econômicos da propriedade. Dessa forma o produtor deve se


precaver de toda maneira para evitar qualquer prejuízo à saúde de seu
funcionário, pois um empregado doente ou acidentado não só gera prejuízo para
o empreendimento como para toda sociedade.
Também o empregado devidamente registrado, segundo legislação vigente,
terá garantido seus direitos, inclusive sob forma de indenização, se ocorrer
durante o período de trabalho, algo que inviabilize suas condições físicas ou
psicológicas para a realização de suas tarefas ou funções.
Quando garante ao funcionário boas condições de trabalho em suas
funções, o empresário mostra também que é responsável às suas obrigações.

Programas oficiais de sanidade animal


Quando há necessidade de que uma cadeia produtiva se torne organizada, é
inevitável a criação de normas para a produção e comercialização dos produtos
oriundos dessa cadeia, obtendo resultados financeiramente satisfatórios.
No Brasil, cada vez mais, as políticas desenvolvimentistas no setor do
agronegócio passam por ações governamentais. Os Programas de Sanidade
animal são um exemplo disso.
Esses Programas norteiam tecnicamente as cadeias de produção,
oferecendo subsídios técnicos, orientando e facilitando a organização e
padronização dos procedimentos adotados.
Os principais objetivos dos Programas sanitários são:
- Estabelecer normas às medidas sanitárias a serem adotadas, visando a
sanidade animal e a saúde humana.
- Intensificar a Vigilância Epidemiológica através de monitoramentos sorológicos e
barreiras sanitárias.
- Criar normas para o transito de animais por todo território brasileiro.
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- Aumentar a produtividade dos rebanhos, promovendo assim maior geração de


renda e, por conseqüência, novos empregos.
Atualmente o Programa Nacional de Sanidade Caprina e Ovina (PNSCO)
está em fase final de aprovação pela Câmara Federal, após consulta pública, que
permitiu a participação de todos os setores envolvidos nas cadeias de produção
de caprinos e ovinos.
As principais diretrizes do PNSCO são:
- Cadastro de estabelecimentos criadores de ovinos
- Cadastro de Médicos Veterinários do setor privado, que serão os Responsáveis
Técnicos (RT) das propriedades cadastradas.
- Credenciamento dos Laboratórios para realização de exames diagnósticos das
principais doenças de controle oficial.

Considerações finais
Para o setor produtivo animal o desenvolvimento e apropriação de
inovações tecnológicas visam basicamente dois aspectos: aumentar a
produtividade e minimizar impactos econômicos negativos, prioritariamente
daqueles desencadeados por agentes etiológicos potencialmente zoonóticos. Uma
eficiente produção animal é resultante da gestão sanitária e financeira da
atividade, e tem, por exigência do mercado, na oferta de alimentos inócuos a
preços mais competitivos a sua meta finalista. A percepção da qualidade sanitária
dos produtos alimentícios pelo público consumidor é determinante na formação e
fidelização de novos mercados. A rastreabilidade e a certificação de produtos de
origem animal, fundamentais nesse processo e cada vez mais consideradas como
critérios para a aquisição de alimentos, são intrinsecamente dependentes de
inovações ou aperfeiçoamentos das normas e protocolos que regem a sua
produção. A qualidade sanitária dos rebanhos, o respeito aos aspectos gerais de
conforto e bem-estar animal, a promoção e preservação da saúde pública e o
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retorno econômico almejado e alcançado na produção de pequenos ruminantes


serão atendidos e garantidos pela investigação científica e difusão de
conhecimentos, alicerçados por ações legisladoras dinâmicas e reguladoras, cujas
mudanças estruturais e de posturas frente à prevenção sanitária culminarão com
a conquista de novos mercados e consequente sustentabilidade dos agronegócios
ovinos e caprinos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Pesq. Agrop. Brasileira, Brasília, V. 19, n. 3, p. 379-385, 1984.
BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais - conforto animal. Viçosa: UFV,
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Revisão. Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.
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