A Mente Cristã e o Ministério Cristão

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A MENTE CRISTÃ E O MINISTÉRIO CRISTÃO 9

A MENTE CRISTÃ
E O MINISTÉRIO CRISTÃO
James R. Domm

E m 1744, Jonathan Edwards portadores de luz espiritual para ho-


pregou um sermão sobre João 5.35, mens que se encontram nas trevas (At
que diz: “Ele era a lâmpada que ar- 26.16-18; 2 Co 4.3-6). Um dos fa-
dia e alumiava, e vós quisestes, por tores que os capacitará a cumprirem
algum tempo, alegrar-vos com a sua sua função de portadores de luz é a
luz”. Edwards supôs corretamente posse de um ponto de vista bíblico a
que João Batista era um protótipo do respeito do intelecto. Os ministros do
ministro do evangelho (At 19.4). A evangelho têm de possuir uma opi-
tese de Edwards era que a excelência nião correta a respeito do lugar vital
do ministro do evangelho consiste em da mente na vida cristã, em geral, e
que ele seja uma lâmpada que arde e do ministério cristão, em particular,
ilumina; ou seja, espiritualmente fa- a fim de serem guias espirituais dig-
lando, o ministro do evangelho tem nos de confiança. Estamos em uma
de ser um homem de calor e de luz. época de antiintelectualismo sem fun-
Ele tem de ser um homem de devo- damento na Bíblia, por um lado, e
ção e de paixão, de conhecimento de hiperintelectualismo não-santifi-
espiritual e de discernimento. Em cado, por outro lado. Somente um
relação a este segundo aspecto, os ponto de vista bíblico a respeito do
ministros do evangelho têm de ser, intelecto capacitará um ministro do
por eminência, homens de luz espi- evangelho a corrigir esses dois erros.
ritual. Um pastor ignorante não traz Neste artigo, oferecemos apenas
qualquer crédito para seu Senhor. Os uma sugestão. Todavia, pensamos
ministros do evangelho são co- que tal sugestão deve ser útil ao de-
missionados por Deus para serem senvolvermos pontos de vistas bí-

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blicos a respeito do importante pa- Entre outras coisas, a sua capacida-


pel da mente na vida e no ministério de de pensar e raciocinar. Isso é o
cristão. Uma teologia do intelecto que a Bíblia chama de entendimento
pode ser extraída de três assuntos (ver Sl 32.9). Os animais agem por
bíblicos: a Criação, a Queda e a instinto. O homem age por escolha
Redenção. inteligente. Ele foi criado para pen-
sar os pensamentos de Deus, de
conformidade com Ele. Deus se re-
1. A CRIAÇÃO vela ao homem como um ser ra-
a) O homem foi criado como um cional. Ele tem se revelado na cria-
ser bipartite. Deus criou o homem ção (Sl 19.1). Desde a criação do
constituindo-o de dois componentes: mundo, os atributos invisíveis, o eter-
corpo e espírito. De acordo com Gê- no poder e natureza de Deus são
nesis 2.7, Deus criou o homem, por percebidos por meio das coisas que
formação, do pó da terra e por trans- Ele fez (Rm 1.20). Todavia, Deus
missão do espírito de vida. Con- tem se revelado também através da
seqüentemente, o homem é cons- Palavra escrita. A revelação de Deus
tituído de duas partes: uma parte é visualizada na natureza. Nas Es-
material e uma parte invisível. O crituras, ela é verbalizada. A co-
produto dessa dúplice ação de for- municação através de palavras pres-
mar e de transmitir foi que o homem supõe mentes que possam entendê-las
se tornou uma alma vivente. Alguns e interpretá-las. As palavras são me-
afirmam que o uso do intelecto de- ros símbolos sem significado, se não
veria ser evitado nas coisas espi- forem decifrados por um ser inteli-
rituais. Alega-se que o segredo da gente. O homem não pode conhecer
verdadeira vida espiritual consiste em a vontade de seu Criador sem a utili-
rejeitar a mente e assumir uma pos- zação da mente.
tura de passividade aos impulsos e
impressões do “espírito”. No entan-
to, essas idéias estão alicerçadas em 2. A QUEDA
um ponto de vista tricotômico do Nos versículos iniciais de Gênesis
homem, que tem suas raízes na filo- 3, que instrumento a serpente utili-
sofia grega. A utilização da mente zou para entrar no coração de Eva e
não é um exercício inerentemente levá-la ao erro? O instrumento foi a
mau; tampouco é antiespiritual. A mente (Gn 3.1-6). Nessa passagem,
mente e o espírito humano não se encontramos a primeira ocorrência de
opõem um ao outro, nem competem comunicação corrupta nas Escrituras.
um com o outro. Na verdade, a men- Por meio de uma comunicação cor-
te humana tem um lugar vital na vida rupta, a serpente foi capaz de enve-
cristã. nenar os pensamentos de Eva, de
b) O homem foi criado como um levá-la a pensar mal sobre o seu be-
ser racional. O homem foi criado nevolente Criador e de plantar as
para pensar. O que estabelece a dife- sementes da incredulidade no solo do
rença entre os homens e os animais? coração de Eva. Dessa maneira, toda

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a nossa raça foi levada à rebelião e e recursos preciosos ao travarmos a


caiu sob a maldição do pecado. batalha espiritual.
Como resultado disso, a mente do
homem, bem como todas as outras
partes de sua constituição, sofreu um 3. A REDENÇÃO
efeito devastador. Cada parte do ser O lugar vital do intelecto está evi-
humano foi corrompida, incluindo dente na conexão com cinco assuntos
sua mente (Ef 4.17,18). Agora, ao que estão, de alguma maneira, rela-
invés de pensar os pensamentos de cionados à redenção.
Deus, de conformidade com Ele, o
homem caído detém a verdade pela a) Evangelismo. Tem de existir
injustiça (Rm 1.18). A mente do verdade suficiente no conteúdo de
homem está inclinada para “a car- nossa pregação, a fim de que a fé
ne”, é hostil contra Deus e contra a seja formada no ouvinte. Temos de
sua lei (Rm 8.7). As emoções do apresentar Cristo na plenitude de sua
homem também foram corrompidas pessoa humana e divina, bem como
(Gn 3.6). na plenitude de sua obra de salva-
Até hoje, a mente continua a ser ção. Os pecadores não invocarão um
o campo de batalha na guerra espiri- Cristo em quem eles não creram. Eles
tual. Sem cairmos na especulação, não crerão em um Cristo a respeito
podemos afirmar, fundamentados na de quem não ouviram; e não ouvi-
Palavra de Deus, que Satanás tem ha- rão, a menos que um pregador lhes
bilidade para fale sobre
influenciar as g Cristo (Rm
mentes dos 10.14). Por
homens (2 Co
Temos de oferecer aos conseguinte,
4.4). Como homens afirmativas racionais nossa prega-
pregadores, é da verdade, se desejamos ção precisa ter
contra isso
que sempre
que eles respondam correta- conteúdo blico sufici-
bí-

nos levanta- mente à verdade. ente e sólido.


mos em cada g Nossa tarefa
vez que pro- como prega
clamamos a Palavra de Deus, não so- dores não consiste em fazer um ape-
mente quando a pregamos para os lo emocional e antiintelectual em
incrédulos, mas também quando o favor de “decisões”, quando nossos
fazemos para o povo de Deus (2 Co ouvintes têm apenas noções obscu-
11.3). A alma do homem se tornou ras a respeito de quem é Jesus, o que
perdida no campo de batalha da men- Ele veio fazer, em favor do que e
te e tem de ser recuperada nesse por que eles têm de decidir. Os após-
mesmo campo de batalha. Precisa- tolos persuadiram os homens. Ar-
mos ter uma teologia correta a gumentaram com eles utilizando
respeito da mente, pois, do contrá- as Escrituras. Temos de oferecer
rio, estaremos desperdiçando tempo aos homens afirmativas racionais da

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verdade, se desejamos que eles res- que o novo homem “se refaz para o
pondam corretamente à verdade. pleno conhecimento, segundo a ima-
Nossa mensagem precisa oferecer- gem daquele que o criou”. O crente
lhes suficiente verdade em relação à não deve ser forjado nos moldes do
qual eles reagirão. Estejamos certos mundo, e sim transformado pela re-
de que os pecadores não serão salvos novação de sua mente (Rm 12.2).
sem a obra do Espírito Santo no co- Harry Blamires descreveu a
ração deles. Todavia, o Espírito “mente crist㔠como “uma mente
Santo não age em um vácuo intelec- treinada, informada e equipada para
tual. Se os homens devem ser salvos, manejar as informações da contro-
certa medida de verdade tem de es- vérsia secular, dentro de um corpo
tar presente em nossa pregação. de referências que está constituído de
b) Santificação. A santificação pressuposições distintamente cristãs”
é a restauração da imagem de Deus (“A Mente Cristã”, p. 43). Ele pros-
no homem. É a obra do Espírito San- segue afirmando que os verdadeiros
to em conformar o povo de Deus à pensadores cristãos parecem não
imagem de Cristo. O processo de existir em nossos dias. “O crente
santificação sempre envolve a Pala- moderno sucumbiu à secularização”
vra de Deus e se realiza na vida dos (ibid., p. 3). Infelizmente, isso é con-
crentes, quando o Espírito Santo trário à nossa redenção em Cristo, o
aplica-a à consciência deles e os tor- qual, da parte de Deus, se tornou
na dispostos a prestar obediência a sabedoria para nós (1 Co 1.30). O
Deus (2 Ts 2.13). O Espírito Santo apóstolo Pedro afirmou: “Vós, reu-
é o Espírito da Verdade e santifica o nindo toda a vossa diligência, associai
povo de Deus utilizando a Palavra com a vossa fé a virtude; com a vir-
da Verdade. Na santificação, o Es- tude, o conhecimento” (2 Pe 1.5 -
pírito Santo não deixa de lado a ênfase acrescentada). Ele exortou
mente humana. Tampouco Ele tra- seus leitores a crescerem “na graça e
balha diretamente sobre a mente no conhecimento de nosso Senhor e
humana, sem a utilização da Palavra Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18).
de Deus. Essa é a razão por que nos- Tanto nós como nosso povo precisa-
so Senhor orou: “Santifica-os na mos ser pensadores cristãos!
verdade; a tua palavra é a verdade” Nossa habilidade para viver com
(Jo 17.17). A santificação acontece sucesso a vida cristã está diretamen-
por intermédio da obra do Espírito te relacionada não com o que nós
juntamente com a Palavra de Deus. sentimos, e sim com o que sabemos,
Também ela não se realiza pelo Es- fundamentados no ensino da Palavra
pírito sem a Palavra, o que é de Deus escrita. Diversas vezes nas
misticismo; nem pela Palavra sem o epístolas do Novo Testamento, os
Espírito Santo, o que é formalismo. imperativos para o viver cristão es-
De acordo com Efésios 4.24, o novo tão reforçados por muitas verdades
homem foi “criado segundo Deus, que temos de recordar em nossa men-
em justiça e retidão procedentes da te. (Ver 1 Co 15.58; Ef 6.7,8; Cl
verdade”. Colossenses 3.10 afirma 3.23-24 e Tg 1.2-3.) Essa é a ma-

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neira como a santificação acontece. gica na ocorrência de algo imprová-


A mente realiza um papel impor- vel. A fé bíblica também não é mero
tante em discernir a vontade de Deus, otimismo. Não é simplesmente uma
que é outro aspecto vital da santi- atitude positiva diante de circunstân-
ficação cristã. Como o nosso povo cias negativas. Não controlamos
discernirá qual é a vontade de Deus nossas vidas com nossas atitudes
para suas vidas? Não é por meio de mentais. A fé significa crer em tudo
esfregar uma lâmpada, ou por meio que Deus prometeu em sua Palavra.
de lançar sortes, ou por meio de ex- A fé bíblica não fecha seus olhos para
por um pouco de lã ao orvalho. Deus os fatos (Rm 4.19-21); ela não con-
não nos chama para descobrir sua siste em tentar construir nossa
vontade como se ela fosse um tipo autoconfiança. Não é acreditar em
de código mágico que precisa ser nós mesmos. Antes de qualquer ou-
decifrado. Ele espera que sejamos tra coisa, a fé bíblica não é puramente
pessoas que tomam boas decisões; e mística. Antes de tudo, ela consiste
isso exige o uso da mente. A Palavra em pensar.
de Deus nunca nos instrui a esperar- e) Amor. Um dos alvos do co-
mos passivamente para sermos nhecimento é o amor (1 Tm 1.5).
guiados pelo Espírito, ou a esperar- Amor a Deus e amor aos homens são
mos passivamente para recebermos os alvos gêmeos e supremos do co-
paz no que diz respeito a determina- nhecimento bíblico. Acima de tudo,
do assunto, antes de começarmos a somos ordenados a amar o Senhor
agir. Deus quer que pensemos com Deus, com todo o nosso coração,
oração e com a Bíblia aberta. toda a nossa alma, toda a nossa men-
c) Adoração. Que tipo de ado- te e toda a nossa força. O conhe-
ração Deus deseja receber? Adoração cimento bíblico possui uma ligação
oferecida em espírito e em verdade vital com a salvação, a santidade, a
(Jo 4.23). Isto significa adoração que adoração, a fé e o amor.
é sinceramente tributada com inte- Agora deve ser óbvio que o im-
gridade e que está, inteligentemente, portante papel da mente na vida e no
em harmonia com os princípios bí- ministério cristão não é um simples
blicos. O culto público não é ocasião assentimento acadêmico; é algo in-
para desparafusar nossa cabeça e tensamente prático. Um ministro do
depositá-la debaixo do banco. A úl- evangelho que falha em aceitar pon-
tima coisa que devemos fazer, quan- tos de vista corretos sobre o intelecto
do chegamos ao culto, é desligar as não ensinará doutrina e teologia a seu
nossas mentes. Deus quer mentes in- povo como tem de fazê-lo. Ele será
formadas e corações aquecidos, quan- freqüentemente prejudicado pela fal-
do nos reunimos para adorá-Lo. sa culpa, imaginando que seu mi-
Qualquer outra coisa é um sacrifício nistério, em alguma medida, não é
inaceitável. espiritual, porque ele ensina ao povo
d) Fé. A fé bíblica não é apenas doutrinas e se focaliza mais em me-
credulidade. Como alguém disse, a ditar e raciocinar a Palavra do que
fé bíblica não é uma credulidade iló- em sentimentos e experiências. A re-

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gra predominante da vida cristã tem no moldar as suas atitudes. Os ho-


de ser a revelação objetiva da Pala- mens agem da maneira como eles
vra de Deus, e não a experiência pensam. Alguém já disse corretamen-
subjetiva. A Bíblia tem de definir e te que as opiniões são mais fortes do
determinar a experiência; ela nunca que exércitos. Muitas vozes estão gri-
deve ser interpretada e torcida a fim tando em nossos dias, dizendo-nos
de adequar-se à experiência. Os cren- que o importante não é a doutrina, e
tes precisam conhecer suas Bíblias. sim a experiência. Mas, ao contrário
Homens e mulheres crentes que de tal afirmação, as duas são impor-
falham em abraçar pontos de vista tantes. A primeira tem de moldar a
bíblicos sobre o intelecto não cres- segunda. A doutrina é extremamente
cerão na graça, como o fariam se importante. Temos de rejeitar a idéia
abraçassem tais pontos de vistas. O de que alguém pode ser crente sem
povo de Deus é destruído por falta levar em conta o que ele crê. Pelo
de conhecimento. Pastores que não contrário, o que uma pessoa crê
ensinam correta- faz toda a diferen-
mente ao povo de ça no que diz
Deus correm o ris- g respeito ao cristia-
co de serem re- Nunca subestime o que nismo bíblico.
jeitados por Deus Esse é um dos
(Os 4.6). Deus pode advir de um principais interes-
afirma: “Dar- ministério de púlpito ses que distingue a
vos-ei pastores sadio e firme, que con- fé evangélica do
segundo o meu catolicismo roma-
coração, que vos sistentemente satisfaz os no, no qual a tra-
apascentem com padrões de excelência. dição tem sido
conhecimento e exaltada acima da
com inteligência” g Palavra de Deus, o
(Jr 3.15). Não ritual se deteriorou
apascentam com conversas sobre a em ritualismo, e cerimônias vazias
Bíblia, com histórias impressionan- se tornaram um substituto sem signi-
tes, com piadas inteligentes ou com ficado para a adoração inteligente.
humor, e sim com inteligência e co- Também é um dos principais fatores
nhecimento. Nunca subestime o que que distingue a fé evangélica do li-
pode advir de um ministério de púl- beralismo, com sua rejeição da dou-
pito sadio e firme, que consisten- trina e sua ênfase na ação social. Não
temente satisfaz os padrões de exce- é um acidente que o ecumenismo está
lência. Tal ministério pode ser o divorciado da teologia.
instrumento de treinar homens para Homens e mulheres crentes que
a liderança da igreja. Também dimi- não são instruídos em doutrina e sã
nuirá o trabalho da sala de acon- teologia revelarão uma tendência para
selhamento. viverem mais pela paixão do que
Nunca subestime o poder que pelo princípio. Eles tenderão a des-
exercem os pensamentos dos homens considerar os mandamentos evidentes

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de Cristo e manifestarão uma incli- fazer distinção entre os desejos legí-


nação ímpia para preferências e timos e os desejos carnais e cairão
impulsos subjetivos (“Deus não me em uma maneira “hiperespiritual” de
falou sobre isto ou aquilo.” “Deus pensar e de agir.
não me levou a fazer isto ou aqui- Quando pontos de vistas bíbli-
lo.”). Nenhum discípulo de Cristo cos a respeito da mente não são
deveria necessitar de impressões es- entendidos e abraçados, a adoração
peciais para motivá-lo a obedecer os coletiva tende a focalizar mais os ele-
evidentes mandamentos e princípios mentos que se destinam a ajustar as
das Escrituras. Deus exige obediên- emoções do que nos elementos que
cia à sua Palavra, independentemente se destinam a informar a mente. Ao
dos sentimentos, inclinações pesso- invés de uma sólida exposição e apli-
ais e preferências de alguém. cação das Escrituras como o elemento
Aqueles que deixam de abraçar central do culto, a pregação da Pala-
pontos de vistas bíblicos a respeito vra de Deus será substituída por
do papel da mente na vida cristã es- outras coisas, tais como música, his-
tarão freqüentemente à mercê de seus tórias, vídeos, testemunhos ou apelos
desejos, confundindo seus interesses emocionais. Os pastores e os mem-
pessoais e suas preferências com a bros de tais igrejas serão tentados a
vontade de Deus (Jr 17.9). Eles re- pensarem mais em termos de prag-
velarão a tendência de abraçar um matismo do que nos princípios
“Cristo sentimental”, ao invés do bíblicos. A questão importante será:
Cristo revelado na Bíblia, e de jul- “Isto funciona?”, ao invés de ser:
garem seu relacionamento com Ele “Isto é verdadeiro?”
fundamentados em critérios subjeti- O testemunho das Escrituras a
vos, ao invés de fundamentados nas respeito do lugar vital da mente na
promessas objetivas e nos preceitos vida e no ministério cristão deveria
da Palavra de Deus (Rm 5.8; Jo guardar-nos de um antiintelectua-
14.15; 15.10-11). Eles revelarão a lismo não-santificado que, em vários
tendência de aceitar um ponto de vis- aspectos, caracteriza a época em que
ta passivo a respeito da vida cristã, vivemos, tanto dentro quanto fora da
esperando que o Espírito Santo lhes Igreja. Em seguida, mencionamos
dê impulsos particulares, a fim de duas das formas mais comuns desse
guiá-los. (Os verbos de ação do Novo erro. 1) Um fundamentalismo ta-
Testamento indicam o contrário: lu- canho — um biblicismo rígido,
tar, correr, evitar, arrancar, mor- bombástico e intolerante que se opõe
tificar, resistir, permanecer firme.) ao estudo e a erudição; a maneira de
Tais pessoas se mostrarão temerosas pensar que equipara a erudição com
de expressarem suas personalidades o liberalismo; uma maneira de pen-
e identidades, pensando que preci- sar que considera os pastores que
sam esperar no Espírito, para rece- estudam idiomas e consultam co-
berem alguns impulsos ou impres- mentários como inimigos do evan-
sões, antes de agirem. Eles terão falta gelho ou como homens que estão
de discernimento; serão incapazes de apagando o Espírito Santo; uma pos-

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tura que olha com suspeita toda eru- mos diligentes o suficiente ao nos de-
dição bíblica. Esse tipo de antiinte- dicarmos ao estudo e à preparação.
lectualismo tem de ser evitado a todo Nunca devemos subestimar a
custo. 2) Um pietismo entusiasta grande importância da mente na vida
— uma abordagem extemporânea da e no ministério cristão. O comentá-
pregação que omite o trabalho de es- rio de James Orr transmite uma
tudo e deixa a pregação para o advertência penetrante: “Se existe
momento de sua apresentação no cul- uma religião no mundo que exalta o
to. Uma abordagem que considera o ofício do ensino, com certeza pode-
estudo e a preparação como atitudes mos dizer que é a religião de Jesus
que apagam o Espírito Santo; a ma- Cristo. Freqüentemente se observa
neira de pensar que diz: “Não me que nas religiões pagãs o elemento
preparei, nem estudei como deveria, doutrinário é mínimo. O principal ele-
mas confiarei que o Espírito Santo mento em tais religiões é o ritua-
me dará algo para dizer, vindo para lismo. No entanto, é exatamente nis-
ajudar-me no púlpito”. A respeito so que o cristianismo se distingue das
desse tipo de abordagem, alguém outras religiões. O cristianismo con-
disse: “O Espírito de Deus não mo- tém doutrina. Ele alcança os homens
tivará um homem sem os seus vindo com um ensino definido e po-
próprios esforços, visto que Ele tra- sitivo. O cristianismo reivindica ser
balha por intermédio da utilização a verdade e fundamenta-se no conhe-
diligente dos recursos humanos. cimento, embora seja um conheci-
Nada substituirá o estudo laborioso mento que pode ser alcançado somen-
e perseverante no fiel cumprimento te por meio de certas condições mo-
dos deveres deste ofício” (Thomas rais. Durante toda a história da Igre-
Murphy, “Teologia Pastoral”, p. ja, um cristianismo divorciado do
92). Aquilo que muitas vezes passa pensar sério e elevado tem revelado
por confiança em Deus é pouco mais a tendência de tornar-se fraco, insí-
do que presunção fantasiada de in- pido e doentio; enquanto o intelecto,
dolência. destituído de seus direitos na esfe-
Temos de estudar bastante para ra espiritual, tem buscado sua satis-
sermos usados por Deus. Ele não uti- fação fora do cristianismo e se de-
lizará um homem ignorante e des- senvolvido em um racionalismo
preparado. Não temos qualquer base ímpio” (“O Ponto de Vista Cristão a
bíblica para esperar que o Espírito Respeito de Deus e do Mundo”, pp.
da Verdade abençoe nossas mi- 20, 21).
nistrações no púlpito, quando temos O que necessitamos na Igreja de
sido preguiçosos nos estudos. Tam- Cristo não é um intelectualismo ári-
bém não temos qualquer base bíblica do, e sim um intelectualismo bíblico.
para esperar que o Espírito Santo Os ministros de Cristo serão luzes
compensará nossa ignorância. No para seu povo somente quando tive-
grau e proporção em que formos rem abraçado uma teologia bíblica a
infectados com essa forma de anti- respeito do intelecto.
intelectualismo, não nos mostrare-

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