Introdução À Teologia (Versão Atualizada)
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Introdução À Teologia (Versão Atualizada)
Introdução à
Teologia (Parte 1)
Ad usum privatum
0
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
INTRODUÇÃO À
TEOLOGIA
1
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
1- Teologia
1
Cf. J. Morales, Introducción à la Teología, EUNSA: Pamplona, 2008, 25.
2
C. BOFF, Teoria do Método Teológico, Vozes : Petrópolis, 1998, 549.
3
Cf. BOFF, Teoria do Método Teológico, 551.
2
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4
Cf. Morales, Introducción à la Teología, 25.
5
Justino, Diálogo com Trifão 113,2.
6
Orígenes, Contra Celso 6,18.
7
Atanásio, Orationes tres contra Arianos, in: PG 26,48-49.
8
Basílio, Epístola 8,3. Cf. também Adversus Eunomium, in: PG 29,577.
9
Cf. Morales, Introducción à la Teología, 26.
10
Orígenes, Contra Celso 71.
3
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11
Orígenes, Fragmenta in Evangelium Joannis, fram. 1,14.27.
12
Mário Vitorino, In Epistolam Pauli ad Ephesios liber primus, in: CSEL83,1.
13
Cf. G. Madec, Theologia. Note augustino-èrigènienne, in: From Augustine to Eriugena, Washignton
1991, 117s.
14
Cf. N. Cipriani, Teologia, in: A. Fitzgerald (org.), Agostinho através dos tempos. Uma enciclopédia,
Paulus: São Paulo 2019, 917.
15
Epístola 143,2.
16
Cf. Epístola 21,3-4.
4
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17
De Trinitate 12,25.
18
De Trinitate 13,24
19
João Escoto Eriúgena, Periphysion II, in: PL 122,553D.555B.568B.631D.
20
Cf. Morales, Introducción à la Teología, 27.
5
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21
Cf. B. Sesboué, Introdução à teologia. História e inteligência do dogma, Paulinas: São Paulo 2020, 19.
6
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Pessoal
Fé
Eclesial
22
Cf. C. ROCCHETTA, Sacramentaria Fondamentale, Dal “Mysterion” al “Sacramentum”, EDB: Bologna, 2007,
191-220.
7
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Revelação do Mistério
Acolhido na fé
8
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Fé Teologia
Constituição Dei Filius, in: DH 302624: “Se alguém disser que o Deus uno e
verdadeiro, criador e Senhor nosso, não pode ser conhecido com certeza
23
Cf. TOMÁS DE AQUINO, Super Primam Epistolam ad Corinthios Lectura, cap. 12, lect, 3, in: Super
Epistolas S. Pauli Lectura, Taurini-Romae 1953, p. 375 (n.739).
24
Neste nosso trabalho, utilizaremos a sigla DH para nos referirmos ao Compêndio dos Símbolos, definições
e declarações de fé e moral (Organizado por H. Denzinger), Paulinas: São Paulo 2006.
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pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas: seja
anátema”.
25
Cf. M.-J. NICOLAS, Vocabulário da Suma Teológica, in: TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica (vol. I),
Loyola: São Paulo, 2001, p. 86.
26
Cf. H.-D. Gardeil, Iniciação à Filosofia de São Tomás de Aquino (Vol. I- Psicologia, Metafísica), Paulus:
São Paulo, 2013, 110.
27
Cf. NICOLAS, Vocabulário da Suma Teológica, p. 96.
10
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que para Tomás, as realidades temporais são um meio para que se chegue
ao conhecimento das realidades eternas.
O homem teológico (homo theologicus) é aquele que raciocina no
âmbito da fé.
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Santo Tomás, na Suma contra os Gentios (I, 8, 4), cita Santo Hilário de
Poitiers:
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Summa contra Gentiles, I, 5: “(praesumptio), quae est mater erroris”. Cf. também I. BIFFI, Il mistero
dell’esistenza cristiana: conformi all’immagine del Figlio, Milano 2002, p. 21.
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No Oriente cristão prevalece uma teologia que poderia ser chamada apofática ou negativa, que tenta
preservar ao máximo a áurea do mistério. No Ocidente, prevalece uma teologia que poderia, ser descrita,
especialmente a partir da teologia escolástica, como uma teologia catafática ou positiva.
14
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Cf. Y. SPITERIS, Apofatismo, in: Lexicon – Dicionário Teológico Enciclopédico, São Paulo 2003, 41-42.
15
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Cf. INOS BIFFI, Teologia in San Bernardo e in San Tommaso, in: Aa. Vv., Sapere e contemplare il mistero.
Bernardo e Tommaso (Atti di inaugurazione della Cattedra Benedetto XVI di teologia e spiritualità
cisterciense – Abbazia di Santa Croce in Gerusalemme – Angelicum – 8 a 10 novembre 2007), Milano
2008, pp. 22-27.
16
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32
Cf. INOS BIFFI, Teologia in San Bernardo e in San Tommaso, pp. 27-29.
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Cf. De Civ. Dei 9,14; S. Theol. II-II q. 25 a. 12 ad 2; III q. 9 a. 2 ad 3.
18
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34
Cf. R. FISICHELLA, Lumen Fidei (Gloriae, Rationis), in: Lexicon – Dicionário Teológico Enciclopédico,
São Paulo 2003, 450-451.
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2- Teologia Sistemática
Em 1 Pd 3,15 o cristão é exortado a oferecer as razões da sua fé e da
sua esperança ao mundo. Em outras palavras, o autor da carta afirma que
a fé cristã pode ser apresentada de forma racional.
35
Cf. M. SCHULZ, Dogmatica, Lugano 2002, p. 23.
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36
Cf. INOS BIFFI, Grazia, Ragione e Contemplazione. La teologia: le sue forme, la sua storia, Milano 2000,
pp. 22-23.
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37
Cf. M. SCHULZ, Dogmatica, Lugano 2002, pp. 32-33.
24
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As demonstrações no âmbito da teologia, possuem uma natureza diferente daquelas próprias das ciências
naturais, que podem ser obtidas, por exemplo, em laboratórios. Uma demonstração da existência de Deus,
não obriga à fé, mas mostram o quão plausível ou racional possa ser a existência de Deus.
39
Cf. Schulz, Dogmática, 58-59.
25
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40
Cf. Schulz, Dogmática, 62.
26
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Deus, o ser divino communio personarum faz com que se compreenda que
Deus é amor, não se tornou amor apenas com a criação.
A Trindade está na origem da Igreja, é o seu modelo de vida e
corresponde ao seu fim último.
Vamos falar um pouco da Teologia da Criação (Protologia) e da
Antropologia Teológica. Em strictus sensus, Tomás de Aquino ensina que
só um Deus trinitário pode ser o Criador livre de um homem livre (Cf. S.
Theol. I q. 32 a. 1 ad. 3). Criar significa construir estabelecer uma relação
com o aquele que recebe a existência. Somente um Deus que seja, em si
mesmo, relação, um Deus no qual exista a noção de “Outro”, de alteridade.
Podemos dizer que, em Deus, o “Outro” é o Filho, a Palavra eterna. Ele é a
imagem e a forma originária de todo e qualquer outro tipo de alteridade,
de tudo o que existe no mundo criado (Cf. Jo 1,1-4; Col 1,15-19; Hb 1,2).
O conceito de criação aponta para o fato de que Deus criou o universo
ex nihilo (“a partir do nada”). Deus não plasmou o universo a partir da
matéria eterna (como ensina Aristóteles). Na língua hebraica, usa-se o
verbo barah, para se indicar o que só Deus pode realizar, “criar” a partir do
nada (2 Mc 7,28; Rm 4,17), o verbo em questão (barah) só aceita Deus como
sujeito.
Na Idade Média, os teólogos defendiam a existência dos anjos, à luz
do testemunho da Sagrada Escritura e da concepção de um Universo, como
sendo um reflexo de Deus e dos seus atributos, assim sendo, era
conveniente que existissem seres no universo criado, que fossem um
reflexo da realidade espiritual pura de Deus. Os anjos são seres espirituais,
dotados de liberdade e capazes de aderir ou rejeitar os planos salvíficos de
Deus.
Quanto a criação do homem, o livro do Gênesis coloca em relevo como
o homem foi criado à Imagem e semelhança de Deus. Dotado de corpo e
alma, o homem é um ser de fronteira, enquanto corpo, participa do mundo
visível e material, mas enquanto espírito, participa também do mundo dos
seres espirituais. É possível harmonizar a ideia de Deus como causa
eficiente (ou primeira) do homem e a noção de evolução, a criação pode
incluir um dinamismo evolutivo, querido e instituído por Deus.
No âmbito da Antropologia Teológica, também se estuda a doutrina
do pecado original (peccatum originale originans), do pecado original
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A Igreja também pode ser vista como o novo povo de Deus, que
percorre a história, buscando viver e anunciar o Evangelho a todos os
homens, ela caminha na direção da eternidade bem-aventurada!
Os atributos (ou notas) da Igreja estão descritos no Credo Niceno-
Constantinopolitano: Una, Santa, Católica e Apostólica.
O Espírito Santo está presente na Igreja, como se fosse a sua alma, Ele
a vivifica e a unifica, lhe concede os seus dons, dons hierárquicos (ou
ministeriais: episcopado, presbiterato, diaconato) e dons carismáticos (que
também contribuem para a edificação da Igreja e para o bom cumprimento
de sua missão).
A constituição dogmática conciliar Lumen Gentium, trata da
Mariologia, na sua eclesiologia. Maria é apresentada como imagem
originária da Igreja (LG 52-69). Ela é a pessoa humana que mais
perfeitamente respondeu o seu “sim” a Deus, por isso é o modelo para cada
discípulo do Senhor. O Catecismo da Igreja Católica, no n. 972, a apresenta
como Ícone escatológico da Igreja:
“Depois de termos falado da Igreja, da sua origem, missão e destino, não
poderíamos terminar melhor do que voltando a olhar para Maria, a fim de
contemplar nela o que a Igreja é no seu mistério, na sua ‘peregrinação da
fé’, e o que será na pátria ao terminar a sua caminhada, onde a espera, na
‘glória da santíssima e indivisa Trindade» e «na comunhão de todos os
santos’, Aquela que a mesma Igreja venera como Mãe do seu Senhor e
como sua própria Mãe: ‘Assim como, glorificada já em corpo e alma, a Mãe
de Jesus é imagem e início da igreja que se há de consumar no século futuro,
assim também, brilha na terra como sinal de esperança segura e de
consolação, para o povo de Deus ainda peregrino’”.
A mariologia gravita em torno de quatro dogmas: a Imaculada
Conceição, a Virgindade perpétua, a Maternidade Divina e a Assunção.
Desde o período patrístico, os cristãos refletem sobre a participação
de Maria na obra redentora de seu filho Jesus Cristo. Irineu de Lião, por
exemplo, apresentou Maria como a nova Eva, assim como o pecado entrou
na história da humanidade pela desobediência da antiga Eva, assim
também a salvação entrou no mundo, pela obediência santa da Virgem
Maria. Gn 3,15 foi interpretado pelos Padres da Igreja, como o primeiro
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Trindade
ÁREA CRÍSTICA
Cristologia
Igreja,
Sacramentos
Antropologia
Teológica
[..]
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4- As Fontes da Teologia
A teologia fundamental apresenta os fundamentos da Teologia,
indicando as fontes da teologia e descrevendo o fato de que estas fontes,
são testemunhas de uma única revelação, que atingiu o seu ápice em
Cristo41.
As fontes da teologia são a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição
(tradições antigas, orações, liturgia, arte, espiritualidade, escritos de santos
e doutores da Igreja) e o Magistério da Igreja.
41
Cf. SCHULZ, Dogmatica, p. 24.
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DV 11: “As coisas reveladas por Deus, que se encontram escritas na Sagrada
Escritura, foram inspiradas pelo Espírito Santo. Com efeito, a santa Mãe
Igreja, por fé apostólica, considera como sagrados e canônicos os livros
inteiros tanto do Antigo como do Novo Testamento com todas as sua
partes, porque, de terem sido escritos por inspiração do Espírito Santo (cf.
Jo 20,31; 2Tm 3,16; 2Pd 1,19-21; 3,15-16), têm Deus por autor e como tais
foram confiados à própria Igreja. Todavia, para escrever os livros Sagrados,
Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e
capacidades, para que, agindo ele neles e por meio deles, pusessem por
escrito como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que ele quisesse.
E assim, como tudo quanto afirma os autores inspirados ou hagiógrafos
deve ser considerado como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo
se deve acreditar que os Livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente
e sem erro a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse
consignada nas sagradas Letras. Por isso, ‘‘toda a Escritura divinamente
inspirada é útil para ensinar, para argüir, para corrigir, para instruir na
justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas
as obras boas’’ (2Tm 3,16-17 gr.)”.
Neste texto encontramos uma definição de inspiração importante:
“para escrever os livros Sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na
posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo ele neles e por
meio deles, pusessem por escrito como verdadeiros autores, tudo aquilo e
só aquilo que ele quisesse”.
Outro conceito que vem à tona, é o de “inerrância” (sem erros): no que
concerne às verdades relevantes para a salvação, a Escritura Sagrada não
possui erros.
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que é perfeito» (12, 2). De facto, a contemplação tende a criar em nós uma
visão sapiencial da realidade segundo Deus e a formar em nós «o
pensamento de Cristo» (1 Cor 2, 16). Aqui a Palavra de Deus aparece como
critério de discernimento: ela é «viva, eficaz e mais penetrante que uma
espada de dois gumes; penetra até dividir a alma e o corpo, as junturas e as
medulas e discerne os pensamentos e intenções do coração» (Hb 4, 12). Há
que recordar ainda que a lectio divina não está concluída, na sua dinâmica,
enquanto não chegar à ação (actio), que impele a existência do fiel a doar-
se aos outros na caridade.
Estes passos encontramo-los sintetizados e resumidos, de forma sublime,
na figura da Mãe de Deus. Modelo para todo o fiel de acolhimento dócil da
Palavra divina, Ela «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu
coração» (L c 2, 19; cf. 2, 51), e sabia encontrar o nexo profundo que une os
acontecimentos, os atos e as realidades, aparentemente desconexos, no
grande desígnio divino.
42
Resumo de um artigo: J. P. de M. DANTAS, Em busca do significado teológico da “Sagrada Tradição”,
in: Atualidade Teológica (2012), 488-502.
43
S. CIPRIANI, Le lettere di Paolo, Assisi 1999, 53: “... verso la fine del 51 o agli inizi del 52”. Cf. também
M. ORSATTI, Introduzione al Nuovo Testamento, Lugano 2005, 252 e R. F. COLLINS, La prima lettera ai
Tessalonicesi, in: R. E. BROWN- J. A. FITZMEYER- R. E. MURPHY, Nuovo Grande Commentario Biblico,
Brescia 2002, 1010.
38
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44
R. FISICHELLA, La rivelazione: evento e credibilità. Saggio di teologia fondamentale, Bologna 1989,
111.
45
L. SCHEFFCZYK, Fondamenti del dogma. Introduzione alla dogmatica, Città del Vaticano 2010, 115.
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“Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, primeiro promulgou por sua
própria boca, e depois mandou que fosse pregado a toda criatura (cf. Mt
28,19-20; Mc 16, 15ss) por meio de seus Apóstolos, como fonte de toda a
verdade salvífica e de toda a disciplina de costumes. E vendo o concílio
perfeitamente que esta verdade e disciplina estão contidas nos livros
escritos e na Tradições que, recebidas pelos Apóstolos da boca do próprio
Cristo, ou transmitidas como que de mão em mão (cf. 2 Ts 2,14), pelos
próprios Apóstolos, sob a inspiração dos Espírito Santo, chegaram até nós,
segundo os exemplos dos Padres de comprovada ortodoxia, com igual
sentimento de piedade e igual reverência recebe e venera todos os Livros,
tanto os do Antigo como os do Novo Testamento (...) e também as próprias
Tradições que pertencem à Fé e à Moral, quer tenham sido oralmente
[recebidas] do próprio Cristo, quer tenham sido ditadas pelo Espírito Santo,
e, por sucessão contínua, conservadas na Igreja Católica” 60.
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Deus, primeiro promulgou por sua própria boca, e depois mandou que fosse
pregado a toda criatura (...) por meio de seus Apóstolos, como fonte de
toda a verdade salvífica e de toda a disciplina de costumes”. O conceito de
Tradição inclui as tradições64 que são de “origem apostólica”, que
reguardam “a fé e a moral”, e que “chegaram até nós” “transmitidas como
que de mão em mão”.
Por fim, a Tradição deve ser aceita e venerada com a mesma “piedade”
e a mesma “reverência” com que aceitamos e veneramos a Sagrada
Escritura.
64
Cf. O uso do plural “tradições” não indica uma diferença em relação à Tradição, cf. SCHEFFCZYK,
Fondamenti del dogma, 117 (nota 14).
65
Cf. FISICHELLA, La rivelazione: evento e credibilità,119.
66
DH 3006. Cf. também J. R. GEISELMANN, Tradição, in: H. FRIES (org.), Dicionário de Teologia.
Conceitos fundamentais da teologia atual (Vol. V), São Paulo 1971, 353.
67
Cf. FISICHELLA, La rivelazione: evento e credibilità, 121-122.
43
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68
Cf. Dei Verbum no 7.
69
Cf. Dei Verbum no 9.
70
Cf. SCHEFFCZYK, Fondamenti del dogma, 118-119. Cf. também J. H. MÖHLER, Simbolica, Milano 1984,
295-296.
71
POTTMEYER, Tradição, 1018.
72
Cf. SCHEFFCZYK, Fondamenti del dogma, 122.
44
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73
Cf. FISICHELLA, La rivelazione: evento e credibilità, 126 e R. LATOURELLE, Teologia della rivelazione,
Assisi 1967, 336.
74
Dei Verbum no 8.
75
POTTMEYER, Tradição, 1018.
76
B. SESBOÜÉ (org.), História dos dogmas IV – A Palavra da Salvação (séculos XVIII-XX), São Paulo
2006, 441.
77
Dei Verbum no 9.
45
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mas viva vox, faz-se necessária uma viva successio (...) Sucessão Apostólica
é, segundo a sua essência, a presença viva da Palavra na forma pessoal do
testemunho. A ininterrupta continuidade das testemunhas- apóstolos e
seus sucessores – no tempo, deriva da essência da palavra que é auctoritas
e viva vox” 82.
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a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam
as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a
presença permanente do Salvador que vem encontrar-se conosco, redimir-
nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para
glória do Pai” 84.
84
BENTO XVI, A comunhão no tempo: a Tradição (Audiência Geral do 26 de abril de 2006), in:
L’Osservatore Romano (Edição semanal em Português) n. 17 (1897), 29 de abril de 2006, 12.
85
BENTO XVI, A comunhão no tempo, 12.
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modo fiel, mas preciso e mais rico, a palavra de Deus, realiza-se sempre no
interior do objeto da fé” 88.
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deve estar ordenado para que o povo permaneça na verdade que liberta.
Para realizar este serviço, Cristo dotou os pastores da sua Igreja com o
carisma da infalibilidade em matéria de fé e de costumes (moral). O
exercício deste carisma pode assumir vária modalidades.
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5- O Método Teológico
5.1- O Método de Tomás de Aquino
O Método Filosófico de Tomás de Aquino: “É mérito de Tomás de Aquino a
inovadora hermenêutica filosófica. Não se pode aproximar-se de sua
filosofia sem dar conta da importância do seu método. O Aquinate procede
do estudo de casos mais simples e concretos para chegar à análise dos mais
complexos e abstratos. Quando chega aos conceitos, sua exposição é por
meio de argumentos demonstrativos e prováveis e recorre, no caso da
filosofia, aos livros dos filósofos e no caso da teologia, à autoridade, na
verdade de fé. Como que sempre buscando um diálogo com o mundo, sua
pesquisa, seja filosófica, seja teológica, parte da análise das realidades
sensíveis, na medida em que busca chegar, a partir disso, à análise das
realidades imateriais. Neste sentido, o seu método começa por
compreender o ente sensível, sua causa próxima e seus princípios, para ir
ascendendo ao ente supra-sensível, na consideração de sua causa remota.
Quase toda investigação do Aquinate é segundo este procedimento. De
fato, este modus operandi se faz onipresente às suas exposições. Não
obstante, apesar de tudo isso, para o Aquinate, o método não passa de um
instrumento que serve à filosofia, que por sua vez, serve à teologia. Por isso,
para o Aquinate, o método é, por excelência, instrumento da razão humana
para melhor conhecer a verdade das coisas e, por analogia, aceder às de
Deus, posto que as que Deus nos revela, são por infusão. Em qualquer caso,
a sistematização de seu método gerou uma obra quase inabarcável. Duas
são as fontes da metodologia tomista: a lógica aristotélica e a o método
escolástico. Da lógica aristotélica herdou o modo argumentativo e
demonstrativo e da escolástica o modo expositivo das questões. Além desta
herança, desenvolveu o seu próprio método: a linguagem analógica, um
método filosófico com aplicação teológica, que se fundamenta em duas
doutrinas - a doutrina do ato de ser e a da participação. O Aquinate analisa
as questões que trata e as expõe comentando, criticando, sempre partindo
das ideias mais simples às mais complexas, pautando os seus argumentos
nos princípios invioláveis da razão e comparando-as analogamente,
afirmando o que há de verdadeiro, negando o que há de falso e corrigindo
o que seja passível de correção. Comumente, como já dissemos, o Aquinate
parte da análise das coisas simples para chegar à consideração das mais
53
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http://www.aquinate.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Faitanin-1.pdf
54
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Como ler uma questão da Suma Teológica? (Padrão internacional: usado pelo site
de referência www.corpusthomisticum.org
Exemplo: S. Theol. Ia q. 55 a. 1 co.
1 2 3 4 5 6 7
S. Theol. é Ia → Prima q. → 55 a. → 1→éo co. → corpus
a Pars (Primeira quaestio (número articulus número da questão
abreviatura Parte). (questão) da (artigo é do (Resposta do
da obra questão) uma artigo Mestre, na
Summa Outras subdivisão qual ele
Theologiae possibilidades: da apresenta a
(Suma questão). sua tese).
Teológica) Ia IIae→ Prima
Secundae Outras
(Primeira possibilidades:
parte da
Segunda s.c. → sed
Parte) contra
90
http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2008/pdf/p012.pdf
55
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q. 55: Dos meios do conhecimento angélico (q. 55), que podemos traduzir sob forma de
pergunta, ou de questão → Quais os meios para o conhecimento angélico?): Em seguida
trataremos dos meios do conhecimento angélico. E, sobre este assunto, três artigos se
discutem: 1. Os anjos conhecem todas as coisas através de sua própria substância? (Artigo
1= a. 1); 2. Os anjos conhecem por meio espécies derivadas das coisas? (Artigo 2= a. 2); 3.
Os anjos superiores conhecem por espécies mais universais que os inferiores? (Artigo 3= a.
3).
Estrutura geral de um artigo:
Parece que não (Tomás apresenta agora os argumentos contrários a sua tese)…
Argumento 1 (a. 1)
Argumento 2 (a. 2)
Argumento 3 (a. 3)
Sed contra (s.c. = em contrário… Santo Tomás apresenta uma afirmação que provenha de
uma grande autoridade teológica, Bíblia ou Padre da Igreja, por exemplo, que abra caminho
para um raciocínio diferente do que foi exposto até agora = argumentos contrários)
Corpus (co. é a resposta do Mestre, neste ponto Santo Tomás desenvolve a sua tese. Se o
artigo começa dizendo que “parece que não”, então a tese de Tomás conduz na direção do
sim, da afirmação. Se o artigo começa dizendo que “parece que sim”, então a tese de Tomás
conduz na direção do não, da negação).
56
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1e2
(Fundamentais)
3
(Principais)
4, 5, 6 e 7
(Próprias)
8, 9 e 10
(Impróprias)
91
MELCHOR CANO, De Locis Theologicis, BAC: Madrid, 2006.
92
Como reconhecer a Tradição apostólica? 1) Primeira forma: é a Tradição apostólica que sempre tem sido
mantida na Igreja (a sua origem é Cristo e os Apóstolos), para que sua origem seja reconhecida
historicamente apostólico; 2) Segunda via: o testemunho unânime dos Padres sobre uma verdade vem da
Tradição Apostólica; 3) Terceira via: Tradição apostólica é o que o consenso unânime de os fiéis hoje
resistem sem poder ser estabelecidos por uma força humana; 4) Quarta via: é de Tradição apostólica o que
o Magistério da Igreja indica como tal.
57
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Suas fontes são a Sagrada Escritura (Dei Verbum afirma que é a alama
da teologia), a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja. Seu método possui
uma dimensão especulativa e uma dimensão histórica. Pode-se usa
também a indução, a dedução e a analogia (baseada na doutrina do ser e
da participação). A reflexão teológica une no seu discurso o elemento
catafático ao elemento apofático, na busca de um equilíbrio que respeite
contemporaneamente a veracidade da Revelação e a transcendência do
Mistério.
59
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93
Para uma leitura crítica sobre a TdL: B. KLOPPENBURG, Libertação Cristã, EDIPUCRS: Porto
Alegre, 1999; AA. VV. La Teología de la Liberación a la luz del Magisterio, CEDIAL-TRIPODE:
Bogotá-Caracas, 1988; R. VEKEMANS (org.), Teología de la Liberación (Dossier alrededor de la
Libertatis Conscientia), CEDIAL-TRIPODE: Bogotá-Caracas, 1988; F. AQUINO (org.), Teologia da
Libertação, Cléofas: Lorena, 2003.
94
Sobre o método da TdL, vale a pena ler: F. de A. JÚNIOR, Teoria teológica- Práxis teologal. Sobre o
método da Teologia da Libertação, Paulinas: São Paulo, 2012.
95
Cf. http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-
5841.2013v11n32p1403/5843
61
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96
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2013v11n32p1403/5843
(Página 5)
97
Entre a primeira fase e a segunda fase de seu pensamento, foram publicados dois documentos da
Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação: Instrução sobre alguns aspectos da
Teologia da Libertação (1984) e Libertatis Conscientia (1986).
98
Cf. L. BOFF, Jesus Cristo libertador, Vozes: Petrópolis, 1974.
99
Cf. L. BOFF, Eclesiogênese: A reinvenção da Igreja, Vozes: Petrópolis, 1977; Id., Igreja, carisma e poder,
Vozes: Petrópolis, 1981.
100
Cf. L. BOFF, Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos, Vozes: Petrópolis, 1975.
101
Cf. L. BOFF, A Trindade e a Sociedade, Vozes: Petrópolis, 1999; Id., A Santíssima Trindade é a melhor
comunidade, Vozes: Petrópolis, 2004.
62
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teologia da graça102, etc.), entretanto ela não se detém detém numa "visão
genérica e abstrata da fé, mas aprofunda-desenvolve sempre o sentido
histórico libertador do Evangelho, por isso possui uma ótica particular,
fazendo a teologia inteira (em todos os seus tratados), aterrissar em
temas específicos, libertadores. A TdL é "a teologia da libertação integral,
com ênfase na libertação histórica". A originalidade da TdL, segundo C.
Boff, não reside no método, mas "na raiz do método": o quel he atribui
uma nova maneira de utilizar o método é a "experiência de Deus no
pobre.
102
Cf. L. BOFF, A graça libertadora no mundo. Vozes: Petrópolis, 1976 (Mais tarde recebeu outro título:
A graça e experiência humana).
103
Esta interpretação de Aparecida se deve ao fato do Documento iniciar com um capítulo cristológico,
colocado antes do olhar sobre a realidade sócio-eclesial (Ver).
63
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104
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2013v11n32p1403/5843
(página 21).
64
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105
Cf. B.-D. DE LA SOUJEOLE, Introduction au Mystère de l’Église, Toulouse 2006, pp. 14-17.
65
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106
Cf. NICOLAS, Vocabulário da Suma Teológica, pp. 73-74.
66
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107
Cf. SOUJEOLE, Introduction au Mystère de l’Église, pp. 18.
108
Cf. SOUJEOLE, Introduction au Mystère de l’Église, pp. 18-19.
67
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68
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7- Dogma e dogmas
A palavra dogma provém do verbo grego dokéin = (a) aparecer ou (b)
pensar-crer, no sentido de julgar bom, parecer o melhor. Dokéin poderia
ser traduzido como sendo aquilo que aparece justo ou verdadeiro109.
Na antiguidade grega, havia o termo doxa = simples opinião, e o termo
dogma = (a) parecer, opinião (no sentido de doutrina filosófica) ou (b)
decisão-decreto (no sentido jurídico). Na tradução da Setenta, o termo
dogma aparece com o sentido de decreto ou prescrição legal (sentido
jurídico), tanto no domínio profano, quanto no domínio religioso.
Lucas usa o termo dogma para indicar os decretos imperiais (Lc 2,1 e
At 17,7). Em At 15,28, se afirma que os apóstolos edoxen (decidiram). Em
At 16,4, são chamadas dogmata, as deliberações do concílio dos apóstolos.
Nos escritos paulinos, Ef 2,15 e Col 2,14, se usa o termo para indicar as
prescrições da Lei.
O termo aparece uma vez na Didaqué (11,3: os dogmas do Evangelho),
uma vez em Clemente Romano (I Ep. aos Coríntios 27,5)
Mais tarde, Santo Inácio de Antioquia (início do II século) usará o termo
dogmas como sinônimo de ensinamento de Cristo e dos apóstolos (cf. Carta
aos Magnésios 13,1). Justino, Clemente de Alexandria e Orígenes usam o
temo no sentido de posição doutrinal de uma escola filosófico-teológica.
Eusébio de Cesareia (III século) empregará o termo para designar também
o ensinamento e as deliberações eclesiásticas. Segundo B. Sesboué, a
expressão grega dogma não se encontra nos autores latinos Tertuliano,
Cipriano, Ambrósio, Agostinho, Leão Magno e Gregório Magno, mas está
presente nos escritos de Jerônimo, Rufino, Vicente de Lerins (33 vezes na
obra Commonitorium) e Genado (autor da obra Liber de ecclesiasticis
dogmatibus, V século)110.
Na Idade Média, a palavra dogma não possui uma função decisiva na
teologia, usa-se mais expressões como artigo de fé (articulus fidei) ou
verdade católica (veritas catholica)111.
Foi graças ao conflito com a teologia reformada, que pouco a pouco se
afirma no âmbito católico o entendimento atual que temos de dogma (o
conjunto dos ensinamentos oficiais da Igreja). Nesta época se redescobre a
109
Cf. SCHULZ, Dogmatica, p. 36.
110
Cf. Sesboué, Introdução à Teologia, 63-68.
111
Cf. SCHULZ, Dogmatica, p. 36.
69
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112
Cf. Sesboué, Introdução à Teologia, 69.
113
O termo aparece duas vezes nos documentos do Concílio de Trento, cf. DH 1505 e 1525.
114
W. Kasper, Dogme et Évangile, 35.
70
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A Teologia medieval121.
115
“Crer para entender e entender para crer”, este axioma ilumina a nossa compreensão global do período
patrístico.
116
H. C. J. MATOS, Estudar teologia. Iniciação e método, Petrópolis 2005, 42.
117
MATOS, Estudar teologia. Iniciação e método, 42.
118
A linguagem simbólica não significa uma linguagem metafórica, mas uma linguagem que se reconhece
inadequada (limitada) na sua missão de “pensar” e “dizer” o mistério. Eles usam a linguagem simbólica
para falar de verdades sublimes.
119
J. B. LIBANIO- A. MURAD, Introdução à Teologia. Perfil, enfoques, tarefas, São Paulo 2014, 104.
120
Cf. Catecismo da Igreja Católica n. 236. Cf. também BOFF, Teoria do Método Teológico, 554.
121
Sobre a teologia medieval: M.-D. CHENU, La Teologia nel XII secolo. Milano: Jaca Book 1983; J.
PELIKAN, Croissance de la Théologie Médiévale 600-1300. Paris: PUF 1994. Coleção Storia dela
Teologia (EDB, Bologna): E. DAL COVOLO (org.), Storia dela Teologia I. Dalle origini a Bernardo di
Chiaravalle. Bologna: EDB 2015; G. OCCHIPINTI (org.), Storia dela Teologia II. Da Pietro Lombardo a
Roberto Bellarmino. Bologna: EDB 1996. Coleção Figure del Pensiero Medievale (Direção I. Biffi e C.
Marabelli): AA. VV., La fioritura dela dialettica (X-XII secolo). Milano-Roma: Jaca Book-Città Nuova
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73
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128
LIBANIO- MURAD, Introdução à Teologia. Perfil, enfoques, tarefas, 112.
129
Para conhecer mais sobre a Teologia Monástica, cf. J. LECLERQ, O Amor às letras e o desejo de Deus,
São Paulo 2012 (especialmente o capítulo 9, pp. 229-278).
130
Cf. LIBANIO- MURAD, Introdução à Teologia. Perfil, enfoques, tarefas, 113.
131
Cf. LE GOFF, Os intelectuais na Idade Média, 104-135.
132
Sobre a filosofia medieval: J.-I. SARANYANA, A Filosofia Medieval. Das origens patrísticas à
escolástica barroca. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio 2006; F. C.
COPLESTON, Filosofia Medieval. Uma introdução. Curitiba: Editora Danúbio 2017; S. V. ROVIGHI,
Storia della Filosofia Medievale. Dalla patristica al secolo XIV. Milano: Vita e Pensiero 2011.
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75
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137
Sobre a teologia do século XX cf. R. GIBELLINI, A teologia do século XX, São Paulo 2002; Id., Breve
história da teologia do século XX, Aparecida 2010; B. MONDIN, Os grandes teólogos do século XX (2
volumes), São Paulo 1987; R. V. GUCHT - H. VORGRIMER, Bilan de la Théologie du XXe siècle (4
volumes), Paris 1970.
138
Para conhecer melhor o pensamento teológico de S. Tromp cf. J. P. de M. DANTAS, In Persona Christi
Capitis. Il ministro ordinato come rappresentante di Cristo capo della Chiesa nella discussione teologica
da Pio XII ad oggi, Siena 2010, 133-160.
76
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139
Para conhecer melhor o pensamento teológico de H. de Lubac cf. MONDIN, Os grandes teólogos do
século XX (vol. 1), 177-205.
140
Para conhecer melhor o pensamento teológico de Y. Congar cf. MONDIN, Os grandes teólogos do
século XX (vol. 1), 153-176.
141
Para conhecer melhor o pensamento teológico de H. de Lubac cf. MONDIN, Os grandes teólogos do
século XX (vol. 1), 123-151.
142
Para um estudo aprofundado das correntes teológicas posteriores ao Concílio Vaticano II cf. A.
MARRANZINI (org.), Correnti teologiche post-conciliari, Roma 1974.
143
Para conhecer melhor o pensamento teológico de E. Schillebeeckx cf. MONDIN, Os grandes teólogos
do século XX (vol. 1), 237-268.
77
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144
Para conhecer melhor o pensamento teológico de H. U. von Balthasar cf. MONDIN, Os grandes teólogos
do século XX (vol. 1), 207-235.
145
Para conhecer melhor o pensamento teológico de J. Ratzinger cf. T. ROWLAND, A Fé de Ratzinger. A
Teologia do Papa Bento XVI, São Paulo 2013; S. MADRIGAL (org.), El pensamento de Joseph Ratzinger.
Teólogo y Papa, Madrid 2009.
78
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9- Linguagem teológica
Quanto à linguagem, nos recorda C. Boff, a tradição clássica distingue
três espécies de linguagem:
a) Unívoca: “Exprime coisas segundo o mesmo sentido. É a
linguagem que adere como que imediata e direta à realidade.
Refere-se a conceitos adequados, proporcionados à realidade que
representam, embora esta desborde sempre os conceitos, que
são sempre aproximativos (menos talvez na matemática, etc.)”146.
O autor prossegue e acrescenta que este tipo de linguagem não
serve para nos referirmos a Deus, pois este se encontra em outro
nível ontológico. Um termo tem um significado unívoco, quando
o empregamos exatamente no mesmo sentido e com o mesmo
significado para nos referirmos a coisas distintas (por exemplo,
homem aplicado a Júlio César, a Napoleão e João Paulo II)147. Uma
tentativa de aplicar a linguagem unívoca a Deus se encontra no
discurso teológico de caráter antropomórfico;
b) Equívoca: Quando “se predica de realidades totalmente
diferentes entre si segundo o mesmo sentido” (S. Theol. I q. 13 a.
5). Quando se atribui o mesmo nome a duas realidades
essencialmente diferentes, como quando damos o nome de
animais às constelações e aos seres vivos terrestres. Um termo
tem um significado equívoco se o empregamos em distintos casos
com sentidos e conteúdos diferentes (por exemplo: “banco” para
sentar-se, ou “banco” para guardar dinheiro). A teologia
reconhece os limites da linguagem humana para tratar de seu
objeto específico, mas afirma que a linguagem humana não é
puramente equívoca (exterior e arbitrária), pois Deus se revelou
usando a linguagem humana. O agnosticismo é o erro dos
equivocistas148;
c) Analógica: “Efetivamente, para falar de Deus se podem empregar
termos de nossa linguagem humana, indicando por uma parte, o
que no Mistério ‘bate’ com seu sentido e, por outra, o que não
‘bate’. É isso precisamente o que faz a linguagem analógica (...) A
analogia é, com efeito, uma espécie de semelhança. Mas, não é
mera semelhança, como a do filho com o pai. Essa é uma
semelhança unívoca. A semelhança analógica é uma semelhança
unida a uma dessemelhança, que é sempre maior. Trata-se, pois,
146
BOFF, Teoria do Método Teológico, 300.
147
Cf. D. BOROBIO, História e Teologia comparada dos sacramentos. O princípio da analogia
sacramental. São Paulo: Ave-Maria – Loyola, 2017, 11.
148
Cf. BOFF, Teoria do Método Teológico, 307.
79
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149
BOFF, Teoria do Método Teológico, 309.
150
BOROBIO, História e Teologia comparada dos sacramentos. O princípio da analogia sacramental, 10.
151
Cf. BOROBIO, História e Teologia comparada dos sacramentos. O princípio da analogia sacramental,
12.
152
BOROBIO, História e Teologia comparada dos sacramentos. O princípio da analogia sacramental, 13-
14.
153
BOFF, Teoria do Método Teológico, 314.
80
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Exemplo 2 - Paternidade
154
F. BACON, De dignitate et argumentis scientiarum, I. III, cap. 1, apud BOFF, Teoria do Método
Teológico, 314.
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155
Cf. BOROBIO, História e Teologia comparada dos sacramentos. O princípio da analogia
sacramental, 12.
156
BOFF, Teoria do Método Teológico, 340.
157
C. Boff (p. 342) cita Y. CONGAR, Langage des spirituels et langage des théologiens, in: AA. VV., La
mystique rhénane. Colloque de Strasbourg (16-19/05/61), Paris 1963, 17-23.
158
BOFF, Teoria do Método Teológico, 344.
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83
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159
Cf. por exemplo L. Boff, La missión del teólogo en la Iglesia, Madrid 1991.
160
Cf. J. RATZINGER, Natureza e missão da teologia, Petrópolis 1993, 87.
161
Cf. RATZINGER, Natureza e missão da teologia, 88.
84
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4. Magistério e Teologia
162
Cf. RATZINGER, Natureza e missão da teologia, 90.
163
Cf. RATZINGER, Natureza e missão da teologia, 91.
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164
“Daqui provém a tendência a considerar que um juízo tem valor tanto maior quanto mais provenha do
indivíduo que se apoia sobre as suas próprias forças. Assim se opõe a liberdade de pensamento à autoridade
da tradição, considerada causa de escravidão” n. 32.
165
“Com frequência os modelos sociais difundidos pelos ‘mass-media’ tendem a assumir um valor
normativo; se difunde, em particular, a convicção de que a Igreja não deveria se pronunciar, a não ser sobre
problemas considerados importantes pela opinião pública, e no sentido que convenha a esta”, n. 32.
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Bibliografia
1- Magistério da Igreja
Concílio Vaticano I, Constituição Dei Filius.
Concílio Vaticano II, Constituição Dei Verbum.
Concilio Vaticano II, Decreto Optatam Totius.
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução sobre a vocação eclesial do Teólogo,
São Paulo 1990.
ID., Instrução Dominus Iesus, São Paulo 2000.
Catecismo da Igreja Católica.
BENTO XVI, Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, São Paulo 2010.
ID., A comunhão no tempo: a Tradição (Audiência Geral do 26 de abril de 2006), in:
L’Osservatore Romano (Edição semanal em Português) n. 17 (1897), 29 de
abril de 2006, 12.
ID., A Tradição Apostólica (Audiência Geral do 03 de maio de 2006), in:
L’Osservatore Romano (Edição semanal em português) n. 18 (1898), 06 de
maio de 2006, 12.
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Suplemento 1: S. Theol. I q. 1
Autor: Santo Tomás de Aquino
O primeiro discute-se assim — Parece desnecessária outra doutrina além das disciplinas
filosóficas.
1. — Pois não se deve esforçar o homem por alcançar objetos que ultrapassem a razão,
segundo a Escritura (Ecle. 3, 22): Não procures saber coisas mais dificultosas do que as
que cabem na tua capacidade. Ora, o que é da alçada racional ensina-se, com suficiência,
nas disciplinas filosóficas; logo, parece escusada outra doutrina além das disciplinas
filosóficas.
2. — Ademais, não há doutrina senão do ser, pois nada se sabe, senão o verdadeiro, que
no ser se converte. Ora, de todas as partes do ser trata a filosofia, inclusive de Deus; por
onde, um ramo filosófico se chama teologia ou ciência divina, como está no Filósofo1.
Logo, não é preciso que haja outra doutrina além das filosóficas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Embora se não possa inquirir pela razão
o que sobrepuja a ciência humana, pode-se entretanto recebê-lo por fé divinamente
revelada. Por isso, no lugar citado (Ecle 3, 25), se acrescenta: Muitas coisas te têm sido
91
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
1. — Pois toda ciência provém de princípios por si evidentes, ao passo que procede a
doutrina sagrada dos artigos da fé, inevidentes em si, por serem não universalmente
aceitos; porque a fé não é de todos, diz a Escritura (2 Ts 3, 2). Logo, não é ciência a
doutrina sagrada.
Mas, em contrário, Agostinho: A esta ciência só aquilo se atribui com que se gera, nutre,
defende e corrobora a fé salubérrima1. Ora, a nenhuma ciência pertence tal, senão à
doutrina sagrada. Por onde, é ciência a doutrina sagrada.
SOLUÇÃO. — A doutrina sagrada é ciência. Porém, cumpre saber que há dois gêneros
de ciências. Umas partem de princípios conhecidos à luz natural do intelecto, como a
aritmética, a geometria e semelhantes. Outras provém de princípios conhecidos por
ciência superior; como a perspectiva, de princípios explicados na geometria, e a música,
de princípios aritméticos. E deste modo é ciência a doutrina sagrada, pois deriva de
princípios conhecidos à luz duma ciência superior, a saber: a de Deus e dos santos.
Portanto, como aceita a música os princípios que lhe fornece o aritmético, assim a
doutrina sagrada tem fé nos princípios que lhe são por Deus revelados.
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O quarto discute-se assim — Parece que a doutrina sagrada é uma ciência prática.
2. Demais — A doutrina sagrada abrange a lei antiga e a nova. Ora, a lei respeita à ciência
moral, que é prática. Donde, é ciência prática a doutrina sagrada.
Mas, em contrário, toda ciência prática tem por objeto as coisas factíveis pelo homem;
v.g. a moral, os atos humanos e a arquitetura, os edifícios. Ora, a doutrina sagrada tem
por objeto principal Deus, de quem, pelo contrário, são obras os seres humanos. Por
onde, não é ciência prática, mas, antes, especulativa.
SOLUÇÃO. — A doutrina sagrada, sendo uma única ciência, como dissemos antes (a. 3
ad 2), contém os objetos de várias disciplinas filosóficas pelo aspecto formal, que neles
considera, de serem cognoscíveis à luz divina. Donde, embora nas ciências filosóficas,
seja uma a especulativa, e outra, a prática, a sagrada doutrina compreende o objeto de
ambas; bem como Deus, pela mesma ciência, conhece o próprio ser e suas obras.
Contudo, é mais especulativa que prática, por conhecer antes das coisas divinas que dos
atos humanos, tratando destes enquanto o homem, por eles, se ordena ao
conhecimento perfeito de Deus, essência da felicidade eterna.
O quinto discute-se assim — Parece não ser a doutrina sagrada mais digna que as outras
ciências.
1. — Pois é digno o saber enquanto certo; e as demais ciências, que partem de princípios
indubitáveis, parecem mais certas que a doutrina sagrada, cujos princípios, ou artigos
de fé, são sujeitos à dúvida. Donde, as outras ciências parecem mais dignas que ela.
Mas, em contrário, as demais ciências são chamadas escravas desta, segundo a Escritura
(Pr 9, 3): Enviou as suas escravas a chamar à fortaleza.
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DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Nada impede ser o mais certo, por
natureza, menos certo, pelo que nos toca, por causa da fraqueza do nosso intelecto,
que está para as coisas mais evidentes como os olhos da coruja para a luz do sol, como
diz Aristóteles. Donde, a dúvida de certos sobre os artigos da fé não provém da incerteza
do assunto, senão da fraqueza do intelecto humano; se bem o mínimo conhecimento
que pudermos adquirir das coisas altíssimas é mais desejável que o conhecimento
certíssimo de coisas mínimas, conforme o Filósofo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Esta ciência pode receber auxílio das filosóficas, não por lhe
serem indispensáveis, mas para maior clareza dos assuntos de que trata. Porém, das
outras ciências não recebe os seus princípios, senão de Deus, por imediata revelação.
Nem, portanto, recebe das outras ciências como de superiores, senão que delas usa
como inferiores e servas, como as arquitetônicas, das auxiliares e a civil, da militar. E
esse mesmo usar delas não é por defeito ou insuficiência sua, e sim por imperfeição do
nosso entendimento, que das coisas conhecidas pela razão natural (donde procedem as
outras ciências) mais facilmente é levado para aquelas que a sobrepujam e são o objeto
desta ciência.
1. Pois nenhuma doutrina que receba de outra os seus princípios, merece o nome de
sabedoria, cabendo ao sábio ordenar e não ser ordenado, como diz Aristóteles1. Ora,
esta doutrina recebe de outra os seus princípios, como do sobredito aparece (a. 2). Logo,
não é sabedoria.
2. Demais — À sabedoria compete provar os princípios das outras ciências, por onde é
chamada cabeça das demais, como se vê no Filósofo2. Ora, não justifica esta doutrina
os princípios das outras ciências, nem é, portanto, sabedoria.
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3. Demais — Adquire-se esta doutrina pelo estudo, mas recebemos a sabedoria por
infusão, e, por isso, se conta entre os sete dons do Espírito Santo, como se vê na Escritura
(Is 2,2). Logo, esta doutrina não é sabedoria.
Mas, em contrário, a Escritura (Dt 4, 6): Porque nisto mostrarei a vossa sabedoria e
inteligência aos povos.
SOLUÇÃO. — De toda a sabedoria humana, é esta doutrina a mais alta, não relativa, mas
absolutamente. Pois sendo próprio do sábio ordenar e julgar, e, pela causa mais alta,
considerar as inferiores, sábio se chama, em qualquer gênero, quem lhe atende à
altíssima causa. Assim, no tocante à construção, o artífice que traça a planta da casa é
chamado sábio e arquiteto, em relação aos operários inferiores, que aplainam a madeira
e preparam as pedras; donde o dito da Escritura (1 Cor 3,10): Lancei o fundamento como
sábio arquiteto. Também, no que respeita à vida humana em conjunto, é o prudente
chamado sábio, enquanto ordena os atos humanos ao fim obrigatório; donde outro dito
da Escritura (Pr 10, 23): A sabedoria é, para o homem, prudência. Quem, portanto,
considera a causa absoluta mais alta do universo, que é Deus, deve ser chamado sábio
por excelência. Pelo que também se define a sabedoria conhecimento das coisas divinas,
como se vê em Agostinho. Ora, o próprio da sagrada doutrina é considerar a Deus, causa
altíssima, não só enquanto cognoscível por meio das criaturas — o que souberam os
filósofos, como diz a Escritura (Rm 1, 19): O que se pode conhecer de Deus lhes é
manifesto — senão também naquilo que só ele de si mesmo conhece e foi aos outros
revelado e comunicado. Por isso, tal doutrina em sumo grau merece o nome de
sabedoria.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Por ser o juízo próprio do sábio, e por haver dois modos de
julgar, deve a sabedoria ter dois sentidos. O primeiro modo de julgar é por inclinação:
por exemplo, quem tiver bons costumes, por atração da virtude, pode com acerto julgar
dos atos que se devem praticar moralmente. Por isto está em Aristóteles: o virtuoso é
medida e regra dos atos humanos4. — O segundo modo é pelo conhecimento: como o
instruído na ciência moral poderia julgar dos atos de virtude, mesmo se a não tivesse.
Ora, o primeiro modo de julgar as coisas divinas pertence à sabedoria enquanto dom do
Espírito Santo, segundo a Escritura (1 Cor 2,15): O espiritual julga todas as coisas; e
Dionísio: Hieroteu é douto, não só por aprender mas, antes, por sentir as coisas divinas5.
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O segundo modo de julgar é próprio desta doutrina, enquanto se adquire por estudo,
embora sejam os princípios recebidos pela revelação.
O sétimo discute-se assim — Parece não ser Deus o objeto desta ciência.
2. Demais — abrange o objeto da ciência tudo o que ela trata. Porém, na sagrada
doutrina, há muitos outros assuntos além de Deus, p. ex.: as criaturas e os costumes
humanos. Logo, não é Deus o objeto desta ciência.
Mas, em contrário, objeto da ciência é o assunto nela principalmente tratado. Ora, Deus
é o assunto principal desta ciência, pois é chamada teologia ou tratado de Deus. Logo,
Deus é o objeto desta ciência.
SOLUÇÃO. — Deus é o objeto desta ciência, porque o objeto está para a ciência como
para a potência ou hábito. Ora, propriamente, é considerado objeto de potência ou
hábito aquilo sob cujo aspecto se lhes refere qualquer coisa. Donde, referindo-se à vista,
enquanto coloridos, o homem e a pedra, é a cor o objeto próprio da vista. Ora, a sagrada
doutrina tudo trata com referência a Deus, por tratar ou do mesmo Deus ou das coisas
que lhe digam respeito, como princípio ou fim. Pelo que, é Deus, verdadeiramente, o
objeto desta ciência — o que também se demonstra pelos princípios da dita ciência, ou
artigos da fé, de que Deus é objeto. Ora, idêntico objeto têm os princípios e toda a
ciência, por estar a última, total e virtualmente, contida nos princípios. — Certos, porém,
atendendo às matérias tratadas e não ao ponto-de-vista, a esta ciência assinalaram
outro objeto; como, a realidade e os símbolos, ou as obras da reparação; ou todo Cristo,
i.é., a cabeça e os membros. E, com efeito, são consideradas nesta ciência todas essas
matérias, se bem com relação a Deus.
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1. — Pois, diz Ambrósio: Deixa os argumentos quando se procura a fé1. Ora, por esta
doutrina procuramos principalmente a fé, pelo que diz a Escritura (Jo 20, 31): Foram
escritos estes (prodígios) afim de que vós creais. Logo, a doutrina sagrada não é
argumentativa.
Mas, em contrário, diz a Escritura (Tt 1, 9) a respeito do bispo: Que abrange a palavra
fiel, que é segundo a doutrina, para que possa exortar conforme à sã doutrina e
convencer aos que o contradizem.
SOLUÇÃO. — Como as outras ciências não argumentam para provar os seus princípios,
mas, com estes, raciocinam para demonstrar outros pontos, assim também, não
argumenta esta doutrina para provar os seus princípios ou artigos da fé, senão que
destes procede para mostrar outra verdade. Assim é que o Apóstolo (1 Cor 15)
argumenta com a ressurreição de Cristo para provar a de todos os homens.
Cumpre, no entanto, considerar que as ciências filosóficas inferiores nem provam os
seus princípios, nem disputam contra aqueles que os negam, mas isto deixam para a
ciência superior. Porém, dentre elas, a suprema, a saber, a Metafísica, discute contra
quem lhe nega os princípios, se o adversário concede algum ponto; mas, se nada
concede, não se pode com ele discutir, bem que se lhe possam refutar as objeções. Da
mesma forma, a sagrada doutrina, por não ter nenhuma superior, disputa contra quem
lhe nega os princípios, com argumentos, se o adversário conceder algum ponto
revelado; e assim, com as autoridades da doutrina sagrada, discutimos contra os
hereges e, por um artigo da fé, contra os negadores de outro. Se, porém, o adversário
não acredita em ponto algum da revelação divina, já não há meio para lhe provar com
razões os artigos da fé, mas, sim, para lhe refutar as objeções contra esta, porventura
assacadas. Porque, assentando a fé na verdade infalível, e sendo impossível demonstrar
o contrário da verdade, claro está que as razões dirigidas contra a fé não são
demonstráveis, senão argumentos refutáveis.
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Apesar disso, a doutrina sagrada também usa da razão humana, não, por certo, para
provar a fé, o que lhe suprimiria o mérito, senão para manifestar, de algum modo,
ensinamentos seus. Pois, como a graça não tolhe, mas aperfeiçoa a natureza, importa
que a razão humana preste serviços à fé, assim como a inclinação natural da vontade
está às ordens da caridade. No mesmo sentido julga a Escritura (2 Cor 10,5): Reduzindo
a cativeiro todo o entendimento para que obedeça a Cristo. Donde provém que a
doutrina sagrada até lança mão da autoridade dos filósofos, nos assuntos em que pela
razão natural puderam conhecer a verdade. Assim, Paulo alega a palavra de Arato (At
17, 28): Como disseram ainda alguns de vossos poetas: Que somos linhagem divina.
Porém, de tais autoridades se aproveita a doutrina sagrada como de argumentos
estranhos e prováveis, ao passo que emprega as autoridades dos escritores canônicos
como argumentos próprios e necessários. Quanto às autoridades dos outros doutores
da Igreja, delas usa como argumentos próprios mas de valor provável. Porque a nossa
fé se apoia na revelação feita aos Apóstolos e Profetas, que escreveram os livros
canônicos; não, porém, na revelação porventura feita aos demais doutores. Donde o
dizer Agostinho: Somente aos livros da Escritura, chamados canônicos, aprendi a deferir
a honra de crer firmissimamente que nenhum dos seus autores erraram, que os
escreveram. Os outros escritores, porém, por mais eminentes que sejam na santidade ou
na doutrina, eu os leio de modo a não ter por verdadeira uma sentença só porque foi por
eles aceita ou escrita4.
O nono discute-se assim — Parece não dever a doutrina sagrada usar de metáforas(...)
Art. 10 — Se na Sagrada Escritura uma mesma letra tem vários sentidos: o histórico
ou literal, o alegórico, o tropológico ou moral e o anagógico.
(I Sent., prol., a. 5; IV, dist XXI, q.1, a.2, qa 1, ad 3; De Pot., q. 4, a. 1; Quodlib., III, q. 14,
a. 1; VIII, q. 6; ad Gal., c. IV, lect. VII)
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O décimo discute-se assim — Parece que na Sagrada Escritura, uma mesma letra não
tem vários sentidos: o histórico ou literal, o alegórico, o tropológico ou moral e o
anagógico.
1. — Pois a multiplicidade dos sentidos, num escrito, gera a confusão e o engano e obsta
à segurança da argüição. Donde, não resulta nenhuma argumentação da multiplicidade
de proposições, causa esta, antes, de sofismas. Ora, a Escritura Sagrada deve ser eficaz
para mostrar a verdade, sem nenhuma falácia. Logo, nela não deve haver, numa mesma
letra, vários sentidos.
3. Demais — além dos sentidos preditos, há o parabólico, não contido nos quatro.
Mas, em contrário, Gregório: A Sagrada Escritura, pelo modo mesmo da sua locução,
transcende todas as ciências; pois, com a mesma expressão, assim narra o feito como
expõe o mistério2.
SOLUÇÃO. — O autor da Sagrada Escritura é Deus, em cujo poder está dar significação
não só às palavras, o que também o homem pode fazer, mas ainda às próprias coisas.
Por isso, além do que se dá com todas as ciências, nas quais as palavras têm significação,
esta ciência tem de próprio que as coisas mesmas significadas pelas palavras, por sua
vez, também significam. Ora, a primeira significação, pela qual as palavras exprimem as
coisas, é a do primeiro sentido, que é o histórico ou literal. E a significação pela qual as
coisas expressas pelas palavras têm ainda outras significações, chama-se sentido
espiritual, que se funda no literal e o supõe. Mas, este sentido espiritual tem três
subdivisões. Pois, como diz o Apóstolo (Hb 7, 19), a lei antiga é figura da nova e esta, por
sua vez, como diz Dionísio, o é da glória futura3; e, demais, na lei nova, as coisas feitas
pelo chefe são sinais das que nós devemos fazer. Ora, quando as coisas da lei antiga
significam as da nova, o sentido é alegórico; quando as realizadas em Cristo, ou nos que
o que significam, são sinais das que devemos fazer, o sentido é moral; e quando
significam as coisas da glória eterna, o sentido é anagógico.
Mas como o sentido literal é o que o autor tem em vista, e o autor da Sagrada Escritura
é Deus, cuja inteligência tudo compreende simultaneamente, não há inconveniente,
como diz Agostinho, se, mesmo no sentido literal, uma expressão da Sagrada Escritura
tem vários sentidos.
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alegórico, como diz Agostinho. Mas, nem por isso, nada se perde da Escritura Sagrada;
pois, não há nada de necessário à fé, contido no sentido espiritual, que ela não explique
manifestamente, alhures, no sentido literal.
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Evangelho.[1] Este fenómeno marcante de nossa época tem uma amplidão universal,
manifesta-se porém em formas e em graus diferentes conforme os povos. È sobretudo
entre os povos que experimentam o peso da miséria e entre as camadas deserdadas que
esta aspiração se exprime com vigor.
2. Esta aspiração traduz a percepção autêntica, ainda que obscura, da dignidade do
homem, criado « à imagem e semelhança de Deus » (Gên 1, 26-27), rebaixada e
menosprezada por múltiplas opressões culturais, políticas, raciais, sociais e económicas,
que muitas vezes se acumulam.
3. Ao revelar-lhes a sua vocação de filhos de Deus, o Evangelho suscitou no coração dos
homens a exigência e a vontade positiva de uma vida fraterna, justa e pacífica, na qual
cada pessoa possa encontrar o respeito e as condições da sua auto-realização espiritual e
material. Esta exigência encontra-se, sem dúvida, na raiz da aspiração de que falamos.
4. Por consequência, o homem já não está disposto a sujeitar-se, passivamente ao peso
esmagador da miséria, com suas sequelas de morte, doenças e depauperamento. Sente
profundamente esta miséria como una intolerável violação da sua dignidade original.
Muitos fatores, entre os quais é preciso incluir o fermento evangélico, contribuíram para
o despertar da consciência dos oprimidos.
5. Já não se ignora, mesmo nos segmentos da população ainda dominados pelo
analfabetismo, que, graças ao maravilhoso progresso das ciências e das técnicas, a
humanidade, em constante crescimento demográfico, seria capaz de assegurar a cada ser
humano um mínimo de bens exigidos pela sua dignidade de pessoa.
6. O escândalo das gritantes desigualdades entre ricos e pobres – quer se trate de
desigualdades entre países ricos e países pobres, ou de desigualdades entre camadas
sociais dentro de um mesmo território nacional – já não é tolerado. De um lado, atingiu-
se uma abundância jamais vista até agora, que favorece o desperdício; e, de outro lado,
vive-se ainda numa situação de indigência, marcada pela privação dos bens de primeira
necessidade, de modo que já não se conta mais o número das vítimas da subnutrição.
7. A falta de equidade e de sentido de solidariedade nos intercâmbios internacionais
reverte de tal modo em benefício dos países industrializados, que a distância entre ricos
e pobres aumenta sem cessar. Daí o sentimento de frustração, entre os povos do Terceiro
Mundo, e a acusação de exploração e de colonialismo económico lançada contra os países
industrializados.
8. A recordação dos estragos causados por um certo tipo de colonialismo e de suas
consequências aviva muitas vezes feridas e traumatismos.
9. A Sé Apostólica, na linha do Concílio Vaticano II, bem como as Conferências
Episcopais, não têm cessado de denunciar o escândalo que constitui a gigantesca corrida
armamentista que, além das ameaças que faz pesar sobre a paz, absorve enormes somas,
uma parcela das quais seria suficiente para acudir às necessidades mais urgentes das
populações privadas do necessário.
II - EXPRESSÕES DESTA ASPIRAÇÃO
1. A aspiração pela justiça e pelo reconhecimento efetivo da dignidade de cada ser
humano, como qualquer outra aspiração profunda, exige ser esclarecida e orientada.
2. Com efeito, é um dever usar de discernimento acerca das expressões, teóricas e
práticas, desta aspiração. Pois existem numerosos movimentos políticos e sociais que se
apresentam como porta-vozes autênticos da aspiração dos pobres e como habilitados,
mesmo com o recurso a meios violentos, a realizar as transformações radicais que poriam
fim à opressão e à miséria do povo.
3. Deste modo, a aspiração pela justiça encontra-se muitas vezes prisioneira de ideologias
que ocultam ou pervertem o seu sentido, propondo à luta dos povos para a sua libertação
objetivos que se opõem à verdadeira finalidade da vida humana e pregando meios de ação
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que implicam o recurso sistemático à violência, contrários a uma ética que respeite as
pessoas.
4. A interpretação dos sinais dos tempos à luz do Evangelho exige pois que se perscrute
o sentido da aspiração profunda dos povos pela justiça, mas, ao mesmo tempo, que se
examinem, com um discernimento crítico, as expressões teóricas e práticas que são
componentes desta aspiração.
III - A LIBERTAÇÃO, TEMA CRISTÃO
1. Considerada em si mesma, a aspiração pela libertação não pode deixar de encontrar
eco amplo e fraterno no coração e no espírito dos cristãos.
2. Assim, em consonância com esta aspiração, nasceu o movimento teológico e pastoral
conhecido pelo nome de « teologia da libertação »: num primeiro momento nos países da
América Latina, marcados pela herança religiosa e cultural do cristianismo; em seguida,
nas outras regiões do Terceiro Mundo, bem como em alguns ambientes dos países
industrializados.
3. A expressão « teologia da libertação » designa primeiramente uma preocupação
privilegiada, geradora de compromisso pela justiça, voltada para os pobres e para as
vítimas da opressão. A partir desta abordagem podem-se distinguir diversas maneiras,
frequentemente inconciliáveis, de conceber a significação cristã da pobreza e o tipo de
compromisso pela justiça que ela exige. Como todo movimento de ideias, as « teologias
da libertação » englobam posições teológicas diversificadas; suas fronteiras doutrinais
são mal definidas.
4. A aspiração pela libertação, como o próprio termo indica, refere-se a um tema
fundamental do Antigo e do Novo Testamento. Por isso, tomada em si mesma, a
expressão « teologia da libertação » é uma expressão perfeitamente válida: designa, neste
caso, uma reflexão teológica centrada no tema bíblico da libertação e da liberdade e na
urgência de suas incidências práticas. A convergência entre a aspiração pela libertação e
as teologias da libertação não é pois fortuita. O significado desta convergência não pode
ser compreendido corretamente se não à luz da especificidade da mensagem da
Revelação, autenticamente interpretada pelo Magistério da Igreja.[2]
IV - FUNDAMENTOS BÍBLICOS
1. Uma teologia da libertação corretamente entendida constitui, pois, um convite aos
teólogos a aprofundarem certos temas bíblicos essenciais, com o espírito atento às graves
e urgentes questões que a atual aspiração pela libertação e os movimentos de libertação,
eco mais ou menos fiel dessa aspiração, põem à Igreja. Não é possível esquecer, por um
só instante, as situações de dramática miséria de onde brota a interpelação assim lançada
aos teólogos.
2. A experiência radical da liberdade cristã[3] constitui aqui o primeiro ponto de
referência. Cristo, nosso Libertador, libertou-nos do pecado e da escravidão da lei e da
carne, que constitui a marca da condição do homem pecador. Ê pois a vida nova da graça,
fruto da justificação, que nos torna livres. Isto significa que a mais radical das escravidões
é a escravidão do pecado. As demais formas de escravidão encontram pois, na escravidão
do pecado, a sua raiz mais profunda. É por isso que a liberdade, no pleno sentido cristão,
caracterizada pela vida no Espírito, não pode ser confundida com a licença de ceder aos
desejos da carne. Ela é vida nova na caridade.
3 As « teologias da libertação » recorrem amplamente à narração do Livro do Êxodo. Este
constitui, de fato, o acontecimento fundamental na formação do Povo eleito. É preciso
não perder de vista, contudo, que a significação específica do acontecimento provém de
sua finalidade, já que esta libertação está orientada para a constituição do povo de Deus
e para o culto da Aliança celebrado no Monte Sinai.[4] Por isso a libertação do Êxodo
não pode ser reduzida a uma libertação de natureza prevalentemente ou exclusivamente
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ciências sociais, é ignorada por aqueles que, à guisa de hipóteses reconhecidas como tais,
recorrem a uma concepção totalizante, como é o pensamento de Marx.
VIII - SUBVERSÃO DO SENSO DA VERDADE E VIOLÊNCIA
1. Esta concepção totalizante impõe assim a sua lógica e leva as « teologias da libertação
» a aceitar um conjunto de posições incompatíveis com a visão cristã do homem. Com
efeito, o núcleo ideológico, tomado do marxismo e, que serve de ponto de referência,
exerce a função de princípio determinante. Este papel lhe é confiado em virtude da
qualificação de científico, quer dizer, de necessariamente verdadeiro, que lhe é atribuída.
Neste núcleo podem-se distinguir diversos componentes.
2. Na lógica do pensamento marxista, a « análise » não é dissociável da praxis e da
concepção da história à qual esta praxis está ligada, A análise é pois um instrumento de
crítica e a crítica não passa de uma etapa do combate revolucionário. Este combate é o da
classe do Proletariado investido de sua missão histórica.
3. Em consequência, somente quem participa deste combate pode fazer uma análise
correta.
4. A consciência verdadeira é pois uma consciência « partidarista ». Pelo que se vê, é a
própria concepção da verdade que aqui está em causa e que se encontra totalmente
subvertida: não existe verdade – afirma-se – a não ser na e pela praxis « partidarista ».
5. A praxis e a verdade que dela deriva, são praxis e verdade partidaristas, porque a
estrutura fundamental da história está marcada pela luta de classes. Existe pois uma
necessidade objetiva de entrar na luta de classes (que é o reverso dialético da relação de
exploração que se denuncia). A verdade é a verdade de classe – não há verdade senão no
combate da classe revolucionária.
6. A lei fundamental da história, que é a lei da luta de classes, implica que a sociedade
esteja fundada sobre a violência. À violência que constitui a relação de dominação dos
ricos sobre os pobres deverá responder a contra-violência revolucionária, mediante a qual
esta relação será invertida.
7. A luta de classes é pois apresentada como uma lei objetiva e necessária. Ao entrar no
seu processo, do lado dos oprimidos, « faz-se » a verdade, age-se « cientificamente ». Em
consequência, a concepção da verdade vai de par com a afirmação da violência necessária
e, por isso, com a do amoralismo político. Nesta perspectiva, a referência a exigências
éticas, que prescrevam reformas estruturais e institucionais radicais e corajosas perde
totalmente o sentido.
8. A lei fundamental da luta de classes tem um caráter de globalidade e de universalidade.
Ela se reflete em todos os domínios da existência, religiosos, éticos, culturais e
institucionais. Em relação a esta lei, nenhum destes domínios é autónomo. Em cada um
esta lei constitui o elemento determinante.
9. Quando se assumem estas teses de origem marxista é, em particular, a própria natureza
da ética qui é radicalmente questionada. De fato, o caráter transcendente da distinção
entre o bem e o mal, princípio da moralidade, encontra-se implicitamente negado na ótica
da luta de classes.
IX - TRADUÇÃO « TEOLÓGICA » DESTE NÚCLEO IDEOLÓGICO
1. As posições aqui expostas encontram-se às vezes enunciadas com todos os seus termos
em alguns escritos de « teólogos da libertação ». Em outros, elas se deduzem logicamente
das premissas colocadas. Em outros ainda, elas são pressupostas em certas práticas
litúrgicas (como por exemplo a « Eucaristia » transformada em celebração do povo em
luta), embora quem participa destas práticas não esteja plenamente consciente disso.
Estamos pois diante de um verdadeiro sistema, mesmo quando alguns hesitam em seguir
a sua lógica até o fim. Como tal, este sistema é uma perversão da mensagem cristã, como
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esta foi confiada por Deus à Igreja. Esta mensagem se encontra pois posta em xeque, na
sua globalidade, pelas « teologias da libertação ».
2. Não é o fato das estratificações sociais, com as conexas desigualdades e injustiças, é
a teoria da luta de classes como lei estrutural fundamental da história que é recebida por
estas « teologias da libertação », na qualidade de princípio. A conclusão a que se chega é
que a luta de classes, entendida deste modo, divide a própria Igreja e em função dela se
devem julgar as realidades eclesiais. Pretende-se ainda que afirmar que o amor, na sua
universalidade, é um meio capaz de vencer aquilo que constitui a lei estrutural primária
da sociedade capitalista, seria manter, de má fé, uma ilusão falaz.
3. Dentro desta concepção, a luta de classes é o motor da história. A história torna-se
assim uma noção central. Afirmar-se-á que Deus se fez história. Acrescentar-se-á que não
existe senão uma única história, na qual já não é preciso distinguir entre história da
salvação e história profana. Manter a distinção seria cair no « dualismo ». Semelhantes
afirmações refletem um imanentismo historicista. Tende-se deste modo a identificar o
Reino de Deus e o seu advento com o movimento de libertação humana e a fazer da
mesma história o sujeito de seu próprio desenvolvimento como processo da auto-
redenção do homem por meio de luta de classes. Esta identificação está em oposição com
a fé da Igreja, como foi relembrada pelo Concílio Vaticano II.[23]
4. Nesta linha, alguns chegam até ao extremo de identificar o próprio Deus com a história
e a definir a fé como « fidelidade à história », o que significa fidelidade comprometida
com uma prática política, afinada com a concepção do devir da humanidade concebido
no sentido de um messianismo puramente temporal.
5. Por conseguinte, a fé, a esperança e a caridade recebem um novo conteúdo: são «
fidelidade à história », « confiança no futuro », « opção pelos pobres ». É o mesmo que
dizer que são negadas em sua realidade teologal.
6. Desta nova concepção deriva inevitavelmente uma politização radical das afirmações
da fé e dos juízos teológicos. Já não se trata somente de chamar a atenção para as
consequências e incidências políticas das verdades de fé que seriam respeitadas antes de
tudo em seu valor transcendente. Toda e qualquer afirmação de fé ou de teologia se vê
subordinada a um critério político, que, por sua vez, depende da teoria da luta de classes,
como motor da história.
7. Apresenta-se por conseguinte o ingresso na luta de classes como uma exigência da
própria caridade; denuncia-se como atitude desmobilizadora e contrária ao amor pelos
pobres a vontade de amar, de saída, todo homem, qualquer que seja a classe a que
pertença, e de ir ao seu encontro pelas vias não-violentas do diálogo e da persuasão.
Mesmo afirmando que ele não pode ser objeto de ódio, afirma-se com a mesma força que,
pelo fato de pertencer objetivamente ao mundo dos ricos, ele é, antes de tudo, um inimigo
de classe a combater. Como consequência, a universalidade do amor ao próximo e a
fraternidade transformam-se num princípio escatológico que terá valor somente para o «
homem novo », que surgirá da revolução vitoriosa.
8. Quanto à Igreja, a tendência é de encará-la simplemente como uma realidade dentro da
história, sujeita ela também às leis que, segundo se pensa, governam o devir histórico na
sua imanência. Esta redução esvazia a realidade específica da Igreja, dom da graça de
Deus e mistério da fé. Contesta-se, igualmente, que a participação na mesma Mesa
eucarística de cristãos que, por acaso, pertençam a classes opostas, tenha ainda algum
sentido.
9. Na sua significação positiva, a Igreja dos pobres indica a preferência, sem
exclusivismo, dada aos pobres, segundo todas as formas de miséria humana, porque eles
são os prediletos de Deus. A expressão significa ainda que a Igreja, como comunhão e
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a praxis revolucionária que se tornaria assim critério supremo da verdade teológica. Uma
metodologia teológica sadia toma em consideração, sem dúvida, a praxis da Igreja e nela
encontra um de seus fundamentos, mas isto porque essa praxis é decorrência da fé e
constitui uma expressão vivenciada dessa fé.
4. A doutrina social da Igreja é rejeitada com desdém. Esta procede, afirma-se, da ilusão
de um possível compromisso, próprio das classes médias, destituídas de sentido histórico.
5. A nova hermenêutica inserida nas « teologias da libertação » conduz a uma releitura
essencialmente política da Escritura. É assim que se atribui a máxima importância ao
acontecimento do Êxodo, enquanto libertação da escravidão política. Propõe-se
igualmente una leitura política do Magnificat. O erro aqui não está em privilegiar uma
dimensão política das narrações bíblicas; mas em fazer desta dimensão a dimensão
principal e exclusiva, o que leva a uma leitura redutiva da Escritura.
6. Quem assim procede, coloca-se por isso mesmo na perspectiva de um messianismo
temporal, que é uma das expressões mais radicais da secularização do Reino de Deus e
de sua absorção na imanência da história humana.
7. Privilegiar deste modo a dimensão política, é o mesmo que ser levado a negar a radical
novidade do Novo Testamento e, antes de tudo, a desconhecer a pessoa de Nosso Senhor
Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, bem como o caráter específico da
libertação que Ele nos traz e que é fundamentalmente libertação do pecado, fonte de todos
os males.
8. Aliás, pôr de lado a interpretação autorizada do Magistério, denunciada como
interpretação de classe, é afastar-se automaticamente da Tradição. É, par isso mesmo,
privar-se de um critério teológico essencial para a interpretação e acolher no vazio assim
criado, as teses mais radicais da exegese racionalista. Retoma-se, então, sem espírito
crítico, a oposição entre o « Jesus da história » e o « Jesus da fé ».
9. Conserva-se, sem dúvida, a letra das fórmulas da fé, especialmente a de Calcedônia,
mas atribui-se a essas fórmulas uma nova significação, que constitui uma negação da fé
da Igreja. De um lado, rejeita-se a doutrina cristológica apresentada pela Tradição, em
nome do critério de classe; e de outro lado, pretende-se chegar ao « Jesus da história » a
partir da experiência revolucionária da luta dos pobres pela sua libertação.
10. Pretende-se reviver uma experiência análoga à que teria sido a de Jesus. A experiência
dos pobres lutando por sua libertação, que teria sido a de Jesus, e só ela, revelaria assim
o conhecimento do verdadeiro Deus e do Reino.
11. É claro que a fé no Verbo encarnado, morto e ressuscitado por todos os homens, a
Quem « Deus fez Senhor e Cristo »[25] é negada. Toma o seu lugar uma « figura » de
Jesus, uma espécie de símbolo que resume em si mesmo as exigências da luta dos
oprimidos.
12. Propõe-se assim uma interpretação exclusivamente política da morte de Cristo. Nega-
se desta maneira seu valor salvífico e toda a economia da redenção.
13. A nova interpretação atinge assim todo o conjunto do mistério cristão.
14. De um modo geral, ela opera o que se poderia chamar de inversão dos símbolos.
Assim, em lugar de ver no Êxodo com São Paulo, uma figura do batismo,[26] se tenderá
ao extremo de fazer deste um símbolo da libertação política do povo.
15. Pelo mesmo critério hermenêutico, aplicado à vida eclesial e à constituição
hierárquica da Igreja, as relações entre a hierarquia e a « base » tornam-se relações de
dominação que obedecem à lei da luta de classes. A sacramentalidade, que está na raiz
dos ministérios eclesiásticos e que faz da Igreja uma realidade espiritual que não se pode
reduzir a uma análise puramente sociológica, é simplesmente ignorada.
16. Verifica-se ainda a inversão dos símbolos no domínio dos sacramentos. A Eucaristia
não é mais entendida na sua verdade de presença sacramental do sacrifício reconciliador
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e como dom do Corpo e do Sangue de Cristo. Torna-se celebração do povo na sua luta.
Por conseguinte, a unidade da Igreja é radicalmente negada. A unidade, a reconciliação,
a comunhão no amor não mais são concebidas como um dom que recebemos de
Cristo.[27] É a classe histórica dos pobres que, mediante o combate, construirá a unidade.
A luta de classes é o caminho desta unidade. A Eucaristia torna-se, deste modo, Eucaristia
de classe. Nega-se também, ao mesmo tempo a força triunfante do amor de Deus que nos
é dado.
XI - ORIENTAÇÕES
1. Chamar a atenção para os graves desvios que algumas « teologias da libertação »
trazem consigo não deve, de modo algum, ser interpretado como uma aprovação, ainda
que indireta, aos que contribuem para a manutenção da miséria dos povos, aos que dela
se aproveitam, aos que se acomodam ou aos que ficam indiferentes perante esta miséria.
A Igreja, guiada pelo Evangelho da Misericórdia e pelo amor ao homem, escuta o clamor
pela justiça[28] e deseja responder com todas as suas forças.
2. Um imenso apelo é assim dirigido à Igreja. Com audácia e coragem, com clarividência
e prudência, com zelo e força de ânimo, com um amor aos pobres que vai até ao sacrifício,
os pastores, como muitos já fazem, hão-de considerar como tarefa prioritária responder a
este apelo.
3. Todos aqueles, sacerdotes, religiosos e leigos que, auscultando o clamor pela justiça,
quiserem trabalhar na evangelização e na promoção humana, fá-lo-ão em comunhão com
seu bispo e com a Igreja, cada um na linha de sua vocação eclesial específica.
4. Conscientes do carácter eclesial de sua vocação, os teólogos colaborarão lealmente e
em espírito de diálogo com o Magistério da Igreja. Saberão reconhecer no Magistério um
dom de Cristo à sua Igreja[29] e acolherão a sua palavra e as suas orientações com
respeito filial.
5. Somente a partir da tarefa evangelizadora, tomada em sua integralidade, se
compreendem as exigências de uma promoção humana e de uma libertação autênticas.
Esta libertação tem como pilares indispensáveis, a verdade sobre Jesus Cristo, o
Salvador, a verdade sobre a Igreja, a verdade sobre o homem e sobre a sua
dignidade.[30] É à luz das bem-aventuranças, da bem-aventurança dos pobres de coração
em primeiro lugar, que a Igreja, desejosa de ser no mundo inteiro a Igreja dos pobres,
quer servir a nobre causa da verdade e da justiça. Ela se dirige a cada homem e, por isso
mesmo, a todos os homens. Ela é a « Igreja universal. A Igreja do mistério da encarnação.
Não é a Igreja de uma classe ou de uma só casta. Ela fala em nome da própria verdade.
Esta verdade é realista ». Ela leva a ter em conta « cada realidade humana, cada injustiça,
cada tensão, cada luta ».[31]
6. Uma defesa eficaz da justiça deve apoiar-se na verdade do homem, criado à imagem
de Deus e chamado à graça da filiação divina. O reconhecimento da verdadeira relação
do homem com Deus constitui o fundamento da justiça, enquanto regula as relações entre
os homens. Esta é a razão pela qual o combate pelos direitos do homem, que a Igreja não
cessa de promover, constitui o autêntico combate pela justiça.
7. A verdade do homem exige que este combate seja conduzido por meios que estejam de
acordo com a dignidade humana. Por isso o recurso sistemático e deliberado à violência
cega, venha essa de um lado ou de outro, deve ser condenado.[32] Pôr a confiança em
meios violentos na esperança de instaurar uma maior justiça é ser vítima de uma ilusão
fatal. Violência gera violência e degrada o homem. Rebaixa a dignidade do homem na
pessoa das vítimas e avilta esta mesma dignidade naqueles que a praticam.
8. A urgência de reformas radicais que incidam sobre estruturas que segregam a miséria
e constituem, por si mesma, formas de violência, não pode fazer perder de vista que a
fonte da injustiça se encontra no coração dos homens. Não se obterão pois mudanças
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sociais que estejam realmente ao serviço do homem senão fazendo apelo às capacidades
éticas da pessoa e à constante necessidade de conversão interior.[33] Pois na medida em
que colaborarem livremente, por sua própria iniciativa e em solidariedade, nestas
necessárias mudanças, os homens, despertados no sentido de sua responsabilidade,
crescerão em humanidade. A inversão entre moralidade e estruturas é própria de uma
antropologia materialista, incompatível com a verdade do homem.
9. É pois igualmente ilusão fatal crer que novas estruturas darão origem por si mesmas a
um « homem novo », no sentido da verdade do homem. O cristão não pode desconhecer
que o Espírito Santo que nos foi dado é a fonte de toda verdadeira novidade e que Deus é
o senhor da história.
10. A derrubada, por meio da violência revolucionária, de estruturas geradoras de
injustiças não é pois ipso facto o começo da instauração de um regime justo. Um fato
marcante de nossa época deve ocupar a reflexão de todos aqueles que desejam
sinceramente a verdadeira libertação dos seus irmãos. Milhões de nossos contemporâneos
aspiram legitimamente a reencontrar as liberdades fundamentais de que estão privados
por regimes totalitários e ateus, que tomaram o poder por caminhos revolucionários e
violentos, exatamente em nome da libertação do povo. Não se pode desconhecer esta
vergonha de nosso tempo: pretendendo proporcionar-lhes liberdade, mantêm-se nações
inteiras em condições de escravidão indignas do homem. Aqueles que, talvez por
inconsciência, se tornam cúmplices de semelhantes escravidões, traem os pobres que eles
quereriam servir.
11. A luta de classes como caminho para uma sociedade sem classes é um mito que
impede as reformas e agrava a miséria e as injustiças. Aqueles que se deixam fascinar por
este mito deveriam refletir sobre as experiências históricas amargas às quais ele conduziu.
Compreenderiam então que não se trata, de modo algum, de abandonar uma via eficaz de
luta em prol dos pobres em troca de um ideal desprovido de efeito. Trata-se, pelo
contrário, de libertar-se de uma miragem para se apoiar no Evangelho e na sua força de
realização.
12. Uma das condições para uma necessária retificação teológica é a revalorização
do magistério social da Igreja. Este magistério não é, de modo algum, fechado. É, ao
contrário, aberto a todas as novas questões que não deixam de surgir no decorrer dos
tempos. Nesta perspectiva, a contribuição dos teólogos e dos pensadores de todas as
regiões do mundo para a reflexão da Igreja é hoje indispensável.
13. Do mesmo modo, a experiência daqueles que trabalham diretamente na evangelização
e na promoção dos pobres e dos oprimidos é necessária à reflexão doutrinal e pastoral da
Igreja. Neste sentido é preciso tomar consciência de certos aspectos da verdade a partir
da praxis, se por praxis se entende a prática pastoral e uma prática social que conserva
sua inspiração evangélica.
14. O ensino da Igreja em matéria social proporciona as grandes orientações éticas. Mas
para que possa atingir diretamente a ação, ele precisa de pessoas competentes, do ponto
de vista científico e técnico, bem como no domínio das ciências humanas e da política.
Os pastores estarão atentos à formação destas pessoas competentes, profundamente
impregnadas pelo Evangelho. São aqui visados, em primeiro lugar, os leigos, cuja missão
específica é a de construir a sociedade.
15. As teses das « teologias da libertação » estão sendo largamente difundidas, sob uma
forma ainda simplificada, nos cursos de formação ou nas comunidades de base, que
carecem de preparação catequética e teológica e de capacidade de discernimento. São
assim aceitas, por homens e mulheres generosos, sem que seja possível um juízo crítico.
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16. É por isso que os pastores devem vigiar sobre a qualidade e o conteúdo da catequese
e da formação que devem sempre apresentar a integralidade da mensagem da salvação e
os imperativos da verdadeira libertação humana, no quadro desta mensagem integral.
17. Nesta apresentação integral do mistério cristão, será oportuno acentuar os aspectos
essenciais que as « teologias da libertação » tendem especialmente a desconhecer ou
eliminar: transcendência e gratuidade da libertação em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro homem; soberania de sua graça; verdadeira natureza dos meios de salvação, e
especialmente da Igreja e dos sacramentos. Tenham-se presentes a verdadeira
significação da ética, para a qual a distinção entre o bem e o mal não pode ser relativizada;
o sentido autêntico do pecado; a necessidade da conversão e a universalidade da lei do
amor fraterno. Chame-se a atenção contra uma politização da existência, que,
desconhecendo ao mesmo tempo a especificidade do Reino de Deus e a transcendência
da pessoa, acaba sacralizando a política e abusando da religiosidade do povo em proveito
de iniciativas revolucionárias.
18. É frequente dirigir aos defensores da « ortodoxia » a acusação de passividade, de
indulgência ou de cumplicidade culpáveis frente a situações intoleráveis de injustiça e de
regimes políticos que mantêm estas situações. A conversão espiritual, a intensidade do
amor a Deus e ao próximo, o zelo pela justiça e pela paz, o sentido evangélico dos pobres
e da pobreza, são exigidos a todos, especialmente aos pastores e aos responsáveis. A
preocupação pela pureza da fé não subsiste sem a preocupação de dar a resposta de um
testemunho eficaz de serviço ao próximo e, em especial, ao pobre e ao oprimido, através
de uma vida teologal integral. Pelo testemunho de sua capacidade de amar, dinâmica e
construtiva, os cristãos lançarão, sem dúvida, as bases desta « civilização do amor » de
que falou, depois de Paulo VI, a Conferência de Puebla.[34] De resto, são numerosos os
sacerdotes, religiosos ou leigos, que se consagram de um modo verdadeiramente
evangélico à criação de uma sociedade justa.
CONCLUSÃO
As palavras de Paulo VI, na Profissão de fé do povo de Deus, exprimem, com meridiana
clareza, a fé da Igreja, da qual ninguém pode afastar-se sem provocar, juntamente com a
ruína espiritual, novas misérias e novas escravidões.
« Nós professamos que o Reino de Deus iniciado aqui na terra, na Igreja de Cristo, não é
deste mundo, cuja figura passa, e que seu crescimento próprio não se pode confundir com
o progresso da civilização, da ciência ou da técnica humanas, mas consiste em conhecer
cada vez mais profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar cada vez mais
corajosamente os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao amor de
Deus e em difundir cada vez mais amplamente a graça e a santidade entre os homens.
Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constantemente com o bem
temporal dos homens. Não cessando de lembrar a seus filhos que eles não têm aqui na
terra uma morada permanente, anima-os também a contribuir, cada qual segundo a sua
vocação e os meios de que dispõem, para o bem de sua cidade terrestre, a promover a
justiça, a paz e a fraternidade entre os homens, a prodigalizar-se na ajuda aos irmãos,
sobretudo aos mais pobres e mais infelizes. A intensa solicitude da Igreja, esposa de
Cristo, pelas necessidades dos homens, suas alegrias e esperanças, seus sofrimentos e
seus esforços, nada mais é do que seu grande desejo de lhes estar presente para os iluminar
com a luz de Cristo e reuni-los todos nele, seu único Salvador. Esta solicitude não pode,
em hipótese alguma, comportar que a própria Igreja se conforme às coisas deste mundo,
nem que diminua o ardor da espera pelo seu Senhor e pelo Reino eterno ».[35]
O Sumo Pontífice João Paulo 11, no decorrer de uma Audiência concedida ao Cardeal
Prefeito que subscreve este documento, aprovou a presente Instrução, deliberada em
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INTRODUÇÃO
Aspirações à liberdade
1. A consciência da liberdade e da dignidade do homem, conjugada com a afirmação dos
direitos inalienáveis da pessoa e dos povos, é uma das características predominantes do
nosso tempo. Ora, a liberdade exige condições de ordem económica, social, política e
cultural que tornem possível o seu pleno exercício. A viva percepção dos obstáculos que
a impedem de se desenvolver e ofendem a dignidade humana encontra-se na origem dás
fortes aspirações à libertação que hoje fermentam em nosso mundo.
A Igreja de Cristo faz suas tais aspirações, ao mesmo tempo em que exerce seu
discernimento à luz do Evangelho que, por sua própria natureza, é mensagem de liberdade
e de libertação. Com efeito, essas aspirações assumem, às vezes, nos níveis quer teórico
quer prático, expressões nem sempre conformes com a verdade do homem, tal como esta
se manifesta à luz da sua criação e da sua redenção. Por isso, a Congregação para a
Doutrina da Fé julgou necessário chamar a atenção para « desvios, ou riscos de desvios,
prejudiciais à fé e à vida cristã ».1 Longe de terem perdido valor, aquelas advertências
mostram-se cada vez mais pertinentes e oportunas.
Finalidade da Instrução
2. A Instrução « Libertatis Nuntius » acerca de alguns aspectos da teologia da
libertação anunciava que a Congregação tencionava publicar un segundo documento, que
poria em evidência os principais elementos da doutrina cristã acerca da liberdade e da
libertação. A presente Instrução responde a esse intento. Entre os dois documentos existe
uma relação orgânica. Devem ser lidos um à luz do outro.
Sobre o tema deles, presente na medula da mensagem evangélica, o Magistério da Igreja
tem se manifestado em numerosas ocasiões.2 O atual documento limita-se a indicar os
seus principais aspectos teóricos e práticos. Quanto às aplicações que dizem respeito às
diversas situações locais, compete às Igrejas particulares, em comunhão entre elas e com
a Sé de Pedro, providenciá-las diretamente.3
O tema da liberdade e da libertação tem uma evidente dimensão ecuménica. Com efeito,
ele pertence ao património tradicional das Igrejas e comunidades eclesiais. Por isso
mesmo o presente documento pode ajudar o testemunho e a ação de todos os discípulos
de Cristo, chamados a responder aos grandes desafios do nosso tempo.
A verdade que nos liberta
3. A palavra de Jesus: «A verdade vos libertará » (Jo 8, 32) deve iluminar e guiar, neste
terreno, todas as reflexões teológicas e todas as decisões pastorais.
Essa verdade, que vem de Deus, tem o seu centro em Jesus Cristo, Salvador do
mundo.4 D'Ele, que é « o Caminho, a Verdade e a Vida » (Jo 14, 6), a Igreja recebe aquilo
que ela oferece aos homens. No mistério do Verbo encarnado e redentor do mundo, ela
vai buscar a verdade sobre ó Pai e seu amor por nós como a verdade sobre o homem e
sobre a sua liberdade.
Por sua cruz e ressurreição, Cristo realizou a nossa redenção: esta é a liberdade em seu
sentido mais forte, já que ela nos libertou do mal mais radical, isto é, do pecado e do poder
da morte. Quando a Igreja, instruída por seu Senhor, eleva a sua oração ao Pai: « livrai-
nos do mal », ela está suplicando que o mistério da salvação se manifeste, com potência,
na nossa existência de cada dia. Ela sabe que a cruz redentora é, verdadeiramente, a fonte
da luz e da vida e o centro da história. A caridade que a inflama faz com que proclame a
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ocasião a uma nova reivindicação de libertação. Como impedir que a potência tecnológica
não se torne um poder de opressão de grupos humanos ou de povos inteiros?
Individualismo e coletivismo
13. Na área das conquistas sociais e políticas, uma das ambigüidades fundamentais da
afirmação da liberdade, no século das Luzes, está ligada à concepção do sujeito dessa
liberdade como indivíduo que se basta a si mesmo e tendo com fim a satisfação de seu
interesse próprio no gozo dos bens terrestres. A ideologia individualista inspirada por tal
concepção do homem favoreceu, nos inícios da era industrial, a desigual repartição das
riquezas, a um ponto tal que os trabalhadores viram-se excluídos do acesso aos bens
essenciais, para cuja produção tinham contribuído e aos quais tinham direito. Daí
nasceram pujantes movimentos de libertação da miséria mantida pela sociedade
industrial.
Cristãos – leigos e pastores – não deixaram de lutar por um reconhecimento equitativo
dos legítimos direitos dos trabalhadores. Em favor dessa causa, o Magistério da Igreja
elevou a sua voz, em diversas ocasiões.
Muito frequentemente, porém, a justa reivindicação do movimento operário conduziu a
novas servidões, por inspirar-se em concepções que, ignorando a vocação transcendente
da pessoa humana, atribuíam ao homem um fim meramente terrestre. Algumas vezes, ela
voltou-se para projetos coletivistas, que gerariam injustiças tão graves quanto às que
pretendiam pôr um fim.
Novas formas de opressão
14. Dessa forma, a nossa época viu nascer os sistema totalitários e formas de tirania, que
não teriam sido possíveis em épocas anteriores à expansão tecnológica. Por um lado, a
perfeição tecnológica foi aplicada em genocídios. Por outro lado, praticando o terrorismo,
que causa a morte de inúmeros inocentes, minorias pretendem derrotar inteiras nações.
O controle, hoje, pode insinuar-se até no interior dos indivíduos; e mesmo as
dependências criadas pelos sistemas de prevenção podem representar potenciais ameaças
de opressão. Uma falsa libertação das coações da sociedade é procurada no recurso à
droga, que, no mundo todo, leva muitos jovens à autodestruição, lançando famílias
inteiras na angústia e na dor.
Riscos de destruição total
15. Torna-se cada vez mais débil o reconhecimento de uma ordem jurídica como garantia
do relacionamento dentro da grande família dos povos. Quando a confiança no direito
não parece mais oferecer uma proteção suficiente, busca-se a segurança e a paz em uma
ameaça recíproca, que se torna um risco para toda a humanidade. As forças que deveriam
servir ao desenvolvimento da liberdade servem para aumentar as ameaças. Os
instrumentos de morte que se opõem, hoje, são capazes de destruir toda a vida humana
sobre a terra.
Novas relações de desigualdade
16. Entre as nações dotadas de poderio e as que dele são privadas instalaram-se novas
relações de desigualdade e de opressão. A busca do interesse próprio parece ser a regra
das relações internacionais, sem que se leve em consideração o bem comum da
humanidade.
O equilíbrio interno das nações pobres é rompido pela importação das armas,
introduzindo nelas um fator de divisão que conduz ao domínio de um grupo sobre outro.
Que forças poderiam eliminar o recurso sistemático às armas, restituindo ao direito a sua
autoridade?
Emancipação das nações jovens
17. É no contexto da desigualdade das relações de força que apareceram os movimentos
de emancipação das nações jovens, geralmente nações pobres, ainda recentemente
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Abre-se diante de nós uma nova fase da história da liberdade. As capacidades libertadoras
da ciência, da técnica, do trabalho, da economia e da ação política, só darão frutos se
encontrarem sua inspiração e medida na verdade e no amor mais fortes do que o
sofrimento, revelados aos homens por Jesus Cristo.
CAPÍTULO II
VOCAÇÃO DO HOMEM À LIBERDADE E DRAMA DO PECADO
I. Primeiras abordagens da liberdade
Uma resposta espontânea
25. A resposta espontânea à pergunta: « O que é ser livre?», é a seguinte: é livre aquele
que pode fazer unicamente o que quiser, sem ser impedido por coação externa e que, por
conseguinte, goza de plena independência. O contrário da liberdade seria, assim, a
dependência de nossa vontade à uma vontade estranha.
Mas o homem sabe sempre o que quer? Pode tudo o que deseja? É conforme à natureza
do homem limitar-se ao próprio eu, separando-se da vontade de outrem? Frequentemente,
a vontade de um momento não é a vontade real. E no mesmo homem podem coexistir
vontades contraditórias. Mas, sobretudo, o homem defronta-se com os limites da sua
própria natureza: ele sempre quer mais do que pode. Dessa forma, o obstáculo que se
opõe ao seu querer nem sempre provém de fora, mas dos limites do seu ser. Por isso, sob
pena de se destruir, o homem deve aprender a conciliar a sua vontade com a sua natureza.
Verdade e justiça, regras da liberdade
26. Além disso, cada homem é orientado para os outros homens e tem necessidade da sua
sociedade. Somente aprendendo á pôr de acordo a sua vontade com a dos outros, em vista
de um bem verdadeiro, ele fará o aprendizado da retidão do querer. É, pois, a harmonia
com as exigências da natureza humana que torna humana a vontade. Com efeito, esta
exige o critério da verdade e uma relação justa com a vontade dos outros. Verdade e
justiça são, assim, a medida da verdadeira liberdade. Afastando-se desse fundamento, o
homem, ao tomar-se por Deus, cai na mentira e, ao invés de se realizar, destrói-se.
Longe de cumprir-se em uma total autonomia do eu e na ausência de relações, a liberdade
só existe verdadeiramente quando laços recíprocos, regidos pela verdade e pela justiça,
unem as pessoas. Mas para que tais laços sejam possíveis, cada um, pessoalmente, deve
ser verdadeiro.
A liberdade não é liberdade de fazer não importa o quê; ela é liberdade para o Bem, o
único em que reside a Felicidade. O Bem é também a sua finalidade. Por conseguinte, o
homem torna-se livre na medida em que tem acesso ao conhecimento do verdadeiro e que
este último conhecimento, e não qualquer outra força, guie a sua vontade. A libertação
em vista de um conhecimento da verdade que – única – dirige a vontade é condição
necessária para uma liberdade digna desse nome.
II. Liberdade e libertação
Uma liberdade de criatura
27. Em outras palavras, a liberdade que é controle interno de seus próprios atos e é auto-
determinação, implica imediatamente uma relação com a ordem ética. Ela encontra seu
verdadeiro sentido na escolha do bem moral. Manifesta-se, então, como um resgate em
relação ao mal moral.
Por sua ação livre, o homem deve tender para o Bem supremo, através dos bens conformes
às exigências da sua natureza e de acordo com a sua vocação divina.
Exercendo a sua liberdade, ele decide sobre si mesmo e se forma. Nesse sentido, o homem
é causa de si mesmo. Mas ele o é a título de criatura e de imagem de Deus. Tal é a verdade
do seu ser, que manifesta, por contraste, o que têm de profundamente erróneo as teorias
que crêem exaltar a liberdade do homem ou a sua « praxis histórica », fazendo dela o
princípio absoluto do seu ser e do seu devir. Essas teorias são expressões do ateísmo, ou
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realização da sua personalidade livre. Ao contrário, uma ordem social injusta é uma
ameaça e um obstáculo que podem comprometer o seu destino.
Na esfera social, a liberdade se exprime e se realiza em ações, estruturas e instituições,
graças às quais os homens comunicam-se entre si e organizam a sua vida comum. O
desenvolvimento de uma personalidade livre, que é um direito e um dever de todos, deve
ser ajudado e não obstaculizado pela sociedade.
Trata-se de uma exigência de natureza moral, que encontrou a sua expressão na
formulação dos Direitos do Homem. Entre eles, alguns têm por objeto o que se
convencionou chamar « as liberdades », isto é, maneiras de se reconhecer a cada ser
humano o seu caráter de pessoa responsável por ela mesma e por seu destino
transcendente, como também de reconhecer a inviolabilidade da sua consciência.21
Dimensões sociais do homem e glória de Deus
33. A dimensão social do ser humano assume ainda uma outra significação: somente a
pluralidade e a rica diversidade dos homens podem exprimir algo da riqueza infinita de
Deus.
Enfim, essa dimensão é chamada a encontrar a sua realização no Corpo de Cristo, que é
a Igreja. Por isso, a vida social, na variedade das suas formas e na medida em que é
conforme à lei divina, constitui um reflexo da glória de Deus no mundo.22
IV. Liberdade do homem e domínio da natureza
Vocação do homem: «dominar» a natureza
34. Juntamente com a sua dimensão corporal, o homem tem necessidade dos recursos do
mundo material para a sua realização pessoal e social. Nesta vocação de dominar a terra,
submetendo-a ao seu serviço pelo trabalho, pode-se reconhecer um traço da imagem de
Deus.23 Mas a intervenção humana não é « criadora »; ela depara-se com uma natureza
material que, como ela, tem a sua origem em Deus Criador e da qual o homem foi
constituído « nobre e sábio guardião ».24
O homem, senhor de suas atividades
35. As transformações técnicas e econômicas repercutem sobre a organização da vida
social; elas não deixam de influir, em uma certa medida, sobre a vida cultural e sobre a
própria vida religiosa.
No entanto, por sua liberdade, o homem permanece senhor de sua atividade. As grandes
e rápidas transformações da época contemporânea apresentam-lhe um dramático desafio:
o do domínio e controle, mediante a razão e a liberdade, sobre as forças que ele
desencadeia ao serviço das verdadeiras finalidades humanas.
Descobertas científicas e progresso moral
36, Compete, pois, à liberdade bem orientada fazer com que as conquistas científicas e
técnicas, a procura de sua eficácia, os produtos do trabalho e as próprias estruturas da
organização económica e social, não sejam submetidos a projetos que os privem de suas
finalidades humanas, fazendo-os voltarem-se contra o próprio homem.
A atividade científica e a atividade técnica comportam, cada uma, exigências específicas.
Entretanto, elas só alcançam o seu significado e o seu valor propriamente humanos,
quando subordinadas aos valores morais. Essas exigências devem ser respeitadas; mas
querer atribuir-lhes uma autonomia absoluta e obrigatória, não conforme à natureza das
coisas, é entrar em um caminho que leva à ruína a autêntica liberdade do homem.
V. O pecado, fonte de divisão e de opressão
O pecado separação de Deus
37. Deus chama o homem para a liberdade. Em cada homem é viva a vontade de ser livre.
E, no entanto, tal vontade quase sempre leva à escravidão e à opressão. Qualquer empenho
pela libertação e pela liberdade supõe, pois, que se tenha enfrentado esse dramático
paradoxo.
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O pecado do homem, isto é, a sua ruptura com Deus, é a razão radical das tragédias que
marcam a história da liberdade. Para compreendê-lo, muitos de nossos contemporâneos
deverão, primeiramente, redescobrir o sentido do pecado.
No anseio de liberdade do homem esconde-se a tentação de renegar a sua própria
natureza. Na medida em que deseja tudo querer e tudo poder, esquecendo-se, assim, de
que é finito e criado, ele pretende ser um deus. « Sereis como Deus » (Gn 3, 5). Essa
palavra da serpente manifesta a essência da tentação do homem; ela comporta a perversão
do sentido da sua própria liberdade. Tal é a natureza profunda do pecado: o homem
separa-se da verdade, impondo-lhe a sua vontade. Querendo libertar-se de Deus e ser, ele
mesmo, um deus, engana-se e se destrói. Aliena-se de si mesmo.
Neste querer ser deus e tudo submeter a seu prazer pessoal esconde-se uma perversão da
ideia mesma de Deus. Deus é amor e verdade na plenitude do dom recíproco das Pessoas
divinas. O homem é chamado a ser como Deus, é verdade. Entretanto, ele se torna
semelhante a Deus não no arbitrário do seu querer, mas na medida em que reconhece a
verdade e o amor como o princípio e a finalidade da sua liberdade.
O pecado, raiz das alienações humanas
38. Ao pecar, o homem mente a si mesmo e separa-se da sua verdade. Buscando a total
autonomia e a auto-suficiência, ele nega Deus e nega-se a si mesmo. A alienação com
relação à verdade do seu ser de criatura amada por Deus é a raiz de todas as outras
alienações.
Negando, ou tentando negar Deus, seu Princípio e seu Fim, o homem altera
profundamente a sua ordem e o seu equilíbrio interior, os da sociedade e até mesmo os
da criação visível.25
É em conexão com o pecado que a Escritura considera o conjunto das calamidades que
oprimem o homem em seu ser individual e social.
Ela mostra como todo o curso da história mantém uma ligação misteriosa como agir do
homem que, desde a origem, abusou da sua liberdade erguendo-se contra Deus e
procurando alcançar os seus fins fora d’Ele.26 No caráter penoso do trabalho e da
maternidade, no domínio do homem sobre a mulher e na morte, o livro do Génesis indica
as consequências do pecado original. Os homens privados da graça divina herdaram,
dessa forma, uma natureza comum mortal, incapaz de se fixar no bem, e inclinada à
cobiça.27
Idolatria e desordem
39. A idolatria é uma forma extrema da desordem gerada pelo pecado. A substituição da
adoração do Deus vivo pelo culto da criatura falseia as relações entre os homens e arrasta
consigo diversas formas de opressão.
O desconhecimento culpável de Deus desencadeia as paixões, causas de desequilíbrio e
de conflitos no íntimo do homem. Daí derivam inevitavelmente as desordens que afetam
a esfera familiar e social: licenciosidade sexual, injustiça, homicídio. É assim que São
Paulo descreve o mundo pagão, levado pela idolatria às piores aberrações que arruínam
o indivíduo e a sociedade.28
Já antes dele, os Profetas e os Sábios de Israel viam nas desgraças do povo um castigo do
seu pecado de idolatria, e no « coração cheio de maldade » (Ec 9, 3),29 a fonte da radical
escravidão do homem e das opressões que ele inflige aos seus semelhantes.
Desprezar Deus e voltar-se para as criaturas
40. A tradição cristã, nos Padres e Doutores da Igreja explicitou esta doutrina da Escritura
acerca do pecado. Para ela, o pecado e desprezo de Deus (contemptus Dei). Ele comporta
a vontade de fugir da relação de dependência do servidor para com seu senhor ou, mais
ainda, do filho para com seu Pai. Pecando, o homem pretende livrar-se de Deus. Na
realidade, ele torna-se escravo. Pois, ao recusar Deus, quebra o impulso da sua aspiração
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Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
ao infinito e da sua vocação à participação da vida divina. É por isso que seu coração fica
entregue à inquietação.
O homem pecador que recusa de aderir a Deus, é conduzido, necessariamente, a se ligar
à criatura, de um modo falacioso e destruidor. Neste voltar-se para a criatura (conversio
ad creaturam), ele concentra sobre essa o seu insatisfeito desejo de infinito. Mas os bens
criados são limitados; por isso mesmo, seu coração corre de um para outro, sempre em
busca de uma paz impossível.
Na realidade, quando atribui às criaturas um peso de infinitude, o homem perde o sentido
do seu ser criado. Ele pretende encontrar o seu centro e a sua unidade em si mesmo. O
amor desordenado de si é a outra face do desprezo de Deus. O homem pretende, então,
apoiar-se em si mesmo somente; ele quer realizar-se a si mesmo, bastando-se na sua
própria imanência.30
O ateísmo falsa emancipação da liberdade
41. Isto torna-se mais particularmente manifesto quando o pecador julga só poder afirmar
a sua liberdade própria, quando explicitamente negar Deus. A dependência da criatura
para com o Criador ou a da consciência moral com relação à lei divina seriam, para ele,
intoleráveis servidões. O ateísmo é, pois, aos seus olhos, a verdadeira forma de
emancipação e de libertação do homem, enquanto a religião ou mesmo o reconhecimento
de uma lei moral seriam alienações. O homem quer, então, decidir soberanamente acerca
do bem e do mal, ou acerca dos valores, e, com um mesmo movimento, rejeita ao mesmo
tempo a ideia de Deus e a ideia de pecado. É através da audácia da transgressão que ele
pretende tornar-se adulto e livre. Ele reivindica tal emancipação não apenas para si, mas
para a humanidade inteira.
Pecado e estruturas de injustiça
42. Tornando-se seu próprio centro, o homem pecador tende a se afirmar e a satisfazer
seu desejo de infinito, servindo-se das coisas: riquezas, poderes e prazeres, em
menosprezo dos outros homens que ele despoja injustamente e trata como objetos ou
instrumentos. Assim, contribui, por sua parte, para a criação daquelas estruturas de
exploração e de servidão que, por outro lado, ele pretende denunciar.
CAPÍTULO III
LIBERTAÇÃO E LIBERDADE CRISTÃ
Evangelho, liberdade e libertação
43. A história humana, marcada pela experiência do pecado, levar-nos-ia ao desespero,
se Deus tivesse abandonado sua criatura a ela mesma. Mas as promessas divinas de
libertação e o seu vitorioso cumprimento na morte e ressurreição de Cristo são o
fundamento da « alegre esperança » na qual a comunidade cristã busca a força para agir
resoluta e eficazmente ao serviço do amor, da justiça e da paz. O Evangelho é uma
mensagem de liberdade e uma força de libertação 31 que realiza a esperança de Israel,
fundada sobre a palavra dos Profetas. Esta apoiava-se na ação de Javé que, antes mesmo
de intervir como « goél »,32 libertador, redentor, salvador do seu Povo, escolhera-o
gratuitamente em Abraão.33
I. A libertação no Antigo Testamento
O Êxodo e as intervenções libertadoras de Javé
44. No Antigo Testamento, a ação libertadora de Javé, que serve de modelo e referência
a todas as outras, é o Êxodo do Egito, « casa de servidão ». Se Deus arranca seu Povo de
uma dura escravidão económica, política e cultural, é para fazer dele, através de Aliança
do Sinai, « um reino de sacerdotes e uma nação santa » (Ex 19, 6). Deus quer ser adorado
por homens livres. Todas as libertações ulteriores do Povo de Israel tendem a conduzi-lo
a essa liberdade em plenitude que ele só pode encontrar na comunhão com o seu Deus.
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56. O amor cristão, gratuito e universal, recebe a sua natureza do amor de Cristo que deu
a sua vida por nós: « Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros » (Jo 13, 34-
35).73 Tal é o « mandamento novo » para os discípulos.
À luz desse mandamento, São Tiago lembra severamente aos ricos o seu dever74 e São
João afirma que quem possui riquezas deste mundo e fecha o seu coração a seu irmão que
passa necessidade, não pode ter o amor de Deus vivendo nele.75 O amor do irmão é a
pedra de toque do amor de Deus: « Quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem
não vê, não poderá amar » (1 Jo 4, 20). São Paulo sublinha, com energia, o laço existente
entre a participação no sacramento do Corpo e Sangue de Cristo e a partilha com o irmão
que se encontra em necessidade.76
Justiça e caridade
57. O amor evangélico e a vocação de filho de Deus, à qual todos os homens são
chamados, têm como consequência a exigência, direta e imperativa, do respeito de cada
ser humano em seus direitos à vida e à dignidade. Não existe distância entre o amor do
próximo e a vontade de justiça. Opor amor e justiça seria desnaturar a ambos. Mais ainda,
o sentido da misericórdia completa o da justiça, impedindo a esta última de se fechar no
círculo da vingança.
As desigualdades iníquas e todas as formas de opressão, que hoje atingem milhões de
homens e de mulheres, estão em aberta contradição com o Evangelho de Cristo e não
podem deixar tranquila a consciência de nenhum cristão.
A Igreja, na sua docilidade ao Espírito, avança fielmente pelos caminhos da libertação
autêntica. Seus membros têm consciência de suas falhas e de seus recuos nessa busca.
Mas uma multidão de cristãos, desde o tempo dos Apóstolos, tem comprometido suas
forças e sua vida pela libertação de todas as formas de opressão e pela promoção da
dignidade humana. A experiência dos santos e o exemplo das inúmeras obras ao serviço
do próximo constituem um estímulo e uma luz, em vista das iniciativas libertadoras que
hoje se impõem.
V. A Igreja, Povo de Deus na Nova Aliança
Rumo à plenitude da liberdade
58. O Povo de Deus na Nova Aliança é a Igreja de Cristo. Sua lei è o mandamento do
amor. No coração dos seus membros, o Espírito habita como em um templo. Ela é aqui
na terra, germe e começo do Reino de Deus, que receberá a sua realização definitiva no
final dos tempos, com a ressurreição dos mortos e a renovação de toda a criação.77
Possuindo, dessa forma, o penhor do Espírito,78 o Povo de Deus é conduzido à plenitude
da liberdade. A nova Jerusalém que, com fervor, nós esperamos, é chamada, com razão,
cidade da liberdade, em seu sentido mais alto.79 Então, « Deus enxugará toda lágrima dos
seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais.
Sim! As coisas antigas se foram » (Ap 31, 4). A esperança é a expectativa certa dos «
novos céus e nova terra, onde habitará a justiça » (2 Pd 3, 13).
O encontro final com Cristo
59. A transfiguração da Igreja, chegada ao termo da sua peregrinação, é realizada pelo
Cristo ressuscitado e não anula, de forma alguma, o destino pessoal de cada um, ao final
da própria vida. Cada homem, se julgado digno diante do tribunal de Cristo por ter usado
bem o seu livre arbítrio na graça de Deus, alcançará a bem-aventurança.80 Tornar-se-á
semelhante a Deus, pois vê-lo-á tal como Ele é.81 O dom divino da bem-aventurança
eterna é a exaltação da mais alta liberdade que possa conceber.
Esperança escatológica e empenho pela libertação temporal
60. Esta esperança não enfraquece o esforço pelo progresso da cidade terrestre, más, pelo
contrario, dá-lhe sentido e força. Convém, certamente, distinguir cuidadosamente
progresso terrestre e crescimento do Reino, que não são da mesma ordem. Entretanto, tal
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distinção não é uma separação; pois a vocação do homem à vida eterna não suprime e sim
confirma a sua missão de pôr em obra as energias e os meios que recebeu do Criador para
desenvolver a sua vida temporal.82
Iluminada pelo Espírito do Senhor, a Igreja de Cristo pode discernir, nos sinais dos
tempos, os que trazem consigo promessas de libertação e outros, que são enganadores e
ilusórios. Ela convoca os homens e as sociedades a vencer as situações de pecado e de
injustiça, e a estabelecer as condições de uma verdadeira liberdade. Ela tem consciência
de todos estes bens – dignidade humana, união fraterna, liberdade – que constituem o
fruto de esforços coerentes com a vontade de Deus. Encontrá-los-emos « lavados de toda
mancha, iluminados e transfigurados, quando Cristo apresentará ao Pai o reino eterno e
universal »,83 que é um reino de liberdade.
A espera vigilante e ativa da vinda do Reino é também a de uma justiça enfim perfeita,
para os vivos e para os mortos, para os homens de todos os tempos e de todos os lugares,
que Jesus Cristo, como Juiz supremo, instaurará.84 Uma tal promessa, que ultrapassa
todas as possibilidades humanas, diz respeito diretamente à nossa vida neste mundo. Pois
uma verdadeira justiça deve estender-se a todos, respondendo à imensa soma de
sofrimentos suportados por todas as gerações. Na realidade, sem a ressurreição dos
mortos e o julgamento do Senhor, não há justiça, no sentido pleno desse termo, A
promessa de ressurreição vem gratuitamente ao encontro do anseio de verdadeira justiça,
que reside no coração humano.
CAPÍTULO IV
A MISSÃO LIBERTADORA DA IGREJA
A Igreja e as inquietudes do homem
61. A Igreja tem o firme propósito de responder à inquietude do homem contemporâneo,
marcado por duras opressões e desejoso de liberdade. A gestão política e económica da
sociedade não entra diretamente na sua missão.85 Mas o Senhor Jesus confiou-lhe a
palavra da verdade, capaz de iluminar as consciências. O amor divino, que é a sua vida,
leva-a a se fazer realmente solidária com cada homem que sofre. Se seus membros
permanecerem fiéis a essa missão, o Espírito Santo, fonte de liberdade, habitará neles e
produzirão frutos de justiça e de paz em seu ambiente familiar, profissional e social.
I. Pela salvação integral do mundo
As Bem-aventuranças e a força do Evangelho
62. O Evangelho é força da vida eterna, dada desde agora àqueles que o acolhem.86 Mas,
ao gerar homens novos,87 essa força penetra na comunidade humana e na sua história,
purificando e vivificando, assim, as suas atividades. Por isso, ela é « raiz de cultura ».88
As Bem-aventuranças proclamadas por Jesus exprimem a perfeição do amor evangélico.
Elas não cessaram de ser vividas, ao longo da história da Igreja, por numerosos batizados
e, de uma maneira eminente, pelos santos.
As Bem-aventuranças, a partir da primeira, a dos pobres, formam um todo que não deve
ser separado do conjunto do Sermão da Montanha.89 Neste, Jesus, novo Moisés, comenta
o Decálogo, a Lei da Aliança, dando-lhe seu sentido definitivo e pleno. Lidas e
interpretadas na totalidade do seu contexto, as Bem-aventuranças exprimem o espírito do
Reino de Deus que vem. Ms, à luz do destino definitivo da história humana assim
manifestada, aparecem, ao mesmo tempo, com uma mais viva clareza, os fundamentos
da injustiça na ordem temporal.
Pois, ao ensinar a confiança que se apoia em Deus, a esperança da vida eterna, o amor da
justiça, a misericórdia que chega até o perdão e a reconciliação, as Bem-aventuranças
permitem situar a ordem temporal em função de uma ordem transcendente que, longe de
eliminar sua própria consistência, confere-lhe a sua verdadeira medida.
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Jesus e a pobreza
66. Cristo Jesus, sendo rico, fez-se pobre para nos enriquecer por meio de sua
pobreza.95 São Paulo fala, aqui, do mistério da Encarnação do Filho eterno, que veio
assumir a natureza humana mortal para salvar o homem da miséria na qual o pecado o
tinha mergulhado. Mais ainda, na condição humana, Cristo escolheu um estado de
pobreza e de despojamento,96 a fim de mostrar em que consiste a verdadeira riqueza a ser
buscada, a da comunhão de vida com Deus. Ele ensinou o desapego das riquezas da terra
para que se deseje as riquezas do céu.97 Os Apóstolos que escolheu também tiveram que
abandonar tudo e participar do seu despojamento.98
Anunciado pelo Profeta como o Messias dos pobres,99 é entre eles, os humildes, os «
pobres de Javé » sedentos da justiça do Reino, que ele encontrou corações capazes de
acolhê-lo. Mas quis também estar perto daqueles que, mesmo ricos dos bens deste mundo,
eram excluídos da comunidade, como «publicanos e pecadores », pois ele tinha vindo
chamá-los à conversão.100
É uma tal pobreza, feita de desapego, de confiança em Deus, de sobriedade, da disposição
à partilha, que Jesus declarou bem-aventurada.
Jesus e os pobres
67. Mas Jesus não trouxe apenas a graça e a paz de Deus; ele também curou inúmeros
enfermos; teve compaixão da multidão que não tinha o que comer, alimentando-a; com
os discípulos que o seguiam, praticou a esmola.101. A Bem-aventurança da pobreza que
proclamou não significa, pois, absolutamente, que os cristãos podem desinteressar-se dos
pobres desprovidos do necessário à vida humana neste mundo. Fruto e consequência do
pecado dos homens e da sua fragilidade natural, essa miséria é um mal de que é preciso,
tanto quanto possível, libertar os seres humanos.
O amor preferencial pelos pobres
68. Sob as suas múltiplas formas – extrema privação material, opressão injusta,
enfermidades físicas e psíquicas e, por fim, a morte – a miséria humana é o sinal manifesto
da condição nativa de fraqueza na qual o homem se encontra após o primeiro pecado e da
necessidade de uma salvação. É por isso que ela atrai a compaixão de Cristo Salvador,
que quis assumi-la sobre si,102 identificando-se com os « mais pequeninos entre os seus
irmãos » (Mt 25, 40. 45). É também por isso que todos aqueles que ela atinge são objeto
de um amor preferencial por parte da Igreja que, desde as suas origens, apesar das falhas
de muitos dos seus membros, não deixou nunca de se esforçar por aliviá-los, defendê-los
e libertá-los. Ela o faz através de inúmeras obras de beneficência, que continuam a ser,
sempre e por toda a parte, indispensáveis.103 Depois, através da sua doutrina social que se
esforça por aplicar, ela procurou promover mudanças estruturais na sociedade, a fim de
se alcançar condições de vida dignas da pessoa humana.
Pelo desapego das riquezas, que possibilita a partilha e abre ao Reino,104 os discípulos de
Jesus testemunham; através do amor aos pobres e aos infelizes, o próprio amor do Pai,
que se manifestou no Salvador. Esse amor vem de Deus e leva a Deus. Os discípulos de
Cristo sempre reconheceram nos dons depositados sobre o altar um dom oferecido ao
próprio Deus.
Amando os pobres, enfim, a Igreja testemunha a dignidade do homem. Ela afirma
claramente que este vale mais pelo que é do que pelo que possui. Ela testemunha que essa
dignidade não pode ser destruída, seja qual for a situação de miséria, de desprezo, de
rejeição e de impotência a que o homem foi reduzido. Ela mostra-se solidária com aqueles
que não contam para uma sociedade da qual se vêem espiritual e às vezes até mesmo
fisicamente rejeitados. De modo particular, a Igreja volta-se com afeto materno para os
filhos que, por causa da maldade humana, nunca virão à luz, como também para as
pessoas idosas, sós ou abandonadas.
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O mito da revolução
78. Situações de grave injustiça requerem a coragem de reformas em profundidade e a
supressão de privilégios injustificáveis. Porém, os que descrêem do caminho das reformas
em proveito do mito da revolução, não apenas alimentam a ilusão de que a abolição de
uma situação iníqua basta por si mesma para criar uma sociedade mais humana, mas ainda
favorecem o advento de regimes totalitários.117 A luta contra as injustiças só tem sentido
se ela for conduzida para a instauração de uma nova ordem social e política conforme às
exigências da justiça. Esta deve determinar as etapas da sua instauração, já desde o início.
Existe uma moralidade dos meios.118
Um recurso extremo
79. Esses princípios devem ser aplicados especialmente no caso extremo do recurso à luta
armada, indicado pelo Magistério como remédio último para pôr fim a uma « tirania
evidente e prolongada, que atingisse gravemente os direitos fundamentais das pessoas e
prejudicasse perigosamente o bem comum de um país ».119 Entretanto, a aplicação
concreta desse meio não pode ser encarnada, senão após uma análise muito rigorosa da
situação. Com efeito, por causa do contínuo desenvolvimento das técnicas empregadas e
da crescente gravidade dos perigos implicados no recurso à violência, o que hoje vem
sendo chamado de « resistência passiva » abre um caminho mais conforme aos princípios
morais e não menos prometedor de êxito.
Jamais poder-se-ia admitir, nem por parte do poder constituído nem por parte dos grupos
sublevados, o recurso a meios criminosos como as represálias feitas contra a população,
a tortura, os métodos do terrorismo e a provocação calculada para acarretar a morte de
pessoas durante manifestações populares. São igualmente inadmissíveis as odiosas
campanhas de calúnia, capazes de destruir uma pessoa, psíquica e moralmente.
O papel dos leigos
80. Não compete aos Pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na
organização da vida social. Tal tarefa faz parte da vocação dos leigos, agindo por sua
própria iniciativa, juntamente com seus concidadãos.120 Eles devem realizá-la,
conscientes de que a finalidade da Igreja é difundir o Reino de Cristo para que todos os
homens sejam salvos e que, por eles, o mundo seja efetivamente ordenado a Cristo.121
A obra da salvação aparece, pois, indissoluvelmente unida à missão de melhorar e elevar
as condições da vida humana neste mundo.
A distinção entre ordem sobrenatural da salvação e ordem temporal da vida humana deve
ser vista ao interno de um único desígnio de Deus, o de recapitular todas as coisas em
Cristo. É por isso que, em um e outro campo, o leigo, ao mesmo tempo fiel e cidadão,
deve deixar-se guiar constantemente pela consciência cristã.122
A ação social, que pode comportar uma pluralidade de caminhos concretos, terá sempre
em vista o bem comum e será conforme à mensagem e ao eninamento da Igreja. Evitar-
se-á que a diferença de opiniões prejudique o sentido da colaboração, conduza à paralisia
dos esforços ou produza desorientação no povo cristão.
A orientação dada pela doutrina social da Igreja deve estimular a aquisição das
competências técnicas e científicas indispensáveis. Ela estimulará também a busca da
formação moral do caráter e o aprofundamento da vida espiritual. Fornecendo princípios
e conselhos de sabedoria, essa doutrina não dispensa a educação para a prudência política,
indispensável para o governo e gestão das realidades humanas.
II. Exigências evangélicas de transformações em profundidade
Necessidade de uma transformação cultural
81. Um desafio sem precedente é hoje lançado aos cristão que se esforçam por realizar
aquela « civilização do amor » que reúne toda a herança ético-social do Evangelho. Essa
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tarefa exige uma reflexão nova sobre aquilo que constitui a relação entre mandamento
supremo do amor e ordem social, comprendida em toda a sua complexidade.
Finalidade direta de tal reflexão em profundidade é a elaboração e atuação de programas
de ação audaciosos, em vista da libertação socioeconómica de milhões de homens e
mulheres, cuja situação de opressão económica, social e política é intolerável.
Essa ação deve começar por um imenso esforço de educação: educação para a civilização
do trabalho, educação para a solidariedade, acesso de todos à cultura.
Evangelho do trabalho
82. A vida de Jesus em Nazaré, verdadeiro « Evangelho do trabalho », oferece-nos um
vivo exemplo e o princípio da radical transformação cultural indispensável para resolver
os graves problemas que nossa época deve enfrentar. Aquele que, sendo Deus, fez-se
semelhante a nós em tudo, durante a maior parte de sua vida terrena entregou-se a um
trabalho manual.123 A cultura que nossa época espera, será caracterizada pelo pleno
reconhecimento da dignidade do trabalho humano, que aparece em toda a sua nobreza e
fecundidade à luz dos mistérios da Criação e da Redenção.124 Reconhecido como
expressão da pessoa, o trabalho torna-se fonte de sentido e esforço criador.
Uma verdadeira civilização do trabalho
83. Dessa forma, a solução da maioria dos gravíssimos problemas da miséria encontra-se
na promoção de uma verdadeira civilização do trabalho. De certa forma, o trabalho é a
chave de toda a questão social.125
É, pois, no campo do trabalho que deve ser empreendida, prioritariamente, uma ação
evangelizadora na liberdade. Uma vez que a, relação entre pessoa humana e trabalho é
radical e vital, as formas e modalidades que regulamentam tal relação exercerão uma
influência positiva, em vista da solução do conjunto de problemas sociais e políticos que
se apresentam a cada povo. Relações de trabalho justas prefigurarão um sistema de
comunidade política apto a favorecer o desenvolvimento integral de toda a pessoa
humana.
Se o sistema das relações de trabalho, posto em funcionamento pelos protagonistas
diretos, trabalhadores e empregadores, com o indispensável apoio dos poderes públicos,
consegue dar origem a uma civilização do trabalho, produzir-se-á, então, na maneira de
ver dos povos e até nas bases institucionais e políticas, uma profunda revolução pacífica.
Bem comum nacional e internacional
84. Uma tal cultura do trabalho deverá supor e pôr em ação um certo número de valores
essenciais. Ela reconhecerá que a pessoa do trabalhador é princípio, sujeito e fim da
atividade laboriosa. Afirmará a prioridade do trabalho sobre o capital e a destinação
universal dos bens materiais. Será animada pelo senso de uma solidariedade que não
comporta apenas direitos a reivindicar, mas também deveres a cumprir. Implicará a
participação, visando promover o bem comum nacional e internacional e não apenas a
defesa de interesses individuais ou corporativos. Ela assimilará o método do confronto
pacífico e do diálogo franco e vigoroso.
De sua parte, as autoridades políticas torna-se-ão sempre mais capazes de agir no respeito
às legítimas liberdades dos indivíduos, das famílias, dos grupos subsidiários, criando
assim as condições necessárias para que o homem possa alcançar seu bem verdadeiro e
integral, inclusive o seu fim espiritual126.
O valor do trabalho humano
85. Uma cultura que reconheça a eminente dignidade do trabalhador, evidenciará a
dimensão subjetiva do trabalho.127 O valor de cada trabalho humano não se deduz, em
primeiro lugar, do trabalho realizado; ele tem o seu fundamento no fato de que quem o
executa é uma pessoa.128 Trata-se, portanto, de um critério ético, cujas exigências são
evidentes.
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Assim, todo homem tem direito ao trabalho, direito esse que deve ser reconhecido de
forma prática, através de um efetivo empenho em vista de se resolver o dramático
problema do desemprego. É intolerável que este mantenha em uma situação de
marginalização amplas parcelas da população, e, notadamente, da juventude. Por isso, a
criação do postos de trabalho é uma tarefa social primordial, que se impõe aos indivíduos
e à iniciativa privada, mas igualmente ao Estado. Como regra geral, aqui como em outros
campos, o Estado tem uma função subsidiária; mas frequentemente ele pode ser chamado
a intervir diretamente, como no caso de acordos internacionais entre diversos Estados.
Tais acordos devem respeitar o direito dos emigrantes e de suas famílias.129
Promover a participação
86. O salário, que não pode ser concebido como uma simples mercadoria, deve permitir
ao trabalhador e à sua família terem acesso a um nível de vida verdadeiramente humano
na ordem material, social, cultural e espiritual. É a dignidade da pessoa que constitui o
critério para julgar o trabalho, e não o contrário. Seja qual for o tipo de trabalho, o
trabalhador deve poder vivê-lo como expressão da sua personalidade. Daí decorre a
exigência de uma participação que, muito mais que uma partilha dos frutos do trabalho,
deveria comportar uma verdadeira dimensão comunitária em nível de projetos, de
iniciaivas e de responsabilidades.130
Prioridade do trabalho sobre o capital
87. A prioridade do trabalho sobre o capital faz com que os empresários tenham o dever
de justiça de considerar o bem dos trabalhadores antes do aumento dos lucros. Eles têm a
obrigação moral de não manter capitais improdutivos, e de procurar, nos investimentos,
antes de tudo, o bem comum. Este último exige que se busque, como prioridade, a
consolidação ou a criação de novos postos de trabalho, na produção de bens realmente
úteis.
O direito à propriedade privada não é concebível sem seus deveres para com o bem
comum. Ele é subordinado ao princípio superior da destinação universal dos bens.131
Reformas em profundidade
88. Esta doutrina deve inspirar reformas, antes que seja tarde demais. O acesso de todos
aos bens requeridos por uma vida humana, pessoal e familiar, digna desse nome, é uma
exigência primária da justiça social. Sua aplicação deve abranger a área do trabalho
industrial e, de um modo todo especial, a do trabalho agrícola.132 Com efeito, os
camponeses, sobretudo no Terceiro Mundo, formam a massa preponderante dos
pobres.133
III. Promoção da solidariedade
Uma nova solidariedade
89. A solidariedade é uma exigência direta da fraternidade humana e sobrenatural. Os
graves problemas socio-econômicos, que hoje se apresentam, só poderão ser resolvidos
se novas frentes de solidariedade forem criadas: solidariedade dos pobres entre si;
solidariedade com os pobres, para a qual os ricos são convocados; solidariedade dos
trabalhadores e com os trabalhadores. As instituições e organizações sociais, em
diferentes níveis, como também o Estado, devem participar de um movimento geral de
solidariedade. Ao fazer este apelo, a Igreja sabe que também ela encontra-se envolvida
nele de um modo todo particular.
A destinação universal dos bens
90. O princípio da destinação universal dos bens, juntamente com o da fraternidade
humana e sobrenatural, impõe aos países mais ricos deveres para os países pobres.
Deveres que são de solidariedade na ajuda aos países em vias de desenvolvimento; de
justiça social, mediante uma revisão, em termos correios, das relações comerciais entre
Norte e Sul e pela promoção de um mundo mais humano para todos, onde cada um possa
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Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
dar e receber, e onde o progresso de uns não seja mais um obstáculo ao desenvolvimento
de outros, nem um protexto para a sua sujeição.134
Ajuda ao desenvolvimento
91. A solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Ela não se impõe
unicamente nos casos de extrema urgência, mas também como ajuda ao verdadeiro
desenvolvimento. Trata-se de uma obra comum, que requer um esforço convergente e
constante para se encontrarem as soluções técnicas concretas, mas também para criar uma
nova mentalidade nos homens deste tempo. A paz mundial, em grande parte, depende
disso.135
IV. Tarefas culturais e educativas
Direito à instrução e a cultura
92. As desigualdades, contrárias à justiça, na posse e no uso dos bens materiais são
acompanhadas e agravadas pelas desigualdades igualmente injustas no acesso à cultura.
Cada homem tem direito à cultura, que é o modo específico de uma existência
verdadeiramente humana, à qual ele tem acesso pelo desenvolvimento de suas faculdades
de conhecimento, de suas virtudes morais, de suas capacidades de relacionamento com
seus semelhantes, de suas aptidões para criar obras úteis e belas. Daí advém a exigência
da promoção e da difusão da educação, que é um direito inalienável de cada um. Sua
primeira condição é a eliminação do analfabetismo.136
Respeito pela liberdade cultural
93. O direito de cada homem à cultura não é assegurado, se não for respeitada a liberdade
cultural. Muito frequentemente, a cultura é pervertida em ideologia e a educação
transformada em instrumento ao serviço do poder político ou económico. Não compete à
autoridade pública determinar a cultura. Sua função é promover e proteger a vida cultural
de todos, inclusive a das minorias.137
A função educativa da família
94. A tarefa educativa pertence fundamental e prioritariamente à família. A missão do
Estado é subsidiária: seu papel é o de garantir, proteger, promover e suprir. Quando o
Estado reivindica o monopólio escolar, ele excede os seus direitos e ofende a justiça. É
aos pais que compete o direito de escolher a escola à qual enviarem seus próprios filhos,
de criar e manter centros educacionais de acordo com suas próprias convicções. O Estado
não pode, sem injustiça, contentar-se em tolerar as chamadas escolas privadas. Estas
realizam um serviço público e têm, por conseguinte, o direito de serem ajudadas
economicamente.138
As «liberdades» e a participação
95. A educação, que possibilita o acesso à cultura, é também educação para o exercício
responsável da liberdade. É por isso que só existe autêntico desenvolvimento em um
sistema social e político que respeite as liberdades, favorecendo-as pela participação de
todos. Uma tal participação pode assumir formas diversas; ela é necessária para garantir
um justo pluralismo nas instituições e nas iniciativas sociais. Notadamente pela separação
real entre os poderes do Estado, ela assegura o exercício dos direitos do homem,
protegendo-os igualmente contra possíveis abusos por parte dos poderes públicos. Dessa
participação na vida social e política, ninguém pode ser excluído por motivo de sexo, de
raça, de cor, de condição social, de língua ou de religião.139 Manter o povo à margem da
vida cultural, social e política, constitui, em muitas nações, uma das injustiças mais
estridentes do nosso tempo.
Ao regular o exercício das liberdades, as autoridades políticas não devem usar como
pretexto as exigências da ordem pública e da segurança para limitar sistematicamente
essas mesmas liberdades. Nem o pretenso princípio da « segurança nacional », nem uma
141
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
visão estritamente económica, nem uma concepção totalitária da vida social podem
prevalecer sobre o valor da liberdade e sobre os seus direitos.140
O desafio da aculturação
96. A fé é inspiradora de critérios de julgamento, de valores determinantes, de linhas de
pensamento e de modelos de vida, válidos para toda a comunidade humana.141 É por essa
razão que a Igreja, atenta às angústias de nossa época, indica o caminho de uma cultura
na qual o trabalho seja reconhecido segundo a sua plena dimensão humana e onde cada
ser humano encontre a possibilidade de se realizar como pessoa. Ela o faz em virtude da
sua abertura missionária pela salvação integral do mundo, respeitando a identidade de
cada povo e nação.
A Igreja, comunhão que une diversidade e unidade, por sua presença no mundo inteiro,
assume em cada cultura o que aí encontra de positivo. Todavia, a aculturação não é
simples adaptação externa; é uma íntima transformação dos autênticos valores culturais
pela sua integração no cristianismo e pelo enraizamento do cristianismo nas diversas
culturas humanas.142 A separação entre Evangelho e cultura é um drama, cuja triste
ilustração são os problemas mencionados. Impõe-se, portanto, um generoso esforço de
evangelização das culturas. Estas serão regeneradas, no seu encontro como Evangelho.
Mas tal encontro supõe que o Evangelho seja verdadeiramente proclamado.143 Iluminada
pelo Concílio Vaticano II, a Igreja quer consagrar-se a tal esforço com todas as suas
energias, a fim de provocar um imenso impulso evangelizador.
CONCLUSÃO
O Canto do Magnificat
97. « Bem-aventurada aquela que acreditou » ... (Lc 1, 45). À saudação de Isabel, a Mãe
de Deus responderá deixando efundir o seu coração no canto do Magnificat. Ela nos
mostra que é pela fé e na fé que, a seu exemplo, o Povo de Deus torna-se capaz de exprimir
em palavras e de traduzir em sua vida, o mistério do desígnio de salvação e suas
dimensões libertadoras no plano da existência individual e social. Com efeito, é à luz da
fé que se percebe como a história da salvação é a história da libertação do mal sob a sua
forma mais radical e a introdução da humanidade na verdadeira liberdade dos filhos de
Deus. Totalmente dependente d'Ele e para Ele toda orientada pelo élan de sua fé, Maria
é, ao lado do seu Filho, a imagem mais perfeita da liberdade e da libertação da
humanidade e do cosmos. É para ela, pois, que a Igreja, da qual ela é Mãe e Modelo, deve
olhar para compreender, na sua integralidade, o sentido de sua missão.
É notável como o senso da fé dos pobres, ao mesmo tempo em que possui uma aguda
percepção do mistério da cruz redentora, leva a um amor e uma confiança indefectíveis
para com a Mãe do Filho de Deus, venerada em numerosos santuários.
O «sensus fidei» do Povo de Deus
98. Os Pastores e todos aqueles que, frequentemente em condições muito duras, dedicam-
se à evangelização e à promoção humana integral, sacerdotes e leigos, religiosos e
religiosas, devem encher-se de esperança pensando nos extraordinários recursos de
santidade que estão contidos na fé do povo de Deus. É necessário fazer com que essas
riquezas do sensus fidei possam desabrochar plenamente e frutificar com abundância. Eis
a nobre missão eclesial que se pede ao teólogo: graças a uma meditação profunda sobre
o plano da salvação, tal como ele se desenrola aos olhos da Virgem do Magnificat, ajudar
a fé do povo a se exprimir com clareza e a se traduzir na vida. Assim, uma teologia da
liberdade e da libertação, como eco fiel do Magnificat de Maria conservado na memória
da Igreja, constitui uma exigência do nosso tempo. Mas seria uma grave perversão captar
as energias da religiosidade popular com o fim de desviá-las a um projeto de libertação
meramente terrena, que se revelaria, muito cedo, uma ilusão e causa de novas servidões.
Os que cedem dessa forma às ideologias do mundo e à pretensa necessidade da violência
142
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não são mais fiéis à esperança, à sua audácia e coragem, tais como as enaltece o hino ao
Deus de misericórdia, que a Virgem nos ensina.
As dimensões de uma autêntica libertação
99. O senso da fé percebe, em toda a profundidade, a libertação operada pelo Redentor.
É do mal mais radical, do pecado e do poder da morte, que Ele nos libertou, para libertar
a própria liberdade e para lhe mostrar a sua estrada. Esse caminho é traçado pelo supremo
mandamento, que é o mandamento do amor.
A libertação, em sua significação primordial, que é soteriológica, prolonga-se, assim, em
missão libertadora, em exigência ética. Aqui encontra o seu lugar a doutrina social da
Igreja, que ilumina a praxis cristã ao nível da sociedade.
O cristão é chamado a agir segundo a verdade 144 e, dessa forma, trabalhar pela insturação
daquela « civilização do amor » de que falou Paulo VI.145 O presente documento, sem
pretender ser completo, indicou algumas das direções em que é urgente empreender
reformas profundas. A tarefa prioritária, que condiciona o êxito de todas as demais, é de
ordem educativa. O amor, que guia o compromisso, deve desde agora dar nascimento a
novas formas de solidariedade. Todos os homens de boa vontade são convocados a tais
tarefas que, de um modo imperioso, impõem-se à consciência cristã.
A verdade do mistério da salvação, em ação no « hoje » da história para conduzir a
humanidade resgatada rumo à perfeição do Reino, dá seu verdadeiro significado aos
necessários esforços de libertação de ordem económica, social e política e os impede de
submergir em novas servidões.
Uma tarefa diante de nós
100. É verdade que, diante da amplidão e da complexidade da tarefa, que pode exigir
mesmo o dom de si até o heroísmo, muitos são tentados pelo desânimo, pelo ceticismo
ou pela aventura desesperada. Um formidável desafio é lançado à esperança, teologal e
humana. A Virgem magnânima do Magnificat, que envolve a Igreja e a humanidade com
a sua oração, é o firme apoio da esperança. Nela, com efeito, contemplamos a vitória do
amor divino que nenhum obstáculo pode reter. Nela descobrimos a que sublime liberdade
Deus eleva os humildes. Pela estrada por ela traçada, deve avançar, com grande ímpeto,
a fé que opera pela caridade.146
No decurso de uma audiência concedida ao Prefeito abaixo-assinado, Sua Santidade o
Papa João Paulo II aprovou esta Instrução, adotada em reunião ordinária da
Congregação para a Doutrina da Fé, e ordenou a sua publicação.
Roma, na sede da Congregação, aos 22 de março de 1986, na solenidade da Anunciação
do Senhor.
Alberto Bovone
Arcebispo tit. de Cesaréia de Numídia
Secretário
143
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INTRODUÇÃO
1. A verdade que liberta é um dom de Jesus Cristo (cf. Jo 8, 32). A busca da verdade é
inerente à natureza do homem, enquanto a ignorância o mantém em uma condição de
escravidão. Com efeito, o homem não pode ser verdadeiramente livre se não é
iluminado quanto às questões centrais da sua existência, em particular sobre a questão
de saber de onde vem e para onde vai. Torna-se livre quando Deus a ele se doa como
um Amigo, segundo a palavra do Senhor: « não vos chamo mais de servos, porque o
servo não sabe o que o seu senhor faz; mas eu vos chamo amigos, porque tudo o que
ouvi do Pai eu vos dei a conhecer » (Jo 15, 15). A libertação da alienação do pecado e da
morte se realiza para o homem quando Cristo, que é a Verdade, se torna para ele
também o « caminho » (cf. Jo 14, 6).
Na fé cristã, conhecimento e vida, verdade e existência são intrinsecamente unidas. A
verdade doada na revelação de Deus ultrapassa, evidentemente, as capacidades de
conhecimento do homem, mas não se opõe à razão humana. Pelo contrário, ela a
penetra, eleva e apela à responsabilidade de cada um (cf. 1 Pd 3, 15). Por isso, desde os
primórdios da Igreja, a « norma da doutrina » (Rm 6, 17) tem sido, com o batismo,
vinculada ao ingresso no mistério de Cristo. O serviço à doutrina, que implica a crente
busca da compreensão da fé, isto é, a teologia, é, portanto, uma exigência à qual a Igreja
não pode renunciar.
Em todas as épocas, a teologia é importante para que a Igreja possa dar uma resposta
ao desígnio de Deus, « que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade » (1 Tim 2, 4). Em tempos de grandes mudanças espirituais e
culturais, ela é ainda mais importante, mas também exposta a riscos, devendo esforçar-
se para « permanecer » na verdade (cf. Jo 8, 31) e ao mesmo tempo ter em consideração
os novos problemas que interpelam o espírito humano. No nosso século,
particularmente durante a preparação e a realização do Concílio Vaticano II, a teologia
em muito contribuiu para uma mais profunda « compreensão das realidades e das
palavras transmitidas », mas também experimentou, e ainda experimenta, momentos
de crise e de tensão.
A Congregação para a Doutrina da Fé julga pois, oportuno dirigir aos bispos da Igreja
católica e através deles aos teólogos, a presente Instrução, cujo fim é iluminar a missão
da teologia na Igreja. Após tomar em consideração a verdade como dom de Deus ao seu
povo (I), descreverá a função dos teólogos (II), detendo-se em seguida sobre a missão
particular dos Pastores (III), e propondo enfim algumas indicações a respeito da justa
relação entre uns e outros (IV). Ela pretende assim servir para o crescimento no
conhecimento da verdade (cf.Col 1, 10), que nos introduz naquela liberdade por cuja
conquista Cristo morreu e ressuscitou (cf. Gal 5, 1).
I. A VERDADE, DOM DE DEUS AO SEU POVO
2. Impelido por un amor sem medida, Deus quis fazer-se próximo ao homem que busca
a própria identidade, e caminhar com ele (cf. Lc 24, 15). Ele também o libertou das
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insídias do « pai da mentira » (cf. Jo 8, 44), e abriu-lhe o acesso à sua intimidade para
que ali encontrasse, em abundância, a sua plena verdade, e a verdadeira liberdade. Este
desígnio de amor, concebido pelo « Pai das luzes » (Tg 1, 17; cf. 1 Pd 2, 9; 1 Jo 1, 5) e
realizado pelo Filho vencedor da morte (cf. Jo 8, 36) é atualizado continuamente pelo
Espírito que conduz « à verdade plena » (Jo 16, 13).
3. A verdade tem em si uma força unificante: liberta os homens do isolamento e das
oposições em que estão aprisionados pela ignorância da verdade e, abrindo-lhes o
caminho para Deus, os une entre si. Cristo destruiu o muro de separação que havia
tornado os homens estranhos à promessa de Deus e à comunhão da aliança (cf. Ef 2, 12-
14). Ele envia ao coração dos fiéis o seu Espírito, por meio do qual todos nós, nele, somos
« um só » (cf. Rm 5, 5; Gal 3, 28). Assim, graças ao novo nascimento e à unção do Espírito
Santo (cf. Jo 3, 5; 1 Jo 2, 20. 27), tornamo-nos o único e novo Povo de Deus, que com
vocações e carismas diversos, tem a missão de conservar e transmitir o dom da verdade.
Com efeito, a Igreja toda, como « sal da terra » e « luz do mundo » (cf. Mt 5, 13s), deve
dar testemunho da verdade de Cristo que liberta.
4. A este chamamento o Povo de Deus responde « sobretudo por meio de uma vida de
fé e de caridade, e oferecendo a Deus um sacrifício de louvor ». No que toca mais
especificamente à « vida de fé », o Concílio Vaticano II precisa que a « totalidade dos
fiéis que receberam a unção do Espírito Santo » (cf. 1 Jo 2, 20. 27) não pode enganar-se
na fé, e manifesta esta sua peculiar propriedade mediante o senso sobrenatural da fé
de todo o povo quando, "desde os bispos até os últimos fiéis leigos", apresenta um
consenso universal sobre questões de fé e de costumes ».
5. Para exercitar a sua função profética no mundo, o Povo de Deus deve continuamente
despertar ou « reavivar » a própria vida de fé (cf. 2 Tm 1, 6), particularmente por meio
de uma reflexão sempre mais aprofundada, guiada pelo Espírito Santo, sobre o
conteúdo da própria fé e através do esforço de mostrar a sua racionabilidade àqueles
que lhe perguntam pelas razões (cf. 1 Pd 3, 15). Em vista desta missão o Espírito de
verdade dispensa, entre os fiéis de toda ordem, graças especiais dadas « para a utilidade
comum » (1 Cor 12, 7-11).
II. A VOCAÇÃO DO TEÓLOGO
6. Entre as vocações suscitadas na Igreja pelo Espírito, distingue-se a do teólogo, que em
modo particular tem a função de adquirir, em comunhão com o Magistério, uma
compreensão sempre mais profunda da Palavra de Deus contida na Escritura inspirada
e transmitida pela Tradição viva da Igreja.
Por sua natureza a fé se apela à inteligência, porque desvela ao homem a verdade sobre
o seu destino e o caminho para o alcançar. Mesmo sendo a verdade revelada superior a
todo o nosso falar, e sendo os nossos conceitos imperfeitos frente à sua grandeza, em
última análise insondável (cf. Ef 3, 19), ela convida, porém, a razão — dom de Deus feito
para colher a verdade — a entrar na sua luz, tornando-se assim capaz de compreender,
em certa medida, aquilo em que crê. A ciência teológica, que respondendo ao convite
da verdade, busca a inteligência da fé, auxilia o Povo de Deus, de acordo com o
mandamento do Apóstolo (cf. 1 Pd 3, 15), a dar razão da própria esperança, àqueles que
a pedem.
7. O trabalho do teólogo responde assim ao dinamismo interno da própria fé: por sua
natureza a Verdade quer comunicar-se, já que o homem foi criado para perceber a
verdade, e deseja no mais profundo de si mesmo conhecê-la para nela se encontrar e
para ali encontrar a sua salvação (cf. 1 Tm 2, 4). Por isto o Senhor enviou os seus
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apóstolos para que fizessem « discípulas » todas as nações e as ensinassem (cf. Mt 28,
19s.). A teologia, que busca a « razão da fé » e que àqueles que procuram oferece esta
razão como uma resposta, constitui parte integrante da obediência a este mandamento,
porque os homens não podem tornar-se discípulos se a verdade contida na palavra da
fé não lhes é apresentada (cf. Rm 10, 14s.).
A teologia oferece, portanto, a sua contribuição para que a fé se torne comunicável, e a
inteligência daqueles que não conhecem ainda o Cristo possa procurá-la e encontrá-la.
A teologia, que obedece ao impulso da verdade que tende a comunicar-se, nasce
também do amor e do seu dinamismo: no ato de fé, o homem conhece a bondade de
Deus e começa a amá-lo, mas o amor deseja conhecer sempre melhor aquele a quem
ama. Desta dúplice origem da teologia, inscrita na vida interior do Povo de Deus e na
sua vocação missionária, deriva o modo pelo qual ela deve ser elaborada para atender
às exigências da sua natureza.
8. Visto que o objeto da teologia é a Verdade, o Deus vivo e o seu desígnio de salvação
revelado em Jesus Cristo, o teólogo é chamado a intensificar a sua vida de fé e a unir
sempre pesquisa científica e oração. Será assim mais aberto ao « senso sobrenatural da
fé » do qual depende e que se lhe apresentará como uma segura norma para guiar a sua
reflexão e verificar e exatidão das suas conclusões.
9. No decorrer dos séculos a teologia constituiu-se progressivamente em verdadeiro e
próprio saber científico. E, portanto, necessário que o teólogo esteja atento às
exigências epistemológicas da sua disciplina, às exigências do rigor crítico, e
consequentemente à verificação racional de todas as etapas da sua pesquisa. Mas a
exigência crítica não se identifica com o espírito crítico, que nasce, pelo contrário, de
motivações de caráter afetivo ou de preconceito. O teólogo deve discernir em si mesmo
a origem e as motivações de sua atitude crítica e permitir que o seu olhar seja purificado
pela fé. O empenho teológico exige um esforço espiritual de retidão e de santificação.
10. Mesmo transcendendo a razão humana, a verdade revelada se harmoniza
profundamente com ela. Isso supõe que a razão seja naturalmente ordenada à verdade,
de modo que, iluminada pela fé, ela possa penetrar o significado da Revelação.
Contrariando as afirmações de muitas correntes filosóficas, mas em consonância com
um reto modo de pensar confirmado pela Escritura, deve-se reconhecer a capacidade
da razão humana de atingir a verdade, assim como a sua capacidade metafísica de
conhecer a Deus a partir da criação.
A tarefa própria à teologia de compreender o sentido da Revelação exige, portanto, o
uso de aquisições filosóficas que forneçam « um sólido e harmónico conhecimento do
homem, do mundo e de Deus », e possam ser assumidas na reflexão sobre a doutrina
revelada. As ciências históricas são igualmente necessárias aos estudos do teólogo,
antes de mais nada pelo caráter histórico da própria revelação, que nos foi comunicada
em uma « história de salvação ». Deve-se enfim recorrer, também, às « ciências
humanas », para melhor compreender a verdade revelada sobre o homem e sobre as
normas morais do seu agir, colocando em relação com ela os resultados válidos destas
ciências.
Nesta perspectiva, é tarefa do teólogo assumir da cultura do seu ambiente elementos
que lhe permitam melhor iluminar um ou outro aspecto dos mistérios da fé. Uma tal
tarefa é certamente árdua e comporta riscos, mas é em si mesma legítima e deve ser
encorajada.
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discrição é exigida pelo respeito à verdade, assim como pelo respeito pelo Povo de Deus
(cf. Rm 14, 1-15; 1 Cor 8, 10. 23-33). Pelos mesmos motivos ele renunciará a uma
expressão pública e intempestiva delas.
28. O ponto que precede tem uma aplicação particular no caso do teólogo que
encontrasse sérias dificuldades, por razões que lhe parecessem fundadas, em acolher
um ensinamento magisterial não irreformável.
Um tal desacordo não poderia ser justificado se fosse fundado somente sobre o fato que
a validez do ensinamento dado não é evidente, ou sobre a opinião que a posição
contrária seja mais provável. Assim também não seria suficiente o juízo da consciência
subjetiva do teólogo, porque a mesma não constitui uma instância autónoma e exclusiva
para julgar a validade de uma doutrina.
29. De qualquer maneira, jamais poderá arrefecer uma atitude de fundo de
disponibilidade para acolher lealmente o ensinamento do Magistério, como convém a
todo fiel, em nome da obediência da fé. O teólogo se esforçará, portanto, para
compreender este ensinamento no seu conteúdo, nas suas razões e nos seus motivos.
A este fim ele consagrará uma reflexão aprofundada e paciente, pronto a rever as suas
próprias opiniões e a examinar as objeções que lhe fossem feitas pelos seus colegas.
30. Se, apesar de um leal esforço, as dificuldades persistem, é dever do teólogo fazer
saber às autoridades magisteriais os problemas suscitados pelo ensinamento em si
mesmo, pelas justificações que lhe são propostas, ou ainda pela maneira com a qual é
apresentado. Ele o fará com um espírito evangélico, com un profundo desejo de resolver
as dificuldades. As suas objeções poderão contribuir, então, para um real progresso,
estimulando o Magistério a propor o ensinamento da Igreja de uma maneira mais
aprofundada e melhor argumentada.
Nestes casos o teólogo evitará recorrer aos « mass-media » ao invés de dirigir-se à
autoridade responsável, porque não é exercendo, dessa maneira, pressão sobre a
opinião pública, que se pode contribuir para o esclarecimento dos problemas doutrinais
e servir a Verdade.
31. Pode ainda ocorrer que, ao final de um exame sério do ensinamento do Magistério,
e conduzido com uma vontade de escuta sem reticências, a dificuldade permaneça,
porque os argumentos em sentido oposto parecem ao teólogo prevalecer. Diante de
uma afirmação, à qual sinta não poder dar a sua adesão intelectual, o seu dever é de
permanecer disponível para um exame mais aprofundado da questão.
Para um espírito leal e animado pelo amor à Igreja, uma tal situação pode certamente
representar uma prova difícil. Pode ser um convite a sofrer, no silêncio e na oração, com
a certeza de que, se a verdade está de fato em questão, ela terminará necessariamente
por impor-se.
B. O PROBLEMA DA DISSENSÃO
32. Em várias oportunidades o Magistério tem chamado a atenção sobre os graves
inconvenientes trazidos para a comunhão da Igreja por aqueles comportamentos de
oposição sistemática, que chegam até mesmo a constituir-se em grupos organizados. Na
Exortação apostólica Paterna cum benevolentia Paulo VI propôs um diagnostico que
ainda conserva toda a sua pertinência. Trata-se aqui em particular daquele
comportamento público de oposição ao magistério da Igreja, chamado também «
dissensão », e que é necessário distinguir claramente da situação de dificuldade pessoal,
já tratada mais acima. O fenómeno da dissensão pode ter diversas formas, e as suas
causas remotas ou próximas são múltiplas.
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vale mais que a argumentação, que às vezes é tomada de uma teologia particular, da
qual ele se serve. Quanto ao pluralismo teológico, este não é legítimo a não ser na
medida em que é salvaguardada a unidade da fé, no seu significado objetivo. Os diversos
níveis, que são a unidade da fé, a unidade-pluralidade das expressões da fé e a
pluralidade das teologias estão, com efeito, essencialmente ligados entre si. A razão
última da pluralidade é o insondável mistério de Cristo, que transcende toda a
sistematização objetiva. Isto não pode significar que sejam aceitáveis conclusões que
lhe sejam contrárias, e nem põe em questão, de forma alguma, a verdade das asserções
por meio das quais o Magistério se pronunciou. Quanto ao « magistério paralelo », ele
pode causar graves danos espirituais, opondo-se ao dos Pastores. Quando, de fato, a
dissensão consegue estender a sua influência até inspirar uma opinião comum, ela
tende a se tornar regra de ação, o que não pode deixar de perturbar gravemente o Povo
de Deus e levar a um menosprezo da verdadeira autoridade.
35. Às vezes a dissensão recorre também a uma argumentação sociológica, segundo a
qual a opinião de um grande número de cristãos seria uma expressão direta e adequada
do « senso sobrenatural da fé ».
Na realidade as opiniões dos fiéis não podem ser pura e simplesmente identificadas com
o « sensus fidei ». Este é uma propriedade da fé teologal, a qual sendo um dom de Deus,
que faz aderir pessoalmente à Verdade, não pode enganar-se. Esta fé pessoal é também
fé da Igreja, porque Deus confiou à Igreja a guarda da Palavra, e, consequentemente, o
que deve crer o fiel é aquilo que a Igreja crê. O « sensus fidei » implica, portanto, por
sua natureza, a conformação profunda do espírito e do coração com a Igreja, o « sentire
cum Ecclesia ».
Se, portanto, a fé teologal enquanto tal não se pode enganar, o fiel pode, ao contrário,
ter opiniões erróneas, porque nem todos os seus pensamentos procedem da fé. Nem
todas as ideias que circulam entre o Povo de Deus são coerentes com a fé, tanto mais
que podem facilmente sofrer a influência de uma opinião pública veiculada pelos
modernos meios de comunicação. Não é sem motivo que o Concílio Vaticano II sublinha
a relação indissolúvel entre o « sensus fidei » e a orientação do Povo de Deus por parte
do magistério dos Pastores; as duas realidades não podem ser separadas uma da
outra. As intervenções do Magistério servem para garantir a unidade da Igreja na
verdade do Senhor. Ajudam a « permanecer na verdade », frente ao caráter arbitrário
das opiniões mutáveis, e são a expressão da obediência à Palavra de Deus. Mesmo
quando pode parecer que limitem a liberdade dos teólogos, elas instauram, por meio da
fidelidade à fé que foi transmitida, uma liberdade mais profunda, que não pode provir
senão da unidade na verdade.
36. A liberdade do ato de fé não pode justificar o direito à dissensão. Na realidade esta
não significa, de forma alguma, a liberdade em relação à verdade, mas o livre
autodeterminar-se da pessoa em conformidade com o seu dever moral de acolher a
verdade. O ato de fé é um ato voluntário, porque o homem, resgatado por Cristo
Redentor e chamado por ele à adoção filial (cf. Rm 8, 15; Gal 4, 5; Ef 1, 5; Jo 1, 12), não
pode aderir a Deus a não ser que, « atraído pelo Pai » (Jo 6, 44), lhe faça a oferta racional
da sua fé (cf. Rm 12, 1). Como recordou a Declaração Dignitatis humanae, autoridade
humana alguma tem o direito de interferir, com coações ou pressões nesta opção, que
supera os limites da sua competência. O respeito do direito à liberdade religiosa é o
fundamento do respeito à totalidade dos direitos humanos.
153
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Não se pode, portanto, recorrer a estes direitos humanos, para opor-se às intervenções
do Magistério. Um tal comportamento desconhece a natureza e a missão da Igreja, que
recebeu do seu Senhor o dever de anunciar a todos os homens a verdade da salvação, e
o realiza caminhando sobre as pegadas do Cristo, sabendo que « a verdade não se impõe
senão pela força da própria verdade, que penetra nas mentes suavemente e, ao mesmo
tempo, com vigor ».
37. Em razão do mandato divino que lhe foi dado na Igreja, o Magistério tem a missão
de propor o ensinamento do Evangelho, velar sobre a sua integridade, e proteger assim
a fé do Povo de Deus. Para isto, às vezes pode ser levado a tomar graves providências,
como por exemplo quando retira a um teólogo que se afasta da doutrina da fé, a missão
canónica, ou o mandato do ensinamento que lhe havia confiado, ou ainda quando
declara que alguns escritos não estão de acordo com esta doutrina. Agindo dessa forma,
o Magistério entende ser fiel à sua missão, porque defende o direito do Povo de Deus a
receber a mensagem da Igreja na sua pureza e na sua integridade, e assim, a não ser
perturbado por uma perigosa opinião particular.
O juízo expresso pelo Magistério em tais circunstâncias, ao final de um acurado exame,
conduzido em conformidade com os procedimentos estabelecidos, e depois de ter sido
concedida ao interessado a possibilidade de dissipar eventuais mal-entendidos sobre o
seu pensamento, não toca a pessoa do teólogo, mas as suas posições intelectuais
expressas publicamente. O fato que estes procedimentos possam ser aperfeiçoados,
não significa que eles sejam contrários à justiça e ao direito. Falar neste caso de violação
dos direitos humanos não tem sentido, porque se estaria desconhecendo a exata
hierarquia desses direitos, como também a natureza da comunidade eclesial e do seu
bem comum. Além disso, o teólogo que não está em sintonia com o « sentire cum
Ecclesia », se põe em contradição com o compromisso livre e conscientemente assumido
por ele, de ensinar em nome da Igreja.
38. Enfim, a argumentação que alude ao dever de seguir a própria consciência não pode
legitimar a dissensão. Antes de tudo, porque este dever se exerce quando a consciência
ilumina o juízo prático em vista de uma decisão a ser tomada, enquanto aqui se trata da
verdade de um enunciado doutrinal. Além disso, porque, se o teólogo deve, como
qualquer fiel, seguir a sua consciência, ele é também obrigado a formá-la. A consciência
não é uma faculdade independente e infalível, ela é um ato de juízo moral que se refere
a uma opção responsável. A reta consciência é uma consciência devidamente iluminada
pela fé e pela lei moral objetiva, e supõe também a retidão da vontade na busca do
verdadeiro bem.
A reta consciência do teólogo católico supõe, portanto, a fé na Palavra de Deus, cujas
riquezas ele deve penetrar, mas também o amor à Igreja, da qual ele recebe a sua missão
e o respeito pelo Magistério divinamente assistido. Opor ao magistério da Igreja um
magistério supremo de consciência, é admitir o princípio do livre exame, incompatível
com a economia da Revelação e da sua transmissão na Igreja, assim como com uma
concepção correta da teologia e da função do teólogo. Os enunciados da fé não resultam
de uma investigação puramente individual e de um livre exame da Palavra de Deus, mas
constituem uma herança eclesial. Se alguém se separa dos Pastores que velam por
manter viva a tradição apostólica, é a ligação com Cristo que se encontra
irreparavelmente comprometida.
39. A Igreja, derivando a sua origem da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é
um mistério de comunhão, organizada segundo a vontade do seu fundador, em torno
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155
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A Teologia nasce exatamente de uma Palavra que, uma vez dita pelo
Mistério divino, se oferece (se entrega) ao homem, solicitando-o de um
modo real e objetivo, diria o teólogo E. Schillebeeckx167, ao acolhimento da
mesma e ao estabelecimento de uma experiência de relação que para o
homem resulta transformante. Na tradição judaico-cristã, a Revelação é
compreendida como a comunicação de uma Palavra, cujo status divino nos
indica que a mesma pode ser entendida como auto-comunicação ou dom
de si de Deus ao homem.
166
Cf. RATZINGER, J. A Natureza e a Missão da Teologia. Petrópolis: Vozes, 2008, p.29.
167
Cf. SCHILLEBEECKX, E. Dio, il futuro dell’uomo. Roma: Paoline, 1970, p.52.
168
Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dei Verbum n.5.
169
Cf. JOURNET, C. O Caráter Teândrico da Igreja, fonte de tensão permanente. In: BARAÚNA, G (Org.).
A Igreja do Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1965, p.384-395.
157
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170
PAULO VI, Encíclica Ecclesiam Suam n. 42. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/paul-
vi/pt/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_06081964_ecclesiam.html
171
Sobre a racionalidade da fé cristã, cf. SPAEMANN, R. La Ragionevolezza della fedein Dio. In: AA.
VV., Dio oggi. Com Lui o senza di Lui cambia tutto. Cantagalli: Siena, 2010, p.57-76.
158
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172
Cf. VASCONCELOS, J. L. G. Apresentação. In: DANTAS, J. P. de M. Deus Uno e Trino: uma
introdução à Teologia Trinitária. Fortaleza: Edições Shalom, 2013, p.11. O autor se refere entre outros ao
professor e teólogo indiano Felix Wilfred, conhecido por sua crítica ao monoteísmo.
173
BENTO XVI, Discurso à Pontifícia Comissão Teológica Internacional (02/12/2011). Disponível em:
https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2011/december/documents/hf_ben-
xvi_spe_20111202_comm-teologica.html.
Cf. também COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Dio Trinità, unità degli uomini. Il
monoteismo cristiano contro la violenza. Disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20140117_monoteismo-
cristiano_it.html.
174
Cf. Catecismo da Igreja Católica n.324.
159
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175
Cf. S. Theol. I q. 28 a.2 co.
176
Cf. GIRARDI, G. Dialogo: strategia, cedimento o esegenza della fede? In: Esperienza e Teologia 4
(1997), p.5-12.
160
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ou desrespeitada por uma relação de tipo religiosa com Deus, mas, pelo
contrário, se percebe respeitada tanto na sua imanência, como na sua
dimensão transcendente de pessoa.
À luz do que foi dito, entendemos melhor como a Teologia pode no
mundo de hoje colaborar para o desabrochar de uma cultura
antropocêntrica, não mais em oposição ao teocêntrico, mas uma cultura
em que a centralidade do homem se fundamenta e é iluminada pelo seu
horizonte teocêntrico. O que foi dito, pode soar estranho, mas a Teologia
cristã propõe a não contradição entre uma verdadeira concepção
antropocêntrica e uma necessária e sadia concepção teocêntrica da
realidade, algo possível graças à centralidade de Cristo, verdadeiro Deus e,
ao mesmo tempo, verdadeiro homem.
177
CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral Gaudium et Spes n. 22.
178
Cf., por exemplo, BENTO XVI, Audiência Geral (05/08/2009). Disponível em:
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2009/documents/hf_ben-xvi_aud_20090805.html
161
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179
Cf. PAVAN, A; MILANO, A (edd). Persona e personalismi, Napoli: Dehoniane, 1987; MELCHIORRE,
V (ed.). Lídea di persona. Milano: Vita e Pensiero, 1998.
180
Cf. METZ, J. B. Dov’è finito Dio, e dove l’uomo? Sulla capacità di futuro del cristianesimo occidentale
europeo. In: KAFMANN, F. X.; METZ, J. B (edd.) Capacità di futuro. Movimenti di ricerca nel
cristianesimo, Brescia: Queriniana, 1988, p.135-136; 138-139.
181
Cf. CODA, P. Personalismo Cristiano, crisi nichilista del soggetto e della socialià e intersoggettività
trinitária. In: Lateranum 58 (1992), p.181-205. LADARIA, L. F. Antropologia Teologica. Roma: GBP,
2011, p.146-165.
182
Resumimos uma parte do artigo de DOTOLO, C. La relazione tra teologia e post-modernità: problemi
e prospettive. In: Antonianum 76 (2001), p.651-685.
162
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seja entendido, como tão bem recordou o papa João Paulo II, como uma
espécie de sacramento da pessoa humana183.
163
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164
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195
Merece destaque em língua portuguesa a obra de C. BOFF, Mariologia Social: o significado da Virgem
para a Sociedade. São Paulo: Paulus, 2006.
196
Referimo-nos particularmente às famosas catequeses de João Paulo II sobre o amor humano (05/09/1979
a 28/11/1984): cf. JOÃO PAULO II. Teologia do Corpo. O amor humano no plano divino. São Paulo:
Ecclesiae, 2014.
197
Note-se que a Teologia feminista parece muitas vezes incapaz de reconhecer a diferença complementar
que existe entre o homem e a mulher. Sobre a teologia feminista, cf. HAUKE, M. God or goddess? Feminist
Theology: What is it? Where does it lead? San Francisco: Ignatius, 1995. Sobre as diferenças entre homens
e mulheres, cf. HAUKE, M. Women in the priesthood? A Systematic Analysis in the light of the Order of
Creation and Redemption. San Francisco: Ignatius, 1988, p.85-120; DANTAS, J. P. de M. In Persona
Christi Capitis. Il ministro ordinato come rappresentante di Cristo capo della Chiesa nella discussione
teológica da Pio XII fino ad oggi. Cantagalli: Siena 2010, p.311-338.
198
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Mulieris dignitatem n.6.
199
Cf. ESPAGNET, La dignità della donna (Mulieris dignitatem – 1988), p.184.
200
Cf. JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Mulieris dignitatem n. 30-31.
165
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201
Cf. PIO XII, Discurso aos homens da Ação Católica (12/10/1952). Disponível em:
https://w2.vatican.va/content/pius-xii/it/speeches/1952/documents/hf_p-xii_spe_19521012_uomini-
azione-cattolica.html
202
RATZINGER, J. Compreender a Igreja hoje. Vocação para a Comunhão. Petrópolis: Vozes, 1992, p.7.
203
Cf., por exemplo, MILITELLO, C. Per uma eclesiologia sponsale. In: Ricerche Teologiche 1 (1990),
p.121-141.
204
Cf. B. de MARGERIE, La Trinité chrétienne dans l’histoire. Paris: Editions Beauchesne, 1975, p.304.
166
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Concluindo este ponto, creio que vale a pena insistir que a dimensão
estética do discurso eclesiológico precisa ser repensada, de modo a
oferecer uma via pulchritudinis que convide o homem de hoje a reconhecer
que a Igreja, não obstante os pecados de seus membros, está unida de tal
modo a Cristo, como o corpo à sua cabeça (cf. Col 1,18), que se pode dizer
que prolonga a vida e a missão de Cristo no tempo e no espaço, na
esperança do que virá.
205
Cf. ZULEHNER, P. M. Gemeinde. In: EICHER, P. (ed.). Neues Handbuch theologischer Grundbegriffe
II. München: Kösel-Verlag GmbH & Co, 1985, p.174.
206
Cf. BACON, F. Novum Organum I, 129.
207
BENTO XVI, Encíclica Spes Salvi n. 17.
167
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208
BENTO XVI, Encíclica Spes Salvi n. 17.
209
Por exemplo, cf. KANT, E. Das Ende aller Dinge. In: Werke VI (W. Weischedel ed.). Darmstadt:
Buchges, 1964, p.190.
168
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210
BENTO XVI, Encíclica Spes Salvi n. 43.
169
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211
Cf. HUBERT, R. História da Pedagogia. São Paulo: Companhia Editora Nacional: 1976, p.26
212
Cf. NEWMAN, J. H. Origem e progresso das Universidades. São Paulo: s.c.e., 1951, p.175-189.
213
Gramática, retórica e dialética.
214
Aritmética, geometria, música e astronomia.
215
PASSOS, J. D. Para o diálogo com a Universidade. São Paulo: Paulus, 2016, p.257.
216
No final do século XIV, existiam cerca de cinquenta universidades, apenas na metade existia Faculdade
de Teologia, cf. TANZELLA-NITTI, G. Breve storia dell’Università. Disponível em:
http://antonellamartini.weebly.com/uploads/1/4/1/4/1414797/breve_storia_universit.pdf, 4
170
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217
Sobre a situação do curso superior de teologia no Brasil, cf. BACELAR, J. A. F. Breve histórico da
Educação Teológica Superior: da Antiguidade aos dias atuais. Belém: Paka-Tatu, 2013, p.145-166.
218
Cf. PASSOS, Para o diálogo com a Universidade, p.256.
219
Cf. PASSOS, Para o diálogo com a Universidade, p.259-260.
171
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220
Sobre as diferentes tentativas que estão em curso, cf. PASSOS, Para o diálogo com a Universidade,
p.273-274.
221
BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de Regensburg
(12/09/2006). Disponível em: http://w2.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2006/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20060912_university-regensburg.pdf, 6. Cf.
também SPAEMANN, R. Benedetto XVI e la luce della ragione. In: AA. VV., Dio salvi la ragione.
Cantagalli: Siena 2007, p.143-169.
222
BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de Regensburg
(12/09/2006), 6.
223
BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de Regensburg
(12/09/2006), 6.
172
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224
O mesmo autor defende que a Teologia prática encontre o seu lugar na relação entre a Igreja e a
sociedade, enquanto a teologia sistemática deveria ser entendida como uma realidade intraeclesial, cf.
TRACY, D. A imaginação analógica apud PASSOS, Para o diálogo com a Universidade, p.278.
225
BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de Regensburg
(12/09/2006), 6-7.
226
BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de Regensburg
(12/09/2006), 7.
173
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227
BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de Regensburg
(12/09/2006), 7.
228
Cf. BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de
Regensburg (12/09/2006), 8.
229
Cf. BENTO XVI, Discurso aos representantes das Ciências na aula magna da Universidade de
Regensburg (12/09/2006), 8.
174
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abrir mão de sua identidade própria, pois ela poderá pelo diálogo
rejuvenescer e assim melhor viver a sua missão no mundo.
230
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Teologia Hoje. Disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_doc_20111129_teologia-
oggi_po.html.
175
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231
Cfr. AZZI, R. A Teologia no Brasil. Considerações históricas. In: AA.VV. História da Teologia na
América Latina. São Paulo, 1991, 21.
176
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
232
Sobre o Padroado no Brasil, cfr. MATOS, H.C.J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja
Católica no Brasil. Vol. I Período Colonial. São Paulo, 2015,97-111; HOORNAERT, E. História da
Igreja no Brasil. Primeira Época-Período Colonial. Petrópolis, 1977, 160-168.
233
Cfr. SARANYANA, J.I. (ed.). Teología em América Latina, Vol. 1 Desde los Orígenes a la Guerra de
Sucesión (1493-1715). Madrid, 1999, 393.
234
Cfr. SARANYANA, J.I. (ed.). Teología em América Latina, 395-396. O mesmo autor recorda que A.
Vieira escreveu um manual de filosofia, que não sobreviveu à expulsão dos jesuítas do Brasil (1759) e à
perseguição que a partir daí se seguiu. No século XVII foram escritos no Brasil uma Summa universae
177
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Philosophiae (1652), por Baltasar Teles, e um Cursus philosophicus (1687), por Domingos Ramos, cfr.
ibid., 396.
235
Cfr. MOURA. L. D. A educação católica no Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo, 2000, 54-
55.
236
Cfr. SCHERER, I. R. Concílio Plenário do Brasil. História da Igreja no Brasil de 1900 a 1945. São
Paulo, 2014, 22-13.
237
Cfr. ibid., 23.
178
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238
Cfr. HOORNAERT, E. Formação do Catolicismo Brasileiro 1550-1800. Petrópolis, 1974, 31-58.
239
Sobre a evangelização dos índios realizada pelos jesuítas, cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500
anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. I Período Colonial. São Paulo, 2015, 115-130.
240
Nascido em Évora (Portugal), P. Sardinha morreu em 1556 nas mãos de uma tribo de índios
antropófagos, os Caetés.
179
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241
Cfr. BARBOSA, M. DE F. M. As letras e a cruz: pedagogia da fé e estética religiosa na experiência
missionária de José de Anchieta, S. I. (1534-1597), Analecta Gregoriana, 298, Roma, 2006, 81-88; AZZI,
R. A teologia no Brasil. Considerações históricas. In: AA.VV., História da Teologia na América Latina.
São Paulo, 1991, 24.
242
Cfr. BENCI, J. Economia cristã dos senhores no governo dos escravos (Livro brasileiro de 1700). São
Paulo, 1977, 77. Cfr. também OLIVEIRA, N. de A. Jorge Benci e a escravidão: percepções de um jesuíta
italiano em uma sociedade escravista. In: Anais do XV Encontro Regional de História da ANPUH-RIO,
2012, Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338255954_ARQUIVO_Artigo-Anpuh.pdf.
243
Cfr. RODRIGUES, A. M. M. Compêndio Narrativo do Peregrino da América, de Nuno Marques Pereira.
Estudos Filosóficos 7, 2011, 30-36; PAIM, A.; JUNQUEIRA, C. (Eds.). Moralistas do século XVIII. Rio
de Janeiro, 1979, 25-26. Para o texto original cfr. http://purl.pt/30238/3/#/52-53.
244
Cfr. SANTIN, W. Vozes proféticas de religiosos diante da escravidão negra no Brasil, Studium 2, 2008,
67-79. Cfr. também MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil.
Vol. II Período Imperial e Transição Republicana. São Paulo, 2010, 108-124.
245
MALHEIROS, A. M. P. A escravidão no Brasil: ensaio histórico-jurídico-social, vol. 2. Rio de Janeiro,
1867, 169.
246
Cfr. LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil, vol. II. Rio de Janeiro, 1938, 227.
247
Cfr. ibid., 228-229.
248
Cfr. HOORNAERT, E. Formação do Catolicismo Brasileiro 1550-1800. Petrópolis, 1974, 58-60.
180
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
249
Sobre a importância do culto ao Bom Jesus, cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença
da Igreja Católica no Brasil. Vol. I Período Colonial. São Paulo, 2015, 205-206.
250
Cfr. TORRES, J. C. de. História das ideias religiosas no Brasil. São Paulo, 1968, 57-58.
251
Cfr. HOORNAERT, E. História da Igreja no Brasil. Primeira Época-Período Colonial. Petrópolis, 1977,
240-241.
181
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
252
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. I Período
Colonial. São Paulo, 2015, 238-240.
253
Cfr. ibid.
254
Cfr. ibid., 242-243.
255
Cfr. LEITE, S. Profetismo e messianismo na obra de Antônio Vieira, Brotaria, 72, 1961, 56-59;
MONDIN, B. Storia della Teologia, vol. III, Epoca Moderna. Bologna, 1996, 408-411.419.
256
Cfr. HOORNAERT, E. Teologia e ação pastoral em Antônio Vieira SJ: 1652-1661. In: AA. VV. História
da Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 64.
182
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
257
Cfr. por exemplo DE BIE, J. God in de sermonen van padre Antônio Vieira. Louvain, 1970, 318; 320;
426-427.
258
Cfr. HOORNAERT, E. Teologia e ação pastoral em Antônio Vieira SJ: 1652-1661. In: AA. VV. História
da Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 61.
259
Cfr. HAUBERT, M. L’Eglise et la défense des “sauvages”: Le père Antoine Vieira au Brésil. Bruxelles,
1964, 149.
260
Cfr. ibid., 47.59.83.
183
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
261
Cfr. HOORNAERT, E. Teologia e ação pastoral em Antônio Vieira SJ: 1652-1661. In: AA. VV. História
da Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 74.
184
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
262
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. II Período
Imperial e Transição Republicana. São Paulo, 2010, 51-56.
263
Cfr. AZZI, R. A Teologia no Brasil. Considerações históricas. In: AA.VV. História da Teologia na
América Latina. São Paulo, 1991, 28.
264
Cfr. BOFF, L. O reverso da história. In: VILAR, G. C. A liderança do clero nas Revoluções
Republicanas: 1817-1824. Petrópolis, 1980, 11-12.
265
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. II
Período Imperial e Transição Republicana. São Paulo, 2010, 56-58.
185
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
266
Cfr. ibid., 93.
267
Mons. Antônio Viçoso (Mariana), Mons. Antônio Joaquim de Melo (São Paulo), Mons. Romualdo
Antônio de Seixas (Bahia), Mons. Antônio de Macedo Costa (Pará) e Sebastião Laranjeira (Rio Grande
do Sul) e Mons. Vital de Oliveira (Olinda).
186
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dos maçons das confrarias de Recife. Mons. Vital recebeu o apoio do bispo
de Belém, Antônio de Macedo Costa, mas muitos prelados preferiram calar
diante da reação da coroa que se bandeou em defesa dos interesses
maçons. Depois de terem sido condenados e aprisionados (1873-1874),
foram anistiados (1875). Apesar destes episódios históricos, a concepção
prática da relação Estado-Igreja permaneceu a mesma: a Igreja difundia
contemporaneamente a sua autonomia em matéria pastoral e a
colaboração entre o trono e o altar, em vista da manutenção da ordem
estabelecida. Devemos, porém, observar que a influência do governo no
interior da Igreja diminuiu de modo nítido268.
Para evitar o crescimento de um clero brasileiro urbano de
pensamento político liberal, os seminários foram confiados a religiosos
europeus que promoveram uma reforma na formação sacerdotal no Brasil.
Tal reforma visava repropor a beleza e a importância do celibato
eclesiástico e suscitar uma atitude clerical em mataria política e social que
de algum modo se afastasse das expectativas do povo brasileiro de então,
uma atitude que tivesse como finalidade uma atuação meramente
espititual-religiosa.
De 1840 a 1889 não se vê a influencia eclesial nos grandes eventos
políticos no Brasil, como a abolição da escravatura em 1888 e a
proclamação da República em 1889, que foram associados principalmente
à burguesia urbana liberal e à maçonaria.
Com o advento da República, merece ser recordado o sacerdote Júlio
Maria269 (1850-1916) que propôs à Igreja uma nova cruzada. Ela devia
268
Cfr. SCHERER, I. R. Concílio Plenário do Brasil. História da Igreja no Brasil de 1900 a 1945. São
Paulo, 2014, 34.
269
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. III
Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 19-24.
187
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romper sua aliança com o poder e colocar-se do lado do povo para defender
o seu interesse. Segundo o autor, sobre a terra existem somente dois
poderes, o eclesial e o do povo, que unidos seriam invencíveis270. Defendia
a independência da Igreja como fundamento de toda forma autentica de
catolicismo e pregava a importância de cristianizar a democracia diante de
uma forte tendência positivista271 e maçônica de construir “um Brasil sem
Deus”272. Segundo ele a Igreja podia contribuir para construir uma nação
sobre a ordem que brota das consciências, uma ordem que respeita a razão
humana e a sua dignidade, mas que promove contemporaneamente o
exercício da liberdade e o respeito pelas instituições, pelas hierarquias
sociais e pelo governo legítimo. Os católicos não eram os verdadeiros
inimigos da republica como alguns pregavam, mas podiam tornar-se os
melhores amigos. Os verdadeiros inimigos são, na realidade, aqueles que
querem uma sociedade sem religião273. O grande perigo que ameaça a
Igreja na sociedade liberal entre o século XIX e XX é o de ser excluída da vida
pública, social e política, devendo acontentar-se de uma presença limitada
nos lares e nas consciências.
A Igreja devia assegurar o seu papel na vida concreta dos homens e
da sociedade tornando-se uma Igreja em saída, ou seja, não se limitando a
dispensar os sacramentos, mas saindo das sacristias e andando ao encontro
de todas as classes sociais, os operários, os patrões, os iletrados, os
intelectuais, etc. Não se deveria esperar que o Estado oferecesse à Igreja o
papel dela, mas a Igreja deveria conquistá-lo e influenciar o Estado e a
270
Cfr. MARIA, J. O Catolicismo no Brasil. Rio de Janeiro, 1950, 244.
271
Depois da proclamação da República, a bandeira brasileira incorporou uma frase de A. Comte: “Ordem
e Progresso”.
272
MARIA, J. Brasil sem Deus, Pátria, 12/08/1894, 350.
273
Cfr. ibid.
188
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274
BEOZZO, J. O. Pe. Júlio Maria, Uma Teologia liberal-republicana numa Igreja monarquista e
conservadora. In: AA. VV. História da Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 121.
275
Cfr. ibid., 110.
276
Cfr., por exemplo, MARIA, J. A minha pregação. In: Pátria, 14/10/1894, 120-122. Para um resumo
sobre o tema cfr. BEOZZO, J. O. Pe. Júlio Maria, Uma Teologia liberal-republicana numa Igreja
monarquista e conservadora. In: AA. VV. História da Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 112-
117.
189
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190
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277
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. III
Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 45-49.
278
LEME, S. Carta pastoral. Petrópolis, 1916, 5.16-17.
279
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. III
Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 66.
191
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280
Cfr. SARANYANA, J. I. Cem anos de Teologia na América Latina (1899-2001). São Paulo, 2005, 35-
36.
281
Cfr. LEPARGNEUR, H. A Teologia Católica Romana no Brasil. In: AA.VV. Tendências da Teologia
no Brasil. São Paulo, 1981, 73.
282
Cfr. DUSSEL, E. Hipóteses para uma história da teologia na América Latina. In: AA.VV. História da
Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 175-178; MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de
presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. III Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 59-
61.
283
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. III
Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 99.
192
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284
Cfr. SCHERER, I. R. Concílio Plenário do Brasil. História da Igreja no Brasil de 1900 a 1945. São
Paulo, 2014, 95-119; MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no
Brasil. Vol. III Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 84-87; SARANYANA, J. I. Cem
anos de Teologia na América Latina (1899-2001). São Paulo, 2005, 42-46.
285
Cfr. SCHERER, I. R. Concílio Plenário do Brasil. História da Igreja no Brasil de 1900 a 1945. São
Paulo, 2014, 121-122.
286
NERI, C. Programa de Ação Católica. Rio de Janeiro, 1936, 137.
193
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287
Cfr. ibid.
194
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195
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288
Cfr., por exemplo, BOFF, L. O reverso da história (introdução). In: CARVALHO, G. V. A liderança do
clero nas revoluções republicanas:1817-1824. Petrópolis, 1980, 11-12.
196
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
289
Cfr. BARAÚNA, G. (ed.). La Chiesa del Vaticano II: studi e ommenti alla Costituzione dogmática
“Lumen Gentium”. Firenze, 1965.
290
Como se lê no preâmbulo, a Encíclica Populorum progressio foi pensada como uma palavra profética
do magistério para iluminar em particular a América Latina e a África.
291
Cfr. MATOS, H. C. J. Nossa História. 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. Vol. III
Período Republicano e Atualidade. São Paulo, 2011, 194-196.
197
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292
Cfr. DUSSEL, E. Hipóteses para uma história da teologia na América Latina. In: AA.VV. História da
Teologia na América Latina. São Paulo, 1991, 180-184.
293
Cfr. GIBELLINI, R. A Teologia do Século XX. São Paulo, 1998, 348.
294
Cfr. TORRES, S.; EAGLESON, J. (orgs). The emergent Gospel Theology from the Underside of History
(Papers from the Ecumenical Dialogue of Third World Theologians, Dar-es-Salaam, August 5-12, 1976)
198
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
295
Cfr. SARANYANA, J. I. Cem anos de Teologia na América Latina (1899-2001). São Paulo, 2005, 35-
88.
296
Cfr. GIBELLINI, R. A Teologia do Século XX. São Paulo, 1998, 351.
297
Cfr. ibid., 352.
298
Cfr. AMIN, S. L’accumulation à l’échelle mondiale. Paris, 1970.
199
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200
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299
Cfr. RUBBOLI, M. (ed.). Social Gospel. Il movimento del Vangelo sociale negli USA. Gli scritti
essenziali (1880-1920). Torino, 1980.
300
Cfr. DERESCH, W. (Ed.). La fede dei sociallisti religiosi. Antologia di testi (1972). Milano, 1974.
301
Cfr. ASSMANN, H. Teologia della Prassi della Liberazione. In: AA. VV. Dibattito sulla Teologia della
Rivoluzione. Brescia, 1969, 79-94. Cfr. Também MARCHESI, G. Puebla e la Teologia della Liberazione,
La Civiltà Cattolica, 131, 1980, 130.
201
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
302
Cfr. COMBLIN, J. Théologie de la pratique révolutionnaire. Paris, 1974, 16.
303
Cfr. BOFF, L. Eine kreative Rezeption des II. Vatikanums aus der Sicht der Armen: Die Theologie der
Berfreiung. In: KLINGER, E.; WITTSTADT (eds.). Glaube im Prozess. Christsein nach dem II.
Vatikanum. Freiburg-Basel, 1984, 632-633. Boff cita um texto de H. Assmann.
304
Sobre a Teologia Política cfr. ARDUSSO, F. La teologia política. In: MARRANZINI, A. Correnti
Teologiche Postconciliari. Roma, 1974, 35-53.
202
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
TP TdL
Enfrenta o desafio da racionalidade Tem como interlocutor o pobre, o
crítica e da liberdade individual no homem esquecido da América
âmbito de uma sociedade Latina que deve tornar-se o sujeito
burguesa. da libertação integral.
Enfrenta os problemas da Analisa as bases históricas
modernidade, mas não questiona concretas da América Latina.
as bases históricas concretas do
mundo moderno.
305
Cfr. MOLTMANN, J. Lettera aperta a José Miguez Bonino. In: GIBELLINI, R. (Ed.). Ancora sulla
teologia politica: il dibattito continua. Brescia, 1975, 202-217.
306
Cfr. PIXLEY, J.; BASTIAN, J. B. (eds.). Praxis cristiana y producción teológica. Salamanca, 1977.
203
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
307
ILLANES, J. L.; SARANYANA, J. I. Historia de la Teologia. Madrid, 2002, 398.
308
Cfr. MONDIN, B. Storia della Teologia, vol. IV, Epoca Contemporanea. Bologna, 1997, 737.
309
Resumamos BOFF, C. Teologia e Pratica. Teologia do político e suas mediações. Petrópolis, 1978, 335-
353.
204
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
205
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
310
Segundo C. Boff, a Conferência de Aparecida rompeu com o método ver-julgar-agir no esboço do seu
documento final, na medida em que parte de um primeiro capítulo cristológico, para depois analisar a
realidade do homem latino-americano. Cfr. BOFF, C. Teologia da Libertação e volta ao fundamento,
Revista Eclesiástica Brasileira, 268, 2007, 1001-1022. Cfr. também BRIGHENTI, a. A epistemologia e
o método da teologia da libertação no pensamento de Clodovis Boff, Horizonte, 32, 2013, 1403-1435.
311
Cfr. BOFF, C. Teologia e Pratica. Teologia do político e suas mediações. Petrópolis, 1978, 171.
312
Cfr. GIBELLINI, R. A Teologia do Século XX. São Paulo, 1998, 356.
206
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
313
Cfr. SCANNONE, J. C. La teologia della liberazione: caracterizzazione, correnti, tappe. In: NEUFELD,
K. (ed.). Problemi e prospettive di teologia dogmatica. Brescia, 1983, 393-424. Cfr. também ID.
,Teología de la liberación y praxis popular. Aportes críticos para uma teología de la liberación.
Salamanca, 1976; GIBELLINI, R. A Teologia do Século XX. São Paulo, 1998, 357; SARANYANA, J. I.
Cem anos de Teologia na América Latina (1899-2001). São Paulo, 2005, 94.
314
Cfr. SARANYANA, J. I. Cem anos de Teologia na América Latina (1899-2001). São Paulo, 2005, 110-
113.
207
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
315
RATZINGER, J. Diálogos sobre a fé. Entrevistas realizadas por Vittorio Messori. Lisboa, 2005, 150.
316
Cfr. ibid., 152
208
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
317
Cfr. ELLACURÍA, I. Los pobres, ‘lugar teologico’ en la América Latina, Misión abierta, 4-5, 1981,
225-240; LIBÂNIO, J. B. Gustavo Gutierrez. Brescia, 2000; COSTADOAT, J. El “lugar teológico” en
Jon Sobrino, Theologica Xaveriana, 181, 2016, 23-49.
318
Cfr. OLIVEROS, R. História de la Teologia de la Liberación. In: ELLACURÍA, I.; SOBRINO, J. (eds.).
Mysterium Liberationis. Conceptos fundamentales de la teologia de la liberación. Madrid, 1990, 28-29.
319
Cfr. CANO, M. De locis theologicis. Madrid, 2006.
320
“O objeto formal quo” poderia ser definido como o meio com o qual é estudado o “objeto material”,
enquanto o “objeto formal quod” seria o aspecto sob o qual é estudado o “objeto material”, cfr. DANNA,
V. Percorsi d’intelligenza: un viaggio nella filosofia con Bernard Lonergan. Torino, 2003, 66.
321
Cfr. BOFF, L. Do lugar do pobre. Petrópolis, 1984,
322
Para uma séria crítica desta obra cfr. ILLANES, J. L. Teología de la Liberación. Análisis de su método,
Scriptura Theologica, 17, 1985, 743-788.
323
Cfr. BOFF, C. Epistemologia y método de la teología de la liberación. In: ELLACURÍA, I.; SOBRINO,
J. (eds.), Mysterium Liberationis, 79-113.
324
BOFF, C. Epistemologia y método de la teología de la liberación. In: ELLACURÍA, I.; SOBRINO, J.
(eds.), Mysterium Liberationis, 79.
209
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
325
Cfr. SCANNONE, J. C. Situación de la problemática del método teológico em América Latina, Medellín,
78, 1994, 257.
326
Cfr. LEPARGNEUR, H. A Teologia Católica Romana no Brasil. In: AA.VV. Tendências da Teologia
no Brasil. São Paulo, 1981, 109.
210
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
327
Cfr. ibid., 108.
328
Cfr. ibid., 110.
211
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
329
BOFF, L. Hablemos de la outra vida. Santander, 1978, 43-44.
330
Para um panorama sobre a biografia e a obra de L. Boff cfr. CARBALLO, J. M. V. Trinidad y Sociedad.
Implicaciones éticas y sociales em el pensamiento trinitário de Leonardo Boff. Salamanca, 2008, 29-
331.
331
Segundo B. Mondin, enquanto G. Gutierrez foi o pai da teologia da libertação, Leonardo Boff foi o seu
mais eficaz propagandista, cfr. MONDIN, B. Storia della Teologia, vol. IV, Epoca Contemporanea.
Bologna, 1997, 719. Sob a influência teológica de L. Boff cfr. CONGREGAZIONE PER LA
DOTTRINA DELLA FEDE. Notificatio de scripto P. Leonardo Boff, Ofm, “Chiesa: Carisma e Potere”.
In: Enchiridion Vaticanum n. 9. Bologna, 1987, n.1421.
332
Resumamos DANTAS, J. P. de M. Lo spirito santo “anima” del Corpo Mistico. Radici storiche ed
esempi scelti dell’ecclesiologia pneumatologica contemporânea. Siena, 2017, 452-481.
333
Cfr. BOFF, L. Jesus Cristo Libertador. Ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo. Petrópolis,
1972 (tradução italiana Gesú Cristo Liberatore. Assisi, 1975). Neste volume se nota uma abordagem
tipicamente rahneriana (cristologia transcendental) do discurso teológico.
212
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
334
Cfr. BOFF, L. Jesus Cristo Libertador. Ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo. Petrópolis,
1972, 56. Cfr. também ibid., 57-61.
335
Cfr. MONDIN, B. I teologi della liberazione, 117.
336
Cfr. BOFF, L. Jesuscristo Liberador. In: BOFF, L. Jesuscristo y la liberación del hombre. Madrid, 1981,
82.
337
Cfr. ibid., 83.
338
Cfr. JOÃO PAULO II. Encíclica Redemptoris Missio, n. 13.
339
Cfr., por exemplo, SOBRINO, J. Jesús em América Latina. Su significado para la Fe y la cristologia.
Burgos, 1982, 129-206.
213
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
340
Cfr. FAUS, J. I. G. Las formulas de la dogmática cristologica y su interpretación actual, Estudios
Eclesiásticos, 46, 1971, 339-367.
341
Em alguns trechos da sua cristologia, Boff se aproxima do Nestorianismo, cfr. BOFF, L. Jesuscristo
Liberador. In: BOFF, L. Jesuscristo y la liberación del hombre. Madrid, 1981, 211.
342
Cfr. BOFF, L. Paixão de Cristo, paixão do mundo. O fato, as interpretações e o significado ontem e
hoje. Petrópolis, 1977 (tradução italiana Passione di Cristo, passione del mondo. Il fatto, Le
tinterpretazioni e il significato ieri e oggi. Assisi, 1978)
343
Sobre o significado da morte e ressurreição de Cristo na teologia de L. Boff cfr. SILVA, L. C. da. Morte
e Ressurreição de Jesus Cristo como chave de libertação humana. Estudo analítico crítico a partir das
cristologias de Leonardo Boff e Jon Sobrino (Pars dissertationis ad doctoratum Theologiae dogmaticae
– Pontificia Universitas Gregoriana). Roma, 1992.
344
Segundo os teólogos da libertação, a práxis se apresenta como um “lugar teológico-social”. Sobre este
tema cfr. LEHMANN, K. Problemas metodológico-hermenêuticos de la “Teología de la Liberación”,
Medellín, 4, 1978, 3-26.
345
Cfr. BOFF, L. Paixão de Cristo, paixão do mundo. O fato, as interpretações e o significado ontem e
hoje. Petrópolis, 1977, 9-10.
346
Cfr. BOFF, L. Jesus Cristo, Libertador da condição humana, Grande Sinal, 25, 1971, 99-101[99-110].
À luz da ressurreição, Boff afirma a continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé, cfr. BOFF, L.
Jesus Cristo Libertador. Ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo. Petrópolis, 1972, 154. No
que se refere ao isomorfismo estrutural entre a sociedade de Jesus e a sociedade latino-americana,
podemos perceber como seja importante na reflexão teológica do autor a análise sociopolítica de matriz
marxista, cfr. MONDIN, B. Teologia della Liberazione: rassegna bibliográfica. In: Anuario de Historia
de la Iglesia, 3, 1994, 250. Sobre a relação entre teologia da libertação e marxismo cfr. COTTIER, G.
La théologie de la libération et le marxisme, Nova et Vetera, 60, 1985, 66,73.
214
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
347
Cfr., por exemplo, BOFF, L. Paixão de Cristo, paixão do mundo. O fato, as interpretações e o
significado ontem e hoje. Petrópolis, 1977, 79-90. Cfr. também MARSON. Il método della teologia
della liberazione in Gustavo Gutiérrez, Leonardo e Clodovis Boff, Juan Luis Segundo, 242.
348
Cfr. BOFF, L. Paixão de Cristo, paixão do mundo. O fato, as interpretações e o significado ontem e
hoje. Petrópolis, 1977, 158. Boff indica a morte de Jesus Cristo na cruz como causa exemplar, mas não
parece colocar em relevo que a morte de Jesus é causa instrumental eficaz de salvação humana; do
mesmo parecer MONDIN, B. I teologi della liberazione, 126.
349
MARSON. Il método della teologia della liberazione in Gustavo Gutiérrez, Leonardo e Clodovis Boff,
Juan Luis Segundo, 245.
350
Crf. BOFF, L. Eclesiogênese. As comunidades eclesiais de base reinventam a Igreja. Petrópolis, 1977.
A partir de 2008, a obra em português é publicada com o título: Eclesiogênese: a reinvenção da Igreja.
Rio de Janeiro, 2008.
351
Crf. BOFF, L. Igreja: carisma e poder. Petrópolis, 1981. Cfr. também CONGREGAZIONE PER LA
DOTTRINA DELLA FEDE. Notificatio de scripto P. Leonardo Boff, Ofm, “Chiesa: Carisma e Potere”.
In: Enchiridion Vaticanum n. 9. Bologna, 1987, n.1421-1432.
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desta obra, podemos dizer que nela não emerge ainda a originalidade do
pensamento eclesiológico boffiano, cuja importância é fundamental para a
teologia da libertação na América Latina352.
Boff, no rastro de uma certa exegese353, afirma que o Jesus pré-pascal
não fundou a Igreja, mas pregou o Reino de Deus numa perspectiva de
escatologia iminente. Jesus faliu na sua intenção de instaurar o Reino e
depois de um confronto político-religioso foi crucificado, mas apesar da
falência consciente (cfr. Mc 15, 34) nunca se desesperou e entregou sua
vida e o mundo ao Pai. Deus “cumpriu a expectativa de Jesus: na sua pessoa
construiu o reino”354. A morte (falência) de Jesus torna possível a Igreja,
enquanto a sua ressurreição é o fundamento da fé da comunidade primitiva
e é garantia da realidade do seu Reino355. Por essa razão, segundo Boff,
“pode-se falar de Igreja somente a partir da fé na ressurreição [depois da
ascensão e de Pentecostes]”356. O Jesus pré-pascal deu à Igreja as bases
preliminares de fundo, todavia na sua forma concreta e histórica ela se refaz
à decisão dos Apóstolos, iluminados pelo Espírito Santo (cfr. At 15,28). A
tradição sempre ensinou que a Igreja nasce no dia de Pentecostes: “Por
esse critério ela tem um fundamento cristológico e um pneumático. Esta
constatação é de grande importância, porque explica que o elemento
carismático tem, desde o início, um caráter institucional e não fortuito e
superficial”357.
O fundamento pneumatológico da Igreja a torna sempre missionária
ente os pagãos, aberta à novidade do momento histórico e cultural, capaz
352
Para um breve olhar na eclesiologia da teologia da libertação cfr. MONDIN, La Chiesa primizia del
Regno, 182-186.
353
Boff cita autores como A. Loisy, P. V. Dias, A. Vögtle e H. Küng. Cfr. BOFF, L. Ecclesiogenesi, 78-
79.
354
BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 89.
355
Cfr. ibid., 90.
356
Ibid., 79.
357
Ibid., 95.
216
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358
Cfr. ibid., 96.
359
Observa-se na obra de Boff um certo primado do elemento utópico (ligado ao futuro e à esperança)
sobre o fatual, cfr. MONDIN, B. I teologi della liberazione, 116.
360
BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 8.
361
Ibid., 9.
362
Cfr. ibid., 86-91. Cfr. também COLON, E. Teologia della Liberazione. In: Dizionário di Ecclesiologia,
1426 [1426-1420].
363
Crf. BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 100.
364
Ibid., 101.
217
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365
Cfr. ibid., 103.
366
Ibid., 109.
367
Cfr. ibid., 188-198.
368
Cfr. ibid., 107-109.
369
Cfr. ibid., 113.
370
Cfr. BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 8-9.
371
Cfr. MONTES, A. G. Teología política contemporânea. Historia y sistemas. Salamanca, 1995, 169-170.
218
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372
Cfr. BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 39.
373
Cfr. ibid., 25.
374
Cfr. ibid., 39-40.
375
Cfr. ibid., 46.
376
Crf. BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 37-54. Cfr. também COLON, E. Teologia della Liberazione.
In: Dizionário di Ecclesiologia, 1426.
377
MONDIN, B. Teologia della Liberazione: rassegna bibliográfica. In: Anuario de Historia de la Iglesia,
3, 1994, 250 [247-263]. Cfr. também COLON, E. Teologia della Liberazione. In: Dizionário di
Ecclesiologia, 1426.
378
Crf. BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 206. Boff afirma que as divisões na Igreja (da América Latina),
normalmente, não se têm no plano da fé, dos sacramentos e da direção, mas no do empenho com a
realidade (missão). Cfr. também COLON, E. Teologia della Liberazione. In: Dizionário di
Ecclesiologia, 1427.
379
Cfr. BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 51 e BOFF, L. Chiesa:
carisma e potere, 224.
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Deus
Cristo
Apóstolos
Bispos
Padres
Fiéis
Nesta eclesiologia, a hierarquia é comparada à categoria de “classe
dominante”380: enquanto bispos e presbíteros possuem tudo, o fiel leigo
não tem nada. A hierarquia produz os valores religiosos e o povo os
consume381. Para Boff, a hierarquia é o resultado da “férrea necessidade de
ter que si institucionalizar”, “uma mundanização”, no “estilo romano
feudal”382.
O novo modo de ser Igreja, vivido nas CEBs, poderia ser apresentado
segundo o seguinte esquema:
Cristo-Espírito Santo
Comunidade – Povo de Deus
Bispos – padres - coordenadores
380
BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 51.
381
Cfr. BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 224.
382
Cfr. ibid., 70.
220
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383
Cfr. ibid., 224.
384
Cfr. ibid., 223. BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 219-223. Cfr.
também COLON, E. Teologia della Liberazione. In: Dizionário di Ecclesiologia, 1427.
385
Cfr. BOFF, L. Ecclesiogenesi. Le comunità di base reinventano la Chiesa, 115-158
386
Cfr. ibid., 101-114. Neste caso o coordenador seria um ministro extraordinário da Eucaristia, Cfr. ibid.,
112-114.
221
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387
BOFF, L. Trinità e Società, 245.
388
Cfr. BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 238-253.
389
Cfr. ibid., 238.
390
Ibid., 240
391
A interpretação de Boff, que vê uma identidade entre o Espírito e o Cristo Ressuscitado, não está em
acordo com a exegese atual; cfr. MANZI, F. (ed.). Seconda Lettera ai Corinzi. Nuova versione,
222
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introduzione e commento. Milano, 2002, 165-167; CARREZ, M. La Deuxième Épitre de Saint Paul
aux Corinthiens (Commentaire du Nouveau Testament, deuxième sèrie, VIII). Genève, 1986, 100-101;
BARNETT, P. The Second Epistle to the Corinthians (The New International Commentary on the New
Testament). Grand Rapids-Cambridge, 1997, 199-203; HARRIS, M. J. The Second Epistle to the
Corinthians (The New International Greek Testament Commentary). Grand Rapids, 2005, 309-313.
392
BOFF, L. Chiesa: carisma e potere, 240-241.
393
Cfr. ibid., 242.
394
Cfr. ibid., 243.
395
Ibid., 247.
223
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396
Cfr. ibid., 248.
397
Para um olhar na figura e na obra de Kloppenburg, cfr. SILVA R. G. de A. Fray Boaventura
Kloppenburg, OFM. Los caminos de la Ecclesiología em Brasil. Tese de Doutorado. Facultad de
Teología de Navarra. Pamplona, 2010. A crítica dirigida por Kloppenburg à Teologia da Libertação se
encontra na obra KLOPPENBURG, B. Libertação cristã. Seletos ensaios teológicos. Porto Alegre,
1999.
398
Cfr. KLOPPENBURG, B. Iglesia Popular. Bogotá, 1977, 63. Cfr. também, KLOPPENBURG, B. A
Eclesiologia Militante de Boff, Communio, 1, 1982, 126-147.
224
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399
TERRA, J. E. M. Frei Boff e o neogalicanismo da Igreja brasileira. São Paulo, 1984.
400
CONGREGAZIONE PER LA DOTTRINA DELLA FEDE. Libertatis nuntius. In: AAS, 76, 1984, 876-
899.
401
Ibid., 554-591.
225
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402
Para o texto da referida declaração, cfr. AQUINO, F. (ed.). Teologia da Libertação. Lorena, 2003, 120-
128.
403
Cfr. CONGREGAZIONE PER LA DOTTRINA DELLA FEDE. Notificatio de scripto P. Leonardo
Boff, Ofm, “Chiesa: Carisma e Potere”. Disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_1985031_noti
f-boff_it.html.
226
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404
Cfr. LEPARGNEUR, H. A Teologia Católica Romana no Brasil. In: AA.VV. Tendências da Teologia
no Brasil. São Paulo, 1981, 118.
227
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405
Cfr. ibid., 70.
406
Cfr. ibid., 119.
407
Cfr. GUTIÉRREZ, G. Situação e tarefas da teologia da libertação. In: GIBELLINI, R. (ed.). Perspectivas
Teológicas para o Século XXI. Aparecida, 2005, 88.
408
Cfr. SILVA, R. M. da. Caminhos da teologia latino-americana: algumas lições do passado e desafios
atuais. In: AA. VV. A Teologia Contemporânea na América Latina e no Caribe. São Leopoldo, 2008,
14.
229
Introdução à Teologia – Prof. Dr. Pe. João Paulo Dantas – Ad usum privatum – FCB 2021
409
Cfr. ibid., 16.
410
MÜLLER, G.; GUTIÉRREZ, G. Dalla parte dei poveri. Teologia della liberazione, teologia della
Chiesa. Padova, 2013. Cfr. também MÜLLER, G. Povera per i poveri. La missione della Chiesa. Città
del Vaticano, 2014.
230
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povo, com efeito, apenas consumiu alguns subprodutos da TdL, através dos
opúsculos e dos cursos que lhes foram oferecidos.
Ao lado da rede de emissoras de TV (TV Aparecida, TV Nazaré, Rede
Vida), de estações de radio e de centros de formação catequética e
teológica para os leigos, sustentada pela Conferência Episcopal, pelas
dioceses e pelas paróquias, os novos movimentos (Focolarinos,
Neocatecumenais, Renovação no Espírito) e as novas comunidades
(Shalom, Canção Nova) criaram uma outra rede de emissoras de TV (TV
Canção Nova), de estações de radio e de centros de evangelização e de
formação, contribuindo para suscitar nos leigos o desejo de conhecer a
beleza da tradição teológica católica. Uma série de novas casas editoras
católicas (Cultor de Livros, Ecclesiae, Malokai, Cléofas, Canção Nova,
Shalom) nascem no Brasil por iniciativa dos leigos, de matriz mais
conservadora, e entre os livros de teologia mais vendidos no Brasil se
encontram títulos de Tomás de Aquino, Agostinho, Bernardo de Chiaraval,
Ratzinger, Newman e Chesterton. Nas redes sociais, se difundem canais de
formação teológica (Felipe Aquino, Olavo de Carvalho, Pe. Paulo Ricardo)
cuja popularidade é surpreendente.
Existem os meios mediáticos e eclesiais para levar adiante um
movimento de formação teológica do povo de Deus, que seja capaz de
superar um sentimento contrário à teologia acadêmica que se desenvolveu
entre os leigos, por causa das orientações teológicas e ideológicas das
Faculdades de Teologia e dos seminários.
Uma parceria entre as Faculdades de Teologia, a Conferência
Episcopal do Brasil e as novas realidades eclesiais poderia conduzir a uma
experiência, desejável e de suma importância, de formação teológica
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No Brasil existem cerca de 500 novas comunidades reconhecidas pelos seus bispos diocesanos ou pelo
Pontifício Conselho para os Leigos.
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Oggi: Futuro:
412
Lutero afirmava que vera theologia est practica, cfr. ZWETSCH, R. E. Prefácio à terceira edição. In:
AA. VV. Teologia Prática no contexto da América Latina. São Leopoldo, 1998, 7.
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413
GUTIÉRREZ, G. La fuerza historica de los pobres. Lima, 1978, 176.
414
Cfr. GUTIÉRREZ, G. Situação e tarefas da teologia da libertação. In: GIBELLINI, R. (ed.).
Perspectivas Teológicas para o Século XXI. Aparecida, 2005, 98-99.
236
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415
Cfr. BOFF, L. Teologia da Libertação, 993.
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seguiram o seu exemplo, já que parece que no Brasil ainda seja um tabu
teológico a criticar a TdL.
Uma releitura teológica correta e crítica é necessária para relançar a
teologia no Brasil, para indicar os méritos dela, mas também os exageros e
os erros. Estes últimos colocarão em guarda a teologia no Brasil dos riscos
que pode correr (“o sábio aprende com seus erros”). Os méritos
encorajarão os teólogos brasileiros a produzir uma teologia que esteja
atenta ao contexto em que se encontram, sem perder a sua catolicidade. O
maior país católico do mundo merece produzir uma teologia de qualidade
que enriqueça toda a cristandade. Que Nossa Senhora Aparecida interceda
pela Teologia no Brasil. Amém.
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Sumário
1- Teologia................................................................................................................................. 2
1.1- Um pouco de história .................................................................................................... 2
1.2- O que é Teologia (sentido cristão)? .............................................................................. 6
1.3- Os dois caráteres da Teologia ..................................................................................... 14
2- Teologia Sistemática............................................................................................................... 20
3- Os Tratados da Dogmática Católica ....................................................................................... 24
4- As Fontes da Teologia............................................................................................................. 33
3.1- Sagrada Escritura ............................................................................................................. 34
3.2- Sagrada Tradição .............................................................................................................. 38
3.3- Magistério da Igreja ......................................................................................................... 49
5- O Método Teológico ........................................................................................................... 53
5.1- O Método de Tomás de Aquino ....................................................................................... 53
5.2- Mechior Cano, OP (1509-1560)........................................................................................ 57
5.3- À luz do Concílio Vaticano II e da Donum Veritatis (1990) .............................................. 58
5.4- A questão do Método da Teologia da Libertação ............................................................ 61
6- Duas funções da Teologia ................................................................................................... 65
7- Dogma e dogmas ................................................................................................................ 69
8- Breve história da Teologia .................................................................................................. 71
9- Linguagem teológica ........................................................................................................... 79
10- O Teólogo e o Magistério ............................................................................................... 84
Bibliografia .................................................................................................................................. 89
Suplemento 1: S. Theol. I q. 1..................................................................................................... 91
Suplemento 2: Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação (Congregação para
a Doutrina da Fé) ...................................................................................................................... 101
Suplemento 3: Instrução Libertatis Conscientia (Congregação para a Doutrina da Fé)......... 117
Suplemento 4: Instrução Donum Veritatis .............................................................................. 144
Suplemento 5: A importância da Teologia no mundo pós-moderno ..................................... 157
Suplemento 6: A Teologia no Brasil, entre História e Perspectivas ........................................ 176
239