ACSELRAD Henri 2008 Cartografias Sociais e Território
ACSELRAD Henri 2008 Cartografias Sociais e Território
ACSELRAD Henri 2008 Cartografias Sociais e Território
Henri Acselrad
(Organizador)
Cartografias Sociais
e Território
Rio de Janeiro
IPPUR/UFRJ
2008
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ETTERN/IPPUR/UFRJ
Prédio da Reitoria, sala 543
Cidade Universitária, Ilha do Fundão
CE 21941-590
Rio de Janeiro - RJ
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-86136-04-7
CDD 301
Apoio:
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Sumário
Apresentação 5
Introdução 9
Apresentação
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APRESENTAÇÃO
Aurélio Vianna
Doutor em Antropologia Social
Oficial de programa da Fundação Ford no escritório do Rio de janeiro.
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Introdução
Henri Acselrad
1. Lynch, Barbara Deutsch. Marking Territory and Mapping Development. 6th Annual
Conference of the International Association for the Study of Common Property. Berkeley, CA.
June 5-8, 1996.
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2. Harley, J.B. “Cartes, savoir et pouvoir”, in P. Gould - A. Bailly (eds.) Le pouvoir des cartes - Brian Harley
et la cartographie, Anthropos/Economica, Paris, 1995 p. 18-58.
3. Rekacewicz, Philippe, La cartographie, entre science, art et manipulation, Le Monde Diplomatique, Paris,
février 2006.
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INTRODUÇÃO
4. Agradecemos aos editores da revista Cartographica a permissão para a publicação da versão em português
do artigo de Eric Sheppard, originalmente publicado em Cartographica, 40, 2005, p. 5-22.
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Disputas territoriais
e disputas cartográficas*
Henri Acselrad** e Luis Régis Coli***
* Texto preparado para o projeto “Experiências em cartografia social e constituição de sujeitos nos
conflitos ambientais” IPPUR/UFRJ – 2008.
** Professor do IPPUR/UFRJ e pesquisador do CNPq
*** Doutorando do IPPUR/UFRJ
1. Carl Malamud, A Shared Reality, in Mappamundi http://mundi.net/cartography/Maps/ (acesso
em 20/10/2008)
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Assim sendo, se, por um lado, tornam-se claras as implicações políticas dos
mapas, podemos falar, por outro lado, da emergência de políticas cartográficas,
em que os mapeamentos são eles próprios objeto da ação política. E se ação
política diz especificamente respeito à divisão do mundo social, podemos
considerar que na política dos mapeamentos estabelece-se uma disputa entre
distintas representações do espaço, ou seja, uma disputa cartográfica que
articula-se às próprias disputas territoriais. Essas disputas, por sua vez, tendem
a acirrar-se, mais ou menos explicitamente, quando as formas socioterritoriais
estabilizadas sofrem alterações significativas – como é o caso das transfor-
mações sócio-espaciais associadas à liberalização das economias no final do
século XX – ou quando a própria atividade mapeadora sofre os efeitos de
mudanças técnicas que permitem expandir seu campo de ação e o universo
de sujeitos nela envolvidos, como é o caso recente do advento das tecnologias
digitais na produção cartográfica. A disseminação social dos mapas daí
decorrente tem sido entendida como portadora de múltiplos efeitos, desde a
multiplicação democratizante das formas de interpretar o mundo, até o
acirramento dos mecanismos autoritários de controle, próprios a uma
“sociedade da vigilância”2. É neste contexto que, na série historicamente
diversa das modalidades de mapas e de práticas de mapeamento, reunindo
mapas administrativos, de desenvolvimento, de zoneamento, de penetração
etc., os mapas ditos “participativos” vêm acrescentar um “surplus” de
legitimidade na disputa cartográfica.
2. Jessica Park, The New Cartographers - What does it mean to map everything all the time?,
in In These Times, february 29 2008.
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3. O Tratado Oito se refere ao acordo assinado em 1899 entre as Primeiras Nações (título
comum usado no Canadá para descrever as diversas sociedades de povos indígenas da América
do Norte que não são de descendência de Esquimós ou Metis) do Norte de Alberta, Nordeste
de Saskatchewan, a região sudoeste dos Territórios Noroestes, e a Rainha da Inglaterra. Ele foi
seguido por Adesões na parte nordeste da Columbia Britânica em 1900. O Tratado Oito abrange
terras de área total de aproximadamente 840.000 quilômetros quadrados onde estão domiciliadas
39 comunidades das Primeiras Nações.
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O caso brasileiro
Observando os mapeamentos com envolvimento de populações locais
realizados no Brasil, algumas terminologias poderiam ser acrescentadas
àquelas verificadas no âmbito internacional, como por exemplo: “levanta-
mentos etnoecológicos”, “mapeamento etno-ambiental dos povos indígenas”,
“mapeamento dos usos tradicionais dos recursos naturais e formas de
ocupação do território”, “mapeamento comunitário participativo”, “mapea-
mentos culturais”, “macrozoneamento participativo”, “etnozoneamento”,
“etnomapeamento”, “diagnóstico etnoambiental” e “cartografia social”, entre
outros. Variações estratégicas e metodológicas subjazem, é claro, a todas
essas terminologias (Correia, 2007).
Num levantamento realizado no primeiro semestre de 2008, foram
identificadas 118 experiências em que grupos indígenas, comunidades
quilombolas, pequenos produtores e extrativistas, membros de associações de
moradores urbanos foram envolvidos em práticas de mapeamento dos
territórios em que vivem e trabalham. Segundo a classificação de seus próprios
promotores, estas atividades foram em sua maioria associadas à delimitação
de territórios e territorialidades identitárias, a dar elementos para uma
discussão sobre desenvolvimento local, oferecer subsídios a planos de manejo
em unidades de conservação e a promover o etnozoneamento em terras
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indígenas (ver Quadro 1). Os projetos no âmbito dos quais tais mapeamentos
se deram começaram a ser desenvolvidos no início dos anos 1990,
apresentando uma proliferação particular nos anos de 2005 e 2007 (ver
Quadro 2).
QUADRO 1
EXPERIÊNCIAS DE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO
SEGUNDO TIPOS AUTO-CLASSIFICADOS POR SEUS PROMOTORES
Delimitação de territórios
/territorialidades identitários 56 47,6
Identificação e demarcação
de terras indígenas 3 2,55
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As reservas extrativistas
As Reservas Extrativistas são espaços territoriais protegidos pelo poder
público e destinados à exploração por populações que utilizam
tradicionalmente recursos de base extrativa, reguladas por contrato de
concessão real de uso, mediante plano de utilização aprovado pelo órgão
responsável pela política ambiental brasileira – o IBAMA (Allegretti, 1994,
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4. O Projeto Grande Carajás (PGC) foi um projeto de exploração mineral, implantado entre 1979
e 1986, na mais rica área mineral do planeta, situada na Amazônia brasileira, estendendo-se por
900 mil km? pela então empresa estatal brasileira Companhia Vale do Rio Doce.
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O Projeto Mamirauá
Enquanto as iniciativas de mapeamento realizadas na área de abrangência
do Programa Grande Carajás tiveram como foco contribuir para organizar as
comunidades envolvidas na disputa pelos territórios em que viviam, o Projeto
Mamirauá, iniciado formalmente em 1992 e desenvolvido na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável de mesmo nome, buscou utilizar o
mapeamento participativo como subsídio a planos de manejo florestal
comunitário nesta Unidade de Conservação (UC), enunciando como seu
pressuposto fundamental a preservação da biodiversidade.
6. Disponível em http://www.fapespa.pa.gov.br/index.php?q=node/255 .
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7. Disponível em http://www.mamiraua.org.br/pagina.php?cod=39&xcod=9 .
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Mamirauá partiu do grupo liderado por Márcio Ayres, cujo núcleo inicial era
a primatologia, não se restringindo, no entanto, a essa disciplina, uma vez que
a presença de antropólogos e sociólogos também foi considerada crucial.
Tratava-se, portanto, de um grupo multidisciplinar de pesquisadores ligados
principalmente a instituições de pesquisa amazônicas (Museu Goeldi, UFPA
e INPA) (Inoue, 2007).
Ainda segundo Inoue (2007), algumas condições facilitadoras permitiram
ao Projeto Mamirauá deslanchar, dado um contexto favorável, nacional e
internacionalmente. “No nível doméstico, a redemocratização favoreceu a
ascensão das ONGs no cenário político nacional, as quais, por sua vez,
contribuíram para colocar mais peso nas questões ambientais. Havia também
pressões externas de governos, indivíduos e ONGs preocupadas com a
floresta amazônica. Por outro lado, deve-se notar que indivíduos e ONGs de
vários países, inclusive Brasil, estavam conectados por redes ambientalistas
transnacionais, que foram fundamentais para a questão ambiental ganhar
força globalmente”. A ascensão da questão do meio ambiente ao topo da
agenda política internacional nos anos 1990 refletiu-se na oferta de fundos
para projetos na área ambiental. “Assim, as agências de cooperação técnica
internacional de vários países do Norte, bem como aquelas vinculadas às
Nações Unidas, aumentaram ou reestruturaram os seus programas na área
ambiental. Além disso, as ONGs internacionais ganharam maior projeção e
capacidade de financiamento de projetos” (Inoue, 2007).
Considerações finais
O processo de inclusão de atores sociais locais nas práticas da cartografia
iniciado nos anos 1990 desperta inúmeras questões para o debate. Para
Colchester (2002), entre as ONGs que apóiam povos indígenas nesses
processos de mapeamento, haveria uma tendência crescente à adoção de
sistemas sofisticados, estimuladas pelo próprio afã de conhecimento, por
uma fascinação pela tecnologia e pelo desejo de chegar primeiro,
ultrapassando, assim, as autoridades governamentais. O risco, segundo ele,
é que o processo de mapeamento se afaste das prioridades dos grupos sociais
que se quer beneficiar e acabe se transformando em mais uma forma de sua
anexação administrativa, desta vez praticada por ONGs contra as quais devam
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Bibliografia
Acselrad, H. 2002 “O Zoneamento ecológico-econômico da Amazônia e o
panoptismo imperfeito”, in Cadernos IPPUR/UFRJ vol. XV, n.2/vol.XVI, n.1,
ago.dez.2001 – jan.jul.2002, pp.53-75.
Adant, I. Mougenot, C. Mormont, M. 1999, La Participation, heuristique
de l´environnement, in Environnement et Société n. 22, pp. 145-155.
Allegretti, M. Reservas extrativistas: parâmetros para uma política de
desenvolvimento sustentável na Amazônia, in A. Anderson et alii, O Destino
da Floresta, Relume Dumará, Rio de Janeiro, 1994.
—————————- A Construção social de políticas ambientais -
Chico Mendes e O movimento dos seringueiros, Tese de Doutoramente,
UnB, Brasília, 2004.
Almeida, Alfredo Wagner Berno de. 1993. Carajás: A Guerra dos Mapas.
Belém: Falangola.
Balandier, G. Images, Images, Images. Cahiers Internationaux de Sociologie,
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Barreto Filho, H. T. Da Nação ao planeta através da naturesa: uma
abordagem antropológica das unidades de conservação de proteção integral
na Amazônia brasileira, Tese de Doutoramento em Antropologia Social IFCH-
USP, São Paulo, 2001.
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* O presente texto é parte de uma trabalho maior tendo por título Géomatique et gestion environ-
nementale du territoire – Université de Rouen, 2004. Tradução de Luis Rodolfo Viveiros de Castro
** CRENAM – Centre de Recherche sur l´Environnement et l´Aménagement - Université Jean
Monnet Saint Etienne.
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gostaríamos de contar com uma análise desses “atores locais”, das relações que
os unem e dos objetivos individuais e coletivos que eles perseguem através
desse exercício de planejamento espacial, é interessante notar que esta
metodologia se coloca na contramão da maioria das (algumas) experiências de
planejamento participativo, realizadas na Europa. Estas experiências exploram
principalmente os mapas ditos de ator, as capacidades analíticas dos SIGs, a
modelização de fenômenos ou representações gráficas complexas e sintéticas
inspiradas na coremática1. Paralelamente, tendem a deixar de lado a utilização
cooperativa das funcionalidades cartográficas de base dos SIGs: edição,
correção, atualização, escolha de legenda e impressão de mapas simples de
inventário. Nos casos em que se apóiam na co-elaboração de mapas, trata-se
mais de produzir um mapa de síntese das questões (Chastel e Fallet 2001) do
que elaborar conjuntamente uma cartografia da situação negociada por
intermédio de um SIG. Caquard (2001b) também assinalou, a propósito da
gestão da água, que os atores locais estão menos interessados nas informações
de síntese do que por uma análise descritiva do problema, fundada em
informações úteis e recentes. Por outro lado, nossa experiência na gestão
paisagística participativa nos faz pensar que as análises mais abstratas que se
produzem com o SIG desarmam, muitas vezes, os parceiros habituados a
perceber os problemas de maneira pragmática. Mas oferecem, também, um
caráter sistemático geral e global que, depois da primeira reticência, pode
interessar aos atores. Em Eymoutiers, por exemplo, eles pediram à equipe
que fornecesse análises sistemáticas e complementares para avançar. É a
partir do confronto entre essas duas abordagens - os saberes locais, concretos
e pragmáticos, mas dificilmente generalizáveis dos atores de terreno, de um
lado, e os tratamentos espaciais, sistemáticos e abstratos de outro, que pode
nascer uma compreensão melhor dos fenômenos que transformam o território.
É possível imaginar na França ou na Europa uma elaboração participativa
dessa descrição de base? É possível que nos digam que a informação digital
1. A coremática é um neologismo da Geografia forjado nos anos 1980 a partir da palavra grega
chôra, que significa território, lugar. A abordagem coremática refere-se aos “coremas”, como
elementos básicos da organização dos territórios, representados por modelos gráficos. Estes
coremas são vistos não somente como um instrumento gráfico, mas também um método de
análise espacial (N. do E.).
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em questão. Nos dois casos, ele tem uma dimensão política intrínseca,
independente da questão, também fundamental, do acesso à informação. Sabe-
se pelo menos desde Harley (1995) que a cartografia é tanto uma forma de saber
quanto de poder. Para Wood (1992), os mapas são mesmo “armas, ordens de
ação, comandos, injunções, decretos,” (citado por Caquard 2001b). Mas Harley
vai mais longe. Ao contrário dos outros modos de expressão, ele assinala, o
mapa é uma linguagem de poder e não de contestação. Jamais existiu uma
cartografia popular, alternativa ou subversiva; o mapa sempre esteve do lado dos
grupos dominantes e a tecnologia da informática não fez mais, segundo ele, que
reforçar esta concentração de poder sobre os meios de informação.
O mapa é, portanto, uma ferramenta potente de desvendamento, mas
cujo domínio exige uma especialização que não é igualmente compartilhada
entre os diferentes atores e que é suscetível de criar, por seu uso, efeitos de
poder2, o que é um problema para o objetivo da participação. Parece que se
abrem três grandes pistas de soluções. A primeira é a vulgarização do uso do
mapa e uma melhor formação cartográfica do cidadão. A segunda consiste em
formar os mediadores da participação em cartografia, e os cartógrafos na
concepção participativa dos mapas. A terceira é a de renovar o próprio mapa.
A cartografia, de fato, esforçou-se durante muito tempo em demonstrar sua
exatidão, sua neutralidade e sua objetividade mais do que insistir em suas
incertezas, seus a priori, e sua subjetividade. Para Caquard (2001b), o notável
trabalho de Bertin deu-se nesse sentido, universalizando a linguagem
cartográfica. O princípio era o de trabalhar na definição de um bom modo de
produção de um mapa, mas sem abordar a questão de seu bom uso,
admitindo implicitamente que uma boa construção cartográfica era garantia
de um uso correto do mapa. Os SIGs surgiram em seguida, dando uma nova
conotação cientifica aos mapas produzidos, ligada às conotações de
modernidade e precisão que são associadas ao computador, enquanto as
manipulações, nos dois sentidos do termo, são cada vez mais fáceis com a
2. É o que de fato nos incomoda nos diferentes artigos de D´Aquino. Temos a impressão que o
processo é transparente e que não existe nele nenhum viés de competências entre os atores
quanto à capacidade de ligar o espaço real e o artefato cartográfico. Ademais, nos surpreendemos
um pouquinho também com o processo endógeno que dá origem a uma demanda de simulação
informática através de sistemas multi-agentes no contexto rural senegalês.
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3. Eis porque investimos pessoalmente num projeto de pesquisa-ação que tenha vocação para
desenvolver nos colégios o uso das ferramentas SIG de fácil consulta e análise cartográfica
(Joliveau, Carlot et. al. 2001).
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Fazendo um balanço
O planejamento comunicativo e participativo tem por missão não somente
pensar e organizar o futuro do território, mas permitir sua construção contínua
pela sociedade local, ao mesmo tempo em que os atores locais se inscrevem
cada vez mais em redes que ultrapassam ou ignoram o território. Nesse
sentido, o planejamento participa desta redefinição permanente das formas
territoriais que acompanha as práticas sucessivas de localização-deslocalizaçao
dos atores. Esta forma de planejamento pretende ligar atores e territórios,
construir o território com os atores e mobilizar os atores através do território
com a hipótese de que, nesta relação, uns e outro mudarão. Trata-se, portanto,
de uma atividade de alta intensidade de informação. Tradicionalmente, a
partilha era bem clara. Os atores tinham necessidade de uma informação
qualitativa, sintética, simplificada, interpretada, uma informação de
comunicação. Do lado do território, a informação deveria ser precisa, objetiva,
técnica e dizia respeito a especialistas (espacialistas?): gestores, planejadores,
urbanistas...No quadro de um planejamento participativo, esta dicotomia
entre comunicação e gestão técnica do território não se sustenta mais. Os
“dados” do território aparecem cada vez mais como o que de fato são:
construções finalizadas com vistas a objetivos técnicos, cujos autores são
muitas vezes levados a contestar a escolha, a utilidade ou a pertinência para
tratar de seus problemas. A construção de um território comum com os atores
necessita associar estes últimos à produção de conhecimentos sobre o
território, o que é, alem do mais, facilitado pela continuidade de tratamento
que permite a informação digital. O desenvolvimento do planejamento
comunicativo e participativo contribui, portanto, para fazer com que a
informação saia de seus espaços tradicionais; técnica, manejo, comunicação.
A informação sobre o território circula entre leigos e especialistas, especialistas
técnicos e comunicadores. Isto não quer dizer que os ofícios e as
competências fundam-se ou se confundam, mas que são colocados numa
continuidade lógica e tecnológica.
Os SIGs são habitualmente percebidos como do lado da gestão da
informação técnica e objetiva e não, contrariamente ao discurso ou ao mapa,
do lado da subjetividade, da argumentação, das idéias, das representações, da
discussão. Isto é bem verdade no período atual, mas esquecemos que os
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4. Schwarz (1994) considera que um sistema, visto como um todo organizado de componentes
em interação, tem sempre três planos de existência: o plano físico, o plano lógico e o plano
holístico, correspondente ao sentido, à identidade e à “consciência” do sistema.
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Direções
Qual pode ser o papel dos pesquisadores num tal contexto? Nos parece
necessário precisar três questões, que serão a seguir tratadas.
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5. PAR: Participatory Action Research (Pesquisa de ação participativa); PRA: Participatory Rural
Appraisal (Diagnóstico rural participativo); MARPP: Méthodes Actives de recherche et de
planification participatives (Métodos ativos de pesquisa e de planejamento participativos).
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Bibliografia
Abbot J., R. C. Et al. (1998). Participatory GIS : opportunity or oxymoron?
Participatory Learning and Action : 27-33.
Cambrézy (1995). De l´information gégraphique à la representation
cartographique. Une liaison subordonnée à une certaine vision de l´espace in
La cartographieen débat. Representer ou convaincre. L. Cambrézy et R. de
Maximy. Paris. Karthala. Editions de l´ORSTOM: pp. 129-148.
Caquard, S. (2001a). Cartographie dynamique et gestion concertée de l´eau,
vers une solution fondamentale de la function de la carte, in Actes des journées
Cassini “Géomatique et Espace Rural”, Montepellier, 26-28 sept. 2001, pp.
13-29.
Caquard, S. (2001b). Des cartes multimédias dans le déabt publique. Pour
une nouvelle conception de la cartographie appliquée à la gestion de l´eau.
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O poder de mapear:
efeitos paradoxais das tecnologias
de informação espacial *
Jefferson Fox**
Krisnawati Surianata***
Peter Hershok****
Albertus Hadi Pramono*****
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Os achados da discussão
Começamos trabalhando três conjuntos de questões interligadas e
superpostas. Tentamos inicialmente entender as dinâmicas sociais e políticas
resultantes em comunidades que decidem engajar-se em mapeamentos.
Pesquisadores da Ecologia Política argumentam que os processos locais estão
interligados através de escalas temporais, espaciais e institucionais (Blaikie
1985, Blaikie e Brookfield 1987). Temos por hipótese que os atores locais
podem escolher estrategicamente adotar ou rejeitar as atividades e tecnologias
do mapeamento, ou podem ser constrangidos pelas relações políticas,
econômicas e sociais mais amplas a não agir diferentemente. Para explorar esta
hipótese, fizemos as seguintes perguntas: Por que as comunidades decidiram
se engajar em mapeamentos? Quem se fortaleceu com a adoção de tecnologias
de informação espacial? Quem perdeu com isso? Quem controla os mapas?
Como os diversos atores decidem como utilizar os mapas? Quais são os
processos em que o fortalecimento dos atores acontece?
O segundo conjunto de questões trata dos impactos das tecnologias e
atividades de mapeamento sobre os valores das comunidades. Temos por
hipótese que as tecnologias de informação espacial carregam consigo valores
tais como “universalidade”, “objetividade”, “padronização”, “precisão” e
“controle” que emergiram na relação sistêmica com o contexto de experiências
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Envolvimento e fortalecimento
Os participantes do workshop concordaram que a informação espacial é útil
para vários propósitos. As comunidades podem planejar melhor a gestão de
seus recursos, acompanhar a implementação de projetos de desenvolvimento
e resolver conflitos por recursos no interior de suas comunidades. A abertura
de espaço político devida às mudanças associadas à introdução de políticas
descentralizantes na Indonésia e o reconhecimento de direitos indígenas nas
Filipinas formaram um contexto no qual o mapeamento tornou-se um
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indígenas americanas, pode-se ter usos da terra não mapeados, mas os outros
limites devem ser estabelecidos e reconhecidos.
Mais adiante, como as TIEs se tornam praticamente imperativas,
ironicamente pode ser desvantajoso para muitas pequenas comunidades que
não têm acesso a elas. Do mesmo modo, resolver conflitos causados pelo
mapeamento concentra a atenção na importância dos “ limites” e “ territórios”
relativamente a outros aspectos não espaciais. Este deslocamento torna
eventualmente as TIEs indispensáveis para afirmação e defesa dos direitos das
comunidades. Tanto na Indonésia quanto na Malásia, muitas comunidades
tomaram consciência “ do poder dos mapas” e tornaram-se ansiosas para ter
mapeados os seus recursos. Isto, mesmo considerando que as ONGs que
apóiam o mapeamento participativo sejam incapazes de responder a todas as
demandas comunitárias por mapeamento. As comunidades que não têm
mapas vêem-se em desvantagem à medida em que “ direitos “ e “ poder” são
crescentemente definidos em termos espaciais.
TIEs e ONGS
Definimos ONGs como organizações que trabalham em bases voluntárias,
dependendo de recursos externos, operando junto a membros pobres e
marginalizados da sociedade, com equipes reduzidas em atividade de natureza
flexível independente não lucrativa e não partidária (Korten, 1990). A natureza
urbana e de classe média da maior parte das ONGs, assim como sua
dependência de recursos externos, coloca sua independência e performance
em dúvida.
Os participantes do workshop entenderam que a sua decisão de adotar as
TIEs variaram, mas que razões externas às ONGs foram no mínimo tão
importantes como as internas. Os doadores têm uma influência relativamente
grande em muitas ONGs (por exemplo, a mudança de um mapa de esboço para
o SIG na Indonésia foi sugerida pelos doadores). As prioridades dos doadores,
entretanto, mudam, e uma ONG que recebeu apoio financeiro para adquirir
TIEs pode não receber apoio para manter esta tecnologia. Pode também ser
difícil para uma ONG cumprir os calendários impostos pelos doadores.
O sucesso no uso dos mapas como ferramentas de negociação de direitos
fundiários levou ao crescimento da demanda de mapeamento por parte de
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N elites que exerceram a dominação sobre ela por várias centenas de anos.
Essas elites – as grandes oficinas de mapas do Ocidente, o Estado e, em
menor medida, os acadêmicos – foram desafiados por dois importantes
acontecimentos. Primeiro, o efetivo negócio da confecção de mapas, do
levantamento de dados espaciais e seu mapeamento, está saindo das mãos dos
especialistas. A capacidade de produzir mapas, até mesmo um impressionante
mapa 3D interativo, está hoje disponível para qualquer um que tenha um
computador pessoal e uma conexão de internet. A última “transição tecnológica”
da cartografia (Monmonier 1985; Perkins 2003) não é tanto uma questão de
novos softwares de mapeamento quanto uma mistura de ferramentas cooperativas
livres, aplicações de mapeamento móvel, e geodenominação. Se essa tendência
tem sido visível para os integrantes dessa indústria há algum tempo, uma crítica
pela ótica da teoria social, que afirmamos ser de teor político, situa os mapas nas
relações de poder específicas e não como documentos científicos neutros. Pode-
se esperar que um crítico da política do mapeamento enfraqueça o poder do
mapa e trabalhe contra a transição que põe os mapas nas mãos de um número
maior de pessoas. Mas o exato oposto tem ocorrido. Se o mapa é um conjunto
específico de assertivas de poder e conhecimento, então não apenas o Estado
como outros poderiam fazer afirmações concorrentes e igualmente poderosas.
Esse golpe duplo – um conjunto amplo de práticas imaginativas de
mapeamento e uma crítica ressaltando a política do mapeamento –
* Texto publicado originalmente em ACME: An International E-Journal for Critical
Geographies, Volume 4, Issue 1.Tradução de Carolina Apolinário de Souza
** Departmento de Geografia, Georgia State University, Atlanta, Ga. 30303, email:
[email protected]
*** Departamento de Geografia, Ohio Wesleyan University, Delaware, OH 43015, email:
[email protected]
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Críticas teóricas
A crítica teórica da cartografia tem como alvo a procura desta, no âmbito
acadêmico do pós-guerra, por representações sempre melhores e mais
verídicas de uma realidade preexistente. Mas, em vez de participarem dessa
busca, a cartografia crítica admite que os mapas produzem a realidade tanto
quanto a representam. Talvez John Pickles o expresse melhor quando afirma:
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1. O termos SIG crítico e cartografia crítica se sobrepõem mas não coincidem. Se, por um lado,
resultam da mesma filosofia crítica descrita acima, por outro, o SIG crítico refere-se às
implicações sociais dos sistemas de informação geográfica, a hardwares e softwares para
visualização e análise interativa de dados espaciais, enquanto a cartografia crítica é termo mais
abrangente, referindo-se a mapas, mapeamento e fabricação de mapas em geral. Como se
diferenciam esses termos é algo que pode variar conforme a compreensão que se tem dos
vínculos entre o SIG e a cartografia. Neste ensaio não faremos uma distinção estrita entre
cartografia e SIG, mas enfocaremos o próprio mapeamento, prática comum ao SIG e à
cartografia.
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Para se ter uma idéia do quanto são populares essas práticas corriqueiras
de mapeamento, considere o Google Earth (GE). O GE foi lançado em fins
de junho de 2005 e ganhou notoriedade durante o Furacão Katrina, em
agosto. Fotografias aéreas do desastre tornaram-se disponíveis por iniciativa
de diversas agências (assim como pela própria Google). Embora a Google não
divulgue números de downloads, seu quadro de avisos especializado revelava,
ao final de 2005, mais de 275.000 pessoas registradas, com mais de 40.000
aderindo a cada mês (registros e adesões não são requisitos para se utilizar o
Google Earth; os fóruns são usados sobretudo por pessoas que fornecem e
discutem novos dados espaciais). Uma estimativa razoável do uso do GE
teria que contabilizar milhões.
Se essas capacidades baseiam-se na tecnologia geo-espacial, o ponto é
que elas não nasceram das disciplinas da cartografia ou do SIG. Elas foram
desenvolvidas por programadores intrigados com o potencial do mapeamento
para oferecer informação significativa. De fato, é difícil encontrar referências
à literatura cartográfica nesses novos processos. A representação da Terra
em detalhe fotográfico realista é usada para navegar e visualisar dados que
possuem um componente geograficamente significativo. Importa onde está
essa informação. Uma vez que vivemos nossas vidas em mundos comuns de
mobilidade (Roush 2005), essas capacidades performativas de mapeamento
são intrigantes (Laurier and Philo 2003, 2004). O mapeamento livre significa
que a cartografia está nas mãos dos usuários, e não mais nas de cartógrafos
e cientistas de SIG.
O mapeamento livre somente é eficaz quando pessoas têm acesso à
tecnologia, seja ela a internet, um computador poderoso o bastante para
rodar o software e, talvez com importância ainda maior, o conhecimento para
usá-la. A distribuição desses recursos é espacialmente desigual, como
revelaram inúmeros estudos da fronteira digital (Chakraborty and Bosman
2005; Crampton 2003; Zook 2005). A fronteira digital consiste em uma
defasagem/disparidade entre grupos sociais diferenciados por raça, idade,
localização e educação. Ou seja, esses grupos sofrem de uma defasagem (às
vezes de grande amplitude) a cada vez que uma tecnologia é adotada. Assim,
a fronteira não é apenas um problema de provisão de uma tecnologia em
particular (por exemplo, laptops de centenas de dólares; Blau, 2005), por
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* Este artigo foi originalmente apresentado à conferência sobre SIG e Pesquisa Geográfica Crítica
no Hunter College, New York, em março de 2001, e foi em seguida revisado diversas vezes. Sou
grato aos participantes da conferência, e em particular a Francis Harvey, Mei-Po Kwan e Marianna
Pavlovskaya, pelos comentários sobre um esboço anterior, isentando-os da responsabilidade pelos
erros factuais e analíticos remanescentes. Tradução de Carolina Apolinário de Souza.
** Departamento de Geografia / Universidade de Minnesota / Minneapolis / MN / EUA
1. Utilizo em inglês a grafia “programme” para distinguir a concepção de Lakato daquela de
Hacking.
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A iniciativa do NCGIA foi um dos vários fóruns nos quais um ativo programa
de pesquisa sobre SIG e sociedade surgiu, tendo a colaboração assumido
diversas formas: pesquisa conjunta com especialistas em SIG e teóricos sociais;
organização de sessões conjuntas em conferências sobre SIG e geografia;
criação de fóruns de debate com membros do campo “oposto” convidados a
participar de iniciativas predominantemente a cargo de especialistas em SIG ou
teoria social (e.g., Pickles, 1995a, 1999; Wright, Goodchild, and Proctor, 1997);
e novas conferências. Por exemplo, o Projeto Varenius, do NCGIA, catalisou
três oficinas sob os auspícios de sua área temática Geografias da Sociedade da
Informação: acessibilidade na era da informação; lugar e identidade numa
sociedade digital; e empoderamento, marginalização e SIG com participação
pública (Sheppard et al., 1999). Uma primeira conferência internacional –
Informação Geográfica e Sociedade – foi também realizada em Minneapolis,
MN, em junho de 1999. O espaço criado por tais iniciativas para um
compromisso entre campos de pesquisa anteriormente opostos atraiu novos
participantes, à procura de uma audiência para a pesquisa desse tipo, na qual
já estavam envolvidos. Jovens acadêmicos, em particular, não se sentindo mais
compelidos a assumirem uma identidade de teóricos sociais ou de cientistas da
informação geográfica, criativamente adquiriram expertise substantiva nas duas
áreas. Em 1998, o Consórcio Universitário para a Ciência da Informação
Geográfica incluiu uma agenda de pesquisa em cinco etapas sobre SIG e
sociedade, dentro de sua definição da pesquisa de SIG: teoria social crítica,
história social do SIG, questões éticas e legais, questões institucionais e SIG
aberto à participação pública (SIGPP ou PPGIS) (Elmes et al., 2005).
Em fins da década de 1990, o compromisso construtivo significava que a
sobreposição de culturas de respeito estava substituindo culturas separadas
de indiferença, apesar da persistente relutância de alguns geógrafos críticos
influentes ou especialistas em SIG. Tensões entre diferentes perspectivas
permanecem. Por exemplo, a nova denominação do SIG como “ciência da
informação geográfica” ressuscitou inquietações sobre o que significaria
“ciência” (Pickles, 1997). Ainda assim, o tom do debate havia sido trocado
pela busca de bases comuns, para o alívio de estudantes de graduação que não
mais se sentiam compelidos a escolher entre o SIG e geografia crítica na
área humana (Sheppard et al., 1999).
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É essa nova geração, treinada em novos cursos sobre SIG e sociedade, que
tem sido mais ativa no esforço para eliminar qualquer vestígio de uma divisão
entre essas duas sub-disciplinas (cf. Schuurman 2000).
A transição do debate e da crítica, nos quais as possibilidades eram
sugeridas e os casos individuais eram citados para propalar sua plausibilidade
para uma nova pesquisa concreta, permanece marcada pelas origens desse
programa de pesquisa como dois campos de estudo separados. Esse fato
colocou o nexo entre SIG e sociedade no centro da agenda de pesquisa. A
relação entre SIG e sociedade é dialética (Sheppard 1995b). Como qualquer
outra tecnologia, o SIG assumiu uma forma que reflete o contexto social no
qual foi desenvolvido. Em contrapartida, o SIG conformou a própria
sociedade. Como ambos evoluem juntos, cada um deles muda em função
dessa interdependência. Na prática, porém, grande parte da pesquisa
realizada na temática “SIG e sociedade” ou observou o impacto da sociedade
sobre o SIG ou observou o impacto do SIG sobre a sociedade – com muito
menos atenção à primeira relação.
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questões gerais. A primeira é sobre se o SIG pode ser usado por organizações
de base para que se empoderem na sociedade. Essa questão levou a uma
extraordinária efervescência da pesquisa em comunidades locais de todo o
mundo (Craig, Harris, & Weiner, 2002a). Adotando uma variedade de
estratégias para aumentar a participação na formulação de decisões,
integrando o conhecimento local com as bases de dados do SIG e treinando
moradores locais para o uso de tecnologias e métodos geográficos, a pesquisa
demonstrou que o SIG pode ser usado como parte da formulação participativa
de decisões. A segunda questão é sobre quais tipos de estratégias podem
reduzir barreiras ao acesso. Se uma variedade de estratégias foi aplicada para
expandir a disponibilidade do SIG às organizações comunitárias, nosso
entendimento dos méritos relativos das diferentes estratégias permanece
especulativo (Leitner et al., 2000).
A terceira questão é sobre quais são as implicações para as organizações
de base quando elas começam a utilizar o SIG. A pesquisa sobre esse tópico
envolve uma variedade de subtemas: o que fazem as organizações de base com
o SIG; a questão sobre se o SIG empodera as organizações de base e as
habilita a “saltar escalas” para influenciar instituições de maior escala; e a
questão sobre se o uso do SIG por organizações comunitárias aumentaria sua
capacidade de representar e refletir as visões da comunidade que pretende
representar. A pesquisa referente a tais questões permanece em seu estágio
inicial (Craig, Harris, & Weiner, 2002b), mas os estudos já concluídos não
sugerem que o SIGPP esteja empoderando fortemente as comunidades de
base. Por exemplo, uma pesquisa em Minneapolis e Milwaukee mostra que
organizações de moradores usam o SIG com freqüência para monitorar e
regular o território que representam e apresentá-lo da melhor maneira possível
em negociações com grandes instituições. Tais ações adequam-se melhor à
racionalidade instrumental do Estado do que à racionalidade comunicativa da
vida comum (Habermas, 1984, 1985). Tentando empoderar-se através dessas
ações, as organizações de moradores podem muito bem se ver conformadas,
ao invés de confrontadas, às prioridades das políticas dos estados nos quais
estão localizadas (Elwood & Leitner, 1998, 2003).
A quarta questão é sobre se o atual software de SIG é apropriado para esses
fins. Esse foi um tema de alta relevância na agenda de pesquisa sobre SIG e
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Tecnologia
Ao discutir o papel da tecnologia na performance da ciência, Andrew
Pickering sustenta que os cientistas se deparam com uma “secadora da
prática”, com o que pretende afirmar que a ciência é o resultado de uma
dialética de resistência e acomodação entre agência humana e não-humana.
Seres humanos que praticam ciência encontram resistência àquilo que
desejam atingir, porque as tecnologias não funcionam como eles gostariam.
Com isso, as tecnologias exercem uma agência não-humana, determinando
não apenas a prática científica comum, mas também normas de longo prazo
– à medida que os cientistas internalizam dificuldades tecnológicas limitando
suas questões de pesquisa ao que é tecnologicamente simples. É claro que,
5. Quando Nadine Schuurman (1999) cunhou o termo “SIG crítico”, ela também procurou
desafiar o pressuposto de que o SIG pode ser absorvido pela geografia crítica. A influência e a
repercussão do “crítico” na geografia humana anglo-saxônica contemporânea, contudo, criam um
contexto no qual o tipo de reflexividade que ela e eu advogamos continua difícil de ser alcançado.
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SIG e SIGPP
O programa de pesquisa de SIGPP (ou PPGIS) exemplifica a assimetria
dessa dialética de resistência e acomodação no SIG crítico.6 Fez-se
considerável progresso na criação de contextos em que o software de SIG
pode se tornar parte de um processo decisório participativo e na
suplementação do software usado pelo mainstream com plug-ins de
6. Escolhi destacar o SIGPP aqui não porque a dialética seja particularmente problemática
para essa área de pesquisa de SIG crítico, mas simplesmente porque esse é um sub-campo
ativo e bem-definido do SIG crítico com um registro histórico suficientemente detalhado para
permitir alguma avaliação.
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SIG e TIGs
Se o software de SIG padrão determinou a pesquisa e a prática do SIG, as
trajetórias sociais bem diferentes das tecnologias da informação geográfica fora
da academia levantam a questão sobre se o software de SIG deve ser o foco
do SIG crítico. Computadores portáteis tornaram amplamente disponíveis, e
cada vez mais geográficas, as sofisticadas tecnologias digitais de informação.
Estas incluem o GPS, sistemas de auto-navegação, celulares, PDAs
geograficamente sintonizados (equipados com celulares, GPS ou web
cameras), CCTVs e microprocessadores embutidos em cartões de crédito e
carteiras de identidade, animais e alguns indivíduos (e.g., portadores de
Alzheimer). Em contraste com o software SIG do mainstream, essas
tecnologias de informação geográfica (TIGs) são amiúde baratas, portáteis e
simpáticas ao usuário. Elas também estão mudando a natureza e a
importância da informação geográfica. É comum começar uma conversa pelo
celular esclarecendo-se onde estão localizados os usuários dos dois aparelhos
– precisamente por causa da mobilidade da tecnologia. Serviços baseados na
localização, o conceito pelo qual as pessoas são, via celular, alvo da propaganda
de empresas próximas a elas, é um sub-produto – em expansão acelerada –
das tecnologias de informação geográfica que, novamente, estão fazendo da
localização um atributo vital da informação (cf. Goodchild 2000). Nosso
foco na tecnologia digital pode ainda nos fazer perder de vista facilmente a
importância de sistemas de informação geográfica não-digitais. Todo cérebro
de animal é uma sofisticada tecnologia de informação geográfica precisamente
adaptada ao mundo da vida situado daquele indivíduo.
À luz dessa pletora de TIGs em transformação acelerada, o programa de
pesquisa do SIG crítico deve reavaliar o pressuposto, herdado das raízes
cartográficas do SIG, acerca do que é o SIG. Evidentemente, já existe uma
agenda ativa de pesquisa sobre a geografia da sociedade da informação, e
muitas dessas questões estão sob investigação (cf. Hepworth, 1989; Castells,
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1996; Curry, 1998, 2002; Graham, 1998; Leinbach & Brunn 2000; Sheppard
2001b; Aoyama & Sheppard, 2003). Praticantes do SIG crítico devem se
comunicar mais ativamente com esse corpo de pesquisa, com seu foco
paralelo na relação entre as TIGs e a sociedade.
A Colaboração Universidade-Comunidade
O software de SIG padrão requer uma significativa expertise para se
operado, incluindo-se não apenas familiaridade com o software, mas também
compreensão dos princípios da geografia. Portanto, há consenso de que a
expertise técnica e geográfica é central na prática do SIG crítico, não obstante
o desejo de seus praticantes de empoderar indivíduos em suas vidas comuns.
As universidades são lugares onde são criados o conhecimento e a expertise,
enquanto as comunidades são vistas como lugares dependentes dessa
expertise. Isso resulta em tensões nas parcerias universidade-comunidade,
amiúde colocando parceiros da universidade que praticam o SIG crítico em
situações frustrantes que contradizem suas inclinações ou objetivos. Por um
lado, eles descobrem que os membros da comunidade suspeitam de sua
expertise e de sua condição de outsiders, não obstante o que acreditam ser
suas melhores intenções. Por outro, quando conquistam com êxito a
confiança da comunidade, eles são freqüentemente frustrados pela disposição
desta a aceitar a expertise universitária em lugar se tornar sua parceira plena
e colaboradora (Leitner and others 2002).
Como parte de seu esforço para realizar um trabalho acadêmica ativista,
praticantes do SIG crítico precisam problematizar o pressuposto de que as boas
intenções podem superar a fronteira cidade/universidade, uma incompreensão
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Ciência e Política
A questão da ciência esteve na base de muitas discussões do SIG crítico.
Recorde-se que os teóricos sociais críticos do SIG na geografia humana
desconfiavam da associação do SIG com as definições lógico-positivistas e
empiricistas da ciência. Recorde-se ainda que tais preocupações tornaram a
surgir quando o SIG foi rebatizado de Ciência da Informação Geográfica
(doravante, CiGIS) (Goodchild 1992). Proponentes da CiSIG buscaram
ampliar o que se entende por “ciência” (Wright et al., 1997), e Bob McMaster
especulou recentemente sobre a possibilidade de uma CiSIGPP (com
participação pública) (McMaster 2002). Mesmo assim, com bastante
freqüência tais discussões pressupõem uma clara divisão entre uma ciência
universal reveladora da verdade e outras epistemologias; entre verdade e erro,
ou conhecimento e crença. Nessa ótica, a ciência envolve um método à
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Nessa ótica, o objetivo da ciência não precisa ser uma verdade pactuada
sobre o mundo, mas pode ser um alvo incansável – um debate incessante entre
diferentes epistemologias locais que, no entanto, provê um conhecimento do
mundo mais confiável e justificável que qualquer solução artificial proposta de
um ponto de vista monista. Tais debates entre perspectivas situadas são também
inevitavelmente políticos: não apenas os dados são sempre calcados na teoria,
mas nossas teorias são eivadas de cultura, política e opinião. Diferentes teorias
são articuladas na base de diferentes pressupostos sobre como funciona o
mundo e como ele poderia funcionar melhor. Nessa ótica, ciência e política não
são opostos, mas andam lado a lado. Um fórum fortemente democrático, do tipo
vislumbrado por Longino, oferece a possibilidade de se reconhecer tais vínculos
e de se obter o compromisso com debates que possuem o rigor da ciência e a
abertura de uma política da diferença (Young 1990). O SIG crítico ganhou
força ao desafiar o SIG do mainstream a fazer exatamente esse debate. Contudo,
a complacência que acompanha o sucesso do SIG crítico envolve o risco de se
impedir futuros debates e inovações.
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Uma virada
cartográfica?1
Jacques Lévy *
O de seu referente (os espaços que ele busca representar), dos conceitos
que contribuem para pensar esses espaços, de suas técnicas
específicas e dos usos do mapa pela sociedade. Se há um “virada cartográfica”,
feita de movimentos contraditórios, é como componente de uma virada
geográfica que concerne o conjunto de relações entre nossas sociedades e
seus espaços. O locus de produção da cartografia é societal, na medida em que
ele concerne, ao mesmo tempo, o conhecimento teórico e a vida cotidiana, a
linguagem e a tecnologia, o econômico e o político. Nesse programa de
trabalho, já parcialmente realizado pelos que concebem e pelos que utilizam
os mapas contemporâneos, trata-se, no fundo, através da retomada do diálogo
entre linguagem cartográfica e linguagem geográfica, de uma entrada, nesse
domínio, do compartilhamento do conhecimento como fundamento e motor
da democracia. O mapa pode, sem dúvida, tornar-se um vetor privilegiado do
que chamaremos a acomodação ao tempo dos atores, um ordenamento do
território privilegiando as margens de liberdade sobre os constrangimentos
estáticos, as questões de sociedade sobre os cenários prontos e acabados, a
governança sobre as políticas públicas setoriais, o político sobre a política, em
resumo, visando associar fortemente prospectiva e cidadania.
Pensar o mapa
O mapa é um tipo de linguagem duplamente particular: de um lado, ele
é um meio termo entre o simbólico puro (como a pintura abstrata ou os
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Crise do mapa?
O mapa foi de grande utilidade como auxiliar em várias atividades humanas
com forte componente espacial: a exploração, a guerra, o controle estatal e,
mais recentemente, a escolha de implantação de empresas ou o turismo. Os
mapas se multiplicaram tão mais facilmente quanto surgiram soluções novas
e satisfatórias para os problemas técnicos de coleta de dados e de seu
tratamento, graças à estatística, à teledetecção e à informática. O sistema de
2. A coremática é um neologismo forjado, na Geografia, nos anos 1980, a partir da palavra grega
chôra, que significa território, lugar. A abordagem coremática refere-se aos coremas, como
elementos básicos da organização dos territórios, representados por modelos gráficos. Ela é
entendidae não somente como um instrumento gráfico, mas também como um método de
análise espacial (N. do E.).
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Problemas de “fundo”
Destinados, antes de tudo aos navegadores e aos conquistadores ou aos
controladores aéreos, os mapas habituais valorizam as distâncias
independentemente dos lugares e das realidades que os habitam. Uma das
conseqüências é uma medíocre representação dos espaços com grande
concentração relativa de um fenômeno qualquer. Duas soluções são então
classicamente usadas: i) a realização do mapa em uma escala superior, o que
evita a dificuldade suprimindo a unidade de espaço representada; ii) a
utilização de figuras pontuais proporcionais que mascaram a leitura do espaço
cartográfico propriamente dito. Nos dois casos, não se faz mais do que
deslocar o problema. A questão de uma inscrição de realidades, as mais
estruturantes, no coração da mensagem cartográfica coloca a questão do que
é correntemente chamado de anamorfose, quer dizer, de uma saída do
esquema euclideano, inclusive para a realização do fundo do mapa. Duas
grandes orientações existem neste sentido: a concepção do fundo em função
das velocidades de acessibilidade (trabalhos de VillEurope sobre as
metrópoles, do Cesa de Tours sobre as velocidades de transporte...); a
definição das superfícies em função das massas, notadamente das massas
demográficas (trabalhos de Colette Cauvin e de sua equipe, de Vladimir
Tikounov, de Moscou, da Universidade A&M, do Texas). Comparemos dois
mapas eleitorais dos Estados Unidos, por exemplo: o primeiro, clássico e o
segundo, representando os Estados Unidos com uma superfície proporcional
a sua população. Esta confrontação mostra os efeitos perversos da
representação euclideana: valorizando as superfícies vazias, ela é, sob a
aparência de “exatidão”, fundamentalmente falsa para tratar de fenômenos
nos quais é o número de homens e não o inverso de sua densidade que é a
grandeza pertinente. Estas novas orientações merecem ser desenvolvidas e,
se possível, cruzadas, para aproximar-se ainda mais das realidades de hoje.
A representação do espaço planetário foi até aqui tributária do referente
do globo, todas as outras expressões cartográficas nesta escala sendo
consideradas como últimos recursos. A projeção foi e é vista como o único
meio aceitável para passar do globo ao plano da folha de papel. Na prática,
uma referência secundária se instalou como norma, a da projeção conforme
(respeitando os ângulos) que permitia calcular os caminhos marítimos, mais
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