Estrategia Da Integra Cao

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

__________

Estratégia de Moçambique para o processo de

integração regional na SADC


Índice

Acrónimos............................................................................................................................iv
1 Introdução ....................................................................................................................1
1.1 A zona de comércio livre na SADC (ZCL) ......................................................................2
1.2 O Protocolo Comercial da SADC....................................................................................2
1.3 O estágio actual da implementação do PC-SADC na SADC .............................................3
1.3.1 Conceitos e princípios definidos no processo negocial..................................................3
1.3.2 Regras de origem .......................................................................................................5
1.3.3 Barreiras não tarifárias (BNT´s) ..................................................................................6
1.3.4 Avaliação de meio termo............................................................................................7
2 O estágio de implementação do PC-SADC por Moçambique........................................9
2.1 A oferta moçambicana ...................................................................................................9
2.2 Razões da oferta moçambicana diferenciada .................................................................. 12
2.3 Impacto da integração económica regional.....................................................................12
2.4 Reacção da economia moçambicana ao PC-SADC.........................................................13
2.4.1 Novos empreendimentos económicos com capitais provenientes da região ..................13
2.4.2 Balança comercial de Moçambique em relação à SADC.............................................13
2.4.3 As receitas fisco-aduaneiras......................................................................................16
3 Factores chave para a integração económica e sua avaliação para o caso de Moçambique
20
3.1 Ambiente político ........................................................................................................20
3.2 Ambiente económico ...................................................................................................20
3.2.1 Portos e caminhos -de-ferro .......................................................................................21
3.2.2 Estradas e pontes .....................................................................................................21
3.2.3 Aviação civil ...........................................................................................................22
3.2.4 Telecomunicações e tecnologias de informação e comunicação (TICs)........................22
3.2.5 Energia ...................................................................................................................22
3.2.6 Água .......................................................................................................................22
3.2.7 A indústria ..............................................................................................................22
3.2.8 A agricultura ...........................................................................................................23
3.3 Acesso à terra..............................................................................................................23
3.4 Área da qualidade ........................................................................................................23
3.5 Serviços financeiros .....................................................................................................24
3.6 Serviços de apoio às empresas ......................................................................................24
3.7 Serviços de investigação (agronómica, industrial) ..........................................................25
3.8 Recursos humanos .......................................................................................................25
3.9 Economias de escala ....................................................................................................25
3.10 O papel facilitador do Estado ........................................................................................25
3.10.1 Ambiente de negócios ..........................................................................................26
3.10.2 Barreiras técnicas: Medidas sanitárias e fitossanitárias (SPS).................................. 26
3.11 Preparação de Moçambique para a Zona de Comércio Livre ...........................................27
4 Estratégia para a integração regional..........................................................................27
4.1 Ambiente político ........................................................................................................28
4.2 Ambiente macroeconómico..........................................................................................28
4.2.1 Na área monetária ....................................................................................................28
4.2.2 Infra-estruturas ........................................................................................................29
4.3 Serviços de transportes e comunicações .........................................................................30
4.4 Na área da energia .......................................................................................................30
4.5 Na área da água ...........................................................................................................30
4.6 Na área da agricultura .................................................................................................. 31

ii
4.7 Na área da indústria .....................................................................................................31
4.8 Na área do turismo.......................................................................................................32
4.9 Na área dos recursos minerais .......................................................................................32
4.10 Na área das pescas .......................................................................................................32
4.11 Na área dos serviços financeiros ...................................................................................33
4.12 Na área dos serviços de investigação.............................................................................33
4.13 Na área dos recursos humanos, educação, cultura e desporto...........................................33
4.13.1 Na área da saúde.................................................................................................. 34
4.13.2 Na área do meio ambiente ....................................................................................34

Tabelas
Tabela 1: Calendário de desarmamento tarifário em relação à SADC, excepto RAS................9
Tabela 2: Calendário de desarmamento tarifário em relação à RAS..........................................9
Tabela 3: Oferta tarifária para a SADC sem RAS....................................................................10
Tabela 4: Oferta tarifária para a RAS........................................................................................11

Gráficos

Gráfico 1: Balança Comercial de Moçambique com a SADC de 2001 a 2005 ........................14


Gráfico 2: Importações de Moçambique da SADC — 2005 ....................................................14
Gráfico 3: Importações globais, moçambicanas — 2005 .........................................................15
Gráfico 4: Exportações moçambicanas para a SADC — 2005.................................................15
Gráfico 5: Exportações globais moçambicanas — 2005 .........................................................16
Gráfico 6: Evolução da receita total do Estado de 1998 a 2015 (em 10^6 contos MT)............18
Gráfico 7: Evolução da receita fiscal de 1999 a 2015 (em 10^6 contos MT) ...........................18
Gráfico 8: Evolução dos impostos sobre bens e serviços 1999 a 2015 (em 10^6 contos MT) .19

Figuras

Figura 1: Aber tura do mercado nacional para a SADC sem RAS ............................................10
Figura 2: Abertura do mercado nacional para a RAS ...............................................................11

iii
Acrónimos

APE Acordo de Parceria Económica


BNT Barreira não Tarifária ao Comércio
CDE Centro de Desenvolvimento Empresarial
CE Conselho Económico
CFM Caminhos de Ferro de Moçambique
CM Conselho de Ministros
CNQ Conselho Nacional da Qualidade
COMESA Mercado Comum dos Estados da África Oriental e Austral
CPI Centro de Promoção de Investimentos
CREE Comissão de Relações Económicas Externas
CRTA Comité dos Acordos Comerciais Regionais
CTN Comissão Técnica de Normalização
DNRI Director (a) Nacional de Relações Internacionais
HACCP Análise de Riscos e Controle de Pontos Críticos
HCB Hidroeléctrica de Cahora Bassa
IF “Integrated frame work”
INNOQ Instituto Nacional de Normalização e Qualidade
IPEX Instituto para a Promoção das Exportações
ISO Organização Internacional de Normalização
JITAP Programa Conjunto Integrado de Assistência Técnica
MF Ministério das Finanças
MFN País Mais Favorecido
MIC Ministério da Indústria e Comércio
MINAG Ministério da Agricultura
MINEC Ministério da Educação
MISAU Ministério da Saúde
MOPH Ministério das obras Públicas e Habitação
MPD Ministério da Planificação e Desenvolvimento
MT Meticais da Antiga Família
MTn Meticais da Nova Família
NEPAD Nova Parceria de Desenvolvimento da África
NM Normas Moçambicanas
NORAD Agência Norueguesa para o Desenvolvimento da Cooperação
NU Nações Unidas
OIE Organização Mundial de Sanidade Animal
OIML Organização Internacional de Metrologia Legal
OMC Organização Mundial do Comércio
PARPA Programa de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta
PC-SADC Protocolo Comercial da SADC
PMD Países Menos Desenvolvidos
RISDP Plano Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional
RAS República da África do Sul
RO Regras de origem
SACU União Aduaneira da África Austral
SADC Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
SADCC Conferência de Coordenação e Desenvolvimento da África Austral
SADCA Cooperação na SADC em acreditação

iv
SADCSTAN Cooperação na SADC no domínio da normalização
SADCMEL Cooperação na SADC em metrologia legal
SADCMET Cooperação na SADC em rastreabilidade de medições
SAPP Southern A frica Power Pool
SNQ Sistema Nacional da Qualidade
SPS Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
SQAM Normalização, Garantia da Qualidade, Acreditação e Metrologia
SQAMEG Grupo de Especialistas em Normalização, Garantia da Qualidade,
Acreditação e Metrologia
TBT Barreiras Técnicas ao Comércio
TNF Trade Negotiating Forum ou Fórum de Negociações Comerciais
UA-SADC União Aduaneira da África Austral
UE União Europeia
UNDP Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas
UNIDO Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
UIT União Internacional de Telecomunicações
USD Dólares Norte Americanos
UTCOM Unidade Técnica do Comércio
ZCL Zona de comércio livre

v
Estratégia de Moçambique para o processo de integração regional
na SADC

1 Introdução
O presente documento constitui a “Estratégia de Moçambique para o processo de integração
regional na SADC”. A elaboração do mesmo teve como base a avaliação da implementação do
PC-SADC e o seu impacto na economia moçambicana e o Plano Estratégico Indicativo para o
Desenvolvimento regional – RISDP. Foram realizados debates a vários níveis do Governo e
fóruns com participação do sector privado, académicos e sociedade civil, dos quais foram obtidas
contribuições integradas neste trabalho.

Em Windhoek, em Agosto de 1992, os Chefes de Estado e Governo assinaram um Tratado que


transformava a Conferência de Coordenação e Desenvolvimento da África Austral (SADCC) em
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). A transformação da SADCC em
SADC tinha como objectivo promover uma maior cooperação e integração económicas, com
vista a apoiar na abordagem dos vários factores que terão tornado difícil sustentar o crescimento e
o desenvolvimento socioeconómicos , como por exemplo a contínua dependência da exportação
de alguns produtos primários.

O Tratado da SADC preconiza que os aspectos relacionados com a integração e cooperação na


região se expressam através de protocolos que estabelecem o quadro legal para a sua
implementação. O Acordo que emenda o Tratado da SADC, define as prioridades estratégicas da
SADC e a sua agenda comum, visando providenciar a direcção estratégica aos programas,
projectos e actividades da SADC, estabelecendo a ligação dos objectivos e prioridades
estratégicos com as políticas e estratégias a serem seguidas.

Os Chefes de Estado e do Governo da SADC aprovaram, em Março de 2001, em Cimeira


Extraordinária realizada em Windhoek, a reestruturação das instituições da SADC. Como
resultado da reestruturação foi aprovado em 2003 o Plano Estratégico Indicativo de
Desenvolvimento Regional (RISDP), que providencia uma agenda coerente e abrangente das
políticas sociais e económicas para os próximos quinze anos. O RISDP baseia-se na visão da
SADC, que indica as directrizes para o desenvolvimento da Região e apoia -se no enunciado da
missão da SADC.

O RISDP, considera como área de intervenção catalítica a liberalização do comércio e da


economia para que haja uma integração mais profunda e para a erradicação da pobreza. Neste
contexto as metas estabelecidas para a liberalização do comércio são:

• A criação da zona de comércio livre (2008);


• A criação de uma união aduaneira (concluir as negociações em 2010) ;
• O estabelecimento do mercado comum da SADC (concluir as negociações em 2015); e
• A união monetária (introdução da moeda única em 2018).

1
Moçambique é parte do processo regional de integração anteriormente definido e deve tirar
partido da sua situação geográfica privilegiada , das suas potencialidades em recursos naturais e
das outras vantagens comparativas e competitivas que possui de modo a tirar benefícios do
acesso ao mercado regional estimado em cerca de 230 milhões de consumidores. Para o efeito,
mostra-se necessário entre outros aspectos o desenvolvimento de uma agricultura forte e da
indústria nascente e a criação de uma área de turismo de eleição, reforçando assim a posição do
País no mercado regional.

1.1 A zona de comércio livre na SADC (ZCL)


Como acima referido e no contexto do RISDP, a SADC definiu como primeira fase do processo
de integração regional a criação de uma zona de comércio livre em 2008. A ZCL define-se como
sendo uma área em que dois ou mais estados membros acordam em transaccionar bens e serviços
livres de direitos aduaneiros ou tarifas, bem como de outras barreiras ao comércio.

1.2 O Protocolo Comercial da SADC


Um dos instrumentos que orienta o processo de integração regional é o Protocolo Comercial da
SADC (PC-SADC), assinado em Agosto de 1996 por 11 (Botswana, Lesoto, Malawi, Maurícias,
Moçambique, Namíbia, África do Sul (RAS), Suazilândia, Zâmbia, Tanzânia, e Zimbabué) dos
14 Estados Membros da SADC, que entrou em vigor a 25 de Janeiro de 2000 e está a ser
implementado desde Janeiro de 2001, pelos 11 países acima mencionados com a finalidade de
criação da Zona de Comércio Livre em 2008.

Os objectivos deste protocolo são os seguintes:

(i) Fomentar a liberalização do comércio intra-regional em matéria de bens e serviços, na base


de acordos comerciais justos, equilibrados e de benefício mútuo, complementados por
Protocolos noutras áreas.
(ii) Garantir uma produção eficaz dentro da SADC, que reflicta as actuais e potenciais
vantagens comparativas dos seus Membros.
(iii) Contribuir para o melhoramento de um ambiente favorável ao investimento nacional, trans-
fronteiras e estrangeiro.
(iv) Incrementar o desenvolvimento económico, diversificação e industrialização da região.
(v) Estabelecer uma Zona de Comércio Livre (ZCL) na região da SADC.

O enfoque do Protocolo Comercial é fundamentalmente o comércio de bens que vem expresso


nos seus 39 artigos que advoga m para medidas de facilitação do comércio e do investimento. Os
instrumentos para a implementação do mesmo incluem anexos sobre os seguintes assuntos:

• regras de origem para os produtos comercializados entre os Estados Membros da SADC (este
anexo contém um apêndice sobre o comércio de têxteis e confecções);
• regras para a cooperação aduaneira;
• formas de simplificação e harmonização de documentação e procedimentos comerciais;
• comércio transitário e instalações de trânsito;
• desenvolvimento do comércio, em particular as formas de facilitação do mesmo;
• mecanismos de resolução de disputas;
• comércio do açúcar.

2
O PC-SADC preconiza igualmente a liberalização na área de serviços. Para o efeito, os Estados
Membros estão em processo de negociação de um protocolo à parte que irá cobrir a liberalização
desta área.

Os Ministros da Indústria e Comércio dos Estados Membros assinaram também um Memorando


de Entendimento sobre a Cooperação entre os Estados Membros em Normalização, Garantia da
Qualidade, Acreditação e Metrologia.

Encontram-se ainda em fase final de negociação dois anexos ao PC-SADC, sendo um sobre a
Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) e outro sobre as Barreiras Técnicas ao
Comércio (TBT).

1.3 O estágio actual da implementação do PC-SADC na SADC


As negociações no âmbito do PC-SADC entraram, em Janeiro de 1999, na sua fase final de
refinamento dos calendários de redução tarifária. Previa-se que o processo, conduzido através do
Fórum de Negociações Comerciais ou TNF (Trade Negotiating Forum) decorresse entre Janeiro e
Julho do mesmo ano. Duas grandes metas eram visadas desde o início daquela fase: (i) iniciar a
implementação do protocolo em 1 de Janeiro de 2000 e (ii) liberalizar o essencial do comércio
intra – SADC, isto é ter cerca de 85% do comércio liberalizado até 2008. Entretanto a
implementação do PC-SADC só viria a ter início em Janeiro de 2001, após o lançamento do
mesmo em Setembro de 2000, altura em que dois terços dos Estados Signatários haviam
ratificado e depositado os instrumentos de ratificação junto do Secretariado da SADC.

Onze países, incluindo Moçambique apresentaram ao Secretariado da SADC as respectivas


ofertas de redução tarifária. Angola subscreveu o protocolo comercial em 2003 e encontra-se a
preparar a sua oferta de redução tarifária. Madagáscar acedeu ao Protocolo em 2005 e apresentou
em 2006 a sua oferta de redução tarifária, bem como o instrumento para o início da
implementação. A República Democrática do Congo não é signatária do PC-SADC.

O PC-SADC exclui os produtos que entram no capítulo 93 do Sistema Harmonizado, que


engloba armas e munições, suas partes e acessórios e outros produtos cobertos por convenções
internacionais.

1.3.1 Conceitos e princípios definidos no processo negocial

O processo negocial assentou num conjunto de conceitos, princípios e objectivos que fixam as
balizas e que tomam em conta os constrangimentos enfrentados pelos países na preparação das
suas ofertas de redução tarifária e proporcionam os argumentos para a defesa das mesmas. Esses
elementos normativos encontram a sua legitimidade quer no próprio texto do Protocolo
Comercial e seus Anexos, quer em resoluções do Comité de Ministros da Indústria e Comércio,
assim como nas resoluções das próprias rondas negociais.

3
a) Conceitos

Os conceitos definidos ao longo deste processo são:

Assimetria

Num processo de integração económica a assimetria define-se como o tratamento diferenciado


dos países em função do seu nível de desenvolvimento. No caso específico da SADC tem como
objectivo assegurar os interesses dos países menos desenvolvidos. Assim, assume-se à partida
que os países mais desenvolvidos devem desarmar mais cedo e mais rapidamente que os países
em desenvolvimento e estes, por sua vez, mais cedo e mais rapidamente do que os países menos
desenvolvidos.

Oferta Básica

Oferta que cada país apresentou, somente para a RAS, como proposta de desarmamento tarifário
mais proteccionista.

Oferta Diferenciada

Oferta que cada país apresentou para os restantes países exceptuando a RAS.

Categorias de produtos

Cada posição pautal foi classificada em três categorias sendo os critérios de categorização o
impacto na receita, no emprego e nas indústrias emergentes. As categorias adoptadas foram as
seguintes :

• Categoria A ou “produtos para liberalização imediata”– designa as posições pautais que ,


no início do período de implementação, deviam passar para a tarifa zero. Esta categoria
abrange essencialmente bens de capital e equipamento, que compreendem cerca de 47% das
mercadorias comercializadas.
• Categoria B ou “produtos para liberalização gradual”– designa as posições pautais que
devem ser liberalizadas gradualmente até 2008 e que constituem a maior fonte de receitas
alfandegárias. No decurso deste processo, vários países diferenciaram as linhas pautais desta
categoria introduzindo as subcategorias B1, B2, B3, etc., estabelecendo assim calendários
diferentes, de acordo com a natureza dos produtos ou as tarifas de referência. A meta global é
de liberalizar pelo menos 85% do comércio até 2008.
• Categoria C ou “produtos sensíveis ” – designa as posições pautais que, pela sua
importância para o país em causa, requerem tratamento especial e que poderiam constar de
um calendário excepcional de desarmamento que transcendesse 2008 (até 2012). A
categorização de produtos com o sensíveis abrangeria um máximo de 15% do total do
comércio intra-SADC (em termos das importações do país em causa).
• Categoria E ou “produtos de exclusão” — designa as posições pautais que por se regerem
por convenções internacionais são excluídas do processo de implementação do PC-SADC.

4
Categorias ou Grupos de Países

Os países membros foram divididos em três categorias ou grupos de países:

• Grupo I – o grupo de Países da União Aduaneira da África Austral (SACU), considerados os


mais desenvolvidos e cuja integração de mercado e nível de desenvolvimento institucional os
coloca numa posição de relativa vantagem em relação aos restantes parceiros. Inclui a África
do Sul, o Botswana, o Lesoto, a Namíbia e a Suazilândia.
• Grupo II – os países “de rendiment o médio” ou países em desenvolvimento, de acordo com a
terminologia das Nações Unidas (NU). Inclui as Maurícias e o Zimbabué, não tendo sido
considerados os países em desenvolvimento membros da SACU.
• Grupo III – os países menos desenvolvidos (PMD), de acordo com a terminologia das NU,
que são o Malawi, Moçambique, Tanzânia e Zâmbia. Não inclui os PMDs da SACU.

b) Princípios

São os seguintes os princípios definidos ao longo deste processo:

• Livre adesão — baseada na avaliação realista de custos e benefícios.


• Win/win — no balanço geral todos os participantes devem ganhar (não deve haver
perdedores)
• Assimetria — os países membros mais desenvolvidos devem sempre fazer mais sacrifícios (e
mais cedo) do que os menos desenvolvidos
• Globalidade — nada está acordado até que tudo esteja acordado.

1.3.2 Regras de origem

As regras de origem (RO) servem para prevenir o desvio de comércio, que pode resultar do uso
do protocolo para contornar os direitos aduaneiros cobrados às mercadorias provenientes de
terceiros estados. Estas regras permitem assegurar que somente bens produzidos num estado
membro sejam qualificados para beneficiar das preferências comerciais estabelecidas no acordo.
As RO fornecem indicações para identificar a “nacionalidade” do produto. Estas regras não só
previnem o desvio de comércio, mas também protegem algumas indústrias da concorrência
regional.

As RO acordadas na SADC são vistas como sendo demasiado restritivas pelo que se torna difícil
que produtos transformados na região se qualifiquem como originários no âmbito do PC-SADC.
A região adoptou regras específicas que impõem níveis mínimos de actividade económica
exigindo que : i) a mercadoria mude de linha pautal, ii) que reúna 35% de valor agregado na
região; ou ii) que os insumos importados de terceiros estados não representem mais de 60% do
valor total dos insumos utilizados.

A SADC acordou ainda que os certificados de origem sejam emitidos tanto por entidades do
sector público tais como ministérios do comércio e autoridades alfandegárias, como por entidades
do sector privado como é o caso das câmaras de comércio e indústria.

5
1.3.3 Barreiras não tarifárias (BNT´s)

Com a implementação do PC-SADC tem sido dado um novo ímpeto à identificação, análise e
eliminação das Barreiras não Tarifárias (BNT´s) ao comércio, que, de modo geral, constituem um
entrave às trocas comerciais. De acordo com um estudo efectuado pela SADC as BNT´s,
definem-se como: “quaisquer regulamentos sobre o comércio diferentes das tarifas ou de outras
políticas discricionárias que restrinjam o comércio internacional”.

De acordo com o referido estudo as principais BNT´s prevalecentes na SADC, exceptuando as


relacionadas com as TBT e SPS são as seguintes:

a) BNT´s de alta prevalência com impacto elevado no comércio:

• Documentos e procediment os alfandegários para além do necessário;


• Taxas restritivas que não se enquadram em direitos de importação ou de exportação;
• Taxas de trânsito proibitivas.

b) BNT´s com média prevalência e impacto médio no comércio

• Canais de comercialização únicos e restritivos;


• Licenças de importação para além do necessário;
• Mecanismos complicados para a obtenção de licenças de exportação;
• Requisitos para a obtenção de vistos, para além do necessário.

c) BNT´s com baixa prevalência e baixo impacto no comércio:


• Banimento e quotas de importação desnecessários;
• Inspecção pré-embarque (embora se reconhecesse que tinha sido eliminada em muitos
países); e
• Restrições nacionais sobre a segurança de alimentos.

As barreiras técnicas ao comércio (TBT) expressam-se normalmente na forma de regulamentos


técnicos, normas (inclusive requisitos para embalagem, marcação e rotulagem) e procedimentos
de avaliação da conformidade, relacionados com produtos ou processos e métodos de produção,
que criam barreiras desnecessárias ao comércio internacional.

Como forma de eliminar gradualmente as TBT entre os Estados Membros e entre a SADC e
outros blocos regionais e internacionais de comércio e de promover a qualidade e as infra-
estruturas para a qualidade está a ser implementado o “Programa da SADC em Normalização,
Garantia da Qualidade, Acreditação e Metrologia (SQAM)”. Com a implementação deste
programa a região tem estado a dar passos positivos nesta área, destacando-se os seguintes
aspectos:

(i) No âmbito da normalização: a harmonização de normas que constitui base para a


harmonização da regulamentação técnica, com 53 normas já harmonizadas e ainda o
apoio a acções de formação nos países membros;

6
(ii) No âmbito da acreditação: a criação e reconhecimento do sistema regional e a formação
dos pontos focais nos países da região. Neste âmbito foi criada a SADCAS, uma entidade
registada no Botswana, que vai fornecer serviços de acreditação aos países da região; e
(iii) No âmbito da metrologia: a harmonização da legislação e da regulamentação, a formação,
o desenvolvimento do Sistema Inter Africano de Metrologia, a criação de algumas infra-
estruturas básicas e ainda o apoio à acreditação dos laboratórios de calibração.

Embora se esteja a avançar nos aspectos acima mencionados os vários países da SADC não têm
uma abordagem comum e coordenada em relação a este assunto e enfermam de regulamentação
técnica restritiva. Com o objectivo de corrigir esta situação, encontra-se em fase final de
negociação um anexo ao PC-SADC sobre as TBT que incluirá também as questões relacionadas
com a qualidade devendo substituir o Memorando de Entendimento sobre a Cooperação na
SADC em SQAM.

A aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) também tem sido objecto de atenção na
região, o levantamento da situação nos vários países da SADC permitiu desenvolver uma
proposta de anexo ao PC-SADC sobre as medidas SPS.

1.3.4 Avaliação de meio termo

Após três anos de implementação do PC-SADC, foi realizada uma avaliação de meio termo
(2004) cujo objectivo era o de avaliar o estágio de execução dos compromissos acordados pelos
estados membros em 2001. As principais constatações deste exercício foram as seguintes:
• Falta de cumprimento do calendário de desarmamento tarifário e inconsistência em efectuar
as reduções tarifárias por parte de alguns países;
• Regras de origem restritivas e complexas; e
• Falta de mecanismos consistentes para monitorar a implementação.

A avaliação de meio termo recomendou que os estados membros:


• Actualizassem as suas ofertas tarifárias, que originalmente se baseavam na classificação
tarifária do Sistema Harmonizado (SH) de 1996 para o SH 2002;
• Fizessem um esforço para eliminar as tarifas inferiores a 5% ;
• Procedessem à revisão das regras de origem de modo a torná-las mais promotoras de
desenvolvimento industrial e encoraja doras do comércio;
• Assegurassem a consistência e transparência na implementação do desarmamento das tarifas
adoptando o dia 1 de Janeiro de cada ano para publicação da redução tarifária ;
• Realizassem duas vezes por ano as reduções tarifárias, no caso em que o processo de redução
tarifária estivesse atrasado;
• Reduzissem a taxa de preferência para a SADC nos casos em que a tarifa para a Nação Mais
Favorecida tivesse sido reduzida com o objectivo de assegurar uma margem mínima de
preferência;
• Procedessem à revisão das metas iniciais para produtos sensíveis, tendo em atenção a decisão
de se avançar para a União Aduaneira em 2010, bem como a necessidade de ter em conta os
últimos desenvolvimentos económicos;
• Melhorassem a capacidade de monitoria e comunicação entre todos os intervenientes na
implementação do PC-SADC, quer ao nível nacional, quer ao nível regional; e

7
• Estabelecessem um mecanismo de negociação e um plano de acção para a monitorização,
notificação e eliminação das BNT´s.

Em relação às barreiras não tarifárias propuseram-se as seguintes acções:

a) Remoção imediata das BNT´s de alta prevalência com impacto elevado no comércio;
b) Remoção ou harmonização a médio prazo (1-2 anos) das BNT´s com média prevalência e
impacto médio no comércio;
c) Remoção ou harmonização a médio ou longo prazos (2-5 anos) das BNT´s com baixa
prevalência e baixo impacto no comércio.

8
2 O estágio de implementação do PC-SADC por Moçambique
2.1 A oferta moçambicana

Moçambique foi um dos primeiros Estados a promulgar todos os instrumentos necessários à


implementação do PC-SADC, tendo ratificado o mesmo em Dezembro de 1999 e iniciado a sua
implementação em Janeiro de 2001. Os regulamentos sobre regras de origem e a sua certificação,
bem como os mecanismos de implementação foram publicados no Boletim da República em
Outubro de 2001, sendo de destacar o facto de ter sido o único país da região que publicou na
íntegra o respectivo calendário de desarmamento pautal.

A oferta de Moçambique está reflectida no art. 19 do Decreto Nº. 39/2002 de 26 de Dezembro,


que estabelece o calendário e os parâmetros em que deverão variar as taxas de importação de
mercadorias no âmbito do PC— SADC.

Os calendários de desarmamento tarifário representam-se nas tabelas 1 e 2:

Tabela 1: Calendário de desarmamento tarifário em relação à SADC, excepto RAS

Outros Membros
Cat Sadc Cat. Int. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
A A 0 0 0 0 0 0 0 0
B1 B1 30 30 25 25 25 20 10 0
B2 B21 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 4 0
B2 B22 5 5 5 5 5 5 3 0
C1 C1 30 30 25 25 25 20 20 20 15 10 5 0
C2 C21 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 5 0
C2 C22 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 3 0
C2 C23 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 1 0
E E Posições pautais não contempladas no PC-SADC
Fonte: Pauta aduaneira

Tabela 2: Calendário de desarmamento tarifário em relação à RAS


RAS
Cat Cat.
Sadc Int. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
A A 0 0 0 0 0 0 0 0
B1 B1 30 30 25 25 25 20 10 0
B2 B21 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 4 0
B2 B22 5 5 5 5 5 5 3 0
C1 C1 30 30 25 25 25 20 20 20 15 15 15 10 10 10 0
C2 C21 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 5 5 3 3 0
C2 C22 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 4 3 2 1 0
C2 C23 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2 1 0
E E Posições pautais não contempladas no PC-SADC
Fonte: Pauta aduaneira

9
Como se pode depreender, em 2001 a categoria “A” foi liberalizada. A partir de 2008 será
aplicada tarifa zero a toda a categoria “B” para toda a região SADC. É, porém, importante
considerar que mercadorias do mesmo tipo podem entrar na categoria “B” se forem originárias
dos outros estados membros e na categoria “C” se tiverem a nacionalidade sul africana.
Analogamente, mercadorias na categoria “A” em relação a outros países podem estar na categoria
“B” ou “C” relativamente à RAS. A razão de ser desta descriminação é o “princípio de
assimetria”.

Um levantamento das posições pautais (ou linhas tarifárias/pautais) pertencentes a cada categoria
(A, B, C e E) na pauta aduaneira vigente (2006) mostra até que ponto o mercado nacional está
aberto e como esta abertura evoluirá nos próximos anos. A tabela 3 ilustra a composição das
categorias acima referidas e o respectivo peso relativamente ao total das posições pautais. Note-
se que a categoria “C” na oferta moçambicana representa apenas 5.6% das posições pautais, o
que significa que satisfez o parâmetro dos 10% como peso máximo desta categoria.

Tabela 3: Oferta tarifária para a SADC sem RAS

Categoria No de linhas pautais % do total


A 1613 30.04%
B1 1542 28.72%
B21 1350 25.14%
B22 541 10.07%
C1 233 4.34%
C21 55 1.02%
C22 7 0.13%
C23 6 0.11%
E 23 0.43%
Total 5370 100.00%
Fonte: MIC

Figura 1: Abertura do mercado nacional para a SADC sem RAS

Actualmente 2008 2012 e mais


30.04%

93.93%

69.96% 99.57%
(protegido ) 6.07% (protegido) 0.43% (prot.)
Fonte: Elaboração do MIC

10
A categoria “A” para a SADC sem a RAS abarca cerca de 30% das posições pautais, o que
significa que 30% das mercadorias (correspondentes a estas posições pautais) importadas a partir
destes países já são isentas de direitos aduaneiros. Em 2008, aproximadamente 94% das posições
pautais terão tarifa zero. A partir daquela data, somente os produtos considerados sensíveis terão
taxas aduaneiras significativas até 2011. Em 2012 todos os produtos contemplados no PC-SADC
entrarão livremente no mercado nacional, com excepção de alguns dos produtos considerados
sensíveis para a RAS.

Em relação à RAS está liberalizada a partir de 2001 a importação de mercadorias


correspondentes a cerca de 28% das posições pautais e até 2008 o mercado nacional estará aberto
para 92.5% das mercadorias originárias deste país. Em 2012 a importação de alguns produtos
sensíveis será liberalizada, elevando a 92,8% o nível de abertura do mercado antes de 2015,
altura em que todas as mercadorias sul-africanas serão tratadas de igual modo em relação às
mercadorias dos outros estados membros. A tabela 5 e a figura 2 evidenciam o cenário das tarifas
relativas às importações de produtos sul africanos.

Tabela 4: Oferta tarifária para a RAS

Categoria Linhas pautais % do total


1509
A 28.10%
B1 1568 29.20%
B21 1348 25.10%
B22 547 10.19%
C1 269 5.01%
C21 89 1.66%
C22 7 0.13%
C23 10 0.19%
E 23 0.43%
Total 5370 100.00%
Fonte: MIC

Figura 2: Abertura do mercado nacional para a RAS

Actualmente 2008 2015


28.10%

92.5%

71.9% 7.5% 99.57%


(protegido) (protegido) 0.43% (prot.)
Fonte: MIC

11
Paralelamente a este processo Moçambique assinou acordos comerciais bilaterais com o
Zimbabué e Malawi que já estão em vigor e está a negociar outros com Angola, Tanzânia e
Zâmbia. Estes acordos consentem imediata livre circulação a uma lista de produtos entre os
territórios dos estados signatários, alterando assim o roteiro do desarmamento tarifário na região.

2.2 Razões da oferta moçambicana diferenciada

Para a elaboração das ofertas tomou-se como base o princípio de assimetria, ou seja o nível de
desenvolvimento dos países. Neste contexto foi definido que os países teriam duas ofertas, uma
para os restantes países da SADC e outra para a RAS como país mais desenvolvido na região.

O período definido foi de 8 anos para a zona de comércio livre, onde 85% do comércio intra
regional deveria ser liberalizado e os restantes 15% compreendem produtos considerados
sensíveis, cujo processo de liberalização duraria 12 anos para os restantes membros e 15 para a
RAS. Esta última percentagem compreende ainda os produtos exclusos do protocolo.
Moçambique solicitou a derrogação porque acabava de sair de uma guerra.

Assim, a oferta de Moçambique foi elaborada tendo em conta os compromissos assumidos com o
FMI, ou seja, nos primeiros 6 anos (2001 a 2006) reduziria apenas a tarifa máxima, conforme
espelham as tabelas 1 e 2.

Em 2006 Moçambique solicitou derrogação ao FMI para somente reduzir a tarifa máxima em
2007, no entanto no âmbito da SADC reduziu-se a tarifa máxima para 20%.

Para a elaboração das ofertas foram auscultados diferentes sectores (público e privado). Assim,
por exemplo, o sector da agricultura:

• No concernente às carnes bovinas foram solicitados os períodos de remoção de tarifas de 15


anos para a RAS 12 para os restantes membros, devido ao programa de repovoamento do
gado bovino.

• No tocante ao milho, foi imediatamente liberalizada a semente. O resto foi liberalizado com
excepção da RAS, para a qual o milho para diversos usos será liberalizado em 2015. Esta
oferta visava a criação de condições para o escoamento do milho do norte para as restantes
partes do país.

2.3 Impacto da integração económica regional

A abertura do comércio estimula toda a economia: aumenta as receitas dos países exportadores e
proporciona aos consumidores dos países importadores uma escolha mais vasta de bens e de
serviços, a preços mais baixos, graças a uma maior concorrência. Além disso, permite que os
países possam produzir e exportar os bens e os serviços em que são mais competitivos. A
integração pode, portanto, potenciar o crescimento económico. Mas pode também ter efeitos
negativos. O acesso a mercados mais vastos e mais abertos implica uma maior concorrência entre
empresas e entre países. Ao pôr em competição economias com diferentes graus de
desenvolvimento, a integração pode, se não for devidamente controlada, aumentar o fosso entre

12
os países mais avançados e os países pobres e marginalizar ainda mais as economias mais pobres
da região. Por outro lado os direitos aduaneiros, além de ser um instrumento de política comercial
e industrial, constituem fonte de receita para a despesa pública.

2.4 Reacção da economia moçambicana ao PC-SADC

2.4.1 Novos empreendimentos económicos com capitais provenientes da região


Nos últimos anos registaram-se, em várias áreas de actividade, investimentos provenientes de
países da região. Destes investimentos destacam-se:

Empresas com grande peso na produção nacional, nomeadamente:


• A Sasol (50% de capita sul africano) na exploração e transporte do gás natural de Pande
exportado para a África do Sul;
• A Mozal (15% de capital sul africano) , produção do alumínio;
• As areias pesadas do Chibuto (com parte de capital sul africano).

Aquisição de empresas já existentes:


A CIFEL (metalúrgica); a Companhia Industrial da Matola (Massas, bolachas, moageira); as
Cervejas de Moçambique (cerveja); a Coca-Cola (refrigerantes); a Texmoque (têxteis ); as
açucareiras.

Na área de serviços
A concessão do Porto de Maputo

Na área do comércio
Grandes supermercados : Shoprite, Game e Mica.

Na área financeira
O sector bancário: Banco Austral e Standard Bank

O fluxo de investimentos registados pouco se relaciona com as oportunidades de mercado que a


implementação do Protocolo Comercial tem vindo a criar. No entanto estes investimentos têm
influência na criação de um ambiente propício à integração regional, uma vez que contribuem
para o aproveitamento de potencialidades existentes no país e ainda para a capacitação e
capitalização de pequenas e médias empresas fornecedoras de serviços e produtos aos
empreendimentos estabelecidos.

2.4.2 Balança comercial de Moçambique em relação à SADC

A balança comercial de Moçambique com os países da SADC (2001 a 2005) é deficitária, sendo
o fosso maior relativo à África do Sul (ver gráficos 1 e 2). Para além do défice permanente da
balança comercial, as transacções de Moçambique com a região estão concentradas em um ou
dois países, com destaque para a RAS (Gráficos 2 e 4).

13
Gráfico 1 : Balança Comercial de Moçambique com a SADC de 2001 a 2005

Balança Comercial de 2001 a 2005* (10^9 Mtn)


30,000.00
25,000.00
20,000.00
15,000.00
10,000.00 Exp. (X)
US$ 10^6

5,000.00
Imp. (M)
0.00
-5,000.00 2001 2002 2003 2004 2005* (X-M)
-10,000.00
-15,000.00
-20,000.00

As importações de Moçambique são na sua maioria provenientes da SADC, (48)% em 2005.


Neste mesmo ano a África do Sul foi responsável por 91% das importações provenientes da
SADC.

Gráfico 2: Importações de Moçambique da SADC — 2005


Malawi
1%
Swazilândia
4%
Outros
1%
Zimbabwe
4%

Outros
Malawi
Swazilândia
Zimbabwe
África do Sul
África do Sul
91%

Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas

14
Gráfico 3: Importações globais moçambicanas — 2005

Importações por região (2005) como % das importações totais

Outros países; 41% África do sul; 44%

União Europeia; Outros países da


11% SADC; 4%

Fonte: Direcção Geral das Alfândegas

As exportações de Moçambique têm como mercado preferencial a União Europeia (cerca de


65% em 2005, incluindo o alumínio). Para a SADC são canalizados cerca de 22% dos produtos
exportados (gráfico 5). Em 2005 a RAS recebeu 72% dos produtos exportados por Moçambique
para a SADC e o Malawi e o Zimbabué 13% cada.

Gráfico 4: Exportações moçambicanas para a SADC — 2005

Outros
2%
Malawi
13%

Zimbabwe
13%
Outros
Malawi
Zimbabwe
África do Sul

África do
Sul 72%

Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas

15
Gráfico 5: Exportações globais moçambicanas — 2005

Exportações por região (2005) em % das exportações totais

Outros países; 13% África do Sul, 16%


Outros países da
SADC; 6%

União Europeia; 65%

Fonte: Direcção Geral das Alfândegas

Não obstante o quadro aqui apresentado, referente às transacções comerciais de Moçambique


para a região, marcadas por um défice permanente, o mercado regional oferece largas
oportunidades comerciais. Este cenário mostra que o nosso país precisa de se preparar para poder
beneficiar da liberalização do comércio regional.

2.4.3 As receitas fisco-aduaneiras

Um processo de integração regional tem efeitos substanciais sobre as receitas públicas


provenientes dos direitos aduaneiros e outras incidências fiscais. Neste contexto mostra-se
pertinente a análise do efeito que a erosão dos direitos aduaneiros e outras taxas tem nas receitas
fiscais de Moçambique.

O processo de desarmamento tarifário no país teve início em 2001, com a eliminação dos direitos
sobre as mercadorias de liberalização imediata (categoria “A”) e foi seguido de medidas de
redução em 2003 e 2006. Em 2007 não foi feita alguma redução no âmbito do PC-SADC,
contudo, segundo o calendário de redução tarifária apresentado por Moçambique, de 2007 em
diante a redução deveria ser contínua (de ano para ano) até à conclusão do desarmamento
tarifário proposto.

Embora a liberalização gradual tenha vindo a reduzir o peso dos direitos aduaneiros nas receitas
globais do Estado, este continua ainda elevado, representando cerca de 14% (2006).

Desenvolveu-se um modelo estático para avaliar o impacto do desarmamento tarifário no âmbito


do PC-SADC sobre a receita do Estado que teve os seguintes pressupostos:

16
• As importações aumentarão como resultado da liberalização;
• A eliminação das tarifas automaticamente reduzirá os preços;
• A alocação dos recursos será eficiente;
• Ignora possíveis efeitos no crescimento e produtividade como resultado da integração
regional que pode trazer uma dinâmica através da concorrência e economias de escala,
criação de indústria eficiente e o nível de crescimento como resultado da baixa de tarifas
intra-regionais;
• O ano de 2005 é o ano base;
• As taxas aplicada s no IVA e no Imposto sobre consumo específico (sobre o valor CIF)
dos produtos, manter-se-ão constantes;
• O nível das isenções nas importações (por embaixadas, legislação em vigor) manter-se-á
constantes ao longo do tempo;
• A política monetária com referência à taxa de câmbio e a inflação, não foi considerada ;
• O crescimento do PIB foi baseado no comportamento histórico das estatísticas de
Moçambique;
• O efeito de substituição das importações não foi assumido;
• Assumiu-se um aumento das receitas sobre o rendimento, até 2011 entre 0.5% a 1% do
PIB e de 1% a 2% de 2012 em diante;
• Assumiu-se um crescimento do PIB com base nos dados históricos;
• Assumiu-se que com o aumento do volume de importações e do comércio de serviços e
com a entrada em funcionamento de novas empresas se alargará a base de arrecadação de
impostos sobre o rendimento das empresas;
• Calcularam-se as receitas provenientes do comércio externo com base no agr upamento
das bandas tarifárias;
• Assumiu-se um crescimento nominal de 2.1% da taxa de câmbio.

O modelo não reflecte os custos de ajustamento. Estes fazem parte do custo de curto prazo que o
país vai ter que enfrentar, do estágio de pré liberalização da economia para pós liberalização.
Estes custos de transição incluem de entre outros aspectos os custos determinados pela realocação
dos factores de produção nos vários sectores e pela provisão da segurança social determinada
pelas substituições entre o capital e a mão de obra.

A tabela no anexo 2 apresenta os resultados obtidos pela aplicação deste modelo que foram
utilizados na análise seguinte.

O gráfico 6 mostra a evolução da receita total do Estado e das suas componentes fiscal e não
fiscal de 1998 a 2006, assim como a sua projecção de 2007 a 2015. Nota-se um crescimento
contínuo da receita total com flexões em 2004 e 2012. Este andamento é determinado
fundamentalmente pelo aumento da receita fiscal.

17
Gráfico 6: Evolução da receita total do Estado de 1998 a 2015 (em 10^6 contos MT)

90.000,0

80.000,0

70.000,0

60.000,0
Receita Total
50.000,0
Receitas fiscais
40.000,0
Outras receitas
30.000,0

20.000,0

10.000,0

0,0
12
98

04

10
00

02

06

08

14
20
19

20

20
20

20

20

20

20

Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas, adaptado pelo MIC

A receita fiscal é composta pelos impostos sobre rendimentos, impostos sobre bens e serviços e
outros impostos. Destas componentes o imposto sobre bens e serviços tem o maior peso e exerce
maior influência sobre o comportamento da receita fiscal, conforme ilustrado pelo gráfico 7.

Gráfico 7: Evolução da receita fiscal de 1999 a 2015 (em 10^6 contos MT)

70.000,0

60.000,0

50.000,0 Receitas fiscais

40.000,0 Impostos sobre


Rendimentos
30.000,0 Impostos sobre Bens e
Serviços
Outros Impostos
20.000,0

10.000,0

0,0
99

05

09

11

13

15
01

07
03
19

20

20

20

20

20
20

20
20

Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas, adaptado pelo MIC

18
Todas as componentes da receita fiscal mostram um crescimento ao longo do período em análise,
excepto outros impostos que em 2004 e 2006 tiveram uma evolução negativa, mantendo-se
crescentes de 2007 a 2015.

O gráfico 8 indica a evolução do imposto sobre bens e serviços. Este é composto pelo imposto
sobre valor acrescentado, imposto sobre o consumo específico e imposto sobre o comércio
externo (direitos aduaneiros). O IVA tem um peso determinante no andamento da receita
resultante dos impostos sobre bens e serviços.

Gráfico 8: Evolução dos impostos sobre bens e serviços 1999 a 2015 (em 10^6 contos MT)

50.000,0
45.000,0
40.000,0
35.000,0
Impostos sobre Bens e
30.000,0
Serviços
25.000,0 Imposto s/ Valor
Acrescentado (IVA)
20.000,0 Imposto s/ Consumo
15.000,0
Específico
Impostos s/ Comércio
10.000,0 Externo
5.000,0
0,0
01

03

07

09

13
99

05

11

15
20

20

20

20

20
19

20

20

20

Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas, adaptado pelo MIC

Estima-se que em 2008 os direitos aduaneiros tenham uma ligeira variação negativa. Entretanto
de 2013 até 2015 a queda da receita proveniente dos direitos aduaneiros será maior e contínua.
Este comportamento deve -se ao efeito da eliminação das tarifas aduaneiras sobre os produtos
sensíveis no âmbito do PC-SADC e da redução da tarifa aduaneira máxima geral de 20% para
15% em 2012 no âmbito dos compromissos com o FMI.

A receita proveniente dos direitos aduaneiros é também influenciada pela redução de tarifas
aduaneiras a favor dos agentes económicos nacionais em relação a certos bens , podendo-se referir
a título de exemplo a Lei nº 02/2007 de 7 de Fevereiro.

Razões do aumento da receita fiscal

Viu-se anteriormente que a receita fiscal aumentou de 1999 a 2006 e as projecções de 2007 a
2015 indicam ainda um crescimento acentuado com flexão em 2012 e recuperação em 2013. Este
aumento é sustentado pelo imposto sobre bens e serviços cuja evolução é por sua vez
determinada pelo crescimento do imposto sobre o valor acrescentado relativo a bens de produção

19
interna e importados. O IVA arrecadado das importações foi sempre maior em relação ao
arrecadado dos bens de produção interna.

Apesar de se ter iniciado com o processo de desarmamento tarifário em 2001 os direitos


aduaneiros apresentaram também um crescimento no período de 1999 a 2006.

Conclui-se que o crescimento da receita sobre bens e serviços esteja relacionado com o
crescimento das importações. Constatou-se que a maior parte das importações consiste em
equipamento e maquinaria, combustível, viaturas, energia eléctrica e outros bens intermediários.
A Mozal, Sasol e KENMARE foram responsáveis por 23% das importações moçambicanas em
2006. É de notar que as empresas que operam em regime de zona franca estão isentas do
pagamento do IVA e direitos aduaneiros nas suas importações.

3 Factores chave para a integração económica e sua avaliação para o caso de


Moçambique

Vários factores influenciaram o processo de implementação efectiva do PC-SADC, criando


desafios para o País. Dada a sua relevância descrevem-se a seguir alguns factores que constituem
prioridade na preparação de Moçambique para a integração regional, tanto para a consolidação
como para o contínuo melhoramento.

3.1 Ambiente político

A estabilidade política em constante consolidação através do exercício regular do direito à


escolha livre dos representantes dos órgãos de soberania, mediante a realização sistemática de
eleições gerais e de eleições para os órgãos autárquicos, constitui um aspecto valioso a tomar em
atenção no processo de integração.

As realizações no âmbito da consolidação da paz e democracia e os passos dados na remoção de


barreiras administrativas ao negócio contribuem para a redução do “risco país” aos investimentos,
facto assinalado por alguns investimentos de vulto em algumas áreas de actividade.

3.2 Ambiente económico

O País tem recursos naturais inexplorados e uma abundante força de trabalho, embora se encontre
entre os países mais pobres do mundo. A localização geográfica faz do País uma das portas de
entrada e de saída ideais para os produtos que circulam na região, facilitando o acesso a um
mercado potencial regional de cerca de 230 milhões de consumidores, dos quais 19 milhões são
moçambicanos. A procura efectiva no País é, no entanto baixa, devido ao baixo poder de compra
da população.
Considerando dados da SADC Facts and Figures 2004, a produção nacional encontra-se em 7ª
posição ao nível da SADC com 5.933 milhões de dólares americanos e representa cerca de 2% da
produção da região. É preciso, porém, considerar a contribuição dos grandes projectos cujos
rendimentos não se reflectem significativamente na capacidade de despesa pública e dos
consumidores nacionais. O produto per capita é de 313 USD e ocupa a 11ª posição na região. O

20
produto per capita regional é de 1251 USD. A economia nacional ocupou, pelo menos até 2004, a
segunda posição em termos de crescimento, após a angolana. A dívida externa é a mais alta da
região, seguindo a da África do Sul.

De uma forma geral, a situação económica do País mostra-se estável e com tendência a crescer
julgando pelo comportamento dos principais agregados macroeconómicos nos últimos anos e as
projecções feitas para os próximos anos no contexto do Plano Económico Social, no Programa
Quinquenal do Governo e no Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA).

O desenvolvimento das infra-estruturas constitui grande desafio para a integração da economia


nacional na região. De particular interesse revestem-se as seguintes áreas:

3.2.1 Portos e caminhos-de-ferro


Moçambique possui uma vasta costa marítima e uma localização geográfica que lhe conferem
vantagens comparativas na área de serviços de transporte na região. Os portos e os corredores de
desenvolvimento permitem um acesso aos países do hinterland. Os países que utilizam os portos
moçambicanos são, o Malawi (Beira e Nacala), o Zimbabué (Beira e Maputo), a Zâmbia (Beira e
Maputo), a R.D.Congo (Beira e Maputo) e a África do Sul (Maputo).

Desde o início da década de 90 os Caminhos -de-ferro de Moçambique (CFM) vêem introduzindo


a participação do sector privado na gestão de terminais portuárias em regime de concessão.

Apesar das mudanças acima mencionadas, os cinco principais portos do país apenas estão a ser
usados em cerca de 63% (2005) da sua capacidade total de manuseamento. O tráfego de carga
nacional (cabotagem e comércio externo) representa 54% (2005) em relação ao total manuseado
nos portos. Deste valor, apenas 2% (em média) se referem às transacções dentro do País
(cabotagem). É importante encontrar algum mecanismo que permita reduzir as tarifas portuárias e
o tempo de permanência das cargas em trânsito nos portos.

O sistema ferroviário está desenhado para permitir a ligação de Moçambique com os outros
países da região, no entanto, só estão operacionais 62% das linhas existentes. As transacções
internas são apenas responsáveis por cerca de 15% do tráfego, ou seja 3% da capacidade
disponível. A maior parte das mercadorias transportadas é destinada ou proveniente da RAS
(52%), Suazilândia, Zimbabué e Malawi. Algumas zonas potencialmente produtivas não são
servidas por caminhos-de-ferro.

Como se pode constatar, a economia interna pouco se serve do sistema ferro portuário. O
principal modo de transporte de pessoas e mercadorias é o transporte rodoviário, que em alguns
casos é menos eficiente tendo em conta o estado das vias e o custo insustentável para mercadorias
de baixo valor.

3.2.2 Estradas e pontes

A rede viária serve os corredores de desenvolvimento, no entanto as vias internas de acesso


continuam a ser barreira para o exercício de actividades económicas em vários pontos do país.
Apenas 52,1% das estradas se encontravam em 2005 em boas e razoáveis condições. Um estudo
realizado pelo Secretariado da SADC em 1998 indicava Moçambique e Angola como os países

21
da região com a menor dotação de estradas em boas condições, estando em primeiro lugar
Botswana e Namíbia e, em segundo, África do sul e Zimbabué , os restantes encontravam-se na
posição intermédia.

3.2.3 Aviação civil

A abertura do mercado nacional de aviação a outros operadores permitiu baixar os custos nas
rotas nacionais e aumentar o volume de negócio. Contudo, a companhia área nacional (LAM)
continua a ser exclusiva na rota Maputo — Johannesburg.

3.2.4 Telecomunicações e tecnologias de informação e comunicação (TICs)

O sector de telecomunicações está a registar um grande crescimento dado pela expansão da rede
de telefonia móvel, incremento do uso da Internet e adopção da banda larga. O custo das
telecomunicações em Moçambique é dos mais baixos do continente africano, contudo a qualidade
dos serviços prestados e a taxa de penetração carecem ainda de melhoramento.

3.2.5 Energia

Moçambique tem um potencial hidroeléctrico estimado em 12000Mw, dos quais 80% ocorrem no
Vale do Zambeze, onde está instalada a hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) Fase I com uma
capacidade de produção instalada de 2075Mw.

Os grandes desafios no sector da energia eléctrica consistem em aumentar a produção explorando


o potencial existente, melhorar a fiabilidade da corrente, expandir a rede de distribuição com
prioridade para as zonas de maior potencial produtivo e racionalizar o custo de produção e
distribuição de modo a oferecer tarifas vantajosas aos consumidores nacionais e concorrer para o
abastecimento da região que apresenta actualmente um défice de oferta de energia destinado a
manter-se no futuro.

3.2.6 Água

A água é um dos recursos que Moçambique possui em abundância. O aumento da utilização deste
recurso na agricultura melhoraria significativamente a produtividade do sector e,
consequentemente, a competitividade da produção nacional. Existem no país sistemas de regadio
sub aproveitados que precisam de ser reabilitados e completados.

As redes de fornecimento de água para consumo doméstico e industrial têm fraca cobertura e na
maior parte dos casos o abastecimento não cobre 24 horas por dia, o que obriga as empresas e
famílias a investir em sistemas de conservação da água, aumentando deste modo os custos de
produção.

3.2.7 A indústria

A indústria tradicional nacional (alimentar, de bebidas e tabaco, têxteis e confecções,


metalomecânica, de madeiras incluindo mobiliário, gráfica, etc.) requer revitalização. Os
principais desafios dizem respeito à substituição do equipamento obsoleto, capacitação do

22
recurso humano, aumento da produção, melhoramento da qualidade incluindo aspectos ligados à
embalagem e promoção de produto.

A indústria açucareira nacional mostra uma forte recuperação, contudo a produção nacional ainda
não satisfaz a procura interna em quase todos os outros subsectores. É necessário recuperar o
nível de processamento (valor acrescentado) que actualmente baixou significativamente, estando
algumas empresas dedicadas apenas a pequenas transformações e embalagem de produtos
importados.

3.2.8 A agricultura

A agricultura moçambicana é basicamente do tipo familiar sem aproveitamento de economias de


escala. A dispersão da produção, associada às más condições das vias de acesso, torna os custos
da comercialização elevados. Estes custos são particularmente elevados quando se trata de escoar
a produção agrícola das zonas de produção do centro e norte do país para as zonas de consumo do
sul e costeiras.

As práticas em uso, que consistem basicamente na agricultura de sequeiro, sem selecção de


sementes e com baixa utilização de pesticidas e fertilizantes, fazem com que os ciclos de
produção sejam muito longos e as colheitas e qualidade do produto baixas.

As zonas com sistemas de regadio não estão electrificadas e, por isso, os agricultores recorrem
apenas ao uso de motobombas a combustível para a rega ou à rega manual, opções mais caras em
relação às electrobombas.

Um dos produtos com elevado potencial na região é a castanha de caju, entretanto a maior parte
das árvores tem menor produtividade por causa da idade, requerendo renovação.

A prevalência da agricultura de subsistência faz com que em cada zona se produza um pouco de
tudo mas em pequenas quantidades. Falta a especialização das zonas de produção na exploração
do potencial local, de modo a tirar proveito das vantagens comparativas.

3.3 Acesso à terra

O principal desafio é tornar céleres os processos para a atribuição de títulos de uso e


aproveitamento de terras e garantir que os titulares dos direitos atribuídos façam uso efectivo da
terra.

3.4 Área da qualidade

A política da qualidade aprovada pela Resolução nº 51 do Conselho de Ministros em Novembro


de 2003 indica de modo claro como deve evoluir o Sistema Nacional da Qualidade (SNQ) em
Moçambique. Este Sistema é constituído pelos seguintes elementos: normalização, metrologia,
avaliação da conformidade, acreditação, regulamentos técnicos e medidas sanitárias e
fitossanitárias. Estes elementos são suportados por actividades no âmbito da educação, formação,
informação e sensibilização. Os desafios que se colocam para o país são:

23
• Criar as infra–estruturas que permitam o desenvolvimento dos vários elementos do
Sistema Nacional da Qualidade e, consequentemente, o apoio às empresas nesta área;
• Desenvolver os recursos humanos nesta área, quer no aparelho do estado quer no sector
privado;
• Assegurar a participação de quadros moçambicanos nos fora internacionais sobre a
matéria e a circulação adequada de informação;
• Coordenar os intervenientes no sistema;
• Desenvolver a legislação de suporte à normalização e à metrologia;
• Assegurar a participação no processo regional de normalização contribuindo o país para o
desenvolvimento das normas;
• Criar o quadro para o desenvolvimento de regulamentação técnica, clarificando as funções
dos vários intervenientes;
• Criar os laboratórios para a calibração de instrumentos de medida;
• Desenvolver a acreditação;
• Desenvolver a infra-estrutura laboratorial, devidamente acreditada, para a avaliação da
conformidade cobrindo as análises necessárias;
• Criar condições incluindo o desenvolvimento de recursos humanos para realizar
adequadamente a certificação de produtos e sistemas e as actividades de inspecção.

3.5 Serviços financeiros

Os bancos comerciais pouco se expandem para além das capitais províncias e estão concentradas
nas principais cidades do país. Há fraca inovação de serviço para estimular a poupança, razão
pela qual o índice é muito baixo, situado a 30% do PIB. Os depósitos a ordem representam cerca
de 75% do total dos depósitos no sistema bancário. Este nível de poupança não permite financiar
todos os sectores produtivos. Os sectores de agricultura e da agro - indústria, caracterizados por
níveis baixos de retorno, altos riscos e longos períodos de recuperação, são negativamente
discriminados.

O custo do crédito bancário é muito alto e as garantias reais requeridas são demasiado restritivas,
cerca de 120% do crédito solicitado em termos reais, além da comparticipação não inferior a
30%. Estas condições inibem, em particular, o financiamento de pequenas e médias empresas.

A análise de viabilidade por vezes é conduzida com o interesse de obter comissões, da parte dos
analistas de crédito, uma vez aprovado o projecto. Esta atitude leva ao financiamento de projectos
não viáveis, elevando assim o risco do financiamento bancário, ou seja a taxa de crédito mal
parado, acabando por penalizar projectos viáveis, pois o juro ajusta-se ao nível do risco.

3.6 Serviços de apoio às empresas

No país ainda devem ser desenvolvidos serviços de apoio ao sector produtivo, tanto públicos
como privados. Constituem desafios nesta área a promoção do acesso principalmente das PMEs a
actividades profissionais de suporte tais como contabilidade, auditoria e assistência jurídica.

24
Os Fundos constituídos com o objectivo de dar suporte financeiro às empresas funcionam mal
por falta de recursos e é preciso adequar os mecanismos e as condições de acesso aos incentivos
fiscais emanados da legislação vigente de modo a contemplar e dar prioridade às PMEs.

Um dos desafios na área de suporte ao sector produtivo é a criação e disseminação do


conhecimento e capacidade profissional, portanto é particularmente importante a capitalização da
experiência dos parques industriais, incubadoras e centros de excelência.

3.7 Serviços de investigação (agronómica, industrial)

Nesta área ainda constituem desafios o desenvolvimento da pesquisa e a ligação entre as


instituições de pesquisa e o sector produtivo, tendo em conta que no sector agrário continua-se a
trabalhar com as mesmas variedades descobertas ou melhoradas muitas décadas atrás. Alguma
pesquisa aplicada é feita por empresas para fíns próprios como é o caso das açucareiras e das
empresas algodoeiras. Na área de cereais e horto frutícolas as variedades melhoradas actualmente
cultivadas são simplesmente importadas. No sector industrial faltam centros que estimulem a
inovação tecnológica não só na área de equipamentos mas também na de design.

3.8 Recursos humanos

Diversos sectores de actividade debatem-se com a escassez de mão de obra qualificada e


especializada. O ensino técnico profissional precisa de ser orientado para as necessidades do
sistema produtivo. Nota-se a expansão do ensino superior o que poderá melhorar a oferta de
quadros superiores, contudo este nível de formação não resolve a escassez de pessoal operativo
qualificado massivamente necessário.

O investimento das empresas na formação e especialização da mão de obra não é frequente e para
tal contribui o risco de perder trabalhadores já formados a favor de empresas que pagam melhor,
dado que não existe disciplina sobre a mobilidade da mão de obra.

3.9 Economias de escala

No sector agrário a grande propriedade corresponde a 1% das propriedades registadas, segundo o


TIA 2005. A produção agrícola é prevalentemente (mais de 70% do total) proveniente do sector
familiar. Denota-se a ínfima escala de produção, o que implica em elevados custos logísticos para
o acondicionamento da produção agrícola.

Na área da indústria o padrão prevalecente é da micro e pequena indústria em vez da pequena e


média indústria.

3.10 O papel facilitador do Estado

Nos últimos cinco anos o Governo iniciou o processo de reforma do sector público, com o
objectivo de tornar as instituições mais eficientes no seu funcionamento e melhorar os serviços
prestados aos cidadãos e ao sector produtivo. A nova legislação para o registo de unidades

25
industriais e comerciais e a criação de balcões únicos de atendimento ao público reduziram
bastante o tempo e o custo de iniciar uma actividade económica no País.

3.10.1 Ambiente de negócios

A avaliação do ambiente de negócios expressa no relatório “Doing Business 2007”, do Banco


Mundial, mostra uma evolução positiva para Moçambique ao colocar o nosso país na 134ª
posição, considerando que na edição anterior ocupava a 140ª posição, numa série de 178 países
classificados. A avaliação toma em consideração vários indicadores relacionados com
procedimentos administrativos que afectam o início e desenvolvimento de negócios. Este
melhoramento em 6 posições reflecte os esforços do Governo em tornar o país um lugar
apropriado para fazer negócios, esforço que deve ser contínuo de modo a alcançar/superar os
padrões regionais.

No sector agrário o governo tem providenciado serviços de suporte ao sector produtivo, sendo de
destacar o ramo de fomento pecuário, o impacto destes serviços revelou-se bastante positivo em
algumas zonas, tendo em conta a evolução dos efectivos pecuários, sobretudo na espécie bovina.
O peso relativo das grandes e médias explorações diminuiu no sector comercial agrário indicando
que o mesmo não cresce significativamente. A expansão do sector familiar é sintomática da
incapacidade do sector empresarial de atrair a mão-de-obra emergente no campo.

No contexto da melhoria do ambiente de negócios constituem ainda desafio:


• A harmonização com outros países dos documentos e procedimentos alfandegários ;
• Tornar os processos de exportação de horto frutícolas mais céleres;
• Criação de infra-estruturas básicas para o manuseamento da fruta nos portos;
• Articulação dos serviços de apoio ao porto (migração, alfândegas, agenciamento, etc.)
para evitar interrupções no trabalho e racionalizando custos;
• Demoras no reembolso do IVA;
• Pesquisa e disseminação de informação de mercado;

3.10.2 Barreiras técnicas: Medidas sanitárias e fitossanitárias (SPS)

Persistem no País BNT´s que devem ser eliminadas por constituírem entrave às trocas
comerciais e ao processo de integração regional. Uma parte das barreiras não tarifárias é
constituída pelas barreiras técnicas ao comércio (TBT) e a outra prende -se com medidas
administrativas e outros elementos que dificultam o comércio e que foram abordadas no
parágrafo anterior referente ao ambionte de negócios. A eliminação destas barreiras está
relacionada com os desafios a seguir indicados e permitirá melhorias adicionais ao ambiente de
negócios.

A Política da Qualidade e a Estratégia para a sua Implementação constituem um instrumento


importante para assegurar a eliminação das TBT e o apoio à definição de medidas sanitárias e
fitossanitárias (SPS) que não constituam barreiras desnecessárias ao comércio. Além do
desenvolvimento de normas moçambicanas que também pode ser por via da adopção de normas
regionais, os maiores desafios nesta área são:

26
• O desenvolvimento da metrologia, particularmente no que se refere à metrologia legal que
é base para a harmonização de parte da regulamentação;
• O estabelecimento de condições para a avaliação da conformidade e acreditação;
• Adequar a regulamentação técnica existente às condições acutuais do mercado e
estabelecer nova regulamentação prtinente, comçando pela definição dum para o
desenvolvimento e notificação dos regulamentos;
• Adequar o sistema de vigilância de pestes e criar bases de dados actualizadas sobre a
distribuição de pestes;
• Formação de inspectores fitossanitários treinados em procedimentos modernos nesta área;
• Investir em instalações adequadas para a inspecção nos pontos de saída e entrada no País,
incluindo as questões relacionadas com a quarentena;
• Disseminação de informação sobre estes assuntos.

3.11 Preparação de Moçambique para a Zona de Comércio Livre

O país precisa de acelerar a preparação para fazer frente aos desafios inerentes ao processo de
integração económica com o envolvimento de todos os agentes institucionais: (i) o sector público
na melhoria contínua do ambiente de negócios (infra-estruturas, simplificação de procedimentos
administrativos e organização e tutela do marcado e dos consumidores) e no desenho de políticas
e estratégias favoráveis ao desenvolvimento da actividade económica; (ii) o sector empresarial na
racionalização da gestão, aperfeiçoamento da capacidade empresarial e melhoramento da
tecnologia e (iii) a sociedade civil na busca de mecanismos de participação na tutela dos
interesses individuais e colectivos. O sector público pode guiar o desenvolvimento de sectores
específicos.

4 Estratégia para a integração regional


É um facto que o processo de globalização da economia mundial é irreversível com uma
dinâmica que se manifesta pela integração das economias através das comunidades económicas
regionais e da liberalização do comércio no âmbito da Organização Mundial do Comércio. O
continente africano, em 1992, através do Tratado de Abuja decidiu entrar no processo de
integração adoptando como fórmula a integração do continente através das comunidades
económicas regionais existentes.

A SADC participa no processo de integração económica caminhando para a Zona de Comercio


Livre em 2008. Referir que o processo de liberalização abarca outras áreas como: bancária,
convergência macroeconómica, turismo, transportes.

Moçambique não poderá estar alheio a esta realidade sob pena de se ver marginalizado de todo o
processo e ser levado por arrastamento.

A análise factual apresentada nos capítulos anteriores, sugere que o país precisa de desenvolver
uma estratégia de actuação que lhe permita maximizar os benefícios do processo de integração
regional tendo em vista os desafios e as oportunidades que o mesmo engendra. Neste processo é
importante ter em conta a posição do País entanto que um País Menos Desenvolvido (PMD).

27
Na definição da estratégia dá-se atenção especial aos ambientes politico e económico, bem como
ao papel facilitador que o Estado deve jogar no processo de integração tomando em conta que o
sector privado é um parceiro crucial.

Considerando que o PC-SADC não é o único instrumento da integração regional, chama-se a


atenção dos sectores económicos e sociais para observarem os protocolos eventualmente
assinados nas respectivas áreas e maximizar o desempenho nos aspectos com potencial de
contribuir para a remoção dos constrangimentos que limitam a participação do país no comércio
regional. Assim, cada sector procederá à elaboração de um plano de acção específico para a
integração regional, sendo porém necessária uma visão integrada do processo, implicando
portanto uma harmonização inter-sectorial.

É igualmente recomendável tomar em consideração o Plano Estratégico Indicativo de


Desenvolvimento Regional (RISDP) que faz referência a medidas orientadas para o
desenvolvimento harmonioso da região.

Para a preparação de Moçambique para a zona de comércio livre da SADC são recomendadas as
seguintes medidas:

4.1 Ambiente político

Moçambique é uma referência mundial no processo de pacificação e estabilização política. A


realização de eleições gerais periódicas quer legislativas e presidenciais, a realização de eleições
autárquicas e provinciais deverá ser mantida como factor de consolidação e aprofundamento da
democracia. Em suma, o actual ambiente político deverá ser capitalizado de modo a reduzir o
risco do país e, por essa via, atrair capitais quer da região, quer do mundo.

4.2 Ambiente macroeconómico

4.2.1 Na área monetária

Implementar o protocolo sobre finanças e investimento, observando igualmente as


recomendações do RISDP, em particular:

a) Harmonizar e monitorar a implementação dos programas específicos de convergência


macroeconómica dos países da região tendo como referência as metas acordadas que são:

- Taxa de inflação a um digito em 2008 – 5% em 2012 e 3% em 2018;


- Défice público em relação ao PIB não excedendo 5% em 2008 e 3% como âncora
num espaço de 1% em 2012 e mantido em 2012 acima ate 2018;
- Valor Nominal da dívida pública e garantia pública menor que 60% do PIB em
2008 e mantido ao longo do período do plano (2018).

b) Liberalizar as transacções das contas capital e corrente entre os Estados Membros e


adoptar um mecanismo harmonizado de taxa de câmbio

28
4.2.2 Infra-estruturas

4.2.2.1 Na área das estradas e pontes

As estradas e pontes são fundamentais no sentido de que permitem o fluxo de mercadorias dentro
do país e na região. Será, por isso necessário prosseguir com o Programa de Estradas ora
desenhado e implementar o Protocolo de Transportes no concernente à área de estradas. Na
sequência da integração regional as acções seguintes são prioritárias:
• Promover a manutenção permanente da rede de estradas primárias, a pavimentação das que
possuem maior tráfego, bem como a manutenção permanente e a reabilitação de estradas
secundárias;
• Sincronizar os programas de construção e reabilitação das vias de acesso com as necessidades
de escoamento das matérias primas para a indústria e dos bens de consumo para os mercados,
bem como a evolução do turismo. Nesta perspectiva considera-se prioritário:
- A construção da ponte da Unidade;
- A asfaltagem da estrada que permite a ligação com a Tanzânia, através da ponte da
Unidade;
- A asfaltagem da estrada Nampula-Cuamba –Mandimba, para ligar ao Malawi;
- A asfaltagem da estrada Lichinga-Metangula, para ligar ao Malawi, através do
porto de Metangula;
- A asfaltagem da estrada Quelimane-Milange;
- A asfaltagem da estrada Tete-Zumbo;
- A asfaltagem da estrada Catembe— Ponta do Ouro

4.2.2.2 Na área dos portos e caminhos de ferro e marinha mercante

Os portos e caminhos de ferro constituem uma das maiores vantagens que Moçambique apresenta
em relação aos restantes países da região dado serem a porta de entrada para o hinterland. Assim,
definem-se as seguintes prioridades:
• Garantir a operacionalização do Protocolo dos Transportes, Comunicações e
Meteorologia da SADC;
• Promover investimentos que melhorem a eficiência e a segurança do sistema ferro-
portuário nacional, incluindo a operacionalização do fundo de dragagem;
• Promover o desenvolvimento e expansão da rede ferroviária na perspectiva de espimha
dorsal das infra-estruturas de transporte;
• Melhorar a conectividade nas redes regionais de transportes; e
• Adoptar medidas que permitam maior oferta e custo sustentável dos serviços de
cabotagem.

29
4.3 Serviços de transportes e comunicações

Os serviços de transportes e comunicações contribuem fundamentalmente para o custo do


produto, condicionando assim a competitividade do sector produtivo. Deste modo, são definidas
as seguintes prioridades:
• Implementar o protocolo da SADC sobre Transportes, Comunicações e Meteorologia;
• Desenvolver regulamentação do sector que estimule a eficiê ncia e segurança;
• Promover uma disciplina no sector orientada para melhoria da qualidade dos serviços
prestados;
• Promover centros de excelência na formação para os sector de transportes e
comunicações;
• Desenvolver regras de concorrência entre e dentro dos diferentes modos de transporte;
• Prosseguir com a liberalização do sector, onde ocorre, de modo a expandir a oferta de
serviços através da entrada de mais operadores; e
• Promover práticas de ambiente sustentável.

4.4 Na área da energia

Moçambique possui potencial em recursos energéticos, alguns dos quais já em fase de


exploração, tais como a energia eléctrica e o gás natural, por exemplo. O desenvolvimento da
área de energia contribuirá para reduzir os custos do sector produtivo, além de que o mercado
regional oferece grandes oportunidades nesta área: a região é deficitária em energia eléctrica e o
preço está em aumento. Neste contexto, considera-se prioritário:
• Garantir a implementação do Protocolo sobre a Energia da SADC, em particular, no que diz
respeito à coordenação da operação dos sistemas eléctricos interligados para cobrir todos os
Estados Membros de modo a estabelecer um Mercado regional integrado competitivo e
eficiente;
• Desenvolver e implementar programas de electrificação rural priorizando os centros de
produção tais como sistemas de regadio e zonas com perspectivas de industrialização;
• Promover investimentos para o aproveitamento do potencial hidroeléctrico identificado;
• Incentivar investimentos para a melhoria da qualidade da energia eléctrica e rever as tarifas
para a indústria;
• Promover o recurso a fontes de energia renováveis e de baixo custo, incluindo energia solar,
eólica e de bio massa;
• Promover a exploração conjunta de petróleo e gás natural, harmonização das politicas,
regulamentos e legislação para facilitar o comércio trans-fronteiriço, aumento da capacidade
de utilização e cooperar num procurement conjunto dos produtos petrolíferos no mercado
mundial.

4.5 Na área da água

A água é um dos recursos que conferem a Moçambique vantagem comparativa, pelo que é
oportuno apostar na sua utilização óptima. Assim, são definidas as seguintes prioridades:

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• Garantir a implementação do Protocolo da SADC sobre Sistemas de Cursos de Águas
Compartilhadas, em particular, assegurar a participação na formulação da politica, estratégia
e programa de Gestão do Desenvolvimento Integrado dos Recursos Hídricos (IWRM);
• Optimizar a utilização das barragens de irrigação existentes no país;
• Assegurar a reabilitação e construção de sistemas de irrigação nos vales do Limpopo,
Incomáti e Pungué;
• Integrar os planos de desenvolvimento de recursos hídricos no planeamento económico
nacional;
• Promover a eficiência e alargar o período de abastecimento de água para 24 horas por dia; e
• Promover a minimização de perdas de água por rupturas dos canais , combater ligações
clandestinas e aliviar o custo aos utilizadores formais da água canalizada.

4.6 Na áre a da agricultura

A agricultura em Moçambique dá ocupação a cerca de 80% da população rural. No entanto, o


país não é auto-suficiente na maior parte da produção agro-pecuária e a participação no mercado
regional neste sector é bastante reduzida. A priorida de nesta área vai para as seguintes medidas:
• Divulgar e operacionalizar os instrumentos acordados na região sobre a segurança alimentar,
medidas sanitárias e fitossanitárias;
• Tornar céleres os processos de titularização da terra;
• Orientar os centros de pesquisa para os interesses do sector produtivo;
• Reforçar as ligações pesquisa – agricultor – extensão para facilitar a disseminação e adopção
de tecnologias (incluindo a biotecnologia) para os agricultores e outros intervenientes;
• Promover boas práticas de produção e tratamento pós colheita;
• Especialização das zonas de produção de modo a alcançarem escalas eficientes em culturas
específicas e fomento da produção;
• Encorajar a entrada no sector de agricultores comerciais através de incentivos apropriados;
• Actualização da lista de pestes existentes no país e seu mapeamento;
• Prevenção e controlo progressivo das doenças de animais e plantas trans -fronteiriças; e
• Regionalizar a produção agro-pecuária em função da aptidão e das oportunidades de mercado.

4.7 Na área da indústria

A SADC não possui protocolo para a área da indústria, entretanto, está em desenvolvimento uma
política e estratégia de desenvolvimento industrial para a região. O sector da indústria e comércio
elaborou um plano de acção da indústria para a zona de comércio livre que tem como objectivo
estimular a produção interna e impulsionar as exportações, aproveitando as oportunidades que
decorrem da liberalização do comércio regional.

O plano de acção contempla 19 produtos (Amêndoa de caju, algodão, arroz, banana, batata,
manga, feijões, chá, água mineral, mel, milho, gengibre, mandioca, citrinos curtumes (cabrito),
óleo de copra, mobiliário de madeira, pescado e Sal) que poderão ser exportados minimamente
processados ou com maior valor agregado. Para o efeito foram definidos os seguintes vectores de
actuação:

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A. Modernização tecnológica da indústria existente;
B. Desenvolvimento da Indústria de Embalagens;
C. Investimento em infra-estruturas de produção e de transportes e comunicações;
D. Melhoria da qualidade e do relativo sistema;
E. Pesquisa permanente das oportunidades de Mercado e disseminação de informação;
F. Melhoria do ambiente de negócios;
G. Promoção do Estabelecimento de Unidades Industriais nas Zonas Rurais Orientadas à
Exportação;
H. Incentivo ao uso de instrumentos da propriedade industrial: Denominações de Origem e
Indicações Geográficas; e
I. Consolidação do projecto: Orgulho Moçambicano — Made in Mozambique.

4.8 Na área do turismo

O turismo é uma das áreas com elevado potencial em Moçambique. As medidas prioritárias na
área são:
• Envolvimento de Moçambique na Organização Regional de Turismo da Africa Austral
(RETOSA) e garantir a implementação do protocolo do turismo da SADC;
• Prosseguir com a eliminação da necessidade do visto de entrada para cidadãos dos estados
membros da SADC;
• Promover a melhoria da qualidade dos serviços turísticos;
• Vender a imagem do país na região;
• Criar uma rede de pesquisa, estatísticas e troca de informações;
• Harmonizar e desenvolver políticas, estratégias e legislação ao nível da região; e
• Encorajar investimentos no sector.

4.9 Na área dos recursos minerais

Na área mineira as medidas prioritárias são:


• Garantir a implementação do Protocolo sobre Minas da SADC
• Promover acções ligadas à cartografia geológica, prospecção, pesquisa e investigação;
• Simplificação do processo de licenciamento de novos operadores;
• Formação do pessoal de fiscalização das actividades mineira e petrolífera e para assistência
técnica aos operadores;
• Incentivar investimentos na área de extracção mineira e a jusante de modo a agregar valor aos
produtos antes da exportação; e
• Melhorar a coordenação interinstitucional para o controlo da mineração ilegal.

4.10 Na área das pescas

Considerando os índices de captura de pescado relativamente baixos aos índices de alguns outros
países da região, constitui prioridade:
• Promover o desenvolvimento da maricultura e aquacultura;

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• Promover o acesso a tecnologias apropriadas para manuseamento, processamento e
conservação de produtos pesqueiros pelos pescadores artesãos; e
• Promover investimentos para o processamento industrial de produtos pesqueiros nas zonas de
grande potencial com observância dos requisitos do mercado regional.

4.11 Na área dos serviços financeiros

O sector produtivo encontra actualmente dificuldades de recurso ao sistema bancário para


financiar as suas actividades, principalmente as PMEs. Deste modo constituem prioridade:
• O incentivo à banca comercial para a inovação de produtos financeiros de tal modo a
promover a poupança;
• Introduzir esquemas de financiamento de actividades económicas que ultrapassem a barreira
do risco e do custo do dinheiro; e
• Encontrar formas de expandir instituições de crédito para as zonas rurais mais produtivas.

4.12 Na área dos serviços de investigação

A área de investigação tem um papel importante no processo de integração económica. As


prioridades nesta área são:
• Desenvolver um instrumento legal e estabelecer um quadro institucional para a cooperação
regional em ciências e tecnologia;
• Envolvimento na colaboração regional e troca de informação sobre o desenvolvimento de
pesquisa tecnológica incluindo a identificação de centros de excelência na região;
• Adopção de medidas que encorajem as parcerias público-privado e promover investimentos
dos sectores público e privado em pesquisa e desenvolvimento tecnológico; e
• Incentivar a pesquisa orientada para os interesses do sector produtivo.

4.13 Na área dos recursos humanos, educação, cultura e desporto

• Garantir a implementação do Protocolo sobre a Educação na SADC;


• Coordenação e harmonização de políticas na educação, formação, saúde, nutrição,
desenvolvimento do bem-estar e social, cultura, informação e desporto;
• Estabelecer centros de especialização e excelência nas áreas críticas de capacidade
profissional;
• Apostar na qualificação da mão de obra para fornecer a outros países da região;
• Formula r e harmonizar políticas e programas sobre a produtividade e as relações “gestão –
trabalho” harmoniosas; e
• Introduzir nas escolas técnicas cursos de curta duração orientados para áreas específicas de
actividade tendo em conta o potencial local.

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4.14 Na área da saúde

• Garantir a implementação do protocolo da saúde;


• Harmonizar o desenvolvimento de políticas e estratégias nas maiores áreas de intervenção
incluindo a prevenção, cuidado e tratamento de doenças endémicas, provisão dos anti-
retrovirais (ARVs), nutrição, medicamentos tradicionais, procurement e produção de
medicamentos essenciais; e
• Colaborar no desenvolvimento/actualização da regulamentação técnica sobre higiene, água e
alimentos.

4.15 Na área do meio ambiente

• Envolvimento no desenvolvimento de um quadro jurídico para a cooperação regional nas


áreas de meio ambiente e recursos naturais, incluindo os ecossistemas transfronteiriços;
• Harmonizar ao nível da região as políticas nacionais sobre o meio ambiente e quadros
jurídicos
• Integração das questões do meio ambiente e desenvolvimento sustentável nos processos de
planificação sectoriais nacionais e sub-regionais;
• Desenvolvimento de um sistema harmonizado de informação ambiental;
• Formar capacidade para colecção, gestão e troca de informação para a gestão sustentável do
meio ambiente e recursos naturais;
• Desenvolvimento e implementação de programas sobre o meio ambiente e gestão de recursos
naturais, incluindo os ecossistemas trans -fronteiriços , assegurando o máximo benefício por
parte dos estados membros da SADC

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