Cármen Lúcia

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Supremo Tribunal Federal

MEDIDA CAUTELAR EM MANDADO DE SEGURANÇA 38.169 DISTRITO


FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


IMPTE.(S) : RICARDO JOSE MAGALHAES BARROS
ADV.(A/S) : DIEGO CAETANO DA SILVA CAMPOS
ADV.(A/S) : FELIPE HENRIQUE BRAZ GUILHERME
ADV.(A/S) : TIAGO LEAL AYRES
ADV.(A/S) : PEDRO AUGUSTO SCHELBAUER DE OLIVEIRA
IMPDO.(A/S) : COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DO
SENADO FEDERAL - CPI DA PANDEMIA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

DESPACHO

MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA


PRESIDENTE DA COMISSÃO
PARLAMENTAR DE INQUÉRITO SOBRE A
PANDEMIA DE COVID-19. ALEGADA
AFRONTA ÀS GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS E PROCESSUAIS
SOBRE A MATÉRIA. NECESSIDADE DE
URGENTES INFORMAÇÕES PRÉVIAS
PARA ANÁLISE DOS REQUERIMENTOS
LIMINARES.

Relatório

1. Mandado de segurança, com requerimento de medida liminar,


impetrado por Ricardo José Magalhães de Barros, em 18.8.2021, contra ato
alegadamente coator do Presidente da Comissão Parlamentar de
Inquérito – CPI da Pandemia, pelo qual aprovado o Requerimento n.
1.059/2021 e determinada a quebra dos sigilos telefônico, fiscal, bancário e
telemático do impetrante.
O caso
2. Consta na inicial ser “o impetrante ... Deputado Federal, filiado ao

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Partido Progressista e atual líder do Governo na Câmara dos Deputados.


Exerceu mandatos em 1995-1999, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011, 2015-
2019 e, atualmente, 2019-2023”. (fl. 2, e-doc. 1)

Alega-se que, ”em 03/08/2021, a Comissão aprovou, dentre vários outros,


o Requerimento n. 1.059/2021, apresentado pelo Senador Alessandro Vieira, de
‘transferência de sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático … do
impetrante”. (fl. 3, e-doc. 1)

Sustenta o impetrante que “a nomenclatura de ‘transferência de sigilo’


conferida no requerimento constitui, de acordo com a reiterada e sistemática
prática na condução dos trabalhos, quebra absoluta do sigilo para o público em
geral, especialmente para a imprensa”. (fl. 5, e-doc. 1)

Colaciona excertos de reportagens jornalísticas, que demonstrariam


o afirmado “vazamento de dados sigilosos”. (fl. 7, e-doc. 1)

Anota terem sido solicitadas “providências ao Presidente da CPI, ao


Presidente do Senado Federal e à Polícia Federal, sem que até o momento,
contudo, tenham sido identificados os autores dos vazamentos ilegais e
criminosos que vem repetidas vezes ocorrendo”. (fl. 12, e-doc. 1)

Pretende “garantir seu direito líquido e certo de manter o sigilo de suas


informações, afastando a quebra de sigilo determinada pela CPI da Pandemia
tanto em razão da sua manifesta inconstitucionalidade como, em especial, para
evitar que ocorra o vazamento de informações atinentes ao seu telefônico, fiscal,
bancário e telemático para a imprensa, preservando seu direito a não ver
devassada indevidamente sua intimidade e vida privada mediante vazamentos
seletivos”. (fl. 12, e-doc. 1)

Afirma ser incabível “a quebra de sigilo de membro do Congresso


Nacional pela CPI”, pois a medida “somente poderia ocorrer após requerimento
pelo legitimado no âmbito do Supremo Tribunal Federal e deferimento pelo

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Relator, seguindo … o rito previsto no art. 230-C, § 2º, do Regimento Interno


d[o] STF”. (fl. 18, e-doc. 1)

Salienta que “os fatos ... apurados pela CPI da Pandemia dizem respeito a
atos que, em tese, teriam sido praticados no exercício do atual mandato [do
impetrante], de sorte que não incide a limitação ao foro por prerrogativa de
função estabelecido a partir da Questão de Ordem na Ação Penal n. 927” . (fl.
22, e-doc. 1)

Aponta suposta “ilegalidade da quebra de sigilo por ausência de


fundamentação idônea”, pois os fatos narrados na justificação apresentada
no Requerimento n. 1.059/2021 seriam falsos. Observa, ainda, que “todas as
pessoas que foram ouvidas pela CPI da Pandemia negaram o envolvimento [do
impetrante] com a compra da vacina COVAXIN ou com qualquer ato
relacionado a compra de vacinas”. (fl. 28, e-doc. 1)

Assevera que “a apresentação de emenda parlamentar ..., durante a


tramitação da lei que regeu o processo de aquisição de vacinas”, visando
“viabilizar a aquisição de vacinas da fabricante COVAXIN” não constituiria
“elemento, sequer indiciário, de que tal conduta tenha sido motivada por algum
fim escuso”. (fl. 32, e-doc. 1)

Enfatiza que “a medida que a CPI pretende … [seria] absolutamente


desproporcional e desarrazoada …, pois mesmo diante da comprovação cabal de
que a narrativa que tentam sustentar é falsa, seja pelos depoimentos das
testemunhas, seja pelo depoimento do próprio impetrante em 12.08.2021 perante
a Comissão (depoimento que restou suspenso quando os fatos apresentaram
destoaram da narrativa que se buscava criar) insiste na quebra de sigilo sem que
haja qualquer indício sério contra o impetrante”. (fl. 34, e-doc. 1)

Pondera que, “considerando os reiterados vazamentos apontados, … deve


ser ao menos determinada a adoção de rigorosas medidas para garantir o sigilo de
todas as informações eventualmente obtidas pela CPI”. (fl. 37, e-doc. 1)

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Assinala, quanto ao periculum in mora, que “caso não se suspenda o ato


coator (e todos os seus efeitos) liminarmente, é evidente que os direitos e
garantias do impetrante serão violados de forma irreversível, [pois] tendo o
requerimento sido aprovado em 03/08/2021, a CPI deve estar prestes a receber
tais dados requeridos (caso já não tenham recebido), o que implica inclusive o
risco flagrante de vazamento de tais informações ao público em geral”.

Observa que “está pautada para a sessão desta quinta-feira, 19/08/2021, o


Requerimento nº 1384/2021”, no qual se “requer à Receita Federal do Brasil,
… a transferência de sigilos [do impetrante], no período de janeiro de 2016 até
a data de aprovação do presente requerimento”. (fl. 40, e-doc. 1)

Estes os requerimentos e os pedidos:


“Ante todo o exposto, respeitosamente, requer-se:
(i) A concessão de medida liminar (art. 7º, III, da Lei nº
12.016/2009), inaudita altera parte, para determinar a suspensão
imediata de qualquer determinação da CPI da Pandemia de
transferência de sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático do
Impetrante (especialmente referentes ao Requerimento nº 1059/2021,
aprovado em 03/08/2021 e ao Requerimento nº 1384/2021, pautado
para a sessão de 19/08/2021) e de todos os seus efeitos, determinando-
se a destruição geral e irrestrita de todos os dados sigilosos relativos ao
Impetrante caso já tenham sido recebidos.
a. Sucessivamente, a concessão de medida liminar (art. 7º, III,
da Lei nº 12.016/2009), inaudita altera parte, para determinar que
todas as informações referentes ao Impetrante obtidas em virtude de
Requerimento de quebra de sigilos telefônico, fiscal, bancário e
telemático permaneçam lacradas e mantidas sob guarda e
responsabilidade do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito,
até deliberação final deste writ, ficando vedada a qualquer título a sua
utilização ou divulgação.
b. Sucessivamente aos pedidos acima, a concessão de medida
liminar (art. 7º, III, da Lei nº 12.016/2009), inaudita altera parte,
para determinar ao Impetrado – PRESIDENTE DA COMISSÃO
PARLAMENTAR DE INQUÉRITO – que adote medidas que

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garantam a manutenção do sigilo das informações. Nesse sentido,


sugere-se que seja determinada a guarda de todas as informações
sigilosas do Impetrante em cofre acessível apenas pelossenadores
integrantes da Comissão e por 1 (um) assessor de sua confiança, todos
devidamente identificados perante este SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. (ii) A notificação da Autoridade Coatora do conteúdo do
presente writ, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias
dos documentos, para que cumpra imediatamente a liminar e, ato
contínuo, preste informações no prazo de 10 (dez) dias. (iii) A
intimação da Procuradoria-Geral da República para que, no prazo
legal, apresente o parecer. (iv) Ao final, requer-se a concessão da
segurança, confirmando-se a medida liminar, para o fim de declarar a
nulidade da determinação da CPI da Pandemia de transferência de
sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático do Impetrante
(especialmente referentes ao Requerimento nº 1059/2021, aprovado em
03/08/2021 e ao Requerimento nº 1384/2021, pautado para a sessão de
19/08/2021) e de todos os seus efeitos, determinando-se a destruição
geral e irrestrita de todos os dados sigilosos relativos ao Impetrante
caso já tenham sido recebidos”. (fls. 42-43, e-doc. 1).

3. Pela urgência das questões postas na presente ação, e


enfatizando a previsão constitucional vigente no sentido do sigilo de
dados pessoais, mesmo quando transferidas a órgãos investigativos ou
judiciais, o que há de ser respeitado em todos os casos, determino
sejam requisitadas informações à autoridade indigitada coatora, em
especial sobre a quebra do sigilo fiscal a alcançar período anterior ao
pandêmico (2016 até a presente data), para prestá-las no prazo máximo
de 24 horas (inc. I do art. 7º da Lei n. 12.016/2009), após o que decidirei
sobre o requerimento apresentado.

Publique-se.
Brasília, 19 de agosto de 2021.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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