Lista 04 - Termodinânima 2020.2

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Termodinâmica - 2020-2 - 4a Lista

Entrega até segunda, 05/04, às 18:00


Instruções
1. Essa lista contém 5 problemas para entregar, valendo nota, e outros 5 que são ‘recomendados’.
Os problemas para entregar são os pares, e estão assinalados com um asterisco (*). Sugiro não
deixar de fazer os demais, porém, não só por serem interessantes mas porque em alguns casos seus
resultados serão usados em listas futuras.
2. Em todo trabalho de casa você deve exibir todos os detalhes das soluções. De forma geral,
você não ganhará pontos se apresentar uma resposta sem mostrar o encaminhamento e/ou uma
justificativa. Sempre que isto for apropriado, deduza uma expressão algébrica primeiro e só ponha
números no último passo. Teste sempre se sua resposta faz sentido físico, verificando as unidades e
confrontando-a com casos particulares ou limites conhecidos. Escreva com suas próprias palavras,
números e raciocínios, sem copiar soluções prontas, seja de colegas, seja de solucionários.
3. Entregue sua lista em formato .pdf. Por favor identifique o arquivo com o seu nome no título.

Ex. 1 (Entropia no derretimento de um cubo de gelo)


Um cubo de gelo de massa 30g, a 0◦ C, é abandonado na pia da cozinha onde derrete gradualmente. A
água resultante se aquece até entrar em equilíbrio com o ambiente. A temperatura da cozinha é 25◦ C.
a) Calcule a variação de entropia produzida pelo derretimento completo do cubo, de gelo sólido a 0◦ C a
água líquida a 0◦ C. (Ignore a pequena variação de volume envolvida). O calor latente para a transição
água líquida/gelo é L = 80.0 cal/g.
b) Calcule a variação de entropia durante o aquecimento da água oriunda do cubo, desde 0◦ C a 25◦ C. O
calor específico (a pressão atmosférica) da água líquida é cliq = 1.00 cal/(g ◦ C).
c) Calcule a variação na entropia da cozinha devido à transferência de energia dela para o gelo e a água.
d) Calcule a variação total da entropia do universo resultante dos processos descritos. Esta variação é
positiva, negativa ou nula? Este resultado era esperado por você? Por que, ou por que não?

*Ex. 2 (Gráfico S × T ao redor do ponto de fusão da água)


∂U

a) Usando a identidade termodinâmica, mostre que a capacidade térmica CV = ∂T V pode também ser
∂S

expressa como CV = T ∂T V
.
b) Derive uma identidade termodinâmica para a entalpia H = U + P V , escrevendo dH em termos de dS
∂S
e dP . Use-a para encontrar uma expressão semelhante à acima mas para CP , em termos de ∂T P
.
(Dica: lembre-se da Eq. 1.56)
c) O calor específico (a pressão atmosférica) da água líquida é cliq = 1.00 cal/(g ◦ C), e o do gelo abaixo
do ponto de congelamento é cgelo = 0.49 cal/(g ◦ C). Usando esses dados, mais os resultados dos itens
anteriores, e do item (a) do Ex. 1, esboce o gráfico de S em função de T para a água, mostrando o
jeitão da curva nas vizinhanças da transição de liquefação (sólido para líquido). Inclua o máximo de
detalhes, inclusive quantitativos, que puder. Preste atenção, em particular, ao que ocorre em cima e ao
redor do ponto de transição, desenhando da forma mais precisa possível a inclinação deste gráfico em
cada lado deste ponto. Exponha brevemente mas com clareza seu raciocínio ao fazer o desenho.

Ex. 3 (Entropia de uma Estrela)


∂S
a) Considere um sistema físico para o qual a dependência da entropia S com a energia U satisfaz ∂U >0
2
∂ S
e também ∂U 2 > 0 (i.e., é uma função que sobe curvando para cima, ou convexa como dizem os
matemáticos). Mostre que isto significa que a capacidade térmica C = ∂U
∂T é negativa.

Discutimos após uma das aulas o problema 1.55 do livro-texto, onde se estima a energia total U e a
capacidade térmica C = ∂U ∂T de um sistema ligado gravitacionalmente, como uma estrela. Colocando o zero
de energia potencial gravitacional a uma distância infinita, o resultado é que tanto U como C são negativos:
3 3
Uestrela (T ) = − N kT ; Cestrela (T ) = − N k
2 2
onde N é o número de partículas que compõem a estrela e T > 0 a sua temperatura (média).
Obs: não é necessário ter feito aquele problema para fazer este.
2

b) Explique por que essas expressões não podem estar corretas no limite em que T → 0.
c) Considerando temperaturas para as quais as expressões acima valem, escreva expressões para a entropia
S de uma estrela, primeiro em função de sua temperatura T e em seguida em função de sua energia
total U .
Obs: ambas as expressões devem depender de uma constante aditiva desconhecida. (Por que?)
d) Faça um gráfico S(U ) × U da entropia em função da energia (Atenção: lembre-se que U < 0 !). Discuta
a forma deste gráfico, em particular suas derivadas primeira e segunda, e o que isto implica. Discuta
ainda o comportamento da curva nos limites U → 0 e U → −∞, explicando, com base nas propriedades
básicas da entropia, por que ambos esses limites não podem estar fisicamente corretos.

*Ex. 4 (Entropia na expansão de um gás ideal)


a) Um litro de ar, inicialmente à temperatura ambiente (300K) e pressão atmosférica, é aquecido a pressão
constante até dobrar de volume. Calcule a variação de entropia do ar durante este processo.
b) Em seguida ele é resfriado a volume constante até retornar à temperatura inicial. Calcule a variação
de entropia do ar durante este processo.
c) Suponha que, ao invés da sequência acima, tivéssemos realizado uma expansão isotérmica do gás até
ele dobrar de volume. Calcule a variação de entropia durante esse processo, e compare com a soma dos
resultados dos dois outros itens. O resultado é surpreendente? Discuta.

Ex. 5 (Temperatura de um Buraco Negro)

a) No Ex. 9 da Lista 3 você calculou a entropia de um buraco negro de massa M , a qual vale

GM 2
SBN = k.8π 2
hc
(Obs: não é necessário ter feito aquele exercício para fazer este, embora ajude.)
Reescreva essa expressão em função da energia U do buraco negro, assumindo que esta é essencialmente
dada pela energia de repouso gravitacional M c2 . Esboce o gráfico de S(U ), e mostre que ele está na
categoria de sistemas discutidas no item (a) do Ex. 3.
b) A partir da expressão obtida no item anterior, calcule a temperatura de um buraco negro em função de
sua massa M . O que acontece com T quando a massa do buraco negro aumenta? Verifique que isto é
consistente com a conclusão do item (a) do Ex. 3.
c) Calcule a temperatura para um buraco negro de massa igual à do nosso Sol. Obs: o valor pode ser
surpreendente!. Qual teria de ser a massa de um buraco negro para que ele tivesse a mesma temperatura
que a superfície do Sol (6000K)? Que tipo de corpo celeste tem massa nessa faixa?

*Ex. 6 (Entropia da iluminação solar)


Quando o Sol nos ilumina, ele entrega aproximadamente 1000 watts de potência a cada m2 da superfície
da Terra. A temperatura da superfície solar é de aproximadamente 6000 K, e a da Terra é cerca de 300 K.

a) Estime a variação total de entropia no universo ao longo de 1 ano devido à energia que sai do Sol e é
absorvida por 1m2 da superfície da Terra. Assuma 8h/dia de iluminação solar naquele pedaço de chão.
b) Suponha que você plante plantas neste metro quadrado, que em um ano geram ∼ 50kg de massa vegetal.
Faça uma estimativa, por cima, da redução na entropia do Universo devido à formação desses seres
vivos, da seguinte forma: estime primeiro a entropia inicial Si dos 50kg de matéria quando estavam na
forma de nutrientes (Carbono, Oxigênio, etc) desorganizados. Isso pode ser feito no espírito do Ex. 5
da Lista 3. Considerando então a entropia final Sf (do ser vivo) igual a zero, a variação de entropia
pode ser estimada como −Si . (Naturalmente, a entropia real de um ser vivo é maior que zero, de modo
que estamos superestimando essa variação).
c) Algumas pessoas poderiam argumentar que o crescimento destas plantas (ou de qualquer outro ser
vivo) viola a 2a lei da Termodinâmica, porque nutrientes desorganizados são convertidos numa forma
organizada de vida. Como você responderia a este argumento? Argumente usando um cálculo.
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Ex. 7 (Radiação de Hawking e Evaporação de Buracos Negros)


Esse exercício é uma continuação direta do Ex. 5. Nos anos 70, o físico Stephen Hawking raciocinou que,
se buracos negros realmente têm temperatura, deveriam emitir radiação eletromagnética, assim como faz
qualquer corpo. Em outras palavras, buracos negros não poderiam ser absolutamente negros...
De modo geral, a emissão de radiação térmica é governada pela chamada Lei de Stefan-Boltzmann, a
qual diz que um corpo perfeitamente negro (um que absorve toda a radiação eletromagnética incidente sobre
ele) também emite radiação com intensidade (potência por unidade de área superficial) dada por

I = σT 4 ,

onde σ = 5.67 × 10−8 mW 4


2 K 4 . (Mais à frente veremos como deduzir essa dependência com T . A dedução do

valor de σ depende de física quântica, e é feita nos cursos de Física Moderna, ou Física Estatística).

a) Na prática, a radiação de Hawking jamais foi detectada - caso tivesse sido, ele certamente teria ganho
o prêmio Nobel. Porém, essa ausência de detecção não é inesperada, pelo menos para buracos negros
que conhecemos, os quais tem a massa de uma estrela ou superior. Para ver por que não, use a lei de
Stefan-Boltzmann, juntamente com o valor de T obtido no item (c) do Ex. 5, para calcular a potência
total emitida por um buraco negro com a massa do Sol (M = 2 × 1030 kg) e raio correspondente
R(M ) = 2GM /c2 = 3 × 103 m (conforme discutido no Ex. 11 da lista 3). Discuta.

Hawking raciocinou ainda que, ao irradiarem, os buracos negros perderiam energia, e portanto massa,
através da equivalência U = M c2 . Ele batizou esse fenômeno de ‘evaporação de buracos negros’. Dado o
resultado do item (a) do Ex. 5, essa perda tenderia a aumentar a temperatura do buraco, o que aumentaria a
potência da emissão, o que aumentaria mais ainda a temperatura, e assim por diante. Hawking previu assim
que, se um buraco negro não é ‘alimentado’ com nova massa/energia, vai evaporar mais e mais rapidamente,
até que o finalmente se esvai numa explosão final de energia. Novamente, essas explosões nunca foram
detectadas por astrônomos. Mais uma vez, porém, isto não é inesperado, como você poderá mostrar.

b) Usando novamente a Lei de Stefan-Boltzmann, juntamente com a expressão geral para T (M ) obtida
no Ex. 2 acima, escreva uma fórmula geral para a potência P emitida por um buraco negro de massa
M e raio correspondente R(M ) = 2GM/c2 . Ela deve ter a forma P = b.U −2 , onde b é uma constante
que independe de M . Calcule o valor de b.

c) Podemos igualar P = −dU/dt (o sinal vem do fato de que U diminui com a emissão), Resolva essa eq.
diferencial e encontre uma expressão simples para o ‘tempo de vida’ t de um buraco negro de massa
inicial M0 , i.e., o tempo que ele levaria para evaporar completamente. Calcule esse tempo no caso de
um buraco negro de massa solar, e compare-o com a idade do Universo (13,7 bilhões de anos). O que
você pode concluir sobre a possibilidade de observarmos o fim de um desses objetos?

*Ex. 8 (Entropia de um Sólido de Einstein)


Considere um sólido de Einstein com N osciladores e energia total U = qε, no limite N, q  1 (sem supor
nenhuma relação específica entre os valores de N e q). No Ex. 6 da Lista 3, você mostrou que a multiplicidade
 q  N q
deste sistema é Ω(N, q) = q+Nq
q+N
N
N
2πq(q+N )

a) Qual a entropia deste sólido? Mostre que os termos provenientes da raiz quadrada na expressão acima
podem ser desprezados se q, N  1

b) Deduza uma expressão para a temperatura do sólido, como função de N e q. Simplifique sua expressão
o máximo possível. Dica: Ela deve depender apenas da razão q/N .

c) Mostre que o limite q  N corresponde a altas temperaturas (kT  ε), e o limite N  q corresponde
a baixas temperaturas (kT  ε). Mostre ainda que, no primeiro caso, a temperatura fica proporcional
à energia média por oscilador, de forma a satisfazer o teorema da equipartição.

d) Inverta o resultado do item (b) para obter a energia U como função da temperatura T . Como sempre,
simplifique sua expressão o máximo possível. Esboce um gráfico de energia U vs temperatura T usando
variáveis adimensionais, U/(N ε) vs. kT /ε.
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e) Considere dois sólidos de Einstein, A e B, em contato térmico e isolados do resto do universo. O sólido
A tem NA = 1000 osciladores; o sólido B tem NB = 3000 osciladores. Os dois sólidos partilham um
total de unidades de energia qtot = qA + qB = 5000. Estime o valor de qA no equilíbrio, isto é, o valor
de qA que maximiza a entropia total do sistema.
Dica: Use o fato que o resultado no item (b) depende apenas da razão q/N , e imponha a condição de
equilíbrio entre os dois sistemas

Ex. 9 (Capacidade Térmica de um Sólido de Einstein)

a) Usando os resultados do problema anterior, calcule a capacidade térmica C de um sólido de Einstein


no limite N, q  1. Dica: Para um sólido de Einstein, supomos V = constante, portanto C = ∂U

∂T V

b) Prove que a capacidade térmica C se torna N k (o valor previsto pela lei de Dulong-Petit) no limite de
alta temperatura. Lembre: se x  1, ex ' (1 + x).
c) Trace, com auxilio de um computador, um gráfico da capacidade térmica vs. temperatura usando
variáveis adimensionais: C/(N k) vs. kT /ε.
d) Compare seu gráfico com os gráficos de CP vs T para três sólidos reais (Pb, Al, e Diamante), na fig.
1.14 do livro-texto. (Lembre-se que, para sólidos, CP ' CV ). Tente estimar qual seria o valor de ε para
cada um desses sólidos, caso eles fossem de fato descritos pelo modelo do sólidos de Einstein.
Dica: Identifique aproximadamente o valor de kT /ε para o qual o seu gráfico atinge a metade da altura
máxima (i.e., C ' 0.5N k). Identifique então os valores aproximados de T onde o mesmo ocorre para
cada sólido real. Fazendo a correspondência com o valor que você encontrou, estime ε em cada caso.
Comentário: no modelo quântico do oscilador harmônico, que foi de onde construímos o sólido de
Einstein, a quantidade 2πh ε corresponde à frequência angular ω do oscilador. Você deve lembrar de
Física 1 que,ppara um oscilador clássico, essa frequência está ligada à ‘constante de mola’, através da
relação ω = kmola /m. Em outras palavras, podemos esperar que quanto maior for o ε de um sólido
de Einstein, mais rígidas serão as ‘molas’ que o compõem, e portanto menos maleável deverá ser o
material. Ainda, quanto mais rígido o sólido, mais lentamente C deve aumentar com T . Confira se
seus resultados verificam essas expectativas .

*Ex. 10 (Equilíbrio Químico)


Uma das aplicações do potencial químico, como o seu nome indica, está na análise de reações químicas.
Vamos entender por que, num cenário simplificado. Considere a reação de formação do metano (CH4 ) a
partir da hidrogenação do propano (C3 H8 )

C3 H8 + 2H2
3CH4

Vamos supor que esta reação está sendo realizada numa câmara selada, com volume V e energia U constantes.
a) Escreva a identidade termodinâmica para esse sistema. Simplifique essa equação considerando as
condições em que a reação está sendo realizada, e ainda o fato de que as variações dNi das três espécies
envolvidas na reação não são independentes umas das outras (p. exemplo, você pode escrever dN2 e
dN3 em proporção a dN1 ).
b) No ponto de equilíbrio (químico e térmico) da reação a entropia deve ser máxima. Aplicando este fato à
identidade termodinâmica mostre que, neste ponto, os potenciais químicos das três espécies (numeradas
na ordem em que aparecem na equação acima), devem satisfazer a relação

µ1 + 2µ2 = 3µ3 (1)

Obs 1: Deve dar pra ver que essa relação é geral, i.e., para qualquer reação a U e V constantes, os potenciais
químicos dos reagentes no ponto de equilíbrio estarão relacionados pelos mesmos coeficientes inteiros que
aparecem na equação da reação, conhecidos como coeficientes estequiométricos.
Obs 2: Na verdade, essa relação vale também em situações mais realistas, em que P e T são fixadas pelo
ambiente, e não U e V . Se quiserem saber mais sobre equilíbrio químico, vejam a seção 5.6 do livro-texto.

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