Poema "SE"

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Poema “SE”

Se o tiro não comandas com justeza !


 inteligência e máxima presteza,
para ceifar os campos com a metralha,
que ao inimigo as cargas estraçalha
Se não mereces por um só instante,
o inabalável crédito do infante
do blindado ou do nobre cavaleiro;

Se te amargas saber que o artilheiro


da vitória se torna trunfo de ouros
para que outros vão colher-le os louros
Se algo existe que o ânimo de impeça
de abraçado morrer à tua peça
em holocausto à Pátria inesquecível;
Se não te escudas numa calma incrível
ante o perigo cheio de inquietude;
Se a lealdade em ti não é virtude,
que só te abone a prática da ação,
que vem d'alma como do canhão;
Se das bocas de fogo entre os clarões
Deus não te crês dos raios e trovões
Digo-te então: erraste a vocação.
 Para trás iditoso comapanheiro!
Não poderás nunca ser um artilheiro!

Poema “Tiro de inquietação”


Silêncio... o acampamento calmo dorme.
Nem um ruído seque. Noite cerrada.
Uma sentinela passa, lenta... Nada;
É calmo tudo, a escuridão enorme.
De quando em quando, da amplidão disforme
Da noite fria, fúnebre, gelada,
Surge um tremor que, longe, em ribombada
Vem, e quase sem chegar morre, uniforme.
Pois vós, que agora descansais, confiantes.
Dormi- Dormi, que o dia vem distante...
Deixai a guerra e horrores no abandono.
O que ouvis é a artilharia atenta.
E este rumor, que aqui vos acalenta
É que, lá longe, vai roubar o sono...
Poema “Peça fogo”
Peça, fogo! Silêncio, é a voz da guerra.
Que o canhão faz sentir e faz tremer,
Que no céu, quer no mar, quer na terra,
Ele domina a força do poder.
Peça, fogo! Silêncio, é a voz da guerra.
Rolando pelos campos de batalha,
Alma de ferro; corpo de metralha,
O monstro segue, e o seu perfil aterra.
Súbito estanca, entra em posição!
Ergue a fronte a espreitar a presa humana.
E fala a sua fala de canhão!
E é tão feroz, que mesmo quando erra,
Pelo estilhaçamento a morte emana,
Peça, fogo! Silêncio, é a voz da guerra.

Poema “O V da serra”
Ponto de pontaria- o “V” da Serra
Deriva- tanto, tanto. Apontar.
A bateria a se aprestar p`ra guerra
Os cadetes ativos, a vibrar.
Assim gerecinó amanhecia,
Sob um sol escaldante, a fervilhar.
Era belo de ver- se a artilharia.
No campo de instrução, a trabalhar
Estender linhas... A topografia...
A cavalaria indócil, bem tratada.
Cozinhas fulmegando a retaguarda.
Granadas, tiros, marchas e mais tiros.
E depois, no regresso, a alegria
Da canção entoada.
Tempos do realengo, já distantes.
Os cadetes de então- que ali viveram
Uma fase feliz, tantos instantes
De grandeza viril- não esqueceram.
Hoje, passados vinte e cinco anos
Desse período lindo e radioso,
Podem afirmar com ardor,
O quanto lhes valeu o esforço honroso.
E apreciando a majestosa AMAN,
Que a glória militar, ciosa, encerra,
Guardado na alma nobre o mesmo “élan”,
Os antigos cadetes artilheiros
Tremem de entusiasmo, ao recordar
Aquele “V” da serra...

Poema “O pássaro e o canhão”


Jaz o velho canhão abandonado,
Oculto pelos ramos da floresta,
Porque de arrasador tão só, lhe resta
A glória de seu túrbido passado,
Foi nobre e foi hostil esse acerado
Engenho de matar, monstro que presta
Um concurso de trágica e funesta
Selvageria ao mundo desolado.
Espalhando emoções e horrores mudos
Num estridor de lanças e de escudos,
Era uma sombra tétrica e sem peia.
Dorme, afinal, o forjador de abismos,
E num contraste cheio de lirismos,
Sobre seu flanco um pássaro gorjeia!

Poema “O canhão e o arado”


Por estranhos caprichos se encontram,
Em um velho galpão abandonado,
A terrível garganta de um canhão
E a afiada navalha de um arado.
De repente uma voz rompe o silêncio,
Fazendo estremecer todo o galpão.
Voz cavernosa, tétrica, sóbria;
Vinha da negra face do canhão.
“Diz-me, pedaço insignificante,
De ferro inútil por mal empregado: que
Fizeste no mundo, de que serves, qual o
Valor do que se chama arado.
Podes falar-me sem constrangimento
Diante de minha superioridade,
Quero também saber a tua história e o
Que fizeste pela humanidade”.
E a afiada lâmina do arado lançou a
Sua voz na escuridão; Falou com
Calma e com serenidade:
“Ouve terrível, rápido canhão.
Julga-te superior e me desprezas,
Triste poder da tua força assassina!
Há entre nós só uma diferença: Eu
Sou a construção tu és a ruína.
Sou o bem, tu és o mal. Paz e guerra!
Matas milhões para um herói criar;
Sacrifico a um só, lavrando a terra,
Para milhões com trigo alimentar.
Porque blasonas superioridade, se tens
Do sangue e do ódio a atroz missão?
Tu resolves a terra para a morte,
Eu a terra resolvo para o pão”.
Calado, ouve o canhão, depois, sereno,
Triste falou: “meu velho arado, vejo
Que és bom, és justo, e te admiro.
Porque vives para ao bem sacrificado.
Mas não me queiras mal; o meu destino
Será somente visto com pavor.
Sempre temido, não serei amado;
Só ódio e maldição, jamais amor!
Saiba porém. Meu velho companheiro,
Que não só represento a destruição.
Todos me odeiam porque sou temido:
“ULTIMA RATIO REGIS”, o canhão.
Ora diz-me: tu sabes porventura o que
É paz, soberania, estado?
Que é liberdade, que é democracia?
E o direito de um povo, pobre arado?
Sabes o que é viver na independência?
Tu não odeias também a escravidão?
Nem só de trigo vive a humanidade,
Nem, só de sonhos vive uma nação.
Eu sou a sentinela do direito,
O forte guardião da liberdade.
Marco as fronteiras da soberania,
Desumano, eu defendo a humanidade.
Se, porventura, os déspotas tentarem
Tomar teus campos de alourado trigo,
Eu surgirei, e meu poder tremendo
Será, então, arado, teu amigo.
E tu, n´ânsia incontida da defesa
Do solo pátrio contra o estranho ousado,
Darás todo teu ferro para balas,
E serás um canhão em vez de arado”...

Poema “O canhão”
Guardando uma expressão da austera
Indiferença
Por tudo que o circunda, atento no infinito,
Queda-se a meditar no destino maldito,
Que prende a sua glória a uma tragédia
Imensa.
Não há poder algum que tão de vez
Convença:
Traz sempre a boca aberta a sugerir um grito,
Deixando, em toda a parte, um pânico
Inaudito,
- sinistro núncio, que é, da máxima sentença.
Mal resiste no peso ao bélico transporte,
Na inversão do seu fim, como que, por
Encanto,
Lembrando um condenado a rastros para a
Morte.
E parece, afinal, compenetrar-se tanto
Do seu delito atroz, que, em repulsão mais
Forte,
Quando atira, recua, enchendo-se de espanto!

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