Lopes Inês Mendonça Costa

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INSTITUTO UNIVERSITÁRIO EGAS MONIZ

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

OZONOTERAPIA NA ACNE

Trabalho submetido por


Inês Mendonça Costa Lopes
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas

Dezembro de 2020
INSTITUTO UNIVERSITÁRIO EGAS MONIZ

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

OZONOTERAPIA NA ACNE

Trabalho submetido por


Inês Mendonça Costa Lopes
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas

Trabalho orientado por


Mestre Dulce Maria Coelho Laúdo

e coorientado por
Profª Doutora Maria Deolinda Ferreira dos Santos Auxtero

Dezembro de 2020
Dedicatória

Aos meus avós A. Jorge e M. Manuela. Sem a vossa existência, persistência


dedicação na minha vida, o meu sonho não teria sido possível de se realizar. Obrigada
por existirem e por tudo o que me proporcionaram.

“Amo-vos muito, Dode Albino e Maria”


Agradecimentos

Aos meus pais, por toda a dedicação e amor. Por me darem força e coragem e
mostrarem que se deve procurar sempre mais e nunca desistir. Obrigada por estarem
sempre lá quando mais precisei não só nestes últimos 5 anos, mas durante a minha vida.
Aos meus irmãos, por terem muito orgulho em mim e me apoiaram em todas as
minhas decisões. Obrigada por todas a brincadeiras, conversas, disparates e até as
discussões que me fazem crescer. Não seria a mesma sem vocês.
Aos meus avós paternos, por depositarem a vossa confiança em mim e por estarem
sempre presentes em todas as fases da minha vida. Obrigada por toda a vossa dedicação
e amor incondicional.
À minha avó materna, a minha estrelinha no céu, por me estar sempre a iluminar.
Ao meu avô materno, obrigada por todo o amor e apoio incondicional. Estar
sempre presentes durante na minha vida e nunca duvidar das minhas capacidades.
À minha orientadora, Mestre Dulce Laúdo, por toda a paciência e dedicação.
Obrigada por acreditar em mim, por me dar sempre força e resolver as minhas dúvidas
que foram surgindo. Não podia ter escolhido melhor orientadora para me acompanhar
neste trajeto.
À minha coorientadora, Professora Doutora Maria Deolinda Auxtero, obrigada
pela disponibilidade e apoio durante esta monografia.
À instituição um grande obrigado, apesar de muitas frustrações, irritações e noites
mal dormidas, também me deu-me muitas alegrias. Sem ela também não teria conhecidos
as pessoas maravilhosas que conheci, um obrigado a todos que sempre estiveram lá para
dar palavras de força, à minha gémea, a Jé, às minhas companheiras e máquinas
tecnológicas, a Susete e a Mary, à pessoa mais louca a Bea. À Adri, à Marianinha, ao João
e a Sofy, à Carolina Beatriz e à Rute que estiveram lá sempre que precisei. Nem teria tido
a sorte de conhecer a luz dos meus olhos e o tesouro dos meus dias, por me acompanhar
em todas as minhas etapas, sempre acreditando em mim e incentivando-me a nunca
desistir. Obrigada por estares sempre do meu lado mesmo quando sou chata e teimosa,
prometo que o meu humor vai melhor depois deste processo.
Às minhas amigas de longa data, Aninhas e Sofizinha, apesar de não nos vermos
todos os dias sei que conto com vocês para tudo. Obrigada por todo o apoio nesta jornada,
por acreditarem em mim e me elevarem o astral. Grata por tudo.
Resumo

Resumo

A acne é uma doença inflamatória cutânea que afeta as unidades pilossebáceas da


pele. Existem quatro fatores patológicos que são responsáveis pela formação da acne e
que são o alvo da terapêutica. Nesta revisão, diferentes opções terapêuticas são discutidas,
incluindo tratamentos tópicos e sistémicos. Devido ao aumento da resistência do
Cutibacterium acnes aos antibióticos disponíveis e ineficácia de alguns dos tratamentos,
é necessário investir em novas alternativas terapêuticas como é o caso da ozonoterapia.
Esta técnica tem inúmeras aplicações clínicas devido às propriedades
imunológicas, antimicrobianas e capacidade de oxigenação, apresentando-se como
alternativa ao tratamento das lesões da acne, como um tratamento individual ou
combinado com outros medicamentos convencionais. A identificação de evidência para
a utilização do ozono justifica-se, pois, esse conhecimento pode contribuir para que
profissionais de saúde optem por esta terapêutica como 1º linha ou em situações em que
os outros protocolos não funcionam.
Atualmente ainda se recorre à terapêutica convencional no tratamento da acne,
apesar dos diversos efeitos secundários associados a esta.
A ozonoterapia apresenta-se como uma alternativa segura, eficaz, não invasiva e
de baixo custo, embora o seu uso ainda seja bastante limitado em dermatologia por
escassez de estudos.
O presente trabalho consiste numa revisão da literatura, sobre a eficácia e
segurança da ozonoterapia no tratamento da acne.

Palavras-chave: Ozono, Ozonoterapia, Acne Vulgar, Anti-inflamatória,


Antimicrobiano

1
Ozonoterapia na acne

2
Abstract

Abstract

Acne is an inflammatory skin disease that affects the pilosebaceous units of the
skin. There are four pathological factors that are responsible for the formation of acne and
that are the target of therapy. In this review, different therapeutic options are discussed,
including topical and systemic treatments. Due to the increased resistance of
Cutibacterium acnes to available antibiotics and inefficacy of some of the treatments, it
is necessary to invest in new therapeutic alternatives such as ozone therapy.
This technique has numerous clinical applications due to its immunological,
antimicrobial properties and oxygenation capacity, presenting itself as an alternative to
the treatment of acne lesions, as an individual treatment or combined with other
conventional medicines. The identification of evidence for the use of ozone is justified,
therefore, this knowledge can contribute for health professionals to opt for this therapy as
the 1st line or in situations where the other protocols do not work.
Nowadays, conventional therapy is still used in the treatment of acne, in spite of
the various side effects associated with it.
Ozone therapy presents itself as a safe, effective, non-invasive and low-cost
alternative, although its use is still very limited in dermatology due to the lack of studies.
The present work consists of a literature review on the effectiveness and safety of
ozone therapy in the treatment of acne.

Keywords: Ozone, Ozone therapy, Acne Vulgaris, Anti-inflammatory,


Antimicrobial

3
Ozonoterapia na acne

4
Índice Geral

Índice Geral

Resumo ................................................................................................................. 1

Abstract ................................................................................................................. 3

Índice Geral .......................................................................................................... 5

Índice de Figuras ................................................................................................... 7

Índice de Tabelas .................................................................................................. 9

Lista de Abreviaturas .......................................................................................... 11

Glossário ............................................................................................................. 13

1 Introdução ........................................................................................................ 15

2 Acne ................................................................................................................. 17

2.1 Fisiopatologia ........................................................................................... 18

2.2 Epidemiologia ........................................................................................... 23

2.3 Terapêutica convencional ......................................................................... 25

3 A História da Ozonoterapia ............................................................................. 31

4 A Molécula de Ozono ...................................................................................... 33

4.1 Estrutura .................................................................................................... 33

4.2 Propriedades ............................................................................................. 35

4.3 Mecanismo de ação ................................................................................... 35

5 Sistema de Produção de Ozono ....................................................................... 43

5.1 Geradores de ozono .................................................................................. 43

6 Ozonoterapia: indicações gerais e doses terapêuticas...................................... 47

6.1 Indicações gerais ....................................................................................... 47

6.2 Doses terapêuticas .................................................................................... 48

7 Vias de Administração do Ozono .................................................................... 51

8 Toxicidade do Ozono ....................................................................................... 59

9 Contraindicações Gerais da Ozonoterapia ....................................................... 61

5
Ozonoterapia na acne

10 Eficácia da Ozonoterapia na Acne ................................................................. 63

10.1 Primeiro estudo ................................................................................... 63

10.2 Segundo estudo ................................................................................... 66

10.3 Terceiro estudo ................................................................................... 67

10.4 Quarto estudo ...................................................................................... 68

10.5 Quinto estudo ...................................................................................... 70

11 Ozonoterapia versus Terapêuticas Convencionais ........................................ 73

12 O Papel do Farmacêutico ............................................................................... 75

Conclusão ........................................................................................................... 77

Referências Bibliográficas .................................................................................. 79

6
Índice de Figuras

Índice de Figuras

Figura 1- Diferentes fases da acne na unidade pilossebácea da pele ................. 17


Figura 2- Patogénese da acne ............................................................................ 19
Figura 3- Camada de Ozono .............................................................................. 33
Figura 4- Molécula de ozono ............................................................................. 34
Figura 5- Molécula de ozono ............................................................................. 34
Figura 6- Reação reversível de ozono dependente da temperatura ................... 34
Figura 7- Resumo dos principais efeitos biológicos ao introduzir ozono no
organismo ....................................................................................................................... 37
Figura 8- Principal reação do ozono no nosso organismo, ozonolíse ............... 37
Figura 9- Regulação do sistema antioxidante, stress oxidativo ......................... 38
Figura 10- Ativação das enzimas antioxidantes após introdução do ozono ...... 39
Figura 11- Ação do ozono no metabolismo dos glóbulos vermelhos................ 40
Figura 12- Mecanismo bioquímico de transmissão da dor e cascata de formação
de mediadores inflamatórios........................................................................................... 42
Figura 13- Geradores de ozono ......................................................................... 43
Figura 14- Formação de ozono dentro de um gerador ....................................... 44
Figura 15- Controlo do fluxo de oxigénio fornecido pelo gerador que dispõe de
um catalisador ................................................................................................................. 44
Figura 16- Controlo do fluxo de oxigénio fornecido pelo gerador que dispõe de
uma válvula .................................................................................................................... 45
Figura 17- Aparelho de vapor de ozono ............................................................ 52
Figura 18- Nomes comerciais/marcas de Óleo ozonizado comercializado em
Portugal........................................................................................................................... 54
Figura 19- Bolsa com ozono .............................................................................. 54
Figura 20- Insuflação retal com ozono .............................................................. 57
Figura 21- Imagem do indivíduo com doença, após tratamento com ozonoterapia
........................................................................................................................................ 64
Figura 22- Imagem do indivíduo com doença, após tratamento com ozonoterapia
........................................................................................................................................ 66
Figura 23- Estudo realizado sobre a eficácia do ozono na Cutibacterium acnes
........................................................................................................................................ 67

7
Ozonoterapia na acne

Figura 24- Imagem de duas pessoas com doença, antes (A) e após (B) iniciar a
ozonoterapia.................................................................................................................... 67
Figura 25- Imagem do efeito cicatrizante do uso de azeite ozonizado num
indivíduo com lesão papulopustular, (A) início do tratamento, (B) 2 semanas após o
tratamento e (C) um mês após o tratamento ................................................................... 69
Figura 26- Média das lesões inflamatórias e não inflamatórias no tratamento da
acne, com azeite ozonizado e placebo ............................................................................ 70
Figura 27- Imagem do indivíduo com doença, antes de iniciar a auto-hemoterapia
minor............................................................................................................................... 71
Figura 28- Imagem do indivíduo com doença, um mês após iniciar a auto-
hemoterapia minor .......................................................................................................... 72

8
Índice de Tabelas

Índice de Tabelas

Tabela 1- Classificação da acne em função das lesões ...................................... 18


Tabela 2- Fármacos que desencadeiam a acne .................................................. 23
Tabela 3- Acne no adolescente versus acne no adulto....................................... 24
Tabela 4- Terapêutica na acne ........................................................................... 26
Tabela 5- Breve história sobre o ozono ............................................................. 31
Tabela 6- Regulação do sistema antioxidante.................................................... 38
Tabela 7- Ativação das células imunocompetentes ........................................... 40
Tabela 8- Aplicações de ozono de acordo com os seus efeitos biológicos ........ 47
Tabela 9- Aplicação da ozonoterapia de acordo com as doses e os seus efeitos 49
Tabela 10- Vias de administração do ozono ...................................................... 51
Tabela 11- Critérios para seleção da concentração de ozono ............................ 55
Tabela 12- Diferentes formas de utilização de ozono na acne .......................... 58
Tabela 13- Efeito do ozono em alguns fluídos/tecidos ...................................... 59
Tabela 14- Contraindicações absolutas e relativas da ozonoterapia .................. 61
Tabela 15- Descrição do caso antes de iniciar a terapia de ozono ..................... 63
Tabela 16- Descrição do caso após iniciar a terapia de ozono .......................... 65
Tabela 17- Descrição do caso após iniciar a ozonoterapia ................................ 68
Tabela 18- Comparação de algumas propriedades físico-químicas entre azeite
extra virgem e azeite ozonizado ..................................................................................... 68
Tabela 19- Índices de peroxidação em ozonoterapia em indivíduos com acne
severo .............................................................................................................................. 71
Tabela 20- Vantagens e desvantagens do uso da terapêutica convencional ...... 73
Tabela 21- Vantagens e desvantagens do uso da ozonoterapia ......................... 74

9
Ozonoterapia na acne

10
Liste da Abreviaturas

Lista de Abreviaturas

AH Ácido Hialurónico
AHTm Auto-hemoterapia minor
AHTM Auto-hemoterapia major
AINE Anti-inflamatório Não Esteroide
C. acnes Cutibacterium acnes
CE Indicativo de conformidade obrigatória para diversos produtos
comercializados no Espaço Económico Europeu
CRH Fator de distribuição da corticotropina
DGAV Direção geral de Alimentação e Veterinária
DHEAS Dehidroepiepiandrosterona
DMM Diretrizes dos Dispositivos Médicos
DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
EROS/ROS Espécies Reativas de Oxigénio
EVA Escala Visual Analógica
FSH Hormona folículo-estimulante
GDH Códigos de Diagnóstico Homogéneo
HC Hidratos de carbono
HDL Lipoproteínas de alta densidade
HOCLˉ Ácido hipocloroso
H2O2 Peróxido de Hidrogénio
Infarmed Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde
IP Índice de peróxidos
ISCO3 Comité Internacional Científico sobre Ozonoterapia
LH Hormona Luteinizante
LOP Produtos de Oxidação Lipídica
LPO Peróxido Lipídico
MSRM Medicamentos Sujeitos a Receita Médica
O3 Ozono
O2 Oxigénio
O2- Radical Superóxido
OH Radical Hidroxilo
PUFA Ácido Gordos polinsaturados
PVC Polímeros sintéticos de plástico
ROO Radical peroxilo

11
Ozonoterapia na acne

SOP Síndrome do Ovário Poliquístico


SNS Serviço Nacional de Saúde
S. epidermidis Staphylococcus epidermidis
TGF-β Fator de transformação do crescimento beta
UV Raios ultravioleta
2,3-DGP 2,3-Difosfoglicerato

12
Glossário

Glossário

Alcadienos- Usualmente encontra-se entre átomos de carbono duas ligações


duplas (composto covalente).
Agente biocida- É um termo para substâncias ativas que eliminam, neutralizam,
previnem ou impedem a ação de microrganismos vivos indesejados, como fungos e
bactérias. Este conceito é aplicado a desinfetantes, esterilizantes químicos, antissépticos
e conservantes. Os biocidas são muito utilizados para agentes de inibição de
microrganismos patogénicos em geral.
Efeito sinérgico- Um efeito em que dois constituintes distintos atuam para o
mesmo objetivo.
Falácia- Tentar provar o que defende, através de argumentos logicamente
incoerentes, sem fundamentos científicos ou inválidos.
Índice de peróxidos- Carateriza e diferencia as propriedades dos óleos
ozonizados e sua aplicação.
Malondialdeído- Indicador de stresse oxidativo.
Stress oxidativo- Acontece quando existe um desequilíbrio da homeostase óxido-
redução intracelular. Este desequilíbrio ocorre devido a uma deficiência nos mecanismos
antioxidantes e quando existe uma produção excessiva de espécies reativas de oxigénio,
Radicais Livres (RL) e/ou por deficiência nos mecanismos antioxidantes, produzindo
assim dano celular em tecidos e órgãos.
Tecido de granulação-É um tecido fibroso que se forma durante o processo de
cicatrização de uma ferida ou de uma lesão na pele, aparência rosada e granular no local
da lesão.
Virilização- É o aparecimento de características masculinas excessivas, em
mulheres, normalmente causado pelo aumento de produção de androgénios, pelas
glândulas suprarrenais.

13
Ozonoterapia na acne

14
Introdução

1 Introdução

A acne vulgar é uma doença inflamatória crónica, muito comum em adolescentes


e indivíduos com mais de 25 anos. Afeta o folículo pilossebáceo e tem envolvidos quatro
fatores fisiopatológicos, o excesso de produção e desregulação do perfil lipídico do sebo
sob influência dos androgénios, a queratinização alterada, a colonização por
Cutibacterium acnes (C. acnes) e a inflamação (Brenner et al., 2006; Platsidaki &
Dessinioti, 2018). Enquanto doença dermatológica crónica tem um forte impacto nos
indivíduos e por isso o conhecimento pormenorizado da fisiopatologia e das opções
terapêuticas adequadas, são as ferramentas essenciais que permitem ao médico,
farmacêutico e utente selecionar o tratamento mais adequado e ter uma maior satisfação
em relação à adesão à terapêutica e resultados clínicos (I. Costa & Velho, 2018).
A eficácia da terapêutica tópica e oral para a acne encontra-se documentada, no
entanto, o aumento da resistência da C. acnes aos antibióticos disponíveis, a ineficácia de
outros tratamentos e as reações adversas locais, como a irritação cutânea, eritema, secura
e descamação são os maiores problemas associados à falta de compliance por parte dos
doentes. Deste modo, a ozonoterapia pode ser uma nova abordagem terapêutica para o
tratamento da acne (Brenner et al., 2006; Figueiredo et al., 2011; Silva & Pereira, 2018).
A ozonoterapia consiste na administração tópica e sistémica de uma mistura de
oxigénio puro (O2) e ozono (O3) medicinal, com aplicações clínicas muito variadas e as
suas doses variam consoante a patologia e a sua gravidade. Devido às suas propriedades
desinfetantes, antimicrobianas, antivirais e antifúngicas, torna-se muito útil e benéfica em
vários segmentos inclusive na dermatologia e no tratamento de várias patologias da pele
como a acne (Bocci, 2011; Schawartz, Sánchez, & Quintero, 2015).
Neste sentido, considera-se importante conhecer a melhor evidência disponível
sobre a temática, uma vez que ainda existem algumas dúvidas sobre a sua eficácia na
redução da carga bacteriana, quando comparada com a terapêutica convencional
(Schawartz et al., 2015).
Infelizmente, por causa de interesses económicos, foi criado um estigma pela
indústria farmacêutica, sobre a utilização de O3 na medicina, alegando toxicidade e, como
tal, defendendo a sua proibição (Palma & Vilaça, 2012; Scwhartz & Martínez-Sánchez,
2012; Smith, Wilson, Gandhi, Vatsia, & Khan, 2017).

15
Ozonoterapia na acne

Para esta monografia foram delineados os seguintes objetivos através da revisão


da literatura: abordar a etiopatologia da acne, a ozonoterapia e os seus benefícios e
cuidados na terapêutica da acne, o mecanismo de ação do O3, formas de abordagem
convencionais, novos desenvolvimentos, formas farmacêuticas e novas estratégias
utilizando a molécula do O3, de modo a determinar a eficácia do uso tópico e sistémico
da ozonoterapia na redução da carga bacteriana (Bocci, 2011; Silva & Pereira, 2018).
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica que foi realizada em bases de
dados Science Direct, Google Académico, PubMed, B-on, Elsevier, SciELO, todas
realizadas em inglês e português com as palavras de busca como, Ozone, Ozone therapy,
Acne Vulgaris, Anti-inflammatory, Antimicrobial.

16
Acne

2 Acne

A acne vulgar é uma doença inflamatória crónica da unidade pilossebácea da pele,


que se carateriza pela hipersecreção sebácea e pelo aparecimento de diferentes lesões,
afetando as áreas da pele com maior densidade de folículos sebáceos, que incluem a face,
a parte superior do tórax e o dorso (Platsidaki & Dessinioti, 2018).

Figura 1- Diferentes fases da acne na unidade pilossebácea da pele

Fonte: adaptado de (Thomas, 2019)

Do ponto de vista clínico a acne caracteriza-se pela formação de lesões cutâneas


como, comedões abertos e fechados (pontos negros e pontos brancos) que são lesões não
inflamatórias, pápulas, pústulas ou nódulos/quistos que são lesões inflamatórias e
cicatrizes que são resultado da acne inflamatória e estão associadas a um aumento do
colagénio ou a perda de colagénio. Este tipo de lesões, isoladas ou em conjunto, definem
o tipo e gravidade da acne (Tabela 1) (Dréno et al., 2018; Platsidaki & Dessinioti, 2018;
Thomas, 2019).

17
Ozonoterapia na acne

Tabela 1- Classificação da acne em função das lesões


Acne Grau Classificação Exemplo

Não Grau I (ligeiro) ou acne Pontos brancos,


Inflamatória retencional negros e microquistos

Grau II (ligeiro a moderado) Pápulas, pústulas e


ou acne pápulo-pustosa nódulos

Grau III (moderado) ou acne Pápulas, pústulas,


nódulo-quistica nódulos e quistos

Inflamatória
Grau IV (moderado a grave) Pápulas, pústulas,
ou acne conglobata nódulos, abcessos,
fistulas, cicatrizes

Pápulas, pústulas,
Grau V (grave) ou acne
nódulos e lesões
fulminante
necróticas

Fonte: adaptado de (Figueiredo et al., 2011; Montagner & Costa, 2010; Zanelato, Alves, & Cunha, 2011)

2.1 Fisiopatologia

A acne é considerada um processo inflamatório que se inicia nas unidades


pilossebáceas, onde se encontram as glândulas sebáceas, ductos e folículos (Fox,
Csongradi, Aucamp, Plessis, & Gerber, 2016; Williams, Dellavalle, & Garner, 2012).
Existem quatro mecanismos fisiopatológicos responsáveis pela formação da acne
(Figura 2) (I. Costa & Velho, 2018).

18
Acne

Resposta
Inflamatória
Colonização e
Formação de proliferação de
microcomedão Cutibacterium acnes
Hiperqueratinização
folicular

Hipersecreção
sebácea e
disseborreia

Figura 2- Patogénese da acne


Fonte: adaptado de (I. Costa & Velho, 2018)

Hipersecreção sebácea

Segundo A. Costa et al. (2008) o filme hidrolipídico é constituído pelo sebo, que
na sua composição apresenta triglicéridos, ácidos gordos, ésteres de cera, ésteres de
colesterol e esqualeno, produzido e excretado pela glândula sebácea e os lípidos da
queratinização.
Os primeiros sinais da acne, comedões e mais tarde lesões inflamatórias surgem
aos sete anos de idade devido a uma maior produção de sebo, estimulado pelas hormonas
androgénicas, 5α-redutase e 17β-hidroxiesteróide desidrogenase, nas glândulas sebáceas
e nos queratinócitos do folículo. Com o passar dos anos existe uma diminuição da
produção de androgénios após a adolescência, mas volta a aumentar após os 25 anos (A.
Costa et al., 2008; Montagner & Costa, 2010; B. de M. Ribeiro et al., 2015).
Para além da secreção excessiva de sebo, algumas publicações dão ênfase à
disseborreia. Trata-se de uma desregulação do perfil lipídico do sebo tornando-o mais
espesso, irritante e comedogénico, devido a uma redução do nível de ácido linoleico e
sapiénico, redução dos níveis de vitamina E, oxidação do esqualeno e aumento do ácido
oleico (Picardo, Ottaviani, Camera, & Mastrofrancesco, 2009; Tan & Bhate, 2015).

19
Ozonoterapia na acne

Hiperqueratinização folicular e formação de microcomedão

A hiperqueratinização folicular é responsável pela comedogénese e ocorre por


descamação anormal de queratinócitos devido à deficiência de ácido linoleico (ómega-6),
importante na manutenção da barreira epidérmica (A. Costa et al., 2008). Também
relacionado com a comedogénese está a desregulação da composição do sebo, ou seja, os
queratinócitos infundibulares ficam irritados e por consequência são libertados
mediadores inflamatórios, nomeadamente a interleucina-1 (Montagner & Costa, 2010).
Segundo A. Costa et al. (2008)e Montagner & Costa (2010) a descamação anormal
leva a uma acumulação de células queratinizadas e lípidos no folículo piloso, sendo que
os mesmo levam à formação de um microcomedão, o que facilita a proliferação bacteriana
e consequentemente infeção bacteriana e inflamação.

Colonização e proliferação de C. acnes

A C. acnes é uma bactéria anaeróbia gram-positiva, e o facto da produção de sebo


ser elevada torna o ambiente mais propício para a sua colonização. Esta prolifera nos
folículos pilosos e hidrolisa os triglicéridos presentes no sebo em ácidos gordos livres,
que por sua vez, vão irritar a parede do folículo induzindo assim a queratinização
(Bonetto, 2004; Montagner & Costa, 2010).
A bactéria C. acnes quando coloniza o folículo piloso desencadeia um processo
de imunidade inata, resultando numa inflamação cutânea (Montagner & Costa, 2010;
Platsidaki & Dessinioti, 2018).

Resposta Inflamatória

O processo inflamatório surge pela hiperqueratinização, e com o aparecimento da


C. acnes ocorre o início da comedogénese. Segundo Ribeiro, Almeida, et al. (2015) as
lesões inflamatórias apresentam-se na forma de, pápulas e pústulas ou nódulos/quistos,
que por sua vez evoluem para cicatrizes se não forem devidamente tratadas.
A desagregação da barreira cutânea faz com que seja mais fácil a penetração de
microrganismos, de ácidos gordos e a libertação de interleucinas-1, levando inflamação
e infeção bacteriana. A bactéria C. acnes estimula a libertação de interleucinas-1 através
dos queratinócitos, macrófagos e sebócitos, levando também ao aumento de linfócitos T
CD4+ (A. Costa et al., 2008; B. Ribeiro et al., 2015).

20
Acne

É de realçar que, para além dos fatores acima mencionados existem outros
responsáveis pela exacerbação da acne no adulto, nomeadamente:
• Alterações endócrinas;
• Tabagismo;
• Stress;
• Dieta;
• Fármacos;
• Cosméticos;

Alterações Endócrinas

O aparecimento da acne pode estar também relacionado com alterações


endócrinas especialmente, no Síndrome do Ovário Poliquístico (SOP) e no ciclo
menstrual.
A principal causa de hiperandrismo é a SOP, que é responsável por um aumento
de androgénios, que estimulam a secreção sebácea e promovem a hiperqueratinização
folicular, havendo maior predominância da acne (I. Costa & Velho, 2018).
Segundo Ribeiro, Almeida, et al. (2015) na SPO existe um aumento da LH
(hormona luteinizante) e da FSH (hormona folículo-estimulante). É na hipófise anterior
que ocorre a libertação destas hormonas, sendo que estas vão promover a ovulação e a
estimulação das hormonas estrogénio/progesterona e androgénio (I. Costa & Velho,
2018).
No que diz respeito, ao período menstrual sabe-se que o diâmetro de abertura do
folículo pilo-sebáceo diminui dois dias antes do início de período menstrual, o que
condiciona a redução do fluxo do sebo para a superfície, e que pode explicar o
agravamento pré-menstrual da acne principalmente em mulheres adultas (I. Costa &
Velho, 2018).

Tabagismo

O consumo de tabaco é responsável por um aumento de queratinização e


hiperplasia do epitélio infundibular, pois a nicotina tem uma forte ligação aos recetores
colinérgicos dos queratinócitos (I. Costa & Velho, 2018). Com a presença de nicotina no
organismo a acetilcolina é estimulada, esta liga-se aos recetores da glândula sebácea e
consequentemente leva a uma modulação, diferenciação e produção sebo. Para além de

21
Ozonoterapia na acne

promover uma diminuição de agentes oxidantes e um aumento de formação de peróxido


lipídico (LPO) do esqualeno do sebo (I. Costa & Velho, 2018; B. de M. Ribeiro et al.,
2015).
I. Costa & Velho (2018) concluem que, nas mulheres fumadoras existe um
predomínio de micro e macro comedões, porém um pequeno número de lesões
inflamatórias.

Stress

O stress é um dos fatores de agravamento mais reportados pelos pacientes (I. Costa
& Velho, 2018).
Segundo Sadick & Krueger (2014) o stress estimula a hormona libertadora de
corticotrofina (CRH) e citocinas inflamatórias, levando a um aumento do cortisol.
Relativamente à CRH, esta vai induzir diretamente o aumento de lípidos aumentando
também a conversão de dehidroepiepiandrosterona (DHEAS) em testosterona
(Rodrigues, Perez, & Silva, 2019).

Dieta

Relativamente à dieta, de acordo com I. Costa & Velho (2018) o consumo de


hidratos de carbono (HC) com um elevado índice glicémico bem como, leite, produtos
lácteos, gorduras saturadas e uma diminuição no consumo de ácidos gordos como ómega
3, conduzem ao desenvolvimento da acne. Sabe-se que o consumo de HC está associado
ao aumento de glicémia, que por sua vez aumenta a insulina e o fator de crescimento,
contribuindo para uma maior produção de sebo pela glândula sebácea.
Sengundo Melnik (2018) nas populações ocidentais, a acne é mais predominante
do que nas não ocidentais, porque a alimentação é predominantemente paleolítica e o
consumo de HC é menor.
Ribeiro, Almeida, et al. (2015) consideraram também, que existe relação entre a
acne e o consumo de suplementos ricos em aminoácidos de cadeia modificada do tipo
wheyprotein e derivados do soro de leite que são usados para aumentar massa muscular.
Para se perceber melhor a relação entre o uso dos suplementos e o possível
aparecimento de acne Ribeiro, Almeida, et al. (2015) realizaram um estudo observacional
com 30 participantes, que tomaram o suplemento wheyprotein e verificaram que ao fim
de dois meses 100% dos utilizadores desenvolveram acne inflamatória de grau III. Os

22
Acne

aminoácidos presentes neste suplemento tais como: lisina, arginina, leucina, isoleucina e
caseína. Estes estimulam os sebócitos e os fatores de crescimento, consequentemente há
um aumento da produção do sebo.

Fármacos

Alguns fármacos como corticosteroides e antidepressivos (Tabela 2), têm sido


associados ao desenvolvimento de acne pelos seus possíveis efeitos adversos (I. Costa &
Velho, 2018).

Tabela 2- Fármacos que desencadeiam a acne

Corticosteroides Antivíricos

• Tópicos • Ganciclovir
• Inalatórios
• Sistémicos
Bloqueadores dos canais de
Antiepiléticos cálcio

• Nimodipina
• Carbamazepina
• Fenitoína
Vitaminas
Antidepressivos
• B12
• Lítio
• Sertralina
Antituberculosos
Antipsicóticos
• Isoniazida
• Risperidona • Pirazinamida

Fonte: adaptado de (I. Costa & Velho, 2018)

Cosméticos
No que se refere ao uso de cosméticos, estes são cada vez mais utilizados pelas
mulheres e segundo I. Costa & Velho (2018) a sua má utilização pode contribuir para
uma maior incidência da acne.

2.2 Epidemiologia

A acne vulgar é uma doença que afeta os adolescentes e adultos, contudo, também
pode afetar os recém-nascidos, lactentes e crianças. Estima-se que a acne tem uma

23
Ozonoterapia na acne

prevalência de 9,4% em todo o mundo, sendo considerada a oitava doença mais frequente
(Tan & Bhate, 2015).
A incidência na adolescência varia de 95% para o sexo masculino entre os 16-17
anos, e cerca de 83% para sexo feminino entre 14-17 anos. Nos adultos a incidência da
acne é partir dos 25 anos de idade, em cerca de 12% em mulheres e cerca de 3% em
homens (I. Costa & Velho, 2018; B. de M. Ribeiro et al., 2015).
I. Costa & Velho (2018) observaram que existiam diferenças entre os adolescentes
e os adultos, conforme a Tabela 3:

Tabela 3- Acne no adolescente versus acne no adulto

Adolescente Adulto

Idade Adolescência e Puberdade >25 anos


Género predominante Masculino Feminino
Face: zona T (testa, nariz e Face: zona U (queixo, mandibula e
Localização queixo) pescoço)
Tronco: comum Tronco: raro
Comedões (raro, mas comum em
Comedões (lesões
fumadores)
predominantes)
Tipo de lesões Macrocomedões
Pápulas e pústulas (comum) Pápulas e pústulas (predominante)
Quistos Quistos (comum)
Cicatrizes Dependentes da gravidade Comum
Distúrbio hormonal Possível Mais comum
Erupção Pré-menstrual Não é comum Frequente
Resposta ao tratamento Frequentemente refratária, com
Adequada
convencional recidivas

Fonte: adaptado (I. Costa & Velho, 2018)

De acordo com Fox et al. (2016) a acne tem um impacto enorme na qualidade de
vida dos indivíduos. Estudos demonstraram que os doentes com acne têm grandes
transtornos emocionais e psicológicos. Um dos estudos, foi direcionado a mulheres entre
os 25 e os 45 anos de idade e o outro realizado em homens e mulheres com idades entre
os 26 e os 50 anos (I. Costa & Velho, 2018).

24
Acne

No primeiro estudo transversal foi realizado em 208 mulheres, sendo que 75%
desta população alvo referem que a acne tem um grande impacto na sua vida social e
profissional, para além de diminuir a sua autoestima, 43% refere que tem dificuldades de
concentração, 28,9% de ansiedade e 21,2% de sintomas depressivos ligeiros a moderados
(I. Costa & Velho, 2018).
No segundo estudo observacional realizado em 280 adultos (homens e mulheres),
76,4% dos indivíduos desenvolveu cicatrizes e 56,2% de stress (I. Costa & Velho, 2018).

2.3 Terapêutica convencional

O tratamento da acne procura controlar os diferentes fatores, que estão na sua


origem, evitando recaídas e prevenindo sequelas (Figueiredo et al. 2011).
Existem vários objetivos em relação à terapêutica para controlar a acne, que vão
de encontro com os principais mecanismos fisiopatológicos, ou seja, a diminuição da
hipersecreção sebácea, o controlo da hiperqueratinização folicular, a redução da
colonização e proliferação de C. acnes e eliminação da inflamação. O tratamento a ser
utilizado deve ser individualizado (Figueiredo et al., 2011).
Por esse motivo, Figueiredo et al. (2011) referem que a intervenção de um
dermatologista e farmacêutico é necessária, permitindo associações de medicamentos
tópicos/sistémicos com produtos cosméticos e medidas não farmacológicas.
Até agora ainda não existe um tratamento específico para a acne, mas para a maior
parte dos pacientes existe um padrão que é utilizado para reduzir as lesões e normalmente
são necessárias 6 a 8 semanas para se verificarem algumas melhorias (Figueiredo et al.,
2011; Williams et al., 2012).
Um tratamento não adequado pode desencadear uma perda de autoestima ou até
mesmo levar à formação de cicatrizes que permanecem para o resto da vida e contribuem
para o desenvolvimento de doenças psicológicas (Figueiredo et al., 2011).
Na Tabela 4, podemos observar os vários tipos de tratamento convencional
(tópico, sistémico, cirúrgico), coadjuvantes do tratamento (cosméticos e suplementos
alimentares) e os seus respetivos mecanismos de ação.

25
Ozonoterapia na acne

Tabela 4- Terapêutica na acne

Princípio ativo/Tipo de
Tratamento Tipo Mecanismo de ação Efeitos Adversos Uso
produto

Tretinoína
Irritação;
(creme 0,025%, 0,05% e solu- - Inibem a comedogénese e consequente-
Fotossensibilidade;
ção 0,1%) mente diminuem as lesões inflamatórias; Acne grau I e
Retinoides Secura cutânea;
Isotretinoína (gel 0,05%) - Recompõem a descamação do epitélio in- II
Dermatites de contato
fundibular;
Adapaleno (creme 0,1%) irritativas ou alérgicas;
- Diminuem a quimiotaxia dos neutrófilos;
- Diminuem a produção de citocinas e de áci- Irritação;
Antibióticos Tetraciclinas/ Macrólidos dos gordos livres no infundíbulo piloso; Dermatites de contacto
Acne grau II
(Eritromicina) - Inibem a síntese de óxido nítrico; irritativas ou alérgicas;
Farmacológico - Aumentam a produção de prostaglandinas Fotossensibilidade;
Tópico e de superóxido dismutase;
Peróxido de Benzoílo (gel, - Antimicrobiano como os antibióticos tópi-
Dermatites de contacto
creme e loção de limpeza 5 a cos;
irritativas ou alérgicas;
10%) - Comedolítico ligeiro;
- Normalizam a descamação;
Zinco-PCA (ácido carboxí- Irritação da pele;
- Previnem e reduzem os comedões;
Antimicrobiano lico) + vitamina B3 + Eritema; Acne grau II
- Reduzem as lesões inflamatórias;
vitamina B6 (derivado) Descamação;
- Seborregulador;
Eritema;
Sulfato de zinco a 5% - Anti-inflamatório e antioxidante; Prurido;
Descamação;

26
Acne

Tabela 4 (continuação)- Terapêutica na acne

Princípio ativo/Tipo
Tratamento Tipo Mecanismo de ação Efeitos Adversos Uso
de produto

Tetraciclinas (1ª Linha)


- Diminuem a quimiotaxia dos neutrófilos; Fotossensibilidade;
Macrólitos (2ª Linha) -Diminuem a produção de citocinas e de Cefaleias; Acne grau
Antibióticos
ácidos gordos livres no infundíbulo piloso; Alterações gastrointesti- III, IV e V;
Quinolonas, cotrimoxazol - Inibem a síntese de óxido nítrico; nais;
e o trimetroprim (3ª Linha)
- O estrogénio inibe a produção de andro-
Tromboembolismo;
génios ováricos por inibição de gonadotro-
Náuseas;
Inibidores da produção de pinas hipofisárias através de um feedback
Vómitos;
androgénios ováricos negativo e aumenta a síntese hepática de
Mastalgia;
(estrogénios e progesta- globulina de ligação de hormonas sexuais
Cefaleias;
tivo) e diminui a testosterona livre;
Aumento de peso;
- O progestativo inibe a enzima 5-α-redu-
Farmacoló- Edema periférico; Acne grau
tase;
gico sistémico II, III
Irregularidade menstrual;
Espironolactona - Inibe a enzima 5-α-re-
Hipercalémia;
Hormonal Inibidores do recetor de dutase e bloqueia o recetor de androgénios
Mastalgia;
androgénios (espironolac- Acetato de ciproterona - Inibe os receto-
Cefaleias;
tona, acetato de ciprote- res de androgénios e a ovulação;
Edema periférico;
rona e flutamida) Flutamida - Bloqueia o recetor de andro-
Hepatotoxidade;
génios;
Alterações da coagulação;

- Inibem a produção androgénios na supra- Hipertensão;


Inibidores da produção de Estrias;
renal; Acne grau
androgénios pela suprarre- Cataratas;
- Estimulam a síntese hepática de globulina III, IV e V
nal (corticoides) Elevação do colesterol;
de ligação de hormonas sexuais; Depressão;

27
Ozonoterapia na acne

Tabela 4 (continuação)- Terapêutica na acne

Princípio ativo/Tipo de
Tratamento Tipo Mecanismo de ação Efeitos Adversos Uso
produto

- Diminui o tamanho das glândulas sebá-


Efeito teratogénico;
ceas;
Queilite;
- Diminui a produção de sebo;
Farmacoló- Secura ocular; Acne grau
Retinoides Isotretinoína -Normaliza a queratinização folicular;
gico sistémico Secura cutânea; III, IV e V;
-Reduz a criação de novos comedões;
Fotossensibilidade;
-Diminui a colonização bacteriana e a ati-
Hiperlipemia;
vidade inflamatória;

Peeling superficiais (epi-


derme) - ácido tricloroacé-
tico
Peeling de média profun- -Atuam na epiderme e na derme através da
desnaturação das proteínas; Acne grau
didade (derme papilar) - Irritação (queimaduras);
- Promovem uma renovação dos tecidos III, IV, V e
Peeling químico ácido tricloroacético Hiperpigmentação;
através da necrose isquémica; Cicatrizes
Peeling profundos (derme -Promovem elasticidade da pele;
reticular) - ácido tricloro-
Cirúrgico acético

Cicatrizes
- Remove a epiderme e a derme superfi- Irritação; Contraindi-
Peeling mecânico Dermoabrasão
cial; Hiperpigmentação; cado na
acne ativa
- Removem a matéria purulenta;
- Estimulam a produção de colagénio im- Eritema;
“Subcision” Microagulhas Cicatrizes
portante para o preenchimento das imper- Edema;
feições;

28
Acne

Tabela 4 (continuação)- Terapêutica na acne

Princípio ativo/Tipo de
Tratamento Tipo Mecanismo de ação Efeitos Adversos Uso
produto

Eritema;
Hiperpigmentação;
- Remove por completo a epiderme e
Laser ablativo Hipopigmentação;
parte da derme;
Prurido;
Infeções;
“Resurfacing”
Edema;
Queimaduras;
Cirúrgico - Causa alterações na derme, mas não re- Cicatrizes
Laser não ablativo Eritema;
movem a epiderme;
Hipopigmentação;
Fibroses;
Eritema;
Edema;
Preenchimento Ácido hialurónico (AH) - Substância higroscópica;
Hematoma;
Necrose;
Pele seca;
Gel de lavagem ou água mi- - Removem as impurezas e excesso de se- Hipersensibilidade cutâ-
Higiene
celar creção sebácea; nea;
Fotossensibilidade;
Emulsão com ação querato- - Hidratam, controlam a oleosidade e o Hipersensibilidade cutâ-
Hidratação
lítica e matificante processo de queratinização; nea; Acne grau II,
Cosmético
Emulsão Oil free com FPS - Absorvem ou refletem a radiação ultra- III, IV e V
Fotoproteção Irritação cutânea;
elevado violeta;

Camuflagem Creme compacto ou base - Controlam oleosidade;


Irritação cutânea;
(maquilhagem) oil-free com cor - Camuflagem das imperfeições;

29
Ozonoterapia na acne

Tabela 4 (continuação)- Terapêutica na acne

Princípio ativo/Tipo de
Tratamento Tipo Mecanismo de ação Efeitos Adversos Uso
produto

- Antibacteriano;
Náuseas;
- Seborregulador;
Vómitos;
Zinco - Anti-inflamatório, favorece a conversão
Dor epigástrica;
dos ácidos gordos essenciais em pros-
Diarreia;
taglandinas;
Probióticos (bifidobacte-
rium bifudium e lactoba- -Seborregulador;
-
cillus acidophilus/ bulgari- - Anti-inflamatório
cus)
Suplementos Cefaleias;
Acne grau II, III,
alimentares Nutrição Náuseas
-Seborregulador, através da conversão de IV e V
Vitamina D3 Vómitos;
dehidrocolesterol em colecalciferol;
Fadiga;
Dor muscular;
Levedura (Saccharomyces
- Anti-inflamatório; -
cerevisiae)

- Estimula o sistema imunitário; Diarreia;


Lactoferrina - Anti-inflamatório; Fadiga;
- Seborreguladora; Obstipação;

Fonte: adaptado de (Allgayer, 2014; Andrade, Wagemaker, Mercurio, & Maia Campos, 2018; F. Costa, El Ammar, Campos, & Kalil, 2011; Figueiredo et al., 2011; M. Gupta,
Mahajan, Mehta, & Chauhan, 2014; Kim et al., 2010; Kober & Bowe, 2015; Pérez-Sánchez, Barrajón-Catalán, Herranz-López, & Micol, 2018)

30
A História da Ozonoterapia

3 A História da Ozonoterapia

As referências à utilização da ozonoterapia datam de há pelo menos 150 anos


(Tabela 5), registando-se apenas relatos de efeitos colaterais mínimos (Bocci, 2006; Elvis
& Ekta, 2011).

Tabela 5- Breve história sobre o ozono

1783
• Van Marum, químico Holandês;
• Foi o primeiro a determinar o ozono pelo odor;
1840
• Christian Friedrich Schönbein, químico Alemão;
• Classifica o gás por ozono, palavra grega "ozein" que tem o significado de
"aquilo que cheira";

1856
• Thomas Andrews, físico e químico Irlandês;
• Mostrou que ozono era constituído por 3 átomos de oxigénio;
1857
• Ernst Werner von Siemens inventor Alemão;
• Foi o primeiro a construir o gerador de ozono, conhecido como “Siemens
Type” tornando a água potável;

1896
• Nikola Tesla, inventor Croato;
• Durante a Primeira Guerra Mundial patenteou o primeiro gerador de ozono
nos Estados Unidos Da América;

1914
• George Stoker, militar major e médico irlandês;
• Registou os resultados que obteve com a utilização da ozonoterapia tópica em
79 pacientes (úlceras e feridas infetadas);

1990
• Sílvia Menedez, Frank Hernández e Ofilio Peláez, médicos Cubanos;
• Fundaram o primeiro centro de Investigação de Ozono no Mundo;
2010
• Criou-se a declaração ISCO3 (The International Scientific Committee of
Ozone Therapy) Madrid sobre Ozonoterapia.

Fonte: adaptado de (Elvis & Ekta, 2011; Santos, 2016; Stoker, Quintero, & Schwartz, 2017)
Com o passar dos anos a ozonoterapia tornou-se um tratamento muito útil, tem
sido muito bem aceite e reconhecida pelos sistemas de saúde em vários países, tais como:

31
Ozonoterapia na acne

Portugal, Brasil, Cuba, Itália, Espanha, Alemanha, Rússia, Ucrânia, Grécia, Israel, Egito
e Austrália. Para além de ser utilizada em 15 estados dos Estados Unidos da América
dada a sua eficácia, segurança e baixo custo (Schwartz & Mariño, 2008; Tiwari, Avinash,
Katiyar, Aarthi Iyer, & Jain, 2017).
Em Portugal as utilizações do O3 para uso medicinal estão regulamentadas através
do Dec-lei nº163/2013 de 24 de abril, de acordo com a Portaria nº 20/2014 de 29 Janeiro
e começou a ser utlizada em 2013 nos hospitais e em clínicas privadas, por profissionais
de saúde como médicos e enfermeiros, tendo estes de pertencer à Sociedade de
Ozonoterapia (Ministério da Saúde, 2013; Ozonoterapia, 2020; Schawartz et al., 2015;
Schwartz & Mariño, 2008). A ozonoterapia é reconhecida como tratamento e encontra-
se regulamentado como terapia médica. O Dec-lei nº163/2013 de 24 de abril, mostra os
códigos de Códigos de Diagnóstico Homogéneo (GDH) atribuídos pelo colégio da
especialidade de anestesia da ordem dos médicos, que certifica o tratamento a nível
hospitalar como infiltrações para grandes e pequenas articulações e outos procedimentos
para o tratamento da dor crónica, embora nada refira acerca da sua utilização na acne
(Ministério da Saúde, 2013).

32
A Molécula de Ozono

4 A Molécula de Ozono

O O3 é considerado um dos oxidantes mais potentes (Bocci, 2011). Está presente


na atmosfera e é um gás extremamente importante, pois absorve os raios ultravioleta (UV)
emitidos pelo sol (Figura 3) (Schwartz & Mariño, 2008).
Este gás tem origem depois das tempestades junto ao mar ou em grandes altitudes,
tem um odor muito característico e intenso o que o torna percetível (Bocci, 2011).
Fonte: (Siarom, 2020)

Figura 3- Camada de Ozono


Fonte: (Siarom, 2020)

A exposição prolongada ao O3 por via respiratória e por via cutânea à radiação


ultravioleta, leva à formação de uma grande quantidade de compostos tóxicos que entram
na corrente sanguínea, atingem os órgãos vitais e originam danos internos (Bocci, 2006).
Este facto, contribuiu para a crença de que a sua utilização seria prejudicial à saúde, e por
esse mesmo motivo foi proibida durante anos (Bocci, 2006, 2007).

4.1 Estrutura

A Figura 4 representa uma molécula triatómica/trioxigénio, com uma forma


molecular O3, tendo uma massa molecular de 48 g/mol e um ângulo obtuso de 116º
(Tiwari et al., 2017).

33
Ozonoterapia na acne

Figura 4- Molécula de ozono

Fonte: adaptado de (Tiwari, Avinash, Katiyar, Aarthi Iyer, & Jain, 2017)

Para se obter O3, é necessário que uma molécula diatómica de O2 esteja separada
para que possa reagir com outra molécula de O2 formando O3 (Figura 5). A sua produção
pode ser feita através de radiação ultravioleta do sol ou por geradores que utilizam
descargas de alta voltagem e frequência (Bocci, 2011; Penido, Camila, & Ferreira, 2010;
Schwartz & Mariño, 2008). Este processo endotérmico é uma reação reversível (Figura
6), sendo que, a velocidade de dissociação do O3 é dependente da temperatura. O O3 é um
gás metaestável que dificilmente se armazena e com um tempo de semivida também
dependente da temperatura (Schwartz & Mariño, 2008).

Figura 5- Molécula de ozono

Fonte: adaptado de (Schwartz & Mariño, 2008)

Figura 6- Reação reversível de ozono dependente da temperatura


Fonte: adaptado de (V. Bocci, 2011)

A existência do O3 foi registada pela primeira vez em 1785 pelo químico holandês
Mak Van Marumom, sintetizado em laboratório em 1840 pelo químico alemão Christian
Friedrich Schoenbein e o primeiro gerador de O3 foi patenteado em 1896 nos Estados
Unidos da América pelo conhecido inventor Nikola Tesla (Elvis & Ekta, 2011).

34
A Molécula de Ozono

4.2 Propriedades

Na 1ª Guerra Mundial o O3 foi utilizado para desinfetar e tratar infeções, cicatrizar


feridas e posteriormente começou a ser utilizado no tratamento de hepatites e hérnias
lombares (Elvis & Ekta, 2011; Naik, K, Kohli, Zohabhasan, & Bhatia, 2016; Tiwari et
al., 2017).
O O3 é um gás incolor e apresenta um odor acre, é explosivo tanto na forma líquida
como na forma sólida e o seu tempo de semivida vai depender da temperatura. A uma
temperatura de 20ºC possui um tempo de semivida de 40 minutos e à temperatura de 0ºC,
de 140 minutos (Elvis & Ekta, 2011). Para a utilização do O3 na medicina é necessária a
utilização de geradores.
Por ser molécula instável deve ser apenas produzida no momento da aplicação,
como será referido mais aprofundadamente no capítulo 5 (Anzolin & Bertol, 2018; Naik
et al., 2016).
Apesar de ter um efeito nocivo, quando inalado em doses elevadas pode provocar
irritação do trato respiratório, contudo apresenta efeitos benéficos quando utilizado em
doses terapêuticas precisas. Nas últimas décadas tem-se demonstrado um grande
potencial na utilização de O3, pois este dissipa-se não permanecendo nas células,
oxidando os ácidos gordos polinsaturados (ómega3) e ainda conseguindo estimular o
organismo a produzir enzimas endógenas antioxidantes, como vai ser referido no
subcapítulo 4.3 (Anzolin & Bertol, 2018; Zeng et al., 2020).
O O3 também tem um excelente poder anti-inflamatório e tem sido muito utilizado
devido ao seu poder bactericida e antiviral, por este estar envolvido nas defesas
antioxidante e reguladoras do sistema imunitário (Naik et al., 2016; Zeng et al., 2020)

4.3 Mecanismo de ação

Relativamente ao mecanismo de ação do O3, este ainda não é totalmente


conhecido, apesar de muito estudado nos últimos anos (Bocci, 2011). Pensa-se que tem a
capacidade de exercer efeitos terapêuticos como a melhoria da oxigenação corporal, a
irradicação dos produtos tóxicos do metabolismo celular, aperfeiçoamento dos
mecanismos de defesa imunológica do organismo, regulação do sistema antioxidante e
melhoria do metabolismo de O2, atua a nível mitocondrial, diminui as citocinas

35
Ozonoterapia na acne

inflamatórias e aumenta as citocinas anti-inflamatórios, e ainda tem amplo espetro


antimicrobiano (Bocci, 2011; Penido et al., 2010).

a) Regulação do Sistema Antioxidante

Sendo dez vezes mais solúvel do que o O2, o O3 consegue penetrar com maior
facilidade nos tecidos dissolvendo-se no plasma sanguíneo e nos fluídos extracelulares,
reagindo de imediato com biomoléculas, como proteínas, carbohidratos, antioxidantes e
ácidos gordos. Logo de seguida desaparece e gera radicais livres, as Espécies Reativas de
Oxigénio (ROS/EROS) e Produtos De Oxidação Lipídica (LOP) (Anon, 2007; Bocci,
2007).
A molécula ROS é principalmente o peróxido de hidrogénio (H2O2), que é um
oxidante não radical capaz de reagir como o O3 responsável por extrair diversos efeitos
biológicos e terapêuticos (Philippi, Sousa, & Barreira, 2018).
Para conseguir obter um efeito biológico sem provocar danos é importante a
calibração da concentração de O3 (µg/ml de gás por ml de sangue1:1), sendo também
importante a medição da capacidade antioxidante do sangue e caso seja necessário,
reforçar com suplementos alimentares antioxidantes, antes e durante o tratamento, pois
os ROS em quantidades excessivas podem causar danos celulares (Philippi et al., 2018).
Segundo Philippi & Barreira (2018) as ROS apresentam mediadores de defesa e
imunidade, ou seja, quando é introduzido O3 existe um aumento na ativação das plaquetas
e consequentemente libertação de fatores de crescimento, que contribuem para a
cicatrização (Figura 7).

36
A Molécula de Ozono

Aumento da
Endotélio libertaçao de
eritrócitos

Libertação de
eritrócitos
LOP Medula óssea subredotados e
libertação de
células-tronco

Supraregulação de
Outros orgãos enzimas
𝑶𝟑 antioxidantes
Plasma

Melhora a
Eritrócitos biodiponibilidade
do 𝑂2

ROS Ativação do
Leucócitos
sistema imunitário

Libertação de
Plaquetas fatores de
crescimento
Figura 7- Resumo dos principais efeitos biológicos ao introduzir ozono no organismo
Fonte: adaptado de (V. Bocci, 2006)

Os LOP podem ser benéficos ou tóxicos, ou seja, quando se pretende ter um efeito
terapêutico, as concentrações não devem ser nem muito baixas acabando por não ter
eficácia, nem muito altas podendo causar toxicidade (Philippi et al., 2018).
Com a produção de LOP segue a peroxidação de ácidos gordos polinsaturados
(PUFA) presentes no plasma. Estes por serem mais sensíveis à oxidação quando
introduzido o O3 originam o (H2O2) que é um ROS (Smith et al., 2017).
Os PUFA que reagem com o O3 no organismo são o ómega-3 (ácido alfa-
linoleico) e o ómega-6 (ácido linoleico) (Figura 8) (Travagli, Zanardi, Valacchi, & Bocci,
2010).

Figura 8- Principal reação do ozono no nosso organismo, ozonolíse


Fonte: adaptado de (Aydogan & Seda, 2012)

37
Ozonoterapia na acne

Quando o organismo está exposto ao O3 em doses controladas ocorre um stress oxidativo


(Figura 9).

Fonte: (Oliveira & Wosch, 2012)

Figura 9- Regulação do sistema antioxidante, stress oxidativo


Fonte: adaptado de (Aydogan & Seda, 2012)

Segundo Aydogan & Seda (2012) e Oliveira & Wosch (2012) o stress oxidativo
causado pela introdução de O3 leva a um aumento gradual da produção de enzimas
endógenas antioxidantes, que são a primeira linha de defesa na destruição dos radicais
livres (RL) (Tabela 6), tal como, a Superóxido dismutase (SOD), Catalase (CAT) e
Glutationa Peroxidase (GPX), conforme a Figura 10.
Os RL podem ser produzidos através de fatores externos como desequilíbrios
alimentares, stress, poluição, tabaco ou distúrbios endócrinos e são responsáveis pela
origem e todo o processo de evolução de uma doença (Oliveira & Wosch, 2012).

Tabela 6- Regulação do sistema antioxidante

Antioxidantes Radicais Livres

Não enzimáticos Enzimáticos Espécies reativas de


(exógenos) (endógenos) oxigénio
Vitamina C, E Superóxido dismutase (SOD) OH, O2ˉ
Carotenoides Catalase (CAT) ROO
Flavonoides Glutationa Peroxidase (GPX) H2O2, HOCL

Fonte: adaptado de (Aydogan & Seda, 2012)

38
A Molécula de Ozono

SOD CAT +GPx 𝐻2 𝑂2


𝑂2 ˉ 𝐻2 𝑂2
𝐻2 𝑂

Célula
danificada

Figura 10- Ativação das enzimas antioxidantes após introdução do ozono

Fonte: adaptado de (Smith, Wilson, Gandhi, Vatsia, & Khan, 2017)

b) Estimulação da metabolização de O2

O O3 também vai estimular dentro das hemácias, quatro substâncias muito


importantes, o ATP, o NADH, a glutationa (GSH) e o 2,3-DPG, sendo que as últimas
duas, são antioxidantes hidrossolúveis (Smith et al., 2017).
Segundo Aydogan & Seda (2012) e Elvis & Ekta (2011) o O3 ativa o ciclo de
Krebs, o que proporciona um aumento da produção da glicose nos glóbulos vermelhos.
Esse aumento, promove a libertação de maior quantidade de O2, através da estimulação
do 2,3-difosfoglicerato (2, 3-DPG), como mostra a Figura 11, ou seja, o 2,3-DPG ao
entrar em contacto com o sítio alostérico da hemoglobina faz com que a afinidade com o
O2 seja menor e assim liberta o O2 para os tecidos.

39
Ozonoterapia na acne

Figura 11- Ação do ozono no metabolismo dos glóbulos vermelhos


Fonte: adaptado de (Elvis & Ekta, 2011)

c) Ativação do sistema imunológico

Com a ativação do sistema imunitário pela introdução de O3, os monócitos e


linfócitos T libertam as citocinas mensageiras. Tanto as citocinas como os interferões,
interleucinas e fatores de crescimento, são produzidos pelas células imunocompetentes e
libertadas em pequenas quantidades (Tabela 7)(Aydogan & Seda, 2012).

Tabela 7- Ativação das células imunocompetentes

Interferões
• IFN-α, INF-β e INF-γ
Interleucinas
• IL-1b, 2, 4, 6, 8, 10

Fatores de Necrose Tumoral


• TNF-α

Fator estimulador da formação de colónias de granulócitos/macrófagos


• GM-CSF
Fator de crescimento transformador
• TGF-β1

Fonte: adaptado de (Travagli, Zanardi, Valacchi, & Bocci, 2010)

40
A Molécula de Ozono

O O3 também apresenta um efeito imunoestimulador sobre os linfócitos T,


produtores de interleucinas, ativa os macrófagos, aumenta a fagocitose e ainda tem uma
capacidade de regenerar os tecidos e formar ribossomas e mitocôndrias através da
produção de O2 resultante da reação de O3 (Naik et al., 2016).

d) Efeito antimicrobiano

Segundo Aydogan & Seda (2012) o ozono, pelo seu elevado potencial de
oxidação, é capaz de inativar bactérias gram-positivas e gram-negativas, sendo
considerado um agente biocida. Efetivamente, ele promove a inativação de bactérias,
vírus, fungos, leveduras e protozoários. Em relação às bactérias, o O3 não destrói e não
destabiliza a membrana plasmática da célula como muitos antimicrobianos, apenas altera
a sua integridade através da oxidação dos fosfolipídios e das lipoproteínas (Tiwari et al.,
2017). Assim, pode ser útil em patologias cutâneas como a acne, dado que a mesma é
desencadeada pela proliferação da bactéria C. acnes.
Nos fungos, o O3 consegue inibir o crescimento celular em certas fases de
reprodução. Com os vírus, o O3 danifica a cápsula viral e consegue ainda perturbar o ciclo
reprodutivo, ou seja, interrompe o contato do vírus com a célula hospedeira através da
peroxidação (Elvis & Ekta, 2011; Tiwari et al., 2017).

e) Diminuição dos mediadores inflamatórias

Durante o processo inflamatório são produzidas ROS que causam stress oxidativo
controlado (Ahmed, Luo, Namani, Wang, & Tang, 2017). De seguida, as células
inflamatórias produzem indutores de inflamação celular, Kappa-Beta, que ao entrarem
em contacto com a membrana celular desencadeiam o processo de ativação do TNF-α.
Posteriormente este dirige-se ao núcleo celular e através de transcrição ativa a presença e
libertação de mediadores inflamatórios, entre eles, as quimiocinas, citocinas e
prostaglandinas, aumentando de seguida a inflamação e consequentemente a dor (Figura
12). Após este estímulo são ativados os mastócitos, macrófagos e linfócitos, para se
deslocarem para o local da lesão (Naik et al., 2016).

41
Ozonoterapia na acne

Libertação de
Lesão no tecido mediadores TNF-α
(Kappa-β)

Citocinas IL-1,
IL.6 Prostaglandinas Hiperalgesia

Inflamação/
DOR

Figura 12- Mecanismo bioquímico de transmissão da dor e cascata de formação de mediadores


inflamatórios
Fonte: adaptado de (Zeng et al., 2020)

Os fármacos de uso convencional, têm o seu mecanismo de ação associado a um


esquema de indutor recetor, como exemplo a afinidade dos anti-inflamatórios não
esteroides pela enzima cicloxigenase e os esteroides pelo ácido araquidónico, causando
vários efeitos adversos (Zeng et al., 2020).
O O3, tem a sua função anti-inflamatória associada a um mecanismo de regulação
por pH, isto é, sendo a inflamação caracterizada por ter um pH ácido e o O3 por ter pH
básico, dirige-se ao local da inflamação, neutralizando o pH da inflamação, diminuindo
assim toda a resposta inflamatória e consequentemente as suas manifestações clínicas,
aumento da temperatura local, vasodilatação e dor (Naik et al., 2016).

42
Sistema de Produção de Ozono

5 Sistema de Produção de Ozono

Os sistemas de produção de O3 têm de corresponder aos aspetos que as autoridades


sanitárias exigem, controlando a sua toxicidade através de geradores. O gerador carece
de uma calibração para que se evitem concentrações ou aplicações incorretas (Bocci,
2006, 2007; Schawartz et al., 2015).
Em Portugal a autoridade competente que regula o O2 e o O3 para uso medicinal
é o Infarmed, enquanto que O3 industrial é a Direção Geral de Alimentação e Veterinária
(DGAV). No caso dos geradores, o setor grossista tem de pedir ao Infarmed uma licença
de certificação, para a comercialização em Portugal. O geradores além da certificação têm
de ter Indicativo de conformidade obrigatória para diversos produtos comercializados no
Espaço Económico Europeu (CE) classificação IIB diretiva 93/42/CEE (Comunidade
Económica Europeia) e serem regulados pelos dispositivos médicos (DMM) (Europeia,
1993; Infarmed, 2019; Medical Device Coordination Group, 2019).
Existem atualmente 4 geradores comercializados e certificados em Portugal o
Ozone marca comercial O2med, Ozonette, Ozonobaric P marca comercial 2mPharma e
Sistema Med O3 marca comercial Solution Ozone (2mPharma, 2020a; O3med, 2020;
Ozone, 2020).

5.1 Geradores de ozono

Para a produção de O3 para uso medicinal é necessária a utilização de geradores


(Figura 13). É utilizada uma mistura de O2 puro e de O3 à proporção de 95% para 5%. O
gerador promove uma descarga elétrica de elevada potência nas moléculas de O2 entre os
13.000 e 15.000 volts, possibilitando a agregação dos átomos formando o O3 (Figura 14)
(Philippi et al., 2018).

Figura 13- Geradores de ozono


Fonte: (2mPharma, 2020a; O3med, 2020)

43
Ozonoterapia na acne

Figura 14- Formação de ozono dentro de um gerador

Fonte: adaptado de (Breidablik et al., 2019)

É fundamental que o gerador disponha de um catalisador à base de materiais


pesados ou um sistema de válvulas e sensores, que decompõem O3 em O2 para depois ser
libertado para o ambiente (Figura 15 e 16) (Bocci, 2006).

Figura 15- Controlo do fluxo de oxigénio fornecido pelo gerador que dispõe de um catalisador

Fonte: adaptado de (V. Bocci, 2006)

44
Sistema de Produção de Ozono

Figura 16- Controlo do fluxo de oxigénio fornecido pelo gerador que dispõe de uma válvula

Fonte: adaptado de (V. Bocci, 2006)

O profissional de saúde que o administra tem de ser médico ou enfermeiro


especialista na área e deve ter consigo um aparelho fidedigno de alta qualidade, que
consiga gerar O3 seguro. É importante também que o gerador consiga através de um
fotómetro medir a concentração de O3 e que seja feito de materiais resistentes como
titânio, aço inoxidável, vidro ou teflon pois estes são resistentes ao O3 ao contrário do
poliuretano (Anzolin & Bertol, 2018; Naik et al., 2016).

45
Ozonoterapia na acne

46
Ozonoterapia: indicações gerais e doses terapêuticas

6 Ozonoterapia: indicações gerais e doses terapêuticas

6.1 Indicações gerais

O O3 trata inúmeras patologias de forma isolada ou pode ser utilizado como uma
terapêutica complementar, em patologias de origem inflamatória, infeciosa, isquémica ou
alterações do stress oxidativo, como mostra a Tabela 8 (Naik et al., 2016).

Tabela 8- Aplicações de ozono de acordo com os seus efeitos biológicos

Indicações clínicas, com origem inflamatória, infeciosa e isquémica


Lipodermitis e lipodistrofias localizadas (Celulite)
Lipomatoses
Acne
Rosácea
Eczema
Processos eczematosos
Herpes Simplex e Zóster
Medicina Estética e
Micoses
Dermatologia
Queimaduras
Cicatrizes
Psoríase
Candidíase oral
Escaras
Pé diabético
Varizes e úlceras varicosas
Tromboflebites
Arteriosclerose
Aparelho Cardiovascular Insuficiência Venosa
Rutura de capilares
Cardiopatia isquémica
Hepatites B e C
Colite ulcerosa
Doença de Crohn
Aparelho Digestivo
Fístulas perineais
Hemorroidas
Úlceras gástricas

47
Ozonoterapia na acne

Tabela 8 (continuação)- Aplicações de ozono de acordo com os seus efeitos biológicos

Indicações clínicas, com origem inflamatória, infeciosa e isquémica

Artrose
Artrite Reumatoide
Bursites e tendinites
Aparelho locomotor Fibromialgia Reumática
Hérnia discal
Estenoses do canal vertebral
Síndrome do túnel cárpico
Depressão
Cefaleias
Doença de Parkinson
Neurologia
Demência
Arteriosclerose cerebral
Alzheimer
Vulvovaginites de repetição
Infeções urinárias (vírus, fungos e bactérias)
Ginecologia Processos inflamatórios e abcessos da mama
Complicações sépticas obstétricas (infeções pós-
operatórias em cesarianas)
Glaucoma de ângulo aberto
Oftalmologia Neuropatia ótica
Retinopatia pigmentar

Amigdalite crónica
Otorrinolaringologia Faringite infeciosa
Síndrome vestíbulo coclear periférico

Cirurgia Oral
Implantologia
Periodontologia
Medicina Dentária Dor Orofacial
Endodontia
Irrigação Periodontal
Desinfeção de superfícies
Fonte: adaptado (Naik et al., 2016; Schawartz et al., 2015; Zeng et al., 2020)

6.2 Doses terapêuticas

Os profissionais de saúde que executam ozonoterapia regem-se pela Declaração


de Madrid, publicada pelo Comité Internacional Científico sobre Ozonoterapia (ISCO3)
que indica através de uma escala terapêutica as doses do ozono a serem utilizadas
(Schawartz et al., 2015).

48
Ozonoterapia: indicações gerais e doses terapêuticas

Quando nos referimos ao O3 medicinal é fundamental ter em conta três princípios


básicos: não deve causar qualquer dano, iniciar sempre com concentrações baixas na via
sistémica e ir aumentando consoante a reação do organismo, não ultrapassando as
concentrações de segurança (Bocci, 2011; Schawartz et al., 2015). A ação terapêutica do
O3 é variável consoante os efeitos e utilização de acordo com a dose como se evidência
na Tabela 9.

Tabela 9- Aplicação da ozonoterapia de acordo com as doses e os seus efeitos

Concentração
Dose Aplicação Efeito
(µg/ml)
100
90 -Antimicrobiano;
Alta Tópica
80 - Cicatrizante;
70
-Antimicrobiano;
60 -Imunomodulador;
Média Tópica + Sistémica
50 - Estimulador do sistema enzimático de
defesa antioxidante;
40
- Anti-inflamatório;
30
Baixa Sistémica - Analgésico;
20
- Imunomodulador
10

Fonte: adaptado de (Schawartz et al., 2015)

49
Ozonoterapia na acne

50
Vias de Administração do Ozono

7 Vias de Administração do Ozono

O O3 utilizado para uso medicinal, pode ser administrado por via tópica ou
sistémica como tratamento isolado ou em complementaridade com outras terapêuticas
convencionais, de forma a obter um efeito sinérgico (Tabela 10) (Penido et al., 2010;
Schawartz et al., 2015):

Tabela 10- Vias de administração do ozono

Tópica Sistémica

a) Vapor de ozono, Água, Óleo e Creme e) Intravenosa (IV)- Auto-Hemoterapia


Ozonizado; Major;

f) Intramuscular (IM)- Auto-Hemoterapia


b) Bolsa de ozono/imersão transcutânea; Minor;

g) Retal- Insuflação Retal


c) Infiltrações intra-articulares,
paravertebral, peri-articulares e
subcutânea;

d) Intravesical, intravaginal, oftalmológica,


intrafistular;

Fonte: adaptado de (Bocci, 2011; Schawartz et al., 2015)

De seguida serão descritas as várias vias de administração terapêutica do O3


segundo as Diretrizes da “Declaração de Madrid sobre Ozonoterapia”:

a) Aplicação tópica de vapor de ozono, água, óleo e creme


ozonizado

A aplicação tópica do vapor, água, óleo e creme com O3, é muito utilizada em
situações inflamatórias ou infeciosas da pele, tendo mostrado eficácia em estripes
bacterianas, tais como: C. acnes, Staphylococcus aureus, Streptococcus, Enterococcus,

51
Ozonoterapia na acne

Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli e especialmente Mycobacterium, mas


também contra alguns fungos. Estas aplicações conseguem diminuir a intensidade dos
sintomas aliviando mais rapidamente a infeção, o prurido e a inflamação. Também são
excelentes desinfetantes, melhoram a cicatrização e estimulam a proliferação celular (G.
Gupta & Mansi, 2012; Schawartz et al., 2015).

Vapor de ozono

O vapor de O3 é utilizado como tratamento complementar da limpeza de pele. O


primeiro passo é higienizar a pele do rosto com um produto adequado ao tipo de pele,
exfoliar (exceto se estivermos na presença de uma acne inflamatória ou polimórfica) e só
depois usar o vapor de O3, para melhores resultados (Coqueiro & Santos, 2019).
A água utilizada no equipamento deve ser previamente filtrada através de filtros
com carvão ativado (elimina o cloro da água deixando o ambiente favorável para a adição
de O3) colocada no reservatório do equipamento (Figura 17) e aquecida à ebulição, para
se transformar posteriormente num vapor quente (Silva & Pereira, 2018).

Figura 17- Aparelho de vapor de ozono


Fonte: (Indústria & LTDA, 2018)

Por correntes de alta frequência as moléculas da água (H2O) separam-se das


moléculas de O2 em um átomo de oxigénio e em moléculas de O2, gerando o O3 que se
transforma posteriormente em vapor, assim que a água atinga os 100ºC (Datta, Pal, Roy,
Mitra, & Pradhan, 2019; Maia, 2017; Silva & Pereira, 2018).
No tratamento da acne, o vapor com O3 é utilizado durante 5 minutos, pois este
causa vasodilatação periférica local e, consequentemente, a dilatação dos poros,
melhorando a circulação e oxigenação da área afetada, facilitando a libertação dos
comedões. Este processo deve ser realizado com algodão humedecido nos olhos e o

52
Vias de Administração do Ozono

aparelho deve estar afastado do rosto cerca de 40 centímetros. Nesta técnica a


concentração utilizada é cerca 10-30 µg/ml (Coqueiro & Santos, 2019; Maia, 2017).

Água ozonizada

No final século XIX, foi descoberta a capacidade que o O3 apresenta na


purificação da água, sendo que nas últimas décadas tem sido usado para tratamento da
água potável em vários países da Europa (Bocci, 2011; Travagli et al., 2010). A água
ozonizada também está indicada no tratamento de infeções locais, tais como: micoses,
infeções micóticas, herpes simples e herpes zóster, queimaduras, lesões oculares,
cicatrizes cirúrgicas e edemas de origem traumática ou bacteriana (Philippi et al., 2018).
A água ozonizada para além de apresentar capacidades de oxigenar superfícies,
eliminar impurezas sem provocar toxicidade, melhora a circulação sanguínea e auxilia na
cicatrização. Quanto aplicada na pele do rosto deve ser com auxílio de discos algodão ou
compressas esterilizadas (Bocci, 2011; G. Gupta & Mansi, 2012; Martinelli,
Giovannangeli, Rotunno, Trombetta, & Montomoli, 2017).

Óleo e creme ozonizado

Relativamente ao óleo e creme ozonizado, tanto um como o outro são uma mistura
de óleos vegetais, podendo conter óleo de coco, óleo de girassol e azeite ozonizados. O
creme por ser altamente hidratante é mais indicado para pele com tendência a atopia e a
formulação em óleo é mais indicada para pele com tendência acneica (2mPharma, 2020a;
JustNat, 2020).
No que diz respeito ao tratamento da acne, ao contrário dos cosméticos
convencionais, o óleo ozonizado apresenta um efeito hidratante, antioxidante,
antimicrobiano, anti-inflamatório, cicatrizante e ainda calmante (Anzolin & Bertol, 2018;
Bocci, 2006). Este óleo deve ser aplicado na pele previamente limpa, na zona afetada,
através de movimentos circulares até à total absorção e o número de aplicações depende
da gravidade da acne (Bocci, 2011; Schawartz et al., 2015). Ao contactar com os tecidos,
fornece uma libertação sustentada de O3, previne e trata a infeção e estimula a
reconstrução de tecidos, favorecendo o processo cicatricial (Bocci, 2011; G. Gupta &
Mansi, 2012; Schawartz et al., 2015).
A Figura 18 mostra alguns exemplos de um óleo ozonizado comercializado em
Portugal. Na sua composição encontramos o óleo de girassol e o azeite ozonizados
(2mPharma, 2020b; JustNat, 2020).

53
Ozonoterapia na acne

Figura 18- Nomes comerciais/marcas de Óleo ozonizado comercializado em Portugal


Fonte: (2mPharmab, 2020; JustNat, 2020)

A concentração de O3 nos óleos vegetais mede-se pelo índice de peróxidos (IP),


sendo recomendado de o uso de 400 IP, podendo variar entre 400-1200 IP. (Schawartz et
al., 2015).

b) Bolsa de ozono/imersão transcutânea

Consiste na aplicação transcutânea de O3 gasoso através da insuflação de um saco


de plástico resistente selado ou bota de baixa pressão chamada de bota de Rokitansky
(Figura 19) ou através de uma ventosa de ozono (Schawartz et al., 2015) onde o O3 é
fluido em concentração hiperbárica. Assim que o tecido começa a regenerar, a
concentração é reduzida e deve ocorrer espaçamento das sessões para favorecer a
cicatrização.

Figura 19- Bolsa com ozono


Fonte: (Philippi & Barreira, 2018)

54
Vias de Administração do Ozono

Este processo é utilizado principalmente para infeções purulentas, como feridas,


acne e úlceras (Schawartz et al., 2015), numa concentração definida conforme a Tabela
11.

Tabela 11- Critérios para seleção da concentração de ozono


Concentração
Tipo de lesão
µg/ml (O3)
60 Ferida infetada, purulenta
40 Ferida com infeção controlada e a iniciar o processo de granulação
Ferida em estado de evolução, com tecido de granulação e sem sinais
20
de infeção
Fonte: adaptado de (Philippi & Barreira, 2018)

No caso do tratamento da acne, a concentração varia segundo o estadio e a


evolução da lesão, podendo começar em 60-40 µg/ml, durante 20 a 30 minutos. Assim
que se verificam melhorias na cicatrização, esta deve ser reduzida progressivamente a
concentração para 30-20 µg/ml e espaçar as sessões (Schawartz et al., 2015).

c) Infiltrações intra-articulares, paravertebrais, peri-


articulares e subcutâneas

Consistem na aplicação direta na articulação do ombro ou joelho, na musculatura


paravertebral (ou peri-articular) ou no espaço subcutâneo, sendo que, as doses devem ser
inicialmente mais baixas e só depois de se verificar a reação do paciente à terapêutica é
que se pode aumentar (Schawartz et al., 2015).

d) Intravesical, intravaginal, oftalmológica, intrafistular


(dentro de cavidades)

Na insuflação vesico-uretral infiltra-se o O3 até à bexiga ou uretra. Caso seja


necessário pode ser usada água ozonizada com um irrigador na zona a aplicar. As
concentrações a utilizar vão aumentado gradualmente consoante a resposta ao tratamento,
a concentração pode variar de 10-15-20-25 µg/ml (Schawartz et al., 2015).

55
Ozonoterapia na acne

No que diz respeito à insuflação vaginal utilizam-se concentrações de 20-40


µg/ml, sendo que, à posteriori pode ser realizada uma lavagem vaginal com água
ozonizada e água bidestilada (Schawartz et al., 2015). Esta técnica está indicada em
doenças inflamatórias do trato genital, vaginose bacteriana, vulvovaginite e candidíase
recorrente (Schawartz et al., 2015).
A utilização de O3 em oftalmologia é útil em casos como queratites, úlceras da
córnea, conjuntivites ou queimaduras oculares, mas exige a aplicação prévia de um colírio
anestésico e a imobilização da pálpebra com um sistema que impede o seu fecho. A
concentração de O3 que é utilizada é cerca de 20-30 µg/ml (Schawartz et al., 2015).

e) Auto-hemoterapia major (AHTM)

Esta técnica é considerada uma das mais eficazes e é muito utilizada na Europa.
São colhidos cerca de 50-100 ml de sangue venoso do utente, em condições assépticas
rigorosas, para dentro de um frasco de vácuo com citrato de sódio como anticoagulante,
onde o médico faz a mistura do sangue com o O3 medicinal, para depois ser reinfundido
no utente através de um sistema de perfusão livre de pressão (Schawartz et al., 2015;
Travagli et al., 2010).
O sistema de perfusão deve ser certificado e livre de polímeros sintéticos de
plástico (PVC) ou outras substâncias conhecidas por reagirem com o O3. As
concentrações médias de O3 usadas em AHTM variam entre 10 a 40 µg/ml de sangue e
têm-se mostrado capazes de ativar o metabolismo celular e efeito imunomodulador e
regulador dos antioxidantes intracelulares (Schawartz et al., 2015).
Um dos efeitos secundários da AHTM é a hipoglicemia e a dormência nos lábios,
que pode ser resultado de uma retransfusão demasiado rápida (Bocci, 2011).
Esta técnica está indicada no tratamento complementar de várias patologias
arteriais, doença arterial periférica, acidente vascular cerebral, retinopatia, angiopatia
diabética, perda aguda de audição, síndrome de fadiga crónica, fibromialgia e algumas
doenças virais, não sendo recomendada no tratamento da acne (Bocci, 2011; Schawartz
et al., 2015).

56
Vias de Administração do Ozono

f) Auto-hemoterapia minor (AHTm)

Nesta técnica é utilizada uma pequena porção de sangue venoso que é misturado
com o O3 e de seguida administrado por via intramuscular ao mesmo individuo. (Bocci,
2011; Schawartz et al., 2015). A AHTm é indicada para estimular o sistema imunológico
como uma autovacina e também é utilizada para doenças autoimunes (psoríase), acne
severa e dermatite atópica (Bocci, 2011; Schawartz et al., 2015).
No tratamento da acne a concentração de O3 utilizada é de 10-20 μg/ml, sendo que
deve ser feita 2 a 3 vezes por semana num total de 8 a 10 sessões, dependendo das
necessidades de cada paciente (Schawartz et al., 2015).

g) Insuflação retal

É uma técnica muito segura e não invasiva, podendo ser usada em crianças,
adultos, idosos ou em pacientes com vasos sanguíneos frágeis (Figura 20). A ozonoterapia
por via retal tem um efeito tópico e sistémico, uma vez que o O3 é facilmente dissolvido
no tecido do lúmen. Nele existem mucoproteínas que têm um forte poder antioxidante e
o O3 consegue reagir com maior rapidez, produzindo ROS e LOP que passam logo para
a corrente sanguínea (Schawartz et al., 2015; Springer, 2007).
A insuflação retal é indicada para patologias locais, tais como: obstipação crónica,
colite ulcerosa, doença de Crohn, proctite, fistulas e fissuras. Atua também como
adjuvante na oncologia, nas doenças autoimunes e em doenças hepáticas, embora não seja
indicada no tratamento da acne (Bocci, 2011; Springer, 2007).

Figura 20- Insuflação retal com ozono


Fonte: (Philippi & Barreira, 2018)

57
Ozonoterapia na acne

Em suma, a terapia com O3 na acne, tem como principal objetivo reduzir a


colonização e proliferação de C. acnes e eliminação da inflamação e pode ser realizada
por via tópica ou sistémica, dependendo da gravidade da patologia, (Rensi et al., 2014).
(Schawartz et al., 2015).
Existem diferentes formas de utilização de ozono na acne. Em situações de acne
grau I e II, é recomenda-se a utilização de óleo ozonizado e vapor de O3 de forma isolada
e em situações de acne grau III, IV e V a utilização de AHTm, bolsa com O3 em
complementaridade com o óleo e vapor de O3 (Tabela 12), sendo que a concentração varia
segundo o estadio e a evolução da lesão (Bocci, 2011; G. Gupta & Mansi, 2012).
Antes destes procedimentos a pele deve ser devidamente limpa com produto
adequado, para remover o excesso de sebo e impurezas (Bocci, 2011; Elvis & Ekta, 2011;
Maia, 2017; Penido et al., 2010; Schawartz et al., 2015).

Tabela 12- Diferentes formas de utilização de ozono na acne


Aplicações do ozono na acne Utilização
Óleo ozonizado Acne grau I, II e III
Vapor de ozono Acne grau I, II, III, IV e V
Tópico
Água Ozonizada Acne grau I, II, III, IV e V
Bolsa com O3 Acne grau III, IV e V

Sistémico AHTm Acne grau III, IV e V


Fonte: adapatado de (V. Bocci, 2011; Elvis & Ekta, 2011; Maia, 2017; Penido et al., 2010; Schawartz et
al., 2015)

58
Toxicidade do Ozono

8 Toxicidade do Ozono

A eficácia do O3 depende naturalmente da concentração atingida no local de ação,


mas também da capacidade oxidante e da natureza da célula alvo (V. Bocci, 2006). Por
exemplo, a inalação do O3 seria problemática dada a baixa capacidade antioxidante dos
pulmões (Tabela 13), o que acabaria por provocar danos no espaço broncoalveolar e
induzir a síntese de citocinas inflamatórias, ROS e LOP, com consequente inflamação e
danos dos órgãos vitais (Bocci, 2006).

Tabela 13- Efeito do ozono em alguns fluídos/tecidos


Fluídos e tecidos Capacidade antioxidante Resposta

Plasma Elevada Terapêutica


Pulmão Muito baixa Tóxica
Pele Moderado Terapêutica
Líquido cefalorraquidiano Muito baixa Tóxica
Fonte: adaptado de (V. Bocci, 2006)

O principal responsável pela toxicidade do O3 é a sua incorreta utilização e


aplicação por profissionais de saúde não habilitados (Bocci, 2006).
Segundo V. Bocci (2006) 10 dias antes de iniciar o tratamento tópico ou sistémico
é recomendada a realização de exames séricos, aumentar a ingestão de água e suplementar
com vitamina C, vitamina E, N-acetil-cisteína, ubiquinol (forma mais biodisponível da
coenzima Q10), magnésio dimalato e magnésio treonato. Após o tratamento para evitar
qualquer tipo de toxicidade ou sintomas associados, recomenda-se a utilização de ómega-
3.

59
Ozonoterapia na acne

60
Contraindicações Gerais da Ozonoterapia

9 Contraindicações Gerais da Ozonoterapia

Segundo Wentworth (2002) investigadores norte-americanos referem que o O3


não apresenta contraindicações, por ser uma biomolécula produzida naturalmente pelo
nosso organismo, uma vez que no processo de defesa os neutrófilos ativam anticorpos e
produzem O3, embora outros refiram o contrário principalmente para a terapêutica
sistémica (Tabela 14) (Schawartz et al., 2015).

Tabela 14- Contraindicações absolutas e relativas da ozonoterapia

Défice de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase


(G6PD) – Favismo
Contraindicações Absolutas
Hipertiroidismo não controlado

Anemia Grave

1º trimestre da gravidez e amamentação


Trombocitopenia e outros distúrbios da
coagulação não controlados
Ferro sérico livre alto

Contraindicações Relativas Patologias com alto stress oxidativo


(compensar primeiro)
Tratamento com anticoagulantes

Instabilidade cardiovascular

Pancreatite
Fonte: adaptado de (Schawartz et al., 2015)

61
Ozonoterapia na acne

62
Eficácia da Ozonoterapia na Acne

10 Eficácia da Ozonoterapia na Acne

Nos últimos anos têm sido realizados alguns estudos, com o objetivo de conhecer
melhor a eficácia da ozonoterapia na acne (Davis, 2018).

10.1 Primeiro estudo

Em 2018, Davis realizou um estudo cujo objetivo era investigar o efeito do O3


como tratamento complementar na acne severa. A terapêutica com O3 foi aplicada a um
indivíduo que apresentava resultados insuficientes com a terapêutica convencional.
As principais variáveis avaliadas foram o número de lesões, a intensidade da dor
através da escala visual analógica (EVA), a ingestão de álcool e o grau de depressão
(Davis, 2018). A caracterização do caso antes e após a ozonoterapia encontra-se,
respetivamente, nas Tabelas 15 e 16.

Tabela 15- Descrição do caso antes de iniciar a terapia de ozono

Sexo Masculino
Idade 34 anos
Duração da doença 10 anos
Peito
Pescoço
Virilha
Áreas afetadas
Abdómen
Nádegas
Costas
Número médio de lesões 10 a 12
Intensidade da dor (0 a 10, sendo 10 o
10
mais grave)
Depressão
Sintomas associados à dor Pensamentos suicidas
Bebe álcool (12-18 cervejas/dia)
Antibióticos (doxiciclina)
Tratamentos realizados
Retinoides

Resultados Manteve-se igual


Fonte: adaptado de (Davis, 2018)

63
Ozonoterapia na acne

O indivíduo realizou o tratamento durante 1 ano, iniciando com a Niaciamina


(Vitamina B3) 1 grama, duas vezes por dia e injeções de triamcinalona 5mg/ml (Figura
21) e não verificou melhorias significativas. Um mês após este procedimento segundo a
Declaração de Madrid (Guidelines), como método padrão, começou a ser tratado com
óleo ozonizado por via tópica, AHTm, aplicação subcutânea de O3 (intralesional) e bolsa
de O3 no corpo inteiro (Davis, 2018).
O óleo de ozonizado foi sempre utilizado durantes os meses seguintes em
complementaridade com a bolsa de O3, AHTm e injeção subcutânea com um IP de 600.
Durante quinze dias o indivíduo usou uma bolsa de O3 no corpo inteiro com uma
concentração de 10 µg/ml durante vinte minutos, recebendo no total dezassete
tratamentos, uma a duas sessões por semana. Quatro meses após, iniciou o tratamento de
auto-hemoterapia e recebeu trinta tratamentos, uma vez por semana, com uma
concentração de 20 µg/ml em cada 5 ml de sangue injetado durante sete meses e as
injeções intralesionais com uma concentração de 10 µg/ml de 4-12 ml de O3 (Figura 22)
(Davis, 2018).

Figura 21- Imagem do indivíduo com doença, após tratamento com ozonoterapia

Fonte: (Davis, 2018)

64
Eficácia da Ozonoterapia na Acne

Tabela 16- Descrição do caso após iniciar a terapia de ozono

Duração do tratamento 1 ano

Peito
Pescoço
Áreas afetadas (Diminuição Virilha
acentuada) Abdómen
Nádegas
Costas

Número de lesões (média) 1a2

Intensidade da dor (0 a 10, sendo


6-7
10 o mais grave)
Analgésicos e antibióticos (início)
Óleo ozonizado por via tópica
Tratamento Auto-hemoterapia minor
Injeção subcutânea (intralesional) de ozono
Bolsa de ozono no corpo inteiro
Diminuição da dor
Diminuição do número e tamanho das lesões
Resultados após 15 dias do
Diminuição da inflamação
tratamento tópico com o óleo
Melhoria das cicatrizes
ozonizado
Perspetiva de vida otimista
Redução da ingestão de álcool (ocasional)
Fonte: adaptado de (Davis, 2018)

65
Ozonoterapia na acne

Figura 22- Imagem do indivíduo com doença, após tratamento com ozonoterapia

Fonte: (Davis, 2018)

Segundo Davis (2018) óleo ozonizado têm excelentes resultados, aumentando a


qualidade de vida, principalmente na faixa etária dos 30.

10.2 Segundo estudo

Em 2014, Rensi executou um estudo in vitro com a C. acnes, utilizando óleo


ozonizado de girassol e de coco que teve como objetivo observar a eficácia destes óleos
através da concentração mínima inibitória da C. acnes.
Neste estudo utilizaram-se 24 microtubos onde foram colocadas colónias de a C.
acnes e cloreto de 2,3,5-trifeniltetrazólico (cor vermelha presença de bactérias).
Subdividiu-se a amostra em dois grupos, um com 12 microtubos que funcionaram como
grupo de controlo e nos outros 12 microtubos colocaram-se os óleos ozonizados para
testar a eficácia do O3. Verificou-se que o grupo de controlo tinha a cor vermelha o que
significa, presença de bactérias vivas e a ausência de cor, revelou que as bactérias estavam
mortas pelo efeito bactericida do óleo ozonizado (Rensi et al., 2014), tal como indica a
Figura 23.

66
Eficácia da Ozonoterapia na Acne

Figura 23- Estudo realizado sobre a eficácia do ozono na Cutibacterium acnes


Fonte: (Rensi et al., 2014)

Segundo (Rensi et al., 2014) tanto o óleo ozonizado de girassol como o de coco
apresentam eficácia quanto ao efeito antibacteriano do O3 in vitro, em relação à C. acnes.

10.3 Terceiro estudo

Silva & Pereira (2018) realizaram outro estudo acerca do tratamento da acne
vulgar com O3, como terapia complementar, onde se pretendia tratar as áreas mais
afetadas como a face, o tórax e o dorso. Trata-se de um ensaio clínico prospetivo,
experimental e descritivo com 5 voluntárias, com idades compreendidas entre os 20 e os
21 anos.
A terapêutica teve uma duração de 5 semanas, com a frequência de vez por
semana. No início do tratamento foi feita a higienização, esfoliação, tonificação da pele
e utilização de uma máscara adequada e os autores afirmam que esta prática contribuiu
para reduzir lesões inflamatórias e oleosidade da pele nos quadros mais ligeiros da acne
(Figura 24, Tabela 17) (Silva & Pereira, 2018).

A1 B1 A2 B2

Figura 24- Imagem de duas pessoas com doença, antes (A) e após (B) iniciar a ozonoterapia
Fonte: (Silva & Pereira, 2018)

67
Ozonoterapia na acne

Tabela 17- Descrição do caso após iniciar a ozonoterapia

Duração do tratamento 5 semanas

Face
Áreas afetadas Tórax
(Diminuição acentuada) Dorso, áreas da pele com maior quantidade de glândulas
sebáceas
Gel de limpeza
Esfoliante
Tónico
Creme Emoliente (Aplicado no rosto coberto com algodão
Tratamento
humedecido em água e utilizando o aparelho de vapor de ozono)
Máscara de argila verde 10 min
Loção Suavizante nas pústulas
Protetor solar ROC® FPS 30
Menor número de lesões e diminuição do seu tamanho
Diminuição da inflamação
Resultados Melhor textura da pele
Diminuição da oleosidade da pele
Melhoria das cicatrizes
Fonte: adaptado de (Silva & Pereira, 2018)

10.4 Quarto estudo

Khaoshi & Zhang (2020) conduziram um ensaio clínico simples-cego e não


randomizado, recorrendo à ozonoterapia para o tratamento da acne, em indivíduos com
idade compreendida entre os 10 e 30 anos de idade. O objetivo foi avaliar os efeitos do
óleo ozonizado (azeite extra virgem ozonizado) e do azeite extra virgem, por comparação
dos valores de ácido e peróxido (Tabela 18).

Tabela 18- Comparação de algumas propriedades físico-químicas entre azeite extra virgem e azeite
ozonizado
Valor de ácido Valor peróxido
Produto usado
(mg KOH g-1 ) (mmol-equv.Kgˉ1)

Azeite extra virgem 0.28 (±0.02) 10 (±0.12)

Óleo ozonizado (Azeite


17.3 (±0.06) 2439 (±13.3)
extra virgem ozonizado)
Fonte: adaptado de (Khaoshi & Zhang, 2020)

68
Eficácia da Ozonoterapia na Acne

No que diz respeito ao azeite extra virgem (normal) este é considerado, segundo
Khaoshi & Zhang (2020) um óleo não comedogénico, hidratante, favorece elasticidade
da pele e protege contra a radiação ultravioleta. A associação do azeite extra virgem com
o O3 designa-se de azeite extra virgem ozonizado e foi considerado um bom antissético,
antimicrobiano (morte da bactéria por destruição da membrana celular), seborregulador
cicatrizante e anti-inflamatório.
O estudo de Khaoshi & Zhang (2020) demonstra que os valores do ácido e do
peróxido no óleo ozonizado estão diretamente relacionados com a diminuição das lesões
inflamatórias da acne e a avaliação fez-se por registos fotográficos e visuais (Figura 25).
O uso do óleo ozonizado durante um mês mostra que 65% das lesões diminuíram
(inflamatórias e não-inflamatórias), enquanto que com placebo a redução foi de apenas
de 14.5% (Figura 26). Um mês após a utilização do óleo ozonizado, 50% dos indivíduos
apresentava 75% de cura e os outros 50% revelaram 24% de cura.

Figura 25- Imagem do efeito cicatrizante do uso de azeite ozonizado num indivíduo com lesão
papulopustular, (A) início do tratamento, (B) 2 semanas após o tratamento e (C) um mês após o
tratamento
Fonte: (Khaoshi & Zhang, 2020)

Os resultados obtidos neste estudo levaram Khaoshi & Zhang (2020) a sugerir a
utilização do azeite ozonizado no tratamento da acne com lesões inflamatórias e não
inflamatórias.

69
Ozonoterapia na acne

Figura 26- Média das lesões inflamatórias e não inflamatórias no tratamento da acne, com azeite
ozonizado e placebo

Fonte: adaptado de (Khaoshi & Zhang, 2020)

10.5 Quinto estudo

Nikulin, Bitkina, Philippova, & Kopytova (2005) conduziram outro estudo sobre
a AHTm no tratamento da acne de 13 indivíduos (9 do sexo masculino e 4 do sexo
feminino), com idades compreendidas entre os 14 e os 29 anos.
O objetivo foi avaliar os efeitos da AHTm através de alguns estudos de sistema
antioxidante e índices de peroxidação lipídica, comparando os alcadienos (DC) no plasma
e eritrócitos e Malondialdeído (MDA) no plasma e eritrócitos (Tabela 19) (Nikulin et al.,
2005).
Segundo Nikulin et al. (2005) foram realizadas microinjeções da mistura de gás
nas áreas mais afetadas, em diferentes concentrações de O3 30 µg/ml com efeito
imunoestimulante e anti-inflamatório e 50µg/ml com o efeito antimicrobiano. Este
procedimento foi realizado 3 vezes por semana durante um mês.
Um mês após o tratamento, com a AHTm verificou-se uma diminuição das lesões
inflamatórias, número de lesões e de cicatrizes (Nikulin et al., 2005).

70
Eficácia da Ozonoterapia na Acne

Tabela 19- Índices de peroxidação em ozonoterapia em indivíduos com acne severo

Índices de peroxidação Grupo de Antes da Depois da


lipídica (µg/ml) controlo ozonoterapia ozonoterapia

DC no plasma 6,5±0,33 6,8±3,82 8.63±2,98

DC nos eritrócitos 3,25±0,18 3,73±1,71 4,85 ±1,94

MDA no plasma 3,43±0,1 4,76±2,64 2,47 ±0,52

MDA nos eritrócitos 5,34±0,28 6,41±3,19 97 ±3,73

Fonte: adaptado de (Nikulin et al., 2005)

Concluiu-se que a administração com O3 influencia os índices de peroxidação


lipídica tanto no plasma como nos eritrócitos, contribuindo para a redução do processo
inflamatório, aumento da ação antimicrobiana e da cicatrização (Figura 27 e 28). Esta
avaliação foi efetuada por registos fotográficos e visuais antes e depois da ozonoterapia
(Nikulin et al., 2005).

Figura 27- Imagem do indivíduo com doença, antes de iniciar a auto-hemoterapia minor

Fonte: (Nikulin et al., 2005)

71
Ozonoterapia na acne

Figura 28- Imagem do indivíduo com doença, um mês após iniciar a auto-hemoterapia minor
Fonte: (Nikulin et al., 2005)

Nikulin et al. (2005) concluíram com o seu estudo, que esta terapia de O3 era uma
boa perspetiva para o futuro no tratamento da acne, dada a diminuição das lesões
inflamatórias e edema, bem como a regressão das erupções pustulares.

72
Ozonoterapia versus Terapêuticas Convencionais

11 Ozonoterapia versus Terapêuticas Convencionais

O uso de terapêuticas convencionais como tópica, sistémica e cirúrgica, está


associado a um certo número de desvantagens, resumidas na Tabela 20, que podem ser
contornadas com recurso à ozonoterapia, nomeadamente o desenvolvimento de
resistência bacteriana, a fotossensibilização e um número considerável de efeitos
secundários (secura cutânea e intolerância a alguns ingredientes comuns da
dermocosmética tradicional) (Gollnick & Schramm, 1998; Williams et al., 2012).
Adicionalmente, a ozonoterapia por via tópica e sistémica reúne um conjunto de
vantagens sumariadas na Tabela 21, incluindo o facto de ser eficaz em todos os tipos de
acne, com efeitos secundários mínimos (Merhi et al., 2019).

Tabela 20- Vantagens e desvantagens do uso da terapêutica convencional

Vantagens Desvantagens

Eficaz e seguro Resistência bacteriana

Diminuição da inflamação Muito efeitos secundários a longo prazo

Elimina comedões e microcomedões Elevado custo

Evolução rápida Tratamento invasivo

Acelera a cicatrização Desidratação da pele, olhos, lábios

Evolução rápida Fotossensibilizante

- Irritação cutânea

- Queda de cabelo

- Depressão

- Uso contínuo para manter a remissão

Fonte: adaptado de (Barankin & DeKoven, 2002; Fonseca & Paula, 2016; Gollnick & Schramm, 1998;
Vinhal, Ortence, & Diniz, 2014)

73
Ozonoterapia na acne

Tabela 21- Vantagens e desvantagens do uso da ozonoterapia

Vantagens Desvantagens

Reação dolorosa variável ao ozono (necessidade


Eficaz e segura de picar e desencadear dor que pode provocar
reação vagal)

Barato Administração lenta

Não Invasiva Riscos de exposição e contaminação do ar

Efeitos secundários mínimos Testar o aparelho e mantê-lo calibrado

Sem silicones e parabenos Testar conexões ao oxigénio e aparelho

Eficaz em bactérias anaeróbias Espaço bem ventilado

Acelera a cicatrização Ter meios para reanimar e socorro

Diminui a inflamação Alguma irritação cutânea

Protege a camada lipídica da pele -

Eliminam comedões e microcomedões -

Sem resistências bacterianas -

Atua em todo o tipo de acne -


Fonte: adaptado de (Bocci, 2010; Breidablik et al., 2019; Davis, 2018; Fox, Csongradi, Aucamp, du Plessis,
& Gerber, 2016; Fox, Csongradi, Aucamp, Plessis, et al., 2016; Merhi et al., 2019; Rensi et al., 2014)

Assim, são vários autores que sugerem a utilização da ozonoterapia como uma
boa alternativa em detrimento dos tratamentos convencionais referidos na tabela 4 (Fox,
Csongradi, Aucamp, Plessis, et al., 2016; Merhi et al., 2019).

74
O Papel do Farmacêutico

12 O Papel do Farmacêutico

O papel do farmacêutico é muito importante no que diz respeito ao


aconselhamento com suporte científico e uso racional de medicamentos e suplementos
alimentares. É fundamental que este profissional de saúde zele pela saúde pública,
dissuadindo a proliferação de produtos enganosos (Ozonoterapia, 2020; Schawartz et al.,
2015).
Tendo o conhecimento sobre as alternativas terapêuticas existentes e as suas
contraindicações, o farmacêutico pode, através da avaliação do utente, identificar o
desequilíbrio e aconselhar o produto mais adequado, na prevenção e tratamento da acne
(Junior, 2018).
Realçando o capítulo 3, os profissionais de saúde que recorrem à prática da
ozonoterapia têm de pertencer à Sociedade Portuguesa de Ozonoterapia (Ozonoterapia,
2020; Schawartz et al., 2015) e em Portugal os únicos habilitados são os médicos e
enfermeiros, o farmacêutico não está legalmente habilitado a colocar em prática esta
terapia, embora tenha um papel muito relevante no aconselhamento (Junior, 2018).
Segundo Junior (2018) os cursos teórico-práticos, que abordam os princípios
básicos de ozonoterapia e aplicações, deveriam também ser direcionados para outros
profissionais de saúde, como veterinários, dentistas, farmacêuticos e fisioterapeutas, para
que fosse uma prática mais divulgada. Quanto maior é a informação melhor e a sua
prática. A ozonoterapia poderia ser integrada na prática farmacêutica, em articulação com
a ordem dos médicos, dos enfermeiros e ainda com Sociedade Portuguesa de
Ozonoterapia.
Relativamente ao papel do farmacêutico no tratamento da acne recorrendo ao
ozono este passa pelo aconselhamento das medidas não farmacológicas e cosméticas
adequadas, recorrendo a utilização do óleo ozonizado em complementaridade, ou não,
com terapêuticas convencionais para esta patologia (Junior, 2018).
Na informação prestada ao doente, o farmacêutico deve ter em consideração o
grau da patologia, e em função da mesma selecionar a melhor opção
terapêutica/cosmética para o aconselhamento. Mesmo quando prescritos fármacos pelo
dermatologista, o farmacêutico deve efetuar o aconselhamento e reforçar a importância
da limpeza com ou sem enxaguamento, da exfoliação (ocasional e em função do tipo de
acne), da hidratação com um óleo ozonizado, da utilização de protetor solar protetor solar

75
Ozonoterapia na acne

com fator elevado, da maquilhagem corretiva (opcional) não comedogénica, e por fim
como complemento do uso de suplementos alimentares (Andrade et al., 2018; M. Gupta
et al., 2014; Kim et al., 2010; Kober & Bowe, 2015; Maricato, 2017; Pérez-Sánchez et
al., 2018).
Ao terminar um atendimento é importante que o farmacêutico garanta que o
paciente compreendeu todos os passos para a realização do seu tratamento, fundamental
na adesão à terapêutica. Explicar que a acne é uma doença crónica, que o tratamento pode
demorar semanas ou meses, que os resultados não são imediatos e que é essencial ter
cuidados básicos da pele na sua rotina diária (Maricato, 2017).

76
Conclusão

Conclusão

A ozonoterapia é uma área promissora que tem demonstrado nos últimos anos
alguns resultados surpreendentes e inovadores e a sua utilização não deve ser oposta à
dos cosméticos e tratamentos convencionais.
Com o desenvolvimento desta monografia foi possível concluir que o dogma
criado sobre a toxicidade na ozonoterapia não tem qualquer fundamento e que se baseia
apenas no facto da medicina convencional não reconhecer a eficácia deste tratamento,
devido à falta de credibilidade na eficácia do O3 e na incapacidade da indústria em
patentear a molécula, não obtendo assim nenhum lucro financeiro. A ozonoterapia deve
ser utilizada por profissionais especializados, com formação continua e com material de
elevada qualidade e o tratamento deve ser individualizado e ajustado às especificidades
de cada indivíduo.
Esta revisão permitiu discutir as diferentes opções para o tratamento da acne tal
como terapêutica convencional tópica, sistémica, cirúrgica e ozonoterapia. Com o
progresso terapêutico existente, o O3 é cada vez mais reconhecido e aceite, uma vez que
consegue atuar em alguns mecanismos fisiopatológicos da acne como a redução da
colonização e proliferação de C. acnes e eliminação da inflamação.
O O3 já se encontra introduzido em alguns produtos cosméticos e os seus
fabricantes referem vantagens da sua aplicação. Com base no conhecimento adquirido, é
de prever uma mudança no sentido da investigação, no que diz respeito ao tratamento da
acne com ozonoterapia, prevendo-se que esta irá incidir em substâncias, como o óleo
ozonizado que demonstra eficácia e efeitos secundários reduzidos quando comparada
com a terapêutica convencional.
Como sugestão, seria importante a realização de mais investigação sobre a
utilização de óleo ozonizado, com estudos compostos por amostras de maiores
dimensões, para que se possam generalizar os resultados obtidos com maior fiabilidade.
A continuidade na investigação da fisiopatologia da acne e, principalmente, no
processo inflamatório que lhe dá origem parecem ser a base de desenvolvimentos futuros
muito promissores. Apesar da aparente controvérsia, na utilização do ozono, só a
combinação de estudos fisiopatológicos com novas alternativas terapêuticas, é que
permite o estudo do processo da acne e, com base nisso, a inovação terapêutica,
proporcionando um melhor tratamento na acne.

77
Ozonoterapia na acne

78
Referências Bibliográficas

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