Livro Introdução À Fisica
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Introdução a Física
Geografia
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Física
Introdução a Física
3a Edição Geografia
12
História
Fortaleza
2013
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Pedagogia
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PARTE 1
Do Empirismo Primitivo à
Cinemática Galileana
Objetivos:
l Compreender as origens do pensamento racional no ocidente a respeito do
conhecimento da Natureza e sua evolução até o surgimento da Cinemática.
Capítulo 1
As primeiras visões de mundo:
Pré-História e Pré-Socráticos
Introdução
Veremos nesta unidade, inicialmente, como era o conhecimento do
mundo natural antes do surgimento da ciência moderna, baseado, na auro-
ra dos tempos, puramente no empirismo, como na descoberta do fogo, por
exemplo. Muito tempo depois veio a especulação, primeiro de caráter místico/
religioso, depois filosófico.
Na história do ocidente, o pensamento racional iniciou-se com os gre-
gos antigos, notadamente com os chamados filósofos Pré-Socráticos. Estes
foram os primeiros a pensar o mundo físico em termos não-místicos. Tales de
Metabolismo (do grego
Mileto, por exemplo, sem apelar a deuses ou outros seres fantásticos, afirma- metabolismos,
ra que “Tudo é Água”, frase que incorpora a primeira tentativa de unificação μεταβολισμός, que
da natureza, ainda objeto de intensas pesquisas por parte dos físicos contem- significa “mudança”,
troca) é o conjunto de
porâneos.
transformações que as
Depois trataremos de Aristóteles e Ptolomeu, o primeiro afirmando que substâncias químicas
o movimento de um corpo só poderia existir enquanto a sua causa estiver ain- sofrem no interior dos
organismos vivos. O
da em ação e que a física dos céus era diferente da física da Terra. O segundo
termo “metabolismo
construiu um intrincado modelo astronômico em que a Terra ocupava o centro celular” é usado em
do Universo. referência ao conjunto
de todas as reações
Trataremos, em seguida, da Física Medieval, que é quase inteiramente
químicas que ocorrem nas
dominada pela Escolástica, na qual a “ciência” de Aristóteles e Ptolomeu foi células. Estas reações
consagrada como dogma pela Igreja Católica. Quem ousasse ir contra esse são responsáveis pelos
sistema sofreria duras penas. Mas nem tudo são trevas: há também nesse processos de síntese e
degradação dos nutrientes
período filósofos que contribuíram para a evolução do pensamento acerca do
na célula e constituem a
mundo natural, como Guilherme de Ockham. base da vida, permitindo o
Sobre o início da era moderna, não poderíamos deixar de falar a res- crescimento e reprodução
das células, mantendo
peito de Nicolau Copérnico e seu Sistema Heliocêntrico, que causou uma
as suas estruturas e
verdadeira reviravolta em nossa visão de mundo. Posteriormente, testemu- adequando respostas aos
nharemos o lento e difícil nascimento da ciência como hoje a conhecemos, seus ambientes http://
baseada, primeiramente, na observação e matematização do mundo, ana- pt.wikipedia.org/wiki/
Metabolismo.
lisando a fundamental contribuição de Johannes Kepler para o estabeleci-
10 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
seção, apesar de imaginada, dá-nos uma idéia do quanto esse órgão, que pesa
pouco mais de 1 kg, juntamente com os seus delicados acessórios, como olhos,
ouvidos, nariz e mãos livres, sensíveis e hábeis, permitiu que fôssemos obser-
vando e manipulando objetos da natureza, comparando entre si fatos e fenô-
menos naturais, inicialmente de forma tosca e fragmentada, com o propósito de
garantir a mera sobrevivência de nossos estômagos e de nossa prole.
Com a passagem dos milênios, sob a reflexão e a ação de milhões de
seres humanos, a partir de um vasto conjunto de observações colhidas na
sofrida labuta de seus cotidianos e transmitida às gerações seguintes a partir
do desenvolvimento da linguagem, lentamente foram se estruturando nossas
atuais idéias e práticas humanas, como também nossa sólida compreensão
e manipulação do mundo natural em que nos inserimos e com o qual interagi-
mos incessantemente. Assim, com o tempo, as visões do mundo vão se amal-
gamando e se transformando em visões de mundo. Ou seja, fatos observados
no mundo geram interpretações a respeito do mesmo.
O processo inverso também se verifica, isto é, visões de mundo contri-
buem para que se tenham inéditas visões do mundo. Esta via de mão dupla
é particularmente movimentada no domínio da ciência. No âmbito da Física,
protótipo de todas as ciências, fica bem evidenciada na dicotomia teoria/ex-
perimento, a qual lhe é inerente. As observações, controladas ou não, bem
como os dados coletados dos experimentos científicos, alimentam ou ajudam
a construir uma teoria da mesma forma que o discurso bem fundamentado
e articulado dessa teoria antecipa novos aspectos dos fenômenos naturais,
verificáveis (ou não) em laboratório.
Muitos estudiosos da história das ciências afirmam que as primeiras ra-
cionalizações a respeito do mundo começaram quando o homem, em algum
momento de sua trajetória histórica, desembaraçou-se, embora não comple-
tamente, da visão mágica e mítica que dele possuía, isto é, daquela que se
deixava impregnar de deuses, heróis e outros seres fantásticos, produtos de
mentes férteis, ignorantes ou meramente oportunistas. Vejamos um exemplo
desses mitos, que trata da criação do mundo, extraído de um texto chinês de
cerca de 600 a.C:
chuva. Seu cabelo caiu na Terra, criando a vida vegetal, e os PIOLHOS Aprofunde e dê mais
escondidos em seus cabelos forneceram a base para a ESPÉCIE HU- exemplos do conceito de
MANA! E como o nosso nascimento exigiu a morte de nosso criador, empirismo.
fomos amaldiçoados com a tristeza eterna”.
Uma Candidata a Teoria É importante que se diga que a capacidade de generalização desenvol
de Tudo vida por esses homens da antiguidade, como Tales, decorre basicamente de
Supercordas: Considerada
a teoria mais promissora,
suas mentes matemáticas. O raciocínio matemático parte de determinadas
embora muito distante proposições ou enunciados para, de acordo com certas regras e procedimen-
de uma confirmação tos, chegar a novas proposições ou enunciados, alguns de caráter bastante
experimental, postula geral. Como sabemos, àquele pensador é atribuída à formulação do chamado
basicamente que os
objetos fundamentais
Teorema de Tales, que estudamos em nossos cursos colegiais de Geometria
da natureza não são Plana, segundo o qual um feixe de retas paralelas, ao interceptar duas retas
partículas puntiformes, e concorrentes, determina segmentos de reta cujas medidas guardam relações
sim minúsculos filamentos de proporção entre si.
de energia que vibram
incessantemente. Os Embora as teorias cosmológicas e cosmogônicas desse período da
estados de vibração história não sejam explicitamente colocadas nos moldes de hipóteses e teses
desses filamentos dariam matemáticas, afirmamos que a mente matemática bem treinada de alguns
conta de todos os demais
objetos do mundo e, em
desses pensadores, como Tales, contribuiu sobremaneira para a preparação
última instância, de todos e formulação de princípios gerais contidos nessas teorias. Veremos que, se no
os fenômenos naturais. passado, a relação entre inferências acerca da natureza e a matemática era
bem indireta ou fortuita, hoje há uma dependência quase que visceral entre elas.
1.3 Pitágoras
Pitágoras de Samos (c.570-496 a.C.) também fez afirmações de ca-
ráter universal, recorrendo diretamente a idéias e conceitos matemáticos, e
propôs que “Tudo é Número”. Foi uma generalização do que esse filósofo e
matemático observou a partir dos sons oriundos de um instrumento musical
chamado monocórdio, que era constituído de uma única corda esticada e
presa em suas extremidades sobre uma caixa de ressonância. Pitágoras per-
cebeu que os sons produzidos pelo instrumento eram mais “harmônicos”, ou
soavam de forma mais agradável aos ouvidos, quando se tangia a corda ao
mesmo tempo em que era fixada em certos pontos intermediários, desde que
esses pontos dividissem a corda em segmentos que representassem frações
simples do seu comprimento total. Pitágoras ampliou esta idéia ao conceber
Pela primeira vez,
com Pitágoras e o seu que o mundo como um todo era composto de harmonias expressas a partir de
monocórdio, um fato relações numéricas ou proporções simples entre números inteiros.
natural (a vibração O conceito grego de cosmos representa bem essa idéia de harmonia
de uma corda fixa
nas extremidades)
e proporção estendida para o Universo. Ele também se faz presente na arte
foi compreendido em produzida a partir desse período – denominada clássica, que se manifesta
termos de conceitos não só na pintura, escultura e arquitetura, mas também no teatro, literatura e
matemáticos, antecipando música. Esse ideal grego de ordem e beleza fundamenta-se na relação bem
em dois mil anos o que
Galileu estabeleceria
proporcionada entre as partes que formam as obras artísticas, estabelecendo
como princípio e diretriz determinados padrões e regras no seu dimensionamento e na sua composi-
da moderna Física. ção, os quais foram retomados sucessivamente em diferentes períodos da
história ocidental da arte, como no Renascimento.
Introdução a Física 15
1.5 Os Atomistas
Prosseguindo em nosso estudo sobre os pré-socráticos, vamos conhe-
cer outros pensadores que deram um passo extraordinário na compreensão
de aspectos fundamentais do mundo natural, mas cujas idéias foram pratica-
mente silenciadas por mais de dois milênios. São os chamados filósofos ato-
mistas e seus dois expoentes são Leucipo de Eléia e Demócrito de Abdera. O
primeiro, de acordo com o filósofo Aristóteles, escreveu uma obra intitulada A
Grande Ordem do Mundo, a respeito da qual só existem referências de outros
autores, como a do já citado filósofo. Nessa obra, Leucipo teria lançado as
bases do atomismo, que consiste na afirmação de que o mundo é constituído
de entidades fundamentais indivisíveis chamadas átomos (em grego, tomos
significa partes, e a é o prefixo que exprime negação).
O discípulo de Leucipo, Demócrito, retomou e desenvolveu esta idéia
em sua vasta obra escrita (o historiador e biógrafo antigo Diógenes Laércio
menciona mais de noventa livros), da qual restam pouquíssimos fragmentos.
Ele também se baseou no lampejo que teve quando cheirou um pão recém-
-saído do forno, imaginando que partículas extremamente pequenas e, por-
tanto, invisíveis, se desprendiam do alimento e voavam até seu nariz, sensibi-
lizando-o agradavelmente.
Assim, Demócrito sustenta que os átomos movimentam-se no vazio e
tudo quanto há no mundo, desde corpúsculos insignificantes até as mais altas
montanhas, passando por rios, oceanos, ventos e seres vivos, são ajuntamen-
tos dessas unidades fundamentais, reunidas em maior ou menor grau de coe-
são. Uma idéia que, apesar de bastante antiga, aproximou-se razoavelmente
bem daquilo que temos hoje como um paradigma inquestionável da Física,
embora saibamos que os átomos já não são indivisíveis. Nas palavras do físi-
co norte-americano R. Feynman, em suas Lições de Física, vol. I:
a natureza. Essa visão de mundo prescreve que as partículas que constituem Pesquise e escreva
o Universo interagem entre si em sequências de eventos de causa e efeito, a respeito de outros
filósofos pré-socráticos;
como bolas se chocando em uma mesa de bilhar, por exemplo. Tais eventos
Faça um relatório da
estão na base de todo e qualquer fenômeno natural, de forma que conhecer o importância da filosofia
comportamento individual dessas partículas – o modo como interagem entre platônica para a história
si e o movimento que executam – é conhecer todo o resto. da ciência;
Fale a respeito dos
Alguns também se referem a esse tipo de concepção como reducionis- filósofos Lucrécio e
mo, isto é, todo fenômeno pode e deve ser decomposto e analisado em ter- Epicuro, que resgataram e
mos dos entes fundamentais que participam do referido fenômeno. Em uma divulgaram o pensamento
atomista na Roma antiga;
linguagem contemporânea, dizemos que as propriedades macroscópicas de
um sistema físico devem ser derivadas do comportamento dos entes micros-
cópicos subjacentes. Ou, ainda mais sucintamente, o mundo macroscópico
emerge do microscópico.
Aqui nos despedimos do pensamento pré-socrático, dando um grande
salto no tempo, ignorando alguns importantes filósofos, como Sócrates e Pla-
tão, até chegarmos a Aristóteles.
18 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Capítulo 2
O Mundo Aristotélico/
Ptolomaico
2.1 Aristóteles
Já citamos na seção anterior o filósofo Aristóteles. Nasceu em Estagira,
na Macedônia, no ano de 384 a.C., viveu até 322 a.C. Foi discípulo de Pla-
tão e um profundo conhecedor de tudo quanto se produziu intelectualmente
na Grécia até a sua geração. Forneceu grandes contribuições para o pensa-
mento ocidental, as quais exerceram uma influência avassaladora durante os
séculos seguintes, a ponto de se tornarem a base para a Escolástica, que é
o conjunto das doutrinas mantidas e ensinadas pela Igreja Católica durante a
Idade Média.
A caracterização e sistematização do pensamento lógico, abstraído de
sua roupagem matemática, foi uma das primeiras e importantes contribuições
de Aristóteles para a Filosofia e para as ciências. Hoje em dia, rigor de pensa-
mento é um dos requisitos básicos exigidos de todos aqueles que se dedicam
a qualquer área das ciências. Nas exatas, como a Física, esse rigor é funda-
mental. Dê exemplos de um
O estudo de tal maneira rigorosa de pensar é a Lógica. Consiste em silogismo indutivo.
estabelecer a formalização e estruturação de sentenças ou proposições de
modo a se chegar a conclusões necessárias e inequívocas. Tal método de
encadeamento de sentenças é conhecido por silogismo e é denominado in-
dutivo (quando se parte de premissas particulares e se chega a conclusões
gerais) e dedutivo (quando, do contrário, se parte do geral para o particular).
Exemplo deste último: “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem,
logo Sócrates é mortal”. A lógica também deve nos prevenir em relação aos
falsos silogismos, do tipo “A Terra é um planeta e tem vida. Marte é um pla-
neta, logo ele deve ter vida”. A filosofia natural (ou
física) aristotélica era
A principal contribuição de Aristóteles para a Física foi ao estudo do mo- de caráter teleológico,
vimento. Conforme vimos, Zenão não acreditava na realidade do movimento isto é, as causas dos
e seus argumentos eram bastante intuitivos. Aquele filósofo, de certo modo, movimentos eram finais.
Não havia um “porquê”
atualizou e incorporou em seu pensamento as idéias de Zenão, sem descartar
dos corpos se moverem,
a idéia de movimento de suas reflexões. e sim um “para quê”.
20 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Horror ao infinito
A Eletrodinâmica Quântica
foi desenvolvida durante
Fig.1.1 - Esquema indicando os quatro elementos e suas propriedades a primeira metade do
século XX de nossa era e
Baseando-se em uma idéia de Platão, Aristóteles postulou a existência é a teoria que unificou o
de um quinto elemento, a quintessência, que seria o lugar ou meio de perma- eletromagnetismo clássico
nência dos corpos supralunares, isto é, daqueles que estavam situados para de Faraday/Maxwell
além da Lua, os quais executariam seus movimentos naturais de acordo com com os postulados da
mecânica quântica,
trajetórias circulares. Para Aristóteles, o mundo celeste era incorruptível e os explicando com enorme
astros feitos de uma matéria eterna e imutável. Assim, o movimento natural precisão os fenômenos
desses astros deveria ser circular, pois o círculo era tido como a forma geo- decorrentes da interação
métrica mais perfeita que existe. Mesmo o movimento aparentemente errático da luz com a matéria em
nível microscópico.
dos planetas poderia ser visto como uma combinação ou superposição de No início de sua
diversos movimentos circulares. Essa idéia, como veremos, foi aprimorada formulação, o cálculo
por Ptolomeu no século II de nossa era. de algumas grandezas
físicas resultava em
Aristóteles asseverou também que a natureza tem horror ao vácuo (hor- valores infinitos e uma
ror vacui), uma vez que esse hipotético meio não ofereceria qualquer resis- nova técnica matemática,
tência ao movimento dos corpos. De acordo com ele, se houvesse vácuo os chamada renormalização,
corpos mover-se-iam com velocidade infinita, o que seria um absurdo. Não teve de ser inventada
para banir esses infinitos
era a primeira vez, e nem seria a última, que a idéia do infinito assombrava as da teoria, o que valeu o
cabeças dos que procuravam entender o funcionamento do mundo natural prêmio Nobel de Física
(vide hipertexto). Com esta crítica à idéia de vácuo, e ao considerar que obje- para I. Tomonaga, R.
tos extensos indivisíveis são impensáveis do ponto de vista matemático, Aris- Feynman e J. Shwinger
em 1965.
22 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Discorra e discuta com tóteles contribuiu para que o pensamento atomístico caísse no ostracismo.
seus colegas o significado Vimos que tal pensamento requeria a existência do vácuo como meio onde os
da frase “para Aristóteles, átomos devessem se mover.
a física dos céus era
diferente da física
terrestre”.
2.2 Ptolomeu
Cláudio Ptolomeu (110 – 170 d.C.) viveu a maior parte de sua vida em
Alexandria, província do Egito que foi dominada pelos romanos, e onde existiu
a maior biblioteca jamais construída até então, à qual havia anexos um mu-
seu e um zoológico. Para este centro de pesquisas do mundo antigo afluíam
sábios de todos os lugares, em busca das centenas de milhares de papiros
(fala-se em quase um milhão!) que reuniam todo o conhecimento humano da-
quela época. A biblioteca foi criminosamente incendiada no séc. IV de nossa
era, perdendo-se para sempre os tesouros de saber e cultura que abrigava.
O atual Modelo
Padrão das Partículas
Elementares (MPPE),
que descreve todas as
partículas elementares
conhecidas e as
interações entre elas, com
exceção da gravitacional,
passará, a partir de 2010,
por um grande teste
de validade no interior
do maior acelerador de
partículas do mundo
(LHC), construído a 100
metros de profundidade
na fronteira da Suíça
com a França. Apesar
do enorme sucesso do
MPPE na explicação Fig. 1.2 - A moderna Biblioteca de Alexandria
de inúmeros processos
físicos inerentes ao
mundo subatômico, há O sistema mecânico/astronômico ptolomaico, classificado como geo-
importantes previsões cêntrico, ou ainda geoestático, baseava-se na suposição aristotélica de que
aguardando confirmação
experimental. Uma delas
a Terra era fixa e os demais astros é que se moviam em círculos. Esta su-
é sobre a partícula de posição era bastante natural para o homem daquele tempo, pois, segundo
Higgs, a partir da qual sua visão, se a Terra girasse em torno de um eixo passando pelo seu centro,
são geradas as massas por exemplo, um objeto lançado verticalmente para o alto não cairia sobre o
das demais partículas,
e que até agora não foi
mesmo ponto de onde fora lançado. Veremos que essa percepção é comple-
detectada. A busca por tamente errônea.
essa partícula será um Para que o sistema de Ptolomeu descrevesse corretamente os movi-
teste decisivo para o
mentos do Sol, da Lua e dos cinco planetas conhecidos na época, como eram
MPPE.
vistos da Terra, ele teve de considerar que nem todos aqueles círculos tinham
Introdução a Física 23
o seu centro em nosso planeta. Alguns deles, que Ptolomeu chamou de epi-
ciclos, giravam em torno de pontos situados sobre outros círculos, os defe-
rentes, estes, sim, com centro localizado na Terra ou próximo a ela. Depois o
astrônomo acrescentou mais círculos e pontos extras, como os excêntricos
e os equantes, para dar conta de outros movimentos observados naqueles
astros. O sistema ptolomaico, descrito na sua obra magna Almagesto, pos-
suía grande complexidade, pois exigia a construção de dezenas de círculos
(mais precisamente, quarenta, contando com o das estrelas fixas) para que
se representasse o movimento de uns poucos corpos celestes. Não obstante,
era capaz de fazer previsões corretas sobre futuros eclipses solares e lunares,
tendo sido o sistema modelar utilizado por astrônomos do ocidente e do orien-
te próximo até o início do século XVII.
Cumpre ressaltar que essa capacidade de fazer previsões é a virtu-
de maior de toda e qualquer teoria científica. Um bom modelo teórico, além
de explicar fenômenos já conhecidos, tem de apontar a existência de novos
aspectos e/ou fatos da natureza, ainda não registrados. Este é o seu grande
teste de validade (vide hipertexto).
é, devemos ter predileção por hipóteses ou teorias mais simples, que exijam
uma quantidade mínima de leis ou proposições fundamentais, mas que consi-
gam explicar o máximo de fatos ou fenômenos da natureza.
O princípio da navalha de Okcham atingiu indiretamente o sistema de
Ptolomeu que, como vimos, era de uma complexidade enorme, a ponto do rei
Afonso X, o Sábio (1221-1284), grande mecenas da Astronomia, haver afir-
mado, ao ser apresentado ao sistema ptolomaico:
“Se o Todo Poderoso me tivesse consultado antes de iniciar a criação,
eu lhe haveria recomendado coisa mais simples”
Quando outro padre da igreja, Nicolau Copérnico, dois séculos depois,
propuser o sistema heliocêntrico, a navalha de Okcham será invocada para
que se decida entre os dois sistemas, uma vez que o de Copérnico era de
uma simplicidade consideravelmente maior e explicava igualmente bem todos
os movimentos dos astros.
A influência de Okcham no cenário intelectual da época foi profunda e
duradoura. A Igreja Católica não ficou indiferente a ela, punindo-o com a ex-
pulsão da Universidade e recusando conceder-lhe o grau de mestre em Teo-
logia. Um castigo que consideramos leve para os padrões daquela instituição.
3.2 Copérnico
Desde a época de Okcham, a Igreja Católica vinha se tornando muito
mais intolerante e repressiva com os promotores de idéias consideradas he-
réticas. O padre, matemático e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-
1543) era sabedor disso, de modo que resolveu adiar a publicação do seu
tratado Sobre as Revoluções das Esferas Celestes, de 1540, embora tivesse
elaborado um manuscrito que fez circular entre amigos de confiança, no qual
expunha o seu sistema já em 1514 – os Pequenos Comentários de Hipóteses
Sobre os Movimentos Celestes. O primeiro exemplar impresso do tratado de
1540 chegou às mãos do autor em seu leito de morte.
Nessas obras, Copérnico demonstra que é completamente desneces-
sário o emprego e a superposição de tantos círculos, como ocorre no sistema
ptolomaico, para explicar o movimento dos planetas. Já comentamos que,
vistos da Terra, esses astros apresentam trajetórias bastante complicadas,
com diversas paradas e retrocessos em sua incursão pelo céu durante a noite.
Para Copérnico, entretanto, é suficiente que todos os planetas, inclu-
sive o nosso, executem órbitas circulares em torno do Sol com velocidades
angulares constantes, mas distintas entre si (rigorosamente, o centro desse
novo sistema não estava no Sol, e sim em um ponto bem próximo a esse
astro chamado equante, que é um elemento do sistema ptolomaico mantido
por Copérnico. Assim, as órbitas planetárias eram circulares, mas excêntri-
Introdução a Física 27
cas). Os planetas mais afastados do Sol girariam mais lentamente que os O primeiro sistema helio-
mais próximos. Por exemplo, o planeta menos distante, Mercúrio, perfaz uma cêntrico foi proposto
revolução em torno de nossa estrela em 80 dias terrestres, e Saturno, o mais por um grego da ilha
de Samos, chamado
distante que se sabia na época, em 30 anos.
Aristarco, 1800 anos
O sistema copernicano, consideravelmente mais simples que o de Pto- antes de Copérnico. Esse
lomeu, foi denominado heliocêntrico, pois o Sol ocupa o centro dos círculos notável astrônomo fez
observações e cálculos
concêntricos descritos pelos planetas. Nas palavras do próprio Copérnico:
no sentido de estimar os
“Imóvel, no entanto, no meio de tudo, está o Sol. Pois nesse mais lindo diâmetros do Sol, da Lua
e a distância da Terra a
templo, quem poria tal candeeiro em outro lugar melhor do que este, do
esses dois astros.
qual ele pode iluminar tudo ao mesmo tempo?”
Mais tarde, Kepler mostrará que Copérnico estava certo, com exceção
de que as trajetórias dos planetas são elípticas, e não circulares.
3.3 Bruno
Giordano Bruno (1548-1600) foi um entusiasta das idéias de Copérnico. Faça um estudo
comparativo entre
Defendia o heliocentrismo, mas por razões diferentes daquelas apresentadas sistemas heliocêntrico e
pelo astrônomo polonês. Ordenado frade dominicano, foi expulso da ordem geocêntrico.
por ter sido acusado de propalar idéias e práticas de magia, tendo de fugir da
Itália a fim de escapar das malhas da Inquisição. Percorreu vários países da
Europa, como França, Inglaterra e Alemanha, contribuindo para a dissemina-
Pesquise e defina o
ção do sistema copernicano por onde andou. conceito de Ano-Luz.
O ex-frade acreditava que o Sol ocupava o centro do nosso sistema
planetário. Sua crença era devida à influência que recebera dos textos de filo-
sofia hermética que havia lido, elaborada por um místico do Egito antigo cha-
mado Hermes Trimegisto. De acordo com essa filosofia, o Sol desempenhava
um papel primordial como fonte de vida e de emanações divinas.
Bruno se destacou também por imaginar que o Universo era de exten-
A idéia dos infinitos
são infinita, preenchido por infinitos sistemas planetários, muitos deles iguais mundos de Giordano
ou semelhantes ao da Terra e povoados com vida inteligente. Com essas Bruno ganha ainda
idéias, ele mais uma vez se contrapôs à Igreja, pois, de acordo com elas, mais sentido neste
início de século,
nosso lar planetário perdia sua prerrogativa de lugar escolhido por Deus para
quando a astronomia
a realização de Seus desígnios através da criação do homem, feito à Sua observacional vem
imagem e semelhança. descobrindo os chamados
planetas extrassolares,
Na concepção de Bruno, se o Cosmos é infinito, não há mais porque
que orbitam outras
considerarmos a Terra ou qualquer outro astro como o seu centro. Nesse as- estrelas. Atualmente,
pecto, ele foi além de Copérnico, pois nem o Sol era mais visto como o centro são conhecidos mais
de tudo. Isto significa que não existe um lugar ou posição privilegiada no Uni- de trezentos desses
objetos, e a meta é
verso, e esta foi uma brilhante antecipação do que os cosmólogos do século
tentar identificar mundos
XX vieram a formular com a finalidade de fornecer uma explicação científica planetários parecidos com
para a sua estrutura e evolução, o chamado Princípio Cosmológico. a nossa Terra.
28 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
3.4 Kepler
A revolução promovida por Copérnico começou a ganhar força a partir
das investigações de Johannes Kepler, nascido em 27 de dezembro de 1571,
em um pequeno vilarejo alemão de domínio luterano. Dedicou-se ao estudo
da Astronomia e da Matemática, passando a conhecer a fundo o modelo co-
pernicano. No início de sua carreira, ganhava a vida fazendo mapas astrológi-
cos para os nobres da época.
Logo após conseguir um posto de professor em uma escola luterana
da cidade austríaca de Graz, no ano de 1594, durante uma aula, Kepler teve
a extravagante idéia de inscrever os cinco sólidos perfeitos de Platão em seis
Johannes Kepler
esferas concêntricas que ele associou com a órbita dos planetas conhecidos,
incluindo a Terra, com o Sol ocupando o centro do arranjo. Esse modelo é
conhecido como a Taça de Kepler (vide fig.1.4), descrito com detalhes na sua
obra de referência Mysterium Cosmographicum, publicada em 1625.
Os sólidos de Platão são figuras geométricas tridimensionais fechadas,
cujas faces são formadas por polígonos regulares congruentes. Estas figuras
são o cubo, formado por 6 quadrados; o tetraedro, cujas 4 faces são triângulos
eqüiláteros; o dodecaedro, com 12 faces que são pentágonos; o icosaedro e
o octaedro, formados, respectivamente, de 20 e 8 faces que são novamente
triângulos equiláteros. No modelo proposto, a última esfera era a de Saturno
e, entre cada uma das demais esferas (correspondentes às órbitas de Júpiter,
Estabeleça e discuta com
Marte, Terra, Vênus e Mercúrio), Kepler inscreveu os sólidos regulares na or-
seus colegas a distinção
entre Astronomia e dem acima descrita.
Astrologia.
Introdução a Física 29
De certa forma, a Lei de Multiplicando-se os números obtidos a partir dessa lei matemática, cuja
Titius será resgatada pelo expressão é Dn= 4 + 3 x 2n, com n = 0,1,2,3..., por 15.000.000, obtém-se a
modelo de Niels Bohr para
o átomo de hidrogênio,
distância média, em quilômetros, dos planetas ao Sol. Como lemos acima,
quase 150 anos depois. Titius afirmou que, para n = 3, não existe um planeta correspondente, e sim
Neste modelo, as órbitas um satélite de Marte. Na verdade descobriu-se, em 1801, o asteróide Ceres, o
permitidas aos elétrons maior de todos os que se situam no chamado Cinturão de Asteróides, entre
em torno do núcleo
atômico também são
as órbitas da Terra e Marte, a uma distância média descrita pela Lei de Titius
expressas em termos de com uma boa aproximação. A partir de 2006, Ceres foi classificado pela União
números inteiros, isto é, Astronômica Internacional como Planeta-Anão, juntamente com o ex-planeta
são quantizadas. Plutão e mais três outros astros que orbitam o Sol.
Não obstante o enorme sucesso granjeado pela Lei de Titius, a exemplo
do que ocorreu ao modelo de Kepler, ela veio a perder sua credibilidade quan-
do deixa de se aplicar ao planeta Netuno, descoberto no ano de 1846.
Mas voltemos a Kepler. Este, juntamente com outros professores da
escola onde ensinava, apesar do grande prestígio que havia conquistado, foi
expulso da cidade de Graz pelas autoridades vinculadas à Igreja Católica, que
se tornara ainda mais intolerante com o estabelecimento da Contra-Reforma.
Recebe, então, um convite para trabalhar em Benatek, nos arredores de Pra-
ga, e lá foi acolhido pelo eminente astrônomo dinamarquês Tycho Brahe. Este
Use a Lei de Titius para homem, durante trinta anos, realizou minuciosas observações dos astros com
Neturno e compare o instrumentos que ele mesmo havia projetado, as mais acuradas feitas antes
resultado encontrado
com a distãncia média
da invenção do telescópio, e guardava consigo as anotações de tudo o que
real deste planeta ao Sol havia observado.
(pesquise). A discrepância Uma dessas observações, por exemplo, tratava de uma estrela nova
é grande ou pequena?
(vide hipertexto) que surgira na constelação de Cassiopéia, descoberta quan-
do Brahe tinha vinte e seis anos. Esse registro tornou-se importante porque
derrubava a tese aristotélica, muito cara à Igreja Católica, de que os céus,
A estrela observada para além da esfera lunar, eram imutáveis e, portanto, incorruptíveis. Com
por Brahe, em 1572, foi efeito, Brahe demonstrou que essa nova stella estava situada na esfera das
uma Supernova, que estrelas fixas, bem mais distante, portanto, da Terra do que a Lua.
representa o estágio final
da evolução de estrelas Kepler só teve acesso aos preciosos registros de Brahe após a morte
de grande massa. deste, ocorrida em 1601. De posse dos mesmos, passou a estudar a órbita
Nessa ocasião, a estrela, do planeta Marte, a mais complicada de todas quando observada da Terra.
não mais suportando seu
enorme peso, desaba Verificou que essa trajetória não se adequava ao modelo de Copérnico, e,
sobre si mesma, para após muitos cálculos e reflexões, percebeu que a única curva a ser seguida
em seguida explodir num pelo planeta em seu trânsito ao redor do Sol, compatível com as observações
evento de gigantesca precisas de Brahe, era a elipse. E assim, ele pôde formular sua Primeira Lei
magnitude, emitindo
bilhões de vezes mais do Movimento Planetário:
luminosidade que o nosso
“Os planetas seguem curvas que são elipses, com o Sol ocupando
Sol.
um dos seus focos.”
Introdução a Física 31
É importante que se diga que, apesar da Terra percorrer uma órbita A Hipótese Nebular –
elíptica em torno do Sol, a excentricidade, isto é, o achatamento dessa órbita Desde muito tempo,
sabe-se que as órbitas
é tão pequeno que a sua forma é praticamente a de um círculo. Se assim não planetárias situam-se
fosse, veríamos o diâmetro do disco solar maior em certa época do ano e me- em um plano comum,
nor em outra, o que nunca é observado, de modo que não devemos explicar ocorrendo pequenos
a sucessão das estações como decorrente da forma da órbita terrestre. As desvios para fora do
mesmo, o que levou o
estações são devidas, na verdade, à inclinação do eixo de rotação da Terra filósofo alemão Immanuel
em relação ao plano de sua órbita em torno do Sol. Kant (1724-1804) a
Kepler verificou também que Marte viajava mais rápido quando estava formular a hipótese de
que o Sol e os planetas
mais próximo do Sol e, mais devagar, quando estava mais distante, de forma foram gerados a partir
que enunciou sua Segunda Lei do Movimento Planetário, ou Lei das Áreas: de uma nebulosa muito
quente que girava com
“O raio vetor que liga o Sol ao planeta varre áreas iguais em tem- grande velocidade
pos iguais” angular. Devido, então,
aos efeitos centrífugos
As duas áreas hachuradas da fig. 1.5 têm a mesma medida e são percor- oriundos dessa rotação,
ridas, devido à Segunda Lei de Kepler, no mesmo intervalo de tempo. Podemos a nebulosa tornou-se
perceber que o arco sobre a elipse, correspondente à área de maior abertura bastante achatada, dando
origem ao plano no qual
angular, tem comprimento maior que o traçado sobre a outra área, de modo que atualmente orbitam os
o planeta é mais veloz nesse trecho, localizado mais proximamente ao Sol. planetas, formados a
partir de condensações da
referida nebulosa.
Traçando uma elipse: Já a Primeira Lei aplica-se também para forças centrais, mas especi-
fixe, em um pedaço de ficamente para o tipo que varia com o inverso do quadrado da distância até
fórmica, dois pregos a dez
centímetros um do outro.
o centro, como é o caso da força gravitacional. Kepler não precisava conhe-
Ajuste um barbante em cer essa informação, nem a utilizou, pois seu objetivo era apenas adequar o
volta dos pregos e prenda traçado da curva do planeta às observações de Brahe. De qualquer forma
suas pontas. A seguir, ele intuiu, bem antes de Newton, que a gravidade deveria ser uma força que
deslize um marcador
(pincel para lousa branca,
obedece à lei do inverso do quadrado, em analogia ao que havia descoberto
por exemplo), posicionado antes em suas investigações sobre ótica, a saber, que a luminosidade de
entre os pregos e as uma fonte de luz também obedece a essa lei. Assim, o Sol, fonte de luz e de
pontas do barbante, vida também é a fonte de onde emanaria a força que guia os planetas em seu
forçando-o “para fora”.
A curva traçada sobre a
cortejo celeste.
fórmica é uma elipse, e os Kepler, dez anos após a publicação de sua obra Astronomia Nova ou
pregos ocupam os seus Física Celeste, de 1609, onde expôs as duas leis do movimento planetário que
dois focos.
descobriu, publica a Harmonia do Mundo, na qual descreve a Terceira Lei do
Movimento Planetário, ou Lei dos Períodos:
4.2 A Cinemática
Essa área de estudos da Física leva em conta apenas as relações exis-
tentes entre o espaço – cenário dos acontecimentos (lugar) - e o tempo – rit-
mo dos acontecimentos (duração). As propriedades intrínsecas das partículas
que se movimentam, bem como a forma com que interagem umas com as
Introdução a Física 35
outras, não são consideradas nessa análise. A relação dessas propriedades Hoje em dia, além de
e interações com o movimento das partículas constitui o objeto de estudo da relacionarmos diretamente
os conceitos de espaço
Dinâmica, que juntamente com a Cinemática, forma a Mecânica. e tempo por meio do
Iniciar o estudo da Física pela investigação do movimento é um bom conceito de velocidade,
começo, pois ele está presente em todos os fenômenos da natureza, desde a sabemos também que
há uma velocidade limite
frenética agitação das moléculas de um gás até o incessante recuo das dis- (máxima) na natureza
tantes galáxias de nosso Universo em expansão. Para o estudo da Cinemá- igual à velocidade da
tica, ou dos movimentos considerados per se, definir alguns conceitos como luz, o que implica que
velocidade e aceleração é imprescindível. espaço e tempo são
grandezas que não só
Examinemos o primeiro desses conceitos no tipo de movimento mais estão relacionadas entre
simples que existe – o movimento retilíneo uniforme. Os gregos antigos si, mas que também
tinham idéia do movimento uniforme, mas não puderam definir adequadamen- são essencialmente
indistintas.
te o conceito de velocidade, pois achavam que espaço e tempo eram concei-
tos radicalmente distintos um do outro, de modo que não achavam correto
dividir medida de espaço pela de tempo. Assim, definiam que um corpo está
em movimento retilíneo uniforme quando ele percorre distâncias que são pro-
porcionais aos tempos gastos em percorrê-las, ou seja, se em determinado
trecho do seu movimento em linha reta o corpo percorre uma distância d1 num
tempo t1 e, em outro trecho, percorre d2 num tempo t2, então:
d1/d2 = t1/t2 (1.1)
por unidade de tempo (s), de modo que temos (m/s) /s=m/s.s=m/s2. Assim, um
corpo que tinha uma velocidade inicial de 5m/s e a aumentou uniformemente
para 10m/s em um tempo de 10s, sofreu uma aceleração de a = (10 m/s - 5
m/s) /10 s = 0,5 m/s2.
Galileu descobriu que o movimento uniformemente variado ocorre com
corpos próximos à superfície da Terra, em queda livre ou rolando por planos
inclinados, desde que efeitos de atrito sejam desprezíveis. Esse cientista ita-
liano também descobriu que os corpos, independentes de seu peso ou
constituição interna, caem com a mesma aceleração, escrita nos textos
científicos como g e é igual a aproximadamente 9,8 m/s2. Essa descoberta re-
presentou outro golpe para a Física de Aristóteles, que afirmava que os corpos
mais pesados caem mais rapidamente. Torre de Pisa - Itália
Como calculamos as distâncias percorridas nesse tipo de movimento?
Se este for uniformemente variado, podemos simplesmente considerar a mé-
1
dia aritmética da velocidade v = 2 (v + v0 ) , achando-a a partir da expressão (1.6)
e substituindo-a em (1.4), a seguir. Nesse tipo de movimento a velocidade
média, como expressa em (1.3), é exatamente igual à média da velocidade.
Para isso, vamos acrescentar v0 aos dois membros de (1.6) e depois dividi-los
pelo fator 2, de modo a ficarmos com
v + v0 at (1.7)
v= = v0 +
2 2
Substituindo em (1.4) o valor encontrado para a média da velocidade,
ficamos com
1
s =s0 + v0t + at 2 (1.8)
2
1 58
58m = (0 + 0.t + 9,8.t 2 )m ⇒ 58 = 4,9t 2 ⇒ t = ≈ 3, 4 s
2 4,9
onde o símbolo ≈ indica aproximação ou arredondamento. Uma vez
que aceleração e velocidade são vetores (objetos matemáticos a serem estu-
dados oportunamente) e têm a mesma direção (a reta vertical), se o sentido
da velocidade inicial fosse contrário ao da aceleração da gravidade, estas
grandezas entrariam com sinais opostos em (1.8).
Situação – problema: com base no último exercício proposto, calcule
o tempo que a pedra levou desde que foi solta do topo da Torre de Pisa até
chegar ao solo.
É possível encontrarmos outra expressão que relaciona desta vez a ve-
locidade final com a velocidade inicial, a aceleração e a distância percorrida
pelo corpo em movimento uniformemente variado, conhecida como equação
de Torricelli, que foi um dos alunos de Galileu. Ela é obtida a partir das expres-
sões (1.6) e (1.8), a saber
2
v 2 = v0 + 2a∆s , (1.9)
onde ∆s é a distância percorrida pelo móvel, s – s0.
Como aplicação da equação de Torricelli, imaginamos a seguinte situ-
ação-problema:
Situação - problema: Um automóvel segue em uma pista reta a uma
velocidade constante de 72 km/h, quando o motorista percebe, 26 m à sua
frente, um cachorro distraído tomando banho de sol no meio da pista. Apavo-
Obtenha a expressão (1.9)
a partir de (1.6) e (1.8). rado, o condutor imediatamente aplica os freios, o que comunica ao veículo
Sugestão: procure eliminar uma (des)aceleração constante de -8m/s2. Pergunta-se: o animal será atrope-
o tempo t, que não figura lado ou não?
em (1.9).
Primeira coisa a ser feita: converter a velocidade inicial para m/s, já que
a aceleração está em m/s2; então v0 = 72km/h = 20m/s. Também temos que
v = 0m/s (velocidade final) e a = -8m/s2 .
Logo, usando a (1.9) para encontrarmos o espaço que será percorrido
pelo veículo até parar, vem:
A parábola é dita ser uma curva cônica, pois é gerada a partir da in-
tersecção de um plano com a superfície de um cone. A elipse, o círculo e a
hipérbole também são curvas cônicas. Constatamos, assim, o primeiro indício
da semelhança entre os movimentos terrestres (balas de artilharia) e celes-
tes (planetas), isto é, ambos seguem trajetórias cônicas (parábolas e elipses,
respectivamente). Galileu já havia apontado, em suas observações astronô-
micas, contra Aristóteles mais uma vez, para o fato de que o que ocorre nos
céus não é diferente do que se passa na Terra.
Coube a Isaac Newton levar essa constatação às últimas consequên-
cias, ao formular as Leis da Mecânica, objetos de estudo da próxima unidade.
Se expandirmos uma caixa vedada que contém gás triplicando suas Após o surgimento da
medidas lineares, sem alterar a massa, a sua densidade aumentará ou dimi- Teoria da Relatividade
Especial, formulada
nuirá? Por qual fator?
por Albert Einstein em
Newton concebeu a massa como sendo uma das propriedades fun- 1905, ficamos sabendo
damentais da matéria. Está associada com as partículas que formam esta que a massa não é uma
grandeza rigorosamente
última, e, devido à suposta indestrutibilidade desses corpúsculos, a massa é
conservada e isso fica
uma grandeza que se conserva. Portanto, para um sistema isolado do resto evidente a partir de
do Universo, sua massa não deve se alterar com a passagem do tempo. processos ou reações
nucleares, isto é, aquelas
As unidades de medida normalmente empregadas na definição de mas-
que envolvem os núcleos
sa é o grama (g) e o quilograma (kg), onde 1kg = 1000g. Também usa-se a to- dos átomos, em que uma
nelada (t), que equivale a 1.000kg. Há inúmeras outras unidades usadas mundo grande quantidade de
afora, como a onça, a libra etc. de pouca relevância prática para a Física. energia é liberada, para
o bem ou para o mal.
Com o desenvolvimento progressivo das balanças de precisão, essa lei Veremos, mais adiante,
de conservação da massa foi testada e explicitada pela primeira vez em 1760 que o que se conserva,
no âmbito da Química, e ficou conhecida como Lei de Lavoisier, segundo a efetivamente, é a energia
de um sistema isolado. E
qual, em uma reação química, a massa dos reagentes é igual à dos produtos,
a massa é, tão somente,
ou seja, as partículas (átomos) formadoras das substâncias não são criadas uma de suas diversas
nem destruídas, apenas se rearranjam. formas.
Outro conceito importante desenvolvido por Newton foi o de quantida-
de de movimento (ou momento linear ou ainda momentum). Uma vez que o
movimento de uma partícula deve caracterizar seu estado, tanto quanto sua
posição, diferentemente do que pensou o filósofo Zenão dezenas de séculos
antes, então a velocidade da partícula, característica mais simples de seu
movimento, deve ser conjugada a uma propriedade geral e intrínseca às par-
tículas – a massa. Então, segundo Newton
“Força é uma ação exercida sobre um corpo para modificar seu estado
de movimento, isto é, o estado de repouso ou o de movimento retilíneo
uniforme”.
Introdução a Física 47
Vemos, mais uma vez, que há uma mudança radical ocorrida em rela-
ção à Física de Aristóteles. Como estudamos na unidade anterior, de acor-
do com aquele pensador grego, o movimento de um corpo só continuaria
ocorrendo se a ação (força) permanecesse atuando sobre ele. Com Isaac
Newton, e também com Galileu antes dele, só existe uma força atuando em
um corpo se o seu estado original de movimento se altera. Assim, podemos ter
movimento sem que haja qualquer força (movimento retilíneo uniforme). A mo-
dificação no estado de movimento de um corpo através da ação de uma força
implica, portanto, uma aceleração. Esta relação ficará bem definida quando
enunciarmos as três Leis do Movimento.
Asnos e Inércia da plataforma em relação ao solo) até sofrer a ação de outro corpo, tanto em
A inércia dos corpos relação a um observador sobre a plataforma em movimento, como para um
pode ser ilustrada com
segundo situado no solo.
a parábola do asno,
formulada por Jean Assim, o Princípio da Inércia assegura-nos que há uma classe de re-
Buridan, filósofo do século ferenciais (observadores) em relação aos quais os corpos, quando não in-
XIV. Se um asno sente
teragem com outros (isto é, quando não há nenhuma força atuando sobre
a mesma intensidade
de fome e de sede e é eles), executam o mais simples dos movimentos, que é o retilíneo uniforme,
colocado exatamente à ou permanecem em repouso. Esses referenciais que se deslocam em linha
meia distância entre um reta com velocidade constante uns em relação aos outros, como a plataforma
feixe de feno e uma tina
em relação ao solo, são chamados de referenciais inerciais.
com água, provavelmente
morrerá de sede e O fato de termos corpos deslocando-se relativamente a outros corpos
de fome, pois não se em movimento remete-nos às regras de composição das velocidades, es-
decidiria para qual dos
tudadas pela primeira vez por Galileu. Tais regras existem em razão dos mo-
dois mover-se primeiro.
Assim se passa com os vimentos serem dependentes dos referenciais ou observadores. Assim, por
corpos na natureza: uma exemplo, se andamos dentro de um trem que corre sobre os trilhos a uma
partícula em repouso velocidade de
no espaço distante não
tem porque mover-se vt = 50 km/h e caminhamos em seu interior a uma velocidade de vp = 10
espontaneamente em km/h relativamente a um passageiro sentado, então nossa velocidade ve será,
uma determinada direção, para alguém que está em repouso na estação:
sem que uma força lhe
seja aplicada, pois todas
as direções do espaço ve = vt + vp = 50 km/h + 10 km/h = 60 km/h, se o passageiro e o trem vão no
são equivalentes. Por
mesmo sentido;
que “escolheria” uma em
detrimento das demais?
Então ela “decide” ve = vt – vp = 50 km/h – 10 km/h = 40 km/h, se vão em sentidos contrários.
permanecer em repouso.
Uma força de 30 N Forças causam mudança de movimento, como já sabemos, mas po-
comprime a mola A em 10 dem provocar também deformação nos corpos, e esta particularidade permi-
cm e outra força de 40 N
comprime a mola B em 20
te-nos construir instrumentos, chamados dinamômetros, destinados a medir
cm. Qual mola é a mais as forças. Este aparelho consiste basicamente em uma mola presa a um su-
“dura”? Explique. porte, e está equipado com uma régua graduada.
Robert Hooke, contemporâneo e rival de Newton, descobriu a lei de
deformação que leva o seu nome, segundo a qual a força que deforma
uma mola é proporcional ao tamanho (comprimento) da deformação, isto é,
F= – kx, onde x é o deslocamento (vetor) que caracteriza a deformação so-
frida. O sinal menos (–) nos diz que a força é sempre contrária ao sentido da
deformação, isto é, se a mola é esticada (sentido positivo) ou se é comprimida
(sentido negativo) e k é uma constante de proporcionalidade que depende da
mola empregada, chamada por isso de constante da mola, e que no SI tem
unidades de newton/metro (N/m).
Esse tipo de força é uma das mais simples que existem, do ponto de
vista matemático, pois consiste numa mera relação de proporcionalidade com
a posição da partícula. Em geral, as forças existentes na natureza são mais
complexas, sendo funções da posição, da velocidade e do tempo. Mas, ao
mesmo tempo em que essa modalidade de força é bastante simples, também
se revela como uma das mais fundamentais e universais, pois é responsável
por uma forma de movimento que está presente em muitos fenômenos da
natureza, do microcosmo ao macrocosmo: o Oscilador Harmônico. O nome
advém do fato de que uma partícula sujeita a uma força proporcional ao des-
locamento oscilará em torno de uma posição de equilíbrio, desde átomos em
cristais até os pêndulos de relógios de parede da casa de nossos avós.
“Para cada ação existe sempre uma reação igual e contrária, ou seja,
as ações recíprocas de dois corpos, um sobre o outro, são sempre
iguais e dirigidas para partes contrárias.”
Essa lei nos diz que forças atuantes em um corpo só podem ser pro-
duzidas por outros corpos, de tal forma que, se um corpo A age sobre outro B
com uma força F (ação), o corpo B também age sobre A com uma força – F
(reação), isto é, com uma força de mesma intensidade e na mesma direção,
mas em sentido contrário ao da primeira, daí o sinal negativo. Se tais corpos
forem duas partículas, a direção na qual se dá a força de ação e reação (isto
é, a interação) é fixada pelo segmento de reta que as une.
Introdução a Física 51
Portanto, o planeta Terra atrai-nos em direção ao seu centro (ação) Calcule a aceleração com
enquanto nós também a atraímos em nossa direção (reação). Mas como a a qual a Terra “cai” em
direção a você.
massa da Terra é imensa (cerca de 6,0x1024 kg, ou seja, 6.000.000.000.00
0.000.000.000.000 quilogramas), então ela “cai” em direção a nós com uma
aceleração imperceptível.
As forças gravitacionais de ação e reação entre duas massas (como
a Terra e a Lua) são do tipo “à distância” enquanto que as de ação e reação
entre duas pessoas que se empurram em uma luta corporal são “de contato”.
Vejamos outro exemplo de ação e reação de forças de contato: um livro
situado sobre a mesa na sala de estar empurra-a para baixo com seu peso e
a mesa, por outro lado, empurra o livro para cima. Esta força de reação que
a mesa exerce sobre o livro é chamada de normal. Ela equilibra exatamente
a força peso, que a Terra exerce sobre o livro devido à gravidade, e por isso
o livro mantém-se em repouso sobre a superfície da mesa, ou seja, a força
resultante é nula.
Observemos que esses pares de forças (ação e reação) ocorrem sem-
pre em corpos que são distintos um do outro (como no sistema Terra/Lua,
mesa/livro). É importante notar que as chamadas forças internas em um
mesmo corpo, isto é, aquelas que são exercidas entre as diversas partes (ou
partículas) que o compõem, cancelam-se mutuamente, aos pares, indepen-
dente da natureza dessas forças. Se assim não fosse, isto é, se houvesse
uma resultante de tais forças, um corpo em repouso poderia repentinamente
movimentar-se sem nenhuma ação externa, o que nunca é observado.
Situação-problema: achar a aceleração a experimentada pelos dois
blocos da fig. 2.3, unidos por um fio inextensível e sem massa, supondo que
as massas dos blocos sejam mA = 5kg, mB = 3kg e que não haja outras for-
ças além das representadas no desenho. Calcule também a tensão T no fio.
Considerar que a aceleração da gravidade é g = 10m/s2.
A força resultante atuando no sistema formado pelos dois blocos é tão
somente a força peso PB, de magnitude mAg = 5kg.10m/s2 = 50N, agindo
sobre o bloco B. A tensão no fio T, que atua tanto em A e como em B, são for-
ças internas e não interferem no movimento do conjunto. A força peso sobre o
bloco A, PA, está equilibrada pela força de reação da mesa sobre este bloco
(a chamada força normal), e então não entra na dinâmica do sistema. Assim,
pela segunda lei do movimento, temos que
50 N
=a = 6, 25m / s 2
8kg
,
menor que a aceleração da gravidade, portanto. A tensão T existente
no fio é calculada a partir da resultante das forças agindo sobre o bloco A ou
também sobre o bloco B. Considerando que a aceleração de cada bloco iso-
ladamente é a mesma da do conjunto, pois os blocos estão solidariamente li-
gados por um fio que não estica, então sobre o bloco B a força resultante será
FB = PB - T = mBa =3kg.6,25m/s2=18,75N,
FA= T = mAa=5kg.6,25m/s2=31,25N.
E por falar em tensão, vamos supor que amarramos um fio a uma pe-
dra e, segurando pela extremidade livre do fio, começamos a girá-la em alta
velocidade, fazendo-a descrever um círculo, como na funda de Davi que ma-
tou o gigante Golias. Desse modo, estaremos exercendo uma força que se
transmite através do fio, impedindo que a pedra saia pela tangente e vá atingir
a cabeça de algum infeliz. Essa força que, no final das contas, é a tensão no
fio, é sempre dirigida ao centro do círculo, onde está a mão que impulsiona a
pedra por meio do fio. Por essa razão, tal força é denominada de centrípeta.
Se o movimento da pedra é circular uniforme, isto é, se o número de
voltas que a pedra descreve por unidade de tempo é constante, o módulo da
sua velocidade tangencial v é também constante. Mas como sua direção está
mudando continuamente, significa que existe uma aceleração, que multipli-
cada pela massa da pedra fornece numericamente a força centrípeta. Nosso
objetivo agora é calcular o módulo dessa aceleração.
Observando a fig. 2.4 abaixo, notamos que o vetor velocidade também
gira, descrevendo um círculo de raio igual a v. Quando a pedra completa meia
volta, o vetor velocidade muda ao longo de meia circunferência. Isto é, o per-
curso da pedra é de πR e o “percurso” da sua velocidade é de πv. Este último
representa o quanto variou a velocidade, em um intervalo de tempo dado por
πR/v, pois estamos supondo um movimento circular uniforme. Logo, a acele-
ração centrípeta acp será dada por
(2.4)
pv v2
acp =
=
pR /v R
Introdução a Física 53
O Barão de Münchausen
foi um oficial militar alemão que
viveu no século XVIII. Era um
excêntrico e, em sua velhice, Isaac Newton pareceu
incomodar-se em não
reunia-se com os amigos em poder explicar a causa
volta da lareira acesa de sua da gravitação universal,
casa, à noite, para contar as his- ou seja, o porque de
tórias de suas façanhas juvenis, os corpos se atraírem
por meio de uma força
deliciosamente inverossímeis. diretamente proporcional
Em uma delas relata que, du- ao produto das suas
rante uma longa viagem a ca- massas e inversamente
valo, os dois, homem e animal, ao quadrado da distância
Fig. 2.5 - Sr. Barão, algo não está certo... entre eles. Por fim,
caíram nas águas lamacentas desistiu e afirmou
de um pântano. Quando percebeu que ambos afundavam e que teriam mor- “hipotesis non fingo”
te certa se nada fosse feito, apertou os flancos do cavalo com suas botas e (não faço hipóteses).
ergueu-se no ar puxando seus próprios cabelos, conseguindo salvar-se a si De qualquer forma,
forneceu a primeira
e à sua montaria, após o que prosseguiu tranquilamente a sua jornada. Com descrição moderna
base no que você já aprendeu sobre as Leis de Newton, explique para os seus de uma interação
colegas porque isso não é possível. fundamental da natureza.
Apenas Einstein, mais
de dois séculos depois,
1.3 A Lei da Gravitação Universal deu uma explicação
satisfatória para o
Falar sobre atração entre os corpos é discutir outra grande descoberta
fenômeno da gravidade,
que Newton fez no estudo da Física (ou Filosofia Natural, como ele chamava): mostrando que ela é o
A Lei da Gravitação Universal. efeito de uma distorção
na geometria espaço-
Reza a lenda que, em certo dia ensolarado, dos raros que existem na
temporal, provocada pela
Inglaterra, ele meditava tranqüilamente sob uma macieira do pomar de sua distribuição de matéria e
casa, quando foi atingido na cabeça por uma maçã. E isso acentuou ainda energia.
54 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
mais suas meditações, que viraram estudos sérios, até que, após um longo
tempo (talvez anos), chegou à conclusão de que a força que fazia com que a
maçã caísse era a mesma que mantinha a Lua em órbita em torno da Terra.
Ora, por que então a Lua não desaba sobre a Terra, como a maçã? De fato
ela o faz o tempo todo, mas como a Lua possui também um movimento tan-
gencial (isto é, perpendicular ao raio da órbita), não cai diretamente sobre nós,
é “desviada” continuamente - sorte a nossa.
Essa foi a primeira idéia de “unificação” da história da Física: as leis
que regem os fenômenos celestes são as mesmas que regem os terrestres,
refutando-se definitivamente Aristóteles.
Se subirmos ao topo de uma montanha bem alta e atirarmos horizontal-
mente um objeto com certa velocidade, ele cairá a uma determinada distância
do pé da montanha. Se aumentarmos essa velocidade de lançamento, cairá a
uma distância ainda maior, até que, ao ser arremessado com suficiente velo-
cidade, o objeto não cairá mais (recordemos que a Terra é aproximadamente
esférica), de modo que ele deverá ficar girando em torno do nosso planeta,
“procurando” o solo sem nunca encontrá-lo. A bem da verdade, devido à resis-
tência oferecida pela atmosfera, ele não orbitará indefinidamente a Terra (ver
Fig.14). O objeto perderá altitude aos poucos até atingir o solo, após executar
algumas voltas em torno do planeta.
A uma distância considerável da superfície terrestre ainda existem
moléculas de ar, que, embora bas-
tante rarefeito, ocorre em quantidade
suficiente para provocar efeitos inde-
sejáveis. De vez em quando (ainda
bem que raramente) os jornais e re-
vistas, impressos ou televisionados,
informam-nos a respeito da queda de
satélites artificiais em, felizmente, regi-
ões remotas e despovoadas de nosso
planeta.
Fig. 2.6 - O satélite de Newton: cair e orbitar é a mesma coisa
Newton mostrou que o movimento de queda livre dos objetos na super-
fície da Terra, bem como o dos diversos astros orbitando uns em torno dos
outros, é compatível unicamente com (e produzido por) uma força de caráter
universal, isto é, que afeta todos os corpos, qualquer que seja o seu tamanho
e sua natureza, e que age à distância (sem que haja contato físico entre os
corpos), proporcional às massas dos corpos envolvidos e cuja intensidade de-
cresce com o quadrado da distância entre os mesmos. Para duas partículas
interagindo gravitacionalmente, temos, em linguagem matemática,
Introdução a Física 55
F=-Gm1m2ur/r2 (2.5)
mv 2 mM GM
Fcp = Fg ⇒ = G 2 ⇒R=
R R v2
Percebemos que a massa do satélite não desempenha nenhum papel
aqui, somente a massa da Terra, que é a fonte do campo gravitacional que
afeta o movimento do satélite. A velocidade orbital deste será encontrada a
partir da informação de que o período de rotação do satélite é o mesmo do
de nosso planeta, que sabemos completar uma volta em aproximadamente
24h = 86.400s. Então a velocidade orbital do satélite será
2pR
v=
86400
Substituindo na expressão anterior, após uma simples manipulação al-
gébrica (faça-a!), e utilizando os valores numéricos conhecidos, encontramos
GM (86400) 2
=R 3 ≈ 42.000km ,
4p 2
27, 78m / s − 0m / s
=aB = 3, 473m / s 2
8s
Uma vez que o enunciado do problema diz que a aceleração é unifor-
me, então estamos diante do Movimento Retilíneo Uniformemente Variado,
que já estudamos na unidade anterior, e as distâncias percorridas por ambos
os automóveis são, sabendo-se que ambos partem do repouso:
1 1
= dA = a At A 2 2, 778m / s 2 =
(10 s ) 2 138,9m
2 2
e
1 2 1
dB = a B t B = 3,473m / s 2 (8s ) 2 = 111,1m
2 2
e
TB 385.850,30 J ou aprox. 48,2 kW (Kilowatt)
P=
B = = 48.231, 287W
tB 8s
1 1 1
d= (v f 2 − vi 2 ) ⇒ Fd =T = mv f 2 − mvi 2 .
2F / m 2 2
Se definirmos energia cinética EC (ou de movimento) como sendo
1
EC = mv 2 , então a equação (2.12) nos diz que o trabalho realizado é a diferen-
2
ça entre a energia cinética final e a inicial. Ou seja, se essa força for oriunda
de um empurrão dado por nós, significa que o trabalho realizado converteu
energia química acumulada em nossos músculos em energia de movimento,
aumentando o valor desta.
Fica claro do exemplo acima que energia também pode ser definida
como a grandeza física capaz de realizar trabalho. Se tentarmos cessar o
movimento do objeto usando a força de nossos músculos, o trabalho será
resistente e energia de movimento será convertida em energia muscular, pois
os músculos ficam tensionados, ao determos o objeto (estamos desconside-
rando aqui perdas de energia devido ao atrito).
Podemos definir, como fizemos em relação ao movimento, uma outra
forma de energia, dessa vez baseada na posição que a partícula ocupa em
certa região do espaço. Essa forma de energia é denominada de potencial.
Por exemplo, o trabalho realizado pela força peso, durante a queda de um
objeto, transfere energia potencial armazenada no próprio campo gravitacio-
nal para a partícula, que ganha energia de movimento (cinética). Assim, o
trabalho realizado pela força peso atuando sobre o objeto com massa m, ao
deslocá-lo da altura inicial hi até a altura final hf (repare que hf < hi), será
T = Pd = –mg( hf – hi), (2.13)
onde o sinal negativo é devido ao fato de que hf < hi . Se definirmos
a energia potencial gravitacional U de um objeto posicionado a uma altura h
como sendo dada por
U = mgh, (2.14)
então T = – (Uf – Ui) = Ui – Uf . Da equação (2.12) sabemos também que
o trabalho realizado é a diferença entre as energias cinéticas final e inicial, T =
Ecf – Eci . Igualando-se as duas expressões, temos
Ecf – Eci = Ui – Uf ⇒ Ecf + Uf = Eci + Ui . (2.15)
A equação (2.15) expressa o Princípio de Conservação da Energia Me-
cânica, definida como a soma das energias cinética e potencial. Então, inicial-
mente o objeto, imediatamente antes de ser solto a partir do repouso de uma
altura h, possui energia unicamente na forma de energia potencial. Não possui
energia cinética, pois sua velocidade é nula. Quando ele é liberado, à medi-
da que cai, o campo gravitacional terrestre vai convertendo energia potencial
em energia cinética, enquanto o corpo adquire velocidade. Assim, a energia
Introdução a Física 63
potencial das águas que se precipitam do alto da represa de uma hidrelétrica Pesquise e disserte sobre
converte-se em energia cinética, que será transferida para as pás da turbina, a vida e a obra de Henri
Poincaré.
a partir de onde essa energia será convertida em eletricidade por outro meca-
nismo de transformação, a ser explorado na próxima unidade.
É verdade que parte da energia potencial do corpo também se trans-
forma em som, calor, e, eventualmente, até eletricidade estática, durante sua
queda. Entretanto, o princípio de conservação da energia não diz respeito so-
mente à energia mecânica, como já afirmamos acima. Ele é muito mais geral
e envolve todas as formas de energia conhecidas.
kg m
=p 1000 3
10 2 .4000
= m + 105 Pa 4, 01.107 Pa
m s
Objetivos:
l Compreender as transformações envolvendo Calor e Trabalho, as Leis que
delas decorrem e suas aplicações, assim como os conceitos fundamentais
e as Leis da Eletricidade e do Magnetismo.
70 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Capítulo 1
Termodinâmica
Introdução
Começaremos estudando a ciência da Termodinâmica, que cuida dos
processos e transformações físicas envolvendo calor, que é uma forma de
transferência de energia baseada no movimento aleatório e incessante dos
átomos e moléculas que compõem a matéria. Suas duas principais leis são:
a) energia não é criada nem destruída e b) calor não pode ser integralmente
transformado em trabalho.
Em seguida, estudaremos os fenômenos da eletricidade e do mag-
netismo, que são essencialmente produzidos por cargas elétricas. Veremos
que a carga elétrica é uma propriedade intrínseca da matéria, como a massa.
Mas diferentemente desta, pode assumir valores negativos e positivos, e além
disso é quantizada. Veremos que as cargas elétricas interagem entre si por
meio de campos, que podem ser compreendidos como uma ação física que
se estende no espaço, para além das cargas (puntiformes) que os geraram.
Também procuraremos compreender como esses mesmos campos podem
se “autogerar” e, assim, se propagar no espaço, dando origem às chamadas
ondas eletromagnéticas, base da Óptica Física.
A palavra Termodinâmica
surgiu em 1840. De
1.1 Conceitos básicos origem grega, therme
É importante estar familiarizado com os conceitos e princípios básicos significa calor, e dinâmica
da Termodinâmica, pois o seu total domínio é fundamental para um bom en- significa poder. Este ramo
da física estuda o modo
tendimento do que é esta ciência.
como a energia pode ser
Para melhor entendê-la, assim como se faz em outras ciências, a Ter- armazenada, como essa
modinâmica estuda apenas a quantidade de matéria sobre a qual se tem energia é transformada
e como é dissipada. A
interesse, isolando-a de tudo que seja externo e que não interfira física ou
Termodinâmica descreve
quimicamente com a referida quantidade. Daí vem a definição de sistema em termos matemáticos
termodinâmico e vizinhança. Sistemas termodinâmicos podem ser sólidos relativamente simples as
e fluidos (gases ou líquidos) contidos num recipiente e separados do meio propriedades físicas dos
sistemas, em função da
exterior. Evidentemente, deve haver uma separação, real ou não, entre o sis-
quantidade de energia e
tema termodinâmico e o meio exterior (ou vizinhança). A separação pode ser de massa.
72 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Nosso planeta recebe realizada introduzindo-se o conceito de fronteira. A parede que separa o reci-
continuamente energia piente, citado anteriormente, do ar atmosférico é um exemplo de fronteira real.
radiante do Sol e
emite ondas de calor
Esta parede pode permitir ou não a passagem de calor, desde a vizinhança
na forma de radiação até o interior do sistema termodinâmico.
infra-vermelha. Mas a Ao longo deste estudo, veremos que podemos encontrar sistemas
Terra, com o passar do
tempo, não ficará muito
termodinâmicos fluidos em que a quantidade de matéria contida no sistema
mais pesada nem muito permanece constante e em repouso, e estes sistemas são chamados de sis-
mais leve do que está, temas fechados. Neles, a matéria nunca atravessa a fronteira da vizinhança
de modo que não há para o interior do sistema, ou vice-versa. Caso contrário, quando o fluido escoa
transferência de massa
para seu exterior. Em
através das fronteiras, os sistemas são chamados sistemas abertos. A dife-
contrapartida, buracos rença entre esses tipos de sistemas pode ser vista com exemplos. Considere
negros são sistemas uma reação química realizada em solução aquosa em um tubo de ensaio.
termo-dinâmicos abertos O sistema consiste em um solvente, a água, e outras substâncias químicas
porque exercem uma forte
atração gravitacional em
dissolvidas no tubo de ensaio. O sistema, neste exemplo, é definido como a
suas proximidades. Assim, parte escolhida a ser estudada. A vizinhança é simplesmente o que é excluído
qualquer corpo é atraído do sistema e sobre o qual não há interesse de se estudar. O sistema e sua vizi-
para eles, mas nada sai nhança são separados por uma fronteira, que neste caso, é o tubo de ensaio.
dessa região, nem a
luz. Neles há, portanto, Um sistema é dito fechado quando é permitido a trocar calor com a vizi-
transferência de massa. nhança, mas não massa, isto é, a fronteira de um sistema fechado é imperme-
ável à massa. No exemplo do tubo de ensaio, enquanto não seja importante a
evaporação do solvente nem seja adicionado outro componente, o sistema é
fechado. Outro exemplo de um sistema fechado é a Terra.
Um exemplo cotidiano de sistema termodinâmico aberto é o homem.
Ele inspira e expira ar continuamente, come, bebe, defeca e urina periodica-
mente. Os alimentos atravessam a fronteira do sistema desde o exterior. No
decurso, a energia térmica é trocada entre ele e os arredores. Um diagrama
esquemático da estrutura interna desse sistema aberto é mostrado na figura
abaixo.
Por último, existem os sistemas isolados, ou seja,
quando a fronteira não permite nem a passagem de massa
nem a passagem de energia. O sistema é constante no que diz
respeito à composição material e à energia. Um exemplo de
sistema isolado é a garrafa térmica. Havendo vácuo entre as
paredes do recipiente, evita-se tanto a perda quanto a entrada
de calor ao sistema. Da mesma forma, enquanto a tampa da
garrafa não for aberta, não entra nem sai líquido da garrafa. A
quantidade e a temperatura do café permanecerão inalteradas.
A importância de definir um sistema termodinâmico esta
em de descrever o seu comportamento para estudo de sua
interação com a vizinhança. Isto pode ser realizado através de
Introdução a Física 73
sem passar pela fase líquida, como mostrado na figura anterior. A vaporização
é a passagem da fase líquida para a gasosa. A condensação é a passagem
de uma substância da fase gasosa para a líquida. Ela pode ocorrer, também,
à temperatura ambiente. Por exemplo, colocando-se água gelada num copo,
observa-se a condensação do vapor de água do ar na sua parede externa. A
sublimação ocorre para temperaturas abaixo do ponto triplo; nessas condi-
ções, uma substância qualquer pode passar diretamente da fase sólida para
fase gasosa, ou vice-versa, sem se transformar em líquido.
A passagem de um estado termodinâmico a outro é realizada por um
caminho que determina o tipo de processo entre um estado e outro. Alguns
processos muitos usados são:
• Processo Isobárico, no qual a passagem de um estado a outro acontece
mantendo a pressão constante.
• Processo Isotérmico, no qual a passagem de um estado a outro acontece
mantendo a temperatura constante.
• Processo Isocórico ou Isométrico, no qual a passagem de um estado a
outro acontece mantendo o volume constante.
Atividades de avaliação
1. Durante uma mudança de estado isobárico:
( ) a pressão aumenta,
( ) a pressão diminui
Como a agitação das
moléculas não pode ser ( ) a pressão permanece constante
medida diretamente, 2. Em dias muito frios, ao falarmos, expelimos pela boca uma fumaça. Expli-
mede-se a temperatura, que este fenômeno.
através de outras
propriedades.
No interior do termômetro 1.2 Temperatura. Lei Zero da Termodinâmica.
de mercúrio há um bulbo,
que é um tubo bem Escala de Temperatura
estreito chamado de Por muito tempo, no lugar da palavra temperatura, foi usada a palavra
capilar onde a substância temperamento, do latim temperare, que significa misturar líquidos que não po
termométrica (mercúrio)
derão ser separados, como a água e o vinho. Claudios Galenos, um ilustre
sobe e desce, conforme
a temperatura que está médico grego, desenvolveu a idéia de Hipócrates e estudou a influência do
sendo medida. A altura clima sobre as misturas dos fluidos corporais, a ponto de determinar o caráter
que o mercúrio marca ou temperamento de uma pessoa. Assim, segundo ele, na região Norte, onde
no capilar é chamada de
o clima era frio e úmido, os seus habitantes possuíam um temperamento sel-
grandeza termométrica.
vagem, enquanto que o temperamento das pessoas que habitavam na região
Introdução a Física 75
Sul, onde o clima era quente e seco, era manso e fleumático. Em regiões onde
o clima era bem misturado, isto é, temperado, as pessoas possuíam o cará-
ter equilibrado, o melhor senso e a inteligência superior. Naturalmente, essas
pessoas eram os gregos e os romanos. Hoje em dia, é bem conhecido que
a temperatura corporal independe da região onde vivem os seres humanos.
A temperatura é uma propriedade física que descreve o estado termodi-
nâmico de um sistema. Seu conceito intuitivo está associado à capacidade de
distinguir qualitativamente se os corpos estão quentes e/ou frios. Os nossos
estímulos sensoriais nem sempre são confiáveis para quantificar a tempe-
ratura de um corpo. Muitas vezes, materiais que se encontram num local à
mesma temperatura, aparentam possuir temperaturas diferentes: o mármore
e a madeira são dois bons exemplos quando localizados numa mesma sala.
As sensações intuitivas, muito usadas para definir quando os objetos podiam
ser considerados quentes ou frios, para medir temperatura, foram eliminados
lentamente durante o século XVII.
A temperatura é uma grandeza que está associada ao grau de agitação
das moléculas. A única forma certa de quantificar a temperatura de um corpo
é através de medidas indiretas, isto é, usando o fato de que, quando a tempe-
ratura de um corpo varia, outras propriedades, chamadas propriedades termo-
métricas, também variam. Algumas propriedades termométricas que variam
com a temperatura são: as expansões volumétricas, lineares ou superficiais, a
pressão de um gás que se encontra a volume constante, a resistência elétrica,
a voltagem, dentre outras. Tomando como base uma relação linear entre a
temperatura e a propriedade termométrica X, podemos escrever:
T − T0 X − X0 (3.1)
=
T1 − T0 X 1 − X 0
Nesse caso, T é o valor da temperatura quando a propriedade termo-
métrica toma o valor de X, T1 é o valor da temperatura quando a propriedade
termométrica toma o valor de X1 e T2 é o valor da temperatura quando a pro-
priedade termométrica toma o valor de X2.
É bem conhecido o fato de que, quando dois sistemas com diferentes
temperaturas são colocados em contato direto, o sistema com temperatura
maior esfria, enquanto que o sistema com temperatura menor aquece. Che-
gando ao ponto em que não ocorrem mais variações térmicas, esta situação é A Lei Zero foi enunciada
chamada de equilíbrio térmico, que é a forma ideal para introduzir formalmen- depois das outras duas,
te o conceito de temperatura dos sistemas, isto é, quando atingido o equilí- a Primeira e a Segunda
Lei, por volta de 1930.
brio térmico, a propriedade térmica que não varia é chamada de Temperatura.
Mas, por ser muito
Agora, estamos prontos para enunciar a Lei Zero da Termodinâmica, a qual básica na época, não foi
envolve o conceito de equilíbrio térmico. considerada como uma
lei.
76 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Uma ampla variedade Quando dois sistemas se encontram separados, mas em equilíbrio
de escalas foi anunciada térmico com um terceiro, então os três sistemas se encontram em equi-
em épocas diferentes,
em lugares diferentes e
líbrio térmico entre si.
por pessoas diferentes. A Lei Zero é a base física do funcionamento do instrumento chamado
Algumas deixaram termômetro. Um termômetro, que atinge o equilíbrio térmico com um sistema,
de existir por serem
totalmente subjetivas
mede através de uma escala térmica predeterminada a temperatura do siste-
e arbitrárias, embora ma. O instrumento foi desenvolvido no início do século XVII, provavelmente
pudessem ser utilizáveis por Galileu Galilei.
todas. Hoje em dia, as
Quando a expansão volumétrica, do álcool ou do mercúrio, é usada
escalas de temperatura
mais conhecidas são: a como propriedade termométrica para medir a temperatura de um corpo, o va-
escala Celsius e a escala lor numérico real que define a temperatura é aquele obtido ao atingir-se o equi-
Fahrenheit. líbrio térmico. Para realizar essas medidas é necessário definir uma escala.
Uma das primeiras escalas termométricas conhecidas foi definida por
Galenos; para isto ele misturou iguais quantidades de gelo e água fervendo,
considerados, na época, os corpos mais frios e mais quentes. A essa mistura
ele chamou de mistura neutra. A partir daí definiu quatro graus de temperatura
inferiores a esse ponto neutro e quatro graus de temperatura acima do ponto
neutro. Na verdade, a idéia de nove graus está relacionada com os 90 graus
de latitude entre o equador e os pólos. Essa primeira aproximação de escala
de temperaturas sobreviveu, de forma errada, sob os cuidados dos médicos
árabes. Existem outras escalas, mas o princípio fundamental para criá-las é
considerar que a temperatura, dentro de certo intervalo, varia linearmente com
a variação da propriedade termométrica que será usada. Para isto, é necessá-
rio estabelecer uma equação reta que passa por dois pontos fixos e conheci-
dos. Esses pontos, preferencialmente, devem ser de fácil e fiel reprodução, de
maneira que permitam fazer leituras comparativas com outros termômetros.
Desde o início, para calibrar os termômetros, foram usadas a temperatura em
Termômetro universal que se descongela a água e a temperatura em que ela ferve como pontos
Depois de mais de fixos. Estabeleceu-se, dessa forma, a escala de temperatura Celsius. Celsius
duzentos anos de
repetiu experimentos em vários climas com variações da pressão, encontran-
pesquisa experimental
com vários tipos de do o mesmo valor de temperatura em que o gelo se funde.
substâncias, chegou- No entanto, alternativas de pontos fixos foram propostas durante muito
se à conclusão de que
tempo, sem sucesso; entre eles, durante algum tempo, foram usadas a tem-
todos os gases, quando
se encontram a baixas peratura de fusão da manteiga e a temperatura da axila do homem saudável.
pressões, apresentam o A escala Celsius (símbolo °C) sobreviveu e usada até nossos dias. Ela
mesmo comportamento.
concebe o ponto de solidificação (congelamento) da água, que corresponde
Nestas condições, a
pressão e o volume do a 0 grau, e o ponto de evaporação da água, que corresponde a 100 graus
gás apresentam o mesmo medidos a uma pressão atmosférica padrão. Esses dois pontos fixos foram
comportamento linear com divididos em cem passos. Tomando uma variável termométrica X, a relação
a temperatura.
linear com a temperatura pode ser escrita como:
Introdução a Física 77
T 0C − 00 C X − X0
= Sendo a temperatura
100 C − 0 C X 1 − X 0
0 0
(3.2)
uma medida da agitação
térmica molecular, a
X − X0 menor temperatura
T 0C = 100 0 C corresponde a situação
X1 − X 0
em que não há movimento
molecular. Este estado
Fahrenheit decidiu aperfeiçoar as técnicas de fabricação dos termôme- corresponde ao zero
tros, com o objetivo de obter leituras mais precisas, no lugar de trabalhar com absoluto na escala Kelvin,
dois pontos fixos, considerou três pontos. Daí surge o grau Fahrenheit, cujo que corresponde a
-273,15 oC.
símbolo é °F. Os pontos escolhidos foram o de congelamento de uma mistura
de água e de sal do mar como 0°F, gelo fundente sozinho na água 32°F, e a tem-
peratura do corpo humano 96°F. Nessa escala o ponto de fusão da água é de
32 °F e o ponto de ebulição, de 212 °F. O ponto de ebulição da água se encontra
a 180 graus acima da temperatura do gelo fundente. Tomando uma variável ter-
mométrica X, a relação linear com a temperatura pode ser escrita como:
T 0 F − 320 F X − X0
0 0
=
212 F − 32 F X 1 − X 0 (3.3)
X − X0
=T 0F 1800 F + 350 F
X1 − X 0
T 0C − 00 C T 0 F − 32
= (3.4)
1000 C − 00 C 2120 F − 320 F
50 C 0
T 0C
= (T F − 350 F )
90 F
Um termômetro, de temperatura mínima atingida por eles é de -273,15 oC. Lorde Kelvin sugeriu a
líquido em vidro, indica correspondência entre a temperatura mais baixa atingida pelos gases ideais
uma temperatura de 40o
(-273,15 oC) com o chamado zero absoluto; surgindo dessa forma a escala
C numa pessoa que arde
em febre. Determine a absoluta ou escala Kelvin. Nessa escala os dois pontos fixos determinados à
respectiva temperatura pressão atmosférica com valores para o gelo fundido, de 273,15 K, e para a
nas seguintes escalas: a) vaporização da água, de 373,15 K.
em graus Fahrenheit (oF);
b) em Kelvin (K). A solução encontrada para se criar o termômetro universal ou absoluto foi
Pesquise e disserte sobre empregar gases a baixa pressão. A escala Kelvin foi rapidamente adotada por
o grau Rankine (oR) como cientistas do mundo inteiro, mas sofreu uma mudança sutil ao reconsiderar os
unidade de medida da
pontos fixos, 273, 15 K e 373, 15 K, por um único ponto, o ponto triplo da água,
temperatura. Converta
100 oC para grau Rankine a temperatura onde coexistem em equilíbrio térmico as três fases: líquido, sólido
(oR). e gasoso da água; e cujo valor é 273,16 K que corresponde a 0,01 oC. A tempe-
ratura é uma grandeza mensurável através de instrumentos cujo valor numérico
não depende da extensão nem da quantidade de massa do sistema.
enquanto o trabalho de usinagem fosse realizado. A idéia de calórico final- O exemplo mais simples
mente foi abandonada e o calor passou a ser identificado como energia, com de que não pode existir
um fluido calórico
as experiências realizadas por Joule. Contudo, os adeptos do calórico eram é mostrado quando
difíceis de ser convencidos. esfregamos duas mãos e
Por outro lado, outros cientistas tentaram explicar a natureza do calor geramos calor. Como as
duas mãos se encontram
relacionando-o com movimento. Durante muito tempo, o trabalho realizado à mesma temperatura,
pelo cientista Bernoulli foi ignorado em defesa da existência do fluido calórico. é impossível explicar
Ele propôs um modelo microscópico que explicava o comportamento dos ga- que sai fluido calórico de
ses. Bernoulli supôs que os gases eram formados de inúmeras moléculas em uma mão para a outra. O
aumento observado na
rápido movimento aleatório (energia cinética) e mostrou que a pressão que temperatura é explicado
um gás exerce sobre as paredes de um recipiente é devida às colisões das pelo calor produzido pelo
moléculas com as paredes do vaso. Quando os gases se encontram em um atrito entre os corpos
conjunto formado por um cilindro com pistão, se o volume ocupado pelo gás envolvidos.
é reduzido pela metade, a pressão exercida pelo gás dobra de intensidade. O
aumento da pressão é causado pela diminuição do volume do recipiente; sen-
do assim, as colisões das moléculas com as paredes do recipiente também
aumentavam. Isto explicava o aumento da pressão, o aumento da energia ci-
nética das moléculas e, portanto, da temperatura do recipiente. Dessa forma,
o aumento da energia cinética das moléculas está associado ao aumento da
temperatura do recipiente. Fora do recipiente, a vizinhança se encontra a uma
temperatura inferior e o movimento das moléculas é transmitido às moléculas
mais próximas das paredes. Concluindo, podemos dizer que calor é a ener-
gia térmica que se transfere entre corpos que estão a diferentes temperatura. Um processo é
Para designar a energia que se encontra armazenada no sistema, em decor- irreversível quando o
sistema e sua vizinhança
rência do movimento de suas partículas, usamos o termo energia interna. Não
não conseguem voltar
tem sentido, então, dizer que um corpo possui calor. ao estado inicial
O calor flui de uma região de temperatura mais alta, onde a velocida- espontaneamente. Alguns
de média molecular do movimento é maior, a uma efeitos que tornam os
processos irreversíveis
das temperaturas mais baixas. Quando uma lata são:
de refrigerante quente é colocada na geladeira, Transferência de calor
o calor flui continuamente da lata e é transferido com diferença brusca de
para o interior da geladeira até que é atingido o temperatura.
equilíbrio térmico, ou seja, até atingir a temperatu- Reações químicas
ra média de todos os outros objetos no interior do espontâneas.
freezer, incluindo o ar.
Por convenção, o calor é considerado com
sinal positivo se estiver fluindo do sistema para a
vizinhança e negativo, no caso contrário. Neste
Dormir 63
Atividades de avaliação
1. Um termômetro, de líquido em vidro, indica uma temperatura de 40 oC
numa pessoa que arde em febre. Determine a respectiva temperatura nas
seguintes escalas: a) em graus Fahrenheit (oF); b) em Kelvin (K).
2. Uma pessoa consome 538 joules de calor de uma fonte de alimentos. Ex-
prima essas quantidade de calor em calorias.
3. O calor propaga-se do Sol para a Terra por:
( ) Convenção.
( ) Irradiação.
( ) Condução.
( ) Convecção e irradiação
Introdução a Física 83
meira Lei apenas contabiliza as energias que entram e saem do sistema. Uma
analogia que exemplifica de forma simples estes conceitos pode ser realizada
quando analisamos as famosas dietas de emagrecimento. Como explicar o
fato de pessoas que comem muito e não engordam? Segundo a Primeira Lei
da Termodinâmica, quanto mais se come e menos se exercita, mais se en-
gorda. Entretanto, sabemos que existem pessoas que contradizem a primeira
lei: não engordam nunca e comem muito. A Primeira Lei orienta é necessário
praticar exportes e comer pouco. A Segunda Lei limita e orienta: é necessário
comer com qualidade para emagrecer.. A qualidade da alimentação é o que
faz o organismo ser mais ou menos eficiente e produtivo. Para perder peso,
para deixar de acumular massa e energia, não basta limitar a entrada e saída
de alimentos e energia. É necessário verificar que tipo de calorias se está
ingerindo (isto é, a qualidade das calorias dos alimentos ingeridos). Alimentos
gordurosos são de baixa qualidade, altamente entrópicos; vegetais e cereais
Discuta com seus colegas são de alta qualidade, e de baixa entropia. A excelência da dieta se consegue
a seguinte questão: os
físicos argumentam que a
com a combinação da primeira e da segunda lei em conjunto, cuidando que
energia total do Universo o aumento da entropia seja o suficiente para tornar o processo de emagreci-
tende a se tornar cada vez mento o menos irreversível possível.
mais desordenada e, por
Hipócrates, nascido em 460 a.C., já dizia: “Se pudermos dar a cada
consequência, podemos
afirmar que a entropia indivíduo a quantidade exata de nutrientes e de exercício, que não seja insu-
do Universo cresce ficiente, nem excessiva, teremos encontrado o caminho mais seguro para a
continuamente. Que saúde”. Isto mostra, desde a antiguidade, a importância do balanço energético
consequências isto trará
e a aplicabilidade das Leis da Termodinâmica para a vida.
para a humanidade?
PV=nRT
onde:
P - representa a pressão do gás;
V - é o volume ocupado pelo gás;
n - a quantidade química (número de moles)de gás presente;
R - a constante universal dos gases ideais; T - a temperatura absoluta.
A constante dos gases ideais, R, pode ter dois valores: Segundo a Lei de
Charles, na qual , o
R = 8, 31451 J.mol-1. K-1, quando:
volume é proporcional
P, estiver expressa em Pascal; à temperatura quando
se mantém o valor da
V, em m3;
pressão constante.
n, em mol;
T, em Kelvin.
Segundo a Lei de
Charles, na qual , o
Um gás pode iniciar um processo termodinâmico com determindas volume é proporcional
condições iniciais, e, por meio de transformações, chegar a outro estado ter- à temperatura quando
se mantém o valor da
modinâmico. As transformações mais conhecidas e usadas são as isotérmi- pressão constante.
cas, isobáricas e isocóricas. Em todas elas o ISO é um prefixo que significa
igual. Para um gás que parte de um estado termodinâmico 1 até um estado
termodinâmico 2, usando um processo isotérmico é válida a seguinte relação
no estado 1 e no estado 2:
PV
1 1
= nR (3.8)
T1
PV
2 2
= nR
T2
P2 V2
= nR
T2
PV
2 2
= nR
T2
Atividades de avaliação
1. Considere o ar atmosférico como um gás ideal e determine o volume espe-
cífico e a densidade para a pressão atmosférica padrão na temperatura de
20°C. (Adote a massa molecular do ar = 28,97 kg/kmol; R = 8 314 J/ kmol-K).
2. Se a temperatura absoluta de dada massa de um gás ideal for reduzida à
metade sob pressão constante, o volume do gás irá:
88 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
É qualquer equipamento
( ) reduzir a quarta parte.
que permita manter a ( ) permanecer constante.
pressão constante ou
( ) reduzir pela metade
controlada. O interior do
avião funciona como uma ( ) quadruplicar.
câmara isobárica.
3. Um gás ideal é submetido aos seguintes processos como mostrados no
diagrama a seguir. Assinale a alternativa correta.
bem aceita por toda a comunidade científica a teoria que explica a atração e Massa : 10-12 g.
Volume : 10-24 cm3.
repulsão dos corpos, a qual parte do conceito de que a matéria é constituída por
átomos e estes, por sua vez, são constituídos por um núcleo onde coexistem
partículas denominadas de prótons e nêu-
trons, ao redor do qual orbitam os elétrons.
Os prótons e os elétrons são partícu-
las dotadas de uma importante propriedade
física que permite explicar a eletricidade: car-
ga elétrica. Da mesma forma que a palha e a
lã de carneiro se atraem quando colocadas
Fig. 3.9 - Versorium de Gilbert
próximas, um próton atrai um elétron. Já um
90 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
ditos com carga negativa) ou falta de elétrons (são ditos com carga positiva). A
experiência de Tales de Mileto pode ainda ser reproduzida se você atritar uma
caneta de acrílico com uma flanela.
Atividades de avaliação
1. Sabemos que a carga de um elétron é de -1,6x10-19 C. Se uma caneta
acrílica foi atritada e perdeu elétrons, ficando carregada 6,0x10-5 C de car-
gas positivas, quantos elétrons foram retirados da caneta?
2. O átomo de certo elemento é composto por 4 prótons, 4 nêutrons e 4 elé-
trons. Determine a carga elétrica total do núcleo deste átomo.
3. Represente as linhas de força do campo elétrico para duas cargas elétricas
negativas.
Atividades de avaliação
1. Uma carga de +3,0×10−6 C se encontra a uma distancia de 8 cm de uma
segunda carga de −2,3×10−6 C. Calcular a força elétrica que atua sobre
cada carga.
2. Qual deve ser a distância entre duas cargas Q1 = 26 C e Q2 = −47 C para
que a força elétrica entre elas seja de 9,0 N? A tabela abaixo descreve
os efeitos sobre o corpo
humano produzido por
2.8 Corrente Elétrica e Diferença de potencial diversos valores de
Já vimos que a carga elétrica é uma grandeza conservada. Se ela “de- corrente.
saparece” de um lugar, é porque ela simplesmente foi para um outro local. A
Corrente (A) Efeito
esse deslocamento, ou migração de cargas elétricas, dá-se o nome de corren-
Pode ser
1 mA
te elétrica. O conceito de corrente é provavelmente familiar. Todos os aparelhos sentida
Causa a
contração
10 mA
muscular
involuntária
Pode causar a
70 mA morte, devido
ao coração
Miliampere Ma 10-3 A
Microampere Ua 10-6 A
Nanoampere Na 10-9 A
Um fio de metal, a água e o sangue são exemplos de condutores onde
as cargas elétricas se movimentam. O corpo humano é composto por 70 %
de água. Portanto, a falta de aterramento nos equipamentos eletrodomésti-
cos permite que as cargas em excesso escoem por nosso corpo até o chão,
que funciona como um grande reservatório de cargas elétricas. Como medida
de segurança, todas as caixas metálicas dos equipamentos devem estar em
contato com o fio terra; desta forma, as cargas escoam pelo caminho que
oferece menor resistência, evitando que fluam por nosso corpo.
Quando se dispõe de um condutor eletrizado positivamente, cria-se ao
redor deste um campo elétrico. Posicionando-se uma carga positiva perto
desse condutor, a carga ganhará velocidade e consequentemente energia
cinética, afastando-se do condutor. Do Principio de Conservação da Energia,
se a carga ganhou energia cinética é porque havia armazenada uma energia
potencial denominada energia potencial elétrica. A energia potencial elétrica
da carga positiva se transformou em energia cinética ao ser repelida pelo con-
dutor. Assim, o condutor produz um campo elétrico. Este é um vetor que pode
ser calculado a partir de uma outra grandeza, desta vez escalar, denominada
potencial elétrico. No Sistema Internacional a unidade de medida do potencial
elétrico recebeu o nome de Volt. O potencial elétrico é a energia potencial ar-
mazenada por unidade de carga posicionada no local. Num ponto do campo
elétrico, o potencial elétrico é igual a 1 Volt, quando a carga ao ser colocada
neste ponto adquire uma energia potencial elétrica de 1 Joule.
O principal fator que provoca o movimento das cargas entre dois pontos
é a diferença de potencial existente entre eles. As cargas elétricas se deslo-
cam do potencial elétrico menor ao maior, gerando o movimento ordenado
das cargas elétricas e, portanto, uma corrente elétrica.
2.9 Magnetismo
Na mesma época em que se verificou que o âmbar atraia pedaços de
palha, observou-se que certas rochas atraíam pedaços de ferro. Durante
muito tempo pensou-se que estes dois fenômenos eram similares; entretanto,
Determine o valor da essas pedras só atraiam pedaços de ferro. Assim, chegou-se à conclusão de
corrente elétrica que que a natureza dessas eram diferentes. Magnetismo foi o termo usado para
atravessa um condutor estudar os fenômenos que estas rochas produziam, provavelmente devido à
quando a quantidade de
carga elétrica é de 4 C no região da Grécia onde elas se encontravam com maior facilidade, chamada
intervalo de 20 segundos. Magnésia.
Introdução a Física 99
A Terra é um imã?
Ainda hoje, é discutida
a origem do campo
magnético da Terra. No
interior da Terra existe um
Fig. 3.18 - A corrente elétrica cria um campo magnético ao seu redor núcleo líquido de ferro e
de níquel fundido que se
Utilizando-se a linguagem de linhas de força ou de campo criada por
encontra em movimento
Faraday, podemos afirmar que as linhas de campo magnético, diferentemente de rotação. O movimento
das linhas de campo elétrico, são linhas fechadas sobre si mesmas, circulan- desses metais fundidos
do o fio condutor por onde passa a corrente que as gera. origina um campo
magnético terrestre.
A experiência de Oersted permite explicar como se origina o campo
magnético em um ímã. Partindo do modelo clássico do átomo, cada elétron
em órbita circular em torno do núcleo comporta-se como uma espira circular
100 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
modo, ao se desligar aquele circuito, uma nova e breve corrente, dessa vez
invertida, surge no segundo circuito. Assim, Faraday descobriu a sua famosa
Lei da Indução:
Objetivos:
l Compreender os Postulados da Teoria da Relatividade Especial de Einstein
e seu impacto no nosso entendimento a respeito de espaço, tempo matéria
e energia. Compreender algumas das idéias subjacentes à Teoria da Rela-
tividade Geral e a reformulação que ela trouxe para o conceito da interação
gravitacional. Finalmente, compreender fatos e idéias que revolucionaram
a Física do Século XX referentes ao nosso entendimento do mundo mi-
croscópico.
104 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Capítulo 1
As Teorias da Relatividade
de Einstein
Introdução
Começaremos estudando neste capítulo as Teorias da Relatividade de
Albert Einstein, onde os conceitos de espaço, tempo, matéria e energia, bem
como as leis mecânicas que os interrelacionam, são revistos e modificados
para que o princípio da Relatividade de Galileu, pelo qual a descrição física
dos fenômenos não deve depender do referencial, seja ampliado para aco-
modar os fenômenos eletromagnéticos. Essas teorias são divididas em: Re-
latividade Restrita, que envolve somente Sistemas Inerciais de Coordenadas
e Relatividade Geral, que envolve Sistemas Gerais de Coordenadas. Nes-
ta última, a gravitação é compreendida como deformações na geometria do
espaço-tempo. Em seguida, estudaremos a Teoria Quântica da Matéria, que
representa uma novíssima formulação das leis da natureza para descrever
adequadamente os fenômenos na escala molecular, atômica e subatômica.
Forças de Coriolis
Uma das consequências Dessa forma, verificamos que a trajetória de uma partícula muda con-
de vivermos em um forme o referencial, uma vez que ela é traçada a partir da posição e da veloci-
referencial não-inercial, dade que a partícula possui em cada instante de tempo, e essas grandezas se
isto é, nosso próprio alteram de acordo com o ponto de vista assumido pelo observador. Entretan-
planeta que gira em
torno do eixo que passa to, as causas físicas das trajetórias – as forças – não devem depender desse
pelos seus pólos, são observador. No exemplo acima, tanto o piloto do avião quanto o homem no
as chamadas (pseudo) solo sentem da mesma maneira o peso dos corpos, ou seja, percebem igual-
forças de Coriolis, mente a Terra puxando-os para seu centro. A força da gravidade é a mesma
em homenagem ao
cientista que as estudou que faz cair a bomba, não importando se retilineamente, como observado pelo
primeiramente. Essas piloto, ou de forma parabólica, como percebido pelo observador terrestre.
forças fazem com que Cabe assinalar que a afirmação acima não é inteiramente precisa. Os
grandes massas de ar,
movimentando-se em observadores só perceberão a mesma força se cada um estiver posicionado
direção ao pólo sul, por em um referencial dito inercial.
exemplo, sejam desviadas Se o mencionado piloto estiver acelerando a aeronave, ele vai sentir um
para o leste, e as que se
dirigem ao pólo norte,
empurrão contra o encosto da cadeira onde está sentado, isto é, sentirá uma
desviadas para o oeste. força não-inercial ou pseudo-força nele agindo, a qual não é sentida pelo ob-
Assim, os furacões no servador em terra. Esses efeitos são assim chamados porque não estão asso-
hemisfério norte giram ciados com interações devidas a outros corpos materiais, que são as “fontes”
em um sentido, e no
hemisfério sul, no sentido
legítimas das forças. Assim, o piloto verá a bomba seguir uma trajetória que
oposto. poderá interpretar como sendo causada pela ação de duas forças atuando con-
juntamente, observação totalmente discrepante da outra feita a partir do solo.
Introdução a Física 107
Dito de outro modo, não é possível montar experimentos mecânicos Os referenciais inerciais
que nos permitam distinguir se permanecemos em repouso ou em movimento e as leis de Newton:
Como consequência do
retilíneo uniforme. Se você está dormindo em um avião estacionado no aero- Princípio da Relatividade
porto (já com os motores acionados) e só acordar quando ele estiver voando de Galileu, os referenciais
suavemente em velocidade e altitude de cruzeiro, não haverá nenhum modo inerciais são aqueles em
de saber se ainda está em terra, a menos que olhe pela janela. Um pêndulo que as leis do movimento
assumem a sua forma
oscilará da mesma maneira nas duas situações, o que é compatível com o mais simples, forma
fato de que o tempo é uma entidade que flui de igual modo nesses referen- essa que corresponde
ciais, uma vez que tal objeto é comumente usado para marcações de tempo. exatamente às três leis
formuladas por Isaac
Newton.
1.2 O Princípio da Relatividade de Einstein
Tudo estaria resolvido se as únicas leis naturais que existissem fossem
mecânicas, isto é, alusivas à relação entre o movimento e suas causas físi-
cas. Sabemos, entretanto, que, além das leis do movimento, existem aquelas
que definem essas próprias causas – as forças atuantes entre as partículas.
Por exemplo, a Lei da Gravitação Universal, que estudamos na unidade 2,
descreve uma grande classe de interações que ocorrem entre todos os pares
de partículas materiais existentes no Universo, de natureza exclusivamente
atrativa. Como a forma matemática dessa interação depende unicamente das
massas das partículas e da distância entre elas, tal forma não deve ser mo-
dificada, caso passemos de um referencial em repouso para outro animado
com velocidade constante em relação ao primeiro, uma vez que a massa e os
intervalos de tempo e espaço não são afetados na Relatividade Galileana. Ou
seja, o tempo e o espaço, como Newton colocou de forma explícita em seus
Principia, são entes absolutos.
Também estudamos na unidade 3 que existem as interações de natu-
reza eletromagnética, devidas à atuação das partículas com carga elétrica
umas sobre as outras. Desde quando James C. Maxwell demonstrou, a partir
das leis da eletricidade e do magnetismo, que a luz pode ser vista como uma
perturbação oscilatória eletromagnética propagando-se no espaço vazio com
uma velocidade de aproximadamente 300.000 km/s, cientistas começaram a
108 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
vs´ = vs + vf,
Albert Einstein
Comportamento semelhante se esperaria das ondas luminosas. O ex-
(1876-1955)
perimento mencionado deveria registrar velocidades diferentes para os dois
sentidos de propagação dos raios de luz. Não foi o que aconteceu. As velo-
cidades obtidas foram rigorosamente as mesmas. Era como se a Terra não
estivesse em movimento em relação ao éter. Sabemos, evidentemente, que
nosso planeta executa um movimento de translação em torno do Sol. Outras
explicações para esse resultado negativo foram dadas, do tipo que a Terra ar-
rastava o éter consigo no seu movimento de translação, mais ou menos como
um automóvel fechado correndo na estrada leva consigo o ar que está no seu
interior. Nenhuma dessas explicações pareceu satisfatória.
No ano de 1905, um jovem de 26 anos e funcionário de um escritório
de registro de patentes localizado na cidade suíça de Berna, em suas horas
vagas dedicadas aos estudos de Física, resolveu adotar uma atitude aparen-
temente mais cômoda em relação à idéia do éter: simplesmente considerar
que ele não existia. O nome do jovem? Albert Einstein. Ele questionou que,
se ninguém havia conseguido detectar o éter, apesar dos inúmeros esforços,
para quê insistir em sua busca? Bastava ignorá-lo. Solução simples, mas de
conseqüências avassaladoras para a Física.
No artigo científico escrito naquele ano miraculoso (quando ele redigiu
e publicou outros quatro artigos revolucionários, incluindo aquele que lhe
daria o prêmio Nobel em 1921 sobre o efeito fotoelétrico), intitulado “Sobre
a Eletrodinâmica dos Corpos em Movimento”, Einstein considerou que se
uma onda eletromagnética propaga-se no vácuo com a velocidade da luz - e
essa é uma consequência direta das leis da Eletricidade e do Magnetismo,
Pesquise e disserte sobre
tal como formuladas por Maxwell - então tais leis devem ter um caráter ab- as outras contribuições
soluto, isto é, não devem depender do referencial inercial escolhido para sua de Albert Einstein, além
observação, no mesmo sentido em que, para Galileu, as Leis da Mecânica das teorias da relatividade
também eram invariantes. e da teoria do efeito
fotoelétrico, para a Física.
Einstein via nas leis do eletromagnetismo aspectos fundamentais, mais Promova uma discussão
ainda do que nas leis da Mecânica, pois aquelas eram capazes de explicar com seus colegas a
uma quantidade expressiva de fenômenos, inclusive óticos, por meio de pou- respeito de qual de suas
descobertas teria sido a
cos princípios e leis estabelecidas experimentalmente, codificadas em uma mais importante.
110 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
de espaço e de tempo têm de se modificar de tal modo que sua razão per-
maneça constante, ao se passar de um referencial inercial para outro. Isto é
totalmente inconcebível no âmbito da Cinemática de Galileu-Newton, uma vez
que nela o tempo e o espaço são absolutos, e, portanto, seus intervalos não
podem mudar de acordo com o referencial.
A relatividade do tempo, por exemplo, fica patente quando se analisa
em detalhe o conceito de simultaneidade. Dois eventos A e B são conside-
rados simultâneos quando ocorrem em pontos diferentes do espaço e em
um mesmo instante de tempo, quando este é medido em relação a um dado
referencial. Um observador situado em outro referencial inercial poderá, con-
tudo, verificar que o evento A, por exemplo, ocorre antes do evento B. Isso
se passa devido ao fato de a velocidade da luz ser a mesma para ambos os
referenciais, de acordo com o segundo postulado, de modo que o registro
desses eventos por parte do segundo observador se dará em instantes de
tempo diferentes. Com efeito, este observador se desloca com determinada
velocidade em relação ao primeiro, e, assim, os raios de luz que partem de
cada um dos eventos levarão tempos diferentes para chegar aos seus olhos
ou detectores. Evidentemente que essa relatividade da simultaneidade não
existe na Mecânica de Galileu-Newton.
Outra consequência do caráter não absoluto do tempo para as leis da
Cinemática relativística é que dois eventos ocorridos em um mesmo ponto do
espaço e em instantes de tempo diferentes, relativamente a um referencial,
ocorrerão em pontos distintos, conforme assinalados em outros referenciais
inerciais. Até aí, tudo bem, isso também se dá na Mecânica de Galileu-Newton.
Iniciamos e terminamos nosso almoço no mesmo lugar do vagão-restaurante
de um trem em movimento, mas, para alguém do lado de fora, situado na pla-
taforma da estação, esses momentos ocorrerão em lugares diferentes, uma
vez que estamos nos deslocando com determinada velocidade.
A questão é que a duração do almoço terá medidas diferentes de acor-
do com cada observador, situados no trem e na plataforma. O observador na
estação medirá um tempo de refeição maior do que aquele marcado em nos-
sos relógios, tempo este designado por intervalo de tempo próprio. Esse é o
chamado fenômeno da dilatação temporal, e não há análogo na teoria clás-
sica da Mecânica formulada a partir de Galileu e Newton. Ou seja, na Relati-
vidade de Einstein o tempo flui de forma diferente para distintos observadores
que se desloquem relativamente uns aos outros com velocidade constante.
Podemos dizer, assim, que não existe um tempo universal, que seja válido
para todos os referenciais inerciais e seus observadores.
112 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
E = mc2, (4.3)
pode ser aproximada por um corpo negro, e a maior parte da energia emitida
pelo Sol concentra-se na região do amarelo, correspondente a uma tempera-
tura superficial de cerca de 5.500 K. Observa-se também que esse astro emite
radiação eletromagnética em quantidades significativas na forma de ondas ul-
travioleta, altamente ionizantes, daí o cuidado que temos de tomar com a pele
em dias ensolarados. Também há emissão de ondas que vão desde a faixa
do rádio e microondas até os raios X e gama, mas em diminutas quantidades.
O gráfico abaixo mostra o comportamento da radiação emitida por um
corpo negro. No eixo vertical temos a intensidade espectral (potência irradiada
por m2 por micrômetro de comprimento de onda) e no eixo horizontal, o com-
primento de onda correspondente, em micrômetros, cuja unidade equivale a
10-6 m. Para cada temperatura existe uma curva diferente. Note que à medida
que a temperatura aumenta, o máximo de radiação incide sobre comprimen-
tos de onda mais curtos.
Fig. 4.7 - Gráfico da radiação eletromagnética emitida por corpos negros a diferentes
temperaturas
Assim, no final do século XIX, tinham-se acumulado informações sufi-
cientes, colhidas experimentalmente através de vários laboratórios europeus,
a respeito de como o corpo negro emite radiação eletromagnética, e os grá-
ficos acima eram bem conhecidos. O problema era explicar teoricamente as
curvas obtidas. Juntar a ciência da Termodinâmica com a do Eletromagnetis-
mo era importante para esse propósito, e cada uma dessas áreas de pesquisa
estava bastante desenvolvida, ambas bem assentadas em seus respectivos
122 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
fóton era transferida para o elétron, de modo que aquele saía com um compri-
mento de onda mais longo, espalhado em uma direção formando certo ângulo
em relação à direção do elétron ejetado. Esse tratamento teórico explicava bas-
tante bem os resultados encontrados experimentalmente, e a existência da luz
como partícula – o fóton – ficou inequivocamente demonstrada.
Fótons: existia uma grande diferença entre os quanta de Einstein e
os de Planck. Enquanto para este último tais pacotes mínimos de energia se
manifestavam apenas no processo de interação da radiação com a matéria,
para Einstein a própria radiação eletromagnética era por eles constituída. Es-
tes “grãos” ou partículas de radiação eletromagnética foram chamados pos-
teriormente de fótons. Assim, Einstein evidenciou um aspecto que deixou a
comunidade científica bastante desconcertada: a luz exibia propriedades on-
dulatórias e corpusculares! Com efeito, ela se comportava como ondas, como
nos fenômenos de interferência e difração, e como partículas, como no efeito
fotoelétrico e no chamado efeito Compton. Tudo dependia do experimento
que se fizesse. Esta característica ambígua da luz foi denominada dualidade.
Mas nada melhor do que a experiência para decidir sobre qual dos mo-
delos era o que representava melhor a realidade. Foi quando entrou em cena
o físico britânico Ernest Rutherford, que a partir de 1909 planejou e orientou
um brilhante experimento para testar qual modelo seria o correto – se o de
Thomson ou o de Nagaoka. O arranjo experimental concebido por Rutherford
consistia em disparar raios alfa – partículas de carga positiva altamente ener-
géticas provenientes de decaimentos radioativos de átomos pesados – contra
finas folhas de ouro, que é um metal de grande densidade, isto é, com uma
grande concentração de átomos. As referidas folhas eram tão finas que che-
gavam a ser transparentes, de tal modo que houvesse pouquíssimos átomos
ao longo de sua espessura. O que se verificou foi uma enorme surpresa. Mui-
tas daquelas partículas, na verdade a maior parte, atravessava a folha como
se nada existisse em seu caminho, como se ela fosse feita apenas de espa-
ços vazios! Algumas sofriam pequenos desvios de trajetória ao atravessá-la e
muito poucas sofriam desvios acentuados. Raríssimas, entretanto, apresen-
tavam um ângulo de desvio próximo a 180o, ou seja, praticamente ricochete-
avam para trás, como se tivessem se chocado com algo extremamente duro
dentro da folha de ouro! Então Rutherford realizou alguns cálculos e mostrou
que esse comportamento das partículas alfa disparadas não era condizente
com o modelo de Thomson. Se este fosse correto, quase todas as partículas
alfa sofreriam algum desvio, embora que pouco acentuado. E a probabilidade
de uma sofrer um recuo, como observado, seria virtualmente zero!
Saiba mais
O Princípio da Incerteza no Eletromagnetismo Clássico
e o Vácuo Quântico
O Princípio da Incerteza de Heisenberg foi inicialmente aplicado a partículas como
elétrons. Mas ele também pode ser aplicado a campos, como o elétrico e o magné-
tico, entidades físicas que funcionariam como os pares de variáveis dinâmicas das
partículas relacionados pelo referido princípio. A esses campos estariam associadas
incertezas em suas medidas, igualmente relacionadas por uma desigualdade. Existe
uma semelhança formal entre a energia de um oscilador harmônico simples (OSH) e a
densidade energética dos campos eletromagnéticos. No primeiro caso, aplicando-se o
Princípio da Incerteza e minimizando-se a energia do sistema, encontra-se a chamada
energia do ponto zero E = (½)hf por modo de oscilação, já encontrada por Schrödinger
ao resolver sua equação para o OSH quântico, onde h é a constante de Planck e f a
freqüência. Fazendo uma inversão no método, é possível extrair um Princípio da Incer-
teza válido para os campos, considerando que o valor mínimo da energia é o mesmo
encontrado para o oscilador harmônico, já que os campos podem ser vistos de certo
modo como um conjunto de osciladores. Daí pode-se mostrar que é impossível a eli-
minação completa desses campos em uma dada região do espaço, pois isso implicaria
que seriam perfeitamente determinados, violando o referido princípio. Esse aspecto
daria origem ao chamado vácuo quântico e suas manifestações físicas, como o Efeito
Casimir, no qual placas metálicas paralelas descarregadas, situadas em uma região
de vácuo, atraem-se com uma força inversamente proporcional à quarta potência da
separação entre as mesmas.
134 Célio Rodrigues Muniz | Lázara Silveira Castrillo
Referências
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CHAVES, ALAOR: Física Vols 1, 2, 3 e 4: Reichmann & Affonso Editores; São
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FEYNMAN, LEIGHTON & SANDS: Lições de Física - Volume 1, Editora
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HALLIDAY-RESNICK-WALKER Fundamentos de Física vols. I, II, III e IV.
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HAWKING, S. Os Gênios da Ciência – Sobre o Ombro de Gigantes – 2ª.
Edição, Editora Campus-Elsevier, Rio de Janeiro, 2005.
HEWITT, PAUL G.: Física Conceitual , 9ª. Edição, Editora Bookman, Porto
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NUSSENZVEIG, H.M. Curso de Física Básica vols. 1, 2, 3 e 4. Edgard
Blücher Ltda., São Paulo, 1997.
PERELMAN, J. Aprenda Física Brincando, Hemus Livraria Editora Ltda.,
São Paulo, 1970
ROCHA, JOSÉ F. (org).: Origem e Evolução das Idéias da Física, Editora
da UFBA, Salvador, 2002
Introdução a Física 135
Sobre os autores
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.