Capitulo 5

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 30

5

Gêneros textuais e
tipos de textos

Após conhecer a forma de estruturar os parágrafos de


modo claro, objetivo e lógico, o passo seguinte é produzi-los com
intuito de escrever um texto de acordo com um determinado
modelo adequado a cada uma das situações sociais nas quais inte-
ragimos com a linguagem e que se chama gênero textual.
Leitura e Escrita na Era Digital

É a linguagem que se inscreve por meio do texto como sistema


mediador de todos os discursos para trocas materiais e culturais de infor-
mações e, depois, para a construção de conhecimentos. Por este motivo,
torna-se relevante e necessário o correto uso dos diferentes gêneros tex-
tuais, seja para declarar e negociar mediando ações sobre o mundo, seja
para persua­d ir os outros de nossas ideias, seja para representar e avaliar
as relações humanas, fazendo-se indispensável um letramento adequado
ao contexto contemporâneo.

5.1 Gênero textual, tipo textual


e gênero discursivo
Os gêneros foram discutidos e estudados na Grécia Antiga (384-322
a.C.) por vários filósofos. Aristóteles, discípulo de Platão, na obra Arte Poé-
tica, classificou em lírico, dramático e épico os gêneros literários. É desse
período a distinção das obras em poesia e prosa.
Para compreendermos melhor a questão do gênero neste momento, é
importante relembrar que toda manifestação literária é fruto resultante da
visão do homem de acordo com o mundo que o rodeia, que diz respeito ao
conteúdo, ou seja, ao produto artístico em si, materializado por meio de uma
técnica e com uma estilística própria que lhe dá a forma.
Portanto, para se escrever um texto sobre qualquer situação vivida,
existe a necessidade de se decidir se ela será narrada, descrita, se irá rea-
lizar uma reflexão teórica sobre o fato ou se tentará convencer o leitor
sobre o ponto de vista adotado ao apresentar o fato. Tem-se, desta forma,
a possibilidade de uma narração, uma descrição e uma dissertação expo-
sitiva ou argumentativa.
Na sequência, deve-se pensar se a pessoa a ser utilizada no discurso é
a primeira pessoa do plural (eu/nós) ou singular, o que dá a ideia de partici-
pação da pessoa que escreve o texto; ou será em terceira pessoa (ele). Outra
escolha diz respeito ao grau de linguagem a ser adotado – objetivo, subjetivo,
formal, informal ou coloquial. Tal decisão vai interferir na estrutura da frase,
na escolha do vocabulário e na forma de como se dirigir ao leitor, fatores que

–  84  –
Gêneros textuais e tipos de textos

definirão o modo de recepção do texto por aqueles que o leem. Todas essas
atividades dizem respeito ao gênero de texto que se vai produzir.
Na atualidade, a questão do gênero passou a ser discutida no meio lin-
guístico e deixou de ser exclusivo do meio literário. Bakhtin (1997, p. 279)
assevera que:
A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados
(orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos inte-
grantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O
enunciado reflete as condições específicas e as finalidades
de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temá-
tico) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos
recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gra-
maticais –, mas também, e sobretudo, por sua construção
composicional. Estes três elementos (conteúdo temático,
estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvel-
mente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer
enunciado considerado isoladamente é, claro, individual,
mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denomi-
namos gêneros do discurso.

A variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos estra-


tos e dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode rela-
cionar-se de diferentes maneiras com a língua comum. Saber o que na língua
cabe respectivamente ao uso corrente e ao indivíduo é justamente problema
do enunciado (apenas no enunciado a língua comum encarna-se numa forma
individual). A definição de um estilo em geral e de um estilo individual em
particular requer um estudo aprofundado da natureza do enunciado e da
diversidade dos gêneros do discurso.
Bakhtin optou por dividir os gêneros em dois tipos: o gênero primário
(simples) e o gênero secundário (complexo). Primários são os gêneros usa-
dos em comunicação verbal espontânea, como diálogos em família, reuniões
informais, oralidade de um modo geral. Os secundários fazem uso de uma
linguagem mais elaborada, normalmente escrita, para situações de comuni-
cações formais. O que diferencia um do outro é o grau de complexidade e
elaboração que cada um exige, dependendo, como já vimos, em que esfera
de atuação e práticas sociais nas quais está sendo utilizado o gênero. Com o

–  85  –
Leitura e Escrita na Era Digital

surgimento da internet e a nova forma de comunicação virtual – o ciber ou


hiper espaço –, nasce o chamado gênero terciário, que se refere aos gêneros
adotados para comunicação digital.
Todos os gêneros interessam, uma vez que, numa sociedade letrada, ler
e escrever são atos necessários a todo momento, no entanto, aqui serão tra-
tados apenas alguns gêneros.

5.2 Modos discursivos


Um texto pode ser classificado de acordo com a forma como a ideia é
organizada discursivamente. São os chamados “modos discursivos”, que, nor-
malmente, mesclam-se e podem estar presentes em vários tipos de textos
(SERAFINI, 1991).
Os modos discursivos presentes nos gêneros textuais são destacados
a seguir.

5.2.1 Narração
Apresenta episódios e acontecimentos costurados por uma evolução
cronológica das ações. Essas ações são vistas sob determinada lógica e cons-
troem uma história transmitida por um narrador. No texto narrativo, há
sempre presente quem, quando, onde e como.
Observe o exemplo a seguir.

Tragédia brasileira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conhe-
ceu Maria Elvira na Lapa, prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,
uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael
tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando
Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namo-
rado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma
facada. Não fez nada disso: mudou de casa.

–  86  –
Gêneros textuais e tipos de textos

Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava
namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Está-
cio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso,
Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do
Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de senti-
dos e inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la
caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul (BANDEIRA,
1991, p. 27).

Analisando pelos quesitos próprios da narração, identificamos:


2 Quem? Misael e Maia Elvira.
2 Quando? Tempo indeterminado, pode ser a qualquer tempo.
2 Onde? Bairros do Rio de Janeiro.
2 Como? Encontro, casamento, mudanças e morte.

5.2.2 Descrição
Apresenta objetos, pessoas, lugares e sentimentos, utilizando deta-
lhes concretos. Evidencia a percepção que o autor tem dos objetos e dos
sentimentos através dos cinco sentidos. É a fotografia verbal dos fatos ou
dados apresentados.
Leia, como exemplo, o texto destacado a seguir.

Darcy Ribeiro
Um dos mais brilhantes cidadãos brasileiros, Darcy Ribeiro pro-
vou ao mundo que um homem de nada mais precisa além da coragem
e da força de vontade para modificar aquilo que, por covardia, sim-
plesmente ignoramos. Ouvi-lo, mesmo que por alguns instantes, nos

–  87  –
Leitura e Escrita na Era Digital

levava a conhecer sua sabedoria e simplicidade. Era um verdadeiro


intelectual cuja convivência com os índios o fez adquirir invejável for-
mação humanística.
Darcy tinha a pele clara, olhos negros e curiosos, lábios finos e
trazia em seu rosto marcas de quem já deixou sua marca na história,
as quais harmoniosamente faziam-lhe inspirar profunda confiança.
Apesar de diabético e lutar contra dois cânceres, não fez disso des-
culpa para o comodismo ante seus ideais maiores, ele sabia o que que-
ria, e não mediu esforços para conseguir.
Com seu espírito jovem e obstinado, Darcy Ribeiro estava sem-
pre aprendendo e ensinando, ele sabia como ninguém pensar com
serenidade e defender aquilo em que acreditava, porém era realista o
suficiente para não se perder em “devaneios utópicos”.
Acima de tudo, ele amava as crianças do Brasil, e em nome
dessas fundou os CIEPs, no Rio de Janeiro, tendo também parti-
cipação fundamental na criação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação. Seus esforços foram reconhecidos internacionalmente,
valendo-lhe prêmios e homenagens por instituições de diversos
países. Devido ao seu carisma, destacou-se como etnólogo, antro-
pólogo, político, educador, escritor e historiador, tendo vários
livros publicados.
Mais que uma sucessão interminável de adjetivos pomposos,
Darcy Ribeiro representou um exemplo a ser seguido por qualquer
um que tenha a consciência de seu dever para com a sociedade a que
pertence. Portanto, homenageá-lo é dever de cada brasileiro.

Neste texto, André Luiz Diniz Costa faz uma descrição geral de
Darcy Ribeiro, exaltando suas qualidades de homem e de intelectual. No
primeiro parágrafo do desenvolvimento suas características físicas é que
são apresentadas. No terceiro e quarto parágrafos, os aspectos psicológicos
são mostrados. Na conclusão, reafirma a descrição com novos atributos de
caráter geral.

–  88  –
Gêneros textuais e tipos de textos

5.2.3 Dissertação
Apresenta ou explica ideias, esclarecendo-as, organizando-as, confron-
tando-as, definindo-as sem, no entanto, tomar uma posição com relação a
elas. É uma exposição. Veja o texto a seguir.

Mercado brasileiro de livros cresce e já aparece


como 9º no mundo
Até então “protegido” pela língua nacional, o mercado editorial
brasileiro atingiu tamanho de gente grande e começa a atrair impor-
tantes grupos internacionais.
Com R$ 6,2 bilhões de faturamento e 469,5 milhões exempla-
res vendidos, o Brasil é o nono maior mercado editorial do mundo,
segundo estudo recém-publicado da Associação Internacional dos
Editores (IPA, na sigla em inglês).
É o primeiro estudo que traz a movimentação total do mercado
nacional, considerando o preço pago pelo consumidor. O faturamento
das editoras, medido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foi de
R$ 4,8 bilhões em 2011.
A compra de 45% da Companhia das Letras pela britânica Pen-
guin no final de 2011 foi o início de um movimento que deve se inten-
sificar, avalia o consultor Carlo Carrenho, do site PublishNews.
Diferentemente do que acontece em setores como meios de
comunicação, não há impedimento para a entrada de estrangeiros no
mercado editorial. Os espanhóis já estão no país há alguns anos e a
portuguesa LeYa comprou a Casa da Palavra no ano passado. [...]

BARBOSA, M. Mercado brasileiro de livros cresce e já


aparece como 9º no mundo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 3 nov. 2012.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1178540-merca-
do-brasileiro-de-livros-cresce-e-ja-aparece-como-9-no-mundo.shtml>.
Acesso em: 24 nov. 2012.

–  89  –
Leitura e Escrita na Era Digital

5.2.4 Argumentação
Apresenta fatos, problemas, raciocínios que fundamentarão, sustenta-
rão a tese defendida, ou seja, o ponto de vista assumido na argumentação
em uma opinião. Argumentar significa provar, demonstrar ou defender um
ponto de vista particular sobre determinado assunto (KÖCHE, 2008).
Para uma boa argumentação, o produtor do texto pode se servir de dife-
rentes tipos de argumentos, entre os quais destacamos alguns a seguir.
2 Argumento de autoridade
Consiste no uso de citações de conceitos de autores renomados e
de autoridades em alguma das áreas do saber (educadores, filóso-
fos, físicos, administradores, economistas), servem para reforçar,
fundamentar uma ideia, uma tese, um ponto de vista. Este tipo
de argumento torna o texto mais consistente à medida que outras
vozes reforçam o que o autor do texto está dizendo.
2 Argumento baseado no consenso, com exemplos
O uso de exemplos conhecidos e aceitos desperta a familiaridade
do leitor com o tema, conquistando a sua adesão e tornando o
texto mais fácil de ser compreendido.
2 Argumento baseado em provas concretas
As provas concretas são argumentos de difícil contestação porque
dão concretude ao discurso. Destacam-se os dados estatísticos, os
relatos de fatos, exemplos e ilustrações retirados, inclusive, da his-
tória universal, que apresentam detalhes, são longos, minuciosos e
reforçam as informações abstratas dos conceitos.
2 Argumento lógico
Este tipo de argumento faz-se pelo raciocínio. É um conjunto
de enunciados que estão relacionados uns com os outros de tal
forma que enquanto um apresenta uma tese, os demais enun-
ciados são justificativas ou premissas para a conclusão (TOUL-
MIN, 2006).

–  90  –
Gêneros textuais e tipos de textos

A favor dos videogames


O cérebro humano é um órgão que absorve quase 25% da glicose
que consumimos e 20% do oxigênio que respiramos. Carregar neurô-
nios ou sinapses que interligam os neurônios em demasia é uma des-
vantagem evolutiva, e não uma vantagem, como se costuma afirmar.
Todos nós nascemos com muito mais sinapses do que precisa-
mos. Aqueles que crescem em ambientes seguros e tranquilos vão
perdendo essas sinapses, que acabam não se conectando entre si,
fenômeno chamado de regressão sináptica.
Portanto, toda criança nasce com inteligência, mas aquelas que
não a usam vão perdendo-a com o tempo. Por isso, menino de rua
é mais esperto do que filho de classe média que fica tranquilamente
assistindo às aulas de um professor. Estimular o cérebro da criança
desde cedo é uma das tarefas mais importantes de toda mãe e todo
pai modernos.
Sempre fui a favor de videogames, considerados uma praga pela
maioria dos educadores e pedagogos. Só que bons videogames impe-
dem a regressão sináptica, porque enganam o cérebro fazendo-o achar
que seus filhos nasceram num ambiente hostil e perigoso, sinal de que
vão precisar de todas as sinapses disponíveis. O truque é encontrar
bons jogos, mas não é tarefa impossível.
O primeiro videogame que comprei para meus filhos foi o famoso
SimCity, um jogo em que você é o prefeito de uma pequena vila, e,
dependendo de suas decisões, ela pode se tornar uma megalópole ou
não. Se você for um péssimo prefeito, a população se mudará para a
cidade vizinha, e fim do jogo. Em vez de eleger prefeitos, seria muito
melhor se empossássemos o vencedor do campeonato de SimCity em
cada cidade.
Um dia eu estava brincando de “prefeito” quando meus filhos de
11 e 13 anos de idade, analisando meu “planejamento urbano” inicial,
balançaram a cabeça em desaprovação: “Tsc, tsc, tsc. Pai, daqui a cin-
quenta anos você vai dar com os burros n’água”. Eu, literalmente, caí
da cadeira.

–  91  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Quantos de nós, aos 11 anos, tínhamos consciência de que atos


feitos na época poderiam ter consequências nefastas cinquenta
anos depois? Quantos de nós pensaríamos em prever um futuro
para dali a cinquenta anos?
A lição que me deram com o famoso videogame Mario Bro-
thers foi ainda melhor. Não tendo a paciência de meus filhos, eu
vivia cortando caminho pelos vários atalhos existentes no jogo,
quando novamente me deram o seguinte conselho: “Não se podem
queimar etapas, senão você não adquire a experiência e a compe-
tência necessárias para as situações mais difíceis que estão por vir”.
A frase não foi exatamente essa, mas foi o suficiente para me deixar
com os cabelos em pé. Dois garotos estavam me ensinando que cada
etapa da vida tem seu tempo e aprendizado, e nela não se pode ser
um apressado.
No jogo Médico, as crianças aprendem a fazer um diagnóstico
diferencial, a pior das alternativas sendo uma apendicite. Nesses
casos, elas têm de operar “virtualmente” o paciente seguindo con-
dutas médicas corretas. Um dos procedimentos é a assepsia da pele,
e ai de quem não escovar o peito do paciente, com o mouse nesse
caso, por três minutos, o que é uma eternidade num videogame e
para uma criança. Quem gasta menos do que isso é sumariamente
expulso do hospital por erro médico. Que matéria ou professor
ensina esse tipo de autodisciplina?
Em A-Train, o jogador é um administrador de empresa fer-
roviária. A criança tem de investir enormes somas colocando tri-
lhos e locomotivas sem contar com muitos passageiros no início
das operações. Aprende-se logo cedo que uma empresa começa
com prejuízo social e tem de ter recursos para suportar os vários
anos deficitários.
Aos 12 anos, meus filhos já tinham noção de que os primeiros
anos de um negócio são os mais difíceis, e controlar o capital de
giro é essencial. Avaliar riscos e administrar o capital de giro, nem
grandes empresários sabem fazer isso até hoje.

–  92  –
Gêneros textuais e tipos de textos

Como em tudo na vida, é necessário ter moderação nas horas


devotadas ao videogame. Mas ele é uma ótima forma de estimular o
cérebro da criança e impedir sua regressão sináptica, além de ensinar
planejamento, paciência, disciplina e raciocínio, algo que nem sempre
se aprende numa sala de aula.
KANITZ, S. A favor dos videogames. Veja. São Paulo: Abril,
ano 38, n. 41, p. 22, out. 2005. © Editora Abril.

Podemos notar neste texto argumentativo que a tese do autor é apresen-


tada no título “a favor dos vídeos games”: para defendê-la o autor faz citações
da fala de seus filhos, usa exemplo de jogos considerados por ele de qualidade.
Uma concepção científica para sua argumentação já é apresentada nos pará-
grafos iniciais quando diz “O cérebro humano é um órgão que absorve quase
25% da glicose que consumimos e 20% do oxigênio que respiramos. Carregar
neurônios ou sinapses que interligam os neurônios em demasia é uma des-
vantagem evolutiva, e não uma vantagem, como se costuma afirmar”.

5.3 Gêneros textuais e práticas sociais


Os gêneros textuais são modelos comunicativos e fazem parte de nosso
cotidiano. São orais e escritos e nos conduzem no processo comunicativo
social. Desde a conversa com o vizinho até o relatório da última reunião, esta-
mos exercitando gêneros textuais. Para cada situação vivida há necessidade
de conhecimento de um determinado gênero. Se vamos à missa, o gênero
utilizado é o religioso, se vamos a um jogo de futebol, o gênero é esportivo, se
vamos a uma exposição, o gênero é estético e assim por diante.
Na área acadêmica, educacional e empresarial a comunicação deve ser
redigida em linguagem apropriada ao contexto e à técnica, com característi-
cas próprias dos gêneros dessas áreas.
Existem gêneros para todas as situações comunicativas. Entre eles, des-
tacamos alguns.

–  93  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Os enumerativos servem para lembrar e transmitir dados. São eles:


listas de compras, etiquetas, horários, guias, formulários, impressos oficiais,
índices, enciclopédias, menus, agenda, tarefas pendentes, cadernos de notas,
listas de material, diário pessoal ou escolar, cartazes, catálogos, arquivos.
Os informativos servem para compreender ou comunicar as carac-
terísticas principais de um tema. Destacam-se cartas, telegramas, notas e
avisos, notícias, reportagens, convites, entrevistas, correspondência, anún-
cios, artigos e reportagens, folhetos, artigos de divulgação, jornais, revistas,
propagandas, etc.
Os prescritivos são utilizados para dar instruções: escolares, receitas
culinárias, regulamentos, códigos, normas de jogos, de comportamento, ins-
truções para a realização de trabalhos, manuais, etc.
Os expositivos e argumentativos são usados para estudar, comparti-
lhar e discutir conhecimentos através de um estudo mais aprofundado. São
resenhas, relatórios, livro-texto escolar, divulgação, apontamentos, exercí-
cios, informes, artigos científicos, biografia, preparação de exposições orais
e conferências, ensaios, etc.
Os literários servem para induzir no leitor sentimentos e emoções
especiais, para momentos de diversão, comunicar fantasias, transmitir
valores culturais, sociais e morais. Destacam-se contos, narrações, len-
das, poemas, canções, adivinhações, teatro, histórias em quadrinhos, gibis,
entre outros.
É importante ressaltar que os modos discursivos de descrição, narra-
ção, exposição ou argumentação estudados podem ser utilizados nos dife-
rentes gêneros.
Há alguns gêneros que são importantes em todas as áreas profissionais,
como: relatório, ata, currículo, carta comercial e oficial, ofício, ensaio, artigo
acadêmico e análise crítica.
O relatório e a ata têm como modo discursivo a narração, auxiliada
pela descrição. O currículo é descritivo. Já na carta, no ofício, no ensaio, no
artigo acadêmico e na análise crítica, o modo discursivo em evidência é o
dissertativo opinativo ou argumentativo.

–  94  –
Gêneros textuais e tipos de textos

Na sequência serão apresentados modelos destes gêneros fundamentais


para sua prática profissional e educacional.

5.3.1 Relatório
É um gênero utilizado em muitas situações práticas e sociais, uma vez
que se tem que prestar contas das atividades realizadas, ou na família, oral-
mente, para comunicar nossos atos. Portanto, relatar é escrever, para alguém
ausente, os acontecimentos, fatos ou discussões ocorridos em um determi-
nado local, descrevendo, narrando e, muitas vezes, dissertando.
A estrutura do relatório vai depender do espaço social no qual ele será
produzido, quais os objetivos a que ele deve atender. Do mesmo modo, o grau
de formalidade ou informalidade da estrutura linguística a ser seguida.
No meio escolar o professor deve produzir relatório de notas, relatório de
avaliação descritiva nas séries iniciais. Os alunos podem ser chamados a pro-
duzir relatório de visitas a exposições, viagens, prática e estágio. Já no mundo
corporativo, os relatórios estão relacionados com custos, despesas, lucros.
Quanto à estrutura, este gênero classifica-se em formal, informal e
semi-informal (FLÔRES, 1994).
2 Relatório formal: é rigoroso na forma de apresentação e estru-
tura, seguindo todas as normas de um trabalho técnico. É extenso,
contendo mais de 15 páginas, e o assunto é tratado com muita pro-
fundidade. Os relatórios de estágio ou de término de curso entram
nesta categoria.
2 Relatório informal: trata de um único assunto, sua apresentação
é breve, é redigido em poucas páginas (uma ou duas), às vezes ape-
nas com um parágrafo, não exigindo cabeçalho nem título. Pode
ser manuscrito ou digitado. São exemplos de relatório informal o
memorando e a ­carta-relatório.
2 Relatório semi-informal: é identificado pela sua extensão, con-
tendo de 5 a 15 páginas, maior que o informal. Trata de assunto de
certa complexidade, exigindo pesquisa ou investigação. O relató-
rio de visita, com objetivo predeterminado, é um exemplo de rela-
tório semi-informal.

–  95  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Quanto à maneira de tratar o assunto, os relatórios podem ser classi-


ficados em informativo e analítico.
2 Relatório informativo: transmite informações sem se preocupar
em avaliar ou analisar e não faz recomendações. É pouco extenso e
apresenta-se informal e semi-informalmente. Subdivide-se em rela-
tório de progresso, relatório de posição e relatório narrativo.
2 Relatório informativo de progresso: relata modificações ocor-
ridas em determinadas condições e durante um tempo. Pode
ser de dois tipos:

1. relatório informativo de progresso periódico – relata


determinada atividade num período de tempo fixo (anual,
mensal, semanal);

2. relatório informativo de progresso até determinada data –


o assunto tratado pode ter maior complexidade, tornando-o
longo, podendo ser superior a um ano, e tem como finalidade
relatar o histórico do progresso de um projeto até determi-
nada data. Não faz recomendações.
2 Relatório informativo de posição: descreve ocorrência ou fatos
num momento temporal, ou seja, numa data estabelecida. Neste
tipo de relatório não há análise, avaliação ou recomendação.
2 Relatório informativo narrativo (ou de viagem, estágio ou
administrativo): relata a história de ocorrências ou eventos sem
tempo limitado, não se preocupando em oferecer recomendações:

1. relatório de viagem – na introdução é importante colocar a


data, o destino e o objetivo da viagem. No desenvolvimento
designam-se os membros participantes, suas funções, os luga-
res visitados e os objetivos alcançados. Se houver roteiro, pro-
grama, deve-se inclui-lo. Na conclusão faz-se uma crítica com
relação aos resultados alcançados;

–  96  –
Gêneros textuais e tipos de textos

2. relatório de estágio ou de visita – apresentação na qual é


colocado o objetivo do estágio ou visita. No desenvolvimento,
devem estar presentes a descrição do local do estágio, as ativi-
dades desenvolvidas e as técnicas aplicadas. Por fim, uma con-
clusão, destacando o aproveitamento do estágio ou da visita;
3. relatório administrativo – possui objetivo preestabelecido
e bem definido. Em geral, é utilizado quando há julgamento
de determinados processos com fins administrativos em
empresas, instituições de ensino e outros, ou quando são
feitos estudos em determinadas áreas ou departamentos,
os quais exigem alguma reformulação ou acerto em termos
curriculares, pessoal-profissional, ou administrativo.
2 Relatório analítico: objetiva analisar os fatos ou as observações
obtidas e apresenta conclusões e recomendações. Os relatórios
analíticos dividem-se em três formatos:
1. relatório analítico para solucionar problemas – dimensionar os
problemas para que sejam analisados sem a preocupação de busca
científica para solucioná-los;
2. relatório analítico pessoal (ou de proposição, ou consulta) –
tem como finalidade apresentar sugestões ou recomendar alguma
melhoria, mostrando objetivamente os dados que favorecem essa
mudança, observando o tempo atual ou um tempo futuro;
3. relatório analítico de pesquisa – descreve experiências científicas
que estão sendo feitas por pesquisadores. Há subdivisões de relató-
rio de pesquisa, a básica, que é um caminho a ser seguido em vista
de um determinado resultado, tendo conclusão e recomendação
devido a resultados evidentes, e a aplicada, que irá descrever os
meios de como empregar um produto novo ou uma nova técnica.
A linguagem do relatório deve primar pela clareza na exposição,
pela concisão, precisão e unidade. Pode-se escrever em 1ª pessoa do
plural, ou de modo impessoal, na 3ª pessoa. Observe o modelo de rela-

–  97  –
Leitura e Escrita na Era Digital

tório a seguir, que está disponível no site da Fundação Universidade do


­Tocantins (­ Unitins).

O estágio supervisionado III – passo a passo


Este momento exige do estagiário o trabalho do relatório expan-
dido analítico-descritivo.
Aqui, cada componente irá sistematizar suas observações, cons-
truindo um relatório que será arquivado na pasta, no polo e será uti-
lizado, posteriormente, para a conclusão do Estágio.
Observação: cada integrante da equipe fará o seu relatório com
base nos dados observados, lembrando sempre que é preciso ter obje-
tividade e imparcialidade. Para elaborar o relatório analítico-expan-
dido, vocês irão seguir o seguinte roteiro, lembrando que este relató-
rio deverá ser escrito individualmente e não deverá ser postado e,
sim, colocado em sua pasta no polo.
CAPA
2 Na parte superior da capa, centralizado, com letra maiúscula
deverá estar escrito:
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS/FACUL-
DADE EDUCACIONAL
DA LAPA
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – EAD
ESTÁGIO SUPERVISIONADO III
� No centro da folha, deverá estar o título do trabalho:
ESTÁGIO SUPERVISIONADO III – RELATÓRIO ANALÍ-
TICO-DESCRITIVO
EXPANDIDO DA OBSERVAÇÃO DA DOCÊNCIA NOS ANOS
INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
–  98  –
Gêneros textuais e tipos de textos

2 Embaixo (centralizado)
NOME DOS(AS) ACADÊMICOS(AS)
LOCAL – ANO/SEMESTRE
FOLHA DE ROSTO
2 Na parte superior (centralizado/maiúsculo)
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS/FACUL-
DADE EDUCACIONAL DA LAPA
CURSO DE PEDAGOGIA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO III
2 No centro:
TÍTULO DO TRABALHO
Abaixo do título, recuado à direita, com letra fonte 10, vai a nota
indicativa da natureza do trabalho, escrito:
Relatório analítico-descritivo expandido como exigência legal
do curso de pedagogia da Fundação Universidade do Tocantins/
Faculdade Educacional da Lapa.
� Embaixo da folha deverá constar o nome dos integrantes da
equipe, local, ano/semestre.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA/ANÁLISE DO ESPAÇO
ESCOLAR
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE A OBSERVAÇÃO
DA DOCÊNCIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDA-
MENTAL
3.1 Descrição, análise e interpretação da observação da docência no
1º ano
3.2 Descrição, análise e interpretação da observação da docência no
2º ano
–  99  –
Leitura e Escrita na Era Digital

3.3 Descrição, análise e interpretação da observação da docência no


3º ano
3.4 Descrição, análise e interpretação da observação da docência no
4º ano
3.5 Descrição, análise e interpretação da observação da docência do
5º ano
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
6. ANEXOS
PIENTA, A. C.; METZ, M. C. Orientações para o estágio
s­ upervisionado III. Observação da docência nos anos iniciais do ensino
fundamental. Disponível em: <http://www.unitins.br/pedagogia/arquivos/
estagio/4_periodo/OrientEstagio_4_periodo.pdf> Acesso em: 22 set. 2012.

5.3.2 Ata
A ata é o registro escrito de uma reunião, sessão, assembleia geral ordi-
nária ou extraordinária, que tem efeitos legais. Quando não houver necessi-
dade de formalidades legais, pode-se fazer apenas um relatório de reunião.
Uma ata deve ser escrita em um só parágrafo, os assuntos seguem em
ordem cronológica, com o verbo no pretérito perfeito do indicativo e os nume-
rais registrados por extenso. Não pode conter rasuras. Se houver algum erro e
for percebido, escreve-se a correção precedida da observação “em tempo”.
Para o seu registro deve haver um livro próprio, com páginas numera-
das e rubricadas por quem fez o “termo de abertura”.
São partes componentes da ata:
2 título;
2 introdução com data, local e hora;
2 registro dos presentes; composição da mesa; discriminação das
publicações relacionadas com a reunião, como relatórios, editais;
2 deliberações;

–  100  –
Gêneros textuais e tipos de textos

2 encerramento.

Ata da Assembleia Geral de Constituição


de Associação ou Sociedade Civil
Ao...........dia do mês de....................................do ano de...............,
às..............horas, reuniram-se, em Assembleia Geral, no ende-
reço.......................................................as pessoas a seguir relacio-
nadas: (nominar as pessoas, profissão, estado civil, endereço
residencial e número do CPF). Os membros presentes esco-
lheram, por aclamação, para presidir os trabalhos (nome de
membro)....................................., e para secretariar (nome mem-
bro).................................................. Em seguida, o Presidente declarou
abertos os trabalhos e apresentou a pauta de reunião, contendo
os seguintes assuntos: 1º) discussão e aprovação do Estatuto da
associação; 2º) escolha dos associados ou sócios que integrarão os
órgãos internos da associação; e 3º) designação de sede provisó-
ria da associação. Em seguida, começou-se a discussão do estatuto
apresentado que, após ter sido colocado em votação, foi aprovado
por unanimidade, com a seguinte redação: (transcrever redação
do estatuto aprovado); Passou-se, em seguida, ao item “2” da pauta,
em que foram escolhidos os seguintes membros para comporem os
órgãos internos: DIRETORIA EXECUTIVA: (nominar os mem-
bros, estado civil, profissão, endereço residencial, numero do CPF
e cargo). Por fim, passou-se à discussão do item “3” da pauta e foi
deliberado que a sede provisória da associação será no seguinte
endereço: (discriminar o endereço completo).
Nada mais havendo, o Presidente fez um resumo dos trabalhos
do dia, bem como das deliberações, agradeceu pela participação de
todos os presentes e deu por encerrada a reunião, da qual eu, (nome
do secretário da reunião), secretário ad hoc reunião, lavrei a presente
ata, que foi lida, achada conforme e firmada por todos os presentes
abaixo relacionados.

–  101  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Os órgãos internos apresentados são apenas sugestivos, ou seja,


não há obrigatoriedade de utilizarem-se as mesmas denominações.
Em regra, as funções de deliberação são exercidas por uma Assem-
bleia Geral, integrada por todos os associados ou sócios, porém, é per-
feitamente possível a existência de um segundo órgão de deliberação,
como, por exemplo, um Conselho Superior, com atribuições serão
fixadas no estatuto.
A ata deverá ser assinalada por todos os associados ou sócios
fundadores, que serão identificados pelo nome e número de CPF.
Fonte: BAHIA. Ministério Público. Ata da Assembleia Geral de
Constituição de Associação ou Sociedade Civil. Disponível em:
<http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/caocif/fundacoes/pecas/
modelo_ata.pdf>. Acesso em: 22 set. 2012.

5.3.3 Currículo ou curriculum vitae


É um texto de apresentação, no qual, por meio de informações sucin-
tas, o sujeito descreve as suas qualificações pessoais para submeter-se a
uma avaliação para um possível emprego. A linguagem deve ser extre-
mamente concisa, com observações objetivas a respeito da formação e
experiência profissionais rigorosamente verdadeiras. As partes devem
ser claramente destacadas e muito bem digitadas. Deve ser redigido em
terceira pessoa.

Nome Completo
[Endereço completo]. Telefone: [Telefone com DDD] – E-mail:
[E-mail]. Idade: [Idade] anos – estado civil: [estado civil].
Objetivo: [vaga ou oportunidade pretendida]

–  102  –
Gêneros textuais e tipos de textos

Formação acadêmica:
2 curso do ensino médio
2 curso profissionalizante ou técnico
2 curso superior
(data de início e término, escola e universidade)
Experiência profissional:
2 data de início e término
2 nome da empresa
2 cargo exercido
2 atividades realizadas
Qualificações e atividades complementares:
2 descrição de outros cursos realizados
2 descrição de atividade relevantes realizadas
Informações adicionais:
� tem algo de especial que ocorreu com você, como algum
prêmio, publicação de algum artigo, livro – descrever

5.3.4 Artigo acadêmico/científico


É um dos mais importantes textos, tanto para leitura quanto para a
escrita, para os universitários. Serve para divulgar e veicular conhecimen-
tos novos que já estão ou serão sistematizados em breve. Essencialmente, no
artigo, mostra-se um problema, discute-se a respeito e apresenta-se soluções.
Na sua construção, são usados os diferentes modos discursivos: narra-
ção, descrição, informação e argumentação. Os temas abordados são livres,
uma vez que se escreve tudo o que for de interesse de cada área e de todas as
áreas. É o conhecimento sendo construído.
Para produzir um artigo, é importante observar os seguintes passos:

–  103  –
Leitura e Escrita na Era Digital

1. seleção da bibliografia sobre o assunto;


2. delimitação do assunto;
3. elaboração da abordagem para análise do assunto;
4. elaboração do esquema de trabalho;
5. elaboração dos tópicos e da análise pessoal;
6. organização das anotações na ordem apresentada no esquema;
7. escolha do tempo verbal mais indicado para ser usado no artigo;
8. escrita da primeira versão do trabalho;
9. revisão da escrita;
10. submissão do artigo ao orientador ou a outra pessoa para avaliar a pro-
dução;
11. escrita da versão final.

A estrutura do artigo exige as seguintes partes:


1. identificação – nesse tópico, coloca-se o título do artigo, a autoria e a
titulação do autor;
2. resumo e palavras-chave – o resumo apresenta, de forma sintética, todos
os dados do artigo, tema, objetivos, metodologia e resultados. Antecede
o corpo do artigo. Abaixo do resumo são colocadas as palavras-chave;
3. corpo do artigo
a) situação-problema – apresenta o problema (o quê), os objetivos
(para que serviu). Nessa parte, que é a introdução, pode-se fazer
referências às partes que compõem o artigo, e, ainda, à sua funda-
mentação teórica.
b) discussão – é o desenvolvimento do artigo e pode ser dividida em
quantos itens forem necessários. Serão apresentadas todas as infor-
mações, referências aos autores consultados e o autor deve valer-se
de todos os argumentos para defender os resultados conseguidos.
c) solução/avaliação – caracteriza-se como a conclusão do artigo e
são ressaltados os resultados e/ou limites do estudo desenvolvido,
bem como, se possível, recomendações para novas descobertas.

–  104  –
Gêneros textuais e tipos de textos

O artigo possui, ainda, referências, anexos ou apêndices, se necessário,


e a data da produção.

Considerações Sobre as Faces das Desigualdades


Entre os Seres Humanos
Francisco Fernandes Ladeira
Especialista em: Brasil, Estado e Sociedade pela UFJF
E-mail: [email protected]
Resumo: O presente trabalho apresenta breves considerações sobre as
diversas faces das desigualdades entre os seres humanos. Para as concep-
ções clássicas, as desigualdades sociais estão relacionadas, sobretudo, à
distribuição irregular da renda e dos bens materiais. Em contrapartida,
de acordo com as concepções contemporâneas, os estudos sobre as desi-
gualdades devem ir além da distribuição de bens materiais e do fator
renda. Dessa forma, as desigualdades também devem ser associadas a
fatores extra-econômicos e às oportunidades de vida.
Considerações Iniciais
Compreender as causas das desigualdades entre os seres huma-
nos é um dos principais desafios dos cientistas sociais.
Na Grécia Antiga, berço do pensamento ocidental, acreditava-se
que as desigualdades entre os homens eram inatas. Desse modo, certos
indivíduos eram naturalmente propensos a serem escravos, outros a
serem senhores, alguns adaptados a trabalhos manuais e outros exclu-
sivamente às atividades intelectuais.
Há [...] por obra da natureza e para a conservação
das espécies, um ser que ordena e um ser que obe-
dece. Porque aquele que possui inteligência capaz de
previsão tem naturalmente autoridade e poder de
chefe; o que nada mais possui além da força física
para executar, deve, forçosamente, obedecer e servir
[...] Os bárbaros a mulher e o escravo se confundem
na mesma classe. Isso acontece pelo fato de não
lhes ter dado a natureza o instinto do mando [...]
(ARISTÓTELES, s. d., p. 14).

–  105  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Evidentemente, essa concepção equivocada não é mais admi-


tida. Sabemos que as desigualdades não são naturais, mas socialmente
construídas ao longo de um processo histórico marcado pelas diferen-
ciações entre os seres humanos.
Para a concepção clássica, representada principalmente pelos
pensamentos de Karl Marx e Max Weber, as desigualdades sociais
estão relacionadas, essencialmente, à distribuição irregular da renda
e dos bens materiais. Em contrapartida, para alguns intelectuais con-
temporâneos, os estudos sobre as desigualdades devem ir além da dis-
tribuição de bens materiais e do fator renda. Para estes autores, as
desigualdades também devem ser associadas a fatores extra-econômi-
cos (raça, gênero, nacionalidade) e às oportunidades de vida.
Concepção Clássica
Um dos primeiros pensadores modernos a tratar exaustivamente
o tema das desigualdades sociais foi Jean-Jaques Rousseau:
Concebo na espécie humana duas espécies de desi-
gualdade. Uma, que chamo de natural ou física, por
que é estabelecida pela natureza e que consiste na
diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e
das qualidades do espírito ou da alma. A outra, que
pode ser chamada de desigualdade moral ou polí-
tica porque depende de uma espécie de convenção
e que é estabelecida ou pelo menos autorizada pelo
consentimento dos homens. Esta consiste nos dife-
rentes privilégios de que gozam alguns em prejuízo
dos outros, como ser mais ricos, mais honrados, mais
poderosos do que os outros ou mesmo fazer-se obe-
decer por eles (ROUSSEAU, s. d., p. 27).
Sendo assim, segundo Rousseau, o chamado mundo civilizado,
através dos séculos, fomentou profundas diferenças entre os homens,
sendo que as desigualdades sociais surgem com o aparecimento da
propriedade privada.
O primeiro homem que cercou um pedaço de terra, que veio com
a ideia de dizer “isto é meu” e encontrou gente simples o bastante para
acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos
crimes, guerras e assassinatos derivam desse ato! De quanta miséria
e horror a raça humana poderia ter sido poupada se alguém sim-
plesmente tivesse arrancado as estacas, enchido os buracos e gritado
para seus companheiros: “Não deem ouvidos a este impostor. Estarão

–  106  –
Gêneros textuais e tipos de textos

perdidos se esquecerem que os frutos da terra pertencem a todos,


e que a terra, ela mesma, não pertence a ninguém” (­ROUSSEAU,
s. d., p. 14).
Para Marx, as desigualdades sociais podem ser compreendidas
através da irregular distribuição dos meios de produção. Segundo o
pensamento marxiano, a história se desenvolve de forma linear, em
diferentes etapas, movidas, sobretudo, pelas contradições originadas
da organização do sistema de produção (luta de classes). “Em um
caráter amplo, os modos de produção asiático, antigo, feudal e bur-
guês moderno podem ser considerados como épocas progressivas da
formação econômica da sociedade.” (MARX, 1977, p. 23).
Na sociedade capitalista, existem duas classes sociais básicas: de
um lado a burguesia, detentora dos meios de produção; e de outro
lado o proletariado, que possui somente a sua força de trabalho.¹ “[...]
Opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposição uns
aos outros [...].” (MARX, 2000, p. 45).
Sendo assim, a classe operária, explorada pelos patrões, deve se
organizar e promover a revolução socialista, transformando os meios
de produção em propriedades coletivas.² Portanto, para o pensamento
marxiano, o fim das desigualdades sociais passa, inexoravelmente,
pela destruição do modo de produção capitalista, culminando com
o advento do comunismo. “Em lugar da antiga sociedade burguesa,
com suas classes e seus antagonismos de classes, surge uma associação
na qual o livre desenvolvimento de cada um é condição para o livre
desenvolvimento de todos.” (MARX, 2000, p. 67).
Max Weber percebe as diferenciações entre os indivíduos a par-
tir das variáveis propriedade, poder e prestígio. Assim, as diferenças
de propriedade criam as classes; as diferenças de poder criam os par-
tidos políticos; e as diferenças de prestígio criam os agrupamentos de
status ou estratos.
Concepção Contemporânea
Por outro lado, autores contemporâneos, apesar de não nega-
rem as interpretações clássicas sobre as desigualdades, procuram
incluir fatores imateriais e extra-econômicos nas análises sobre as
distinções sociais.

–  107  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Para Amartya Sen, as análises sobre as desigualdades devem se


deslocar dos espaços de renda para o espaço de funcionamentos. De
acordo com o economista indiano, funcionamentos são os desejos e
aspirações que um indivíduo consegue realizar vivendo de uma deter-
minada maneira. Assim, mais importante do que a questão monetá-
ria, é focalizar como determinado rendimento pode se transformar
em realizações e melhorar a autoestima individual.
Jessé Souza, sociólogo da Universidade Federal de Juiz de Fora,
salienta que os estudos sobre as classes sociais precisam superar as
abordagens tradicionais. Rejeita, assim, tanto o liberalismo economi-
cista, que vincula classe ao rendimento monetário; quanto o pensa-
mento marxista clássico, que associa classe à posição de um indivíduo
em relação ao modo de produção vigente. Aspectos econômicos e
ocupacionais são condições necessárias, porém não suficientes, para
definir uma classe.
Classes sociais não são determinadas pela renda, nem pelo simples
lugar na produção, mas sim por uma visão de mundo “prática” que se
mostra em todos os comportamentos e atitudes. [...] O economicismo
liberal, assim como o marxismo tradicional, percebe a realidade das
classes sociais apenas “economicamente” (SOUZA, 2010, p. 22, 45).
Desse modo, essas interpretações não levam em conta “[...] o
mais importante, que é a transferência de valores imateriais na repro-
dução das classes sociais e de seus privilégios no tempo” (SOUZA,
2010, p. 23).
Considerações Finais
Entretanto, é controverso menosprezar a importância do fator
renda para se aferir as desigualdades sociais. Basta levarmos em
conta que, em uma sociedade capitalista como a nossa, onde prati-
camente todas as relações sociais são regidas pela lógica mercantil,
um rendimento monetário básico é condição sine qua non para que
um indivíduo possa viver com o mínimo de dignidade e suprir suas
necessidades vitais.
Contudo, ao focalizar somente a variável renda para se analisar
as desigualdades, cometemos o equívoco de apresentar uma visão
incompleta e simplista sobre o tema.

–  108  –
Gêneros textuais e tipos de textos

As verdadeiras faces das desigualdades não se manifestam ape-


nas no aspecto econômico. Estão presentes nos antagonismos raciais,
sexuais, nacionais comportamentais, etc.
É importante salientar que nos Estados Unidos, por exemplo,
para se medir o status de um indivíduo, a cor da pele, em várias oca-
siões, é mais importante do que a conta bancária.
Já em países extremamente religiosos, notadamente nas socie-
dades muçulmanas, as mulheres, mesmo possuindo uma condição
financeira favorável, são menos valorizadas socialmente do que os
homens pobres.
Em suma, as causas das desigualdades sociais são extremamente
complexas, não podem ser atribuídas a um único fator.
Contudo, as desigualdades, ao serem historicamente construí-
das, também podem ser historicamente minimizadas.
Desse modo, mais importante do que entender as origens das
desigualdades entre os seres humanos, é propor formas pragmáticas
de extirpá-las.³
E esta tarefa não está a cargo apenas dos intelectuais. Con-
siste, talvez, no maior desafio para a nossa sociedade neste início
de século.
Notas
1. “O operário moderno, [...] ao invés de se elevar com o progresso da
indústria, desce cada vez mais, caindo inclusive abaixo das condições
de existência de sua própria classe.” (MARX, 2000, p. 56).
2. “[...] A burguesia não forjou apenas as armas que lhe trarão a
morte; produziu também os homens que empunharão essas armas –
os operários modernos, os proletários.” (MARX, 2000, p. 51).
3. Lembrando as palavras de Marx, mais importante do que inter-
pretar o mundo, é ter o atrevimento de transformá-lo.

–  109  –
Leitura e Escrita na Era Digital

Referências bibliográficas
ARISTÓTELES. A Política. Tradução de Nestor Silveira Chaves. São
Paulo: Escala, s. d.
MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo:
Martins Fontes, 1977.
MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Tradu-
ção de Pietro Nassetti. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2000.
ROUSSEAU, J. J. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os
homens. São Paulo: Escala, s. d.
SEN, A. Desigualdade Reexaminada. 2. ed. Rio de Janeiro: Record,
2008.
SOUZA, J. Os Batalhadores Brasileiros – Nova classe média ou
nova classe trabalhadora? Belo Horizonte: UFMG, 2010.
WEBER, M. Ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara, 1982.
Fonte: LADEIRA, F. F. Considerações sobre as faces das desigualdades
entre os seres humanos. Disponível em: <http://artigocientifico.uol.com.
br/uploads/artc_1325883740_70.pdf>. Acesso em: 19 set. 2012.

Da teoria para a prática


É indiscutível a necessidade do domínio da teoria dos gêneros textuais
para todo cidadão que vive em uma sociedade letrada, ou seja, que exige o
domínio da língua para que se tenha acesso aos bens culturais, práticas sociais
de leitura e escrita, cidadania efetiva. Deste modo, em todas as circunstâncias
acadêmicas e profissionais, precisamos dominar a estrutura dos textos e dis-
cursos que fazem parte de nossas relações e práticas sociais.
Desta forma, além dos textos apresentados no material, há necessidade
de se buscar outros tipos de textos, compreender sua função e estrutura,

–  110  –
Gêneros textuais e tipos de textos

para poder comunicar-se com competência. Para alçarmos títulos acadê-


micos, desde o ensino fundamental até especializações, como o doutorado,
devemos dominar a produção de textos dissertativos. Para entrarmos em um
curso superior, o teste mais importante é o que exige a produção de uma
argumentação a respeito de um tema polêmico. Para concluir a graduação,
temos que produzir um relatório de estágio ou um artigo. Para concluir uma
especialização, devemos produzir uma monografia. Para sermos aceitos em
um mestrado, precisamos apresentar um projeto de pesquisa e, na conclusão,
para recebermos o título, devemos escrever uma dissertação.
Esta dissertação pode se transformar em um projeto para fazermos um
doutorado que, ao final, exige a defesa de uma tese. Portanto, para que tenha-
mos sucesso acadêmico e profissional, saber escrever é fundamental.

Síntese
Neste capítulo, dialogamos sobre os gêneros textuais e vimos que eles
são inumeráveis, uma vez que, em cada situação de interação verbal, há
necessidade de se saber qual é a melhor maneira de utilizar a linguagem.
Necessário é observar os três elementos essenciais: os conteúdos ideologi-
camente conformados, que se tornam dizíveis por meio do gênero; a forma
de composição, a estrutura formal dos textos pertencentes ao gênero; e as
marcas linguísticas ou de estilo, que levam em conta as questões individuais
de seleção e opção: vocabulário, estruturas frasais, preferências gramaticais.
Vimos, também, alguns textos que fazem parte da vida dos profissionais
de qualquer área, como o relatório, a ata, o currículo, o artigo e cada um com
os seus elementos essenciais.
Destacamos, ainda, a importância do conhecimento dos modos discur-
sivos que podem ser usados em todos os gêneros, dependendo do objetivo
que se quer alcançar com as palavras, que são: a narração, a descrição, a dis-
sertação opinativa ou argumentativa.

–  111  –

Você também pode gostar