Corpo Mental e Perispirito

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CORPO MENTAL E PERISPIRITO

Aloysio R. Paiva

Sob o ponto de vista de sua finalidade, corpo quer dizer - instrumento de manifestação. Assim,
quando dizemos corpo físico estamos nos referindo ao veículo carnal de que se utiliza o Espírito
durante a permanência na crosta planetária, em cada reencarnação. Após nova experiência
terrena, passa a usar outro corpo, isto é, volta a utilizar-se de veículo de manifestação adequado
á matéria sutil de que se reveste o mundo espiritual. Assim como a Nona Sinfonia de Beethoven
precisa de uma aprimorada orquestra para ser bem executada, o Espírito - a centelha divina, a
parte substancial e eterna do ser
- precisa de meios para poder manifestar-se e agir ostensivamente, segundo o estado vibratório
da substância que compõe os diversos planos da Criação.
Com relação ao corpo extraterreno, é de se considerar, ainda, a farta sinonímia registrada em
nosso vocabulário. "O Livro dos Espíritos» adota o termo perispírito, que quer dizer - em tomo do
Espírito. Ele é designado, ainda, por corpo espiritual, corpo astral, corpo etéreo, ou, então, como
se vê em André Luiz, psicossoma. Tudo isso expressa a mesma coisa.
Feito esse intróito, passemos ao tema a que nos propomos.
Hoje, após os ensinamentos recebidos dos Espíritos Reveladores, podemos ter uma idéia bem
mais clara da indumentária que passaremos a utilizar, após a experiência carnal.
Enquanto o corpo físico é relativamente estável, com as variações verificadas nos estágios de
crescimento e decrepitude, o corpo espiritual do ser humano é bastante variável. Isso se deve á
sua estrutura, que apresenta, segundo André Luiz:
formação sutil, urdida em recursos dinâmicos, extremamente porosa e plástica, em cuja
tessitura as células, noutra faixa vibratória, á face do sistema de permuta visceralmente
renovado, se distribuem mais ou menos á feição das partículas colóides, com a
respectiva carga elétrica, comportando-se no espaço segundo a sua condição especifica, e
apresentando estados morfológicos conforme o campo mental a que se ajusta." (1)
Estando intimamente ligada ao "campo mental a que se ajusta", a matéria quintessenciada, de
que se reveste o perispirito, sofre, como não podia deixar de ser, influência decisiva do poder
mental da criatura, a ponto de o corpo espiritual poder tomar a forma que o Espírito queira (2).
Muito elucidativo, a esse respeito, é o exemplo mencionado por C. C. Botelho, em <'Memórias de
um Suicida", onde Aníbal de Silas, entidade de grande hierarquia espiritual, se apresentava como
um quase adolescente, tendo ele sido o menino acariciado por Jesus, há dois mil anos, quando
enunciava a imorredoura lição: <'Deixai vir a mim os pequeninos..." (3)
Esse ascendente mental, que elabora e comanda o corpo espiritual, possui, também, o seu
próprio veículo de manifestação, ou seja, o CORPO MENTAL. Que afirma, de modo preciso, André
Luiz:
"Para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que
ele não é reflexo do corpo físisco, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto
quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em sí no corpo mental que lhe preside a
formação."
Esclarecendo, ainda:
"O corpo mental, assinalado experimentalmente por diversos estudiosos, é o envoltório sutil
da mente, e que, por agora, não podemos definir com mais amplitude de conceituação, além
daquela com que tem sido apresentado pelos pesquisadores encarnados, e isto
por falta de terminologia adequada no dicionário terrestre.» (4)
"(...) quanto â sua função, é o veículo imediato no qual o Eu se manifesta como inteligência;
com relação ao seu desenvolvimento, cresce de vida para vida, proporcionalmente ao
aprimoramento intelectual, organizando-se, também> mais e mais definidamente à medida
que os atributos e qualidades da mente se façam mais e mais mar-cantes; é oval - semelhante
a um ovo
- em seus contornos, e interpenetra os corpos astral e físico, e os rodeia com uma atmosfera
radiante á medida que se desenvolve, fazendo-se cada vez maior, conforme aumenta a
capacidade intelectual. Não é necessário dizer que esta forma oval se converte em um objeto
formosíssimo e glorioso, quando o homem desenvolve as aptidões superiores da mente." (5)
Não podendo definir amplamente o corpo mental, por ora, dá-nos André Luiz interessantes
notícias, auxiliando-nos a compreender-lhe o comportamento e a expansão evolutivos:
"Definimos o fluido, dessa ou daquela procedência, como sendo um corpo cujas moléculas
cedem invariavelmente "' te à mínima pressão, movendo-se entre si, quando retidas por um
agente de contenção, ou separando-se, quando entregues a si mesmas." "No plano espiritual,
o homem desencarnado vai lidar, mais diretamente, com um fluido vivo e multiforme, estuante
e inestancável, a nascer-lhe da própria alma, de vez que podemos defini-lo, até certo ponto,
por subproduto do fluido cósmico, absorvido pela mente humana, em processo vitalista
semelhante à respiração, pelo qual a criatura assimila a força emanante do Criador, esparsa
em todo o Cosmo, transubstanciando-a, sob a própria responsabilidade, para influenciar na
Criação, a partir de si mesma.'> "Esse fluido é o seu próprio pensamento continuo, gerando
potenciais energéticos com que não havia sonhado." (6)
E acrescenta, em nova e magistral lição:
"O plano físico é o berço da evolução que o plano extrafísico aprimora. O primeiro insufla o
sopro da vida, cujas edificações o segundo aperfeiçoa. A reencarnação multiplica as
experiências, somando-as, pouco a pouco. A desencarnação subtrai-lhes lentamente as
parcelas inúteis ao progresso do Espírito e divide os remanescentes, definindo os resultados
com que o Espírito se encontra enobrecido ou endividado perante a Lei." (7)
Sendo o perispírito uma projeção do corpo mental, quanto mais evoluída a criatura tanto mais
perfeito e radioso se revela o seu veículo espiritual. O inverso é, também, verdadeiro:
"O instrumento perispirítico do selvagem deve ser classificado como protoforma humana,
extremamente condensado pela sua integração com a matéria mais densa. Está para o
organismo aprimorado dos Espíritos algo enobrecidos como um macaco antropomorfo está
para o homem bem-posto das cidades modernas. Em criaturas dessa espécie, a vida moral
está começando a aparecer e o perispírito nelas ainda se encontra enormemente pastoso. Por
esse motivo permanecendo muito tempo na escola da experiência, como o bloco de pedra
rude sob marteladas, antes de oferecer de si mesmo a obra-prima..." "O prodigioso corpo do
homem na Crosta Terrestre foi erigido pacientemente, no curso dos séculos, e o delicado
veículo do Espírito, nos planos mais elevados, vem sendo construído, célula por célula, na
esteira dos milênios incessantes... até que nos transfiramos de residência, aptos a deixar, em
definitivo, o caminho das formas, colocando-nos na direção das esferas do Espírito Puro,
onde nos aguardam os inconcebíveis, os inimagináveis recursos da suprema sublimação." (8)
Infelizmente, na posição evolutiva em que se encontra, o homem não tem sabido usar, de maneira
nobre, os recursos de que dispõe para aprimorar seus instrumentos de manifestação. Criações
mentais de natureza inferior, cultivadas com sofreguidão e assiduidade, prejudicam enormemente
os contornos morfológicos do corpo espiritual, de extrema delicadeza, onde ficam impres505
todos os maus-tratos recebidos da mente. Daí a existência, no mundo extra físico, tão bem
descrito por André Luiz, de desencarnados portando aleijões em suas formas, ou, então, os
casos mais graves de seres humanos que se apresentam, grotescamente, sob forma animalesca,
fenômenos esses denominados de zoantropia.
~ fácil entender que o homem, ao alimentar, durante tempo relativamente longo, desejos e
sensações próprios das faixas evolutivas subumanas, acabe imprimindo, ainda que
provisoriamente, ao perispírito configurações equivalentes a esses impulsos e anseios. Na
realidade, sob certos aspectos de natureza mental, não há muita diferença entre o gastrônomo
inveterado e um suíno; entre o assaltante frio e calculista e um felino á espreita de sua presa;
entre o enfatuado e um colorido pavão.
O ascendente mental sobre o corpo espiritual é tão grande que, em determinadas circunstâncias,
os efeitos podem ser imediatos, dependendo da força do jato mental, como no caso narrado por
André Luiz, em que um verdugo da Espiritualidade, arvorando-se em juiz de infeliz irmã com
pesados débitos na última romagem terrena, e utilizando processo hipnótico de grande
intensidade, compeliu-a a transforma-se numa loba. (9)
Outra com pungente situação de aviltamento do corpo espiritual é a que conduz ao seu desgaste,
transformando-o numa espécie de esfera, de "formas indecisas e obscuras", num simples ovóide
de tamanho um pouco maior que um crânio humano. (10)
Uma das causas mais freqüentes do desgaste do veículo perispirítico é a idéia fixa da vingança,
do ódio. Eis como se dá esse processo deprimente:
"Inúmeros infelizes, obstinados na idéia de fazer justiça pelas próprias mãos ou confiados a
vicioso apego, quando desafivelados do carro físico, envolvem sutilmente aqueles que se
lhes
fazem objeto de calculada atenção e, auto-hipnotizados por imagens de afetividade ou
desforço, infinitamente repetidas por eles próprios? Acabam em deplorável fixação
monoideística, fora das noções de espaço e tempo, acusando, passo a passo, enormes
transformações na morfologia do veículo espiritual, porquanto, de órgãos psicossomáticos
retraídos, por falta de função, assemelham-se a ovóides, vinculados as próprias vítimas que,
de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente, a influenciação, à face dos pensamentos de
remorso ou arrependimento tardio, ódio voraz ou egoísmo exigente que alimentam no próprio
cérebro, através de ondas mentais incessantes." (11)
É de se salientar que a forma ovóide é a do próprio corpo mental, como já foi dito acima. Assim,
quando o Espírito se apresenta sob essa aparência é sinal de que ele está usando "apenas" o seu
'(corpo mental"). Isto está confirmado por André Luiz, que, referindo-se a uma falange de
Espíritos nessas condições, diz que eles se "caracterizavam pelo veículo mental". (12)
De tudo isso, tira-se uma conclusão curiosa: o ser humano, no mundo espiritual, perde seu
veículo perispirítico ou por falta de uso adequado ou por prescindir dele, em planos de vibrações
mais altas. Só que, nessas regiões, o corpo mental se apresenta muito diferente da formação
limitada do ovóide já mencionado, conforme nos mostra André Luiz:
"Enriquecer a mente de conhecimentos novos, aperfeiçoar-lhe as faculdades de expressão,
purificá-la nas correntes iluminativas do bem e engrandecê-la c~ a incorporação definitiva de
princípios" nobres é desenvolver nosso corpo glorioso, na expressão do apóstolo Paulo,
estruturando-o em matéria sublimada e divina. Essa matéria ~...) é o tipo de veículo a que
aspiramos, ao nos referirmos á vida que nos é superior. Estamos ainda presos ás
aglutinações celulares dos elementos físio-perispiríticos, tanto quanto a tartaruga permanece
algemada à carapaça. Imergimonos
dentro dos fluidos carnais e deles nos libertamos, em vicioso vaivém, através de existências
numerosas, até que acordemos a vida mental para expressões santificadoras." (13)
Definição:
(1) "Evolução em Dois Mundos", pag. 26.
(2) "O Livro dos Espíritos", Questão n 95.
(3) "Memórias de um Suicida", 1' ed., pág. 480.
(4) "Evolução em Dois Mundos", pag. 25 e nota de rodapé.
(5) "El Hombre y Sus Corpos". de Annie Besant. Editorial Schiaflro, Buenos Aires, pag. 67 e
seguintes.
transcrito do REFORMADOR, JULHO, 1986, Revista de propriedade da Federação Espírita Brasileira

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