Hist e Teroria Da Arq e Urb 2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 290

História e Teoria

da Arquitetura,
Urbanismo e
Paisagismo ll
U1 - Título da unidade 1
História e teoria da
arquitetura, urbanismo e
paisagismo ll

Priscila Azzolini Trovo


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e
Distribuidora Educacional S.A.

Presidente
Rodrigo Galindo

Vice-Presidente Acadêmico de Graduação e de Educação Básica


Mário Ghio Júnior

Conselho Acadêmico
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro

Revisão Técnica
Flávio José Martins Nese
Ruy Flávio de Oliveira

Editorial
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Trovo, Priscila Azzolini.


T843h História e teoria da arquitetura, urbanismo e paisagismo
II / Priscila Azzolini Trovo. – Londrina : Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2017.
288 p.

ISBN 978-85-8482-834-0

1. Arquitetura – História. 2. Urbanismo – História. 3.


Paisagismo – História. I. Título.

CDD 720.9

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Arquitetura na Idade Média 7


Seção 1.1 - Arquitetura e urbanismo mulçumano 10
Seção 1.2 - Urbanismo na Idade Média. Arquitetura Românica 31
Seção 1.3 - Arquitetura Gótica 50

Unidade 2 | Arquitetura Renascentista e Barroca 71


Seção 2.1 - Arquitetura Renascentista 73
Seção 2.2 - Urbanismo Renascentista e Arquitetura Maneirista 94
Seção 2.3 - Arquitetura Barroca e Arquitetura Rococó 116

Unidade 3 | Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 149


Seção 3.1 - Arquitetura neoclássica 151
Seção 3.2 - Historicismo gótico. Escola de Chicago 171
Seção 3.3 - Revolução Industrial. Arquitetura do ferro. Exposições
universais 194

Unidade 4 | Pré-modernismo 219


Seção 4.1 - A cidade pós-liberal 221
Seção 4.2 - Experiências urbanísticas no século XIX 238
Seção 4.3 - Movimentos de vanguarda europeus 259
Palavras do autor
Olá, estudante. Nesta unidade veremos que ao longo dos séculos
as construções foram executadas a partir de diversos modelos
arquitetônicos, implementados cada um a seu tempo. É necessário,
portanto, estudar a história das construções, ou seja, da arquitetura,
do urbanismo e do paisagismo, para entender a dinâmica do
espaço e conhecer as influências de cada elemento arquitetônico.
A história se repete, se arranja e se renova. Dessa forma, desde o
processo projetual até o método construtivo, utilizado ao longo
dos séculos, deve ser estudado para que seja possível compreender
a concepção de determinada edificação e sua influência com as
demais, lembrando que a edificação deve ser vista em um paralelo
com as demais, relacionando o entorno urbanístico e o cenário
político da época de forma simultânea.

Assim, é importante conhecer a teoria e a história da arquitetura,


do urbanismo e do paisagismo, considerando sua produção no
contexto social, cultural, político e econômico e tendo como
objetivo a reflexão crítica e a pesquisa. Nesta disciplina, será
abordada a história da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo,
com o recorte a partir da arquitetura islâmica, que tem seu início
aproximado no século VII, até a arquitetura pré-moderna de August
Perret, no final do século XVIII.

A primeira unidade apresentará a arquitetura na Idade Média


e a criação de elementos arquitetônicos e urbanísticos que
modificaram todo o processo projetual e construtivo. Suas
referências são utilizadas até hoje em construções de grandes
edificações, principalmente as que se referem à igreja e à religião.
Na segunda unidade serão abordadas as arquiteturas renascentista
e barroca, que possuem determinada influência do período anterior,
mas que buscaram romper com os paradigmas, para iniciarem
um método de concepção de projetos renascentistas, barrocos e
rococós. Na terceira unidade, a arquitetura da Revolução Industrial
será estudada, tendo como ponto-chave o progresso, a criação e a
utilização de novos materiais. Com isso, este período foi marcado
por muitas mudanças arquitetônicas, principalmente no que diz
respeito à utilização de aço e avanços na tecnologia projetual. Por
fim, a quarta unidade apresentará a concepção da cidade pós-liberal
e as experiências pré-modernistas, com a análise das vanguardas
europeias e suas influências diretas nas construções atuais.

Ao longo do estudo das unidades será possível perceber que toda


arquitetura influencia ou foi influenciada por determinado período
e contexto. Neste sentido, é fundamental conhecer, minimamente,
quais foram os elementos criados a cada época e o que esses
elementos possibilitaram de novas identidades arquitetônicas. Cada
período representa um contexto social, político e econômico que
que teve relação direta com a maneira de se construir. Com este
conhecimento, é possível verificar a cidade dos dias atuais e como
ela é uma mistura de construções representativas a seu tempo.

Ao final, você conhecerá estilos arquitetônicos que ao seu


tempo mudaram a forma de construir edifícios e até cidades. Está
preparado para esta jornada? Vamos lá!
Unidade 1

Arquitetura na Idade
Média
Convite ao estudo
Caro estudante, esta unidade tratará da arquitetura na
Idade Média, ou seja, como os contextos social e político,
durante séculos, contribuíram para a mudança da arquitetura,
e arquitetura e para constituição de elementos fundamentais
para a concepção das cidades e construções. Serão abordados
a arquitetura e o urbanismo muçulmano, o urbanismo da
Idade Média, as construções as construções românicas e, por
fim, a arquitetura gótica. Portanto, estes períodos e o que diz
respeito aos seus processos projetuais serão esmiuçados nesta
unidade, a fim de que se possa compreender estes estilos
arquitetônicos.

Neste sentido, será preciso conhecer como se


desenvolveram a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo
na Idade Média, quais foram suas influências e o contexto
em que estavam inseridos para a definição dos principais
elementos constituintes das edificações da época. Os objetivos
específicos desta unidade estão relacionados a conhecer e a
saber identificar os elementos arquitetônicos de cada período,
bem como diferenciá-los. Além disso, é preciso investigar
a postura cultural de cada período, a fim de entender quais
foram as motivações principais que levaram os projetistas a
iniciarem um processo projetual diferenciado.

Imagine que você é gestor de uma equipe de seis


arquitetos e está organizando uma viagem a fim de realizar
um documentário com as principais referências da arquitetura
da Idade Média e quais são os elementos destas construções.
Este documentário servirá como referência para a avaliação e a
análise de edifícios, a fim de elencar os métodos construtivos,
materiais, contexto cultural, social e econômico. Assim, você
dividiu a pesquisa em fases, em que a primeira será a busca por
edifícios da Idade Média. Você viajará para locais específicos,
catalogando especificidades, padrões, convergências e
divergências de estilos arquitetônicos. O período referente a
esta primeira expedição se dará na arquitetura e urbanismo
muçulmano (aproximadamente no século VII) até o período da
arquitetura pré-moderna, no que se relacionam às vanguardas
europeias.

Para a tarefa que você assumiu, como serão investigadas


as principais diferenças na arquitetura, no urbanismo e no
paisagismo deste estilo? Além disso, como será possível
catalogar e identificar os elementos arquitetônicos das
construções de cada época?

A fim de conhecer a estrutura construtiva da Idade Média e


conhecer as diferenças entre períodos, a unidade será dividida
em três seções.

Na primeira seção será estudada a arquitetura islâmica e


sua influência nos países que hoje fazem parte da Europa.
Esta arquitetura teve início, aproximadamente, no século VII e
perdurou por praticamente mil anos, possibilitando a criação
de inúmeros elementos e a utilização de diversos materiais para
sua concepção. Além disso, uma das principais características
deste estilo construtivo é a utilização de figuras geométricas,
utilizadas na ornamentação das edificações.

Na segunda seção será estudada a arquitetura e o processo


projetual da Idade Média e da arquitetura Românica. Estes dois
períodos, que possuem referências bastante claras do período
anterior, também geraram grandes mudanças na forma de
conceber um espaço e projetar tanto um edifício quanto uma
cidade. Neste período, a grandiosidade religiosa em que Deus
estava acima de tudo e de todos fez com que os templos
simples fossem substituídos por grandes templos.
Ao final, na terceira seção, será apresentada a arquitetura
gótica e suas referências, no que diz respeito à utilização de
materiais, ao processo construtivo e ao processo projetual.
Este estilo arquitetônico, iniciado na França, foi utilizado
principalmente em grandes catedrais, nas quais os conceitos
construtivos buscavam retratar a grandiosidade da religião
acima de todos.
Seção 1.1
Arquitetura e urbanismo mulçumano
Diálogo aberto
Você apoiará uma equipe de seis arquitetos, a fim de conhecer
edificações e monumentos importantes na história que representem
a arquitetura medieval. Eles buscam encontrar padrões, divergências
e convergências nas influências das tipologias arquitetônicas,
inclusive quando aplicadas ao urbanismo das cidades.

Sua viagem inicia na Turquia, em que se conservam alguns


monumentos e edificações da arquitetura islâmica. Neste local,
vocês buscarão elementos que sejam padrões do processo projetual
arquitetônico do islamismo, bem como as principais técnicas
e materiais que se utilizavam na época, a fim de catalogarem as
soluções formais e construtivas deste tipo de construção. Neste
sentido, como você documentaria os elementos arquitetônicos
marcantes da arquitetura islâmica? Quais as características da
arquitetura islâmica e quais os principais edifícios que podem servir
como base para o seu estudo? Mãos à obra!

Não pode faltar


Casas e padrões urbanos

Segundo Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), o islamismo tem


uma tradição bastante longa no que diz respeito ao projeto urbano
da cidade. Os locais mais importantes e tradicionais eram os
equipamentos urbanos referentes à religião, ou seja, as mesquitas,
que eram suficientemente grandes para atender a toda comunidade.
Além disso, conforme destacam os autores, os bazares (baazar) e o
mercado público com as bancas cobertas, atendiam a população
da cidade e do campo que se localizava no entorno.

Havia pouca regularidade na planta da cidade, pois ela foi


construída com o passar dos anos, e dependia muito das necessidades
e especificidades culturais, sociais e econômicas de cada época.

12 U1 - Arquitetura na Idade Média


Dentro dos bairros, as famílias compartilhavam a mesquita, as
fontes, os banheiros públicos e até os fornos comunitários. Essas
áreas públicas eram geralmente dominadas pelos homens.

Com relação à construção dos bairros, haviam zonas residenciais


em que, conforme explicam Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), as
famílias eram unidas por possuírem a mesma profissão, etnia ou,
até mesmo, religião. Quando necessário, estes bairros possuíam
portais que eram utilizados como isolador de uma área.

Fazio, Moffet e Wodehouse (2011) comparam a estrutura da


cidade de arquitetura islâmica como um labirinto com muitos
becos, pois a malha urbana da cidade era bastante peculiar, uma
vez que possuía poucas grandes avenidas, em que se localizavam
os principais equipamentos públicos, como os mercados. O
número de ruas era limitado, nas quais encontravam-se as casas
residenciais.

Um dos principais exemplos do urbanismo islâmico, para


Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), é a cidade iraniana de Isfahan
(Figura 1.1), em que melhor foram aplicados os princípios de
planejamento urbano islâmico. Na cidade, a rota comercial
histórica é um mercado coberto linear, com lojas e bancas que
estão dispostas em frente a inúmeras entradas dos equipamentos
urbanos da cidade. O centro do espaço público ficava disponível
para os vendedores ambulantes, mas poderia eventualmente ser
desocupado e utilizado para eventos militares ou de atletismo.

U1 -Arquitetura na Idade Média 13


Figura 1.1 | Planta da praça pública da cidade de Isfahan (1590-1602)

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 190).

14 U1 - Arquitetura na Idade Média


As áreas públicas em uma cidade islâmica possibilitavam a
reunião da população e diferentes utilizações pelos usuários da
cidade. As mesquitas, ou seja, os equipamentos religiosos eram
os principais monumentos e, por meio deles, todo o restante da
cidade era configurado. As áreas residenciais ficavam marginais
a este espaço central, em que, aos poucos, foi configurado por
gerações, modificando e entendendo o ambiente urbano segundo
as expectativas e as necessidades de cada época, como é possível
verificar na Figura 1.2.

Figura 1.2 | Implantação da Mesquita de Solimão

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 184).

U1 -Arquitetura na Idade Média 15


Figura 1.3 | A cidade de Sanaa, Iêmen

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/15.169/5224>. Acesso em: 19


dez. 2016.

Pesquise mais
Neste artigo, a autora analisa a arquitetura medieval islâmica por meio
do uso de fontes visuais, no qual busca compreender a simbologia
deste estilo arquitetônico com seu contexto e suas relações de poder,
tendo como referência a Mesquita Maior de Córdoba.

SENKO, E. C. A arte e arquitetura islâmica na Idade Média e a


representação do poder Andaluz: a Mesquita Maior de Córdoba (séc.
VIII). In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DA LINGUAGEM, 3.,
2011, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2011. p. 1009 - 1023 Disponível
em: <http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/trabalhos/
pdf/Elaine%20Cristina%20Senko.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Os primeiros templos e palácios islâmicos

Em vários momentos da história foram registradas tentativas de


aproximação do homem e suas crenças por meio da construção
de espaços de adoração e encontro de fiéis. As construções

16 U1 - Arquitetura na Idade Média


expressavam fundamentos e revelavam ideologias de cada religião.
Embora culturalmente haja uma maior aproximação da cultura
cristã, o Islamismo também passou por um longo e rico processo
evolutivo que obteve resultados distintos.

Para que os muçulmanos possam cumprir alguns deveres


religiosos, várias edificações foram pensadas respeitando objetivos
diferentes. Por exemplo, para cumprir a exigência de rezar cinco
vezes durante o dia, são pensados quatro níveis de espaço:

1. Trata-se de um espaço individual ou em grupos reduzidos.

2. Para grupos de bairro.

3. Para fiéis de uma cidade.

4. Para toda a comunidade muçulmana.

Para celebrações dos primeiros níveis, são construídas edificações


menores, sem grandes salões, com nichos para pequenos grupos.

Já para a celebração de toda a cidade, é construído um grande


muro ao ar livre com espaço para orações. Nos bairros, são
localizadas as mesquitas com salões para encontros semanais onde
os fiéis se reúnem enfileirados voltados para o muro de orações.
Esta grade, geralmente quadrada ou em formato de retângulo
largo se diferencia bastante das igrejas cristãs, tradicionalmente
centralizadas, profundas e estreitas, como é possível notar na Figura
1.4.

U1 -Arquitetura na Idade Média 17


Figura 1.4 | Planta baixa da mesquita de Córdoba

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 177).

A necessidade de não utilizar figuras simbólicas ou literais


precede uma arquitetura com ornamentação baseada em padrões,
repetições e simetria, sugerindo também uma grade projetual que
orientará a organização dos fiéis. Os materiais utilizados nessa
ornamentação variam mais comumente entre pedra, tijolos e
cerâmica vitrificada, além de reboco em gesso e uso da madeira. O
uso da geometria reportava-se à arquitetura numérica, característica

18 U1 - Arquitetura na Idade Média


da cultura árabe. A arquitetura era a tradução de fórmulas numéricas
de caráter místico.

Reflita
A arquitetura islâmica sofreu forte influência de outros períodos
construtivos. No entanto, quais são os elementos que foram
influenciadores de novos projetos arquitetônicos a partir de então? Em
quais locais é possível conhecer e encontrar a arquitetura islâmica?
Quais características da arquitetura islâmica está presente até os dias
de hoje nas edificações?

As técnicas para composição dessa ornamentação passam pela


repetição de elementos arquitetônicos em suas portas e janelas
(por exemplo, o arco), uso de figuras geométricas para criação de
padrões, representações orgânicas de elementos da natureza e
uso da caligrafia com intuito de reforçar a palavra de Alá. Algumas
composições exploram a relação com a iluminação por meio de suas
vidraças e abóbodas trabalhando seu poder de refração e reflexão.
Na arquitetura islâmica, a figura do especialista em geometria era tão
importante quanto a do arquiteto, em que, as obras têm a clara relação
quadrado e cubo. O projeto vinha do especialista em geometria e o
arquiteto acompanhava a realização com intervenções específicas.

Exemplificando
Os padrões utilizados como elementos ornamentais das mesquitas
e construções islâmicas eram repetições de figuras geométricas.
Os materiais utilizados eram azulejos coloridos, madeira e gesso.
A ornamentação é uma das grandes características deste estilo
construtivo.

U1 -Arquitetura na Idade Média 19


Figura 1.5 | Mesquita de Solimão, Turquia

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/no-s%C3%BCleymaniye-mesquita-
gm545251230-98170263?st=_p_Sleymaniye>. Acesso em: 10 nov. 2016.

A trajetória histórica dos árabes islâmicos é marcada pela


influência de muitas culturas, interações e disputas territoriais
com outros povos. As primeiras edificações revelam um caráter
nômade, com domínio de várias técnicas aprendidas com outras
civilizações. É possível reconhecer as influências cristãs e sírias na
construção da Cúpula da Rocha (687) em Jerusalém (Figura 1.6),
importante ponto da jornada de Maomé.

20 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.6 | Cúpula da Rocha em Jerusalém

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/dome-of-the-rock-and-dome-of-the-chain-in-
jerusalem-gm528421308-92955461?st=_p_jerusalem>. Acesso em: 10 nov. 2016.

O santuário tem formato octogonal, em seu centro é localizada


a rocha acima de uma caverna, gerando uma área para circungiro
dos fiéis. A complexidade da geometria utilizada faz referência às
igrejas sírias, já o formato da cúpula assemelha-se à Basílica de São
Pedro e ao traço cristão. Este santuário serviu de referência para
vários outros no mundo islâmico, como a reconstrução do Ka’ba,
que comportava a Pedra Preta em seu centro e era ponto final de
peregrinações.

A concepção da mesquita e suas tipologias

Sua origem veio da casa de Maomé, que possuía uma área


murada, com um pátio interno descoberto, que servia para reuniões
em que seus seguidores ouviam os sermões e se encontravam para
orarem em conjunto. Após a morte de Maomé, o espaço foi copiado
em outros locais, para que fossem realizados cultos simples.

Conforme destacam os autores Fazio, Moffet e Wodehouse


(2011, p. 176), “a Grande Mesquita de Damasco (...) é a mais antiga

U1 -Arquitetura na Idade Média 21


mesquita remanescente e ilustra o processo ao longo do qual a
tipologia se desenvolveu”. Sua estrutura é formatada como uma
basílica tripartida, em que existe uma nave central e duas naves
laterais. Além disso, os seguintes elementos, segundo Fazio, Moffet
e Wodehouse (2011), fazem parte da concepção da mesquita de
Damasco.

- Paredes externas: o acesso era por meio de um portal no centro


de um dos lados menores, voltado para o leste.

- Torres: foram projetadas quatro torres (minaretes), em que


plataformas elevadas nas quinas do prédio eram estruturadas. Essas
torres são influências de antigas torres de fortificação ou antigos
faróis. Estes minaretes tornaram-se elemento padrão nas mesquitas
que posteriormente foram construídas.
Figura 1.7 | Planta baixa da Grande Mesquita de Damasco (706-15)

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 177).

Existem diversas tipologias de mesquitas, que representam os


elementos islâmicos e os processos construtivos de determinada
época. Os autores Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), definem em
seu livro as tipologias:
22 U1 - Arquitetura na Idade Média
1. Mesquitas colunadas ou com salões hipostilos (salas cujo teto
é sustentado por pilares), preferidas na Arábia, no norte da África e
na Espanha.

2. Mesquitas com iwan, populares no Irã e na Ásia Central, as


quais consistem de um pátio interno retangular ladeado por grandes
espaços.

3. Mesquitas cupuladas e de organização central encontradas na


Turquia.

Túmulos

O mais famoso mausoléu Islâmico é o Taj Mahal (1631),


localizado em Agra na Índia (Figura 1.8), foi projetado por um grupo
de arquitetos selecionados pela corte e liderados pelo príncipe Shah
Jahan, que aplicou conceitos de simetria, uso dos arcos, cúpula
bulbosa, diferenciando das demais obras da época com o uso de
mármore branco nos revestimentos externos ao invés de arenito
vermelho. Graças ao seu tamanho, projeto luxuoso e ornamentação
serena, tornou-se uma das principais construções símbolo do
Islamismo e da arquitetura mundial.
Figura 1.8 | Taj Mahal em Agra, Índia

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/taj-mahal-em-agra-%C3%ADndia-
gm495022606-77773127?st=_p_taj%20mahal>. Acesso em: 10 nov. 2016.

U1 -Arquitetura na Idade Média 23


O monumento caracteriza-se por um longo jardim quadriculado
com ciprestes, espelhos de água e pequenas torres, os minaretes ao
redor da edificação principal. O mausoléu possui a cúpula bulbosa
que comporta o túmulo em homenagem a morte inesperada da
princesa Mumtaz Mahal e em suas laterais localizam-se a mesquita
e a casa de hóspedes, como pode ser visto na Figura 1.9.

Figura 1.9 | Planta baixa esquemática do Taj Mahal

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 189).

24 U1 - Arquitetura na Idade Média


Assimile
A arquitetura islâmica recebeu influências de períodos anteriores,
mas criou uma arquitetura muito própria, voltada para o desenho
das mesquitas e dos túmulos de grandes entidades. A construção
monumental era a principal referência de uma cidade, em que
tudo ocorria ao redor deste monumento. Esta cidade, por sua vez,
acontecia de maneira clara, em que o comércio estava em frente à
mesquita, sempre dividido por hierarquias e qualidade dos produtos.
Os moradores ficavam instalados em bairros periféricos residenciais,
que, muitas vezes, possuíam um portal de acesso, que poderia ser
fechado conforme a necessidade do local.

Sem medo de errar


A arquitetura islâmica possui uma série de elementos que
compõem a construção e a edificação. Como principal exemplo
da arquitetura islâmica, localizada na Turquia, os arquitetos
encontrarão a Mesquita de Solimão, que possui projetos de
edificações independentes em um grande complexo urbano, que
contêm vários equipamentos.

Para analisar as características urbanas, é possível perceber que


o espaço destinado à mesquita era envolto por equipamentos
urbanos, em que, segundo Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p.
186), “a implantação oferece evidências concretas da integração
islâmica entre Igreja e Estado, com a combinação de equipamentos
públicos para cultos, educação, serviços médicos e sociais”.

Dessa forma, a partir da implantação, os arquitetos podem


identificar como funcionava a dinâmica urbana, em que a religião
e o estado se fundiam. Na Mesquita de Solimão, especificamente,
existia um hospital, uma escola de medicina, a Madasa (escola
religiosa), albergues, cemitério, refeitório e instalações próprias
da Mesquita.

U1 -Arquitetura na Idade Média 25


Figura 1.10 | Implantação de Mesquita de Solimão, Turquia

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 184).

Com relação aos elementos constituintes da edificação, os


arquitetos puderam encontrar uma série de padrões próprios da
arquitetura islâmica. Neste sentido, é possível verificar a utilização
de madeira, gesso e azulejo para a ornamentação. Os ornamentos,
conforme Figura 1.11, eram padronizados com grafias geométricas,
repetição de portas e janelas, representações orgânicas, elementos
da natureza e uso da caligrafia.

26 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.11 | Mesquita de Solimão, Turquia

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/istambul-s%C3%BCleymaniye-mesquita-
gm497616972-79213617?st=_p_Sleymaniye>. Acesso em: 10 nov. 2016.

A estrutura da Mesquita de Solimões foi executada praticamente


em arcos e abóboda, o que permitiu maiores vãos entre os
ambientes, criando, assim, espaços de contemplação, conforme é
possível observar na Figura 1.12.

U1 -Arquitetura na Idade Média 27


Figura 1.12 | Croquis das fachadas da Mesquita de Solimões

Fonte: adaptada de <http://www.web.fomgrup.com/TR/35/projedetay/>. Acesso em: 10 nov.


2016.

Avançando na prática
Influências da arquitetura Islâmica

Descrição da situação-problema

Imagine que você é arquiteto e está planejando sua primeira


viagem internacional. Dessa forma, você decide viajar à Espanha,

28 U1 - Arquitetura na Idade Média


pois lá é possível encontrar edificações que possuem influências
claras do islamismo e da arquitetura medieval. O monumento de
Alhambra, localizado em Granada, é o conjunto de edificações que
melhor representa a arquitetura islâmica e seus elementos.

Suas combinações geométricas não só buscam um efeito


decorativo, mas também a beleza dos textos, que aproximavam
o credor da sua fé e do reino de Alá. A organização compositiva
das decorações era bastante característica, em que eram utilizados
azulejos, madeira e painéis de gesso. Além disso, o uso da madeira
era comum nos arcos e laços, janelas de sacadas fechadas em
treliças de madeira que faziam a função de brises para proteção de
luminosidade e privacidade. Alhambra é o edifício mais característico,
na Espanha, da cultura islâmica e suas influências construtivas.

Entre os espaços mais importantes do complexo de Alhambra


estão o mexuar e o harém.

O mexuar era a parte pública do palácio em que aconteciam


aconteciam as atividades de negociação de administração do local.

Já o harém constituía uma área privada, que era destinada à vida


cotidiana, em que os aposentos de habitação das esposas eram
distribuídos. Os banhos ficavam voltados para um pátio interno, para
que a iluminação e a ventilação naturais fossem preservadas.

Os materiais que eram utilizados buscavam impor determinada


situação, como os contrastes dos tetos de madeira escura com as
paredes brancas. O detalhamento das ornamentações era realizado
de forma escultórica, em padrões que foram muito utilizados em
edificações que tiveram influência islâmica. Além dos ornamentos,
os arcos e as abóboda também eram elementos construtivos muito
presentes na arquitetura islâmica.

U1 -Arquitetura na Idade Média 29


Figura 1.13 | Alhambra, Espanha

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/alhambra-de-granada-tribunal-do-
vest%C3%ADbulo-gm177118231-18011387?st=_p_alhambra%20interior>. Acesso em: 10 nov.
2016.

A partir disso, você deverá identificar os elementos principais


da arquitetura islâmica e os materiais utilizados neste monumento.
Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

Ao conhecer o monumento de Alhambra, é possível identificar


que este conjunto de edificações é o mais característico da
arquitetura islâmica, em que os materiais eram utilizados de forma
bastante detalhada. A importância da decoração arquitetônica, nas
edificações islâmicas, é fundamental para identificar este tipo de
construção, principalmente seus padrões.

Os materiais mais utilizados neste estilo arquitetônico, mais


especificamente em Alhambra, eram os mármores e os azulejos
coloridos. Além disso, o forro e os pilares eram esculpidos em
padrões geométricos que permitiam uma dinâmica com a luz e a
sombra, com as luzes refletidas, transpassando as superfícies de
paredes e tetos perfurados.

30 U1 - Arquitetura na Idade Média


Além disso, os pátios internos ajardinados e com espelhos d’água
refletiam as paredes e os tetos ornamentados, em que as figuras
geométricas eram representadas.

Faça valer a pena


1. O islamismo tem uma tradição bastante longa no que diz respeito ao
projeto urbano da cidade. Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), comparam
a estrutura da cidade com um labirinto com muitos becos, pois a malha
urbana da cidade era bastante peculiar, uma vez que possuía poucas
grandes avenidas, em que se localizavam os principais equipamentos
públicos, como os mercados. O número de ruas era limitado, nas quais
encontravam-se as casas residenciais.
( ) Havia pouca regularidade da planta da cidade islâmica, pois ela foi
construída com o passar dos anos, e dependia muito das necessidades e
especificidades culturais, sociais e econômicas de cada época.
( ) Dentro dos bairros, em que as famílias eram unidas por
possuírem a mesma profissão, etnia ou até mesmo religião, os moradores
compartilhavam a mesquita, as fontes, os banheiros públicos e até os
fornos comunitários.
( ) Os locais mais importantes e tradicionais eram os equipamentos
urbanos referentes à religião, ou seja, as mesquitas, que eram
suficientemente grandes para atender a toda comunidade.

Assinale a alternativa que apresenta a correta sequência da classificação


das afirmativas apresentadas:
a) V, F, V.
b) F, F, V.
c) V, V, F.
d) V, V, V.
e) F, F, F.

2. Em vários momentos da história foram registradas tentativas de


aproximação do homem e suas crenças por meio da construção de
espaços de adoração e encontro de fiéis. As construções expressavam
fundamentos e revelavam ideologias de cada religião. As mesquitas eram
os monumentos mais utilizados e de principal importância em uma cidade
islâmica.
I. A necessidade de não utilizar figuras simbólicas ou literais, precede uma
arquitetura com ornamentação baseada em padrões, repetições e simetria,
sugerindo também uma grade projetual que orientará a organização dos
fiéis.

U1 -Arquitetura na Idade Média 31


II. Os materiais utilizados nessa ornamentação variam mais comumente
entre pedra, tijolos e cerâmica vitrificada, e uma menor incidência de
reboco em gesso e uso da madeira.
III. Eram utilizadas técnicas para composição dessa ornamentação pela
repetição de elementos arquitetônicos em suas portas e janelas (por
exemplo, o arco), uso de figuras geométricas para criação de padrões,
representações orgânicas de elementos da natureza e uso da caligrafia.

Assinale a alternativa que corresponde às afirmações acima:


a) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
b) As afirmativas I e III são verdadeiras apenas.
c) As afirmativas I e II são verdadeiras apenas.
d) As afirmativas II e III são verdadeiras apenas.
e) As afirmativas I, II e III são falsas.

3. As mesquitas eram os monumentos mais importantes em uma cidade


islâmica, sendo elas os principais locais para o culto. A partir de suas
origens, segundo Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), encontram-se as
igrejas cristãs e até mesmo os salões de audiência dos reis persas. Estas
construções possuíam elementos característicos de sua arquitetura.
Entre os elementos fundamentais de uma mesquita, estão os seguintes:
I. Minaretes.
II. Muro ao ar livre como espaço de orações.
III. Salão de culto.
IV. Baazar interno.

Assinale a alternativa que corresponde às afirmações acima:


a) As afirmativas I e II são verdadeiras.
b) As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
c) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
d) As afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
e) As afirmativas I, III e IV são falsas.

32 U1 - Arquitetura na Idade Média


Seção 1.2
Urbanismo na Idade Média. Arquitetura Românica
Diálogo aberto
Você está viajando pelo mundo com um grupo de arquitetos para
conhecer edificações e principais monumentos que representem
a arquitetura medieval; viajou para a Turquia, a fim de conhecer
algumas obras da arquitetura islâmica.

Ao finalizarem a primeira parte da viagem, os seis arquitetos


partem em busca de edificações que representem as características
da arquitetura românica e os elementos básicos que marcaram
tanto esta arquitetura. Dessa forma, os profissionais partem para
a Itália, a fim de conhecerem a Catedral de Pisa. Quais são as
características que compõem a arquitetura deste local, uma vez
que ele foi construído em estilo românico? Ajude os arquitetos a
identificarem os elementos projetuais e construtivos desta famosa
edificação. Mãos à obra!

Não pode faltar


O Período Medieval ou Idade Média se estendeu entre o declínio
da autoridade romana até o início do Renascimento, em que é
conhecido como a era intermediária entre a Antiguidade e a Idade
Moderna. Nesta época, os nômades gradativamente se assentaram
à medida que se convertiam ao cristianismo, para dar seguimento às
tradições de governos romanos.

A cultura romana estava baseada na vida urbana e era


completamente dependente de um estado centralizado e forte.
No entanto, segundo Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), devido a
invasões bárbaras, toda educação básica, como a alfabetização,
que servia para manter a autoridade governamental, praticamente
desapareceu. Dessa forma, os assentamentos urbanos foram
substituídos por unidades agrícolas, que eram organizadas por
líderes locais, cuja residência era uma habitação fortificada de onde
controlavam as terras de seu entorno.

U1 -Arquitetura na Idade Média 33


Este período ficou conhecido como o sistema feudal, em que
os camponeses cultivavam nas terras dos líderes em troca de sua
miserável subsistência e proteção. Este arranjo formatou o sistema
de níveis sociais, do vassalo ao rei, sendo ela uma complexa ordem
social, política e econômica, em que cada feudo possuía suas
próprias regras.

Para Fazio, Moffet e Wodehouse (2011) a sociedade da Idade


Média, que constituiu o período feudal, era dividida em três classes:

- Os senhores feudais, proprietários de terra e seus cavaleiros (os


que lutavam).

- Os camponeses, também conhecidos como vassalos (classe


trabalhadora).

- Os sacerdotes e os monges (os que oravam).

Todo trabalho era considerado essencial ao bem-estar geral, mas


o apaziguamento de Deus, em que se creditava estar furioso com a
perdição da humanidade, vinha por meio das orações dos monges,
que eram particularmente importantes. “Os cristãos medievais
consideravam seu senhor celeste tão suscetível à bajulação como
seus contrapartes terrenos” (FAZIO; MOFFET; WODEHOUSE, 2011,
p. 202).

Os estilos arquitetônicos do período medieval, justamente na


fragmentação geopolítica do feudalismo, eram particulares e possuíam
um caráter regional, ou até mesmo local. O desenvolvimento da
arquitetura deste período foi mais expressivo na construção de
igrejas e monastérios de alvenaria e com abóboda que resistissem a
incêndios. Segundo descrevem Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), aos
poucos, os construtores medievais, sendo eles grupos de indivíduos
dentro do sistema feudal que possuíam o direito de ir e vir, passaram
a migrar para outros locais, provocando um período de construção
de inúmeras edificações extraordinárias.

As principais construções na época da Europa feudal eram


os castelos e os monastérios. O primeiro por seu caráter de
ostentação do poder, em que a superioridade do senhor feudal
intimidava inimigos e, até mesmo, a própria população do feudo.

34 U1 - Arquitetura na Idade Média


Já os monastérios e as construções religiosas eram constituídas
e projetadas como um meio prático de controle dos territórios
conquistados, além de suas contribuições espirituais e educacionais.
Estas edificações tiveram um impacto enorme no desenvolvimento
da arquitetura medieval.

Reflita
Sendo os castelos e as edificações voltadas ao sagrado, as principais
construções da Idade Média, principalmente no período feudal, as
construções das residências e outros equipamentos urbanos eram
colocados à parte deste sistema. Como você imagina que funcionavam
as construções das casas dos vassalos e outros equipamentos que
faziam parte da área “comunitária” do feudo?

A construção de monastérios na Idade Média, de acordo com


Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 202):

“Promoveu a educação em todas as partes da Europa,


e os edifícios monásticos e suas fazendas preservaram e
aperfeiçoaram o que havia de melhor na arquitetura, nas
artes e na agricultura. A civilização medieval por toda a
Europa foi desenvolvida em grande parte por meio da obra
de seus monges”.

O desenho da planta do monastério de Saint Gall, apresenta os


elementos que são necessários para a comunidade autossuficiente
e religiosa. A maior edificação era a igreja, em que as construções
do seu entorno organizavam as necessidades da comunidade
monástica, buscando a alta qualidade de um planejamento funcional.

U1 -Arquitetura na Idade Média 35


Figura 1.14 | Abadia de Saint Gall (Suíça)

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/stadt-sankt-gallen-gm601120474-103366127>.
Acesso em: 19 dez. 2016.

36 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.15 | Planta Baixa da Abadia de Saint Gall (Suíça)

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 203).

U1 -Arquitetura na Idade Média 37


Pesquise mais
No livro História geral da arte, os autores abordam a arquitetura
românica, sua concepção e suas principais características.

GOITIA, F. C. et al. História geral da arte: Arquitetura II. Rio de Janeiro:


del Prado, 1996. p. 102.

Fazio, Moffett e Wodehouse (2011) reconhecem como uma das


primeiras edificações memoráveis pré-românicas o monastério de
Saint Martin de Canigou (1001-1026), localizado na França. A igreja foi
construída a 1055 m de altitude em uma elevação rochosa e graças
às características de durabilidade de sua estrutura e os materiais
utilizados sobreviveu ao longo do tempo, passando apenas por uma
restauração no século XX.
Figura 1.16 | Monastério de Saint Martin de Canigou

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/saint-martin-du-canigou-gm135845818-
18601895?st=_p_Martin%20de%20Canigou>. Acesso em: 19 dez. 2016.

38 U1 - Arquitetura na Idade Média


O conjunto de edificações do monastério forma um quadrângulo
irregular acompanhando o terreno com uma torre anexa, de planta
baixa quadrada responsável pela vigília e segurança da abadia. A
edificação é marcada pela construção de pesadas paredes portantes
de pedras, à prova de fogo e janelas limitadas, que promoviam
baixos níveis de luz no interior, uma vez que grandes aberturas
enfraqueceriam a estrutura.

A utilização das pedras como principal material estrutural forçava


o uso de paredes densas com objetivo de suportar o peso das
abóbadas das coberturas. A decisão de usar arcos plenos foi devido
à facilidade de execução e ao apelo estético, já que, até então, não
havia conhecimento dos cálculos estruturais mais refinados.

Figura 1.17 | Interior do Monastério de Saint Martin de Canigou

Fonte: Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 207).

O Sacro Império Romano englobava principalmente as regiões


da atual Alemanha e parte da Itália e teve como seu primeiro grande
imperador Carlos Magno, que foi sucedido pela família Oto por três
gerações, período conhecido como otoriano. A igreja São Miguel
de Hildersheim (1010-33) e a Catedral de Speyer são ícones desta
arquitetura e símbolos da expressão germânica. Ambas se destacam
pela existência de espaços para receber o imperador e sua corte com
vista privilegiada do altar e iluminação promovida por clerestórios,
aberturas na parede das naves centrais.

U1 -Arquitetura na Idade Média 39


Figura 1.18 | Igreja São Miguel de Hildersheim

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/catedral-de-speyer-gm157422392-
8740576?st=_p_catedral%20de%20speyer>. Acesso em: 19 dez. 2016.

Na Itália, o uso de colunas coríntias, arcos plenos e padrões


geométricos aplicados em revestimentos de mármore, faziam
referência direta à Roma Antiga. Este sistema construtivo também
foi bastante utilizado no período renascentista. Neste sentido, Fazio,
Moffett e Wodehouse (2011) destacam a Igreja San Miniato al Monte
(1062–90), em Florença, com telhado em madeira e fachada plana.
Figura 1.19 | Coluna Coríntia – San Miniato al Monte

Fonte: <https://goo.gl/nysQur>. Acesso em: 19 dez. 2016.

40 U1 - Arquitetura na Idade Média


Exemplificando
A Catedral de Pisa (1063 - 1089), apresenta planta cruciforme, em
formato de cruz, e possui estrutura repleta de arcos e colunas de
mármore, mas é mundialmente conhecida pela sua torre pendente,
cerca de 4 m fora do prumo devido a problemas com a fundação.
Figura 1.20 | Catedral de Pisa

Fonte: <https://goo.gl/ZBmm6g>. Acesso em: 19 dez. 2016.

Figura 1.21 | Planta da Catedral de Pisa

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 211).

U1 -Arquitetura na Idade Média 41


O período medieval românico possui uma arquitetura bastante
definida em suas formas, devido ao triunfo de suas técnicas
construtivas. A seguir, definem-se alguns elementos que são
bastante caraterísticos das construções da época:

• Paredes sólidas de pedra

A pedra garantia solidez na estrutura, principalmente para


suportar as pesadas abóboda.
Figura 1.22 | Mosteiro de Ripoll

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/mosteiro-cimborio-ripoll-gm177745184-
23952315?st=_p_mosteiro%20de%20ripoll>. Acesso em: 19 dez. 2016.

• Utilização de colunas

O pilar composto, característico do período românico, possuindo


um formato quadrado, cruciforme ou cilíndrico, conectava os
arcos. Nos pilares, apareceram os capitéis figurados, supondo uma
integração da escultura com a arquitetura.

42 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.23 | Pilares Igreja de San Martín, Segóvia, Espanha

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/seg%C3%B3via-igreja-de-san-martin-
gm481723622-69553683>. Acesso em: 19 dez. 2016.

• Substituição da cobertura de madeira pelas abóbodas de


pedra

Este tipo de cobertura gerava o formato dos edifícios, em que a


existência de uma abóbada de pedra obrigava a consolidação de
paredes e a abertura de alguns vãos.
Figura 1.24 | Igreja Saint Germain em Brionnais

Fonte: <http://bourgognemedievale.com/departement-et-pays/saone-et-loire/pays-
charolais-brionnais-2/saint-germain-brionnais/>. Acesso em: 19 dez. 2016.

U1 -Arquitetura na Idade Média 43


• Forma externa maciça com altura limitada

As aberturas eram limitadas pelo formato maciço das paredes. A


altura também se limitava aos arcos estruturados.

• Abóboda de berço (arco semicircular)

Estruturas apoiadas em paredes espessas, de pedra.

Figura 1.25 | Arco semicircular e abóbada de berço

Fonte: elaborada pela autora.

• Contrafortes

Utilização de contrafortes para resistir à pressão lateral das


paredes construídas.
Figura 1.26 | Igreja Saint Germain em Brionnais

Fonte: <http://lieuxsacres.canalblog.com/archives/2012/10/16/25349331.html>. Acesso em: 19


dez. 2016.

44 U1 - Arquitetura na Idade Média


Assimile
O período de construções românicas foi marcado por diversas
características, em que os elementos arquitetônicos podem ser
reconhecidos e identificados como fundamentais de tal época.
A utilização de pedra e construção de arcos foram, certamente,
os pontos chaves para a mudança das edificações que viriam a
seguir.

A construção em arco denota o conhecimento do cálculo e de


conceitos de geometria e estabilidade, além do uso de materiais
como as argamassas de assentamento ou acomodação das
peças que não eram uniformes.

Conceitos de travamento, deslizamento, esforços, eram


notoriamente utilizados.

Os contrafortes que chamamos hoje de enrijecedores nas


empenas de parede são uma demonstração desta evolução.

Sem medo de errar


Ao chegarem à Itália, você e os arquitetos se direcionaram
diretamente à Catedral de Pisa, a fim de conhecerem a edificação e
iniciarem os registros e a avaliação dela. Para que se possa identificar
a construção é preciso buscar suas características e entender alguns
elementos construtivos que determinam em qual período ela foi
projetada.

O estilo românico, em diferentes partes do mundo, instituiu


fundamentos básicos desta tipologia construtiva, que gerou
posteriormente diversas variáveis e influenciou o que viria a seguir.

Dessa forma, os arquitetos identificaram alguns elementos


básicos da arquitetura românica, que ocorreu na Itália, na Catedral
de Pisa. A partir disso, criaram um guia para auxiliar na leitura dos
elementos que compõem a edificação.

Em primeiro lugar, analisaram a planta da catedral, que possui um


formato cruciforme (formato de cruz), em que as paredes externas

U1 -Arquitetura na Idade Média 45


possuem uma espessura muito maior para suportarem o peso das
abóbada que compõem seu interior.

Figura 1.27 | Planta da Catedral de Pisa

Fonte: adaptada Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 211).

Na fotografia tirada pelos arquitetos é possível visualizar


exatamente como se deu a construção desta planta, além de
verificar elementos básicos da arquitetura românica na edificação.
Figura 1.28 | Vista superior da Catedral de Pisa

Altura
limitada Planta
devido ao cruciforme
formato
maciço das
paredes

Paredes
sólidas de Poucas
pedra aberturas na
fachada

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/catedral-de-pisa-gm157646606-14025736>. Acesso em: 19 dez. 2016.

No interior da catedral é possível encontrar outros elementos


que determinaram a construção românica e suas características
construtivas.

46 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.29 | Nave Catedral de Pisa

Referência Arco semi-


de capteis circular
coríntios

Pilares de
mármore

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/nave-da-catedral-de-pisa-gm176899116-14768254>. Acesso em:


19 dez. 2016.

Figura 1.30 | Nave Catedral de Pisa

Abóbada de
berço

Abóbada de
berço

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/igreja-de-interior-gm118150159-9467194>. Acesso em: 19 dez. 2016.

Avançando na prática
Arquitetura Românica e suas características

Descrição da situação-problema

Você é estudante de arquitetura e urbanismo e seu sonho


sempre foi conhecer pessoalmente alguns dos lugares que eram
apresentados nas disciplinas em sala de aula. Quando cursava o
sexto período do curso, foi notificado de que a universidade em
que você estudava estava oferecendo duas bolsas de estudo para
um intercâmbio na Espanha, com duração de um semestre. Para

U1 -Arquitetura na Idade Média 47


isso, era preciso que os candidatos realizassem algumas provas
que se dividiam em etapas, em que a primeira consistia em uma
prova de conhecimentos gerais, a segunda, uma apresentação
oral sobre conhecimentos específicos da arquitetura espanhola
e a terceira, uma entrevista. Para a realização da segunda fase foi
realizado um sorteio de temas, entre os candidatos aprovados na
primeira etapa. O tema que você recebeu para estudar e apresentar
foi a construção da catedral de Santiago de Compostela. Você deve,
basicamente, entender a construção da catedral, seu período, seu
estilo e as principais características que compõem a edificação. Para
apresentar tal tema é preciso que você possua conhecimentos da
arquitetura da catedral, bem como definir quais são os elementos
construtivos que qualificam esta construção.

Resolução da situação-problema

Ao iniciar os estudos sobre a Catedral de Santiago de


Compostela, você identificou que ela foi inicialmente projetada no
estilo românico, construída aproximadamente em 1075-1211. Esta
igreja localiza-se ao longo de uma rota de peregrinação, conhecido
como Caminho de Santiago, que recebe diversos turistas e devotos.

Seu desenho possui naves laterais que se conectam a galerias


de circulação, permitindo aos peregrinos um percurso contínuo na
visita das capelas.
Figura 1.31 | Planta da Catedral de Santiago de Compostela

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 213).

48 U1 - Arquitetura na Idade Média


A catedral foi construída em estilo românico, com as características
como arcos semicirculares, abóbada, paredes maciças de pedra,
poucas aberturas, planta cruciforme e contrafortes de sustentação
das paredes.
Figura 1.32 | Ilustração da Catedral de Santiago de Compostela

Fonte: adaptada de <http://2.bp.blogspot.com/-veG9EKX5ikw/TY2gZVsZPlI/AAAAAAAAFKw/


smDOxXVt69A/s1600/ILUSTR%257E1.JPG>. Acesso em: 19 dez. 2016.

No entanto, com o passar dos anos, a catedral foi modificada,


recebendo elementos de outros estilos arquitetônicos, como
elementos de estilo gótico e até mesmo do barroco.
Figura 1.33 | Fachada da Catedral de Santiago de Compostela

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/catedral-de-santiago-de-compostela-espanha-
gm467685738-60505968?st=_p_santiago%20de%20compostela%20catedral>. Acesso em: 19
dez. 2016.

U1 -Arquitetura na Idade Média 49


Faça valer a pena
1. Os assentamentos urbanos foram substituídos por unidades agrícolas,
que eram organizadas por líderes locais, cuja residência era uma habitação
fortificada de onde controlavam as terras de seu entorno. Este período
ficou conhecido como o sistema feudal, em que os camponeses cultivavam
nas terras dos líderes em troca de sua miserável subsistência e proteção.
Os autores Fazio, Moffet e Wodehouse (2011) descrevem a sociedade da
Idade Média, que constituiu o período feudal, dividida em três classes: os
senhores feudais, proprietários de terra, e seus cavaleiros (__________);
os camponeses, também conhecidos como vassalos (__________); por
fim, os sacerdotes e monges (__________).

Assinale a alternativa que preencha corretamente as lacunas acima:


a) Os que trabalhavam; os que oravam; os que lutavam.
b) Os que lutavam; os que trabalhavam; os que oravam.
c) Os que oravam; os que trabalhavam; os que trabalhavam.
d) Os que trabalhavam; os que lutavam; os que oravam.
e) Os que lutavam; os que oravam; os que trabalhavam.

2. O período medieval românico possui uma arquitetura bastante definida


em suas formas, devido ao triunfo de suas técnicas construtivas, em que
foram utilizados diversos elementos que são bastante caraterísticos das
construções da época, sendo eles:
I. Elemento que garantia solidez na estrutura.
II. Estruturas da cobertura que eram apoiadas em paredes espessas.
III. Utilização de estruturas para resistir à pressão lateral das paredes
construídas.

Assinale a alternativa que corresponde às afirmações acima, na sequência


em que são apresentadas:
a) I. Paredes sólidas de pedra; II. Abóbada de berço; III. Contrafortes.
b) I. Abóbada de berço; II. Paredes sólidas de pedra; III. Contrafortes.
c) I. Contrafortes; II. Abóbada de berço; III. Paredes sólidas de pedra.
d) I. Paredes sólidas de pedra; II. Contrafortes; III. Abóbada de berço.
e) I. Contrafortes; II. Paredes sólidas de pedra; III. Abóbada de berço.

3. O Período Medieval ou Idade Média se estendeu entre o declínio da


autoridade romana até o início do Renascimento, em que é conhecido
como a era intermediária entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Nesta
época, os nômades gradativamente se assentaram à medida que se
convertiam ao cristianismo, para dar seguimento às tradições de governos

50 U1 - Arquitetura na Idade Média


romanos. Nesse sentido, é possível afirmar:
( ) O período feudal iniciou quando os assentamentos urbanos foram
substituídos por unidades agrícolas, que eram organizadas por líderes
locais, cuja residência era uma habitação fortificada de onde controlavam
as terras de seu entorno.
( ) As principais construções na época da Europa feudal eram os
castelos e os monastérios. Os primeiros por seu caráter de ostentação
do poder. Os segundos eram construções religiosas que se constituíam
um meio prático de controle dos territórios conquistados, além de suas
contribuições espirituais e educacionais.
( ) Os estilos arquitetônicos do período medieval, justamente na
fragmentação geopolítica do feudalismo, eram particulares e possuíam
um caráter regional, ou até mesmo local.

A partir do texto citado, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para


as falsas:
a) V, F, V.
b) V, V, F.
c) F, F, F.
d) V, V, V.
e) F, V, F.

U1 -Arquitetura na Idade Média 51


Seção 1.3
Arquitetura Gótica
Diálogo aberto
Juntamente aos seis arquitetos, a viagem que você está realizando
para documentar as características construtivas de edificações
da Idade Média está chegando ao fim. A última parada, antes de
voltarem para casa, foi uma visita à Paris, a fim de conhecerem
os monumentos da construção gótica. Ao chegarem, vocês se
depararam com diversas edificações representativas do estilo gótico.
Assim, vocês documentaram essas edificações, fotografando cada
espaço e analisando os elementos compositivos, construtivos e
ornamentais. A viagem de volta ao Brasil chega a durar dez horas
em avião, então, durante a volta, você decide realizar uma ficha
comparativa entre as arquiteturas de estilo gótico e as de estilo
românico, a fim de utilizar esses elementos no documentário. Para
isso, você começa a esboçar alguns desenhos das catedrais que
visitou e, a partir deles, cria uma lista comparativa de caraterísticas
e elementos que convergem ou divergem nestas construções.
Ao final, quais são os elementos que você poderá encontrar na
arquitetura gótica que diferem da arquitetura românica? Quais são
as principais edificações que podem ser utilizadas para que você
realize este comparativo? Mãos à obra!

Não pode faltar

A arquitetura gótica é um dos estilos com maior duração no


período medieval. Além de sua representatividade com relação ao
tempo, as características e as técnicas construtivas foram exploradas
e aperfeiçoadas, a fim de que a contemplação arquitetônica fosse
além da mera construção.

De acordo com Hauser (1972), no período em que o estilo gótico


foi iniciado, havia uma doutrinação que já indicava a insatisfação
com a crença incondicional, em que desejava-se sacrificar a fé ao

52 U1 - Arquitetura na Idade Média


conhecimento ou o conhecimento à fé, construindo, portanto, uma
cultura sobre uma síntese desta dualidade.

Neste sentido, este dualismo:

“Era expresso nas diversas tendências sociais, econômicas,


religiosas e filosóficas da época, no antagonismo entre a
economia de consumo e a economia comercial, feudalismo
e burguesia, o mundo exterior e a vida interior, o realismo e
o nominalismo, dominando todas as relações da arte gótica
com a natureza e a íntima estrutura de sua composição
também se manifesta numa polaridade de elementos de
arte, racionais e irracionais, especialmente na arquitetura”
(HAUSER, 1972, p. 322).

Segundo Janson e Janson (1996), o termo gótico foi melhor


abrangido na arquitetura, pois suas características de estilo
puderam ser mais facilmente reconhecidas. Estes elementos são as
grandes janelas, uso do arcobotante, torres pontiagudas e esguias,
abóbadas e arcos em formato ogiva e grandes vitrais com temas
religiosos, principalmente nas catedrais. O estilo gótico abrange
quase quatrocentos anos de construção em alguns lugares e
aproximadamente cento e cinquenta em outros. Assim, é possível
identificar que o período gótico passou por algumas fases, de
diferentes maneiras em diferentes países.

A arquitetura gótica, conforme descrevem os autores Fazio,


Moffet e Wodehouse (2011), representa uma coletânea de técnicas
estruturais, em que são incluídos sistemas estéticos integrados. Dessa
forma, os elementos arquitetônicos, como o arco ogival, permitiram
que áreas irregulares pudessem ser cobertas por abóbadas. Além
disso, comparativamente, à planta baixa do estilo Românico, em
que a edificação era expressada em volumes separados, as plantas
góticas reuniam composições ordenadas e unificadas, devido à
autonomia geométrica da estrutura.

Consoante a esta reflexão, Hauser (1972, p. 322) analisa que a


arquitetura gótica poderia ser considerada como “uma arte de
cálculos de engenheiros, que vai buscar a sua inspiração à utilidade

U1 -Arquitetura na Idade Média 53


prática e exprime simplesmente o que é tecnicamente necessário
e estruturalmente possível”. Segundo o autor, “acreditou-se que os
princípios da arquitetura gótica, sobretudo o seu verticalismo vivo e
luminoso, podiam todos provir da abóbada em ogiva, uma invenção
técnica” (HAUSER, 1972, p. 322).

Ao analisar a construção de igrejas românicas comparativamente


às igrejas góticas, Hauser (1972, p. 324) identifica que “o interior
de uma igreja românica é um espaço estático, que ante limita e
que permite ao espectador repousar os olhos e ficar em perfeita
passividade. Uma igreja gótica, pelo contrário, parece estar em
processo de desenvolvimento, como se fosse erguer perante os
nossos olhos; exprime um processo, não um resultado”. Neste
sentido, o efeito dinâmico da construção gótica torna-se poderoso,
à medida que a construção não é prejudicada mesmo quando
está incompleta, pois, neste caso, sua força e poder acabam por
aumentar (HAUSER, 1972).

À medida que o estilo gótico se desenvolveu, nota-se o desejo


de que a grande massa das edificações seja reduzida e que haja
um aprimoramento das características do espaço e da iluminação,
motivados por elementos tanto metafísicos como práticos,
provocando revoluções técnicas e artísticas (FAZIO; MOFFET;
WODEHOUSE, 2011).

Para Hauser:

“Um edifício gótico não é, simplesmente, uma massa em


movimento: mobiliza o espectador também e faz com
que um ato de entusiasmo se converta em um processo
de direção definida e realização gradual”. O autor define
que os edifícios góticos não podem ser abrangidos no
todo, de qualquer ponto de vista possível, pois, segundo
ele, “ nenhum dos ângulos apresenta um aspecto calmo
e completo que denuncie a estrutura do conjunto. Pelo
contrário, obriga o espectador a mudar constantemente de
ponto de vista, e somente lhe permite obter uma visão de
conjunto, através do seu próprio movimento, ação e poder
de reconstituição” (HAUSER, 1972, p. 326).

54 U1 - Arquitetura na Idade Média


Assimile
Os elementos construtivos bastante característicos da arquitetura
gótica surgiram em detrimento de novas técnicas estruturais, que
permitiram maiores aberturas. Esta configuração pode ser observada
a seguir, na Figura 1.34.

Figura 1.34 | Elementos compositivos da estrutura de uma edificação gótica

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 232).

O gótico primitivo e abadia de Saint-Denis

A origem do estilo gótico se deu no Norte da França, mais


precisamente na região no envoltório de Paris, conhecido como

U1 -Arquitetura na Idade Média 55


Ile-de-France. Segundo Janson e Janson (1996), nenhum estilo
arquitetônico precedente teve suas origens com tanta exatidão
quanto o estilo gótico, que nasceu “entre 1137 e 1144, da
reconstrução, orientada pelo Abade Suger, da abadia real de Saint-
Denis” (JANSON; JANSON, 1996, p. 132).

Nesta época, os reis da França reinavam em absoluto neste local,


ainda que esta condição fosse contestada pelos nobres, cujo poder
interceptava a monarquia, em que seu poder era refutado a todo
tempo.

De acordo com Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), a Abadia


de Saint-Denis era o monastério da família real francesa, na qual
o túmulo de Denis, primeiro bispo de Paris que foi martirizado
pelos romanos e, posteriormente, escolhido como santo padroeiro
da França, estava localizado. A edificação existente, consagrada
como uma basílica carolíngia foi reconstruída posteriormente por
Suger, para maior glória de Deus e da França, em que o abade
desenvolveu as imagens do que esperava da nova igreja. Sua ideia
era a de construir características físicas e metafísicas de imagens que
foram manifestadas espiritualmente, especialmente os fenômenos
associados à luz, conforme se observa na planta baixa, Figura 1.35.

Figura 1.35 | Planta baixa de Saint Denis, 1137–1140

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 233).

56 U1 - Arquitetura na Idade Média


O poder que o abade possuía, para tal reconstrução, era devido
ao apoio dado à monarquia, sendo o responsável pela aliança entre
a família real e a igreja. Além disso, seu apoio não era apenas político
prático, senão o plano da política espiritual, em que sua ideia era
unir a posição real glorificada como o braço da justiça, obtendo,
assim, o apoio da nação.

Suger iniciou a reconstrução da abadia de Saint-Denis em 1137,


em que foi executada uma nova fachada com torres gêmeas,
estátuas, articulações das janelas, incluindo uma rosácea (janela
circular) que diferia de qualquer outra construção realizada até
então. Já no interior, as abóbadas e as colunas que exploravam o
potencial de toda continuidade de linhas.

A obra foi tão bem-sucedida que sua ampliação iniciou quase


imediatamente após a finalização da edificação. A preocupação
com a iluminação fez com que Suger planejasse o uso de luzes
coloridas que irradiavam no coro, projetadas pelos grandes vitrais. O
conjunto, segundo Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 234):

“Possuía um “interior arejado, luminoso e rico que brilha


como uma coleção de joias, exatamente o efeito desejado
por Suger: um cordão circular de capelas, em virtude
do qual toda a igreja brilharia com a luz maravilhosa e
ininterrupta das janelas mais sagradas, à qual está por trás
de toda a beleza do interior”.

U1 -Arquitetura na Idade Média 57


Figura 1.36 | Interior da Abadia de Saint-Denis

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/bas%C3%ADlica-de-saint-denis-royale-5-
gm464450576-58245338>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Todo este extraordinário conjunto de elementos fez com que o


estilo gótico, a partir da referência de Saint-Denis, fosse copiado e
replicado por toda França. Em poucas décadas este estilo difundiu-se
para muito além dos limites da Ile-de-France.

Segundo Janson e Janson (1996), o futuro da arquitetura gótica


se deu nas cidades e não nas comunidades monásticas, como em
Ile-de-France. Para os autores:

“O crescente peso da cidade fazia-se sentir não só


econômica e politicamente, mas também de inúmeras
outras formas: os bispos e o clero urbano ganharam nova
importância, e as escolas das catedrais e universidades
substituíram os mosteiros como centros de aprendizagem,
enquanto esforços artísticos da época culminaram nas
grandes catedrais” (JANSON; JANSON, 1996, p. 132).

Neste sentido, a famosa catedral de Notre-Dame reflete as


principais características góticas da abadia de Saint-Denis. Em
primeiro lugar, sua planta (Figura 1.37), quando comparada a
uma planta românica, apresenta uma estrutura mais compacta e
unificada. Em seu interior, as abóbadas com seis divisões e os arcos
ogivais, com perfis nervurados.

58 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.37 | Planta Catedral de Notre-Dame

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 233).

A Catedral de Notre-Dame, de acordo com Fazio, Moffet e


Wodehouse (2011, p. 236):

“É uma igreja com 33,5 metros de pé-direito sob suas


abóbadas, e a luz direta admitida na nave central através
do clerestório original se mostrou insuficiente para
tamanho pé-direito. Para melhorar a iluminação, por
volta de 1225 foi ampliado o clerestório (janelas nas
paredes laterais, dispostas no alto e sobre um telhado
adjacente) que circunda toda a catedral, arcobotantes
foram acrescentados ao coro, para estabilizar o grande
semicírculo e os contrafortes originais da nave central
foram reconstruídos”.

U1 -Arquitetura na Idade Média 59


Figura 1.38 | Catedral Notre-Dame, Paris

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/catedral-notre-dame-de-paris-fran%C3%A7a-
gm465616584-59292570>. Acesso em: 10 nov. 2016.

A construção das igrejas góticas levanta um questionamento


importante sobre sua construção e seus elementos principais, em
que a técnica e o conhecimento de estruturas permitiram que as
cargas pudessem ser transmitidas a outros elementos, que não as
paredes, por sua vez livres para as grandes aberturas, permitindo,
portanto, uma inundação de luz. Para Janson e Janson (1996), a
arquitetura gótica vai muito além da soma de suas próprias partes.

O gótico pleno e as catedrais de Chartres, Bourges e Sainte-


Chapelle

As construções góticas, após a incorporação dos arcobotantes


nas catedrais, foram cada vez mais aperfeiçoadas, no que foi possível
construir as edificações com características artísticas e estruturais
cada vez mais refinadas.

As catedrais Notre-Dame de Chartres e Saint Etienne de Bourges


são exemplos da arquitetura gótica plena. Sua construção, quando
comparada com o gótico primitivo, por exemplo a Catedral de Laon,
apresenta maior robustez, aberturas que permitiam maior passagem

60 U1 - Arquitetura na Idade Média


de luz, remoção de elementos estruturais com influência românica,
como as grandes paredes espessas.

A grandiosidade das catedrais foi proporcionada a um melhor


aproveitamento da estrutura. Segundo Fazio, Moffet e Wodehouse
(2011, p. 239) “em Chartres, os elementos estruturais visíveis,
especialmente as nervuras das abóbadas e os colunelos, são
esbeltos e profundamente marcados, parecendo flutuar sobre as
superfícies às quais se conectam”.

Exemplificando
Na Figura 1.39, é possível notar a diferença entre a Catedral de Laon,
construída no período gótico primitivo e a Catedral de Chartres. Há
um grande aumento na largura e na altura do clerestório, por exemplo.
Figura 1.39 | Comparação entre a Catedral de Laon e a Catedral de
Chartres

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 239).

A preocupação com a Iluminação era um dos grandes motivos


para que a estrutura gótica fosse melhor pensada. Na Catedral Sainte-
Chapelle, em Paris, a edificação possui paredes que são construídas

U1 -Arquitetura na Idade Média 61


praticamente em vidro, conforme é possível observar na figura 1.6,
pois os montantes de pedra foram reduzidos ao máximo. De acordo
com Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 244), “a Sainte-Chapelle
é uma obra única como pequeno exemplo de desmaterialização
de paredes de alvenaria e das características extraordinárias da luz
colorida desejadas pelo Abade Suger”.
Figura 1.40 | Interior da Catedral Sainte-Chapelle

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/sainte-chapelle-gm499725326-
80393241?st=_p_saintechapelle>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Gótico inglês

O estilo gótico em pouco tempo foi levado a outros países,


como a Inglaterra. Inicialmente, as construções das catedrais eram
realizadas por arquitetos franceses, mas logo passou a desenvolver
seu próprio estilo. O melhor exemplo do estilo gótico inglês é a
Catedral de Salisbury, que contém diversos padrões góticos
franceses, mas também conservou alguns elementos românicos
em sua composição.

Reflita
Ao estudar o estilo românico foi possível identificar alguns de seus
principais elementos. Algumas catedrais góticas ainda possuíam

62 U1 - Arquitetura na Idade Média


características românicas e houve a preservação ou a destruição destes
elementos. Você saberia identificar quais são os elementos românicos
que possivelmente foram conservados na Catedral de Salisbury? Reflita
a respeito de quais estruturas prováveis foram mantidas.

No estilo inglês há uma busca pela verticalidade mais acentuada,


além de uma amplitude e naturalidade, como se o usuário pudesse
se sentir à vontade com o cenário e o passeio, como é possível
observar na Figura 1.41.

Figura 1.41 | Catedral de Salisbury

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/salisbury-catedral-inglaterra-reino-unido-
gm183751337-15896001>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Para Hauser (1972, p. 324), na arquitetura gótica:

“A resolução de toda a massa em um número de forças, a


dissolução de tudo quanto é rígido e em repouso, por meio
de uma dialética de funções e subordinações, esta maré
alta e maré baixa, circulação e transformação de energia,
dão-nos a impressão de um conflito dramático que procura
decidir-se diante dos nossos olhos”.

U1 -Arquitetura na Idade Média 63


Pesquise mais
O documentário realizado pelo canal National Geographic compila as
teorias de diversos profissionais acerca do método construtivo utilizado
no estilo gótico. Por meio de reproduções eletrônicas e até maquetes
físicas, os pesquisadores buscam analisar a estrutura, os elementos e a
singularidades deste estilo.

O Enigma das Catedrais Góticas. 2010. (45 min.), son., color.


Vídeo do YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=KcgZyRSZoQI>. Acesso em: 30 out. 2018.

Sem medo de errar

Ao iniciar sua ficha comparativa entre os estilos românico e


gótico, é preciso iniciar pela diferença entre as plantas destas
construções. Para iniciar, você decide eleger duas edificações, a
Catedral de Pisa (românica) e a Catedral de Saint-Denis (gótica), que
foram estudadas na viagem, a fim de compará-las.

Em primeiro lugar, a comparação se dá no formato da planta


destes edifícios. A planta românica da Catedral de Pisa apresenta
formato cruciforme. Já a planta gótica da Catedral de Saint-Denis
apresenta planta mais compacta e unificada, conforme é possível
verificar nas Figuras 1.42 e 1.43.
Figura 1.42 | Catedral de Pisa

Fonte: adaptada de: Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 210).

64 U1 - Arquitetura na Idade Média


Figura 1.43 | Catedral de Saint-Denis

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 233).

Após a comparação entre as plantas, é possível perceber que


as estruturas destas edificações possuem diferenças enquanto a
transposição de cargas, por exemplo. Na catedral românica, as
paredes são espessas, pois além de serem construídas em pedra, seu
dimensionamento era grande suficiente para receber as cargas das
abóbada de berços e arcos semicirculares. Já na catedral gótica, os
vitrais e a rosácea eram elementos fundamentais em sua composição,
gerando, assim, a necessidade de retirar cargas das paredes, uma vez
que elas teriam demasiadas aberturas.

Assim, as abóbada nervuradas substituíram as abóbada de berço,


o que promoveu transferência de carga para os pilares, permitindo
um pé direito mais alto, paredes mais finas e aberturas maiores,
conforme é possível visualizar nas Figuras 1.44 e 1.45.
Figura 1.44 | Catedral de Pisa- fachada Figura 1.45 | Catedral Saint-Denis

Fonte: <https://goo.gl/oLx6AJ>. Acesso em: 16 Fonte: <http://parissempreparis.com.br/a-fantastica-basilica-


nov. 2016. de-saint-denis/>. Acesso em: 16 nov. 2016.

U1 -Arquitetura na Idade Média 65


Os ambientes internos também possuem grande diferença no
que diz respeito à iluminação. A arquitetura gótica primava pela luz
natural, que se assemelhasse a luz divina. Os ambientes internos
das catedrais românicas eram mais escuros, isso devido às poucas
aberturas feitas nas fachadas.

Essa questão foi resolvida pela arquitetura gótica com as


transferências de cargas estruturais, liberando as paredes de serem
mais espessas e de receberem cargas. Dessa forma, as janelas
funcionavam quase como fachadas de vidro, conforme é possível
comparar nas Figuras 1.46 e 1.47.
Figura 1.46 | Interior Catedral de Pisa Figura 1.47 | Interior Catedral de Saint-Denis

Fonte: <https://www.istockphoto.com/ Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/basílica-de-


br/foto/nave-da-catedral-de-pisa- saint-denis-royale-5-gm464450576-58245338>. Acesso em:
gm176899116-14768254>. Acesso em: 30 out. 30 out. 2018.
2018.

Avançando na prática
Elementos estruturais da arquitetura gótica

Descrição da situação-problema

Você é arquiteto e foi contratado para trabalhar em uma empresa


que realiza projetos tanto de arquitetura quanto de engenharia.
Por possuir diversos setores, a empresa tem como política interna
deslocar seus funcionários para diversos campos de atuação, a fim
de que todos possuam certa experiência e diversifique as equipes.
Dessa forma, após trabalhar na área de projetos, você foi deslocado
para a área de engenharia, na consultoria estrutural. Ao iniciar na
nova equipe, a empresa fechou um contrato para realizar o projeto
de uma igreja, cujo pré-requisito é que ela fosse construída no
estilo gótico. Para isso, seu supervisor lhe pediu que realizasse
uma pesquisa a respeito da estrutura gótica, para que o projeto
pudesse ser iniciado considerando todos os elementos deste estilo

66 U1 - Arquitetura na Idade Média


arquitetônico. Assim, quais são os elementos estruturais de uma
catedral gótica? Quais são as características construtivas utilizadas
neste estilo arquitetônico? Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

Ao iniciar a pesquisa sobre as catedrais góticas e suas caraterísticas,


você se depara com uma série de elementos estruturais, muito
próprios deste estilo arquitetônico. Decide, então, realizar um
desenho que represente alguns deles e suas definições:
Figura 1.48 | Elementos compositivos da estrutura de uma edificação
gótica

Fonte: adaptada de Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 232).

U1 -Arquitetura na Idade Média 67


Assim, você decide criar uma lista de definições de alguns dos
elementos estruturais encontrados, a fim de poder utilizá-los na
composição da nova igreja que será construída.

Arcobotante: são estruturas em forma de meio arco, que são


construídas nas partes exteriores da edificação, que servem para
apoiar as paredes e as abóbadas.

Contraforte: estrutura de reforço nas paredes das fachadas para


receberem cargas da estrutura da edificação.

Abóbada nervurada: estrutura de cobertura que forma


abóbadas com nervuras em arcos quebrados, ou ogivas. As
nervuras descarregam o peso da cobertura diretamente nos pilares,
promovendo maior eficiência estrutural, menor carga nas paredes e
maior pé-direito da edificação.

Faça valer a pena


1. A arquitetura gótica é um dos estilos com maior representatividade, em
que suas características e técnicas construtivas foram demasiadamente
exploradas e aperfeiçoadas, a fim de que a contemplação arquitetônica
fosse mais além da mera construção.
( ) A arquitetura gótica representa uma coletânea de técnicas
estruturais, em que são incluídos sistemas estéticos integrados.
( ) À medida que o estilo gótico se desenvolve, há o desejo de que
a grande massa das edificações seja reduzida e que as características do
espaço e da iluminação sejam aprimoradas, motivados por elementos
tanto metafísicos como práticos, provocando revoluções técnicas e
artísticas.
( ) A arquitetura gótica pode ser considerada como uma arte de
cálculos de engenheiros, que busca a sua inspiração à utilidade prática e
exprime simplesmente o que é tecnicamente necessário e estruturalmente
possível.

Assinale a alternativa que apresenta a correta sequência da classificação


das afirmativas:
a) V, V, V.
b) F, V, F.
c) F, F, F.
d) F, F, V.
e) V, V, F.

68 U1 - Arquitetura na Idade Média


2. A origem do estilo gótico se deu no Norte da França, mais precisamente
na região no envoltório de Paris, conhecido como Ile-de-France. A primeira
construção gótica foi realizada com a supervisão do abade Suger e se deu
no monastério da família real francesa. A edificação existente, consagrada
como uma basílica carolíngia, foi reconstruída posteriormente por Suger,
para maior glória de Deus e da França, em que o abade desenvolveu
as imagens do que esperava da nova igreja. Sua ideia era a de construir
características físicas e metafísicas de imagens que foram manifestadas
espiritualmente, especialmente os fenômenos associados à luz.

Assinale a alternativa que corresponde à edificação descrita no texto


apresentado:
a) Catedral de Notre-Dame.
b) Catedral de Saint-Denis.
c) Catedral de Salisbury.
d) Catedral Sainte-Chapelle.
e) Catedral Notre-Dame de Chartres.

3. As construções góticas, após a incorporação dos arcobotantes nas


catedrais, foram cada vez mais aperfeiçoadas, no que foi possível construir
as edificações com características artísticas e estruturais cada vez mais
refinadas. A catedral Notre-Dame de Chartres, por exemplo, representa
a arquitetura gótica plena e sua construção apresenta maior robustez,
aberturas que permitem maior passagem de luz e remoção de elementos
estruturais com influência românica, como as grandes paredes espessas.
A Figura 1 representa um croqui da fachada da Catedral de Chartres, com
seus principais elementos estruturais.

U1 -Arquitetura na Idade Média 69


Figura 1 | Croqui Catedral de Chartres

Assinale a alternativa que corresponde ao elemento construtivo da lacuna


acima:

a) Abóbada nervurada.
b) Cripta.
c) Clerestório.
d) Contraforte.
e) Arco transversal.

70 U1 - Arquitetura na Idade Média


Referências
FAZIO, M.; MOFFET, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed.
Porto Alegre: Amgh Editora, 2011.
GOITIA, F. C. et al. História geral da arte: Arquitetura II. Rio de janeiro: del Prado,
1996. p. 102.
HAUSER, A. História social da literatura e da arte. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
JANSON, H. W.; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
O Enigma das Catedrais Góticas. 2010. (45 min.), son., color. Vídeo do YouTube.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KcgZyRSZoQI>. Acesso em:
30 out. 2018.
SENKO, E. C. A arte e arquitetura islâmica na Idade Média e a representação do poder
Andaluz: a Mesquita Maior de Córdoba (séc.VIII). In: ENCONTRO NACIONAL DE
ESTUDOS DA LINGUAGEM, 3., 2011, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2011. p. 1009
- 1023 Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/trabalhos/
pdf/Elaine%20Cristina%20Senko.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.
Unidade 2

Arquitetura
Renascentista e Barroca
Convite ao estudo
Esta unidade tratará da Arquitetura Renascentista e Barroca e
como os contextos social e político deste período contribuíram
para a mudança dos projetos arquitetônicos e na constituição
de elementos fundamentais para a concepção das cidades e
construções. Serão abordados a arquitetura e o urbanismo
renascentista, arquitetura maneirista e a arquitetura barroca e
rococó. Estes estilos arquitetônicos e o que diz respeito aos
seus processos projetuais serão particionados nesta unidade,
para que se possa compreender como o processo de criação
da arquitetura se desenvolveu ao longo dos séculos.

Os objetivos específicos desta unidade estão relacionados


a conhecer e saber identificar os elementos arquitetônicos de
cada período, bem como saber diferenciá-los. Além disso, é
preciso identificar a postura cultural de cada período, a fim de
entender quais foram as motivações principais que levaram os
projetistas a iniciarem um processo projetual diferenciado.

Para isso, você será convidado a participar da seguinte


situação: formado em arquitetura, você decidiu por seguir
a carreira acadêmica como pesquisador. Sua área de
concentração e estudo está relacionada à história da arquitetura,
principalmente do período Renascentista, Maneirista, Barroco
e Rococó. Sabendo disso, uma universidade de renome
o contatou para que organizasse, junto à instituição, uma
semana de palestras, a fim de apresentar sua pesquisa e estes
tão importantes estilos arquitetônicos. Dessa forma, você
decidiu dividir as palestras em três dias, sendo a primeira
sobre a Renascença, a segunda sobre Maneirismo e a terceira
sobre Barroco e Rococó. No entanto, estas palestras não
possuem somente o intuito de apresentar os estilos, mas o de
compará-los a outros e também entender como as produções
arquitetônicas se relacionam com a mudança de toda a
sociedade.

A partir disso, você precisará organizar suas apresentações,


de modo a apresentar os estilos arquitetônicos pertencentes
ao Renascimento, a fim de conhecer as características e os
elementos construtivos de cada estilo.

Para isto, esta unidade será dividida em três seções, em


que, inicialmente, será apresentada a arquitetura renascentista
e os grandes arquitetos e pensadores da época. Em seguida,
será apresentada a arquitetura maneirista, considerada por
estudiosos como o período entre a arquitetura renascentista
e o barroco. Ao final, a arquitetura barroca será abordada,
com suas características e elementos principais da arquitetura.
Vamos lá?
Seção 2.1
Arquitetura Renascentista
Diálogo aberto
Prezado aluno, nesta seção você conhecerá um pouco
da arquitetura renascentista e maneirista e como se deu o
desenvolvimento deste estilo. Conhecer este conteúdo é
fundamental para o seu conhecimento enquanto profissional, pois
sua aplicação pode se dar em diversos âmbitos da arquitetura.

Para ilustrar isso, o convidamos a solucionar a seguinte situação-


problema: você foi convidado para organizar uma semana de
palestras em uma renomada universidade. Sua área de pesquisa
é a história da arquitetura, com foco na arquitetura renascentista,
maneirista e barroca. Ao dividir os temas em três palestras, iniciará
com o tema da arquitetura renascentista, suas características e
elementos construtivos. Para isso, será abordada a arquitetura deste
estilo a partir da catalogação de uma série de elementos que a
caracterizam. Além disso, você comparará a arquitetura renascentista
com a arquitetura medieval gótica, a fim de estabelecer alguns
parâmetros que diferenciem estes estilos. Assim, quais edificações
foram construídas no período renascentista e como é possível
compará-las com a arquitetura gótica? Quais são os principais
elementos da renascença que se diferenciam dos elementos do
período gótico?

Para solucionar a situação-problema, você deverá verificar os


seguintes conteúdos na seção:

• Renascimento tardio ou maneirismo.

• Michelangelo e suas obras.

• Andrea Palladio e suas obras.

• A cidade na renascença.

Pronto para o trabalho? Mãos à obra!

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 75


Não pode faltar
Enquanto na França e na Inglaterra o período gótico foi marcado
pela unificação da monarquia, na Itália, os feudos permaneciam
em um conjunto de cidades-estados, que eram independentes
e definiam suas políticas de governo, em que suas posições
geográficas potencializavam o comércio em decorrência da rota
de produtos que vinham do Oriente. Dessa forma, a vida cívica
dos italianos não provinha somente de heranças, mas também do
fruto de trabalho e dos lucros mercantis. Este estímulo econômico,
fomentado pelo rápido crescimento do mercado, conduziu a um
renascimento das cidades italianas e seu espaço urbano, pois, com
o aumento do comércio e da população, nasceu a necessidade de
expansão organizada das cidades. Muitas pessoas deixaram suas
atividades nos campos para buscar oportunidades nos centros
urbanos da época.

Neste sentido, os ricos, os banqueiros e os poderosos


mercadores buscavam o prestígio e o status, tanto no mercado
quanto na chancela das artes e das letras, encontrando nos artistas
e nos arquitetos este suporte. Assim, ocorreu uma grande revolução
na arquitetura, na pintura e na escultura. Houve um posicionamento
com uma visão humanista do Renascimento, em que era exaltada
a racionalidade, a individualidade e a capacidade humana de
estabelecer relações empíricas com a ciência matemática.

Segundo Hauser (1972), na Renascença há um interesse


pelo objeto individual, em que se busca a lei natural e o sentido
de fidelidade à natureza. Este naturalismo, estabelecido neste
período, é continuidade do naturalismo do período gótico, no
qual a concepção pessoal de coisas individuais já iniciara. Trata-
se, portanto, do renascimento de uma realidade empírica, sendo
ela a descoberta do mundo e do homem. Esta realidade empírica
tratava da busca do conhecimento verdadeiro, a certeza do futuro,
do poder humano e seu querer e do uso do conhecimento e da
experiência pessoal.

Os pintores e os escultores da renascença possuíam esteticismo


abstrato e a ideia do artista como um herói intelectual sendo a arte
como principal educadora da humanidade. Na renascença, a arte

76 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


passou a ser um ingrediente da cultura moral e intelectual da época,
em que a versatilidade de talento e, especialmente, a união de arte e
ciência em um indivíduo, foram consideradas como características
particulares deste período.

Se por um lado a maior parte dos arquitetos e artistas do período


gótico mantinham-se no anonimato, na renascença, a fama e o
prestígio eram objetos de desejo destes profissionais.

Os arquitetos redescobriram os estudos clássicos de gregos e


romanos, como o texto De Architectura, escrito por Vitrúvio, além
de absorver os textos de Platão, em que começaram a estabelecer
relações matemáticas com as construções, buscando criar uma
arquitetura perfeita. Assim, segundo Fazio, Moffet e Wodehouse
(2011, p. 304), “os humanistas estavam certos de que a ordem
cósmica divina poderia ser expressa na terra por meio de tais
proporções matemáticas, que estavam inevitavelmente relacionadas
às medidas do corpo humano”.

Assim, para os arquitetos renascentistas, as formas geométricas


ideais eram o quadrado e o círculo, entendidas como formas
perfeitas capazes de refletir a harmonia celestial presente nas
plantas de igrejas e catedrais. O desenho do homem, dentro deste
contexto geométrico, refletia as razões de proporção dos espaços,
que eram calculados a partir de relações matemáticas, consideradas
como divinas.

Filippo Brunelleschi iniciou o período mais criativo do


renascimento arquitetônico. Segundo Fazio, Moffet e Wodehouse
(2011), o arquiteto buscou registrar com maior precisão aquilo que via,
durante sua estada em Roma, acabando por criar uma codificação
dos princípios da perspectiva linear, permitindo representar com
exatidão objetos tridimensionais em superfícies bidimensionais.

Ao desenhar cuidadosamente elementos repetitivos,


como os arcos dos aquedutos, ele percebeu que as
linhas horizontais paralelas convergiam para um ponto
no horizonte e que os elementos do mesmo tamanho
diminuíam proporcionalmente conforme a distância. O
desenvolvimento desse novo sistema de representação

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 77


espacial afetou significativamente a arte, a arquitetura e o
projeto urbano, tanto durante como após o Renascimento.
(FAZIO; MOFFET; WODEHOUSE, 2011, p. 304)

Por volta de 1407, o arquiteto foi convidado para projetar


e construir a cúpula da Catedral de Florença, cuja edificação
havia sido iniciada há aproximadamente 120 anos. Dessa forma,
a edificação foi concebida com elementos e estruturas góticas,
como os arcos ogivais e as abóbadas nervuradas sobre os pilares. A
obra prosseguiu até a altura do tambor octogonal, a partir do qual
nasceria uma cúpula de aproximadamente 45 metros de diâmetro.
No entanto, utilizando as técnicas convencionais da estrutura gótica,
este “vão” não poderia ser vencido, devido ao empuxo exercido
pelas estruturas internas.

A arquitetura de Brunelleschi estava relacionada com um retorno


consciente ao vocabulário e padrões construtivos dos gregos e
romanos. Assim, para resolver o problema estabelecido na catedral
de Florença, o arquiteto utilizou seus conhecimentos a respeito
das construções romanas e gregas, produzindo, dessa forma, uma
solução inovadora.

De acordo com Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), a fim de


reduzir o empuxo para fora, o arquiteto elegeu um arco ogival
gótico com apoio transversal, em vez de um arco pleno (Figura 2.1).
Já para reduzir a carga morta, criou uma casca dupla com nervuras
radiais e concêntricas (elementos que se voltam para o centro ou um
ponto de convergência). A quantidade de estruturas temporárias foi
reduzida a partir de “um cimbramento portátil que sustentava fiadas
de alvenaria concêntricas até que se tornassem anéis comprimidos
estáveis e, posteriormente, usou a alvenaria ascendente para
sustentar os andaimes que, por sua vez, sustentavam mais um
cimbramento”. (FAZIO; MOFFET; WODEHOUSE, 2011, p. 305)

78 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.1 | Corte transversal da Catedral de Florença

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 306).

A arquitetura de Brunelleschi surpreende justamente como


um retorno à linguagem arquitetônica e estrutural dos gregos e
romanos: arcos de plena volta ao invés de arcos quebrados, colunas
em vez de pilastras e abóbadas de berço e cúpulas de preferência às
abóbadas de aresta (Figura 2.2).

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 79


Figura 2.2 | Catedral de Florença

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/floren%C3%A7a-gm140989265-
19473380?st=_p_catedral%20de%20florena>. Acesso em: 2 dez. 2016.

Dessa forma, pela pouca flexibilidade das estruturas medievais,


Brunelleschi encontrou na arquitetura greco-romana maiores
possibilidades de conceber uma edificação. Segundo Janson e
Janson (1996), uma coluna ou pilastra medieval, por exemplo,
é rigorosamente definida e seu formato varia somente dentro de
alguns limites. Um outro exemplo é o arco clássico, que só possui
uma forma possível, sendo ela a do semicírculo.

Reflita
Algumas edificações renascentistas foram projetadas a partir de
edificações existentes e de estruturas já construídas. Neste caso, como
você acha que a estrutura existente poderia suportar o peso de uma
nova estrutura? As edificações eram demolidas ou as bases existentes
eram utilizadas?

Assim, o arquiteto buscou racionalizar todo desenho arquitetônico,


padronizando o vocabulário dos antigos, em que se baseavam em
formas de círculos e quadrados. Na planta da Igreja de Santa Maria
degli Angeli, em Florença, Brunelleschi propôs uma edificação circular,
sendo ela central e pura, conforme é possível observar na Figura 2.3.

80 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


De acordo com Janson e Janson (1996), o segredo dos edifícios de
Brunelleschi estava em criar uma harmonia das proporções, como as
relações de números inteiros que determinam a harmonia da música.
Essa teoria de proporções permitiu a construção de sua linguagem
arquitetônica.
Figura 2.3 | Planta baixa da igreja de Santa Maria degli Angeli, Florença

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 308).

Além da obra de Brunelleschi, que era bastante pragmático


e habilidoso em suas técnicas arquitetônicas, o arquiteto Leon
Batista Alberti foi um teórico clássico que passou a entender a
arquitetura como um elemento de ordem social. Segundo ele,
um arquiteto pertencente ao estilo renascentista deveria ser um
profissional universalista e intelectual, associado a pessoas de poder
e autoridades.

Para Hauser (1972, p. 427):

A concepção da arte científica, que forma a base da


instrução nas academias, começa com Leon Battista Alberti.
Este é o primeiro a exprimir a ideia de que a matemática
é terreno comum da arte e das ciências, e que as teorias
das proporções e da perspectiva são ambas ciências

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 81


matemáticas. É também o primeiro a dar expressão clara
àquela união do técnico experimental e do artista que
observa.

Alberti começou a se interessar pela arquitetura quando se


deparou com o famoso livro de Vitrúvio, De architectura libri decem
(Os Dez Livros de Arquitetura). Este tratado era bastante respeitado
pelos renascentistas por ser um livro autêntico do período
românico. No entanto, por apresentar algumas ambiguidades,
Alberti começou a escrever seu próprio livro, com inspirações no
texto antigo, chamado De re aedificatoria (A Edificação). Seu livro é
o primeiro tratado de arquitetura do Renascimento, em que Alberti
catalogou características e proporções das ordens de antiguidade
e estabeleceu a teoria das proporções harmônicas, que eram
observadas nas edificações. Além disso, adaptou os sistemas de
proporções descritos por Vitrúvio, em que explica que as plantas
das edificações deveriam ser circulares ou de uma forma derivada
do círculo (quadrado, hexágono etc.), pois, para ele, o círculo era
a única forma perfeita, constituindo uma imagem direta da razão
divina.

Para ele, não importava que esta formatação não se encaixasse


com o ritual católico, pois uma planta, neste formato, representaria
as proporções divinas e, desta forma, estaria em consonância com
a perfeição.

Na igreja de Santo André, em Mântua, Alberti, para Janson e


Janson (1996, p. 195), “foi o autor de uma proeza aparentemente
impossível: sobrepôs uma fachada de templo em estilo clássico à
tradicional fachada de igreja brasilical”, utilizando sua experiência
para projetar uma síntese das formas de um tempo e arco de triunfo,
como é possível observar na Figura 2.4.

82 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.4 | Basílica di Sant'Andrea, Mantova

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/bas%C3%ADlica-di-santandrea-mantova-
gm962004536-262719195>. Acesso em: 30 out. 2018.

Neste projeto, conforme é possível observar na Figura 2.5,


Alberti empenhou-se em encontrar proporções harmoniosas, que
refletissem as proporções divinas, baseadas em círculos e quadrados.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 83


Figura 2.5 | Basílica di Sant'Andrea, Mantova

Fonte: <http://www.sansepolcroliceo.it/annuario/ParteSeconda/SAndreaDiMantova.htm>.
Acesso em: 30 out. 2018.

Ao contrário do Renascentismo, o estudo da literatura medieval


limitava-se a um livro de receitas, em que concepções estruturais
foram criadas e replicadas por todo estilo. Neste sentido, o arquiteto
que talvez esteja mais próximo do profissional universalista1 que
Alberti almejava seja Leonardo da Vinci. Em sua principal teoria, a
substituição da imitação dos mestres pelo estudo direto da natureza
expressava a vitória do naturalismo e do racionalismo. Esta teoria
está baseada no estudo da natureza e evidencia que as relações
entre o mestre e o aluno, no Renascimento, foram alteradas
completamente. (HAUSER, 1972)

1
Profissional de conhecimento mais amplo e com experiência prática das tarefas.
Refere-se ao arquiteto que possui conhecimentos fora de sua área principal e, com
isto, transfere o conhecimento entre as áreas e aumenta sua capacidade de avaliação
e interpretação.

84 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Leonardo, de acordo com Fazio, Moffet e Wodehouse (2011),
possuía diversos cadernos com croquis que ilustravam suas
invenções, observações e experiências. Incluem-se nestes cadernos
estudos sobre anatomia, formações geológicas, correntes de ar,
movimentos de água, propostas arquitetônicas e planejamento
urbano.

Exemplificando
Em seus cadernos, o estudioso realizou vários projetos de igrejas com
planta baixa centralizada, como é possível observar na Figura 2.6, com
croquis da igreja Santa Maria da Consolação, em Todi.
Figura 2.6 | Croquis da Igreja Santa Maria da Consolação, realizado por
Leonardo da Vinci

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 316).

Além disso, Leonardo da Vinci realizou estudos sobre as


proporções, tendo como base as teorias de Vitrúvio, e desenvolveu
pesquisas do corpo e de suas relações com o espaço. Neste
desenho, a figura humana integra-se completamente a um
quadrado e um círculo, em que é demonstrada a relação do

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 85


homem com o universo, completamente integrados. No croqui,
conforme observa-se na Figura 2.7, a imagem humana está em
um posicionamento de braços abertos, longitudinais, que formam
uma cruz latina, simbolizando a busca do sagrado. As proporções
do homem vitruviano também são referência para a elaboração de
projetos arquitetônicos de Leonardo.

Figura 2.7 | Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/vetor/homem-vitruviano-gm522924753-51648174>.
Acesso em: 4 dez. 2016.

Leonardo também propôs alguns projetos urbanísticos em


Milão, sugerindo a construção de dez cidades satélites, a fim de que
fosse possível controlar as epidemias subsequentes à peste negra.
Conjuntamente ao arquiteto Donato Bramante, Leonardo trabalhou
no projeto para o cruzeiro central da catedral de Milão, porém,
nunca foi construído.

86 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Para Janson e Janson (1996, p. 217), Bramante foi “o criador
da arquitetura do Alto Renascimento”. Este estilo foi evidenciado
na construção do Tempietto de San Pietro. Bramante, de acordo
com Fazio, Moffet e Wodehouse (2011), projetou no Tempietto, a
incorporação platônica pela forma ideal e a reverência cristã pela
tradição, em que seu domínio da forma e do detalhe se aproxima
da perfeição (Figura 2.8). Conhecido como Pequeno Templo, o
Tempietto possui uma plataforma e uma rígida ordem dórica do
templo clássico, com colunatas, é evocada mais diretamente do
que em qualquer outro edifício do século XV (JANSON; JANSON,
1996). Além disso, segundo os autores, o tratamento escultórico
das paredes possui nichos profundamente recuados, escavados na
maciça construção de alvenaria.
Figura 2.8 | Planta baixa do Tempietto

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 319).

No início do século XVI, Bramante foi contratado para reconstruir


a Basílica de São Pedro, em Roma. Seu projeto foi concebido com
uma grandiosidade imperial, em que o arquiteto seguiu todos os
requisitos estabelecidos por Alberti para a arquitetura sacra, estando
ela baseada no círculo e no quadrado, resultando em um formato
rigorosamente simétrico (Figura 2.9).

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 87


Figura 2.9 | Planta da Basílica de São Pedro, Roma

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 320).

Além disso, neste projeto, Bramante buscou superar os arquitetos


romanos, propondo uma estrutura com uma cúpula estruturada em
um tambor e apoiada em pendentes e arcos plenos. No entanto, de
acordo com Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 320), “o audacioso
projeto de Bramante foi além de seu conhecimento estrutural, pois
os pilares propostos por ele, eram, sem dúvida, inadequados para as
enormes cargas impostas pela cúpula” (Figura 2.10).
Figura 2.10 | Basílica de São Pedro, Roma

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/bas%C3%ADlica-de-s%C3%A3o-pedro-no-
vaticano-gm157727732-19206084?st=_p_basilica%20de%20so%20pedro%20roma>. Acesso
em: 4 dez. 2016.

88 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


As edificações do Alto Renascimento (1480-1560) possuíram
influências diretas dos termos das concepções espaciais dos
romanos. Bramante foi capaz de aproximar as proposições
teóricas de Vitrúvio, Alberti e Leonardo da Vinci, à construção
prática, desenvolvendo e articulando as questões de proporção e
manipulação do espaço.

Assimile
As construções renascentistas buscavam referências nas proporções,
principalmente Vitrúvio e Platão. No entanto, para a construção de
edificações, os arquitetos melhoraram estas teorias e criaram novos
sistemas de estrutura, buscando aproximar a construção prática dos
conceitos teóricos.

Pesquise mais
No vídeo Construindo um Império - Leonardo da Vinci, transmitido
pelo canal History Channel, é apresentado como surgiu o império
renascentista, as principais obras arquitetônicas, o contexto da
sociedade que vivia nesta época e soluções construtivas que foram
utilizadas pelos melhores e mais conhecidos arquitetos do período.

Você verá que existem diversas obras que foram construídas com os
elementos arquitetônicos renascentistas, principalmente as motivações
dos arquitetos que fizeram parte deste movimento.

Por volta dos 17 minutos, você verá o sistema construtivo de


Brunelleschi da catedral de Florença. Vale a pena conferir!

FÁBIO Guerra. Construindo um Império - Leonardo Da Vinci - History


Channel. YouTube. 2006. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=T4D7NsLCHVs>. Acesso em: 30 out. 2018.

Sem medo de errar

Para apresentar sua primeira palestra sobre a arquitetura


renascentista, você selecionará edificações que foram construídas
neste período, bem como seus arquitetos e comparar com a
arquitetura gótica.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 89


No entanto, antes de iniciar com as edificações, é preciso
considerar alguns aspectos relevantes da sociedade de cada
período. Ao contrário da arquitetura gótica, em que os arquitetos e
os construtores permaneceram no anonimato durante a construção
de grandes edificações, os profissionais renascentistas buscavam
a fama e o prestigio. Além disso, no período da renascença, os
arquitetos, segundo defendia Leon Alberti, deveriam ser profissionais
intelectuais e estarem associados às pessoas de poder.

Outro aspecto que é bastante característico do período, é que


há um interesse enorme pelo individual, em que os profissionais da
época buscavam na lei natural e na fidelidade à natureza. Alguns
arquitetos, como Leonardo da Vinci, entendiam que este naturalismo
e humanismo deveria aproximar o mestre do artesão.

A arquitetura renascentista, ao contrário da arquitetura gótica,


buscou a racionalidade dos projetos nos escritos de Vitrúvio e
Platão, cuja referência de proporções e relações com o espaço
eram matemáticas. O arquiteto Alberti foi o primeiro a exprimir a
ideia de que a matemática é comum à arte e às ciências, e que a
perspectiva e as proporções são relações matemáticas.

Já a arquitetura de Bramante se demonstrava perfeita. Nada


se poderia subtrair sem prejuízo à obra e além deste fato, surge a
arquitetura flexível, copiada por todos os arquitetos da época pelo
mundo afora.

Neste sentido, é possível analisar e comparar alguns projetos


realizados no período da arquitetura gótica e renascentista, a fim de
estabelecermos algumas diferenciações e comparações.

90 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Quadro 2.1 | Comparativo entre Arquitetura Gótica e Arquitetura
Renascentista

Arquitetura gótica Arquitetura renascentista

Edificação Características Edificação Características

Planta Catedral de Notre-Dame Planta com estruturas


Planta com formato
em abóbadas e arcos
quadrado e circular.
ogivais.
Croqui da Igreja Santa Maria da
Não existem
Planta com Consolação, realizado por Leonardo
da Vinci subdivisões, a planta
subdivisões, como
possui relações
nave e clerestório.
matemáticas puras.

Estrutura greco-
romana, com
Formato alongado.
pilastras internas e
figuras geométricas.

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse


(2011, p. 316).

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011,


p. 233).

Catedral de Chartres Estrutura da


Diversas estruturas Catedral de Florença cobertura
para conter o peso com tambor e
da cobertura e as cimbramento, para
estruturas laterais. conter o empuxo
lateral.

Arquitetura que Arquitetura


buscava maiores geométrica,
aberturas para a baseada em estudos
entrada de luz, a fim e proporções
de alcançar o divino. matemáticas.

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse


(2011, p. 306).
p. 239).

Fonte: elaborado pela autora.

Avançando na prática
Guia para a arquitetura renascentista

Descrição da situação-problema

Você é arquiteto e foi convidado por uma empresa de turismo


para escrever sobre a arquitetura italiana. Esta empresa tem o intuito
de organizar viagens direcionadas ao público que tem formação
relacionada à construção civil e arquitetura, ou às pessoas que se

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 91


interessam por conhecer os estilos arquitetônicos pelo mundo. A
responsável pela empresa solicitou que criasse um roteiro turístico
com as principais edificações renascentistas e também escolhesse
alguma para evidenciar os principais elementos construtivos e
suas características, a fim de que os viajantes possam identificar as
edificações a partir deste roteiro. Assim, você precisará identificar
obras de grande relevância do estilo renascentista, localizadas na
Itália, bem como definir alguns elementos característicos que possam
ser encontrados. Vamos lá?

Resolução da situação-problema

Inicialmente, você precisará verificar edificações que foram


construídas no estilo renascentista, ou que foram reformadas em
sua época, possuindo elementos característicos deste período. Em
primeiro lugar, poderá definir uma edificação dos arquitetos mais
famosos desta época, sendo eles Brunelleschi, Alberti e Bramante.

Assim, as edificações e seus elementos renascentistas podem


ser classificados como:
Figura 2.11 | Catedral de Florença/ Brunelleschi

Os elementos que
caracterizam esta
edificação são as
referências geométricas
com formas puras
do quadrado e do
retângulo.

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/italy-florence-cathedral-in-rainy-day-gm541823352-
96874811?st=_p_Catedral%20de%20Florena>. Acesso em: 4 dez. 2016.

92 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.12 | Basílica di Sant'Andrea, Mantova

A estrutura da
fachada é concebida
com proporções
harmoniosas, que
refletem as proporções
divinas, baseadas em
círculos e quadrados.

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/bas%C3%ADlica-di-santandrea-mantova-
gm962004536-262719195>. Acesso em: 30 out. 2018.

Figura 2.13 | Tempietto de San Pietro/ Bramante

Os elementos da
fachada remetem à
arquitetura greco-
romana, possui uma
plataforma e uma
rígida ordem dórica do
templo clássico, com
colunatas.

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/san-pietro-em-montorio-gm95943947-
6110861?st=_p_tempietto>. Acesso em: 4 dez. 2016.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 93


Faça valer a pena
1. Os estudiosos renascentistas redescobriram os estudos clássicos
de gregos e romanos, como os textos de Platão, em que começaram
a estabelecer relações matemáticas com as construções, buscando
criar uma arquitetura perfeita. Neste contexto, o arquiteto ________
foi um teórico clássico que passou a entender a arquitetura como um
elemento de ordem social. Segundo ele, um arquiteto pertencente ao
estilo renascentista deveria ser um profissional universalista e intelectual,
associado a pessoas de poder e autoridades.
Assinale a alternativa que corresponda ao preenchimento correto da
lacuna acima:
a) Filippo Brunelleschi.
b) Leonardo da Vinci.
c) Leon Batista Alberti.
d) Vitrúvio.
e) Donato Bramante.

2. O desenho do homem vitruviano baseia-se nas teorias de Vitrúvio,


relacionadas a pesquisas do corpo e de suas relações com o espaço. A
figura humana integra-se completamente a um quadrado e um círculo, em
que é demonstrada a relação do homem com o universo, completamente
integrados. No croqui, a imagem humana está em um posicionamento de
braços abertos, longitudinais, que formam uma cruz latina, simbolizando
a busca do sagrado.

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/vetor/homem-vitruviano-
gm522924753-51648174>. Acesso em: 4 dez. 2016.

94 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Assinale a alternativa correspondente ao arquiteto que desenhou o homem
vitruviano:
a) Filippo Brunelleschi.
b) Leonardo da Vinci.
c) Leon Batista Alberti.
d) Vitrúvio.
e) Donato Bramante.

3. Na Renascença, há um interesse pelo objeto individual, em que se


busca a lei natural e o sentido de fidelidade à natureza. Este naturalismo,
estabelecido neste período, é continuidade do naturalismo do período
gótico, no qual a concepção pessoal de coisas individuais já iniciara.
Trata-se, portanto, do renascimento de uma realidade empírica, sendo ela
a descoberta do mundo e do homem.
( ) A renascença possui esteticismo abstrato e a ideia do artista como
um herói intelectual sendo a arte a principal educadora da humanidade.
( ) O ideal dos arquitetos e artistas renascentistas era o de permanecer
no anonimato.
( ) Para os arquitetos renascentistas, as formas geométricas ideais
eram o quadrado e o círculo, entendidas como formas perfeitas capazes
de refletir a harmonia celestial presente nas plantas de igrejas e catedrais.
A partir do texto citado, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para
as falsas:
a) V, F, V.
b) F, F, V.
c) V, V, F.
d) V, V, V.
e) F, F, F.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 95


Seção 2.2
Urbanismo Renascentista e Arquitetura Maneirista
Diálogo aberto
Após realizar sua primeira apresentação na semana de palestras
de uma renomada universidade, você deverá formatar o tema do
segundo dia, que é a respeito da arquitetura maneirista. Como
a palestra anterior tratou da arquitetura renascentista e suas
características, para a segunda palestra você terá que abordar o tema
de maneira que os dois estilos sejam comparados, apresentando
as divergências e as convergências projetuais e construtivas destes
períodos. Dessa forma, quais são as características iguais e quais são
as diferenças entre a arquitetura maneirista e a renascentista? Quais
são os elementos projetuais e os arquitetos mais famosos deste
estilo? Quais eram os fundamentos que os arquitetos maneiristas
seguiam para projetar suas obras?

Não pode faltar


Até meados do século XX, o período entre 1520 e 1600 era
reconhecido com relativo desdém e entendido como uma transição
entre o Alto Renascimento e o Barroco. No entanto, Janson
e Janson (1996) revelam que esta classificação considerava a
produção pouco criativa e confusa em relação aos grandes mestres
da geração anterior.

Atualmente, o maneirismo é reconhecido como um período de


crise que comportou simultaneamente vários estilos, competindo
entre si e sem uma grande característica dominante, mas que muito
nos interessa pela proximidade com a contemporaneidade.

O termo “Maneirismo” teve origem a partir do italiano e significa


“virtuosismo”. O movimento caracterizou-se pela valorização de
expressões individuais, baseadas em sofisticações intelectuais, às
vezes entendidas como simplificações das grandes descobertas
do século anterior, mas que eram capazes de expressar maiores
emoções e tensões nas obras.
96 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca
Entre os nomes mais memoráveis estão Michelangelo Buonarroti
(1475–1564) e Andrea Palladio (1508–1580) com fortes referências
aos modelos anteriores de Donato Bramante e com um conjunto
de obras relevantes na arquitetura ocidental.

Michelangelo via o conceito de genialidade como um poder


divino, um poder sobre-humano que poucos possuíam, sugerindo
então sua essência neoplatonista1. Segundo Janson e Janson
(1996), Michelangelo acreditava que ele mesmo era uma ideia de
seu gênio vivo, e que as convenções e tradições eram vividas pelos
espíritos menores, em que ele não se enquadrava. Sua genialidade
era superior e ele não reconhecia ninguém com maior autoridade.

Michelangelo era essencialmente um escultor, embora tenha


trabalhado em diversos campos da arte e arquitetura. Para ele, a arte
não era uma ciência, mas uma criação dos homens, semelhante à
criação divina. Sua afeição pela escultura se dava pela sua crença
de que somente os corpos tridimensionais, como a escultura,
eram capazes de satisfazer o impulso intrínseco a ele. Além disso,
Michelangelo acreditava que a pintura deveria imitar as formas
esculpidas e que a arquitetura deveria também associar as qualidades
da figura humana com o espaço (JANSON; JANSON, 1996). Assim,
para Michelangelo, “a figura perfeita e isolada dentro do espaço
ideal que pode ser pensado só como o sólido geométrico, o bloco”.
(MIGLIACCIO, 1998, p. 7)

Embora o artista tenha fama pela pintura do teto da Capela


Sistina e por suas esculturas de David e Pietá, Michelangelo também
foi arquiteto e construiu obras bastante importantes no período do
estilo maneirista.

1
Neoplatonismo  é o termo que define o conjunto de doutrinas e escolas de
inspiração platônica, Escola Grega de Filosofia Helenística. Período que vai do início
do reinado de Alexandre o Grande até a queda do império Macedônico e a conquista
do Egito por Roma.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 97


Reflita
Era bastante comum que os arquitetos do Renascimento e do
Maneirismo fossem profissionais com múltiplas formações e com
uma aplicação intelectual interdisciplinar. Eles se dedicavam a resolver
problemas e buscar soluções que estivessem de acordo com seus
ideais de cada época. De alguma maneira, a formação da profissão
perdeu um pouco desta multidisciplinaridade. Reflita sobre a formação
cada vez mais especializada do arquiteto nos dias de hoje, e quais eram
as contribuições projetuais e construtivas que os arquitetos daquela
época possuíam, por trabalharem de maneira interdisciplinar.

A Capela Medici (Figura 2.15) é uma das primeiras obras


arquitetônicas de Michelangelo, em que foi projetada uma cúpula
com formato similar aos utilizados por Brunelleschi. Além disso,
alguns materiais também foram copiados, como as paredes com
reboco branco, coroadas com uma pedra cinza. Já os túmulos
foram construídos em mármore e há significativa quantidade de
estátuas no interior da edificação. Estas esculturas ficam em um
nível mais baixo da capela e, segundo Fazio, Moffet e Wodehouse
(2011, p. 326), dentro da capela há “uma profusão de elementos de
arquitetura – pesados tabernáculos vazios sobre as portas, janelas
falsas de forma trapezoidal e até pilastras sem capiteis”.

Exemplificando
Os capitéis podem ser de ordem Dórica, Jônica e Coríntia.

98 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.14 | Tipologias de capitéis

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/vetor/sua-arquitetura-grega-cl%C3%A1ssica-
colunas-gm176097360-10482595> e <https://www.istockphoto.com/br/vetor/colunas-
ilustra%C3%A7%C3%A3o-antigo-gm483046589-15044026>. Acesso em: 30 out. 2018.

Figura 2.15 | Interior da Capela Medici

Fonte: <https://i.pinimg.com/originals/e5/9a/a5/e59aa54e9ca3d468b4de9c6ba45c3471.
jpg>. Acesso em: 30 out. 2018.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 99


Michelangelo também começou a trabalhar na Biblioteca
Laurenciana, construída dentro do monastério de São Lourenço. Foi
projetada inicialmente para possuir uma claraboia, mas esta ideia foi
substituída por aberturas incorporadas nas paredes voltadas para o
claustro do monastério (Figura 2.16).
Figura 2.16 | Biblioteca Laurenciana - Vista Lateral e Planta

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 327).

Além disso, o vestíbulo, pátio de acesso à entrada principal, é


bastante verticalizado em relação à toda edificação, em que janelas
falsas em formato trapezoidal, emolduradas com pietra serena3,
formatam o interior deste espaço. As colunas são engastadas
(conexão rígida entre as estruturas de pilar e viga ou pilar e as paredes
autoportantes), devido à localização das paredes preexistentes
da edificação (Figura 2.17). Sobre a estrutura da biblioteca, Fazio,
Moffet e Wodehouse (2011) analisam que Michelangelo enfatizou a
aparente instabilidade do conjunto estrutural, fazendo com que as
colunas aparentassem estar apoiadas em mísulas (ornato que ressai
de uma superfície), de modo que o peso parece ser transmitido por
esses elementos, transparecendo fraqueza; além disso, não parece
possível determinar visualmente se são as colunas ou as paredes que
sustentam a cobertura. Essa sensação de ambiguidade, segundo
os autores, é enfatizada pelas formas aparentemente profanas das

100 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


janelas do santuário, em que os elementos de arquitetura foram
comprimidos, criando uma sensação de tensão e energia reprimida.
Figura 2.17 | Vestíbulo da biblioteca Laurenciana

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 327).

3
A Pietra Senrena é um arenito cinzento particularmente utilizado na arquitetura
e em parte também na escultura. É típico da Toscana e também encontrado na
Florença, Itálica.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 101


Michelangelo também trabalhou em um projeto de dimensão
urbana, planejando a reforma do Campidoglio (Figura 2.18), a
antiga sede do governo, localizada no Monte Capitólio. Com dois
edifícios existentes, construídos no estilo medieval e implantados
em ângulo agudo, Michelangelo projetou uma praça cívica em
formato trapezoidal, regularizando a geometria complicada que
fora estabelecida por estas edificações (Figura 2.19). Neste projeto,
Michelangelo realizou:

- Reforma do campanário central, com renovação da fachada e


construção de uma escadaria monumental.

- Nova fachada do Palácio dos conservadores.

- Ampliação do eixo central utilizando rampa escalonada.


Figura 2.18 | Campidoglio

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/o-hdr-capitolinos-hill-
gm154925662-15469097>. Acesso em: 13 dez. 2016.

102 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.19 | Planta Campidoglio

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 328).

O arquiteto Andrea Palladio foi, depois de Michelangelo, o


arquiteto mais importante do período renascentista maneirista,
a maior parte de sua obra foi baseada nos preceitos teóricos e
humanistas de Leon Battista Alberti. Segundo Palladio, a arquitetura
deveria ser regida pela razão e por regras universais, exemplificadas
pelos edifícios construídos na antiguidade.

A influência de sua arquitetura se deu tanto na construção das


edificações quanto em seus textos. Em seu tratado de arquitetura
I quattro libri dell’architettura (Os Quatro Livros da Arquitetura),
Palladio ilustrou e discutiu suas obras e obras da antiguidade. O
arquiteto escreveu sobre elementos da arquitetura residencial,
edificações públicas e planejamento urbano. Além disso, especulou
sobre os projetos de moradias romanas, incluindo, dessa forma,
soluções e versões de suas edificações, demonstrando os ideais
clássicos construtivos.

Exemplificando
No livro Os quatro livros da Arquitetura, de Andrea Palladio, o arquiteto
cria padrões projetuais a partir de proporções matemáticas, conforme

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 103


representado no projeto da Villa Thiene (Figura 2.20), na Itália. Este
projeto possui ambientes que foram baseados na série harmônica 12,
18, 36. Nos quatro cantos os ambientes são quadrados medindo 18x18
pés.

Além disso, a sala é projetada em duplo quadrado, 18x36, e essa


razão é repetida também nos pórticos do hall, que é de 36x36 pés,
quatro vezes o tamanho dos ambientes menores. Formata-se assim a
progressão 18:18, 18:36, 36:36.

Figura 2.20 | Projeto Villa Thiene - proporções projetuais

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/763772/o-sistema-de-proporcoes-fugal-de-
palladio-rudolf-wittkower/5502e72de58ece8129000241-4-villa_thiene-wikimedia-
commons-jpg>. Acesso em: 13 dez. 2016.

Embora Palladio compartilhasse o ponto de vista de Alberti


sobre o significado das proporções numéricas nas edificações, em
que as relações da teoria e prática possuíam certa flexibilidade, o
arquiteto acreditava que essa relação deveria ser estrita, pois era
necessário aplicar aquilo que se pregava. Seu tratado de arquitetura,

104 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


em sua época, fez um enorme sucesso, pois considerava que as
construções deveriam ter uma correspondência direta com suas
teorias.

Para Janson e Janson (1996, p. 235), com relação ao estilo de


Palladio, verifica-se que “os resultados não são necessariamente
clássicos”, mas pode-se chamá-los de “classicistas”, indicando um
esforço que buscava as qualidades arquitetônicas clássicas.

Suas edificações e respectivas dimensões estavam baseadas


em um sistema de proporções coerentes com o Renascimento. O
arquiteto projetou módulos baseados nas espessuras das paredes
e determinou dimensões de todos os cômodos, utilizando as
razões derivadas das consonâncias musicais (FAZIO; MOFFET;
WODEHOUSE, 2011). Além disso, distribuiu estes espaços por
meio de grelhas modulares, criando, assim, padrões construtivos.
Palladio buscava uma utilidade prática como essência do projeto,
em que a funcionalidade, a estabilidade estrutural e a beleza da
edificação eram os princípios básicos de sua arquitetura.

Sua primeira obra pública foi a reforma da Basílica de Vicenza


(Figura 2.21), construída no estilo medieval, na qual Palladio
acrescentou colunas dóricas e jônicas, bastante caraterísticas do
estilo clássico. Embora essa obra tenha sido baseada em técnicas
romanas, o elemento que domina o projeto é a unidade repetida com
três aberturas, em que a área central possui arcos apoiados em pares
de pequenas colunas distribuídas. Já os vãos das extremidades são
menores, imprimindo uma aparência de resistência às quinas, que
possuem colunas geminadas. (FAZIO; MOFFET; WODEHOUSE, 2011)

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 105


Figura 2.21 | Basílica de Vicenza

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/%EB%B0%94%EC%8B%A4%EB%A6%AC%EC%B9
%B4-palladiana-%EB%B9%84%EC%B2%B8%EC%B0%A8-%EC%9D%B4%ED%83%88%EB%A6%A
C%EC%96%B4-gm487098731-39218858>. Acesso em: 13 dez. 2016.

Embora Palladio tenha iniciado sua carreira com obras públicas,


foi por meio das edificações residenciais que o arquiteto ganhou
fama e vários seguidores posteriores a seu tempo. A Vila Barbaro
(Figura 2.22) possui uma simetria arquitetônica, com o bloco da
zona social centralizado, equilibrado por duas alas conectadas. Esta
edificação foi implantada em um terreno suavemente inclinado,
oferecendo uma vista da paisagem. No entanto, para Fazio, Moffet
e Wodehouse (2011, p. 335), “a elegância da composição não
denota a praticidade do edifício”, pois “seguindo as práticas da
Roma Antiga, Palladio combinou as muitas funções de uma grande
fazenda em uma única estrutura, incluindo depósitos para o feno
e equipamentos, estábulos e espaços para a moagem de cereais”.

O interior da edificação possui cômodos com proporções


harmoniosas, bastante iluminadas e ornamentadas com afrescos
e perspectivas. Os balcões com balaústras dão a impressão de
sustentar as colunas, e as sombras projetadas na edificação
aumentam a sensação de profundidade dos cômodos.

106 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Por meio desta construção, o arquiteto contribuiu de maneira
significativa no desenvolvimento do projeto de habitações, que,
ainda hoje, influencia a arquitetura atual. De acordo com Fazio,
Moffet e Wodehouse (2011, p. 33), Palladio “interpretou Vitrúvio, que
dissera que os templos gregos evoluíram de casas”.

Figura 2.22 | Vila Barbaro

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/villa-barbaro-gm155319195-10930211>. Acesso


em: 13 dez. 2016.

Sua edificação mais famosa é a Villa Rotonda (Figura 2.23),


situada em Vicenza, com a qual Palladio ilustra de maneira clara
o significado do classicismo e seus preceitos arquitetônicos. Esta
edificação é uma casa de campo, construída em um bloco quadrado
com uma cúpula de cobertura. Suas quatro fachadas formam
pórticos idênticos, que possuem a forma característica das fachadas
de templos (Figura 2.24). O arquiteto encontrou neste projeto uma
casa ideal, na qual seguiu a fórmula arquitetônica de Alberti, que
consistia em formalizar que o ideal de um projeto é sua simetria e
centralização.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 107


Figura 2.23 | Villa Rotonda

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/villa-almerico-capra-la-rotonda-vicenza-
gm525455177-52876598?st=_p_villa%20rotonda>. Acesso em: 13 dez. 2016.

A edificação possui internamente espaços centrais com uma


cúpula que irradia em direção aos quatro pórticos da fachada.
Segundo descrevem Fazio, Moffet e Wodehouse (2011, p. 336),
este é “um esquema simples, porém, poderoso, que seria copiado
inúmeras vezes”.

Ao construir casas com elementos e fachadas no estilo clássico,


praticamente reproduzindo a fachada dos templos, Palladio estava
convencido de que as casas romanas tinham pórticos como esses. No
entanto, conforme Janson e Janson (1996, p. 236) “o uso da fachada
de templo não significava um mero gosto por antiguidades. Palladio
provavelmente convenceu-se da legitimidade de seu uso por vê-la
como algo desejável, tanto em termos estéticos quanto utilitários”.

108 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.24 | Planta baixa da Vila Rotonda

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 337).

Pesquise mais
Você poderá encontrar informações bastante interessantes no artigo
Explorando as Villas de Palladio. Neste texto, os autores propõem uma
reflexão acerca do ensino da arquitetura, baseados nos projetos de
Andrea Palladio e sua metodologia projetual. Para isso, realizam uma
análise dos desenhos e projetos de algumas villas palladianas. Boa
leitura!

BARBOSA, Rinaldo Ferreira; MANENTI, Leandro. Explorando as Villas


de Palladio: a Pesquisa Histórica como Investigação Projetual. In:
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE ENSINO E PESQUISA EM PROJETO DE
ARQUITETURA, 4., 2009. São Paulo, Anais... São Paulo: Projetar, 2009.
p. 1-26. Disponível em: <http://projedata.grupoprojetar.ufrn.br/dspace/
handle/123456789/1574>. Acesso em: 16 dez. 2016.

Com esse material, pesquise mais sobre o uso do ritmo e das


repetições no processo de projeto. É muito importante trazer os
projetos do passado para as realidades de hoje quando nos referimos
à coordenação modular, à padronização, à construção em escala, à
repetição e ao ritmo.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 109


Além da arquitetura das edificações, os jardins e o paisagismo do
Renascentismo e Maneirismo também foram projetados segundo
os preceitos e o estilo da época. Seu desenho buscava valorizar a
perspectiva das edificações implantadas. O projeto de lagos e fontes
de água corrente, juntamente à escolha de determinados tipos de
árvores e plantas, tinham como objetivo climatizar o espaço do
jardim, buscando um clima fresco mesmo nos dias de calor.

Seu desenho, assim como as plantas, valorizava eixos transversais


ortogonais e diagonais, com espaços retangulares e geométricos,
relacionando-se à arquitetura maneirista da época, que buscava a
relação da técnica, da matemática e das artes (Figura 2.25). Além
disso, os jardins eram espécies de cenários para as esculturas e as
obras de arte de algumas famílias.
Figura 2.25 | Corte transversal e planta baixa da Vila Lante

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 343).

A organização da Vila Lante (Figura 2.26) possui escadas e


espelhos d’água, além de um jardim com canteiros geométricos. O
eixo central é definido por densos conjuntos de árvores.

110 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.26 | Vila Lante

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/bagnaia-town-and-villa-lante-
gm578287842-99407135>. Acesso em: 13 dez. 2016.

Assimile
O desenho dos jardins e o paisagismo do Renascentismo e Maneirismo
buscava valorizar a perspectiva das edificações implantadas.

Sem medo de errar

Em seu segundo dia de palestras, você realizará uma


apresentação sobre a arquitetura maneirista. Tendo já apresentado
no dia anterior uma palestra acerca da arquitetura renascentista, sua
ideia é justamente realizar um comparativo entre os dois estilos,
apresentando suas características e principais elementos. Além
disso, você apresentará os principais nomes desta arquitetura, com
suas obras e a importância delas.

Em primeiro lugar, você decide apresentar os arquitetos


importantes deste movimento, que foram precursores e formataram
os elementos fundamentais do estilo maneirista. A principal

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 111


característica destes profissionais é que eles eram interdisciplinares
e trabalhavam com pintura, escultura e arquitetura.

Os principais arquitetos foram Michelangelo e Andrea Palladio.


Ambos tiveram influências diretas do estilo renascentista.

Michelangelo Palladio
- Via o conceito de genialidade como - A arquitetura deveria ser regida
um poder divino, um poder sobre- pela razão e por regras universais,
humano que poucos possuíam, exemplificadas pelos edifícios
sugerindo então sua essência construídos na Antiguidade.
neoplatonista.
- Criou um manual de arquitetura
- A arte não era uma ciência, mas uma em que projetou edificações e
criação dos homens, semelhante à suas proporções com relações
criação divina. matemáticas, considerando-as divinas.
- Acreditava que a arquitetura deveria - Escreveu sobre elementos da
associar as qualidades da figura arquitetura residencial, edificações
humana com o espaço. públicas e planejamento urbano.
- Especulou sobre os projetos de
moradias romanas, incluindo soluções
e versões de suas edificações,
demonstrando os ideais clássicos
construtivos.

As principais características dos arquitetos maneiristas eram a


valorização das expressões individuais, baseadas em sofisticações
intelectuais, muitas vezes entendidas como simplificações de
descobertas anteriores, mas expressavam maiores emoções
e relações com o individualismo e a interdisciplinaridade dos
profissionais.

Ao comparar edificações do estilo renascentista ao estilo


maneirista, é possível perceber que alguns elementos são
incorporados, enquanto outros vão perdendo espaço.

112 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


BRAMANTE- Renascentista PALLADIO- Maneirista

Figura 2.10 | Basílica de São Pedro, Roma Figura 2.23 | Villa Rotonda

Fonte: <https://goo.gl/sG8zSF>. Acesso em: 4 dez. 2016. Fonte: <https://goo.gl/3XdR35>. Acesso em: 13 dez. 2016.

- Palladio seguia os preceitos da


- Bramante pretendia construir uma arquitetura romana, pois estudou
cúpula maior do que prevista pelos demasiadamente o estilo clássico e
romanos. acreditava ser o que melhor resolvia
seus projetos.
- Estrutura com simetria, mas com
- Estrutura rigorosamente simétrica. espaços dimensionados a partir de
proporções matemáticas.

Avançando na prática
Estilo maneirista

Descrição da situação-problema

Você foi contratado por uma empresa que realiza restaurações


em edificações de patrimônio histórico e que possuem tombamento,
segundo órgãos competentes. Nesta empresa, você foi convidado
para realizar o restauro de uma edificação na Itália e, para isso, você
deverá realizar um breve histórico e caracterização da edificação.
Neste sentido, é importante verificar qual é o estilo arquitetônico da
obra, para elencar os elementos que serão restaurados. A edificação
é a Vila Rotonda, do arquiteto Andrea Paladio. Ao final, para que
possa viajar à Itália e iniciar o processo de restauro, você deverá
realizar o relatório com as características da edificação e de seu
estilo arquitetônico. Mãos à obra!

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 113


Resolução da situação-problema

Para poder realizar uma proposta de restauro da edificação de


Andrea Palladio, a Vila Rotonda, você deve verificar quais são suas
características e formatar uma ficha técnica da edificação. Dessa
forma, a edificação pode ser caracterizada da seguinte forma:

Vila Rotonda

Características:

1) Casa de campo, construída em um bloco quadrado com uma


cúpula de cobertura.

2) Quatro fachadas formam pórticos idênticos, que possuem a


forma característica das fachadas de templos.

3) Formalização do ideal de um projeto simétrico e centralizado.

4) Espaços centrais com uma cúpula que irradia em direção aos


quatro pórticos da fachada.

5) Elementos e fachadas no estilo clássico, praticamente


reproduzindo a fachada dos templos.
Figura 2.23 | Villa Rotonda

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/villa-almerico-capra-la-rotonda-vicenza-
gm525455177-52876598?st=_p_villa%20rotonda>. Acesso em: 13 dez. 2016.

114 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.24 | Planta baixa da Vila Rotonda

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 337).

Faça valer a pena


1. O termo “Maneirismo” teve origem a partir do italiano e significa
“virtuosismo”. O movimento caracterizou-se pela valorização de expressões
individuais, baseadas em sofisticações intelectuais, às vezes entendidas
como simplificações das grandes descobertas do século anterior, mas
que eram capazes de expressar maiores emoções e tensões nas obras.
A Capela Medici é uma obra do arquiteto maneirista ___________ e foi
projetada com base nos preceitos de Brunelleschi.
Assinale a alternativa que preencha corretamente a lacuna acima:
a) Andrea Palladio.
b) Leon Alberti.
c) Michelangelo.
d) Leonardo da Vinci.
e) Vitrúvio.

2. O arquiteto Andrea Palladio foi, depois de Michelangelo, o arquiteto


mais importante do período renascentista maneirista, a maior parte de
sua obra foi baseada nos preceitos teóricos e humanistas de Leon Battista
Alberti.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 115


( ) Para Palladio, a arquitetura deveria ser regida pela razão e por
regras universais, exemplificadas pelos edifícios construídos na antiguidade.
( ) Embora Palladio compartilhasse o ponto de vista de Alberti sobre o
significado das proporções numéricas nas edificações, em que as relações
da teoria e prática possuíam certa flexibilidade, o arquiteto acreditava que
essa relação deveria ser estrita, pois era necessário aplicar aquilo que se
pregava.
( ) Palladio projetou módulos baseados nas espessuras das paredes
e determinou dimensões de todos os cômodos, utilizando as razões
derivadas das consonâncias musicais.
Assinale V para verdadeiro e F para falso, segundo as alternativas
correspondentes:
a) F, F, V.
b) V, V, F.
c) V, V, V.
d) V, F, V.
e) F, F, V.

3. Michelangelo acreditava que ele mesmo era uma ideia de seu gênio
vivo, e que as convenções e tradições eram vividas pelos espíritos menores,
em que ele não se enquadrava. Sua genialidade era superior e ele não
reconhecia ninguém com maior autoridade. Michelangelo trabalhou em
obras de edificações, mas também realizou projetos urbanos. A figura a
seguir refere-se a um de seus projetos.

Fonte: <https://pt.wikiarquitectura.com/index.php/Pra%C3%A7a_o_Campidoglio>. Acesso em: 7 fev. 2017.

116 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Assinale a alternativa que corresponda ao projeto apresentado na figura
acima:
a) Vila Lante.
b) Campidoglio.
c) Vila Rotonda.
d) Biblioteca Laurenciana.
e) Vila Thiene.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 117


Seção 2.3
Arquitetura Barroca e Arquitetura Rococó
Diálogo aberto
Ao realizar a primeira e a segunda palestra acerca de arquitetura,
você chega ao final da semana de palestras para a sua última
apresentação. Neste momento, você abordará a Arquitetura Barroca
e Rococó, comparando as características destes estilos e também
analisando quais são os pontos que convergem e divergem em
relação aos estilos anteriores a estes. Assim, quais são os principais
arquitetos do estilo Barroco e suas soluções projetuais para os
edifícios que construíram? Quais são os elementos que divergem a
Arquitetura Barroca da Arquitetura Renascentista e Maneirista? Mãos
à obra!

Não pode faltar


O Período Barroco teve como precedente os estilos Românicos,
Góticos, Renascentistas e Maneiristas, que teceram um discurso
arquitetônico, no qual os valores foram invertidos e a aparência
toma lugar diante da realidade, cuja busca dos artistas era a
confusão do espectador. Muitas vezes, as fronteiras entre as
produções artísticas não são claras e em cada região do mundo
ocorrem de maneiras distintas. O Renascimento e o Maneirismo,
segundo Goitia et al. (1996, p. 5), “antecedem o que se chamou de
barroco, mas que, na época de seu aparecimento, não se distinguia
de maneira tão clara as manifestações de movimentos”.

No final do século XVI, há uma mudança na história da arte em que


o Maneirismo, estilo entendido como intelectualista e complicado,
acaba por ceder seu lugar a um estilo, segundo Hauser (1972, p. 569)
“sensual, emocional e universalmente compreensível”, o barroco.
Para o autor, este movimento é a reação de uma concepção de
arte, de certa forma, popular e ao mesmo tempo apoiada pela
classe cultural, que se manifestou contra o exclusivismo intelectual
do período maneirista.

118 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Assim, de acordo com Hauser (1972), o barroco expressa o ponto
de vista terreno da arte, de forma homogênea, mas que assumiu
grande variedade de formas em diferentes países. Para o autor, “o
barroco abraça tantas ramificações de caráter artístico, aparece
em tão diversas formas, nos diferentes países e esferas de cultura,
que parece duvidoso, à primeira vista, ser possível reduzi-lo a um
denominador comum”. (HAUSER, 1972, p. 555)

Assimile
A arquitetura barroca procura evidenciar uma visão de mundo que está
em transformação e em processo de formação. Por meio de um ponto
de vista dinâmico, o observador afasta-se do plano para a profundidade,
visualizando as fronteiras imóveis da concepção do espaço. Assim, o
barroco busca o relativo e uma maior liberdade, em contraposição ao
absoluto e ao rigor.

O espaço do estilo Barroco possui uma mobilidade intrínseca, em


que o observador sente os elementos do ambiente como formas
que lhe pertence, que depende dele e que, de certa maneira, parece
ser criada por ele. O método favorito do barroco para criar essas
sensações, segundo Hauser (1972, p. 558), “é o uso de primeiros
planos maiores do que o tamanho natural, de figuras relevadas,
trazidas para o alcance do observador, e de uma súbita redução de
proporções nos motivos do fundo”.

Os acontecimentos que aparecem em uma construção barroca


parecem ter sido pensados como mero acaso. Em sua composição,
os elementos se relacionam, mas se apresentam de formas
interdependentes, em que, ao mesmo tempo que nada parece
faltar, dá a impressão de que estão mais ou menos incompletas e
desconexas. Neste sentido, despreza-se “tudo quanto é sólido e
seguro, começa nelas a oscilar; a estabilidade expressa por horizontais
e verticais, a ideia de equilíbrio e simetria” (HAUSER, 1972, p. 560). Além
disso, há uma falta de claridade na apresentação dos elementos, que
está relacionado à improvisação da produção barroca.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 119


Reflita
O estilo Barroco foi concebido como uma negação aos estilos anteriores,
Renascentista e Maneirista. Suas características demonstram uma nova
concepção da arquitetura, que buscava certa teatralidade, na ideia de
transformar o usuário em espectador do espaço. As utilizações de
determinadas ferramentas foram cruciais para este desenvolvimento,
originando espaços que se assemelhavam a cenários, cuja luz, sombra,
cores e perspectivas tinham papéis fundamentais nesta concepção.
Neste sentido, investigue qual foi, ou quais foram, os principais motivos
da ruptura do estilo maneirista para a criação do estilo Barroco na Itália.
Além disso, busque informações sobre a aplicação deste conceito, do
usuário como espectador do espaço, nas construções atuais.

Assim, todas as características que são expressões do barroco


fazem parte de um impulso anticlássico de tudo aquilo que não sofre
restrição e que, de certa forma, apresenta-se de forma dispensável.

Na arquitetura barroca, duas figuras máximas promoveram a


evolução do estilo, sendo eles os italianos Gian Lorenzo Bernini
e Francesco Borromini, ambos contemporâneos. Estes arquitetos
despertaram e foram os principais nomes da revolução antimaneirista,
em que buscavam romper as formas contidas, reservadas e
aristocráticas no período, buscando popularizar a expressão da arte
e da arquitetura. Para Goitia et al. (1996), os arquitetos buscavam
uma nova poética que chegasse aos sentidos das pessoas.

O primeiro arquiteto que será apresentado é Bernini, conhecido


por suas construções sólidas e imponentes, que buscava os ideais
do classicismo (utilização das colunas clássicas e suas intenções de
perpetuação deste estilo pelo tempo), renovou muitos conceitos
estilísticos da época, principalmente na ordem espacial, utilizando
ferramentas que pudessem produzir efeitos óticos ao espectador.

A praça de São Pedro é um dos projetos mais conhecidos


de Bernini, que demonstra a grandiosidade e a renovação
das ordenações barrocas, em que, o arquiteto renovou as
edificações do Império Romano e foros imperiais (Figura 2.27).

120 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.27 | Praça de São Pedro

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 365).

A praça é composta por duas partes, possuindo uma seção, a


Piazza Obliqua que está focada no obelisco do vaticano, seguida
por uma seção trapezoidal, a Piazza Retta, localizada em frente à
entrada da igreja. Estas duas áreas abraçam, de forma simbólica,
os cristãos que visitam o túmulo de São Pedro. Segundo Fazio,
Moffet e Wodehouse, a Piazza Retta busca melhorar as proporções
da fachada da igreja, aumentando, aparentemente, sua altura. Seu
formato trapezoidal, percebida como um retângulo, reduz a fachada
com o propósito de enfatizar sua verticalidade. Por outro lado,
as colunatas laterais diminuem de altura ao seguir na direção da
igreja, criando uma unidade menor que contrasta com as colunas
coríntias (Figura 2.28) a fachada (Figura 2.29).

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 121


Figura 2.28 | Colunas coríntias

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/colunas-de-justi%C3%A7a-gm137006379-
384223?st=_p_corintio>. Acesso em: 19 jan. 2017.

Figura 2.29 | Praça de São Pedro, Vaticano.

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/vista-a%C3%A9rea-da-pra%C3%A7a-
s%C3%A3o-pedro-no-vaticano-gm828385732-134876385>. Acesso em: 30 out. 2018.

122 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


A Piazza Obliqua é completamente barroca, com sua curvatura
que dá a impressão de formatar uma elipse, mas que na verdade
são dois semicírculos conectados a um quadrado. As duas fontes
simétricas e o obelisco formatam um eixo transversal com relação
à chegada da Basílica, introduzindo, assim, segundo Fazio, Moffet
e Wodehouse (2011, p. 365) “um elemento de tensão no projeto”.
Sua forma é delineada por colunatas independentes, com quase
12 metros de altura, distribuídas de forma que a luz e a sombra
sejam alternadas à medida que os visitantes se desloquem. A ideia
de Bernini é de que as colunatas pudessem gerar sensações de
proteção sem que as pessoas se sintam enclausuradas.

Segundo Goitia et al. (1996), o usuário que caminha pela praça


se sente como possuído por uma força sublime que arrasta o seu
olhar e conquista inteiramente sua percepção. O autor descreve
que “tudo está calculado; as expansões e as retrações do espaço;
o ritmo apertado das colunas que produzem uma espécie de
ressonância musical, como uma gigantesca fuga; o jogo dos níveis
de pavimento que, por assim dizer, palpita como uma pele viva”.
(GOITIA et al., 1996, p. 13)

Exemplificando
O arquiteto Bernini também demonstra sua capacidade de criação
barroca em algumas igrejas. Um destes exemplos é a igreja de
Sant’Andrea al Quirinale (Figura 2.30), em que, assim como na Praça
São Pedro, segundo Goitia et al. (1996, p. 13) “o espaço dominante
se expande lateralmente, como um eixo transversal, perpendicular ao
eixo fundamental de simetria”. A construção em Sant’Andrea adquire
um caráter cenográfico, em que o arquiteto promoveu o planejamento
de uma luz alta, na qual sua fonte é ocultada, para que seja obtido
um efeito ilusionista que acaba por converter esta construção em um
antecedente dos “camarins”. (GOITIA et al., 1996)

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 123


Figura 2.30 | Igreja Sant’Andrea al Quirinale

Fonte: <http://www.ambrazas.net/main.php?g2_view=core.DownloadItem&g2_
itemId=6228&g2_serialNumber=10>. Acesso em: 19 jan. 2017.

O espaço interno, formatado pela estrutura convexa do edifício,


também possui contracurvas que conectam a edificação com a
rua. Seu acesso se dá entre as colunas que sustentam a fachada
principal, o que permite a entrada de luz no interior (Figura 2.31).
Figura 2.31 | Efeito ilusionista de entrada de luz natural

Fonte: <https://sayumicortesdalmaut.files.wordpress.com/2012/09/sam_6858.jpg>.
Acesso em: 19 jan. 2017.

124 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


A entrada e o altar foram posicionados nos lados opostos do
menor eixo da planta, projetado em formato oval (Figura 2.32).
Bernini distribuiu pilastras no eixo transversal da planta, a fim
de enfatizar o altar e promover a atenção do visitante para este
ponto.
Figura 2.32 | Planta baixa da Igreja Sant’Andrea al Quirinale

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 366).

Outro arquiteto importante no desenvolvimento do estilo


Barroco foi Francesco Borromini, colaborador de Bernini, mas,
posteriormente, devido às suas personalidades fortes, acabaram por
se transformarem em rivais.

Entre suas principais obras está a Igreja San Carlo alle Quattro
Fontane, cuja planta possui um desenho oval (Figura 2.33), com
o maior eixo terminando no altar principal. As paredes laterais
formam uma curva que se comprime no eixo menor, no qual,
segundo Janson e Janson (1996), o formato oval comprimido

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 125


sugere uma cruz grega distendida, como se tivesse sido projetada
de forma liquefeita.
Figura 2.33 | Planta baixa da Igreja San Carlo alle Quattro Fontane

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 367).

Borromini concebeu a planta baixa neste formato a partir da


conexão de uma série de figuras geométricas, círculos e triângulos,
as proporções dos espaços internos foram baseadas no uso da
geometria e não nas proporções renascentistas, período antecessor
ao barroco.

Para Janso e Janson (1996), a construção desta igreja é nova e


inquietante, pois há um jogo de superfícies côncavas e convexas,
que promove certa percepção elástica da estrutura, “com as

126 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


formas distorcidas por pressões que nenhum edifício anterior teria
suportado”. (JANSON; JANSON, 1996, p. 258)

A fachada da Igreja foi projetada quase trinta anos mais tarde, e


evidencia as pressões e as contrapressões que Borromini buscou no
projeto interno da edificação (Figura 2.34).
Figura 2.34 | Fachada da Igreja San Carlo alle Quattro Fontane

Fonte: <http://www.viajararoma.com/iglesias-de-roma/san-carlo-alle-quattro-fontane/>.
Acesso em: 13 dez. 2016.

Goitia et al. (1996) considera a igreja como uma obra-prima,


repleta de entranhas, ressonâncias e premonições, que são
promovidas pelo projeto do espaço interno, no qual a pintura e a
escultura são partes essenciais da composição. Segundo o autor, a
ondulação da fachada é dinâmica e seus elementos parecem estar
soltos, para que os movimentos de claro-escuro sejam evidenciados.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 127


A autonomia dos elementos da Igreja proporciona “um aspecto
de obra armada, não construída; de algo que um vendaval pode
destruir no impulso de sua fúria. Poucas obras, como esta, exerceram
mais influência no desenvolvimento da arquitetura rococó”. (GOITIA
et al., 1996, p. 17)

Os espaços urbanos do estilo Barroco resultaram em diversos


projetos públicos que contribuíram para a formatação espacial das
cidades, principalmente italianas. Bernini e Borromini trabalharam
juntos em alguns projetos e construções, sendo uma delas a Piazza
Navona. No período medieval, o espaço abrigara um mercado e houve
construções de casas, quando a praça se tornara as ruínas do Estádio
Domiciano.

No centro da praça foi construída a Fonte dos Quatro Rios (Figura


2.35), que representa, por meio de figuras simbólicas, os maiores
rios dos continentes - Danúbio, Nilo, Prata e Ganges - conquistados
pelo catolicismo.

Figura 2.35 | Fonte dos Quatro Rios

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/rome-navona-fiumi-st-agnese-gm622459524-
109008589?st=_p_Fountain%20of%20the%20four%20rivers>. Acesso em: 13 dez. 2016.

128 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Os ideais do Barroco italiano foram transferidos para a Franca
com algumas modificações. O classicismo renascentista estava
estabelecido no país, o qual ignorava muitos dos excessos do
Barroco romano. A arquitetura francesa, ao contrário da italiana, não
estava focada na reforma católica, mas, sim, em produzir um estilo
oficial que glorificasse a corte e o monarca, na qual sua função era
a de representar o poder real.

Neste período, os arquitetos franceses utilizaram diversos


conceitos arquitetônicos italianos de Borromini e Bernini, mas ao
mesmo tempo mantiveram-se fiéis a algumas visões de estilos
anteriores, como a arquitetura gótica. O arquiteto Louis Le Vau,
o pintor Charles Lebrun e o médico Claude Perrault, conduziram
pesquisas sobre os espaços e trabalharam na fachada leste do
Louvre, produzindo sua ampliação (Figura 2.36).
Figura 2.36 | Fachada Leste do Louvre

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/colunata-de-
perrault-gm985300368-267325440>. Acesso em: 30 out. 2018.

Neste projeto, a utilização de colunas em pares se aproxima do


estilo Barroco, ainda que o projeto seja mais contido em relação à
arquitetura barroca italiana.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 129


Na França, desenvolveu-se também o estilo Rococó, utilizado
principalmente nos espaços interiores. Seu nome é uma fusão
do termo rocaille, que descreve formas orgânicas e coquille, que
significa concha. O desenvolvimento deste estilo acabou por refletir
uma sociedade que buscava nas artes e no ornamento prazeres que
os levassem a esquecer de seus problemas reais.

O Rococó é um estilo produzido para a realeza e a aristocracia


francesa, cujas características são texturas suaves e com cores
claras. Além disso, toda decoração interna, pinturas, esculturas e
mobiliários eram produzidos em tons dourados e cores pastéis.

Segundo Janson e Janson (1996, p. 284), “o Rococó foi


um refinamento em miniatura do Barroco curvilíneo e elástico
de Borromini”. Embora o estilo tenha surgido na França, seu
desenvolvimento se deu também nos interiores de residências pela
maior parte dos países europeus, como a arquitetura de Balthasar
Neumann, cujo maior projeto foi o Palácio Episcopal de Würzburg
(Figura 2.37), na Alemanha.
Figura 2.37 | Palácio Episcopal de Würzburg - Alemanha

Fonte: <http://www.residenz-wuerzburg.de/englisch/residenz/kaisers.htm>. Acesso em: 13


dez. 2016.

O salão oval projetado por Neumann foi decorado em branco,


dourado e com sombras em tons pastéis, sendo este o esquema

130 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


cromático característico do estilo Rococó. Os elementos estruturais
da edificação foram reduzidos ao mínimo necessário. Para Janson e
Janson (1996, p. 282), “o teto em forma de membranas muitas vezes
dá margem a tantos tipos de aberturas ilusórias que não o sentimos
mais como fronteira espacial”. Ainda segundo os autores, “essas
aberturas não revelam avalanches de figuras numa profusão de luz,
como as dos tetos romanos, mas o céu azul e nuvens iluminadas
pelo sol”. (JANSON; JANSON, 1996, p. 283-284)

É possível concluir que o estilo Barroco manteve certa


linguagem clássica. No entanto, os arquitetos e os artistas do
período interpretaram esta linguagem e permitiram transformá-la
em experiências teatrais, que buscavam ao máximo sensibilizar e
aguçar a percepção do usuário, por meio de ornamentações que
procuravam seduzi-lo. Neste sentido, o estilo possuía a emoção
sobre a razão cujo propósito era impressionar os sentidos do
observador, sendo visualmente expressado através de curvas,
contracurvas, colunas retorcidas. Há uma união entre a arquitetura
e a escultura, que resulta em uma mudança visível nas construções
das cidades, onde buscava-se extremo contraste de luz e sombra,
claro e escuro.

Pesquise mais
Nestes vídeos, você poderá conhecer mais a respeito dos estilos
Barroco e Rococó, com uma visão mais ampla sobre a arquitetura,
a escultura e a pintura. Além disso, o documentário realiza uma
aproximação dos estilos e suas implicações para o neoclassicismo,
estilo posterior a esta época.

CARDOSO Emerson. Arte Barroca e do Rococó ao Neoclássico -


parte 1. YouTube, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=oLMsU68HKeA>. Acesso em: 30 out. 2018.

CARDOSO Emerson. Arte Barroca e do Rococó ao Neoclássico -


parte 2. YouTube, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=6CguPDW60V0>. Acesso em: 30 out. 2018.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 131


Sem medo de errar
Para finalizar a semana de palestras, sua última apresentação
será sobre a arquitetura Barroca e seus desdobramentos. Neste
momento, você abordará as características da arquitetura Barroca
e da arquitetura Rococó, além de traçar um paralelo comparativo
entre os estilos vistos anteriormente, Renascentismo e Maneirismo.

Em um primeiro momento, você apresenta os principais


arquitetos deste estilo e, junto a eles, apresenta as obras que
representam elementos que caracterizam o movimento Barroco.
Bernini e Borromini são os nomes que iniciaram o estilo Barroco e
as construções que representam este movimento.

O arquiteto Bernini demonstra sua capacidade de criação


barroca em construções ligadas à religião, como as igrejas. Um
destes exemplos é a igreja de Sant’Andrea al Quirinale, na qual o
espaço se expande e adquire um caráter cenográfico, por meio do
planejamento da entrada de luz, promovendo um efeito ilusionista.
Figura 2.30 | Igreja Sant’Andrea al Quirinale

Fonte: <http://www.ambrazas.net/main.php?g2_view=core.DownloadItem&g2_
itemId=6228&g2_serialNumber=10>. Acesso em: 19 jan. 2017.

132 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.31 | Efeito ilusionista de entrada de luz natural

Fonte: <https://sayumicortesdalmaut.files.wordpress.com/2012/09/sam_6858.jpg>.
Acesso em: 19 jan. 2017.

Seu interior é formatado por uma estrutura convexa que conecta


a edificação com a rua. A planta foi projetada em formato oval para
que o altar pudesse ser evidenciado, estando em frente ao principal
acesso e na parte de maior curvatura da planta.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 133


Figura 2.32 | Planta baixa da Igreja Sant’Andrea al Quirinale

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 366).

Outro arquiteto importante no desenvolvimento do estilo


Barroco foi Francesco Borromini, colaborador de Bernini, mas,
posteriormente, devido às suas personalidades fortes, acabaram por
se transformarem em rivais.

Entre suas principais obras está a Igreja San Carlo alle Quattro
Fontane, cuja planta possui um desenho oval (Figura 2.33), com o
maior eixo terminando no altar principal. As paredes laterais formam
uma curva que se comprime no eixo menor, no qual, segundo
Janson e Janson (1996), o formato oval comprimido sugere uma
cruz grega distendida, como se tivesse sido projetada de forma
liquefeita.

134 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Figura 2.33 | Planta baixa da Igreja San Carlo alle Quattro Fontane

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 367).

Borromini concebeu a planta baixa neste formato a partir da


conexão de uma série de figuras geométricas, círculos e triângulos,
as proporções dos espaços internos foram baseadas no uso da
geometria e não nas proporções renascentistas, período antecessor
ao barroco.

Para Janso e Janson (1996), a construção desta igreja é nova e


inquietante, pois há um jogo de superfícies côncavas e convexas,
que promove certa percepção elástica da estrutura, “com as
formas distorcidas por pressões que nenhum edifício anterior teria
suportado”. (JANSON; JANSON, 1996, p. 258)

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 135


A fachada da Igreja foi projetada quase trinta anos mais tarde, e
evidencia as pressões e as contrapressões que Borromini buscou no
projeto interno da edificação (Figura 2.34).

Figura 2.34 | Fachada da Igreja San Carlo alle Quattro Fontane

Fonte: <http://www.viajararoma.com/iglesias-de-roma/san-carlo-alle-quattro-fontane/>.
Acesso em: 13 dez. 2016.

Goitia et al. (1996) considera a igreja como uma obra-prima,


repleta de entranhas, ressonâncias e premonições, que são
promovidas pelo projeto do espaço interno, no qual a pintura e a
escultura são partes essenciais da composição. Segundo o autor, a
ondulação da fachada é dinâmica e seus elementos parecem estar
soltos, para que os movimentos de claro-escuro sejam evidenciados.

A autonomia dos elementos da Igreja proporciona “um aspecto


de obra armada, não construída; de algo que um vendaval pode

136 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


destruir no impulso de sua fúria. Poucas obras, como esta, exerceram
mais influência no desenvolvimento da arquitetura rococó”. (GOITIA
et al., 1996, p. 17)

Os espaços urbanos do estilo Barroco resultaram em diversos


projetos públicos que contribuíram para a formatação espacial das
cidades, principalmente italianas. Bernini e Borromini trabalharam
juntos em alguns projetos e construções, sendo uma delas a Piazza
Navona. No período medieval, o espaço abrigara um mercado e houve
construções de casas, quando a praça se tornara as ruínas do Estádio
Domiciano.

No centro da praça foi construída a Fonte dos Quatro Rios (Figura


2.35), que representa, por meio de figuras simbólicas, os maiores
rios dos continentes - Danúbio, Nilo, Prata e Ganges - conquistados
pelo catolicismo.
Figura 2.35 | Fonte dos Quatro Rios

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/rome-navona-fiumi-st-agnese-gm622459524-
109008589?st=_p_Fountain%20of%20the%20four%20rivers>. Acesso em: 13 dez. 2016.

Os ideais do Barroco italiano foram transferidos para a Franca


com algumas modificações. O classicismo renascentista estava

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 137


estabelecido no país, o qual ignorava muitos dos excessos do
Barroco romano. A arquitetura francesa, ao contrário da italiana, não
estava focada na reforma católica, mas, sim, em produzir um estilo
oficial que glorificasse a corte e o monarca, na qual sua função era
a de representar o poder real.

Neste período, os arquitetos franceses utilizaram diversos


conceitos arquitetônicos italianos de Borromini e Bernini, mas ao
mesmo tempo mantiveram-se fiéis a algumas visões de estilos
anteriores, como a arquitetura gótica. O arquiteto Louis Le Vau,
o pintor Charles Lebrun e o médico Claude Perrault, conduziram
pesquisas sobre os espaços e trabalharam na fachada leste do
Louvre, produzindo sua ampliação (Figura 2.36).
Figura 2.36 | Fachada Leste do Louvre

Fonte: <http://theredlist.com/media/database/architecture/history/architecture-europeene/
baroque/colonnade-du-louvre/001_colonnade-du-louvre_theredlist.jpg>. Acesso em: 13 dez.
2016.

Neste projeto, a utilização de colunas em pares se aproxima do


estilo Barroco, ainda que o projeto seja mais contido em relação à
arquitetura barroca italiana.

138 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Na França, desenvolveu-se também o estilo Rococó, utilizado
principalmente nos espaços interiores. Seu nome é uma fusão
do termo rocaille, que descreve formas orgânicas e coquille, que
significa concha. O desenvolvimento deste estilo acabou por refletir
uma sociedade que buscava nas artes e no ornamento prazeres que
os levassem a esquecer de seus problemas reais.

O Rococó é um estilo produzido para a realeza e a aristocracia


francesa, cujas características são texturas suaves e com cores
claras. Além disso, toda decoração interna, pinturas, esculturas e
mobiliários eram produzidos em tons dourados e cores pastéis.

Segundo Janson e Janson (1996, p. 284), “o Rococó foi


um refinamento em miniatura do Barroco curvilíneo e elástico
de Borromini”. Embora o estilo tenha surgido na França, seu
desenvolvimento se deu também nos interiores de residências pela
maior parte dos países europeus, como a arquitetura de Balthasar
Neumann, cujo maior projeto foi o Palácio Episcopal de Würzburg
(Figura 2.37), na Alemanha.
Figura 2.37 | Palácio Episcopal de Würzburg - Alemanha

Fonte: <http://www.residenz-wuerzburg.de/englisch/residenz/kaisers.htm>. Acesso em: 13


dez. 2016.

O salão oval projetado por Neumann foi decorado em branco,


dourado e com sombras em tons pastéis, sendo este o esquema
cromático característico do estilo Rococó. Os elementos estruturais

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 139


da edificação foram reduzidos ao mínimo necessário. Para Janson e
Janson (1996, p. 282), “o teto em forma de membranas muitas vezes
dá margem a tantos tipos de aberturas ilusórias que não o sentimos
mais como fronteira espacial”. Ainda segundo os autores, “essas
aberturas não revelam avalanches de figuras numa profusão de luz,
como as dos tetos romanos, mas o céu azul e nuvens iluminadas
pelo sol”. (JANSON; JANSON, 1996, p. 283-284)

É possível concluir que o estilo Barroco manteve certa


linguagem clássica. No entanto, os arquitetos e os artistas do
período interpretaram esta linguagem e permitiram transformá-la
em experiências teatrais, que buscavam ao máximo sensibilizar e
aguçar a percepção do usuário, por meio de ornamentações que
procuravam seduzi-lo. Neste sentido, o estilo possuía a emoção
sobre a razão cujo propósito era impressionar os sentidos do
observador, sendo visualmente expressado através de curvas,
contracurvas, colunas retorcidas. Há uma união entre a arquitetura
e a escultura, que resulta em uma mudança visível nas construções
das cidades, onde buscava-se extremo contraste de luz e sombra,
claro e escuro.

Pesquise mais
Nestes vídeos, você poderá conhecer mais a respeito dos estilos
Barroco e Rococó, com uma visão mais ampla sobre a arquitetura,
a escultura e a pintura. Além disso, o documentário realiza uma
aproximação dos estilos e suas implicações para o neoclassicismo,
estilo posterior a esta época.

CARDOSO Emerson. Arte Barroca e do Rococó ao Neoclássico -


parte 1. YouTube, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=oLMsU68HKeA>. Acesso em: 9 fev. 2017.

CARDOSO Emerson. Arte Barroca e do Rococó ao Neoclássico -


parte 2. YouTube, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=oLMsU68HKeA>. Acesso: 9 fev. 2017.

Sem medo de errar


Para finalizar a semana de palestras, sua última apresentação
será sobre a arquitetura Barroca e seus desdobramentos. Neste

140 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


momento, você abordará as características da arquitetura Barroca
e da arquitetura Rococó, além de traçar um paralelo comparativo
entre os estilos vistos anteriormente, Renascentismo e Maneirismo.

Em um primeiro momento, você apresenta os principais


arquitetos deste estilo e, junto a eles, apresenta as obras que
representam elementos que caracterizam o movimento Barroco.
Bernini e Borromini são os nomes que iniciaram o estilo Barroco e
as construções que representam este movimento.

O arquiteto Bernini demonstra sua capacidade de criação


barroca em construções ligadas à religião, como as igrejas. Um
destes exemplos é a igreja de Sant’Andrea al Quirinale, na qual o
espaço se expande e adquire um caráter cenográfico, por meio do
planejamento da entrada de luz, promovendo um efeito ilusionista.
Figura 2.30 | Igreja Sant’Andrea al Quirinale

Fonte: <http://www.ambrazas.net/main.php?g2_view=core.DownloadItem&g2_
itemId=6228&g2_serialNumber=10>. Acesso em: 19 jan. 2017.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 141


Figura 2.31 | Efeito ilusionista de entrada de luz natural

Fonte: <https://sayumicortesdalmaut.files.wordpress.com/2012/09/sam_6858.jpg>.
Acesso em: 19 jan. 2017.

Seu interior é formatado por uma estrutura convexa que conecta


a edificação com a rua. A planta foi projetada em formato oval para
que o altar pudesse ser evidenciado, estando em frente ao principal
acesso e na parte de maior curvatura da planta.
Figura 2.32 | Planta baixa da Igreja Sant’Andrea al Quirinale

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 366).

142 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Bernini e Borromini construíram juntos espaços urbanos no
estilo Barroco, que contribuíram para a formatação espacial das
cidades italianas. Exemplo disso é a Piazza Navona, na qual um dos
elementos principais é a Fonte dos Quatro Rios, que representam
os maiores rios conquistados pelo catolicismo - Danúbio, Nilo, Prata
e Ganges.
Figura 2.35 | Fonte dos Quatro Rios

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/rome-navona-fiumi-st-agnese-gm622459524-
109008589?st=_p_Fountain%20of%20the%20four%20rivers>. Acesso em: 13 dez. 2016.

A fim de traçar um paralelo entre as arquiteturas do estilo


Barroco e Renascentista/Maneirista, você também apresenta uma
comparação dos dois estilos e suas principais características, sendo
elas:

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 143


Renascentismo e Maneirismo Barroco
- Produção voltada às relações
matemáticas e proporções divinas. - Produção que forjava a perspectiva
- Arquiteto como intelectual, possuindo para a produção de um espaço
muitas relações com a aristocracia. “cenário”, repleto de teatralidade.
- Movimento característico pela - Projeto da arquitetura para produzir
valorização do virtuosismo e efeitos óticos, com luzes e sombras.
expressões individuais. - Arquitetura voltada ao social, no qual
- Conceito de genialidade nos a produção deveria fazer parte tanto
profissionais arquitetos. da população quanto da cultura.
- Busca pela qualidade arquitetônica - Movimento anticlassicista.
clássica.
- Relação da figura humana e suas
proporções no projeto das edificações.

Avançando na prática

Edificação no estilo Barroco

Descrição da situação-problema

Você é arquiteto e trabalha em um renomado escritório de


arquitetura, que foi contratado por uma construtora, especializada
em edificações residenciais, para realizar o projeto de um
condomínio de apenas uma torre. No entanto, a construtora solicitou
que o projeto fosse produzido com elementos e características do
Barroco europeu, pois se destina a um público especifico na capital
de uma grande cidade. Dessa forma, como você integra a equipe
das pesquisas iniciais ao desenvolvimento de projeto, sua tarefa
será a de apresentar algumas edificações barrocas e suas principais
características, a fim de que a equipe de projeto possa realizar
croquis da nova edificação. Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

Para projetar uma edificação com elementos que representem o


estilo Barroco, é necessário que você busque algumas referências
importantes do período, a fim de que elas sejam utilizadas no
processo projetual da nova edificação.

144 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Para facilitar a apresentação, você escolherá duas obras dos
arquitetos mais famosos do período Barroco e, por meio delas,
apontará os elementos e as características importantes deste estilo,
para servirem como referência à construção do edifício residencial.

A arquitetura Barroca foi um estilo criado em contraposição


ao Maneirismo e ao Renascentismo, cuja ideia era romper com
os ideais individualistas destes movimentos, proporcionando ao
indivíduo uma série de espetáculos teatrais projetados no espaço.

Os arquitetos Bernini e Borromini, cada um de uma maneira


distinta, buscavam a utilização de determinadas ferramentas que
possibilitassem a criação de cenários nos espaços, cuja iluminação,
perspectivas, sombras e cores tinham o papel fundamental neste
processo.

As obras que podem ser utilizadas como referências são:

Bernini
- Construção sólida que buscava
algumas referências no classicismo,
Figura 2.29 | Praça de São Pedro como os pilares e colunatas.

- Colunatas dispostas propositada-


mente para criar efeitos de luz e
sombra à medida que o espectador
caminha.

- Expansões e retrações dos espaços


para criar um ritmo que se assemelha
à composição musical.

Fonte: <http://www.fmarte.org/bernini/>. Acesso - Desenho de duas praças, uma com


em: 13 dez. 2016.
formato trapezoidal e outra com
formato oval, com a pretensão de criar
espaços de estar.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 145


Borromini
Figura 2.34 | Igreja San Carlo alle
Quattro Fontane - Planta com desenho oval, cujo maior
eixo finaliza no ambiente principal da
igreja, o altar.

- Paredes que formam curvas que


comprimem os eixos menores.

- Concepção da planta por meio de


diversas figuras geométricas, como
círculos e triângulos, mas utilizados de
forma a criar um jogo de superfícies
côncavas e convexas.

- Sensação de ondulação na fachada,


criando uma dinâmica entre os
Fonte: <http://www.viajararoma.com/
elementos, que aparentam estar soltos
iglesias-de-roma/san-carlo-alle-quattro- da composição.
fontane/>. Acesso em: 13 dez. 2016.

Faça valer a pena


1. No final do século XVI, há uma mudança na história da arte em que
o Maneirismo, estilo entendido como intelectualista e complicado, acaba
por ceder seu lugar a um estilo sensual, emocional e universalmente
compreensível. Este movimento é a reação de uma concepção de arte,
de certa forma, popular e ao mesmo tempo apoiada pela classe cultural,
que se manifestou contra o exclusivismo intelectual do período maneirista.
( ) O movimento Barroco surgiu na Itália e se espalhou pela Europa,
como a França, por exemplo.
( ) O Barroco se desenvolveu de forma igualitária nos países da
Europa, não havendo diferença alguma na aplicação de seus elementos e
características.
( ) O racionalismo buscado pela arquitetura Maneirista e Renascentista
foi finalmente alcançada com o estilo Barroco, no qual foram incluídos
apenas alguns elementos mais rebuscados e ornamentados.
Assinale V para verdadeiro e F para falso, segundo as alternativas
correspondentes:
a) V, V, F.
b) V, V, V.
c) F, F, F.
d) V, F, F.
e) F, V, F.

146 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


2. Na arquitetura barroca, duas figuras máximas promoveram a evolução
do estilo, sendo eles os italianos Gian Lorenzo Bernini e Francesco
Borromini, ambos contemporâneos. Estes arquitetos despertaram e foram
os principais nomes da revolução antimaneirista, que buscava romper
com as formas contidas, reservadas e aristocráticas no período, buscando
popularizar a expressão da arte e arquitetura, para que uma nova poética
chegasse aos sentidos das pessoas. Analise a planta da figura a seguir e
verifique suas características.

Fonte: Fazio; Moffet e Wodehouse (2011, p. 366).

A partir do texto acima e do que foi apresentado no livro didático, assinale


a alternativa que corresponda ao projeto apresentado na figura acima:
a) Praça de São Pedro.
b) Palácio Episcopal de Würzburg.
c) Igreja Sant’Andrea al Quirinale.
d) Igreja San Carlo alle Quattro Fontane.
e) Fonte dos Quatro Rios.

3. O Palácio Episcopal de Würzburg, localizado na Alemanha, foi projetado


pelo arquiteto Balthasar Neumann. Entre suas características, é possível
identificar:
( ) O estilo arquitetônico da edificação é o Rococó, que se assemelha
muito ao Barroco, mas possui características marcantes que os diferencia.
( ) O salão oval foi decorado em branco, dourado e com sombras

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 147


em tons pastéis, sendo este o esquema cromático característico do estilo
Rococó. Os elementos estruturais da edificação foram reduzidos ao
mínimo necessário.
( ) O Rococó foi um estilo produzido para a realeza e a aristocracia,
diferentemente do Barroco, que se desenvolveu, em maior parte, na
construção de edificações ligadas à religião, como igrejas.
A partir do texto acima e do que foi apresentado no livro didático, assinale
a alternativa que corresponda ao projeto apresentado na figura acima:
a) Praça de São Pedro.
b) Palácio Episcopal de Würzburg.
c) Igreja Sant’Andrea al Quirinale.
d) Igreja San Carlo alle Quattro Fontane.
e) Fonte dos Quatro Rios.

3. O Palácio Episcopal de Würzburg, localizado na Alemanha, foi projetado


pelo arquiteto Balthasar Neumann. Entre suas características, é possível
identificar:
( ) O estilo arquitetônico da edificação é o Rococó, que se assemelha
muito ao Barroco, mas possui características marcantes que os diferencia.
( ) O salão oval foi decorado em branco, dourado e com sombras
em tons pastéis, sendo este o esquema cromático característico do estilo
Rococó. Os elementos estruturais da edificação foram reduzidos ao
mínimo necessário.
( ) O Rococó foi um estilo produzido para a realeza e a aristocracia,
diferentemente do Barroco, que se desenvolveu, em maior parte, na
construção de edificações ligadas à religião, como igrejas.

Fonte: <http://www.residenz-wuerzburg.de/englisch/residenz/kaisers.htm>. Acesso em: 13


dez. 2016.

148 U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca


Assinale V para verdadeiro e F para falso, segundo as alternativas
correspondentes:
a) V, V, V.
b) F, F, F.
c) V, F, V.
d) V, F, F.
e) F, F, V.

U2 - Arquitetura Renascentista e Barroca 149


Referências
FAZIO, Michael; MOFFET, Marian; WODEHOUSE, Lawrence. A História da arquitetura
mundial. 3. ed. Porto Alegre: Amgh, 2011.

GOITIA, Fernando Chueca et al. História geral da arte: arquitetura IV. [s.i.]: Espanha:
Editora del Prado, 1996.

HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou,
1972.

JANSON, Horst W.; JANSON, Anthony F. Iniciação à história da arte. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.

MIGLIACCIO, Luciano. Poemas de Mármore. Michelangelo escultor e poeta nas


Lezioni de Benedetto Varchi. Revista Brasileira de História. v. 18, n. 35, São Paulo,
1998.
Unidade 3

Revolução Industrial e século


XIX: progressos e revivalismo

Convite ao estudo
Esta unidade tratará da arquitetura relacionada à Revolução
Industrial e dos progressos técnicos, tanto de projetos como
de materiais. As arquiteturas neoclássicas e neogóticas
também serão abordadas, além do processo de transformação
da arquitetura dentro do contexto social e político do
período que contribuiu para a mudança de elementos
fundamentais para a concepção das cidades e construções.
Serão abordados a arquitetura e o urbanismo neoclássico, a
arquitetura neogótica e a arquitetura na Revolução Industrial.
Estes estilos arquitetônicos e o que diz respeito aos seus
processos projetuais serão esmiuçados nesta unidade, a fim
de que se possa compreender como o processo de criação da
arquitetura se desenvolveu ao longo dos séculos.

Os objetivos específicos desta unidade estão relacionados


a conhecer e saber identificar os elementos arquitetônicos
de cada estilo, bem como saber diferenciá-los. Além disso, é
preciso identificar a cultura da sociedade de cada período, a fim
de entender quais foram as motivações principais que levaram
os projetistas a iniciarem um processo projetual diferenciado.

Para isso, você será convidado a participar da seguinte


situação: você é arquiteto e decidiu abrir seu próprio escritório,
realizando projetos de edificações e consultorias. Em
determinado momento de sua carreira, você conheceu alguns
desenvolvedores de jogos para consoles, e acabou sendo
convidado para realizar uma consultoria no desenvolvimento
de um jogo, que se passa no século XIX. O jogo será em
primeira pessoa, no qual o personagem principal é um agente
que busca recuperar obras roubadas. Para isso, ele percorrerá
cenários de algumas cidades da Europa e Estados Unidos.
Preocupados com a verossimilhança destes cenários, os
desenvolvedores decidiram te contratar para orientar a equipe
de modelagem e criação sobre as edificações e os espaços
urbanos desta época.

Para isto, esta unidade será dividida em três seções, em que,


inicialmente, será apresentada a arquitetura neoclassicista e as
características deste estilo. Após, será apresentada a arquitetura
neogótica e o processo de verticalização das cidades. Ao final,
será abordada a arquitetura da Revolução Industrial, com a
utilização do metal, além de aprendermos sobre as exposições
universais. Vamos lá?
Seção 3.1
Arquitetura neoclássica
Diálogo aberto
Você foi contratado por uma empresa de desenvolvimento de
jogos para realizar uma consultoria sobre a arquitetura do século
XIX e suas características. Esta consultoria se dará em três fases
na criação de cenários, a primeira será em edificações e espaços
urbanos de referência neoclássica. Neste sentido, quais são os
elementos principais da arquitetura neoclássica e os materiais mais
utilizados? Quais edifícios pelo mundo podem ser modelados
no jogo para que ele se pareça ao máximo com a construção da
época? Mãos à obra!

Não pode faltar


A arquitetura neoclássica é caracterizada por sua liberdade de
recorrer a quase todo tipo de técnicas e influências desenvolvidas
nos períodos anteriores. Diferentemente da rapidez com a qual o
Renascimento foi percebido e cunhado, o neoclassicismo emerge
em meio às Revoluções Industriais e políticas mais fortemente
nos EUA e na França. Se antes os períodos eram claramente
identificáveis, o cenário do século XIX apresenta muito mais
movimentos e contramovimentos. Para Janson e Janson (1996, p.
302), os movimentos foram “(...) espalhando-se como ondas, esses
“ismos” desafiam fronteiras nacionais, étnicas e cronológicas; sem
que haja predomínio duradouro em nenhum lugar (...)”.

Reflita
O neoclassicismo foi um movimento que negou a ornamentação
Barroca e Rococó, retomando a linguagem clássica para criar o
estilo das novas edificações. Os movimentos antecessores sempre
aparecem, de alguma forma, antagônicos uns aos outros. O estilo
Românico foi negado pelo estilo Gótico, que, por sua vez, foi negado

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 153


pelo Renascentismo. Este último recebeu fortes críticas e assim
surgiu o Barroco e Rococó. Reflita sobre as mudanças dos estilos
arquitetônicos que negam o estilo diretamente anterior e buscam
referências e características de outros movimentos. Tente criar uma
linha do tempo e eleger as principais características que acabam sendo
retomadas por outros movimentos.

O neoclassicismo foi precedido por um forte movimento


racionalista na Inglaterra e França, liderados por Voltaire, Hume,
Rousseau, entre outros. Os pensadores defendiam que as atividades
humanas deveriam ser guiadas, acima de tudo, pela razão. Este
movimento se opôs fortemente ao Barroco-Rococó, rebuscado e
detalhado que foi substituído por conceitos práticos das técnicas e
produções reveladas pela Revolução Industrial.

O teórico Argan (1992, p. 21), entende que “a arte neoclássica


é a crítica, que logo se torna condenação da arte imediatamente
anterior, o Barroco e o Rococó”. Além disso, o autor afirma que
o neoclassicismo adota a arte greco-romana como modelo de
equilíbrio, proporção, clareza, a qual condena os excessos de um
estilo que tinha sua sede na imaginação.

Segundo Argan (1992), algumas teorias apontam que os


monumentos clássicos deveriam pregar a adequação da forma e da
função, removendo os ornamentos, e equilibrando as proporções
dos volumes. A arquitetura neoclássica, de acordo com o autor,
não deveria refletir as ambiciosas fantasias da aristocracia, como
os estilos antecessores, mas responder às necessidades sociais e,
portanto, também econômicas.

Na arquitetura, a popularização de alguns materiais e novas


tecnologias possibilitaram formas distintas de construir e o
neoclassicismo chegou a ser rotulado como previsível, feio e sem
expressão, em virtude da sua praticidade e escalabilidade. Para
equilibrar esta balança, mais tarde surgirá o Romantismo, oferecendo
relativo equilíbrio entre progresso e beleza.

No século XVIII, houve uma valorização do estudo da arquitetura


da Antiguidade com a publicação de diversos desenhos de

154 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


edificações, o que foi refletido mais tarde nas obras financiadas pela
elite artística europeia, onde arquitetos neoclássicos enriqueceram
seu repertório e puderam replicar com maior facilidade e precisão
as técnicas antigas.

A maior expressão do Neoclassicismo na Itália foi Giovanni Battista


Piranesi (1720-1778). O artista começou sua carreira produzindo
imagens para vender como souvenir e chegou a registrar mais de
três mil gravuras, sendo a série Vendute di Roma (Vistas de Roma)
a mais famosa (Figura 3.1). Sua obra foi um importante registro e
foi disseminada por toda a Europa devido ao seu brilhantismo e
facilidade de transporte.
Figura 3.1 | O Foro ou Campo Vaccino, de Vistas de Roma - Piranesi

Fonte: Moffett; Fazio; Wodehouse (2011, p. 401).

A produção de Piranesi inspirou pensionnaires1, estrangeiros que


estudavam arquitetura na Itália com objetivo de “beber diretamente
da fonte” do classicismo. No entanto, Piranesi não restringiu seus
trabalhos a este caráter de registro. Para Moffett, Fazio e Wodehouse
1
Pensionnaires: residentes que estudavam e viviam a arquitetura in loco.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 155


(2011, p. 401), “a obra de Piranesi ilumina as duas principais correntes
antagônicas de arte e arquitetura do século XVIII: o Neoclassicismo
e o Romantismo”.

Piranesi se tornou um grande parceiro do arquiteto britânico


Robert Adam (1728-1792), juntos realizaram várias viagens
investigatórias e Adam se voltou para a arquitetura de casas e
interiores, já que esta era a demanda mais comum de seus clientes.
Uma das obras de destaque de Adam é a Casa Williams-Wynn,
localizada em Londres (Figura 3.2). O formato retangular e comprido
do terreno instigou Adam a realizar um planejamento de interiores
semelhante aos trabalhos de arquitetos franceses de apartamentos.
Adam precisou desenvolver um sistema próprio para representar
tomadas de decisões projetuais e distribuiu cômodos de diferentes
tipos espaciais, em forma de polígonos, retângulos e absides (formas
abaloadas).

156 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.2 | Plantas baixas da Casa Williams-Wynn, Londres, 1777

Fonte: Moffett; Fazio; Wodehouse (2011, p. 403).

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 157


Outro nome relevante foi Sr. Willian Chambers (1723-1796),
arquiteto britânico que estudou em Paris e Roma. Sua principal obra
é a Casa Somerset em Londres (Figura 3.3), às margens do Tâmisa,
trabalhando em parceria com Adam a pedido do Rei.
Figura 3.3 | Planta baixa da Casa Somerset, Londres (1776-1786)

Fonte: Moffett; Fazio; Wodehouse (2011, p. 404).

A edificação tinha o objetivo de concentrar as sedes do governo.


Sua estrutura se assemelha às praças residenciais existentes em
Londres (Figura 3.4). A obra revela os pontos fortes e fracos do estilo
Inglês, a tentativa de equilibrar diplomaticamente os espaços que
os diversos partidos ocupariam no edifício e as dificuldades de lidar
com o monumentalismo, refletido em sua pequena cúpula.

158 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.4 | Casa Somerset, Londres

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/longa-exposi%C3%A7%C3%A3o-de-fontes-
jorrando-%C3%A1gua-em-somerset-house-londres-uk-gm842068448-138095979>. Acesso
em: 30 out. 2018.

Exemplificando
Embora materiais como o ferro e o vidro já fossem encontrados nas
obras em períodos anteriores, é diante da Revolução Industrial, com a
otimização dos meios de produção, que o seu uso é ampliado e eles
passam a ter funções, além de meramente acessórias. Um exemplo
desta aplicação é a Igreja de Sainte-Geneviève em Paris (Figura 3.5 e
3.6), que utilizou o ferro como armação da pré-nave para estabilizar
a estrutura.
Figura 3.5 | Detalhe construtivo da Igreja de Sainte-Geneviève (París,
1755)

Fonte: Benevolo (2014, p. 43).

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 159


Figura 3.6 | Igreja de Sainte-Geneviève em Paris

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/sainte-genevieve-paris-fran%C3%A7a-
gm504566237-44402358>. Acesso em: 30 out. 2018.

Graças à disseminação das máquinas a vapor na Inglaterra, a


indústria siderúrgica descobre novas formas de trabalhar o ferro,
estas combinações permitiram maiores resistências com uma
estrutura de menor peso, proporcionando vãos maiores, utilizados
principalmente na construção de pontes na Inglaterra e mais tarde
na França.

De acordo com Benevolo (2014), no fim do século XVIII, inicia-se


o estudo das pontes suspensas por correntes de ferro com maior
poder de adaptabilidade comparadas as que utilizavam ferro-gusa e
que solucionavam melhor problemas de dinâmica.

O desenvolvimento da indústria também promoveu outra


popularização de uso bastante significativo, desta vez, o vidro. As
lâminas passaram a ser vendidas em larga escala e aplicadas com
diversos propósitos de fechar espaços e janelas. A integração com
estruturas de ferro também permitiu que fossem exploradas as
características translúcidas em tetos e coberturas. A popularização
desses itens se deu graças à baixa dos preços, o custo dos materiais
de construção caiu e democratizou o acesso para as classes mais

160 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


populares, principalmente de operários que agora possuíam maior
poder de compra.

Assimile
O Neoclassicismo foi marcado por uma negação dos ornamentos
barrocos e uma retomada da linguagem clássica, que se aproximasse,
de maneira clara, às relações de proporcionalidade. Além disso,
os novos materiais, como o ferro e o vidro, advindos do início da
Revolução Industrial, promoveram uma nova forma de construir, na
qual as edificações deveriam estar despidas de qualquer intenção
teatral, apresentando somente o essencial que uma edificação deve
ter.

As colunas, os capitéis e as plantas com formatos geométricos apontam


a relação da arquitetura do início do século XIX e suas referências
clássicas projetuais.

Nos Estados Unidos, a influência do neoclassicismo inglês tomou


forma com as preferências do terceiro presidente americano, Thomas
Jefferson (1743-1826) interessado por arquitetura e que, de acordo com
Goitia (1996) acreditava que ela precisava “(...) se regenerar bebendo
as águas incontaminadas da Antiguidade”. Jefferson foi responsável
pelo planejamento e obras da nova capital federal americana. A Casa
Branca (Figura 3.7 e 3.8) foi definida a partir de um concurso ganho
pelo arquiteto irlandês que trabalhava em Nova York, James Hoban
(1762-1831).

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 161


Figura 3.7 | Casa Branca (1792-1800)

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/white-casa-gm515835492-88695327?st=_p_
white%20house>. Acesso em: 8 jan. 2017.

162 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.8 | Planta baixa da Casa Branca

Dressing Room
Private
Cabinet Library
Tolgh President’s Bed Bed
Office Room Chamber Chamber
Room

Waiting Room Clerk Hall Reception

Dressing Room
House-Keeper
Elevator
Secretary
Private Guest Guest Guest
Office
to the Chamber Chamber Chamber
Bath
President
Room

1823
... South Portico

Blue State
Room Dining
Green Red
Room
East Room
East Porch

Corridor
1826

1792 Family
Vestibule Dining But.
Ante Room P.
Entr.

Porto
1829

Cochere

Fonte: <http://www.whitehousemuseum.org/special/renovation-1889.htm>. Acesso em: 8 jan.


2017.

Outra obra memorável é Capitólio (Figura 3.9) que teve seu


projeto conturbado com a intervenção de vários profissionais,
inclusive Thomas Jefferson que, de acordo com Benevolo (2014),
acumulava funções políticas e de arquiteto.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 163


Figura 3.9 | Planta baixa do primeiro piso do Capitólio

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/US_Capitol_basement_floor_
plan_1997_105th-congress.gif>. Acesso em: 30 out. 2018.

O projeto começou com o arquiteto William Thornton, que foi


demitido e substituído por George Hadfield para assumir a obra.
Mais tarde, Hadfield foi substituído por James Hoban (Figura 3.10).
Figura 3.10 | Capitólio

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/edifício-do-capitólio-gm490220614-
75090891?st=_p_capitol>. Acesso em: 30 out. 2018.

164 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


A decisão de recorrer ao clássico foi recheada de teor
político, ideológico com intuito de reforçar a credibilidade e a
virtude republicana. Jefferson também participou dos projetos da
Universidade de Virgínia, inspirado no Maison Carrée de Nîmes
(Figura 3.11).
Figura 3.11 | Maison Carrée de Nîmes

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/maison-carree-roman-temple-in-nimes-south-
ern-france-gm628563362-111628919?st=_p_maison%20carree>. Acesso em: 8 jan. 2017.

Pesquise mais
No artigo de Carolina Pulici, a autora escreve sobre os prédios
neoclássicos no espaço residencial de São Paulo. Este artigo, realizado
por meio de diversas entrevistas, traz um panorama paulistano sobre
as construções neoclássicas na atualidade brasileira. Leia o artigo e
reflita se as construções residenciais em estilo neoclássico possuem
algum tipo de caráter político e ideológico, como quando o estilo da
arquitetura neoclassicista foi criada no século XIX.

PULICI, Carolina. Prédios “neoclássicos” no espaço residencial das


elites de São Paulo. Estud. av., São Paulo, v. 29, n. 85, p. 237-261, set./
dez. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v29n85/0103-
4014-ea-29-85-00237.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 165


Sem medo de errar
Para auxiliar no desenvolvimento do jogo, é necessário que você
aponte as principais características da arquitetura neoclássica e
alguns edifícios que fizeram parte deste movimento. Dessa forma,
os desenvolvedores e os modeladores poderão desenhar a cidade e
os cenários mais parecidos com o que ocorreu na realidade.

As principais características do estilo neoclássico são:

- Valorização da arte e arquitetura clássicas. Os padrões


construtivos e os formatos geométricos são pontos fundamentais
do estilo neoclássico.

- Influência de ideias filosóficas do iluminismo, as quais eram


ligadas à razão.

- Utilização de novos materiais, como metais e vidros.

- As cores eram frias e a estrutura era pouco ornamentada.

- Os edifícios possuíam a valorização da pureza estética do estilo


clássico, em contraposição aos rebuscamentos, às teatralidades e
às complexidades do Barroco e Rococó.

- As edificações possuíam colunas, formatos geométricos e


cúpulas, remetendo ao modelo clássico da proporção matemática
e da razão do homem.

Com relação às obras que podem ser utilizadas, como referência


para a modelagem do jogo, é possível apresentar as seguintes:

166 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Casa Somerset (Londres)

Figura 3.12 | Planta Figura 3.13 | Vista interna

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/somerset-house-
londres-reino-unido-gm178508667-24049387>.
Fonte: Moffett; Fazio; Wodehouse (2011, p. Acesso em: 8 jan. 2017.
404).

Capitólio (Estados Unidos)

Figura 3.14 | Planta baixa do primeiro Figura 3.15 | Fachada Capitólio


piso do Capitólio

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/
Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ edif%C3%ADcio-do-capit%C3%B3lio-gm490220614-
commons/8/8c/US_Capitol_basement_ 75090891?st=_p_capitol>. Acesso em: 8 jan. 2017.
floor_plan_1997_105th-congress.gif>. Acesso em:
8 jan. 2017.

Casa Branca (Estados Unidos)


Figura 3.16 | Planta baixa da Casa Branca Figura 3.17 | Fachada da Casa Branca

Fonte: <http://www.whitehousemuseum.org/special/ Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/white-


renovation-1889.htm>. Acesso em: 8 jan. 2017. casa-gm515835492-88695327?st=_p_white%20
house>. Acesso em: 8 jan. 2017.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 167


Avançando na prática

Projeto de pesquisa sobre arquitetura neoclássica

Descrição da situação-problema

Você acabou de se formar no curso de arquitetura e, por sempre


gostar muito das disciplinas de história, decidiu escrever um projeto
de pesquisa para participar do processo de seleção de um programa
de mestrado em história da arquitetura. A parte da história que você
mais gosta está relacionada ao neoclassicismo e como a Revolução
Industrial contribuiu para a modificação do processo projetual das
edificações. Dessa forma, você decide escrever seu projeto sobre a
relação da Revolução Industrial com a arquitetura.

Assim, quais foram os novos materiais empregados para a criação


de uma nova arquitetura?

Quais foram as influências da Revolução Industrial?

Aponte pelo menos uma obra neoclássica e suas características.

Vamos lá?

Resolução da situação-problema

Para desenvolver seu projeto de pesquisa, é necessário que


você, primeiramente, aponte algumas características do estilo
neoclássico, a fim de utilizar estas informações nas conexões que
você realizará futuramente. Dessa forma, é necessário que você liste
os novos materiais empregados na arquitetura neoclássica, advindas
das evoluções do século XIX.

Os principais materiais são:

- Ferro (combinação da liga metálica de ferro e carbono,


originando o ferro gusa e o aço).

- Vidro (produzido em larga escala e utilizado em fachadas e


coberturas).

168 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Estes materiais permitiram que a estrutura fosse concebida de
maneira inovadora. As pedras deram lugar ao metal, com o qual
foi possível a construção de edificações maiores e mais esbeltas,
principalmente as obras de engenharia, como as pontes.

Além disso, a arquitetura neoclássica, embora busque referências


clássicas nos desenhos das edificações, utilizou processos técnicos
avançados e sistemas construtivos simples, para projetar e construir
os edifícios da época.

A Revolução Industrial teve forte influência neste processo, pois


permitiu a fabricação de novos materiais e as produções em larga
escala, inclusive na construção civil.

A arquitetura da Igreja de Sainte-Geneviève, em Paris, é um


exemplo de uma construção neoclássica que utilizou o ferro como
armação para estabilizar a estrutura, conforme é possível avaliar na
Figura 3.18
Figura 3.18 | Detalhe construtivo da Igreja de Sainte-Geneviève

Fonte: Benevolo (2014, p. 43).

Suas características arquitetônicas são (Figura 3.19):

- Utilização de processos e técnicas avançadas.

- Formatos regulares, geométricos e simétricos.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 169


- Referências clássicas.

- Utilização de colunas e capitéis de origem clássica.

- Utilização de uma cúpula.


Figura 3.19 | Igreja de Sainte-Geneviève

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/sainte-genevieve-paris-fran%C3%A7a-
gm504566237-44402358>. Acesso em: 30 out. 2018.

Faça valer a pena


1. A arquitetura neoclássica é caracterizada por sua liberdade de recorrer
a quase todo tipo de técnicas e influências desenvolvidas nos períodos
anteriores. Diferentemente da rapidez com a qual o Renascimento foi
percebido e cunhado, o neoclassicismo emerge em meio às Revoluções
Industriais e políticas mais fortemente nos EUA e na França. Como
característica do neoclassicismo é possível identificar:
( ) No desenvolvimento da arquitetura neoclássica, a popularização
de alguns materiais e novas tecnologias possibilitaram formas distintas de
construir e o neoclassicismo chegou a ser rotulado como previsível, feio e
sem expressão, em virtude da sua praticidade e escalabilidade.
( ) O neoclassicismo adota a arte greco-romana como modelo de
equilíbrio, proporção e clareza e condena os excessos de um estilo que
tinha sua sede na imaginação.
( ) No século XVIII, houve uma valorização do estudo da arquitetura

170 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


da Antiguidade com a publicação de diversos desenhos de edificações,
o que foi refletido mais tarde nas obras financiadas pela elite artística
europeia, em que arquitetos neoclássicos enriqueceram seu repertório e
puderam replicar com maior facilidade e precisão as técnicas antigas.

Assinale V para verdadeiro e F para falso, conforme o texto acima:


a) F, F, V.
b) F, V, V.
c) V, V, V.
d) V, V, F.
e) V, F, F.

2. Nos Estados Unidos, a influência do neoclassicismo inglês tomou


forma com as preferências do terceiro presidente americano, _________
interessado por arquitetura e que acreditava que ela precisava se regenerar
bebendo as águas incontaminadas da Antiguidade, como o classicismo.
Como responsável pelo planejamento e obras da nova capital federal
americana, tomou a decisão de recorrer ao clássico como teor político
e ideológico, reforçando a credibilidade e a virtude republicana. Uma de
suas obras é a Maison Carrée de Nîmes, em Virginia.
Com base no livro didático e no texto acima, assinale a alternativa que
preenche corretamente a lacuna:
a) James Hoban.
b) Piranesi.
c) William Thornton.
d) Thomas Jefferson.
e) George Hadfield.
3. Sobre a utilização de novos materiais no estilo Neoclássico, é possível
afirmar:
I. É diante da Revolução Industrial e com a otimização dos meios de
produção, que o uso do vidro e do ferro foi ampliado, os quais passam a
ter funções, além de meramente acessórios.
II. As lâminas de vidro passaram a ser vendidas em larga escala e aplicadas

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 171


Figura | Maison Carrée de Nîmes

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/maison-carree-roman-temple-in-nimes-south-
ern-france-gm628563362-111628919?st=_p_maison%20carree>. Acesso em: 8 jan. 2017.

com diversos propósitos de fechar espaços e janelas.


III. A integração com estruturas de ferro também permitiu que fossem
exploradas as características translúcidas em tetos e coberturas.
IV. Não houve popularização dos materiais, pois o poder de compra
continuava a ser exclusivo da nobreza e aristocracia.

Assinale a alternativa que corresponde as afirmações acima:


a) Todas as afirmativas são verdadeiras.
b) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) As afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
d) As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
e) As afirmativas I, III e IV são verdadeiras.

172 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Seção 3.2
Historicismo gótico. Escola de Chicago
Diálogo aberto
Prezado aluno, nesta seção você conhecerá um pouco da
arquitetura neogótica, que se deu no período da Revolução
Industrial. Neste período, além da modificação dos métodos de
produção, também se produziu uma grande mudança nas cidades,
transformando-as em grandes centros urbanos, devido ao êxodo
de pessoas e edifícios industriais e comerciais instalados na cidade.
Com estas mudanças, diversos edifícios de estilos medievais
passaram a ser expropriados e até mesmo demolidos gerando,
assim, a necessidade de que edificações medievais importantes
passassem a ser preservadas e restauradas, a fim de que pudessem
ser mantidas. Neste sentido, o estilo gótico medieval acabou sendo
retomado, no qual, alguns arquitetos iniciam o estilo neogótico,
pois, para eles, este estilo possuía ótimas soluções construtivas.

Assim, você será convidado a pensar na seguinte situação-


problema: em um segundo momento de sua consultoria para o
desenvolvimento de um jogo, cujo personagem percorrerá cenários
urbanos e edificações do século XIX, você orientará e fornecerá
informações sobre a arquitetura neogótica. Será necessário que
você aponte quais são as características do estilo neogótico e os
elementos construtivos que modelaram as edificações desta época.
Assim, com estas informações, quais são as principais características
do estilo neogótico? Quais são os edifícios mais conhecidos desta
época e estilo? Quem são os principais nomes do estilo neogótico?

Para solucionar esta situação, você deverá verificar os seguintes


conteúdos nesta seção:

• Conhecer os arquitetos Augustus Pugin e Viollet le Duc.

• Conhecer edifícios neogóticos.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 173


• Verificar características do estilo neogótico segundo os
principais nomes deste estilo.

Vamos lá? Mãos à obra!

Não pode faltar


A primeira metade do século XIX foi marcada pelas reformas
sociais e urbanísticas. É também neste período que os conceitos do
estilo gótico são retomados surgindo, dessa forma, o movimento
neogótico, na arquitetura. Segundo Benevolo (2014, p. 82), “a
possibilidade de imitar as formas góticas, ao invés das clássicas,
está presente na cultura arquitetônica desde a metade do século
XVIII e acompanha, com manifestações marginais, todo o ciclo do
neoclassicismo, confirmando implicitamente o caráter convencional
da escolha neoclássica”.

A possibilidade da retomada dos elementos e formas góticas é


concretizada, formatando assim um novo movimento que visava
conceber os projetos de arquitetura com base nos preceitos góticos,
em contraposição ao estilo neoclássico. No entanto, Benevolo
aponta que “o novo estilo não substitui nem se funde ao anterior,
como ocorria em épocas passadas, mas ambos permanecem um
ao lado do outro como hipóteses parciais, e todo o panorama da
história da arte surge rapidamente como uma série de hipóteses
estilísticas múltiplas, uma para cada um dos estilos passados”.

O estilo neogótico surge em um momento em que as cidades


estão passando por transformações, devido aos problemas de
organização gerados pela Revolução Industrial, na qual passa a
ocorrer novos fluxos de pessoas, deslocamentos internos. A cidade
necessita se estruturar para receber indústrias e a população que
chega migrando de outros locais. A arquitetura da época parece ser
impossível de ser conservada no ideal neoclássico possibilitando,
dessa forma, que os arquitetos recorram a estilos passados,
referenciando suas características e buscando soluções não
convencionais para os problemas de sua época.

A conservação de monumentos e edificações que, na Revolução


Industrial, foram expropriados ou caíram em mãos particulares,
gerou a polêmica das restaurações de edifícios medievais, que, por

174 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


sua vez, promovem a introdução do estilo neogótico nos projetos
arquitetônicos. Na Inglaterra, Alemanha e França, numerosos
edifícios medievais foram restaurados, nos quais os profissionais
responsáveis por este trabalho tiveram de enfrentar a relação entre
as formas góticas e os problemas de construção encontrados em
sua época.

No entanto, segundo Benevolo (2014, p. 86), “a difusão do gótico


não ocorre sem grandes contrastes”. No ano de 1846, “a Academia
Francesa lança uma espécie de manifesto, no qual se condena a
imitação dos estilos medievais como arbitrária e artificiosa. O gótico
é um estilo que pode ser admirado historicamente, e os edifícios
góticos devem ser conservados” (BENEVOLO, 2014, p. 86). Segundo
a Academia Francesa, o plágio do estilo gótico seria antiquado, pois
não possuía fundamentos e, além disso, questiona o retrocesso
de quatro séculos, cujos costumes, necessidades e hábitos eram
completamente distintos.

Em contraponto a esse manifesto, arquitetos respondem que


a arquitetura neoclássica também é um produto de imitação e se
distancia ainda mais da realidade da época, pois as edificações eram
construídas para outros climas, com outros materiais. Para eles, a
arquitetura gótica fazia todo sentido pois era uma arte universal.

Segundo Benevolo (2014), na discussão entre os estilos


arquitetônicos e suas funções claras no início do século XIX, é
possível identificar o início da separação entre a arquitetura e a
engenharia, uma vez que os engenheiros buscavam cada vez mais
alternativas construtivas que fossem higienistas e pudessem ser
reproduzidas em massa.

A arquitetura neogótica, diferentemente de outros estilos que


recuperaram movimentos antecessores, não surgiu a partir de
um manifesto contra a arquitetura neoclássica. Dessa forma, os
arquitetos que propunham uma renovação baseada no estilo
medieval precisaram realizar uma operação que refletia a arquitetura
e sobre suas relações com a estrutura política, social e moral da
época. Para Benevolo (2014, p. 88), “os edifícios neogóticos diferem
dos góticos mais que os edifícios neoclássicos diferem dos clássicos;
as irregularidades são corrigidas, as recorrências aproximativas
tornam-se rigorosas”.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 175


Augustus W. Pugin (1812-1852) foi um dos principais nomes do
retorno ao estilo medieval, com o movimento neogótico. Trabalhou
como ilustrador, junto a seu pai, elaborando um estudo sobre a
ornamentação gótica. No entanto, sua obra intitulada Contrastes;
ou um paralelo entre os nobres edifícios dos séculos XIV e XV e
edificações semelhantes do presente, mostrando a atual decadência
do bom gosto, acaba por apresentar o arquiteto ao grande público,
cujo título representa exatamente a mensagem do autor.

Neste livro, por meio de ilustrações, Pugin compara edifícios


medievais e modernos. De acordo com Benevolo (2014, p. 188),
o livro de Pugin “acusa a indústria de ter contaminado tanto a
paisagem urbana, com suas instalações desmesuradas, quanto
o ambiente doméstico, com seus produtos vulgares”. Em uma
de suas ilustrações (Figura 3.20), o arquiteto evidencia a cidade
medieval em harmonia urbana, em contraste com a cidade do
século XIX, entendida por ele como uma triste realidade de prisões,
fábricas e igrejas.

Figura 3.20 | Comparação de cidade antiga com moderna

Fonte: Fazio; Moffett; Wodehouse (2011, p. 430).

Em seu livro, Pugin criticava a cidade industrial que estava se


formando, e defendia a cidade medieval, pois a considerava um
ambiente tranquilo e visualmente agradável. Detalhava, dessa forma, as
crueldades de sua época, refletindo sobre os interesses dos capitalistas
e a degradação da cidade e da sociedade do início do século XIX.

Dessa forma, o arquiteto enxergava no estilo gótico a única


expressão da fé e dos desejos da sociedade, defendendo o uso dos
elementos medievais em todas as edificações, incluindo os prédios
modernos que estavam surgindo.

Pugin dedicou sua carreira a escrever tratados de arquitetura e


também a construir edificações, no estilo que defendia ser o melhor

176 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


para sua época, o neogótico. Um de seus trabalhos mais conhecidos
é a reconstrução do Parlamento do Reino Unido (Figura 3.21), que
foi destruído por um incêndio em 1834. Junto ao arquiteto Charles
Barry, Pugin projetou os detalhes interiores e exteriores da edificação.
Figura 3.21 | Parlamento do Reino Unido

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/casas-do-parlamento-gm91699542-6714443>.
Acesso em: 15 jan. 2017

Assimile
O estilo neogótico defendido por Pugin era bastante romântico no
sentido de que as construções e cidades eram muito melhores
quando construídas no estilo medieval. Pugin critica fortemente o
desenvolvimento da cidade da Revolução Industrial e suas influências
neoclássicas. Dessa forma, os projetos de Pugin deveriam possuir todos
os elementos góticos, como reproduções da arquitetura medieval.

Outro nome bastante conhecido no desenvolvimento do estilo


neogótico foi o arquiteto Eugène-Emmanuel Viollet le Duc (1814-
1879). Sua postura sustentou a direção neogótica de sua produção,
mas o arquiteto elimina o romantismo ou o sentimentalismo do
estilo; para ele, os elementos góticos não eram nada confusos ou
misteriosos, ao contrário, deveriam ser apreciados justamente pela
clareza de seus sistemas construtivos (BENEVOLO, 2014).

Ainda que o arquiteto compartilhasse do entusiasmo pelo


estilo medieval, não compartilhava da visão religiosa e moral que

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 177


Pugin imprimia em seu discurso. O arquiteto se interessava pela
racionalidade da estrutura medieval, considerando, por exemplo,
os sistemas de abóbodas nervuradas e arcos ogivais correlatos à
estrutura independente de ferro que começara a ser produzida
(Figura 3.22). Neste sentido, Viollet le Duc, de acordo com Fazio,
Moffett e Wodehouse (2011, p. 432) “sonhava com uma arquitetura
moderna baseada nas conquistas da engenharia, mas que exibisse a
integridade de forma e detalhe presente nas obras da Idade Média”.
Figura 3.22 | Ilustração com solução estrutural em ferro

Fonte: <http://www.etsavega.net/dibex/Viollet_Entretiens-e.htm>. Acesso em: 13 jan. 2017.

Embora Viollet le Duc tenha construído edificações completas, foi


por meio de seus escritos teóricos – dois volumes do livro Discursos
sobre Arquitetura (1863 e 1872) e dez volumes da Enciclopédia da
Arquitetura Francesa do século XI ao XVI (1858-1865) - que o arquiteto
ficou conhecido como especialista em arquitetura medieval, sendo
convidado para restaurar os principais monumentos da história da
França.

Para o arquiteto, o uso apropriado dos materiais e a obediência


às necessidades funcionais dos edifícios correspondiam ao uso
do estilo neogótico (Figura 3.23). Além disso, ele propunha que o
ferro, material muito utilizado na Revolução Industrial, pudesse ser
utilizado segundo suas características peculiares, e não como um
substituto dos materiais mais tradicionais (BENEVOLO, 2014).

178 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.23 | Ilustração de Auditório com abóbada de ferro e alvenaria
(1864)

Fonte: Fazio; Moffett; Wodehouse (2011, p. 432).

Ao interpretar a estrutura gótica como a resposta racional ao


problema estrutural das cargas e apoios, o arquiteto propõe a
utilização do ferro, como produto da Revolução Industrial. Para
Benevolo (2014), a reviravolta produzida pelo neogótico de Viollet
le Duc, associado ao racionalismo projetual, torna-se importante
por ser destituída de preconceitos nos processos de construção
modernos. A produção teórica de Viollet le Duc, para Benevolo
(2014, p. 127), “tem grande importância para a formação da geração
subsequente, da qual saem os mestres da art nouveau”.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 179


Pesquise mais
As duas resenhas apresentam o desenvolvimento do trabalho de
Viollet le Duc, tanto na construção de edifícios quanto na restauração.
Identifique nos textos alguns dos pontos importantes comentados em
nosso livro didático. Boa leitura!

OLIVEIRA, Rogério Pinto Dias de. O idealismo de Viollet-le-Duc.


Resenhas On-line, São Paulo, ano 08, n. 087.04, Vitruvius, mar.
2009. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/
resenhasonline/08.087/3045>. Acesso em: 10 fev. 2017.

SANTOS, Ana Carolina Melaré dos. Viollet-le-Duc e o conceito


moderno de restauração. Resenhas On-line, São Paulo, ano 04, n.
044.01, Vitruvius, ago. 2005. Disponível em: <http://www.vitruvius.
com.br/revistas/read/resenhasonline/04.044/3153>. Acesso em: 10
fev. 2017.

CHICAGO: DO INCÊNDIO À NOVA PRODUÇÃO


ARQUITETÔNICA

Nos Estados Unidos, o problema urbanista não foi prejudicado


pela história antiga e pelo caráter monumental das cidades, as
quais, até a Declaração de Independência (1776), não passam de
assentamentos de colonos, geralmente como uma rede uniforme
de blocos dispostos em ângulo reto entre vias ortogonais. No início
do século XIX, percebe-se em quase todas as capitais da federação
a necessidade de estudar planos de desenvolvimento: é típico o
de Nova York (1811), que prevê uma malha uniforme de artérias
longitudinais (avenues) e transversais (streets) sobre toda a península
de Manhattan, muito mais ampla do que exigiam as necessidades da
época (ARGAN, 1992, p. 195).

A cidade de Chicago, em suas primeiras décadas, foi construída


em madeira, cujo material foi utilizado com uma técnica particular,
que recebeu o nome de baloon frame (Figura 3.24). Este sistema
construtivo consistia em um tipo de estrutura de madeira, que
conectava peças de madeira com pequenas seções e cortadas em
ângulos retos. As distâncias entre os componentes da estrutura
eram modulares, para facilitar o corte das peças e suas conexões
eram feitas de maneira simples, unidas por pregos.

180 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.24 | Sistema estrutural em madeira Ballon Frame

Fonte: Benevolo (2014, p. 235).

Em 1871, Chicago sofreu um grande incêndio, em que a cidade,


construída em madeira, foi quase toda destruída. Embora no início
a reconstrução não tenha sido considerada, entre os anos de 1880
e 1900, a cidade sofreu uma modificação completa, onde, no lugar
de uma antiga aldeia surgiu um moderno centro de negócios dos
Estados Unidos. A reformulação urbana contou com a construção
de edifícios para escritórios, hotéis, lojas, magazines, em que as
novas tecnologias construtivas são utilizadas.

Segundo Argan (1992), a arquitetura americana do século XIX


era baseada nos modelos europeus. No entanto, os arquitetos
americanos, atraídos pela oportunidade da reconstrução de
uma cidade, criaram novas soluções técnicas e novos sistemas

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 181


estruturais, como os edifícios de Le Baron Jenney que utilizam o
sistema estrutural metálico, o edifício Home Insurance Company
Building (Figura 3.25) é considerado o primeiro arranha-céu.
Figura 3.25 | Edifício Home Insurance Company Building

Fonte: <https://cdn.britannica.com/64/10664-004-A698BB7E.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2017.

Le Baron Jenney é um engenheiro formado em Paris, que


criou um sistema estrutural em esqueleto de aço, permitindo
que os edifícios pudessem ser mais altos, sem que os pilares dos
andares inferiores ficassem sobrecarregados, como as estruturas
em alvenaria ou pedras. Também abriu vidraças nas paredes,
praticamente contínuas, para melhorar a iluminação interna de suas
edificações. Além disso, o engenheiro criou um sistema estrutural,
a fim de evitar novos incêndios, em que os pilares externos eram
construídos em alvenaria e a estrutura interna era formada por uma
estrutura metálica.

182 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Aos poucos, Jenney criou uma solução que era capaz de suportar
as cargas dos andares e também resistir a incêndios, evitando as
espessas paredes e estrutura de alvenaria das fachadas (Figura 3.26).
Este sistema consistia em uma estrutura metálica de aço, revestida
por gesso, concreto e materiais à prova de fogo, como a argila.
Figura 3.26 | Detalhe construtivo do Edifício Fair Building (1891)

Fonte: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/fair-bd-det-a.jpg>. Acesso


em: 30 out. 2018.

Reflita
A construção em estrutura metálica é produzida desde o início do século
XIX nos Estados Unidos. Muitas soluções foram encontradas, inclusive
com relação à resistência dos esforços e à resistência a incêndios. Além
disso, é possível observar que a estrutura metálica promove um melhor
aproveitamento do espaço da edificação, pois ocupa um espaço muito
menor do que em outros sistemas construtivos. Tendo isso em vista,
reflita sobre a arquitetura que hoje é produzida no Brasil. A estrutura

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 183


metálica foi desenvolvida há tanto tempo e, no entanto, continua-se
construindo edificações de concreto em nosso país. Por que você
acha que isso acontece? Tem alguma relação com os materiais e a
mão de obra? Reflita!

Além de Jenney, vários outros profissionais produziram os altos


edifícios de Chicago. Este coletivo que participou da reconstrução
da cidade é denominado de Escola de Chicago, indicando, segundo
Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 444) “a presença de posturas de
projeto e técnicas de construção comuns”. Ainda de acordo com os
autores, as estruturas inovadoras nem sempre representavam novos
materiais em suas fachadas, como os metais, os quais, a maioria era
revestida em alvenaria, parecendo que este era o material estrutural
da edificação.

Em 1893, a cidade de Chicago recebeu a Exposição Colombiana


(Figura 3.27), cujo arquiteto Daniel Burnham era encarregado por
projetar a exposição. No entanto, sua construção foi baseada em
um movimento que se apresentou como oposto à arquitetura
que se vinha produzindo até então. Segundo Simões Júnior
(2012), “o movimento estava fundamentado em duas premissas
básicas para a intervenção urbana: primeiro, a devoção ao estilo
clássico-renascentista, aplicado nos edifícios emblemáticos da
cidade e, segundo, à adoção de um urbanismo valorizando a
monumentalidade”.

184 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.27 | Vista aérea da Exposição Colombiana, retratada em um cartão post

Fonte: Simões Júnior (2012). <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitex-


tos/12.144/4340>. Acesso em: 10 fev. 2017.

O arquiteto Louis Sullivan (1856-1924), cuja produção não estava


somente em projetar e construir edificações, mas também em
dedicar-se à pesquisa e seus escritos teóricos, buscando aprofundar-
se em técnicas modernas e inovadoras, na construção do edifício
Auditorium (Figura 3.28), Sullivan “enfrenta decididamente o tema
do arranha-céu como protagonista da cidade dos negócios. Até
então, o arranha-céu era, na prática, uma sobreposição de andares,
um edifício comum com sua altura multiplicada dez ou vinte vezes,
com a consequente ruptura de todas as relações proporcionais”
(ARGAN, 1992, p. 197).

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 185


Figura 3.28 | Auditoruim (1887)

Fonte: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/auditorium1.jpg>. Acesso


em: 13 jan. 2017.

De acordo com Argan (1992), Sullivan desloca a sustentação


estrutural, até então promovida pelas paredes externas, para as
estruturas internas (Figura 3.29). Dessa forma, as fachadas deixam
de receber a carga estrutural, possibilitando a grande quantidade de
aberturas e janelas. “O edifício se torna um organismo unitário, uma
figura urbana, sem romper a visível continuidade do espaço em que
se insere” (ARGAN, 1992, p.197).

186 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.29 | Planta Auditorium

Fonte: <http://jvillavisencio.blogspot.com.br/2010/10/escola-de-chicago-entre-o-lado-for-
mal-e.html>. Acesso em: 13 jan. 2017.

Exemplificando
No Edifício Carson Pirie (Figura 3.30), construído por Sullivan, é possível
identificar a liberação de cargas da estrutura autoportante das paredes,
cuja distribuição interna é feita pela estrutura de metal.

Figura 3.30 | Edifício Carson Pirie (1903-1904)

Fonte: <https://ka-perseus-images.s3.amazonaws.com/3e0a57269b01177eaf824068b46
7cde176c229af.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 187


Os pilares soltos e independentes demonstram a evolução construtiva
da arquitetura (Figura 3.31).
Figura 3.31 | Planta da edificação Carson Pirie (1903-1904)

Fonte: <https://i.pinimg.com/originals/56/fd/73/56fd731664d2ec814c8afe4a2bb055d3.
jpg>. Acesso em: 30 out. 2018.

Sullivan é bastante explícito em seus projetos, no qual, de acordo


com Argan (1992, p. 197), “nos centros urbanos americanos, onde
tudo é movimento de pessoas empenhadas em fazer funcionar a
gigantesca máquina dos negócios, os espaços internos são também
espaços da cidade”.

Os edifícios que Sullivan projeta, assim como a sua postura crítica


com relação à construção da cidade de Chicago, não interrompem
o movimento da cidade que cresce, no qual a arquitetura não
fecha e nem segrega o espaço externo do interno, pelo contrário,
intensifica o movimento e a vida das pessoas (ARGAN, 1992). Na
junção da arquitetura com o urbanismo, a integração do interno e
externo fica clara nas propostas de Sullivan. O paisagismo passa a
ter importância nesta integração e Chicago torna-se uma referência
do paisagismo urbano. Dessa forma, a “arquitetura de Sullivan não é
só concebida como função urbanista, como também é o produto
de planejamento urbano” (ARGAN, 1992, p. 197).

188 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Sem medo de errar
O estilo neogótico surgiu na primeira metade do século XIX,
com a frequente restauração de edificações medievais. Este
estilo não buscava se contrapor ao estilo neoclássico, também
bastante difundido nesta época, no entanto, após duras críticas
da Academia Francesa, que lançou um manifesto condenando a
imitação dos estilos medievais, os arquitetos neogóticos tomaram
uma postura diferente.

Os principais nomes deste movimento são Augustus W.


Pugin e Viollet le Duc. Embora os dois fizessem parte do mesmo
movimento, o estilo neogótico foi difundido de diferentes maneiras
pelos dois. Para entender melhor, traçaremos um comparativo
entre estes dois arquitetos:

Pugin Viollet le Duc

• Criticava duramente a cidade • Não possuía uma visão romântica


industrial, pois, para ele, a cidade do estilo neogótico, mas sim uma
medieval é que possuía beleza e visão técnica sobre os modelos
acolhimento de seus cidadãos. construtivos medievais.
• Criticava o modelo neoclássico

Comparava edifícios medievais por acreditar que este estilo se
a edifícios modernos, e entendia distanciava muito do que eles
que suas instalações eram procuravam imitar, pois a realidade,
desmesuradas. sociedade, clima e materiais eram
outros em outras épocas.

Acreditava que a arquitetura
• Se interessava pela racionalidade
medieval possuía uma harmonia
da estrutura medieval, como as
urbana, contrastando com a
abóbodas e os arcos ogivais.
cidade moderna.
• Não negava os materiais da época,
• Visualizava a cidade moderna tampouco a Revolução Industrial.
como uma triste realidade Acreditava que a estrutura das
de prisões, fábricas e igrejas edificações poderia ser construída
escondidas. com novos materiais, mas com
soluções técnicas medievais.
• Propunha que o ferro, material

Defendia a utilização dos
muito utilizado na Revolução
elementos da arquitetura gótica
Industrial, pudesse ser utilizado
em toda e qualquer nova
segundo suas características
construção, incluindo prédios
peculiares, e não como um
modernos que estavam sendo
substituto dos materiais mais
construídos.
tradicionais.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 189


A partir deste entendimento e diferenciação, é possível
orientar os desenvolvedores dos jogos, definindo as principais
características do estilo. Para isso, é possível identificá-las em uma
edificação bastante conhecida, que foi reconstruída no século XIX
em estilo neogótico.

O Parlamento do Reino Unido, após sua destruição por um


incêndio, foi reconstruído por Pugin e o arquiteto Charles Barry.
Pugin detalhou o interior e o exterior da edificação, aplicando
modelos e conceitos medievais, demonstrando o caráter neogótico
de sua produção.
Figura 3.32 | Parlamento do Reino Unido

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/casas-do-parlamento-gm91699542-6714443>.
Acesso em: 10 fev. 2017.

Esta edificação é uma das mais representativas na Inglaterra


e pode ser facilmente identificada no jogo proposto. Para isso,
é preciso modelar sua estrutura de acordo com os modelos
neogóticos, definidos no contexto desta seção.

190 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Avançando na prática
Cidade de Chicago

Descrição da situação-problema

Você é estudante de arquitetura e decidiu realizar um estágio de


férias nos Estados Unidos, para aprender um pouco mais sobre sua
arquitetura e aproveitar para realizar um curso de inglês. Assim, você
se inscreveu em uma agência de viagens que te indicou um curso
de arquitetura e inglês, com duração de três semanas, na cidade
de Chicago. Você viajou aos Estados Unidos e realizou o curso, o
qual foi bastante proveitoso para sua formação como profissional.
Ao final, para que pudesse receber uma certificação, seria preciso
que você apresentasse um trabalho sobre a arquitetura de Chicago
e seu processo de construção e reconstrução. Dessa forma, quais
são os principais elementos arquitetônicos desenvolvidos para a
construção desta cidade? Quem é o arquiteto mais famoso e quais
são suas principais obras? Vamos lá?

Resolução da situação-problema

Depois de um grande incêndio (1871) que devastou a cidade de


Chicago, sua reconstrução se deu por meio de novos profissionais e
novas técnicas. A cidade, que até então era construída em madeira,
com o sistema construtivo Ballon Flame passou a erguer-se com
edificações construídas em metal.

Neste sentido, a reformulação da cidade contou com a con-


strução de um novo centro urbano, com escritórios, hotéis, lo-
jas e magazines, que foram projetados e construídos com novas
tecnologias.

A utilização do sistema em estrutura metálica modificou com-


pletamente a forma de construir da cidade. Em busca de um estilo
próprio, os americanos criaram novas metodologias projetuais, com
sistemas de pilares e vigas metálicas, possibilitando que a altura dos
edifícios pudesse aumentar. Com sua altura maior, as edificações
passaram a ser consideradas arranha-céus, e cada vez mais sua es-

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 191


trutura se tornava mais independente das fachadas e grandes pare-
des autoportantes.

O engenheiro Le Baron Jenney criou uma solução estrutural,


com alguns materiais, que era capaz de suportar as cargas da ed-
ificação e também resistir a incêndios. Este sistema construtivo foi
utilizado no Edifício Fair Building (1891), os materiais eram:

- Pilares e vigas metálicas.

- Concreto nas lajes.

- Forro de gesso.

- Piso de madeira dura.

- Revestimento dos metais em uma espécie de argila.

Figura 3.33 | Detalhe construtivo do Edifício Fair Building (1891)

Fonte: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/fair-bd-det-a.jpg>. Acesso


em: 30 out. 2018.

192 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Um dos arquitetos mais conhecidos desta época é Louis Sullivan.
Sua produção não era somente em projetar e construir edifícios,
mas também de dedicar-se a pesquisa e a escrever livros com suas
soluções projetuais. Sua obra mais conhecida é o Edifício Auditorium
(1887), no qual desloca a estrutura, que antes era sustentada nas
paredes externas, para a estrutura interna da edificação, construída
em um sistema estrutural metálico.

Figura 3.34 | Planta Auditorium

Fonte: <http://jvillavisencio.blogspot.com.br/2010/10/escola-de-chicago-entre-o-lado-for-
mal-e.html>. Acesso em: 13 jan. 2017.

Faça valer a pena


1. O estilo neogótico surge em um momento em que as cidades estão
passando por transformações, devido aos problemas de organização
gerados pela Revolução Industrial. A arquitetura da época parece ser
impossível de ser conservada no ideal neoclássico, possibilitando, dessa
forma, que os arquitetos recorram a estilos passados, referenciando suas
características e buscando soluções não convencionais para os problemas
de sua época. Neste sentido, é possível afirmar:
I. A ideia de conservação de monumentos e edificações promoveu a
introdução do estilo neogótico nos projetos arquitetônicos.
II. A arquitetura neogótica surgiu unicamente a partir de um manifesto
contra a arquitetura neoclássica.
III. Os edifícios neogóticos diferem dos góticos mais que os edifícios
neoclássicos diferem dos clássicos; as irregularidades são corrigidas, as
recorrências aproximativas tornam-se rigorosas.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 193


IV. Para os arquitetos, a arquitetura neoclássica era um produto de
imitação e se distanciava da realidade da época, pois as edificações eram
construídas para outros climas, com outros materiais.

Assinale a alternativa que corresponda as afirmações acima:


a) Somente a afirmativa II está correta.
b) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) As afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
d) As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
e) As afirmativas I, II e IV são verdadeiras.

2. Dois arquitetos foram os grandes nomes da arquitetura neogótica:


Augustus W. Pugin e Viollet le Duc. Suas obras foram inspiradas nos
preceitos medievais, mas cada um deles possuía uma postura diante do
estilo neogótico.
I. ___________ acusa a indústria, no período da Revolução Industrial,
de ter contaminado tanto a paisagem urbana, com suas instalações
desmesuradas, quanto o ambiente doméstico, com seus produtos vulgares.
II. ___________ sua postura sustentou a direção neogótica de sua
produção, mas o arquiteto elimina o romantismo ou sentimentalismo
do estilo; para ele, os elementos góticos não eram nada confusos ou
misteriosos, ao contrário, deveriam ser apreciados justamente pela clareza
de seus sistemas construtivos.
III. ___________ criticava a cidade industrial que estava se formando, e
defendia a cidade medieval, pois a considerava um ambiente tranquilo
e visualmente agradável. Detalhava, dessa forma, as crueldades de sua
época, refletindo sobre os interesses dos capitalistas e a degradação da
cidade e da sociedade do início do século XIX.
IV. ___________ sonhava com uma arquitetura moderna baseada nas
conquistas da engenharia, mas que exibisse a integridade de forma e
detalhe presente nas obras da Idade Média.

Assinale a alternativa que preencha corretamente as lacunas, cujas


alternativas demonstrem o pensamento de Pugin ou Viollet le Duc:
a) I. Pugin; II. Pugin; III. Viollet le Duc; IV. Pugin.
b) I. Viollet le Duc; II. Viollet le Duc; III. Viollet le Duc; IV. Pugin.
c) I. Pugin; II. Viollet le Duc; III. Viollet le Duc; IV. Pugin.
d) I. Pugin; II. Viollet le Duc; III. Pugin; IV. Viollet le Duc.
e) I. Viollet le Duc; II. Pugin; III. Viollet le Duc; IV. Pugin.

3. Em 1871, Chicago sofre um grande incêndio, no qual a cidade, construída


em madeira, foi quase toda destruída. Embora no início a reconstrução não

194 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


tenha sido considerada, entre os anos de 1880 e 1900 a cidade sofreu uma
modificação completa, no lugar de uma antiga aldeia surgiu um moderno
centro de negócios dos Estados Unidos. A reformulação urbana contou
com a construção de edifícios para escritórios, hotéis, lojas, magazines,
em que as novas tecnologias construtivas são utilizadas.
( ) O engenheiro Jenney criou uma solução estrutural que era capaz
de suportar as cargas dos andares e também resistir a incêndios, evitando
as espessas paredes e estrutura de alvenaria das fachadas. Este sistema
consistia em uma estrutura metálica de aço, revestida por gesso, concreto
e materiais à prova de fogo, como a argila.
( ) Em 1893, a cidade de Chicago recebeu a Exposição Colombiana,
cujo arquiteto Sullivan foi encarregado por projetar a exposição. Esta
construção foi fundamentada em duas premissas básicas para a intervenção
urbana: primeiro, a devoção ao estilo clássico-renascentista, aplicado nos
edifícios emblemáticos da cidade e, segundo, à adoção de um urbanismo
valorizando a monumentalidade.
( ) Os edifícios que Sullivan projeta, assim como a sua postura
crítica com relação à construção da cidade de Chicago, não interrompem
o movimento da cidade que cresce, no qual a arquitetura não fecha e
nem segrega o espaço externo do interno, pelo contrário, intensifica o
movimento e a vida das pessoas.
( ) A cidade de Chicago, em suas primeiras décadas, foi construída
em madeira, cujo material foi utilizado com uma técnica particular, que
recebeu o nome de baloon frame. Este sistema construtivo consistia em
um tipo de estrutura de madeira, que conectava peças de madeira por
meio de encaixes complicados, sem a utilização de pregos.

Assinale V para verdadeiro e F para falso, conforme o texto acima:


a) F, F, V, V.
b) F, V, V, F.
c) V, V, V, V.
d) V, V, F, F.
e) V, F, V, F.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 195


Seção 3.3
Revolução Industrial. Arquitetura do ferro.
Exposições universais
Diálogo aberto
Prezado aluno, nesta seção veremos como a Revolução Industrial
influenciou na concepção de novas edificações e os materiais
construtivos. É importante conhecer este período da história, pois
podemos perceber que até os dias de hoje temos transformações
e grandes mudanças no que diz respeito à arquitetura. Para
adentrarmos neste assunto, vamos relembrar a situação-problema
na qual você está inserido. Você foi convidado para realizar uma
consultoria no desenvolvimento de um jogo, cujo personagem
percorrerá cenários urbanos e edificações do século XIX. Neste
momento você chegou ao final de seu trabalho, na terceira fase do
projeto, que consiste em orientar e fornecer informações sobre a
arquitetura da Revolução Industrial. Este período foi marcado por
modificações significativas na arquitetura, engenharia e construção
das cidades, no qual foram elaboradas novas técnicas projetuais,
construtivas e a utilização de novos materiais. Dessa forma, você
deverá sugerir ao desenvolvedor do jogo um dos cenários mais
conhecidos que representem a era do ferro e sua aplicação
arquitetônica.

Para isso, você deverá aprender os seguintes conteúdos:

• A arquitetura na Revolução Industrial.

• A aplicação de novos materiais.

• A importância das exposições universais.

• Edifícios que marcaram esta época.

Tendo em vista o conteúdo abordado, você deverá descrever o


sistema construtivo na França e sua aplicação na Exposição Universal
de 1889. Assim, quais são os edifícios mais significativos deste

196 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


evento? Quais foram as técnicas e os novos materiais utilizados?
Para isso, você deverá conhecer a motivação das modificações
arquitetônicas na Revolução Industrial, as Exposições Universais e
suas edificações.

E então, vamos lá?

Não pode faltar

As construções do século XVIII denominavam algumas aplicações


técnicas, como os edifícios, as estradas, as pontes e as obras,
fossem elas urbanas ou particulares. Segundo Benevolo (2014), a
palavra “construção” compreendia praticamente os manufaturados
que possuíssem grandes dimensões, e que não fossem de aspecto
preponderantemente mecânico.

Com a Revolução Industrial, estas designações das construções


passaram por um progresso técnico que transformou a essência
das atividades que eram ligadas a sistemas tradicionais e
habituais, para produções que caíram cada vez mais nas mãos
dos profissionais especialistas.

Segundo Benevolo (2014), a continuidade das construções com


sistemas tradicionais não excluiu as transformações que foram
ocasionadas no período da Revolução, tampouco os problemas
encontrados no âmbito das construções. Para o autor, existem três
mudanças principais que ocorreram neste período, sendo elas:

- A Revolução Industrial modifica a técnica das construções.

Para Benevolo (2014), os materiais que eram tradicionais, como


a pedra, os tijolos, as telhas e a madeira, passam a ser utilizados de
maneira racional e menos artística. Junto a isso, novos materiais
são empregados, como o ferro, o vidro e, posteriormente, o
concreto. Assim, quando a forma e a plasticidade do edifício
são modificadas, é preciso desenvolver novas tecnologias que
atendam a essas necessidades.

Os progressos da ciência acabaram por permitir que os materiais


construtivos pudessem ser empregados de maneira mais conveniente
e sua resistência também passou a ser medida. Assim, os materiais

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 197


passaram a ser utilizados em quantidade suficiente para resistirem
determinadas cargas. Além disso, segundo o autor, o aparelhamento
dos canteiros e maquinários construtivos, desenvolvimento da
geometria e sua melhor representação projetual, a instituição de
escolas especializadas em construção e as reproduções gráficas
dos projetos, permitiram um avanço significativo na construção das
edificações e equipamentos da cidade. Este movimento forneceu
à sociedade um grande número de profissionais treinados e
especializados na construção civil.

- Construção de vias de transporte.

Na Revolução Industrial são construídos caminhos que


possibilitem a chegada de materiais. Para isso, as estradas passam
a ser mais amplas, canais mais largos e profundos, e o rápido
desenvolvimento e crescimento das vias de transporte por água
e por terra. Benevolo (2014) afirma que, sem estas condições,
não seria possível um novo aparelhamento das cidades, que
precisavam de novas instalações (fábricas, lojas, depósitos e
portos), que permitissem o desenvolvimento rápido da cidade e
a economia industrial.

- Construção de edificações para investimento.

Neste momento, as edificações construídas passam a ser atrativos


do giro da economia capitalista, pois adquirem um significado de
investimento, assim como outros meios de produção.

Além disso, os progressos da representação técnica dos projetos


e da geometria descritiva (Figura 3.35), permitiram “dar forma
satisfatória aos projetos, que antes, deparavam-se com dificuldades
intransponíveis de representação, e deviam praticamente ser
definidos no local da execução” (BENEVOLO, 2014, p. 39).

198 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.35 | Encaixes e sustentação da estrutura em ferro

Fonte: <http://risorseelettroniche.biblio.polimi.it/rondelet/cd/tavole/T_III_II/22_CLII.pdf>.
Acesso em: 20 jan. 2017.

Exemplificando
Na Revolução Industrial, o desenvolvimento de novas estradas e
construções de ferrovias requeria um grande número de novas
pontes, que eram trabalhosas e demasiadamente difíceis de construir,
pois algumas precisavam possuir vãos maiores do que os materiais
tradicionais poderiam suportar. De acordo com Benevolo (2014),
esta dificuldade estimulou o progresso dos métodos tradicionais,
sejam eles no âmbito da representação gráfica, sejam eles no âmbito
da construção e utilização dos materiais (Figura 3.36). Neste caso, a
construção em madeira e pedra já não era suficiente solicitando, assim,
o emprego de novos materiais, como o ferro.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 199


Figura 3.36 | Detalhamento da ponte Wearmouth Bridge (Inglaterra 1796)

Fonte: <http://risorseelettroniche.biblio.polimi.it/rondelet/cd/tavole/T_III_II/28_CLVIII.pdf>.
Acesso em: 20 jan. 2017.

As novas técnicas e conhecimentos científicos permitiram


que os materiais pudessem ser aproveitados até o limite de suas
possibilidades, e essa experiência foi empregada de maneira
frutífera no desenvolvimento de novas tecnologias construtivas
(BENEVOLO, 2014).

Os novos materiais, como o ferro e o vidro, já haviam sido


utilizados anteriormente, mas no período da Revolução Industrial
eles adquiriram um caráter estrutural nas edificações, suas aplicações
foram ampliadas em conceitos completamente novos. Inicialmente
o ferro foi utilizado para tarefas acessórias, mas posteriormente foi
adotado em coberturas com características de pouco carregamento
estrutural. No entanto, seu desenvolvimento na indústria siderúrgica
promoveu o aumento da produção, permitindo que o limite das
construções pudesse ser superado.

Já a indústria do vidro fez inúmeros progressos técnicos


na segunda metade do século XVIII, onde, em 1806, a indústria
foi capaz de produzir lâminas de vidro antes não imaginadas
(BENEVOLO, 2014).

200 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Para Benevolo (2014), os materiais tradicionais, como os
produtos de olaria e madeiramento, passaram a ser produzidos
industrialmente, com qualidade superior. Além disso, seu transporte,
por meio dos novos canais, permitiu que estes materiais pudessem
alcançar qualquer parte, possuindo um baixo curso, nivelando as
diferenças de custo derivadas do fornecimento irregular.

Neste período, difunde-se a utilização do vidro para janelas e a


ardósia ou telhas cerâmicas, ao invés da palha nos telhados. Além
disso, emprega-se o ferro aonde quer que seja possível, desde a
estrutura de edificações até acessórios e utensílios.

No entanto, há um estudo sobre as técnicas construtivas e a


substituição dos materiais antigos pelos novos. A madeira, por
exemplo, pode ser substituída pelo ferro, para a estruturação de
um edifício, porém, o ferro na mesma dimensão e com sua seção
quadrada ou retangular não é adequada. Isto porque a seção de
uma estrutura projetada para ser em madeira pesa muito mais do
que quando construída em ferro, não compensando, dessa forma,
a maior rigidez.

Assim, junto ao processo da utilização de novos materiais, as


novas técnicas são importantes para que a experiência construtiva
seja satisfatória com relação a seu custo, tempo de construção
e estética.

No século XIX, a tentativa da utilização do ferro nas estruturas


dos pavimentos das edificações foi retomada. Para solucionar o
peso e o desperdício de material das seções quadradas de madeira,
a indústria passou a fabricar em larga escala os perfis metálicos
estruturais. Segundo Benevolo (2014, p. 60) “a partir desse momento
em diante, os pavimentos de ferro substituem pouco a pouco os
antigos assoalhos de madeira”.

O custo dos materiais também influenciou no processo


construtivo das cidades. Com as perturbações da Guerra Napoleônica
os materiais que estavam reservados para a construção de edifícios
nobres agora poderiam ser utilizados em grande escala, pela classe
popular. Assim, as casas da cidade industrial, por exemplo, tornam-
se mais salubres e higiênicas que as dos períodos antecessores
aumentando, assim, a expectativa de vida da população.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 201


A arquitetura de ferro e vidro logo chegou a França, onde Henri
Labrouste (1802-1875) revelou-se como um nome relevante. O
arquiteto foi responsável pela construção da Biblioteca Sainte
Geneviève (Figura 3.37), em Paris. O projeto consistia em construir
um espaço para acomodar um dos acervos que mais crescia na
época. A fachada no estilo neoclássico disfarçava o amplo uso do
ferro em sua estrutura, mas era possível observar, em seu interior, os
arcos leves e as colunas robustas em ferro fundido.
Figura 3.37 | Biblioteca Sainte Geneviève (1842-1850)

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/Salle_de_lecture_Biblio-
theque_Sainte-Genevieve_n02.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018.

Assimile
Na Revolução Industrial, diversos fatores foram decisivos para que a
arquitetura e a engenharia pudessem obter tamanha evolução, tanto
em técnicas construtivas, quanto na utilização de materiais. É possível
citar as principais mudanças:

• Descoberta de novas técnicas e evolução dos materiais construtivos,


principalmente o ferro e o vidro.

• Possibilidade de os materiais serem transportados com mais


facilidade, devido à construção de canais, vias e ferrovias.

202 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


• Melhor representação gráfica e evolução da geometria descritiva,
que permitia um detalhamento mais completo do projeto.

• Evolução de técnicas construtivas e fabricação de peças pré-


moldadas e padronizadas.

Labrouste criou um grande salão de estudos, o salão era


composto de nove cúpulas estruturadas por pilares de ferro, apesar
das paredes de alvenaria no exterior.

Com o progresso da engenharia, técnicas construtivas e novos


materiais, na segunda metade do século XIX surgem as Exposições
Universais, com o objetivo de expor as evoluções industriais que
os países do mundo promoviam. Para Benevolo (2014, p. 129), “as
exposições de produtos industriais dizem respeito à relação direta
que se estabelece entre produtores, comerciantes e consumidores”.

Inicialmente, as exposições com o motivo de apresentação de


produtos industriais eram realizadas em âmbito nacional. Entretanto,
com a quebra das barreiras alfandegárias e as novas possibilidades
do mercado internacional, as exposições passam a ocorrer de modo
que todos os países pudessem participar.

Assim, a primeira Exposição Universal foi aberta em Londres,


no ano de 1851, no qual instituiu-se um concurso internacional
para a construção do edifício que seria a sede da exposição.
O primeiro prêmio foi vencido por um arquiteto cujo projeto
acabou por não ser considerado exequível, pois não se
adequava ao prazo e ao orçamento da obra. Dessa forma, o
comitê organizador convidou empresas a apresentarem ofertas
de projetos e construção do edifício.

Apareceu então, Joseph Paxton (1801-1865), que se destacava


por explorar as possibilidades de uso de novos materiais. Paxton
era paisagista, mas se dedicou a construir estufas. As edificações
precisavam reproduzir o clima tropical para criação de algumas
espécies de plantas, entre elas algumas de grande porte, como
coqueiros e bananeiras, usando principalmente ferro e vidro.

Assim, Paxton propôs, para a Exposição Universal de Londres,


uma grande estrutura de ferro e vidro que seria realizada com
U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 203
metade do orçamento previsto e em tempo hábil (Figura
3.38). Este projeto caracterizou-se pelo uso da fabricação
em larga escala e a quantidade reduzida de peças modulares
facilitou a relação e a produção com os fornecedores. Os
módulos chegavam ao canteiro de obras pré-montados e
eram rapidamente incorporados à construção. Este processo
concebeu uma velocidade recorde à obra.

Figura 3.38 | Esboço original do Palácio de Cristal

Fonte: Benevolo (2014, p. 133).

Segundo Benevolo (2014) a economia no projeto se deu por


diversas soluções construtivas, sendo elas:

- Pré-fabricação completa da estrutura.

- Rapidez na montagem.

- Possibilidade de recuperação integral da estrutura e dos


materiais.

204 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


- Experiência técnica adquirida por Paxton na construção de suas
estufas.

Em outro momento, Benevolo (2014) também aponta para a


solução projetual que evitava a condensação de água nos vidros da
cobertura e fachadas. “O problema da condensação dos vidros foi
resolvido decompondo-se todo o telhado em superfícies inclinadas,
de maneira a evitar as goteiras, e levando a água por uma canaleta
na travessa inferior de cada caixilho” (BENEVOLO, 2014, p. 132).

Assim, a primeira Exposição Universal ficou conhecida com a


construção do Palácio de Cristal (Figura 3.39), visitada por cerca
de um quarto da população inglesa. A repercussão positiva por
parte da mídia foi um ponto chave na divulgação e conceituação
da combinação ferro e vidro em grandes obras. Após o término da
Feira, a construção foi desmontada e remontada nos arredores de
Londres, até que em 1936 foi destruída por um incêndio.
Figura 3.39 | Interior do Palácio de Cristal (litografia Louis Haghe- 1851)

Fonte: <http://images.adsttc.com/media/images/51d4/7aec/b3fc/4bea/e100/01ba/large_jpg/
Crystal_Palace_-_Queen_Victoria_opens_the_Great_Exhibition.jpg?1372879594>. Acesso em:
30 out. 2018.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 205


De acordo com Benevolo (2014, p. 132):

“A importância do Palácio de Cristal não se encontra


na solução de importantes problemas de estética, nem
na novidade dos procedimentos de pré-fabricação e
tampouco nas previsões técnicas, mas sim no novo
relacionamento que se estabelece entre os meios técnicos
e os fins representativos e expressivos do edifício”.

Figura 3.40 | Fachada do Palácio de Cristal

Fonte: <https://www.architecture.com/Explore/Buildings/CrystalPalace.aspx>. Acesso em: 20


jan. 2017.

O sucesso do Palácio de Cristal foi enorme e a Exposição


Universal passou a acontecer em diferentes países. Segundo
Benevolo (2014), a técnica utilizada para a construção da Exposição
Universal de Londres declarou, de forma franca, a aceitação dos
produtos fabricados em série e suas rígidas limitações econômicas,
dificuldades que desempenharam um papel fundamental no
processo projetual e no resultado arquitetônico.

Pesquise mais
Na leitura sugerida você poderá conhecer um pouco mais sobre as
motivações e as consequências das Exposições Universais sobre
um viés socioeconômico. Esta visão é importante para que você
obtenha uma leitura interdisciplinar sobre um movimento mundial
demasiadamente importante. Boa leitura!

SANTOS, Paulo César dos. Um olhar sobre as Exposições Universais. In:


SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 27., 2013, Natal, RN. Anais... Natal:

206 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Anpuh, 2013. p. 1 - 15. Disponível em: <http://www.snh2013.anpuh.
org/resources/anais/27/1362520918_ARQUIVO_CesarANPUH1.pdf>.
Acesso em: 30 out. 2018.

Após a primeira exposição, outras passaram a ocorrer no mundo,


sendo a segunda em Nova York (1853) e a terceira na França, cujo
projeto foi desenvolvido também em ferro e vidro. No entanto, a
indústria francesa não dispunha de material, mão de obra e técnicas
no desenvolvimento deste material. Dessa forma, a edificação foi
construída com paredes e revestimento em alvenaria, limitando o
ferro somente à cobertura.

As Exposições Universais possuíam, além da apresentação das


técnicas construtivas, um caráter político e comercial, o local era
escolhido por conta de suas influências em cada época, sendo alguns
deles, Londres, Porto, Filadélfia, Paris, Viena, Sidney, Melbourne,
Amsterdã, Antuérpia, New Orleans, Barcelona, Copenhague e
Bruxelas (1853-1888).

Após este período, a Exposição Universal que ocorreu na


França, no ano de 1889, foi marcada pela inovação construtiva
de suas edificações, sendo elas: Palácio com Planta em U, Galerie
des Machines (Figura 3.41) e uma torre de 300 metros, construída
por Eiffel.

A grande galeria é tão extensa que os espectadores não são


capazes de percorrê-la como simples pedestres. Dessa forma,
são construídas pontes móveis que percorrem o comprimento de
todo o espaço projetado, onde os visitantes podem observar os
maquinários de cima. Seu sistema construtivo possui estruturas em
ferro, fechadas com vidros. Devido ao grande vão, os esforços são
transportados, por meio das estruturas em arco, diretamente para o
solo (Figura 3.42).

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 207


Figura 3.41 | Estrutura metálica da Galerie des Machines

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vue_d%27ensemble_de_la_Galerie_des_ma-
chines,_Exposition_1889.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018.

208 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.42 | Planta e detalhe construtivo da Galerie des Machines

Fonte: <http://vrc-cbe-uw.blogspot.com.br/2008_06_01_archive.html>. Acesso em: 20 jan.


2017.

Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), outro monumento


importante, construído nesta exposição, foi a grande Torre Eiffel
(Figura 3.43), cujo nome corresponde ao engenheiro que a
construiu, Gustave Eiffel. O engenheiro tinha experiência com a
construção de várias pontes no sul da França, mas se consagrou
com a construção da Torre às margens do rio Sena. Sua realização,

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 209


segundo os autores, se deu por meio de uma estrutura metálica,
cujas peças foram detalhadamente projetadas para que fossem
encaixadas (Figura 3.44), permitindo a montagem e a desmontagem
quando a Exposição chegasse ao fim.
Figura 3.43 | Detalhe construtivo da Torre Eiffel

Fonte: <http://www.johnchiappone.com/hum_chapter3.html>. Acesso em: 30 out. 2018.

O monumento possui 307,8 metros de altura e foi durante


alguns anos a construção mais alta do mundo. Atualmente, ela
ainda mantém o posto de construção de ferro mais alta do mundo,
pois o aço logo substituiu o ferro como estrutura.

210 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.44 | Construção da Torre Eiffel

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_Eiffel#/media/File:Construction_tour_eiffel2.JPG>.
Acesso em: 30 out. 2018.

Apesar da repressão que o projeto sofreu no início por parte da


comunidade artística francesa, a Torre Eiffel foi aos poucos acolhida
pela comunidade e valorizada por sua vista e silhueta (Figura 3.45).
Um dos detalhes projetuais relevantes é o uso pioneiro do elevador
para passageiros, projetado pelo americano Otis.
Figura 3.45 | Torre Eiffel - Paris

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/tour-eiffel-em-paris-gm501236681-
43459992?st=_p_EIFFEL>. Acesso em: 30 out. 2018.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 211


Reflita
Nas outras seções foram abordados estilos arquitetônicos que
possuíam características estéticas muito específicas, como a
arquitetura renascentista, com seu projeto relacionado à arquitetura
e às dimensões do corpo. A arquitetura e a engenharia do século XIX,
na Revolução Industrial, passou a melhorar as técnicas e os processos
construtivos. No entanto, você acredita que destes processos exista um
padrão estético? Qual seria este padrão nos edifícios de ferro e vidro?
Quais são as influências desta arquitetura nas construções atuais?

Sem medo de errar

Na última etapa de sua consultoria para o desenvolvimento do


jogo, você deverá apresentar aos desenvolvedores as características
e os elementos das edificações que correspondem ao período da
Revolução Industrial, entre o século XVIII e XIX.

Antes de mais nada, é importante ressaltar à equipe que modelará


as edificações 3D, que a arquitetura desta época se tornou bastante
peculiar, o estilo estético se deu posteriormente ao desenvolvimento
de técnicas construtivas. Quer dizer, diversos fatores promoveram
as evoluções que permitiram novas construções, mas sua estética
foi projetada de diferentes formas no mundo. Portanto, é mais fácil
entender a evolução construtiva desta época por meio de seus
elementos característicos, como soluções projetuais e materiais, do
que propriamente por uma estética.

Dentre as diversas edificações que foram construídas, algumas


delas são mais conhecidas e poderiam ser melhor lembradas em
um jogo digital. É o caso das edificações na cidade de Paris, cuja
arquitetura deste movimento foi construída, principalmente, nas
Exposições Universais.

Assim, aconteceu a Exposição Universal de 1889, em Paris, na


qual foram construídos edifícios revolucionários por sua técnica,
materiais e por serem referências construtivas até os dias de hoje.

Neste sentido, serão descritos os edifícios Galerie des Machines


e a Torre Eiffel. Os dois edifícios foram construídos para a Exposição

212 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Universal de Paris, no ano de 1889. A seguir, serão apresentadas as
características de cada um:

Galerie des Machines

Esta edificação inovou por seu método construtivo, no qual


foram construídos arcos em estrutura metálica que, devido ao
grande vão, estas estruturas transportavam os esforços diretamente
ao solo, sem a transição para pilares.
Figura 3.46 | Planta e detalhe construtivo da Galerie des Machines

Fonte: <http://vrc-cbe-uw.blogspot.com/2008_06_01_archive.html>. Acesso em: 30 out.


2018.

Os materiais utilizados foram:

- Ferro (estruturas).

- Vidro (fechamentos da cobertura e fachadas).

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 213


Figura 3.47 | Estrutura metálica da Galerie des Machines

Fonte: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/b7/39/85/b73985037f-
40c2779739607efebf60e8.png>. Acesso em: 20 jan. 2017.

O segundo monumento de grande importância é a Torre Eiffel.


Sua realização se deu por meio de uma estrutura metálica, cujas
peças foram projetadas para serem montadas e desmontadas assim
que a Exposição chegasse ao fim. Este monumento possui 307,80
metros de altura e, durante alguns anos, foi a construção mais alta
do mundo.

214 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 3.48 | Detalhe construtivo da Torre Eiffel

Fonte:<http://www.johnchiappone.com/images/humanities/ch3/eiffel-tower.jpg>. Acesso em:


30 out. 2018.

Sua produção foi realizada em ferro e os perfis metálicos foram


desenhados para encaixarem e serem produzidos em série, de
maneira pré-fabricada.
Figura 3.49 | Torre Eiffel - Paris

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/tour-eiffel-em-paris-gm501236681-
43459992?st=_p_EIFFEL>. Acesso em: 30 out. 2018.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 215


Avançando na prática
Reparando o Palácio de Cristal

Descrição da situação-problema

O diretor do documentário “Revolução Industrial Inglesa” o


contrata para realizar o projeto de parte do cenário, o Palácio
de Cristal de Paxton. No roteiro estão descritas cenas em plano
aberto (vista quase panorâmica) e alguns closes das conversas
de personagens. Seu papel será de reproduzir a estrutura da
edificação, aproximando ao máximo os materiais, as técnicas e
os processos da época. Dessa forma, você precisa enviar para a
produção executiva do filme uma lista de materiais e demandas
para serem orçadas, considerando o breve tempo de execução e
fidelidade às referências da época. Quais são os principais materiais
que foram utilizados na construção do Palácio de Cristal? Quais
características eles precisam apresentar para que sua demanda se
cumpra? Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

Considerando que o Palácio de Cristal foi uma edificação


construída para receber a Primeira Exposição Universal, algumas
decisões projetuais foram tomadas com intuito de reduzir o
tempo de construção, por isso Paxton recorreu essencialmente
aos materiais ferro e vidro. O reduzido número de tipos de peças
propiciou a agilidade no fornecimento em larga escala e a rápida
montagem de módulos e partes assim que as peças chegavam ao
canteiro de obra.

Como materiais principais deverão ser providenciados:

• Módulos de estruturas de ferro (pilares, vigas e perfis metálicos).

• Vidros (para fechamento da cobertura e fachadas).

216 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


Figura 350 | Interior do Palácio de Cristal (litografia Louis Haghe - 1851)

Cobertura e
fechamentos em
vidro

Estrutura metálica

Fonte: <http://images.adsttc.com/media/images/51d4/7aec/b3fc/4bea/e100/01ba/large_jpg/Crystal_Palace_-_
Queen_Victoria_opens_the_Great_Exhibition.jpg?1372879594>. Acesso em: 30 out. 2018.

Características:

• Pré-fabricação das peças.

• Peças modulares para melhor padrão construtivo.

• Encaixes estruturais que possibilitem montagem e desmontagem


rápida.

Outra característica construtiva que Paxton desenvolveu foi a


inclinação dos vidros da cobertura para não haver condensação e
goteiras de água.

Faça valer a pena


1. No período da Revolução Industrial, difunde-se a utilização do vidro
para janelas e a ardósia ou telhas cerâmicas, ao invés da palha nos telhados.
Além disso, emprega-se o ferro aonde quer que seja possível, desde a
estrutura de edificações até acessórios e utensílios.
Neste sentido, é possível afirmar:
I. A madeira pode ser substituída pelo ferro, para a estruturação de um
edifício.
II. O ferro na mesma dimensão e com sua seção quadrada ou retangular
era perfeitamente adequado para substituir a madeira.
III. O custo dos materiais não influenciou no processo construtivo das
cidades.
IV. As casas da cidade industrial tornaram-se mais salubres e higiênicas

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 217


que as dos períodos antecessores, aumentando, assim, a expectativa de
vida da população.

Assinale a alternativa que corresponda as afirmações acima:


a) Todas as afirmativas são verdadeiras.
b) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) As afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
d) As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
e) As afirmativas I e IV são verdadeiras.

2. Com a Revolução Industrial, estas designações das construções passaram


por um progresso técnico que transformaram a essência das atividades que
eram ligadas a sistemas tradicionais e habituais para produções que caíram
cada vez mais nas mãos dos profissionais especialistas. A continuidade das
construções com sistemas tradicionais não excluiu as transformações que
foram ocasionadas no período da Revolução, tampouco os problemas
encontrados no âmbito das construções. Neste sentido, existem algumas
mudanças principais que ocorreram neste período, sendo elas:
( ) A Revolução Industrial modificou a técnica das construções. Os
materiais que eram tradicionais, como a pedra, os tijolos, as telhas e a
madeira, passaram a ser utilizados de maneira racional e menos artística.
Junto a isso, novos materiais foram empregados, como o ferro, o vidro e,
posteriormente, o concreto.
( ) A construção de vias de transporte. Na Revolução Industrial eram
construídos caminhos que possibilitassem a chegada de materiais. Para
isso, as estradas passaram a ser mais amplas, canais mais largos e profundos,
e o rápido desenvolvimento e crescimento das vias de transporte por água
e por terra.
( ) A construção de edificações para investimento. Neste momento,
as edificações construídas passaram a ser atrativos do giro da economia
capitalista, pois adquiriram um significado de investimento, assim como
outros meios de produção.
( ) Os progressos da representação técnica dos projetos e da
geometria descritiva permitiram dar forma satisfatória aos projetos, que
antes deparavam-se com dificuldades intransponíveis de representação, e
deviam praticamente ser definidos no local da execução.

Assinale V para verdadeiro e F para falso, conforme o texto acima:


a) F, F, V, V.
b) F, V, V, F.
c) V, V, V, V.
d) V, V, F, F.
e) V, F, V, F.

218 U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo


3. Na Revolução Industrial, as edificações construídas passaram a ser
atrativos do giro da economia capitalista, pois adquiriram um significado
de investimento, assim como outros meios de produção. Além disso, os
progressos da representação técnica dos projetos e da geometria descritiva
permitiram dar forma satisfatória aos projetos, que antes deparavam-se
com dificuldades intransponíveis de representação, e deviam praticamente
ser definidos no local da execução.
A figura a seguir representa um detalhe construtivo, no qual, devido ao
grande vão, os esforços são transportados por meio das estruturas em
arco, diretamente para o solo.
Figura | Detalhe construtivo de edificação

Fonte: <http://vrc-cbe-uw.blogspot.com.br/2008_06_01_archive.html>. Acesso em: 20 jan.


2017.

Assinale a alternativa que corresponda à imagem acima:


a) Palácio de Cristal.
b) Torre Eiffel.
c) Galerie des Machines.
d) Biblioteca Sainte Geneviève.
e) Ponte Wearmouth Brigde.

U3 - Revolução Industrial e século XIX: progressos e revivalismo 219


Referências
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva,


2014.

FAZIO, Michael; MOFFET, Marian; WODEHOUSE, Lawrence. A história da arquitetura


mundial. 3. ed. Porto Alegre: Amgh, 2011.

GOITIA, Fernando Chueca et al. História geral da arte: Arquitetura V. [s.i.]: del Prado,
1996.

HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou,
1972.

JANSON, Horst Waldemar; JANSON, Anthony F. Iniciação à história da arte. 2. ed.


São Paulo: Martins Fontes, 1996.

SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. A exposição colombiana de Chicago de 1893 e o


advento do urbanismo norte-americano. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 144.01,
Vitruvius, maio, 2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/
arquitextos/12.144/4340.>. Acesso em: 13 jan. 2017.
Unidade 4

Pré-modernismo

Convite ao estudo
Esta última unidade tratará dos desdobramentos que a
Revolução Industrial provocou no projeto e no desenho
urbano das cidades. Além disso, serão abordadas novas
vertentes arquitetônicas que surgiram em contraponto ao
racionalismo que se instaurou na produção de edifícios durante
os séculos XVIII e XIX. Para isso, os movimentos da criação
de novas cidades serão abordados no âmbito do processo de
transformação, dentro de um contexto social e político, que
contribuíram para a modificação de elementos fundamentais
na concepção de projetos urbanos. Os estilos arquitetônicos,
produção de novos materiais, novas configurações urbanas e
os movimentos de vanguarda, serão abordados nesta unidade,
a fim de que se possa compreender como os processos de
transformações e evoluções se desenvolveram ao longo do
século XIX e início do século XX.

Os objetivos específicos desta unidade estão relacionados


a conhecer e saber identificar os elementos arquitetônicos
e configurações urbanas do estilo produzido na Revolução
Industrial, bem como saber diferenciá-los. Além disso, é
preciso identificar a postura cultural de cada período, a fim de
entender quais foram as motivações principais que levaram os
projetistas a iniciarem um processo projetual diferenciado.

Para isso, você será convidado a participar da seguinte


situação: você é arquiteto e, durante sua carreira, esteve envolvido
com exposições sobre arquitetura, tanto em museus e centros
de exposições que abordam este tema, como em produções
para a área acadêmica, envolvendo alunos que estudam
arquitetura. Em dado momento, você foi convidado para
organizar uma exposição sobre arquitetura e desenvolvimento
urbano, em um centro cultural bastante famoso da cidade
de São Paulo. O tema da exposição deve acontecer em três
ambientes, sendo o primeiro, as configurações das novas
cidades na Revolução Industrial, o segundo, os desdobramentos
e os desenvolvimentos das cidade-jardins e lineares e, por fim,
os movimentos de vanguarda que contrapuseram muitos dos
preceitos estabelecidos na arquitetura da Revolução Industrial.
Esta exposição terá um caráter híbrido e você deverá organizá-
la com diversos recursos, como projeções, desenhos, projetos,
maquetes (eletrônicas e físicas), cuja intenção é aproximar o
visitante do conteúdo que será exposto.

Dessa forma, para que você possa organizar esta exposição


e abordar todas estas questões, esta unidade será dividida
em três seções, nas quais, inicialmente, serão apresentados
os planos urbanos de Paris, Barcelona e Viena, abordando o
caráter projetual dos centros urbanos e suas necessidades na
época. Após, serão apresentados os movimentos das cidades-
jardins, as cidades industriais e as cidades lineares, que foram
formatações urbanas importantes para a concepção de novos
espaços urbanos. Ao final, serão abordados os movimentos de
vanguarda, como Arts and Crafts, Art Nouveau e a arquitetura
de concreto armado, cujos desdobramentos foram formatados
em contraposição ao racionalismo da Revolução Industrial.
Vamos lá?
Seção 4.1
A cidade pós-liberal
Diálogo aberto
Olá! Nesta seção, veremos como a Revolução Industrial
influenciou na concepção de novos espaços urbanos e nas
necessidades das cidades industriais. É importante conhecer este
período da história, pois este movimento modificou grande parte da
estrutura das cidades, que precisou ser transformada para atender às
demandas provenientes da industrialização e seus desdobramentos.
Para adentramos neste assunto, vamos relembrar a situação-
problema na qual você está inserido. Você foi convidado para
realizar uma exposição cujo tema é arquitetura e desenvolvimento
urbano na Revolução Industrial. Você deverá separar esta exposição
em três ambientes, e nesta seção organizará o primeiro tema.

Para isso, você deverá aprender os seguintes conteúdos:

• Plano Haussmann de Paris e seu ecletismo.

• Plano Cerdá de Barcelona.

• Plano Ringstrasse em Viena.

Tendo em vista o conteúdo abordado, para organizar este


primeiro momento da exposição, como se deram os movimentos
de intervenção nestas cidades para que elas se organizassem
diante das necessidades da Revolução Industrial? Quais são as
principais reformas urbanas que você poderá apresentar? Vamos
lá? Mãos à obra!

U4 - Pré-modernismo 223
Não pode faltar
Na primeira metade do século XIX, o processo de urbanização das
cidades, segundo Benevolo (2014), dava seus primeiros passos para
uma mudança significativa, não diretamente nos estudos de arquitetos,
com a discussão do estilo arquitetônico clássico ou gótico, mas na
experiência dos defeitos e necessidades da cidade industrial. Neste
contexto, foram instauradas as primeiras leis higienistas, cujos técnicos
sanitários se esforçavam para manter, no mínimo, a salubridade das
cidades.

Neste sentido, a atenção das reformas urbanas desta época


estava voltada à eliminação de alguns males causados na população,
sendo eles: insuficiência de esgotos, insuficiência de água potável e
a difusão de epidemias, por conta da quantidade de pessoas vivendo
em condições insalubres (BENEVOLO, 2014).

No entanto, ao intervir em um problema, outros subjacentes se


evidenciaram criando, assim, uma cadeia de necessidades que a
reforma urbana precisa contemplar. Benevolo (2014) aponta que,
ao se construírem esgotos e aquedutos, a construção urbana acaba
por exigir um mínimo de regularidade e estudo planialtimétrico
(identificação dos diferentes níveis de um terreno e seu relevo), para
a implantação dos equipamentos urbanos e para a implantação dos
novos edifícios que surgem. Dessa forma, esta nova formatação
do espaço urbano acaba por exigir que donos de terrenos e
edificações, além de se adequarem às novas condições urbanísticas,
também passam a ter de cumprir determinadas prestações, como
os impostos urbanos.

Benevolo (2014) também ressalta que a construção de novos


equipamentos, como estradas, ruas, linhas férreas e projetos de
saneamento, exigia processos de desapropriações do solo, além da
criação de novos manuais e instrumentos técnicos, como a carta de
cartografia das cidades.

Assimile
A carta de cartografia ou carta cartográfica é a representação no plano,
em escala, de todos os aspectos naturais e artificiais que possuem no

224 U4 - Pré-modernismo
local desenhado. Esta carta deve conter as informações de relevo e
outras informações relevantes, presentes no plano urbano da cidade.

Dessa forma, a cidade da Revolução Industrial passa por diversas


transformações necessárias para o controle da saúde e o controle
populacional. Todos os sistemas de controle da cidade deveriam
constituir um sistema homogêneo, para que cada infraestrutura
pudesse ser organizada sem gerar problemas a outras.

Segundo Benevolo (2014), as reformas que ocorreram nas


duas décadas entre 1830 e 1848, dependiam de uma política que
procurasse atender às novas demandas das cidades. No entanto,
a necessidade de intervenções públicas foi reconhecida, mas não
alterou significativamente a natureza e a identidade das tarefas do
Estado e de administrações locais. Isto implica no entendimento
da cidade, por duas vertentes: a primeira enxerga o desarranjo da
cidade e busca remediar, aos poucos e com recursos limitados,
os inconvenientes singulares que a cidade industrial produzia. Por
outro lado, havia a vertente que criticava a grande expansão das
cidades e a sociedade liberal que a produziu, contrapondo todos os
modelos sociais urbanísticos propostos.

Com o crescimento das cidades e o grande aumento populacional


nas capitais, o espaço urbano passou a ser modificado à medida
que os moradores desses locais começaram a sentir-se invadidos
por estranhos que vinham abrigados de forma desordenada
(SENNETT, 2001). Esse crescimento criou um caos nas definições
geográficas das cidades, que precisaram de uma nova reordenação
dos espaços para que recebessem essas pessoas. De certa maneira
isso gerou um certo receio ao homem urbano e iniciou-se uma
nova tendência de se defender do público através de uma reclusão
em sua vida privada.

Sennett (2001) também se preocupa em entender a "revolução


urbana" e a "cidade industrial", pois os dois temas são considerados
os fatores primordiais da mudança nas cidades e de como o
homem passou a se comportar nesses novos ambientes. Para o
autor, a economia do século XIX considerava o que existia no antigo
regime, onde as indústrias permaneceram para fora das grandes

U4 - Pré-modernismo 225
capitais (quando inseridas nas cidades encontravam-se na periferia),
enquanto que o comércio de lojas era a operação mais corrente no
centro da cidade. A partir da Revolução, o aumento populacional nas
cidades deu-se a partir da grande oferta de produtos e empregos,
sendo que essa capitalização gerou, portanto, uma nova atividade
econômica, pois com o aumento da população nas cidades, o
comércio tornou-se mais lucrativo.

Iniciou-se, então, a construção de cidades que gerassem espaços


para grupos homogêneos, geralmente classificados pela situação
econômica desse grupo. Houve, portanto, uma reorganização
física da cidade. À medida que as cidades começaram a encher-se
de gente, as pessoas perderam o contato funcional umas com as
outras nas ruas, e o espaço da cidade passou a ser enxergado de
maneira diferente, como para classificar e estruturar as classes dos
moradores que ali viviam.

Para Andrade (2011), o desenho das cidades do século XIX


pretendia renovar áreas, facilitar a circulação e promover a
salubridade da cidade, com obras de infraestrutura, acabou por
gerar a retirada de habitações que foram substituídas por casas
destinadas à classe burguesa. Segundo o autor, o planejamento do
século XIX, desvinculava as pessoas de seus lugares, pois priorizava
a circulação ao invés da convivência. Neste sentido, Sennett (2001)
aponta para um constante retraimento da cultura pública em função
do desenvolvimento de uma individualidade personalista.

Exemplificando
É possível observar todas estas modificações no redesenho de Paris,
promovido pelo Barão George Eugène Haussmann, no qual o traçado
original, dos estilos medieval e renascentista, foi substituído por grandes
e retilíneas avenidas (Figura 4.1).

226 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.1 | Plano de reurbanização e requalificação de vias na cidade de Paris

Fonte: <http://www.arquine.com/el-efecto-garnier/>. Acesso em: 10 fev. 2017.

A reforma de Paris, que foi idealizada por Haussmann, possuía


alguns objetivos muito claros. Em primeiro lugar, a reforma foi
encomendada por Napoleão III, cujo objetivo era o de liberar parte
do tecido urbano para que as manobras militares pudessem ser
facilitadas. Em segundo lugar, a reforma buscava criar uma gama
de infraestruturas para a cidade, pois em sua malha medieval, as
ruas e as residências eram insalubres, e com a grande expansão
e chegada de migrantes na cidade, a saúde pública tornou-se
primordial. Também é possível observar que a reforma da malha
urbana, conforme afirma Sennett (2001), foi a de criar os grandes
bulevares (Figura 4.2) para abrigar uma nova forma de comércio,
com a construção de lojas ao invés do comércio informal das
feiras medievais.
Figura 4.2 | Vista aérea da cidade de Paris evidenciando os bulevares

Fonte: <http://www.citi.io/2015/03/27/georges-eugene-haussmann-arrondissments-boulevards/>. Acesso em:


10 fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 227
De acordo Benevolo (2014), mesmo com grandes questões
políticas em jogo, observada na criação de grandes vias para que a
fuzilaria pudesse ter um maior controle da cidade e atacar de maneira
mais precisa os movimentos revolucionários, a cidade de Paris,
durante a Revolução Industrial, passou de quinhentos mil a cerca de
um milhão de pessoas. Neste sentido, a cidade medieval evidencia
cada vez mais sua incapacidade de suportar o peso do crescimento
rápido da cidade. As ruas já não são suficientes para o trânsito e
as casas parecem inadequadas, diante das exigências higienistas
que surgem. Segundo Benevolo (2014, p. 96), “a concentração
das funções e dos interesses na capital fez com que aumentassem
tanto os preços dos terrenos, que uma radical transformação nas
edificações tornou-se inevitável”.

Com relação às residências, os imóveis da nova Paris se


diferenciavam das casas particulares em sua escala e seu
parcelamento. Os edifícios de vários andares (Figura 4.3) ocupam
o lugar de edificações de pequeno porte e insalubres. Dessa forma,
os terrenos e os quarteirões, que são rasgados pelos bulevares,
promovem a construção de imóveis flexíveis e adaptáveis às
irregularidades de cada lote (PEREIRA, 2012).
Figura 4.3 | Imóvel residencial da reforma de Haussmann

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.146/4421>. Acesso em: 10 fev. 2017.

228 U4 - Pré-modernismo
Segundo a análise de Pereira (2012), “apenas a linha de fachada
voltada para a rua, onde estavam dispostos os cômodos de
recepção, deveria obedecer a uma geometria rígida. O pátio interno,
espaço menos nobre, para onde estavam voltadas as áreas íntima e
de serviço, aceitava irregularidades em sua forma”.

Assimile
No plano da reforma de Paris, Haussmann realizou transformações
drásticas no desenho urbano da cidade, promovendo as seguintes
transformações:

- Redesenho de toda malha viária, com a substituição de pequenas


ruas e vielas por grandes avenidas (Figura 4.4).

- Desenho dos quarteirões, que foram configurados a partir do desenho


das vias.

- Criação de rotatórias para melhor distribuição das vias.

- Padronização das fachadas dos edifícios, tanto nas cores quanto na


altura.

- Anel viário delimitando o espaço da cidade.

Figura 4.4 | Bulevar Champs Elysées

Fonte: <http://data.tic.free.fr/images/architecture/hausmann/avchampselysees.bmp>. Acesso em: 10


fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 229
Assim, é possível observar que o plano de Haussmann para a
cidade de Paris tinha o foco em melhorar a circulação da cidade,
criar acessos rápidos a toda cidade, promover a salubridade da
cidade e criar novas formas de morar. O plano de Haussmann,
segundo Benevolo (2014, p. 110):

configura-se como uma ação contínua de estímulo e


coordenação das múltiplas forças que agem de modo
sempre variável sobre o conjunto urbano; cessa, assim,
a semelhança entre urbanística e arquitetura, as quais
não agem mais no mesmo nível, diferindo somente
pela escala, mas, sim, agem em dois níveis diversos em
recíproco relacionamento.

Reflita
As reformas urbanas do século XIX tinham motivos muito claros, como
a difusão política da época, a reformulação do espaço urbano após
uma explosão demográfica e reformas higienistas, para promover
a salubridade das cidades. Agora, imagine a cidade onde você mora
e reflita sobre quais seriam as possíveis mudanças neste local para
promover melhorias na vida dos habitantes. Qual seria um possível
plano de ação e como estas medidas poderiam ser tomadas?

A reforma de Paris, promovida por Haussmann, foi utilizada


como referência por várias cidades, com o intuito de transformar o
plano urbano e o espaço público. É o caso da cidade de Barcelona
e o Plano Cerdá.

Este plano de reorganização e requalificação da cidade foi o


primeiro passo para a reforma de Barcelona, que inicialmente,
possuía o objetivo de aumentar os limites da cidade. Segundo
Muxi (2011), o engenheiro Idefons Cerdá foi procurado para criar
um projeto para a transformação total da cidade de Barcelona e,
para isso, passou a estudar a situação de vida dos moradores, a
insalubridade das edificações e dos espaços públicos e também a
falta de higiene dos habitantes da cidade.

230 U4 - Pré-modernismo
Muxi (2011) aponta que o plano de Cerdá se diferenciava um
pouco do que Haussmann buscava para Paris, pois o engenheiro
buscava uma cidade sem hierarquias, com formato homogêneo
e que pudesse ser estendida ao infinito. A circulação de vias
também foi uma das principais modificações do Plano Cerdá, no
qual a circulação se daria por meio de ruas, por onde passavam
os transportes de massa e vias que atravessariam as quadras
(Figura 4.5).
Figura 4.5 | Plano Cerdá, Barcelona

Fonte: <https://www.failedarchitecture.com/behind-four-walls-barcelonas-lost-utopia/>. Acesso em: 10 fev.


2017.

Estas vias diagonais foram planejadas por Cerdá da seguinte


maneira: “a Av. Meridiana, saída para a Av. França; a Av. Diagonal,
que liga a estrada de Madrid ao mar; e uma via territorial próxima,
a Avenida Gran Via de les Corts Catalanes, paralela ao mar e que
conecta com os pequenos povoados marítimos da planície” (MUXI,
2011, p. 106).

Com relação às quadras e à construção de edificações, Cerdá


propôs quadras de 113 m x 113 m e vias de 20 m de largura, onde,
cada conjunto possuiria nove quadras (FIGUEROA, 2006). Cada uma
destas quadras teria em seu perímetro edificações padronizadas, cujo
interior deveria ser arborizado. Pode-se observar que os usos das
edificações projetadas por Cerdá previam várias tipologias, onde, na
mesma quadra, os edifícios seriam residenciais e também comerciais
(Figura 4.6).

U4 - Pré-modernismo 231
Figura 4.6 | Desenhos de tipologias de quadras do plano Cerdá

Fonte: <https://www.failedarchitecture.com/behind-four-walls-barcelonas-lost-utopia/>. Acesso em: 10 fev.


2017.

Seguindo o modelo higienista, durante as grandes reformas


urbanas que ocorreram no século XIX, é também importante citar
a cidade de Viena. Diferentemente da reforma de Haussmann, a
reforma de Viena permitiu inserir a cidade antiga ao novo sistema
viário, permitindo, dessa forma, compor os principais edifícios
públicos em um ambiente amplo e arejado, entre os passeios e os
jardins (BENEVOLO, 2014).

A reforma urbana, conhecida como Ring de Viena (Figura 4.7),


consistiu na criação de um anel viário que pudesse circundar todo
centro histórico da cidade, protegido das construções de novos
bairros. Aos poucos, a área dentro deste anel passou a pertencer,
praticamente, à burguesia, transformando este espaço em um
local de segregação social, no qual a Ringstrasse tornou-se o local
preferido de classes mais altas.

232 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.7 | Ringstrasse de Viena, delimitado pela faixa verde entre o centro e os
bairros periféricos

Fonte: <https://de.m.wikipedia.org/wiki/Datei:Frankfurt_Am_Main-Freie_Stadt_Frankfurt-
Plan-1845.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018.

Pesquise mais
O artigo de Mário Figueroa discute, de forma didática, a evolução da
quadra e das habitações, planejadas no século XIX, devido às grandes
reformas urbanas. Neste conteúdo, você encontrará desenhos do
planejamento de Haussmann e do Plano Cerdá, sempre relacionados
com o urbanismo que se produz hoje em nossas cidades. Boa leitura!

FIGUEROA, Mário. Habitação coletiva e a evolução da quadra.


Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 069.11, fev. 2006. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/385>.
Acesso em: 16 mar. 2017.

Sem medo de errar

Para formatar e organizar a primeira fase da exposição, cujo tema


são as reformas urbanas no século XIX, você poderá apresentar o
conteúdo das reformas de Paris, Barcelona e Viena.

U4 - Pré-modernismo 233
Estas reformas, cada qual em sua época, ocorreram para suprir
determinadas demandas de sua época, entre as quais é possível
citar as seguintes motivações:

- Reforma política.

- Reforma higienista das cidades, buscando melhorar a qualidade


sanitária dos habitantes, com as reformas, as ampliações e as
criações de redes de esgoto e fornecimento de água.

- Controle de epidemias e doenças.

- Adequação das cidades às novas demandas da Revolução


Industrial, como a criação de moradias e a construção de espaços
de lazer.

Estas foram algumas das características comuns nas reformas


das cidades, pois, todas elas, cada uma em sua medida, passava
por grandes transformações, com grande aumento populacional e
também com a ascensão de uma classe burguesa, que demandava
novas necessidades.

Neste sentido, o redesenho das cidades, embora tenha sido


influenciado primeiramente pelo plano Haussmann, possuiu
características convergentes e divergentes, cada reestruturação
promoveu diferentes modificações nas cidades.

Para apresentar este comparativo, é possível criar um quadro de


elementos que convergem para as mesmas necessidades e outras
tomadas de decisões que diferenciaram como cada cidade recebeu
sua reforma urbanística.

Quadro 4.1 | Diferentes soluções de reforma urbanística em diferentes cidades

Cidades
Modificações
Barcelona-plano
Paris-plano Haussmann Viena-Ringstrasse
Cerdá

As vias de Barcelona
As vias de Paris passaram Criação de um anel
foram alteradas
por um redesenho, que circundava o
pela criação de
eliminando ruas com centro histórico
avenidas diagonais
Vias formatos medievais. de Viena. As vias
e ruas verticais
Estes formatos foram internas foram
e horizontais,
substituídos por grandes mantidas e não
priorizando o
avenidas retilíneas. sofreram alterações
transporte público.

234 U4 - Pré-modernismo
As quadras possuem
As quadras possuem
formato irregular, pois
formato quadrado As quadras não
foram concebidas após
Quadras e, algumas, são sofreram muitas
a definição das vias, cujo
cortadas pelas alterações.
desenho acontece de
avenidas diagonais.
forma desigual.

As edificações
possuíam o formato
As edificações foram
As edificações foram das quadras, ou
mantidas de acordo
padronizadas, com seja, as fachadas
com a preservação
Edificações gabarito e cores. Além eram adjacentes ao
do centro histórico,
residenciais disso, seu formato era quadrado formatado
somente com a
irregular, pois seguia o pelas vias. A parte
criação de alguns
desenho das quadras. interna foi planejada
edifícios públicos.
para ser aberta, com
áreas verdes.

Fonte: elaborado pela autora.

Figura 4.2 | Vista aérea da cidade de Paris evidenciando os bulevares

Fonte: <http://www.citi.io/2015/03/27/georges-eugene-haussmann-arrondissments-boulevards/>. Acesso em:


10 fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 235
Figura 4.5 | Plano Cerdá, Barcelona

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ildefons_Cerd%C3%A0#/media/File:Barcelona_plano.jpg>. Acesso em: 30


out. 2018.

Figura 4.7 | Ringstrasse de Viena, delimitado pela faixa verde entre o centro e os
bairros periféricos

Fonte: <https://static1.squarespace.com/static/5690fa119cadb61a0a0b33cf/t/570fbc750442620fbcc85184/14
60649132831/?format=1500w>. Acesso em: 10 fev. 2017.

236 U4 - Pré-modernismo
Avançando na prática
Reconfiguração urbana

Descrição da situação-problema

Formado em arquitetura, você é sócio de um escritório que


realiza projetos de desenvolvimento de cidades, cuja especialidade
está em desenvolver planos urbanísticos. Em dado momento, vocês
decidem participar de um concurso que será promovido para a
reconfiguração de uma zona pouco frequentada de uma importante
cidade brasileira. A intenção é que, com esta nova formatação, o
espaço passe a ser vivenciado de novas formas promovendo, assim,
o encontro e a interação entre as pessoas e o meio urbano. Para
isso, vocês decidiram utilizar como referência o planejamento
urbano de Paris, na era Haussmann, que modificou completamente
a estrutura da cidade, a fim de organizar o espaço urbano para
receber as novas demandas da Revolução Industrial. Com isso,
quais são os elementos que Haussmann utilizou que podem ser
incorporados nesta requalificação urbana, proposta pelo concurso?
Como a cidade pode ser estruturada, com base na cidade de Paris,
para receber pessoas e promover interações? Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

Para que você possa realizar uma proposta de reconfiguração


urbana, é necessário estabelecer alguns parâmetros que serão
utilizados ao longo do projeto. No caso do seu escritório, estes
parâmetros terão as referências do plano Haussmann, que modificou
a cidade de Paris em função das demandas de sua época.

Assim, antes de iniciarem o projeto, vocês precisam elencar


alguns elementos-chave no desenvolvimento da reforma de Paris.
Dessa forma, você pode identificar as seguintes características:

- Redesenho de toda malha viária, no qual as pequenas ruas e


vielas foram substituídas por grandes avenidas.

- Configuração de novos quarteirões, modelados pela formatação


dos encontros das novas vias.

U4 - Pré-modernismo 237
- Criação de rotatórias.

- Padronização das edificações e seu gabarito (quantidade de


andares).

É importante que você note que a reforma de Paris foi realizada


desta maneira porque haviam interesses políticos e de controle
na cidade. No caso do seu projeto, você poderia utilizar estas
referências de uma maneira distinta, adaptando a realidade brasileira
às necessidades dos habitantes e também com o intuito de promover
a interação entre as pessoas e o próprio desenho da cidade.

Assim, sua proposta poderá ser adaptada da seguinte forma:

- Redesenho de algumas vias, para a conexão de pontos


principais da região da cidade. Estes pontos podem ser encontros
entre equipamentos públicos, como uma praça de encontros ou
um edifício institucional como um museu.

- Configuração de novos quarteirões com a modificação


de algumas edificações, buscando a padronização com outros
elementos arquitetônicos, como a pintura de fachadas.

- Criação de rotatórias, que, para a realidade atual, faz-se


necessária por conta dos veículos e da circulação de carros. Neste
caso, priorizar ruas para carros e ruas para pedestres, no qual as
pessoas terão a chance de possuir um espaço para encontros.

Faça valer a pena


1. Na primeira metade do século XIX, o processo de urbanização das
cidades, segundo Benevolo (2014), dava seus primeiros passos para uma
mudança significativa, não diretamente nos estudos de arquitetos, com a
discussão do estilo arquitetônico clássico ou gótico, mas na experiência
dos defeitos e necessidades da cidade industrial. Neste sentido, é possível
afirmar:

( ) A atenção das reformas urbanas desta época estava voltada à


eliminação de alguns males causados na população, como a insuficiência
de esgotos e a insuficiência de água potável.

238 U4 - Pré-modernismo
( ) A cidade da Revolução Industrial passa por diversas transformações
necessárias para o controle da saúde e o controle, também, populacional.
( ) Nas reformas urbanas foram instauradas as primeiras leis
higienistas, cujos técnicos sanitários se esforçavam para manter, no
mínimo, a salubridade das cidades.

Assinale V para verdadeiro e F para falso, conforme o texto acima:


a) F, V, F.
b) V, V, V.
c) F, F, V.
d) F, F, F.
e) V, V, F.

2. Na reforma de Paris, Haussmann realizou transformações drásticas no


desenho urbano da cidade, promovendo as seguintes transformações:
I- Redesenho de toda malha viária, com a substituição de pequenas ruas e
vielas por grandes avenidas.
II- Desenho dos quarteirões, que foram configurados a partir do desenho
das vias.
III- Padronização das fachadas dos edifícios, tanto nas cores quanto na
altura.
IV- Criação de anel que separava o centro preservado da cidade que estava
sendo construída.
Assinale a alternativa que corresponda às afirmações acima:
a) Todas as afirmativas são verdadeiras.
b) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) As afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
d) As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
e) As afirmativas I e IV são verdadeiras.

3. Com relação à construção de edificações, a proposição de quadras


com dimensões de 113 m x 113 m e vias de 20 m de largura, onde, cada
uma destas quadras teria em seu perímetro edificações padronizadas,
cujo interior deveria ser arborizado. Observa-se, também, que os usos das
edificações previam várias tipologias, onde, na mesma quadra, os edifícios
seriam residências e também comerciais.
Assinale a alternativa que corresponde à reconfiguração de quadras,
conforme descrito acima:
a) Plano Ringstrasse.
b) Plano Haussmann.
c) Plano de Paris.
d) Plano Cerdá.
e) Plano de Viena.

U4 - Pré-modernismo 239
Seção 4.2
Experiências urbanísticas no século XIX
Diálogo aberto
Olá! Nesta seção, veremos quais foram os modelos urbanísticos
que surgiram no século XIX, bem como suas principais características.
É importante conhecer estes projetos, pois é possível identificar seus
elementos nas cidades de hoje, nas quais vivemos. Para adentrar mais
neste assunto, convidamos você a relembrar a seguinte situação-
problema: ao ser convidado para realizar uma exposição acerca da
arquitetura e urbanismo na Revolução Industrial, você decide dividir
os temas em três espaços. Neste momento, está organizando o
segundo espaço da exposição, cujo tema é “modelos de cidades do
século XIX”. Neste caso, para organizar este espaço, você precisará
conhecer:

- A cidade industrial de Tony Garnier.

- A cidade-jardim de Ebenezer Howard.

- A cidade linear de Arturo Soria.

- Características artísticas da cidade de Camillo Sitte.

Dessa forma, tendo em vista este conteúdo abordado, você


deverá organizar a segunda parte da exposição, na qual serão
apresentados os modelos de cidades. Assim, quais são os principais
modelos do século XIX? Como estes modelos podem se relacionar
entre si, observando suas convergências e divergências? Vamos lá?
Mãos à obra!

Não pode faltar


As cidades que foram reformuladas a partir da Revolução
Industrial, como Paris, Barcelona e Viena, se formataram de forma

240 U4 - Pré-modernismo
higienista e estrutural, em que as necessidades de saúde, moradia,
infraestrutura urbana e segurança tinham total propriedade.

Em 1901, o arquiteto Tony Garnier (1869-1948) participou do


concurso do Grande Prêmio de Roma, no qual propôs uma cidade
industrial, cujos materiais de construção seriam concreto armado,
ferro e vidro. É importante ressaltar que estes materiais eram as
grandes descobertas construtivas, no entanto, em muitas cidades,
a utilização destes materiais era encarada como uma afronta e
desrespeito a movimentos e estilos, como o neoclássico.

Segundo Benevolo (2014), o projeto apresentado não foi


premiado no concurso de Roma, porém, dois anos depois, o
arquiteto conseguiu o primeiro prêmio com um projeto para a
reconstrução da cidade de Túsculo, cujo estilo construtivo era
justamente a composição clássica e neoclássica, com colunas
dóricas, jônicas e coríntias. Entretanto, o arquiteto não abandonou
seu projeto de cidade industrial e, em 1904, foi convidado para
apresentar suas elaborações projetuais em uma exposição, na
cidade de Paris. Esta obra, mais tarde, foi publicada em um volume,
chamado Une cité industrielle, étude pour la construction des villes
(1917), no qual Garnier apresenta os critérios que o haviam guiado
para projetar uma cidade industrial.

Neste manual, Garnier propõe elementos, características, técnicas


e soluções para a construção de uma cidade industrial, que fosse
construída com os materiais desenvolvidos em sua época, como o
concreto armado e o vidro. Este livro tinha como objetivo elencar
algumas soluções possíveis para as futuras cidades industriais.

Benevolo (2014) apresenta alguns trechos do livro desenvolvido


por Garnier, no qual o arquiteto estabelece parâmetros para o
projeto da cidade industrial (Figura 4.8). É possível observar alguns
pontos relevantes na obra de Garnier, em que as características de
organização urbana são definidas:

- Cidade de importância média - aproximadamente 35.000


habitantes.

- A fábrica principal deve estar situada em uma planície, estando


próxima de alguma conexão com um rio.

U4 - Pré-modernismo 241
- Construção de uma grande estrada de ferro, interligando a
fábrica e a cidade (Figura 4.9).

- Instalações sanitárias, implantadas em áreas mais altas,


protegidas dos ventos frios, voltadas para o sul, cujos terraços
deveriam dar para o rio.

- As fábricas, a cidade e as instalações sanitárias deveriam estar


isoladas, permitindo suas futuras ampliações.
Figura 4.8 | Projeto para a cidade industrial

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-city/>.
Acesso em: 10 fev. 2017.

Figura 4.9 | Estação ferroviária, projetada por Garnier

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-city/>.
Acesso em: 10 fev. 2017.

242 U4 - Pré-modernismo
Segundo Benevolo (2014), os projetos de Garnier surpreendiam
por sua simplicidade e soluções construtivas eficazes. Os bairros
residenciais deveriam ser formados por casas isoladas, em uma
malha de ruas com formato uniforme e regular. Benevolo (2014)
apresenta o desenvolvimento da cidade industrial de Garnier, em
que suas normas eram bastante definidas:

- As casas devem estar implantadas de modo que os dormitórios


possuam ao menos uma das janelas voltadas para o sul, de dimensão
suficiente para iluminar e ventilar o local, mantendo sua salubridade,
segundo as normas higienistas.

- São proibidos os pátios e os átrios nos interiores de espaços


murados, pois todo recinto deve receber luz e ventilação direta.

- A parte interna das habitações, pavimentos etc. devem ser de


material polido, com arestas arredondadas.

- Construção de quadras residenciais com as dimensões de 150


metros (sentido leste-oeste) e 30 metros (norte-sul).

- Lotes com dimensões de 15x15 metros, sempre com uma das


faces voltada para a rua.

- A implantação da edificação no terreno deve compreender


somente a metade do espaço, a outra metade é destinada a jardins
públicos, áreas verdes e passagem de pedestres.

- Espaços abertos entre terrenos, permitindo que o pedestre


possa atravessar a cidade em qualquer sentido, o conjunto da
cidade pode ser entendido como um grande parque, sem restrições
limitando os terrenos.

- Gabarito das edificações padronizados.

As definições de Garnier sobre a implantação de edificações e


suas dimensões, promoveram uma nova formatação das cidades
(Figuras 4.10 e 4.11). De acordo com Benevolo (2014), é possível
verificar nas propostas da cidade industrial, elementos que se
tornaram comuns no movimento moderno, como os fatores
higiênicos (ar, sol, vegetação), definições acerca das edificações em
áreas abertas, separação entre os percursos para os pedestres e as
ruas (vias carroçáveis) e a cidade-parque.
U4 - Pré-modernismo 243
Reflita
As propostas realizadas por Garnier para a cidade industrial possuem
características que transformaram a forma das cidades. Reflita sobre
a construção do seu bairro e procure identificar estes elementos
descritos com as propostas de Garnier. Será que as construções
brasileiras também foram influenciadas por este modelo?
Figuras 4.10 | Projeto de quadras

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-
city/>. Acesso em: 10 fev. 2017.
Figura 4.11 | Implantação de residências

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-
city/>. Acesso em: 10 fev. 2017.

244 U4 - Pré-modernismo
Pesquise mais
Neste site é possível encontrar diversos desenhos de Tony Garnier,
propostos em seu livro sobre a construção da cidade industrial. Com
estes desenhos, é possível relacionar os projetos propostos por Garnier
com as cidades construídas, ainda hoje, em nosso país.

ARCHITECTURAL ENQUIRY (Holanda) (Comp.).  Une cité industrielle


by Tony Garnier.  Disponível em: <http://www.penccil.com/gallery.
php?p=490504414159>. Acesso em: 30 out. 2018.

Além deste modelo urbano, outros profissionais estudaram e


também propuseram diferentes formas de projetar uma cidade.
É o caso de Camillo Sitte, que estuda a cidade por meio de seus
elementos artísticos.

Camillo Sitte, arquiteto austríaco, ficou conhecido após a


publicação de um pequeno livro, com sugestões de elementos
para a construção de cidades modernas. De acordo com Benevolo
(2014), este livro é apresentado de maneira discursiva e prática, no
qual Sitte fala acerca da cidade moderna limitada pelo viés “artístico”,
que corresponde à observação e às sugestões da decoração que se
pode observar nas edificações e bairros de moradias.

No entanto, Benevolo (2014) aponta que Sitte não se limitava


a somente indicar soluções convencionais, mas observava a
paisagem da cidade que emerge diante das modificações ocorridas
durante os séculos. O arquiteto aponta, desta forma, elementos
inconvenientes que existem nas cidades, tais quais a monotonia, a
regularidade excessiva, a busca da simetria a qualquer custo, espaços
sem articulação e desproporcionais em relação à arquitetura.
Sitte compara estes elementos ao mérito das cidades medievais,
que possuíam ambientes articulados segundo suas funções,
composições assimétricas e hierarquia adequada dos espaços em
relação às construções (Figura 4.12).

U4 - Pré-modernismo 245
Figura 4.12 | Estudo sobre espaços medievais, Camillo Sitte

Fonte: adaptado de <http://www.grids-blog.com/wordpress/otto-wagner-designing-the-


city/>. Acesso em: 10 fev. 2017.

Benevolo (2014) aponta alguns elementos importantes no


discurso de Sitte, no qual o arquiteto propõe algumas modificações
nas cidades, por meio de uma análise dos inconvenientes singulares
observados, buscando restabelecer na cidade moderna os valores
que foram admitidos nas cidades antigas, tais quais:

- Espaços inarticulados ou muito grandes podem ser subdivididos


a fim de criar outros ambientes.

- Formas abertas podem ser substituídas por outras fachadas.

- Assimetrias parciais deveriam ser constituídas, a fim de suavizar


a simetria da cidade moderna.

- Deslocar monumentos do centro geométrico das praças para


outros locais mais distantes.

Sitte defendia, de acordo com Pedroso (2005), os valores


artísticos das cidades, em que estes princípios deveriam ser os
elementos norteadores no projeto das cidades. Além disso, suas
propostas buscavam a relação harmônica entre as edificações e os
vazios que o rodeavam. Para Pedroso (2005, s.p.), este movimento
de Sitte envolveu “a polêmica do século XIX entre a ‘cultura do
engenheiro’ versus valores históricos e artísticos de projeto”.

Neste sentido, o arquiteto contribuiu para o desenvolvimento


e para o projeto das cidades modernas, no qual dois pontos

246 U4 - Pré-modernismo
fundamentais de sua proposta foram de grande importância para
a cultura urbanística. A primeira contribuição foi a de despertar,
nos arquitetos e urbanistas, o interesse pelos ambientes urbanos
das cidades antigas (diferentemente de outros manifestos que
promoviam a preservação somente de monumentos isolados). A
segunda contribuição é que Sitte propôs aos arquitetos um olhar
sobre os problemas a partir do exterior, buscando concretizar
a comparação entre a cidade antiga e a cidade moderna
(BENEVOLO, 2014).

Segundo Pedroso (2005), Sitte defendia que o final do projeto


deveria sempre privilegiar o conforto dos indivíduos, pois, em suas
análises, o arquiteto “apontou falhas nos casos existentes, cuja
rigidez matemática e funcionalidade eram as diretrizes principais
em detrimento do bem-estar, padrões estéticos e da humanização,
qualidades imprescindíveis no tratamento de locais públicos”
(PEDROSO, 2005, [s.p.]).

É possível, ao final, compreender que a contribuição de Camillo


Sitte promoveu um novo olhar sobre as cidades modernas, ele
identifica elementos potenciais das cidades antigas que poderiam
ser utilizados na construção das cidades modernas.

Outro movimento para a reformulação e projeto das cidades


industriais foi proposto por Ebenezer Howard (1850-1928). Sua
proposta foi a elaboração da cidade-jardim, no qual Howard
buscava resolver problemas de insalubridade, pobreza e poluição,
por meio de projetos cujas cidades se relacionassem diretamente
com o campo (ANDRADE, 2003).

Segundo Andrade (2003), Howard buscava a relação entre a


cidade e o campo em busca de uma combinação cujas vantagens
seriam as oportunidades da vida urbana em consonância com a
beleza, o prazer e o descanso do campo. Dessa forma, Howard
apostava que esta união funcionaria como um ímã para as pessoas
das cidades congestionadas buscarem a natureza, sendo ela, em
seu ponto de vista, a fonte da vida (Figura 4.13 e 4.14).

U4 - Pré-modernismo 247
Figura 4.13 | Projeto da cidade-jardim de Howard

Fonte: <http://equilibrium.org.br/portal/wp-content/uploads/2013/07/7472135714_
bac09b66b2_o.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2017.

Figura 4.14 | Projeto da cidade-jardim de Howard

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/6e24_042-02-07.jpg>.
Acesso em: 30 out. 2018.

248 U4 - Pré-modernismo
Além disso, segundo Benevolo (2014), Howard seguia o raciocínio
de que a propriedade privada dos terrenos possuía uma valorização
crescente, a partir da periferia para o centro das cidades. Este
movimento promovia um aproveitamento intenso dos terrenos, nos
quais eram construídas edificações mais compactas e com maior
aproveitamento do lote, no qual o grande adensamento provocava
o congestionamento do trânsito nas ruas.

Para Howard, a cidade-jardim deveria ser autossuficiente, sua


direção se daria por meio de uma sociedade anônima, proprietária
dos terrenos, mas não das moradias, dos serviços prestados ou
das atividades econômicas. Sua ideia era a de que cada cidade-
jardim seria livre para regular seus negócios (BENEVOLO, 2014).

Benevolo (2014) ainda aponta que Howard não se ocupava


do desenho da arquitetura, deixando indeterminado o traçado da
cidade e o estilo dos edifícios. Sua maior contribuição se deu nos
importantes resultados culturais, os arquitetos passaram a projetar
suas edificações considerando o entorno do edifício, observando
a paisagem urbana como um todo orgânico. Neste sentido, os
profissionais passaram a incorporar em seus projetos a pavimentação
das ruas, as áreas verdes, as cercas, os bancos, os aparelhos de
iluminação e todos os acessórios que fazem parte da constituição
urbana. Segundo Benevolo (2014, p. 362), estes elementos “integram
o cenário arquitetônico e modificam em grande medida o caráter
do ambiente”.

Um outro modelo de construção urbana foi proposto por Arturo


Sorio (1844-1920), engenheiro espanhol, que propõe uma alternativa
radical para o desenho urbano: a cidade linear. Esta cidade deveria
estar configurada em uma faixa percorrida por ferrovias ao longo
de seu eixo. Para Sorio, este seria o formato da cidade ideal, cuja
extensão se daria ao longo de uma única via, com largura de
quinhentos metros (BENEVOLO, 2014).

Para Sorio, segundo aponta Benevolo (2014), o modelo da


cidade linear deveria ser construído ancorado em cidades já
construídas, formatando uma rede de triangulações entre as
cidades (Figura 4.15).

U4 - Pré-modernismo 249
Figura 4.15 | Modelo da cidade linear e suas triangulações

Fonte: <http://arqui-2.blogspot.com.br/2014/07/ciudad-lineal-la-utopia-construida-de.html>.
Acesso em: 10 fev. 2017.

Exemplificando
Soria propõe que a rua central, a que formata a linearidade da cidade,
deveria ser arborizada e percorrida pela ferrovia (Figura 4.16). As
edificações poderiam ocupar somente um quinto do terreno, sendo
que o lote mínimo previsto seria de quatrocentos metros quadrados.
Neste espaço, oitenta metros quadrados deveriam ser destinados às
moradias e trezentos e vinte metros para o jardim (BENEVOLO, 2014).

250 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.16 | Seção da rua principal da cidade linear

Fonte: <http://arqui-2.blogspot.com.br/2014/07/ciudad-lineal-la-utopia-construida-de.html>.
Acesso em: 10 fev. 2017.

Assimile
As cidades que foram propostas pelos arquitetos possuíam
algumas situações que eram convergentes, como o fato de todas
elas buscarem uma postura higienista. Cada configuração possuía
certas particularidades, mas os profissionais sempre buscavam
atender a determinada demanda e também melhorar a qualidade
de vida das pessoas.

Sem medo de errar


Os modelos urbanos que surgiram na Revolução Industrial
tinham alguns objetivos comuns, no sentido de que todos buscavam
a melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes e do espaço da
cidade.

Alguns desses modelos ficaram rapidamente conhecidos e foram


amplamente utilizados, é possível observar suas características
como referência para as cidades de hoje. Dessa forma, podemos
apresentar:

Modelo: Cidade Industrial

Arquiteto: Tony Garnier

U4 - Pré-modernismo 251
Características:

- Cidade de importância média – aproximadamente 35.000


habitantes.

- A fábrica principal deve estar situada em uma planície, estando


próxima de alguma conexão com um rio.

- Construção de uma grande estrada de ferro, interligando a


fábrica e a cidade.

- Instalações Sanitárias, implantadas em áreas mais altas,


protegidas dos ventos frios, voltadas para o sul, cujos terraços
deveriam dar para o rio.

- As fábricas, a cidade e as instalações sanitárias deveriam estar


isoladas, permitindo suas futuras ampliações.
Figura 4.10 | Projeto de quadras

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-city/>. Acesso em:


10 fev. 2017.

252 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.11 | Implantação de residências

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-city/>. Acesso em:


10 fev. 2017.

Modelo: Cidade-Jardim

Arquiteto: Ebenezer Howard

Características:

- Cidade que se relaciona direto com o campo.

- A beleza da vida acontece no campo, portanto, ele deveria


servir como ímã dos habitantes das cidades.

- Cidade autossuficiente, no qual sua direção se daria por meio


de uma sociedade anônima, proprietária dos terrenos, mas não das
moradias, dos serviços prestados ou das atividades econômicas.

- Considerar o entorno da edificação no projeto da cidade.

- Incorporação da pavimentação das ruas, as áreas verdes, as


cercas, os bancos, os aparelhos de iluminação e todos os acessórios
que fazem parte da constituição urbana.

U4 - Pré-modernismo 253
Figura 4.13 | Projeto da cidade-jardim de Howard

Fonte: <http://equilibrium.org.br/portal/wp-content/uploads/2013/07/7472135714_bac09b66b2_o.jpg>.
Acesso em: 30 out. 2018.

Figura 4.14 | Projeto da cidade-jardim de Howard

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/6e24_042-02-07.jpg>. Acesso em: 30


out. 2018

Modelo: Cidade Linear

Arquiteto: Arturo Sorio

Características:

- A cidade deveria ser configurada em uma faixa percorrida por


ferrovias ao longo de seu eixo.

- Cidade construída e ancorada em cidades já construídas,


formatando uma rede de triangulações entre as cidades.

254 U4 - Pré-modernismo
- Cidade arborizada.

- Lote mínimo previsto seria de quatrocentos metros quadrados.


Oitenta metros quadrados devem ser destinados às moradias e
trezentos e vinte metros para o jardim.
Figura 4.15 | Modelo da cidade linear e suas triangulações

Fonte: <http://arqui-2.blogspot.com.br/2014/07/ciudad-lineal-la-utopia-construida-de.
html>. Acesso em: 10 fev. 2017.

Avançando na prática
Planejamento urbano

Descrição da situação-problema

Você trabalha em um escritório de arquitetura que realiza


planejamentos urbanos para algumas cidades já consolidadas. Seu
cargo é a coordenação de projetos e você realizará um trabalho
para uma cidade do interior de seu estado. A cidade praticamente
não possui infraestrutura, então você e sua equipe precisam realizar
um estudo prévio de quais seriam as prioridades do local. Após,
vocês devem realizar um projeto com proposições a curto, médio
e longo prazo. Dessa forma, tomando as cidades da Revolução
Industrial como referência, cuja infraestrutura urbana era escassa ou

U4 - Pré-modernismo 255
não existia, você deverá realizar uma lista de prioridades e quais são
as referências que podem seguir. Em primeiro lugar, quais são as
infraestruturas básicas de uma cidade, para melhoria de qualidade
dos habitantes? Após isto, quais são os elementos e as características
que poderão ser utilizadas como referência dos projetos executados
na Primeira Revolução

Industrial? Vamos lá? Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

As principais infraestruturas que uma cidade deve possuir são:

- Fornecimento de água.

- Tratamento de esgoto.

- Transporte público.

- Fornecimento de luz.

É possível observar que, nos projetos que aconteceram durante


a Primeira Revolução Industrial, estes itens eram primordiais para a
concepção das cidades, evitando, assim, a propagação de doenças,
mantendo o mínimo de higiene e salubridade.

Após isso, o desenho das cidades poderá se dar de diferentes


maneiras, cujos elementos podem ser referenciados a partir dos
modelos idealizados no século XIX.

Dessa forma, podemos apontar as seguintes características:

- Ocupação dos lotes prevendo espaços de área verde.

- Terrenos com frente mínima e lote mínimo.

- Áreas abertas entre os lotes para a passagem transversal do


pedestre, além do leito carroçável.

256 U4 - Pré-modernismo
Faça valer a pena
1. As cidades que foram projetadas após a explosão da Primeira
Revolução Industrial tinham como objetivo suprir algumas necessidades
e criar condições melhores aos habitantes. Neste sentido, o projeto
de ____________ tinha como objetivo seguir os seguintes critérios
urbanísticos:
- Cidade de importância média – aproximadamente 35.000 habitantes.
- A fábrica principal deve estar situada em uma planície, estando próxima
de alguma conexão com um rio.
- Construção de uma grande estrada de ferro, interligando a fábrica e a
cidade.
- Instalações sanitárias, implantadas em áreas mais altas, protegidas dos
ventos frios, voltadas para o sul, cujos terraços deveriam dar para o rio.
- As fábricas, a cidade e as instalações sanitárias deveriam estar isoladas,
permitindo suas futuras ampliações.
Este projeto ficou conhecido como ____________.
A partir do enunciado acima e com base no seu livro didático, assinale a
alternativa que preencha corretamente as lacunas acima:
a) Ebenezer Howard; cidade-jardim.
b) Camillo Sitte; cidade industrial.
c) Tony Garnier; cidade industrial.
d) Arturo Sorio; cidade linear.
e) Haussmann; cidade industrial.

2. A proposta de cidade de Ebenezer Howard (1850-1928) foi a elaboração


da cidade-jardim, na qual Howard buscava resolver problemas de
insalubridade, pobreza e poluição, por meio de projetos cujas cidades se
relacionassem diretamente com o campo.

U4 - Pré-modernismo 257
Figura 4.13 | Projeto da cidade-jardim de Howard

Fonte: <http://equilibrium.org.br/portal/wp-content/uploads/2013/07/7472135714_bac09b66b2_o.
jpg>. Acesso em: 30 out. 2018

Figura 4.14 | Projeto da cidade-jardim de Howard

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/6e24_042-02-07.jpg>. Acesso em: 30


out. 2018.

A respeito da cidade-jardim, classifique V para as sentenças verdadeiras e


F para as falsas:
( ) A cidade-jardim deveria ser autossuficiente, sua direção se daria
por meio de uma sociedade anônima, proprietária dos terrenos, mas não
das moradias.
( ) A cidade-jardim tinha como intenção buscar a relação entre a
cidade e o campo em busca de uma combinação, cujas vantagens seriam
as oportunidades da vida urbana em consonância com a beleza, o prazer e
o descanso do campo.
( ) O modelo da cidade-jardim deveria ser construído ancorado em

258 U4 - Pré-modernismo
cidades já construídas, formatando uma rede de triangulações entre as
cidades.
A partir do texto acima, assinale a alternativa correta:
a) V, V, V.
b) F, F, V.
c) V, F, F.
d) V, V, F.
e) F, V, V.

3. As cidades da Revolução Industrial tinham objetivos muito claros. É


possível verificar nas propostas destas cidades alguns elementos que se
tornaram comuns no movimento moderno, como os fatores higiênicos
(ar, sol, vegetação), definições acerca das edificações em áreas abertas,
separação entre os percursos para os pedestres e as ruas (vias carroçáveis)
e a cidade-parque.
Figura 4.10 | Projeto de quadras

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-city/>. Acesso em: 10


fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 259
Figura 4.11 | Implantação de residências

Fonte: <https://senacatal.wordpress.com/2016/03/06/tony-garnier-from-an-industrial-city/>. Acesso em: 10


fev. 2017.

A partir dos textos e das imagens acima, assinale a alternativa que


corresponda ao modelo de cidade proposto:
a) Cidade industrial.
b) Cidade artística.
c) Cidade-jardim.
d) Cidade linear.
e) Cidade medieval.

260 U4 - Pré-modernismo
Seção 4.3
Movimentos de vanguarda europeus
Diálogo aberto
Olá! Esta é nossa última seção. Caminhamos bastante, não é
verdade? E vimos muitos aspectos importantes acerca da evolução
histórica da arquitetura ao longo dessa jornada. Nessa seção, veremos
o que foram os movimentos de vanguarda, Artes e Ofícios e Art
Nouveau, bem como suas características e elementos construtivos.
Estes movimentos foram demasiadamente importantes, pois
foram a porta de entrada para a transição da arquitetura antiga
para o modernismo. Além disso, muitas de suas características e
elementos são utilizados e referenciados até hoje, na produção de
edifícios pelo mundo. Para adentrarmos mais a estes conteúdos,
vamos relembrar nosso exercício das outras seções, no qual você
foi convidado para realizar uma exposição acerca da arquitetura e
urbanismo na Revolução Industrial. Você já realizou a exposição
sobre as cidades e o espaço urbano após a Primeira Revolução
Industrial. Agora, é o momento de organizar o último espaço da
exposição, que mostrará os movimentos de vanguarda e suas
contribuições para as mudanças nos paradigmas da arquitetura.
Dessa forma, para organizar este espaço, você precisará conhecer:

- O movimento Artes e Ofícios.

- O movimento Art Nouveau e suas vertentes nos países europeus.

- Os edifícios construídos no final do século XIX.

Dessa forma, tendo em vista este conteúdo abordado, você


deverá organizar a terceira e última parte da exposição. O conteúdo
que será exposto são os diferentes edifícios produzidos pelo
movimento Art Nouveau. Quais são os edifícios mais famosos e
seus respectivos arquitetos? Quais são os pontos convergentes
e divergentes no que diz respeito à arquitetura, à estrutura e aos
ornamentos? Vamos lá? Mãos à obra!

U4 - Pré-modernismo 261
Não pode faltar
A Revolução Industrial do século XIX promoveu mudanças no
mundo em todas as escalas. As transformações se deram desde
a mudança nos modos de produção até a concepção de novas
cidades. Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), o ritmo da
industrialização promoveu uma nova ordem social, que se baseava
nos investimentos de empreendimentos mecânicos e comerciais. Os
produtos passaram a ser fabricados em larga escala, com a produção
em série, elevando, assim, o consumo e o padrão de vida material.

No entanto, este movimento produziu uma série de


transformações no modo de trabalhar e morar. As cidades passaram
a receber uma enorme quantidade de pessoas, que migravam do
campo para a área urbana em busca de trabalho. A infraestrutura
precisou ser amplamente estudada, para que o espaço urbano
pudesse oferecer o mínimo de condições para seus habitantes,
como a busca por salubridade, higiene, infraestrutura sanitária de
água e esgoto.

Com todas estas mudanças, alguns profissionais passaram a se


preocupar com a qualidade da produção industrial, tanto de produtos
quanto de projetos de edificações. Fazio, Moffett e Wodehouse
(2011) apontam que alguns arquitetos se sentiram incomodados
com o declínio do padrão artístico nos produtos manufaturados,
tendo em vista que os projetistas que haviam sido educados em um
ensino formal não participavam da criação destes itens, no processo
de produção.

Neste momento, surge o movimento Artes e Ofícios (Arts & Crafts),


cujo objetivo foi o de discutir a perda dos valores sociais e a qualidade
artística de produtos manufaturados, além de buscar uma mudança
que pudesse valorizar o artesão e retomar as origens da produção.

Entre os nomes conhecidos deste movimento está o de William


Morris (1834-1896), que passou a estudar arquitetura após abandonar
o curso de teologia, representando o Artes e Ofícios na Inglaterra.
Um fato importante na trajetória de Morris é, após se casar, ele não
encontrara nenhuma casa que representasse e alcançasse seus
padrões de projeto. Dessa forma, pediu a seu amigo Philip Webb,

262 U4 - Pré-modernismo
para projetar sua casa, que ficou conhecida como a Casa Vermelha
(Figuras 4.17 e 4.18), construída com materiais vernaculares, como
tijolos (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).
Figuras 4.17 | Fachada da Casa Vermelha (1859-1860)

Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 446).

Figura 4.18 | Plantas da Casa Vermelha (1859-1860)

Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 446).

Durante a construção de sua casa, Morris fundou sua empresa


Morris, Marschall, Faulkner and Company no ano de 1862, cujo

U4 - Pré-modernismo 263
intuito era o de criar ateliês onde artistas e artesãos pudessem criar
objetos e produtos, como papéis de parede, tecidos, utensílios
e moveis, utilizando técnicas artesanais (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011).

Exemplificando
O Movimento Artes e Ofícios, mais do que arquitetura, produziu uma
série de produtos, móveis e artefatos. A proposta do movimento,
principalmente de Willian Morris era a de produzir de maneira
vernacular, ou seja, artesanalmente, contrário à produção industrial e
em série da Revolução.

A empresa de Morris criou diversos mobiliários, no qual buscavam


uma manufatura de qualidade, cujo artesão era responsável pelo
início e final da peça, ou seja, uma retomada da produção pré-
Revolução Industrial.

Figura 4.19 | Cadeiras produzidas pela Morris and Company

Fonte: <http://innovacionemartines.blogspot.com.br/2015/02/la-innovacion-un-privilegio-
historico.html>. Acesso em: 12 fev. 2017.

A empresa de Morris possuía uma filosofia de que os trabalhos


manuais promoviam a dignidade e a satisfação dos trabalhadores.

264 U4 - Pré-modernismo
Sua busca era uma alternativa ao sistema de produção industrial,
onde os produtos que eram fabricados em massa eram montados
por trabalhadores que representavam uma peça na engrenagem
da produção. Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), Morris
acreditava que se os trabalhadores possuíssem produtos artesanais
em suas casas, ao menos poderiam se afastar de seus trabalhos sem
“paixão”, cuja intenção era somente a de pagar suas contas.

Reflita
O movimento Artes e Ofícios buscou uma retomada da produção em
série para a produção individual, cujo produtor seria o artista/artesão.
O que você acredita que motivou este movimento, além das questões
“emocionais” colocadas por Morris? Você acredita que nos dias de hoje
temos algum tipo de movimento parecido no Brasil, cuja produção é
feita artesanalmente? Reflita sobre este tema e troque ideias com seus
colegas e professores.

Neste sentido, o movimento de Artes e Ofícios buscava o


bem-estar da classe trabalhadora, além de uma crítica profunda
aos modelos de produção advindos da Revolução Industrial. Este
entusiasmo acabou por patrocinar o Socialismo, no qual Morris
representou um dos pontos de origem do Modernismo europeu,
cuja visão era a de modelar a sociedade (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011). A produção dos ateliês de Morris não foi
suficiente para atender às demandas do mercado industrial, pois
o preço de seus produtos e o prazo de fabricação eram muito
superiores aos que eram produzidos em larga escala nas fábricas.

Inspirado nos movimentos Barroco Tardio, Rococó, Historicismo


Gótico e o Movimento Artes e Ofícios, surge a vertente Art Nouveau.
Este estilo, que era extremamente decorativo, surgiu durante a era
da La Belle Époque (1880-1905). Segundo Benevolo (2014), o termo
Art Nouveau também era conhecido nos movimentos de vanguarda
europeus (Jugendstil, modern style, liberty).

Para Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), independentemente do


nome, o estilo do Art Nouveau abandonava os estilos vitorianos e
neoclássicos, buscando a produção de algo novo, no qual estavam
presentes linhas sinuosas e inspirações orgânicas inspiradas em

U4 - Pré-modernismo 265
formas vegetais e animais. Além disso, os profissionais do estilo Art
Nouveau utilizavam materiais como o ferro e a madeira na produção
de artefatos e móveis, e estrutura metálica em composição com a
alvenaria nas construções.

Os principais nomes do estilo Art Nouveau foram dos arquitetos


Victor Horta, cuja produção se deu na Bélgica, Hector Guimard, cuja
produção aconteceu na França e Antoni Gaudí, com a construção
de edificações na Espanha, mais especificamente em Barcelona.
Estes arquitetos transformaram as necessidades estruturais das
edificações em elementos ornamentados, cujas curvas sobressaiam
à composição (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).

Victor Horta (1861-1947) foi um arquiteto Belga cuja produção se


deu no estilo Art Nouveau. Entre seus primeiros projetos está a Casa
Tassel. Esta edificação, segundo Benevolo (2014), repete um padrão
construtivo de Bruxelas, onde uma construção era encaixada na
outra, apenas com uma fachada voltada para a rua e outra voltada
para o fundo, para um pequeno jardim interno. Sua fachada não
se destaca muito perante as outras, no entanto, seu interior foi
todo projetado no estilo Art Nouveau. Entre os elementos, estão
as portas de vidro colorido, mosaicos com desenhos de flores e,
o mais impressionante, uma escada curvilínea (Figura 4.20 e 4.21),
cujos degraus foram construídos em madeira natural, sustentados
por uma estrutura metálica aparente.
Figura 4.20 | Escada do interior da Casa Tassel

Fonte: <http://www.arquitecturayempresa.es/noticia/arquitectura-art-nouveau-de-victor-horta>. Acesso em:


12 fev. 2017.

266 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.21 | Projeto do interior e escada

Fonte: <http://www.arquitecturayempresa.es/noticia/arquitectura-art-nouveau-de-victor-horta>. Acesso em:


12 fev. 2017.

Na França, Hector Guimard (1867-1942) ficou conhecido por


seus projetos no estilo Art Nouveau. Segundo Fazio, Moffett e
Wodehouse (2011), as obras mais famosas de Guimard foram
realizadas para o sistema de metrô de Paris, com a construção da
entrada da estação Metropolitain (Figura 4.22).
Figura 4.22 | Estação Metropolitain de Hector Guimard

Fonte: <http://www.trekearth.com/gallery/Europe/France/North/Ile-de-France/Paris/photo1160781.htm>.
Acesso em: 12 fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 267
Este projeto foi desenhado com marquises de vidro sobre as
escadas do acesso do metrô, sustentadas por uma estrutura de
ferro com elementos integrados às formas vegetais. Os padrões
eram inspirados em folhas e plantas, no qual Guimard mescla o
ornamento decorativo e a estrutura funcional.

Outro nome importante do estilo Art Nouveau é o arquiteto


Antoni Gaudí (1852-1926), cuja produção foi uma mistura de
influências do estilo medieval e de novos experimentos. Gaudí
realizou a maior parte de suas obras na cidade de Barcelona, na
Espanha, cuja edificação mais famosa é a Catedral da Sagrada
Família (Figura 4.23 e 4.24). Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse
(2011), o projeto de Gaudí para a Sagrada Família possuía algumas
características góticas, como as sugestões estruturais, no entanto,
seu estilo se mistura às características do Art Nouveau. “Embora suas
formas curvilíneas tridimensionais, a decoração floral e os planos
plásticos e ondulantes se aproximem mais da Art Nouveau do que
qualquer outro movimento estilístico, a obra de Gaudí, em última
análise, resiste à categorização (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE,
2011, p. 453).

Figuras 4.23 | Fachada da Sagrada Família

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/natividade-fachada-da-sagrada-fam%C3%ADlia-em-barcelona-
catedral-gm518030534-89793427>. Acesso em: 17 mar. 2017.

268 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.24 | Interior da Sagrada Família

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/sagrada-familia-gm520244021-50151438>. Acesso em: 17 mar.


2017.

É possível perceber que, embora Gaudí tenha utilizado elementos


de vários estilos na construção da Sagrada Família, as características
do Art Nouveau estão bastante presentes nas curvas e motivos
florais, no interior da edificação.

As interpretações do Art Nouveau e suas características


especificas se deram em diversos países e de diferentes
maneiras. Assim como Gaudí, outro arquiteto também ficou
conhecido por sua linguagem própria da arquitetura. Charles
Rennie Mackintosh (1868–1928) era um arquiteto escocês,
que trabalhou principalmente em Glasgow, desenvolvendo um
estilo único relacionado ao Art Nouveau. De acordo com Fazio,
Moffett e Wodehouse (2011), as influências de Mackintosh para
a construção de suas edificações são as curvas encontradas na
natureza, além da arquitetura dos senhores feudais escoceses e
a decoração delicada da arte celta. Sua obra mais conhecida é
a Escola de Arte de Glasgow (1897-1909) e, segundo Benevolo
(2014), o arquiteto oferece uma nova interpretação do estilo Art
Nouveau, no qual arabescos lineares e motivos copiados das
formas naturais são utilizados como meio para a qualificação
espacial dos ambientes. “Um relacionamento novo, mais direto,

U4 - Pré-modernismo 269
é estabelecido [...] e os acréscimos em madeira ou metal,
dobrados com uma fantasia gráfica encantadora” (BENEVOLO,
2014, p. 286). As fachadas e o interior da biblioteca da Escola
de Arte de Glasgow (Figura 4.25) são os espaços mais famosos,
no qual Mackintosh projetou os móveis e as luminárias, “com
o objetivo de harmonizá-los com o padrão dominante de
horizontais e verticais das janelas e do balcão do mezanino”
(FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 454).
Figura 4.25 | Fachada da Escola de Arte de Glasgow

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/escola-de-arte-de-glasgow-gm453181311-25698996>. Acesso


em: 10 fev. 2017.

270 U4 - Pré-modernismo
Conforme abordado, os movimentos do Art Nouveau
aconteceram de diferentes formas em diferentes países europeus.
É o caso da Áustria, cujo movimento com as características do Art
Nouveau ficou conhecido como Secessão de Viena. Este movimento
era uma associação composta por artistas, que discutiam os novos
estilos e se opunham ao conservadorismo predominante na Áustria.
Seu principal membro, mas não fundador, foi o arquiteto Otto
Wagner (1841-1918), cuja formação era da arquitetura neoclássica,
mas, após ingresso na vida acadêmica, modificou sua filosofia,
afastando-se do estilo de sua formação e aproximando-se da
expressão moderna, mais adequada às necessidades de sua época
(FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).

Otto Wagner, durante sua carreira, produziu obras que refletiram


características diversas, nas quais buscava uma nova arquitetura,
livre de qualquer imitação, levando sempre em conta as técnicas
modernas (BENEVOLO, 2014). Suas obras mais conhecidas são a
Estação de metrô Karlsplatz (Figura 4.26) e a Caixa Econômica dos
Correios (Figura 4.27), em Viena.

Figura 4.26 | Entrada da estação de metrô Karlsplatz

Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/entrada-da-esta%C3%A7%C3%A3o-de-metr%C3%B4-karlsplatz-
gm508577926-85346015>. Acesso em: 10 fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 271
Figura 4.27 | Interior da Caixa Econômica dos Correios

Fonte: <https://www.ottowagner.com/assets/home/intro-startseite-00.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2017.

Segundo Benevolo (2014), Otto Wagner entendia a renovação da


linguagem arquitetônica, mas não se afastava dos esquemas mais
usuais de composição, como os planos simétricos, reconduzindo
os efeitos plásticos para as superfícies ao invés da estrutura.

Os arquitetos Joseph Olbrich (1869-1908) e Joseph Hoffmann


(1870-1956) foram alunos e os maiores discípulos de Otto Wagner,
cujos estudos se deram na Academia de Arte de Viena.

Joseph Olbrich aderiu à Secessão de Viena e construiu o edifício


(Figura 4.28), que serviu para receber as exposições do grupo. O
arquiteto projetou a edificação, o mobiliário, a decoração, os
jardins e até mesmo a publicidade para a divulgação do espaço
(BENEVOLO, 2014).

272 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.28 | Edifício da Secessão, Viena (1898-1899)

Fonte: Fazio, Moffett e Wodsehouse (2011, p. 459).

Já Joseph Hoffmann possuía uma inclinação para a decoração,


criando vários mobiliários. Entre seus edifícios mais famosos está
o Palacete Stoclet (Figura 4.29), cujos volumes são decompostos
em quadrados, circundados por listras escuras. Segundo Benevolo
(2014), o movimento de Hoffmann “trata-se de um desvio calculado
das regras de perspectiva, baseado em uma referência a certos
aspectos menos divulgados da tradição” (BENEVOLO, 2014, p. 298).
Figura 4.29 | Palacete Stoclet, Bruxelas (1911)

Fonte: <http://chungweilee.tumblr.com/page/2>. Acesso em: 10 fev. 2017.

U4 - Pré-modernismo 273
O arquiteto Adolf Loos (1870-1933) iniciou sua carreira ligado à
Secessão de Viena, mas logo se afastou desta vertente. Segundo
Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), logo após sua formação, Loos
viajou aos Estados Unidos e teve contato com as obras de Louis
Sullivan e seu ensaio sobre o ornamento na arquitetura, cujo tema era
o afastamento da ornamentação, para que o arquiteto pudesse ter
um pensamento claro e limpo sobre as edificações. Assim, logo após
sua volta a Viena, Loos leva a afirmação de Sullivan ao pé da letra, no
qual começou a se opor à inclusão do ornamento na arquitetura. Para
Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 473), “tratava-se de uma posição
difícil de manter na Secessão de Viena, visto que a Art Nouveau possui
um senso incrivelmente refinado de ornamentação”.

Em 1908, seu texto mais famoso foi lançado, o manifesto


Ornamento e Crime. Neste texto, Loos afirma que o arquiteto
deve abandonar definitivamente os ornamentos, pois entende que
a ornamentação afasta o arquiteto de sua função mais primordial,
que é projetar os espaços. Sua obra mais famosa é a Casa Steiner
(Figura 4.30 e 4.31), cujo projeto elimina todo e qualquer elemento
que não seja estrutural. Segundo Benevolo (2014), são blocos de
alvenaria lisa e recortes de janelas.
Figura 4.30 | Casa Steiner

Fonte: <https://pt.wikiarquitectura.com/constru%C3%A7%C3%A3o/casa-steiner/>. Acesso em: 30 out. 2018.

274 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.31 | Projeto Casa Steiner

Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 474).

Outro nome conhecido dentro da vertente do Art Nouveau, foi


o arquiteto Auguste Perret (1874-1954). O arquiteto era filho de
um construtor e, por volta de 1905, fundou sua empresa A & G
Perret Architects, junto a seu irmão Gustave (BENEVOLO, 2014).
Uma de suas primeiras obras tornou-se importante pelo método
construtivo que o arquiteto utilizou. O terreno tratava-se de um
pequeno vão entre outras construções, cuja largura era maior que
a profundidade. O projeto do edifício residencial, da Rue Franklin,
número 25 (Figura 4.32) se deu da seguinte forma:

- Aberturas sem prolongamentos para as janelas.

- Dispor os cinco cômodos voltados para a rua, uma vez que não
havia janela nas laterais (Figura 4.41).

Segundo Benevolo (2014), seria impossível construir um edifício


com estas características com alvenaria tradicional. Dessa forma,
Perret projetou a edificação com a estrutura em concreto armado.
O arquiteto, de acordo com Benevolo (2014), acreditava que
esconder a estrutura do edifício era um dualismo, uma vez que toda
construção é um organismo que deve ser tratado de forma igual e

U4 - Pré-modernismo 275
única. Assim, Perret evidenciou a estrutura de concreto armado na
fachada, distinguindo-o de seu fechamento, formado por painéis
revestidos com desenhos florais.
Figura 4.32 | Fachada do Edifício número 25 da Rue Franklin, Paris

Fonte: <https://www.mimoa.eu/images/31876_l.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2017.

Figura 4.33 | Planta do Edifício número 25 da Rue Franklin, Paris

Fonte: <https://maxwellarch381.wordpress.com/2012/12/16/perret-concreteley-modern/
attachment/4/#main>. Acesso em: 10 fev. 2017.

276 U4 - Pré-modernismo
Assimile
Os arquitetos do final do século XIX exploraram as capacidades
plásticas dos materiais produzidos na Revolução Industrial, conhecido
como Art Nouveau. Cada local teve uma abordagem distinta, houveram
escolas cuja produção foi mais artística e outras cuja produção ainda
se baseava em preceitos de estilos antecessores (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011).

Pesquise mais
Neste artigo, a autora compila diversas obras e arquitetos do final
do século XIX, cujos estilos de construção se deram no movimento
Artes e Ofícios e Art Nouveau. Apresenta o diálogo da arquitetura
com as características encontradas em cada movimento e relaciona
a produção dos edifícios aos projetos e escolhas construtivas. Esta
leitura vale a pena, pois você encontrará um conteúdo bastante rico,
complementando seu livro didático!

GONSALES, Célia Helena Castro. Ofício, arte e ornamento na arquitetura


moderna. Ari Marangon, arquiteto artesão. Arquitextos, São Paulo, ano
15, n. 172.01, set. 2014. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/
revistas/read/arquitextos/15.172/5300>. Acesso em: 17 mar. 2017.

Sem medo de errar

Para organizar a última fase da exposição que você está


organizando, você deverá apresentar os principais edifícios do
movimento Art Nouveau, comparando-os e apontando suas
convergências e divergências.

É importante lembrar que o movimento Art Nouveau se deu


de diferentes formas nos países europeus, cada local possuiu uma
motivação e formatações distintas para o estilo. Dessa forma, será
possível comparar as seguintes edificações:

Edifício: Casa Tassel

Arquiteto: Victor Horta

U4 - Pré-modernismo 277
Características:

- Construção com fachada pouco ornamentada.

- Interior projetado com muitas curvas, com referências florais.

- Ferro e concreto utilizados como estrutura e também como


ornamento.
Figura 4.20 | Escada do interior da Casa Tassel

Fonte: <http://www.arquitecturayempresa.es/noticia/arquitectura-art-nouveau-de-victor-horta>. Acesso em:


12 fev. 2017.

Figura 4.21 | Projeto do interior e escada

Fonte: <http://www.arquitecturayempresa.es/noticia/arquitectura-art-nouveau-de-victor-horta>. Acesso em:


12 fev. 2017.

278 U4 - Pré-modernismo
Edifício: Sagrada Família

Arquiteto: Antoni Gaudí

Características:

- Referências medievais na estrutura.

- Interior com motivos florais, com referências em plantas e na


natureza.

- Elementos com muitas curvas em seu interior.


Figuras 4.23 | Fachada da Sagrada Família

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/natividade-fachada-da-sagrada-família-em-barcelona-
catedral-gm518030534-89793427>. Acesso em: 30 out. 2018.

Figura 4.24 | Interior da Sagrada Família

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/sagrada-familia-gm520244021-50151438>. Acesso em: 30 out.


2018.

U4 - Pré-modernismo 279
Edifício: Escola de Arte de Glasgow

Arquiteto: Charles Rennie Mackintosh

Características:

- Referências tradicionais dos estilos mais conservadores dos


senhores feudais e arquitetura celta.

- Utilização de madeira como material principal dos interiores.

- Elementos com poucas curvas, mas detalhes que remetem a


motivos florais.
Figura 4.25 | Fachada da Escola de Arte de Glasgow

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/escola-de-arte-de-glasgow-gm453181311-25698996>.
Acesso em: 30 out. 2018.

280 U4 - Pré-modernismo
Quadro 4.2 | Materiais, Refer6encias e Formas de construções do período Art
Nouveau

Escola de Arte de
Casa Tassel Sagrada Família
Glasgow

Materiais
Ferro e concreto. Pedra, vidros e ferro. Madeira.
predominantes

Elementos florais, Estilos feudais e celtas,


Elementos Florais e da
Referências arquitetura medieval com alguns motivos
natureza.
na estrutura. florais.

Formas curvas e Formas medievais


Formas retas em estilo
Formas fachada menos na estrutura; formas
mais conservador.
elaborada. curvas no interior.

Fonte: elaborado pela autora.

Além dos materiais e sistemas construtivos há que se considerar


a plástica e o design de cada uma das obras.

Avançando na prática
Artesanato x Industrialização

Descrição da situação-problema

Você é estudante de arquitetura e urbanismo e realiza


um estágio em um centro acadêmico de pesquisas sobre as
vanguardas europeias. Sua agenda é dividida em bimestres
e em cada um deles você deve realizar uma pesquisa sobre
determinado estilo arquitetônico. Neste bimestre, seu tema de
pesquisa será o movimento

Artes e Ofícios e suas características. Neste sentido, quais são


os elementos que caracterizam este movimento? Quem é seu
principal representante? Quais são as principais diferenças que o
estilo propunha? Mãos à obra!

Resolução da situação-problema

Nesta fase de sua pesquisa, você deverá realizar um levantamento


a respeito do movimento Artes e Ofícios e suas características. Este
estilo possuiu como principal representante o arquiteto Willian
Morris, que ficou conhecido por sua vasta produção de objetos de
decoração e mobiliário.

U4 - Pré-modernismo 281
A empresa de Morris criou diversos mobiliários, buscava uma
manufatura de qualidade, cujo artesão era responsável pelo início e final
da peça, ou seja, uma retomada da produção pré-Revolução Industrial.
Figura 4.19 | Cadeiras produzidas pela Morris and Company

Fonte: <http://innovacionemartines.blogspot.com.br/2015/02/la-innovacion-un-privilegio-historico.html>.
Acesso em: 12 fev. 2017.

As principais características deste movimento e suas diferenças a


respeito da Revolução Industrial eram:

- Crítica da fabricação industrial dos produtos, com o discurso de


que estes produtos perdem qualidade.

- Afastamento do trabalhador do produto que ele ajuda a fabricar,


uma vez que a produção é em série e cada trabalhador realiza
somente uma etapa na produção.

- Retorno do artesão na produção.

- Retorno da produção vernacular.

No entanto, esta postura possuía alguns percalços, sendo eles:

- Altos custos de produção, devido ao tempo e material


empregados.

282 U4 - Pré-modernismo
- Pequena disputa de mercado com os produtos industrializados,
uma vez que as fábricas produziam em maior quantidade com um
menor custo.

- Falta de reconhecimento do trabalho manual e artístico dos


produtos.

Faça valer a pena


1. Com as mudanças que a Revolução Industrial promoveu na fabricação
de produtos, alguns profissionais passaram a se preocupar com a
qualidade desta produção, discutiam o declínio do padrão artístico nos
produtos manufaturados, tendo em vista que os projetistas que haviam
sido educados em um ensino formal não participavam da criação destes
itens, no processo de produção. Neste sentido, para estes profissionais, o
ideal de produção seria a retomada da fabricação por meio de artesãos e
artistas.

Assinale a alternativa que corresponda ao movimento descrito acima:


a) Art Nouveau.
b) Manufatura.
c) Historicismo.
d) Artes e Ofícios.
e) Neoclassicismo.

2. Os movimentos do Art Nouveau aconteceram de diferentes formas em


diferentes países europeus. É o caso da Áustria, cujo movimento com as
características do Art Nouveau ficou conhecido como Secessão de Viena.
Este movimento era uma associação composta por artistas, que discutiam
os novos estilos e se opunham ao conservadorismo predominante na
Áustria. Um dos edifícios mais conhecidos da Secessão de Viena é a
edificação que servia para as exposições do grupo.

U4 - Pré-modernismo 283
Figura 4.29 | Edifício da Secessão, Viena (1898-1899)

Fonte: Fazio, Moffett e Wodsehouse (2011, p. 459).

Assinale a alternativa que corresponde ao arquiteto representante da


Secessão de Viena, que projetou o edifício de exposições, conforme
indicado acima:

a) Adolf Loos.
b) Joseph Olbrich.
c) Joseph Hoffmann.
d) Otto Wagner.
e) Augusto Perret.

3. _________ foi um arquiteto Belga cuja produção se deu no estilo Art


Nouveau. Entre seus primeiros projetos está ___________. Esta edificação
repete um padrão construtivo de Bruxelas, onde uma construção era
encaixada na outra, apenas com uma fachada voltada para a rua e outra
voltada para o fundo, para um pequeno jardim interno. Sua fachada não se
destaca muito perante as outras, no entanto, seu interior foi todo projetado
no estilo Art Nouveau. Entre os elementos, estão as portas de vidro
colorido, mosaicos com desenhos de flores e, o mais impressionante, uma
escada curvilínea cujos degraus foram construídos em madeira natural,
sustentados por uma estrutura metálica aparente.

284 U4 - Pré-modernismo
Figura 4.20 | Escada do interior da Casa Tassel

Fonte: <http://www.arquitecturayempresa.es/noticia/arquitectura-art-nouveau-de-victor-horta>. Acesso em:


12 fev. 2017.

Assinale a alternativa que corresponda corretamente ao preenchimento


das lacunas acima, na ordem indicada:

a) Antoni Gaudí; Sagrada Família.


b) Adolf Loos; Casa Tassel.
c) Joseph Hoffmann; Palacete Stoclet.
d) Charles Rennie Mackintosh; Escola de arte.
e) Victor Horta; Casa Tassel.

U4 - Pré-modernismo 285
Referências
ANDRADE, Liza Maria Souza de. O conceito de Cidades-Jardins: uma adaptação
para as cidades sustentáveis. Arquitextos, São Paulo, ano 4, n. 042.02, nov. 2003.
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.042/637>.
Acesso em: 17 mar. 2017.

ANDRADE, Patrícia Alonso de. Quando o design exclui o outro. Dispositivos espaciais
de segregação e suas manifestações em João Pessoa, PB. Arquitextos, São Paulo,
ano 12, n. 134.05, jul. 2011. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/
read/arquitextos/12.134/3973>. Acesso em: 30 out. 2018.

BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva,


2014.

FIGUEROA, Mário. Habitação coletiva e a evolução da quadra. Arquitextos, São


Paulo, ano 6, n. 069.11, fev. 2006. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/
revistas/read/arquitextos/06.069/385>. Acesso em: 17 mar. 2017.

FAZIO, Michael; MOFFET, Marian; WODEHOUSE, Lawrence. A história da arquitetura


mundial. 3. ed. Porto Alegre: Amgh, 2011.

MUXI, Zaida. Episódios da transformação urbana de Barcelona. Arqtexto, Porto


Alegre, v. 17, 2011, p. 104-123.

PEDROSO, Marialice Faria. Sobre a estética das cidades. Camillo Sitte e a Der
Stadtebau. Arquitextos, São Paulo, ano 5, n. 058.04, mar. 2005. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/488>. Acesso em: 17
mar. 2017.

PEREIRA, Renata Baesso. Tipologia arquitetônica e morfologia urbana. Uma


abordagem histórica de conceitos e métodos. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n.
146.04, jul. 2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/
arquitextos/13.146/4421>. Acesso em: 17 mar. 2017.

RONCAYOLO, Marcel. Mutações do espaço urbano: a nova estrutura da Paris hauss-


manniana. Tradução de Eveline Bouteiller Kavakama. Revista do Programa de Estu-
dos Pós-Graduados de História, São Paulo, v. 18, maio 1999. Disponível em: <http://
revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/10978/8098>. Acesso em: 10 fev.
2017.

SENNETT, Richard. A flexible city of strangers. Le Mond Diplomatique, fev. 2001. Disponível
em: <https://mondediplo.com/2001/02/16cities>. Acesso em: 20 mar. 2017.
Anotações
Anotações

Você também pode gostar