PE-TP - 2 - Carta Ao Professor André

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LICENCIATURA EM HISTÓRIA

PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS (PE:TP)

POSTAGEM 2
ATIVIDADE 2 - CARTA AO PROFESSOR ANDRÉ

ANA NERY TAUMATURGO DE MORAES 1936831


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São Felix do Araguaia


2021
Água Boa – Mato Grosso, 24 de março de 2021

Olá Professor André,

Como estás aí em Minas Gerais? Espero que o senhor esteja tudo bem em boas
condições de saúde!

Caro Professor André, eu o admiro pelo belo trabalho que o senhor vem
desempenhando durante esses 9 anos de profissão, sei que em seu modo de trabalhar em
sala de aula o senhor sempre buscou uma comunicação jovem e próxima para se
relacionar com os alunos, isso permitiu que até então o senhor fosse admirado e
respeitado pela maioria dos alunos. Estou consciente de que o senhor já trabalhou em
várias escolas e já lidou com diversas realidades escolares, sociais e personalidades bem
difíceis em sala de aula. E se tratando da sua escola atual realmente o senhor tem um
grande desafio frente a diversidades sociais e econômicas enfrentadas também por
vários alunos.

Consciente professor de sua experiência e de minha pequenez diante da sala de


aula, é com muito cuidado e carinho que lhe escrevo estas poucas páginas.

Professor André, ao assistir as aulas de práticas de ensino, percebi que a


concepção de ser professor que eu tinha em mente desmoronou... falo assim por que
entendi que ser professor não o é só em sala de aula, mas sim em todo os lugares aonde
eu for, não importa onde eu vá continuarei sendo professora. Na minha lógica de
estudante várias vezes pensei que a vida de professor era fácil, era apenas estudar o
conteúdo a ser passado, buscar alguns métodos de fixação dos conteúdos para os alunos
e depois palestrar a aula, e assim terminaria o dia de professor. Mas com falei, ao
estudar as práticas de ensino entendi que ser professor é bem mais complicado, pesado e
desafiador do que qualquer um possa imaginar, e exercer essa linda profissão com êxito
exige de cada um dos docentes uma constante reciclagem, uma constante busca para
ressignificar pessoalmente o ser professor.

Na verdade, aprendi que ser professor é ensinar o aluno a ser um cidadão


de bem, e ensinar dentro e fora de sala de aula. Assim o professor tem em suas mãos o
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poder de tornar a vida de qualquer aluno diferente, de inspirá-lo a ser o que quiser ser,
de fazer com que o aluno deseje ser uma pessoa melhor, um cidadão melhor, de inspirar
cada aluno a correr em busca da realização dos seus sonhos.

O professor tem condições de ao lidar com o aluno perceber qual


comportamento é normal e qual comportamento está estranho, pois ele está mais tempo
em convívio com os alunos do que os responsáveis estão com cada um aluno.

No entanto professor, percebo que com o passar do tempo é quase que natural o
ato de ensinar entrar na rotina, pois já se conhece as várias manhas e desafios que os
alunos podem trazer e assim o professor consegue, com uma bela jogada de cintura,
contornar várias situações adversas. Mas com o passar do tempo, também fica mais fácil
parar de prestar atenção e dar importância a detalhes e sinais de que os alunos passam
como pedidos de socorro escondidos atrás de uma carapaça extremamente dura, pedindo
para ser ajudados, pedindo para que alguém se importe em ajudá-los a lutar por um
futuro melhor. Os alunos precisam muito professor não apenas de uma assistência
social, mas de pessoas que se importem verdadeiramente com eles, com os sonhos e
desafios que eles enfrentam e que estejam dispostas a ouvi-los, ampará-los, e inspirá-los
a ser e fazer o melhor.

É por esse motivo que todos percebem que realmente o professor não é
valorizado como deveria... para ser um excelente professor se faz necessário um
desdobrar intenso de cada docente. Mas o ponto positivo professor André, é que o
senhor não está sozinho nessa sua luta. O dever de cuidar de cada aluno e de
transformar a vida de cada um é um dever compartilhado entre o senhor, o corpo
docente da escola, os pais e a comunidade. Se todos trabalharem juntos em prol de cada
aluno fica muito mais fácil e prazeroso o exercer a profissão.

Depois de entender tudo isso professor André, percebi o quanto o Carlos foi
ignorado nas escolas onde ele passou. Percebi que o senhor acabou se tornando vítima
do sistema assim como o Carlos, pois se esse confronto não ocorresse com o senhor
acabaria ocorrendo com qualquer outro professor que ousasse pedir para que o Carlos se
comporta-se em sala de aula.

Mas o que me permite ficar confortável ao escrever essa carta é saber que o
senhor tem nas mãos poder para mudar essa situação, e não só o senhor, mas todos os
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professores do Carlos, a direção da escola e a comunidade tem condições de ajudar ao


Carlos e de demonstrar que vocês se importam com ele e com a felicidade dele.

Ignorá-lo, não conversar com ele, não o tratar com respeito, ficar com medo dele
e se afastar, só irá reforçar o comportamento agressivo do Carlos. É necessário
professor que haja uma aproximação verdadeira e intencional com o Carlos na tentativa
de demonstrar a ele que o senhor, a escola e a comunidade se importam com ele e que
gostariam que ele fosse feliz.

Se a primeira escola que o recebeu, quando ele começou a demonstrar sinais de


problemas sociais e pessoais, tivesse se chegado mais perto do Carlos, se o corpo
docente juntos com a comunidade, percebessem as necessidades do Carlos e
procurassem demonstrar verdadeiro interesse no bem estar dele, se permitissem que o
Carlos pudesse ter certeza que não estaria totalmente só e que apesar de não ter uma
estrutura familiar poderia contar com a escola e a comunidade para o ajuda-lo, ampará-
lo, o Carlos provavelmente tomaria outro rumo em sua vida. Ou na pior das hipóteses,
se não tomasse outro rumo, ele pelo menos demonstraria mais respeito por quem
demonstrou amor e atenção para ele, mesmo sendo ele uma criança, condenada aos
olhos da maioria, marginalizada.

É para incentivá-lo e motivá-lo a cuidar do Carlos e de outros alunos com esse


mesmo perfil que lhe escrevo esta carta professor André. Sei que isso demandará do
senhor muito mais esforço e sabedoria do que apenas ministrar uma aula, sei do
desgaste emocional que o senhor tem passado, mas lhe peço que não desista do Carlos e
não desista de ser o professor excelente que o senhor tem sido até aqui.

Caro professor André, deixo junto com essa carta os meus mais sinceros votos
de felicidade e realização profissional. Que o senhor seja uma fonte de boas inspirações
para a vida de cada aluno e que em você os alunos enxerguem o cidadão que eles devem
se tornar.

Com apreço: Ana Nery Taumaturgo de Moraes

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