Este diálogo entre pai e filha explora o significado do verbo "goiabar", inventado pelo pai para descrever a essência de uma goiabeira. Através de perguntas, a filha tenta entender o que significa "goiabar" e porque é necessário inventar este verbo. No final, ela compreende que "goiabar" refere-se ao processo pelo qual a goiabeira aproveita a luz, o tempo e as próprias goiabas caídas para continuar crescendo e existindo.
Este diálogo entre pai e filha explora o significado do verbo "goiabar", inventado pelo pai para descrever a essência de uma goiabeira. Através de perguntas, a filha tenta entender o que significa "goiabar" e porque é necessário inventar este verbo. No final, ela compreende que "goiabar" refere-se ao processo pelo qual a goiabeira aproveita a luz, o tempo e as próprias goiabas caídas para continuar crescendo e existindo.
Este diálogo entre pai e filha explora o significado do verbo "goiabar", inventado pelo pai para descrever a essência de uma goiabeira. Através de perguntas, a filha tenta entender o que significa "goiabar" e porque é necessário inventar este verbo. No final, ela compreende que "goiabar" refere-se ao processo pelo qual a goiabeira aproveita a luz, o tempo e as próprias goiabas caídas para continuar crescendo e existindo.
Este diálogo entre pai e filha explora o significado do verbo "goiabar", inventado pelo pai para descrever a essência de uma goiabeira. Através de perguntas, a filha tenta entender o que significa "goiabar" e porque é necessário inventar este verbo. No final, ela compreende que "goiabar" refere-se ao processo pelo qual a goiabeira aproveita a luz, o tempo e as próprias goiabas caídas para continuar crescendo e existindo.
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Vaz, N & Faria, A.M.C. Goiaba, Goiabeira. In: Guia Incompleto de Imunobiologia.
Como se o organismo importasse. Belo Horizonte: COOPMED, p.
Pai: Há muito tempo penso em lhe contar uma história chamada assim: ”Goiaba, goiabeira”. Filha: Seria melhor “Goiaba, goiabada”. P: Não, esse título seria o avesso do que eu queria dizer. Eu queria dizer ”goiaba” do verbo “goiabar”. E a goiabada em que você está pensando não é do verbo goiabar. Quer dizer, é, mas muito indiretamente. F: Mas eu gosto muito de goiabada e nunca ouvi falar neste verbo “goiabar”. Foi você quem inventou? P: Foi. Mas é um verbo muito necessário. A gente só deve inventar palavras quando elas forem muito necessárias, indispensáveis mesmo. F: E como se conjuga esse verbo “goiabar”? Eu goiabo, tu goiabas… P: Não, não, só goiabeiras goiabam. Pra goiabar, você tem que nascer goiabeira e depois usar à vontade duas coisas que o planeta tem (ou tinha) de sobra: luz e tempo. E uma chuvinha aqui, outra ali. F: Luz e tempo? Pai pára de brincadeira. P: Eu nunca fui tão sério. Você pode ver uma goiabeira goiabando. É só olhar pra ela. Um dia, eu olhei e vi. F: E como é que ela fazia para goiabar? P: Quer dizer, existia como uma goiabeira. F: “Goiabar” é a mesma coisa que “ser uma goiabeira”? P: É ser assim como uma goiabeira, do jeitinho dela. F: Quer dizer que eu posso ser… quer dizer, fazer de conta que eu sou uma goiabeira e aí eu estaria “goiabando”? P: Humm…vejamos. O que é que você faria? F: Deixa ver. Eu balançaria com o vento, assim, e enfiaria minhas raízes na terra preta, assim, e ia sempre crescendo brotinhos bem verdinhos, assim, e dava uma sombra bem escura, mas, principalmente, eu dava muita goiaba: pros passarinhos e pras mosquinhas, pras crianças e pra Mamãe fazer goiabada. Não é assim? P: É. Também é. Achei seu jeito de goiabar muito bonito. Mas me conte mais: como é que você pensou nisto? F: Bem, eu pensei: a goiabeira existe pra dar sombra, pra ser verde, pra dar goiabas – pros passarinhos e mosquinhas e pra gente fazer goiabada … P: Não, não é assim. A goiabeira apenas goiaba. F: Não, Pai. Ela faz muito mais do que dar goiaba. Ela… P: Eu não estou dizendo que ela dá goiabas. Estou dizendo que ela “goiaba”, do verbo goiabar. F: Pai, você está brincando com as palavras de novo e você mesmo me disseque a gente não deve inventar palavras – a não ser que seja muito, muito, muito necessário – como é mesmo? – in-dis-pen-sá-vel! P: Eu sei, eu sei. Agora é indispensável. F: Por que, Pai?P: Porque a goiabeira não existe pra nada. Quando eu digo que ela dá goiabas, dá sombra, dá verde, eu estou confundindo o que a goiabeira faz com o que outras criaturas fazem dela ou com ela; estou confundindo o que ela faz com o que ela é. F: E o que é ela, Pai? P: Eu já lhe disse: uma goiabeira é uma máquina de goiabar. F: Não, Pai. Você não disse isso! E se dissesse, eu ia ficar muito triste. Chamar uma goiabeira, tão verdinha, de máquina! Puxa, Pai, você… P: Desculpe, não estou me referindo ás máquinas de vidro e metal. Escute, você já encontrou uma goiabeira completamente sozinha no mato? F: Já. Uma vez no sítio da tia Inez, eu passei lá por trás, onde ninguém vai e achei uma goiabeira enorme, carregadinha e…. P: Já sei, você se encheu de goiaba. Foi, comi à bessa, trouxe uma porção pra casa…e Mamãe fez goiabada. Você lembra? P: É possível. Mas, me conte: como é que estava esta goiabeira que você encontrou no mato? F: Ela estava assim perto do barranco… P: O que é que ela estava fazendo? F: Ora, Pai, o que é que uma goiabeira pode fazer? Ela fica lá, plantada, sei lá,balançando com o vento e esperando a chuva… P: …e crescendo as raízes e dando novos brotos verdinhos … F: …e dando goiaba! Tinha muita goiaba madura, grandona assim, amarelinha! P: E tinha goiaba verde? F: Tinha muita – mas essas eu não como porque dá dor de barriga. P: Eu sei. E tinha goiaba no chão, podre, preta. F: Pai, tinha sim. Mas estas a gente nem olha. P: A gente não, mas tem muito bichinho que gosta: mosquinha, minhoca, passsarinho…mesmo a própria goiabeira, não é? F: A própria goiabeira? Como é isso, Pai? P: A goiabeira usa as goiabas que ela produz de novo, como uma espécie de adubo, pra crescer. Você não viu um monte de goiabas podres no chão e algumas já bem escuras e pretas… F: … e cheia de bichinho de goiaba… P: É, cheia de bichinho sim, mas uma boa parte daquelas goiabas não são os bichinhos que aproveitam: é a própria goiabeira. F: Goiabeira come goiaba, Pai? P: Não, não come. Mas aproveita de novo uma boa parte das goiabas que caem e não são aproveitadas por passarinhos e bichinhos e… F: …minhocas. P: É, minhocas. F: É por isto que você diz que a goiabeira “goiaba”? “Goiabar” é isto? Quer dizer: aproveitar as goiabas que caem no chão? P: Também é isso. Mas você mesmo disse que a goiabeira dá sombra e dá flores – você esqueceu das flores – dá goiaba… F: Pai, você mesmo disse que não é assim! P: Eu só disse que não devemos confundir o que a goiabeira. Faz com o que ela é. F: E os passarinhos, Pai? Passarinhos são máquinas de passarinhar? São, não é? P: São. F: Eu entendo o que você quer dizer, Você quer dizer que se a goiabeira não “goiabasse”, não aproveitasse as goiabas do chão…e a luz e o tempo e não desse raízes e brotos e não crescesse e não fizesse sombra…não serviria de nada nem para os passarinhos e os bichinhos…Se ela não goiabasse, deixava de ser goiabeira. Morria. Pai, da próxima vez que eu chegar perto de uma goiabeira toda goiabada, eu vou falar bem baixinho prá ela: “Goiabando aí, hein!”.