Módulo II - Recebimento de Denúncias Pela Ouvidoria
Módulo II - Recebimento de Denúncias Pela Ouvidoria
Módulo II - Recebimento de Denúncias Pela Ouvidoria
➢ Gestão em Ouvidoria;
➢ Controle Social;
➢ Introdução à Gestão de Processos;
➢ Ética e Serviço Público;
➢ Acesso à Informação;
➢ Resolução de conflitos aplicada ao contexto das Ouvidorias;
➢ Defesa do Usuário e Simplificação; e
➢ Tratamento de Denúncias em Ouvidoria.
Módulo de encerramento
1. BOAS-VINDAS .................................................................................................. 2
2. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS............................................................................ 3
1. BOAS-VINDAS
Nesse sentido, quando estiver diante de uma manifestação de ouvidoria, o agente público
deverá promover uma análise empática da questão trazida pelo cidadão, com o objetivo de
entender e melhor traduzir a questão, para então tratá-la ou encaminhá-la, quando necessário,
para a unidade administrativa ou instituição externa competente. A ouvidoria é a unidade
institucional capaz de captar, decifrar e canalizar as aspirações do cidadão.
Ao analisar uma denúncia, a equipe da ouvidoria deverá identificar se o seu conteúdo permite
que os fatos possam ser apurados pela instituição. Esse é o momento da análise preliminar.
O trabalho a ser desempenhado pela equipe da ouvidoria não deve ser confundido com o das
áreas de apuração. Cabe à ouvidoria, por ocasião da análise preliminar, coletar a maior
quantidade possível de elementos de convicção para, primeiramente, formar juízo quanto à
aptidão da denúncia para apuração. Desta forma, na hipótese da denúncia ser considerada
apta, esta será encaminhada para unidade de apuração com maiores elementos de
materialidade.
A análise preliminar traz benefícios tanto para o cidadão quanto para a Administração Pública.
Para o cidadão evita-se que sejam criadas expectativas irreais em razão de uma denúncia
apresentada sem elementos mínimos que permitam sua apuração, na medida em que o cidadão
será informado pela ouvidoria que a denúncia carece de elementos para ser apurada,
incentivando-o que encaminhe informações mais específicas. Consequentemente, há uma
redução da quantidade de denúncias encaminhadas para as áreas de apuração, que não
precisarão empregar recursos e força de trabalho desnecessariamente.
A Administração, portanto, deve promover a proteção do denunciante. Essa obrigação deve ser
encarada pelos agentes públicos como uma verdadeira estratégia de combate à corrupção e à
prática de outros ilícitos.
O Art. 4º, inciso III, da Lei nº 12.527/2011- conhecida como Lei de Acesso à Informação - LAI,
conceitua os termos informação sigilosa como aquela submetida temporariamente à restrição
de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do
Estado. Complementa o art. 24 do mesmo ordenamento legal que as informações sigilosas
relativas à segurança da sociedade ou do Estado poderão ser classificadas em ultrassecreta,
secreta ou reservada.
Acerca da proteção dessas informações sigilosas, o art. 25 da Lei nº 12.527/2011 - LAI assevera
que é dever do Estado controlar o acesso e a divulgação de informações sigilosas produzidas por
seus órgãos e entidades, assegurando sua proteção. Obviamente, as informações sigilosas terão
acesso restrito àqueles que tenham a necessidade conhecer. O Decreto nº 7.845/2012
regulamentou procedimentos para credenciamento de segurança e tratamento da informação
classificada em qualquer grau de sigilo.
A proteção das informações pessoais está prevista no art. 31 da Lei 12.527/2011 - LAI e são
protegidas por até 100 anos a contar de sua data de produção, independentemente de serem
informações classificadas como sigilosas ou não. Poderão ser divulgadas ou acessadas por
terceiros nos casos de previsão legal ou consentimento expresso da pessoa a que elas se
referirem. Ou seja, as informações pessoais, apesar de não serem consideradas como sigilosas,
também devem ter o acesso restringido.
Pelo Princípio da Proteção ao Denunciante, indivíduos que levam aos órgãos de controle, de
regulação ou de execução, informações sobre atos ilegais ou prejudiciais ao interesse público
devem receber proteção especial contra retaliação, perseguição ou tratamento discriminatório,
seja por parte de seus superiores, do denunciado, ou de autoridades públicas.
No Brasil, a Lei nº 13.460/2017 (Código de Defesa do Usuário de Serviços Públicos) assevera que
a proteção das informações pessoais é um direito básico protegido com restrição de acesso, nos
termos da Lei nº 12.527/2011 – LAI, e conforme já citado no tópico anterior, a LAI
expressamente protege o cidadão por meio da reserva de identidade durante 100 anos, de
acordo com o art. 31, inciso I, salvo exceções previstas no mesmo artigo. Também está
determinada na LAI a proteção do cidadão por meio da penalização daquele que divulgar
informações que deveriam permanecer restritas.
O art. 3º da referida instrução normativa estabelece que a ouvidoria tem o dever de proteger a
identidade do denunciante, sempre que solicitado, garantindo o acesso restrito à identidade do
requerente. Neste caso, a denúncia deverá ser encaminhada à unidade de apuração sem o nome
do demandante, salvo se for indispensável para a apuração dos fatos que o denunciante seja
identificado, hipótese esta em que a unidade de apuração ficará responsável por proteger o
denunciante.
Na esfera administrativa, a LAI estabelece, em seu art. 44, uma emenda ao Estatuto dos
Servidores Civis da União, criando o art. 126-A. Este dispositivo isenta de qualquer
responsabilidade administrativa, civil ou criminal o servidor que levar ao conhecimento da
autoridade competente a prática de crime ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda
que indiretamente, em decorrência do cargo, emprego ou função pública.
Ressaltamos ainda que denúncias realizadas por servidores públicos diretamente aos órgãos de
controle e não no órgão do cometimento do fato, fora da via hierárquica, são passíveis de
proteção quanto a qualquer prejuízo ao denunciante, salvo em caso de indícios de má-fé. Este
entendimento está em conformidade com o documento intitulado “Inexistência de Infração
disciplinar decorrente de realização de denúncia por servidor público diretamente ao órgão
central de correição”, aprovado na 15º Reunião da Comissão de Coordenação de Correição ,
comissão esta composta por um colegiado de autoridades que atua como uma instância
consultiva e tem como objetivo promover a integração e uniformizar entendimento dos órgãos
e unidades do Sistema de Correição do Poder Executivo Federal.
Com vistas ao atendimento pelas ouvidorias de denúncias formuladas por servidores públicos,
entende-se pertinente que seja criado um canal específico de ouvidoria interna na própria
ouvidoria do órgão, a qual deverá encaminhar a denúncia para a autoridade competente, após
análise preliminar. Conforme previsto nos normativos legais citados, restrição de acesso e
proteção ao denunciante também deverão ser observados nesta específica situação.
Ainda sobre a proteção ao denunciante, lembramos que a citada Lei nº 13.303/2016, que dispõe
sobre o estatuto jurídico das empresas estatais, prevê a criação de mecanismo de proteção ao
denunciante:
(...)
(...)
SAIBA MAIS
No âmbito internacional existem normas que reconhecem a necessidade de se proteger a
identidade do denunciante, que por sua vez culminou com o reconhecimento internacional do
Princípio de Proteção aos Denunciantes. Por exemplo, o art. 33 da Convenção das Nações Unidas
contra a Corrupção expressamente dispõe sobre a proteção aos denunciantes, senão vejamos:
[...]
No G-20, grupo formado pelas maiores economias do mundo mais a União Europeia, do qual o
Brasil é membro, foi firmado o compromisso para adoção e aplicação de regras ao denunciante:
Os países do G20 que ainda não têm proteções ao denunciante irá adotar e aplicar regras de
proteção ao denunciante, baseando-se nos princípios desenvolvidos no Grupo de Trabalho,
para o qual os líderes expressaram seu apoio em Cannes e também tomar medidas específicas,
adequadas à jurisdição, para garantir que os relatórios sobre a corrupção, incluindo jornalistas,
possam exercer a sua função, sem medo de qualquer tipo de assédio ou ameaça de ação legal
ou privada ou do governo para relatar de boa-fé.
Para tanto, por analogia, fazemos referência a alguns pontos do Decreto nº 7.845/2012, que
regulamentou procedimentos para credenciamento de segurança e tratamento de informação
classificada em qualquer grau de sigilo, notadamente o trâmite de documentos físicos por meio
de envelopes lacrados, entregues diretamente ao destinatário. No caso de envio de documentos
por meio eletrônico, o referido decreto faz menção que os sistemas a serem utilizados tenham
recursos de criptografia. Conheça algumas recomendações voltadas para proteção ao
denunciante com relação ao trâmite de documentos físicos e em meio eletrônico:
➢ Documentos físicos
Caso seja imprescindível para a apuração dos fatos a ciência de todas as informações constantes
na denúncia, conforme previsto §2º do Art. 3º da Instrução Normativa Conjunta CRG-OGU nº
01/2014, a denúncia completa deverá ser encaminhada à unidade de apuração, inclusive para
que esta área possa, se for o caso, solicitar maiores esclarecimentos ao denunciante no decorrer
da investigação preliminar a ser realizada. Neste caso, frisa-se, a unidade de apuração tem a
obrigação de manter o sigilo da identidade do denunciante.
Por fim, ressalvamos que a Lei nº 12.527/2011 – LAI, traz dispositivos de proteção estritamente
para pessoa física. Desta forma, denunciantes caracterizados como pessoas jurídicas atualmente
não são passíveis de proteção. Para tanto, verificamos a necessidade de que seja elaborado
normativo legal que contemple as associações, sociedades, fundações, organizações religiosas
e partidos políticos.
Acrescentamos que, somente poderá ser aplicada alguma penalidade ao agente público
denunciado, caso seja instaurado e finalizado um procedimento administrativo punitivo, com
base nas conclusões do procedimento investigatório preliminar realizado pela unidade de
apuração.
A informação de origem anônima deve ser considerada, pois, apesar de não conter a
identificação do denunciante, pode trazer situações ou condutas irregulares que podem ensejar
a aplicação de correções e penalidades, bem como possível economia aos cofres públicos.
Entendemos que o cidadão omite seu nome, justamente por temer que na hipótese de se
identificar poderá sofrer represálias, ou no caso de denunciante servidor público, mesmo com
as salvaguardas legais de proteção, poderá ser prejudicado em sua vida profissional por
superiores que estejam envolvidos nas impropriedades denunciadas. Por conseguinte, ao invés
de realizar a denúncia por meio de “Representação”, prevista na Lei nº 8.112/90, o servidor
prefere realizar de forma anônima, como qualquer cidadão.
Apesar de a Constituição Federal proibir o anonimato (conforme interpretação literal do art. 5º,
inciso IV), os procedimentos da comunicação de irregularidade guardam amparo em
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Resta
pacificado nestes tribunais que a Administração Pública tem o poder-dever de apurar as
irregularidades que lhe cheguem ao conhecimento, independente de terem sido conhecidas por
denúncias identificadas ou anônimas.
Devemos sempre lembrar que essa informação não enseja juízo de valor, ou seja, o fato de a
ouvidoria federal informar à OGU a existência da denúncia não influencia a apuração no próprio
órgão onde ocorreu o fato, e nem significa que o ouvidor ou o responsável pela análise esteja
declarando que os fatos narrados realmente ocorreram, ou que o denunciado tenha
responsabilidade. O papel da ouvidoria federal é informar acerca de quaisquer denúncias contra
esses agentes, e o papel da CGU é acompanhar ou proceder diretamente, caso julgue necessário,
à correta apuração dos fatos.
Entretanto, o assédio moral também pode envolver um colega de serviço (assédio horizontal)
ou um subordinado em relação ao chefe (assédio ascendente).
Resta claro que a prática de assédio moral é nociva para qualquer ambiente de trabalho,
inclusive para Administração Pública, causando prejuízos humanos e financeiros, como a perda
de eficiência e produtividade de servidores, aumento de pedidos de licenças médicas, dentre
outras consequências.
As ouvidorias são instrumento importante para o combate ao assédio moral, na medida que se
apresentam como o primeiro canal de contato com o denunciante ou com o próprio assediado.
Recebida a denúncia, a ouvidoria deverá realizar a análise preliminar para verificar indícios de
veracidade. As seguintes pesquisas podem ser realizadas: i) o local de lotação do
denunciante/assediado; ii) a relação de hierarquia entre o agente denunciado e o servidor
assediado; iii) a relação profissional entre as pessoas citadas na denúncia.
Sendo a denúncia considerada apta para apuração, a ouvidoria deverá avaliar qual unidade
técnica de apuração será a mais adequada. Nesse ponto, a avaliação da ouvidoria
prioritariamente levará em consideração o teor da denúncia. Denúncias com conteúdo mais
gravoso deverão ser direcionadas para a corregedoria do órgão ou similar, diferentemente das
denúncias que apresentarem conteúdo voltado ao descumprimento de valores éticos. Estas se
apresentam mais adequadas para a apuração da Comissão de Ética.
Por fim, é importante ressalvar que o assédio moral não pode ser confundido com o poder-dever
que os superiores hierárquicos possuem para organizar, gerenciar, coordenar e controlar os
serviços de seus subordinados, inclusive promovendo as correções necessárias, visando o bom
cumprimento da atividade pública.
Pela leitura do citado artigo do Código Penal, verificamos elementos essenciais para qualificar
uma denúncia como conduta de assédio sexual, quais sejam: i) a existência de constrangimento;
ii) o objetivo de alcançar alguma vantagem ou favorecimento de cunho sexual; e iii) a utilização
da condição de chefe/autoridade para obter o favorecimento ou vantagem sexual.
Conforme a posição doutrinária majoritária, para que haja a configuração da conduta de assédio
sexual, necessariamente deve existir uma relação laboral entre quem assedia e quem é
assediado. O denunciado deve ser superior hierárquico do agente que sofre o assédio sexual,
consequentemente, detendo a capacidade de influenciar e decidir acerca da vida profissional do
subordinado, tendo em vista o cargo ou função que ocupa. Situações não enquadradas em uma
relação de subordinação hierárquica não se caracterizam como assédio sexual.
Em síntese, ocorre o assédio sexual quando o superior constrange o seu subordinado, dentro ou
fora do órgão, no âmbito de uma relação laboral e sem voluntário consentimento da vítima a
realizar algum favor de cunho sexual. Ressalta-se que a tentativa de assédio já configura o
cometimento da irregularidade.
Entretanto, como qualquer pessoa, o superior pode ter sentimentos amorosos em relação ao
subordinado, com intenção de uma relação afetiva estável, ausente o objetivo de obtenção de
vantagem ou favorecimento sexual. Neste caso, não se configura a conduta de assédio sexual e
sim a ocorrência de uma emoção natural, e, caso os sentimentos sejam mútuos, uma relação
amorosa normal.
Recebida a manifestação, o papel da ouvidoria nas denúncias de assédio sexual será realizar a
análise preliminar para verificar a existência de elementos que possam amparar o
prosseguimento da denúncia. As seguintes pesquisas podem ser realizadas: i) o local de lotação
do denunciante/assediado à época dos fatos; ii) se existia relação de hierarquia entre o agente
denunciado e o servidor assediado à época dos fatos; iii) a relação profissional entre as pessoas
citadas na denúncia.
Caso o denunciante relate que possui comprovação documental do assédio sexual, a ouvidoria
deverá pedir cópia dos documentos para ser anexada à denúncia inicial. A obtenção de
documentos que venham a robustecer a denúncia facilitará e acelerará o trabalho da unidade
de apuração.
Dada a gravidade da conduta de assédio sexual, que inclusive se caracteriza como crime, após a
realização da análise preliminar pela ouvidoria, sendo a mesma considerada apta para ser
apurada, a unidade de apuração competente para proceder a investigação é a corregedoria ou
a área do órgão responsável pela condução de procedimentos disciplinares.
Denúncia de constrangimento de cunho sexual entre agentes públicos que não tenham relação
de subordinação também deverão ser tratados pela ouvidoria, mas não como assédio sexual e
sim como possível descumprimento de normas regulamentares que regem a atuações dos
mesmos, bem como os códigos de ética do órgão.
Para uma adequada análise das denúncias que chegam à ouvidoria, é preciso diferenciar alguns
termos comumente utilizados no tratamento de irregularidades.
➢ FRAUDE
➢ ERRO
O erro pode ser entendido como ato não-intencional na elaboração de registros, que resulte em
incorreções, ou na aplicação incorreta de normas.
A diferença entre erro e fraude, portanto, está na vontade do agente, se existe ou não a intenção
de praticar o ato ou omiti-lo.
➢ CORRUPÇÃO
Corrupção, por sua vez, é a livre adesão a condutas que violem normas éticas ou jurídicas
visando um benefício indevido para outrem ou para si.
A corrupção é um complexo fenômeno social, político e econômico que afeta todos os países do
mundo. Em diferentes contextos, a corrupção prejudica as instituições democráticas, freia o
desenvolvimento econômico e contribui para a instabilidade política. A corrupção corrói as
bases das instituições democráticas, distorcendo processos eleitorais, minando o Estado de
Direito e deslegitimando a burocracia. Isso causa o afastamento de investidores e desestimula
a criação e o desenvolvimento de empresas no país, que não conseguem arcar com os "custos"
da corrupção.
Uma denúncia pode ser apresentada por vários motivos. De forma geral, as denúncias abordam
descumprimento de procedimentos, problemas de gestão de pessoas, desvio de
comportamento ético, ocorrência de fraudes e violação de normas legais e regulamentares. Em
outras palavras, qualquer ato ilícito pode ser objeto de denúncia.
O ideal é que denúncias apresentem autoria. Todavia, por vezes o denunciante tem
conhecimento do fato irregular, mas não tem ciência de quem realizou ou permitiu a
impropriedade. Por conseguinte, a denúncia vem relatando o fato sem afirmar quem é o
responsável. A ausência de autoria não impede que a denúncia seja aceita, tendo em vista que
a realização de uma investigação preliminar (ou até mesmo uma análise preliminar na ouvidoria)
pode identificar a autoria.
“Boa tarde, gostaria de fazer uma denuncia de um Servidor Público Federal, ele trabalha no setor
de recursos humanos, e faz o cadastro para ter acesso ao contracheque, mas nunca se encontra
no lugar do trabalho, saí cedo para o almoço e só volta às 3 da tarde. Mas outra pessoa fez o
cadastro pra mim. Mas como fica esse funcionário? Porque ganha bem e não trabalha”.
➢ Quanto à materialidade:
A percepção da gravidade do fato pelo denunciante muitas vezes não corresponde à realidade
fática do órgão. Em algumas situações o cidadão entende que uma situação é grave e merece
uma apuração e aplicação de penalidade, entretanto, muitas vezes um simples esclarecimento
administrativo elucida a questão, não caracterizando uma irregularidade. Por outro lado, a
denúncia pode relatar fatos gravosos, com a existência de detalhes específicos dos fatos, o que
caracteriza a materialidade dos fatos.
“O Governo Federal, através do Min. das Cidades, disponibilizou por empréstimo recursos do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2) no valor de R$ 250 milhões ao município de
XXXXXX (MG) para combater as consequências das frequentes enchentes que vêm assolando a
cidade nos últimos anos, trazendo graves danos à população. Segundo informações, o
pagamento deste empréstimo concedido ao município de XXXXX pelo Governo Federal foi
assumido pelo Estado de Minas Gerais, que ainda acrescentou uma contrapartida de R$ 50
milhões, resultando numa verba total a ser disponibilizada em R$ 300 milhões. Para realizar os
estudos necessários para alocar estes recursos foram contratadas empresas públicas e privadas:
DEPARTAMENTO DE OBRAS PUBLICAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS (DEOP-MG), YYYYYYY e
ZZZZZZ. Na segunda audiência pública, realizada no dia 10.03.11, em XXXXX, declarações feitas
por uma técnica da YYYYYYY deram conta que o valor pago pela Administração Pública de
XXXXXX pelo pré-projeto tinha chegado a R$ 7,5 milhões. Conforme foi apontado, também pelo
representante do Ministério Público na primeira audiência pública, houve inclusive o uso de
‘control C e control V’, recurso no computador do recorta e cola, de um EIA realizado no Rio A e
Rio B, tendo indícios de que o elaborador do EIA do Sistema do Rio XXX apenas trocou os nomes
dos rios (para C e D) no texto. Ou seja, o EIA caríssimo foi feito sem estudos ambientais
adequados. É evidente a falta informações à população, obrigatória por lei, por parte dos órgãos
públicos. Neste sentido peço a ajuda da CGU, na fiscalização do uso do dinheiro público (250
milhões de reais do Governo Federal) e determinação de que a Administração Pública de XXXXXX
pratique o mínimo de transparência exigida por lei. Agradeço desde já a atenção.”
“Diversos servidores não comparecem para trabalhar por longo período ou apenas passam
alguns minutos durante o dia e muitos funcionários terceirizados faltam constantemente e não
cumprem horário, tudo com consentimento do superintendente. Seguraram a implantação do
ponto por muitos meses e quando funcionar será apenas para os servidores e os terceirizados,
principalmente os administrados, não serão controlados, ficando largados e liberados para
continuarem faltando e sem compromisso de horário.”
“licitações duvidosas”
➢ Quanto à compreensão:
➢ Quanto ao objeto:
Denúncias apresentam multifários assuntos. Em geral, a maioria das denúncias possuem objeto
passível de ser apurado por unidades de apuração específicas de auditoria ou de correição ou
de ética.
“Desvio ds recurso do IGD M Bolsa Familia pela Secretaria da Assitencia Social e primeira dama
Maria XXXXXXX foram vários entre 2013 e 2016, por último um saque no mês de novembro de
2016 um saque de 42 mil sem que houvese despesas que justificases pra esse pereiodo, roubo
ants de sair da administração, contabilizados todos esses anos com notas fria adquiridas em
XXXXXX e com foncedor local, XXXXXXX, od projetos pra gastos feitos pela funcionaria Ana
XXXXXX e as falsas pretações de contas pela Assistente Socail Juliana XXXXXX. essa é a segun vez
que faço essa denuncia! Houve desvios no outros benficios, serviços fantamas e notas frias em
todos!”
“Quero denunciar o servidor xxxx, lotado na yyyyy, que fica toda hora pedindo dinheiro
emprestado para os colegas. Pior, ele não paga os empréstimos. E ainda por cima temos que
ficar atendendo um monte de ligações de pessoas cobrando dívidas dele. Chegou ao ponto dele
ter desligado o telefone para não receber mais ligações, pode? Esta situação está atrapalhando
o bom andamento do serviço. Peço providências.”
➢ Quanto à competência:
Por desconhecimento do cidadão, algumas vezes denúncias são encaminhadas para órgão que
não tem competência para apurar os fatos. Neste caso, a ouvidoria poderá fazer o
encaminhamento para o órgão competente. No Poder Executivo Federal, por meio do Sistema
e-OUV, é possível encaminhar automaticamente a manifestação para o órgão que detém a
competência de apuração.
Exemplo de denúncia com existência de competência da CGU para apuração1:
“Tenho informações de que uma mulher de nome FERNANDA XXXXXXXX, residente em São
Bernardo do Campo, SP, à Rua XXXXX nº YYY, bairro XXXXXXX, CEP XXXXX-200, ela recebe o bolsa
família, porém, ela trabalha, o pai dela é autônomo (pedreiro), a mãe dela, dona Solange,
trabalha em indústria há muitos anos (é registrada), o pai do filho dela paga pensão ao filho,
enfim, ela tem uma rede de proteção que não justifica receber o benefício. Ela nasceu em
12/06/19XX.
Ela tem um filho que se chama XXXXXX, de 6 anos de idade. Ela mora com o pai e a mãe que
possui casa própria (sem escritura). Vejam o facebook dela em -
https://www.facebook.com/profile.php?id=XXXXXXXXX”
“estava parado num ponto proximo ao cemiterio do picanço quando veio um veiculo da placa
nwa59XX veio e colidio com meu carro e saiu como se nao tivese acontcido nada mas fiquei com
um grande prejuiso e o carro se esvadiu do local quando cheguei ja estava com o prejuízo”
5. REVISÃO DO MÓDULO
• O trabalho a ser desempenhado pela equipe da ouvidoria não deve ser confundido com
o das áreas de apuração. Cabe à ouvidoria, por ocasião da análise preliminar, coletar a
maior quantidade possível de elementos de convicção para, primeiramente, formar
juízo quanto à aptidão da denúncia para apuração. Desta forma, na hipótese de a
denúncia ser considerada apta, esta será encaminhada para unidade de apuração com
maiores elementos de materialidade.
1
Obs: Os exemplos de denúncias destes tópicos são reais, tendo sido transcritos de forma idêntica ao
escrito pelo cidadão.
• Tanto as informações sigilosas como as informações pessoais são passíveis de proteção
e consequente restrição de acesso. A Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação –
LAI) assevera que é dever do Estado controlar o acesso e a divulgação de informações
sigilosas produzidas por seus órgãos e entidades, assegurando sua proteção.
Obviamente, as informações sigilosas terão acesso restrito àqueles que tenham a
necessidade conhecer. O Decreto nº 7.845/2012 regulamentou procedimentos para
credenciamento de segurança e tratamento da informação classificada em qualquer
grau de sigilo.
• A proteção das informações pessoais está prevista no art. 31 da Lei 12.527/2011 - LAI e
são protegidas por até 100 anos a contar de sua data de produção, independentemente
de serem informações classificadas como sigilosas ou não. Poderão ser divulgadas ou
acessada por terceiros nos casos de previsão legal ou consentimento expresso da pessoa
a que elas se referirem. Ou seja, as informações pessoais, apesar de não serem
consideradas como sigilosas, também devem ter o acesso restringido.
• A ouvidoria tem o dever de proteger a identidade do denunciante, quando solicitado,
garantindo o acesso restrito à identidade do requerente. Neste caso, a denúncia deverá
ser encaminhada à unidade de apuração sem o nome do demandante, salvo se for
indispensável para a apuração dos fatos que o denunciante seja identificado, hipótese
esta em que a unidade de apuração ficará responsável por proteger o denunciante. A
restrição de acesso não se aplica caso se configure denunciação caluniosa ou flagrante
má-fé por parte do manifestante. Acrescente-se ainda a necessidade da devida
comunicação da identidade do denunciante pelas ouvidorias, caso seja determinado em
decisões judiciais e em requisições do Ministério Público e de Comissões Parlamentares
de Inquérito.
• No caso de denúncias realizadas em meio eletrônico, recomenda-se que os sistemas
utilizados já prevejam o encaminhamento das denúncias para as unidades de apuração
sem a identificação do denunciante, bem como a possibilidade de tarjar informações,
caso necessário. Com relação aos documentos físicos, recomendamos preservar a
denúncia em um envelope lacrado a ser entregue ao chefe da unidade de apuração
competente, com o devido registro do recebimento. Conforme já explanado, a denúncia
deverá ser encaminhada sem a identificação do denunciante, a qual deverá ser tarjada,
juntamente com qualquer informação no corpo da manifestação a qual possa identificar
o signatário.
• As comunicações de irregularidades (informações de origem anônima) com indícios
mínimos de relevância, autoria e materialidade devem ser enviadas ao órgão ou
entidade competente para apuração. Por não serem identificadas, não são passíveis de
acompanhamento pelo usuário. Acrescentamos que, somente poderá ser aplicada
alguma penalidade ao agente público denunciado, caso seja instaurado e finalizado um
procedimento administrativo punitivo, com base nas conclusões do procedimento
investigatório preliminar realizado pela unidade de apuração.
• No âmbito do Poder Executivo federal, a CGU é competente para acompanhar o
tratamento e a apuração de denúncias envolvendo agente público no exercício de
cargos comissionados do Grupo Direção e Assessoramento Superiores – DAS a partir do
nível 4 ou equivalente, e por isso as ouvidorias devem informar à Ouvidoria-Geral da
União (OGU) quando receberem denúncias contra esses agentes.
• O assédio moral consiste na prática de comportamentos humilhantes, constrangedores,
torturantes, vexatórios, os quais podem ser evidenciados por meio de palavras, gestos
ou atitudes reiteradas e por um lapso temporal demorado, que causam uma degradação
deliberadas das condições de trabalho. A prática de assédio moral mais comum é do
superior hierárquico em desfavor do subordinado (assédio vertical). Entretanto, o
assédio moral também pode envolver um colega de serviço (assédio horizontal) ou um
subordinado em relação ao chefe (assédio ascendente).
• A conduta de assédio sexual se caracteriza como crime, tipificado no Código Penal como
“constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. Conforme a posição doutrinária
majoritária, para que haja a configuração da conduta de assédio sexual,
necessariamente deve existir uma relação laboral entre quem assedia e quem é
assediado. O denunciado deve ser superior hierárquico do agente que sofre o assédio
sexual, consequentemente, detendo a capacidade de influenciar e decidir acerca da vida
profissional do subordinado, tendo em vista o cargo ou função que ocupa. Situações não
enquadradas em uma relação de subordinação hierárquica não se caracterizam como
assédio sexual.
• O termo fraude refere-se a ato intencional de omissão ou manipulação de transações,
adulteração de documentos, registros, demonstrações contábeis e dispositivos legais
com a finalidade de obter vantagem indevida. O erro pode ser entendido como ato não-
intencional na elaboração de registros, que resulte em incorreções, ou na aplicação
incorreta de normas. A diferença entre erro e fraude, portanto, está na vontade do
agente, se existe ou não a intenção de praticar o ato ou omiti-lo. Corrupção, por sua vez,
é a livre adesão a condutas que violem normas éticas ou jurídicas visando um benefício
indevido para outrem ou para si. O conceito de corrupção é amplo, incluindo as práticas
de suborno e de propina, a fraude, a apropriação indébita ou qualquer outro desvio de
recursos por parte de um agente público. Além disso, pode envolver casos de
nepotismo, extorsão, tráfico de influência, utilização de informação privilegiada para
fins pessoais e a compra e venda de sentenças judiciais, entre diversas outras práticas.
• As denúncias podem apresentar diversas características as quais podem se apresentar
em separado ou em conjunto: quanto à autoria do fato - o ideal é que denúncias
apresentem autoria. Todavia, por vezes o denunciante tem conhecimento do fato
irregular, mas não tem ciência de quem realizou ou permitiu a impropriedade. Por
conseguinte, a denúncia vem relatando o fato sem afirmar quem é o responsável. A
ausência de autoria não impede que a denúncia seja aceita, tendo em vista que a
realização de uma investigação preliminar, ou até mesmo uma análise preliminar na
ouvidoria pode identificar a autoria; quanto à materialidade - a percepção da gravidade
do fato pelo denunciante muitas vezes não corresponde à realidade fática do órgão. Em
algumas situações o cidadão entende que uma situação é grave e merece uma apuração
e aplicação de penalidade, entretanto, muitas vezes um simples esclarecimento
administrativo elucida a questão, não caracterizando uma irregularidade. Por outro
lado, a denúncia pode relatar fatos gravosos, com a existência de detalhes específicos
dos fatos, o que caracteriza a materialidade dos fatos; quanto à compreensão - como
qualquer manifestação de ouvidoria, a denúncia pode se apresentar de forma clara,
concisa e com boa ortografia. Todavia, em alguns casos, o cidadão não consegue se
expressar adequadamente, mesmo tendo boa ortografia, o que impede a compreensão
dos termos da denúncia, inviabilizando a análise preliminar na ouvidoria. Em outros
casos, mesmo a ortografia sendo precária, consegue-se entender os termos da
denúncia; quanto ao objeto - denúncias apresentam multifários assuntos. Em geral, a
maioria das denúncias possuem objeto passível de ser apurado por unidades de
apuração específicas de auditoria ou de correição ou de ética; quanto à competência -
por desconhecimento do cidadão, algumas vezes denúncias são encaminhadas para
órgão que não tem competência para apurar os fatos. Neste caso, a ouvidoria poderá
fazer o encaminhamento para o órgão competente. No Poder Executivo Federal, por
meio do Sistema e-OUV, é possível encaminhar automaticamente a manifestação para
o órgão que detém a competência de apuração.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Decreto 8.243, de 23 de maio de 2014. Institui a Política Nacional de Participação Social
- PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social - SNPS, e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/decreto/d8243.htm.
BRASIL. Lei 13.460, de 26 de junho de 2017. Dispõe sobre participação, proteção e defesa dos
direitos do usuário dos serviços públicos da administração pública. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13460.htm.
CALMON, Paulo; COSTA, Arthur Trindade Maranhão. Redes e Governança das Políticas Públicas.
In: Revista de Pesquisa em Políticas Públicas. Brasília: Editora da UnB, 2013. Disponível em:
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CARDOSO, Antonio Semeraro Rito; LYRA, Rubens Pinto (Orgs). Modalidades de Ouvidoria
Pública no Brasil: Terceira Coletânea. João Pessoa: Ed. UFPB, 2012.
OUVIDORIA GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Manual de como atender bem à Ouvidoria
Geral do Estado de Minas Gerais (OGE): Uma parceria na gestão pública de qualidade. Governo
de Minas; Ouvidoria Geral: s/d. Disponível em:
http://www.ouvidoriageral.mg.gov.br/documento/doc_download/108-manual-de-como-
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SÃO PAULO. Decreto 60.399, de 29 de abril de 2014 - Dispõe sobre a atividade das Ouvidorias
instituídas pela Lei nº 10.294, de 20 de abril de 1999.Estado de São Paulo, 2014. Disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2014/decreto-60399-
29.04.2014.html.
ZARIFIAN, Philippe. Objetivo Competência: por uma nova lógica. São Paulo: Editora Atlas, 2001.